Revista INBEC: ENGENHARIA E ARQUITETURA

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S U M Á R I O

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL SE EXPANDE E CONTINUA EM ALTA NO BRASIL DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE: SUBSÍDIOS PARA AS EMPRESAS BRASILEIRAS POR QUÊ EDIFÍCIOS VERDES? (OU, A SUSTENTABILIDADE POSSÍVEL) USO DA FERRAMENTA LEAN DE TRABALHO PADRONIZADO NA CONSTRUÇÃO CIVIL A PRÁTICA DA REMOÇÃO DE BORRACHA ACUMULADA EM PISTAS AEROPORTUÁRIAS SURGE UMA NOVA ABORDAGEM PARA PROJETOS DE ARQUITETURA HOSPITALAR EXPEDIENTE Instituto Brasileiro de Educação Continuada - INBEC Rua Joaquim Nabuco, 2906 - Dionísio Torres - Fortaleza - CE CEP: 60.125-121 Telefone: (85) 3215-6400 | (85) 8616-8382 www.inbec.com.br Email: fortaleza@inbec.com.br Diretor Executivo: Antonio Bitencourt Nobre Diretora Adm. / Controller: Helciene Aguiar da Silva Editor Responsável: Anderson Maciel

Jornalista responsável: Alessandra Silva MTb-Ce 0003146 Projeto Gráf co: NSF Publicações Imagens: Arquivos pessoais e outros. Publicidade: INBEC – (85) 3215.6400 comercial@inbec.com.br Periodicidade: Trimestral Tiragem: 10.000 exemplares Distribuição: Gratuita A Revista INBEC – Engenharia e Arquitetura não se responsabiliza pelos serviços e produtos de empresas que anunciam neste veículo de comunicação, as quais estão sujeitas às normas de mercado e do Código de Defesa do Consumidor. Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução dos artigos não científ cos desde que citada a fonte. Os artigos científ cos f cam sujeitos à autorização expressa dos autores. REVISTA INBEC | 3

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EDITORIAL

UM NOVO TIPO DE ABORDAGEM PARA ATINGIR O NOVO CLIENTE Antônio Bitencourt Nobre

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o iniciarmos uma nova publicação, voltada principalmente para um público específico e exigente, que trabalha atualmente com produtos e serviços nas áreas da Engenharia e Arquitetura, sabíamos que era preciso apresentar artigos e reportagens de qualidade e com abordagem diferenciada, além de planejar com muito cuidado todo o material a ser publicado na revista. Para isso, utilizamos a expertise e a facilidade de comunicação de vários profissionais e professores que fazem do seu dia a dia um apostolado na descoberta de novas técnicas e abordagens diferenciadas sobre assuntos variados da área, e que estes professores e articulistas nos dessem suas visões sobre assuntos em voga na área da construção civil. A nossa Revista, que faz parte de um sonho maior que é o de termos como meta de vida a formação profissional diferenciada, nasce justamente em um ano que uma grande maioria considera que será difícil em decorrência da conjuntura nacional e até mesmo internacional. Porém, na nossa visão, esse ano será apenas o início de uma nova etapa nas relações comerciais entre as empresas e seus clientes, no qual teremos que ter muita criatividade para entregar cada vez mais bens e serviços de qualidade diferenciada. A maioria das organizações já trabalha hoje para dar aos seus clientes a certeza de “receberem o que compraram”, ou seja, dar ao seu público-alvo nada menos do que aquilo que os levou a procurar sua empresa para compra de um determinado bem ou serviço. No entanto, quanto mais as crises motivadas por fatores financeiros e de credibilidade se aprofundam, mais as empresas terão que trabalhar para “surpreender” seus clientes, pois estes além de ficarem cada vez mais exigentes quanto ao que compram e cientes sobre o valor que desembolsaram, mais disputados

estão pelas empresas que também prestam o mesmo tipo de serviço. Os assuntos abordados na nossa Revista, focam no conceito de qualidade hoje que, apesar de variar um pouco de acordo com o público-alvo e até mesmo a cidade onde se vende o bem ou o serviço, é balizado cada vez mais na relação custo versus benefício e, principalmente, dentro também de um conceito de aceitação entre os que compõem a sociedade do indivíduo que vai utilizar esse bem ou desse serviço. As compras hoje em dia, passam a ser “validadas” não somente pelos que compram mas também pelos que compõe o grupo onde o indivíduo está convivendo. Ao comprar um imóvel, o cliente não só está atendendo sua própria expectativa de satisfação pelo bem que foi adquirido, mas também seu desejo de “mostrar aos outros” que fez um bom negócio. Esse tipo de comportamento, motivado pela importância dada cada vez maior dos indivíduos que compartilham nas redes sociais as suas conquistas, traz as empresas uma dificuldade maior, pois além de terem que atender ao seu cliente como indivíduo, deverão permitir que este, ao mostrar ao seu grupo de relacionamento o bem ou serviço comprado, passe a ser reconhecido. Apesar desse comportamento não ser necessariamente uma novidade (acreditamos que alguns lembram do que significava alguns anos atrás o indivíduo ser portador de uma caneta Mont Blanc) as chamadas mídias sociais vieram aumentar a expectativa do cliente com relação as suas compras, pois para ser “aceito” na sociedade onde vive, deve demonstrar ao seu grupo de relacionamento o quanto está inserido nessa coletividade e para isso precisa de bens ou serviços cada vez mais diferenciados.

esse ano será apenas o início de uma nova etapa nas relações comerciais entre as empresas e seus clientes

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Construção Sustentável se expande e continua em alta no Brasil

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s números do mercado de construção sustentável não deixam dúvidas que o setor está em forte crescimento no Brasil. Ao contarmos os empreendimentos, que hoje buscam alguma certificação ambiental para construção como o LEED, AQUA-HQE, PBE Edifica, Selo Casa Azul, etc., veremos que já passam de 1500 empreendimentos, ou seja, em menos de 10 anos, quando tivemos o primeiro destes registros no Brasil, o setor mostra a sua força. No LEED já somos o terceiro país no ranking mundial em empreendimentos registrados no USGBC para obterem este selo, só perdendo para o EUA e a China.

Além do conceito já estar consolidado em prédios comerciais e corporativos, é cada vez mais comum vermos empreendimentos residenciais, públicos, hospitalares, industriais, escolares, centros de distribuição bus-

carem estes selos como diferencial para suas construções. Para o Setor Industrial e de Centros de Distribuição, o ano de 2014 foi realmente um ano muito interessante para este seguimen-

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to. Foram 128 registros de certificação para empreendimentos com estas tipologias e foram certificados 39 empreendimentos, dentre os quais destacamos: a Nova Fábrica da GM em Joinville, Fábricas da Coca Cola no Rio de Janeiro e Paraná, o CD da DOW Química no Guarujá e outros dois da Ralc em Arujá. Este seguimento, da construção sustentável, vem num forte crescimento, de cerca de 30% ao ano. Começou muito forte nos comerciais, mas hoje, a indústria é um dos seguimentos que mais tem adotado a certificação, como um grande diferencial de imagem e principalmente de performance operacional. As certificações mais usadas continuam sendo o LEED e o AQUA, porém com o incentivo financeiro da Caixa Econômica Federal o Selo Casa Azul deve ganhar força no mercado de Habitações Populares. Assim como o PBE Edifica (Procel Edifica) que passou, neste ano, a ser obrigatório para Reformas ou Novas construções de Edifícios Federais com mais de 500m2 e deve impulsionar a Eficiência Energética em Edificações. Hoje o mercado já enxerga na sustentabilidade um grande diferencial de economia dos custos operacionais. E se em alguns seguimentos ele ainda não é mais valorizado, tem na sua economia um grande diferencial de venda, principalmente para o empreendimento onde o usuário normalmente é o dono, a economia operacional é significativa e o retorno do investimento é rápido e certo. Mas, mesmo para empreendimentos que normalmente são locados, esta economia operacional passa a ser um grande argumento de locação e possibilita um ganho melhor para o investidor, sem necessariamente aumentar o custo. Normalmente, quem busca empreendimentos sustentáveis são grandes multinacionais que tem em suas diretrizes de compra ou locação destes espaços, estes critérios. A tendência, no entanto, é que isto passe a ser adotado por todas as empresas que buscam economia operacional ou melhoria de desempenho dos seus usuários, a exemplo de São Paulo onde o Governo passou a exigir, para suas escolas e hospitais, a Certificação AQUA ou o próprio Governo Federa que exige a etiquetagem PBE Edifica nível A para suas edificações. Em época de crise hídrica, como a que vivemos hoje em várias cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, a econo-

mia de cerca de 30% a 50% de água é um grande diferencial. Diretamente relacionado a isto, temos a economia de energia em cerca de 30%, que também passará por reajustes em breve. Os retrofits sustentáveis são outra grande oportunidade de negócio para este setor, principalmente porque o parque construído é muito superior ao que está em construção. Estimamos que cerca de 10% dos empreendimentos em certificação no Brasil são de retrofits. Os demais apenas fazem ajustes operacionais ou pequenas intervenções no empreendimento, para melhoria da performance, para atender os critérios da certificação. Outro grande potencial para o mercado será o de Obras de Infraestrutura, como estradas, rodovias, aeroportos, portos, etc. Um setor que tem muito o que crescer no Brasil e que por sua vez é um dos que mais impactam o meio ambiente devido a sua complexidade e tamanho. Mas, a boa notícia é que hoje já temos, também para estas obras, modelos de certificações sustentáveis como é o Caso do LEED ND, AQUA Bairros, AQUA Aeroportos, AQUA Portos, Envision, Green Roads, etc. Estas certificações podem garantir o crescimento que precisamos, porém sem necessariamente comprometermos o futuro das próximas gerações. Como podemos observar, a construção sustentável está passando por mudanças no Brasil e continuará sendo nos próximos anos o principal diferencial do mercado. Um mercado cada mais exigente e que busca empreendimentos amigos da natureza. Por isto, estamos atentos a todas estas mudanças e oferecemos no novo MBA em Construções Sustentáveis. Essa é a oportunidade dos nossos alunos estarem ligados a estas mudanças e poderem oferecer ao mercado estes conhecimentos e seus diferenciais. MARCOS CASADO

Diretor Técnico e Comercial da Sustentech Desenvolvimento Sustentável. Coordenador do MBA em Construções Sustentáveis do INBEC. Coordenador do MBA em Cidades, Bairros e Condomínios Sustentáveis do INBEC. Membro do Conselho Consultivo da Expo Arquitetura Sustentável. marcosacasado@hotmail.com

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Desenvolvimento Tecnológico, Inovação e Competitividade: Subsídios para as Empresas Brasileiras Technological Development, Innovation and Competitiveness: Grants for Brazilian Companies RESUMO A condição periférica e semiperiférica são marcadas pela posição relativa de cada país e/ou economia a nível da estrutura hierárquica internacional. Esta, por seu lado, surge no âmbito da economia capitalista sistema-mundo, manifestando-se como fruto da Divisão Internacional do Trabalho, bem como da sua própria inserção em termos da economia mundial. A evolução recente caracteriza-se pela acelerada ascensão dos países emergentes e pelo recuo experimentado por várias economias pertencentes ao «Núcleo Orgânico Central» do capitalismo, mormente as respeitantes à maior parte dos países da sua componente européia. A questão principal reside na sustentabilidade a longo prazo dos níveis de crescimento dessas economias e no estabelecimento de um eficaz modelo de desenvolvimento. A análise das experiências relativamente recentes em termos de industrialização e desenvolvimento, como foram as dos países do sudeste asiático, mostra que esses países priorizaram estratégias claras de capacitação, promovendo o upgrade tecnológico de países claramente periféricos ou pós-coloniais. Na realidade, a superação do atraso implicou numa nítida aposta no desenvolvimento tecnológico, na inovação e no conhecimento como fatores, a possibilitar a elevação dos ganhos de produtividade e o forte crescimento da competitividade. É este claramente o caminho a seguir pelos países em desenvolvimento, que buscam com isso superar a sua interação subordinada à economia mundial, mormente no caso do Brasil e do seu tecido empresarial e industrial, fonte

potencial de inovação e capacitação tecnológica. Palavras-Chave: Inovação, Desenvolvimento Tecnológico, Competitividade. ABSTRACT The peripheral and semi-peripheral condition is marked by the relative position of each country within the international economy hierarchical structure. The situation comes under the capitalist economy worldsystem, manifesting as a result of the International Division of Labour, as well as their own integration in terms of the world economy. Recent developments characterized by rapid rise of emerging countries and by the decrease experienced by many economies belonging to the <Central Organic Cente>, especially those relating to most countries of its European component. The main issue is the long-term sustainability of the growth rates of these economies and the establishment of an effective development model. The analysis of the relatively recent experiences in terms of industrialization and development, as were the Southeast Asian countries shows that these countries have prioritized clear strategies for training, promoting technological upgrading clearly peripheral countries or post-colonial. In fact, overcoming the delay entailed a clear commitment to technological development, innovation and knowledge as factors facilitating the increase of productivity gains and the strong growth of competitiveness. Is this clearly the way forward by developing countries seeking thereby overcome their interaction subordiREVISTA INBEC | 7

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nated to the world economy, especially in the case of Brazil and its business and industrial tissue, potential source of innovation and technological training. Keywords: Innovation, Technological Development, Competitiveness. INTRODUÇÃO A condição de periférica e semiperiférica se define como fruto do grau e da forma de inserção de cada país a nível da economia mundial, do comércio internacional, do grau de industrialização e do nível de desenvolvimento tecnológico, configurando-se face à posição relativa ocupada por cada país no âmbito da estrutura hierárquica internacional. Por sua vez, é no âmbito da economia capitalista sistema-mundo que se define a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), também dita Divisão Internacional do Trabalho e da Produção (DITP), que dita o nível e a forma de inserção de cada País e/ou economia no contexto da economia mundial. Numa perspectiva dinâmico-evolutiva, um olhar mais atento sobre a situação atual da economia mundial, irá mostrar que esta resulta de um quadro marcado pela acelerada ascensão dos países emergentes e pelo recuo experimentado por várias economias pertencentes ao «Núcleo Orgânico Central» do capitalismo, mormente aqueles pertencentes à sua componente européia. De fato, verifica-se a ocorrência de dois movimentos simultâneos, a saber: de um lado, o nítido recuo da Europa em termos industriais, tecnológicos, econômicos, financeiros, geoeconômicos e geopolíticos; de outro a inequívoca ascensão asiática, com a gradual transferência do centro econômico, financeiro, comercial, industrial e tecnológico do mundo do Atlântico para o Pacífico. Caso se promova uma análise que tome como base uma visão de caráter braudeliano acerca dos mares e da hegemonia. Os Tigres Asiáticos firmam-se como bases industriais e tecnológicas; os Novos Tigres (como Malásia e Vietnã, por exemplo) parecem seguir-lhes o rastro; a Índia afirma-se como potência in-

dustrial e tecnológica, notadamente no que diz respeito às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); o Japão, apesar do desempenho relativamente débil de sua economia, destaca-se no plano financeiro, industrial e tecnológico (notadamente a nível da inovação), e também como grande exportador de capitais, promovendo investimentos diretos no exterior. No entanto, a China é que impressiona todos os analistas, estudiosos e observadores, a mostrar um desempenho notável até meados da segunda década do século XXI. Convertendo-se na fábrica do mundo, transformando-se em global player, pressionando a demanda internacional por recursos minerais e energéticos, constituindo empresas industriais autóctones. Convertendo-se rapidamente de importador a exportador, capacitando e qualificando uma grande quantidade de mão de obra em relativamente pouco tempo e já fazendo a ponte entre a industrialização e a capacitação tecnológica, configurando o tripé «Indústria-Tecnologia-Inovação». As economias asiáticas e suas respectivas dinâmicas devem ser analisadas como partes integrantes de um amplo sistema (Ásia), muito embora a visão sistêmicointegrada deva se ampliar em direção a algo bem mais alargado e dinâmico. Qual seja o sistema Ásia/Pacífico, que incorporará também as Américas, incluindo-se América Latina e Caribe, vindo a se constituir talvez na área mais pujante do capitalismo em toda a sua história e que se constituirá no centro hegemônico do mundo (da economia capitalista sistema-mundo) em termos econômicos, financeiros, mercantis, industriais e tecnológicos. Com a China e o Japão assumindo o papel de duas componentes essenciais a essa nova configuração geoeconômica e geoestratégica, o primeiro enquanto potência industrial emergente a caminho da consolidação e o segundo enquanto potência tecnológica de fato. Por outro lado, a sustentabilidade a la longue dos níveis de crescimento das economias asiáticas e daquelas que já começam a compor o sistema Ásia/Pacífico, irá depender

As economias asiáticas e suas respectivas dinâmicas devem ser analisadas como partes integrantes de um amplo sistema

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da definição/reprodução (à escala ampliada) de um eficaz modelo de desenvolvimento, que se mostre completamente avesso ao liberalismo econômico e à racionalidade liberal-individualista tão cara ao mundo ocidental. A trajetória historicamente, seguida pelas economias asiáticas, aponta para um sistema de organização econômica antiliberal, contrária ao liberal-individualista e com uma forte componente estatal a respaldar a industrialização, a capacitação e a inovação, e também, incluindo uma política fiscal de investimentos. Isto, no entanto, ocorreu em outros momentos históricos e contextos, caso se considere uma análise um pouco mais cuidadosa em termos das experiências comparadas de industrialização e desenvolvimento. A análise das experiências históricas de industrialização e desenvolvimento da Alemanha e Japão, e dos casos relativamente recentes, como foram os casos dos Tigres Asiáticos principalmente o da Coreia do Sul e Taiwan, mostra que esses países priorizaram estratégias claras de capacitação. No primeiro caso, têm-se as bem sucedidas experiências nacional-industrializantes de economias retardatárias, enquanto no segundo tem-se o upgrade de países claramente periféricos ou pós-coloniais. Em ambas as situações, contudo, a superação do atraso implicou numa nítida aposta no desenvolvimento tecnológico e no conhecimento como fatores a possibilitar a elevação dos ganhos de produtividade e o forte crescimento da competitividade. É este, claramente, o caminho a seguir pelos países em desenvolvimento e emergentes que buscam com isso superar a sua interação subordinada à economia mundial.

suas fraquezas, através do desenvolvimento de novos produtos e processos. Estes, por sua vez, são obtidos através da tecnologia. Na verdade, a tecnologia passaria a relativizar o nível de importância dos fatores de produção, tidos como fundamentais pela análise econômica tradicional. E as vantagens comparativas clássicas (baixos salários, abundância de matérias-primas, capital barato e grandes mercados internos) foram postas em causa ou relativizadas pelos avanços e inovações tecnológicas, simultaneamente impulsionadas e viabilizadas pelo dito processo de globalização. O novo paradigma apóia-se na inovação, ou seja, em fortes investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Contudo, no contexto da América Latina e Caribe, de um modo geral e particularmente do Brasil, são ainda relativamente reduzidas as iniciativas voltadas à inovação. E relativamente pouco relevantes os esforços de P&D, quando comparados, por exemplo, com países como Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan. Atualmente, a América Latina e Caribe encontram-se longe de ser um importante provedor de conhecimentos científicos e tecnológicos. Pois, apesar de albergar cerca de 9% da população mundial, a região toda corresponde a apenas 1,6% do total mundialmente investido em Ciência e Tecnologia (C&T). Por outro lado, de acordo com o que assinala Feldmann (2010, s/p.), há também uma desproporção entre o peso econômico da América Latina e Caribe e os esforços em C&T, quer em nível dos recursos aplicados em P&D, quer quanto ao número de publicações científicas e patentes depositadas nos Estados Unidos da América. Por outro lado, a América Latina e Caribe apresentam um desempenho claramente melhor em atividades científicas do que em atividades tecnológicas. Por fim, a região mostra um predomínio de tecnologias importadas, o que conduz a uma limitada articulação á nível do binômio «Ciência/Tecnologia». Para, além disso, caso se compare o desenvolvimento econômico de alguns países asiáticos, em especial Coréia do Sul e Taiwan, com o progresso da América Latina e Caribe nos anos

a tecnologia exerce um papel crucial em termos do desempenho e da competitividade das empresas

ATRASO TECNOLÓGICO DAS ECONOMIAS EM DESENVOLVIMENTO Segundo aquilo que é registrado por Feldmann (2010, s/p.), a tecnologia exerce um papel crucial em termos do desempenho e da competitividade das empresas, assim como dos países e economias. Assim sendo, existe uma grande possibilidade das empresas compensarem a escassez de fatores e as

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1980, observam-se aspectos decisivos a explicar o enorme crescimento das economias asiáticas face à estagnação das economias latino-americanas e caribenhas ao longo daquele decênio. Na realidade, o continente apresentava cinco deficiências quando comparado com as pujantes economias da Ásia. Essas deficiências seriam as seguintes: a presença de um sistema educacional deteriorado com baixa formação de engenheiros; havia muita transferência de tecnologia, principalmente dos Estados Unidos da América, mas uma baixa capacidade de absorção devido ao pequeno investimento das empresas locais em P&D; existência de uma fraca infraestrutura de C&T; um atraso significativo quanto ao desenvolvimento das telecomunicações; nenhuma ênfase no desenvolvimento de produtos eletrônicos e a fraca ligação e articulação «Universidade/Empresa». Tendo em mente a realidade anteriormente descrita, recorre-se a Baumgarten (2007, p.18 e 19) que registra que o mundo contemporâneo vem sofrendo transformações significativas e estas são de ordem diversa, a saber: econômicas, políticas, sociais, geopolíticas, culturais, institucionais, etc. Estas atuam no sentido de remodelar a base material da sociedade, a partir de novas configurações que acabam por definir, também, novas estratégias de acumulação delineadas por processos de geração e difusão de novos conhecimentos, principalmente a partir das inovações tecnológicas. As formas contemporâneas de produção e acumulação, engendram profundas reestruturações organizacionais e culturais que suscitam, também, diferentes direcionamentos no que diz respeito à orientação dos distintos agentes sociais. Por outro lado, o dito processo de globalização hegemônica, em termos econômicos, financeiros, políticos e ideológicos, compõe-se de atores centrais, periféricos e semiperiféricos, o que no mínimo a condiciona como categoria analíticoconceitual. Portanto, haveria de considerar o constructo teórico-conceitual da geopolítica da informação e do conhecimento e as suas implicações em nível das estratégias de desenvolvimento. As quais se prendem principalmente às desigualdades no âmbito social, organizacional e territorial face à capacidade de inovação, em conformidade com as novas formas de apropriação e privatização de co-

nhecimentos estratégicos e também perante aos novos requisitos para as políticas de desenvolvimento. O processo de desenvolvimento científico-técnico ocorreu de forma mais concentrada em alguns poucos países, principalmente na área da Tríade (Estados Unidos da América – Europa – Japão). Diversificando-se, entretanto, as contribuições em nível do desenvolvimento científico, com o surgimento de bons indicadores de C&T - crescimento de publicações, por exemplo - em nível dos países semiperiféricos. Entre estes, o destaque vai para o rápido avanço registrado pelos países asiáticos, em especial para a acelerada expansão da China. Antes dela, os Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura), a partir dos seus respectivos projetos de industrialização, alcançaram níveis bastante significativos em termos de inovação e capacitação tecnológica e quanto ao progresso científico-técnico. Com isso, a expansão do conhecimento técnico-científico, que se verifica na Ásia, vem reduzindo o enorme fosso existente entre o hegemon (os Estados Unidos da América) e grande parte das áreas periféricas ou mesmo semiperiféricas no que se refere à produção de conhecimento científico e tecnológico. A experiência asiática, a nível dos Parques Científicos e Tecnológicos (PCT) e dos Parques Tecnológicos (PqT), pode servir de exemplo à instalação de estruturas semelhantes em países como o Brasil e demais países latino-americanos. Inclusive, muitas empresas, instituições de pesquisa e estruturas organizativo-gestionárias, oriundas dos países asiáticos ou de países europeus poderiam se integrar no contexto desses Parques. Em muitos casos, via parcerias ou joint ventures com empresas locais, sejam elas privadas e/ou estatais. A constituição dos PCT/PqT, a começar pelo caso do Japão, conforme é assinalado por ABDI/ANPROTEC (2007, p.84), baseia-se na intervenção estatal-nacional, através da qual a iniciativa prioritário-governamental, criou as bases para o desenvolvimento local. O Estado implementou medidas para o desenvolvimento da C&T, através de agências regionais de desenvolvimento. Por outro lado, tal não poderia ser de outra forma, pois de acordo com o que registra ABDI/ ANPROTEC (2007, p. 20), a implantação de PCT/PqT deve se basear num modelo de viabilização, fundamentado fortemente em

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investimentos públicos planejados, significativos e contínuos. Conforme se pode visualizar em ABDI/ ANPROTEC (2007, p. 71), que na primeira geração de parques, o Japão priorizou estabelecer um conjunto de entidades mais competitivas ao Ocidente, criando uma base industrial em manufatura sólida. Um grande conjunto de empresas surgidas nessa época, constitue hoje empresas mundialmente reconhecidas, que se originaram junto aos Parques e Cidades da Ciência. Por outro lado, o estudo do cenário internacional vem mostrando a intensa relação existente entre as políticas públicas, os esforços de apoio e incentivo aos PqT e os Programas Nacionais e Regionais de Desenvolvimento. O que fica claro no caso da montagem dos Pólos de Competitividade, no qual parece extremamente óbvia a tendência mundial de integração de políticas públicas, visando tanto a otimização do uso de recursos, quanto a maximização de resultados. Este é um movimento de dimensões transnacionais. Contudo, os países asiáticos não ficam atrás no processo e apresentam experiências de excelência como no caso do Japão (Knowledge Cluster Initiative), da Coréia do Sul, da China e da Índia. Eles se constituem em ilustrações de elevado peso quanto à necessidade de tratar os PqT como instrumentos ou mecanismos estratégicos no contexto de uma Política Pública mais abrangente e de caráter nacional e regional. A partir daí, os PqT são vistos de uma forma interativo-sistêmica com o desenvolvimento nacional e regional. Na verdade, um dos aspectos mais importantes das últimas três décadas do século XX e do início do século XXI, tem a ver com a emergência dos países asiáticos no contexto da economia mundial. Em primeiro lugar, há que mencionar os denominados Tigres Asiáticos ou os Quatro Dragões Asiáticos, como os denomina Bustelo (1994, pp. 18 – 21). O autor, também utiliza a denominação “Novos Países Industrializados da Ásia (NPIA)”, para

se referir aos casos de Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong1 e Cingapura. Cujas economias transformaram-se em líderes do crescimento econômico, com taxas de expansão que chegaram a superar as do próprio Japão. Cabe observar que o investimento foi financiado com recursos internos, sendo estimulado por uma crescente abertura ao comércio internacional e também por toda uma ordem de mudanças de fundo fiscais, financeiras e institucionais. Contudo, na opinião de alguns autores e especialistas, a realidade desenvolvimentista dos NPIA estaria muito mais próxima de ser descortinada pelo enfoque do Estado, promotor da aceleração do processo de industrialização e do catching up tecnológico (versão revisionista). Assim sendo, a intervenção estatal foi muito mais importante do que nas economias de industrialização tardia do século XIX. Na Coréia do Sul e em Taiwan, no início dos anos 60 do século XX, registrava-se, apesar dos baixos salários, uma enorme incapacidade competitiva. Em outras palavras, mesmo funcionando corretamente, o mercado, só por ele, não se mostrava capaz de fomentar a industrialização. Portanto, a intervenção estatal não se harmonizou com o mercado, antes viabilizando uma estratégia ativa de industrialização. De outro modo, caberia assinalar que o papel assumido pelo Estado, no âmbito dos NPIA, em muito ultrapassaria o do Estado nacional-desenvolvimentista latino-americano (cujo caso mais bem sucedido é o do Brasil), uma vez que a ação estatal tinha aqui um papel eminente estratégico. Ou seja, através do planejamento estratégico (o Estado como estrategista), a esfera estatal delineava, configurava e implementava a estratégia nacional de industrialização, capacitação tecnológica e desenvolvimento desses países. Na verdade, a experiência dos países do Leste Asiático, conforme registra Masiero (2007, p. 336 – 339), em formação e gestão de recursos humanos, bem como na ausência de fortes disparidades, em termos de ganhos

de PCT/PqT deve se basear num modelo de viabilização, fundamentado fortemente em investimentos públicos planejados, significativos e contínuos.

_________________________________________________ 1 Já definitivamente integrado à China.

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salariais, entre níveis hierárquico-profissionais extremos em educação e aprendizagem, principalmente nas áreas tecnológicas, em assimilação e inovação de tecnologias, bem como em capacitação, demonstram que esses países estão a formar um grande exército de profissionais capacitados e qualificados para atuar no mercado internacional, atender às necessidades das grandes organizações, assim como das pequenas e médias empresas. CONHECIMENTO E INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS De acordo com o que colocam Alvarez et al (2001, s/p), que tomam a empresa como base de trabalho e objeto de análise, as quais se podem aplicar num contexto mais geral, os recursos/capacidades mais específicos, de difícil imitação e complicada substituição são os que garantem a obtenção de vantagens comparativas sustentáveis. Na verdade, será a dotação desses recursos, bem como a capacidade de coordená-los de forma eficiente, que definirão a competitividade. Em outros termos, numa concepção estratégica, deve-se, por um lado, sustentar a vantagem comparativa atual e, por outro, construir as vantagens comparativas futuras. A vantagem competitiva atual relaciona-se ao acesso e utilização efetiva dos recursos. Em termos de uma concepção estratégica, torna-se necessário promover o/a estudo/análise do uso atual dos recursos nos mercados existentes, de modo a encontrar novas oportunidades a quais se possam acoplar. Num segundo instante, a abordagem estratégica buscará construir vantagens competitivas para o futuro, ou seja, deve-se buscar a criação de novos recursos e capacidades que permitam a obtenção de competitividade no futuro. A obtenção de uma maior vantagem competitiva pode ser alcançada através do conhecimento, isto é, pela gestão eficiente do conhecimento. O conhecimento, por seu lado, apresenta características específicas que dificultam a sua imitação/transferência e a sua gestão eficiente, o que possibilita o alcance de uma maior vantagem comparativa. Com a criação

de um novo conhecimento e a sua posterior difusão, incorporam-se novas tecnologias de produção, bem como novos métodos de organização e gestão, o que torna imprescindível o estudo/análise da criação/gestão do conhecimento. Ao se alargar o campo de estudo/análise, verifica-se que ao se considerar o conhecimento, em termos de sua geração, produção e gestão, a nível de um(a) país e/ou economia, há que se considerar não apenas aspectos de ordem técnica e/ou organizacional, mas antes o fato de que existe uma economia mundial capitalista (a economia sistema-mundo) e que no contexto desta definiu-se uma configuração hierárquica moldada por relações de dependência lato sensu. Isto implica, na existência de níveis desiguais de posicionamento hierárquico relativamente ao grau de desenvolvimento da base produtivo-industrial, à ordem de diversificação técnico-produtiva, ao nível de incorporação tecnológica da economia, à marca alcançada pelo progresso tecnológico e à medida de conhecimento científico-técnico apropriado. Com relação ao conhecimento, assim como à sua produção e gestão, isto é a tecnologia e o conhecimento como objetos das políticas públicas; ao analisar o caso brasileiro, Nicolsky (2001, p. 106) observa que existe um enorme peso da produção acadêmica a nível da pesquisa científica do país, o que se traduz, na prática, pela publicação de papers, isto é, artigos. Isto pode ser apontado como uma enorme fragilidade em termos da pesquisa científica do Brasil. Uma vez que se constitui, de fato, numa transferência gratuita de conhecimentos para países que estejam aptos a deles valerem-se. Com isto, esses países reforçariam a sua base de informações, aplicando-a na sua esfera de produção, de modo a conseguir maiores níveis de competitividade e a melhor competir com a economia brasileira. Consoante o destacado por Nicolsky (2001, p. 106), isso se poderia viabilizar considerando-se como modelo a Coréia do Sul, onde foi decisiva a interação entre institutos estatais de pesquisa tecnológica e empresas industriais privadas. Tal pressupõe

competitiva atual relaciona-se ao acesso e utilização efetiva dos recursos.

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romper com a visão acadêmica tradicional, que sempre marcou a pesquisa no Brasil, ou seja, com a total hegemonia da cultura acadêmica em pesquisa. Em que a pesquisa é exclusivamente realizada em universidades e centros de pesquisa públicos, de modo a definir um novo modelo em termos de P&D, que tome como mote a inovação tecnológica industrial. De fato, a inovação tecnológica dá-se no âmbito do setor produtivo empresarial, principalmente na indústria, de forma a atender à demanda real da sociedade e do mercado por novos produtos e processos. A função da área acadêmica é a formação de recursos humanos qualificados/cultos e a geração de conhecimentos científicos e não o desenvolvimento, fábrico e comercialização de produtos finais. No entanto, a área acadêmica (universidades, centros de pesquisa e institutos tecnológicos) pode e deve envolverse em pesquisa tecnológica, aplicada em parcerias com empresas estatais, privadas ou mistas. Assim sendo como exemplo, no caso do Brasil, o etanol assegura um lugar de destaque no que se refere à química verde. Um produto petroquímico clássico, obtido através de uma notória inovação, em termos energotecnológicos e produtivo industrial. Abrindo espaço para a afirmação da alcoolquímica, enquanto setor industrial e energoprodutivo a recuperar, desenvolver e expandir no contexto do aparelho produtivo brasileiro. Bem como para a utilização de matérias primas renováveis de base sucro-alcooleira, como ainda o recurso ao etanol obtido de outras fontes agro-energéticas como a mandioca e sorgo sacarino, por exemplo. Logo, o progresso e desenvolvimento tecnológico, e a gestão do conhecimento, no caso mais ampliado dos países emergentes como o Brasil, não podem ser pensados fora do domínio das políticas públicas e desprovidos de uma atitude estratégica face à questão tecnológica, notadamente no que se refere à capacitação tecnológica. O rompimento com a visão acadêmico-tradicionalista relativa-

mente à geração do conhecimento e à capacitação tecnológica requer uma interação dinâmico-sistêmica de caráter institucional que congregue universidades, centros tecnológicos universitários, institutos tecnológicos públicos e empresas, notadamente do setor industrial. Isto pressupõe um Estado ativo, dinâmico e estratégico, que funcione como elemento agregador, fomentador e viabilizador de todas essas instituições e que promova, através de instrumentos diretos e indiretos, a capacitação tecnológica nacional. Nesse contexto, na análise das novas tendências influenciando as políticas de promoção ao desenvolvimento industrial e tecnológico, destaca-se em primeiro lugar que, na atual era da humanidade, o conhecimento coloca-se como recurso principal e o aprendizado como processo central. É este o mote do estreito relacionamento entre as novas políticas industriais e tecnológicas e a economia do conhecimento.

a área acadêmica pode e deve envolverse em pesquisa tecnológica, aplicada em parcerias com empresas estatais, privadas ou mistas

CONSIDERAÇÕES FINAIS O progresso tecnológico se constitui, simultaneamente, em um dos grandes fatores de impulso e talvez na principal manifestação do avanço registrado em termos do grau de desenvolvimento das forças produtivas. Os países capitalistas avançados, isto é, os que se inserem no core do capitalismo-mundo, mostram-se como claramente hegemônicos com relação à promoção do progresso técnico e do avanço tecnológico de suas respectivas economias. Dotando-se de bases produtivas, principalmente industriais, modernas, avançadas e competitivas, a ter como lastro uma base tecnológica de vulto, por sua vez respaldada por todo um significativo manancial de inovações. O binômio «Tecnologia/Inovação» confunde-se, assim, com o elevado grau de desenvolvimento dos países, caracterizando-os como pertencentes ao centro da economia-mundo, ou seja, como integrantes do «Núcleo Orgânico Central» do capitalismo. O binômio «Tecnologia/Inovação» é viabilizado pela relação biunívoca «Indústria/

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Tecnologia», que define a nítida interação entre os processos de industrialização e a possibilidade de acesso a tecnologia com certos ou elevados níveis de sofisticação, quer via licenciamento no caso dos países em desenvolvimento. Entre estes, podem-se distingir três casos, a saber: aqueles que recorreram ao investimento externo e à tecnologia licenciada; os que embora se valendo do investimento estrangeiro e da importação/licenciamento de tecnologia, desenvolveram, a partir de empresas nacionais e com apoio estatal e governamental, suas próprias tecnologias em determinados ramos e atividades; os que começaram a operar com tecnologias licenciadas, mas passaram a desenvolver a sua própria base tecnológica a partir da aprendizagem e capacitação. A ruptura da condição periférica/semiperiférica de um(a) país e/ou economia, e a superação da sua inserção subordinada no contexto da economia mundial, ou seja, no âmbito da economia capitalista sistemamundo, notadamente no estágio atual da globalização, passa, necessariamente, pelo rompimento com a situação de dependência tecnológica. Para tanto, torna-se necessário montar uma base industrial de caráter minimamente nacional e a partir da mesma promover a capacitação tecnológica desse país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDI/ANPROTEC. Parques Tecnológicos no Brasil: Estudo, Análise e Proposições. Brasília. Abril, 2007. ADDA, J. As Origens da Globalização da Economia. Barueri. Manole, 2004. ALVAREZ, N. G. et al. La gestion del conocimiento como base de la innovación tecnológica: El estudio de un caso [Em Linha]. Espacios. Vol. 22 (3) 2001. Disponível em: http://geocities.ws/leandrojpachec/Gerencia/Espacios.pdf. Acesso em: 05 jul 2012. BAUMGARTEN, M. Geopolítica do conhecimento e da informação: semiperiferia e estratégias de desenvolvimento [Em Linha]. Brasília. Ibict. Liinc em Revista, v.3, n.1, março 2007, p. 17-33. Disponível em: http://www. ibict.br/liinc. Disponível em: 05 jul 2012. BRESSER-PEREIRA, L. C. «Prefácio» in MASIERO, G. (2007): Negócios com Japão, Coréia do Sul e China: Economia, Gestão e Relações com o Brasil. São Paulo. Saraiva, 2007. BUSTELO. Los cuatro dragones asiáticos: economia, politica y sociedad. Madrid. ESIC, 1994. BUSTELO. Teorías contemporáneas del desarrollo económico. Madrid. Sintesis, 1998. CASSIOLATO. A Economia do Conhecimento e as Novas Políticas Industriais e Tecnológicas in LASTRES, H. e ALBAZI, S. (orgs.): Informação e Globalização na Era do Conhecimento. Rio de Janeiro. Campus, p. 180 – 186, 1999.

FELDMANN, P. R. O atraso tecnológico da América Latina como decorrência de aspectos geográficos e de fatores microeconômicos [Em Linha]. Periscópio. Educação Tecnológica, 2010. Resumo do artigo de 22 páginas. Disponível em http://periscopio.bligoo.com.br/ content/view/910440/America-Latina-Atraso-tecnologico.html. Acesso em: 08 jul 2012. MASIERO, G. Negócios com Japão, Coréia do Sul e China: Economia, Gestão e Relações com o Brasil. São Paulo. Saraiva, 2007. NICOLSKY, R. Inovação tecnológica industrial e desenvolvimento sustentado. Estratégias para ciência, tecnologia e inovação. Parcerias Estratégicas, nº 13. Brasília, MCT/CGEE, p. 80 – 108, 2001.

MANOEL GONÇALVES RODRIGUES Graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1983); Especialização em Tecnologia da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998); Mestrado em Engenharia Nuclear e Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987); Doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (1995); Pós-doutorado em Economia em Transporte e Meio Ambiente pela Universidade da Califórnia em Davis (2001). É pesquisador e professor universitário com atuação nas áreas de políticas públicas, energia, economia, gestão urbana, planejamento ambiental, transporte sustentável, administração de negócios e inovação tecnológica. Contato: manoel.grodrigues@ gmail.com FERNANDO JOSÉ PEREIRA DA COSTA Economista formado pela UFRJ, com mestrado em Planejamento Energético (COPPE/ UFRJ), possuindo ainda o Diploma de Estudos Avançados em Economia/História Econômica pela Universidade de Santiago de Compostela (USC). Tem trabalhado como pesquisador nas áreas de economia, políticas públicas, energia e meio ambiente. É atualmente doutorando do Programa de Fundamentos da Análise Econômica da USC. Contato: fjpcosta@sapo.pt

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Por quê edifícios verdes? (ou, a Sustentabilidade Possível)

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á quase 20 anos, com dois diplomas e buscando um terceiro, eu tentava, em São Paulo, me colocar no mercado como consultor, oferecendo serviços relacionados à Arquitetura Bioclimática e Eficiência Energética, assuntos estes que viriam a ser englobados, anos depois, na hoje tão falada Arquitetura Sustentável. Porém, naquele momento, o mercado não estava ainda preparado para isto. Ninguém estava disposto a investir nada a mais em projetos para resultar em um produto melhor para o ambiente construído. Os arquitetos até gostariam de poder incorporar tais ideias, mas não havia como implementálas, junto aos clientes, nos projetos que desenvolviam. Busquei então, pelo caminho da docência, colaborar para a formação profissional e para o desenvolvimento dos conceitos que embasam a construção sustentável. A partir de 2008, com o surgimento no Brasil das certificações ambientais de edificações, a coisa mudou de figura. Investidores passaram a considerar a possibilidade de certificar empreendimentos, transformando-os em “Green Buildings”, isto é, edifícios sustentáveis ou verdes. Muitos, é verdade, buscavam apenas a diferenciação de mercado e a valorização do empreendimento como justificativa para tal. A prioridade não era a busca por melhores desempenhos ambientais ou aumentos de eficiência. Ocorre que para se atingir o objetivo de conseguir as certificações dos empreendimentos, muitas das estratégias que eu já defendia como recomendáveis para buscar os melhores desempenhos (algumas delas sequer eram consideradas viáveis) passaram a ser então implementadas, pois são de fato muito úteis, se não necessárias, para a construção sustentável e para atingir a certificação. Processo de Projetos Integrados, estudos de geometria solar e detalhamento de fachadas, simulações computacionais, especificação de materiais e equipamentos mais eficientes, planejamento e controle do processo de execução, são algumas das estratégias que passaram a fazer parte do dia a

dia dos projetos de empreendimentos que pretendem buscar o selo ambiental. Mesmo que a princípio apenas por razões puramente comerciais, é um avanço importante. Criou-se então um mercado para a construção sustentável no Brasil, o que é bom. De fato, Green Buildings são melhores do que edifícios tradicionais. Há muitos benefícios que são promovidos pela construção sustentável e os custos adicionais, que podem ser inferiores a 2% hoje em dia, são suplantados múltiplas vezes pelos benefícios atingidos. As certificações de empreendimentos, se por um lado, já que voluntárias, não são uma condição necessária para se atingir alto

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desempenho nas construções, por outro lado atestam e confirmam um desempenho diferenciado, estimulam mudanças de procedimentos e melhorias dos processos. Trazem, enfim, mais qualidade para o ambiente construído. Mas não, nossos problemas não acabaram, é claro. Há ainda um longo caminho a ser percorrido em direção à verdadeira sustentabilidade das construções. Há muito o que aprender (e ensinar) e muitas experiências a serem compartilhadas, para que cada vez melhores resultados venham a ser atingidos e em maior escala. Não devemos perder a perspectiva de que ainda podemos fazer muito melhor e devemos buscar compensar os impactos já causados, buscando construir o que já se classifica hoje como “edifícios regenerativos” que provocam impactos mais positivos que negativos no meio. Estamos ainda longe disto. Por ora, sou defensor do que chamo de “sustentabilidade possível”. Defendo a ideia de que cada um que seja responsável por uma parte do processo de desenvolvimento de projetos de empreendimentos, seja como legislador, investidor, projetista, comprador ou administrador. Dê sua contribuição para a “sustentabilidade possível” no seu escopo. Defendo a ideia de que devemos estimular as certificações dos empreendimentos porque, além de bom para o incorporador, é bom para os usuários e visitantes, é bom para o bairro,

para a cidade, afinal, é bom para o planeta. Se podemos fazê-lo, a pergunta é, então, por quê não? ANTONIO MACÊDO FILHO Arquiteto e Urbanista pela UFBA, Master em Arquitetura Bioclimática e Edifícios Inteligentes pela Universidad Politécnica de Madrid; Especialista em Eficiência Energética das Edificações pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP; Profissional credenciado LEED AP Building Design and Construction junto ao USGBC; DGNB Consultant – Profissional credenciado na certificação alemã de construção sustentável; Sócio diretor da EcoBuilding Consultoria; Coordenador do MBA em Construções Sustentáveis INBEC / UNICID; Professor convidado do curso de pós graduação em Sustentabilidade das Edificações do Inst. Persbiteriano Mackenzie; Country Representative para o Brasil do CTBUH Council on Tall Buildings and Urban Habitat; Membro do United Nations Global Compact / RICS Steering Group. Contato: amacedo@ecobuilding.com.br

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USO DA FERRAMENTA LEAN DE TRABALHO PADRONIZADO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

USING THE LEAN TOOL OF STANDARDIZED WORK IN CIVIL CONSTRUCTION

RESUMO O Trabalho Padronizado corresponde a uma ferramenta que busca a estabilização do processo e o aumento da produtividade, através da definição de três elementos: sequência padrão de atividades, takt-time e estoque padrão. Com base nisso, o presente artigo foi desenvolvido com o objetivo de apresentar a implantação do Trabalho Padronizado para o serviço de impermeabilização com membrana acrílica. O estudo buscou proporcionar o aumento da produtividade da equipe, melhorias nas condições de trabalho e maior precisão na execução do serviço. A metodologia utilizada para o presente trabalho foi iniciada com o acompanhamento da execução do serviço. Após isso, tabularam-se as informações e analisaram-se os dados e gráficos. Por fim, sugeriu-se um novo padrão para a sequência de atividades do pacote de impermeabilização e realizaram-se reuniões com a equipe de produção e a gerência da obra. A rotina do serviço tem sido acompanhada diariamente pelo supervisor e a equipe tem cumprido o cronograma de 5 dias, de forma que a produtividade aumentou em 33,33%. Além disso, constataram-se melhorias nas condições de trabalho dos colaboradores, aprimorou-se o controle e acompanhamento das atividades, facilitou-se a gestão de conhecimento do serviço e permitiu-se a promoção de um dos membros da equipe. Acredita-se que, a implantação do Trabalho Padronizado seja relevante no mercado da construção civil por conta de aspectos como originalidade, funcionalidade, viabilidade, facilidade de replicação do estudo. Palavras-chave: Trabalho Padronizado, Produtividade, Impermeabilização.

ABSTRACT The Standardized Work represents a standardization tool that looks for process stability and productivity, by defining three elements: precise work sequence, takt-time and standard inventory. Based on that, this paper was developed with the main goal of presenting the implantation of the Standardized Work for waterproofing service with acrylic membrane. Thereby, the research aimed to provide productivity’s increase, improvement of work’s conditions and higher precision in service’s execution. The methodology used in this paper started with the follow up of service’s execution. After that, the collected information were charted and the data and graphics were analyzed. Finally, a new template of activities sequence was suggested and it was discussed with production and management teams. An intern is daily observing the service’s routine and the team has been achieving the timetable in five days, so that team’s productivity has increased in 33.33%. Furthermore, has been already established better work conditions for the employees, improvement of activities’ control and accompaniment, facilitation of knowledge management and the promotion of one of the employees. It is believed that the implementation of Standardized Work is relevant in civil’s construction market because of aspects like originality, functionality, viability and facility for replicating the research. Keywords: Standardized Work, Productivity, Waterproofing. INTRODUÇÃO De acordo com Ohno (1997), apesar do sistema de produção em massa ter sido REVISTA INBEC | 17

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aplicado com sucesso nas indústrias japonesas durante os anos 60 e 70, a equipe da Toyota Motor Company acreditava que aquele modelo de produção não seria sustentável a longo prazo, tendo em vista sua grande suscetibilidade ao erro e, portanto, o excesso de desperdícios gerados. Dessa forma, a empresa buscou desenvolver um sistema de produção que permitisse uma maior variabilidade de modelos, com baixos custos e a eliminação completa de desperdícios. Surgia, então, o Sistema Toyota de Produção (STP). A partir das mudanças de paradigmas instauradas pelo STP, surgiu o Lean Production, cujo principal objetivo é agregar valor ao cliente através da eliminação completa de desperdícios. Dessa forma, esse sistema de produção tem como características: redução de estoques, controle rigoroso de qualidade, minimização de defeitos, agregação de valor ao produto final, autonomia do colaborador, antecipação dos problemas e a cooperação dos fornecedores (WOMACK; JONES; ROOS, 1990). Com base nisso, Womack e Jones (2003) expandiram o conceito da produção enxuta para as demais áreas de uma organização, através do Lean Thinking, orientado por cinco princípios: valor, fluxo de valor, fluxo contínuo, produção puxada e perfeição. De acordo com Mariz (2012), o Trabalho Padronizado corresponde à ferramenta de operacionalização do princípio do fluxo contínuo. Assim, essa ferramenta busca estabelecer o procedimento exato de execução de um dado serviço, através de três elementos: a) Sequência padrão de atividades: Corresponde à sequência de atividades em que um colaborador processa as unidades (OHNO, 1997); b) Takt-time: Corresponde ao tempo de produção em relação às demandas dos clientes (DENNIS, 2008); c) Estoque padrão: Corresponde à quantidade de itens necessários para que o fluxo produtivo se mantenha contínuo (DENNIS, 2008). OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS O presente artigo tem o objetivo geral de aplicar a ferramenta do Trabalho Padronizado para o serviço de impermeabilização com membrana acrílica em um empreendimento residencial da empresa. Dessa forma, tem-se a expectativa do aumento da produ-

tividade da equipe, por meio da proposição de uma sequência “ótima” de execução das atividades e da minimização das parcelas que não agregam valor. Os objetivos específicos dizem respeito ao fornecimento de melhores condições de trabalho aos colaboradores e maior precisão na execução do serviço. Apesar de ter-se optado por apresentar sua implantação no serviço de impermeabilização com membrana acrílica, o Trabalho Padronizado é aplicável nos diversos serviços realizados nos canteiros de obra. DESCRIÇÃO DA EMPRESA A C. Rolim Engenharia, fundada em 1977, é uma das quatorze empresas do Grupo C. Rolim, um dos maiores grupos do estado do Ceará. Atua hoje exclusivamente na incorporação imobiliária, na qual possui mais de 700.000 m² construídos, distribuídos em vários empreendimentos. A busca incessante pela superação das expectativas dos clientes, aliada ao foco na evolução contínua, faz com que a C. Rolim Engenharia esteja sempre em posição de destaque quando o assunto é inovação. Dessa forma, foi uma das primeiras empresas do Estado a ser certificada com a ISO 9001, além de ter sido uma das pioneiras na aplicação da filosofia Lean, bem como na prática de construção sustentável. A bem sucedida implantação da construção enxuta permitiu a união do Sistema Lean com o Sistema de Gestão da Qualidade, resultando na certificação ISO 9001 do Sistema Lean de Qualidade, em 2010, atual modelo de gestão da empresa. Além disso, destaca-se a sólida relação da empresa com a comunidade acadêmica, de forma que a equipe tem sempre estudado novos conceitos e concepções, além de disseminá-los em encontros e palestras, prezando sempre por novos conhecimentos. Dentre esses eventos, destaca-se o International Group for Lean Construction (IGLC), do qual a empresa participa ativamente desde 2007. Ressalta-se ainda que, no ano de 2013, o evento ocorreu na cidade de Fortaleza, Ceará, e a C. Rolim Engenharia foi case em todas as fases (Industry day, conferência e visita técnica). Por fim, o êxito na implantação de inovações se estendeu ao setor socioambiental, no qual a empresa tem se empenhado na busca da conservação do meio ambiente,

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na melhoria da qualidade de vida e da cidadania, através de projetos como o Ser do Bem e o Compromisso Verde. O programa Ser do Bem, diz respeito a um conjunto de ações da empresa com o objetivo de promover a interação e desenvolvimento humano por meio de atividades de saúde, bem estar e responsabilidade socioambiental. Já o Compromisso Verde, corresponde a um projeto que busca o plantio ou a doação de uma muda para cada metro quadrado de terreno adquirido pela empresa para a construção de seus empreendimentos, de forma que já foram plantadas ou distribuídas mais de 40 mil mudas de árvores. TRABALHO PADRONIZADO NA C. ROLIM ENGENHARIA A pesquisa foi realizada no empreendimento Soneto (Figura 1), localizado em bairro nobre da cidade de Fortaleza, Ceará. O empreendimento consiste em uma única torre, com 23 pavimentos e com quatro apartamentos por andar. Dispõe de quatro

opções de plantas e ampla área de lazer, com entrega prevista para janeiro de 2016. Até o ano de 2014, a impermeabilização de áreas molhadas ocorria por meio da aplicação da manta asfáltica, realizada por empresa terceirizada. A partir de 2015, optou-se pela utilização de um novo material, uma membrana acrílica, cuja execução é mais simples e segura, além de ser aplicada por funcionários próprios da empresa. O serviço de impermeabilização é realizado por uma única equipe de duas pessoas, constituída por um servente e um profissional. A equipe tem produtividade de 12 apartamentos por mês, o que corresponde a um takt-time de 20,65 min/m². Além disso, a empresa em questão já dispõe de instrução de trabalho para o serviço e os colaboradores demonstram conhecer bem a sequência das atividades, mas não possuem um padrão de execução. Assim, a equipe tem dificuldade de controlar a produção, bem como de identificar pontos de melhoria. METODOLOGIA A primeira etapa metodológica consistiu em acompanhar a execução do serviço de impermeabilização com a membrana acrílica, com o objetivo de caracterizar a situação inicial. Dessa forma, observou-se o trabalho da equipe durante dois turnos, de maneira que foram cronometrados os tempos de todas as atividades, independentemente de serem inerentes ao processo ou não. A Figura 2 apresenta, tanto a aplicação da primeira demão do produto, como também o exemplo de área impermeabilizada. Figura 2 – Impermeabilização com membrana acrílica Fonte: Acervo da C. Rolim Engenharia

Figura 1 – Ilustração da fachada do empreendimento Soneto Fonte: Acervo da C. Rolim Engenharia

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Após a coleta inicial, as informações qualitativas e quantitativas foram tabuladas e compiladas em planilhas, a fim de gerar gráficos e dados relevantes para o estudo. A Figura 3 traz um exemplo da tabulação das observações.

Figura 4– Fluxograma do serviço de impermeabilização

Figura 3– Tabulação das informações coletadas

Fonte: Elaborado pela empresa

Fonte: Elaborado pela empresa

A terceira etapa consistiu na análise propriamente dita dos dados e gráficos. Dessa forma, buscou-se identificar quais eram os serviços mais críticos, como a parcela de atividades que não agregava valor poderia ser minimizada, como as atividades do ciclo estavam distribuídas e quais poderiam ser os intervalos de tempo mais adequados para a execução do serviço. Com base nessas análises, sugeriu-se um novo padrão de trabalho. Assim, a quarta etapa metodológica correspondeu às adaptações realizadas na sequência de atividades, a fim de minimizar o tempo de ciclo, facilitar o controle pelos colaboradores e supervisores e aumentar a produtividade da equipe. Por fim, foram realizadas reuniões com a alta gerência e equipe de produção. A primeira, teve o objetivo de explicar o estudo, apresentar as melhorias previstas e buscar o comprometimento dos gestores com o trabalho desenvolvido, a fim de manter o acompanhamento diário das atividades e a manutenção das condições para a adequada execução do serviço. Já a segunda, teve por objetivo a proposição do ciclo de atividades, bem como a confirmação com a equipe acerca da sua exequibilidade. EXECUÇÃO DO ESTUDO E APLICAÇÃO DA FERRAMENTA Por já possuir instrução de trabalho, o serviço dispunha do primeiro elemento do Trabalho Padronizado, a sequência padrão de atividades, apresentada na Figura 4.

Conforme apresentado na metodologia, iniciou-se o estudo a partir do acompanhamento da execução do serviço. Dessa forma, verificou-se que 60% do tempo dos colaboradores era despendido com atividades que não agregavam valor, como deslocamentos, limpezas e retrabalhos, enquanto que os 40% restantes eram utilizados com a aplicação da membrana acrílica, em quaisquer de suas demãos. O Gráfico 1 traz a distribuição do tempo com as atividades que agregam e não agregam valor ao serviço. Gráfico 1 – Gráfico de Balanceamento do Operador atual

Fonte: Elaborado pela empresa

Com base nisso, o primeiro ponto de melhoria observado dizia respeito ao tempo despendido com paradas, que correspondia a 17% do total. Essas interrupções se deram, de forma geral, pela interferência com outros serviços que, por vezes, dificultava a cura da tinta e tornava necessária a repetição da aplicação de alguma demão. Além disso, outros retrabalhos também foram frequentes, como casos de erros no assentamento da cerâmica, que demandavam a aplicação da membrana acrílica novamente. Outra questão, bastante crítica dizia respeito à limpeza da área a ser impermea-

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bilizada, que deveria consistir apenas na remoção de poeira com vassoura ou trincha, mas que, de fato, consistia em uma limpeza grossa, através da remoção de resíduos de argamassa e de correções de pequenas falhas devido a interferências com os serviços precedentes. Assim, essa atividade consumia 17% do tempo total e demandava bastante esforço físico dos colaboradores. De forma que se constatou, que o tempo com a limpeza grossa poderia ser minimizado se o serviço precedente, correspondente ao contrapiso, deixasse menos imperfeições na área. Percebeu-se ainda que, o tempo de preparação de materiais foi também considerável, correspondendo a 13% do total, tendo em vista que os colaboradores não preparavam previamente os postos de trabalho, o que demandava vários deslocamentos ao longo do pavimento. Além disso, a equipe não dispunha de local para guardar suas ferramentas e equipamentos, de maneira que ficavam expostas nos postos de trabalho junto aos materiais, o que, por vezes, provocava extravios. Observou-se também que, os instrumentos de trabalho e os EPIs poderiam ser mais adequados, como era o caso da máscara e dos óculos utilizados. Além do estudo da distribuição do tempo, com as atividades que agregavam e que não agregavam valor, analisou-se também o tempo despendido apenas com as atividades do ciclo. A fim de verificar o menor tempo necessário para a execução de um metro quadrado da impermeabilização, caso fossem eliminadas parte das atividades que não agregavam valor. Assim, o Gráfico 2 sintetiza essa análise, correspondente ao estado futuro de execução e que compara o menor tempo de ciclo com o takt-time.

A partir de todas as observações, buscou-se definir uma sequência de trabalho que minimizasse a quantidade de atividades que não agregavam valor, que aumentasse a produtividade da equipe e que melhorasse as condições de trabalho dos colaboradores. Assim, estabeleceu-se um ciclo de cinco dias, tempo suficiente para realizar a impermeabilização de uma laje, conforme análises realizadas. A fim de facilitar a compreensão da sequência de atividades por parte dos colaboradores, foram elaborados alguns cartões ilustrativos da rotina de trabalho, que traziam o dia, turno, horário, atividade e apartamento de cada tarefa do serviço de impermeabilização. Dessa forma, os operadores passaram a ter horários determinados não só para as atividades inerentes à impermeabilização propriamente dita, mas também para a preparação de materiais, inspeção dos próximos pavimentos e descanso. Além disso, o uso do cartão também foi interessante para o controle do serviço pelos supervisores, bem como para a definição do ritmo de produção por parte dos colaboradores. A Figura 5 traz um exemplo do cartão utilizado. Figura 5 – Cartões do Trabalho Padronizado para o serviço de impermeabilização.

Gráfico 2 – Gráfico de Balanceamento do Operador no estado futuro (proposto) – atividades do ciclo

Fonte: Elaborado pela empresa

Fonte: Elaborado pela empresa

RESULTADOS Antes da implantação do Trabalho Padronizado, a equipe de impermeabilização produzia doze apartamentos por mês, de

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maneira que o ciclo de execução de um pavimento era de um pouco mais que sete dias. A partir das melhorias nas ferramentas e na sequência do trabalho, a execução do serviço por pavimento tem ocorrido no período de cinco dias, de forma que a produção mensal passou a ser de dezesseis apartamentos por mês, 33,33% superior à anterior. Além do aumento da produtividade, também são percebidos alguns resultados qualitativos. O primeiro diz respeito às melhorias das condições de trabalho, através do provimento de ferramentas e EPIs mais adequados às necessidades da equipe, como novos óculos e máscaras. Além disso, forneceu-se um baú para armazenamento dos materiais, a fim de minimizar extravios e facilitar o transporte entre apartamentos e pavimentos. Outra melhoria correspondeu à confecção dos cartões, que servem de instrumento para o controle e acompanhamento da produção. Essa ferramenta também contribuiu na melhoria das condições de trabalho, já que estabeleceu horários para a preparação dos materiais e descanso dos colaboradores. Além disso, o trabalho de padronização desenvolvido proporciona maior facilidade na gestão de conhecimento do processo, já que documentou a sequência padrão de execução de atividades e permitiu o acompanhamento diário por parte dos colaboradores e supervisores. Observou-se ainda que, o servente da equipe já detinha bastante habilidade e conhecimento acerca da execução do serviço. Dessa forma, solicitou-se a classificação do colaborador para meio-profissional, como forma de reconhecimento do bom trabalho realizado. A Gerência da obra, quando questionada sobre as mudanças percebidas no processo, relatou que o Trabalho Padronizado já provocou uma série de melhorias no serviço. O estudo permitiu a percepção de que pequenas modificações podem ser extremamente relevantes para a produtividade e bem-estar da equipe. Um exemplo disso diz respeito às melhorias nos postos de trabalho, através do fornecimento de EPIs e ferramentas mais adequadas. Além disso, os cartões de rotina têm sido bastante úteis para a equipe e para os supervisores, que conseguem acompanhar mais adequadamente a execução do serviço. Por fim, a Gerência da obra

considerou o Trabalho Padronizado de fácil replicação, de forma que o estudo já foi realizado com membros da equipe administrativa e há a pretensão de aplicá-lo na execução de outros serviços. CONCLUSÕES O presente artigo buscou aplicar o Trabalho Padronizado para o serviço de impermeabilização com membrana acrílica. Dessa forma, com base nos resultados obtidos, acredita-se que o objetivo geral foi atendido, bem como os objetivos específicos, já que a ferramenta foi implantada adequadamente e, a partir disso, foi possível a promoção de melhorias nas condições de trabalho dos colaboradores, o aperfeiçoamento do acompanhamento e execução do serviço e o aumento da produtividade da equipe. Com base no exposto, acredita-se que a inovação esteja alinhada ao cenário atual do segundo setor. Além das contribuições para a empresa em questão, há contribuições para a construção civil de forma geral, por conta da facilidade de implantação e análise do processo, além da demanda pequena de recursos materiais e financeiros. Conforme Mariz (2012) a aplicação do Trabalho Padronizado na construção civil é ainda incipiente, pois são poucos os estudos nesse âmbito. Dessa forma, pode-se constatar a originalidade do estudo não só pela aplicação do Trabalho Padronizado em si, mas também pelo foco no serviço de impermeabilização com membrana acrílica, recentemente implantado na empresa. Outro ponto relevante, diz respeito à funcionalidade do Trabalho Padronizado, assegurada pelos cartões de rotina do trabalho, que garantem a execução do serviço conforme a sequência estabelecida. Além disso, as orientações dadas à supervisão de produção e à gerência da obra proporcionam o controle mais assertivo do processo. Por fim, acredita-se que o Trabalho Padronizado é bastante acessível tanto em termos de facilidade de aplicação, como em termos financeiros. No caso da implantação, é demandada apenas disponibilidade para acompanhar o serviço e realizar as análises dos tempos e atividades, de maneira que as melhorias podem ser percebidas em poucas semanas de aplicação. No que diz respeito ao investimento para implantação, observa-se que os custos são pouco consideráveis, pois

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correspondem apenas às compras de ferramentas e equipamentos mais adequados, além das horas de trabalho do responsável pelo acompanhamento do processo. Nesse sentido, a aplicação do Trabalho Padronizado tem trazido bons resultados para a empresa. Além disso, o trabalho desenvolvido pode ser facilmente replicado para outros serviços, tendo em vista a simplicidade das análises e a baixa demanda de recursos materiais e financeiros. Dessa forma, há a expectativa de realizar o Trabalho Padronizado com os serviços críticos das obras e seguir com a aplicação nos demais pacotes de trabalho elencados na Linha de Balanço, principal ferramenta para o planejamento de longo prazo da empresa. REFERÊNCIAS

DENNIS, P. Produção Lean simplificada. Tradução Rosália Angelita Neumann Garcia. Porto Alegre: Bookman, 2008. MARIZ, R.N. Método para aplicação do trabalho padronizado em serviços de construção. Campinas. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – Universidade Estadual de Campinas, 2012. 172 p. OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: Além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. 149p. WOMACK, J.P.; JONES, D.T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. Tradução de Ivo Korytovski. Rio de Janeiro: Campus, 1990. WOMACK, J. P.; JONES, D. T. Lean Thinking: Banish waste and create wealth in your corporation. New York: Free Press, 2003.

ANGELA DE BORTOLI SAGGIN Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 2014. É LEED Green Associate (ID 10869511). Supervisora Lean & Green da C.Rolim Engenharia Ltda. Extensão em áreas de construção sustentável e elaboração de relatórios de sustentabilidade. Contato: angela@crolim.com.br CARLOS ALEXANDRE MARTINIANO DO AMARAL MOURÃO Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 1998. Especializações em Engenharia de Segurança

do Trabalho pela Universidade de Fortaleza, 2000; Logística Empresarial pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 2003; Engenharia de Produção pelo Instituto Centro Tecnológico – CENTEC, 2006. Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, 2008. Autor do Manual de Gestão Ambiental de Resíduos Sólidos na Construção Civil, lançado em parceria com a COOPERCON (Cooperativa da Construção Civil do Ceará). É Diretor Técnico da C. Rolim Engenharia Ltda. Contato: alexandre@crolim.com.br CAROLINE PORTO VALENTE Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 2011. Extensão na área de construção enxuta, construção sustentável e eficiência energética de edificações. Pós-graduanda em Construções Sustentáveis no Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC). É Coordenadora Lean & Green da C. Rolim Engenharia Ltda. Contato: caroline@crolim. com.br FELIPE LOIOLA BRITO Técnico em Edificações formado pelo CEFETCE, 2000. Engenheiro Civil pela Universidade de Fortaleza 2006. Pós-graduação em Engenharia de Produção pelo Centec/UFPB, 2010. MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV (previsão para 2015). É Gerente Técnico da C. Rolim Engenharia Ltda. Contato: felipe@crolim.com.br NÁDIA BRAGA DE LIMA SARAIVA FERNANDES Graduanda em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Estagiária Lean da C.Rolim Engenharia Ltda. Auxiliou na confecção do Manual Prático de Processos e Procedimentos e na implantação do Trabalho Padronizado da empresa. Contato: nadia@crolim.com.br

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A PRÁTICA DA REMOÇÃO DE BORRACHA ACUMULADA EM PISTAS AEROPORTUÁRIAS THE PRACTICE OF RUBBER REMOVAL ACCUMULATED IN AIRPOTS RUNWAYS

RESUMO Os pavimentos constituem uma das mais importantes infraestruturas de um complexo aeroportuário. Quando se trata especificamente das pistas de pouso e decolagem, é necessário atentar para um problema comum nesses tipos de pavimentos: a borracha acumulada no seu revestimento. Tal material é proveniente dos pneus das aeronaves quando de suas movimentações por essas pistas, principalmente durante as operações de pousos. O acúmulo dessa borracha pode provocar incidentes e/ou graves acidentes envolvendo aeronaves, sobretudo na presença de água. Este artigo, objetiva apresentar algumas considerações sobre a prática dos serviços de remoção de borracha acumulada para a manutenção da segurança operacional dos pavimentos aeroportuários. Além disso, procura-se justificar que, apesar de uma rotina de conservação importante para os pavimentos de aeroportos, a realização desses serviços não deve constituir sua única estratégia de manutenção e reabilitação. As práticas aplicadas seguiram as recomendações da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). PALAVRAS-CHAVE: Pavimentos, Aeroportos, Remoção, Borracha, Aderência. ABSTRACT Pavements represent one of the most important infrastructures of an airport complex. When it comes to runways specifically, it is necessary to look at a common problem: the impregnated rubber on the surface. This material is from the tires of aircrafts due to their movements over these pavements, especially during landing. The rubber accumulation may cause incidents and/or serious accidents invol-

ving aircrafts, particularly in the presence of water. This paper aims to present some practical considerations about rubber removal services for maintenance the airport pavement safety operations maintenance. Moreover, it also intents to convey that, despite an important maintenance routine for airports pavements, carrying out services should not be the only strategy of maintenance and rehabilitation The practices followed National Civil Aviation Agency (ANAC) recommendations. KEYWORDS: Pavements, Airports, Removal, Rubber, Adherence. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A manutenção dos pavimentos aeroportuários deve ser tarefa prioritária dos operadores de aeródromos. Isso porque essas relevantes infraestruturas representam uma parcela substancial dos recursos materiais e, principalmente, financeiros alocados ao longo da vida útil de um aeroporto. As estratégias de manutenção e reabilitação dos pavimentos aeroportuários são questões essenciais e contribuem positivamente para a segurança de voo, já que envolvem as aeronaves, seus ocupantes – passageiros e tripulantes – e as cargas transportadas. Quando se trata especificamente das pistas de pouso e decolagem, é necessário atentar para um problema comum nesses tipos de pavimentos: a borracha acumulada no seu revestimento. Esse material é considerado pela Organização da Aviação Civil Internacional – ICAO (1997) um contaminante e pode causar algum tipo de dano às aeronaves. A borracha é proveniente dos pneus das aeronaves quando dos procedimentos de pousos, haja vista o intenso contato pneu-pavimento. REVISTA INBEC | 25

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Depositada nessas pistas, a borracha contribui para a diminuição da aderência entre o pneu e o pavimento, principalmente em situações de pista molhada, colocando em risco as operações de pouso das aeronaves, além de favorecer a ocorrência de aquaplanagem (ICAO, 1997). Nessa situação, os pneus das aeronaves perdem o contato com a superfície da pista devido à lâmina de água formada sobre o pavimento. A Figura 1 apresenta exemplos de borracha acumulada na superfície de um pavimento aeroportuário, onde se verifica, notadamente, a marca dos pneus das aeronaves. Figura 1. Borracha acumulada na superfície de pistas de pouso e decolagem

Fonte: Oliveira (2009).

Essas questões, dentre outras, foram analisadas nos trabalhos de Rodrigues Filho (2006), no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo/SP, e de Oliveira (2009), no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza/ CE, que ratificaram a necessidade dos operadores de aeródromos efetuarem avaliações periódicas em seus pavimentos. Isso com o objetivo de identificar pistas com níveis deficientes do ponto de vista da segurança operacional e fornecer informações que permitam o aprimoramento dos procedimentos de manutenção e justifiquem a alocação dos recursos correspondentes. REQUISITOS DE ADERÊNCIA ANAC (2012) estabelece requisitos de aderência para pistas de pouso e decolagem, sobretudo quando as aeronaves operarem em superfícies molhadas. Esses requisitos são representados pela macrotextura e pelo coeficiente de atrito, associados aos serviços de remoção da borracha acumulada, a seguir descritos. Textura Superficial – Microtextura e Macrotextura De acordo com ICAO (2002), a micro-

textura é a textura representada pela superfície das partículas individualmente que podem ser sentidas pelo tato, mas que não se pode medir diretamente. É uma característica bastante considerável na presença de películas de água muito finas, dada sua influência na redução da ocorrência do fenômeno de aquaplanagem viscosa, de acordo com Ubiratan (2008), aquela verificada em menores velocidades, especialmente durante o taxiamento das aeronaves. Por sua vez, a macrotextura, segundo Rodrigues Filho (2006) e Bernucci et al. (2007), é a textura associada à rugosidade do conjunto mástique asfáltico e agregados, representada pela altura média, em mm, do relevo da superfície. A macrotextura pode ser considerada como a principal responsável pela drenagem superficial ativa dos revestimentos asfálticos. Por isso existe a preocupação com relação ao acúmulo de borracha, já que esse contaminante pode preencher os espaços deixados na mistura componente do revestimento e não permitir o adequado escoamento da água, favorecendo os eventos de aquaplanagem (Oliveira, 2009). Através do esquema representado na Figura 2 é possível perceber a diferenciação entre a microtextura e a macrotextura. Figura 2. Detalhe de microtextura e macrotextura em perfil de revestimento flexível

Fonte: Bernucci et al. (2007).

Existem diversas metodologias recomendadas pela ICAO (2002) para obtenção dos valores de macrotextura, como por exemplo: método da mancha de areia, da mancha de graxa, da régua de copiar perfis, do molde, do papel carbono, estereográfico e por corrente de água. No Brasil, o método da mancha de areia é recomendado por ANAC (2012). Esse método baseia-se no espalhamento, sobre o revestimento, de um volume de 24cm³ de areia com granulometria contida entre as peneiras #50 e #100, o mais uniformemen-

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te possível, em movimentos circulares, com o auxílio de um espalhador com base circular. Deve-se determinar o diâmetro médio do círculo formado. A profundidade da textura será a divisão entre o volume conhecido de areia pela área do círculo formado por essa mesma areia. ANAC (2012) recomenda no mínimo três medições de profundidade da textura, sendo obtida a média dessas medições a cada 100 metros a partir da cabeceira mais solicitada da pista, em pontos localizados a 3 metros do eixo, alternadamente à esquerda e à direita deste. Os valores de classificação de macrotextura de acordo com sua profundidade, em mm, seguem os critérios estabelecidos por ICAO (2002) e ANAC (2012), apresentados na Tabela 1.

Para os pavimentos aeroportuários, a recomendação de ANAC (2012) é de que a profundidade média da macrotextura possua índice maior ou igual a 0,60mm para pista de pouso e decolagem em operação, apresentando, portanto, classificação média. Oliveira (2009) afirma que macrotexturas classificadas como aberta ou muito aberta (profundidades da mancha de areia maiores que 0,80mm) proporcionam no início das operações uma condição de intensos desgastes dos pneus das aeronaves e que isso leva à ocorrência de um maior acúmulo de borracha à medida que ocorrem os pousos. Coeficiente de Atrito O coeficiente de atrito, conforme definição de ICAO (2002), é a relação entre a força tangencial necessária para manter um movimento relativo uniforme entre as duas superfícies em contato (os pneus da aeronave e a superfície do pavimento) e a força perpendicular que as mantêm em contato (peso distribuído do avião sobre a área dos pneus do avião). Os ensaios para medição do coeficiente de atrito devem ser realizados com os equi-

pamentos de medida contínua preconizados por ICAO (2013). Alguns desses equipamentos, seus respectivos níveis de manutenção e mínimo são apresentados na Tabela 2.

A ANAC (2012) define como valor de atrito em nível de manutenção aquele abaixo do qual devem ser iniciadas ações visando restabelecer o coeficiente de atrito em nível maior ou igual ao indicado na resolução. E por valor de atrito em nível mínimo aquele abaixo do qual a pista de pouso e decolagem, quando molhada, pode comprometer o desempenho de frenagem das aeronaves em solo. Ainda de acordo com ANAC (2012), essas medições são realizadas a 3m somente ou a 3m e 6m a partir do eixo da pista à direita e à esquerda a depender do tipo de aeronave e da largura da pista, e a frequência estabelecida na Tabela 4, de acordo com a média de pousos diários por cabeceira de aeronaves de asa fixa com motor a reação ou turbojato. Essa resolução específica somente deve ser executada em áreas de pavimento nas quais não existam ranhuras transversais (grooving).

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE REMOÇÃO DE BORRACHA Visando restaurar e preservar a funcionalidade das pistas de pouso e decolagem é imperativo que os operadores de aeródromos

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promovam a realização periódica dos serviços de remoção da borracha acumulada na superfície dessas pistas. Esse processo, de suma importância para a segurança das operações aeroportuárias, deve estar associado a uma avaliação posterior através da medição da macrotextura e do coeficiente de atrito. Ressaltese que todos os dados obtidos devem ser repassados à Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC para conhecimento e acompanhamento das condições de segurança operacional. A periodicidade dos serviços é função da quantidade de pousos diários das aeronaves na pista do aeroporto, no sentido da cabeceira mais utilizada. Cada organização responsável, pela regulação da aviação civil, estabelece a frequência com que deve ser retirada a borracha. ANAC (2012) determina aos operadores de aeródromos o que se apresenta na Tabela 5.

O processo é realizado com a aplicação de um veículo dotado de um reservatório de água, bomba de alta pressão e acessórios, tais como: pistolas, esguichos para o hidrojateamento manual, chuveiro rotativo sobre rodas e bicos espargidores. Os serviços devem ser executados por profissionais treinados, em sentidos transversais e paralelos ao eixo da pista, até a máxima remoção da borracha acumulada, conforme a Figura 5. Figura 5. Serviços de remoção de borracha com jato de água a alta pressão

Fonte: Oliveira (2009)

A sua extinção, segundo recomendações da ICAO (2002), pode ocorrer através dos seguintes métodos: solventes químicos, ar comprimido quente, jato de água a alta pressão (hidrojateamento), solventes químicos e jato de água de alta pressão concomitantemente. FAA (2004), além daqueles explicitados pela ICAO (2002), recomenda a aplicação dos seguintes métodos: impacto de alta velocidade (shotblasting) e remoção mecânica. No Brasil, tem-se aplicado mais comumente a técnica de remoção por jato de água de alta pressão, mostrando-se, na maioria dos casos, eficaz em áreas ligeiramente contaminadas. Para a FAA (2004), essa técnica é econômica e ambientalmente recomendável, além de remover os depósitos de borracha com o mínimo de inatividade para o aeroporto. Antes da execução propriamente dita, recomenda-se uma inspeção prévia dos pavimentos, para se saber quais as áreas que deverão ser submetidas ao processo de retirada de borracha, evitando, assim, trabalhos em áreas não afetadas pelo contaminante.

A execução da remoção de borracha deve ocorrer de forma a atender rigorosamente os parâmetros pré-estabelecidos. Além disso, algumas recomendações precisam ser tomadas: buscar uma coordenação permanente com a Torre de Controle, emitir antecipadamente um aviso aos pilotos das aeronaves com informações sobre a realização dos serviços e interferir o mínimo possível nas operações do aeroporto, pois os pousos e as decolagens das aeronaves podem sofrer restrições ou limitações em virtude da realização dos serviços na pista. Durante a realização dos serviços de remoção, verificam-se nitidamente resíduos de borracha misturada à água, formando uma massa densa e viscosa, conforme mostrado na Figura 6. Figura 6. Resíduos da borracha retirada do pavimento

Fonte: Oliveira (2009)

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Contudo, em muitas ocasiões, uma análise mais atenta, até mesmo tátil, desse material residual, é possível encontrar pequenos agregados envoltos no ligante asfáltico retirados do revestimento. Tal situação proporciona uma deterioração gradual da superfície do pavimento, conforme se verifica na Figura 7.

Figura 9. Novo equipamento de remoção de borracha.

Figura 7. Deterioração do pavimento

Fonte: Oliveira (2009).

Após os serviços é necessário que se faça uma vistoria dos pavimentos que passaram pelo processo de remoção para se examinar o estado geral da superfície. Nessa etapa é possível verificar marcas do chuveiro rotativo sobre rodas em toda a extensão do pavimento por onde foram aplicados, proporcionando danos ao revestimento, conforme apresentado na Figura 8. Figura 8. Danos provocados no pavimento pelos equipamentos de remoção de borracha

Fonte: Oliveira (2009)

Processos mais modernos e menos danosos ao revestimento vêm sendo desenvolvidos e aplicados no ambiente aeroportuário nacional nos últimos anos. A Figura 9 apresenta um novo equipamento para remoção da borracha acumulada utilizado em alguns aeroportos brasileiros, conforme demonstrado nos estudos de Cavalcante (2012). O autor descreveu o processo de remoção de borracha da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Internacional Pinto Martins, com esse equipamento, e analisou a evolução satisfatória do coeficiente de atrito, antes e após a aplicação dessa nova tecnologia de remoção, realizada em 2009.

Fonte: INFRAERO (2009).

O processo de remoção de borracha com o novo equipamento, na opinião de Cavalcante (2012), torna-se essencial em aeroportos especialmente dotados de uma única pista de pouso e decolagem. Isso por conta da dificuldade de sua realização, considerando as limitações de fechamento da única pista existente, mesmo em períodos parciais do dia. Por isso, depois de se evidenciar a sua eficiência técnica e operacional com uma maior produção de remoção da borracha acumulada, menor quantidade de mão de obra e menor quantidade de água utilizada, Cavalcante (2012), afirma que essa é a melhor opção de equipamento, quando comparado com outros mais antigos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre os diversos contaminantes encontrados nos pavimentos aeroportuários, aquele que é encontrado com maior constância e que altera significamente as características de textura superficial e, por sua vez, do coeficiente de atrito, é a borracha proveniente dos pneus das aeronaves que se deposita na sua superfície. A remoção periódica dessa borracha é uma atividade importante no contexto da REVISTA INBEC | 29

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manutenção e da conservação desses pavimentos, além da segurança operacional dos aeroportos. No entanto, apesar de ser uma prática de manutenção que proporciona benefícios imediatos, essa técnica pode provocar uma deterioração gradual do revestimento, conforme se verificou neste artigo, desde que aplicados processos menos modernos. A realização dos serviços de remoção de borracha torna-se essencial em aeroportos dotados de uma única pista de pousos e decolagens. Isso porque a interrupção, mesmo que parcial, dessa única pista, inviabiliza as operações aéreas previstas para o aeroporto. Para esses casos, especialmente, é necessário realizar um planejamento efetivo, que envolva todas as interfaces – operadores de aeródromos, autoridade aeronáutica e empresas aéreas – com o objetivo de promover a execução dos serviços de forma que interfira o mínimo possível na operacionalidade do aeroporto, assim como no conforto e na segurança de seus usuários. Com o crescimento do tráfego aéreo no Brasil, verificado nas duas últimas décadas, passando de cerca de 900 mil operações de pousos e decolagens em 1980 para mais de 2,8milhões em 2013, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC (ANAC, 2014), surgiram operações com aeronaves de maior porte, demandando a necessidade de pistas mais seguras, funcionais e resistentes, além de práticas de inspeções e manutenções mais efetivas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. Resolução N° 236, de 05 de junho de 2012. ANAC. Brasília: 2012. AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. Anuário do Transporte Aéreo 2013. ANAC. Disponível em: http://www.anac.gov.br/estatistica. Acesso em: 17 jul. 2014. BERNUCCI et al. Pavimentação Asfáltica. Formação Básica para Engenheiros. Petrobras. Abeda. Rio de Janeiro, 2007. CAVALCANTE, P.C.L. Aspectos de um novo processo de remoção de borracha e das condições de atrito em pavimentos aeroportuários. 2012. 50f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Centro de Ciências Tecnológicas, Universidade de Fortaleza, 2012. FEDERAL AVIATION ADMINISTRATION. Advisory Circular Nº 150/5320-12C Change 4. Measurement, Construction, and Maintenance of Skid-Resistant Airport Pavement Surfaces. U.S. Departa-

ment of Transportation. FAA. Washington: 2004 INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Manual-Guía de Administración del Mantenimiento de la Infraestructura Aeropotuaria. Edición preliminar. ICAO. Lima: 1997. INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Manual de Servicios de Aeropuertos. Parte 2 – Estado de la Superficie dos Pavimentos. Cuarta Edición. ICAO. Montreal: 2002. INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Annex 14 to the Convention on International Civil Aviation. Aerodrome Design and Operations. Volume I. 6th Edition. Montreal: 2013. OLIVEIRA, F. H. L. Proposição de Estratégias de Manutenção de Pavimentos Aeroportuários Baseadas na Macrotextura e no Atrito: Estudo de Caso do Aeroporto Internacional de Fortaleza. 2009. 203f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) – Departamento de Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Ceará, 2009. RODRIGUES FILHO, O. S. Características de Aderência de Revestimentos Asfálticos Aeroportuários – Estudo de Caso do Aeroporto Internacional de São Paulo/Congonhas. 2006. 263f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2006. RUGOWAY. Services - Grip Measurement. Disponível em: http://www.rugoway.com/images_/GripMeasurement-1.jpg?. Acesso em: 21 out. 2014. UBIRATAN, E. O Perigo da Aquaplanagem. Disponível em: http://www.aironline.com.br/tecnica/1711. htm Acesso em: 28 mai. 2008. FRANCISCO HEBER LACERDA DE OLIVEIRA Graduado em Engenharia Civil (2006), Mestre em Engenharia de Transportes (2009), ambos pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Atualmente é Doutorando em Engenharia de Transportes, pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes - Petran, da Universidade Federal do Ceará - UFC, Professor Auxiliar, ligado à área de Engenharia Civil do Centro de Ciências Tecnológicas, da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Coordenador e Professor do Curso de Especialização em Infraestrutura de Transportes Rodovias, do Instituto Brasileiro de Educação Continuada - INBEC e Affiliate Member in the American Society of Civil Engineers - ASCE. Tem experiência em Planejamento do Transporte Aéreo, Operação e Manutenção de Infraestruturas Aeroportuárias, especialmente em pavimentos de pátios e de pistas de pouso e decolagem. Contato: heberoliveiracivil@gmail.com

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SURGE UMA NOVA ABORDAGEM PARA PROJETOS DE ARQUITETURA HOSPITALAR Elza M. A. Costeira INTRODUÇÃO A concepção dos projetos arquitetônicos para os Estabelecimentos de Assistência à Saúde no Brasil e o uso de conceitos para a organização dos seus espaços físicos segundo parâmetros rígidos e, geralmente, oriundos de conceitos ultrapassados, nem sempre se norteiam pelo modelo mais adequado às atividades exercidas nestes ambientes, aos custos e tecnologias apropriadas aos seus locais de implantação e à oferta de mão de obra, quase sempre despreparada, para realizar a sua construção e operação. Torna-se necessário repensar a formatação da estrutura física de Estabelecimentos de Assistência à Saúde (EAS), para que possa atender ao novo perfil das atividades de assistência e promoção da saúde. Pretende-se que incorporem, em seus projetos, flexibilidade, adequação ao clima e especificidades locais aos seus sistemas construtivos, agregando, ainda, a humanização dos seus espaços, para que a sua conformação tenha um

impacto positivo no tempo de permanência e na qualidade do tratamento dispensado aos usuários destas instituições. Certamente o papel do arquiteto, como participante de uma desejável equipe multidisciplinar para o estudo de propostas que venham atender às novas premissas na abordagem da questão da saúde, é inegável. Além das questões dos projetos dos hospitais, o planejamento urbano incorpora também, neste momento, uma visão cada vez mais abrangente, agregando ações estruturadas em conceitos de desenvolvimento sustentável, e tendo a qualidade de vida como o norte para as decisões. 1. AS NOVAS DIRETRIZES NO ATENDIMENTO À SAÚDE Apesar das tentativas de ampliação das suas redes de estabelecimentos de saúde nas grandes metrópoles e da crescente incorporação tecnológica que se verifica nestas instituições, especialmente no que se refere

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aos meios de apoio ao diagnóstico e terapia, pode-se concluir que a distribuição e a democratização do atendimento ainda não foram atingidas e não consegue dar conta das angústias e das expectativas das populações para a melhoria da sua qualidade de vida. Assistimos, nas últimas décadas, o surgimento de novos conceitos para o desenho de EAS, que incorpora a visão do paciente que é atendido nestes estabelecimentos, trazendo para seus espaços, os signos e valores que encontramos em nossas casas e uma integração dos ambientes com o espaço exterior onde será implantado. Neste sentido podemos citar o atendimento focado no paciente (pacient centered care) como uma nova forma de se pensar a atenção e originando uma arquitetura de edifícios hospitalares que possa incorporar os avanços da medicina a uma nova concepção de espaços, onde a tecnologia não necessite impor ambientes despidos de identidade e escala humana e onde o usuário possa reconhecer os valores presentes no seu cotidiano. Estes novos conceitos preconizam, além da cura dos males físicos, um suporte emocional para o tempo de internação hospitalar, onde a concepção e desenho dos espaços tenham um impacto positivo na duração da internação, apressando a alta médica e implementando a qualidade de vida durante o tempo de permanência na instituição. Para isto, recomenda-se um equilíbrio entre alta tecnologia e um “senso de humanismo” para os novos projetos de EAS. Estes conceitos fazem parte, ainda, da crescente tendência de assistência à saúde que combina conforto ambiental e suporte emocional eficiente ao lado de cuidados médicos de qualidade, configurando-se no chamado Cuidados Centrados no Paciente (Pacient Centered Care). 2. CUIDADOS CENTRADOS NO PACIENTE O sistema de Cuidados Centrados no Paciente (Pacient Centered Care) surgiu com a criação da organização sem fins lucrativos PLANETREE. Ela foi fundada em 1978, por Angelica Thieriot, que teve uma experiência que chamou de traumática, quando de sua internação em um hospital, em São Francisco, Califórnia, USA. Segundo seu relato, ela teve um misto de sentimentos durante a sua permanência na instituição: enquanto era cercada de cuidados que se valiam da mais

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Os pacientes são encorajados a trazer, para estes ambientes, suas músicas prediletas, objetos favoritos e pertences pessoais, além de disporem de áreas comunitárias para que seus familiares preparem seus pratos prediletos

alta tecnologia médica, o seu relacionamento, com a equipe de médicos e de enfermagem, era apavorante. Quando deixou o hospital, Angelica Thieriot decidiu procurar o diretor médico da instituição para lhe falar dos seus anseios de um novo hospital, onde os pacientes poderiam contar com apoio na cura de seus males em todos os níveis e onde pudessem participar de forma ativa na sua recuperação e bem estar, aprendendo mais sobre os cuidados a eles dispensados. Um conselho consultivo foi criado, contando com a sua direção e, finalmente, em 1985, inspirada nos fundamentos de Hipócrates, a PLANETREE foi fundada. Seu nome foi escolhido a partir da árvore (planetree, plátano) sob a qual Hipócrates, chamado o pai da Medicina, falava a seus alunos, na Grécia antiga. Os princípios que fundamentam a assistência à saúde, no sistema de Cuidados Focados no Paciente baseiam-se na humanização do ambiente e da relação entre o paciente e o corpo clínico. O crescente interesse

nos princípios preconizados pela Planetree vem de encontro ao crescente interesse em aplicar os seus parâmetros que, inicialmente, dirigiam seu foco para o modo como o paciente recebe os cuidados de saúde, mas que, atualmente, começa a abordar questões relativas ao ambiente em que estes cuidados são prestados, estabelecendo discussões e pesquisas sobre os projetos arquitetônicos para hospitais.

3. A HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DE ATENÇÃO À SAÚDE Podemos citar diversos elementos a serem incorporados aos projetos que buscam estabelecer bases para um ambiente adequado às ações de assistência à saúde, como conforto visual e acústico, iluminação adequada, carpetes para a absorção de ruídos, cores suaves e obras de arte para tornar a atmosfera acolhedora e caseira, e a possibilidade de delegar aos pacientes o controle das características do ambiente desde seu leito, tais como o controle de luzes, temperatura

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e alguns equipamentos para conforto, como televisão e aparelhos sonoros, facilmente comandados. Os pacientes são encorajados a trazer, para estes ambientes, suas músicas prediletas, objetos favoritos e pertences pessoais, além de disporem de áreas comunitárias para que seus familiares preparem seus pratos prediletos - sempre junto às prescrições dos nutricionistas e disponham de itens que reproduzam o conforto que usufruem em suas casas. Neste contexto, os pacientes que tem o seu gosto pessoal atendido, como, por exemplo, o seu cardápio e seus horários habituais, durante a sua permanência nas instituições, podem ensejar ao corpo clínico, que sejam “reeducados” quanto a bons hábitos de nutrição. Outro fator de importância, no desenvolvimento de espaços para a prestação de

cuidados de saúde, é o que trata da qualidade do ar. Em artigo publicado no jornal JAMA- Journal of the American Medical Association, o Dr. James M. Seltzer, diretor médico do Indoor Hygienic Technologies Corporation, em San Diego, Califórnia, ressalta a importância da qualidade do ar no interior das unidades de saúde, relacionando o bem estar dos pacientes com os cuidados que a Arquitetura proporciona na concepção da ventilação e da climatização destes ambientes. Podemos citar ainda, como cuidado projetual de suma importância, a adoção de amplas janelas e aberturas que proporcionem adequada ventilação e aeração dos ambientes de internação assim como uma ligação com a paisagem e com a luz natural e suas variações ao longo do dia- o ciclo cir-

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cadiano- mantendo uma desejada conexão com a natureza. Para hospitais implantados em cidades de clima quente e úmido, como em diversas localidades brasileiras, verificamos, ainda, a importância da climatização dos espaços destinados à recepção e internação, especialmente quando se trata de atendimento de casos de emergência, procedimentos para o apoio ao diagnóstico e, ainda, para as chamadas “portas de entrada” das instituições. Nestes ambientes, a adequada climatização pode amenizar a estressante espera por uma vaga ou a demora no atendimento aos pacientes e seus acompanhantes. Na verdade, os novos conceitos de desenho de ambientes de saúde enfatizam a presença de visitas e acompanhantes. Neste sentido, o vice-diretor executivo do Beth Is-

rael Medical Center, em Nova Iorque, criou o conceito atualmente conhecido como Cooperative Care, no qual pacientes que precisam de cuidados intensivos são acompanhados, durante toda a sua permanência na instituição, por “cuidadores”, os chamados “care partners” . Configura-se, a partir do que apresentamos, a necessidade de projetos que respondam à desejada flexibilidade de espaços e onde possam implantar ambientes que se relacionem adequadamente com os fluxos do corpo clínico usando distâncias suficientes para que possa dispensar os cuidados ao paciente, sem interferir diretamente nas suas áreas de estar e delegando aos usuários e seus cuidadores, uma co-responsabilidade no tratamento além de uma maior independência do paciente em relação aos

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cuidados à sua saúde. A princípio, estes novos conceitos podem ser considerados apenas como um incremento na qualidade do atendimento à saúde, o que efetivamente se procura, nestes tempos de qualidade total. No entanto, mais do que isso, existem estudos quantitativos e tabulações que nos levam a enfatizar a concepção de ambientes mais humanizados e dotados de itens de conforto ambiental para apressar a cura e a alta de pacientes em unidades de saúde concebidas sob estes conceitos. Finalmente, as pesquisas mais atuais sobre o tema concluíram que pacientes assistidos em unidades que aplicam os conceitos de Cuidados Focados no Paciente tem sua média de tempo de permanência nas unidades diminuídos em um dia e seu custo de internação atinge um terço menos do que o custo de pacientes assistidos em unidades tradicionais. No Brasil, podemos destacar o inegável talento e dedicação do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, no sentido de estabelecer parâmetros e tecnologias apropriadas à nossa realidade. Para vencer o permanente desafio da arquitetura em encontrar soluções adequadas ao panorama sócio econômico do nosso país, incorpora conceitos de conforto ambiental e de racionalização do projeto e da construção aos hospitais da Rede Sarah, como os exemplos dos hospitais da rede em diversas cidades brasileiras. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desafio do Arquiteto é o de dotar estes espaços de atenção à saúde de conotações de acolhimento e familiaridade para o usuário, munindo a prática médica de um sentido de segurança e confiabilidade ao paciente, visando seu rápido restabelecimento e a minimização do seu sofrimento, finalidade primeira da instituição. O planejamento das instituições de assistência à saúde precisa estabelecer, ao lado da adequação funcionalista de seus espaços e fluxos, também um sentido estético que remeta a reminiscências de acolhimento, segurança e conforto psicológico ao paciente. Deste modo, a arquitetura hospitalar se depara com um novo desafio que é o de incorporar aos projetos a dimensão do conforto ambiental, agregando a dimensão humana, adequando a tecnologia de ponta

para o exercício da medicina à visão e anseios do paciente, pesquisando suas aspirações e suas angústias, estabelecendo adequadas relações psicológicas do indivíduo com o espaço que o acolhe, como elemento fundamental da desejada cura. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANTUNES, José Leopoldo Ferreira. Hospital: Instituição e História Social. São Paulo: Letras & Letras, 1991, CAMPOS, Ernesto de Souza. História e evolução dos hospitais. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Divisão de Organização Hospitalar, 1944. CARDOSO, Vicente Licínio A margem da arquitetura grega e romana e princípios geraes modernos de hygiene hospitalar. Rio de Janeiro, Typographia do Anuário do Brasil, 1927 In SANGLARD, G. e COSTA, R. da Gama-Rosa: Direções e traçados da assistência hospitalar no Rio de Janeiro (192331). In História, Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 11(1): 107-41, jan.-abr. 2004. COSTA, Jorge Ricardo Santos de Lima, Espaço Hospitalar: a revolta do corpo e a alma do lugar. Trabalho apresentado no Curso “Trabalho e Modo de Vida no Hospital” da Escola Nacional de Saúde Pública- ENSP/FIOCRUZ. COSTEIRA, Elza. O hospital do futuro: uma nova abordagem para projetos de ambientes de saúde. In SANTOS, Mauro; BURSZTYN, Ivani (orgs.). Saúde e Arquitetura- Caminhos para a humanização dos ambientes hospitalares. Rio de Janeiro, Editora SENAC Rio, 2004. LATORRACA, Giancarlo. João Filgueiras Lima, Lelé. Série Arquitetos Brasileiros. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi - São Paulo, 2002. MIQUELIN, Lauro Carlos. Anatomia dos Edifícios Hospitalares. São Paulo: CEDAS, 1992 PLANETREE. Página disponível na Internet, no endereço http://www.planetree.org, REDE SARAH KUBITSCHEK - Página disponível na Internet, no endereço www.sarah.br . SANTOS, Mauro; BURSZTYN, Ivani (orgs.). Saúde e Arquitetura- Caminhos para a humanização dos ambientes hospitalares. Editora SENAC Rio, Rio de Janeiro, 2004. Arquiteta; MSc e doutoranda do PROARQ/FAU/UFRJ. Especialista em Administração Hospitalar pelo Instiuto de Medicina Social da UERJ; Arquiteta da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Coordenadora e docente dos cursos de pós-graduação lato sensu de Arquitetura Hospitalar e de Arquitetura de Interiores e Paisagismo do INBEC/UNICID. Membro da ABDEH, seção do Rio de Janeiro.

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