Estudo 'Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais em Liquiçá

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Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”


AGRADECIMENTOS

Fundação ETADEP - Ema Mata Dalan ba Progresso, em especial ao Sr. Norberto Gonçalves dos Santos Comunidades dos sucos de Vatuboro, Gugleur, Fahilebu, Leorema, Lauhata, Motaulun, Leoteala, Guiço, Lissadila, Maubarlissa e Vaviquinia. Sr. Administrador do distrito de Liquiçá, Sr. Leonel de Jesus Carvalho Sr. Administrador do sub-distrito de Maubara, Sr. Laurindo dos Reis da Silva Técnicos do Ministério da Agricultura e Pescas Técnicos do Ministério do Comércio Turismo e Indústria Sr. João de Carvalho, Coordenador do Projecto Mós Bele (Cluster da Cooperação Portuguesa) Todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para este estudo.


ÍNDICE Introdução .................................................................................................................................... 1 1

Selecção da área geográfica a abranger .............................................................................. 5

2

O perfil do Agricultor ............................................................................................................ 6

3

Outros Actores ...................................................................................................................... 8

4

Análise das Culturas/Produtos a Explorar ......................................................................... 12 4.1

Caracterização Agronómica ........................................................................................ 12

4.2

Caracterização Agro-Industrial .................................................................................... 21

4.3

Caracterização Financeira ........................................................................................... 22

4.3.1

Análise económica da produção ......................................................................... 23

4.3.2

Análise económica da transformação ................................................................. 23

4.3.3

Análise económica da comercialização ............................................................... 25

4.3.4

Análise económica da oficina .............................................................................. 28

4.4

Caracterização de Comercialização ............................................................................. 29

4.5

Indonésia ..................................................................................................................... 35

5

Análise SWOT da agricultura no distrito de Liquiçá .......................................................... 36

6

A UPSA ................................................................................................................................ 37 6.1

Loja comunitária .......................................................................................................... 38

6.2

Transformação ............................................................................................................ 38

6.3

Armazém ..................................................................................................................... 39

6.4

Oficina de manutenção ............................................................................................... 39

6.5

Actividades transversais .............................................................................................. 40

6.6

Modelo de Gestão da UPSA ........................................................................................ 40

7 Selecção das opções de mercado mais atractivas com base nas opiniões dos técnicos e dos agricultores .......................................................................................................................... 41

8

9

7.1

Produtos não perecíveis .............................................................................................. 41

7.2

Perecíveis .................................................................................................................... 42

Estratégia de Marketing ..................................................................................................... 43 8.1

Farinha de milho.......................................................................................................... 43

8.2

Arroz ............................................................................................................................ 43

8.3

Perecíveis .................................................................................................................... 44

Plano de actividades ........................................................................................................... 45 9.1

Actividades preparatórias ........................................................................................... 45

9.2

Construção da UPSA .................................................................................................... 45

9.3

Comercialização de produtos frescos ......................................................................... 46


9.3.1

Actividades da primeira época (2010)................................................................. 46

9.3.2

Actividades da segunda época (2011) ................................................................. 49

9.3.3

Actividades da 3ª época (2012) ........................................................................... 50

9.4

Comercialização de arroz e farinha de milho .............................................................. 51

9.5

Loja comunitária .......................................................................................................... 51

9.6

Transformação ............................................................................................................ 52

9.7

Oficina de manutenção de tractores e equipamento agrícola ................................... 52

10

Riscos e medidas correctivas.......................................................................................... 52

11

Propostas e recomendações .......................................................................................... 53

12

Propostas e recomendações ..............................................Error! Bookmark not defined.

13

A estratégia do IMVF ...................................................................................................... 53

Anexos......................................................................................................................................... 55 Anexo I ........................................................................................................................................ 56 Anexo II ....................................................................................................................................... 60


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I NTRODUÇÃO No dia 1 de Fevereiro de 2010 teve inicio o projecto de “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais” implementado no Distrito de Liquiçá em Timor-Leste, com uma duração de 30 meses. O projecto é executado pelo IMVF – Instituto Marquês de Valle Flôr em parceria com a Fundação ETADEP, contando com o co-financiamento da Cooperação Portuguesa. Reconhecendo a importância do sector agrícola para o desenvolvimento socioeconómico do país, onde cerca de 86% da população é rural e 33% vive exclusivamente de uma agricultura de subsistência, o Governo tem vindo a desenhar com os parceiros nacionais e internacionais, políticas e estratégias específicas para a área de segurança alimentar, que visa o aumento e diversificação da produção local, e promove um enquadramento político e legal favorável à implementação das mesmas. Diagnósticos realizados nos últimos anos têm indicado que as zonas altas e secas são especialmente vulneráveis à insegurança alimentar. Para além de um acesso muito condicionado a factores de produção, como fertilizantes e máquinas agrícolas, a existência limitada de infra-estruturas ao nível da transformação, armazenamento e comercialização têm dificultado o escoamento dos produtos de qualidade. O estado de manutenção das estradas contribui também para este contexto, além dos factores de ordem natural que têm afectado recorrentemente o país nos últimos anos, nomeadamente secas, cheias e ventos fortes. Timor-Leste enfrenta assim problemas de insegurança alimentar, com particular incidência durante os meses de Novembro/Dezembro e Fevereiro/Março, quando 70 a 80% dos sucos apresentam sucessivas carências alimentares. O actual projecto insere-se na Segunda Prioridade Nacional do Governo de Timor-Leste para 2010 – segurança alimentar com especial atenção para a produtividade. Esta Prioridade Nacional delineada pelo Governo de Timor-Leste, destaca a necessidade de desenvolver políticas de segurança alimentar e sistemas de monitorização, a diversificação de produções e colheitas, a gestão e utilização maximizada das terras, formação com vista à promoção dos mercados locais e maior ênfase em culturas geradoras de rendimento. O Projecto ‘Dinamização dos Mercados Locais e dos Circuitos de Comercialização Locais’ encontra-se em sintonia e visa responder a esta prioridade. O sector agrícola tinha já sido a primeira Prioridade Nacional em 2009, então com os objectivos de aumentar a produção de arroz através da melhoria das técnicas de produção promovida pelos extensionistas, e distribuição de silos de armazenamento e tractores e motocultivadoras.

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De acordo com um relatório da Care sobre Segurança Alimentar , Liquiçá é um distrito costeiro que, não constituindo uma área de produção de culturas alimentares importante, tem a sua principal fonte de rendimento no café. O distrito pode ser dividido em duas zonas de produção: as zonas de montanha onde é produzido o café e as zonas de baixa onde é produzida o milho. O cultivo do arroz está resumido ao sub-distrito de Maubara. Segundo uma análise de vulnerabilidade e de insegurança alimentar realizada pelo PAM2, o sub-distrito de Maubara é o mais vulnerável do distrito de Liquiçá. Devido à sua especialização na produção de café, o distrito é altamente deficitário em culturas alimentares. A existência de uma unidade de prestação de serviços agrícolas que apoie os produtores com os factores de produção necessários e dinamize os circuitos de comercialização, poderá vir dar um importante contributo no sentido de melhorar a segurança alimentar no distrito em geral e no sub-distrito de Maubara em particular. Neste âmbito o projecto de Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais implementado no Distrito de Liquiçá pelo IMVF em parceria com a Fundação ETADEP visa responder aos desafios agrícolas e comerciais do Distrito. O projecto tem como objectivo geral contribuir para a redução da pobreza e para o desenvolvimento sócio-económico das comunidades através da dinamização dos mercados e dos circuitos de comercialização locais no âmbito do Cluster da Cooperação portuguesa “Mós Bele”. A acção visa beneficiar directamente agricultores, técnicos da Unidade de Prestação de Serviços Agrícolas (UPSA) e agentes económicos privados. O objectivo específico é promover a qualificação da oferta do sector produtivo, dinamizando as componentes de transformação, armazenamento e comercialização através de parcerias inovadoras com o sector público-privado numa óptica de agro-business. O projecto tem como beneficiários directos os agricultores, os técnicos da UPSA e agentes económicos privados (colectivos ou individuais). A área geográfica de influência do projecto é o distrito de Liquiçá, estando assinalados na figura 2 os sucos que, por se dedicarem principalmente à agricultura, serão alvo privilegiado da UPSA. Esta terá o seu espaço físico no suco de Vatuboro. Como resultados pretende-se aumentar e diversificar a produção agrícola, melhorar a capacidade de armazenamento e utilização de tecnologias de transformação, melhorar o acesso a novos mercados e tornar as cadeias de comercialização mais eficazes.

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Food security baseline survey report, Care Int´l Timor Leste 2008 WFP-VAM Unit Timor Leste, Food Insecurity and Vulnerability Analysis Mapping Report, p42

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Para isso serão implementadas as seguintes actividades: 1. A realização de um estudo detalhado para análise e selecção das culturas e produtos agrícolas estratégicos que permita identificar e seleccionar os produtos a explorar, assim como os sucos que melhor se enquadram nos pólos de desenvolvimento previstos. A organização e estruturação da Unidade de Prestação de Serviços Agrícolas (UPSA), incluindo a sua construção e equipamento de infra-estruturas da UPSA para os 3 sectores previstos: apoio à produção, apoio à transformação e apoio ao armazenamento e comercialização, levam à incrementação e diversificação da produção agrícola. 2. Promoção de condições favoráveis para o aumento da produção e produtividade das culturas alimentares básicas e de rendimento comercial, o melhoramento das sementes hortícolas disponibilizadas pelo sector de apoio à produção da UPSA, assim como o melhoramento das técnicas agrícolas desenvolvidas e certificação do material vegetal produzido, identificação e promoção de outras culturas de interesse e realização de intercâmbios e trocas de experiências, que assegurem que os agricultores enquadrados na UPSA tenham maior capacidade de armazenamento e utilização de tecnologias de transformação. 3. Criação e operacionalização do sector de armazenamento e comercialização de produtos da UPSA com espaços próprios, desenho e implementação de um plano de marketing e criação de ferramentas de recolha de informação, que permitam que os agricultores enquadrados na UPSA tenham acesso a novos mercados e cadeias de comercialização mais eficazes.

Este estudo enquadra-se na primeira actividade, e tem como objectivo ajudar a estruturar a Unidade de Prestação de Serviços Agrícolas (UPSA) e em particular a sua relação com os agricultores, agentes económicos privados e outros actores locais de desenvolvimento. Numa cadeia de mercado podem identificar-se diferentes tipos de actores com diferentes funções sendo que a UPSA intervirá prioritariamente nas 2 últimas áreas de transformação e comercialização, apresentando-se desta forma como um modelo inovador de prestação de serviços rurais com mecanismos de gestão e uma filosofia marcadamente empresarial. Produção

Transformação

Comercialização

Recolha Planificação e organização da produção Acesso a recursos Produção Colheita

Selecção Transformação Embalagem Diferenciação Acrescentar valor Transporte

Contactar compradores Negociar mercados Negociar preços e condições de venda Venda Entrega do produto ao cliente

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Do ponto de vista metodológico o Estudo proposto tem essencialmente dois objectivos:

Permitir a recolha, de forma sistematizada e objectiva, de informação que nos permita tomar decisões com o menor risco possível.

Criar uma série de ferramentas de recolha de informação que poderão, no futuro, ser usadas pelos técnicos quer para a análise de outros produtos quer para avaliação dos aqui visados, e por outro ir formando esses mesmos técnicos na área dos mercados e comercialização.

O estudo está dividido em duas fases:

Análise e selecção dos produtos a “explorar”:

Plano de marketing.

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SELECÇÃO DA ÁREA GEOGRÁFICA A ABRANGER

O distrito de Liquiçá com uma área total de 534 km² localiza-se na costa norte, tendo como limites o Mar de Savu (norte) e os distritos de Díli (oeste), Ermera (sul), Aileu (sudeste) e Bobonaro (este). Do ponto de vista administrativo é formado por 3 sub-distritos, Liquiçá, Bazartete e Maubara, num total de 54.834 pessoas, das quais 50,86% são homens e 49,14% são mulheres. À semelhança do que se regista a nível nacional, estima-se que mais de 40% da população tenha menos de 15 anos sendo que aproximadamente 15% tem menos de 5 anos. O agregado familiar é formado em média por 6 pessoas na maioria encabeçados por homens em mais de 90% dos casos. Para além das línguas oficiais, uma significativa maioria da população de Liquiçá fala Tocodede (língua Malaio-Polinésia). A religião dominante é a católica praticada por cerca de 98% da população local, existindo no entanto uma pequena comunidade muçulmana e protestante com locais de culto em Liquiçá. O clima, dependendo da localização, é dominado por um sistema de monções. A de noroeste, também chamada monção do mar, que ocorre de Novembro a Maio, sendo caracterizada por fortes trovoadas e elevada precipitação (principalmente nas zonas mais elevadas), podendo esta atingir os 90% da precipitação total anual, rondando a temperatura média os 25ºC. De Junho a Outubro faz-se sentir a monção de sudoeste ou monção australiana, onde os ventos moderados contribuem para amenizar ligeiramente as temperaturas, a humidade relativa desce e a vegetação toma uma cor amarela acastanhada. As condições climatéricas especiais que se fazem sentir devido ao micro clima naquela região, faz com que o reino vegetal seja rico em diversos e variados tipos de plantas que enriquecem grandemente as paisagens. Nas zonas mais elevadas, a vegetação varia desde a vegetação rasteira a bosque de árvores de médio e grande porte, que cobrem grandes extensões, principalmente a sul e a sudoeste do distrito. A região é um misto de planície, junto à costa, com extensas praias e zonas onde abunda o mangal. Para o interior, principalmente na sua parte Este a zona é montanhosa com declives acentuados. Nas zonas de altitude é produzido o café com existência/potencial para outras culturas de rendimento como a canela, o cravinho, a baunilha e algumas espécies florestais de elevado valor económico, nomeadamente o mogno. No que se refere a zonas de costa de baixa altitude, existe potencial para o fomento de culturas como o coqueiro e cajueiro em paralelo com a plantação de um número de espécies florestais com elevado interesse comercial e possivelmente em consociação com determinadas culturas anuais, em particular a soja e o amendoim. No vale de Lois, sub-distrito de Maubara, área previsivelmente prioritária de intervenção do projecto, suco de Vatuboro, assim como sub-distrito de Bazartete – suco de Fahilebu as principais culturas são alimentares, com destaque para o milho, arroz, soja, feijão e outros hortícolas e frutícolas.

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O critério de selecção dos sucos a incluir neste estudo foi que a sua principal actividade fosse de cariz agrícola. Com base na avaliação de necessidades feita previamente, estavam seleccionados como principais sucos Vatuboro e Fahilebu, sendo também esta a sua ordem de importância. Assim, tendo em conta o tempo e recursos disponíveis, decidiu-se realizar inquéritos em Vatuboro, Gugleur (que confronta em toda a sua extensão com o suco de Vatuboro) e Fahilebu, e a realização de entrevistas com grupos focais de agricultores e a na presença do extensionista e do chefe de suco nestes três sucos e ainda em Leorema, Lauhata e Motaulun, do sub-distrito de Bazartete, Leoteala do sub-distrito de Liquiçá e Guiço, Lissadila, Maubarlissa e Vaviquinia do sub-distrito de Maubara. Nas figuras seguintes apresenta-se a localização relativa do distrito de Liquiçá em Timor-Leste Leste e dos seus três subdistritos e respectivos sucos.

FIGURA 1 - ÁREA GEOGRÁFICA DE INFLUÊNCIA DO PROJECTO

2

O PERFIL DO AGRICULTOR

Antes de iniciar a análise das culturas, e para perceber o porquê de certas práticas culturais, é importante conhecer um pouco o perfil do agricultor do distrito de Liquiçá. Nesta introdução olhar-se-á apenas para a caracterização dos agricultores e a sua formação. Os restantes itens do inquérito serão analisados passo a passo à medida que se for analisando cada produto na sua vertente agrícola, agroindustrial, financeira e de comercialização.

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O inquérito e o guião dos encontros com os grupos focais podem ser encontrados em anexo. Foram realizados 163 inquéritos, divididos da seguinte forma entre os 3 sucos: 45 em Fahilebu, 43 em Gugleur e 75 em Vatuboro. Dos inquiridos 95% eram homens e apenas 5% de mulheres. A média de idades dos inquiridos é de 46 anos. No distrito de Liquiçá, segundo os resultados dos

FIGURA 2 – DISTRIBUIÇÃO DO Nº DE INQUÉRITOS POR SUCO

inquéritos, há ainda uma grande percentagem de analfabetismo. No total mais de metade dos inquiridos não sabe ler nem escrever. Apenas no suco de Fahilebu há uma maior percentagem de pessoas que sabe ler e escrever, não havendo grande diferença entre os sucos de Gugleur e de Vatuboro. Esta diferença explica-se pela ausência de escolas nestes dois sucos e pela existência, em Fahilebu, de uma escola de missionários.

FIGURA 3 - PERCENTAGEM DE INQUIRIDOS QUE SABE LER (DISTRITO)

FIGURA 4 - PERCENTAGEM DE INQUIRIDOS QUE SABE LER (SUB-DISTRITO)

FIGURA 5 – PERCENTAGEM DE INQUIRIDOS QUE SABES ESCREVER (DISTRITO)

FIGURA 6 - PERCENTAGEM DE INQUIRIDOS QUE SABE ESCREVER (SUB-DSTRITO)

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Quando inquiridos sobre a presença de associações e/ou grupos a trabalhar no suco as respostas foram as seguintes: TABELA 1 - RECONHECIMENTO DA PRESENÇA DE ASSOCIAÇÕES NO DISTRITO

Fahilebu OHCAER

Gugleur

Vatuboro

22

CCT*

29

PADRTL**

9

Care

16

LODA

12

Stromme Foundation

8

*CCT – Cooperativa Café Timor; **PADRTL – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural de Timor-Leste

O associativismo não é ainda uma realidade no distrito de Liquiçá. Os grupos de produtores existentes formam-se um pouco por obrigação, por ser essa a única forma de poderem aceder a máquinas agrícolas cedidas pelo Ministério da Agricultura ou para serem incluídos num projecto de uma ONG e não uma iniciativa natural para responder a uma necessidade por eles reconhecida. Apenas num suco foi possível encontrar um grupo de agricultores que se associou para poder vender os seus produtos em conjunto. Actualmente este grupo faz a comercialização dos seus produtos (frutas e hortícolas) nos principais supermercados de Díli. Os grupos existentes apenas trabalham a terra em conjunto, sendo tudo o resto (aquisição de factores de produção e comercialização) feito individualmente. Em termos de acesso a formação, apenas o suco de Fahilebu tem beneficiado de formação dada por ONGs. Os outros sucos, provavelmente devido a uma maior distância de Díli, não têm sido contemplados. São principalmente aqueles que já frequentaram formação que a reconhecem como uma mais-valia. Os restantes não vêem nela utilidade.

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OUTROS ACTORES

Desde o início do estudo duas preocupações estiveram sempre presentes: não duplicar trabalho que estivesse a ser feito por outros e tentar encontrar sinergias com quem está no terreno, essencialmente ao nível da produção. Para isso começaram por identificar-se as principais ONGs que estão a trabalhar em agricultura e comercialização no distrito de Liquiçá. Foram realizados encontros com algumas destas organizações com o objectivo de compreender o trabalho que estavam a desenvolver, quais eram os objectivos no curto e médio prazo e, tendo explicado este projecto, onde é que poderíamos encontrar sinergias. Estas foram já sendo abordadas um pouco ao longo do estudo. Passa-se de seguida a uma breve descrição das ONG/projectos mais significativos e as suas linhas mestras.

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O Fórum das ONG’s de Timor-Leste (FONGTIL) é o organismo de coordenação de organizações da Sociedade Civil – locais, nacionais e internacionais – em Timor-Leste. Regendo-se por princípios de neutralidade e independência, é também parceiro de organizações estatais no processo de transição e construção de paz. Fundado por 14 ONG’s em 1998, a FONGTIL tornou-se depois do Referendo de 1999 uma instituição independente responsável pela coordenação das organizações nacionais e internacionais a intervirem em Timor-Leste, nomeadamente a facilitar, coordenar, promover princípios de justiça e igualdade e divulgar informação aos seus membros. Actualmente, estão registadas como membros da FONGTIL 530 ONG’s nacionais e 123 internacionais. O Fórum está dividido em 4 eixos de trabalho: 1) Divisão de Registo de Membros; 2) Divisão de Advocacia; 3) Divisão Administrativa; e 4) Divisão de Oficiais de Ligação Distrital. Existe actualmente um Oficial de Ligação Distrital (‘District Liaison Officer’ – DLO) em cada distrito cuja função é de fazer a ponte/ligação entre a FONGTIL e os distritos, nomeadamente: 1) Coordenação com o Governo e a população; 2) Divulgação de informação para/entre ONG’s a trabalharem no distrito; 3) Sessões de formação e capacitação de ONG’s membros; 4) Advocacy e monitorização de ONG’s membros.

Cluster Mós Bele - Cooperação Portuguesa O Cluster da Cooperação Portuguesa em Timor-Leste, Mós Bele, financiado pelo IPAD e iniciado a 1 de Julho de 2008 com duração de 30 meses está localizado nos distritos de Ermera, Liquiçá e Díli, e assume um papel de parceiro privilegiado no projecto de dinamização dos mercados e circuitos comerciais locais do IMVF. O Cluster tem como objectivo específico de intervenção a promoção de pólos endógenos de desenvolvimento local nas regiões de Ermera e Liquiçá a beneficiar as respectivas populações rurais. Para tal, o Cluster desenvolve uma serie de actividades estruturadas em 9 componentes, nomeadamente: 1) Fortalecimento das competências relacionais e cívicas com vertentes em educação, saúde, nutrição, direitos e deveres; 2) Fortalecimento das competências laborais chave para o desenvolvimento das cadeias de actividades económicas, potenciadoras de uma especialização local/regional; 3) Desenvolvimento das actividades principais de base lógica (agrícolas e piscatórias), potenciando a diversificação, a transformação, a qualificação da oferta e a acessibilidade aos mercados, ao crédito e aos financiamentos; 4) Desenvolvimento de actividades económicas complementares à actividade agrícola e piscatória, que possibilitem a equidade e a inclusão social dos grupos alvo mais vulneráveis, nomeadamente mulheres e jovens; 5) promoção de serviços de educação e saúde integrados e de proximidade; 6) promoção de actividades de acesso à água potável e saneamento básico e infra-estruturas sociais que potenciem a produtividade agrícola e piscatória, o desenvolvimento de actividades económicas complementares e o acesso aos mercados; 7) promoção da exploração florestal sustentável e controlo da desflorestação; 8) sistema integrado de gestão cluster e por fim, o componente 9) Biti Bot Maubara.

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Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural de Timor -Leste – PADRTL (antiga Missão Agrícola Portuguesa) De acordo com o relatório anual de 2009, o PADRTL, anteriormente conhecido como ‘Missão Agrícola’, resulta de uma parceria com o Ministério da Agricultura e das Pescas de Timor-Leste, iniciada em 2000, baseando-se num conjunto de acções de apoio à comunidade rural na sua actividade agrícola e agroflorestal. O Programa visa a melhoria da situação económica das comunidades rurais e de forma geral, das suas condições de vida em particular a segurança alimentar e o incentivo à produção de culturas de rendimento. O actual projecto engloba uma área de intervenção estratégica em desenvolvimento sustentável e luta contra a pobreza nos distritos de Liquiçá, Ermera e Aileu. O PADRTL centra a sua actividade no apoio à fileira de café e outras culturas permanentes de rendimento; na reflorestação e nos aspectos da preservação dos sistemas agro-florestais equilibrados do ponto de vista ambiental, com finalidade de utilização prática tal como obtenção de lenha e produção de espécies sombreadoras; na formação e capacitação técnica do seu público-alvo tomando partido máximo das capacidades humanas e de infra-estrutura já existentes, assim como de expatriados e docentes portugueses que se encontrem a leccionar na UNTL e na diversificação agrícola. O trabalho do PADRTL em Liquiçá insere-se na Componente III relativa a ‘Novos Projectos e Parcerias’, em particular a expansão e fomento de culturas alimentares em Lois, a expansão do projecto de fomento de culturas de rendimento a Bazartete e o apoio à reabilitação da Fazenda Algarve no subdistrito de Liquiçá. Estes três projectos respondem a uma maior aposta e intensificação da actividade do PADRTL a nível individual mas também numa lógica de parcerias com outras entidades na região de intervenção da estratégia de ‘Cluster’ preconizada para Liquiçá em acréscimo à componente já dedicada a actividade em Ermera. O PADRTL tem uma parceria com a Seeds of Life para o fornecimento de sementes e sua comercialização.

Seeds of Life A Seeds of Life (SoL) é um programa do Ministério da Agricultura e Pescas criado em Setembro de 2005 com financiamento do Governo Australiano e Timorense para combater a insegurança alimentar em Timor-Leste. Actualmente com actividades em 15 sub-distritos em Manufahi, Aileu, Liquiçá, Baucau, Manatuto e Ainaro, a SoL tem como objectivo contribuir para uma maior segurança alimentar através da introdução de variedades melhoradas e tecnologias associadas que resultem numa maior e melhor produção de culturas alimentares. O maior ênfase tem sido dado à produção de milho, batata-doce, mandioca, amendoim e arroz. A SoL incorpora 4 áreas principais com os seguintes objectivos: 1) Produção, armazenagem e distribuição de sementes; 2) Avaliação de novos germoplasmas e respectivas tecnologias; 3) Demonstrações e experiências práticas no terreno; e 4) Gestão e Coordenação do Programa.

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Care International Com financiamento da Comissão Europeia, a Care International está actualmente a desenvolver o projecto ‘Local Initiatives for Food Security Transformation’ com presença em 46 aldeias de 7 sucos no sub-distrito de Maubara em Liquiçá, com final previsto para Dezembro de 2010. As suas actividades estão divididas em várias componentes: 1) Criação e formação de grupos de agricultores (10 a 12 grupos por suco sendo que pelo menos 2 grupos são exclusivamente de Mulheres e outros mistos); 2) Promoção de diversificação da produção agrícola, nomeadamente milho, amendoim, hortícolas e frutícolas; Desenvolvimento de hortas comunitárias; Promoção de auto-sustentabilidade na produção de sementes; Armazenamento. Em Abril 2010 a Care inicia outro projecto na área de Agricultura e Nutrição no sub-distrito de Liquiçá com uma duração de 4 anos.

Fundación ETEA para el Desarrollo y la Cooperación (Cooperação Espanhola - AECID em parceria com o MAP) Através de um Gabinete Técnico de Cooperação em Díli, a Cooperação Espanhola (AECID) através da Fundación ETEA para el Desarrollo y la Cooperación, em parceria com o Ministério da Agricultura e das Pescas (MAP), tem dois projectos de desenvolvimento rural a decorrer no Distrito de Liquiçá. O projecto iniciado em Setembro de 2009 visa aumentar a produção agrícola com uma perspectiva transversal de género, contando com sinergias criadas com outros parceiros Europeus a trabalhar na região nomeadamente Portugal, Alemanha e Comissão Europeia. Tendo como objectivo a criação de condições para produção de alimentos, consumo local e a longo prazo preparar os agricultores para o mercado de exportação para, em seguida, apostar no melhoramento de estruturas comerciais. De forma a desenvolver uma estratégia de desenvolvimento local, o projecto foi dividido em três componentes principais: 1) promoção de culturas de alta produtividade (produção milho, arroz, produtos de alimentação); 2) melhoramento de culturas de montanha (geradoras de rendimento nomeadamente o café); e 3) desenvolvimento de culturas costeiras com vertente de reflorestação e de rendimento. O segundo projecto iniciado em Abril de 2010 ainda se encontra na fase inicial de preparação.

Peace Dividend Trust O ‘Peace Dividend Marketplace – Timor-Leste’ (PDM-TL) foi criado em Agosto de 2007, e conta com a sua sede em Díli e presença em Baucau, Cova Lima e Viqueque, trabalhando ainda com empresas e pequenos negócios em todos os 13 distritos. O trabalho do Peace Dividend Trust em Timor-Leste tem por objectivo criar ligações entre actores internacionais e empresas locais de forma a gerar emprego e riqueza local, e dinamizar e desenvolver os mercados e circuitos comerciais locais, contribuindo desta forma para a recuperação de estabilidade no país, trabalhando numa lógica de ‘Buy Local Build Timor’. O impacto do crescimento e dinamismo de pequenas empresas locais leva a um significativo estímulo 11


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dos mercados locais em distritos rurais. O PDM-TL conta com o apoio do Governo de TL assim como da comunidade internacional na sua abordagem de dinamização dos mercados locais como caminho para desenvolvimento rural, sendo que esta é uma das prioridades nacionais.

Moris Rasik Moris Rasik (MR) é um programa de micro-crédito Timorense parte da Silverton Foundation, que opera em 12 dos 13 distritos Timor-Leste desde Novembro de 2000, incluindo Liquiçá. A MR segue uma versão modificada da metodologia do Banco Grameen de micro-crédito, com um foque especial em mulheres pobres e vulneráveis. A MR é o maior programa de micro-crédito em Timor-Leste em termos de portfolio, escala, resultados, e qualidade. No inicio de 2008 contava com uma base de 10,000 clientes e um portfolio de $2.24mm tendo mais de $780K em poupanças de clientes.

LODA – Liquiçá A LODA é uma ONG timorense fundada em 4 de Setembro de 2003 com o apoio da OXFAM e baseada em Liquiçá. Quando foi fundada foi feito um plano estratégico para 10 anos com quatro eixos estratégicos: agricultura, riscos e desastres naturais, formação em saúde básica e água e saneamento. Até este ano a Oxfam apoiou estes 4 programas com um orçamento anual de 25.000USD para a implementação dos programas e remuneração dos funcionários. Em 2005 estiveram 6 meses a fazer um diagnóstico aprofundado que abrangia os sucos de Motaulun, Fahilebu, Metagou, Vatuboro/Lois e Gugleur. Os sucos foram escolhidos por serem aqueles em que havia menos ONGs a trabalhar. Em termos de agropecuária o estudo concluiu que a população queria essencialmente criação de animais (porcos, cabritos e frangos) e prática da horticultura. Ultimamente têm-se dedicado à sensibilização e promoção de questões relacionadas com a agricultura.

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ANÁLISE DAS CULTURAS/PRODUTOS A EXPLORAR

A análise das culturas/produtos a explorar foi efectuada recorrendo a um conjunto de matrizes de caracterização agronómica, agro-industrial, de comercialização e financeira. Estas matrizes permitem recolher informação de forma sistematizada e comparar os produtos entre eles.

4.1

Caracterização Agronómica

A caracterização agronómica permite efectuar uma primeira selecção das várias opções, com base no confronto das necessidades da cultura com as condições existentes (solos, água, mão de obra, etc.). No distrito de Liquiçá existem fundamentalmente três épocas de produção: época das chuvas, princípio da época seca e época seca. A preparação do terreno é feita a partir de Agosto e até ao início da época

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da chuva, ou seja, Outubro - Novembro, e as culturas de regadio (feitas na época seca), com a preparação do terreno com início em Abril e com as sementeiras a partir daí até Agosto. Nas culturas a que iremos chamar da época da chuva, culturas de sequeiro, incluem-se o milho, o amendoim, a mandioca, a batata-doce, a abóbora, feijão (diferentes variedades, com excepção do feijão mungo) e o arroz. A plantação das fruteiras como a tangerina, a laranja e a manga é também feita nesta altura do ano. As hortaliças, nas quais se incluem as mostardas e outras hortícolas de folhas, o tomate, os feijões, a beringela, o repolho, a soja e a cenoura são culturas de regadio que têm a sua sementeira a seguir às culturas da época da chuva, ou seja, no final da época das chuvas, a partir de Abril. São feitas em parcelas diferentes das anteriores, em geral mais pequenas e localizadas próximo de nascentes de água. Segundo os dados recolhidos com os inquéritos realizados, e considerando que esses dados são representativos da actividade agrícola do distrito de Liquiçá, as principais produções agrícolas são o milho, a mandioca, o feijão, a fruta (papaia e banana), a abóbora e as hortaliças. O milho, a mandioca e o feijão, fazendo parte da base da alimentação dos timorenses e podendo ser armazenados durante um período mais ou menos longo são os mais produzidos. Para as restantes culturas, devido à falta de água, às elevadas necessidades de mão-de-obra, ao seu baixo poder de conservação e à dificuldade de acesso aos mercados são produzidas em muito menor escala. O gráfico correspondente à produção total dos sucos inquiridos mostra no entanto que os sucos se complementam entre si em termos de oferta de produtos agrícolas. Não foi possível, através dos inquéritos e entrevistas, apurar a área e a produção de cada cultura. Segundo dados fornecidos pela Direcção Nacional de Agricultura e Horticultura a área com potencial agrícola no distrito de Liquiçá tem sido bastante subaproveitada. Na tabela seguinte dá-se uma ideia das áreas com potencial agrícola, as áreas efectivamente cultivadas com as diferentes espécies e as respectivas produções. TABELA 2 – ÁREA E PRODUTIVIDADE DAS PRINCIPAIS CULTURAS AGRÍCOLAS (MAP)

Área potencial

Área de cultivo

Área de colheita

Produtividade

Produção

Feijão Mungo

5000 ha

7

6

0,5

3

Amendoim

5000 ha

90

85

0,9

76,50

Soja

5000 ha

41

37

0,6

22,20

Mandioca

5000 ha

438

426

3,2

1.363,20

Batata-doce

5000 ha

133

125

2,0

250,00

Batata

5000 ha

36

28

2,2

61,60

Milho

5000 ha

1530

1530

1,50

2.295,00

Arroz

1866 ha

1325

870

3

2.175

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Retirando o arroz, que exige condições especiais, as restantes culturas perfazem uma área de 2 275ha, ou seja, um pouco mais de metade da área com potencial agrícola não está a ser usada. No que diz respeito a hortícolas e frutas as áreas de produção e as quantidades produzidas em Liquiçá e em Timor-Leste são como se mostra na tabela seguinte. TABELA 3 – ÁREA E PRODUÇÃO DE HORTÍCOLAS E FRUTAS EM LIQUIÇÁ E EM TIMOR-LESTE EM 2009

Hortícolas Cebola Alho Repolho Mostarda Beringela Feijão Ervilha Pepino Abóbora Canco Baiam Malaguetas Alface Tomate Varia Feijão chicote Salsa

Coluna1 Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total

Área (ha) 4,5 385,6 27,2 284,5 36,4 385,6 35,2 450,1 10,5 48,8 134 5620 17 105 13,8 166,9 21 178 22 164,8 4,3 94,8 2,6 52,4 2,3 67,7 10,2 50,1 1,5 13,9 0,2 8,7 0,2 3,5

PT (ton) 54,2 1327,3 55 639,2 294,8 3113,4 205 2933 84 362,4 75 2945 43 285 82,8 1055,7 134 1121 74,8 618 25,8 500,6 13 311,5 13,8 405,8 51 273,1 9 84,8 1 51,5 0,6 13,3

Frutas Abacate Manga Jaca Citrinos Toranja Papaia Banana Fruta pinha Goiaba Ananás Rambutão

Coluna1 Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total Liquiçá Total

Área (ha) 78,5 237,43 48,5 850,19 26,5 245,4 23,3 208,5 0,2 19,2 9,9 78,5 27,1 244,99 19,3 34 11,8 108,99 0,3 8,45 6,8 25,3

PT (ton) 1177,5 3550,65 363,7 6367,6 198,8 1938,9 194 1688,8 1 93,6 247,5 1962,5 81319,3 6210,8 55,8 133,2 88,5 817,4 3,75 105,68 8,9 10,9

No distrito de Liquiçá há três sucos com potencialidade para produzir arroz: Lissadila, Guiço e Leoteala. No entanto com a alteração do curso da ribeira de Lois, estes sucos perderam essa aptidão e a produção de arroz passou para Raimate, suco de Asulau, distrito de Ermera. Em Guiço e Lissadila há ainda alguma produção de arroz.

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FIGURA 7 – PRINCIPAIS PRODUÇÕES AGRÍCOLAS POR SUCO E NO TOTAL

O principal factor limitante em quase todas as culturas da época da chuva é a água. Por exemplo, nos locais onde há água ao longo do ano é possível fazer duas colheitas de milho por ano. Para as culturas de regadio, em termos agronómicos, o principal factor limitante é a água. As pragas e doenças que surgem com as primeiras chuvas e também o efeito da queda da chuva nas próprias plantas, impedem depois a extensão da época de produção. Actualmente a Care International tem um projecto agroflorestal que abrange os sucos de Vatuboro, Gugleur, Lissadila, Vaviquinia e Maubarlissa, através do qual pretende treinar os agricultores na construção de terraços (em Gugleur e Lissadila) e em técnicas de recolha e armazenamento de água para usar, entre outros, na horticultura. Este projecto prevê a construção de 21 tanques de recolha e armazenamento de água, dos quais 19 estão já instalados. Através da sensibilização dos agricultores para a recolha de água e da sua formação para utilização da mesma na horticultura, o principal factor limitante será eliminado ou, pelo menos, reduzido, e será possível aumentar não só a área de produção mas também a produtividade e a qualidade dos produtos hortícolas e de algumas frutas. Não sendo objectivo da UPSA a produção agrícola, não faz muito sentido neste ponto fazer uma descrição exaustiva do itinerário técnico de cada cultura. Assim sendo será feito um resumo das práticas culturais para a generalidade das culturas, salientando algum caso específico que seja relevante para o

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objectivo do estudo. Em média, cada agricultor cultiva cerca de 1ha. A principal cultura da época da chuva é o milho. Este é normalmente cultivado em consociação com a mandioca, a abóbora e o feijão. As técnicas de produção na generalidade são ainda muito artesanais e exigentes em mão-de-obra. Para as culturas da época da chuva, por serem feitas em parcelas entre 0,5 e 2 ha e em terrenos de várzea, justifica-se o uso dos tractores e/ou motocultivadoras. No caso de parcelas em que o uso das motocultivadoras e tractores é já um hábito, a lavoura de 1ha pode levar 0,5 dia. No caso de um terreno que nunca tenha sido trabalhado 1ha pode demorar 2 dias. A lavoura de 1ha com uma motocultivadora poderá demorar 4 dias. Normalmente a preparação de um terreno inclui uma lavoura e duas gradagens. De acordo com os dados recolhidos nos três sucos 37% dos inquiridos usa tractores e 11% motocultivadoras, distribuídos como se vê na figura seguinte. O suco com maior número de beneficiários de tractores e motocultivadoras é o de Fahilebu, no entanto o número total de inquiridos com acesso a máquinas agrícolas é ainda muito reduzido.

FIGURA 8 - UTILIZAÇÃO DE TRACTORES E MOTOCULTIVADORAS PELOS INQUIRIDOS E POR SUB-DISTRITO

Segundo dados fornecidos pela Direcção Nacional de Agricultura e Horticultura existem actualmente no distrito de Liquiçá quatro tractores médios e grandes. Está previsto que até ao final de 2010 existam 11 tractores (4 Kubota médios, 1 Kubota grande, 1 Massey Ferguson médio e 1 Massey Ferguson grande). Estes 11 tractores deverão lavrar 1100ha de terrenos, com um gasto de 49 500litros de gasóleo, aos quais corresponde um custo total de 39600USD (0,80USD/l). A estes acrescem dois tractores do PADRTL, situados na área de Lois. Idealmente, e tendo em conta a sua capacidade um tractor médio/grande deveria ser capaz de trabalhar 100ha/campanha. Na realidade, no distrito de Liquiçá, tal não é possível, devendo este valor ser reduzido para cerca de 25ha. As razões para este facto estão relacionadas não só com a reduzida dimensão das parcelas, que torna pouco eficientes os rendimentos dos tempos de trabalho, e com a falta de operadores qualificados, mas, principalmente, com os vários problemas mecânicos que vão surgindo ao longo da época de preparação do terreno e com a dificuldade de acesso a combustível que levam a paragens no trabalho por vezes por tempo indeterminado. Embora não sejam directamente substituíveis por não terem a mesma capacidade de trabalho, será de considerar a

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hipótese de substituir os tractores por motocultivadoras uma vez que estas são mais acessíveis (podendo com o valor de um tractor comprar várias motocultivadoras) e menos exigentes em termos de manutenção. Em termos de calendário agrícola, as diferentes datas de sementeira são conjugadas entre si de forma a minimizar a concorrência entre os vários tipos de plantas e a não sobrepor datas de colheita. As primeiras culturas a ser semeadas são o milho, o feijão e a abóbora ao mesmo tempo, o amendoim 15 dias após o milho, para desencontrar as colheitas, e a mandioca um mês após o milho para evitar a competição. O amendoim não é semeado em consociação. Cada parcela é dividida em dois, sendo que numa parte é cultivado o milho, eventualmente com alguma cultura em consociação, e noutro é semeado o amendoim. Os terrenos de arroz não coincidem com os anteriores, localizam-se normalmente em zonas com muita água que permitam a construção de canteiros. As sementes utilizadas são, regra geral, guardadas de um ano para o outro. Após a colheita é feita uma selecção das plantas de melhor qualidade e as sementes dessas são guardadas para o ano agrícola seguinte. Nestas culturas da época da chuva não é usado adubo. Mais recentemente o PADRTL tem fomentado o uso de ureia (adubo azotado) na cultura do milho. O Seeds of Life, um programa de investigação e promoção da adopção de variedades melhoradas tem trabalhado com os agricultores de Vatuboro e com a PADRTL no sentido de introduzir novas variedades de milho e amendoim. Para isso faz contratos de produção e comercialização de sementes com os agricultores, a qual é supervisionada pelo PADRTL. Ao longo do desenvolvimento das culturas a única operação cultural é a monda de infestantes (capinagem e limpeza de infestantes). Este é um trabalho difícil e que pode consumir muito tempo, mas que faz uma grande diferença em termos produtividade final. É importante fomentar a adopção das enxadas para fazer a capinagem, uma vez que estas permitem arrancar as culturas, em vez da usual catana, que apenas corta as infestantes deixando as raízes enterradas. Para além disso seria também importante encontrar formas alternativas de controlo do capim, seja através do uso de espécies rasteiras e menos competitivas, seja através da utilização de herbicidas como o Roundup. No caso de haver pragas ou doenças estas são tratadas com produtos caseiros. Chegada a época da colheita o milho é o primeiro a ser colhido, entre Fevereiro e Abril dependendo da data de sementeira, seguindo-se o amendoim (cerca de 15 dias mais tarde), o feijão (Fevereiro – Março), a abóbora e a mandioca. O feijão é colhido todo de uma vez e a rama do feijão é deixada no terreno funcionando como adubo orgânico. Sendo o feijão uma trepadeira, é preciso ter atenção para que a planta não se agarre aos caules da mandioca e a asfixie. A abóbora começa a ser colhida ainda “tenra” no mês de Março, sem estar completamente formada, e depois de Março até Junho já madura. A colheita da mandioca inicia-se 9 meses após a sua plantação e pode ser feita de duas maneiras. No caso de produção para auto consumo é colhida ao longo do ano para poder ter sempre alimento. Neste caso o agricultor pode até fazer uma plantação escalonada de modo a ter mandioca todos os anos. No

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caso de ser para comercializar, a mandioca é apanhada toda de uma vez, fazendo a plantação por estacas em seguida. A colheita do arroz faz-se entre Abril e Julho, dependendo da data de sementeira. No caso de haver água é possível nestas parcelas fazer uma segunda cultura de milho com a sementeira em Maio e a colheita em Agosto. Caso contrário não é aí feito nada. Através da introdução de tractores e motocultivadoras tem sido feito um esforço para introduzir algumas novas técnicas de produção no sentido de aumentar a produtividade. Embora não sejam obrigatórias (não estando incluídas, por exemplo, no contrato de concessão de motocultivadoras), os extensionistas têm vindo a promover, como contrapartida pelo uso das máquinas, a transplantação do arroz (em vez da usual sementeira a lanço) e a sementeira do milho em linhas com compassos regulares. Este tem também sido o trabalho do PADRTL portuguesa no apoio à produção. No caso das hortaliças e outras culturas do tempo seco, essas são feitas em parcelas substancialmente mais pequenas, de 10m x 10m e localizadas próximo de nascentes. As principais operações culturais são a preparação do terreno, a produção de viveiro ou sementeira, a transplantação (no caso do viveiro), a monda de infestantes, e a colheita. Dada a reduzida dimensão das parcelas não faz aqui sentido recorrer à utilização de máquinas agrícolas. Assim a preparação do terreno para sementeira e/ou transplantação é feita à mão usando enxadas e catanas, podendo os agricultores agrupar-se para trabalhar os terrenos em conjunto. No que diz respeito a este tipo de culturas não é muitas vezes possível guardar sementes de um ano para o outro, pelo que estas são compradas nos bazares, mercados e nas lojas em Díli. Estas parcelas são adubadas com adubo orgânico de vaca, cabra ou restos da cultura do café. No que diz respeito a tratamentos contra pragas e doenças, tal como nas culturas da época da chuva, em geral são usados produtos produzidos também pelos próprios agricultores. Segundo uma publicação do MAF o vale do Lois, localizado a uma altitude de 100m, a fertilidade do solo é muito baixa e com um teor de P, Ca e Mg elevado, pelo que a introdução de adubos seria uma maisvalia. Aquando da descrição dos itinerários técnicos das principais culturas foram sendo feitas algumas referências à utilização de factores de produção. Estes apenas são comprados quando o agricultor não os consegue mesmo produzir, tal como nos mostra o gráfico seguinte. “Outro” significa que é produzido

Adubos

Sementes

Plantas

Embalagens

Material

FIGURA 9 – MODO DE OBTENÇÃO DOS PRINCIPAIS DE PRODUÇÃO POR SUB-DISTRITO Fahilebu Gugleur FACTORES Vatuboro

18

Fitofármacos

NS/NR

Outro

Compra

NS/NR

Outro

Compra

NS/NR

Outro

Compra

NS/NR

Outro

Compra

NS/NR

Outro

Compra

NS/NR

Outro

100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Compra

% de inquiridos

pelo próprio agricultor ou dado por familiares e vizinhos. Não se registam também grandes diferenças


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nas respostas entre sucos. A Care International tem dois projectos-piloto para a construção de armazéns para sementes. O objectivo é fomentar o armazenamento de sementes para épocas de escassez. Caso estes projectos tenham sucesso irão ser construídos mais 5 armazéns. Ainda com vista à correcta armazenagem de sementes, a Care tem vindo a distribuir gratuitamente bidons. A grande maioria dos produtores, quando tem algum problema no que diz respeito à produção, recorre à ajuda de vizinhos, colegas e amigos. Apenas o suco de Fahilebu tem uma larga maioria de inquiridos a dirigir-se ao extensionista. No caso de Vatuboro a explicação poderá estar no facto de o extensionista ser técnico de pecuária e estar por isso menos familiarizado com a agricultura. No que diz respeito aos principais problemas relacionados com a produção agrícola, estes diferem de suco para suco. No suco de Fahilebu os principais problemas são a falta de material agrícola, a dificuldade em construir cercas e a ausência de meios de transporte. Em Gugleur, com uma fraca taxa de respondentes, os principais problemas enunciados foram as dificuldades económicas, a produção reduzida e a fraca capacidade para trabalhar a terra. Em Vatuboro, a falta de mão-de-obra e as pragas de gafanhotos foram problemas apontados por cerca de 95% dos inquiridos. Os produtos mencionados até ao momento são produtos tradicionalmente feitos no distrito e que por isso não deverão ser postos em causa. No entanto, os agricultores estão ainda muito numa fase muito embrionária da produção para a comercialização e como tal a atenção deve estar agora não em produzir diferente, não em produzir muito, mas sim em produzir bem e com qualidade. Não se quer com isto dizer que não possa surgir nenhum novo produto, mas esse não pode ser um dos objectivos principais no curto prazo.

19


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá” TABELA 4 – CALENDÁRIO DE OPERAÇÕES CULTURAIS DAS PRINCIPAIS CULTURAS AGRÍCOLAS

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TABELA 5 - CARACTERIZAÇÃO AGRONÓMICA

Cultura

Ciclo completo

Ciclo de préprodução

Época de plantação

Rega

Densidade de plantação

Produtividade anual

Milho

90 dias

na

Chuva e Seca

Não/Sim

± 17 800

0,6ton

Amendoim

90 dias

na

Chuva

Não

± 111 111

1ton

Arroz

35 – 120 dias

na

Chuva

Não

6- 26kg/ha

1-2 ton

Soja

90 dias

na

Seca

Sim

44 kg/ha

1 ton

Mandioca

18 meses

9 meses

Seca

Não

Hortaliça

60 dias

na

Chuva

Sim

Batata-doce

90 – 180 dias

na

Chuva

Não

Abóbora

120 dias

na

Chuva

Não

Laranja

4 anos

Chuva

Não

Tangerina

4 anos

Chuva

Não

Manga

5 anos

Chuva

Não

Café

3-5 anos

Chuva

Não

3,6 ton

2,8 ton

1,5 ton (cereja)

Feijão

60-90 dias

na

Chuva

Não

44kg/ha

Tomate

90-120 dias

na

Seca

Sim

60.000

8 meses

Seca

Sim

Papaia Feijão chicote

90 dias

na

Seca

Sim

90.000

Beringela

120 dias

na

Seca

Sim

90.000

Repolho

90 dias

na

Seca

Sim

90.000

Feijão mungo

90 dias

na

Seca

Sim

62.500

4.2

0,3 ton

Caracterização Agro-Industrial

A caracterização agro-industrial é muito semelhante à agronómica e tem o mesmo fim, ou seja de efectuar uma primeira triagem da viabilidade da produção em termos técnicos. Para isso é essencial saber a capacidade de produção local (capacidade instalada), qual a matéria-prima utilizada, que outros recursos são necessários, que subprodutos resultam do processo de fabrico, que outros inputs são necessários, quais as exigências técnicas, qual o rendimento da transformação, que recursos materiais e financeiros são necessários para uma unidade de transformação e qual a previsão de vendas anual. Actualmente os produtos sujeitos a algum tipo de transformação são o café, o coco, o milho e o arroz. O café, pelas razões já anteriormente apontadas, não irá ser aqui considerado. O coco, dada a sua baixa produção não será também aqui tratado. O milho, após colhido, tem que ser debulhado. Usualmente a debulha é manual e pode ser feita de duas formas consoante o destino do grão. No caso de o grão ser usado para semente (para o que são escolhidas as melhores espigas) a debulha é feita apenas à mão de modo a manter as sementes em bom estado. No caso de o grão para consumo, as espigas são colocadas num saco e batidas com um pilão para fazer soltar os grãos. Uma vez debulhado, o grão pode ser consumido de três formas: inteiro, 21


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triturado, pilado e farinha. A diferença entre as últimas três formas de milho está na grossura das partículas que se obtêm. Para triturar os grãos são batidos com pedras. Para pilar, um pouco mais fino, é usado o pilão. Existem também algumas máquinas para triturar e pilar mas que não permitem fazer farinha. Para fazer farinha normalmente os grãos são torrados, para ficarem mais secos, e depois são pilados. De acordo com os resultados dos inquéritos apenas há moageira de milho próximo de Atabae, pelo que só os sucos de Gugleur (64% dos inquiridos) e Vatuboro (96% dos inquiridos) a utilizam. Os subprodutos da transformação do milho são as camisas e o carolo, aos quais não é dado nenhum tipo de utilização. No que diz respeito ao arroz, uma vez ceifado este tem que ser debulhado e depois descascado. A debulha é um processo relativamente simples. O descasque para além de ser mais trabalhoso tem um efeito negativo na qualidade do grão uma vez que deixa uma grande quantidade de grão partido. Um factor crítico para o descasque do arroz (com máquina ou com pilão) é o teor de humidade no grão e a forma como este é seco. Quanto menor o teor de humidade maior a percentagem de grão quebrado. Os sub-produtos da debulha e do descasque são a palha e a casca. O rendimento do descasque é 60%, ou seja, por cada 100kg de “nelly” obtém-se 60kg de arroz descascado. TABELA 6 - CARACTERIZAÇÃO AGRO-INDUSTRIAL

Produto

Sub-produtos

Matérias

Outros

Exigências

Factor de

Capacidade

Primas

Inputs

Técnicas

Conversão

Instalada

Farinha de Milho

Camisa, carolo, farelo

Milho

Gasóleo

Baixas

-

-

Arroz

Palha e casca

Arroz (neli)

Gasóleo

Alta

60%

600kg/8horas

TABELA 7 – CARACTERIZAÇÃO AGRO-INDUSTRIAL

Produto

Maquinaria e Equipamento

Método para o controlo de qualidade

Investimento

Capital

Vendas anuais

Farinha de milho

Debulhadora

Técnico da UPSA

700 USD – Debulhadora

500 USD (para compra de algum material, gasóleo e matéria prima)

-

500 USD

120

Moinho

1200 USD Moinho 2000 USD Telhado Arroz

Debulhadora

Técnico da UPSA

3 600USD

Descascadora

4.3

Caracterização Financeira

A caracterização financeira é aquela que determina se, mesmo apesar de todas as condições agronómicas e agro-industriais reunidas, estamos perante um ou mais produto (s) economicamente viáveis para os produtores e para a UPSA.

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Para isso é necessário será necessário avaliar quanto é que custa produzir uma unidade de cada produto e por quanto é que é vendido, tendo em conta que poderá haver vários intermediários ao longo da cadeia de comercialização conforme apresentamos na figura seguinte:

UPSA

Produtor

Consumidor Final

Mercado

FIGURA 10- LIGAÇÃO DA UPSA COM DIFERENTES ACTORES LOCAIS

4.3.1 Análise económica da produção A agricultura praticada no distrito de Liquiçá é essencialmente uma agricultura de subsistência praticada com recurso a mão-de-obra familiar e com a maior parte dos factores de produção utilizados a serem produzidos pelos próprios agricultores. Por esta razão é muito difícil apurar, para a generalidade dos produtos, o custo exacto de produção. Assim, neste capítulo apenas se incluem os custos de produção do milho, feijão-mungo, arroz e café, os quais foram apurados pelo Ministério da Agricultura. Os produtos com melhor remuneração da mão-de-obra familiar são a soja e o feijão-mungo. Segundo informação proveniente de uma publicação do Ministério da Agricultura os terrenos de Lois não são bons para o feijão-mungo. Quanto à soja, foram feitas algumas experiências em que ficou provado a soja dar-se bem nestes terrenos, não tendo no entanto havido mercado para este produto. O milho, mesmo com fertilizante, é a cultura que pior remunera a mão-de-obra familiar. TABELA 8 - ANÁLISE ECONÓMICA DOS PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS (DADOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA)

Preço (USD/kg)

Produtividade (ton/ha)

CT c/ MOF (USD)

CT s/ MOF (USD)

MB s/ MOF (USD)

MB c/ MOF (USD)

Produção MB=0 (ton)

Rem. MOF (USD/dia)

Milho com fertilizante

0,375

2

688,5

33,5

575,9

-79,1

1835,9

1,76

Milho sem fertilizante

0,375

1,16

665

10

284

-371

1773

0,87

Arroz tradicional

0,3

2,5

652,5

380,5

369,6

97,6

2174,8

2,72

Arroz melhorado

0,38

1,15

414,9

104,1

332,9

22,1

1091,8

2,14

Soja

0,5

1,32

356,2

244

416

303,8

712,4

7,42

Feijão mungo terras baixas

0,5

0,76

229,1

39,9

340,1

150,9

458,2

3,6

Feijão mungo terras altas

0,32

4,5

772,3

442,3

947,7

667,7

2413,4

6,77

Produtos

CT – Custo total; MOF – Mão-de-obra familiar; MB - Margem Bruta; Rem. MOF – Remuneração da Mão-de-obra Familiar

4.3.2 Análise económica da transformação Para cada uma das máquinas a adquirir foram feitas estimativas dos custos e rendimento de transformação. Não tendo sido possível apurar custos certos para cada uma das parcelas, os valores aqui apresentados são meramente estimativas com base na experiência adquirida em trabalhos anteriores. No primeiro ano de trabalho será por isso necessário validar estes valores e agir em 23


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conformidade com essa validação. O custo da máquina foi o apurado na visita de prospecção realizada a Atambua. No que diz respeito ao operador, considerou-se que haverá uma pessoa responsável pelos três tipos de máquinas (debulhadora, descascadora de arroz e moageira) e que estará afecto a cada uma delas 1/3 do tempo. Para o cálculo das amortizações considerou-se que todo o equipamento terá uma vida útil de 5 anos e um valor residual de 5%. Os quadros são apresentados da seguinte forma: o primeiro quadro apresenta os valores base que estiveram subjacentes ao cálculo das receitas e das despesas. O segundo quadro apresenta o número de hora que é necessário a máquina trabalhar para que as receitas igualem (ou fiquem ligeiramente positivas) os custos, e a quantidade de produto transformado a que correspondem essas horas de trabalho, por ano e por mês. TABELA 9- ANÁLISE ECONÓMICA DA DESCASCADORA DE ARROZ

Rubrica

Valor

Unidade

Capacidade

200

kg/hora

Custo da descascadora

800

USD

Valores break-even

Valor

Unidade

Receitas

1.200

USD

1.152

USD

200

h/ano

Amortização anual

152

USD/ano

Custos

Operador

600

USD/ano

Nº de horas de trabalho breakeven

Consumo combustível

2

l/h

Kg de arroz descascado/ano

40.000

Kg/ano

Custo combustível

1

USD/l

kg de arroz descascado/mês

3.333

Kg/mês

Custo da manutenção

0,2

USD/h

Preço do descasque

1,50

USD/50kg

No caso da descascadora de arroz para as receitas igualarem as despesas a máquina terá que trabalhar 200horas por ano o que equivale a descascar 40ton de arroz por ano, ou pouco mais de 3ton por mês. Para a descascadora de arroz não havia nenhuma informação sobre a capacidade de descascamento, pelo que se considerou como 200kg/hora um valor aceitável para uma descascadora de tamanho médio. Sendo que a descascadora vai trabalhar essencialmente para os pequenos produtores que usam o arroz para consumo próprio, estes parecem valores bastante aceitáveis.

TABELA 10- ANÁLISE ECONÓMICA DAS MOAGEIRAS DE MILHO

Rubrica

Valor 1

Valor 2

Unidade

500

200

kg/hora

3.500

1.500

USD

Amortização anual

665

285

Operador

600

600

Custo horário manutenção Custo horário combustível Preço da moagem do milho

0,2

Capacidade Custo do moinho

Valores break-even

Valor 1

Valor 2

Unidade

Receita

1.367

973

USD

USD/ano

Despesa

1.355

965

USD

USD/ano

Nº de horas

0,1

USD/hora

2

1

USD/hora

Quantidade de grão moído/ano Quantidade de grão moído/mês

1,0

1

USD/15kg

41

73

horas/ano

20.500

14.600

kg/ano

1.708

1.217

kg/mês

24


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

No caso das moageiras de milho, foram feitos cálculos para máquinas com duas capacidades diferentes, 500kg/hora (valor 1) e 200kg/hora (valor 2). Em termos de resultados qualquer uma delas parece ser viável financeiramente. Para a decisão entre uma das duas há dois pontos a ter em consideração: 1º - O orçamento disponível permite a aquisição da máquina com maior capacidade? Se não, então opta-se pela máquina mais pequena; 2º Se sim, então há que decidir qual a opção mas rentável e que melhor ajuda a responder às necessidades dos agricultores: compra-se apenas uma moageira maior, ou opta-se pela compra de duas moageiras com menor capacidade, o que iria permitir a deslocalização da transformação. Tendo em conta a dificuldade dos produtores em deslocarem-se com o seu produto, a escolha acertada seria a opção das duas máquinas de menor dimensão. TABELA 11 – ANÁLISE DE CUSTOS DA DEBULHADORA

Rubricas Capacidade Custo da debulhadora

Valor

Unidade

Valores break-even

Valor

Unidade

200

kg/hora

Receita

1080

USD

713

USD

Despesa

1076

USD

135,47

USD/ano

Nº de horas

162

horas/ano

Operador

600

USD/ano

Kg de espigas debulhadas

32400

kg/ano

Custo horário manutenção

0,1

USD/h

kg de grão obtido

31752

kg/ano

Amortização

Custo horário combustível Custo da debulha

2

USD/h

0,50

USD/15kg

No final apresentam-se as contas relativas à debulhadora. Não havendo actualmente nenhuma máquina semelhante a trabalhar no distrito e não havendo especificações do fabricante, não foi possível encontrar valores fidedignos para os cálculos da debulhadora. Ainda assim, apresentam-se estimativas, com base nas quais poderemos dizer que será necessário debulhar cerca de 32ton de milho/ano para que a máquina seja rentável. Este é um valor bastante superior à quantidade de grão que é necessário moer para tornar a moageira rentável. Não sendo a debulhadora um investimento muito elevado, sugere-se a aquisição de uma debulhadora, que ficará instalada próximo da UPSA, a validação dos dados obtidos e a sua confrontação com a procura do mercado e, caso venha a justificar-se, adquirir então uma segunda debulhadora a qual ficará depois localizada próximo da segunda moageira.

4.3.3 Análise económica da comercialização No que diz respeito á comercialização dos produtos perecíveis foi feita uma análise da viabilidade financeira para a UPSA, partindo do pressuposto de que a UPSA terá um carro para transporte dos produtos. Caso não venha a ser possível obter o veículo, o volume comercializado inicialmente será menor, recorrendo ao transporte alugado. i)

Volume comercializado por produto e por mês

25


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Para o cálculo do volume de produtos comercializados por produto e por mês, considerou-se que o transporte dos produtos era feito em viatura própria com um custo de 370USD/mês (fazendo 8 viagens por mês) e que a UPSA teria capacidade de escoar 5% da produção total de cada produto no distrito de Liquiçá. Esse volume calculado foi depois distribuído igualmente por todos os meses em que há comercialização de cada produto. Os valores obtidos foram confrontados com o volume de produtos gastos no Leader por semana e pareceram ser muito razoáveis e com margem para crescer. Os valores obtidos encontram-se no quadro seguinte. TABELA 12 - ESTIMATIVA DO VOLUME DE PRODUTOS A COMERCIALIZAR, POR PRODUTO E POR MÊS (KG)

Jan

Fev

Abóbora

Mar

Abril

Mai

Jun

Jul

Ago

169

169

169

169

169

169

58

58

Tangerina Hortaliça* Tomate

Set

Out

58

58

58

58

1885

1885

1885

1885

41

41

41

41

41

41

41

41

7

8

Beringela Repolho Banana

113

113

113

113

113

113

1885

1885

13195

1275

2550

1212

1213

2425

41

41

41

41

495 15

1050

1050

2100

1474

1474

1474

1474

113

113

113

113

5896 113

113

*na categoria “Hortaliça” incluem-se as mostardas, o pepino e a alface

ii) Estimativa dos preços dos principais produtos pagos aos produtores Para apurar o preço pago pelos produtos aos produtores baseámo-nos nos dados recolhidos aquando da realização do estudo, tendo usado os preços praticados quando a oferta é menor (e por isso o preço mais alto) e à porta de casa do agricultor. Não sendo os produtos comercializados ao kg, mas sim aos molhos, montes, baldes, etc., houve também necessidade de fazer uma estimativa do peso de cada molho, monte ou balde. Os valores usados são os apresentados na seguinte tabela: TABELA 13 – PREÇOS DOS PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS

Preços produtos agrícolas

TOTAL

349 1885

1275

Feijão chicote

Dez

1016

Manga Papaia

Nov

USD/kg

Abóboras

0,1

Tangerina

0,4

Mostarda

2,5

Pepino

0,5

Alface

1,25

Tomate

0,7

Manga

0,8

Papaia

1

Feijão chicote

0,3

Beringela

0,5

Repolho

0,5

Banana

0,6

26

1355


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

iii) Estimativa do volume total pago aos produtores por produto e por mês Para calcular o volume total pago aos produtores consideraram-se as quantidades estimadas anteriormente e os preços estimados no ponto anterior. O resultado do custo da compra dos produtos aos agricultores, por produto e por mês está no quadro seguinte. TABELA 14 - ESTIMATIVA DO VALOR A GASTAR NA COMPRA DE PRODUTOS AOS PRODUTORES, POR PRODUTO E POR MÊS (USD)

Jan

Fev

Abóbora

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

169

169

169

169

169

169

23

23

23

23

23

23

629

629

629

629

Tangerina Hortaliça Tomate

Set

Out

41

41

41

41

41

Feijão chicote

41

41

25

25

Beringela Repolho Banana

68

68

68

68

68

68

TOTAL

140 629

629

893

41

Dez

1016

Manga Papaia

Nov

41

41

3774 892

1785

970

970

1940

41

41

495 50

2100

2100

4200

2948

2948

2948

2948

68

68

68

68

11792 68

68

iv) Estimativa da receita líquida do ano 0 ao ano 2 Para o cálculo da receita bruta no ano 0, este em que nos encontramos, considerou-se uma margem de 5% sobre o preço pago aos produtores. Para o cálculo das receitas brutas dos anos seguintes considerou-se um aumento de 5% da receita bruta de ano para ano. Os resultados das receitas brutas e líquidas para os anos 0 a 2, encontram-se no quadro 6. No ano 0, considera-se que a comercialização terá inicio apenas em Junho (caso haja aprovação da atribuição da viatura), pelo que o primeiro semestre não terá receitas. O primeiro ano, começando a comercialização no semestre em que há mais produção, tem um lucro total positivo. O ano 1 tem ainda um lucro ligeiramente negativo para recuperar depois no ano 2. Para os anos 1 e 2 é possível ver que o primeiro semestre tem sempre um lucro negativo, no entanto o volume comercializado no segundo semestre é suficiente (ou quase, no caso do ano 1) para cobrir esse lucro negativo, sendo o saldo anual do ano 2 já muito positivo. Considera-se que as estimativas foram feitas de forma muito cautelosa e que, à medida que se for criando mercado, a utilização de transporte refrigerado poderá trazer para a UPSA resultados muito interessantes. A médio e longo prazo poderá ainda haver outros tipos de transformação de produtos como é o caso das compotas e da manteiga de amendoim que poderão também contribuir para a rentabilização da viatura.

27

813


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

TABELA 15 - RESUMO DAS RECEITAS PROVENIENTES DA UTILIZAÇÃO DA VIATURA

Jan Ano 0

Ano 1

Ano 2

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

TOTAL

Rec. Bruta

4294

6604

6390

4055

1879

2169

Rec. Líquida

20

230

211

-1

-199

-173

Rec. Bruta

1212

126

322

348

348

1075

4509

6934

6710

4257

1973

2277

Rec. Líquida

-160

-353

-327

-323

-323

-226

235

561

530

201

-105

-64

Rec. Bruta

1272

132

338

366

366

1129

4734

7281

7045

4470

2071

2391

Rec. Líquida

-99

-347

-311

-306

-306

-172

461

907

866

414

-7

49

Não tendo sido possível averiguar com fiabilidade os custos de produção e alguns preços não é possível, neste momento, apurar quais os produtos mais rentáveis. Este é um trabalho que pode depois vir a ser feito ao longo do tempo, em conjunto com os agricultores, com base na sua experiência com o apoio de fichas de recolha de informação sobre itinerários técnicos, tempos das principais operações culturais e custos efectivos com factores de produção, e também com a recolha de informações sobre preços nos diferentes mercados. O Ministério da Agricultura, através da Direcção Nacional Plantas Industriais e Agro-Comércio, tem um sistema de informação de preços dos principais produtos agrícolas para os distritos de Baucau e Maliana. Para alimentar este sistema de recolha de informação são seleccionados três vendedores para cada produto e, mensalmente, são recolhidos os preços praticados em cada mercado. No final do ano é produzido um relatório com a evolução dos preços ao longo do ano e uma explicação. Estes dados são de uma grande utilidade no sentido de encorajar os agricultores a planificarem a sua produção de forma a tirar o melhor partido possível dos preços que vão sendo praticados em função das necessidades do mercado. Mas também permite aos agricultores, olhando para o mapa de preços, perceber quais são aqueles produtos que lhes poderão trazer mais rendimento (tendo em conta os custos de produção e a receita obtida). Em anexo pode ser encontrada a ficha de recolha de informação sobre os preços, a qual poderá vir a ser utilizada para recolha de informação nos principais mercados de influência do distrito de Liquiçá.

4.3.4 Análise económica da oficina Muito embora a oficina seja um serviço que não está ainda completamente definido, e por isso também o material a adquirir, apresentam-se de seguida uns cálculos preliminares feitos com base no custo dos materiais e equipamentos e dos recursos humanos. Os preços dos materiais foram os apurados na visita de prospecção em Atambua. Não foi possível apurar custos dos principais serviços e frequência dos mesmos, pelo que se apresentam apenas os custos fixos mensais. TABELA 16 – ANÁLISE DE CUSTOS DA OFICINA

Rubricas de custos

Valor unitário

Unidade

28

Lucro

88

-354

1150


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Armário de ferramentas

1.500

USD

Compressor de ar

800

USD

Compressor de água

600

USD

Máquina de soldar com gerador

4.500

USD

Gerador

1.500

USD

Instalação

10.000

USD

Total

18.900

USD

Amortização equipamento 10 anos

1.796

USD

150

USD

Mecânico

200

USD

Ajudante

100

USD

Total

Amortização mensal Custo recursos humanos

300

USD

Custo mensal

450

USD/mês

Custos variáveis básicos (água, luz)

100

USD/mês

Custo total mensal

550

USD/mês

Custo total semanal

137

USD/semana

Assim, tendo como base apenas os principais custos fixos (nos quais se incluem alguns custos variáveis que terão sempre que existir, como é o caso da luz e da água), a oficina terá que gerar pelo menos 137USD/semana para ter viabilidade económica.

4.4

Caracterização de Comercialização

Embora esteja no final da análise, a matriz de comercialização poderia/deveria estar no início. De facto, não adianta de nada produzir muito bem se no final não há a quem vender. Para preencher a matriz que se segue foi necessário recolher informação sobre o que se produz actualmente, se os produtos já são comercializados no distrito, se há concorrentes e quem são (podem ser sub-distritais, distritais, nacionais ou internacionais), qual o destino dado a esses produtos (a quem são vendidos, qual o tipo de cliente), que serviços estão associados aos produtos (embalagem, entregas, formas de pagamento, outros) e qual o alcance da comercialização (se são comercializados apenas localmente ou se se destinam também a outros mercados). Daquilo que foi possível apurar através das entrevistas, a produção agrícola no distrito de Liquiçá é ainda uma produção muito orientada para a subsistência e pouco orientada para o mercado e comercialização. Produz-se primeiro para casa e apenas é comercializado o excedente. Uma das principais razões para este facto prende-se com a dificuldade dos produtores em se deslocarem aos grandes centros de comercialização (mercados de Díli, Maliana, Railaco, Gleno e Ermera). O mau estado das estradas, a falta de transportes e o custo do transporte são tudo factores que, interligados entre si, contribuem para a dificuldade dos produtores escoarem os seus produtos. Outra razão para a fraca comercialização é a baixa produtividade, principalmente devido à dificuldade no acesso à água, mas também devido à fraca qualidade das sementes, e à ausência de tecnologias que lhes permitam

29


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

estender a época de produção. Por todas estas razões, a maior parte dos agricultores vende os seus produtos nos bazares e mercados ou então a intermediários que se deslocam até às suas casas. Apenas em Motaulun se encontrou um grupo de horticultores organizados que trabalham o campo e comercializam os seus produtos em conjunto. Os produtos vendidos nos principais supermercados vêm de Aileu, Baucau e Maubisse. Os produtos vendidos nos mercados de Díli vêm um pouco de todos os distritos próximos da capital. Nos principais supermercados de Díli são vendidos alguns produtos locais. Apesar do esforço do Ministério do Comércio, Turismo e Industria para criar a marca “Produto Timor-Leste”, colocando nos supermercados estantes especiais para os produtos que beneficiam desse selo, a verdade é que a aposta na imagem e na embalagem dos produtos agrícolas é ainda muito fraca. Há ainda muitos produtos a serem vendidos sem qualquer indicação sobre o que é que se está a comprar.

FIGURA 11- ESTANTE PROMOCIONAL "PRODUTO TIMOR LESTE"

FIGURA 12 - PRODUTO COM O SELO "PRODUTO TIMOR LESTE"

Relativamente a Liquiçá, os principais concorrentes em termos de produtos agrícolas, em especial hortícolas e frutas são os outros distritos que por razões edafoclimáticas (solo e clima) e/ou por facilidade de acesso, conseguem maior produtividade, um calendário de produção mais alongado, produtos de melhor qualidade e maior eficiência no escoamento. De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, em 2008 os distritos com maior área de produção de produtos hortícolas eram Bobonaro (distrito que confronta com o de Liquiçá) com 2.244,00ha, Aileu com 2.173,00ha, Ainaro com 738ha, Baucau com 648ha e Liquiçá com 202ha. Os principais compradores podem ser divididos em dois grandes grupos: - Grandes compradores, que compram essencialmente produtos com um poder de conservação mais longo como é o caso do milho, arroz, amendoim, feijão, etc. Dentro destes temos: - Governo, que através de um programa do MCTI “Povu kuda, Governu sosa” se compromete a comprar os produtos aos agricultores;

30


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

- Timor Global, Timor Corp, NCBA e outras empresas de maior dimensão, que têm contratos, por exemplo, com o PAM e que fazem contratos com os agricultores para a compra de uma quantidade determinada de produto e/ou compram têm capacidade de comprar grandes quantidades de produtos como o café; - Exportadores, existem empresas na Indonésia (essencialmente em Kupang) que têm pontos de contacto para compra de produtos não perecíveis e que têm também capacidade de comprar uma grande quantidade de produtos. - Pequenos compradores, que para além dos produtos não perecíveis, compram também hortícolas e frutas. Dentro destes podemos incluir o mercado formal, como é o caso dos supermercados e do canal HORECA (hotéis, restaurantes e cafés) e o mercado informal, constituído por todo o tipo de bancas de borda da estrada, bazares, mercados, etc.

O programa “Povu Kuda, Governu Sosa” foi uma iniciativa lançada há 2 anos para incentivar os agricultores a produzir mais, para além de agricultura de subsistência. Em 2009 foi comprado arroz, milho, soja, feijão mungo, óleo de coco, cebolas e marmelada. Os produtos comprados têm que seguir uma série de normas de qualidade que são monitorizadas por uma empresa Indonésia, a Sucofino. É esta empresa que, uma vez conferido o cumprimento FIGURA 13 - PLACA "POVO CULTIVA, GOVERNO COMPRA" dos critérios de qualidade confere aos produtos o certificado de produto nacional. Não foi possível obter informação relativamente a estas normas de qualidade. A compra dos produtos faz-se através do lançamento de um concurso público ao qual se podem candidatar não os agricultores mas sim pequenas empresas ou cooperativas que reúnam condições para fazer a intermediação entre o Governo e o Povo. Para 2010 está planeada a compra de 7000 ton de produtos agrícolas, devendo esta ser anunciada em Junho/Julho. A Timor Global tem trabalhado com ONG como a GTZ e a PADRTL Portuguesa no sentido de promover um aumento da produção, produtividade e qualidade de alguns produtos agrícolas, comprando-os e exportando-os. A Timor Corp e a NCBA trabalham essencialmente com café. Numa visita de troca de experiências a Atambua foi possível localizar uma empresa que faz importação de produtos agrícolas de Timor-Leste. Tem um estabelecimento em Díli, o Komiko Timor Diak. Esta empresa trabalha em cooperação com o Ministério da Agricultura no embalamento de produto local e

31


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

na construção de casas. O papel do Ministério da Agricultura é dar a conhecer os produtores aos compradores. Os principais produtos que comercializam são a soja, o arroz e o feijão mungo. Os produtos são comprados a grosso em Timor-Leste. Em geral a compra é feita directamente aos agricultores, através de intermediários, e depois são embalados em Atambua e enviados para outras ilhas indonésias. Outros produtos que compram são o “candle nut”, o coco e o café. Os grandes compradores, como o próprio nome indica, são compradores que procuram grandes quantidades. Por exemplo, a Timor Global mencionou um mínimo de 4 000-5 000 ton, e a Seeds of Life produz sobre contrato. No entanto houve já algumas experiências de produção sob contrato que não resultaram. Os agricultores ainda preferem ir vendendo os produtos da terra à medida que vão necessitando, guardando sempre uma parte da produção para auto-consumo e outra como “poupança”. Em relação aos “Pequenos compradores”, incluímos nestes os supermercados, o canal Horeca e os mercados locais. No âmbito deste estudo foram visitados os quatro principais supermercados de Díli: Lita, Leader, Kmaneg e Landmark. Foram também visitados os principais mercados de Dili e os mercados na zona de influência da UPSA: Ermera, Gleno e Liquiçá. O Landmark não mostrou disponibilidade para comprar mais produtos frescos. O Kmaneg, um supermercado especializado na venda de produtos congelados, mostrou grande disponibilidade e abertura para uma possível colaboração. Já tem colaborado com projectos semelhantes, mas sem grande sucesso devido à falta de capacidade dos agricultores em dar continuação ao fornecimento de produtos em quantidade e qualidade. Tem uma parceria com uma quinta em Aileu, financiada pela USAID, onde produzem uma série de produtos que não são comuns em Timor-Leste. Esta produção não é no entanto suficiente e por isso mostraram-se também disponíveis para participar no planeamento da produção com os agricultores de modo a melhorar a resposta às necessidades do mercado. O Lita e o Leader, embora pertencendo à mesma proprietária, têm modos diferentes de comprar produtos frescos. O Lita não tem actualmente fornecedores fixos para aquisição de produtos frescos, nem nenhum sistema de compras organizado. Quando precisam dirigem-se a Taibessi ou ao Halilaran, duas vezes por semana, e compram o que precisam. Uma possível explicação para este facto é a existência, mesmo em frente do supermercado, de um mercado de frutas e legumes, muito bem abastecido e a funcionar num horário alargado. No entanto não fecharam a porta à compra de produtos da UPSA. O Leader tem um responsável pela compra de produtos frescos. Têm já uma relação com grupos de produtores de Aileu, Gleno e Maubisse a quem telefonam quando precisam de produtos. As grandes dificuldades estão na obtenção de produtos fora de época e no portfolio de produtos, o qual não abrange ainda todos os produtos necessários. Normalmente as entregas são feitas pelos produtores com uma regularidade semanal. A única exigência feita aos produtores é a entrega dos produtos limpos 32


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

e com boa apresentação. Embora possa haver uma negociação o preço é estipulado pelo produtor. A margem para o supermercado situa-se entre os 10 e os 20%, sendo o pagamento feito na semana seguinte à da entrega do produto. Comercializam também alguns produtos transformados como malaguetas, batata frita, banana frita, amendoim, mas apenas à consignação. Significa isto que colocam os produtos no supermercado, com uma margem para eles, e vão pagando à medida que vão sendo vendidos. Daquilo que foi possível observar estes produtos locais transformados estão muitas vezes expostos sem qualquer tipo de informação na embalagem para além do preço, ou com uma imagem muito pouco cuidada. No que diz respeito ao canal HORECA, não foi no âmbito deste estudo, feito um apuramento das necessidades, preços, condições de pagamento etc. Este levantamento é uma recomendação que fica para uma primeira fase de implementação da UPSA. Nos diferentes mercados visitados não foi possível obter informação relevante. No geral, as pessoas mostraram-se pouco colaboradoras. Em Vatuboro existe um mercado construído pelo Governo que não está presentemente a funcionar. Segundo foi possível apurar o não funcionamento do mercado deve-se a problemas de segurança que estão presentemente a ser resolvidos. A dinamização deste mercado poderia ajudar a dinamizar a comercialização dos produtos agrícolas, a circulação de pessoas e de dinheiro e facilitar a divulgação da UPSA e dos seus serviços. Em Maubara, no âmbito do projecto Mos Bele, está prevista a abertura de uma frutaria para venda da produção local. Querendo explorar bem todos os mercados potenciais, e apesar de não caber dentro de nenhuma das designações anteriores dada a sua especificidade, valerá a pena incluir um aviário que foi visitado em Railaco. Este aviário, pertencente a um grupo timorense, o Grácia, é também gerido por uma jovem técnica de produção animal. O aviário tem actualmente um total de 24.000 galinhas para produção de ovos. Actualmente a ração das galinhas vem da Malásia. Tecnicamente é possível essa ração ser feita em Timor-Leste e durante a visita feita às instalações foi demonstrada disponibilidade para comprar rações produzidas localmente. A questão está, no entanto, na capacidade dos agricultores conseguirem garantir a entrega consistente, em termos de quantidade e de qualidade, do produto necessário. Da mesma forma, a produção de ração para porcos poderá ser uma actividade a considerar no futuro. Actualmente os porcos são desmamados muito tarde, o que faz diminuir o número de ninhadas possíveis por ano. Uma das razões do desmame tardio é a dificuldade de os alimentar. No entanto, enquanto não forem criadas condições mínimas de higiene e segurança alimentar para o abate de animais e transporte de carnes não faz sentido a promoção do aumento da produção. No quadro seguinte encontra-se um resumo de como poderá vir a processar-se a comercialização daqueles que são os produtos estratégicos para a UPSA no curto prazo. A farinha de milho não é actualmente comercializada em Timor-Leste, não tendo por isso concorrentes directos. Poderão no 33


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

entanto considerar-se concorrentes outros tipo de farinhas que a substituem, como é o caso da farinha de trigo. Os potenciais clientes serão os supermercados e o canal HORECA, mas essencialmente padarias no eixo Lois-Díli. O alcance do mercado é nacional no sentido em que abrange mais do que um distrito, no eixo que liga Lois a Díli. No que diz respeito aos produtos perecíveis, e em especial as hortícolas, o distrito de Liquiçá enfrenta como principais concorrentes os distritos de Baucau, Aileu e Ainaro (Maubisse), que não só reúnem muito boas condições edafoclimáticas para a produção de hortícolas como se encontram relativamente perto da capital estando as estradas em bastante bom estado. TABELA 17 – CARACTERIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO

Produto

Comercialização

Concorrentes

Tipo de potencial cliente

Serviços aos clientes

Alcance do mercado

Farinha de milho

Sim

Não tem

Supermercados, padarias, canal HORECA

Pronto pagamento

Nacional

Arroz

Sim

Todos os distritos produtores de arroz e o arroz importado

Governo, empresas de exportação, supermercados, canal HORECA

Pronto pagamento

Nacional

Frutas

Sim

Outros distritos

Mercado local, supermercados e canal HORECA

Uma semana mais tarde

Nacional

Hortaliças

Sim

Outros distritos

Mercado local, supermercados e canal HORECA

Uma semana mais tarde

Nacional

A tabela seguinte representa um calendário de comercialização dos principais produtos agrícolas. Como foi já dito, os agricultores fazem essencialmente uma agricultura de subsistência e isso reflecte-se na forma como os produtos são comercializados. Produtos como a abóbora, a papaia e o coco, são muitas vezes apanhados na sua forma “tenra”, ou seja, sem estarem ainda completamente formados o que permite estender um pouco o ciclo de produção. A batata-doce tem dois ciclos diferentes. Quando é plantada o tempo até obter batata-doce são três meses. Quando a batata é colhida a planta fica na terra e aí pode dar novamente batatas daí a 6 meses, e daí para a frente de 6 em 6 meses. Esta é a forma mais comum de se produzir batata-doce. Este foi um calendário de comercialização construído com base nos resultados das entrevistas, onde participaram essencialmente agricultores das zonas de várzea. No caso das montanhas, em que o clima é mais fresco e húmido as datas da colheita poderão vir um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde e é possível produzir outro tipo de produtos. Mais tarde será importante aprofundar este aspecto para melhor tirar partido de épocas em que os preços são mais altos, e produzir produtos que não podem ser produzidos na várzea.

34


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá” TABELA 18 - CALENDÁRIO DE COMERCIALIZAÇÃO

4.5

Indonésia

Foi realizada uma visita de prospecção a Atambua, na Indonésia. A visita tinha dois objectivos principais: a procura de mercados para os produtos locais de Lois e a procura de fornecedores de factores de produção e equipamento para as actividades da UPSA. No que diz respeito ao primeiro objectivo, os principais elementos foram já apresentados anteriormente. Atambua é a primeira cidade que se encontra quando se entra na Indonésia por via terrestre. De Lois a Atambua são cerca de 3 horas de caminho e a estrada encontra-se em muito bom estado de conservação. A cidade tem muito comércio e é normalmente de lá que vêm os produtos que se encontram à venda em Timor Leste. Nesta visita foram feitos contactos com as principais lojas de equipamentos e produtos agrícolas e foi feita uma primeira prospecção de preços. Da comparação dos preços recolhidos em Atambua com os recolhidos em Dili, resultou que os preços das sementes, que são mais facilmente comparáveis, apresentam em geral um preço significativamente mais baixo em Atambua do que em Dili. Outra vantagem apresentada pelas lojas indonésias é a variedade. Chama-se a atenção para o facto de a prospecção ter sido feita em Abril, quando estava a começar a época de sementeira de hortícolas, e por isso aquela em que as lojas deveriam estar mais abastecidas.

35


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

O único factor de produção que não é possível encontrar no mercado indonésio é o adubo. Na Indonésia o adubo é financiado pelo Governo pelo que a sua comercialização é proibida. No que diz respeito a ferramentas e equipamento a comparação é mais difícil uma vez que há uma maior variação na qualidade dos produtos. Na realidade as lojas de Dili, na generalidade, preços das máquinas e ferramentas mais baixos. Este facto é de estranhar já que Atambua é precisamente o local de origem destes equipamentos, pelo que a diferença poderá estar relacionada com a qualidade dos produtos e as sãs especificações. No caso, por exemplo, das descascadoras de arroz, basta o gerador ser diferente para o valor do equipamento apresentar diferenças na ordem dos 50%. Uma vez começada a actividade da UPSA, será importante pedir orçamentos aos diferentes fornecedores e ver, na prática, quais os que apresentam mais vantagens. Dentro dessas vantagens incluem-se não só o preço do produto, mas também a qualidade, as condições/facilidades de pagamento oferecidas, a capacidade de resposta (quer em termos de rapidez na entrega do material, quer em termos da capacidade de entregar os produtos solicitados), a variedade oferecida, entre outros. Teria sido importante perceber quais as condições de importação e exportação de produtos agrícolas mas tal não foi possível. Das várias pessoas contactadas cada uma apresentou a sua versão e não foi possível contactar, em Atambua, as autoridades oficiais. Aqui em Timor foi feita uma tentativa de contactar a Câmara do Comércio e as Alfândegas mas mais uma vez sem grande sucesso.

5 ANÁLISE SWOT DA AGRICULTURA NO DISTRITO DE LIQUIÇÁ Considerando o que para trás ficou dito é então possível desenhar uma matriz de pontos fortes e pontos fracos, ameaças e oportunidades do sector agrícola no distrito de Liquiçá. Esta matriz foi adaptada de uma efectuada para o país em 2003 e muitos pontos mantêm-se semelhantes. Pretende ser um resumo dos pontos mais importantes focados ao longo do estudo e que nos podem ajudar a enquadrar melhor a UPSA. O distrito de Liquiçá apenas aproveita metade do solo com potencial para fazer hortícolas. Quer isto dizer que tem ainda muita margem para crescer e aumentar a sua produção. Os agricultores que trazem a sua produção para Díli não conseguem ainda fazer face às necessidades do mercado. Sendo o mercado interno um mercado livre, e estando Liquiçá/Lois muito perto do de Díli, esta é uma oportunidade para crescer que não deve ser desperdiçada. As dificuldades dos agricultores em produzir estão muitas vezes na falta de formação, falta de informação e apoio, na dificuldade de acesso aos mercados e na falta de material e factores de produção. Será importante estabelecer parcerias entre grupos de agricultores do distrito e a UNTL ou a FUP no sentido de desenvolver novos produtos e melhorar as técnicas culturais dos produtos existentes. A promoção do associativismo entre os agricultores é também um factor fulcral. Actualmente os grupos surgem apenas com um objectivo muito específico (como é o caso da atribuição de motocultivadoras) e 36


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

depois, quando o elemento que os une desaparece, o grupo desaparece também. Do ponto de vista agronómico o principal factor limitante encontrado foi a água. Tendo em conta o potencial existente em termos de recursos naturais e humanos, e em termos de mercados interno e externo, a agricultura é uma actividade com grande potencial. No entanto é preciso ter em atenção que a intensificação da agricultura, com introdução de novas espécies e novas tecnologias poderá trazer novas pragas e doenças e, se não for bem gerida, trazer impactos negativos também para o ambiente.

Pontos fortes

Pontos fracos

Terra disponível

Baixa qualidade das variedades

Grande número de agricultores

Falta de factores de produção

Diversidade de culturas

Fraca formação dos agricultores

Mercado interno

Falta de dados, meteorológica

Proximidade de Díli Existência de grupos de agricultores

mapas

e

informação

Falta de irrigação Falta de informação sobre produção agrícola Fraco associativismo

Oportunidades

Ameaças

Mercados internos

Pragas e doenças

Potencial para exportação

Comércio livre

Melhoria da qualidade

Degradação dos recursos naturais

Comércio livre Culturas com dois objectivos: humano e animal

6

A UPSA

Para que os agricultores se possam dedicar à agricultura e produzir com qualidade é preciso que tenham acesso fácil a todos os factores de produção e meios necessários ao correcto desempenho das suas funções. Tendo em conta isto e as necessidades identificadas no inquérito a UPSA deverá prestar uma série de serviços que podem ser agrupados em 4 serviços: i.

Loja comunitária

ii.

Armazém e comercialização

iii.

Transformação 37


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

iv.

6.1

Oficina de manutenção de tractors

Loja comunitária

Nesta loja serão vendidos todo o tipo de factores de produção ligados à agricultura como sementes, produtos fitofarmacêuticos (se/quando houver), adubos, catanas, enxadas, ancinhos, regadores, mangueira, etc., bem como material de embalamento para as unidades de transformação e de armazenamento e material para a pesca (redes, chumbos, bóias, anzóis, coletes, etc). Esta loja prestará ainda alguns serviços de carácter administrativo: fotocópias, plastificação de documentos, processamento de texto, etc. Assim, para além da compra dos factores de produção e material de pesca para vender na loja, será necessária uma máquina de fotocópias (ou uma impressora multifunções), um computador, uma máquina de plastificar documentos, uma máquina de encadernar com argolas de plástico, e todos os consumíveis para estes serviços. Todo este material terá uma dupla função: prestar serviços à comunidade e trabalho administrativo da UPSA. Este será o primeiro serviço a avançar em conjunto com a comercialização de produtos perecíveis.

6.2

Transformação

Sob esta unidade estarão as seguintes máquinas: - debulhadoras de milho - moageiras de milho a colocar, em Lois, Lissadila e Carimbala. Estas moageiras deverão permitir moer o milho da forma tradicional (pilado e triturado) e para produção de farinha; - descascadora de arroz. Esta unidade de transformação terá ainda uma subunidade de manipulação de hortícolas. Neste local far-se-á a preparação de todos os produtos para serem colocados no mercado (a qual pode ou não implicar alguma transformação, corte, etc.). Para isso será necessária a aquisição de caixas, sacos, embalagens, máquina de selar sacos (que permita embalar a vácuo), facas, tesouras, tábuas de corte, boiões para a compota, etiquetas, roupa específica para quem trabalhar neste local (batas, aventais, luvas, toucas, etc.) e estar apetrechada com água de qualidade. No que diz respeito à moageira de milho é importante haver formação da comunidade local para a utilização da farinha de milho, uma vez que esta não é normalmente usada. Para isso poderão ser realizadas acções de formação nas comunidades utilizando o material e os alimentos que usam no dia-adia. A transformação de produtos agrícolas, nomeadamente o milho e o arroz, é de todas a actividade que menos implica em termos de formação de agricultores. Assim, esta será uma actividade a começar apenas no próximo ano agrícola (colheitas de 2011). 38


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

6.3

Armazém

Este serviço terá vários objectivos: - concentração da produção e comercialização. A UPSA assistirá os agricultores locais a identificar as necessidades dos clientes e negociar os termos de venda com eles e, em função disso planificar e organizar a produção de qualidade apoiando-os ao longo do ciclo produtivo. Esta estrutura terá que definir com os agricultores um calendário de produção para que periodicamente exista a quantidade e qualidade de produtos necessários; - espaço de armazenamento de produtos da Loja Comunitária e outros. Para equipar o armazém serão necessárias prateleiras para arrumar material, sacos para embalamento, máquina de cozer sacos, balança de chão, balança para quantidades mais reduzidas, balanças de mão, máquina para etiquetar, etc. A comercialização dos produtos perecíveis, e a formação e sensibilização dos agricultores para uma produção apostada na qualidade e nas necessidades do mercado e o próprio conhecimento do mercado é um processo lento e que por isso mesmo deverá começar o mais cedo possível. Assim, e mesmo com a época da horticultura a começar existe ainda um calendário de comercialização que se estende até Novembro/Dezembro e que poderá permitir, neste primeiro ano, começar a conhecer o mercado e os agricultores, definir critérios de qualidade para cada produto em função da experiência que se vai adquirindo, e ganhar visibilidade e credibilidade quer junto dos agricultores quer junto compradores. Seria importante a UPSA ter um local de comercialização no mercado de Vatuboro, que não está actualmente em funcionamento. Por um lado ajudaria a escoar os produtos, por outro poderia funcionar como actividade pedagógica junto dos comerciantes locais, no sentido de introduzir o peso, melhorar a apresentação dos produtos, melhorar a forma de comercialização em geral.

6.4

Oficina de manutenção

Um dos principais problemas encontrados no distrito é a reduzida dimensão do parque de máquinas face à área potencial de cultivo, o qual é agravado pela constante avaria das máquinas e a dificuldade em resolver essas mesmas avarias. A utilização das máquinas agrícolas é restrita a uma altura específica do ano, de Agosto a Dezembro, o que poderia tornar a oficina uma actividade não rentável. No entanto, a produção de pequenas máquinas como a despolpadora de café ou o serviço de mecânica de motorizadas e outros veículos poderá tornar a oficina rentável. A instalação desta oficina implica a construção de um hangar, com uma

39


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

compressora de ar, uma compressora de água, uma máquina de soldar, equipamento para arranjo de pneus, peças sobresselentes, um armário de ferramentas e um gerador. Associada à oficina de manutenção, teria todo o interesse estar um posto de abastecimento de combustível. O mais próximo está em Liquiçá e longe da zona de produção. A comercialização de gasóleo poderia ser uma fonte de rendimento extra que permitisse criar um fundo para compensar a as épocas de menos trabalho com as máquinas agrícolas. No entanto esta terá que ser uma opção bem pensada, principalmente por questões de segurança. Este serviço, conforme foi referido antes, não estava inicialmente previsto no projecto pelo que a sua implementação está dependente da obtenção de outro financiamento, tendo já sido iniciadas diligências nesse sentido.

6.5

Actividades transversais

Será necessário que os recursos humanos da UPSA tenham a formação adequada para as funções que desempenham. Alguma dessa formação será transversal, como por exemplo, gestão, informática, e algumas “working skills” que contribuirão para o fortalecimento das relações de confiança entre os elementos da UPSA e para uma melhor forma de lidar, motivar, sensibilizar e formar a comunidade local. Outra terá que ser específica para a função que vão desempenhar: mecânica, transformação de produtos agrícolas, comercialização, etc. Os vários módulos poderão ser dados num horário de formação específico, inserido no horário de trabalho, outros poderão ir sendo dados à medida que se trabalha. Seria importante, se possível, a UPSA acolher estagiários do curso de Ciências Agrárias que pudessem fazer trabalhos que ajudassem a resolver problemas concretos do distrito, quer ao nível da produção (por exemplo na área da monda e na extensão do período de produção de algumas culturas), quer ao nível da transformação (na investigação de novos produtos transformados, como por exemplo, a hipótese de fazer rações, novas receitas de compotas, novas formas de transformar produtos hortícolas), quer ao nível da comercialização (encontrar novos mercados, novos canais de comercialização, estudar mais a fundo as necessidades do mercado). Poderá ser estudada a hipótese de um protocolo com as Ciências Agrárias, investigar quem poderá financiar estes estágios, ver de que forma, apenas através do fornecimento de serviços, a UPSA poderá contribuir.

6.6

Modelo de Gestão da UPSA

A UPSA será gerida por uma pessoa, que poderá depois ser assessorada por mais uma ou duas. Posteriormente, e à medida que as actividades das diferentes subunidades forem avançando e começando a gerar rendimento poderão ir sendo contratadas mais pessoas. Pretende-se ao longo do tempo, ir criando uma equipa coesa, que confira estabilidade à UPSA. A pessoa que irá gerir a UPSA deverá ter conhecimentos de agricultura e residir naquela área geográfica. Embora gerida como uma empresa, a UPSA deverá ter uma filosofia de cooperativa, trabalhando em prol dos agricultores, dando40


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

lhes assistência, praticando preços competitivos e tentando, em conjunto com eles, encontrar soluções para os seus problemas. A promoção da melhoria do trabalho dos agricultores e o estabelecimento de uma relação de confiança com eles, deverá ter como resultado uma melhoria da produção e consequentemente um aumento de negócio para as diferentes subunidades da UPSA.

7

SELECÇÃO DAS OPÇÕES DE MERCADO MAIS ATRACTIVAS COM BASE NAS OPINIÕES DOS TÉCNICOS E DOS AGRICULTORES

Por uma questão prática de estruturação deste exercício de avaliação e selecção de opções de mercado, considera-se que são produzidos em Liquiçá dois grandes grupos de produtos agrícolas: perecíveis e não perecíveis. Dentro dos não perecíveis incluem-se o milho, o amendoim, o feijão (nas suas diferentes variedades) e o arroz. Dentro dos perecíveis incluem-se todos os outros: frutas, hortaliças, abóbora, mandioca, etc.

7.1

Produtos não perecíveis

O milho é um produto não perecível e que faz parte da base da alimentação timorense. É consumido em maçaroca, grão, triturado ou pilado. A produção de milho está ser apoiada pela PADRTL em parceria com algumas outras entidades, pelo que a sua produtividade deverá vir a aumentar paulatinamente e por isso também a oferta no mercado. A introdução no distrito de debulhadoras (que não existem) e de moageiras de milho (essencialmente para produção de farinha) poderá contribuir para a criação de valor num produto que é altamente indiferenciado e dará origem a dois serviços: um serviço da debulha e moagem do milho e um serviço de comercialização e/ou transformação da farinha de milho. A comercialização para exportação, devido às grandes quantidades exigidas, poderá ser ainda um pouco prematura. A introdução de moageiras de milho justifica a implementação de acções de formação com o objectivo de transmitir à população as diferentes formas de consumir farinha de milho e assim promover a sua utilização e, indirectamente, o serviço de moagem. O amendoim é um produto cuja área está ainda a crescer, mas cuja produção tem também vindo a ser acompanhada pela PADRTL e pela Seeds of Life. Sendo difícil a sua comercialização por não haver ainda em grandes quantidades não deverá ser um produto a considerar pela UPSA, pelo menos numa primeira fase. Mais tarde poderá vir-se a explorar a sua transformação em manteiga e a introdução de uma máquina de descasque de amendoim. O feijão é um produto amplamente difundido nas suas muitas variedades. É um produto ao qual é difícil acrescentar valor de outra forma que não seja o embalamento e a rotulagem. Não será para a UPSA um produto prioritário embora possa a vir a ser incluído no portfolio de produtos a comercializar caso venha a ser pedido pelos seus clientes. O arroz é um produto que ocupa no distrito de Liquiçá uma área reduzida mas que tem um peso considerável nos distritos limítrofes. Actualmente estão a iniciar-se os trabalhos para a construção de

41


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

uma barragem de captação de água das chuvas para a produção de arroz. A única forma de lhe acrescentar valor é através do descasque, embalamento e rotulagem. Embora haja no distrito de Liquiçá e em Reimate (na fronteira deste distrito) máquinas de descascar arroz, poderá justificar-se a aquisição, por parte da UPSA, de uma descascadora uma vez que é uma máquina com uma alta rentabilidade e que pode atrair os agricultores para outros serviços da unidade. No âmbito deste estudo houve já contactos de uma ONG timorense no sentido de a UPSA comercializar o seu arroz. A forma como a UPSA poderá criar valor será através da criação de critérios de qualidade e do embalamento e rotulagem para comercialização. A soja e o feijão mungo são culturas com menos expressão embora muito rentáveis. Sendo o principal mercado a exportação, a sua comercialização estará dependente de um aumento significativo da produção.

7.2

Perecíveis

Dentro dos produtos perecíveis incluem-se as frutas, as hortaliças, a abóbora e todos os produtos agrícolas que têm uma vida pós-colheita limitada. Nesta categoria a UPSA terá um papel fundamental na ligação entre o mercado e os agricultores. Por mercado entende-se essencialmente o mercado formal, embora numa primeira fase possa abordar-se o mercado informal (mercados e bazares) e local. O processo de comercialização de frutas e hortícolas terá que seguir uma abordagem por etapas: 1ª Etapa - Comercialização de produtos que são já actualmente produzidos pelos agricultores. Esta primeira etapa é um tempo de começar a conhecer os agricultores, identificar quais os grupos/agricultores com maior capacidade para produzir bem, constituir uma base de dados de agricultores e de compradores. Começar a introduzir a embalagem e o peso. 2ª Etapa - Sensibilização dos agricultores para produzir com qualidade, já com mais atenção para o mercado e, se possível, começar a introduzir novas espécies e/ou variedades. Estabelecer, para cada produto, critérios de qualidade para classificação dos produtos e premiar a qualidade. Tendo identificado o que é que se produz, onde e quando tentar promover a planificação da produção com os agricultores com o objectivo de alargar ao máximo a época de produção; 3ª Etapa - Começar a introduzir produtos com um mínimo de processamento: hortaliças já preparadas e lavadas, embalagens com conjuntos de produtos para sopa, para salada, etc. No que diz respeito à comercialização dos produtos perecíveis e à introdução dos novos serviços da UPSA no distrito de Liquiçá, o seu sucesso está muito dependente do interesse dos produtores. O envolvimento dos agricultores e técnicos da UPSA (e nesta primeira fase do IMVF também) no processo de avaliação e escolha das opções mais atractivas é por isso fundamental. A convocação de todos os participantes ajuda não só na tomada de decisão como também a fazê-los sentir-se parte do processo tornando-os mais predispostos a colaborar.

42


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

8

ESTRATÉGIA DE MARKETING

Uma vez escolhidos os produtos com maior potencial o passo seguinte é, com base na informação recolhida anteriormente, definir para cada um deles estratégias de marketing em termos de produto, preço, distribuição e comunicação.

8.1

Farinha de milho

Produto: A farinha de milho é um produto obtido a partir do milho. Este é um produto a ser comercializado essencialmente junto de unidades de transformação (pastelarias, padarias, restaurantes). Comparativamente aos outros mencionados poderá ser considerado um produto industrial e como tal ter uma embalagem de maiores dimensões e com informação mais simples.

Preço: A compra do milho e a venda da farinha serão a pronto pagamento. Não faz sentido neste tipo de produtos haver diferenciação de preço pela qualidade. No que diz respeito a descontos, deverão ser efectuados descontos de quantidade. A formação do preço deverá ter em conta o preço do milho (o qual por sua vez está dependente do local da compra e forma como o milho é vendido, na maçaroca ou em grão), o custo da debulha (caso a compra seja em maçaroca), o custo da moagem, o armazenamento, o transporte e a comercialização;

Distribuição: A farinha de milho será essencialmente vendida a padarias, pastelarias e restaurantes, no eixo entre Lois e Díli. Inicialmente o transporte será contratado.

Promoção: Os clientes deste produto serão o consumidor final (ao nível local) e a indústria, e para cada um destes as estratégias de promoção terão que ser diferentes. Para o cliente final, como ficou sugerido antes, terão que ser feitas acções de demonstração (culinária) e degustação para dar a conhecer este novo produto e uma maior aposta na veiculação de informação através da embalagem/rótulo. Para a indústria será feito um primeiro levantamento de todos possíveis clientes no eixo Lois/Díli, com o objectivo de saber quem são, qual o conhecimento deles do produto, se ainda não conhecem como é que lhes podemos dar a conhecer. Com base nesse levantamento será constituída uma base de dados e iniciadas as vendas.

8.2

Arroz

Produto: Tal como a farinha de milho, o arroz é um produto altamente indiferenciado. A sua diferenciação face aos restantes será essencialmente através da embalagem. Sendo que poderá ser comercializado junto do consumidor final e do canal HORECA, terá que ter embalagens de diferentes tipos. Para o canal HORECA poderá por exemplo optar-se por uma embalagem de 5 a 10kg, tipo bidon, em vez do vulgar saco de plástico, mais fácil de guardar e de manusear. Para o consumidor final poderá ser embalado em sacos ou também em bidons de dimensão mais reduzida (1kg). Terá que ser criado um manual de qualidade com critérios para a 43


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

comercialização do arroz. Deverá também ser criada uma marca que diferencie o arroz de Lois dos restantes.

Preço: O pagamento aos produtores é feito a pronto, o recebimento dos clientes está sujeito às suas regras, podendo haver descontos de quantidade. Na formação do preço terá que se ter em conta o preço de compra ao agricultor, o transporte (caso se tenha comprado no local da produção), a debulha e o descasque (se os houver) e o transporte para o ponto de venda.

Distribuição: O produto será vendido localmente, preferencialmente no eixo entre Lois e Díli, em supermercados e no canal HORECA. Inicialmente o transporte será contratado.

Promoção: Os clientes deste produto serão os supermercados e o canal HORECA. A promoção terá inicio com uma visita a todos os potenciais pontos de venda, para dar a conhecer o produto e constituir uma base de dados de potenciais clientes (na qual se incluirá, para além dos dados dos clientes, as suas necessidades em termos de produtos agrícolas). Poderão ser levadas amostras do produto e das embalagens, bem como uma lista dos restantes produtos comercializados pela UPSA.

8.3

Perecíveis

Produto: Frutas e produtos hortícolas, numa primeira fase entregues em caixas de plástico reutilizáveis, identificadas com o símbolo da UPSA. As caixas poderão ter diferentes formatos e dimensões consoante o produto. O principal objectivo da utilização das caixas é a entrega, no ponto de venda, dos produtos nas melhores condições possíveis. À medida que se forem comercializando os diferentes tipos de produtos vai sendo criada para cada um deles uma ficha técnica onde estarão definidos os critérios de qualidade dos produtos e quais os principais cuidados a ter no seu manuseamento. Estas fichas serão essencialmente para uso da UPSA podendo no entanto ser também divulgadas junto dos agricultores. Numa primeira fase os produtos serão vendidos sem qualquer tipo de transformação, mas com o tempo e um maior conhecimento do mercado poderão vir a sofrer transformações mínimas.

Preço: O pagamento ao produtor é feito semanalmente uma vez que esta é também a forma de pagamentos dos supermercados. No futuro, será de considerar um prémio à qualidade do produto. Para os clientes poderá haver descontos de quantidade. Na formação do preço terá que se ter em conta o preço de compra ao agricultor, o transporte (caso se tenha comprado no local da produção), o acondicionamento, e o transporte para o ponto de venda.

Distribuição: O produto será vendido localmente, preferencialmente no eixo entre Lois e Díli, em supermercados e no canal HORECA. Inicialmente o transporte será contratado.

Promoção: Os clientes deste produto serão o mercado local, supermercados e o canal HORECA. Futuramente, e em função da obtenção, ou não, a carrinha de transporte dos frescos, será de considerar a entrega de cabazes a clientes particulares. A promoção terá início com uma visita a 44


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

todos os potenciais pontos de venda, para dar a conhecer os diferentes produtos e constituir uma base de dados de potenciais clientes (na qual se incluirá, para além dos dados dos clientes, as suas necessidades em termos de produtos agrícolas). Poderão ser levadas amostras do produto e das embalagens, bem como uma lista dos produtos comercializados pela UPSA e previsões de disponibilidade. Para todos os produtos será introduzido o factor peso, sendo a pesagem feita na presença do agricultor e o preço definido por peso. Para cada um deles será construída uma ficha técnica para uso da UPSA, com indicações sobre as características base dos produtos, critérios de qualidade, cuidados com o manuseamento, formas de embalamento, etc. Pretende-se que, com estas fichas, cada pessoa que trabalhe na UPSA possa rapidamente saber tudo sobre o produto e regras de comercialização. Estas fichas deverão também servir para sensibilizar os agricultores para a importância de produzir com qualidade. No caso dos produtos hortícolas e frutas, os agricultores e/ou grupos de agricultores deverão ser visitados tantas vezes quantas as necessárias de forma a garantir que na época da colheita se vai ter o produto com a qualidade e quantidade necessárias.

9

PLANO DE ACTIVIDADES

9.1

Actividades preparatórias •

Elaboração do regulamento da UPSA: conjunto de normas a desenvolver pelos elementos a contratar e pelo IMVF que asseguram, desde o início, qual ou quais os objectivos da UPSA, quais os papéis dos técnicos da UPSA e dos agricultores, direitos e deveres de cada um e mais informação que se verifique ser pertinente;

Criação de um nome e imagem/marca para a UPSA e comercialização dos vários produtos (arroz, farinha de milho, frutas e hortícolas, outros produtos transformados). A UPSA irá funcionar como um centro de prestação de serviços aos agricultores, o qual deverá ter um nome e uma marca que o distingam de outros e que ajudem a promover os seus serviços.

Contratação de recursos humanos. Numa fase inicial a UPSA funcionará apenas com um técnico. Posteriormente, e à medida que começar a gerar mais receitas e a aumentar o volume de trabalho poderá ser considerada a contratação de mais técnicos.

Aquisição de equipamento. O arranque da UPSA implicará a compra de uma série de equipamento que permita assegurar desde o início o correcto funcionamento das diferentes actividades da UPSA.

9.2

Construção da UPSA

A construção da UPSA implica também uma série de trabalhos preparatórios.

45


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Identificação do local e procedimentos necessários à licença de utilização do terreno. Na identificação do local ter-se-á especialmente em conta a acessibilidade e o título de propriedade do terreno (dando preferência a um terreno pertencente à administração local).

Desenho do projecto

Orçamento

Obra. Dar-se-á preferência a trabalhadores locais, podendo também recorrer aos trabalhadores actualmente a ser formados no projecto Mós Bele.

9.3

Comercialização de produtos frescos

Dentro da comercialização dos produtos agrícolas, dada a sua especificidade, importa distinguir os grupos de produtos a comercializar: produtos frescos (hortícolas e fruta) e produtos não perecíveis (arroz e farinha de milho). Tendo em conta a duração do projecto, os serviços que foram definidas para a UPSA e o calendário agrícola foram priorizadas as actividades a implementar no âmbito da comercialização das frutas e hortícolas. A comercialização dos produtos, por implicar mudanças de hábitos nos agricultores, é a actividade mais complexa e por isso a que requer mais tempo para implementar. Por outro lado, é também aquela que menos dependente está de uma estrutura física para poder avançar, sendo apenas necessário transporte e embalagens. Segundo o calendário agrícola a produção de hortícolas começa no mês de Abril, prolongando-se até ao mês de Outubro, com a comercialização a ocorrer fundamentalmente Junho e Setembro, podendo nalguns casos (em função dos produtos e da localização) prolongar-se até Dezembro. Considerando o calendário do projecto podemos atribuir a cada época de produção um objectivo: 1ª Época (2010) – Constituição de uma base de dados de produtores e fidelização dos mesmos. 2ª Época (2011) – Formação e sensibilização dos agricultores para a importância de apostar na qualidade e de ir ao encontro das necessidades do mercado. Consolidação da base de dados. Arranque da comercialização de produtos com alguma transformação. 3ª Época (2012) – Consolidação do trabalho anterior.

9.3.1 Actividades da primeira época (2010) A primeira época de produção vai ser essencialmente um tempo de aprendizagem, recolha de informação e (re)conhecimento do terreno.

46


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Apresentação, em todos os sucos, e preferencialmente naquelas aldeias onde há mais produção, do projecto em geral e dos novos serviços que a UPSA vai prestar.

o

Selecção das aldeias/sucos a visitar

o

Envio de convites

o

Preparação da apresentação

o

Apresentações

o

Recolha dos primeiros contactos nos sucos/aldeias

Desenvolvimento de fichas de recolha de informação sobre produtores que permitam saber quem produz, o que produz, quanto produz, quando produz, onde produz e contactos e outra informação pertinente. o

Desenho da ficha

Desenvolvimento de fichas de recolha de informação sobre potenciais clientes que permitam saber quem compra, o que compra, quando compra, quanto compra, condições de pagamento, contactos e outra informação pertinente. o

Desenho da ficha

Recolha e tratamento de informação sobre os produtores para constituição de um mapa de produção e disponibilidade de produtos. Identificação de animadores (podem ser chefes dos grupos) que possam servir de ponto de contacto entre a UPSA e os agricultores para facilitar o processo de recolha de produtos. o

Desenvolvimento de uma base de dados para gestão da informação

o

Selecção dos sucos onde se vai começar

o

Recolha de informação nesses sucos

o

Inserção da informação na base de dados e tratamento dessa informação

Nesta primeira época a recolha de informação será feita junto de um número reduzido de grupos de agricultores, sendo depois progressivamente alargada nos anos seguintes, tendo em conta a experiência que se vai adquirindo e em função da procura/necessidades do mercado. •

Recolha e disponibilização à população e, eventualmente, ao Ministério da Agricultura, de informação sobre preços dos produtos em mercados a identificar (em função da sua importância e da viabilidade de recolha de informação). Paralelamente aos preços praticados no mercado apresentar os preços conseguidos através da UPSA. o

Actualmente o Ministério da Agricultura e Pescas faz recolha de preços dos produtos agrícolas nos distritos de Baucau e Maliana. O projecto será apresentado ao Ministério da Agricultura para perceber a disponibilidade para uma parceria para recolha de informação no distrito de Liquiçá.

o

Aquisição de material (balanças de mão)

o

Identificação do(s) ponto(s) de contacto para fazer este trabalho.

Identificação de um local provisório para recolha, lavagem e embalamento dos produtos

47


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

o

Falar com o chefe do suco (ou outro responsável) sobre a possibilidade de fazer esse trabalho, provisoriamente, no mercado que não está a ser utilizado. Esta poderá ser uma forma de começar a dinamizar um mercado que foi construído mas que não está actualmente a ser utilizado. Este local provisório deverá permitir o acesso a água de qualidade. No futuro a UPSA poderá ter um lugar fixo neste mercado.

Aquisição de caixas e embalagens para comercialização dos produtos agrícolas. o

Aquisição de caixas de plástico, sacos, tesouras, facas, balanças, aventais, luvas, toucas e outro material que se venha a verificar ser necessário à preparação dos produtos hortícolas e frutas para venda.

Recolha de informação sobre os clientes/compradores e constituição de um mapa de necessidades de produto ao longo do ano (por cliente). Aproveitar esta actividade para promover o serviço e apresentar o mapa de disponibilidade de produtos e a metodologia do trabalho.

o

Apresentação do projecto e do serviço a potenciais clientes

o

Recolha de informação através do preenchimento da ficha de clientes

o

Inserção da informação na base de dados e tratamento dessa informação

Desenvolvimento de fichas de cultura que permitam apurar os custos de produção dos principais produtos. Em conjunto com os mapas de produção, estas fichas deverão permitir fazer uma previsão dos factores de produção que virão a ser necessários e com isso fazer um plano de compras para a Loja Comunitária.

o

Desenho das fichas de cultura com base no itinerário técnico

o

Recolha de informação junto de produtores chave identificados

Desenvolvimento de fichas de comercialização para cada produto, com especificações de qualidade, tamanho, cor ou outros parâmetros que sejam considerados relevantes. Descrição com base nos produtos comercializados pela UPSA. o

Desenho das fichas de comercialização

o

Preenchimento das fichas ao longo da época de comercialização

o

Eventual estágio de aluno da Landolakes ou da UNTL para fazer este trabalho e escrever protocolos de manuseamento de frutas e hortícolas

o

Possibilidade de fazer guia ilustrado com regras básicas de pós-colheita de produtos a ser distribuído pelos agricultores (possibilidade de a própria Landolakes e/ou USAID financiar o manual)

Início da comercialização. o

Visitas a Díli para comercialização de produtos, com base nos pedidos dos clientes e/ou na disponibilidade de produtos

48


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Desenvolvimento de ferramentas de recolha de informação necessárias à gestão da UPSA: recibos, fichas de registo de compras, fichas de registo de vendas, modelo de relatório de actividades, outros.

o

Desenvolvimento de um manual de gestão da UPSA

o

Listagem dos documentos necessários

o

Desenho dos documentos

o

Abertura de conta no Banco

Estudo para implementação de um sistema de comunicação com os agricultores via sms o

Contacto com a TT no sentido de saber se é possível haver um patrocínio de algum tipo ou se há algum pacote específico para sms, alguma facilidade, que permita usar este meio de comunicação sem incorrer em grandes custos.

Nesta primeira fase estará integrado um projecto em parceria com o Mos Bele e a ETADEP, no sentido de formar produtores e promover o associativismo no sub-distrito de Maubara. O projecto consiste na formação dos produtores na construção de terraços e na produção de hortícolas com a introdução de alguns produtos menos comuns na região. À UPSA caberá a comercialização da produção e a identificação de produtores ou grupos de produtores na montanha que possam completar o portfolio de produtos com outras culturas. No final desta primeira fase a UPSA deverá poder definir o processo de comercialização de produtos, e ter todos os instrumentos de recolha de informação no seu formato final. Deverá também estar formado um recurso humano para a comercialização dos produtos.

9.3.2 Actividades da segunda época (2011) Nesta segunda época o objectivo é, com base na informação recolhida na época anterior, consolidar o trabalho com os agricultores para promover a aposta na qualidade da produção e melhorar a qualidade do serviço prestado aos clientes, quer através de uma melhoria na qualidade dos produtos entregues (variedade, apresentação, quantidade, alguma transformação). •

Apresentação dos resultados da época anterior e acções de sensibilização e formação junto dos agricultores.

o

Selecção das aldeias/sucos a visitar

o

Envio de convites

o

Preparação da apresentação

o

Apresentações

Previsão das necessidades de produtos ao longo do ano (com base nos resultados da época anterior e nas necessidades eventualmente apresentadas pelos clientes) o

Elaboração do relatório de vendas da época anterior

o

Actualização das fichas dos agricultores

o

Elaboração de mapa de necessidades

49


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Contratação da produção com produtores, a qual poderá ter diferentes graus de complexidade (consoante o tipo de produtor e a sua vontade), desde a simples sinalização da compra de uma quantidade de produção (ou a sua totalidade), até ao fornecimento de sementes de qualidade e planeamento conjunto da produção.

o

Confronto das necessidades previstas com as disponibilidades previstas

o

Planeamento com os agricultores

Contratação da venda, através do compromisso de entrega de quantidades regulares mínimas dos produtos com maior procura e/ou da produção de produtos específicos que sejam procurados mas cuja produção não haja ainda em Timor Leste. o

Visita aos clientes (actuais e potenciais) e negociar a contratação de entregas regulares

Criação de um “Clube de Produtores” que poderão beneficiar de uma “via rápida” de comercialização dos seus produtos através da UPSA, acções de formação e sensibilização, condições especiais de compra na Loja Comunitária, de utilização das máquinas de transformação e dos outros serviços prestados pela UPSA.

o

Criação do regulamento do “Clube de Produtores”

o

Criação de um plano de actividades

o

Criação de uma imagem

o

Promoção do “Clube de Produtores”

Prospecção de novos mercados (por exemplo, entrega de cabazes de produtos frescos, frutas e hortícolas, em compounds, bairros, etc.) o

Visitas de prospecção a Dili

Fomentar a experimentação, por parte dos agricultores, de novas culturas ou novas variedades e novas técnicas que permitam estender a época de produção e comercialização (área agronómica)

o

Parcerias com as Ciências Agrárias/UNTL e outras escolas de formação na área agrícola

o

Envolvimento dos membros do “Clube de Produtores”

Desenvolvimento de novos produtos: introdução de novas culturas e novas variedades, introdução da transformação, produção de compotas (frutas) e conservas (hortícolas) (pós colheita e comercialização). o

Parcerias com as Ciências Agrárias/UNTL e outras escolas de formação na área agrícola

o

Envolvimento dos membros do “Clube de Produtores”

9.3.3 Actividades da 3ª época (2012) •

Consolidação do trabalho realizado nas épocas anteriores.

Ao longo de todo este tempo será dada formação em mercados e comercialização e gestão à(s) pessoa(s) da UPSA, cujo trabalho será sempre acompanhado por técnicos do IMVF. Para isso será necessário fazer um primeiro levantamento de necessidades em termos de formação, o qual servirá 50


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

depois para desenvolver um plano de formação. Este plano terá uma componente mais pequena de teoria e uma componente de “formação em contexto de trabalho” mais forte. A implementação destas actividades justifica a contratação de mais uma pessoa para a UPSA. No caso de ser possível o Lucas ficaria com o trabalho de campo e contacto com os agricultores e gestão da UPSA e a segunda pessoa ficaria com os contactos com potenciais clientes e a área administrativa. A segunda pessoa terá que ter boa capacidade de comunicação, ter conhecimentos de agricultura, saber utilizar o computador, e preferencialmente ter noções de mercados e comercialização e ser de Liquiçá.

9.4

Comercialização de arroz e farinha de milho

O principal fornecedor de arroz será uma ONG timorense com quem há já um pré-acordo de fornecimento (ETADEP) e que tem capacidade de fornecer 120ton de arroz descascado por ano (em anos normais). O arroz será embalado, rotulado e comercializado pela UPSA. Serão aproveitados os canais de comercialização abertos pelas frutas e hortícolas. As actividades necessárias especificamente para o arroz são: •

Definição de critérios de qualidade

Aquisição de material: rótulos e embalagens (sacos ou bidons e caixotes para embalar os sacos), máquina térmica para selar sacos, balança.

A farinha de milho poderá também ser comercializada através dos mesmos canais já mencionados e ainda a pastelarias e padarias. As actividades necessárias à comercialização da farinha de milho são: •

Aquisição de material: rótulos e embalagens (sacos ou bidons e caixotes para embalar os sacos), máquina térmica para selar sacos, balança.

Formação da população local para a utilização da farinha de milho o

Preparação da acção de formação

o

Formação de um formador

o

Planeamento da formação: selecção dos locais e calendarização das acções

o

Implementação da formação

As acções de formação relativamente à utilização da farinha de milho serão feitas em parceria com o projecto Mos Bele.

9.5

Loja comunitária

A Loja Comunitária terá três componentes: material agrícola, material para a pesca, serviços administrativos e venda de gasóleo. As actividades no âmbito da loja serão: •

Equipamento da Loja o

Listagem dos diferentes tipos de material 51


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

9.6

o

Pedido de orçamentos para os diferentes pacotes de material

o

Aquisição de material

Desenvolvimento de ferramentas de gestão da Loja o

Desenvolvimento de ferramentas de gestão específica para a Loja.

o

Elaboração de um plano de actividades da Loja

Promoção dos serviços a prestar pela Loja

Transformação

A unidade de transformação congregará as máquinas de transformação de produtos agrícolas: moinho de milho, descascadora de arroz e debulhadora de milho, e será também o local onde se irá fazer a preparação dos produtos hortícolas e frutas. As actividades para a implementação da unidade de transformação são: •

Listagem do equipamento necessário

Pedido de orçamentos

Aquisição do equipamento

Formação na utilização do equipamento

Desenvolvimento de ferramentas de gestão de utilização do material

Definição de horários de utilização dos equipamentos

Promoção dos serviços

Será importante explorar uma parceria/contratualização de fornecimento de farinha de milho da UPSA à padaria que está integrada no Parque Comercial Mos Bele.

9.7

Oficina de manutenção de tractores e equipamento agrícola

A oficina é uma unidade que não estando prevista no orçamento inicial não tem financiamento. Assim o primeiro passo será conseguir financiamento e só a partir daí, em função do que se conseguir, é que é possível definir as actividades a implementar.

10 RISCOS E MEDIDAS CORRECTIVAS Com o presente projecto está prevista a dinamização da produção de produtos agrícolas, em especial hortícolas, e a dinamização da comercialização desses mesmos produtos bem como de arroz e de milho. A produção de qualquer produto agrícola está fortemente dependente de factores que não são controláveis pelo homem, pelo que o seu resultado poderá não ser o desejado. A não produção poderá causar frustração nos produtores e comprometer o seu empenhamento no futuro. O não sucesso de muitos grupos tem como causa a ocorrência de um mau ano ou de uma má época agrícola. Neste caso poderão tomar-se dois tipos de medidas correctivas. A primeira é, se possível do ponto de vista técnico, assistir os produtores na rápida substituição das culturas praticadas por outras mais resistentes ou melhor adaptadas às condições existentes, eventualmente com um ciclo cultural mais 52


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

curto e que permitam aos agricultores obter ainda algum rendimento. A outra consiste na realização de acções de sensibilização junto dos agricultores e grupos de agricultores para evitar a sua dispersão. Outro risco decorrente de um mau ano ou de uma má época agrícola será a incapacidade da UPSA de responder a eventuais compromissos comerciais. Este facto poderá ser ultrapassado através da compra de produtos noutras áreas. Mesmo obtendo uma margem um pouco mais pequena é importante não defraudar as expectativas dos clientes e ir construindo uma relação de confiança.

11 PROPOSTAS E RECOMENDAÇÕES O presente estudo pretendia recolher informação que permitisse tomar decisões sobre a estrutura e desenvolvimento da UPSA com o menor grau de risco possível. Foi também um período importante para a própria ONG conhecer o terreno e uma primeira aproximação aos principais beneficiários do projecto. Embora o projecto tenha 30 meses, na prática, passada esta primeira fase de análise da situação e das necessidades, o acompanhamento da UPSA já com recursos humanos será feito durante dois anos. Será por isso importante, a cada momento, olhar para os objectivos propostos, confrontá-los com a realidade e resolver eventuais problemas no seu início. A avaliação permanente do projecto permitirá corrigir atempadamente desvios que ocorram. Ao longo da definição do plano de actividades, houve o cuidado de começar com pequenos passos e ir crescendo à medida da capacidade existente no terreno. No final pretende-se que a UPSA seja um negócio sustentável. Muito embora seja necessário um reforço de capacidade inicial para o arranque das várias actividades definidas, esse apoio deverá ser mais em termos de capacitação e menos em termos de equipamento e material. Na implementação do projecto deverá ser dado mais ênfase a uma melhor utilização dos recursos (humanos e materiais) existentes, do que propriamente à utilização de novos equipamentos e métodos que no curto médio prazo, por incapacidade técnica ou outras, acabam por deixar de ser usados. Assim, o papel do IMVF neste projecto é essencialmente de facilitador e capacitador. Ao longo da implementação do projecto deverá continuar-se na prossecução de um desenvolvimento integrado. Será importante estar atentos a outros projectos relacionados com a agricultura e, à semelhança do que se fez nesta fase, procurar encontrar parceiros e sinergias que permitam ajudar ao desenvolvimento do distrito e, claro, da UPSA.

12

A ESTRATÉGIA DO IMVF

A estratégia de Desenvolvimento Rural Integrado do IMVF adopta uma visão holística das questões da pobreza e subdesenvolvimento no meio rural, reconhecendo que a melhoria das condições de vida das populações do Distrito de Liquiça só será possível através do crescimento sustentável dos seus activos de produção, sociais e ambientais. A estratégia deve apostar num sector agrário mais aberto, diversificado e altamente competitivo, cada vez mais ligado aos restantes sectores, sem ignorar a crescente relevância da economia rural não agrícola, que deve ser reconhecida também como oportunidade essencial à criação de emprego, um factor determinante a qualquer estratégia de Desenvolvimento Rural.

53


Estudo “Dinamização dos Mercados e dos Circuitos de Comercialização Locais no Distrito de Liquiçá”

Este desenvolvimento implica melhorias nas condições de vida das populações, no sentido mais abrangente possível, envolvendo a criação ou reabilitação de infra-estruturas, a promoção de actividades geradoras de rendimento e o desenvolvimento dos sectores secundário e terciário. Em síntese o projecto visa iniciativas que contribuam para a criação de vínculos entre a economia local e mercados mais amplos, diminuindo o isolamento económico e social do distrito; com iniciativas que prevêem o investimento em infra-estruturas e assegurem serviços de apoio aos agricultores e oportunidades de formação; contribuindo para uma economia local mais competitiva. Neste quadro serão considerados os seguintes princípios metodológicos: Apostar na realização de actividades de formação e capacitação dos grupos-alvo visando em particular a organização e estruturação das entidades e organizações parceiras. Promover dinâmicas comunitárias que estimulem o espírito de iniciativa e o sentido de coresponsabilidade das populações; Apontar para modelos originais de desenvolvimento numa óptica de gestão empresarial dos recursos financeiros e técnicos disponíveis, podendo esta servir de referência a outras iniciativas de desenvolvimento local evitando os riscos de dispersão de responsabilidades e tarefas entre vários actores locais. A iniciativa privada tem um papel relevante em todo este processo; Maximizar as contribuições de todos os actores em diferentes níveis através da consulta de coordenação com vista a evitar duplicações e num espírito de parceria público/privada, governativa/não governativa. Incentivar o fortalecimento da participação das mulheres em várias áreas: na tomada de decisões estratégicas, na concessão de apoios, no acesso a factores de produção, na assistência técnica e capacitação. Adoptar a necessária flexibilidade durante a implementação das actividades: os projectos não podem ser analisados como um conjunto de acções fixas. Uma abordagem participativa implica que os projectos se adaptem permanentemente às novas circunstâncias e/ou condicionantes, sem que isto implique a alteração dos objectivos e resultados definidos.

54


ANEXOS

55


ANEXO I 1. Inquérito 2. Guião de reuniões com grupos focais 3. Guião de entrevistas a intermediários

56


1. InquĂŠrito

57


2. Guião das reuniões com grupos focais O objectivo deste estudo é seguir o produto desde a produção até ao consumidor. O guião das reuniões com os grupos focais deverá ser semelhante ao inquérito muito embora alguns dos pontos focados, em especial o da comercialização, sejam depois discutidos um pouco mais a fundo. Produção: Quais os principais produtos? Para cada um desses quais os principais custos de produção? Épocas de produção para cada um? Utilização de máquinas agrícolas (que máquinas há, quais usa, quanto paga, estão sempre disponíveis?) Utilização de factores de produção? Quais as principais dificuldades? Como é que se faz a troca de informação entre agricultores, entre agricultores e extensionistas, etc? O que não produzem, porquê? Transformação: Os produtos produzidos sofrem algum tipo de transformação? Que produtos e que transformações? Transformação mecânica ou manual? Máquinas alugadas ou próprias? Embalagem? Custo de transformação (de utilização das máquinas, das embalagens, etc). Principais dificuldades? Frequência (o arroz é descascado todo de uma vez ou à medida das necessidades? E o milho?) Comercialização: Dos produtos que produz, quais os que comercializa? Quanto é que fica para consumo da casa? Onde é que vende? A quem é que vende (tentar ficar com contactos)? É sempre à mesma pessoa? Por quanto é que vende? Vende por grosso ou a retalho? Qual o produto onde se ganha mais dinheiro? A embalagem é de quem vende ou de quem compra? O preço é sempre igual ao longo do ano? Se não, como é que varia? A quantidade comercializada é sempre igual ao longo do ano? Se não, como é que varia? Há alguma selecção do produto (por tamanho, qualidade, etc)? Essa selecção tem também um preço diferenciado? Quem é que marca o preço do produto? No caso do agricultor, ele sabe se está ou não a ganhar dinheiro e quanto é que está a ganhar? Sabe os preços que estão a ser praticados nos mercados mais longe (por exemplo, em Díli)? Faz o transporte dos produtos? Quanto custa? É fácil de arranjar? Está sempre disponível? Quais os principais mercados na zona (ver em que dias é que há)? Como é que o volume de produtos é medido: sacas, molhos, quilos, outros? Quais as principais dificuldades na comercialização?

58


3. Guião de entrevistas com intermediários (a intermediários) O objectivo deste estudo é continuar a seguir o produto desde a produção até ao consumidor final: • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Onde compram? A quem? Como transportam? Quanto custa o transporte? Quais as épocas em que há mais produto? Quanto custa? Quais as épocas em que há menos produto? Quanto custa? Quanta compra de cada vez? Quantas vezes por mês? Por quanto compra? Por quanto vende? Como é feita a negociação? Quem manda no preço? Como é feito o contacto com os produtores? A quem vende? Há distritos/sucos com melhores produtos que outros? Quais são os sucos com melhores produtos? Quais as maiores dificuldades na compra? Quais as maiores dificuldades na venda? Quais os conselhos que dá à produção? O que podemos fazer para ajudar? Há algum sítio no mercado em que se possa deixar os produtos? Armazém?

59


ANEXO II 1. Resumo de Caracterização dos Sucos

60


1. RESUMO DA CARACTERIZAÇÃO DOS SUCOS VISITADOS Suco

Culturas

Aquisição de factores de produção

Tractores/ motocultivadoras

Máquinas transformação

Grupos

Comercialização

Mercados mais próximos

Distância a Díli

Estado das estradas

Leorema

Café, milho, batata, feijão, mandioca, inhame

Bazartete, Liquiçá, Gleno

Não

Máquina de despolpa feita localmente

Grupos temporários

Timor Global, Timor Corp

Bazartete, Railaco, Gleno

49 km

Mau

Fahilebu

Milho, amendoim, mostarda, tomate e feijão

Railaco, Díli, localmente

2 motocultivadoras

Não

Sim

Liquiçá (4h), Gleno (1h:30), Railaco (1h:30), Bazartete (2h:30)

Liquiçá, Gleno, Railaco Bazartete

22km

Mau, em recuperação

Uva, tomate, beringela, papaia, feijão, horticultura

Díli (Loja da Agricultura)

Não

Sim, Moris Fon e Haburas Agricultura

Leader, Díli

Díli

Fruta, tomate, feijão chicote, tabaco, milho

?

Não (montanha)

Não

Intermediários

Milho, mandioca, fruta, amendoim, soja, horticultura

Mercado local

Arroz, milho, hortícolas e fruta

Bazar

Motaulun

Lauhata

Vatuboro

Lissadila

2 tractores

Não

Não

e

1h:15min

32km

Bom

45min

Díli

30km

Bom

Razoável, em recuperação

Díli

Sim

Motocultivadoras

Não

Descascadora de arroz (Reimate)

Sim (para trabalhar a terra

Atabae, Maubara e Liquiçá

Atabae, Maubara, Liquiçá

2h

7 grupos x 15 pessoas

Bazares, Governo, Intermediários, Faulara

Liquiçá, Faulara, Díli

88km

74km

Mau

61


Culturas

Aquisição de factores de produção

Leoteala

Hortícolas, milho, amendoim, arroz

Guiço

Tractores/ motocultivadoras

Máquinas transformação

Díli, Liquiçá, mercado local

Sim

Descascadora de arroz avariada

10 grupos x 10 pessoas

Milho, mandioca, banana, amendoim, feijão, hortícolas, batatadoce, kontas, inhames

Bazar, outros sucos, mercados

Motocultivadoras

Não

5 grupos para trabalhar a terra

Vaviquinia

Milho, fruta, mandioca, tubérculos, feijão mungo, café, amendoim, hortícolas, batata, batata doce, abóbora

Maubara

Não (montanha e pesca)

Não

Gugleur

Milho, mandioca, batata-doce, inhame, tubérculos, feijão, coco, abóbora, hortícolas, fruta

Loja da agricultura, outras lojas

Tractores

Não

Suco

Mercados mais próximos

Distância a Díli

Estado das estradas

Liquiçá

76km

Mau

Liquiçá, Intermediários, Bazar

Maubara, Atabae

80km

Mau

Sim, para trabalhar a terra

Vila, Maubarlissa, Gugleur, Intermediário, NCBA

Vila, Maubarlissa, Gugleur e Lebutelu (montanha)

1h:30min

Bom

Não

Intermediários, Liquiçá

Liquiçá

2h

Mau

Grupos

Comercialização

62


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