A turma Lá da esquina, de João Mendes | Programa Convida

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A turma Lá da esquina Paulinho, Geraldo, Luizinho e Célia O fotógrafo João Mendes (J) e sua exposa dona Marly (M), conversam a partir das imagens que lembram as antigas maizades de sua juventude, no bairro da Serra em Belo Horizonte, por volta da década de 1970. M: E essa aqui? J: Aqui é a foto da galera que trabalhava no David. Esse aqui é o sobrinho do David, o Paulinho, o apelido dele era Paulinho “Mula Preta” e essa aqui é a Célia. E esse é o Geraldo, pessoal chamava ele de Geraldo “Chulé”, mas não sei porque não. Essa turma não era fácil. M: O David era o que mesmo? J: O David era dono da oficina de bombeiro. Eles faziam serviço de bombeiro, reforma brinquedos, bicicletas, eletrodomésticos, conserto em geral. David - Consertos e Instalações. Era todo mundo da Serra. Paulinho já morreu, ele não era da Serra, mas vivia aqui. Geraldo morava na Serra , Luizinho morava em Venda Nova e o Paulinho morava na barragem Santa Lúcia. Paulinho era bombeiro e eletricista. M: Olha a calça dessa mulher. Que mulher é essa aí João? J: Essa é a Célia. Ficava doida com Paulinho. E Paulinho nem ligava. Tadinha... ai ai.


M: Paulinho era magrinho, não tinha uma libra de gordura. É esse aqui! Olha o corpinho dele! Olha para você ver, um corpo desse tudo sarado. O trabalho que eles mexiam era um trabalho muito pesado de bombeiro. Acho que eles ficavam muito tempo sem comer também, né João! Muitas horas sem alimento.... J: É... A gente fazia essas fotos assim, na hora da revelação, às vezes sobravam 3 ou 4 chapas e não dava para cortar. Mas aí a gente batia a chapa e depois cobrava um tanto de cada um e ficava por isso mesmo. Para aproveitar o filme. M: Essa rua já deu o que falar. Eles faziam festa ali ó, nossa senhora! No carnaval, então... J: Essa turma ficou muito tempo junta, uns 15 anos trabalhando ali. M: A loja ainda existe ali ó! J: Essa foto também deve ser de 75. M: Ah! Ainda é na época do Alexandre. Eu vinha trazer comida para o João e colocava o Alexandre no carrinho e todo mundo ficava perguntando se aguentava carregar esse menino e eu fala: “Eu não! Por isso que eu ponho no carrinho”. De tão pesado que ele era. J: Paulinho tá com uma tarracha na mão. Geraldo com cano de 40. M: E esse povo já morreu tudo João? J: Já. Geraldo morreu cedo, primeiro que o Paulinho. Só o Luizinho que tá vivo. Luizinho é genro David né... Ah não! A Célia tá viva, parece que ela ainda trabalha com pessoal que morava no prédio aqui na frente da loja. Eles eram da cidade de Ipiranga. O patrão, pai da moça que morava aqui pra estudar, era prefeito de Ipiranga e vinha sempre aí todo final de semana e final de mês.. e a Célia trabalhava pra eles.


J: Nessa época eu fotografava tudo. Nossa Senhora! Fotografava tudo que mandavam. Tudo que apareceu para mim eu tava pegando. O meu forte mesmo era batizado, casamento, formatura e aniversário. Festa ou qualquer coisa parecida eu tava fazendo. Então, não tinha tinha mistério comigo não. Essa foto era o pessoal do dia a dia, o Paulinho, o Geraldo, a turma da baguncinha aí. O Paulinho era triste... Depois que Geraldo saiu daqui, o Luizinho casou com a filha do patrão dele aí ele também saiu. Geraldo desapareceu e todo mundo acabou saindo da loja. Luizinho sei que foi morar no Rio de Janeiro e mora lá até hoje. O Paulinho faleceu também. Paulinho morreu já tem mais de 20 anos, ele era lá da Pedreira e veio aqui para trabalhar com David. E a Célia continua trabalhando para família do prefeito de Ipiranga. Era os três trabalhando e fazendo bagunça. Eu lembro muito dessa época.

Fotografias I João Mendes Coordenação / Idelização I Guilherme Cunha Produção I Projeto Retratistas do Morro Restauração digital de Imagem I Guilherme Cunha Entrevista I Guilherme Cunha Transcrição I Clarissa Duarte Digitalização I André Oliveira


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