Tentativas de esgotamento de uma coisa, pessoa ou lugar
catálogo da exposição
Tentativas de Esgotamento | 01
FLUME O
Flume Educação e Artes Visuais,
é um projeto que nasceu no curso de licenciatura em artes
visuais da jovem UERGS - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. A universidade tem uma estrutura institucional pequena e, por isso, ágil, o que produz uma confluência de ideias pelas quais educação e arte vão se encontrando e produzindo movimentos de pesquisa, ensino e extensão. Flume atende a compreensões que, ora tangendo, ora adentrando cada campo pela perspectiva dos Estudos Culturais, da Teoria, História e Crítica das Artes Visuais, da Educação, das Poéticas Visuais e da Mediação Cultural, vão contribuindo ao fluxo de conhecimento que nasce na licenciatura em artes visuais ou encontra aí meios de existência e energia. Flume é sinônimo de rio, fluss em alemão, fiúme em italiano. Como coisa, tem perto o Rio Caí que banha a cidade de Montenegro, sede da Unidade das Artes da Uergs, e o conhecido como Rio Guaíba que
banha
Porto
Alegre,
sede
da
própria
Universidade.
Na
hidrografia,
quando
o
flume-rio
é
navegável, é ria. Como ideia, pode-se pensar flume como a natureza diversa e complexa que é o próprio rio, mas também na diversidade de seres que correm pelos seus canais e o atravessam. Um flume-rio convida à fluência e faz o encontro de águas, como um corre-águas, um curso: um curso de licenciatura em artes visuais. O grupo tem interesse nos principais eixos que compõem a formação docente em artes visuais, tendo neles não apenas tradição dos modos de pensar e atuar, mas campos passíveis de movimento pelo que entendemos ser próprio e comum às artes e à educação: o agir político.
Trechos retirados do site
grupoflume.com.br
o que acontece
quando nada acontece
Tentativas de Esgotamento | 03
Tentativas de esgotamento de uma coisa, pessoa ou lugar "O que acontece quando nada acontece, a não ser o tempo, as pessoas, os carros e as nuvens?” A pergunta proposta por Georges Perec pode ser aqui pensada como a inquietação que originou a exposição coletiva Tentativas de esgotamento de uma coisa, pessoa ou lugar. A partir de textos do autor francês Georges Perec (1936-1982), iniciamos o projeto de pesquisa
O Infrarordinário como Método Investigativo em Arte e Educação,
reunindo artistas e estudantes
da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). O foco é inventar práticas investigativas em arte e educação baseadas no cotidiano e a proposta consiste em experiências, leituras e discussões tanto sobre Perec, quanto sobre autores e artistas que tangenciam o cotidiano e o infraordinário, conceito perequiano que foi, inicialmente, nosso ponto de partida. A leitura de Tentativa de esgotamento de um local parisiense (Perec, 1974) é assim um disparador
de
propostas
artísticas
que
procuram
esgotar,
investigar
exaustivamente,
situações
cotidianas de maneira a potencializá-las na perspectiva da arte e da vida. Os trabalhos de Adreia Salvadori, Aline Kauana, Bruno de Andrade, Fernanda Hilgert, Gustiele Fistaról, Lau Graef, Larissa Borges, Lis Machado, Mani Torres, Mariana
Silva da Silva, Mayara Lima, Raphael Varjak, Savana Fuhr
Flores, Susana Toledo, Tatiane Passos, experimentam formas de pensar e agir com e no cotidiano. O cotidiano é, muitas vezes, associado ao tédio, à repetição e a uma espécie de determinismo
utilitário,
em
que
hábitos
são
desencadeados
por
obrigações
e
reincidências.
A
invenção do cotidiano do filósofo Michel de Certeau, entretanto, investe exatamente no oposto dessa visão negativa do cotidiano que frequentemente desponta no senso comum, ou mesmo na sociologia. Os lugares habitados, as cidades, os bairros não vivem mergulhados na inércia, mas são atingidos por “movimentos infinitesimais” e “atividades multiformes” (CERTEAU, 2001, p.310). Para Certeau, a vida cotidiana é heterogênea e dentro dela o sujeito seria capaz de diluir sistemas de homogeneização social. Os pequenos movimentos assinalados por Michel de Certeau que fazem do cotidiano uma repetição de diferenças, longe da lógica do sempre igual, ressoam nas palavras de Georges Perec quando nos fala sobre observar o cotidiano no momento mesmo de sua emergência.
Assim, mesmo
que aparentemente habituais, as práticas do dia a dia são para Certeau e Perec o que coloca em tensão a própria forma do cotidiano, resistência e inventividade. Como pensar essas invenções? Como prestar atenção nos “movimentos infinitesimais” da vida ordinária? E ao mesmo tempo, ao assim fazê-lo, como não deixar que percam sua essência trivialmente humana? Aqui reunidas nesse catálogo da exposição digital, talvez, tenhamos algumas tentativas que se pretendem, antes de tudo, em movimento contínuo e abertas, imprevisivelmente, às previsibilidades do cotidiano.
Mariana Silva da Silva Artista Visual Professora Adjunta Uergs Doutora em Artes Visuais
Tentativas de Esgotamento | 04
Acesse a exposição completa pelo QRCODE
ou pelo perfil no instagram
@infraordinaries
artistas PARTICIPANTES Lau Graef | Tentativa de Esgotamento de uma linguagem (que não a minha)......................................07
Bruno de Andrade | Tentativa de esgotamento de chuveiros.................................................................08
Tatiane Passos | Esgotamento da mochila - movimento de olhar para dentro.......................................10
Andreia Salvadori | Inframuseu................................................................................................................14
Aline Kauana Cezar | Carta um................................................................................................................16
Mani Torres | Estava Ali.............................................................................................................................18
Mariana Silva da Silva | Sucus Lapidificus..............................................................................................20
Gustiele Fistaról | Tentativa de esgotamento de nuvens........................................................................24
Savana Fuhr Flores | essa pesquisa é sobre 120 minutos de rua.............................................................26
Lis Machado | O Resto é Rosto: da série "Formas de Vestir o Infinito"...................................................30
Larissa Borges | Série "Moldes I, II e III"...................................................................................................32
Raphael Varjak | "Limítrofe" objeto 2/8 da série: lista de objetos cotidianos........................................33
Mayara Lima | InVento.............................................................................................................................34
Susana Toledo | Descascamentos...........................................................................................................36
Fernanda Hilgert | Rachaduras ...............................................................................................................38
Tentativas de Esgotamento | 07
Protocolo: listar durante um ano todas as vezes em que eu, um homem trans, sou tratado no feminino.
Um
ano,
uma
lista,
522
palavras.
Cotidianamente inserido numa fala cultural de um gênero que não é o meu. O discurso é a realidade? Esgoto o corpo tentando esgotar essa linguagem que não o representa. A lista é enorme.
Transformo
ela
em
um
áudio,
gravo
todas as palavras, repito todas elas com essa voz atravessada por tudo que elas causaram combinada com os efeitos fármaco hormonais dessa
transição.
Sobreponho
as
palavras,
canso das palavras, atropelo uma com a outra, esgoto as palavras. Esgoto a fala cultural do gênero? Esgoto essa linguagem? Então: há a inexistência de um corpo destituído das marcas linguísticas // há a impossibilidade de criação de categoria própria // há o impedimento de falar
a
não
preestabelecido
ser //
que há
dentro o
de
lugar
assassinato
da
possibilidade de uma ficção de gênero viva, encarnada.
Há
a
repetição
cotidiana
das
normas de gênero. Dos nomes do gênero. Do gênero
do
que
há.
Quem
chama
o
outro?
Quando o outro se nomeia? 522 vezes parte de uma historia que não é minha, mas é.
tentativa de esgotamento de uma linguagem (que não a minha) - 2019 - 2020 | vídeo
Lau Graef
Tentativas de Esgotamento | 09
Tentativa de esgotamento dos chuveiros - 2019
Bruno de Andrade
Alguém instalou aquele chuveiro? Ele é de plástico? Quantos profissionais passaram por ele até que todos pudessem utilizá-lo para tomar banho? Quando começamos a ignorar essas relações? Quando um objeto deixa de ter em sua órbita pessoas e histórias? A culpa é da pressa, da tecnologia, do mercado que apresenta sempre novidades, governo, etc. Se buscarmos culpados, estaremos de novo discutindo grandes questões, esquecendo de olhar o “nada”, de prestar atenção no automático do nosso dia. Se esse exercício coletivo de esgotamento do chuveiro for uma tentativa diária de que os envolvidos prestem mais atenção ao banal, seremos o grão de areia na praia contra a imensa quantidade de areia, mas é justamente esse o nosso caminho, olhar grão por grão. Tentativa de esgotamento dos chuveiros é um convite a olhar o que transborda do objeto.
Tentativas de Esgotamento | 11
Esgotamento da mochila: movimento de olhar para dentro, é o resultado de uma proposição realizada em formato de oficina em uma turma de 20 crianças, com idade entre 8 a 13 anos que frequentavam uma escola da rede municipal de Montenegro/RS, no contraturno das aulas regulares, no ano de 2019. As imagens são registros fotográficos com o resultado do processo de 10 das 16 crianças presentes no dia.
A proposta iniciou em uma roda de conversa, quando falamos sobre os objetos utilizados para “carregar coisas”, no caso da grande maioria dos estudantes, a mochila. Falamos sobre o que carregamos
e
o
porquê.
Em
seguida,
pedi
para
que
“esgotássemos”
este
objeto/mochila,
registrando, de alguma forma, os pertences que ali estavam. No início, foi difícil para mim explicar o que seria o conceito de “esgotamento”, então, começamos pensando nas cores contidas nas nossas mochilas, pois, minha intenção não era direcionar o pensamento das crianças no sentido de dizer para que desenhassem, escrevessem listas ou textos ou fizessem áudios relatando o que tinha nas mochilas. Meu objetivo era propor uma reflexão acerca do que carregamos e de que modo esses itens falam sobre nós e nosso cotidiano. Que “pesos” já não fazem sentido e podemos deixar para trás? Como podemos observar, apesar da diferença estética de cada imagem em anexo, todos tem em comum, uma pequena legenda de cores, resultante do início da proposta, que está pintada com as cores correspondentes à mochila ou escritas por extenso em formato de lista.
Tentativas de Esgotamento | 12
Depois dessa brincadeira com as cores, a tarefa de “esgotamento das mochilas” ficou mais clara e tornou-se divertida! Ao longo do processo, fui questionando e conversando com as crianças para que observassem com atenção o objeto/mochila em si e os elementos contidos nela. Ao final do exercício de esgotamento das mochilas, fizemos um jogo de interação em que propus que, em roda novamente, todos que tivessem estojos dentro da mochila colocasse seu registro no centro da roda e falasse algo que tivesse vontade. Em seguida, o que para mim era um modo de propor a quem se sentisse a vontade, falar sobre seu processo, tornou-se um jogo “de colocar o trabalho ao centro”, em que as crianças começaram a propor regras, como: todas as mochilas que tivessem lápis - colocar seu trabalho ao centro, todos que tivessem escova de dentes - colocar o trabalho ao centro, e assim seguimos até o final do encontro que não tardou a chegar.
Esgotamento da mochila: movimento de olhar para dentro - 2019
Tatiane Passos
Tentativas de Esgotamento | 14
Local:
Museu Histórico Municipal de Coronel
Pilar
Dias:
25 de setembro de 2020, são 14h30min
e 26 de setembro de 2020, são 15h10mim.
Número tombo: 19.032 Nome do objeto: Estojo com seringa Período: Década de 1950.
O Museu é o território da comunidade na qual está inserido e neste local encontra-se bens culturais,
que
são
suas
testemunhas
da
trajetória do homem, apresentando os aspecto físicos e sociais, abrangendo as questões de transformação
e
desenvolvimento
social.
Quando um bem material passa a fazer parte de
um
Museu
perde-se
sua
função
original
ganhando valores históricos, artísticos, culturais e
simbólicos.
Esse
espaço
pleno desenvolvimento, pesquisa
e
está
sempre
em
lugar de preservação,
comunicação.
ambiente, nosso olhar tem a
Ao
estar
nesse
função básica de
encontrar um objeto que agora chama-se bem cultural,
no
meio
engloba
o
exterior.
Passando
faz-se
ato
uma
de
de
tantas
observar pela
o
parte
comunicação
opções, seu do
com
isso
interior
e
encontrar, os
outros
objetos que ali residem comparando-os com a atualidade e sua finalidade. Alguns são raros, outros mais comuns, assim forma-se e cresse a coleção dos bens culturais musealizados.
Tentativas de Esgotamento | 15
Inframuseu - 2020
Andreia Salvadori
Tentativas de Esgotamento | 17
Uma
carta
carrega
imprevisibilidade,
consigo
quem
recebe
não está à sua espera, e uma urgência
que
é
de
outro
tipo,
sem a ambição de um diálogo ou
resposta
portanto,
instantânea.
feita
de
É,
memória
e
passeia entre os tempos. carta um é uma experimentação em
vídeo
série
de
que
partiu
de
uma
cartas
que
enviei
no
início da quarentena. Nessa, o poema autoral todo contato é confuso
e
arrebenta imagens
os
que
o
pensamento
dentes
propõe
alternam-se
as narrativas em vídeo.
carta um - 2020 | vídeo
Aline Kauana Cezar
com
Tentativas de Esgotamento | 19
Escuro. Abre-se a porta: luz. Está ali. Bem
ali
na
parte
de
baixo.
Embalado
e
encostado dentre os outros. Observa-se e não encontra
nada
que
deseja.
Apenas
sente
a
massa de ar fria vindo em direção ao seu corpo. Aproximadamente, cinco vezes ao dia, fazer isso sem motivo algum. Saciando-se pelo espaço de tempo do abrir e fechar, pelo gosto do choque. No
lapso
que
esteve
imóvel
em
frente
a
ela,
mirando, gastando energia. Continua ali.
Lentamente,
a
proliferação
acontece,
diariamente.
A espera por absolutamente qualquer coisa. Ou: que se rasgue o plástico, que se tire da bandeja e
devore
aquela
fruta
vermelha,
doce
e
molhada. O processo é outro depois de, mais ou menos, quinze dias à espera: decomposição.
Estava ali - 2020
Mani Torres
Tentativas de Esgotamento | 21
Há de ser rio:
deve-se estar entre o sólido e o
fluído, entre o permanente e o mutável para se esculpir pedras. As pedras têm a capacidade de condensar tempo e espaço em sua materialidade; a
força
natural
mais
poderosa
não
seria
o
movimento da água dos rios? É a água que esculpe as
formas
rochosas,
desenhando
o
espaço
da
natureza; um processo que leva muito tempo. Para explicar
Sucus Lapidificus - 2020
Mariana Silva da Silva
a
formação
das
pedras,
talvez
a
mais
antiga e primitiva explicação seja aquela de que as pedras são geradas, ou seja, elas nascem. Para um filósofo grego, as pedras eram geradas na terra a partir dos quatro elementos com a ajuda do sol. Nos
séculos
posteriores,
surgem
as
teorias
de
sementes das pedras, as pedras seriam geradas por suas próprias sementes (e teriam mesmo um sexo) e até o século XVII, os fósseis eram também considerados pedras: a transformação de plantas e animais
em
pedras/fósseis
viria
lapidificus (suco lapidificante).
de
um
succus
Tentativas de Esgotamento | 22
A proposta sucus lapidificus trata-se de uma continuidade do projeto Como desenhar pedras, um livro de artista e uma conta no Instagram (@comodesenharpedras) desenvolvido anteriormente. Para este trabalho, especificamente, é apresentado um pequeno texto e algumas imagens colecionadas da Internet, reunidos para serem expostos como uma postagem da rede social Instagram integrante da exposição coletiva que agora se apresenta. sucus lipidificus convida a pensarmos na conexão entre natureza e arte; o que motiva este arranjo é o conhecimento artístico da natureza, a natureza apreendida em uma dimensão da vida cotidiana.
A natureza exatamente não está lá fora, longe,
afastada. A relação com a natureza, por sua vez, expressa-se através da linguagem, de signos construídos cotidianamente, que deixam por si só de ser uma natureza contrária à cultura e se tornam uma outra coisa; uma margem de encontro e de mistura.
Tentativas de Esgotamento | 25
E se um dia esse invisível que segura as nuvens, que as mantém suspensas sob nossas cabeças, por ventura se acabasse,
rompesse,
e
as
nuvens
caíssem,
se
espalhassem ao chão. A gente então vestiria as nuvens, escolheria alguma mais fofinha para tirar um cochilo, experimentaria
a
textura,
o
sabor,
sentiria
o
cheiro.
Comporíamos essas figuras e formas efêmeras, que às vezes,
enxergarmos
voltaríamos tanta
a
no
céu.
experimentar
completude
–
o
Quem frescor
inteiramente
-
sabe do
como
assim,
novo
com
fazíamos
quando éramos crianças. Essa
tentativa
de
esgotamento
é
também
tentativa de manter viva a minha criança.
Tentativa de esgotamento de nuvens - 2020
Gustiele Fistaról
uma
Tentativas de Esgotamento | 29
essa pesquisa é sobre 120 minutos de rua desafio
de
se
colocar
a
disposição
de
trata-se do
um
cotidiano
desconhecido, da incerteza de inventar novos caminhos e do prazer de escutar sons que pertencem ao todo. Explora as
miudezas
diálogo
com
da o
rua
e
espaço
as
possibilidades
urbano,
esse
do
corpo
espaço
que
em faz
convite ao acaso e abraça o ser como sujeito curioso. 120 minutos divididos em dois. 120 minutos do lado de fora que não o da minha casa. 120 minutos independente do tempo. O
desejo
e
o
desconforto
da
tentativa
de
inesgotável.
essa pesquisa é sobre 120 minutos de rua - 2019
Savana Fuhr Flores
esgotar
o
Tentativas de Esgotamento | 31
O Resto é Rosto: da série “Formas de Vestir o Infinito”, é uma fotoperformance,
feita
estabelecendo
o
esgotamento de um território – o rosto – a partir
da
anteriores,
reverberação tanto
de
trabalhos
performáticos,
quanto
em arte-educação. Tais esgotamentos se deram
na
relação
com
diferentes
elementos – os restos – cultivados e/ou catados
pela
artista:
caveira
e
quadril
bovinos, caveira canina; ninho de pássaro, cipó, casas de marimbondo, pedaços de cabelos
cortados
batata-doce, defunto,
flor
samambaia com
e
exceção
nasceu
em
2019;
folhas
de
chá
cravo
de
citronela, do
campo
e
de
gerânio.
Todas
da
do
flor
limoeiro, as
ervas,
campo,
espontaneamente,
que
foram
plantadas pela artista, em seu jardim, no distrito de Porto Batista - Triunfo/RS
O Resto é Rosto: Série "Formas de vestir o infinito"
Lis Machado 2020
Tentativas de Esgotamento | 32
Q u a i s
a s
p o s s i b i l i d a d e s
m o l d a r o b j e t o ? c r i a r
a
d a
u m O
c o r p o
q u e
p a r t i r
o u
p o d e - s e
d e s s e
a t r i t o ,
c o m p r e s s ã o ,
d a
d e s c o m p r e s s ã o , m o d e l a g e m , e m
c a d a
e
o
u m
d e
d a
q u e
f i c a
d e l e s ?
Série Moldes I, II e III
Larissa Borges 2020
Fotoperformance realizada a partir da idéia de molde,
sobre a possibilidade
de
corpo
modelar
um
ou
objeto.
O
atrito e sentido da fita adesiva cria-se a
compressão
de
uma
matéria
maleável. O inframince que produz o negativo ficam
no
e
positivo, corpo
e
as na
marcas fita,
que e
a
deformação de duas matérias que no seu encontro moldam e são moldadas. Uma
corpo
esgotamento enquanto
experiência, do
estão
corpo se
e
de objeto
suprimindo,
negociando e disputando seu espaço de moldador e moldado.
Tentativas de Esgotamento | 33
Limítrofe.
Sendo
processo
o
resquício
plural,
é
enquanto
de
um
apresentado
vídeoperformance
investigativa
e
experimental
que
estabelece relações entre o corpo e o objeto. Busca as limitações de espaço que contrapõem as ampliações dos seus usos
e
suas
tentativas corpo
formas;
de
parte
encaixe.
O
perpassam
estabelecidas, sutilmente
objeto
que
se
um
as
e
funções
enquanto
para
para
o
pré-
esgotam
preencha
o
outro. Não interage diretamente com a novidade, se assemelha ao óbvio e suas possibilidades Limítrofe da Série "Lista de objetos cotidianos"
Raphael Varjak 2020
pelo
que
primeiro
vídeo
faz
contato
parte
objetos
doméstico,
em
e
corpo
tem
carne
ou
desestabilizam e
"Lista
que
outro.
ferro,
estudo
e
reúne
os
e
as
arquétipos
que
Seja
suas
de
âmbito
configurações o
O
foram
do
contínuo
sobre
como
relacional.
que
pesquisa as
impulsionadas
série
dentro
de
encontros
moldes
da
cotidianos"
catalogados
processo
vêm
um
como
normas
estruturas
se de
socialmente
construídos, podem vir a se conectar.
Tentativas de Esgotamento | 35
Quando que invisibilidade se torna perceptível? Onde e quando Essas
esse
foram
fenômeno perguntas
trabalho que se surge
acontece que
frente
deram
aos
energia
olhos? a
esse
de uma pesquisa cotidiana da
tentativa de ver a maior das
invisibilidades, o vento,
aquele que não dá as caras apenas movimenta. De fato enxerga-lo não foi o resultado final dessa pesquisa, o foco foi deslocado para tentativa de esgotamento da sua
ação,
processo
daquilo
já
percebê-lo.
não
que
me
ele
toca
interessa
e
mais
no
decorrer
vê-lo
mas
do sim,
Mayara de Lima InVento - 2020 | vídeo
Tentativas de Esgotamento | 37
O
d e s c a s c a m e n t o
p a r e d e s ,
d a
d a s
t i n t a ,
d a
p i n t u r a . Q u a n t a s Q u a n t a s
c a m a d a s
v e z e s
Q u a n t o
d e s c a s c o u ?
t e m p o
c o n s t r u ç ã o A
a ç ã o
d o
A
a ç ã o
d o
q u a n t o
n o s
e s s a
t e m ?
t e m p o
p r é d i o s ,
t e m ?
n a s
c a s a s ,
l u g a r e s .
t e m p o
t e m p o
e m
f a z
m i m , q u e
d e s c a s q u e i ?
Dos meus quatro anos de idade até os dezessete morei
em
uma
cidade
chamada
Casca.
Uma
cidadezinha do interior, com oito mil habitantes. Andar de bicicleta, livremente, pelas ruas quase desertas
e
observar
passatempos
as
preferidos.
casas
era
Desenhar
um
plantas
dos de
casas também.
Levar meu cachorro para passear pela cidade e observar o trajeto tornou-se um hábito diário. Ao esperar ele cheirar o chão, as plantas, fazer xixi e cocô, paro e olho para lugares que, mesmo tendo passado várias vezes, ao longo desses quatro
anos
em
Montenegro,
nunca
havia olhado. Começo a ver desenhos em
manchas
das
paredes,
vejo
as
plantas que insistem em nascer no vão do rejunte das calçadas, são resistentes
Descascamentos - 2019/2020
Susana Toledo
ou
(re)existência?
Por
muitas
são consideradas inços, pragas.
pessoas
Tentativas de Esgotamento | 38
Desde que saí da cidade de Casca/RS e mudei para Santa Maria/RS, fui aprendendo
a
desapegar,
desprender-me.
Precisava
me
virar,
estudar,
compartilhar lares, já morei com mais de quinze pessoas diferentes de 2008 até 2019. Esses processos de mudanças e compartilhamentos considero como um sair da casca, um descascamento de mim, tanto no sentido do nome da cidade que
cresci,
quanto
da
analogia
ao
processo
de
nascimento
dos
animais
ovíparos. As fotografias das paredes descascadas representam o ponto onde eu
cheguei
hoje:
me
despi,
me
desccascei,
me
despedi
das
Susanas
do
passado, mas todas elas fazem parte da Susana de hoje, com todas camadas ali, algumas aparecendo mais, outras menos.
Tentativas de Esgotamento | 40
Tentativa de esgotamento das rachaduras - 2019
Fernanda Hilgert
É
pela
espaço está
rachadura –
o
que
não
que foi
tento dado,
acessar o
que
o
outro
quase
não
aqui.
Procuro
a
rachadura
rachadura e
tento
e
olho
habitar
a
pela
fresta,
fresta
–
procuro
escapo.
a
Exposição digital e catálogo Infra-organizado por Gustiele Fistaról, Larissa Broges, Lau Graef, Mayara Lima e Susana Toledo.