Conversas e Percursos_ Urbe

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governo do estado de SĂŁo paulo, secretaria da cultura, instituto upload, in.vertice e cinnamon apresentam

URBE/

Conversas e percursos

27/03 a 01/04 / 2017


/APRESENTAÇÃO

/URBE

Este material foi elaborado para apresentar a Ação Educativa: Conversas e percursos, com o objetivo de trazer temáticas e sugestões que aproximem o público interessado no complexo arte-cidade-arquitetura e os participantes da Urbe_Mostra de Arte Pública, realizada entre os dias 15 e 27 de novembro de 2016, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, complementando a experiência e amplificando o entendimento sobre a temática da Mostra. Convidamos você a vivenciar esse processo e refletir sobre as proposições acerca da arte pública em conversas e atividades que certamente abrirão outros prismas para além dessa linguagem.

O Urbe se apresenta como uma plataforma perene de criação, pesquisa e organização artística, que promove novas reflexões no campo da arte, cidade, arquitetura e urbanismo. Buscando investigar as relações da arte acerca da problemática do lugar como um organismo vivo, território da atividade humana, da produção cultural e matriz da vida social, econômica e política, o principal objetivo do Urbe é propor e construir contribuições por meio da arte. Não por acaso, o propósito é dar outros sentidos para a ocupação do espaço público, apresentando trabalhos e conceitos inovadores, mediando a relação sujeito-obra-trajetos, gerando camadas de interação com o circuito, reforçando a paisagem imaterial e fornecendo uma perspectiva transversal de arte pública, harmonizada com o território e as formas de perceber a cidade. Nosso propósito é mapear, pesquisar territórios e espaços na esfera pública, estimulando transformações sociais que integrem a comunidade por meio da arte num diálogo de interesses convergentes entre agentes culturais, ambientais, econômicos e sociais.

CONVERSAS E PERCURSOS

Olafur Eliasson, Your rainbow panorama, 2006-2011, ARoS Arhus Kunstmuseum Denmark / Foto: Auspices


/Mostra de Arte Pública A Mostra é uma das ações do Urbe, caminha para sua terceira edição e tem como objetivo investigar o espaço público por meio de práticas artísticas que assimilam a fusão entre obra e lugar, com intervenções temporárias in situ, criando percursos orientados pelo interesse e abertos aos sentidos, atravessados por conteúdos político-estéticos, e processos participativos e demo-cráticos. A primeira edição aconteceu no centro da cidade, entre a praça da Sé e o vale do Anhangabaú, e a segunda, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Ao escolhermos um sítio para as intervenções, desejamos potencializar os objetivos essenciais da Mostra: atrair

atenção pública para espaços simbólicos dentro de uma mancha urbana; gerar reflexões sobre o direito à cidade; debater novas formas de ocupação do espaço público; exercitar possibilidades de interação tecnológica que a cidade e a urbanidade contemporânea podem oferecer; identificar estratos e suas relações socioterritoriais. Esta plataforma encontra-se aberta e em construção, o processo de pesquisa se desenvolve no curso dos meses que antecedem a Mostra, com o propósito de consolidar uma pequena miríade de ações esteticamente potentes que contribuam com a produção contemporânea nos espaços públicos.


/Arte, espaço e esfera pública Inicialmente, é importante entendermos, por um lado, que arte no espaço público significa arte relacional com a arquitetura, com o equipamento urbano, a cidade e o espaço geográfico físico, e, por outro, que arte pública é também arte de interesse público, intervenção social e política. E, para refletir sobre essas questões, é preciso trazer, antes, alguns conceitos de espaço e esfera pública, que é onde os conflitos são geridos, resolvidos e administrados. No Brasil, os modelos de espaços públicos modernos foram implantados como opções antiurbanas, baseados na concentração de renda e na segregação socioespacial. Essas práticas patrimonialistas do uso do espaço evidenciam as distorções e a ausência da esfera pública, e, nesse contexto, a arte pública também pode tornar-se privatista. Assim, a esfera pública não é um espaço de consenso, mas sim um espaço de dissidência. A consequência lógica é que conflito, divisão e instabilidade não empo-brecem a esfera pública democrática, ao contrário, são as condições de sua existência. Por essa razão, a ausência da esfera pública dificulta e põe obstáculos para a construção de uma noção espacial de uso comum, porque a esfera política é não só um local de discurso, mas também um local construído discursivamente. O espaço público urbano, podemos resumir, então, não é apenas uma praça, um parque ou centros cívicos criados e mantidos pelo Estado; é um lugar criado pelo conflito, e não por um entendimento que recorre a regras racionais

e processuais. Esse espaço não emerge de um consenso encontrado, mas sim justamente de onde há ruptura do senso comum, e esse deslocamento de acordos permite a formação de alianças temporárias que precisam ser rearticuladas novamente e novamente. Assim, um espaço coerente não pode ser separado de uma noção daquilo que ameaça o espaço, daquilo que ele gostaria de ser. Com efeito, a concepção de espaço público só pode ser consolidada a partir do reconhecimento de uma esfera pública pela sociedade, onde cidadãos se identificam e têm consciência histórico-social dos interesses políticos comuns. No entanto, isso não se constrói, tampouco se forma, de uma hora para a outra. É a partir desse reconhecimento, porém, que uma política espacial democrática começa. Então, para fundar um espaço social, é preciso que ele seja político e aberto, repousando sobre os sedimentos das subjetividades identitárias e sobre as batalhas por significados. A sociedade ocupa esse lugar em busca de legitimar e qualificar esses espaços pelos tipos de usos que vão sendo atribuídos a eles, ou seja, um espaço só passa a existir como território a partir de seu uso. A noção de espaço público no Brasil ainda é essencial-mente nova, e essa noção não é dada de maneira natural. Apesar de ter havido avanços nos últimos anos, vemos que, dos anos 1970 para cá, e principalmente durante a ascensão das ciências sociais, em particular a marxista, consolida-se o entendimento de que o espaço é uma construção social.


Richard Serra, Clara-Clara, 1983, Jardin des Tuileries, Paris, França / Foto: Victor Tsu

Mais adiante, essa abordagem se radicalizou, ao ampliar o entendimento de que não só o espaço era visto como uma construção social, mas que a esfera social é também espacialmente construída. E esta forma espacial da esfera social certamente tem efeitos causais, ou seja, a forma como a sociedade funciona é influenciada por sua estrutura espacial. A principal diferença entre essas convicções reside no fato de que, no primeiro caso, o espaço é ainda visto como uma massa passiva, isto é, como mecanismo para construção social, enquanto que, no segundo caso, o espaço, em si, é o agente social. Independentemente de chamarmos esses significados de discurso, sociedade, cidade ou espaço público, eles são compostos por uma espacialização e um design urbano que influenciam as dinâmicas sociais do dia a dia e, assim sendo, o espaço não é só construído discursivamente; ele é o próprio discurso. A discussão da arte no espaço público, ao que parece,

está se tornando cada vez mais íntima do debate da democracia, e nos coloca questões como: qual é o papel do espaço público para práticas artísticas? E, por outro lado, como as práticas artísticas podem influenciar a esfera pública? Não vamos encontrar essa resposta apenas no debate da crítica de arte; será necessário, também, um esforço sobre a reflexão política. São questões a serem enfrentadas no campo das ideias e da teoria política, e que também levem em conta os projetos de espacialização e a maneira como eles se hegemonizam. No entanto, até agora, a reflexão sobre arte pública dedica pouca atenção a essas questões, embora elas já estejam no centro das polêmicas sobre o tema. Num exame mais atento, fica claro que as práticas artísticas concebidas nesse contexto podem colaborar em prol de uma articulação progressiva e coletiva na implantação de um espaço público que se contraponha aos modelos de espetacularização das grandes cidades, deslocando, portanto, alguns centros de poder.


ATIVIDADE UM_OFICINA PARA JOVENS /POR UMA CORAGEM DE CRIAÇÃO E POR UMA IMAGINAÇÃO RADICAL público-alvo: JOVENS DE ENSINO MÉDIO DE 14 A 17 ANOS CARGA HORÁRIA: 4H Desenvolver um projeto metodológico que trace contor-nos possíveis no entendimento da arte como ferramenta essencial para se pensar a arte e o espaço no convívio público é inserir, no debate atual, provocações, sensações e exercícios que tirem o cidadão do lugar-comum e o apresentem a um cenário de possibilidades diversas nas constantes relações com a cidade. Pensar a cidade e o fazer artístico é uma disciplina flexível, que busca construir um olhar sobre a humaniza-ção da sociedade no contato com as diversas dimensões da esfera pública. Portanto, estruturamos um tripé relacional, definido entre as áreas de História, Perspectivas e Transversalidades,

Foto: Vanessa Bohn Costa

para construir uma atmosfera narrativa que compreenda diversas possibilidades de olhar sobre a experiência da arte no espaço público. Ao alinhar uma construção livre, que desperte o olhar dinâmico do jovem, respeitando um processo democrático de produção de conhecimento no qual, além das atividades práticas oferecidas gratuitamente, também reforçamos o caráter teórico das múltiplas linhas de pensamento que atuam sobre a ideia de uma arte pública, pretendemos ativar um campo de produção educacional para formação de olhares sobre a arte pública que suscite temas variados para o fluir de conversas potentes, amplificando um sentido mais apurado na condução de novos percursos.


/Anotações Históricas Como seria, para uma tribo de beduínos nos desertos do norte da África, há 3,5 mil anos, após longas caminhadas, deparar-se com as cidades do Vale dos Reis do império egípcio? Pirâmides, esfinges e templos monumentais exaltavam uma civilização politeísta de cultos e go-vernanças. A construção do imaginário social baseia-se na construção simbólica de seus agentes institucionais. Estátuas, edifícios, praças e templos são propostas de configuração arquitetônica e visual que buscam imprimir sentido nos roteiros de suas movimentações cotidianas. A história da arte, paralelamente à história das civiliza-ções, compõe constantemente, com seus mecanismos de expressão poética, relações de troca e registros. Das pirâmides do Egito às pirâmides maias e astecas, a ideia de um espaço culto público se amplifica pela performatividade ritualística. Os rituais coletivos, o fogo dos xamãs ardendo para os deuses, refletiam uma teatra-lidade cotidiana de seguimento e valor cósmico.

Zacuelo, Guatemala

Os vitrais bizantinos ou a arquitetura gótica das catedrais europeias, com seus efeitos arquitetônicos, refletiam um modelo de culto, constituído pelas crenças locais, tendo a religiosidade como fonte de formação social. Os sistemas de codificação do espaço criam narrativas de organização social. A experiência da arte pública se faz a partir da monumentalidade e conjugação com o complexo arquitetônico. As transformações do século XIX passaram a ter uma influência determinante nos processos de fruição artística; a sociedade burguesa passa a dar um sentido privado à contemplação da arte, e esta, por sua vez, passa a se configurar em ambientes fechados. A partir do impressionismo, a relação estética da comu-nicação de massa passa a sofrer influência constante, e as escolas vanguardistas foram assimilando tais pro-cessos, a ponto de despertar novas rupturas a partir do pós-guerra (1945).


/VERBETES Templo/

Impressionismo/

Templo é uma estrutura arquitetônica dedicada ao serviço religioso como culto. O termo também pode ser usado em sentido figurado. Nesse sentido, é o reflexo do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da Presença Real.

Impressionismo é o termo usado para designar uma corrente pictórica que tem origem na França, entre as décadas de 1860 e 1880, e constitui um momento inaugural da arte moderna. A origem do nome remonta a um texto jornalístico que, inspirado na tela Impressão, sol nascente, 1872, de Claude Monet (1840-1926), rotula de Exposição dos Impressionistas a primeira apresen-tação pública dos novos artistas no ateliê do fotógrafo Nadar (1820-1910), em 1874. O grupo tem sua formação associada à Académie Suisse e ao ateliê Gleyre, em Paris, e entre seus principais integrantes estão Monet, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Alfred Sisley (18391899), Frédéric Bazille (1841-1870), Camille Pissarro (1831-1903), Paul Cézanne (1839-1906), Edgar Degas (1834-1917), Berthe Morisot (1841-1895) e Armand Guillaumin (1841-1927).

Civilização Maia/ A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana notável por sua língua escrita, pela sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. Inicialmente estabelecidas durante o período pré-clássico [1000 a.C. a 250 d.C.], muitas cidades maias atingi-ram seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se desenvolver durante todo o período pós-clássico, até a chegada dos espanhóis. No seu auge, era uma das sociedades mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas do mundo.

Fonte: Wikipédia e Enciclopédia Itaú Cultural


Robert Smithson, Spiral Jetty, 1970, Great Salt Lake, UT, EUA

/Cultivando Perspectivas Uma das maiores reviravoltas na quebra dos paradig-mas estéticos de apreensão da arte ocorreu durante as revoluções culturais dos anos 1960. O período que vai da década de 1960 até o início dos anos 2000 é quando a ideia de espaço público se desenvolve através da filosofia e da arte. Nesse transe geracional, o pós-guerra a contracultura com flower power surgem para fundar novos prismas nos caminhos da produção artística e suas conexões institucionais com o mercado, galerias e museus. A quebra de modelos de linguagem surge quando a relação da arte com o espaço passa a ser experimentada, bem como suas diversas naturezas. A arte passa a ser o espaço, e o espaço, o real catalisador das ações artísticas. Os artistas buscam, desse modo, romper com os padrões de exposição, e partem rumo a uma experimentação de seus processos em escala, usando a natureza, os edifícios, os meios de mobilidade de massa, e até comunidades, como fontes de matéria-prima efetiva no desenvolvimento de suas obras. Nesse caldo geracional, artistas como Robert Smithson,

Gordon Matta-Clark, Hélio Oiticica, Richard Serra e Christo, entre outros, estabelecem uma nova cadeia de percepção contextual da arte e passam a remodelar todo um pensamento sistemático de fruição e relação artística. As linguagens se tornam híbridas, o espaço expandido e uma nova grade de conceitos se estabelecem, influenciando globalmente os mais variados repertórios gramaticais. Land art, site specific, intervenção urbana, performance, instalação, cinema expandido, arte social e minimalismo são algumas das expressões centrais nesse momento. Essas linguagens recortam paisagens e se estabelecem como senso de ação no tempo e no espaço, tendo inflexões remissivas a situações específicas, a arte como desconfiguração do espaço. Do campo a cidades, do tempo aos espaços, a arte passa a ser permeabilizada por questões sociais, de latências emergentes dentro da reflexão crítica sobre o futuro das cidades e do contexto urbano. A partir daí, a ação artística passa a refletir “tensionamentos” sociais e políticos dentro de seu universo de construção narrativa.


Christo, The Floating Piers, 2016, Lago Iseo, Itália (obra efêmera) / Foto: Roberto Caputo

/VERBETES LAND ART/ também conhecida como Earth Art ou RICHARD SERRA/ é considerado um dos artistas mais Earthwork, refere-se ao tipo de arte em que o terreno natural em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele próprio trabalhado de modo a integrar-se à obra.

FLOWER POWER/ foi um slogan usado pelos hippies dos anos 1960 até o começo dos 70, como um símbolo da ideologia da não violência e de repúdio à Guerra do Vietnã. O termo foi utilizado pela primeira vez pelo poeta Allen Ginsberg, em 1965. Desde então, ele é frequentemente utilizado para se referir àquele período.

importantes do pós-guerra. Recentemente tem feito trabalhos de grande escala em aço, mas já realizou obras com diferentes tipos de materiais industriais, como borracha, chumbo e lâmpadas. Conhecido também por colocar em confronto a obra e o espaço público, como na polêmica escultura Tilted Arc, de 1987, retirada do local após mobilização dos habitantes [de uma área nobre de Nova York], que consideraram a escultura ofensiva.

Fonte: Wikipédia e Enciclopédia Itaú Cultural


/Ativação de Transversalidades A ideia de arte pública, atualmente, não busca traçar sentidos conceituais dentro da história da arte, mas sim construir uma proposta de relação entre arte e espaço público numa escala relacional ambivalente: a arte como processo de democratização do espaço público, e o próprio espaço, em si, como forma de sensibilizar a percepção sobre a arte. O espaço público hoje se trava além da fisicalidade territorial, encontrando terreno expandido dentro do universo virtual. A internet transforma-se em espaço público – ainda que mediado –, despertando novas formas de relacionar os usuários com a esfera pública e com as dimensões sociais. O olhar sobre um espaço passa a ser operado além da visão. A interatividade dos smartphones passa a conduzir percur-sos dentro da relação do indivíduo e sua mobilidade urbana. A paisagem se desenha como perspectiva digital. O passo é um clique. E a arte começa a desenvolver-se sobre outras camadas de interação. O espaço é a linguagem, e a linguagem é híbrida. O espaço não é mais somente físico.

Urbanscreen, Identidade, 2011, São Paulo

A transversalidade cruza as relações de práticas, processos e acessos entre o efêmero, o permanente e o universal. O direito ao espaço público passa a ser reivindicado, e se assume como ferramenta de manifestação popular, ativa-da via redes sociais e potencializada com a reverberação da mesma. As cidades-espetáculo passam a sofrer intensa crítica a respeito dos processos de gentrificação, e o embate direto entre privatização do espaço público e direito à cidade se dá em discussões constantes. Desse modo, práticas de arte pública passam a ser pode-rosos catalisadores de reflexão sobre o espaço, incluindo, na pauta pública, a ideia de democratização e livre acesso aos bens públicos e ao patrimônio cultural material e imaterial. Por isso enfatizamos que as práticas artísticas no espaço público são elementos fundamentais nos pro-cessos de humanização da sociedade, buscando um olhar cultural para a fruição do bem comum e colocando a criatividade como um pilar essencial em tais projetos. Não é uma utopia acreditar que a arte tem esse poder de transformar a sociedade!


/VERBETES GENTRIFICAÇÃO/

CULTURA DIGITAL/

Chama-se gentrificação (do inglês gentrification) o fenô-meno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada.

Entendemos como “cultura digital” a relação entre indi-víduos e dispositivos tecnológicos utilizados para a execução de processos de registro e transmis-são de dados. Experienciada por toda a socieda-de, é uma complexa mudança nos padrões sociais de comportamento, que passaram a existir a partir da massificação do uso do computador individual e de aparelhos como telefones celulares, máquinas fotográficas digitais e a articulação desses meios em interação com o ambiente virtual e o uso da internet. Para além da fonte tecnológica, também os discursos tecnocientíficos, as práticas artísticas de vanguarda, a utopia da contracultura, a teoria crítica, a filosofia e outras formações subculturais, como o punk, colaboraram para seu crescimento. O digital é uma marca da cultura que distingue o modo de vida contempo-râneo dos demais.

Mobilidade urbana/ É a condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano de um município. Assim, a mobilidade urbana adequada é obtida por meio de políticas de transporte e circulação que visam a melhoria da acessibilidade e mobilidade das pessoas e cargas no espaço urbano, através da priorização dos modos de transporte coletivo e não motorizados, de maneira efetiva, socialmente inclusiva e ecologica-mente sustentável.

Fonte: Wikipédia e Enciclopédia Itaú Cultural


/PROCESSO METODOLÓGICO 1 CARTOGRAFIA INDIVIDUAL

3 AULA INTRODUTÓRIA

É o desenho sobre determinado percurso que expresse, de maneira lúdica, o principal percurso no cotidiano do participante. Em formato de desenho sobre o percurso, é possível identificar os principais pontos afetivos que marcam uma determinada trajetória. Esse desenho será integrado a uma cartografia coletiva desenvolvida durante a etapa presencial da oficina.

A aula introdutória é uma decupagem e síntese dos três textos apresentados acima (História, Perspectiva e Transversalidade). De maneira informal, são trabalhados os conceitos de arte pública, entre uma imaginação sobre a questão histórica, as transformações e mudanças que as linguagens artísticas sofreram no século passado e como passaram a influenciar todos os demais processos nos dias atuais até chegarmos a um exercício sobre o pensar a arte pública hoje, na cidade em que moramos, nos espaços que passamos, entre lugares que conhecemos. Desse modo, uma abordagem que, necessariamente, irá passar pelo pensamento de convívio e das observações que criamos em nossa relação sensível com o espaço público – temas como grafite, pichação, performance, dança e música serão trabalhados de modo que entendamos, de forma objetiva e clara, as diversas manifestações artísticas que ocupam o espaço público.

2 CARTOGRAFIA COLETIVA É a construção e mixagem dos diversos desenhos indivi-duais sobrepostos sobre um papel de grande formato. Nesta etapa, a ideia é gerar uma grande colagem de desenhos, na qual seja possível visualizar principalmente dois eixos de conexões entre os desenhos: 1. Semelhanças geográficas, identificando os principais elementos terri-toriais – ruas, pontos de ônibus, estações de metrô, praças e avenidas; 2. Conexões afetivas, mapeamento de situações em comum que possam estar presentes em mais de um desenho, como: pipoqueiro, sorveteiro, ação de lazer, futebol, brinquedos, brincadeiras; nesse momento, todos são convocados a estabelecer uma relação de concentração sobre o mapa coletivo, buscando identificar, juntos, essas conexões, pois os nomes dados a cada coisa não são, necessariamente, sempre os mesmos. Esse grande desenho, portanto, é a fotografia geral dos trajetos do grupo, formando uma “cartografia coletiva” inédita.


Foto: Vanessa Bohn Costa

4 EXIBIÇÃO DE VÍDEOS

5 DESENHO COLETIVO (TRABALHO DE MESA)

A apresentação de vídeos, seguida de comentários, visa exemplificar as situações e citações feitas durante o processo da aula introdutória oral. A partir de trechos selecionados, podemos contribuir, de maneira literal, para o contexto conceitual exposto. Sugerimos a exibição de dois vídeos autorreferenciais da própria Mostra -Obras e reação do público, de 2012, e Urbe Mostra de Arte Pública, de 2016 - para reforçar os elementos que buscamos constantemente operar, como mecanismos de formação de público, de ação no espaço e de desen-volvimento artístico. Também de modo complementar, podemos exibir outros vídeos que possam reforçar a noção de arte pública dentro do processo presencial da oficina, uma lista de referências está disponível em nosso site.

Esta etapa convida os participantes a se debruçarem sobre peculiaridades do entorno. Um esboço de um novo mapa territorial passa a ser desenhado, buscando conectar, principalmente, os elementos em comum, identificados na produção e desenvolvimento da cartografia anterior. A partir desses primeiros traçados, e também pelo registro de ao menos cinco pontos fundamentais no circuito, passamos a desenvolver uma reflexão criativa acerca das ações artísticas que gostaríamos que por ali fossem aplicadas. Desse modo, ações como grafite, mural, circo, dança e música passam a ser vislumbrados em perspectiva urbana, fazendo do raciocínio criativo um exercício de cidadania cultural.


Foto: Vanessa Bohn Costa

6 TRABALHO DE CAMPO (EXERCÍCIO PRÁTICO)

7 FECHAMENTO (REFLEXÃO COLETIVA)

A penúltima etapa da oficina compreende uma ação efetiva de exercício de intervenção. A partir da disponibilidade de materiais de uso efêmero (giz, fitas, barbantes, algodão), os participantes são provocados a criar microintervenções, ou interferências, diretamente na paisagem do entorno. O foco é gerar um esforço do olhar criativo, além daquele que nos é dado como elemento visual padrão. Nessa atividade, elementos visuais da arquitetura, como portas e portões, equipamentos, como telefones públicos, bancos e postes, tornam-se cenário e/ou moldura para a execução de propostas artísticas. Esse exercício prático é a fundamentação essencial para que, atuando sobre o meio de convívio, os participantes se apropriem de suas autonomias criativas para gerar obras efêmeras, redesenhando, assim, a paisagem e produzindo novas perspectivas artísticas sobre o contexto físico onde o projeto se desenvolve.

Após o término do exercício prático de intervenção, a turma volta a se reunir em sala. Nesse momento, é feita a troca de arquivos de registro sobre os trabalhos praticados. O compartilhamento deve ser total, e todos devem sair com um mínimo registro das ações praticadas. Desse modo, todos são convocados a pensar sobre as ideias dos outros. A pensar e refletir, gerando novas ideias, novas leituras e novas ressignificações sobre as ações desenvolvidas. É o compartilhamento da opinião que reforça o olhar coletivo sobre as práticas desenvolvidas, gerando uma amplificação conceitual acerca dos exer-cícios poéticos aplicados.


ATIVIDADE DOIS_GRUPO DE PESQUISA

/ARTE, ESPAÇO E ESFERA PÚBLICA

público-alvo: PESQUISADORES, PROFESSORES, ARTISTAS, CURADORES, URBANISTAS, ARQUITETOS E OUTROS PROFISSIONAIS CARGA HORÁRIA: 4H

EIXOS RELACIONAIS/

Esfera pública, arte pública, espaço público, direito à cidade, site specific, land art, espacialidade, território, arquitetura, urbanismo, intervenção, performance, natureza, alteridade, passagem, deslocamento, tempo, processo, transição, efemeridade, percurso, interrupção, cidade, caminhabilidade e cartografia. O material com a qual vamos trabalhar nas atividades a seguir tem como referência o processo de pesqui-sa curatorial e as obras criadas pelos artistas para a Urbe_Mostra de Arte Pública, realizada no bairro do Bom Retiro em São Paulo. A intenção é explorar os processos e resultados envolvidos nas diversas linguagens, suportes e poéticas utilizados nas práticas de criação artística, entendendo que, em arte contemporânea, vários artistas adotam o processo de criação não como meio, mas como um fim em si mesmo. Importante ressaltar que este trabalho preparatório é parte constitutiva do projeto como um todo, propõe deslocamentos dos meios convencionais de trabalho, leva à inquietação a respeito do outro e opera com linguagens distintas para que, a partir daí, surja uma multiplicidade de espacialidades estéticas e políticas, expandindo as ações apresentadas nos textos iniciais deste material. A passa-gem de uma linguagem para outra, de uma situação para outra, está no centro da criação artística contemporânea e pode sugerir novos mapas e novas visões da cidade. Ao propor este grupo de pesquisa e estudos, levamos em conta o recente – mas amplo – desenvolvimento

de práticas artísticas transdisciplinares e de ativismo urbano que, desde a Primavera Árabe, emergem como ações multitudinárias em todo o mundo, inclusive nas jornadas de junho de 2013 no Brasil. Como a abordagem é ampla e complexa, decidimos adotar processos horizontais e colaborativos que sempre são valiosos na concepção de ações artísticas e culturais, e que podem apontar caminhos referenciais nas discussões envolvendo a arte em seu campo expandido. Nossa expectativa é de que essas discussões possibilitem uma ampliada coleção de novas maneiras de intervir artisticamente no espaço, apontan-do usos mais democráticos das cidades, estendendo o território da produção estética, artística e cultural para além dos territórios convencionalmente restritos à pro-dução estética elitizada, própria do sistema de arte comercial. Intencionamos, com essa ação, articular um grupo de pesquisa interdisciplinar com a participação de pesquisadores, professores, artistas, curadores, urbanistas, arquitetos e outros profissionais para aprofundar e desenvolver estudos que formarão o núcleo de pesquisa da próxima edição da Mostra.


Iara Freiberg, Incision, Keleketla Library, 2013, Johannesburgo, Ă frica do Sul


/SITUAÇÕES _MAPEANDO

O Bom Retiro foi o espaço escolhido para realizar a segunda edição da Mostra. Desde seu surgimento, o bairro vem construindo e consolidando sua vocação multiculturalista. Sua relevância histórica, econômica e social – somada à característica de uma região que está em constante mutação – reforçou os atributos para essa escolha. O processo de mapeamento de um território é determinan-te para o desenvolvimento de uma mostra de arte pública e a respectiva implantação das intervenções e instalações in situ, portanto, essa foi a primeira e mais importante das fases, onde os curadores, os artistas e a equipe de produção destacaram e debateram quais seriam, dentro da estrutura urbana do Bom Retiro, os principais aspectos territoriais e as dimensões, tanto simbólicas e ambientais quanto materiais, que estimulariam a pesquisa sobre a apropriação das superfícies urbanas, o que nos ajudou a definir os eixos temáticos da Mostra. De antemão, sabíamos que o bairro faz parte do pro-cesso de imigração da primeira industrialização da cidade, no início do século XX, e que, posteriormente, a região atravessou um longo período de desinvestimento, mas, a partir dos anos 1980, houve uma retomada do crescimento, fazendo surgirem ali novos enclaves comerciais e residenciais. Derivaram daí as novas economias informais de ambulan-tes sempre se deslocando e os sistemas de transporte [ferrovias, metrô, vias expressas, ruas e ciclofaixas] que, no caso do Bom Retiro, diferentemente da maior parte da cidade, são bem articulados. Rupturas no tecido urbano e social, improvisadas por ocupações auto-organizadas

Foto: Vanessa Bohn Costa

em áreas remanejadas ou deslocadas, que influenciam na configuração urbana e podem gerar um território difuso com delimitações imprecisas entre os diferentes recortes e usos do território – composições fluidas e mutantes, zonas indefinidas e moventes, provocando uma multiplicidade de espaços na esfera pública: privados, não públicos, semipúblicos e públicos. Nesse contexto, identificamos manchas, terrenos vagos, edifícios industriais e equipamentos ferroviários desati-vados, favelas, comércio formal e informal integrado, moradores de rua, tráfico e consumo de drogas criando configurações dinâmicas e ocultas pelo planejamento, novas formas de perceber as relações com o território, suscitando as perguntas: Quais as práticas usadas por agentes econômicos e sociais? Qual é o espaço público nesse espaço? Qual a influência disso na configuração urbana? Onde entram arte e política?


/RASTROS

_GESTOS CRIATIVOS O processo que resultou na Mostra acabou por configurar uma cartografia colaborativa. Essa articulação se deu por meio da parceria com atores que já desenvolviam ações no território, com as instituições culturais do bairro e através da pesquisa que os artistas apresentaram para o desenvolvimento das obras. O processo de criação artística é mais sobre a ideia de revelar um modo de ação que o registro do projeto em si, conceitos pré-definidos ganham novos enfoques, intepretações são redesenhadas e podem tomar rumos variáveis e se abrir para outras pesquisas. O objetivo de discutir a estrutura da criação é oferecer mais que um simples registro do projeto; é entender um modo de ação, de operar, afastando-se do campo crítico e aproximando-se do gesto mais autêntico e genuíno possível. A essência são os fatos e fenômenos absorvidos e assimilados no processo, e a reflexão a partir de questionamentos contemporâneos. A proposta é acom-panhar o processo criativo com ênfase na criação artística. Ir além do relato de uma pesquisa e buscar a possibi-lidade de olhar para outros fenômenos que perpassam esse processo, mostrar o percurso criador como um itinerário não linear de tentativas, um jogo permanente de estabilidade e instabilidade, intuição, conceitos, esque-mas perceptivos, dúvidas, ajustes, certezas, aproximações, negociações e, então, o resultado. O pesquisador, no entanto, será permanentemente estimulado a estabelecer cone-xões com processos concretizados, deixando a possi-bilidade de relações em aberto. A construção da obra acontece, portanto, na continuidade e em um ambiente de total envolvimento com o rastro da pesquisa.

O PROCESSO/ Esperamos que surjam comentários incentivando a interação entre os participantes e que gerem novas reflexões fazendo emergir referências para a criação de uma plataforma diversa em temáticas e plural em referências estéticas, artísticas e culturais multitudinárias. Com isso, o grupo é estimulado a uma participação ativa e constante durante todo o processo, trazendo questões pertinentes e de qualidade.

REGISTROS/ Podemos pensar em registrar o desenvolvimento dessas atividades, usando um diário ou um caderno de notas, um livro de esboços, fotografias, um blog com vídeos e textos. Essa dinâmica facilita a materialização que, posterior-mente, pode ser editada e compartilhada. Esse processo criativo é um exercício transversal, capaz de integrar o conhecimento de diversas áreas.


ATIVIDADE três_conversa aberta /ARTE PÚBLICA: a cidade como espaço criativo

Local: museu Emílio ribas público-alvo: Urbanistas, produtores culturais, artistas, curadores, arquitetos, estudantes e gestores Refletir sobre as relações que se estabelecem para além dos limites públicos e privados, debater modos de imaginar e produzir os espaços que são atravessados pela produção intensiva do fazer-comum, examinar noções de cidade como espaço de biopolítica, corpos e territórios metropolitanos, e identificar o caráter estético e simbólico de expressões biopotentes que são apropri-adas e convertidas por espaços neoliberais privatistas. Imaginar soluções inovadoras e eficientes para os recen-tes desafios urbanos, centradas no usuário da cidade como protagonista.

ATIVIDADE QUATRO_CAMINHADA Local de encontro: oficina Cultural oswald de andrade Aberta ao público A experiência errática como prática de alteridade, tendo a valorização corporal como ferramenta de apreensão da cidade. As emoções e sensações experimentadas ao caminhar à deriva, num exercício lúdico de desloca-mento, refletem que o percurso é, em si mesmo, a própria experiência.


Foto: Vanessa Bohn Costa


OBRAS URBE/ 2016

doce reflexão/ Anaisa franco, 2016 R. Prates, 108

flutuação/ iara freiberg, 2016 R. da graça, 292/298/775 r. três rios, 485/498 R. Silva pinto, 323

me conta um segredo?/ guto requena, 2016 pça. cel. fernando prestes, s/n

07/ fazedoria r. newton prado, 24 (11) 5102-3063

12/ museu da língua portuguesa pç. da luz, sn (11) 3664-3859

08/ igreja nossa senhora auxiliadora r. três rios, 75 (11) 3326-7729

13/ museu de arte sacra de são paulo av. tiradentes, 676 (11) 3326-3336

17/ PINACOTECA DO ESTADO DE SãO PAULO PÇA. DA LUZ, 2 (11) 3324-1000 18/ sala SãO PAULO PÇA. júlio prestes, 148 (11) 3367-9500

09/ memorial da resistência de são paulo Lg, general osório, 66 (11) 3335-4990

14/ museu emílio ribas R. Ten. Pena, 100 (11) 2627-3880

19/ sesc bom retiro al. nothmann, 185 (11) 3332-3600

15/ oficina oswald de andrade R. três rios, 363 (11) 3221-5558

20/ sinagoga shil da vila r. padre edgar de aquino rocha, 8 (11) 99155-3550

instituições Culturais 01/ arquivo histórico de São paulo e conjunto da antiga escola politécnica Pça. cel. fernando prestes, 152 (11) 3396-6060 02/ casa do povo rua três rios, 252 (11) 3227-4015 03/ casa da luz rua mauá, 512 (11) 3326-7274 04/ centro cultural hallyu rua guarani, 149 (11) 2538-7453 05/ espaço cultural porto seguro al. barão de piracicaba, 610 (11) 3226-7361

10/ mosteiro da imaculada conceição da luz av. tiradentes, 676 (11) 3311-8745 11/ museu da energia al. cleveland, 601 (11) 3224-1489

16/ CENTRO CULTURAL HALLYU R. GUARANI, 149 (11) 2538-7453

21/ estação pinacoteca lg. general osório rua mauá, 66 (11) 3335-4990

06/ estação da luz pça. da luz, 1

parques, vilas, feiras e outros

grafites, fotografias, lambes e murais

22/ centro de esportes radicais Av. pres. castelo branco, 5.700

26/ hangar 110 R. rodolfo miranda, 110 (11) 3229-7442

23/ conjunto residencial parque do gato Av. pres. castelo branco, 5.200

27/ jardim da luz ribeiro de lima, s/n (11) 3227-3545

24/ feira kantuta R. Pedro vicente, 625 (todos os domingos, das 11h às 19h)

28/ vila michele anastasi r. da graça, 381

25/ gaviões da fiel R. Cristina thomas, 183 (11) 3221-2066

29/ grafite age, andré, melancia, bangu, dpraz, rex Rua tenente pena, 29

32/ mural (vida em obras) casa da lapa rua tenente pena x general flores

30/ grafite fino Rua da graça, 323

33/ mural (vida em obras) casa da lapa rua dos italianos, 390

31/ mural vários artistas venida rudge, 142/200



Foto: Vanessa Bohn Costa


/URBE_mostra de arte pública 2016 _bom retiro

Com curadoria de Alessandra Marder, Felipe Brait e Reinaldo Botelho, a Urbe_Mostra de Arte Pública 2016 aconteceu de 12 a 27 de novembro, com uma série de intervenções artísticas no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. A Mostra teve como objetivo investigar o espaço público por meio de práticas artísticas que assimilam a fusão entre obra e lugar, com intervenções temporárias in situ, criando um percurso orientado pelo interesse, aberto aos sentidos. Para essa edição, foram sele-cionados três artistas – Anaisa Franco, Iara Freiberg e Guto Requena – que exploraram as relações sociais da cidade e operaram sobre a emoção e compor-tamento dos indivíduos, estimulando rupturas de passividade e alienação.

O eixo curatorial adotado gravitou em torno de temas relacionados ao espaço público, como pensamento e proposição para a arte, levando em conta a cidade como território em disputa, a memória urbana, a forma como os lugares vão sendo criados, inventados ou reinventados pelo uso, sua dimensão patrimonial e simbólica, assim como outros temas-satélite. Como atividades formativas e complementares, a pro-gramação contou com rodadas de conversas com Laura Sobral [urbanista], Ligia Nobre [arquiteta e curadora] e Tiago Carrapatoso [jornalista e pesquisador], oficinas ministradas pelos artistas e percursos de caminhadas sob a perspectiva errática, desenhando uma expo-grafia expedicionária por meio de uma experiência corporal à deriva.


/são Paulo

_cidade transversal A cidade e seus constantes fluxos de transformação desvendam paisagens através de sotaques e constroem narrativas na interação entre identidade e lugar. Explorar esse território alicerçado por uma composição artística interativa, que convida o público a vivenciar projetos de arte e compartilhar seus sentidos, foi o pilar central desta segunda edição da Urbe_Mostra de Arte Pública. Nessa equação poética, adotamos a transversalidade como um elemento de forte contorno narrativo, que atravessa o vocabulário estilístico e convive livremente entre as obras criadas para a mostra e o local escolhido para sua realização, o bairro do Bom Retiro. Entender a complexidade dessa região paulistana é estar em contato permanente com a história da cidade e seus constantes fluxos de transformação. O conjunto de traços e tramas étnicas, econômicas, socioculturais, arquitetônicas, de linguagens e hábitos que organiza a fascinante antropologia urbana do Bom Retiro situa o lugar como principal intermediário entre a cidade e o indivíduo. No decorrer de quinze dias, o público teve a oportunidade de desfrutar de uma experiência artística que ressignificou o cotidiano, criou caminhos expandidos e permitiu que cada um desenvolvesse sua própria narrativa lúdica.

A convite do Urbe, três artistas expressaram suas mais complexas visões de interação com a cidade, a arquitetura e o espaço público. Plataformas de escuta e apreciação de confissões, transcodificação cromática, deslocamento transposto por vazios e sulcos, repouso-meditação, autopofagia, e interfaces analógicas e digitais compuse-ram o repertório de transversalidades propostas pelas obras desenvolvidas por Anaisa Franco, Guto Requena e Iara Freiberg. Romper com os modelos expositivos clássicos foi também atuar, de maneira transversal, dentro dos mecanismos de contemplação da arte, para se alcançar uma experiência única de habitar a urbe. Desse modo, a segunda edição da Urbe_Mostra de Arte Pública convergiu múltiplos processos e estéticas, não só ao gerar uma expografia expedicionária interativa e relacional com o bairro, mas também ao proporcionar ao público uma experiência de imersão urbana, onde a arte conectou desejos e despertou desvios. Ale Marder, Felipe Brait, Reinaldo Botelho Curadores


Foto: Vanessa Bohn Costa


Foto: Vanessa Bohn Costa


Projeto da obra Doce reflexão

Anaisa Franco/ Doce reflexão é uma instalação em formato de pavilhão paramétrico onde o público interage, tendo sua face mapeada por fotografia e transformada em chocolate e panquecas impressos em 3-D. Posteriormente, imprime-se um adesivo que é aplicado sobre a face vazia das células arquitetônicas em formato de colmeia. O projeto busca reviver e mapear a origem imigrante do bairro (coreanos, bolivianos, mediterrâneos).

A arquitetura conta com um sistema de programação generativa em formato paramétrico com aplicação de polímeros transparentes. Essa obra gera um sistema de interatividade e participação social, proporcionando um contorno autofágico à mostra. De maneira lúdica e atuante, a ideia de construção aleatória de diversas camadas transformará a instalação em uma espécie de memorial temporário do bairro, ao assimilar a his-tória de seus personagens em painéis impressos e unidades comestíveis.


guto requena/ Me conta um segredo? é o nome da obra apresentada pelo arquiteto, urbanista e escritor Guto Requena na segunda edição do evento urbe. Composto por um conjunto de mobiliários urbanos interativos, o trabalho retoma o eixo de investigação central da pesquisa do artista, que busca romper as fronteiras do design, da arquitetura e do urbanismo, utilizando tecnologias digitais para ressignificar histórias e emoções da vida urbana. Partindo de um simples convite aos passantes para que compartilhem um segredo de sua intimidade, gravado, de maneira anônima, na peça central, Câmara Coletora de Segredos, a complexidade da obra toma forma e expressão à medida que materializa o emaranhado transcultural de memórias e individualidades em um jogo interativo de som e luz que transborda dos demais mobiliários da instalação. A pintura aplicada aos móveis – resultado da combinação das cores da bandeira dos países dos principais grupos de imigrantes que povoaram o bairro do Bom Retiro – reforça as camadas simbólicas de conexão do trabalho com seu público e seu território.

Num primeiro momento, fica clara a intenção que o artista tem de atrair atenção para a praça Coronel Fernando Prestes e seu alto potencial de requalificação e pertencimento à cidade e a seus moradores. Um segundo olhar, mais atento, suscita ainda sua vocação para a discussão do urbanismo feito de modo colaborativo, amparado pelas novas tecno-logias e pela crescente necessidade de reinventarmos a espacialidade das cidades, amparando outras maneiras de convivência e resgate da autoestima e da identidade de seus personagens. Me conta um segredo? parte da simples ideia de integrar e desvelar memórias e narrativas do indivíduo e do coletivo para o complexo campo de exploração do hibridismo entre urbanismo e arte, como agente de redefinição da vida diária nos grandes centros urbanos. Um convite para que cada um de nós estabeleça outras formas afetivas de recriar o cotidiano das cidades.

Projeto da obra Me conta um segredo?


Foto: Vanessa Bohn Costa


Foto: Vanessa Bohn Costa


Projeto da obra Flutuação

Iara freiberg/ Flutuação, da artista Iara Freiberg, é um exercício que investiga os volumes tradicionais da paisagem urbana. Cada participante, ao se deslocar pelo território e escolher seus percursos, terá experiências visuais estimuladas por flutuações desenhadas diretamente sobre superfícies arquitetônicas, atravessando construções de diferentes tipologias e usos. Essas marcas operam ora como sulcos, vazios, intervalos, ora como provocações ou invasões, que transbordam os traços dos edifícios, desmontando a composição e a estrutura regular próprias do urbanismo vigente.

Deriva daí uma espacialização que foge da estabilidade, da determinação de lugar. Sugere que o trabalho é móvel, que se desloca, apresentando-se como intervenção sobre o território, um misto de concretude e abstração. A obra atua entre temporalidade e espacialidade, incidindo, de forma mimética, no lugar e reorientando a percepção entre profundidade e distância, propondo um vazio positivo. Pode parecer um beco sem saída, mas, num exercício de entrega, abre-se a espaços imaginários, cria um lugar de novas possibilidades. Flutuação desvia deliberadamente a ideia de superfície para outro modo de compor o espaço.


/referências _livros

AÇÃO COMUNITÁRIA. O jovem e seu projeto de vida – Metodologia da Ação Comunitária para o desenvolvimento integral do jovem. São Paulo: Ação Comunitária, 2013. ALLIEZ, Éric; OSBORNE, Peter. Spheres of Action: Art and Politics. EUA e Canadá: MIT Press, 2013. AUGÉ, Marc. NÃO LUGARES – Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 2012. BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1988. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1997. CAMPBELL, Brigida. Arte para uma cidade sensível. São Paulo: Invisíveis Produções, 2015. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. FRENTE 3 DE FEVEREIRO. ZUMBI SOMOS NÓS – Cartografia do racismo para o jovem urbano. São Paulo: Frente 3 de Fevereiro, 2007. FOSTER, Hal. O complexo arte-arquitetura. Rio de Janeiro: Cosac Naify, 2015. FOUCAULT, Michel. O corpo utópico + As heterotopias. São Paulo: N-1 edições, 2013. GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica – Cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 2005. HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. ______. Cidades rebeldes. São Paulo: Martins Fontes, 2014. ______. Espaços de esperança. São Paulo: Loyola, 2015. HUYSSEN, Andreas. Culturas do passado-presente. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014. JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2014. LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2008. ______. Espaço e política: O direito à cidade II. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2016. LIMA, Daniel; BORGES, Fabiane; DURANTE, Milena. COPAS: 12 cidades em tensão. São Paulo: Invisíveis Produções, 2014. LUND, Maria Lund. Performing the Curatorial – Within and Beyond Art. Berlim: Sternberg Press, 2012. NA BORDA – Nove coletivos, uma cidade. São Paulo: Invisíveis Produções, 2012. PEIXOTO, Nelson Brissac. Arte/cidade: zona leste. São Paulo: Dardo, 2011. ______. Intervenções urbanas: Arte/cidade. São Paulo: Senac/Sesc, 2012. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: Estética e política. São Paulo: Exo/Ed. 34, 2005. REVISTA BRUMÁRIA. Arte e revolução. Madri: Documenta Magazines, 2007. RIBAS, Cristina. Vocabulários políticos para processos estéticos. Rio de Janeiro: VOCABPOL, 2014. RYKWERT, Joseph. A sedução do lugar. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado. São Paulo: Intermeios, 2008. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2002. THOMPSON, Nato. Living as Form: Socially Engaged Art from 1991-2011. Nova York: The MIT Press, 2012.


/FICHA TÉCNICA _AÇÃO EDUCATIVA

_PUBLICAÇÃO

Coordenação geral Reinaldo Botelho Lia Vissotto

Coordenação editorial Julia Borges Araña Lia Vissotto Reinaldo Botelho

Produção executiva Julia Borges Araña Lia Vissotto Coordenação educativo Felipe Brait Mídias sociais Eduarda Ferraro Financeiro Kleber Cabral WWW.URBE.ORG.BR #URBE2017

Textos e concepção do material Felipe Brait Reinaldo Botelho Projeto gráfico Adriana Hovsepian Preparação e revisão Regina Stocklen



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