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Inhamis começou como um fanzine impresso no início da década de 2000. O nome, um neologismo estúpido, veio de um quadrinho do Beavis and ButtHead, em que um dos personagens atropela uma barraca de inhame. Após alguns anos no cursinho, o zine trocou o papel pelo html e ingressou na faculdade de comunicação, o lugar ideal para fazer inimizades. Em sua fase universitária, o e-zine contava com várias editorias e inúmeros colaboradores. Numa época em que um vídeo despertava mais interesse do que qualquer post, acabamos atraindo mais atenção com o que era upado em nosso canal do YouTube. Até 2010, gravamos dezenas de fitas mini-dv, incluindo clipes de bandas, vinhetas sem sentido, documentários, curtas de ficção e outras empreitadas. Com o término da faculdade, parte do staff saiu em busca de outros projetos. Mais enxuto, o Inhamis tornou-se um estúdio de criação focado em vídeo e design. Atendemos a clientes que se identificam com nossas propostas, firmando parcerias que trazem conhecimento e amizades. Em 2015, voltamos a editar um fanzine impresso. Essa publicação reúne algumas das ideias compartilhadas em um estúdio abarrotado de monitores emitindo raios cancerígenos que envelhecem nossas peles duas vezes mais rápido que a de um cidadão que sabiamente escolheu uma profissão que dá mais dinheiro do que satisfação. Boa leitura! @inhamis
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MANIFESTO RATAZANA
por Diego Navarro
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quipamentos precários, atuações constrangedoras, grão e ruído. Aqui, os filmes devem ser feitos em bando, com o ego roído por ratos. Pendurar sua obra numa parede engordurada, para apreciação de bêbados debochados, que também colocaram os seus (filmes) na
01) Todo tema é livre. 02) Orçamento? Hein?
reta.
03) Todos os filmes podem ser motivo de risadas. nada é sagrado além dessas regras.
Ser Ratazana é produzir mais com menos, é tirar de um buraco sujo uma ideia que tava mofando em cima da mesa. Um assalto à cultura do bemfeito, do capricho e dos jargões técnicos de quem escolhe a câmera antes da história.
04) Todos os vídeos ratazanas são filmes EXCELENTES.
Produza e reproduza como um roedor. Grave com qualquer dispositivo, em qualquer lugar, a qualquer hora do dia, e, depois, monte como quiser, afinal, o filme é seu. Você sabe o que faz, todo mundo sabe o que fez, está horrível e muito legal ao mesmo tempo. Não se trata de trazer um gênero novo pro mundo da sétima arte. A ideia é despejar algo de orgânico no mundo da bronha intelectual. Você também pode reeditar um filme que não é seu, ou que acha que pode fazer pior. Vai ficar ótimo! Só não pode ficar bom. Contra mil condições para se fazer um filme, faça algo. E, por favor, falamos de negócios outra hora, esse manifesto é sobre roubo - roubar a graça do virtuoso e entregar pra quem quiser.
O Ratazana Cineclube é uma cooperativa ilegal de produtores independentes que acreditam que o boteco é o lugar ideal para assistir filmes feitos na raça. Enfileirando vídeos numa playlist do windows media player, o Ratazana tem como objetivo embriagar a produção de conteúdos audiovisuais na cidade de Juiz de Fora, MG.
05) Proibido argumentar sobre o “sentido que você quis dar”. 06) A alcunha “cineasta ratão” só pode ser utilizada após o quinto filme dentro do dogma. 07) A equipe é formada por amigos, e não profissionais. É proibido treta com o coleguinha. 08) O roteiro está pronto no primeiro tratamento. 09) Proibido gritar “ação” ou usar cadeirinha de diretor. 10) Quanto pior a câmera, melhor a câmera. 11) Trocou de lente várias vezes? Que pena... 12) Luz ambiente é a melhor luz (mesmo de noite). 13) Zoom deixa tudo mais poético. 14) Proibido platô, chegue gravando. 15) Som capturado pela câmera vale ponto. Som estourado vale 2 pontos. 16) Figurino, cabelo e maquiagem estão proibidos. Direção de arte idem. 17) Não gastarás mais que 3 dias na montagem. 18) Você pode fazer uso da pós-produção, desde que com softwares piratas e footages roubados. 19) imagens estáticas (jpeg, png, bmp etc) é amplamente autorizado e estimulado. 20) Animações são sempre bem vindas, especialmente de título. Transições pirotécnicas idem.
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CARLOS ADÃO por Francisco Franco
Eu nasci de uma trepada, vocês também. Se foi mal feito ou bem feito, ninguém sabe. teira.
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primeira vez que vi um “Carlos Adão” data do final da década de 90, quando descíamos de comboio a serra do mar para curtir o sol da primavera em Ubatuba. Naquele tempo, sentado no banco de trás com meus irmãos, seguíamos uma caminhonete rural, que carregava toda a carga bruta para as tradicionais férias do litoral norte paulista – caixas de isopor, varas e molinetes, ventiladores, colchonetes, travesseiros, carnes e engradados de cerveja Schincariol. Recobrindo toda a parafernália, uma lona preta surrada rasgava de forma esvoaçante a serra do mar, anunciando aos paulistas a invasão dos lavradores.
foto: João Pedro Castanheira
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A serra de Ubatuba sempre foi temerosa ao volante de motorista-férias-frustradas do meu pai. Por gerações, o velho cuidou com carinho de uma Parati GLS 1.6, segundo ele, o único carro confortável para a família. Eu gostava de ir à praia, mas a viagem tinha uma brisa especial. Em uma dessas descidas, com a fuça colada no vidro esverdeado, vi pela primeira vez a inscrição “Carlos Adão” em uma mureta de contenção na rodovia, que imaginei ser um serviço de guincho - plausível.
Acrílica sobre tela. 2014
CARLOS ADÃO É DOCUMENTÁRIO Carlos Adão em sua piscina em Taboão da Serra - SP.
foto: João Pedro Castanheira
Em março deste ano, quando chegamos à capital paulista para rodar um documentário em parceria com a agência Balaclava Propaganda, Carlos Adão já era um mito na grande São Paulo. Com mais de 160 mil vestígios em diferentes superfícies, Carlos construiu sua própria lenda urbana, dentro da semântica brasileña de amor, sexo e sedução. Ao lado dos parças que hoje agenciam o ídolo, percorremos marginais e rodovias atrás de depoimentos que iriam contribuir na construção de uma narrativa documental acerca do trabalho de Carlos Adão. Após ouvir relatos sobre essa suposta lenda urbana contados por terceiros, finalmente fomos apresen-
tados ao mito, que merece um verbete no Dicionário do Folclore Brasileiro na vibe “Carlos Alberto Adão é um cidadão com aspirações políticas, artista plástico, performático, com senso de humor, que joga com a sabedoria de um economista e debocha com o que mais sintetiza sua existência: a autoconfiança”. Antes de cursar bacharelado em economia pela FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) nos anos 70, Carlos carimbou certidões com o pai, foi boy, gerente de supermercado e amante profissional, inicialmente nos arredores do Butantã - nessa época ouvia-se falar da figura do Cão Fila Km26, do Juneca, mas eu estava ligado a música,
não às artes plásticas. O filho mais velho dos 12 irmãos, grato aos pais e à generosidade da irmã mais nova, renegou o anonimato para ser alguém famoso. Na faculdade, Carlos tentou o diretório dos estudantes. Perdeu, mas fez sucesso. Quando formado, derrotou uma japonesa em um concurso para bancário, fato marcante - ela achou que eu era nordestino. Nessa época, conheceu a primeira mulher e não era pra ficar junto mesmo - Carlos se casou para evitar um aborto, afinal se uma mulher é capaz de matar um filho, o que ela é capaz de fazer comigo? Depois disso, emplacou mais dois. Hoje, vive sozinho porque você já viu uma águia voar por aí com o filhote?
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foto: Ivan Romero
Making of do filme Os 3 Atos de Carlos Adão
foto: João Pedro Castanheira
Eu estava no banco, um cara com 36 anos, o pai tinha dado apartamento pra ele morar, comprou o carro, pagou a festa de casamento. Só faltou comer a mulher dele. Meritocracia é um valor para o economista Carlos Alberto Adão, que começou na política como candidato a vereador de Taboão da Serra, na grande São Paulo, em 1996, pelo Prona. Por duas vezes foi candidato a deputado federal, pelo PC do B em 2006 e PRB em 2014. Foi através da moda que o paulistano descobriu o poder de deixar sua marca por aí. Ainda nos anos 70, ao assinar o nome em sua chuteira, o então craque na pelada do Tatuapé (sim, ele mesmo) esboçou o primeiro rough da marca que o consagrou. Carlos não queria só jogar bola, Carlos queria, também, mudar as regras do jogo - tem que aumentar o tamanho do gol para o jogo se tornar mais competitivo. Depois, em superfícies de madeira de demolição recolhidas no bairro Bela Vista, passou a espalhar timidamente a marca, fixando a madeira nos muros. Hoje, garante que chegou ao shape final da marca, depois de muito empirismo e instinto selvagem - o resultado é único, diferente, podem pesquisar... Para entender Carlos Adão é preciso destrinchá-lo em torno do que ele chama de “plataforma da marca”, um conjunto de estratégias, grafismos e mídias que representa os dois sexos e transmite (só) coisas boas - tem gente que fica feliz em encontrar meu nome indo para o trabalho. É uma filosofia, porra.
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Carlos Alberto Adão é um homem que acredita no jogo da vida e no poder do sexo, e levar tais conceitos ao pé da letra significa uma vida agitada, com uma produção intensa, financiada por atividades paralelas que beiram os laços hierárquicos da máfia: cobranças de aluguel e outras atividades ligadas ao setor imobiliário, comércio de motopeças, aposentadoria e acordo de cavalheiros. Dessa forma, Carlos Adão consegue ser o produtor executivo de sua obra, e pode mensurar o valor de cada veiculação da marca versus o número de pessoas impactadas.
Quem é Carlos Adão? Lenda? Mito? Ou fruto da minha imaginação? Carlos Adão é uma marca, Carlos Alberto Adão é um media, um propagandista hipodérmico que não considera qualquer aversão do público receptor, impondo a marca no cotidiano daqueles que ainda não descobriram o sentido da vida.
CARLOS ADÃO É BETACAM foto: arquivo pessoal.
Dar um rolê no Santana de Carlos Adão é uma experiência - os motoristas acenam e ele se emociona a cada abordagem, fato que fortalece o ego e alimenta a obsessão do senhor de 60 anos. A marca está pintada nas quatro faces do boné, nas costas do blazer e na traseira do carro. O fashionismo se faz presente quando veste camisetas de time e macacões com intervenção da marca para suas performances ao ar livre: Carlos Adão é instalação, durante o dia, de carro, em três atos: a escolha do lugar, o fundo preto e as letras verdes. A semântica das rodovias é recorrente em seu trabalho e provavelmente um grande diferencial na competição por reconhecimento e popularidade. Nas praças de pedágio, Carlos aciona as cornetas no capô, que tocam funk comportado para as garotas da cabine - ele é da cena rodoviária e conhece essas mulheres canta todas, com respeito, por alegria, sem micaretagem. Mostra destreza nas alternativas de retorno e escapadas de semáforo, chegando ao destino sem usar o Waze. Depois, invade as areias de uma praia no Guarujá, no melhor estilo festa rave. Em seu road movie, Carlos procura espaço entre as agendas de pixo da Paulicéia e, após cada ataque, retorna ao volante do Santanão, o “único carro que aguenta um pixador de verdade”.
Sem o hype do VHS, sem a nitidez do HD Carlos Adão dialoga com nossas convicções e diverge em outras tantas (política, aborto, futebol, pronúncia de “rodoanel”, uso de pronomes), além de se contradizer em alguns pontos - normal, quando se trata de um personagem tão amplo e tão confluente de aspirações, que tem opinião para tudo, contituindo um desafio quando se procura amarrar os pontos dentro de uma narrativa que seja fiel entre a convicção e compromisso com o cinema verdade (valeu, academia). Carlos fez e faz questão de impactar pessoas, na melhor maneira possível, através de sua startup diferenciada, emanando amor hippie de uma colina em Taboão. Para delírio dos teorizadores da espontaneidade ou motivos do artista de rua, Carlos Adão provoca,
subvertendo os valores primários da semiótica Peirciana: o amor é preto e verde. Ponto. Carlos picha tudo: coletâneas em DVDr com inserções da marca (entre clipes que variam de Fagner a proibidões), vestuário, carros, livros, posts de internet, hangout de ateísmo, campanha política, paródias musicais, garrafas de cachaça, calçados e acessórios, telas de quadro, galerias, construções, terrenos baldios e pedras de rodovia.
“A ideia não pertence à alma, a alma é que pertence à ideia.” Charles Peirce
Como letrista popular, kitsch e vernacular, Carlos se faz subversivo, negando a máxima da arte para o povo - Carlos Adão é dicotomia! Um corpo e espírito que deixou as ruas para ganhar as galerias no tempo que a balela “arte ou vadalismo?”, “pixo ou picho?”, “grafite ou graffiti?” já tinha escorrido nos brushes da abertura de Malhação. Se foi ou não uma boa trepada, Carlos Adão é chapa quentíssima e está cheio de amor para dar.
Os 3 atos de Carlos Adão é um filme média-metragem produzido pela Balaclava Propaganda e Inhamis Studio.
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Guia do
Prato Feito para a geração Gourmet Tudo o que você sempre curtiu da gastronomia de várzea, digerido por panças refinadas e reapresentado com um terninho de formatura. por Diego Navarro
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ssa é a época da “gourmetização” e, felizmente, botecos e restaurantes de baixo custo não caíram nessa pegadinha de mal gosto criada pelo Instagram. Focados na preservação dos bons costumes, esses estabelecimentos servem bem para servir sempre. A refeição funcional é aquela que te mantém de pé (ou sentado) no seu local de trabalho, vivo, satisfeito e tendo pequenos flashbacks a cada soluço ao longo do dia. Pautada nos conceitos modernos da alimentação LABORAL, essa refeição deve seguir regras específicas, elaboradas nos canteiros de obras e postos de gasolina distribuídos por todo país. Trazemos para vocês uma pequena descrição das principais modalidades e nossas impressões sobre a estilística, toques sensoriais e montagem de cada PAPÁ que circunda seu local de trabalho.
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Prato Feito Custom “Confira as opções do dia” Ao entrar no estabelecimento, você irá se deparar com alguma placa, tábua, quadro negro ou papelzinho listando as opções do dia. Esta é uma das modalidades mais antigas. Preza pelo nome do movimento “Seu prato virá feito”. Mas não tema! Um bom PF consiste de refeições bem servidas. A cebola deve estar presente, sempre! Frita, mas sem perder o poder lacrimogêneo. Basicamente, prato feito é uma carne acompanhada da MISTURA de alface, tomate, arroz e feijão. De brinde, você carrega pelo resto dia o aroma da cozinha brasileira na roupa e no cabelo. Oferecido nas variações “prato” ou “refeição”, você escolhe entre uma montanha de comida no prato ou uma montanha de comida dividida em diferentes travessas.
Prato Feito DE QUINTAL Em alguns lugares privilegiados, você pode se deparar com uma casa que abre suas portas diariamente para receber estranhos dispostos a degustar a verdadeira comida caseira. Preparada no estilo tradicional da cozinha de pensão, o PF de quintal segue a lógica da modalidade Custom, mas com uma ambientação mais íntima, incluindo a presença de animais de estimação, crianças, vizinhos e parentes.
PRATO FEITO Do It Yourself “Sirva-se à vontade com um pedaço de carne, mas evite o desperdício” Os tradicionais self-services com balança não contavam com a revolução do PF faça-você-mesmo. Partindo do pressuposto do amor livre, esta ORGIA nutritiva reserva ao cliente o direito de escolher somente um pedaço de carne. Porém, o festim é liberado. O bom coração brasileiro também coloca uma segunda porção de proteína ao seu alcance por um preço que cabe no bolso. Em alguns restaurantes, você pode pedir um ovo frito (zôiudo) adicional. Em outros, você tem direito a um filé frito na hora! Apóie a cena local de chapeiros. “Lasanha conta como carne? E como meço a quantidade de carne moída?” Apenas siga seu coração, mas fique atento à roubada da linguiça, que geralmente é contabilizada por unidade e, pela variedade de tamanho, você pode sair perdendo. Oriente-se com o garçom antes de montar sua PAEJA. Em tempo: o clássico salpicão de cenoura, batata e UMIDADE vai harmonizar muito bem com o feijão. O céu é o limite.
Nossa Impressão Degustamos o que há de melhor na refeição do trabalhador assalariado que não teme o poder nutritivo dos PF’s. Lágrimas correram. Era um retorno aos tempos de uma vida mais simples. Arroz brilhante como um mar de pequenas pérolas. A cebola, armada de todo poder ácido, toma sua boca como uma piada. Bifes e cortes tradicionais engraxados à exaustão numa chapa que, tal qual as tábuas da lei de Moisés, molda através dos anos a identidade de um povo que mira o horizonte enquanto batalha incessantemente para retirar fiapos de carne entre os dentes. Se te convidarem para um restaurante sofisticado na hora do almoço, desconfie. Não seja mais uma pobre alma ofuscada pelo brilho dos talheres bem limpos e pratos higienizados à perfeição. A beleza reside nos detalhes, nas rachaduras da louça, nas pontas de facas quebradas e no cheiro de boca do copo americano.
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Tony Molina Dissed and Dismissed
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ony Molina é uma anomalia pop que só poderia ter surgido nos anos 2000. Expoente da cena hardcore da Baía de São Francisco, o ex-metaleiro colabora em bandas similares ao Madball e a outros nomes nova-iorquinos, mas, inspirado pelo Teenage Fanclub, iniciou projetos paralelos para gravar canções mais cativantes. O resultado dessa empreitada se aproxima de um denominador comum entre Iron Maiden, Weezer, Dinosaur Jr., Metallica, Descendents, Guided by Voices e Ramones.
As gravações paralelas ao universo hardcore tiveram início em 2004, época em que ele esteve à frente do Ovens. Em 2013, decidiu fazer tudo sozinho, ajustando ainda mais o foco em busca do pop perfeito para lançar Dissed and Dismissed. O debute saiu pelo Melters Records, selo local com uma filosofia que tem tudo a ver com a estreia solo de Tony Molina: “We release music that we liked in high school, but is acceptable listening for all-ages”. Em 2014, D&D foi relançado pela Slumberland, uma gravadora de maior visibilidade e cujo cast dialoga com a sonoridade noise pop do disco, que também tem sido merecidamente tagueado como emo e bubblegum.
Dissed and Dismissed é uma enxurrada de riffs noventistas. Enfileirando hits, o disco traz 12 faixas em exatos 12 minutos e termina sem que você interrompa a sessão de air guitar. A curta duração das músicas e a ausência de repetição não impedem que as melodias fiquem alojadas em sua massa cinzenta após a primeira audição. Tudo é tão pop que o álbum todo funciona com um único refrão, o mais longo de que já se teve notícia, constituindo o antídoto ideal para os novos singles do Tame Impala. Se, ao invés de querer ser o maior o hit-maker de sua geração, Tony Molina tivesse se dedicado à informática, ele poderia ter inventado a extensão zip. Atualmente, Molina está gravando as faixas de seu segundo álbum solo, que será lançado pela Slumberland. Puxamos um papo pelo facebook para saber um pouco sobre suas influências. Ele admitiu que o gênero top five: que mais escutou foi metal, principalmente 1. Neil Young - Tonight’s The Night quando estava apren2. Big Star - 3rd dendo guitarra na pré-a3. Gene Clark - No Other dolescência. Perguntado sobre as inspirações 4. Love - Forever Changes para começar a compor, 5. Metallica - And Justice For All recorreu aos clássicos Beatles e Nirvana. E, bandas no walkman: Sentenced, Demilich, para nossa decepção, Immolation, Dying Fetus, Crowbar, Suffocation, Milk ele não considera Tame Music, Weyes Blood, Jessica Pratt, Meg Baird, Mariam Impala a banda mais Gendron, Happy Diving, Forced Order, Fury, Freedom e chata da atualidade. Defeated Sanity.
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* Eduardo toca guitarra de quatro cordas comando o selo Pug Records.
Foto: roubada de um álbum do facebook
Mas engana-se quem acha que o Tony atira para todos os lados. Suas músicas são certeiras, coesas e homogêneas. Palhetadas incessantes formam uma sólida camada de distorção, sob a qual ele destila melancolia juvenil ao intercalar vocais melódicos com virtuosismos relâmpago na guitarra. Impossível não lembrar de J. Mascis, que já fazia isso quando Molina nasceu, há 30 anos. A principal diferença entre ambos está na disciplina de Molina, cujos solos soam como um Mascis domado por um produtor perfeccionista.
comentários da internet
por Eduardo Vasconcelos*
internet é uma pocilga de gentileza. Quem faz uso de torrents e fóruns para compartilhamento de filmes sabe como é importante massagear o ego de um usuário ativo. Selecionamos e repostamos alguns perfis clássicos do fórum makingoff.org e do Youtube.
Transão As mulheres eram bonitas e com peitos maravilhosos, hj estão mais musculosas que mtos homens e com os peitos inflados que parecem uns bexigões, não que eu não goste dessas também, mas antigamente eram mais bonitas de corpo, só eram peludas demais, tinha que abrir a mata antes de passa a língua.
VIRGEM O filho do didi que pega o jornal na sessão de esportes é o dublador do mago presto da caverna do dragão e também dublou vários filmes la dos anos 80 como os da sexta feira 13
SÍNDICO 1º - Baixei 2º - Assisti ao filme 3º - Agradeço muito. Por falar nisso, lembro-me que na vida não se deve esperar por nada. Por isso sou contrário a existência de pontos de ônibus. A gente posta, às vezes traduz legendas enormes com muito trabalho. Centenas de participantes do fórum fazem download, mas poucos têm educação de agradecer, nem que seja o “Muito obrigado pelo post”.
ADVOGADO Nada pessoal e nada contra quem postou ou editou o áudio desse filme, mas vamos e viemos. Isso foi plágio e constitui-se crime de apropriação indevida.
PROFESSOR Esse filme é incrível! Usei-o muito para promover a discussão sobre etnocentrismo nas minhas aulas de Antropologia. Obrigada e parabéns pela postagem!
TORRENT PRIDE Se o mundo fosse como eu gostaria de que fosse, não perderíamos nenhum filme por falta de seeds. Mas, como não é, nada como ter uma pessoa porreta como você, que está sempre atento aos pedidos do fórum. Obrigada mesmo. E não, não sou puxa-saco. Só sei reconhecer quando as pessoas trabalham a nosso favor, a troco de apenas compartilhar cultura.
GORDO Muito obrigado. Adoro mitologia nórdica.
GROSSO Gostei que deram opções de tamanho para download. Curioso por este filme do Godard, embora tenho que assumir que muitos filmes dele me entediam. Sou sincero, prefiro passar por “grosso-que-não-sabeapreciar-arte” do que fingir algum refinamento que não tenho no caso dos filmes do Godard.
AVANT-GARDE Parece ser experimental ao extremo. Boa upada, agradeço desde já.
SINDICATO Um bom filme de estréia, além de uma ótima reflexão sobre o valor dado à arte (e à classe artística em geral) na sociedade contemporânea
BROTHER Pra mim esse curta foi tão aberto, mas tão aberto, que não ficou nada, ao menos pra mim. A única coisa que eu gostei foi o nome. De resto, não vi nada de mais nem no conteúdo, nem na forma. Claro, o filme pode ser genial e eu não percebi por limitações minhas... Tomara que alguém goste e escreva algo positivo sobre o filmes, talvez assim eu ressignifique a minha experiência por ele :) Obrigado por porstá-lo. Sempre bom ver o que a galera tá produzindo aí.
ORIGINAL Nunca tinha ouvido falar, mas estou baixando, com certeza.Gosto de coisas originais e esta palavra - original - parece definir o filme muitíssimo bem. Claro que originalidade não indica qualidade, mas só por ter um viés mais político, este curta já sai na frente.
Incrível, um puta tópico e quase sem comentários! Vamos lá! Bem, primeiramente cabe frisar que gosto de Alain Resnais. É um dos grandes. Resnais sabe que nossas lembranças são como cacos, dispersas, não cronológicas, por vezes irreais. Fez um filme assim. Onde o passado que não foi, entretanto poderia ter sido, já não o pode mais. Não há nada no presente que o resgate. Um de meus artistas (falo de pintura) predileto é Hopper. Seus quadros tem algo que me transportam para algum lugar onde nunca estive e isso não é pouco. Os planos de Muriel não inspirados em quadros de Hopper e o efeito é algo notavelmente convincente e arrebatador. Um Resnais de marca.
fotos: João Pedro Castanheira
FALA SOZINHO EM CASA
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guia do micreiro
Trabalhar com microcomputadores envolve uma gama de vícios e atitudes reprováveis que deixam seu corpo com um shape todo especial. Quando você abandona uma vida agitada e se transforma em MICREIRO, é importante ter alguns cuidados para preservar a postura e a apresentação pessoal. Confira agora uma seleção de dicas para você não se transformar em um mendigo caseiro:
2) Suportes para monitor são importantíssimos. Eles evitam o clássico cupim na dorsal. Caso você não queira gastar dinheiro, uma seleção literária sempre resolve: Manual do Delphi, guia do Java, bíblia do 3DMax e sua monografia elevarão sua experiência a um outro nível.
1) Um cinzeiro transado perto do computador é uma peça de arte. Invista em esconder seu descontrole com cigarro de uma forma charmosa, divertida e irônica. Cinzeiros com tampa evitam intoxicação ao longo do dia e dão aquela pegada vintage pro seu home office.
3) Ter uma boa postura em frente do micro é essencial para você se livrar da coluna em formato de anzol. Procure uma cadeira confortável e sente-se com dignidade.
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4) Deixe o sol bater na janela do seu quarto. Trabalhar no escuro pode parecer confortável, mas se engana quem acredita que é saudável. Você precisa de um pouco de vitamina D pra manter esse corpo cinza funcionando. Abra a persiana e desligue as luzes durante o dia.
ESTILO HOME OFFICE Dentre as comodidades de trabalhar em casa, a liberdade na escolha da indumentária é uma das que mais proporcionam conforto. Selecionamos alguns de nossos looks para que você dê aquele tapa no visual, não fique com a perna inchada e aproveite ao máximo o expediente no aconchego do lar.
Munhequeiras e meias Kendall são ótimas aquisições. Além de evitar LER, aliviam a clássica dor nas juntas que você tem desde os 20 anos. Disponíveis em várias tonalidades de pele, esses apetrechos também servem para disfarçar eventuais hematomas causados pela má circulação, manchas de micose e outras enfermidades cutâneas.
Olheiras são a marca do micreiro moderno. Esse estilo de maquiagem é causado por noites mal dormidas, excesso de álcool, tabagismo e radiação. Para disfarçar seu olhar de viciado, óculos transados são essenciais. Invista numa bela lupa de designer.
Trabalhar com roupas de baixo é uma das grandes vantagens da vida do freelancer antenado. Dê preferência a peças leves e arejadas. Durante a meia estação, é permitido o uso concomitante de chinelo e meias. Em dias frios, invista em um conjunto de moletom.
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O inhamis é: Diego Navarro, Fernanda Roque, Francisco Franco e João Pedro Castanheira Projeto Gráfico e poster: Fernanda Roque Textos e quadrinhos: Diego Navarro, Eduardo Vasconcelos e Francisco Franco Ilustrações: Diego Navarro e João Pedro Castanheira Fotos: João Pedro Castanheira Revisão: Eduardo Vasconcelos e Guilherme Lignani agradecimentos: Carlos Alberto Adão, Daniel Kubalack, Ivan Romero, Lucas Cernohorsky Tiragem: 500 exemplares
www.inhamis.com | inhamis@gmail.com | facebook.com/inhamis | instagram.com/inhamis
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