Pesquisa sobre os efeitos da ocupação da PM nas favelas.

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Integrante de uma série de pesquisas em comunidades brasileiras de baixa renda programadas pelo INSTITUTO INFORMA, esta Pesquisa Quantitativa realizada para o Jornal O Dia, em março de 2009, com o objetivo de avaliar a aprovação da população carioca (morro e asfalto) sobre a ocupação de favelas pela Polícia Militar, sendo ouvidas 1.031 pessoas. A amostra abrangeu as comunidades do morro Dona Marta, Cidade de Deus (ocupadas pela polícia), dos morros Pavão/Pavãozinho e Salgueiro (sem ocupação) e os moradores dos bairros de Botafogo, Copacabana, Jacarepaguá e Tijuca.

Principais resultados A sensação de segurança distingue os moradores de favelas ocupadas e de não ocupadas. No grupo de favelas ocupadas, 41% sentem-se mais seguros do que há um ano, contra 16% dos moradores de favelas não ocupadas. A comparação entre os bairros com favelas mostra também a diferença em relação à situação da favela. Nos bairros com favela ocupada 15% sentem-se mais seguros, contra 6% dos moradores de bairros com


favelas não ocupadas. Os índices variam conforme o nível de violência em favelas não ocupadas. Para os moradores do Salgueiro a sensação de violência é bem menor.


A ocupação das favelas influiu positivamente para a imagem e a auto-estima dos moradores de favelas ocupadas e também para a melhor percepção da cidade pelos moradores do asfalto.

A atuação da polícia, habitualmente criticada, teve aprovação bem mais acentuada entre os moradores de favelas ocupadas. A nova proposta do governo transforma a postura do policial na sua relação com os moradores de comunidades carentes, o que variavelmente afeta a percepção da imagem institucional da corporação. No entanto esta avaliação não alcança os moradores dos bairros com a mesma medida.


Outros gráficos Cada entrevistado citou uma palavra negativa para definir o policial militar. Nas favelas ocupadas as críticas mais duras apresentaram percentual menor:

Outra avaliação importante é a do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). A aprovação (avaliações ótimo e bom) é bem mais acentuada no asfalto, quando comparadas às respostas, independentemente da situação das favelas quanto a sua ocupação.

As percepções sobre a vida financeira são observadas distintamente em alguns fatores. Sobre como a crise mundial afetará a vida dos entrevistados em favelas, os que moram em favelas ocupadas estão mais preocupados com as dívidas que assumiram e menos com emprego do que os moradores de favelas não ocupadas.

Para todas as comparações realizadas, sobretudo no que se refere à crise mundial, devem ser levadas em consideração as diferenças sociais entre as comunidades investigadas, que não estão sendo retratadas aqui.


A dívida histórica com as comunidades carentes O abismo social que separa as favelas do asfalto é tema recorrente para especialistas de diversas áreas. Sociólogos, antropólogos, ambientalistas, sanitaristas, urbanistas e historiadores se dedicam ao estudo dos desafios para ajustar as diferenças brutais que distinguem de forma preocupante essas duas realidades. A primeira pesquisa em favelas do país foi feita pelo sociólogo José Arthur Rios, em 1960, sob o título “Aspectos Humanos da Favela Carioca”. Portanto, em 2010, completará meio século desse primeiro olhar das ciências sociais para o fenômeno das favelas, que agora alcançou dimensão absurda e de imensa desumanidade. Como foi dito anteriormente, o Brasil tem mais de 50 milhões de moradores em favelas, é o terceiro maior contingente do mundo, perdendo apenas para China e Índia, segundo estudos da UN-Habitat, organização não governamental especializada em estudos urbanos em todo o mundo. Na cidade do Rio de Janeiro o número de moradores em favela ultrapassa a casa de um milhão de habitantes, distribuídos em quarenta e cinco quilômetros quadrados de área. Olhar para essa realidade social é inevitável, mesmo quando não se quer. As diferenças sociais entre asfalto e morro são gritantes. A gênese dessas diferenças está nos erros recorrentes dos poderes públicos e de toda a sociedade, desde os primeiros anos da fundação da Cidade Maravilhosa. O mundo das favelas é outro. A favela vive o que a maioria da população conhece apenas pelos jornais, livros e internet. Convive com o submundo do crime e da corrupção. Acostuma-se com a violência como os mariscos entre a onda e as rochas, sobrevivendo em meio a essa guerra, a produzir um contingente assustador de inocentes vitimados. A favela habitua-se à falta de planejamento familiar, soma de ausência de programas sociais e de conscientização: chega a 31% a população de zero a 14 anos na favela, enquanto no asfalto é de 21%. Vivências que fazem o morador entender a cidade de forma mais profunda. A vida na favela estabelece a relação com a cidade dramatizada pela experiência dos desafios cotidianos. Áreas insalubres tornam algumas comunidades ambientes extremamente vulneráveis à proliferação de doenças. Não são pequenos os desafios do poder público, anos de descaso com as comunidades geraram demandas que não serão solucionadas facilmente.


O mundo da vida na favela é outro, mas a necessidade de integrá-lo à sociedade é inadiável. Os efeitos das intervenções governamentais têm impacto profundo para os moradores que permaneceram esquecidos por anos. Indiscutivelmente, o Favela-Bairro foi um avanço excepcional e o investimento do PAC nas favelas cariocas abrirá novas perspectivas e potenciará a qualidade de vida dos moradores das áreas que receberão intervenções. De igual forma, a ocupação do Dona Marta e da Cidade de Deus pela Polícia Militar está proporcionando alterações significativas no modo de vida daquelas comunidades. Os moradores das favelas ocupadas avaliam melhor suas condições de vida, estão mais otimistas e satisfeitos com a atuação da polícia. Estão vendo a cidade de outra forma. A ocupação começou por comunidades que facilitaram a operação pelo tamanho (no caso do Dona Marta) ou pela disposição das unidades domiciliares (no caso da Cidade de Deus). Mas este modelo está sendo testado, e, somado a outras intervenções sociais indispensáveis, pode ser o início dessa longa caminhada, que é o pagamento da grande dívida social que a cidade tem com as suas comunidades carentes. * Fábio Gomes é sociólogo e Diretor Presidente do INSTITUTO INFORMA


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