“ AMAZONITUDES ” Quando percebi pousei em uma cidade mergulhada entre braços de “rio-mar”, Belém do Pará. Aqui os rios são mares e os ritmos das águas ditam as vidas de muitos. A concordância no plural por aqui é estritamente necessária, dada a tremenda vastidão de tudo. Também pousaram por lá europeus patrícios em 1616, após expulsarem os franceses da pretensa França Equinocial, em Saint Louis, hoje a nossa cidade de São Luís do Maranhão. Neste distante século XVII já se registrava a presença dos Tupinambás em cenas cotidianas, como fazendo manteiga de tartaruga, as tracajá. Nossos patrícios e outros “euroloucos” buscavam por aqui um Eldorado, para variar, mas não encontraram, ainda bem... Então comercializaram cacau, baunilha, canela, pirarucu, couros de mamíferos e coisas mais. Nossos historiadores chamam de Drogas do Sertão, as nossas especiarias! Mandavam as “Especiarias-Brasilis” para a Europa com a maior margem de lucro possível, em linguagem atual com ágio máximo! Era um mercantilismo extrativista tipo Vasco da Gama, que nada produzia, mas que fazia circular na busca do lucro, com a vantagem de ser bem mais perto que a Índia. Nada gostaram os Tupinambás desde “vai e vem sem sentido algum” e foi secular a luta na região. Houve batalha com 10 mil tupinambás! Com olhar secular pulei nas ruas de Belém! Vi o Ver-o-Peso, mercado popular, ao lado do original “edifício de ferro”, onde a colônia buscava arrecadar algo para a coroa lusitana. A fortificação local que era de palha passou a ser de pedra, o Forte Presépio, marco da fixação dos portugueses nestas “bandas-brasilis”, um verdadeiro desgosto tupinambá. Pode-se dizer que “senti este gosto amargo destes meus longevos antepassados”. Ao fundo, uma trilha sonora de Techno-Brega impregna o ar! Sonoridades fluviais... Fugi das ruas e fui para as águas, as águas do rio Gurupá rumo ao mais caudaloso e extenso rio do mundo, O AMAZONAS-MUNDO. Antes teve o rio Canapijó, o Arroizal, a Baía de Marajó com suas grandes ondas, o rio Pará, o Estreito de Breves, o rio Aturiá, o Tajapurú, o Tamarati e depois o “gigante-mundo”, o Amazonas. “Não parecia rio, parecia mar. Não parecia deste mundo, parecia do de lá”. E era só parte das águas do “rio-mundo”: a Passagem de Peixe. Um trecho profundo e habitado por “grandes-peixes” e que vai direto para o Atlântico, uma porta de entrada e de saída. O Amapá, logo ali... Por lá no “rio-mundo-de-peixe” cheguei no dia 04 de setembro de 2014, de acordo com o nascimento de Cristo e o calendário cristão. Também às 18h30min, agora em conformidade com um pequeno marco no solo de um local chuvoso e frio, distante fisicamente e culturalmente, chamado Greenwich. Por convenção divide tudo entre Ocidente e Oriente, uma linha vertical imaginária que separa a “laranja-mundo” em duas partes, o grau zero das longitudes servindo para definir os fusos horários do mundo. Deste mundo ou do mundo deles? O tempo das águas de nosso “Brasil-do-Norte” pouco tem ou nada tem do tempo inglês de Greenwich, um dos tantos símbolos de poder já perdidos pela ilhota britânica.