SONHO DE CONCRETO O Brasil de 1978 ainda era regido pela ditadura militar. Ernesto Geisel era o presidente e a abertura política dava seus primeiros passos, de
não possua imperfeições nas transições. Segundo Lenara, o engenheiro responsável pela
forma lenta, gradual e segura, como os próprios
obra foi Vilson Nardi - informação que é contestada
militares afirmavam.
por alguns skatista da primeira geração da Swell,
Mas, mesmo nesse contexto, o sonho dos irmãos
que acompanharam de perto o nascimento da pista.
Paulo e Ricardo Sefton estava prestes a se realizar.
Guinha (hoje com 48 anos) é uma dessas vozes
Convenceram a família que seria uma boa idéia
contrárias que afiram ser Terra Lima.
construir uma pista na chácara e pediram para
Polemicas à parte, o fato é que em março de
a prima arquiteta fazer o projeto. Informações
78, començaram as obras, sendo concluída entre
sobre esse tipo de construção eram praticamente
outubro e novembro do mesmo ano (informação
inexistentes, ou seja, a Swell foi feita quase no
que também varia de acordo com a fonte).
instinto. ‘’Nós vimos algumas pistas em revistas’’
O sonho de concreto dos irmãos Paulo “Swell”
afirma Lenara Ruhl, responsável pelo desenho da
(daí o nome da pista) e Ricardo “Mico” estava
pista. E acrescenta: “o Paulo e o Mico (apelido do
pronto: um estreito snake run, que começa com
Ricardo) foram ajudando, dizendo: ‘aqui é melhor
transições baixas e rápidas, vai gradualmente
aprofundar mais’ , ‘aqui é melhor alargar mais’ ,
aumentando de tamanho, até chegar num “pré-
tudo numa linguagem ainda primitiva. E aí depois,
bowl” com transições maiores e mais suaves, para
junto com o engenheiro, nos fizemos a armadura
finalmente desembocar num bowl de 3 metros de
da pista, usando a própria terra como forma´´.
profundidade, sem flat, com a tradicional faixa de
Sim, a Swell foi moldada barro! Por isso é tão
azulejos antes do coping.
impressionante que, mesmo se tratando de uma 6
pista difícil de andar e cheia de particularidades, ela
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Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil. O ano 1978, e dois irmãos Paulo e Ricardo Sefton conversam sobre a possibilidade de fazer uma pista de skate na propriedade da família, uma área enorme de 7 hectares, repleta de verde por todos os lados.
A idéia amadurecia na medida em que mais amigos começavam a desenvolver a mesma paixão pelo skate, deslocandose até São Paulo ou Rio de Janeiro para andar nas poucas pistas existentes naquela época. 9
OS PRIMEIROS ANOS Por ser a primeira pista no sul do país, a Swell recebeu, logo nos primeiros meses de vida, um
Muitos skatistas encararam o Florescente para
número significativo de skatistas sedentos por um
gastar suas rodas na Swell. Nomes como Fornari,
lugar para viver o sonho das transições. Com o
Renatão, Serginho, Chico Preto, Guinha, Gati, Cezar,
patrocínio da marca de tênis Olympikus, a Swell
Leonardo, Otaviano, Juarez, Paulo Campos “PC”,
virou ponto de encontro para os jovens (praticantes
Rafa Teixeira, Lucas Teixeira, Guima, Fábio, José
e não–praticantes) da região metropolitana de
Antonio “Spock”, Rogério Baiá, César Gyrão, Pérsio,
Porto Alegre. Além de ser a única opção de pista,
Branca e o falecido Fósforo se juntavam aos irmãos
também atraía muitas mulheres, que desfilavam
Sefton para sessões ma lendária pista.
pela chácara-skatepark, e foi palco de memoráveis festas, que invadiam a noite de Viamão. O único porém, para quem não era morador da cidade metropolitana, era difícil chegar na pista, pois Viamão fica a cerca de 20 km de Porto Alegre. Hoje, com a estrada boa e asfaltada, o percurso nem é tão desgastante. Mas naquela época era bem diferente.“Era muito difícil vir até aqui”, afirma Alexandre Fornari, 47 anos, local da Swell desde as primeiras sessões.“Nós não tínhamos carro, então éramos obrigados a vir de ônibus”. E o ônibus era muito complicado. O tal ônibus, Linha Florescente, é o mesmo até hoje, o único que 10
liga a Swell a Porto Alegre.
Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: JosĂŠ Antonio Spock
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Lucas Teixeira, Bs Air, 1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Carving, 1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Carving, 1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Carving, 1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Fs Air,1979 Foto: Roberto
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Lucas Teixeira, Fs Grind, 1979 Foto: Rafael Teixeira
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: Claudio Leman
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Mico Sefton, Bs Grind, 1979 Foto: Acervo Swell
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: Renato Dienc
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: Claudio Leman
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Lucas Teixeira, Layback, 1979 Foto: Renato Dienc
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Lucas Teixeira, Layback, 1979 Foto: Rafael Teixeira
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Lucas Teixeira, Layback,1979 Foto: Renato Dienc
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Semana do Skate, 1979 Foto: Lucas Teiseira
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Mico Sefton, Fs Grind, 1979 Foto: Acervo Swell
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Formiga, Fs Air, 1979 Foto: Acervo Swell
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Formiga, Bs Air, 1979 Foto: Acervo Swell
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Mico Sefton, Fs Air, 1979 Foto: Acervo Swell
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Mico Sefton, Fs Lipslide, 1979 Foto: Acervo Swell
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1982 Foto: Rafael Teixeira
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Mico Sefton, Fs Grind, 1979 Foto: Acervo Swell
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1979 Foto: Spock
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“Em 1979 o skate atingiu seu ponto mais alto aqui no sul”, avalia Fornari, “e até 1980 teve bastante movimentação, mas em 1981 entrou em decadência. Não sei se por falta de competição ou
aquela velha dificuldade de se conseguir material bom para andar”. Nos anos 80 a swell entrou em declinio, mas um pequeno grupo nunca deixou de frequentar o local. 37
O FIM DE UMA ERA O fato é que o primeiro grande “boom” do skate nacional havia atingido seu ápice e um
considerado o momento final da primeira fase
refluxo atingia o Skate, não só no Brasil, como no
da Swell: com o ralo entupido, o bowl virou uma
mundo todo. A inauguração da pista do parque
piscina de fato, e um garoto de 14 anos morreu
Marinha, em Porto Alegre, também colaborou para
afogado na Swell. O fim de uma era.
o precoce abandono da Swell, afinal era muito mais fácil (e barato, pois o marinha era pública e a Swell privada) se locomover até o Marinha do que “viajar” até Viamão. Paulo e Mico já não tinham mais o mesmo interesse pela pista e pelo skate, e resolveram mudar de ares: Paulo voltou para São Paulo e Mico mudou-se para Garopaba. A Olympikus também desistiu de patrocinar a pista e o reflexo triste era visto na deterioção das placas e das arquibancadas colocadas ao redor do bowl. A manutenção deixou de ser feita , os buracos proliferaram e o ralo entupiu.
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Um incidente lamentável, em 1981, pode ser
Alvaro Fazio, Layback, 1982 Foto: Acervo Swell
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Lucas Teixeira, Fs Grind, 1980 Foto: Rafa Teixeira
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Lucas Teixeira, Invert, 1980 Foto: Rafael Teixeira
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Lucas Teixeira, Bs Air, 1980 Foto: Guima
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Lucas Teixeira, Invert ,1980 Foto: Rafael Teixeira
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Lucas Teixeira, Fs Air ,1981 Foto: Guima
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Lucas Teixeira, Fs Grind ,1981 Foto: Guima
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Lucas Teixeira, Fs Grind,1981 Foto: Guima
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Alvaro Fazio, Bs Air, 1982 Foto: Acervo Swell
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Lucas Teixeira, Fs Air, 1982 Foto: Rafael Teixeira
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Lucas Teixeira, Layback, 1980 Foto: Rafael Teixeira
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Aquela primeira geração de skatistas da Swell entrou nos anos oitenta com a cabeça dividida entre o skate e as responsabilidades da vida adulta: estudo, trabalho, etc.
Naqueles tempos não dava para encarar o skate como uma real possibilidade de carreira, então muitos acabaram se afastando do carrinho, mas era o início de uma nova geração. 53
A FASE UNDERGROUND Durante 22 longos anos (de 1982 a 2004) a Swell viveu a sua chamada fase “underground”.
esquecimento, a Swell manteve sua tradição acesa
Foi um perido de divulgação boca-a-boca, que
graças aos skatistas da região e os obstinados
ficou sem reformas, mas mesmo assim atraiu
“forasteiros” que enfrentavam a trip para conhecer
muita gente para desafiar suas transições cascudas.
de perto esse verdadeiro patrimônio da skate
Quem queria andar tinha que ir munido de uma
gaúcho. Nilton Urina, skatista profissional de São
vassoura e cimento como recorda José Antonio
Paulo, que morou por um período em Porto Alegre,
“Spock”, 44 anos outro skatista da primeira geração
foi um dos que mais deu as caras na Swell durante
da pista: “Traziam sempre um pouquinho de
essa “fase negra”.
cimento para arrumar uma rachadura ou buraco. Arrumavam e aí no outro final de semana já estava legal para andar”. “Quem freqüentava era o pessoal que morava na região”, recorda Fornari. “Tinha um caseiro que faturava uma graninha abrindo a pista, cobrando por hora ou por dia”. Esse caseiro era o lendário Roberto, que cuidou da propriedade nesse obscuro período, ao lado de sua mãe, Dona Jurema. Percebendo que haviam skatistas dispostos a pagar para andar no local, num determinado momento começaram a muitotimidamente executar uma manutenção mínima na pista. 54
Nessas duas décadas - 80 e 90 - de quase
Pista vista do Bowl, 1990 Foto: Acervo Swell
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Pista vista do inicio, 1990 Foto: Acervo Swell
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Fabricio Fernandes 1992 Foto: Mauricio de Moraes
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Fabricio Fernandes, Fs Air, 1992 Foto: Mauricio de Moraes
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Fabricio, Bs Disaster, 1992 Foto: Mauricio de Moraes
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Fabricio Fernandes, Fs Air, 1992 Foto: Mauricio de Moraes
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Fernando Tesch, Lipslide, 1999 Foto: Acervo Swell
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A história se repete ás vezes. Aconteceu na Swell, cujo nascimento deve-se à iniciativa dos irmãos Sefton, e cuja retomada em 2004 é fruto do trabalho dos irmãos Tesch, Fernando e Gustavo primos dos pioneiros Paulo e Mico.
A chácara que abriga a Swell pertence a família há mais de 60 anos, e hoje novamente floresce, com novos investimentos e obras de infra-estrutura. O ano de 2004 foi o ano do renascimento da agora Swell Skate Camp.
RENASCIMENTO E A SWELL SKATE CAMP Fernando Tesch explica o motivo desta retomado: “Eu estava no último semestre da faculdade
em coping block e com transições bem mais
de Publicidade, trabalhando numa das maiores
perfeitas que as da pista velha. Um sonho dos
agências do Rio Grande do Sul, mas seguia
skatistas locais, que foi feito graças ao esforço de
insatisfeito com o produto final do meu trabalho.
um grupo de 27 “investidores-skatistas” envolvidos
Não sentia prazer e satisfação ao ver o que
no projeto. Um verdeiro presente de aniversario
produzia.”
para os 30 anos da Swell.
Nesta mesma época, ele, o irmão e a turma
Os irmãos Tesch transformaram a velha Swell
de amigos estavam indo na Swell com uma certa
em uma referência nacional do skate e até
freqüência. Essa insatisfação, combinada com
internacional recebendo exibições de skatistas de
anásile das possibilidades e potencial do local
grandes marcas mundiais. Já foram realizado 6
despertaram a idéia de “abraçar a causa” da Swell.
edições do Swell Old is Cool, campeonato que anual
“Fechei os olhos e pedi demissão do meu trabalho. Iniciei um estudo e aprofundamento no
que recebe skatistas de toda America do sul. Ao adotar o nome Swell Skate Camp foi criado
universo skate, pois até então meu conhecimento
um complexo que hoje já conta com três pistas
era superficial. Passados uns seis meses, meu
em Viamão, e um novo local em Porto Alegre, com
irmão pediu demissão do emprego dele também,
pista, bar e restaurante.
e foi neste momento que começamos a meter a mão na massa”. Muito já foi feito desde então: churrasqueiras, dois decks, lanchonete, banheiros, pista de mountain board, iluminação do snake run e bowl e trilha na mata. Mas a menina dos olhos foi 64
a construção, em 2008, de um Banks inteiramente
Come Rato, Fs Carving, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Rafael Hemp, Lien Air, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Pedr達o, Fs Grind, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Leo Nunes, Miller Flip, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Melon, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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John Peter, Fs Grind, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Fs Melon, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Caverna, Fake Olie, 2009 Foto: Jo達o Rubens
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Josh Borden, Fs Smith, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Tomate, Madona, 2009 Foto: Jo達o Rubens
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Jo達o Rubens, Lien toTail, 2010 Foto: Pietro Paradeda
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Tomate, Crist Air, 2009 Foto: Jo達o Rubens
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Jo達o Rubens, Fs Grind, 2010 Foto: Pietro Paradeda
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FĂşncionario termina ultimos detalhes da nova pista, 2010.
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Pablo Etchepare, Fs Air, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Cesar Gordo, Ollie to fake ,2010 Foto: Jo達o Rubens
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Leo Nunes, Bs Grind, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Luiz Antonio, Disaster, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Come Rato, Layback, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Pablo Etchepare, Layback, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Luiz Antonio, Smith, 2010 Foto: Jo達o Rubens
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Pedrinho e sua tatuagem da Swell, 2010. Foto: Jo達o Rubens
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Lucas Teixeira, Fs Air, 2010 Foto: Roberto Hurtado
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Renat達o, Fs Carving, 2010 Foto: Roberto Hurtado
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Carlos Le達o, Tail Block, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Renat達o, Fs Gring, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Jeff Grosso, Invert, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Footplant, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Steve Caballero, Rockandroll, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Invert, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Caballero, Fs Board, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Leo Nunes, Fs Grind, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Mayday, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Josh Borden, Bs Air, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Alan Mesquita, Melon, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Caballero, Bs Air, 2010 Foto: Bruno Vieira
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Pedro Barros, Bs Air, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Alan Mesquita, Fs 50-50, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Pedro Barros, Smith, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Leo Nunes, Boneless, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Pedro Barros, Fs Grind, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Omar Hassan, Bs Feeble, 2010 Foto: Marcelo Pinheiro
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Pista “Velha”, 2010 Foto: Carlos Leão
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Estes livro foi projeto por João Rubens Albuquerque. O texto foi escrito por Marcelo Viegas. A impressão ficou a cargo da gráfica Copy Star, que utilizou papel Couché 90g/m. A família tipografica adotada foi a Dax. As imagens antigas foram reproduzidas no estúdio Foto de Produto. O projeto da capa é de João Rubens utilizando uma fotografia de um shape de skate usado.
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