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1. Interligações e Impactos A implementação de políticas coerentes que promovam um sistema de comércio mundial não discriminatório e mais equitativo são essenciais para que o comércio se traduza em benefícios para todos. No entanto, o agravamento das desigualdades mundiais, as injustiças fiscais, a falta de regulação e o secretismo do sistema financeiro global são fatores que comprometem os progressos de redução da pobreza a nível global, num contexto em que os fluxos de financiamento do desenvolvimento não são suficientes, em muitos casos, para compensar as perdas de recursos impulsionadas, nomeadamente, pelos fluxos financeiros ilícitos. A COVID-19 veio colocar os países mais frágeis, pobres e vulneráveis numa situação insustentável, pois enfrentam a pandemia em condições muito mais desfavoráveis, o endividamento externo agrava-se e a resposta à crise económica e social esbarra na quebra abrupta do financiamento internacional do desenvolvimento. O reforço da cooperação internacional e o aumento dos esforços para a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável torna-se não só um imperativo moral e ético, mas também uma necessidade que corresponde a interesses partilhados num mundo interdependente, para uma resposta à atual crise com resultados mais abrangentes e duradouros. O comércio, o desenvolvimento e a redução da pobreza estão interligados de forma complexa e multidimensional. No geral, e em teoria, o comércio é fator de crescimento económico e de geração de riqueza, ao gerar oportunidades para alargar a base produtiva e aumentar a competitividade, aumentar o valor acrescentado dos produtos, a criação de economias de escala e o acesso a cadeiras de valor, incentivar a diversificação das exportações e das economias, expandir as oportunidades de negócio, encorajar a inovação e transferência de tecnologia, contribuir para criar oportunidades de investimento e de emprego. Na prática, contudo, estas ligações não são lineares e os impactos do comércio no desenvolvimento variam muito, entre países e dentro dos países, dependendo de fatores externos e internos. Na verdade, a simples abertura comercial, não acompanhada de políticas coerentes e eficazes em vários setores, pode aumentar simultaneamente o crescimento e as desigualdades,