Um Outro Pastoreio

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para resgatar Ogum, o Senhor da Guerra e da Tecnologia. Simão, um velho peregrino, parte em busca de sua fé na companhia de um menino.

Mas não será uma tarefa fácil. É um tempo sombrio e desolador no qual uma horda de guerreiros invasores espalha terror e destruição.

O futuro do Mundo dos Homens e dos Orixás depende do sucesso de Iansã

PASTOREIO

Iansã, a Deusa dos Ventos e das Tempestades, viaja ao Mundo dos Homens

UM OUTRO

Um Outro Pastoreio trata de duas jornadas.

UM OUTRO

PASTOREIO

e Simão. Eles precisam recriar a lenda de um escravo que tinha

“Começa a jornada do pensamento sensível. Entre espirais e labirintos, o inesperado flui - acontecem lendas, clarões, sombras, luzes, sons, cores, emoções. Poesia e reflexão se integram na fusão de palavras e formas. Nada de estático e fixo – tudo é desencadear de movimentos e vibração.” R e n a t o C a n i n i e M a r i a d e L o u rd e s M a r t i ns C a n i n i

R odrigo d M a rt & I ndio S a n

o dom de encontrar coisas perdidas, o Negrinho do Pastoreio.

d M a rt

I ndio S a n


DEDICATÓRIA: O s a u t o re s d e d i c a m e s t a o b ra a o e s c r i t o r J o ã o S i m õ e s L o p e s N e t o . À t o d o s o s o r i x á s, e m e sp e c i a l , O g u m , E x u e I a ns ã . À s n o s sa s f a m í l i a s e e sp o sa s, Ya ra e Ta t i . d M a r t d e d i c a a s e u f i l h o , J o ã o . I n d i o a o s s e us i r m ã o s, M á rc i o e G ra c i e l l e e p a is E d s o n e S i l v i a .


UM OUTRO

PASTOREIO



A P R E S E N TA Ç Ã O R o d r i g o d M a r t e I n d i o S a n i m a g i n a ra m e o usa ra m . A re a l i z a ç ã o e n t ã o a c o n t e c e u – e s t á a q u i . O s d o is a r t is t a s s u r p re e n d e m . E l e s i n i c i a m a h is t ó r i a d e s c re ve n d o g ra n d e re u n i ã o d e f o r m i g u e i ro s. C o m e ç a a j o r n a d a d o p e nsa m e n t o s e ns í ve l . N o c e n á r i o i n i c i a l - “ A l u a b r i l h a va i n t e nsa m e n t e e d a va l a rg a s p i n c e l a d a s e sb ra n q u i ç a d a s n a p i n t u ra c a m p e s t re ” - e d i z a R a i n h a A n c i ã d a s f o r m i g a s – “ F l u í m o s n o r i t m o n a t u ra l d a s e s t a ç õ e s ”. Va i s e d e l i n e a n d o a l e ve z a e a f o r ç a . A narração prossegue. E daí, entre espirais e labirintos, o inesperado flui – acontecem lendas, clarões, sombras, luzes, sons, cores, emoções... Poesia e reflexão se integram na fusão de palavras e formas – “Já fui tantos e fiz de tudo. Fui professor, ator, pintor, poeta. Fui orador nos púlpitos livres”. Nos meandros da imaginação, uma Santa se foi – “impregnando a brisa da campina com o aroma doce de pitangas” - e acontecem “noites de infinitos pastoreio”. Figuras, ora leves, ora fortes e dramáticas, nos colocam no meio de ambientes fantásticos, num arrebatamento vigoroso. Nada de estático e fixo – tudo é desencadear de movimentos e vibração. N a e t e r n a p ro c u ra , e n t re a c h a d o s e p e rd i d o s, d o is l u t a d o re s talentosos vão seguir caminhos de sonhos que, certamente, s e r ã o re a l i z a d o s n a o usa d i a d o a c re d i t a r. Pensando juntos: R e n a t o C a n i n i , d e s e n h i s t a e i l u s t ra d o r, e M a r i a d e L o u rd e s M a r t i ns C a n i n i , p ro f e s s o ra d e h i s t ó r i a e d e f i l o s o f i a .


EDITORES/AÇÃO ENTRE AMIGOS: Formigas em ação. Movimentação. Uma ideia que move. Comove. Emoção. Como grãos de areia. Reação em cadeia. Cada formiga é um elo. E este livro foi pro prelo. Nada de miragem. Criam vida personagens. Um velho vagabundo agora está no mundo. Um horizonte aberto. A esperança em um futuro incerto vence as incertezas do passado. Para cada aventureiro, o desejo de um desejo atendido e um sincero muito obrigado. Agência Incomum Schaun

A g us C o m a s

Alain Blatché

A l e xa n d re “ C o e l h o ”

A l e xa n d re B o i d e

A l e xa n d re L e b o u t t e d a Fo ns e c a To s c a n i

Baiano

Andréa Machado

B e l M e re l

D i m i t re L i m a

Yamamoto

D a n i e l S i l ve i ra

Fabrício Velasco

G a b r i e l d e Á v i l a O t h e ro / TV Azul G re i c e C o s t a

C l a u d i a S o u z a S i l va Daniel

D a v i e L u c a s B a r ro s S h i b a t a

Duda Cambeses

É r i c o As sis

Fernando Marson

Cecília de Lima

D a n i e l d e S o u z a B r i t e z Po n t e s M i g u e l

E d u a rd o P. Pe re s N o g u e i ra

Estudio Cores

Carlos de los Santos

C o ns u l t ó r i o D e n t á r i o B o rsa t t o

Domício Grillo

E d u a rd o Va re l a

C a i o C a r va l h a e s

C l a ra D i a s

Daniel Conceição

D a n i e l M o re i ra I r i g oye n

A u g us t o H a u b e r

C a ro l i n a B o l z a n A b re u

C l e i d e R e g i n a B e l t a n i C o r re a

Nazari

A n t o n i o R o sa

C h r is t i a n J u n g

Surkamp

A n t ô n i o A u g us t o B u e n o

C a r l o G i ova n i

C a r l o s O t e ro F i l h o

“ C u c a ” M o re i ra

André

B ov i m e d S a ú d e A n i m a l

C a r l i n h o s C a r n e i ro

Machado

A n a Pa u l a C a r va l h o

b.

A l a n o B o rg e s

A n t o n i o A u g us t o Ta ms G a sp e r i n G a m e i ro

Alice de Menezes

Amadeu Caringi a n d e rs o n

Alex

A l e xa n d re L e a l M a rq u e s

A l e xa n d re T i m m V i e i ra

A l va ro d e C a r va l h o N e t o Anãozinho

A l e s sa n d o J a c o by

E d i t o ra É b l is

E d u a rd o S o n c i n i Ernesto Nolte familia Amaral

Fernando Stoduto

E d u a rd o Va l e n t e Es t e r W a i n e N o g u e i ra

Felipe Mello

Guido Cipollone

Fernanda

Ferret Advogados Associados

Gabriel Luiz Maia Nascimento

Gigante & Simch Engenharia

Edson

G a by B e n e d yc t

G ra c i e l l e Ta m i o s s o N a z a r i

Guilherme Dable

G us B o z z e t t i


Gustavo de Oliveira Fernandes Huan Gomes

Gustavo Peres

Ivone Amilíbia Nazari

Malla Mello

L e o Fe l i p e G a sp e r i n

Juliana Vidigal

Luiz Dias Baumgarten M á r i o S e i xa s

Flesch

L o re l a i Te re si n h a

M a rc e l o B a u m g a r t e n e M a t h e us

M a rc e l o F r u e t

M a r i a C a b ra l

M a t e us Ac i o l i

M a u r i c i o L e m o s S i l ve i ra

N i k N eve s

Robson Ciola

Ya ra L o u rd e s B a u n g a r t e n B u e n o

R a f a e l O l i ve i ra R i c h a rd

Rodrigo Iruzun Osório

Rodrigo

R o d r i g o S i l ve i ra S a u l o O l i ve i ra C e m i n

S i l v i a E l isa Ta m i o s s o N a z a r i Tatiani Pedó

W i d e x A p a re l h o s A u d i t i vo s

Pe d ro

R i c a rd o C r u z

S a n t a Tra nsm e d i a P ro d u c t i o ns

Ve ra Ve rg o

Pa t r í c i a

Pe d ro H a m b u rg u e r

Rodrigo Rheinheimer

Tânia A. Villalobos

Va l d i r A n t u n e s C a m a ra

N a ra E l isa d e W e l l e s Pa t L o b o

Renata Stoduto

Rodrigo Bozano

Selling - Outlier Thinking

M a y u m i K i ya m a

Rafael Baungarten e família

Rodrigo Recart

S a n d ra Po rc i ú n c u l a

O S i l va

Pa u l o R o b e r t o P i e r r y

Renata Steffen

Steve ePonto

Mariana Barboza

M o re n o J o a q u i m G i u l i a n i M o re t i

Pe d ro Te l l e s

Ortiz Vinholo

Luc, Helena e KV73

L u rd e s L o u re n z i n i Pe d ó

Pa t r i c k Pe t r y

R a u l K re b s

R o sa F i l h o

loo_ciano sIcK

L is K l eve r

L u i z C a r l o s B i l h a r va M a r t i ns

N ew t o n S i l va

Maciel Bueno

Kova c s

L i l i a N o l t e M a r t i ns

Lucio Regner

Miriam Blaschke C a rd o s o

L a sk e D e si g n G r á f i c o

L o re n z o R i c a rd o M a rc h i o r i B e n t o

L u c i a n o A l f o ns o

João

J u l i a n B e us B o r t o l u z z i

Jum Nakao

Liana Chiapinotto

Jarbas

J o a q u i m M e l l o S i l ve i ra

J o c a M a r t i ns

L o c o m o t i va F i l m e s

C o s t a O t e ro

João Carlos Machado

J o ã o Pe d ro M o l z C o r r ê a

J o a re z S o a re s e D é b o ra C a n d o r J u l i a n a S p a n eve l l o

Helena Kempf

Jaime Cassiano Tams Gasperin

J o ã o B a l d o i n o C o s t a O l i ve i ra

M a rc o s “ N e g r i n h o ” M a r t i ns

Heitor Yida

Tim Perissé

S i m o n e Fe l t e s Tom Dreyffus

Victor Wortmann

Vitor Hugo Dalla

W i l m a r M o ra r i

Ya ra B a u n g a r t e n

zzz! LEO tufi



E m u m a t a rd e c l a r i l u z e n t e d e o u t o n o , d o is m e n i n o s b r i n c a m d e e s c re ve r / d e s e n h a r n o c h ã o d a c a l ç a d a . U m a t r i l h a d e f o r m i g a s a t a re f a d a s c r u z a a o l a rg o d a d u p l a . - Vo c ê p r o m e t e u q ue m e c o nt a ri a – f a l a u m d e l e s e m t o m d e sa f i a d o r. - A ch o m el h o r n ã o – re sp o n d e o o u t ro . – Talve z l eve u m a v i d a to d a . - N ã o i mp o r t a ! Vo c ê pr o m e t e u . . . Co nt e ! - N ã o c o nt o . . . – re t r u c a o o u t ro . – Re c o nto . 9


UM OUTRO

PASTOREIO

TEXTOS RODRIGO DMART ARTES INDIO SAN


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Capítulo 1

{ AS FORMIGAS FALANTES } C e r t a f e i t a , a G ra n d e Fa m í l i a d a s Fo r m i g a s s e re u n i u .


M i l h a re s d e ra i n h a s c h e g a ra m c o m s e us s é q u i t o s d e o p e r á r i a s e m a c h o s a o s o p é d a p r i m e i ra m o n t a n h a . A l u a b r i l h a va i n t e nsa m e n t e e d a va l a rg a s p i n c e l a d a s e sb ra n q u i ç a d a s n a p i n t u ra c a m p e s t re .

O f u l g o r si n a l i z a va a t r é g u a . L o g o , n ã o h a ve r i a d isp u t a s d e t e r r i t ó r i o o u b r i g a s d e q u a l q u e r o rd e m . A m e g a c o l ô n i a t ra b a l h a va c o m a f i n c o . U m a s f o r m i g a s p rov i d e n c i a va m o a l i m e n t o - s e i va , f u n g o s, n é c t a r e c a r n e . A l g u m a s t ra t a va m d a s d e m a n d a s. O u t ra s e ra m e n c a r re g a d a s d a c o ns t r u ç ã o . E t a l e ra a o rg a n i z a ç ã o q u e , e m p o u q u í s s i m o t e m p o , o Fo r m i g u e i ro e s t a va p ro n t o .

E q u e b e l a o b ra c r i a ra m ! R e p l e t a d e g a l e r i a s, t ú n e is, p a s sa g e ns, n i n h o s e c ô m o d o s. S e m t a rd a n ç a , a c o l ô n i a s e a g r u p o u n a n a ve p r i n c i p a l , a R a i n h a A n c i ã s u b i u n a t r i b u n a e p ro c l a m o u :

- Somos o sexo da terra. Somos a boca de onde nasceu o verbo. Estamos aqui desde os primórdios . E m s e g u i d a , a S e g u n d a R a i n h a M a is A n t i g a t o m o u a p a l a v ra : - S o m o s i n c a ns á ve is t e c e l ã s d a v i d a . M o s t ra m o s a o b i c h o - h o m e m o r i o e e l e a p re n d e u a usa r a á g u a p a ra b e b e r e b a n h a r - s e . D e p o is,

a

Te rc e i ra

Rainha

continuou:

-

Somos

p re v i d e n t e s.

Dialogamos com a carência e a abundância. Fluímos no ritmo n a t u ra l d a s e s t a ç õ e s. - Somos o nascedouro da agricultura. Contamos ao bicho-homem o que plantar, quando colher e o avisamos da necessidade de reservar sementes para o próximo plantio.

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Outra rainha emendou: - Somos o esplendor dos solos e a praga dos jardins.

A re u n i ã o p ro s s e g u i u m a d r u g a d a a d e n t ro . A s f o r m i g a s d e c l a m a ra m s e us v í c i o s e v i r t u d e s. - S o m o s l a b o r i o sa s. E ns i n a m o s a o b i c h o - h o m e m a m o e r o t r i g o , f a z e r a f a r i n h a , a c e n d e r o f o g o e c o z i n h a r o p ã o n a s c i n z a s. - S o m o s d o m i n a d o ra s. - S o m o s re d e . - S o m o s b a t a l h a d o ra s. - Somos telepatia. - Somos alimento. - S o m o s h o n e s t a s. - S o m o s v i n g a t i va s. - S o m o s e n e rg i a . E a s f o r m i g a s f a l a ra m , f a l a ra m , f a l a ra m . . . Ve l h a s, n ova s, g ra n d e s, p e q u e n a s,

d e l g a d a s,

c o r p u l e n t a s,

ve r m e l h a s,

a m a re l a s,

p re t a s,

c a ç a d o ra s, c o r t a d e i ra s, ra i n h a s, o p e r á r i a s, m a c h o s. . .

To d a s f a l a ra m . N o a m a n h e c e r, e l a s s e d isp e rsa ra m p e l o s p l a n e t a s e

u m a s e g u n d a m o n t a n h a t o m o u l u g a r n a p a isa g e m .

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Capítulo 2

{ Em Um Futuro Não Tão Distante... }


U m ve l h o a va n ç a va l e n t a m e n t e p isa n d o o o r va l h o d e u m a n o i t e d e s e n c a n t a d a .

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SÃO OS TEMP . BRES FÚNE

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E l e t ra z i a à s c o s t a s u m a s u r ra d a m a l a d e g a r u p a . S e n t i a - s e s ó , va z i o e d e sa m p a ra d o . E n q u a n t o a n d a va , e l e m i ra va d e re l a n c e p a ra o C é u n a e x p e c t a t i va d e e n c o n t ra r a l g u m a e s t re l a . Mas nada.

P u ro b re u .

E l e t i n h a sa u d a d e d a g a l h a rd i a , d o p a p o f ro u xo m a d r u g a d a a f o ra , d o b r i l h o d e u m o l h a r a p a i xo n a d o , d a M ú s i c a d o s p á s sa ro s n o a m a n h e c e r, d a M a g i a d o s va g a - l u m e s e m s u a d a n ç a n o t í va g a , das várias faces do Dia. O ve l h o t i n h a e sp e c i a l a p re ç o p e l a c a l m a r i a n o t u r n a , m a s e s t a e ra u m a é p o c a m u i t o s i l e n c i o sa n a q u a l a s p e s s o a s t e m i a m a p r ó p r i a s o m b ra , s us s u r ra va m p a l a v ra s va z i a s p e l o s c a n t o s d a s c a sa s, m a n t i n h a m a s j a n e l a s f e c h a d a s e o s c a n d e l a b ro s a p a g a d o s. E l e d e c i d i u d e s c a nsa r p r ó x i m o a u m p é d e u m b u q u e re s is t i a s o l i t á r i o e m m e i o a o d e s c a m p a d o . L a rg o u o sa c o n o c h ã o . T i ro u u m c i g a r ro d e p a l h a q u e t ra z i a n o b o ls o d a c a m isa . Ac e n d e u o c i g a r ro e t ra g o u f u n d o . O ve l h o s o l t o u a f u m a ç a a o s p o u c o s a p re c i a n d o s u a c o re o g ra f i a . D e u o u t ra t ra g a d a e e n g a s g o u - s e .


C i g arro ! i g no ma l

minha Você é anhia comp única viagem m nesta també ce que e pare me matar. quer

! Cof! Cof tempo, o m ta s Não ba

a fome o...

ridã e a escu

Cof!


O ve l h o j o g o u l o n g e o c i g a r ro . O l h o u p a ra o u m b u e d is s e c o m d e sa l e n t o : - M i n h a I r m ã Á r vo re , vo c ê é o p a ra - ra i o s d e s t e l u g a r. P re c is o d e u m s i n a l . A l g o q u e m e i n d i q u e u m c a m i n h o .

AE

RI SCU

DÃO

...

U E S TO IDO. D R E P ÃO A ESCURID U E P CORROM ÓRIA M E M A MINHA O... IÇ V U E EOM

Esp e ro u . Esp e ro u . Esp e ro u . E n a d a . E n t r is t e c e u - s e . - S e r á q u e n ã o t ra g o m a is e m o ç ã o e m m e u p e i t o ?

M a s o Ve n t o n ã o s o p ro u re sp o s t a s.

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nhor O se uma t cos ozinho? r s fala

? RVORE IRMÃ Á CUTOU?! S ME E VOCÊ

É O SINA L!!!

Sim, caro ancião. Você acha que sou surdo? O senhor fez tanto barulho que mesmo do outro lado do mundo . eu poderia escutá-lo

QUEM É VOCÊ MIM? QUE ZOMBA DE

A PA R E Ç A !

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senhor. Desculpe, meu te. al ex se ão N enino. Sou só um m

rdou. Você me aco

Não pude resistir. Afinal, não é toda hora que se pode brincar.

pode você oso? Como um id anar g en no

i M en ! d a o sa f

E o Senhor quem é?


Quem sou eu?

Já fui tantos e fiz de tudo. Fui professor, ator, pintor e poeta.

or Fui orad livres s o it nos púlp po m em um te ças ian cr s em que a upadas c o e r m desp brincava s ça . pelas pra

Tive sobrenome, estirpe. Fui ligado a uma fidalguia.

e, e má sort m golpe d . s e s s Mas Em u o has p perdi min

o Aprendi r e s que é l. e invisív ão Ninguém. Tornei-me um Jo s ruas. Um miserável da gos” mi “a s igo ant Os m. tara se afas

torne i- me r ino . um pere g ar cham e me d o e p d e Você esment simpl

S i mão

.

r, Praze ão. im S u e S de hor po O sen mar de a h me c ino.

Men


HÁ MUITO TEMPO, TAMBÉM FUI MÚSICO E BARDO. TRAGO NO REPERTÓRIO UMA HISTÓRIA ANTIGA QUE CRUZOU GERAÇÕES E FRONTEIRAS.

ESTA HISTÓRIA FALA DE UM MENINO PARECIDO COM VOCÊ! S i m ã o s e n t i u a c a ns e i ra p e sa r - l h e n o c o r p o . To m o u f ô l e g o e c o n c e n t ro u - s e e m e sm a e c e r o d e s â n i m o . Ele abriu uma mala de garupa e d e l á t i ro u u m a ve l a b ra n c a . S i m ã o p u xo u p a l a v ra s e s o ns d e d e n t ro d a b a r r i g a .

e e

.

E cantou. 25


Capítulo 3

{ A CANÇÃO DE SIMÃO: ELAS, HORDA & FUGA }

PA R A C A N T A R S U AV E C Â N T I C O DE CRENÇAS E QUERELAS PA R A C O N T A R SOU ROMÂNTICO C A PA E E S PA D A HERÓI E DONZELA MAS NEM TUDO É SÓ PUREZA C O I SA S I M P L E S E SINGELA NÃO LEVE C O M O O F E N SA S E E S TA H I S T Ó R I A NÃO FOR TÃO BELA

26


27


M en i no !

Elas são tão pequenina s e movem montan has.

Uma a uma. Que força tamanha!


ELAS QUEM SÃO ELAS? A R DA T E R R A F E R T I L I DA D E D O S O L O N O C O M PA S S O D E U M A E R A ELAS QUEM SÃO ELAS? M I Ú DA S, P E Q U E N I N A S BILHÕES EM CONVÍVIO NO SEU CICLO NO SEU TEMPO

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C o m o s o l h o s e sb u g a l h a d o s, o ve l h o s e e n c u r vo u e , n o o u v i d o d o M e n i n o , e l e s é r i o s e g re d o u :

UM DIA TUDO MUDOU A H O R DA C H E G O U F O G O , P Ó LV O R A E F E R R O MÁQUINAS DE GUERRA CA L A N D O Q U E M FA L A A O S B E R R O S A H O R DA C H E G O U C O M O B R A D O SEM BRANDURA T I S N A N D O A T E R R A D E SA N G U E

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-

To d o m u n d o f o g e u m d i a .

E x i l a d o s, re f u g i a d o s, a m a n t e s, a ve n t u re i ro s. M u i t o s va g a m p o r a í . E n ã o s e r i a d i f e re n t e n e s t a h is t ó r i a f a l o u S i m ã o a o ra p a z . A H o rd a n ã o f a z i a a m i g o s. T i n h a u m e n o r m e t a l e n t o e m c r i a r a l i a d o s p a ra d e p o is c o r ro m p ê - l o s. - A H o rd a t ro u xe a p e s t i l ê n c i a e u m i nsa c i á ve l a p e t i t e p a ra a d e s t r u i ç ã o . N ã o h a v i a c o m o e s c a p a r. Vo c ê m e e n t e n d e ?

To d o s f u g i ra m .

O M e n i n o a g u a rd a va c a l a d o o re vo a r d e S i m ã o . - To d o s f u g i ra m . - E c o m o m e n i n o d e s t a h is t ó r i a n ã o s e r i a d i f e re n t e .

O N e g r i n h o t a m b é m e s c a p o u ve l o z m e n t e m o n t a d o e m s e u c a va l o b a i o . - Quem é ele? - indagou-lhe o Menino. - E o que aconteceu?

S i m ã o a c e n d e u o u t ra ve l a e o C a n t o s e f e z Trov ã o .


Capítulo 4

{ NEGRINHO POR CERTO SERIA }

AFILHADO DO RAIO N U N CA R E F É M A F I L H A D O D A S A N TA D O S Q U E N A DA T E M ALMA DE FIBRA V I B R A N O V E N TO B E N TO N A T E R R A DA T E R R A , R E B E N TO N I N G U É M SA B I A S E U N O M E N E G R I N H O P O R C E R TO S E R I A E S C R AV O D E U M A H I S T Ó R I A QUE NINGUÉM PRA SI QUERIA

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- Quanta desolação se abateu na região. Monstros terríveis e impiedosos destruíam tudo que encontravam pela frente.

Assustados, o Negrinho e o cavalo fugiam a esmo , certos de que precisavam ir rapidamente o mais distante possível dali. O B a i o g a l o p a va ro b us t o . O s d o is d e vo ra va m l o n j u ra s. . .

M a s q u is o d e s t i n o q u e e l e s c r u z a s s e m p o r u m a c a m p i n a t o m a d a p o r f o r m i g u e i ro s. - E o que aconteceu com eles? Q u e m o ns t ro s s ã o e s t e s ? - d isp a ro u o g u r i . - Z Á S ! - p ro f e r i u t e a t ra l m e n t e o ve l h o . - R a i o s f u l g u ra n t e s e l e va ra m - s e d e u m f o r m i g u e i ro . O c h ã o t re m e u . E t ã o l o g o a n u ve m d e p o e i ra s e d is s i p o u ,

e l e s e n xe rg a ra m a e n t i d a d e . - R e sp e i t o sa m e n t e , o s d o is s e i n c l i n a ra m sa u d a n d o s u a p re s e n ç a .


- Morbidamente linda, com uma voz profunda e rouca, ela entoou:

- Po r q u e f o g e s t u , s e a q u i é t e u l u g a r ?

- E t a l c o m o s u rg i u , a e n t i d a d e s e f o i , i m p re g n a n d o a b r isa d a c a m p i n a c o m u m a ro m a d o c e d e p i t a n g a s. - M a s p o r q u ê ? - p e rg u n t o u i n d i g n a d o o M e n i n o . - S e h a v i a u m i n i m i g o a c o m b a t e r e t o d o s f u g i ra m , p o r q u e l o g o o N e g r i n h o d e ve r i a f i c a r ?

- H á t ra m a s d a s q u a is n ã o s e p o d e e s c a p a r - e x p l i c o u S i m ã o . - H a v i a u m a h is t ó r i a a s e r e s c r i t a . D e u m j e i t o o u d e o u t ro , o N e g r i n h o e o B a i o p a s sa r i a m p o r e s sa p rova ç ã o . A l g u ns c h a m a m d e D e s t i n o . E u p re f i ro n o m e a r d e C o m p o s i ç ã o , L i ra , J o g o , A m a r ra ç ã o .

E u m q u e c re i a é o s u f i c i e n t e . - E o Negrinho, o que fez? - indagou o Menino. - Ac a l m e - s e ! - f a l o u S i m ã o .

- A n t e s p re c is o c o n t a r - l h e s o b re u m a c u ra n d e i ra q u e v i v i a n o i n t e r i o r d a f l o re s t a . 38



e a Mas o qirua tem Curande com o a ver ho? Negrin


RÁ!

O DE POUC Z! M U A PA TENH NCIA, RA Ê I PAC

R LHO É ME MOS SA R S E . APR SSO O PA

O Ve n t o s o p ro u u m c h e i ro r u i m . A p a isa g e m a b ra ç o u o m o r m a ç o . A s c h a m a s d a s ve l a s t re p i d a ra m p e l o c a m i n h o .

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Capítulo 5

{ NOTÍCIAS DE UMA GUERRA NO FIRMAMENTO }

N a e n c r u z i l h a d a d o s t e m p o s e d o s m u n d o s,

E x u , o M e nsa g e i ro d o s O r i x á s, e s t a va a b o r re c i d o . N ã o e n t e n d i a p o rq u e u m m e nsa g e i ro - t ã o q u a l i f i c a d o c o m o e l e t i n h a q u e m a n t e r a g u a rd a n a q u e l e l u g a r t ã o e r m o , t ã o d is t a n t e d e . . . q u a l q u e r l u g a r ! E l e n ã o s e c o n f o r m a va . Ah...

E x u a n d a va l o u c o p o r u m a t ra q u i n a g e m !

Muitas vezes, pensou em abandonar o posto. A encruzilhada padecia silenciosa. Era calmaria demais para um festeiro.

O a b o r re c i m e n t o v i ro u t é d i o . E x u a p o i o u - s e e m s e u O g ó e p a ro u p a ra c o n t e m p l a r o e sp a ç o . N a d a d e i n t e re s sa n t e a c o n t e c i a . E o t é d i o c h a m o u a p re g u i ç a .

E x u , o M e nsa g e i ro d o s O r i x á s, d o r m i u e m p é . Ele sonhou com uma mesa farta: um verdadeiro banquete dos deuses! A g u a rd e n t e , c e r ve j a , v i n h o , u í s q u e . . . F ra n g o a s sa d o , f a ro f a , f e i j ã o , i n h a m e , m o c o t ó . . . Guloso como só, Exu se esbaldava em uma refeição deliciosa e sem fim. - Isso sim é que chamo de manjar! - Exu gritava extasiado em seu sonho.


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SIM c h amo que ia! é vig e d O ISS

nsar o pe sável” ã v on ás Orix o “resp lia? s o e gí tr u e ou erem q iu na vi u q O rm oub do s eiro do an u g q sa Men


u a s s us t a d o . O l h o u p a ra o s l a d o s e n ã o v i u n i n g u é m .

E x u a c o rd o u a s s us t a d o . Então, viu a formiga.

N ão posso! i tar acre d

Sou eu s peças! quem prega a sa ê Como voc ou er et se introm ! em meu sonho?


PA, VOCÊ NÃO ME ESCA ! DA NA DA FORMIGA

R VA I M O R R E A! E S M AG APAD RA PREPARA-TE ENCONTRAR ICU.

NÃO VOCÊ SÓ SE R A R SA B E QUISE ÍCIA. E N OT GRAND

O QUE VOCÊ QUER DIZER?

HÁ UMA

RRA G R A N D E G U EMENTO EM CURSO NO FIRMA E NENHUMA DEIDADE ESTÁ A SALVO.

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E x u p e rc e b e u s i n c e r i d a d e n a c o n ve rsa d a f o r m i g a . Pe d i u d e s c u l p a s e e s c u t o u c o m a t e n ç ã o a n o t í c i a . S e n t i u m e d o , p o is a h is t ó r i a , re a l m e n t e , f a z i a s e n t i d o . E l e a g ra d e c e u a f o r m i g a c o m u m p e d a ç o d e a ç ú c a r e re f l e t i u s o b re o a s s u n t o . A s i t u a ç ã o e ra s é r i a .

E l e , c o m o M e nsa g e i ro , d eve r i a a v isa r o p a n t e ã o d o s o r i x á s c o m m á x i m a u rg ê n c i a . S u b i t a m e n t e , u m a i d e i a m a t re i ra a r ro d e o u a i m a g i n a ç ã o d e E x u . E l e sa b o re o u o p l a n o c o m u m a r isa d a m a l i c i o sa .

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ÃO DA NO CORAÇ IVIA UMA V FLORESTA A-SE A. CHAMAV CURANDEIR

. A S N AY

Capítulo 6

{ A CURANDEIRA } - Ela habitava uma cabana de madeira coberta com santa-fé, em uma pequena clareira que se abria no centro da vegetação densa. Asnay era acompanhada por muitos bichos domésticos: duas cabras, um cachorro medroso, uma gata malandra, alguns garnisés, gansos e um casal de corujas, responsável pela vigilância do sítio. - Os aldeões a procuravam para toda sorte de serviço: fazer parto, “pra trazê marido”, “enricá”, “pra curá criança desenganada”; chegavam também febris e feridos; outros queriam saber do futuro. - Alguns a chamavam de mãezinha, senhora, protetora, conselheira, enviada das deusas, maestrina. Por outro lado, havia aqueles que a acusavam de bruxa má, feiticeira, herege, louca, sacripanta. E até mesmo, veja só, de encarnação do demônio.

- Mas ela pouco se importava, desde que a deixassem em paz.

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NUMA COLHEITA DE ERVAS, ASNAY DEPAROU-SE COM UM CERTO CONHECIDO NOSSO.

O NEGRINHO

ESTAVA PERDIDO, ESFOMEADO E COM FRIO.

EHEH EH

E o cavalo?

OH, ME DESCULPE, EU SOU MESMO UM VELHO DOIDO.

O BAIO E O NEGRINHO AINDA Nテグ HAVIAM

SE CONHECIDO.


- M a s d e i xe - m e c o n t i n u a r - d is s e S i m ã o . - A s n a y c o m p a d e c e u - s e d o m u l a t i n h o , t i ro u s e u xa l e , a c h e g o u - s e c a r i n h o sa m e n t e , c o b r i u o ra p a z e o a c o l h e u e m s u a c a b a n a c o m u m p ra t o q u e n t e d e s o p a d e l e g u m e s.

Assim, a curandeira e o Negrinho se conheceram. - O ra p a z o t e s e m o s t ro u m u i t o ú t i l p o rq u e

a j u d a va As n a y

a e n c o n t ra r c o isa s . A g u l h a s d e c o s t u ra , ó c u l o s e t e m p e ro s. - ” Vo c ê a i n d a t e r á q u e m e e x p l i c a r c o m o f a z is s o ” , i n t r i g a va - s e a c u ra n d e i ra - “ Vo c ê p o d e m e a j u d a r a e n c o n t ra r u m a c a i xa ? ”

- O v isi t a n t e t ro u xe ra u m n ovo f ô l e g o a o s í t i o . As n a y p e rc e b e u a s m u d a n ç a s e f e l i c i t o u - s e .

S o r ra t e i ra m e n t e , o ve l h o o b s e r vo u s u a p l a t e i a . - “ N a d a m a l ” – p e ns o u . – “ U m m e n i n o p a ra o u v i r m i n h a o d is s e i a ”.

PA R A C A D A B O A L E M B R A N Ç A , ESPERANÇA TRAGO NA LUZ.

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Capítulo 7

{ “MAU AGOURO” }

- Madrugada alta, um jovem casal chegou sem aviso esquivando-se das corujas. - “ M a u a g o u ro ” , re sm u n g o u A s n a y l e va n t a n d o - s e d a c a m a . - Ao abrir a porta da cabana, ela notou que a moça segurava o ventre, gemia e sangrava. O Negrinho também veio espiar o que acontecia.

- A j ove m e s t a va d e b i l i t a d a . A c u ra n d e i ra a b ra ç o u a m o ç a e a d e i t o u c u i d a d o sa m e n t e n a c a m a . Enquanto Asnay e o Negrinho c o r r i a m d e u m l a d o p a ra o o u t ro , p e g a n d o a b a c i a , o s p a n o s l i m p o s, a tesoura e os demais apetrechos. O rapaz, exaltado, contava a trágica história do casal. - V i ve m o s u m ro m a n c e p ro i b i d o p e l a s n o s sa s f a m í l i a s - c o n t o u . - Quando ela ficou grávida, usamos de todos os artifícios para esconder o fato de todos. M a s a m a d ra s t a d e l a d e s c o b r i u e e l a f o i e x p u lsa d e c a sa . Fo m o s d e s g ra ç a d o s p e l a c o m u n i d a d e . Ac a b a m o s m o ra n d o n u m c a s e b re a b a n d o n a d o n a p e r i f e r i a d a a l d e i a . - N o i n í c i o d e s t a n o i t e , e l a c o m e ç o u a t e r c o n t ra ç õ e s. - Tentamos fazer o parto mas ela começou a sangrar muito. - Ouvimos falar dos seus serviços. - Vo c ê a g i u e r ra d o ! - f a l o u b r us c a m e n t e A s n a y. 54


OR, FAV R E! PO JUD A NOS

, INHO NEGR E U Q COLO PA R A Á G UA ! N TA R E U ESQ

SA A BOL ! UROU E S TO R, FAV O POR E! AJUD S O N

RÁPIDO

!


Fo ra d a c a b a n a , a m a d r u g a d a p ro s s e g u i u s i l e n c i o sa . O s b i c h o s e s t a va m q u i e t o s. C o m o s e t o d o s a l i z e l a s s e m p e l o b o m a n d a m e n t o d a s c o isa s. P r ó x i m o d o a m a n h e c e r, a c u ra n d e i ra sa i u d a c a b a n a .

NÃO CONSEGUI SALVÁ-LA.

ELA ESTAVA DEBILITADA.

O BEB Ê TAM BÉM NÃO RES IST IU.

SE TIVESSEM VINDO ANTES... SINTO MUITO.

Q U E IR A ! SA L A M A N U E IR A ! M A N D IN G B R U XA !

B R U XA! VO CÊ OS MATO U!

E o j ove m e m b re n h o u - s e n a m a t a .


O N e g r i n h o a j u d o u a c u ra n d e i ra a e n t e r ra r o s c o r p o s d a m o ç a e d o b e b ê e a s o l t a r o s a n i m a is. D e p o is e l e s s e a b ra ç a ra m t e r n a m e n t e .

EU SABIA QUE ERA MAU AGOURO. ELE VOLTARÁ E NÃO VIRÁ SOZINHO.

VOCÊ DEVE PARTIR, QUERIDO COMPANHEIRO. NÃO SE PREOCUPE COMIGO. EU SEI LIDAR COM ESTE TIPO DE GENTE. PEGUE ESTES TORRÕES DE AÇUCAR.

VOCÊ IRÁ CONHECER UM VELHO AMIGO.

DEPOIS DE SAIR DA FLORESTA, VOCÊ CHEGARÁ A UMA COXILHA. ENCONTRARÁ UMA MAGNÍFICA

TROPA DE CAVALOS. ENTRE ELES, HÁ UM ANIMAL ESPECIAL,

VOCÊ SABERÁ QUAL. CAVALGUE PARA LONGE DAQUI, MEU AMIGO.

SIGA ADIANTE E ÑÃO VOLTE JAMAIS!

O N e g r i n h o p e g o u s u a t ro u xa d e ro u p a s, o s t o r r õ e s e p a r t i u . O d i a c l a re a va .


reu E o que ocor y? na As m co ? Ela se salvou

RÁ!

VOCÊ É MESMO IMPACIENTE, MENINO. O RAPAZ BATEU NA CASA DOS PAIS DA MOÇA. AOS PRANTOS, ELE DESTILOU UMA HISTÓRIA VENENOSA CONTRA A CURANDEIRA.

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NA ALDEIA, A NOTÍCIA ESPALHOU-SE COMO FOGO EM PALHA SECA. LOGO, FORMOU-SE UMA MILÍCIA. OS ALDEÕES ENTRARAM NA MATA POSSUÍDOS POR UMA DO EN TE SE LVAG ER IA E ARMADOS COM FACÕES, GADANHAS E TOCHAS,

MAS QUANDO AREIRA, CHEGARAM À CL . NTRARAM N A DA E N CO

A S N AY CERA D E SA PA R E SA M E N T E . M IS T E R IO

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- O S A L D E Õ E S d e p re d a ra m e i n c e n d i a ra m o s í t i o . O sumiço de Asnay aumentou-lhe a fama de feiticeira. Os aldeões chamaram o lugar de amaldiçoado e inventaram histórias horríveis para que as crianças não fossem bisbilhotar por lá.


- C u r i o sa m e n t e a l g u ns a l d e Ăľ e s j u ra ra m t e r v is t o u m e s t ra n h o b Ăş f a l o c o r re n d o p e l a s re d o n d e z a s.


lha, Do topo da coxi ou rv se ob o Negrinho ssa pe es ça ma fu uma esta. no meio da flor -se s lembrou ornar, ma et r : em ou snay A pens dação de da recomen e não d iante is ” . “ S ig a a ama j v o lte

E Apertou o passo.

AO AmanheceR, Ele cruzou um capão de mato e encontrou a tropa.

Foi fácil identificar o Baio. Alegrou-se.

A pelagem dourada reluzia iluminada pelos primeiros raios da manhã.

O Negrinho aproximou-se com um andar macio. Mostrou os torrões de açúcar para o Baio.

O animal deleitou-se.


O NEGRINHO E O BAIO TORNARAM-SE PARCEIROS INSEPARÁVEIS.

COMO ERAM DE BOM TRATO, SEMPRE TINHAM SERVIÇO AQUI E ACOLÁ.

URADA INADA IROS ANHÃ.

MA S

Antes da Horda chegar?

ISS O.. .

ISSO MESMO! VOCÊ É UM ESPECTADOR ATENTO, MENINO.

OIS S D E O AM TIR PA R E N D O P R O M L H A S. I X CO

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Capítulo 8

{ QUANDO SOAM AS TROMBETAS } E n t a rd e c i a n a A l d e i a d o s O r i x á s. A c i d a d e s e e sp a l h a va n a p l a n í c i e d a c ra t e ra . E ra a t ra ve s sa d a t ra ns ve rsa l m e n t e p o r u m a m a g n í f i c a e sp l a n a d a p a v i m e n t a d a c o m p e d ra s i r re g u l a re s e l a d e a d a p o r d o z e g ra n d e s t o t e ns d isp o s t o s s i m e t r i c a m e n t e , s e is a o n o r t e e s e is a o s u l . Um décimo terceiro totem de luz emergia do ponto central da esplanada em direção ao espaço.

Era o fogo primordial de Olorum.

O fogo demarcava o ponto de reunião dos habitantes e ali nada podia se construir. As outras edificações - obeliscos, colunas, monumentos e cabanas - erguiam-se em direção às florestas, charnecas, praias e morros ao redor.

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O g u m , o S e n h o r d o Fo g o e d a Te c n o l o g i a , t ra b a l h a va e m s u a o f i c i n a q u a n d o e s c u t o u o p r i m e i ro t o q u e d a t ro m b e t a . E l e a t i ç a va v i g o ro sa m e n t e a f o r j a , c o ns t r u í d a n o c e n t ro d a p e ç a . O c a r v ã o i n c a n d e s c i a e sp a l h a n d o f u m a ç a e c a l o r. E n x u g o u a t e s t a e c o m u m a t e n a z t i ro u c u i d a d o sa m e n t e a b a r ra d e a ç o d a f o r j a . O g u m m a r t e l o u o m e t a l a i n d a r u b ro n a b i g o r n a .

E n t ã o , a t ro m b e t a s o o u p e l a s e g u n d a ve z . O g u m s e d i r i g i u à j a n e l a p a ra ve r o q u e a c o n t e c i a . A o f i c i n a d e O g u m , e s c u l p i d a e m u m a e n o r m e p e d ra l u n a r, f i c a va n o a l t o d e u m m o r ro s i t u a d o a o n o r t e d a a l d e i a . O g u m p e rc e b e u u m a m ov i m e n t a ç ã o e s t ra n h a n o c e n t ro d a e sp l a n a d a .

E o t e rc e i ro t o q u e e c o o u .

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E l e l a rg o u ra p i d a m e n t e s e us a p e t re c h o s e c o r re u a t é a c o c h e i ra . M o n t o u e m s e u c a va l o b ra n c o e vo o u .

D e z e n a s d e o r i x á s a g l o m e ra va m - s e p r ó x i m o s a o t o t e m d e l u z . E l e o b s e r vo u q u e j á e s t a va m p o r a l i X a n g ô , o D o n o d o Trov ã o , I a ns ã , a S e n h o ra d o s Ve n t o s e d o s R a i o s, e O x u m a r ê , D e us d o M ov i m e n t o . E n q u a n t o a p e a va d o c a va l o , e s c u t o u u m a vo z c o n h e c i d a q u e e n t o a va u m a c a n t i l e n a e m m e i o à m u l t i d ã o .

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Capítulo 9

{ EXU SEMEIA A CIZÂNIA }

E x u e s t a va e m t ra ns e e b a n h a d o e m sa n g u e . Cantava e dançava encurvado arrastando os pés na pedra. Outros orixás se aproximavam do entrevero. Exu calou-se e abriu os olhos.

O g u m n o t o u q u e e l e s e g u ra va a l g o c o n t ra o p e i t o . - Trago severas notícias para o panteão dos Orixás - d is s e E x u . A multidão silenciou-se. -

O c o r re u m a g ra ve G u e r ra n o F i r m a m e n t o - falou Exu.

- Três Templos se enfrentam em um combate sem precedentes. -

Vo ra z . C o n f l i t o vo ra z . Um vórtice de destruição arrasa povos,

planetas e crenças. L e n t a m e n t e , E x u d e s c r u z o u o s b ra ç o s e m o s t ro u u m e m b r u l h o e nsa n g u e n t a d o . D e p o s i t o u o p a n o n o c h ã o e d e l e re t i ro u a s v í s c e ra s d e u m a n i m a l . E x u j o g o u - a s e m u m a p i ra . U m a f u m a ç a e sp e s sa e rg u e u - s e e m e sp i ra l c o n t o rc e n d o - s e c o m o u m a s e r p e n t e . Fo r m o u - s e u m a n e l l u m i n o s o o n d e , p o u c o a p o u c o ,

o s o r i x á s e n xe rg a ra m a i m a g e m d e u m r i o .

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VEJ AM POR MES SI MOS !

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- N a e n c r u z i l h a d a , e u v i q u a t ro d e s g ra ç a s ! - b ra d o u E x u . - A p r i m e i ra v i t i m o u o s p e i xe s. R i o s, l a g o s e m a re s c o b r i ra m - s e d e p e i xe s m o r t o s.

- A s e g u n d a c a l a m i d a d e a f l i g i u a s a ve s. A s g a r ç a s e s t re b u c h a ra m e e s t e n d e ra m u m m o r i b u n d o manto branco por praias e m a n a n c i a is.

- A t e rc e i ra p ra g a a b a t e u - s e s o b re a sa f ra . Va s t a s p l a n t a ç õ e s d e m i l h o a rd e ra m e m c h a m a s.

- A q u a r t a c a l a m i d a d e d i l a c e ro u o g a d o . R e b a n h o s t o m b a ra m p u t re f a t o s e m p e s t a n d o o s c a m p o s. E n t ã o , E x u a q u i e t o u - s e e a s s u a s f a c e s s e re n a ra m . S a í ra d o t ra ns e .

- M a s o q u e é e s t e c i rc o ! ? ! ? - i n d i g n o u - s e O g u m . - Is s o é c e r t a m e n t e m a is u m a d e s u a s t o l a s b r i n c a d e i ra s. - É melhor você se explicar melhor, Exu! - disse severamente Iansã . TA S OMBE AS TR M E D PO NÃO OR P R A TO C E! N DA D LEVIA

É V E R DA D E . M IN HA FA M A M E PR EC ED E.

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ERO O CONSID MAS NÃ ZER A R T NCIA IMPRUDÊ AGEM TÃO S N UMA ME COMO ESSA, NTE IMPORTA


AFINAL NÃO SOU O MENSAGEIRO, QUERIDA DEUSA?

SEJAM AS NOTÍCIAS BOAS OU RUINS, ESTE É O MEU OFÍCIO.

O QUE EU FAÇO, REALIZO COM GRAÇA. NÃO TENHO CULPA SE VOCÊ NÃO TEM TALENTO.

COMO E REV S E AT AR A FA L M!!! ASSI E QUEM ESTÁ GRITANDO COMO UM DOIDO É VOCÊ, MEU CARO IRMÃO BRIGUENTO.

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Ogum avançou sobre Exu, mas foi impedido por Xangô que se interpôs entre os dois.

- Calem-se! - bradou ele. - Suas diferenças pessoais não importam. - Bom, se há mesmo uma Guerra no Firmamento, temos que nos preparar para lutar! - falou Ogum. - Esperem! Precisamos confirmar os fatos. - disse Iansã. - Xapanã, você tem algo a ver com isso? Uma figura esguia, até então despercebida entre o grupo, pareceu assustada, como se descoberta em um esconderijo.

Era Xapanã, o orixá das pragas e das doenças. - Eu!? Não... - respondeu apressadamente Xapanã. -Estava só de passagem quando ouvi as trombetas. E vim conferir. - Você assistiu a alguma batalha, Exu? - indagou Xangô. - Não, eu não quis me aventurar tão próximo. Contentei-me com os bastidores. Os indícios me bastaram. Ademais - disse pausadamente Exu -, tinha que trazer logo a notícia para a aldeia. - Bom, realmente,

si n t o u m a v i b ra ç ã o a n o r m a l - falou Oxumarê.

- Mas não consigo perceber exatamente de onde provém ou que efeito pode causar. -

As m a r é s a c o rd a ra m i n q u i e t a s n e s t a m a n h ã -

confessou Iemanjá, a Senhora dos Mares. - Precisamos nos decidir, se aguardamos ou lutamos - ponderou Xangô.

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- Va m o s l u t a r ! - gritou uma facção. - G u e r ra ! - bradaram outros. - N ã o ! F i c a re m o s e m p a z ! - disse outra turma. - A luta é o caminho - comentou Ogum a Oxóssi, deus da caça e da fauna. Iansã juntou-se à Iemanjá, chamou Obá, a Deusa das Mulheres, e Oxum, a Orixá da Beleza e do Amor, e conferenciou:

- N ã o p o d e m o s d e i xa r q u e is s o o c o r ra . Encostado displicentemente em um totem, Exu observava a discussão com um discreto sorriso. Então, a multidão começou respeitosamente

H a v i a m c h e g a d o O xa l á , o M a i o r e o P r i m e i ro O r i x á , o C r i a d o r d o M u n d o N a t u ra l , e N a n ã , a G u a rd i ã d o S a b e r A n c e s t ra l . Todos ali reverenciaram o casal. Eles ergueram a se abrir.

os braços em direção ao fogo de Olorum.

- J á é n o i t e e a e s c u r i d ã o p e r t u r b a o p e nsa m e n t o proferiu Oxalá. - A situação requer reflexão e serenidade. Nanã complementou: - Oxalá fala sabiamente. Não devemos nos precipitar.

Va m o s e s va z i a r o p e nsa m e n t o e c o ns u l t a r o s b ú z i o s. Descansaremos e amanhã, ao cair da tarde, tomaremos uma decisão. Depois disso, ninguém ousou proferir qualquer palavra. A multidão se desfez. Os orixás recolheram-se para suas cabanas e congás.

Ogum montou em seu cavalo e voou velozmente para a oficina.

75


a palavra o Menino, ent da ao v foi sopra

g uém e nin . escutou

Somos o únic o bicho que mata e maltrata por prazer, ganância e intolerânc ia.

idez A estup não d o Homem . tes mi tem l i

mos Esta

dos. xica

into

d emos P er . a nossa x ão cone

rado Você está lemb oferiu, pr Santa a do que o? cert

TUA SINA É FICAR?

s palavra sim. As araM ix e d da Santa e o Baio ho o Negrin iança f com con ia. e valent


Capítulo 10

{ A CANÇÃO DE SIMÃO : O PRIMEIRO EMBATE }

- Os dois partiram a galope para enfrentar o inimigo. Mesmo desarmados, eles sentiam que haveria alguma forma de lutar. C o m o u m c o n d e n a d o à f o rc a q u e e sp e ra a t é o ú l t i m o s e g u n d o p a ra q u e a c o rd a s e ro m p a q u a n d o o c a d a f a ls o a b r i r. - Ao e n t a rd e c e r d e u m d i a c i n z e n t o , a o c h e g a r a u m a p l a n í c i e , e l e s v isl u m b ra ra m n o h o r i z o n t e o h o r re n d o i n i m i g o . Pa ra l isa d o s p e l o m e d o , a c o ra g e m e xa u r i u - s e a u m s ó g o l p e .

- O N e g r i n h o e o B a i o n u n c a e sp e ra va m c o n f ro n t a r - s e c o m t a l m o ns t r u o si d a d e . - A Cidadela, uma gigantesca máquina ambulante, movia-se lenta e incessantemente amparada por tentáculos. Na parte superior, chaminés lançavam uma fumaçada densa. Uma torre central pontiaguda - como uma navalha rasgando as nuvens no firmamento - e ostentava um macabro relógio cujos ponteiros giravam tão rápido que pareciam sugar o tempo ao redor. - O s e r a b is sa l p o s s u í a t r ê s ro s t o s : u m e m i t i a u m s i l vo m e d o n h o ; outro trazia uma bocafornalha que rosnava lava e enxofre; o terceiro tinha as órbitas negras e narinas que expeliam línguas de fogo impregnadas de gases tóxicos, cancerígenos e radiativos. - O monstro destruía, capturava e incorporava o que encontrasse: castelos, vilarejos, casebres, florestas, tropas de animais.

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- E m u m a d a s j a n e l a s s u p e r i o re s d a C i d a d e l a , o Es t a n c i e i ro e s e u F i l h o s e d e l i c i a va m c o m o t e r ro r.

Simã o ca ntou co m p e sar :

A H O R DA C H E G O U [ O E S TA N C I E I R O ]

O CORAÇÃO É FRIO A ALMA É PEDRA O C O R P O É N A DA O OUTRO É NINGUÉM [O FILHO]

C O I SA R U I M S E P E R C E B E A L É G UA S ESTE É UM QUE SÓ VÊ A SI MESMO O UMBIGO É O MUNDO O OUTRO É NINGUÉM

80



82


O N e g r i n h o n o t o u q u e h a v i a u m a re s is t ê n c i a q u e c o m b a t i a m b ra va m e n t e o s i n va s o re s.

Mas como lutaria sem armas? O mulatinho observou que, ao seu lado, jazia um corpo virado de bruços. Apeou do cavalo. Com tremendo esforço, o Negrinho virou o cadáver. Era um índio. Sob o corpo, encontrou boleadeiras e uma lança. Ele reverenciou o morto e pegou as armas.

M o n t o u o B a i o e j o g o u - s e e m d i re ç ã o à p e l e j a .


E l e s n ã o t i ve ra m a m í n i m a c h a n c e . O N e g r i n h o f o ra d e r r u b a d o v i o l e n t a m e n t e d o l o m b o d o c a va l o p o r u m d o s á g e is t e n t á c u l o s d a C i d a d e l a . O e x é rc i t o d a H o rd a , m a is n u m e ro s o e m e l h o r e q u i p a d o , l i q u i d a ra o s re b e l d e s c o m f a c i l i d a d e .

Po r m i l a g re , o B a i o c o ns e g u i ra e s c a p u l i r.

O s s o b re v i ve n t e s s e r v i r i a m c o m o e s c ra vo s n a C i d a d e l a .

O N e g r i n h o , a t o rd o a d o , v i u a d eva s t a ç ã o n o s c a m p o s c o n q u is t a d o s. U m ra s t ro d e d e s t r u i ç ã o s e e s t e n d i a a o l o n g e . F l o re s t a s q u e i m a d a s. P l a n t a ç õ e s a r r u i n a d a s. C o r p o s e m p i l h a d o s. O s a n i m a is c a p t u ra d o s e ra m a g re g a d o s a o vo l u m o s o re b a n h o d a H o rd a .

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S o b a s o m b ra a m e a รง a d o ra d a C i d a d e l a , o Es t a n c i e i ro e o F i l h o p a s sa va m e m re v is t a a t ro p a e o s i n i m i g o s p re s o s. O Es t a n c i e i ro c a m i n h a va s o l e n e m e n t e . O F i l h o v i n h a l o g o a t r รก s x i n g a n d o e c usp i n d o n o s p r is i o n e i ro s.

Ao s e d e p a ra r c o m o N e g r i n h o , o F i l h o e s t a n c o u .

OLhA aQueLe aLi!


QUE .. .! ANHO ESTR I A V NUNC Ã O .. . M É T ALGU O. H RIN ESCU

VOC Ê NÃO PARE CE UM GUER REIR O.

87


- Nisso, o Estancieiro notou uma polvadeira pr贸ximo dali. Alguns homens mal conseguiam conter um animal - disse Sim茫o.

Era o Baio que negaceava e coiceava. UEM NEM CONSEG VALO! CA M U DOMINAR

OS! S O L DA D ANEIA M COLOQUEM A O. NESTE BICH


E Terminada a revista, o Estancieiro inho tornou o Negr o crav seu es . ar ul partic

nho e so z i f i cou o H O .. . NEGRIN nho e so z i f i cou o H O .. . NEGRIN


E m u m a o b s c u ra r u e l a n a A l d e i a d o s O r i x á s, d o is v u l t o s s e e s g u e i ra va m p e l a s s o m b ra s.

QUE MUDE O QUE DEVE SER MUDADO.

E AGORA?

C a p í t u l o 11

{ UMA CONVERSA MUITO SUSPEITA }

ELES FICARAM REALMENTE PREOCUPADOS.

AS COISAS SERÃO REVELADAS NO TEMPO CERTO.

SENTIRAM QUE HÁ ALGO ERRADO.

SERÁ QUE...?

MAS ? E O OGUM

ELE ME PARECEU MUITO EXALTADO. O QUE FAREMOS?

NADA. FIQUE TRANQUILO.

POR ORA, VAMOS OBSERVAR O QUE ACONTECE.

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Sorrateiramente, os dois tomaram rumos diferentes no seio da cidade. E m d i ve rs o s p o n t o s d a c ra t e ra , o s a t a b a q u e s re sp e i t o s o s e c o n t i d o s . N ã o e ra u m t o q u e O b a t u q u e e a c a n t o r i a c l a m a va m re sp o s t a s. A madrugada chegou hesitante e se embebeu e m u m a e s t ra n h a p e r t u r b a ç ã o . Ninguém dormiria bem aquela noite.

91

re t u m b a va m f e s t i vo .


Capítulo 12

{ INFINITOS DIAS DE SOLIDÃO }

O Negrinho amargava os dias no vil cotidiano da Cidadela. M a s n ã o e ra o ú n i c o . C e n t e n a s d e e s c ra vo s c i rc u l a va m a p re s sa d o s p e l a s v i e l a s f é t i d a s e e s t re i t a s, e n t ra n h a s d e u m o rg a n ism o d o e n t e , e n t u p i d a s d e s u b s t â n c i a s v is c o sa s e d e j e t o s m a l c h e i ro s o s.

O Estancieiro administrava o monstrengo com rédeas curtas. O F i l h o a u x i l i a va e m t a re f a s d e e sp i o n a g e m e d e g e re n c i a m e n t o .

A e x p a ns ã o d e t e r r i t ó r i o s e ra p r i o r i d a d e . A Cidadela necessitava constantemente de mais recursos para alimentar e pagar o crescente exército da Horda, formado por mercenários e malfeitores. Dessa forma, o Estancieiro mantinha satisfeitos os Senhores da Guerra, generais balofos que, na sala de comando, se entretinham excitados com seus planos de ataque. A Cidadela precisava igualmente extrair minérios para que os cientistas e engenheiros pudessem aprimorar o funcionamento das engrenagens da máquina e os poderosos tentáculos. O complexo se completava com calabouços, alojamentos, incubadoras-quartéis, incubadorascorporativas, casa de fornalhas, despensa, cozinha, prisão e as famigeradas salas de tortura e de expurgo.

N a C i d a d e l a , a g u e r ra e ra a d i ve rs ã o . A Horda trouxera trágicas mudanças às regiões conquistadas. Paisagens verdejantes tornaram-se desertos. Erosões de terra proliferaram. Rebanhos enlouqueceram. Rios secaram. O clima mudara radicalmente. Tornados. Inundações. Estiagens. Tempestades. Incêndios. 92


ONDE FORAM PARAR OS CAVALOS?

93


94


No alto da Cidadela, o Estancieiro observava a chuva ácida que se debatia ferozmente contra as vidraças da janela do escritório.

Ele segurava uma caixa. “Como as pessoas são supersticiosas!” - vociferava ele. “Tolas. Manipuláveis! Como podem se apegar a crendices tão bobas! É somente uma caixa.” Muitas vezes, os aldeões se deixavam capturar, passar por torturas inomináveis, só para estar perto daquele artefato. Alguns fanáticos chegavam a criar pequenos grupos secretos e construir altares

E l e s a f i r m a va m q u e a C a i xa c o n t i n h a u m f ra g m e n t o d o c o r p o d e u m a n t i g o d e us e q u e t o d o o p o d e r d a H o rd a p rov i n h a d e l e .

para veneração da Caixa.

Por pura diversão, o Estancieiro permitia que eles se organizassem para, em seguida, rechaçar com violência destruindo aqueles cultos ridículos. Mesmo descrente, o Estancieiro nunca se arriscara a abrir a caixa. Po r p re v i d ê n c i a , a m a n t i n h a t ra n c a f i a d a n o c o f re e n ã o c o n t a va o s e g re d o d a c o m b i n a ç ã o , n e m m e sm o p a ra o s e u F i l h o . O artefato tornara-se um fardo. Por outro lado, dele provinha sua segurança.

Fa z e r p a r t e d a H o rd a t i n h a u m p re ç o . Nisso, o Coisa Ruim bateu à porta do escritorio.

O c a va l o B a i o e u m a p a r t e d a t ro p a e s c a p u l i ra . O Estancieiro esbravejou. Por um momento, pensou em ir, ele mesmo, atrás dos animais fujões. Então, olhou a forte chuva que caía e - velhaco - lembrou-se do Negrinho. Determinou ao Filho que o mulatinho resgatasse a tropa, que voltasse antes do amanhacer... e que fosse a pé.

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- O Negrinho procurou, procurou... E nada encontrou - disse Simão. - Desesperou-se. A tropa sumira. Como se procurasse fantasmas na

escuridão.

Encharcado

dos

pés

à

cabeça,

ele

sentou-se

sob uma frondosa árvore e mergulhou em um véu de melancolia. Simão cantarolou:

N O I T E S D E I N F I N I T O PA S T O R E I O I N F I N I TO S D I A S D E S O L I D Ã O N O I T E S D E I N F I N I T O PA S T O R E I O I N F I N I TO S D I A S D E S O L I D Ã O



E a Santa? Ela não poderia ajudar o Negrinho?

VA E S TA O. ELE IZAD ROR R E AT

O MEDO FAZ COISAS TERRÍVEIS COM A GENTE, MENINO. MAS...

, NTADO ALI, SE HO IN O NEGR U. LMO SE ACA

O DESESPERO CEDEU LUGAR AO PENSAMENTO. IDEIAS ILUMINARAM SEU CORAÇÃO.

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-ENTÃO, O NEGRINHO VIU AS FORMIGAS E DISSE:

EU TE NH O UM A M IS SÃ O,

- A TRILHA DAS PEQUENINAS MOSTRAVA-LHE UM OCO NO TRONCO DA ÁRVORE.

ALI, ELE ACHOU UM PEQUENO ORATÓRIO - DISSE SIMÃO. - COM CUIDADO, O NEGRINHO ABRIU A PORTINHOLA E ENCONTROU UM COTO DE VELA E FÓSFOROS. COMO ELE FICOU FELIZ!

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- Se m de longa s, o mula tinho a cen d e u a ve la e c o n tin u o u s u a bus c a - e n u n c i o u S i m ã o .

- D e c a d a p i n g o d e c e ra q u e c a í a n o c h ã o , s u rg i a u m a n ova l u z . E m p o u c o t e m p o , a p a isa g e m c l a re o u . C o m o s e a s e s t re l a s v i e s s e m re p o usa r n o c a m p o . C o m a n i m a ç ã o , o ve l h o re t o m o u s u a c a n t i l e n a :

T U M P T TA P T VELA NA MÃO T U M P T TA P T PINGO NO CHÃO T U M P T TA P T É VIBRAÇÃO T U M P T TA P T CONSTELAÇÃO

10 0


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- Quem procura, acha. Antes do cantar dos galos, o Negrinho encontrou o Baio e os cavalos e riu. Riu. Riu. Riu!!!!! - disse Simão com tal ênfase que fez o Menino sorrir. - É, nem tudo é tão terrível na vida - comentou Simão.

- E as histórias, Menino, são uma grande invenção. - Invenção? - intrigou-se o rapaz. - Sim. Porque, de um lado, há o plano da Imaginação; e de outro, o plano da Existência, o cotidiano ordinário, se preferir - explicou.

-Somos a comunhão da Imaginação e da Existência. O Menino franziu a testa. Simão percebeu que tinha fome. - Vamos parar um pouco e nos alimentar. Assim, poderei contar isso de outra forma. Calculo que ainda tenhamos tempo. O nosso destino está próximo - disse o velho.

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Capítulo 13

{ “VAMOS LUTAR!” } Iansã apressou o passo. Seu vestido coral agitou-se iluminado pelos últimos raios da tarde.

A hora da reunião dos Orixás se aproximava. Ela se escondeu atrás de uma moita e observou a oficina de Ogum. S i l ê n c i o . Não reparou em nenhum movimento através das janelas. Achegou-se. Olhou a cocheira. Estava vazia. Foi até a porta dos fundos e encostou seu ouvido. Nada. Estava quieta tal uma tapera. Com certeza, Ogum saíra. Com cautela, Iansã abriu a porta e entrou.

A forja ainda luzia. O ar estava empestado com odores de metais. Iansã lembrou-se que, há muito tempo, não colocava os pés ali. A oficina estava uma verdadeira bagunça. Ogum nunca fora organizado. Repentinamente, ela percebeu um brilho dourado em um canto da peça. Caminhou até lá e retirou o manto que cobria a pilha. Iansã encontrou centenas de lingotes de ouro e, na mesa ao lado, moldes e um projeto de um artefato. - Não é possível! - gritou Iansã.

- Ogum não seria capaz!

Iansã saiu da oficina, invocou a ajuda dos ventos e levitou. Do alto, ela enxergou a marca de um grande círculo que se desenhava no terreno atrás da cocheira. O sol se pôs e a noite principiou a estender seus domínios.

Iansã transmutou-se em vento e ventou.

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Na esplanada da Aldeia, os Orixás discutiam severamente. A f a s t a d o d a m u l t i d ã o , E x u p a re c i a e s t a r s e d i ve r t i n d o m u i t o .

- Va m o s l u t a r ! - b ra d a va O g u m . - N ã o ! Vo c ê e s t á i nsa n o ! - d is s e I e m a n j á . - O s d e us e s e s t ã o a q u i p a ra s e r v i r e s e re m s e r v i d o s ! - g r i t o u X a n g ô . -

Essa guerra não é nossa. Você não ouviu o que disse pai Oxalá?

Duvido que seja uma ameaça aos Orixás. - O s Te m p l o s re t o m a r ã o o j u í z o p o r s i p r ó p r i o s - p ro f e r i u O xa l á .

- E o E q u i l í b r i o s e r á re t o m a d o . - N ã o ! - g r i t o u O g u m . - E u n ã o a c e i t o . Os Orixás irão à Guerra! O g u m t o m o u i m p u ls o e p u l o u p a ra f o ra d a e sp l a n a d a . E a s s ov i o u . S u b i t a m e n t e , u m a e n o r m e re d o m a d e o u ro c a i u s o b re o s d e us e s.

O s o r i x á s e s t a va m p re s o s ! O gigantesco artefato estava camuflado em uma nuvem escura e densa e sustentado pelo cavalo de Ogum.

E m u m s ó g o l p e , O g u m a p r isi o n a ra t o d o s a l i . D e n t ro d a re d o m a , o s O r i x á s i n vo c a va m e m v ã o s e us p o d e re s p a ra t e n t a r ro m p e r a p r is ã o . O xa l á e N a n ã p e r m a n e c i a m c a l a d o s. P r ó x i m o a u m a p i ra ,

E x u n ã o s o r r i a m a is.

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É FEITO

DO MAIS PU RO OU RO ERAÇÃO. QUE ALGUM DEUS JÁ DESEJOU EM VEN RES PODE OS NOSS E VOCÊS SABEM QUE IMO PRÓX I AQU FICAM ENFRAQUECIDOS

AO FO GO DE OL OR UM .

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- Vo c ê e s t á m e sm o l o u c o ! - g r i t o u X a n g ô . - A i n d a m a is s e a c h a q u e vo u d e i xa r vo c ê n o s a p r is i o n a r a s s i m ! X a n g ô i n ve s t i u s e u m a c h a d o c o n t ra a s g ra d e s e f o i v i o l e n t a m e n t e a r re m e s sa d o p a ra t r á s.

- Pa re m ! - d is s e I e m a n j á . - Q u a n t o m a is usa re m s e us p o d e re s, m a is e l e s s e r ã o d re n a d o s. Es t a g a i o l a f u n c i o n a c o m o u m a e sp é c i e de máquina.

O g u m e s t á s u g a n d o o s n o s s o s p o d e re s.

- Você é sensata, cara irmã - falou Ogum.

- N ã o q u e ro f a z e r m a l

a nenhum de vocês. Estou pegando emprestado um pouco do poder de cada um. Sei que pai Oxalá entende o que eu preciso fazer. É a minha índole. Agora, não tenho mais tempo para explicações.

- V i a j a re i a o m u n d o d o s H o m e ns - p ro s s e g u e o S e n h o r d a Te c n o l o g i a . - L á i re i m o l d a r m e u e x é rc i t o . - I re i a c a b a r c o m e s t a G u e r ra n o F i r m a m e n t o . - Q u a n d o re t o r n a r, p ro m e t o q u e t o d o s s e r ã o l i b e r t a d o s e g a n h a r ã o p re s e n t e s e sp e c i a is.

- Q u e O l o r u m n o s p ro t e j a . O s O r i x á s i r ã o à g u e r ra ! Ogum invocou suas roupas e armas de batalha, montou em seu cavalo e voou em direção ao céu.

N e s s e m o m e n t o , I a ns ã c h e g o u à Esp l a n a d a . - O h , m e d e s c u l p e m . . . - f a l o u c a b isb a i xa . - Não pude evitar o plano de Ogum. - Ao m e n o s, vo c ê e s t á l i v re . E p o d e n o s a j u d a r - c o ns o l o u I e m a n j á .

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- Vo c ê p o d e n o s v i n g a r ! - d is s e O b á . - É , O g u m m e re c e u m a l i ç ã o . - f a l o u O x u m . - Es t o u c o m m e d o . O g u m e s t á f o ra d e s i e e s t á m u i t o p o d e ro s o - re sp o n d e u I a ns ã . - N ã o s e i s e c o ns e g u i re i e n f re n t á - l o . - E c o m o vo u t i r á - l o s d a í ? N a n ã s e a p rox i m o u d a s g ra d e s, d e m ã o s d a d a s c o m O xa l á . - Vo c ê t e m m a is f o r ç a d o q u e p e nsa . - d is s e N a n ã . - M a s, p a ra n o s l i b e r t a r, t e r á q u e s e l i v ra r d e s e us p r ó p r i o s t e m o re s e ra n c o re s.

A c o m p re e ns ã o é o c a m i n h o .

- É h o ra d e i n ve n t a r u m a h is t ó r i a , m e n i n a . C r i e . I nsp i re . O u ç a a h is t ó r i a q u e t o c a n o s e u i n t e r i o r - d is s e O xa l á . - Q u e h is t ó r i a ? - i n d a g o u I a ns ã . O xa l á a g i t o u s e u c e t ro d e s e n h a n d o c í rc u l o s i r re g u l a re s n o e sp a ç o . O m ov i m e n t o d o c e t ro g e ro u u m f o r t e p o n t o l u m i n o s o . E ra u m a p o m b a b ra n c a q u e vo o u ve l o z m e n t e p a ra f o ra d a re d o m a a t i n g i n d o o p e i t o d e I a ns ã .

Ao s g i ro s, e l a s e e l evo u e n vo l v i d a p o r u m a t e m p e s t a d e d e ve n t o e e l e t r i c i d a d e . I a ns ã e s c u t o u u m a h is t ó r i a re t u m b a r d e n t ro d e s i .

S o ns e c o a va m e m u m vo l u m e q u a s e e n l o u q u e c e d o r.

111


11 2


I a ns ã s e t ra nsm u t o u . U m p o t e n t e ra i o c h isp o u o s c é us d a s g a l á x i a s e d i m e ns õ e s.

11 3


Capテュtulo 14

{ O SOPRO DO DRAGテグ }

11 4


No Mundo dos Homens, Ogum arregimentou seu exército. Ele

e ns i n o u a o s h u m a n o s o p o d e r d a t e c n o l o g i a e d o f o g o .

O b s e r vo u a f a c i l i d a d e c o m q u e e l e s f o r j a va m a s a r m a s n a s o f i c i n a s. Entusiasmou-se. Os homens eram mesmo talhados para a batalha. Ogum estava orgulhoso. Em breve, ele poderia colocar seu plano em curso.

Os Templos beligerantes conheceriam o poder dos Orixás. Es sa g u e r ra i r i a t e r m i n a r a q u a l q u e r c us t o . E l e f o i d e s c a nsa r n o t o p o d a c o l i n a . D e l á , c o n t e m p l o u e x t a s i a d o a e x t e ns ã o d e s u a s t ro p a s e m á q u i n a s d e g u e r ra . E n t ã o , e l e o u v i u u m r u í d o s e m e l h a n t e a o ro n ro n a r d e u m f e l i n o . QUEM Ê, É VOC O? I N DEMÔ

O QUANT ÍCIO RRRD R R E P S DE IA, RRRRG DE ENE

NÃO

É?

11 5


C o m a u n h a , a m e n i n a ra s g o u a p e l e n a a l t u ra d a b a r r i g a .

R R R R ... VOCÊ ESTÁ

DO IN E B R R IA ER. D O P PELO

ME NÃO ECE ONH C E RRR S? MAI

ES TA N Ã O É S UA GU ER R R R A.

G UA R D E A E S PA DA . NÃO ESTOU AQUI

PARA

. L U TA R R R R

RRRR .. . VENH O EM PA Z . TRAGO U M A MENSA GEM DA IRRR DOS DRA MANDADE GÕES.

EM NOME

11 6


A S UA E IR A V E R R R DA D A H L BATA O. IG M É CO

DEVE VOCÊ ESTE RRR NTO. PARA IME END

EMPRE

TÁ Ê ES VOC O AND FA L ! E IC S TO L

RO QUE O AS Ã N E SU D ! ER SA B RAS

MEN

11 7

TI


um S omos ho l O espe . d o outrrro

o que Afinal, leiro... é um cava .. . R rrrrr

um

Voc ê

letament

p Está com

ce g o .

. . . sem ão ? D rrag

para

matarrr

EU Não acredito em você , dragão !

e


Ogum atacou. e n f i o u a e sp a d a n o c o ra ç ã o d o D ra g ã o .

Num golpe ágil,

O a n i m a l n ã o o f e re c e u re s is t ê n c i a .


O d ra g ã o s o p ro u o h á l i t o d a m o r t e n a f a c e d e O g u m . O corpo do animal enrijeceu-se e transformou-se em um rochedo. Ogum aspirou o bafo do dragão. Espantou-se! Não podia acreditar n o q u e e n xe rg a va . E d isp a ro u c o r re n d o c o l i n a a b a i xo e m d i re ç ã o ao acampamento.

S u a s t ro p a s o a g u a rd a va m e m f o r m a ç ã o d e g u e r ra . - Vo c ê e s t á p re s o ! - b ra d o u u m d o s g e n e ra is. - E n t re g u e - s e ! - o rd e n o u o u t ro . - S e u c a va l o j á f o i d o m i n a d o .

- Nós assumimos o comando. - Is s o n ã o é p o s s í ve l ! Is s o é m o t i m ! - re t r u c o u O g u m . As tropas o cercaram. Numa manobra incrivelmente articulada, uma facção se jogou contra as pernas de Ogum. Ele desabou no campo. Outro destacamento estendeu uma enorme rede de aço que imobilizou o orixá. Então, ele escutou o barulho de uma serra.

Ogum, o Deus do Fogo e da Tecnologia, foi retalhado vivo. M a s n ã o o m i t i u u m g r i t o s e q u e r. A f ú r i a q u e s e n t i a p e l a t ra i ç ã o d o s h o m e ns e ra m a i o r d o q u e a d o r. D e p o is, o s g e n e ra is re u n i ra m - s e e d e c i d i ra m e sp a l h a r o s p e d a ç o s d o o r i x á n a s m á q u i n a s d e g u e r ra m a is t e r r í ve is. Assim - pensavam os Senhores da Guerra - poderiam usufruir o poder dos orixás em todas as frentes de batalha e seriam invencíveis.

Um ciclo de destruição começou. Batalhões, tanques e Cidadelas tomaram curso para os quatro cantos do planeta.

120


O g u m s u c u m b i u a o D ra g 茫 o de sua pr贸pria soberba.

1 21


Capítulo 15

{ DYNAMIKÓS } S i m ã o e o M e n i n o c h e g a ra m à m a rg e m d e u m a ç u d e .

GAROTO, PEGUE A SACOLA.

VOCÊ VAI ENCONTRAR PÃO, TOICINHO E UM CANTIL. ESTÃO BEM NO FUNDO.

a, culp Des Simão, ei. h seu ão ac n mas

Só velas e roupas.

122


O s d o is s e a c o m o d a ra m e c o m e ra m .

PROCURE DE NOVO! TENHA VONTADE DE ENCONTRAR.

Achei!! Simão limpou a boca. L e va n t o u - s e e d isp ô s ve l a s a o re d o r d o s d o is.

MENINO, PEÇO QUE VOCÊ FIQUE TRANQUILO E RELAXADO.

Agora, me conte!

123


S i m ã o s e n t o u - s e c o m a s p e r n a s c r u z a d a s. D e i xo u a s m ã o s s e a s s e n t a re m c o n f o r t a ve l m e n t e s o b re o s j o e l h o s, re sp i ro u f u n d o e c e r ro u a s p á l p e b ra s. O M e n i n o o i m i t o u .

O ve l h o c o n c l a m o u a p re s e n ç a d a s Pa l a v ra s. - N ã o e x is t e s o m e n t e u m a h is t ó r i a s o b re a h is t ó r i a , m a s H is t ó r i a s. E a s m a n e i ra s d e n a r r á - l a s s ã o t ã o d i ve rsa s q u a n t o a s f o r m a s d e V i d a n o C o sm o s. Es t a é a f o r m a c o m o a p re n d i - d e c l a ro u . A s c h a m a s d a s ve l a s t re m u l a ra m e s e e n t re l a ç a ra m e m u m a m a l h a i n c a n d e s c e n t e . U m a b o l h a d e f o g o e n vo l ve u S i m ã o e o M e n i n o . E l e s l e v i t a ra m a t é a t i n g i r o c e n t ro d o a ç u d e .

As Pa l a v ra s v i b ra ra m c o m o s o m e p e nsa m e n t o . O N A DA , CA N SA D O C O M O N A DA , C R I O U O T U D O . TUDO GEROU O UNIVERSO. D O U N I V E R S O S U R G I R A M O S M U N D O S. A N T E S DA S C O I SA S E D O S S E R E S, A S H I S T Ó R I A S J Á H A B I T AVA M E S T E S M U N D O S . OS NOSSOS ANCESTRAIS DESCOBRIRAM O FOGO.

O FO G O D E S P E R TO U A FO R Ç A DA S H I S T Ó R I A S E O P O D E R DA I M AG I N A Ç Ã O . T O D O S O S C A M I N H O S L E VA M A T U D O .

E N T R E T U D O E O N A DA , N Ã O H Á C E R T E Z A S. S Ó O CA M I N H A R . E O C O N TA R . DA C O M U N H Ã O DA E X I S T Ê N C I A E DA I M AG I N A Ç Ã O NASCERAM AS DIFERENTES FORMAS D E C O N TA R A S H I S T Ó R I A S .

124


E S TA C O M U N H Ã O G E R O U D I A L E TO S , L Í N G U A S , S Í M B O L O S , L E N DA S , C O N TO S , R O M A N C E S , T R A D I Ç Õ E S , R E L I G I Õ E S , E P O P E I A S , M I TO S.

T U D O É M OV I M E N TO . D Y N A M I K Ó S . C R U Z A N D O O T E M P O E O E S PA Ç O , A S H I S T Ó R I A S S E R E I N V E N TA M P O R F R U TO DA I M A G I N A Ç Ã O E P O R L E G A D O DA E X I S T Ê N C I A , P E L O D E S E J O D E S E R E M C O N TA D A S , PA R A Q U E N O F U T U R O S E J A M O U T R A S , AT É Q U E C H E G U E M A O D E S F E C H O . E SE VERÁ QUE NÃO FOI O FIM, MAS O INÍCIO DE OUTRA HISTÓRIA.

T U D O V O LT A R Á A O N A D A Q U E , U M D I A , CA N SA D O C O M O N A DA , RECRIARÁ O TUDO.

125


Silêncio. N o c e n t ro d o a ç u d e , a bolha de fogo b r i l h o u i n t e nsa m e n t e .

126


VAMOS, RAPAZ! ACORDE!

O que ? aconteceu

nhor ie O se espéc uma ia...? fez e Mag d

ESTÁ VOCÊ O NAND I M AG I , S A S I CO A PA Z . MEU R

A gente estava voando...?

EU SÓ A EI UM CONT . A I R HISTÓ

S i m ã o e o M e n i n o re t o m a ra m a e s t ra d a . 127


Capítulo 16

{O OUTRO É NINGUÉM } R a i a va o d i a q u a n d o o N e g r i n h o c h e g o u à C i d a d e l a c o n d u z i n d o a t ro p a . M a s o d e s t i n o f o i n ova m e n t e t i n h o s o c o m e l e .

O F i l h o a r m a ra u m a e m b o s c a d a . C O I SA R U I M E N X E R G A A O L O N G E E S E E S C O N D E PA R A A R M A R A R M A D I L H A , A R D I L , TO CA I A N Ã O H Á C O M O E S C A PA R

128


O C o isa R u i m a f u g e n t o u a t ro p a . Matou o Baio. E c a p t u ro u o N e g r i n h o .


O CORAÇÃO É FRIO A ALMA É PEDRA

O UMBIGO É O MUNDO O OUTRO É NINGUÉM

130


SE NH OR , O ES CR AVO RE TO RN OU

SEM

A TR OPA!

1 31


C O I S A ru i m man d a AVI S A R o C A S T IG O n達o tar d a C H E G A R


o U M BIG O é o mun d o o outro é N I N G U É M


E n q u a n t o s u r ra va o N e g r i n h o , o Es t a n c i e i ro n o t o u u m a l vo ro ç o n a C i d a d e l a .

VOCÊ T EM SO MUITA S RTE... O MAS NÃ RTE! O PENSE QUE TE RMINAM OS.

P CA O

O Estancieiro e o Filho saíram do Escritório. O Negrinho sangrava tanto que desmaiou.

D a sa l a d e c o m a n d o d a C i d a d e l a , e l e s a v is t a ra m u m g ra n d e B ú f a l o q u e e sb ra ve j a va e s o l t a va f o g o d a s n a r i n a s, d e sa f i a n d o a H o rd a .

134


RÁ!

ERA QUE SÓ O

VA ! A LTA ME F

M RE TU AL! P CA N I M O A

A C i d a d e l a sa i u e m p e rs e g u i ç ã o a o B ú f a l o .

135


A CIDADELA US DISPARAVA SE S CANHÕES, MA

L O A N IM A OZ ERA VEL E ESCAPAVA DOS ATAQUES.

ENQUANTO A CAÇA CONTINUAVA,

O NEGRI NHO DESP ERTAVA NO CHÃO FRIO DO ESCRITÓRIO.

136


ENTÃO, ALGO IMPROVÁVEL ACONTECEU.

AS DOÍAM AS COST

AVA E SA N G R

M.

ELE MAL PODIA ACREDITAR NO QUE VIA.

NO ACESSO DE FÚRIA, O ESTANCIEIRO HAVIA ESQUECIDO DE GUARDÁ-LA NO COFRE.

CE ÚNICA. NHA UMA CHAN O NEGRINHO TI AMINOU. EX O E TEFATO SEGUROU O AR

O NEGRINHO COM ESFORÇO, LEVANTAR. SE U UI CONSEG

VA P R E C I SA E S CA PA R DA L I . O! E R Á P ID

É UM A! M G I EN

NSIGO NÃO CO-LA! Í ABR

E l e p re c isa r i a d e t e m p o e d e a j u d a p a ra a b r i - l a .

137


E n q u a n t o is s o , e m u m c a m p o re p l e t o d e f o r m i g u e i ro s,

o B Ăş f a l o s u m i u d e v is t a .

C o m o s e o a n i m a l t i ve s s e s e e n t ra n h a d o n a t e r ra .


Ta rd e d e m a is !

O Es t a n c i e i ro e o F i l h o re t o r n a ra m a o e s c r i t ó r i o .

AON

DE

V

PEN OCÊ

SA

E QU

? VA I

139

!


D e p o is d e s u r ra r o N e g r i n h o a t ĂŠ q u a s e a m o r t e , o Es t a n c i e i ro e o F i l h o j o g a ra m o c o r p o d o e s c ra vo

e m c i m a d e u m f o r m i g u e i ro . E ra o m e sm o l o c a l o n d e

o b Ăş f a l o d e sa p a re c e ra .


O Es t a n c i e i ro q u e r i a q u e a s f o r m i g a s d e vo ra s s e m “a c a r n e , o sa n g u e e o s o s s o s. . . ”. E cantou Simão:

O CORAÇÃO É IRA A ALMA É PEDRA O CORPO É VIOLÊNCIA O OUTRO É NINGUÉM

1 41


e a T E R R A se fe z T Ăš M U L O



Capítulo 17

{O SONHO QUE SE FAZ REAL} Simão e o Menino c h e g a ra m a o t o p o d e u m m o r ro .

E a Horda? e Ela exist ? o sm me

ELA É MAIS REAL DO QUE EU E VOCÊ, MENINO.

E A CADA MOMENTO, ELA SE FORTALECE.

MAS A NATUREZA ÇA. TAMBÉM FAZ PIRRA

EU ACREDITAVA NO EQUILÍBRIO.

A HORDA É UMA ANOMALIA. NÃO SEI QUAL O SENTIDO...


Talv ez... eu tenh a

da momento, se ece.

VA M O S !

fim Estamos quase no de nosso caminho.


MENINO, JUNTO

A ESSE UMBU FICA O CAMPO SANTO ONDE OS ANTIGOS AFIRMAM QUE REPOUSAM OS

RESTOS MORTAIS

DO NEGRINHO DO PASTOREIO.

S i r m ã o t i ro u a ú l t i m a ve l a da mala de garupa e a acendeu com todo zelo.

A PARA CAD RANÇA... BOA LEMB


S i m ã o a g u a rd o u . Esp e ro u . Esp e ro u . Esp e ro u . Nada aconteceu.

EU FALHEI.

NÃO HÁ MAIS ESPERANÇA.

MINHA JORNADA FOI EM VÃO. O PRÓPRIO NEGRINHO, ELE QUE TUDO PODIA ENCONTRAR,

NÃO ACHOU UMA SAÍDA PARA ESCAPAR DA PRÓPRIA TRAMA.

RÁ!

COMO FUI TOLO!

A LENDA É UMA FARSA.


a termin E como ória st hi a rinho? do Neg OR, POR FAV ÃO! SEU SIM

MEN INO TEI MOS O!

NÃO PERCA TEMPO COM ESTA BOBAGEM.

RTO... CERTO... CE PELA A -L TÁ N POSSO CO

A Ú LT I M . VEZ

- D e p o is d a m o r t e d o N e g r i n h o , o Es t a n c i e i ro s o f re u p e sa d e l o s t e r r í ve is !

1000 VEZES O CORAÇÃO FRIO 1000 VEZES CA L A F R I O O NEGRINHO, O BAIO UM MESMO SONHO 1000 VEZES AMALDIÇOADO 1000 VEZES P E SA D E L O M E D O N H O - Então, cansado das noites maldormidas, o Estancieiro foi até o formigueiro. Para seu espanto, encontrou o e s c ra vo , s ã o e sa l vo , m o n t a d o n o B a i o . - O Es t a n c i e i ro p ro s t o u - s e d e m e d o . O e s c ra vo s o r r i u - l h e e s e g u i u t o c a n d o a t ro p a . O N e g r i n h o e n c o n t ra ra s e u Pa s t o re i o . - Depois disso, a crendice do povo o tornou um mito.

148



fo i que a í per eu d i .. .

Este embuste se perpetua. De geração em geração. DIZEM: “Se perder algo, lembre-se:

le S e e h ar .. . ac s.” ma i não g uém Nin

Acenda uma vela para o Negrinho e vá dizendo... aí Fo i eu que i .. . d per

o, Simã Seu for não e se ar? o lug este ar, bserv Se o o lado tr do ou também h , bu. o á do ri é de um p um

Vamos ? até lá

Odeio Pontes

!


S i m ã o c e d e u a o a p e l o d o ra p a z . A g a r ro u - s e c o m f o r ç a n a s c o rd a s e c o m e ç o u a t ra ve s s i a .

R .. . S.” MAI

ESTA PINGUELA AÍ... NÃO ME INSPIRA CONFIANÇA.

! VAMOSta s u c o Nã . tentar

ir esist o ue d t Por qs de tan i depo sforço? e

Ande!

1 51


Você lembra o que disse?

O ve l h o e s c u t a va o M e n i n o sem desgrudar os olhos da ponte. A cada passo, Simão sentia-se mais seguro e jovial, como se o peso dos anos lhe fosse subtraído.

A Imaginação e a Existência em comunhão?

E o que se aprende com a jornada?

152


Simão cruzou a ponte

e e s t a va s o z i n h o .

AS A S A S Ó S.. .

NASCE

N M DE

EIA QUE CR ...E UM NTE. IE C FI SU É O

ONDE E STÁ

A MINH A FÉ?

A l i , e l e e n c o n t ro u o f o r m i g u e i ro c o m u m p a r d e c h i f re s ! 153


Então, Simão t o m o u c o ns c i ê n c i a .

S MA ?! MO O C

.?

O.. O MENIN

EU O MESM ERA

MPO O TE O! TOD

154


S i m 達 o p e g o u u m d o s c h i f re s. Us o u a p o n t a e f e z um corte na m達o.

O UE SA N G A PA R A E! CA R N

E o f o r m i g u e i ro s o r ve u s e u sa n g u e . 155


O Ve n t o t ro u xe m á s n o t í c i a s.

A H o rd a s e a p rox i m a va e o f e d o r s e t o r n a va i ns u p o r t á ve l .

156



Capítulo 18

{ ESPERANÇA TRAGO NA LUZ } O c h ã o t re m e u . A t e r ra s e re vo l ve u r u i d o sa m e n t e . L a m a , h ú m us, f ó s s e is e f o r m i g a s j o r ra ra m d o c h ã o .

B i l h õ e s s e f i z e ra m c a r n e .

ELAS BILHÕES EM CONVÍVIO ELAS O CORPO E O ALÍVIO

A DOR É REDENÇÃO A V I N G A N Ç A É M O R TA L

A V I DA É A CA N Ç Ã O D E U M S O N H O Q U E S E FA Z R E A L

A C i d a d e l a a va n ç a va e m u m a o n d a d e d e s t r u i ç ã o e m o r t e . 158


Abismado, Sim達o encarou um gigantesco Negrinho do Pastoreio. 159


D o a l t o d a C i d a d e l a , o Es t a n c i e i ro e o F i l h o e n xe rg a ra m o o p o n e n t e .

A C i d a d e l a d isp a ro u s e us p o d e ro s o s c a n h 천 e s.

160


S i m 達 o f i c o u c e rc a d o p e l a b a t a l h a .

1 61


O m o ns t r u o s o N e g r i n h o d o Pa s t o re i o re s g a t o u S i m 達 o d a s c h a m a s.



O N e g r i n h o c o n t ra - a t a c o u .


Fo r m i g a s e l a m a s e c h o c a ra m c o m v i o l ê n c i a c o n t ra a C i d a d e l a . Te r ra , sa n g u e , f u m a ç a , ve n t o , e n xo f re . . . C h isp a s p e rc o r re ra m o s a re s.

O s e l e m e n t o s b a i l a ra m .

E tudo... 165


TUDO S E TO R N O U

166


167


Q u a n d o a p o e i ra a s s e n t o u ,

u m g ra n d e f o r m i g u e i ro c e rc a va o s e s c o m b ro s d a C i d a d e l a .

A n a t u re z a re s s e n t i a - s e .

O Es t a n c i e i ro e o F i l h o f i c a ra m a p r is i o n a d o s n o a l t o d a t o r re .


O Negrinho e o bĂşfalo re ve re n c i a ra m a o s m o r t o s da batalha.


NEGRINHO TINHA

UMA MISSテグ.

Capテュtulo 19

{ A CAIXA }


ISSO É NÃO L! V Í S E POS

U m a p o n t e d e f o r m i g a s, h ú m us e t e r ra s e e rg u e u s o b re o a b ism o .

1 71


O N e g r i n h o e o B ú f a l o a d e n t ra ra m n a C i d a d e l a .

MOS VIE CA R BUS . I XA A CA VOCÊ ACHA QUE NOS INTIMIDA COM ESSE BICHO FEDORENTO?!

172


173


U m f o r t e a ro m a d e p i t a n g a t o m o u c o n t a d o e s c r i t Ăł r i o .

O B Ăş f a l o s e t ra ns f o r m o u e m I a ns ĂŁ .



DE

O JEIT ! M

NEN

H E !O E HOE AD R CIM

SÓ P ER! ADÁV MEU C

HU

O Es t a n c i re i ro p u xo u o c h i c o t e p a ra a t a c a r I a ns ã .


Antes de ser atingida,

I a ns 達 s e d e f e n d e u c o m u m a sa ra i va d a d e ra i o s.

Com o choque, o Es t a n c i e i ro s o l t o u a C a i xa .

177


B i l h õ e s s e f i z e ra m c a r n e . S CÊ O V O VÃ ER! RR MO

178


179


COM DELICADEZA, IANSÃ ABRIU A CAIXA...

...ASPIROU AS CINZAS...

...E AS SOPROU AO VENTO!

O COISA RUIM ESTAVA MORTO.


OGUM ESTAVA LIVRE! ELE E IANSÃ ASCENDERAM AO FIRMAMENTO.

Fo i o que contou Simão.

O NEGRINHO COMPLETOU A MISSÃO.


Capítulo 20

{ LIBERDADE, JUSTIÇA E TOMATES } O g u m e I a ns ã re t o r n a ra m à A l d e i a d o s O r i x á s. E l e s p o usa ra m s u a ve m e n t e n a e sp l a n a d a . C a m b a l e a n t e , O g u m m u r m u ro u p a l a v ra s m á g i c a s e a re d o m a s e d e s f e z .

O s O r i x á s e s t a va m e m l i b e rd a d e . O xa l á d i r i g i u a p a l a v ra a o S e n h o r d o Fo g o e d a Te c n o l o g i a :

- Ogum, seja bem-vindo! - Tinha certeza que você conseguiria, Iansã - falou Nanã sorridente.

182


Com alegria, os deuses os cercaram. O senhor do Fogo foi acomodado em uma cadeira.

- C u m p r i u m a l o n g a e d o l o ro sa j o r n a d a . O M u n d o d o s H o m e ns e s t á d o e n t e - f a l o u I a ns ã . - E l e s p e rd e ra m o c o n t a t o c o m a N a t u re z a e a M a g i a . É u m a c r is e p ro f u n d a . M a s h á e sp e ra n ç a . E l e s p o s s u e m a f a g u l h a , o i m p u ls o , a i nsp i ra ç ã o . O xa l á d i r i g i u a p a l a v ra à O g u m : - Vo c ê e r ro u a o t e n t a r re s o l ve r t u d o p o r s i m e sm o . E s e n t i u n a p r ó p r i a c a r n e o q u e is t o p o d e a c a r re t a r. Vo c ê a p re n d e u q u e d e ve c o n t ro l a r o s e u í m p e t o g u e r re i ro .

183


E n t ã o , Pa i O xa l á o l h o u s e ve ra m e n t e p a ra E x u e X a p a n ã . - Sim. Há uma Guerra no Firmamento e Grandes Templos se digladiam.

O Mundo dos Homens sofre - proferiu Oxalá. - M a s n ã o e xa t a m e n t e c o m o vo c ê n o s c o n t o u , E x u . - Po r c o n t a d e sua traquinagem, muita coisa ruim aconteceu. - Os homens tiveram acesso a poderes que não têm capacidade de controlar. - E você, Xapanã, estou muito aborrecida. Ajudou Exu nesta encenação - falou Nanã. C i rc u n d a d o s p e l o s d e us e s, E x u e X a p a n ã e s c u t a va m c a b isb a i xo s. - E x u ! - b ra d o u N a n ã . - S u a b r i n c a d e i ra c o m p ro m e t e u

o e q u i l í b r i o d e t o d o o p a n t e ã o d o s O r i x á s.

POIS É, ME DESCULPEM, NÃO ERA MINHAINTENÇÃO...

E... POSSO IR EMBORA AGORA?

- N ã o ! - ra l h o u O xa l á . - Desta vez, você será punido, Exu! A partir de agora, você será confundido com aquilo que há de pior, caro Mensageiro. Tormento, Demônio, Deserto, Vazio, Desespero, Desilusão... Tudo aquilo que as pessoas temem e evitam. - C o m a s u a l i c e n ç a , m e u p a i - i n t e r ve i o O g u m . - M a s g o s t a r i a d e p ro p o r m a is u m c a s t i g o a e s s e m e q u e t re f e . 184


Ogum jogou um tomate em Exu. E o s O r i x á s f i z e ra m o m e sm o . A t i ra va m f r u t a s p o d re s e m E x u e o r i d i c u l a r i z a va m . O ISS É O N Ã TO ! S JU EU, GO O O, E, L EIR Q U N SAG E D E R O M I A D O S. . . R A O C TÓRI HIS

...TE NHA ESS E FIM .

N ã o h a v i a c a s t i g o p i o r p a ra E x u . 185


186


E ra u m n ovo a m a n h e c e r n a A l d e i a d o s O r i x ĂĄ s. O f o g o p r i m o rd i a l d e O l o r u m a rd i a v i g o ro sa m e n t e . 187


P re s o n o s e s c o m b ro s d a C i d a d e l a , o Es t a n c i e i ro c h o ra va a s u a p e rd a .

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O C O R A Ç Ã O É SA N G R I A A ALMA É TRISTEZA O CORPO É SOLIDÃO O OUTRO É ALGUÉM

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SE PERDER ALGO, LEMBRE-SE: ACENDA UMA VELA PARA O NEGRINHO DO PASTOREIO E VÁ DIZENDO:


SE

EL NÃ E O AC HA R... .. .N I N G U É MAIS!

ASSIM PROFERIU SIMÕES!

M


FIM

- Vo c ê é u m b a i t a m ent i r o s o ! - x i n g a u m d o s m e n i n o s. - E s t a h is tó ri a n ã o f a z o m en o r s ent i do ! - Q ue m d is s e q ue i a f a z er s ent i do ? – re sp o n d e o o u t ro . – Ma s vo c ê e s cuto u a t é o f i m . Co nt e i , e s t á c o nt a do . S e q u is er , q ue r e c o nt e vo c ê .

E , r i n d o , o s d o is m e n i n o s c r u z a m a p o n t e .

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GLOSSÁRIO: Ogum - Orixá do ferro, da guerra e da metalurgia. É o senhor da tecnologia e das oportunidades de realização pessoal. No Brasil, é sincretizado como São Jorge ou Santo Antônio.

Orixás – São as divindades espirituais das religiões africanas. Os orixás representam os elementos naturais (água, fogo, sol, lua, floresta, mar), as manifestações da natureza (raios, trovões, vento) e, ainda, conceitos simbólicos e dimensões da sociedade e da humanidade (beleza, sabedoria, justiça, doença, guerra).

Iansã – Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades e do Rio Niger. Também chamada de Oyá, Oiá ou Yansã. É sincretizada como Santa Bárbara. Oxalá – Orixá do branco, da paz, da fé, associado à criação do mundo. Também chamado de Orixanlá e Orixalufã, é o criador da espécie humana, senhor absoluto do princípio da vida, chamado de Grande Orixá. É sincretizado como Nosso Senhor do Bonfim ou o Divino Espírito Santo.

Na África, a maioria dos orixás era e é cultuada em determinadas regiões e se relaciona à geografia daqueles lugares (por exemplo: um rio, um lago, uma floresta). Assim, há culto a centenas de divindades. Os escravos que chegaram ao Brasil eram oriundos de povos sudaneses (Yorubás, Daomei, Costa do Ouro), bantus (Angola e Congo) e de outras partes da África. Houve uma mescla de costumes, ritos e dialetos. No país, o panteão é constituído de uma dezena de orixás.

Nanã – Orixá feminino dos pântanos e da morte, da sabedoria ancestral, responsável pelos portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarnação). Sincretismo: Sant’Ana. Xangô – Orixá do trovão e protetor da justiça. Divindade das tempestades. Nos primórdios, teria sido um rei da nação nagô (da vertente yorubá), fundador mítico da cidade de Oyô. Sincretismo: São Jerônimo, São João Batista ou São Pedro.

Olorum – O Deus supremo do povo Yorubá, criador dos orixás, dono do céu (Orun) e da terra (Aiye). Na mitologia Yorubá, é chamado de Olodumare (Olódùmarè) ou Olourun. Exu - É o orixá guardião dos templos e das encruzilhadas. É o mensageiro divino dos oráculos, senhor dos caminhos, das trocas comerciais e das comunicações. O culto aos demais orixás depende de seu papel de mensageiro, sem o qual não há comunicação entre as divindades africanas e os homens. Também chamado de Legbá, Bará e Eleguá.

Yemanjá – Orixá feminino dos lagos e mares e da fertilidade, mãe de muitos Orixás. É sincretizada como Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Dores ou Nossa Senhora dos Navegantes. Xapanã – Também chamado de Obaluaiyê ou Omulu. É o orixá das doenças e das pragas e, no revés, o orixá da cura. Sincretismo: São Roque, São Bento ou São Lázaro.

Por influência do cristianismo, Exu foi indevidamente identificado com o diabo. Os estudiosos em mitologia comparada traçam uma relação entre os mitos Exu, Hermes e Shiva, nas mitologias hindu e grega, respectivamente. Traz semelhanças com o papel do arlequim, na Comédia Dell’arte, um personagem trapalhão, malandro e travesso.

Oxum – Orixá feminino dos rios, do ouro e protetora dos recém-nascidos. Guarda o segredo do jogo de búzios. É sincretizada como várias divindades: Nossas Senhoras da Conceição, da Glória, do Carmo, Aparecida ou das Dores.

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Ifá - É o nome de um oráculo africano, também denominado de Orumilá. O oráculo é prerrogativa dos babalorixás (pai-de-santo) e das ialorixás (mãe-desanto) que consultam o oráculo através do jogo de búzios, por exemplo.

Outra dica é, obviamente, “Contos Gauchescos e Lendas do Sul”, de João Simões Lopes Neto. Para os termos regionais: o “Dicionário do Folclore Brasileiro”, de Luís da Câmara Cascudo, o “Dicionário Gaúcho Brasileiro” de Batista Bossle, e o “Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas”, organizado por Zilá Bernd.

Atabaque - Tambor pequeno de uma só pele; feito com pele de animal distendida sobre um pau oco e percutida com as mãos. É utilizado para marcar o ritmo das danças religiosas e populares de origem africana. Outros nomes: atabal, atabalaque, atabale, tabaque, tambaque, carimbó, curimbó.

Sobre a religiosidade afro-brasileira:

Ogó - bastão ou porrete adornado com cabaças.

“A Mitologia dos Orixás”, de Reginaldo Prandi, “Agô-Iê, Vamos Falar de Orishás?”, de Walter Calixto Ferreira (Borel), “A Prática do Candomblé no Brasil”, de Fernando Costa, e “Lendas de Exu”, de Adilson Martins.

Baio – Diz-se do cavalo cujo pelo tem cor de ouro desmaiado, com matizes que vão do baio-branco até o baio-laranja.

Nos campos da antropologia e da mitologia comparada: “O Livro das Religiões”, de Jostein Gaarder, Victor Hellern e Henry Notaker, “A Gênese Africana”, de Leo Frobenius e Douglas C. Fox, “Mitología del Mundo”, organizado por Roy Willis, e “As Máscaras de Deus – Mitologia Primitiva”, de Joseph Campbell, “African Cerimonies The concise edition” de Carol Beckwith e Angela Fisher.

Capão de mato - Pequeno mato isolado no meio do campo. Coxilha - Campinas ondulantes, em geral cobertas com pastagens. Mala de garupa - Espécie de maleta, alforje; saco com uma abertura central, no sentido longitudinal, que se carrega no ombro ou no lombo do cavalo.

Na internet, duas fontes interessante são: Monomito ( www.monomito.net ) e Jangada Brasil ( www.jangadabrasil.com.br ).

Manear – prender com maneia ou corda as patas do animal para impedir que caminhe. Peleja (ou peleia) - Combate, luta, batalha. Briga, contenda, desavença.

Outras sugestões são os documentários “Devoção” , de Sérgio Sanz, e “Mestre Borel: a ancestralidade negra em Porto Alegre”, de Anelise Gutterres e Baba Diba de Iyemonja.

Polvadeira – Poeirada. Potreiro - Lugar cercado, pouco extenso, nos arredores duma estância, no qual se guardam os animais usados nos trabalhos cotidianos (cavalos de montaria, vacas de leite etc.) e os animais doentes que necessitam cuidados. REFERÊNCIAS: São muitas as fontes de pesquisa, desde entrevistas a registros etnográficos. Como ocorreu no Centro de Umbanda Caboclo João das Matas, coordenado pela cacique de terreira Maria Amaro, em Pelotas, em 2006.

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O N E G R I N H O D O PA S T O R E I O de João Simões Lopes Neto N a q u e l e t e m p o o s c a m p o s a i n d a e ra m a b e r t o s, n ã o h a v i a e n t re e l e s n e m d i v isa s n e m c e rc a s ; s o m e n t e n a s vo l t e a d a s s e a p a n h a va u m a g a d a r i a x u c ra e o s ve a d o s e a s a ve s t r u z e s c o r r i a m s e m e m p e c i l h o s. . . Era uma vez um estancieiro, que tinha uma ponta de surrões cheios de onças e meia- doblas e mais muita prataria; porém era muito cauíla e muito mau, muito. N ã o d a va p o usa d a a n i n g u é m , n ã o e m p re s t a va u m c a va l o a u m a n d a n t e ; n o i n ve r n o o f o g o d e s u a c a sa n ã o f a z i a b ra sa s, a s g e a d a s e o m i n u a n o , p o d i a m e n t a n g u i r g e n t e , q u e a s u a p o r t a n ã o s e a b r i a ; n o ve r ã o a s o m b ra d o s s e us u m b us s ó a b r i g a va o s c a c h o r ro s ; e n i n g u é m d e f o ra b e b i a á g u a d a s s u a s c a c i m b a s. Mas também quando tinha serviço na estância, ninguém vinha de vontade dar-lhe um ajutório; e a campeirada folheira não gostava de conchavar-se com ele, porque o homem só dava para comer um churrasco de tourito magro, farinha grossa e erva-caúna e nem um naco de fumo... e tudo, debaixo de tanta somiticaria e choradeira, que parecia que era o seu próprio couro que ele estava lonqueando... S ó p a ra t r ê s v i ve n t e s e l e o l h a va n o s o l h o s : e ra p a ra o f i l h o , m e n i n o c a rg o s o c o m o u m a m o s c a , p a ra u m b a i o d e c a b o s - n e g ro s, q u e e ra o s e u p a re l h e i ro d e c o n f i a n ç a , e p a ra u m e s c ra vo , p e q u e n o a i n d a , m u i t o b o n i t i n h o e p re t o c o m o c a r v ã o e a q u e m t o d o s c h a m a va m s o m e n t e o — N e g r i n h o . A e s t e n ã o d e ra m p a d r i n h o s n e m n o m e ; p o r is s o o N e g r i n h o s e d i z i a a f i l h a d o d a V i rg e m , S e n h o ra N o s sa , q u e é a m a d r i n h a d e q u e m n ã o a t e m . Todas as madrugadas o Negrinho galopeava o parelheiro baio; depois conduzia os avios do chimarrão e à tarde sofria os maus-tratos do menino, que o judiava e se ria. U m d i a , d e p o is d e m u i t a s n e g a ç a s, o e s t a n c i e i ro a t o u c a r re i ra c o m u m s e u v i z i n h o . Es t e q u e r i a q u e a p a ra d a f o s s e p a ra o s p o b re s ; o o u t ro q u e n ã o , q u e n ã o ! q u e a p a ra d a d e v i a s e r d o d o n o d o c a va l o q u e g a n h a s s e . E t ra t a ra m : o t i ro e ra t r i n t a q u a d ra s, a p a ra d a , m i l o n ç a s d e o u ro . N o d i a a p ra z a d o , n a c a n c h a d a c a r re i ra h a v i a g e n t e c o m o e m f e s t a d e sa n t o g ra n d e .

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Entre os dois parelheiros a gauchada não sabia se decidir, tão perfeito era e bem lançado cada um dos animais. Do baio era fama que, quando corria, corria tanto, que o vento assobiava-lhe nas crinas; tanto, que só se ouvia o barulho, mas não se lhe viam as patas baterem no chão... E do mouro era voz que quanto mais cancha, mais aguente, e que desde a largada ele ia ser como um laço que se arrebenta... A s p a rc e r i a s a b r i ra m a s g u a i a c a s, e a í n o m a is j á s e a p o s t a va m a p e ro s c o n t ra re b a n h o s e re d o m õ e s c o n t ra l e n ç o s. — Pe l o b a i o ! L u z e d o b l e ! . . . — Pe l o m o u ro ! D o b l e e l u z ! . . . Os corredores fizeram suas partidas à vontade e depois as obrigadas; e, quando foi na última, fizeram ambos a sua senha e se convidaram. E amagando o corpo, de rebenque no ar, largaram, os parelheiros meneando cascos, que parecia uma tormenta... — E m p a t e ! E m p a t e ! — g r i t a va m o s a f i c i o n a d o s a o l o n g o d a c a n c h a p o r o n d e p a s sa va a p a re l h a ve l o z , c o m p a s sa d a c o m o n u m a c o l h e ra . — Valha-me a Virgem madrinha, Nossa Senhora! — gemia o Negrinho. — Se o sete-léguas perde meu senhor me mata! Hip! hip! hip!... E baixava o rebenque, cobrindo a marca do baio. — Se o corta-vento ganhar é só para os pobres!... — retrucava o outro corredor. Hip! hip! E c e r ra va a s e sp o ra s n o m o u ro . Mas os fletes corriam, compassados como numa colhera. Quando foi na última quadra, o mouro vinha arrematado e o baio vinha aos tirões... mas sempre juntos, sempre emparelhados. E a d u a s b ra ç a s d a ra i a , q u a s e e m c i m a d o l a ç o , o b a i o a s s e n t o u d e s u p e t ã o , p ô s - s e e m p é e f e z u m a c a ra - vo l t a , d e m o d o q u e d e u a o m o u ro t e m p o m a is q u e p re c is o p a ra p a s sa r, g a n h a n d o d e l u z a b e r t a ! E o N e g r i n h o , d e e m p e l o , a g a r ro u - s e c o m o u m g i n e t a ç o . — Fo i m a u j o g o ! — g r i t a va o e s t a n c i e i ro . — M a u j o g o ! — s e c u n d a va m o s o u t ro s d a s u a p a rc e r i a .

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A gauchada estava dividida no julgamento da carreira; mais de um torena coçou o punho da adaga, mais de um desapresilhou a pistola, mais de um virou as esporas para o peito do pé... Mas o juiz, que era um velho do tempo da guerra de Sepé-Tiarajú, era um juiz macanudo, que já tinha visto muito mundo. Abanando a cabeça branca sentenciou, para todos ouvirem: — Foi na lei! A carreira é de parada morta; perdeu o cavalo baio, ganhou o cavalo mouro. Quem perdeu que pague. Eu perdi cem gateadas; quem as ganhou venha buscá-las. Foi na lei! N ã o h a v i a o q u e a l e g a r. D e sp e i t a d o e f u r i o s o , o e s t a n c i e i ro p a g o u a p a ra d a , à v is t a d e t o d o s, a t i ra n d o a s m i l o n ç a s d e o u ro s o b re o p o n c h o d o s e u c o n t r á r i o , estendido no chão. E foi um alegrão por aqueles pagos, porque logo o ganhador mandou distribuir tambeiros e leiteiras, côvados de baetas e baguais e deu o resto, de mota, ao pobrerio. Depois as carreiras seguiram com os changueiritos que havia. O estancieiro retirou-se para a sua casa e veio pensando, pensando, calado, em todo o caminho. A cara dele vinha lisa, mas o coração vinha corcoveando como touro de banhado laçado a meia espalda... O trompaço das mil onças tinha-lhe arrebentado a alma. E c o n f o r m e a p e o u - s e , d a m e sm a ve re d a m a n d o u a m a r ra r o N e g r i n h o p e l o s p u ls o s a u m p a l a n q u e e d a r - l h e , d a r - l h e u m a s u r ra d e re l h o . N a m a d r u g a d a sa i u c o m e l e e q u a n d o c h e g o u n o a l t o d a c ox i l h a f a l o u a s s i m : — Tr i n t a q u a d ra s t i n h a a c a n c h a d a c a r re i ra q u e t u p e rd e s t e : t r i n t a d i a s f i c a r á s a q u i p a s t o re a n d o a m i n h a t ro p i l h a d e t o rd i l h o s n e g ro s. . . O baio fica de piquete na soga e tu ficarás de estaca! O N e g r i n h o c o m e ç o u a c h o ra r, e n q u a n t o o s c a va l o s i a m p a s t a n d o . Veio o sol, veio o vento, veio a chuva, veio a noite. O Negrinho, varado de fome e já sem força nas mãos, enleou a soga num pulso e deitou-se encostado a um cupim. V i e ra m e n t ã o a s c o r u j a s e f i z e ra m ro d a , vo a n d o , p a ra d a s n o a r e t o d a s o l h a va m - n o c o m o s o l h o s re l u z e n t e s, a m a re l o s n a e s c u r i d ã o . E u m a p i o u e t o d a s p i a ra m , c o m o r i n d o - s e d e l e , p a ra d a s n o a r, s e m b a r u l h o n a s a sa s. O N e g r i n h o t re m i a , d e m e d o . . . p o r é m d e re p e n t e p e ns o u n a s u a m a d r i n h a N o s sa S e n h o ra e s o s s e g o u e d o r m i u . 198


E dormiu. Era já tarde da noite, iam passando as estrelas; o Cruzeiro apareceu, subiu e passou; passaram as Três-Marias; a estrela-D’alva subiu... Então vieram os guaraxains ladrões e farejaram o Negrinho, e cortaram a guasca da soga. O baio sentindo-se solto rufou a galope, e toda tropilha com ele, escaramuçando no escuro e desaguaritando-se nas canhadas. O t ro p e l a c o rd o u o N e g r i n h o ; o s g u a ra xa i ns f u g i ra m , d a n d o b e r ro s d e e s c á r n i o . O s g a l o s e s t a va m c a n t a n d o , m a s n e m o c é u n e m a s b a r ra s d o d i a s e e n xe rg a va : e ra a c e r ra ç ã o q u e t a p a va t u d o . E a s s i m o N e g r i n h o p e rd e u o p a s t o re i o . E c h o ro u . O m e n i n o m a l e va f o i l á e ve i o d i z e r a o p a i q u e o s c a va l o s n ã o e s t a va m . O e s t a n c i e i ro m a n d o u o u t ra ve z a m a r ra r o N e g r i n h o p e l o s p u ls o s a u m p a l a n q u e e d a r - l h e u m a s u r ra d e re l h o . E quando era já noite fechada ordenou-lhe que fosse campear o perdido. Rengueando, chorando e gemendo, o Negrinho pensou na sua madrinha Nossa Senhora e foi ao oratório da casa, tomou o coto de vela aceso em frente da imagem e saiu para o campo. Por coxilhas e canhadas, na beira dos lagoões, nos paradeiros e nas restingas, por onde o Negrinho ia passando, a vela benta ia pingando cera no chão: e de cada pingo nascia uma nova luz, e já eram tantas que clareavam tudo. O gado ficou deitado, os touros não escarvaram a terra e as manadas xucras não dispararam... Quando os galos estavam cantando, como na véspera, os cavalos relincharam todos juntos. O Negrinho montou no baio e tocou por diante a tropilha, até a coxilha que o seu senhor lhe marcara. E a s s i m o N e g r i n h o a c h o u o p a s t o re i o . E s e r i u . . . Gemendo, gemendo, o Negrinho deitou-se encostado ao cupim e no mesmo instante apagaram-se as luzes todas; e sonhando com a Virgem, sua madrinha, o Negrinho dormiu. E não apareceram nem as corujas agoureiras nem os guaraxains ladrões; porém, pior do que os bichos maus, ao clarear o dia veio o menino, filho do estancieiro, e enxotou os cavalos, que se dispersaram, disparando campo fora, retouçando e desguaritando-se nas canhadas. O t ro p e l a c o rd o u o N e g r i n h o e o m e n i n o m a l e va f o i d i z e r a o s e u p a i q u e o s c a va l o s n ã o e s t a va m l á . . . E a s s i m o N e g r i n h o p e rd e u o p a s t o re i o . E c h o ro u . . .

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O e s t a n c i e i ro m a n d o u o u t ra ve z a m a r ra r o N e g r i n h o p e l o s p u ls o s, a u m p a l a n q u e e d a r - l h e , d a r - l h e u m a s u r ra d e re l h o . . . d a r - l h e a t é e l e n ã o m a is c h o ra r n e m b u l i r, c o m a s c a r n e s re c o r t a d a s, o sa n g u e v i vo e s c o r re n d o d o c o r p o . . . O N e g r i n h o c h a m o u p e l a V i rg e m s u a m a d r i n h a e S e n h o ra N o s sa , d e u u m s usp i ro t r is t e , q u e c h o ro u n o a r c o m o u m a m ú s i c a , e p a re c e u q u e m o r re u . . . E como já era de noite e para não gastar a enxada em fazer uma cova, o estancieiro mandou atirar o corpo do Negrinho na panela de um formigueiro, que era para as formigas devorarem-lhe a carne e o sangue e os ossos... E assanhou bem as formigas; e quando elas, raivosas, cobriram todo o corpo do Negrinho e começaram a trincá-lo, é que então ele se foi embora, sem olhar para trás. N e s sa n o i t e o e s t a n c i e i ro s o n h o u q u e e l e e ra e l e m e sm o , m i l ve z e s e q u e t i n h a m i l f i l h o s e m i l n e g r i n h o s, m i l c a va l o s b a i o s e m i l ve z e s m i l o n ç a s d e o u ro . . . e q u e t u d o is t o c a b i a f o l g a d o d e n t ro d e u m f o r m i g u e i ro p e q u e n o . . . Caiu a serenada silenciosa e molhou os pastos, as asas dos pássaros e a casca das frutas. Pa s s o u a n o i t e d e D e us e ve i o a m a n h ã e o s o l e n c o b e r t o . E t r ê s d i a s h o u ve c e r ra ç ã o f o r t e , e t r ê s n o i t e s o e s t a n c i e i ro t e ve o m e sm o s o n h o . A p e o n a d a b a t e u o c a m p o , p o r é m n i n g u é m a c h o u a t ro p i l h a e n e m ra s t ro . Então o senhor foi ao formigueiro, para ver o que restava do corpo do escravo. Qual não foi o seu grande espanto, quando chegado perto, viu na boca do formigueiro o Negrinho de pé, com a pele lisa, perfeita, sacudindo de si as formigas que o cobriam ainda!... O Negrinho, de pé, e ali ao lado, o cavalo baio e ali junto, a tropilha dos trinta tordilhos... e fazendo-lhe frente, de guarda ao mesquinho, o estancieiro viu a madrinha dos que não a têm, viu a Virgem, Nossa Senhora, tão serena, pousada na terra, mas mostrando que estava no céu... Quando tal viu, o senhor caiu de joelhos diante do escravo. E o N e g r i n h o , sa ra d o e r is o n h o , p u l a n d o d e e m p e l o e s e m r é d e a s, n o b a i o , c h u p o u o b e i ç o e t o c o u a t ro p i l h a a g a l o p e . E a s s i m o N e g r i n h o p e l a ú l t i m a ve z a c h o u o p a s t o re i o . E n ã o c h o ro u , e n e m s e r i u . C o r re u n o v i z i n d á r i o a n ova d o f a d á r i o e d a t r is t e m o r t e d o N e g r i n h o , d e vo ra d o n a p a n e l a d o f o r m i g u e i ro .

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Po r é m l o g o , d e p e r t o e d e l o n g e , d e t o d o s o s r u m o s d o ve n t o , c o m e ç a ra m a v i r n o t í c i a s d e u m c a s o q u e p a re c i a u m m i l a g re n ovo . . . E e ra q u e o s p o s t e i ro s e o s a n d a n t e s, o s q u e d o r m i a m s o b a s p a l h a s d o s ra n c h o s e o s q u e d o r m i a m n a c a m a d a s m a c e g a s, o s c h a s q u e s q u e c o r t a va m p o r a t a l h o s e o s t ro p e i ro s q u e v i n h a m p e l a s e s t ra d a s, m a s c a t e s e c a r re t e i ro s, t o d o s d a va m n o t í c i a — d a m e sm a h o ra — d e t e r v is t o p a s sa r, c o m o l e va d a e m p a s t o re i o , u m a t ro p i l h a d e t o rd i l h o s, t o c a d a p o r u m N e g r i n h o , g i n e t e a n d o d e e m p e l o , e m u m c a va l o b a i o ! . . . Então, muitos acenderam velas e rezaram o Padre-Nosso pela alma do judiado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma coisa, o que fosse, pela noite velha o Negrinho campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar da sua madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o remiu e salvou e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver. To d o s o s a n o s, d u ra n t e t r ê s d i a s, o N e g r i n h o d e sa p a re c e : e s t á m e t i d o e m a l g u m f o r m i g u e i ro g ra n d e , f a z e n d o v is i t a à s f o r m i g a s, s u a s a m i g a s ; a s u a t ro p i l h a e sp a r ra m a - s e ; e u m a q u i , o u t ro p o r l á , o s s e us c a va l o s re t o u ç a m n a s m a n a d a s d a s e s t â n c i a s. M a s a o n a s c e r d o s o l d o t e rc e i ro d i a , o b a i o re l i n c h a p e r t o d o s e u g i n e t e ; o N e g r i n h o m o n t a - o e va i f a z e r a s u a re c o l h i d a ; é q u a n d o n a s e s t â n c i a s a c o n t e c e a d isp a ra d a d a s c a va l h a d a s e a g e n t e o l h a , o l h a , e n ã o v ê n i n g u é m , n e m n a p o n t a , n e m n a c u l a t ra . D e s d e e n t ã o e a i n d a h o j e , c o n d u z i n d o o s e u p a s t o re i o , o N e g r i n h o , sa ra d o e r is o n h o , c r u z a o s c a m p o s, c o r t a o s m a c e g a is, b a n d e i a a s re s t i n g a s, d e sp o n t a o s b a n h a d o s, va ra o s a r ro i o s, s o b e a s c ox i l h a s e d e s c e à s c a n h a d a s. O N e g r i n h o a n d a s e m p re à p ro c u ra d o s o b j e t o s p e rd i d o s, p o n d o - o s d e j e i t o a s e re m a c h a d o s p e l o s s e us d o n o s, q u a n d o e s t e s a c e n d e m u m c o t o d e ve l a , c u j a l u z e l e l e va p a ra o a l t a r d a V i rg e m , S e n h o ra - N o s sa , m a d r i n h a d o s q u e n ã o a t ê m . Q u e m p e rd e r s u a s p re n d a s n o c a m p o , g u a rd e e sp e ra n ç a : j u n t o d e a l g u m m o i r ã o o u s o b o s ra m o s d a s á r vo re s, a c e n d a u m a ve l a p a ra o N e g r i n h o d o p a s t o re i o e vá lhe dizendo:

- Fo i p o r a í q u e e u p e rd i . . . - Fo i p o r a í q u e e u p e rd i . . . - Fo i p o r a í q u e e u p e rd i ! . . . S e e l e n ã o a c h a r. . . n i n g u é m m a is ! A p u b l i c a ç ã o d a l e n d a “ O N e g r i n h o d o Pa s t o re i o ” t e m a n u ê n c i a d o I ns t i t u t o S i m õ e s L o p e s N e t o . C o n h e ç a : I ns t i t u t o S i m õ e s L o p e s N e t o R u a D o m Pe d ro I I , 810 - Pe l o t a s / R S - ( 5 3 ) 3 0 2 7 . 1 8 6 5

2 01


Sobô.

Matamba.

Deusa

dos

Ventos.

Bamburucema.

Dona dos Raios, das Tempestades e da Fertilidade. Nunvurucoma buva. Senhora dos Espíritos e Guardiã dos Cemitérios. Essência Primordial do Caos. Rainha dos Rios. Amante. A Mãe dos Nove. Conhecedora das Artes da Guerra, do Poder do Fogo e da Magia. Oyá. Oiá. To d o s s ã o n o m e s d e I a ns ã e n e n h u m e xa t a m e n t e é .


A L E N D A D O B Ú FA L O Rodrigo dMart C o n t a m q u e u m d i a , O g u m , o D e us - O r i x á d o Fo g o e d a Te c n o l o g i a , f o i c a ç a r n a f l o re s t a q u a n d o a v is t o u u m b ú f a l o . O b i c h o c o r r i a ve l o z c o m o u m re l â m p a g o e s o l t a va f o g o p e l a s n a r i n a s. Ogum o perseguiu. Quando estava prestes a abater o animal, ele teve uma surpresa. Po r d e b a i xo d o c o u ro d o b ú f a l o , s u rg i u u m a b e l í s s i m a m u l h e r ve s t i d a c o m p a n o s c o l o r i d o s e b ra c e l e t e s d o u ra d o s. E ra I a ns ã . E l a d e sp i u a c o u ra ç a e e s c o n d e u e m u m f o r m i g u e i ro . T ã o l o g o I a ns ã s e a f a s t o u , O g u m s e a p o s s o u d o c o u ro . E a g u a rd o u . Q u a n d o I a ns ã re t o r n o u , n ã o e n c o n t ro u s u a p e l e . E n t ã o , O g u m a p a re c e u , c o n t o u q u e sa b i a d e s e u s e g re d o e a p e d i u e m c a sa m e n t o . A s t u t a c o m o s ó , I a ns ã a c e i t o u , m a s e s t a b e l e c e u u m a c o n d i ç ã o : n i n g u é m p o d e r i a sa b e r d e s e u l a d o a n i m a l e s c o . E f o i v i ve r n o ra n c h o d e O g u m . M a s l á t a m b é m m o ra va m o u t ra s m u l h e re s. Iansã teve nove filhos. Ogum era um pai dedicado e carinhoso para a nova esposa e as crianças. As outras raparigas, estéreis, embeberam-se de um ciúme mortal. C e r t a n o i t e , u m a d e l a s e m b r i a g o u O g u m e a r ra n c o u - l h e o s e g re d o d e I a ns ã . Q u a n d o e l e a d o r m e c e u , a s ra p a r i g a s f o ra m x i n g á - l a , g r i t a ra m q u e e l a e ra u m b i c h o e re ve l a ra m o n d e o c o u ro e s t a va e s c o n d i d o . To m a d a d e f ú r i a , I a ns ã ve s t i u s u a p e l e d e b ú f a l o , m a t o u a s c o n c u b i n a s e a r ra s o u o ra n c h o . S ó p o u p o u a v i d a d e s e us f i l h o s. A n t e s d e re t o r n a r à f l o re s t a , d e i xo u - l h e s o s c h i f re s c o m a i n d i c a ç ã o d e q u e s ó d e ve r i a m s e r usa d o s e m m o m e n t o d e p e r i g o . A s s i m , b a s t a q u e o s f i l h o s d e I a ns ã b a t a m a s d u a s p o n t a s d o s c h i f re s p a ra q u e e l a ve n h a e m s o c o r ro .

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O S A U TO R E S A G R A D E C E M : Ta t i Pe d ó , p e l o s f a n t á s t i c o s f i g u r i n o s d o s b o n e c o s. Ya ra B a u n g a r t e n , p e l o s t o q u e s p e r t i n e n t e s e p o r p re z a r p e l o b o m a n d a m e n t o d a s c o isa s. Es sa s m u l h e re s s ã o u m a g ra n d e d á d i va e f o ra m u m a p o i o fundamental nesta caminhada. R e n a t o C a n i n i e M a r i a d e L o u rd e s M a r t i ns C a n i n i p e l a h o n ro sa a p re s e n t a ç ã o . J o e l - Pe t e r W i t k i n , p e l o “ P u b l ish a n d F u c k T h e m ”. C a i o C a r va l h a e s, p e l a a s s is t ê n c i a d e a r t e . R o d r i g o R o sa , p o r n o s f a z e r c o n t a t o d a a h is t ó r i a . D i m i t re , p e l o s u p o r t e d o s i t e . A l e xa n d re B o i d e , p o r s e m p re t e r a c re d i t o n o p ro j e t o . A l e xa n d re B a r re t o , H u a n G o m e s, L u c i a n o A ra ú j o , R i c h a rd Kova c s, D a n i e l “ C u c a ” M o re i ra , Á l va ro d e C a r va l h o N e t o , E l S i l e n c i o , J u m N a k a o , G us t a vo Pe re s e C a r l o G i ova n i , p e l o s c o ns e l h o s e d i t o r i a is. R o d r i g o R o c h a , p e l o a u x i l i o n a re v is ã o . Fe l i p e Te l l e s, C e c í l i a Fe r re i ra e Es f e ra B R , p e l o s u p o r t e a o p ro j e t o . É r i c o A s s is, s i t e O m e l e t e , A l e s sa n d ro S o a re s, p e s s o a l d a T V E e F M C u l t u ra e t o d a s a s m í d i a s, b l o gs e j o r n a l is t a s q u e a j u d a ra m n a d i v u l g a ç ã o n o p ro j e t o . H e n r i q u e P i re s e o I ns t i t u t o J o ã o S i m õ e s L o p e s N e t o . Fa m í l i a A m a ro e o C e n t ro d e U m b a n d a C a b o c l o J o ã o d a s M a t a s. B a n d a s D o i d i va n a s e T h e D a n c i n g D e m o ns. N e g r i n h o M a r t i ns, p e l a s b e l a s c o m p o s i ç õ e s. M a rc e l o F r u e t , g a l e ra d a P V A G , C o nsp i ra ç ã o M e l e c c h i , m o ra d o re s e a m i g o s d o b a i r ro M e n i n o D e us, e m Po r t o A l e g re . A t o d o s q u e n o s a j u d a ra m – a q u i c i t a d o s o u n ã o – m u i t o o b r i g a d o s. E mantenham a fé.

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A U TO R E S

RODRIGO DMART d M a r t é R o d r i g o N o l t e M a r t i ns. Pe l o t a s, R S , B ra s i l , 1 9 7 4 . M ú s i c o , j o r n a l is t a e e s c r i t o r.

w w w. i m a g i n a c o n t e u d o . w o rd p re s s. c o m

I N D I O SA N I n d i o S a n é E ve rs o n Ta m i o s s o N a z a r i . S a n t i a g o , R S , B ra s i l , 1 9 7 8 . D e s i g n e r g r á f i c o e i l us t ra d o r.

w w w. i n d i o sa n . c o m



para resgatar Ogum, o Senhor da Guerra e da Tecnologia. Simão, um velho peregrino, parte em busca de sua fé na companhia de um menino.

Mas não será uma tarefa fácil. É um tempo sombrio e desolador no qual uma horda de guerreiros invasores espalha terror e destruição.

O futuro do Mundo dos Homens e dos Orixás depende do sucesso de Iansã

PASTOREIO

Iansã, a Deusa dos Ventos e das Tempestades, viaja ao Mundo dos Homens

UM OUTRO

Um Outro Pastoreio trata de duas jornadas.

UM OUTRO

PASTOREIO

e Simão. Eles precisam recriar a lenda de um escravo que tinha

“Começa a jornada do pensamento sensível. Entre espirais e labirintos, o inesperado flui - acontecem lendas, clarões, sombras, luzes, sons, cores, emoções. Poesia e reflexão se integram na fusão de palavras e formas. Nada de estático e fixo – tudo é desencadear de movimentos e vibração.” R e n a t o C a n i n i e M a r i a d e L o u rd e s M a r t i ns C a n i n i

R odrigo d M a rt & I ndio S a n

o dom de encontrar coisas perdidas, o Negrinho do Pastoreio.

d M a rt

I ndio S a n


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