Estudo Desenvolvimento e Segurança Alimentar e Nutricional | Perspetivas e (Des)equilíbrios

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1. Interligações e Impactos A insegurança alimentar e nutricional é simultaneamente uma causa e efeito da pobreza, estando interligada com múltiplas dimensões do desenvolvimento. O acesso a alimentos seguros, saudáveis e nutritivos, a preços acessíveis, constitui um desafio para boa parte da população mundial, ainda mais tendo em conta o crescimento populacional e os desequilíbrios de poder no sistema agroalimentar, que têm contribuído para um aumento da insegurança alimentar no mundo. Isto é agravado pela pandemia de COVID-19, que veio afetar de forma desproporcional os setores da população mais pobres e vulneráveis, agravar fatores de desigualdade e deixar claramente muitos para trás. Nesse contexto, a resposta ao fenómeno da fome assume-se como um imperativo moral, político, económico e social para a realização da Agenda 2030 e a construção de sistemas agroalimentares mais justos e sustentáveis é crucial para esse desígnio. A insegurança alimentar e nutricional é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável de múltiplas formas, constituindo simultaneamente causa e efeito da pobreza. O número de pessoas com fome sistemática no mundo tem vindo a crescer desde 2014, atingindo 690 milhões de pessoas em 2019 (mais dez milhões do que em 2018), embora se forem consideradas também as situações menos agudas, se conclua que mais de 2 mil milhões de pessoas no mundo não tiveram acesso regular a alimentos seguros, nutritivos e suficientes em 2019 (FAO, 2020a; NU, 2020)6. Estes números são similares aos níveis de fome e insegurança alimentar registados há mais de uma década, ou seja, não existe uma melhoria dos indicadores, mas antes um afastamento em relação ao objetivo de erradicação da fome (ODS 2) e também poucos progressos relativamente a vários indicadores sobre nutrição7.

A prevalência da fome é uma manifestação extrema da insegurança alimentar, mas nem todas as pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional estão em situação de fome. A insegurança alimentar está ligada a quatro dimensões principais: a disponibilidade (quantidade suficiente de alimentos para atender às necessidades das pessoas), o acesso (a capacidade dos indivíduos para adquirirem alimentos apropriados a uma dieta nutritiva por meio de recursos adequados), o consumo e utilização (cumprimento dos requisitos nutricionais mínimos para que todas as necessidades fisiológicas sejam satisfeitas), e estabilidade (acesso permanente, estabilidade da oferta, abastecimento e consumo). A insegurança alimentar gera várias formas de má nutrição. As Nações Unidas avaliam não apenas a situação da fome no mundo, mas também a insegurança alimentar, segundo os níveis de classificação: aguda, severa e moderada.

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Para uma análise dos indicadores de nutrição no mundo e das desigualdades nesta área, ver Development Initiatives, 2020.

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