FUNDAMENTOS ÉTICOS E AS DIFERENTES CULTURAS

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Apresentação O Curso de Fundamentos Éticos e as Diferenças Culturais tem como objetivo promover a discussão sobre os valores que orientam as ações humanas em sociedade para uma melhor convivência apesar da grande crise moral e ética que o mundo vive. A coletânea de textos nesta apostila serve como suporte para termos uma referência teórica para as discussões e trocas de experiências e análise de situações que podem ser observadas em nossa sociedade, nos grupos sociais, nos meios de comunicação, nas redes sociais e em nossas relações pessoais. Dentro do curso, as imagens e vídeos servirão para compreendermos melhor e de forma didática e até humorada o mundo em que vivemos.

“Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: (1)quero?;(2)devo?;(3)posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.” Mario Sérgio Cortella

Marcelo Wollenhaupt Menna Barreto

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Sumário 1-O fruto da Sabedoria ...................................................................................................................................... 4 Aula 2- Processos associativos e dissociativos ................................................................................................. 5 Aula 3 - Política e educação .............................................................................................................................. 8 Aula 4 - Padrões de comportamento.............................................................................................................. 10 5- Alguns conceitos sobre a Ética.................................................................................................................... 12 Aula 6 -Antiguidade Clássica ........................................................................................................................... 18

Aula 7 -Escolas helenísticas............................................................................................................................. 20 Aula 8 - A moral no Islã ................................................................................................................................... 22 Aula 9 -A Ética dos Vedas nos Upanishads ..................................................................................................... 25 Aula 10 -A Fonte da Ética: o Bom Senso ......................................................................................................... 28 Aula 11 -A Ética Indígena ................................................................................................................................ 30 Aula 12 -O Mal e o Bem .................................................................................................................................. 31 Aula 13-Arthur Schopenhauer ........................................................................................................................ 35 Aula 14 -A moral kantiana .............................................................................................................................. 38 Aula 15 -O pragmatismo ................................................................................................................................. 42 Aula 16 -A ética trágica de Nietzsche ou ........................................................................................................ 45 Aula 17- Qual é o papel da ética, do superego cultural? .............................................................................. 51 Aula 18 -A questão do bem e do mal ............................................................................................................. 52 Aula 20 - Bipolaridade política e a minha obrigação de ter um lado. ............................................................... 58 Aula 21 - O que é Hedonismo: ........................................................................................................................ 59 Aula 22 - Livre-arbítrio, determinismo e responsabilidade moral ................................................................ 62 3


1-O fruto da Sabedoria “ ’Naquele tempo em que contava mais a maçã que saciava a fome do que a saciedade metafísica da alma, o significado de felicidade deveria ser barriga cheia, caverna seca, abrigo seguro e sexo satisfeito. Com o passar do tempo, o engenho humano dominou o fogo e mudou a dieta, que então passou a incluir alimentos cozidos. Veio a casa, que trouxe o conforto e estabeleceu o domínio do território. Veio a família, para consolidar a tribo. O ser humano começou a querer mais. O sorriso deixava de ser um grunhido de dentes escancarados para tomar a forma elegante de um desenho de boca. Sorrindo, ele começou a pensar em coisas que ultrapassam as certezas oferecidas pelos hábitos repetidos geração após geração e por seus próprios instintos naturais. Questionou a si mesmo sobre o bem-estar do espírito, dado que o bem-estar do corpo era uma realidade que ele pôde conquistar, e, questionando os céus, inventou a religião. ’ ‘Nesse contexto, a ideia de felicidade exerce um poder balsâmico sobre o homem. Machado de Assis fala, por exemplo, a respeito de uma personagem de A mão e a luva: “ Ao voltar para casa, uma criança que brincava na rua, em camisa, com os pés na água barrenta da sarjeta, fê-lo parar alguns instantes, invejoso daquelaboa fortuna da infância, que ri com os pés no charco.” E esse salto qualitativo quem proporcionou foi a Filosofia grega, em especial com Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) ao indicar a busca do melhor, do bem e do belo. “Platão (428 a.C. ? – 348 a.C. ?) nos remete ao amor ideal, puro, quenão exige nada em troca, livre, que não se prende, que não se deixa escravizar e que também não escraviza. As asas não podem sufocar a águia, e da mesma forma o amor não pode sufocar o homem ou a mulher. Sonhava Platão em controlar tudo aquilo que pudesse concorrer para suprimir essa divina e humana liberdade, como os instintos, a agressividade e a paixão.” Fonte :A semente, a flor e o fruto da sabedoria

Aspectos distintos da cultura Um dos fatores mais importantes no progresso da cultura até sua situação presente tem sido o uso da linguagem. 4

diversidade de culturas


É como instrumento de comunicação que a linguagem tem desempenhado seu mais importante papel na construção da herança social humana. Graças à posse da linguagem os homens podem transmitir uns aos outros uma ideia clara das situações não atuais e do comportamento adequado a essas situações o que torna possível um enorme acréscimo ao conteúdo da herança social. E a herança social, isto é, a cultura, veio assim ter dupla função. Serve para adaptar o indivíduo a seu lugar na sociedade, bem como a seu ambiente natural. Os homens defrontam a natureza, não na qualidade de unidades isoladas, masna qualidade de membros de grupos cooperativos organizados. Mas essa herança pode trazer certos prejuízos quando por demais acentuada determinada regra. Por exemplo, no Japão medieval, quando os exércitos se encontravam, os campeões de cada lado se destacavam, apresentavam-se uns aos outros e expunham um breve resumo de sua genealogia e de suas proezas anteriores. Seus antagonistas ouviam polidamente, mas tinham licença de interromper se o campeão fizesse uma declaração falsa; na realidade, apanhá-lo em erro e assim embaraça-lo era considerado como excelente começo de combate. A batalha só principiava depois que ambos tivessem acabado suas alocuções. Quando os japoneses tiveram de enfrentar os menos esportivos, porém mais práticos mongóis, perderam muitos de seus campeões que ficaram despedaçados antes mesmo que estivessem prontos para combater. Fonte: O homem: uma introdução à antropologia. p. 108 Aula 2- Processos associativos e dissociativos À medida que a divisão de atividade se faz e se estabiliza, há um correspondente aumento da interdependência dos membros do grupo e de um desenvolvimento de atitudes e padrões de comportamento habituais. A conduta recíproca dos indivíduos torna-se cada vez mais previsível e sua cooperação cada vez mais completa e eficiente. Esta acomodação mútua no comportamento e atitudes individuais transforma o agregado numa unidade funcional e o habilita a executar a maioria dos trabalhos de uma sociedade. É esta unidade psicológica e emocional que assegura reações emocionais comuns e torna o indivíduo pronto a sacrificar seus próprios interesses pelos interesses gerais e a fazer o que deve ser feito ainda quando ninguém o observa. Nos diferentes grupos sociais sempre existiram e existirão aqueles que aceitam as regras, os que rejeitam totalmente as regras, os que que conciliam regras e comportamentos e os que manipulas dentro das regras. E aqui encontramos os comportamentos sociais que irão nos ajudar a compreender o processo de construção da malha social: Cooperação: na cooperação diferentes indivíduos cooperam entre si para alcançar um objetivo em comum. Acomodação: é o processo no qual um indivíduo se contenta, sem satisfação, com a situação que é imposta por um outro indivíduo ou pela sociedade. Assimilação:é o processo que ocorre quando indivíduos de grupos antagônicos se tornam semelhantes. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/ljjRu9amckE Dentre os processos dissociativos estão: ➢ Competição: é a disputa de interesses entre indivíduos ou grupos sociais, regulada por “normas”, não havendo formas de violência ou força bruta. ➢ Conflito: Diferentemente da competição, que não usa de meios violentos para a conquista do objetivo; o conflito: é o processo que ocorre quando a competição ganha um grau de alta tensão social, podendo haver, inclusive, violência ou ameaça de violência. 5


Como um líder conseguiria desenvolver uma nova sociedade quando os indivíduos já foram formados em outra sociedade? Pode ser que estes hábitos se modifiquem, como quando um individuo vai viver numa nova sociedade e gradativamente se incorpora a ela, mas é quase impossível modifica-los a não ser que a nova sociedade ofereça padrões de comportamento que o recém vindo possa aprender direta e objetivamente. Quando a nova sociedade não possui tais padrões, cada individuo precisa, toda vez que tiver de agir, deter-se e pensar. Ainda mais: o que um individuo decide que é conveniente, relativamente às ideias e valores básicos da nova sociedade, talvez não concorde com o que o outro individuo pensa ser conveniente. O resultado é uma infindável confusão e uma interferência involuntária; e as pessoas que estão tentando desenvolver a nova sociedade logo recaem nos seus antigos hábitos. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/5ZAdMnXjSVM

A Agogé, a educação espartana

Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos usavam para a educação já diz tudo: agogé , isto é, "adestramento", "treinamento". Viam-na como um recurso da domesticação dos jovens. Seu objetivo maior era formar guerreiros para defender a coletividade. Assim sendo, temos que entendê-la como um serviço militar obrigatório estendido à infância e à adolescência. Sabe-se que a criança até os sete anos de idade era mantida com a mãe, mas a partir dos 8 anos enviavam-na para participar de uma espécie de bando que era criado ao ar livre, um tanto que "ao deus-dará", onde terminavam padecendo de um regime de escassez alimentar para que desenvolvessem a astúcia para conseguir uma ração suplementar. Admitiam, pois, o ardil e o roubo como artifícios válidos na sua formação. Se fossem pegos em flagrante, no entanto, os castigos eram violentíssimos, sendo submetidos à chiamastigosis , às provas de flagelação públicas. Dos 12 aos 15 anos, instrumentavam-nos nas letras e nos cálculos e, naturalmente, no canto de hinos do poeta Tirteu que ressaltavam a bravura e o patriotismo e, na etapa final, entre os 16 e 20 Sugestão de vídeo: https://youtu.be/PFFtQJHGdZE

anos, quando passavam a ser denominados de eirén. Antes de entraram em permanente serviço da pátria, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e espadas e no arco e flecha e aumentavam-lhes a carga dos exercícios e a participação de operações militares simuladas nas montanhas que circunvizinhavam a polis. Como observou Plutarco, o objetivo era de que sempre andassem "como as abelhas que sempre são partes integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe, parecendo consagradas inteiramente à pátria". Atuavam em bandos liderados por um porteiras , um líder de esquadra, uma espécie de sargento, que lhes ensinava as táticas da arte da sobrevivência. A essa altura perfilava-se o que a sociedade espartana desejava do seu jovem: silencioso, disciplinado, anti-intelectual e antiindividualista, obediente aos superiores e às autoridades, vigoroso, ágil, astuto, imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, com esprit de corps e fanaticamente dedicado à cidade.

A presença do corretivo Platão, ao comentar a educação espartana, observou que sua principal falha era exatamente a ênfase excessiva aos exercícios físicos, conquanto que a boa educação era resultado de um composto entre a ginástica e a música, aqui entendido como a educação humanística em geral. Por isto, a obsessão militarista impedia-os de saberem conduzir-se em tempos de paz e mesmo de saber administrar 6


sociedades que não tinham os mesmos valores que os seus. Mas a crítica maior deve-se dirigir ao objetivo final disso tudo que era a de desenvolver a destemida coragem. O jovem, transformado num meninosoldado, não teria receio de nada que envolvesse as artes militares, as manobras em campos de batalha ou as ameaças dos inimigos da coletividade. A coragem antes de tudo é um atributo espartano. Por consequência, não apreciavam nenhum tipo de tolerância ou leniência para com as obrigações devidas a polis. Qualquer fraqueza era vista como covardia, algo a ser veemente repelido do seio daquela sociedade e, para corrigir seus defeitos e possíveis hesitações, os educadores recorriam à sinistra presença do mastigáphoroi , o "portador do látego", encarregado dos chibatamentos, suplícios que eram estendidos inclusive às mulheres, consideradas as mais livres e as mais endurecidas da Grécia Antiga. E, para desenvolvê-la - a coragem - individualmente, os legisladores espartanos criaram a críptia , um "esquadrão de extermínio" que estimulava os jovens selecionados a caçarem, sozinhos ou em grupos, os hilotas (escravos do Estado) que por acaso andassem desgarrados ou que, de alguma forma, representassem, pelo seu vigor físico, uma ameaça à segurança dos espartacitas. Localizados e capturados, eram vitimados pela espada ou pela lança (as operações da críptia não passavam de assassinatos legitimados). Foi essa liberalidade homicida que fez com que dissessem que os "espartanos livres eram completamente livres, e os escravos, escravos até os limites". Esse sistema educacional, graças ao seu conservadorismo e apego ao tradicionalismo, que se somava a uma ausência de crítica e à completa cegueira patriótica, fez as delícias dos aristocratas e pensadores da Grécia Antiga, como também dos conservadores em geral ao longo da História. Modernamente, os regimes fascistas e nazistas nele se inspiraram para a montagem das balilas fascistas ou da Hitlerjügen nacional-socialistas, nos anos 20 e 30 do nosso século. Mesmo Rousseau, identificado como o mentor da pedagogia liberal dos nossos tempos, rendeu suas homenagens ao agogê por estimular o ardor patriótico e o civismo espartano bem como a valorização da coletividade acima do bem privado.

Parthenon de Atenas

Também se projetou por outra razão: a defesa da ideia básica de que a educação era um assunto de interesse coletivo e que, portanto, ninguém melhor do que o Estado para promovê-la. Por sua ascendência sobre a sociedade, era ele o único capaz de poder integrar ou sublimar as vocações privadas, submetendo-as ao coletivo. Esta era a admiração maior que Platão devotou ao sistema educacional espartano, cujo modelo não se encerrará apenas nas preferências do filósofo em muitos dos seus diálogos (particularmente no A República ), mas também renascerá com toda a força no Iluminismo, no século 18. A partir de então - a educação estatizada - se tornará moeda corrente em todos os sistemas políticos modernos, não importando a sua ideologia.

Ao contrário da sua rival Esparta, Atenas conheceu diversos tipos de regimes políticos. Em tempos remotos, foi governada por um monarca, o basileus, que se assessorava com um conselho (o bulê) de anciãos, chefes dos principais clãs. Esse monarca viu, no transcorrer dos tempos, seu poder ser esvaziado a ponto de limitarem-no, na época oligárquica, à simples presidência das cerimônias religiosas. Os oligarcas, por sua vez, também não duraram muito. Por volta de 560 a.C., Pisístrato, um caudilho muito popular. 7


tomou de surpresa o poder na cidade, tornandose o seu primeiro tirano. Não fez mau governo, mas evidentemente que granjeou muitas inimizades. Seus dois filhos, que o sucederam, foram derrubados por volta de 510 a.C., abrindose caminho para que um regime totalmente novo fosse então adotado: a democracia.

partir deles, dessas circunscrições, é que nasciam as instituições básicas da democracia: o Conselho dos 500, formado por 50 integrantes de cada um dos demos, escolhidos por sorteio feito nos bairros, e a Eclésia, assembleia geral que reunia toda a população adulta masculina para deliberar sobre os assuntos mais graves que diziam respeito a toda a comunidade.

O artífice dessa nova época chamava-se Clistenes e a ele devemos a primeira reforma democrática que conhecemos com razoáveis detalhes. Clistenes substituiu o sistema de clãs por uma nova divisão político-administrativos assentada em 10 demos, locais onde a população vivia. A Sugestão de vídeo: https://youtu.be/KyfkNcyrQKA https://youtu.be/UPfW1utTF1A As reformas de Clistenes O reformista Clistenes não regou em campo seco, pois teve um antecessor célebre, o sábio Sólon, que também havia refeito, por volta de 596 a.C., à constituição da cidade, abrindo espaço para uma lenta ascensão dos plebeus, bem como a introdução de uma série de outras regras e leis que impediam que os poderosos humilhassem e oprimissem os mais fracos. Havia, pois, uma tradição legislativa que, mesmo que não fosse exposta muito claramente, procurava a harmonia social e certa igualdade (isonomia) perante a lei. E, por mencionar a lei, pode-se dizer que o regime democrático entronizou-a como sucedâneo da 1Clístenes monarquia. A celebração da lei como entidade maior e sagrada, a quem todos igualmente devem obediência e respeito, foi um dos legados mais memoráveis da democracia antiga e principal motivação da criação teatral de Ésquilo e Sófocles. A Logocracia: a educação ateniense Os testemunhos da educação ateniense são unânimes em afirmar que a democratização da sociedade e da vida política não representou uma alteração no seu ethos , nos seus ideais finais. Ela continuou orientandose pelo modelo cavalheiresco da nobreza no sentido de alcançar a kalokagathia , a ambição de reunir num só corpo a beleza física e moral. Os plebeus, ou "burgueses" que ascendiam, não o questionavam. Muito ao contrário, desejavam-no para os seus filhos. O que alterou substancialmente foram as formas de atingilos. Assim, ao longo da hegemonia democrática, a educação dos seus jovens manteve-se em permanente contradição entre o ideal do gentil-homem, culto e cavalheiresco e o cotidiano igualitário, rude e singelo. Apesar dos avanços da democracia, Atenas nunca deixou de ser dirigida e orientada por membros da nobreza. Até o mais radical dos igualitários tinha origem nobre, provindo das famílias ilustres, que por séculos influenciavam a vida política e cultural da cidade. Consequentemente, eles, os aristós , e os seus valores, continuaram sendo os paradigmas. Aula 3 - Política e educação A educação sofreu uma substancial alteração quando ocorreu a transformação da cidade oligárquica, calcada nos valores militares, para a cidade democrática inspirada na importância da palavra. O antigo processo de transmissão do

conhecimento, ou das habilidades, que fazia largo uso da pederastia, onde um amante mais velho acompanhava a formação do seu jovem escudeiro, foi substituído pela escola, regida pelo mestre que administrava lições de gramática e primeiros cálculos. 8


O antigo treinamento dos guerreiros, a hoplomachia, o combate simulado armado, cedeu lugar aos exercícios de ginástica e à participação nos corais musicais. O ideal homérico do culto aos heróis transferiu-se para o plano dos desportos. E a espada gradativamente foi substituída pela palavra. Atenas passou a abrigar um verdadeiro enxame de mestres vindos dos lugares mais remotos, prontos a dotar seus alunos do dom maravilhoso da palavra. Por todos os lados, nos séculos 5 e 4 a.C., abriram-se escolas particulares, portanto pagas, onde se prometia tudo poder ensinar-se. Desprezando a desconfiança do poeta Píndaro, o bardo da aristocracia, que duvidava ser o valor, a areté , passível de ser aprendido por quem não nascesse com ele, os mestres sofistas foram a luta. Não havia espaço público onde não se encontrasse um deles tentando seduzir seus possíveis alunos por meio de um panegírico ou de um epídeixeis, um discurso-demonstração, uma curta conferência onde, como um virtuose, O tripé da cidadania A gramática, a retórica e a lógica formavam o tripé da solidez do cidadão. Quem quisesse viver naquela sociedade tinha, obrigatoriamente, que delas se socorrer. E elas estavam à disposição graças aos sofistas e o seu objetivo era habilitar o jovem a tornar-se um cidadão dotado de arte política. Mas discursos ocos ou verborrágicos não satisfaziam a ninguém. Era preciso ter uma cultura poética e literária: saber Homero profundamente, bem como Teógnis, Píndaro e os trágicos. Exigia-se ainda a frequência às conferências e às audições públicas dos grandes sábios. Eram célebres as promovidas por Protágoras, o maior dos sofistas, tido, até mesmo por Sócrates, como um dos homens mais cultos do seu tempo. Mas o verdadeiro responsável pela ruptura definitiva da educação voltada para o gentilhomem dos tempos arcaicos, para uma cultura de escribas, com forte ênfase na abstração e na especulação, foi mesmo Sócrates. O velho sábio tecnicamente não se diferenciava dos demais sofistas. Ele também deambulava pelos locais

desenvolvia seus argumentativos.

talentos

oratórios

e

Ao jovem efebo era então oferecida a mais diversa gama de conhecimentos. Terminada sua escolaridade convencional, por volta dos 18 anos, ele podia alternar suas obrigações militares, determinadas pelas efebia, onde o adestravam nas artes militares por dois anos, com o aprendizado junto a um sofista. Na Atenas do século 5 a.C. ocorreu uma verdadeira explosão da palavra. Conforme a democracia enraizava-se mais e mais era preciso dela como um instrumento político e de afirmação da cidadania. O homem livre que não se envolve com as coisas públicas, que atendia apenas o seu interesse pessoal, era visto, como enfatizou Péricles num célebre discurso, como "um inútil". Necessitava-se não só expressar-se bem, recorrendo à retórica, como apresentar sua demonstração de uma maneira racional e persuasiva, o que o obrigava a dominar os silogismos lógicos.

públicos oferecendo sua inteligência cortante e fazendo largo uso de todos os truques da dialética para vencer um embate intelectual. Divergia deles, dos sofistas, na medida em que contestava o seu relativismo, buscando com tenacidade as coisas perenes, uma moral humana imutável, residente no mundo das formas, no tóposouranos . Algo que não flutuasse ao sabor dos ventos e das modas, uma conceituação comum e imorredoura do que fosse o Belo, o Bem e o Justo. Seu discípulo Platão não o seguiu num aspecto: não acreditava na difusão ampla da sabedoria junto à gente comum. Para ele, ela só poderia advir de um confinamento voluntário, da sua separação do iniciado do resto da sociedade. Nada de andar na ágora , tentando converter anônimos. O conhecimento, episteme , só era alcançável pelos homens cultos mantendo-os no alto, afastados, como uma acrópole em relação à cidade. Daí ele terminar por fundar a Academia - um local específico, uma casa da ciência e da sabedoria para que um seleto grupo pudesse privar da 9


intimidade de um grande pensador e dele auferirem a essência das coisas, tratando de dar "atenção a seus próprios assuntos", no sentido do auto-aprimoramento. Crítico da democracia, Platão via-a como um espaço da licença e da desordem. Um regime que fazia com que os aspectos sensitivos, passionais e demagógicos tomassem de assalto os fortins da razão e da coragem, contribuindo para que tudo

terminasse reduzido à confusão, à anarquia e à desobediência, e onde o "espírito de tolerância impera aqui sobre a justiça". Provavelmente nunca se deu conta que também foi ela, a democracia, que mais promoveu a Palavra, entronizando-a como a nova divindade dirigente dos assuntos humanos. Deidade a qual, por sinal, ele foi um dos mais aplicados devotos. Fonte:www.terra.com.br

Aula 4 - Padrões de comportamento Um padrão é algo que se repete, que tem uma regra, uma lógica, uma conformação definida. Um padrão de comportamento é uma maneira de agir que sempre se repete diante de situações semelhantes. Se você sempre "explode" à menor contrariedade é porque criou um padrão de comportamento. Quando se depara com algo que não saiu como você queria, "dispara" internamente sempre a mesma reação. Aprender é criar padrões. Quando estamos diante de algo novo, dizemos que nos é desconhecido. Não temos padrões para aquilo. Procuramos então ligá-lo a algo que já conhecemos, a um padrão existente. Daí passamos a procurar compreendê-lo, passamos a construir um padrão de repetição que nos permita reconhecer este algo quando o virmos de novo. Você está visitando uma feira de artesanato e observa um objeto estranho. É estranho porque não pode associá-lo com exatidão à nada que já conheça. Considera os elementos que puder associar. Parece feito de barro, pela cor e superfície. Você pega o objeto na mão. Seu peso confirma a hipótese de barro. É ovalado, porque lhe lembra o formato do ovo. Tem um furo. Faz tempo que você aprendeu a reconhecer furos. Mas não dá para compreender mais nada. Você pergunta ao vendedor. Ele coloca o objeto na boca e assopra, produzindo um som. É um instrumento musical. Você associa-o aos instrumentos de sopro que conhece. Acabou de aprender, de criar um padrão. Observa agora que no balcão existem outros objetos de mesma cor, feitos de barro, com outros formatos. Todos tem um furo. Todos são instrumentos musicais. Perderíamos muito tempo se tivessemos que perguntar ao vendedor o que é cada um dos demais objetos que se parecem muito com este que já sabemos o que é. Nossa inteligência cria um padrão considerando os elementos principais e os generaliza para agilizar as comparações seguintes.

Pesquisadores estão tendo um trabalhão danado na criação de robôs que identificam objetos. Para que um robô se locomova por uma sala terá que saber a diferença entre uma porta e um banquinho. Que o banquinho, apesar de ter quatro pernas e um tampo não é uma mesa. Que uma porta desenhada na parede não leva à sala ao lado. O robô terá que aprender que tais e tais elementos compõem o padrão "porta". Que há elementos mais significativos, genéricos de todas as portas. Que há elementos secundários próprios de cada porta. Terá que identificar como porta um objeto que tenha os elementos que já "conhece" mesmo que incorpore também outros novos. É muita informação para um robô. Não é fácil. Nossa inteligência faz tudo isto e muito mais. Nossa educação se incumbe de nos levar a criar padrões. Saimos então generalizando e respondendo às novas circunstâncias segundo os padrões já existentes. Se criamos um padrão sob forte tensão emocional ele tende a fixar-se com mais facilidade. Isto também acontece quando uma situação repete-se frequentemente. Quanto mais ameaçadora for a situação que determinou a criação do padrão, mais ágil é seu acionamento, uma medida óbvia de proteção. Para que esta agilidade seja possível, teremos que utilizar como "detonadores" do comportamento poucos elementos da situação. 10


Vamos imaginar que uma criança tenha um pai extremamente agressivo. Ele sempre olha de um determinado jeito quando está muito bravo. A criança aprende que este olhar é o sinal de perigo, portanto se torna o detonador do comportamento de auto-proteção: se encolhe, olha para baixo e procura ficar o mais quieta possível, por exemplo. Quando adulta, encontra pela frente um chefe que também tem um comportamento algo semelhante ao de seu pai. Quando o chefe olhar daquele jeito detonará o comportamento de auto-proteção no nosso personagem que, como adulto, até poderia defender-se com segurança, mas não o fará porque sua reação (de auto-proteção) já estará automatizado. Este é um exemplo simplificado. Na verdade, outros sinais também serão considerados, mas todos com sentido semelhante e sempre contribuindo para determinar o comportamento de auto-proteção. Para modificar um padrão instalado precisamos perceber que é um padrão automático. É preciso usar a consciência para compreender que não estamos avaliando a situação como algo novo à nossa frente. Apenas reagimos como se fosse igualzinha àquela que vivemos no passado. A mudança, portanto, exige "discriminação". Se Raramente, ou nunca, os sistemas sociais quisermos mudar de comportamento diante de resultam de planeamento consciente. O indivíduo uma situação precisaremos percebê-la como médio nem mesmo tem consciência de que os nova, sem referencial, sem padrões já existentes. padrões reciprocamente adaptados, que servem Dizemos que as crianças são livres e os adultos de modelo ao seu comportamento, constituem não. A criança sente-se mais livre porque não tem um sistema. Precisamos ter em mente, que as tantos padrões que determinam seus sociedades devem sua existência à combinação comportamentos. Em compensação, a criança de três elementos distintos: um agregado de corre mais riscos que o adulto, erra com mais indivíduos; um sistema organizado de padrões, frequência, até que automatiza suas decisões, pelos quais as inter-relações e atividades destes aprendendo e tornando-se adulta. indivíduos são controladas; e a unidade Se a idéia de liberdade total o atrair, prepare-se psicológica que fornece a força impulsionadora para ter muito trabalho. Cada situação será nova, para que esses padrões se manifestem. e você terá que decidir cada gesto, cada ação. O agregado existe no nível físico, o sistema no Acho mais interessante, e econômico, ser nível psicológico. O sistema só pode manifestar"escravo" dos padrões que funcionam bem e livre se no mundo físico por meio dos indivíduos que para mudar o que não funciona. compõe o agregado; e sem esse sistema o Se desejar mudar um comportamento, não tente agregado continuaria sendo simplesmente um se colocar como uma criança imaginando que grupo de indivíduos incapaz de funcionar como está diante de uma situação nova. Seu sistema de unidade. Um sistema social é na realidade um auto-proteção não permitirá. É muito mais fácil, e plano de sociedade; e suas relações com a natural, prestar atenção, tomar consciência. sociedade como um todo em funcionamento é, Observe os sinais que detonam seu velho de maneira geral, comparável à que existe entre comportamento. Perceba como estes sinais as especificações que servem de modelo para estiveram presentes em sua história e como, em uma máquina e a máquina concreta, construída função deles, padronizou este comportamento. de acordo com esses modelos. As especificações Compare os fatos ocorridos no passado, em sua servem como guia para que o metal seja história, com o atual, que está vivendo agora. A modelado numa série de partes diferentes, mas mudança virá automaticamente quando reciprocamente ajustadas e para que estas partes compreender que a situação atual não é uma sejam reunidas num todo, com certo potencial de repetição pura e simples do passado. trabalho. Se você perceber que se intimida com o olhar Fonte: O homem: uma introdução à antropologia. agressivo do chefe. Lembrar-se do olhar p. 126-127. semelhante do seu pai, e se der conta de que são situações diferentes e que até mesmo você já é diferente, seu instinto fará o resto. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/aN5XI3u3D3Q 11


O campo da Ética Os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade e isto os distingue dos problemas morais da vida cotidiana, que são os que senos apresentam nas situações concretas. Mas, desde que a solução dada aos primeiros influi na moral vivida- sobretudo quando se trata não de uma ética absolutista, apriorística ou puramente especulativa -, a ética pode contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. A função fundamental da ética é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes. A realidade moral varia historicamente e, com ela, variam os seus princípios e as suas normas. A ética estuda uma forma de comportamento humano que os homens julgam valioso e, além disto, obrigatório e inescapável. Mas nada disto altera minimamente a verdade de que a ética deve fornecer a compreensão racional de um aspecto real, efetivo, do comportamento dos homens. E o que diferencia o homem de todos os outros seres no mundo é a capacidade de buscar incessantemente, com base na virtude, na excelência, fazer melhor a vida dos outros. Este é, em poucas palavras, o conceito essencial de toda obra de Aristóteles sobre a ética. A ética não apenas como um código de conduta social, mas como um código de conduta social que visa o bem. Fonte: Os dez mandamentos da ética. p. 36.

5- Alguns conceitos sobre a Ética Conceito: ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano. No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto amoral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. Valores morais são os conceitos, juízos e pensamentos que são considerados “certos” ou “errados” por determinada pessoa na sociedade. Normalmente, os valores morais começam a ser transmitidos para as pessoas nos seus primeiros anos de vida, através do convívio familiar O que é Amoral: Amoral é um adjetivo de dois gêneros que classifica alguém sem noção de moral, ou seja, não é contra nem a favor dos princípios da moralidade. ... O estado ou qualidade de uma pessoa sem obrigações morais ou princípios éticos é designado como amoralidade. Imoral é um adjetivo de dois gêneros com origem no latim immoralis que significa uma atitude contrária à moralou qualifica uma pessoa que se comporta sem moralidade. Uma pessoa imoral é alguém sem pudor, que revela imoralidade e está ligado à libertinagem e obscenidades. Uma pessoa assim é muitas descrita como devassa, indecente e desonesta, pois muitas vezes revela falta de caráter e vive sem regras. Um ato imoral nem sempre é um ato ilegal. Por exemplo, extorquir dinheiro de uma pessoa idosa através de um esquema fraudulento é um ato imoral e ilegal. Uma pessoa que trai o seu/sua namorado/a comete um ato imoral, mas que não é ilegal. No entanto, é importante referir que apesar de existir na sociedade uma noção de moral e imoral que é aceita pela maioria, várias pessoas criam o seu próprio conceito de moral ou imoral. Isto significa que o que é imoral para uma pessoa, pode não ser imoral para outra. 12


“É possível errar de várias maneiras [...], ao passo que só é possível acertar de uma maneira (também por esta razão é fácil errar e difícil acertar – fácil errar o alvo, e difícil nele); também é por isso que o excesso e a falta são características da deficiência moral, e o meio-termo é uma característica da excelência moral.” Aristóteles, Ética a Nicômaco, livro 2. Acreditar nas habilidades humanas de construir uma convivência justa e feliz não é simples e nem tampouco tarefa para pessoas superficiais, que apenas assistem ao espetáculo cambiante das ações humanas, tendo a oportunidade de ora vaiar, ora aplaudir. Fazem isso mas não sobrem ao palco, porque tem medo de serem aplaudidos ou vaiados. Acreditar nessas habilidades é acreditar que há uma outra paisagem que pode ser construída. A semente que gera planta, que gera flor, que gera fruto, e que alimenta alma e corpo. Os dez mandamentos da ética, p. 40.

Conceito de Virtude O termo "Virtude" (do latim "virtus" que significa força viril) designa o poder de uma coisa para produzir determinados efeitos. Em termos filosóficos, e segundo Platão e também segundo o epicurismo e o estoicismo, a virtude designa um conjunto de características que contribuem para que o indivíduo tenha uma vida boa, nomeadamente a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça (as chamadas "virtudes cardeais"). Quanto a Aristóteles, este define a virtude como aquilo que completa de forma excelente a natureza de um ser: enquanto para um pássaro a virtude pode ser o voar depressa, para o Homem a virtude será agir conforme a razão. Existe uma ligação íntima entre virtude e ventura. Apesar da virtude não ser uma condição suficiente para uma vida boa, pois esta depende também de uma vida feliz, existe uma relação de dependência: enquanto os estoicos defendem que a ventura resulta da virtude, Epicuro afirma que a virtude é uma condição para a ventura; pelo contrário, Kant defende que a virtude não é aquilo que nos torna mais felizes, mas aquilo que nos torna dignos de ser felizes. Virtude é uma qualidade moral particular e vem do grego e latim. Virtude é a disposição de um indivíduo de praticar o bem; e não é apenas uma característica, trata-se de uma verdadeira inclinação, virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem. Há diferentes usos do termo, que estão relacionados com a força, a coragem, o poder de agir, a eficácia de um ou a integridade da mente. As virtudes humanas A estrutura da personalidade compreende, entre outros elementos psicológicos, um conjunto de virtudes que tornam o indivíduo mais elevado, íntegro, humanitário. Uma virtude representa retidão moral, probidade, excelência moral. As pessoas podem ser avaliadas pela riqueza de suas virtudes.De forma sucinta, vamos apreciar algumas dessas virtudes. No decorrer da empreitada, poderemos observar que elas quase sempre caminham juntas, raramente apresentam-se isoladas: •

Autoconfiança. Esta virtude pode ser conquistada mediante o desenvolvimento de recursos e habilidades que proporcionam competência, segurança e tranqüilidade no decurso da vida. A pessoa autoconfiante é prudente e equilibrada, de tal sorte que procura agir sempre com cautela. 13


Pelo fato de possuir imensa fé em si, ela sabe que pode contar consigo mesma, em situações as mais adversas. •

Benevolência. É uma qualidade que dispõe o indivíduo a praticar o bem, podendo acrescentar generosidade, gentileza e simpatia. Para tanto, é preciso renunciar a sentimentos de hostilidade e egoísmo.

Contentamento. É uma virtude que promove alegria e bem-estar. Proporciona o poder de enfrentar adversidades, sem aflição, com serenidade e jovialidade, porque capacita o ser humano a adaptarse a tais situações, e a mudar suas atitudes diante delas.

Coragem. Trata-se de uma habilidade ímpar para enfrentar, com serenidade e domínio do medo, os perigos que se apresentam do decurso da vida. Ela proporciona ao indivíduo a aptidão de avaliar uma gama de possibilidades para vencer as adversidades. A coragem inspira o indivíduo a agir com perseverança e determinação em face de todas as situações e circunstâncias.

Desapego. É uma virtude que capacita o indivíduo a ver os fatos e situações com imparcialidade, com isenção de ânimo. A pessoa que consegue desapegar-se de suas próprias idéias e opiniões, livre de preconceitos, é capaz de agir com justiça. O desapego em relação a pessoas, bens materiais e imateriais, é outra faceta desta valiosa virtude, que possibilita uma vida mais rica e feliz.

Despreocupação. Ser despreocupado denota serenidade, confiança, paz. Significa viver a cada momento, com intensidade e prazer, permitindo ao amanhã cuidar de seus próprios interesses. No entanto, despreocupação não quer dizer descuido, imprudência, imprevidência. Muito pelo contrário, pois esta virtude inspira o indivíduo a tornar-se responsável e cuidadoso com a administração de tudo que lhe compete. Determinação. Firmeza e perseverança são duas aliadas desta virtude. Ela permite ao indivíduo progredir, a ter sucesso em todos os seus empreendimentos, pois não tolera preguiça, desalento, falta de ânimo. Não importam as circunstâncias ou obstáculos, a presença desta virtude capacita o ser humano a concluir sempre todas as tarefas a que se programou. Determinação é uma virtude necessária para assimilar as demais virtudes e para livrar-se de todas as negatividades.

Disciplina. É ordem, organização, aceitação de preceitos e normas. O próprio Universo é obediente a uma ordem implacável, caso contrário não poderia existir. Para assimilar e manter esta virtude, o indivíduo precisa corrigir, moldar e aperfeiçoar seu caráter. Para tanto, não poderá prescindir do concurso de outras virtudes, como paciência, tolerância e perseverança. Terá também que abominar hábitos nocivos, como rebeldia e inconformidade. Na ausência da disciplina, a vida torna-se impossível.

Docilidade. Consiste em uma força magnética que atrai a todos. A vida torna-se mais encantadora quando as pessoas agem com docilidade, bom humor e gentileza.

Empatia. Significa colocar-se no lugar do outro, em sua própria pele. Ver as coisas sob sua perspectiva. Compreender seus motivos. E, então, poder aconselhar com acerto e coerência.

Entusiasmo. É a chama que provoca ação. É vida em movimento. É motivação. É o fogo interior que proporciona prazer e vitalidade para executar até o fim os planos traçados. Graças ao entusiasmo, o mundo inteiro está em constante progresso.

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Estabilidade. Significa coerência, responsabilidade, constância. Esta virtude não admite rigidez, mas requer flexibilidade e adaptabilidade. Assim, a confiança é desenvolvida e a convivência humana torna-se harmônica e duradoura.

Flexibilidade. Esta virtude permite constante adaptação às pessoas e circunstâncias. Ela promove a harmonia nos relacionamentos e proporciona condições para a necessária moldagem às permanentes mutações da vida. Tal como o salgueiro, podemos nos curvar, pela força do vento, e, ao mesmo tempo, permanecer firmemente enraizados.

Generosidade. Significa desprendimento, liberalidade, altruísmo. A pessoa dotada desta virtude aprecia verdadeiramente os outros, e presta a ajuda necessária sem esperar nada em troca. Ela também promove o fortalecimento das relações, a paz no contexto social.

Honestidade. Este dom suscita a necessária confiança entre as pessoas. Em todos os atos da vida, a citada qualidade deve estar sempre presente. Por outro lado, sua carência provoca as mais nefastas conseqüências. Humildade. Mesmo sendo possuidor de múltiplas virtudes, o indivíduo pode ainda abarcar mais uma, a humildade. Significa modéstia, compostura, ausência de vaidade. Simplicidade na maneira de se apresentar. Comedimento na forma de referir-se a si próprio. A pessoa pode conhecer sua força e poder, e apesar disso, não precisa jactar-se perante os outros.

Introspecção. É a pedra fundamental de todas as virtudes. Graças a ela, o ser humano torna-se capaz de avaliar e transformar sua personalidade. Mergulhar no interior de si mesmo é uma condição necessária para o auto-aperfeiçoamento. Esta virtude desperta os poderes pessoais e harmoniza todo o ser.

Jovialidade. O dom de ser alegre, bem-humorado, de rir e fazer rir, é uma qualidade indispensável para a existência da harmonia nos relacionamentos. Proporciona bem-estar e leveza de espírito. Irradia simpatia, conquista a amizade, desenvolve o ânimo.

Longanimidade. Significa complacência, indulgência, benignidade, tolerância. Proporciona o desenvolvimento de uma natural disposição de ânimo para suportar, com serenidade e resignação, insultos, vexames, ofensas e contrariedades.

Maturidade. Esta virtude confere a habilidade de agir com coerência e acerto em todas as circunstâncias. Ela proporciona o desenvolvimento de outra fenomenal virtude, a sabedoria.

Misericórdia. É uma qualidade ímpar nos relacionamentos humanos. Esta virtude confere às pessoas o dom de perdoar as faltas dos outros, de compreender suas fraquezas, pois carrega em si a tolerância e a compaixão.

Paciência. Ser paciente significa ser calmo, sereno e equilibrado. Denota controle sobre desejos e emoções. Afasta o desespero e a aflição. Possibilita pensamentos e julgamentos imparciais e objetivos.

Precisão. Esta qualidade proporciona clareza e perfeita definição. Na presença de exatidão, os pensamentos, palavras e ações serão apropriados a cada circunstância. A virtude em questão possibilita a habilidade de fazer as coisas de forma correta. Graças ao autocontrole, paciência, 15


serenidade, conhecimento de causa, este dom pode prosperar, trazendo benefícios incalculáveis ao progresso e bem-estar. •

Pureza. Significa ausência de vícios de toda ordem. Presença de uma mente sã, plena de amor e justiça, isenta de máculas, livre de preconceitos e superstições.

Sabedoria. A conquista da maturidade proporciona o surgimento da sabedoria. Esta virtude confere o poder de controlar impulsos e reações, ter uma visão de águia, reconhecer a verdadeira intuição, ser previdente. A pessoa que conquistou o poder da sabedoria é capaz de agir de forma correta, em todas as circunstâncias, com base em conhecimentos vastos, em sua longa experiência, na própria realidade. Pode-se observar o perfeito equilíbrio de todos os poderes e talentos quando a sabedoria está presente. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/G5xzTbRR4XU https://youtu.be/jYRfh41C63g “Infelizmente há uma tendência muito forte em reduzir a religião a um assunto apenas privado e pessoal, esquecendo assim que Deus é o criador e salvador de toda humanidade, e não só do indivíduo. Quase todos explicam os 10 Mandamentos como algo moral e individual. No entanto, a intenção original dos m andamentos ultrapassa em muito a esfera puramente individual. Os 10 Mandamentos constituem um código para construção e manutenção de uma sociedade onde todos poderiam viver felizes, com vida plena e sem medo. No decorrer da história, o sentido original dos mandamentos de Deus se perdeu e se perde cada vez mais. O seu enfoque social e comunitário foi enfraquecido. A justiça exigida pelos mandamentos foi esquecida e substituída por um legalismo individualista cada vez maior. Com isso, Deus, para muitos, se tornou cada vez mais um policial severo da observância das leis, um Deus punidor e castigador. Pe. Holmes Conzatti. psicólogo

Hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") Nome que designa, em grego, toda espécie de desmedida, de exagero ou de excesso no comportamento de uma pessoa: orgulho, insolência, arrebatamento etc. Bastante empregado na filosofia moral, esse termo se opõe a medida, equilíbrio. "Hubris". Palavra grega que significa "vaidade" - não vaidade espiritual nem, na verdade, qualquer defeito moral, mas antes uma sensação de vanglória e de despreocupada insolência, "desafiando a Providência". O castigo para isto era dado por Nêmesis, deusa da vingança. Virtude é um conceito que remete para a conduta do ser humano, quando existe uma adaptação perfeita entre os princípios morais e a vontade humana.Há virtudes intelectuais, que são ligadas à inteligência e as virtudes morais, que são relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade de aprender com o diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento. A virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é considerado bom de acordo com a ética. Justiça,

resistência, prudência e temperança são as virtudes cardeais. As virtudes teológicas, ou sobrenaturais são aquelas que, de acordo com a doutrina cristã, Deus dá ao homem para agir como seu Filho, essas virtudes são a fé, esperança e caridade. Virtude foi um tema bastante abordado pelo filósofo Aristóteles, que fez a diferenciação entre virtudes intelectuais e virtudes éticas, sendo que o estado ideal é a moderação, o que se encontra no meio do defeito e do excesso.

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O Código de Hamurábi Algumas leis do Código de Hamurabi são as seguintes: 1. Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não puder provar, então que aquele que enganou deve ser condenado à morte. 2. Se alguém fizer uma acusação a outrem, e o acusado for ao rio e pular neste rio, se ele afundar, seu acusador deverá tomar posse da casa do culpado, e se ele escapar sem ferimentos, o acusado não será culpado, e então aquele que fez a acusação deverá ser condenado à morte, enquanto que aquele que pulou no rio deve tomar posse da casa que pertencia a seu acusador. 3. Se alguém trouxer uma acusação de um crime frente aos anciões, e este alguém não trouxer provas, se for pena capital, este alguém deverá ser condenado à morte. (…) 5. Um juiz deve julgar um caso, alcançar um veredicto e apresentá-lo por escrito. Se erro posterior aparecer na decisão do juiz, e tal juiz for culpado, então ele deverá pagar doze vezes a pena que ele mesmo instituiu para o caso, sendo publicamente destituído de sua posição de juiz, e jamais sentar-se novamente para efetuar julgamentos. 6. Se alguém roubar a propriedade de um templo ou corte, ele deve ser condenado à morte, e também aquele que receber o produto do roubo do ladrão deve ser igualmente condenado à morte. 9. Se alguém perder algo e encontrar este objeto na posse de outro: se a pessoa em cuja posse estiver o objeto disser ” um mercador vendeu isto para mim, eu paguei por este objeto na frente de testemunhas” e se o proprietário disse” eu trarei testemunhas para que conhecem minha propriedade” , então o comprador deverá trazer o mercador de quem comprou o objeto e as testemunhas que o viram fazer isto, e o proprietário deverá trazer testemunhas que possam identificar sua propriedade. O juiz deve examinar os testemunhos dos dois lados, inclusive o das testemunhas. Se o mercador for considerado pelas provas ser um ladrão, ele deverá ser condenado à morte. O dono do artigo perdido recebe então sua propriedade e aquele que a comprou recebe o dinheiro pago por ela das posses do mercador. 10. Se o comprador não trouxer o mercador e testemunhas ante a quem ante quem ele comprou o artigo, mas seu proprietário trouxer testemunhas para identificar o objeto, então o comprador é o ladrão e deve ser condenado à morte, sendo que o proprietário recebe a propriedade perdida. 11. Se o proprietário não trouxer testemunhas para identificar o artigo perdido, então ele está malintencionado, e deve ser condenado à morte. 12. Se as testemunhas não estiverem disponíveis, então o juiz deve estabelecer um limite, que se expire em seis meses. Se suas testemunhas não aparecerem dentro de seis meses, o juiz estará agindo de má fé e deverá pagar a multa do caso pendente. [Nota: não há 13ªLei no Código, 13 provavelmente sendo considerado um número de azar ou então sacro] 22. Se estiver cometendo um roubo e for pego em flagrante, então ele deverá ser condenado à morte. 23. Se o ladrão não for pego, então aquele que foi roubado deve jurar a quantia de sua perda; então a comunidade e… em cuja terra e em cujo domínio deve compensá-lo pelos bens roubados. (…) 48. Se alguém tiver um débito de empréstimo e uma tempestade prostrar os grãos ou a colheita for ruim ou os grãos não crescerem por falta d’água, naquele ano a pessoa não precisa dar ao seu credor dinheiro algum, ele devendo lavar sua tábua de débito na água e não pagar aluguel naquele ano. (…) 116. Se o prisioneiro morrer na prisão por mau tratamento, o chefe da prisão deverá condenar o mercador frente ao juiz. Caso o prisioneiro seja um homem livre, o filho do mercador deverá ser condenado à morte; se ele era um escravo, ele deverá pagar 1/3 de uma mina em outro, e o chefe de prisão deve pagar pela negligência. (…) 17


127. Se alguém “apontar o dedo” (enganar) a irmã de um deus ou a esposa de outro alguém e não puder provar o que disse, esta pessoa deve ser levada frente aos juízes e sua sobrancelha deverá ser marcada. 129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d’água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos. 134. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa, e a mulher estará isenta de toda e qualquer culpa. 135. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa e criar seus filhos. Se mais tarde o marido retornar e voltar à casa, então a esposa deverá retornar ao marido, assim como as crianças devem seguir seu pai. 136. Se fugir de sua casa, então sua esposa deve ir para outra casa. Se este homem voltar e desejar Ter sua esposa de volta, por que ele fugiu, a esposa não precisa retornar a seu marido. 137. Se um homem quiser se separar de uma mulher ou esposa que lhe deu filhos, então ele deve dar de volta o dote de sua esposa e parte do usufruto do campo, jardim e casa, para que ela possa criar os filhos. Quando ela tiver criado os filhos, uma parte do que foi dado aos filhos deve ser dada a ela, e esta parte deve ser igual a de um filho. A esposa poderá então se casar com quem quiser. 138. Se um homem quiser se separar de sua esposa que lhe deu filhos, ele deve dar a ela a quantia do preço que pagou por ela e o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e deixá-la partir. (…) 148. Se um homem tomar uma esposa, e ela adoecer, se ele então desejar tomar uma Segunda esposa, ele não deverá abandonar sua primeira esposa que foi atacada por uma doença, devendo mantê-la em casa e sustentá-la na casa que construiu para ela enquanto esta mulher viver. (…) 154. Se um homem for culpado de incesto com sua filha, ele deverá ser exilado. 185. Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho crescido não poderá ser reclamado por outrém. 186. Se um homem adotar uma criança e esta criança ferir seu pai ou mãe adotivos, então esta criança adotada deverá ser devolvida à casa de seu pai. (…) 190. Se um homem não sustentar a criança que adotou como filho e criá-lo com outras crianças, então o filho adotivo pode retornar à casa de seu pai. 191. Se um homem, que tenha adotado e criado um filho, fundado um lar e tido filhos, desejar desistir de seu filho adotivo, este filho não deve simplesmente desistir de seus direitos. Seu pai adotivo deve dar-lhe parte da legítima, e só então o filho adotivo poderá partir, se quiser. Ele não deve dar, porém, campo, jardim ou casa a este filho. (…) Fonte: www.direitoshumanos.usp.br Aula 6 -Antiguidade Clássica Antiguidade: Helenismo Ética na história: algumas concepções da filosofia moral Sócrates, o pai da moral Sustentou a existência de um saber universalmente válido, que decorre da essência humana. A partir da essência humana se pode conceber uma moral universal. E o que é essencialdo ser humano? Sua alma racional.O ser humano é essencialmente razão. Logo, é nela que devem se fundamentar as normas e costumes morais.A ética socrática é racionalista. Os sofistas, ao contrário de Sócrates, afirmavam que não existem normas e verdades universalmente válidas.Logo, tinham uma concepção ética relativista, ou subjetivista.

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Platão desenvolveu o racionalismo ético iniciado por Sócrates, aprofundando a diferença entre corpo e alma.O corpo, por ser a sede dos desejos e paixões, muitas vezes desvia o indivíduo de seu caminho para o bem.Defende a purificação do mundo material para alcançar a ideia do bem.Não separa a ética da política, o indivíduo bom também é um bom cidadão. Segundo Platão, cada segmento da alma deve atuar de acordo com a virtude que lhe corresponde. Desta forma, a ação do homem é determinada. Em geral, na linguagem cotidiana, a virtude é usado para nomear as qualidades gerais de qualquer pessoa. Aristóteles conceitua virtude dividindo-a em duas: virtude intelectual e virtude mora. Virtude intelectual é aquela que nasce e progride graças aos resultados da aprendizagem e da educação, e a virtude moral ela não é gerada em nós por natureza, é Platão o resultado do hábito que nos torna capazes de praticar atos justos. Para Aristóteles, não existem virtudes inatas, todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses atos, para gerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por defeito, nem por excesso, pois a virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos. No âmbito da religião cristã, as virtudes são catalogadas como virtudes teologais, como a fé, esperança e caridade e as cardeais, ou seja, a prudência, temperança, fortaleza e justiça. Do livro "A Arte de Viver" Ramiro Sápiras Publicado no Recanto das Letras em 14/12/2005

Aristóteles e a ética do equilíbrio Também desenvolve uma reflexão ética racionalista, porém sem o dualismo corpo-alma.Sua ética realista trabalha em cima da questão: qual o fim último do ser humano?Para o que tendemos? “As pessoas que querem bem aos seus amigos por causa deles são amigas no sentido mais amplo, pois querem bem por causa da própria natureza dos amigos, e não por acidente; logo, sua amizade durará enquanto estas pessoas forem boas, e ser bom é uma coisa duradoura.” Aristóteles, Ética a Nicômaco, livro 8.

Aristóteles, em Ética a Nicômaco, II, 6, diz que a virtude é a disposição adquirida voluntária, em relação a nós, na medida, definida pela razão em conformidade com a conduta de um homem ponderado. Ela ocupa a média entre duas extremidades lastimáveis, uma por excesso, a outra por falta. Enfatiza, também, que, embora consista numa média, em relação ao bem e à perfeição ela se situa no ponto mais elevado. Como pode a virtude ser ao mesmo tempo média e ápice? Para entender corretamente o texto filosófico, devemos localizar os termos mais importantes, e suas noções. Assim, virtude (arétè) designa toda excelência própria de uma coisa, em todas as ordens de realidade e em todos os domínios. Aristóteles Aristóteles a emprega assim, embora lhe acrescente o valor moral. Disposição (héxis) é definida como uma maneira de ser adquirida. O latim traduziu héxis por habitus. A virtude só será habitus se se retirar desse termo o caráter de disposição permanente e costumeira, mecânica, automática. Mediedade (mésotès): este termo remete tanto ao termo médio de um silogismo quanto à média (ou ao meio termo) que caracteriza a virtude. Como, pois, entender que virtude é média e ápice? Aristóteles parte de um conceito geral e delimita-o depois. Diz, primeiramente, que a virtude é agir de forma deliberada; depois, fala em agir em prol do mais alto bem. Ao falar dela como héxis, enfatiza uma capacidade adquirida, constante e duradoura, o que 19


elimina a pretensa qualidade inata. Assim, ao se comportar moralmente, o homem deve também se comportar racionalmente, ou seja, uma razão que já passou pela prova dos fatos; a mediedade, diz ele, é a que o homem prudente determinaria. E determinaria em função dos homens superiores a ele. Por isso é oportuno aconselhá-los a imitarem os melhores. A mediedade opõe-se a dois vícios simétricos. Como estamos no campo da moral, o que vale não são as idéias, mas a prática dessas idéias. Perguntaríamos: quais são essas práticas que não são virtudes? Os vícios. Explicação: a natureza moral jamais é natural, e sim o resultado de uma maneira de ser adquirida – para mais ou para menos –, o que representa sempre um excesso. Por exemplo, a coragem é virtude delimitada por essa falta que é a covardia e esse excesso que é a temeridade. A virtude revela-se portanto como um meio termo. A virtude não é média, ela é a média justa. Saímos do âmbito quantitativo onde tudo é colocado no mesmo plano e passemos ao âmbito qualitativo. Observe que tanto nas paixões como nas ações, há condutas que estão abaixo ou acima do que convém. A virtude não é assim uma média aritmética dos excessos para mais ou para menos, ela é o vértice de eminência, ou seja, é ela quem diz qual é o vício para cima ou para baixo. O óbolo da viúva, de que nos lembra o Evangelho, vem a calhar: a viúva que deu apenas uma moeda, deu mais do que o rico, pois enquanto este deu o que lhe sobrava, para ela a quantia representava uma privação. Fonte:http://sbgfilosofia.blogspot.com.br/2006/09 TODOS BUSCAMOS A FELICIDADE. Mas o que o filósofo entende por felicidade?A felicidade não se confunde com o prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e conforto material.A felicidade se encontra na vida teórica, que desenvolve o que há de mais humano:a razão. O indivíduo que se desenvolve no plano teórico pode compreender a essência da felicidade e realizá-la de forma consciente. Mas e o indivíduo que não pode se dedicar à vida teórica? Tal indivíduo aprende a agir corretamente apenas pelo hábito. Agir corretamente seria praticar as virtudes. Mas o que seria virtude? De acordo com Aristóteles a virtude se encontra num meio termo encontrado pela razão entre a falta e o excesso. Assim, a coragem seria a virtude situada entre a covardia (a deficiência) e a temeridade (excesso). Assim como Platão, para Aristóteles a ética está vinculada à vida política.A primeira trata do bem estar individual, enquanto a segunda do bem comum. Aula 7 -Escolas helenísticas Desenvolveu uma ética baseada na procura dapaz interiore no autocontrole individual, fora dos contornos da vida política. Epicurismo: Defendia a atitude de desvio da dor e busca do prazer, do autodomínio e da paz interior (ataraxia). Dividia os prazeres em: ➢ naturais e necessários ➢ naturais e não necessários ➢ não naturais e não necessários

O epicurismo prega que os indivíduos devem procurar prazeres moderados para alcançar um estado de tranquilidade e de libertação dos medos. No entanto, os prazeres não podem ser exagerados, pois possam apresentar perturbações que dificultam o encontro da serenidade, felicidade e saúde corporal. Alguns estudiosos consideram o epicurismo semelhante ao hedonismo. 20


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Epicuro

SUGESTÃO DE VÍDEO: https://youtu.be/YdcRjU4I4dA Estoicismo Estoicismo é um movimento filosófico que surgiu na Grécia Antiga e que preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções. Este pensamento filosófico foi criado por Zenão de Cício, na cidade de Atenas, e defendia que todo o universo seria governado por uma lei natural divina e racional.Para o ser humano alcançar a verdadeira felicidade, deveria depender apenas de suas “virtudes” (ou seja, o conhecimento, de acordo com os ensinamentos de Sócrates), abdicando totalmente o “vício”, que é considerado para os estoicos um mal absoluto. Para a filosofia estoica, a paixão é considerada sempre má, e as emoções um vício da alma, seja o ódio, o amor ou a piedade. Os sentimentos externos tornariam o homem um ser irracional e não imparcial. Um verdadeiro sábio, segundo o estoicismo, não deveria sofrer de emoções externas, pois estas influenciariam em suas decisões e raciocínios. Etimologicamente, o termo estoicismo surgiu a partir da expressão grega stoàpoikile, que significa “Pórtico das Pinturas”, o local onde o fundador desta doutrina filosófica ensinava os seus discípulos em Atenas. O estoicismo é dividido em três principais períodos: ético (antigo), eclético (médio) e religioso (recente). O chamado estoicismo antigo ou ético foi o vivido pelo fundador da doutrina, Zenão de Cício (333 a 262 a.C), e foi concluída por Crisipo de Solunte (280 a 206 a.C), que teria desenvolvido a doutrina estoica e transformado no modelo que é conhecido na atualidade. Já no estoicismo médio ou eclético, o movimento começa a se disseminar entre os romanos, sendo o principal motivador da introdução do estoicismo na sociedade romana Panécio de Rodes (185 a 110 a.C). A característica mais marcante deste período, no entanto, foi o ecletismo que a doutrina sofreu a partir da absorção de pensamentos de Platão e Aristóteles. Posidônio de Apaméia (135 a.C a 50 d.C) foi o responsável por esta mistura. Por fim, a terceira fase do estoicismo é conhecida como religiosa ou recente. Os membros deste período enxergavam a doutrina filosófica não como parte de uma Zenão de Cício ciência, mas como uma prática religiosa e sacerdotal. O imperador romano Marco Aurélio foi um dos principais representantes do estoicismo religioso.

Princípios da vida estóica: • Apatia • Amor fati 21


Tais princípios permitiram atingir a ataraxia : (imperturbabilidade da alma) Características do estoicismo ➢ Virtude é o único bem e caminho para a felicidade; ➢ Indivíduo deve negar os sentimentos externos; ➢ O prazer é um inimigo do homem sábio; ➢ Universo governado por uma razão universal natural; ➢ Valorização da apatia (indiferença) SUGESTÃO DE VÍDEO: https://youtu.be/WjZHIhYZVsk

O que é Cinismo: Cinismo, palavra com origem no termo grego kynismós, é um sistema e doutrina filosófica dos cínicos. Em sentido figurado o cinismo tem uma conotação pejorativa, sendo que designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais.Alguém considerado cínico também pode ser alguém que é desavergonhado, descarado, imprudente, impassível ou obsceno. O cinismo foi uma escola filosófica grega, fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. O seu nome deriva, segundo vários testemunhos, do fato de alguns membros da escola se reunirem no Cinosargo, ginásio situado perto de Atenas. Diógenes Segundo outros, a sua origem vem da palavra grega kýon (que significa "cão"), pelo fato de Diógenes de Sinope dormir no local que era usado frequentemente como abrigo para cães, para assim demonstrar o seu desacordo com o modo de viver dos homens. A maior virtude para eles era a autarcia, o que se basta a si mesmo, e renunciar os bens e prazeres terrenos até conseguir uma total independência das necessidades vitais e sociais. O autodomínio permitia alcançar a felicidade, entendida como o não ser afetado pelas coisas más da vida, pelas leis e convencionalismos, que eram valorizados de acordo com o seu grau de conformidade com a razão.O ideal do sábio era a indiferença perante o mundo. As origens da escola, que remontam aos séculos III e II A.C., com um ressurgimento posterior, nos séculos I e II d.C., foram objeto de discussão. Alguns filósofos a classificam como escola socrática, na linha de Sócrates-Antístenes-Diógenes. Outros negam a relação Antístenes-Diógenes, não a consideram uma escola socrática e vêm em Diógenes o seu fundador e inspirador. SUGESTÃO DE VÍDEO: https://youtu.be/TAEfDZo_Vf4

Aula 8 - A moral no Islã O Islã estabeleceu alguns direitos fundamentais universais para a humanidade como um todo, que devem ser respeitados e observados em todas as circunstâncias. Para alcançar esses direitos, o Islã fornece não somente salvaguardas, mas também um sistema moral muito efetivo. Portanto, o que quer que leve ao bem-estar do indivíduo ou da socialmente é moralmente bom no Islã e o que quer que seja prejudicial é moralmente 22


mau. O Islã dá muita importância ao amor de Deus e o amor do homem e adverte contra o excesso de formalismo. Lemos no Alcorão: “A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Deus, no Dia do Juízo Final, nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade por amor a Deus, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e em resgate de cativos (escravos). Aqueles que observam a oração, pagam o zakat, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na adversidade, ou durante os combates. Esses são os verazes, e esses são os tementes (a Deus).” (Alcorão 2:177) Temos uma bela descrição do homem virtuoso e consciente de Deus nesses versículos. Ele deve obedecer a regulamentações saudáveis, mas deve fixar seu olhar no amor de Deus e no amor de seus semelhantes.Recebemos quatro instruções: a) b) c) d)

Nossa fé deve ser verdadeira e sincera, Devemos estar preparados para demonstrá-la em atos de caridade com nossos semelhantes, Devemos ser bons cidadãos, apoiar organizações sociais, e Nossa própria alma deve ser firme e inabalável em todas as circunstâncias.

Esse é o padrão pelo qual um modo particular de conduta é julgado e classificado como bom ou mau. Esse padrão de julgamento fornece o núcleo em torno do qual toda a conduta moral deve revolver. Antes de estabelecer quaisquer injunções morais, o Islã busca implantar de maneira firme no coração do homem a convicção de que sua relação é com Deus, que o vê em todos os momentos e em todos os lugares; que ele pode se esconder do mundo todo, mas não Dele; que ele pode enganar a todos mas não pode enganar a Deus; que ele pode fugir do poder de qualquer um, mas não do de Deus. Sendo assim, ao estabelecer a satisfação de Deus como objetivo da vida do homem, o Islã forneceu o padrão de moralidade mais alto possível. Isso com certeza fornece meios ilimitados para a evolução moral da humanidade. Ao fazer da revelação divina a fonte primária de conhecimento, dá permanência e estabilidade aos padrões morais que proporcionam escopo razoável para ajustes, adaptações e inovações genuínos, não através de perversões, relativismo atomístico ou fluidez moral. Fornece uma sanção para moralidade no amor e temor de Deus, que impelirá o homem para obedecer à lei moral mesmo sem qualquer pressão externa. Através da crença em Deus e no Dia do Juízo, fornece uma força que capacita uma pessoa a adotar a conduta moral com determinação e sinceridade, com toda a devoção do coração e da alma. Não fornece, através de um senso falso de originalidade e inovação, quaisquer virtudes morais novas, nem busca minimizar a importância das normas morais bem conhecidas ou dar importância exagerada a algumas e negligenciar outras sem motivo. Adota todas as virtudes morais comumente conhecidas e com um senso de equilíbrio e proporção atribui um lugar e função adequados a cada uma delas no esquema total de vida. Amplia o escopo da vida individual e coletiva do homem – suas associações domésticas, sua conduta cívica, e suas atividades nos campos político, econômico, legal, educacional e social. Cobre sua vida da casa à sociedade, da mesa de jantar ao campo de batalha e conferências de paz, literalmente do berço ao túmulo. Em resumo, nenhuma esfera da vida está isenta da aplicação abrangente e universal dos princípios morais do Islã. Faz a moralidade reinar suprema e assegura que os assuntos da vida, ao invés de dominados por desejos egoístas e interesses mesquinhos, devem ser regulados por normas de moralidade. Estipula para o homem um sistema de vida que é baseado em todo o bem e está livre de todo o mal. Encoraja as pessoas não apenas a praticar a virtude, mas também a estabelecer a virtude e

erradicar o vício, a ordenar o bem e proibir o erro. Quer que seu veredicto de consciência prevaleça e que o mal seja vencido pela virtude. Aqueles que respondem a esse chamado são 23


reunidos em uma comunidade e recebem o nome de muçulmanos. E o único objetivo essencial para a formação dessa comunidade (Ummah) é que faça um esforço organizado para estabelecer e manter o bem e suprimir e erradicar o mal. Apresentamos aqui alguns ensinamentos morais básicos do Islã para vários aspectos da vida do muçulmano. Eles cobrem um amplo espectro da conduta moral pessoal de um muçulmano, assim como suas responsabilidades sociais. Consciência de Deus O Alcorão a menciona como a maior qualidade de um muçulmano: “Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente.” (Alcorão 49:13) Ter humildade, modéstia, controlar as paixões e desejos, ser veraz, ter integridade, paciência, perseverança e cumprir as promessas feitas são valores morais enfatizados repetidamente no Alcorão: “E Deus ama aqueles que se mantêm firmes e perseveram.” (3:146) “Emulai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual a dos céus e da terra, preparado para os tementes, que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade; que reprimem a cólera; que

indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores.” (Alcorão 3:133-134) “Observa a oração, recomenda o bem, proíbe o ilícito e sofre pacientemente tudo quanto te suceda, porque isto é firmeza (de propósito na condução) dos assuntos. E não vires o rosto às gentes, nem andes insolentemente pala terra, porque Deus não estima arrogante e jactancioso algum. E modera o teu andar e baixa a tua voz, porque o mais desagradável dos sons é o zurro dos asnos.” (31:18-19) De uma maneira que resume o comportamento moral de um muçulmano, o Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, disse: “Meu Provedor me deu nove mandamentos: permanecer consciente de Deus, em público ou privado; falar de forma justa, esteja zangado ou satisfeito; mostrar moderação tanto com o pobre quanto com o rico; reconciliar a amizade com aqueles que tiverem rompido comigo; dar àquele que me rejeita; que meu silêncio deva ser ocupado com pensamento; que minha aparência seja uma advertência; e que eu ordene o que é certo.”

Responsabilidade Social Os ensinamentos do Islã em relação as responsabilidade sociais são baseados na gentileza e consideração pelos outros. Uma vez que injunções genéricas sobre gentileza tendem a ser ignoradas em situações específicas, o Islã enfatiza atos específicos de gentileza e define as responsabilidades e direitos dentro de vários relacionamentos. Em um círculo ampliado de relacionamentos, nossa primeira obrigação é com nossa família imediata – pais, cônjuge e filhos – e então com outros parentes, vizinhos, amigos e conhecidos, órfãos e viúvas, os necessitados da comunidade, outros muçulmanos, todos os seres humanos e animais. Pais Respeito e cuidado com os pais são muito enfatizados no ensinamento islâmico e é uma parte muito importante da expressão de fé de um muçulmano. “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas. E estende sobre eles a asa da humildade, e dize: Ó Senhor meu, tem misericórdia de ambos, como eles tiveram misericórdia de mim, criando-me desde pequenino!” Alcorão 17:23-24 24


Outros Parentes “Concede a teu parente o que lhe é devido, bem como ao necessitado e ao viajante, mas não sejas perdulário.” (Alcorão 17:26) Vizinhos O Profeta disse: “Não é um crente aquele que enche seu estômago enquanto seu vizinho está com fome.” (Al-Mundhiri)

“Não crê aquele cujos vizinhos não estão a salvo de sua calúnia.” (Saheeh al-Bukhari) De fato, de acordo com o Alcorão e a Sunnah, um muçulmano desempenhar sua responsabilidade moral não apenas com seus pais, parentes e vizinhos, mas com a humanidade inteira, animais, árvores e plantas. Por exemplo, não é permitida a caça de aves e animais por puro esporte. Da mesma forma, cortar árvores e plantas que dão frutos é proibido a menos que exista uma grande necessidade. Assim, sobre as características morais básicas o Islã ergue um sistema mais elevado de moralidade através do qual a humanidade pode perceber seu potencial maior. O Islã purifica a alma de vaidade egoísta, tirania, libertinagem e indisciplina. Cria homens conscientes de Deus, devotados a seus ideais, possuídos de piedade, abstinência, disciplina e descompromissados com a falsidade. Induz sentimentos de responsabilidade moral e promove a capacidade para o autocontrole. O Islã gera gentileza, generosidade, misericórdia, simpatia, paz, boa vontade desinteressada, justiça escrupulosa e veracidade em relação a toda a criação em todas as situações. Nutre qualidades nobres a partir das quais só se pode esperar o bem. Fonte:www.islamreligion.com/ Têm pessoas que fazem justamente o contrário de Avraham; prometem e prometem, criando uma gigantesca expectativa e quase nada fazem. Prometa pouco e faz sempre uma pouco além, surpreenda ao invés de decepcionar! SUGESTÃO DE VÍDEO: https://youtu.be/GJT3RCV_PZ0 https://youtu.be/zvZIbABLbDw Aula 9 -A Ética dos Vedas nos Upanishads

os Vedas Os Objetivos do Ser Humano SwaminiPramanandaSraswati e Sri DhiraChaitanya 25


As Quatro Categorias da Busca do Ser Humano: O ser humano se vê como uma pessoa que deseja. Suas buscas constantes ecompulsivas mostram, com evidência, essa necessidade de querer algo o tempo todo.Para fugir desse sentimento de necessidade, ele luta por um grande número de coisasna vida. Esses desejos caem dentro de quatro grandes categorias: dharma, ética,artha, segurança, kama, prazer, moksa, liberação. Todas essas quatro categorias são coletivamente chamadas de purushartha, o quesignifica aquilo que é desejado pelos seres humanos. Esses são os objetivos pelosquais purusa, o ser humano, deseja e luta. As quatro buscas básicas do homempodem ser subdivididas em dois grupos. Um grupo, a busca pela segurança e peloprazer, artha e kama, é comum a outros seres vivos; o outro grupo, o esforço em harmoniacom a ética, dharma, e a busca pela liberdade, moksa, é peculiar aos seres humanos. O segundo grupo de buscas acontece porque o ser humano é uma pessoa autoconsciente, com uma mente evoluída. Um ser autoconsciente é um pensador com capacidade de alcançar conclusões sobre si mesmo. Essa capacidade levou o ser humano à possível conclusão: Eu sou um ser limitado, incompleto, que tem que lutar pelas coisas que, espero, me tornarão completo. SUGESTÃO DE VÍDEO: https://youtu.be/qCXwtW-saho Artha - Segurança Uma das duas buscas, é compartilhada com todas as criaturas e é válida para todas as formas de segurança na vida: riqueza, poder, influência, fama, nome. Todo ser vivo procura a segurança na forma que lhe é peculiar. Animais, pássaros, peixes, insetos, até plantas e micróbios, todos procuram segurança. O abrigo é procurado. A comida é estocada. O cachorro enterra seu osso. A abelha enche o seu favo de mel. A formiga abre tunéis na terra para estocar os grãos. Todas as criaturas têm um sentimento de insegurança. Eles, também, querem se sentir seguros. Apesar disso, suas atitudes e comportamentos são governados por um instinto interno. Seu sentimento de insegurança não vai além. Eles não se sentem incomodados incessantemente por segurança. Portanto, a luta do animal por segurança é contida, ela tem um fim. Por outro lado, para o ser humano, não existe fim para o querer e para a luta. A luta do homem para preencher esse sentimento de querer é infindável e pode ser comprovada analisando experiências. Se é dinheiro que eu desejo acumular, acho que nunca tenho dinheiro suficiente. Não importa quanto dinheiro eu ganhe, nunca é suficiente para que eu me sinta seguro. Eu, então, procuro a segurança no poder e influência, gastando na compra de poder, o dinheiro que tinha previamente lutado para acumular. Não que eu tenha passado a dar menos valor ao dinheiro, mas passei a dar um valor maior ao poder. Estou procurando segurança através de poder. A luta pela riqueza, poder e fama é sem fim, todas essas lutas são lutas por segurança porque eu sinto que sou inseguro. Por ser um ser autoconsciente eu tenho a capacidade de me sentir inseguro; eu acumulo bens, mas esse acúmulo não me faz sentir seguro. O ganho nunca é suficiente. Sou sempre impelido a procurar diferentes tipos de segurança num esforço fútil de criar alguma condição na qual eu possa me julgar em segurança. Kama Engloba muitas formas de prazeres sensoriais. Todas as criaturas procuram o que é prazeroso através dos sentidos que lhe são disponíveis. A procura do prazer para as criaturas não humanas é definida e controlada pelo instinto. Esses seres procuram diretamente e simplesmente aquilo para o qual estão programados para desfrutar. Esse desfrute não é complicado por filosofias ou autojulgamento. Um cachorro ou um gato come aquilo que lhes apetece até que se saciem, despreocupados com colesterol, ganho de peso, pesticidas ou a qualidade de louça em que a

comida é servida. O prazer começa, acaba e é limitado àquele momento, de acordo com a programação do seu instinto. A procura pelo prazer no ser humano é mais complexa. Os desejos humanos são comandados tanto pelo instinto como por um sistema de valores pessoais. Os desejos comandados pelo instinto, como qualquer ser vivo, são complicados pela habilidade humana de alimentar uma vasta gama de desejos pessoais e mutáveis. Como qualquer outro ser humano, eu vivo num mundo particular e subjetivo onde posso ver os objetos como desejáveis, indesejáveis ou indiferentes. 26


Quando examino minha atitude em relação a esses objetos, eu vejo que o que é desejado por mim, não é desejado por mim o tempo todo, em todos os lugares. E vejo também que o que eu desejo não é, necessariamente, desejado por outras pessoas. Meus desejos mudam. O tempo condiciona o desejo. O lugar condiciona o desejo.Os valores individuais condicionam o desejo. Consideremos uma venda de itens usados, onde vendemos para outras pessoas coisas que não queremos mais, porque o que eu antes considerava valioso é agora desprezado por mim, mas pode ser valorizado por outros. O que outros desprezam eu posso achar valioso. Às vezes, o que eu vendi como algo desnecessário, posso, depois, em uma nova circunstância ou atitude, considerar desejável novamente. À medida que o tempo passa, algo que eu agora valorizo perderá o valor para mim e eu estarei pronto para organizar uma nova venda de itens usados.

Essas mudanças de valor, que são a causa dos objetos serem considerados desejáveis, indesejáveis ou indiferentes, também ocorrem e afetam as atitudes em relação às pessoas, idéias, ideologias, situações e lugares. Todos são sujeitos a se tornarem desejáveis, indesejáveis ou indiferentes. Carros velhos, casas velhas, mobília velha, até um marido ou mulher velhos variam de status. A mudança acontece todo o tempo. Valores subjetivos não permanecem os mesmos. Quando os valores mudam, os gostos e aversões mudam; os gostos e aversões ditam os prazeres que buscamos. Parte da busca pelos prazeres é evitar o que nos causa desprazer. Tanto os animais como os seres humanos lutam para obter prazer e evitar o que não é agradável. A diferença é que aquilo pelo qual o homem luta não é definido e limitado por um padrão pré-determinado, mas ditado pelos valores flutuantes, valores que estão sempre mudando e que o mantém sempre lutando.

As Escolhas Humanas Requerem Padrões Especiais Pelo fato da luta por segurança e prazer não ser controlada impulsivamente e sim por valores pessoais mutáveis, faz-se necessário para o ser humano ter uma série de valores que governe seus valores subjetivos e mutáveis. Deve-se ter um conjunto de padrões que sejam independentes e não subservientes ao conjunto subjetivo de valores que determinam os gostos e aversões. Já que eu tenho a capacidade de escolha, devo ter certas normas controlando minhas várias ações para obter o que desejo. Não sendo pré-programado, o fim não pode, para mim, justificar o meio. Eu tenho escolha sobre ambos os meios e os fins. Não somente o fim deve ser escolhido em conformidade com os valores, mas também o meio para chegar até esse fim deve ser escolhido de acordo com o que é adequado. Esse conjunto especial de valores que controlam a escolha da ação é chamado de ética. A luta do homem por segurança e prazer deve estar de acordo com valores éticos. Valores éticos guiam você para ter consideração com as necessidades do seu vizinho. Escolhendo os meios para obter aquilo que desejo obter, preciso levar em conta as necessidades dos meus vizinhos também. Eu não posso querer alcançar os meus objetivos, indiferente às necessidades do meu vizinho. Eu devo valorizar as necessidades dele assim como as minhas. Os Animais não Precisam de Ética Para os animais, a questão de ética não se aplica. Eles têm pouca escolha sobre a ação que não seja programada. Ações controladas pelos instintos, não sujeitas à escolha, não criam problemas éticos. Não há méritos para a vaca, que é vegetariana, nem deméritos para o tigre, que come a vaca. Mas o ser humano, com sua capacidade de escolha, deve primeiro escolher o fim que ele deseja e depois o meio para alcançar esse fim. Exercita-se o poder de escolher os seus objetivos em relação a uma infinidade de coisas: comida, maneira de vestir, estilo de vida. "Meu jeito!" proclama essa individualidade. No Ocidente, parece haver também um valor para a escolha que é chamada de espontânea, mas que na verdade é impulsiva. É bom que haja muitos meios e fins diferentes para escolher; isso torna a variedade de escolhas colorida.

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No entanto, escolhas impulsivas ou a escolha do meio através do qual se alcança algo, simplesmente porque esse meio é fácil e conveniente, pode resultar em passar por cima dos direitos do vizinho, tirando sua segurança ou causando-lhe sofrimento. Aula 10 -A Fonte da Ética: o Bom Senso Descobre-se a fonte dos valores éticos, observando-se como se quer que os outros se comportem em relação a você mesmo. Valores éticos são baseados na apreciação do bom senso de como se quer ser tratado. Eu não quero que outros se utilizem de má fé (ou usem qualquer outro meio desagradável) e tirem de mim aquilo que eu quero. Por conseguinte, a ausência de má fé se torna um valor a ser observado em relação aos outros, enquanto eu busco os meus fins. Os fins e os meios que eu quero (ou não quero) que os outros escolham, estabelecem um padrão para mim, pela maneira com que essas escolhas me afetam. Por esse padrão, eu julgo os fins e meios que escolho, um padrão que leve em consideração o impacto das minhas escolhas nos outros. Tais valores abrangem a ética do bom senso, que é reconhecida e confirmada por um texto sagrado, numa doutrina ética mais completa, religiosa em sua natureza, chamada dharma. A Interpretação dos Regulamentos Éticos A ética do bom senso são as regras do "faça, não faça", baseadas em como se quer ser tratado. Quando a base da ética é entendida, torna-se claro que possa haver circunstâncias que justifiquem a interpretação ou a suspensão de um determinado padrão. Todos querem que se fale a verdade. Essa é a base para a ética universal: "Fale a verdade, não minta". Mas considere um médico no caso de uma paciente doente gravemente, cuja recuperação é incerta; um paciente cujo estado mental é fraco e depressivo. Se, na opinião do médico, o conhecimento completo da gravidade do seu estado pode colocar em risco as chances de recuperação desse paciente, deve o médico seguir a exigência ética de falar a verdade? Provavelmente não. Nessas circunstâncias, falar a verdade é sujeito à interpretação, levando em consideração todos os fatores envolvidos. Da mesma forma, a ética de não causar dano não impede o trabalho da faca do cirurgião nem do motor do dentista.

Ser Ético é Ser Completamente Humano Não é necessário ser religioso para ser ético. Os padrões éticos que regem os meios certos e os errados para alcançar segurança e prazer são baseados no bom senso e uma pessoa não-religiosa pode ser completamente ética por padrões do bom senso. Um ser humano, tendo desenvolvido uma mente altamente consciente, tem a capacidade de fazer escolhas não programadas e de refletir sobre as conseqüências de suas escolhas. Essa capacidade produz suas diretrizes éticas. Ser completamente humano é utilizar essas diretrizes no exercício da escolha. Errar moralmente é também um comportamento humano. Animais, até o ponto que se sabe, não cometem erros éticos. Não parece haver uma categoria ética controlando a busca de artha e kama nos animais. Não é necessária porque os animais não têm escolhas éticas não programadas. Mas o ser humano pode escolher meios errados para chegar a seus objetivos. Com uma mente capaz de racionalizar, ele sempre pode abusar da liberdade de escolha dada a ele; ele pode ignorar os padrões éticos do bom senso. Quando isso acontece, ele não cumpre o seu papel como um ser humano na sociedade. A sociedade estabelece regras para prevenir e aliviar o sofrimento que tal abuso de liberdade de escolha pode causar aos outros. Leis civis e criminais procuram controlar o abuso das escolhas. 28


O Que a Ética Religiosa Acrescenta Algumas vezes alguém pode ser esperto suficiente para abusar da liberdade sem, porém, transgredir as leis dos homens, ou pelo menos, não ser pego por esse comportamento. Nesse momento, entra a ética religiosa. A ética religiosa confirma a ética do bom senso. Podem existir mais considerações éticas, mas, definitivamente, não podem existir éticas básicas diferentes.A ética religiosa confirma a ética do bom senso e acrescenta algumas outras coisas. A ética religiosa geralmente diz: pode-se enganar um ser humano e escapar das mãos da lei, mas ninguém pode fugir dos resultados de suas ações. Os resultados vão alcançar a pessoa de alguma forma, agora ou depois. A ética religiosa normalmente também acrescenta alguns deveres e impõem mais proibições baseadas não apenas no bom senso, mas em alguma tradição religiosa ou revelação de um texto sagrado. Não é necessário seguir essa ética religiosa especial para se tornar um santo. Seguir a ética do bom senso já é suficiente.

A ética religiosa chamada de dharma, encontrada nos Vedas, confirma os padrões do bom senso, especificam outras regras e acrescentam o conceito de punya e papa, resultados das ações boas ou más, agora ou depois. De acordo com o dharma, a ação do homem tem um resultado que não é visto, assim como um resultado imediato, tangível. O resultado não visto da ação é depositado na conta daquele que faz a ação, de forma sutil, e com o tempo frutificará de maneira tangível para ele, como uma boa ou má experiência, algo prazeroso ou doloroso. O resultado sutil da boa ação, punya, frutifica como prazer, o resultado sutil da má ação, papa, frutifica como dor. Papa pode ser traduzido como pecado. O pecado é a escolha de um objetivo errado ou de um meio errado na busca de um fim aceitável. Essa escolha trará um resultado indesejado, o tipo de resultado que aquele que faz quer evitar que aconteça. O pecado é pago em termos de experiências indesejáveis. A palavra punya não tem um bom equivalente em inglês nem em português. Indica uma boa ação que depois trará uma experiência desejada, algo prazeroso.

O Ranking na Luta das Quatro Categorias da Busca Humana Dharma ocupa o primeiro lugar nas quatro categorias dos objetivos humanos porque a busca de artha e kama precisa ser governada por valores éticos. Artha, a luta por segurança, vem em segundo, porque o maior desejo de todos é viver. Todos são obedientes nas mãos do médico que maneja um bisturi ou de um barbeiro com uma navalha, porque todos querem viver. Depois da vida garantida, queremos ser felizes e então buscamos o prazer. Todos querem viver e viver felizes, e ambas as buscas, a busca por segurança e a busca por prazer devem ser governadas pela ética. A última categoria, o objetivo de liberação, moksa, está em último lugar porque se torna uma busca apenas para aqueles que entenderam as limitações inerentes das três primeiras buscas. Tudo em seu devido lugar: Moksa Moksa, como dharma, é uma busca peculiar do ser humano, que não é dividida com outras criaturas e mesmo entre os seres humanos não é geralmente difundida. Liberação é uma preocupação consciente apenas para poucos.Esses poucos reconhecem que aquilo que buscam não é mais segurança ou mais prazer, mas liberdade, liberdade de todos os desejos. Todos têm momentos de liberdade, momentos quando se sente que tudo está em seu devido lugar. Quando tudo está no lugar, eu estou livre. Em momentos passageiros, a liberdade de tudo estar no lugar é uma experiência comum para todos. Às vezes a música causa esse sentimento, outras vezes pode ser a realização de um desejo intenso. 29


Com a apreciação de algo belo, às vezes se tem a experiência de tudo estar no lugar. Essa experiência é evidenciada por não se querer nada diferente das circunstâncias daquele momento. Quando eu não quero que nada seja diferente, eu sei que tudo está em seu devido lugar; eu conheço a satisfação.Eu não preciso fazer nenhuma mudança para me tornar feliz. Nesse momento eu sou livre, livre da necessidade de lutar por qualquer mudança em mim mesmo ou nas circunstâncias. Se eu tenho a experiência de tudo estar no seu devido lugar permanentemente, não precisando nenhuma mudança em nada, então a minha vida estaria pronta, a luta terminaria. A busca por moksa é a busca direta dessa liberdade que cada um já experienciou em breve momentos quando tudo está no seu devido lugar. Do livro PurnaVidya - VedicHeritageTeachingProgrammePart 10 HumanDevelopmentand Spiritual Growth SwaminiPramanandaSaraswati e Sri DhiraChaitanya Aula 11 -A Ética Indígena Do que se entende por ética indígena, se é que isso existe dessa forma, terá que ser construído por dedução do pouco que se conhece da cultura desses povos. Padre Roque lembra que o novo ensino religioso não depende da confissão religiosa do professor, mas da honestidade intelectual e da competência profissional dos envolvidos no ensino. Em primeiro lugar, só o Brasil possui 200 sociedades indígenas com algo próximo de 200 línguas também e muito diferentes entre si (ENSINO RELIGIOSO, v. 5). Inicialmente supunha-se que os índios brasileiros e americanos não tinham três aspectos comuns às sociedades européias: religião, legislação e governo. Hoje sabe-se que isso é um grave equívoco, principalmente porque todo o universo cultural deles é profundamente religioso e tomada de sacralidade. O que as sociedades indígenas não possuem é doutrina religiosa. Do ponto indígena guarani de vista ético isso constitui uma grande vantagem sobre o Cristianismo, por exemplo, justamente porque assim não são incorporados membros por adesão ao credo e também não são excluídos membros por falta de concordância com os dogmas estabelecidos. Para Santos (1997), as religiões só apontam a incompletude do ser humano. E nesse sentido, entende ele que a crença torna-se uma decisão ética mediada por um ato de fé. Com outros argumentos, mas partindo de pressupostos muito parecidos, Meslin (1992) denomina essa decisão ética de experiência religiosa. Como ele mesmo diz: “A experiência religiosa é, pois uma captação do infinito divino, do eterno no mortal.” (MESLIN, 1992, p. 94)”. Nunca isso foi tão verdadeiro para as religiões indígenas. Toda vida deles é marcada por festas, ritos, danças e celebrações. A ética consiste em reconhecer a transcendência como fundadora e mantenedora da vida. Os povos indígenas são de uma cultura absolutamente transcendental. Prova disso são os mitos que narram o surgimento da vida e dos astros. E o Cristianismo também não tem um mito desse tipo? Os povos indígenas vêem nas pessoas mais velhas da tribo fonte de conhecimento e sabedoria. Os mais novos aprendem com os mais velhos uma vez que todo sistema educacional deles, se é que esse termo é apropriado para o assunto, depende dos ensinamentos dos mais velhos. Por isso mesmo são admirados e respeitados. A forma como que os índios se relacionam com a natureza constitui o ponto central de seus procedimentos éticos, como também é fundamental para compreender a sua cultura. Consideram a natureza divina no sentido de não fazer uma separação radical entre ser humano, natureza e outros animais, como fazem o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo, por exemplo. Ser humano e natureza formam um conjunto 30


indissociável. Entre os Guaranis da Bolívia acredita-se que as matas tenham “Donos”. Para caçar eles pedem licença aos “Senhores das Matas” que lhes reservem alguns animais que possam ser caçados a fim de alimentá-los. A ética indígena consiste, portanto, em manter um profundo equilíbrio entre as necessidades do ser humano e o respeito com o restante da natureza, de cuja dependem e cuja consideram sagrada. Eles não são prosélitos e não fazem “missão” para atrair fiéis. Infelizmente, ainda há cristãos em reservas indígenas tentando fazer conversão “dos pobres selvagens sem alma”. Reportagem da Revista Planeta, intitulada A Morte da Alma Indígena, ver Pellegrini (2002), mostra como que evangélicos e missionários do Canadá, convencidos da superioridade do Cristianismo, procuram converter e perverter a cultura religiosa e proibir práticas fundamentas à conservação da identidade cultural de tribos indígenas na Amazônia. Tudo feito na maior banalidade e no maior preconceito, e sem pudor tentam proibir as práticas religiosas deles, considerando-as “ofensivas à vontade de Deus”. Antes eram os católicos, agora são os evangélicos pentecostais que querem salvar as almas dos indígenas das “labaredas do inferno”. Afinal, qual foi mesmo a ética que Jesus teve? Com certeza não é essa coisa rasteira que alguns “fervorosos” cristãos, em Seu nome, defendem. Hoje a natureza está pedindo socorro e a tecnologia fracassou em querer produzir um mundo mais justo e melhor (se é que essa foi de fato a verdadeira intenção do desenvolvimento tecnológico). A ciência não desvendou todos os segredos do Universo e muito menos trouxe a tão prometida felicidade. O século XXI começou com um retorno à religião e uma retomada da valorização do sagrado e do transcendental como elemento da vivência social. O retorno à religião e a busca frenética pelo significado da transcendência só atestam que o modelo explicativo racional e lógico fracassou. Fracassou pelo menos em alguns pontos fundamentais; a ética certamente é um deles. Quando o assunto é ética não é preciso muito para saber quem tem o quê ensinar a quem. Quem sabe, precisaremos fazer o que os povos indígenas sempre souberam: escutar, ouvir e aprender. Oxalá, tivéssemos nós humildade para tal. Pois, a ética é também capacidade de contemplar e refletir sobre as ações. Coisa praticamente “extinta” em um sociedade de consumo e de espetacularização, como a que vivemos. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/zliyqxM9qsA Fonte: A ÉTICA INDÍGENA Publicado em 18 de July de 2017 por Werner SchrorLeber Aula 12 -O Mal e o Bem Na sua ética, S. Tomás de Aquino parte do princípio da existência de Deus, porque nenhuma ética é possível sem uma metafísica qualquer; aliás, este é o grande problema ético dos ateístas, e a necessidade da transformação do ateísmo em naturalismo reflete a necessidade ética de uma “metafísica”, o que na prática significa “religião”. S. Tomás de Aquino parte da lógica sustentada da liberdade do ser humano ― o livre arbítrio ― o que para mim é ideia agradável. O ser humano é livre; Deus não lhe tolheu a liberdade. O ordenamento finalista do universo não elimina nem diminui a liberdade do Homem. São Tomas de Aquino

O mal é a ausência do bem, isto é, o mal não é substancial. Neste aspecto, S. Tomás de Aquino segue S. Agostinho na teoria da nãosubstancialidade do mal, em confronto com as

ideias de Mani (maniqueísmo). Também esta ideia é-me agradável; o mal não é intrínseco ao ser humano senão na sua condição de ignorância 31


ou ausência de sabedoria, da mesma forma que o mal é a ausência do bem. S. Tomás de Aquino existem duas espécies de “mal”: a “pena” e a “culpa”. A “pena” tem em Aquino um significado parecido no Budismo com o de Kharma; a “pena” é a deficiência da forma ou de uma das suas partes, necessária para a integridade de algo. A “culpa” é, dos males, o maior ― que a providência tenta corrigir ou eliminar com a “pena”. Para S. Tomás de Aquino, só lhe faltava reconhecer a reencarnação para transformar a “pena” em Kharma e a “culpa” em Samsara. Para S. Tomás de Aquino, a “culpa” é o ato humano de escolha deliberada do mal; a “culpa” não é inconsciente: o ser humano com culpa sabe que a tem, através da “consciência”. Contudo, o ser humano é dotado de capacidade para distinguir o Bem, e naturalmente tende para ele; assim como o ser humano tem uma aptidão natural para entender os princípios da ciência, essa mesma aptidão serve também para o ser humano entender os princípios práticos dos quais dependem as boas ações. Através da sínderese ― que é exatamente essa aptidão prática que permite ao Homem distinguir o Bem — o ser humano tende a rejeitar a ausência de Bem.

Ao contrário do que defende o naturalismo ateísta contemporâneo, S. Tomás de Aquino distingue a liberdade do ser humano da falta de liberdade do resto da natureza. As potências naturais (as faculdades naturais) não têm possibilidade de escolha nem têm liberdade; agem de um modo constante e infalível como agem os agentes que a Física ou a Química observam. Contudo, as potências racionais podem agir em vários sentidos segundo livre escolha. O habitus, segundo S. Tomás de Aquino, é a predisposição humana que é constante, mas não necessária ou infalível, de escolher em determinado sentido ― o habitus é a tendência de comportamento de um ser humano em particular, em pleno exercício da sua liberdade, ou de uma sociedade determinada, em geral. S. Tomás de Aquino aceita a distinção aristotélica entre “virtudes intelectuais” e “virtudes morais”, sendo que estas últimas são a justiça, a temperança, a prudência e a fortaleza. As virtudes intelectuais e as virtudes morais são virtudes humanas que conduzem o ser humano à felicidade que o Homem pode conseguir nesta vida com as suas próprias forças naturais. Mas para além destas, o Homem dispõe das “virtudes teologais” diretamente infundidas por Deus: a fé, a esperança e a caridade.

A Lei Natural Em toda a ética de S. Tomás de Aquino está presente o direito natural (jusnaturalismo). Existe uma lei eterna ― uma lei que governa todo o universo e que existe na lógica do surgimento desse universo. A lei natural que existe no Homem é um reflexo (ou uma “participação”) dessa lei eterna que rege o universo. A lei natural tem três características fundamentais: ➢ A inclinação para o bem natural. A auto conservação do Homem ― como a de qualquer ser vivo ― é uma revelação desta primeira característica. Por isso, o aborto e o suicídio (eutanásia) vão contra a lei natural. ➢ A inclinação especial para determinados atos, que são os que a natureza ensinou a todos os animais, como a união do macho e da fêmea, a educação dos filhos e outros semelhantes. Por isso, o comportamento e a cultura “gay” vai contra a lei natural. ➢ A inclinação para o Bem segundo a natureza racional que é própria do Homem, como é a inclinação para conhecer a Verdade, a sociabilidade, a cultura, a tradição, etc. A estética O belo, segundo S. Tomás de Aquino, é um aspecto ou uma característica do Bem. O belo é idêntico ao Bem, sendo que o Bem é aquilo que todos desejam e, portanto, é a própria teleologia (o Fim). O belo também é desejado, e, portanto, tem um valor teleológico. Porém, ao contrário do Bem, o belo só se refere aos sentidos (faculdade cognoscitiva) ― visão, audição ― e à consciência das coisas (que inclui outros sentidos: o tacto, o olfato, o gosto). Portanto, a beleza só se refere aos sentidos que têm maior 32


valor cognoscitivo e que servem a Razão. O que agrada na beleza não é o objeto em si, mas a apreensão do objeto. S. Tomás de Aquino atribui ao “belo” três características essenciais: ➢ A integridade da perfeição. Tudo o que é reduzido ou incompleto é feio. ➢ A proporção das partes; a clareza. Esta característica aplica-se não só nas coisas sensíveis (arte em geral) mas também nas coisas do espírito. Um corpo proporcionado é belo assim como um discurso ou uma ação bem proporcionada tem a clareza espiritual da razão. ➢ A verdade da beleza. O belo existe mesmo que represente um objeto feio. Fonte: https://espectivas.wordpress.com A MORAL SEGUNDO TOMÁS DE AQUINO Trecho do livro "Sociologia Fundamental e Ética Fundamental" A moral segundo Tomás de Aquino, que segue o caminho marcado por Aristóteles, foi por nós sintetizada em “Filosofia da Crise. ” Seus postulados fundamentais são os seguintes: “Se a felicidade humana é o fim da nossa atividade, ela só pode ser alcançada através de nossos atos. Esses atos nos levam, direta ou indiretamente, ao fim almejado. E a razão é o meio de que dispõe o homem para alcançar esse fim.” O Homem é um ser imerso no ser. É cumprindo a Lei do ser, que ele poderá alcançar a sua plenitude. Portanto, a felicidade só poderá ser conseguida na plenitude do ser acabado e perfeito. E um ser racional não atinge sua plenitude na racionalidade? A moralidade só pode firmar-se no que favoreça a realização dos destinos humanos, no que permita alcançar o seu fim. A atividade moral deve coincidir com a atividade racional. Mas um ato é razoável, afirma Tomas de Aquino, quanto é apto, por sua natureza, para obter o fim que intenta a razão, que é a felicidade. “Onde quer que se estabeleça uma ordem de nos dê logo a felicidade. E muitas vezes a virtude finalidade bem determinada, é de necessidade não a alcança, o que é desconcertante. que a ordem instituída conduza ao fim proposto e Por isso, os estóicos acabam por considerar que que o afastar-se dela implique já o privar--se de não há verdadeiro bem humano fora do bem tal fim. Pois, o que é em razão de um fim, recebe moral em si mesmo. A vontade de agir bem é o sua necessidade desse mesmo fim; e um vez bem, e não há outro. Por essa razão Kant posto, salvo o caso de força maior, o fim é termina por afirmar que a moral não poderia conseguido” (Tomas de Aquino, “Suma Contra pretender resultados práticos. A satisfação deve Gentiles”, c. 104, por Sertillanges). estar no dever cumprido. Mas um ato de virtude não nos dá logo a felicidade, nem mesmo uma vida inteira, Mas Tomás de Aquino não fecha os olhos ante reconhecia ele. Há desgraças entre os momentos tais evidencias. felizes, infortúnios que surgem, azares que A moralidade, afirma ele categoricamente, não transtornam as vidas, conspirações de condições tem apenas a finalidade de satisfazer um e, além disso, o escândalo constante dos ímpios formalismo abstrato, um imperativo sem triunfantes e a opressão sobre os justos. fundamentação no ser, nem a mandamentos Tais factos podem enfraquecer o descrente que arbitrários, mas a mandamentos que estão no na descrença se abismará. ser. São tantas as circunstâncias de que depende a A virtude é, para ele, um autêntico prolongar dos felicidade, que esta e a virtude marcham isoladas instintos, sempre que estes sejam autênticos, que muitas vezes. Mas a virtude pode realizar-se sejam realmente naturais, que pertençam ao independentemente, por si mesma, embora não gênio da espécie. 33


Se os atos de bem não realizam, desde logo, a felicidade, eles são, no entanto, uma semente. Realizar a ordem do ser é santificar-se. A virtude vem de uma lei universal. Nessas obras “nos seguem”. A realidade não é moral por si mesma, mas o é em sua totalidade, porque o ser o é, e Deus é o Ser Supremo. E esse ser está no universo, e em cada homem. É o ser em nós que nos incita ao bem e a felicidade. E se unimos nosso esforço ao do Ser Supremo, seremos invencíveis, porque permanecemos na ordem universal. A boa consciência é uma força. De que valeria a virtude se ela não lutasse pela conservação do ser e por ampliá-lo? Ela não se apoia em malentendidos, em ilusões, em preconceitos. Se tende à realizações temporais, tende ainda mais a realizações intemporais, extra temporais, sobrenaturais, porque o ser ultrapassa a tudo quanto é limitado. Nossa natureza integral não se prende apenas a natureza. O que podemos realizar como seres daqui, é apenas uma parte do que podemos realizar. Não se exclui da ideia de felicidade a de prazer. Nós conhecemos prazeres entre dores e magoas. O prazer é também uma perfeição, pois é o cumprimento de uma ação vital. É um complemento intrínseco das operações vitais. Quando Spinoza diz que o gozo é “a passagem de uma perfeição menor a uma perfeição maior”, e a tristeza o inverso, não o negava Tomás de Aquino, com antecedência, pois dizia o mesmo.

Eis porque todos ser humano deseja o prazer. Se vivemos porque não levar até o seu último termo o gosto da vida? Perguntava Aristóteles em sua “Ética” se teria sido criado “o prazer para a vida ou a vida para o prazer. ” Tomás de Aquino é decisivo. Repele esta última possibilidade, e aceita a primeira. Não é o deleite que dá a intenção a criação; o deleite é secundário. O prazer é um bem em si, não por si mesmo. È um bem e um germe de novos bens. Sempre que ligamos a agradabilidade a alguma coisa, fazemo-la melhor. Caminha-se melhor por um caminho agradável. Daí concluir que se a virtude for realizada com gosto, ela se torna mais virtuosa. O prazer não é um óbice a ação, salvo quanto a ela se opõe. O prazer da ação ativa o homem. Por isso, Tomás de Aquino não condena o prazer. O prazer está no cume de todas as coisas. E bem sabe ele que o gozo de Deus é Deus. Deus é beatitude. Mas nossos prazeres são passageiros, transeuntes, frágeis, relativos e proporcionais ao bem que os acompanha. Desaparecido o objeto, desaparece o prazer, desvanece-se. Desejamos um prazer eterno. Reprova Tomás de Aquino as invectivas que se dirigem ao prazer, que se as aceita quanto ao prazer irracional é abusivo. Há prazeres nobres e há prazeres viciosos. Toda forma viciosa ofende a razão.

O prazer é um bem, mas como não é o primeiro, é consequentemente secundário. Se o prazer favorece a vida, não é a vida. Quem se sentiria satisfeito de ser rei apenas de pantomina? Ser um rei de brincadeira? A natureza uniu o prazer à ação. E se assim é, evidentemente o prazer favorece a sua normal atividade. O maior prazer corporal está ligado ao que respeita à espécie. Há, no prazer, um valor. Se a posse de uma verdade nos dá um prazer, é porque nutrir-se corporalmente é um bem para a vida do corpo. Há bens maiores e menores. O prazer está ligado ao objeto. Gozar por gozar é contra a razão e, portanto, imoral. Se afeta apenas a ordem da vida é uma falta leve, mas quando tais prazeres transtornam os valores da vida, desorganizam-na, o dano que produzem revela a sua imoralidade. A moral, é, portanto, para o homem, a arte de chegar ao seu fim. E este fim é o bem. E esse bem é a plena realização de si mesmo, de sua natureza humana. E é moral o meio que a facilite. Desrespeitá-lo é provocar a sanção, que sobrevém consequentemente. As ações humanas devem enquadrar-se numa realização moral: as ações naturais devem ser realizadas naturalmente; as humanas, humanamente, isto é, livremente. 34


Há uma lei imanente que dirige o mundo; na verdade, leis que se subordinam à Lei primeira. Sair da ordem natural, o que o homem pode, devido ao seu livre arbítrio, é ser mau, e é ele por isso responsável. O homem quer o bem e não pode fugir a essa lei. Mas pode escolher entre bens diferentes. Há uma moral imanente que o homem pode descobrir; é a moral da própria vida. Não é a moral heterônoma e imposta por Deus. A moral é imanente ao ser e a sanção surge da própria imanência. O prêmio está no cumprimento dessa lei, e o castigo sobrevém porque nos afastamos da rota ascensional imanente do ser. A virtude é o meio racional da felicidade; e o vício, o desdém irracional desse meio. A virtude é um meio e não um fim. “O valor da vida é a razão do respeito à vida; o valor da saúde, a razão da higiene; o do saber, a razão do estudo; o de nossas relações recíprocas, a razão da justiça; o da felicidade integral, a razão da virtude em sua integridade também”, afirma Sertillanges. Se não há correspondências sempre neste mundo, se são precárias as nossas seguranças na vida presente, esta não é um termo final, lembra Tomás de Aquino. “A moral tomista é uma moral sem obrigação, uma moral sem sanções diz Sertillanges. Repele o legalismo kantiano ou escotista para permanecer com a filosofia do ser evolutivo sobre a base de Deus; e quanto às sanções, não conta com “recompensas” extrínsecas, mas com o resultado de uma evolução normal, dentro e sob a garantia de uma ordem que sabemos ser da divindade. ” A moral é o cumprimento da Lei divina do ser, e é cumprindo-a, e nela elevando-nos, nela exaltando-nos, que alcançamos a plenitude do ser, a suprema felicidade do ser, que, em sua plenitude, realiza a plenitude de si mesmo. Depois dessa exposição das diversas concepções morais podemos seguir outros caminhos que passamos a delimitar. Exporemos, a seguir, nossa concepção concreta da Ética, e, após, estaremos aptos a examinar os diversos conceitos e categorias daquela, jamais esquecendo que, neste livro, apenas tratamos dos aspectos fundamentais, pois os exames em profundidade e em extensão exigem obras especiais. Fonte:www.fisosofiaconcreta.blogspot.com.br

Aula 13-Arthur Schopenhauer Foi um brilhante filósofo alemão, profundamente engenhoso e com grande influência durante a segunda metade do século XIX e começo do XX. Ele se caracterizou por uma posição nitidamente pessimista perante o mundo e a vida, o que foi refletido na sua principal obra “O mundo como vontade e representação”. O grande realismo e a profundidade do seu pensamento o impediam de ver “o mundo colorido”. Ainda assim, Schopenhauer escreveu um ensaio com 50 regras para alcançar a felicidade. A “felicidade” é um desses conceitos imprecisos sobre os quais o homem, ao longo de sua história, nunca entrou em acordo. Compartilhamos a ideia de que este é um sentimento de plenitude e alegria, mas cada pessoa chega a esse estado por razões diferentes. Na verdade, muitas pessoas afirmam que nem sequer é um estado como tal, mas sim uma percepção passageira. Schopenhauer desenvolveu um conceito de felicidade que tinha por fundamento a prudência e a ética. Dentro do seu pensamento a felicidade tem mais a ver com a paz interior do que com o júbilo e a alegria. Das suas cinquentas regras para a felicidade, selecionamos 10 que podem ser enriquecedoras para você. 35


Sugestão de vídeo: https://youtu.be/mTkWDlb-mXE • Evitar a inveja, norma básica do pensamento de Schopenhauer A inveja é uma força muito negativa que pode se apoderar do nosso coração e bloquear nossa alegria de viver. Quem está mais focado no que os outros fazem ou sentem descuida-se da tarefa de construir sua própria felicidade. • Desapegar-se dos resultados Trata-se simplesmente de colocar todo o nosso empenho no que fazemos, já que é a única coisa que depende apenas de cada um de nós. Deve ficar a satisfação de tê-lo feito bem. O resto não tem importância. • Permitir-se a alegria Muitas pessoas chegam a experimentar certa estranheza e até se sentem culpadas quando estão alegres. Isto ocorre porque outras pessoas sofrem ou pelo fato de algumas pessoas considerarem o sofrimento mais louvável do que a alegria. É importante nos desapegarmos dessas ideais e sermos capazes de experimentar a alegria sem nenhum questionamento. • Controlar as fantasias Goya costumava dizer que “a imaginação produz monstros”. Tanto com nossos temores, como com nossas ambições, costumamos deixar a fantasia criar asas. Por isso, terminamos vendo perigos maiores dos que realmente existem ou sucessos gigantescos que, em todo caso, não passam de simples sonhos. • Evitar a infelicidade Ainda que pareça óbvio, nem todos as pessoas evitam a tristeza. Na verdade, algumas pessoas procuram por ela e, é claro, a encontram. Para Schopenhauer, o mais saudável é evitar ou erradicar todas aquelas situações que podem gerar infelicidade, porque em essência não valem a pena e apenas são a fonte de novas dificuldades. • Valorizar o que você tem A cada dia deveríamos nos despertar e pensar em tudo aquilo pelo que temos que agradecer. Começando por um dia a mais de vida, por um teto, uma cama e uma consciência para valorizar o que temos e que muitos outros não possuem. • Empreender e aprender Ter planos e projetos gera uma dose importante de entusiasmo na vida. Não importa que esse projeto seja simplesmente cultivar uma planta ou fazer uma comida deliciosa: esses pequenos empreendimentos são um tesouro. Da mesma maneira, a aprendizagem sempre nos permite sentir que estamos crescendo e evoluindo. • Cuidar da saúde A doença muda completamente a nossa perspectiva perante a vida. Quem sofreu com os rigores da dor, do incômodo ou da limitação sabe disso muito bem. A saúde é um verdadeiro tesouro do qual devemos cuidar para podermos aproveitar todo o resto. •

Ter compaixão por nós mesmos

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A primeira forma de bondade deve ser dirigida a nós mesmos, defende Schopenhauer. É importante avaliar-nos, reconhecer os erros e aprender com eles . O que não devemos fazer é nos flagelar, criticar demais a nós mesmos ou apontar de maneira rígida o que fazemos. Afinal, isso não serve para nada. • Preparar-se para o passar do tempo Quando somos jovens é como se a velhice fosse algo que acontece com os outros, nunca com nós mesmos. Essa fantasia nos leva a viver sem nos prepararmos para esse futuro onde o peso dos anos introduz novas limitações e novas vulnerabilidades. Quem se prepara para a velhice garante um melhor bem-estar nessa frágil etapa da vida. Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br ➢ Não há Felicidade sem Verdadeira Vida Interior A vida intelectual ocupará, de preferência, o homem dotado de capacida-des espirituais, e adquire, mediante o incremento inin-terrupto da visão e do intelectual protege não só contra o tédio, mas conhecimento, uma coesão, uma intensificação, também contra as suas consequências uma totalidade e uma plenitude cada vez mais pernicio-sas. Ela é um escudo contra a má pronunciadas, como uma obra de arte companhia e contra os muitos perigos, amadurecen-do aos poucos. Em contrapartida, a infortúnios, perdas e dissipações em que se vida prática dos ou-tros, orientada apenas para o tropeça quando se procura a própria felicidade bem-estar pessoal, capaz de incremento apenas apenas no mundo real. Para mim, por exemplo, a em extensão, não em profundeza, contrasta em minha filoso-fia nunca rendeu nada, mas poupoutristeza, valendo-lhes como fim em si mesmo, me de muita coisa. enquanto para o homem de capacida-des O homem normal, pelo contrário, em relação aos espirituais é apenas um meio. deleites de sua vida, restringe-se às coisas A nossa vida prática, real, quando as paixões não exteriores, à posse, à posição, à esposa e aos a movimentam, é tediosa e sem sabor; mas filhos, aos amigos, à socie-dade, etc. Sobre estes quando a movi-mentam, logo se torna dolorosa. se baseia a sua felicidade de vida, que desmorona Por isso, os únicos feli-zes são aqueles aos quais quando os perde ou por eles se vê iludi-do. coube um excesso de intelec-to que ultrapassa a Podemos expressar essa relação dizendo que o medida exigida para o serviço da sua vontade. seu centro gravitacional é exterior a ele. Pois, assim, eles ainda levam, ao lado da vida real, Justamente por isso, tem sempre desejos e uma intelectual, que os ocupa e entretém caprichos cambiantes. Se os seus meios lhe ininter-ruptamente de maneira indolor e, no permitirem, ora comprará casas de campo ou entanto, vivaz. Pa-ra tanto, o mero ócio, isto é, o cava-los, ora dará festas ou fará viagens, mas, intelecto não ocupado com o serviço da vontade, sobretudo, os-tentará grande luxo, justamente não é suficiente; é necessário um excedente real porque procura nas coi-sas de todo o tipo uma de força, pois apenas este capacita a uma satisfação proveniente do exterior. Como o ocupação puramente espiritual, não subordinada homem debilitado que, por meio de consumo de ao ser-viço da vontade. Pelo contrário, o ócio canjas e drogas farmacêuticas, espera obter destituído de ocupação intelectual é, para o saúde e robustez, cuja verdadeira fonte é a homem, morte e sepultura em vida (Séneca). própria força de vida. Para não passarmos desde já ao outro extremo, coloque-mos ao seu lado Ora, conforme esse excedente seja pe-queno ou uma pessoa dotada de capacidades espirituais grande, haverá inúmeras gradações daquela vida não exatamente eminentes, mas que intelectual levada ao lado da real, desde o mero ultrapas-sem a escassa medida comum. Veremos tra-balho de colecionar e descrever insectos, tal pessoa prati-car como diletante uma bela arte, pássaros, mine-rais, moedas, até as mais elevadas ou uma ciência como a botânica, a mineralogia, a realizações da poesia e da filosofia. Tal vida física, a astronomia, a história e semelhantes, e 37


nelas encontrar de imediato uma grande parte do seu deleite, nelas se reabastecendo quando es-tancam aquelas fontes exteriores ou quando não mais a satisfazem-.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

Aula 14 -A moral kantiana A paciência é a força do frágil, e a impaciência a fraqueza do forte” Immanuel Kant

A moral Kantiana exclui a ideia de que possamos ser regidos se não por nós próprios. É a pessoa humana, ela própria, que é a medida e a fonte do dever. O homem é criador dos valores morais, dirige ele próprio a sua conduta. Como para Rousseau, será para Kant a consciência a fonte dos valores. Mas não se trata de uma consciência instintiva e sentimental; A Consciência moral para Kant é a própria Razão. Assim, a moral de Kant é uma moral racional: a regra da moralidade é estabelecida pela razão – O Princípio do dever é a pura Razão. A regra da acção não é uma lei exterior a que o homem se submete, mas é uma lei que a razão, Actividade Legisladora, impõe à sensibilidade. Nestas condições, o homem, no acto moral, é ao mesmo tempo, Legislador e Súbdito. É uma ética formal, vazia de conteúdo, na medida em que: 1º - não estabelece nenhum bem ou fim que tenha que ser alcançado 2º - não nos diz o que temos que fazer, mas apenas como devemos atuar O que interessa é a intenção, a coerência entre a ação e a lei, e não o fim. A ética Kantiana possui uma Forma e não um conteúdo à essa forma necessária é a Universalidade: O racional é o Universal. Immanuel Kant

Kant critica as éticas tradicionais por serem: a) empíricas – cujo conteúdo é extraído da experiência e portanto não permite leis universais. b) os preceitos das éticas materiais são hipotéticos ou condicionais (meios para atingir um fim. c) as éticas materiais são heterónomas – a lei moral é recebida, não radica na razão. A vontade é determinada a atuar deste ou daquele modo por desejo ou inclinação. Na base da moral Kantiana está presente um determinado conceito de Homem. - O homem é um ser que se auto-regula a si mesmo, que se auto-determina em liberdade. 38


- O homem possui neste sentido um poder absoluto – a sua razão autónoma e livre determina a sua própria lei. - O homem é um destino, isto é, um ser que tem que fazer-se a si mesmo – Personalização – “ao homem cabe o destino moral da personalização.” - Mas o homem, em virtude da sua constituição, participa também do mundo sensível, da animalidade. - O homem é um ser dividido dentro de si próprio. Por um lado é um Ser Empírico, enquanto livre arbítrio que pode ou não agir segundo a representação da lei moral. Por outro lado é um Ser Inteligível, na medida em que leva em si um tipo de Causalidade Livre, que se impõe como exigência absoluta e incondicional. O Homem como Ser Moral à Autonomamente à Lei Moral O que é a Lei Moral? A lei moral é para Kant, Universal, Necessária e «apriori», pois o seu fundamento não poderia ter sido tirado da experiência onde existem muitas inclinações e desejos contraditórios. A lei moral fundamenta-se na liberdade da Razão e tem origem na consciência moral, isto é, na razão autónoma.A lei moral é a lei que o homem enquanto ser racional e livre descobre em si mesmo como correspondendo à sua natureza. É uma lei intrínseca da razão. É a existência da moralidade no homem – A Personalidade – que o identifica com Deus: “Maximamente pessoa e ideal de existência personalizada, isto é, absolutamente causadora de si”. No homem a Lei Moral afirma-se como um Dever e assume a forma de Imperativo Categórico. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/nsgAsw4XGvU DEVER – O que é então o dever para Kant? “A necessidade de uma ação por puro respeito à lei” “O valor moral de uma ação não radica pois em qualquer fim a atingir, mas apenas na máxima, no motivo que determina a sua realização, quando este motivo é o dever.Uma ação feita por dever tem o seu valor moral, não no fim que através dela se queira alcançar, mas na máxima pela qual ela resultou: não depende pois da realidade do objeto, mas apenas meramente do princípio do querer”. Para Kant “uma ação não é obrigatória porque é boa, é boa porque é obrigatória”. Para Kant o Dever é o Bem: A Boa Vontade é a Vontade de agir por Dever. A Lei Moral que se impõe por Dever assume a Forma de Imperativo Categórico O imperativo categórico, ou da moralidade, determina a ação independentemente de todo o fim a atingir e tem o seu fundamento apenas na consciência moral. O imperativo moral é categórico (e não hipotético ) sem qualquer condição. Respeita à forma e princípio donde resulta a ação (“o valor da ação moral ... vem do princípio da vontade que o produziu”) isto é a Intenção, se assim não fosse, as suas determinações ficariam sujeitas à possibilidade material de realizar a ação apreciando-lhe as consequências, então não seria categórico. Essa forma necessária é a Universalidade: O Racional é o Universal. A vontade não se determina só por leis, mas por fins, mas os fins subjetivos são relativos e só podem fundar imperativos hipotéticos. Só um fim em si pode fundar um imperativo categórico, só o homem é fim em si e tem valor absoluto, é pessoa; os objetos ou seres irracionais têm valor relativo, são coisas. Se o homem é fim em si, a sua vontade só pode estar ao serviço da razão; a vontade moral é, pois, autónoma, e há heteronomia sempre que o ser racional obedece a um móvel exterior à Razão.A lei moral é um imperativo e obriga o homem ao Dever.

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O próprio princípio da moral à limite práticoconstituído por impulsossensíveis que leva àfinitude de quem deverealizá-la. A moralidade não é racionalmente necessária de um Ser Infinito que se identifica com a Razão, mas sim a racionalidade possível de um ser que tanto pode assumir como não assumir a Razão como guia de conduta. Aqui está a Raíz da exigência paradoxal de que o homem como sujeito de Liberdade valha como Númeno – mas afirmando-se como Númeno o homem não anula a sua natureza sensível – o Ser Fenómeno. A sua numenalidade mobiliza a sua fenomenalidade. O mundo suprassensível que estabelece no ato da sua liberdade, é a forma da própria natureza sensível. Mas o sujeito moral enquanto Númeno não deixa se ser fenómeno – a sensibilidade, e como tal nunca se identifica com a Razão, a moralidade nunca é conformidade completa de vontade com lei moral, nunca é Santidade. Fonte: http://afilosofiadaintegracao.blogspot.com.br

No livro intitulado "A razão na história", o filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel disse: Cada indivíduo também é o filho de um povo em uma fase de seu desenvolvimento...Somente através de seu esforço ele poderá estar em harmonia com a sua substância, deve trazer a vontade exigida por seu povo para a sua própria consciência, para articulação. O indivíduo não cria o seu conteúdo, ele é o que é, expressando tanto o conteúdo universal quanto o seu próprio conteúdo. Todos devem ativar esse conteúdo universal que há em si. Através dessa atividade se mantém o conjunto da vida ética. O que faz os homens insatisfeitos moralmente — uma insatisfação de que eles se orgulham — é que eles não acham o presente adequado à realização de objetivos que em sua opinião são corretos e bons, especialmente os ideais das instituições políticas de nosso tempo. Georg W. Friedrich Hegel Comparam as coisas como elas são, com seu ideal de como deveriam ser. Neste caso, não é o interesse privado ou a paixão que deseja a satisfação, mas a razão, a justiça, a liberdade. As leis da ética não são acidentais, mas são a própria racionalidade. A finalidade do Estado é fazer prevalecer o material e se fazer reconhecer nos feitos reais dos homens e nas suas convicções. Toda a moral é a unidade da vontade subjetiva (ou pessoal) com a vontade geral (ou universal).O povo é moral, virtuoso e forte enquanto está empenhado na realização de seus objetivos, defendendo-os contra as forças externas através do trabalho. Desaparece assim a contradição que existe entre o seu potencial e a sua realidade (o que nele é subjetivo — sua meta e sua vida interior) e aquilo que ele é objetivamente. A moral natural e ao mesmo tempo religiosa é a lealdade da família. Nesta sociedade a moral consiste no próprio fato de que seus membros se comportem uns para com os outros não por livre-arbítrio como indivíduos, não como pessoas. É por essa mesma razão que a família continua excluída do desenvolvimento em que a história teve sua origem (ela é pré-histórica). Somente quando a unidade espiritual passa além deste círculo de sentimento e amor natural, chegando à consciência da personalidade, é que surge o núcleo sombrio e rigoroso em que nem a natureza nem o espírito são abertos 40


e transparentes e onde ambos podem tornar-se abertos e transparentes apenas através de mais trabalho daquela vontade consciente e através do demorado processo cultural, cujo objetivo é muito remoto. Fonte: www.osentidodavida.com.br Sugestão de vídeo: https://youtu.be/Hla6_4FuyI0 O agir (ZOON POLITICON) A atividade de trabalho corresponde ao desenvolvimento biológico do corpo humano, cujo crescimento, metabolismo final estão ligadas às necessidades produzidas e alimentadas nos processos vitais da própria atividade de trabalho. A principal função dos escravos na antiguidade era cumprir a tarefa de animal laborans. O operar, o homo faber, é a atividade que corresponde à dimensão não natural da existência humana, e o fruto do operar é um mundo artificial de coisas, distinto do ambiente natural. O homo faber é o homem tecnológico que tende a produzir objetos duradouros (obras).A obra das nossas mãos, distinta do trabalho do nosso corpo, o homo faber distinto do animal laborans, fabrica os objetos cuja soma total constitui o mundo artificial do homem.

A ação, do zoon politikon, a única atividade que coloca os homens em relação direta sem a mediação de coisas materiais, corresponde à condição humana da Pluralidade, ao fato de que os homens, e não o homem, habitam o mundo. Esta pluralidade é especificamente a condição de toda vida política. A práxis política é a mais importante manifestação da vita activa. Através dela os homens comunicam não através dos objetos, mas através da Linguagem. Aristóteles, diz Anna Harendt, achava que só a ação (Práxis) e o discurso (Lexis) pertencessem ao agir político. A ação e o discurso eram considerados as atividades mais elevadas do homem. As palavras do Achilles Homérico não eram consideradas grandes por expressar grandes pensamentos: mas era a capacidade de pronunciar grandes palavras com as quais responder aos golpes dos deuses, que colocava o discurso de Achilles no mesmo plano da ação.

Encontrar as palavras oportunas no momento oportuno significa AGIR. Só a mera violência é muda e por isto não pode nunca ser grande. Ser político para os gregos era abandonar a esfera da violência e da necessidade e colocar toda esperança na esfera do discurso. “O que todos os filósofos gregos achavam”, diz Harendt, “é que a liberdade mora exclusivamente na esfera política, enquanto a necessidade é um fenômeno pré-político. Os seres humanos sujeitos à necessidade estão dispostos à violência sobre os outros: ato pré-político de liberar-se da necessidade da vida em nome da liberdade no mundo”. Na raiz da consciência política grega há uma extraordinária consciência da superioridade da vida libera sobre o reino da necessidade natural. Para Harendt, a condição moderna traz um processo de negação e desvalorização da vida ativa: o zoon politikon, o agir político, cede a passagem a uma nova epistemologia. A partir da dúvida cartesiana, que enraizou no sujeito toda fonte de certeza e verdade, se passou para o homo faber, e do homo faber para o animal laborans, na primazia da atividade, que tem como único fim à conservação material da vida. É o que nos mostra “A fábula das abelhas” de Mandeville, a fábula do homem da natureza positiva, o homem afabulado pela positividade da natureza, mas a fábula também do homem contemporâneo, para o qual o agir político deixou lugar para a atividade de produção da qual somos todos os funcionários e mesmo as próprias matérias primas, os próprios insumos da produção. “Como si a vida individual tivesse sido submergida pelo processo vital da espécie, e a única decisão ativa ainda pedida ao indivíduo fosse de abandonar a própria individualidade, o cansaço de viver que é sentido individualmente, para deitar-se num tranquilizado tipo funcional de comportamento”. O que permitiria de pensar, de levar além, de Metaphorein as nossas experiências sensíveis, é a Linguagem. Esta conclusão de Harendt, na obra “A vida da mente”, tem a ver conosco enquanto seres políticos: através da linguagem, que preenche a fratura entre o mundo sensível e o mundo da mente, 41


pode derivar para o homem uma via de saída em relação ao conformismo de massa que está na origem da banalidade do mal, do mecanismo infernal em que são ausentes o pensamento e a liberdade do agir. Trata-se da ética pragmática alicerçada no mundo da técnica, velocidade, política, economia e outros fatores. É o mundo da cultura que perpassa por um olhar antropológico à medida que é preciso a experiência da alteridade: “o conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de outras culturas”.Entretanto, esse viés antropológico não é suficiente para o homem comum e contemporâneo superar a crise da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar a sua convivência harmônica. Ao contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico e científico, ser feliz é ter. Não há mais espaço para uma ética voltada para uma comunidade, para a Polis da antiguidade. Hoje se aposta no individualismo, no consumo, na rapidez de produção. Em lugar da felicidade pura e simples há a obrigação do dever e a ética fundamenta-se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”.São três momentos distintos, mas não estanques, onde cada concepção ética materializa sua reflexão através de seus discrepantes modos de pensar e agir, frutos do ambiente histórico e da subjetividade do ser humano. CienteFico. Ano I, v. I, Salvador, agosto-dezembro 2002 Historia da Etica Michele Campos, MichlGreik e Tacyanne Do Vale

Aula 15 -O pragmatismo Deriva do vocábulo prágma que significa em grego a ação e depois prática, originou-se entre pensadores norte-americanos como explicação para o valor concedido pela burguesia ao lucro e ao bem-estar proporcionado pelos bens materiais. Charles Sanders Peirce (1854-1914) foi considerado criador do Pragmatismo e William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952) foram seus principais representantes (PASSOS, 2004). Segundo Vásquez essa doutrina tem como particularidade a sua identificação da verdade com a utilidade, no sentido de que vê o útil como o único caminho da verdade. No terreno da ética, dizer que algo é bom equivale a dizer que conduz eficazmente à obtenção de um fim, que leva ao êxito. Por conseguinte, os valores, princípios e normas são esvaziados de um conteúdo objetivo, e o valor do bom – considerado como aquilo que ajuda o indivíduo na sua atividade prática – varia de acordo com cada situação (2003, p.288). Em relação à moral, alguma coisa pode ser considerada boa caso proporcione o alcance dos objetivos propostos, não existindo, dessa forma, valores absolutos no sentido de que o que é bom ou mau é relativo e pode variar em diferentes situações. Para Vásquez (2003, p.288), a redução do comportamento moral às ações que proporcionam o sucesso pessoal torna o pragmatismo uma versão utilitarista caracterizada pelo interesse individual e que “por sua vez, rejeitando a existência de valores ou normas objetivas, apresenta-se como mais uma visão do subjetivismo e do irracionalismo”. Já o utilitarismo é uma corrente de pensamento no campo da ética e da política e que tem sua origem nas ideias do pensador francês Claude-Adrien Helvétius (1715-1771) e do filósofo inglês do direito Jeremy Bentham (que foi influenciado por Helvétius) e que teve como seguidor o filósofo e economista inglês John Stuart Mill. “Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) são dois dos mais notórios pensadores que assentaram as bases do que se convencionou chamar de utilitarismo em ética” 42


(FERRAZ, 2014, p. 220). E segundo Danilo Marcondes, estes pensadores “[...] formularam o ‘princípio de utilidade’ como critério de valor moral de um ato” (p. 116). Nos fundamentos de sua estrutura, o utilitarismo considera o indivíduo como a expressão da utilidade, do prazer, da felicidade ou do desejo de realização. A ética utilitarista retoma o princípio epicurista: o desejo de felicidade e a fuga do sofrimento. Afirma que as ações são boas na medida em que tendem a promover a felicidade e más quando produzem sofrimento. Bentham define a ética como a arte de conduzir as ações humanas no sentido de gerar a felicidade para o maior número possível de pessoas: (...) II. – Em sentido amplo, a ética pode definir-se como a arte de dirigir as ações do homem para a produção da maior quantidade possível de felicidade em benefício daqueles cujos interesses estão em jogo. III. – Quais são, porém, as ações que o homem pode dirigir? Serão necessariamente ou as suas próprias ações ou as de outros agentes. A ética, enquanto arte de dirigir as próprias ações do homem, pode ser denominada a arte do autogoverno, ou seja, a ética privada (1974, p.69). Com efeito, “um dos aspectos centrais do utilitarismo é que ele sustenta que as pessoas devem agir de tal forma que promovam, com suas ações, a maior felicidade para o maior número de indivíduos” (FERRAZ, 2014, p. 220). Sugestão de vídeo: https://youtu.be/B7ZFME1XMPU https://youtu.be/XSFtv7DRSN4 fonte: https://www.sabedoriapolitica.com.br A Ética para Maquiavel A ética em Maquiavel se contrapõe a ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica. A teoria de Maquiavel torna-se interessante por não ter vínculos éticos, morais e religiosos, ele mesmo apóia hora o bem, hora o mal e diz que a conduta do príncipe deve ser de acordo com a situação. Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la mau. É que Maquiavel representa, melhor que ninguém, o rompimento com um modo medieval de ver a política como extensão da moral. Ele arranca máscaras. Mostra como de fato agiam, agem e devem agir os que desejam conquistar o poder ou simplesmente mantê-lo. Isso é insuportável para os bem-pensantes. Acaba com a justificação religiosa para o poder político. Exibe a nudez das relações de poder entre os homens. Nicolau Maquiavel

Ele faz uma distinção clara entre o plano Público e o plano Privado. O Público é a política, onde se pode fazer tudo para alcançar a vontade geral do povo, da coletividade. O plano Privado refere-se à questão ética, que nada deve interferir nas questões do Estado, pois "Os fins justificam os meios", quer dizer, o Príncipe deve ser amoral no exercício da sua atividade e na manutenção desta. 43


No entanto, na sociedade atual, Público e Privado se confundem. E mais: a ética está intrínseca na política. Não há política decente sem ética. Como representantes da vontade geral, deve-se pautar de caráter e atitudes éticos e morais para que haja legitimidade na atividade em evidência. A partir do momento em que a Ética, como propõe Maquiavel, não exista no plano público, a legitimidade perante a sociedade correrá sério risco. Haverá dúvidas sobre as atitudes do governante sempre que ele não justificar de forma moralista e convincente as mesmas. Então, nos dias atuais tentar separar a ética da Política é algo impossível. A Ética para Maquiavel A ética em Maquiavel se contrapõe a ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica. A teoria de Maquiavel torna-se interessante por não ter vínculos éticos, morais e religiosos, ele mesmo apóia hora o bem, hora o mal e diz que a conduta do príncipe deve ser de acordo com a situação. Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la mau. Isso é insuportável para os bem-pensantes. Acaba com a justificação religiosa para o poder político.

Exibe a nudez das relações de poder entre os homens.Ele faz uma distinção clara entre o plano Público e o plano Privado. O Público é a política, onde se pode fazer tudo para alcançar a vontade geral do povo, da coletividade. O plano Privado refere-se à questão ética, que nada deve interferir nas questões do Estado, pois "Os fins justificam os meios", quer dizer, o Príncipe deve ser amoral no exercício da sua atividade e na manutenção desta. No entanto, na sociedade atual, Público e Privado se confundem. E mais: a ética está intrínseca na política. Não há política decente sem ética. Como representantes da vontade geral, deve-se pautar de caráter e atitudes éticos e morais para que haja legitimidade na atividade em evidência. A partir do momento em que a Ética, como propõe Maquiavel, não exista no plano público, a legitimidade perante a sociedade correrá sério risco. Haverá dúvidas sobre as atitudes do governante sempre que ele não justificar de forma moralista e convincente as mesmas. Então, nos dias atuais tentar separar a ética da Política é algo impossível.

Aplicações na política e no Marketing Para Maquiavel todos os estados que existem ou existiram foram repúblicas ou monarquias. Para fazermos uma aplicação pratica da obra em nossos dias é necessário assumir que Príncipe no sentido que é usada no título e ao longo da obra de Maquiavel não tem o significado que usualmente lhe é atribuído em nossos dias. Príncipe é o principal cidadão do estado, é o seu governante. Para nós hoje, Príncipe é todo aquele que conquistou, de alguma forma, autoridade legítima sobre outros seres humanos, ou seja, é todo aquele que detém o poder executivo. Na época de Maquiavel havia uma valorização do homem, foi um período de renascimento, de inovação de valor atribuído para cada ser. Contudo, podemos perceber a relação do marketing com o período de que falava Maquiavel, por exemplo a ideia de inovar algo, se colocarmos nos dias atuais as empresas buscam produtos inovadores, algo novo, queremos colocar o cliente em primeiro lugar, fazer campanhas de marketing voltada para o cliente, para sua valorização, para sua satisfação. Podemos ver o Príncipe como um líder, ou seja, como um gestor de uma organização em nossos dias, um líder capaz de revolucionar dependendo de suas estratégias aplicadas. O marketing do poder não dispõe 44


de uma fórmula mágica, ou uma chave capaz de abrir todas as portas. A relação entre política e marketing na obra de Maquiavel estão inter- ligadas. Maquiavel deixar bem claro que o Príncipe é um líder e o mesmo tem que conquistar a cada dia a afeição de seus liderados, em nenhuma hipótese deixar de mostrar autoridade e espirito de liderança. Aproximar os seus inimigos de si e torna-los fieis para a batalha, que em nossos dias é a concorrência entre mercados, aplicando estratégias de marketing para aniquilar a concorrência, e assim, criar algo único e inovador. Fonte:http://www.administradores.com.br Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=tLaixW_cDZg Aula 16 -A ética trágica de Nietzsche ou Mecânica do Ressentimento Interpretar Nietzsche é fundamental para afinal entender a história cultural do ocidente e a sua decadência que reside exatamente no ressentimento presente no indivíduo e o que o torna incapaz de criar valores afirmativos de existência.Ao sofrer uma ofensa, tal indivíduo desenvolve em seu íntimo o anseio por uma reparação imaginária motivada pelo sentimento de vingança. O ser ressentido sofre de enfraquecimento da vitalidade e perde qualquer vínculo efetivo com a realidade. A censurada “moral de escravos” assim chamada por Nietzsche que prevaleceu ao longo de nossa civilização que subjuga a moral nobre que é adepta de Friedrich Nietzsche valores afirmativos de existência.A moral cristã seria responsável pela inversão de valores ativos, depreciando e os tornando decadentes. O ressentimento como tema é questão principal da filosofia de Nietzsche, e é crucial para o entendimento do pensamento que o expõe na cultura ocidental e sua respectiva influência nas valorações morais. O ressentimento muito influenciou os rumos envenenamento psicológico.O ressentimento axiológicos e morais bem como os mecanismos decorre da incapacidade de interagir psicofisiológicos que o filósofo propôs como adequadamente com os signos da diferença, com possíveis recursos para que as forças vitais e os antagonismos, de maneira que, quando criativas que sobressaiam sobre as disposições marcados por esse transtorno, e assim tendemos decadentes da existência. a transferir a responsabilidade de um O ressentimento, em suma, é o estado psíquico acontecimento para determinada causa externa, de maior expressão da decadência da vitalidade tomada simbolicamente como culpada pela nossa humana denunciada pelo filósofo alemão em sua fraqueza e por nosso mal-estar afetivo. obra “Genealogia da Moral”. Uma breve análise semântica da palavra O ressentido atribui a outrem a ressentimento é ideal para se identificar que responsabilidade pelo que o faz sofrer, a quem provém doverbo ressentir, significando o ato de delega momento anterior o poder de decisão, de sentir novamente, certa impressão motivada por modo a poder culpá-lo caso venha fracassar.O um estímulo externo violento na afetividade ressentimento é uma doença que se origina do pessoal. retorno dos desejos vingativos sobre o “eu”. É a É uma experiência psíquica gerada por força fermentação da crueldade adiada, transmutada externa. Tal impressão pode ser reativa ou em valores positivos, que envenena e intoxica a negativa em nossa afetividade, por vez alma, que fica eternamente condenada ao não debilitando nosso psiquismo por conta de esquecimento (In: KEHL, Maria Rita. espécie de entorpecimento das capacidades Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, criativas pessoais, posto que ocorra certo 2004, p. 93-94).

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O ressentido não é capaz de agir afirmativamente mediante efeito externo sofrido, assimilando positivamente essa experiência, direcionando sua abertura pessoal.Dessa forma, o ressentimento motiva a inação, a interiorização psicológica desse indivíduo que cada vez está menos disposto a expandir sua força vital através da participação em circunstâncias que exigem o dispêndio de energias intrínsecas. Nesse sentido, Nietzsche destacou: “Todos os instintos que não se descarregam para fora, voltam-se para dentro, isto é, o que é chamado de interiorização do homem: é assim que no homem cresce o que depois se denomina alma”. Todo o mundo interior, originalmente delgado, como que entre duas membranas, foi se expandindo se estendendo, adquirindo profundidade, largura e altura na medida em que o homem foi inibido em sua descarga para fora. (In: NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral. Uma polêmica: Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.73). Nietzsche desenvolveu a hipótese de coexistência de dois tipos básicos de valoração da vida ao longo da formação histórica da civilização ocidental: a “moral dos senhores” e a “moral dos escravos” no § 260 de “Além do bem e mal”. Entre as muitas morais (desde as mais finas até as mais grosserias) que dominaram e continuam dominando encontramos traços que regularmente retornam juntos e ligados entre si: até que finalmente se revelaram dois tipos básicos e, uma diferença sobressaiu: há uma moral de senhores e uma moral de escravos. (NIETZSCHE, F., Além do bem e do mal. Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.172). Antes de tudo, é imprescindível esclarecemos que os termos “senhor” e “escravo” na filosofia de Nietzsche, não se referem necessariamente delimitados concretamente e definidos dentro da tônica da filosofia trágica nietzschiana. “Senhor e escravo” não são definições axiológicas que se esgotam numa significação de cunho social e representam estamentos antagônicos que se confrontariam no decorrer do processo histórico tendo por finalidade e preponderância de uma classe sobre a outra. Na perspectiva nietzschiana pode haver perfeitamente haver pessoas socialmente desfavorecidas com muito mais disposições “nobres”.Um escravo propriamente dito, livre do ressentimento e do seu inerente mal-estar psíquico, é uma pessoa mais “nobre” e digna eticamente do que seu opressor social, que é oprimido, todavia, pela incontinência das suas inclinações pessoais e dos seus afetos tortuosos.Portanto, tais valorações se referem ao modo com um dado indivíduo desenvolve ao longo de sua vida o fluxo de seu ímpeto criativo, mediante as interações com outros corpos. Nobre e escravo são símbolos psicológicos que representam as disposições afetivas e axiológicas de uma pessoa perante o seu modo de agir cotidianamente em suas interações com o mundo circundante.Nessas condições, uma pessoa manifesta uma qualidade “nobre” pela sua capacidade de fazer prevalecer na sua existência os afetos que favorecem a ampliação de sua força vital, de sua vontade requalificando os afetos decadentes (ódios, raiva, medo e, etc.) em afetos psicofisiologicamente saudáveis que estimulam a superação dos limites da vitalidade do seu corpo.Já a tipologia “escrava” por sua vez, representaria a disposição psicológica de um indivíduo que deixa prevalecer na sua vida os afetos decadentes, que impedem uma compreensão positiva da existência (que é pautada na afirmação da potência criativa). Dessa forma, a valoração “escrava” motiva a repressão da vitalidade fisiológica, fato que mitiga a capacidade do indivíduo para agir criativamente ao longo de sua existência, vilipendiando então tudo aquilo que coadune com os aspectos da saúde e da força como estados deploráveis do ponto de vista da consciência moral. As ideias de “nobre” e “escravo” em Nietzsche se antagonizam. A moral dos senhores e a moral dos escravos são diametralmente opostas principalmente sobre as condutas pelos quais os seus respectivos enfoques axiológicos sobre a complexidade das relações das suas forças vitais. A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores; o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos. 46


Enquanto toda a moral nobre nasce de um triunfo, já a moral escrava refere-se a um “não-eu” e, este não é seu ato criador. A inversão do olhar que estabelece valores, é necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si, é algo próprio do ressentimento. A moral escrava enfim requer sempre, um nascer um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto (sua ação é no fundo reação). Mesmo o nobre valorativo contém em seu psiquismo elementos fracos enquanto que o tipo escravo, ressentido, também pode conter disposições afetivas e axiológicas mais potentes somente não conseguindo dar vazão ao quantum de forças vitais que estão concentradas no seu âmago. A fisiologia na ótica nietzschiana é fornecida a definição por Wilson Frezzatti Junior tida como a configuração de impulsos, em luz por potência. A única atividade do ressentido consiste em relembrar continuamente os seus afetos, que retornam, nalgumas vezes, numa intensidade ainda mais poderosa do que o afeto original. A manifestação do ressentimento nas valorações da civilização ocidental seria uma das principais evidências de sua decadência criativa. Tal declínio vital se caracteriza pela incapacidade do indivíduo ressentido se desvencilhar das impressões afetivas avaliadas como ruins que

estão registradas dolorosamente na sua estrutura psicofisiológica. Mais ainda devido ao caráter de passividade peculiar do tipo ressentido, e as recordações ruins tornam a aflorar na sua mente continuamente, motivando a degenerescência de suas forças vitais, uma vez que é abalada a estabilidade da estrutura psíquica, pois que nesse ato de lembrar novamente as vivências passadas, o indivíduo consome vorazmente a sua força vital. Nessas condições, o ressentido perde a capacidade plástica de criar o novo, tornando-se, por conseguinte, um indivíduo decadente existencialmente, destituído de sua vitalidade intrínseca. A principal atividade do ressentido se reduz a mórbida rememoração de vivências dolorosas. O ressentimento nascido da fraqueza não é prejudicial a ninguém mais que ao próprio fraco.

O ressentimento em sua forma mais potente na história da cultura ocidental através do advento da religião institucionalizada, pois esta para se consolidar no seio de nossa civilização, teria necessidade de inverter a qualidade afirmativa dos valores pagãos (greco-romanos) que privilegiam a saúde, a compreensão refinada da sensualidade e a legitimação da corporeidade em favor de uma disposição ascética doentia. A dissolução da afirmação trágica da existência já ocorreu a partir do surgimento do pensamento socrático-platônico e a formulação do ideal teórico da existência, no qual a racionalidade se distancia dos afetos. É justamente a fuga dos instintos que têm lugar no corpo, e a hipertrofia da razão, que levaram à negação da vida tal como esta se apresenta. Segundo a interpretação nietzschiana a cultura grega alcançou o seu máximo de forças criativas através da harmonia conflitante entre o impulso apolíneo (moderação e autoconsciência) e o impulso dionisíaco (desmedida e legitimação da alteridade) princípios naturais que na antiga Hélade após um período de divergências, interagiram entre si, proporcionando a criação da tragédia ática dotada de celebração estética como um todo era divinizada, para além de qualquer conotação moral de mundo. No entanto, a racionalidade socrático-platônica rompe esse laço primordial peculiar dos gregos, vislumbrando a elevação que coloca o corpo inferior à alma preparando o terreno para difusão da moral cristã. Assim conforme Nietzsche destacou o que era considerado bom na cultura trágica grega, passou a ser considerado mal na civilização cristã (e no pensamento socrático-platônico) E o que era considerado mal na cultura trágica, passou a ser considerado bom na civilização cristã. É possível identificar o ressentimento no pensamento socrático-cristão em relação ao corpo e a vida especialmente na obra Fédon mediante a ideia de que o corpo é o túmulo da alma e que viver é estar 47


constantemente enfermo e só a morte libera o homem sábio das cadeias da sensibilidade; aliás, a própria Filosofia é considerada como um exercício para a morte, pois adestra o domínio racional sobre as paixões, mitigando progressivamente todos os apelos sensíveis do homem. Há de se ressaltar, todavia, que a moralidade cristã potencializa ainda mais o espírito de rancor contra a existência, considerando boa a constituição vital como substancialmente má. A valoração ressentida sempre parte primeiramente de uma avaliação do outro, do forte e saudável como “má” para em seguida autoproclamar como “boa” enquanto que na valoração forte, nobre, primeiro ocorre a avaliação pessoal como boa, para se ver o fraco, desvitalizado, como “mau”, isso é, o desprezível, pois que tal tipo pessoal não é apto a participar de contínuas atividades agonísticas. A impotência do ressentido o impede de realizar qualquer atividade, ele espera que os outros a realizem por ele. No momento em que isso não acontece, procura alguém para culpar por não conseguir o que deseja principalmente pela sua dor e sofrimento.

A frustração consequente, porém lhe desagrada e, por conseguinte, ele projeta a infelicidade como responsabilidade de outrem, tendo como contexto a necessidade de se sentir como bom. A inversão radical de valores conforme Nietzsche apresentou decorreria da insatisfação da moralidade coletiva diante das condições vitais até então estabelecidas, pois os valores vigentes na Antiguidade grega da cultura olímpica e da era trágica preconizavam a beleza, a saúde do corpo e a afirmação da via como virtudes primordiais da existência, virtudes associadas ao plano da imanência, dignificando assim a existência humana. Tanto Aquiles como Heitor, ambos inimigos figadais, são enaltecidos em diversos momentos da Guerra de Tróia e por Homero em Ilíada, Canto IX, onde se relatam as honras em favor de Aquiles.

No Canto XXII, vs. 109-130, nos quais Heitor pondera sobre a necessidade de afirmar sua dignidade de afirmar sua dignidade em qualquer circunstância e mesmo a morte de Heitor pelas mãos de seu implacável rival é evento glorioso onde recebe as homenagens sagradas. E cada grande herói épico tal como Diomedes], Menelau, Agamêmnon e Pátroclo mereceram o seu momento de glória ou anistia para que se evidenciassem suas qualidades agonísticas. Em todas essas circunstâncias não há quaisquer considerações morais de valor acerca dos seus atributos: a coragem e o amor pela glória os tornam “bons”. Entre o platonismo e o Cristianismo há uma grande proximidade de ideais e de valores e no prólogo de “Além do Bem e do Mal” concluiu: “o cristianismo é um platonismo para o povo”, isto é, a sua mais completa vulgarização axiológica, mediante violento repúdio ao mundo concreto em que vivemos. “Incapaz de suportar a própria finitude, o homem concebeu a metafísica; incapaz de tolerar a visão de sofrimento imposta pela morte construiu o Cristianismo”.Ao negar este mundo onde vivemos, a metafísica procurou forjar a existência do outro e fez deste a sede e origem dos valores. O cristianismo postulou um mundo verdadeiro, essencial, imutável e eterno. Arquitetou a vida após a morte para redimir a existência; fabricou o reino de Deus para legitimar as avaliações humanas. Então de modo nefasto levou os homens a desejar ser de outro modo, querer estar em outra parte. Na tentativa de justificar a existência do homem inventou o pensar metafísico, e fabulou a religião cristã. Mas o preço que teve que pagar foi a negação do mundo, a condenação da vida. Ao camuflar a dor, hostilizou a vida; ao esconder ou disfarçar o sofrimento, tratou o mundo como um erro a refutar (Marton, Scarlett). A odiosa inversão de valores presente na cultura ocidental e promovida pelo ressentimento seria causa eficiente que Nietzsche denominou como formação da “má consciência”, pois o tipo fraco é incapaz de interagir com o tipo forte, e pretende se desvencilhar da responsabilidade de sua própria impotência de 48


agir, denominado consequentemente, aquele que o sobrepuja numa interação o culpado moral maior pelo seu próprio declínio vital (Nietzsche, F. Genealogia da Moral – Uma polêmica, p. 69-71). Por outro lado, podemos dizer que, numa perspectiva afirmativa da existência, os indivíduos inseridos em tal categoria valorizam justamente a ideia de superação de suas forças a ideia de superação de suas forças corporais, preconizando, para tanto, a realização de atividades que proporcionem a concretização deste objetivo através de salutar competitividade. A agonística se desenvolveu por meio dessa consideração, na qual os membros de um grupo, ao pretenderem que prevaleça o melhor, promovem uma salutar disputa, na qual, em verdade, todos saem vencedores, pois cada competidor procurar dar o melhor de si nessa interação de forças, esforço esse que amplia a vitalidade do corpo e proporciona o florescimento de alegria do ânimo. Na perspectiva do ressentimento o mundo concreto não possui uma beleza intrínseca e nem a perfeição autêntica seus adeptos defendem a existência do mundo suprassensível tido como contraponto ao mundo físico. E nesse caso, a dimensão suprassensível não é considerada uma espécie de complemento do mundo físico, mas há antítese irreconciliável pois a sensibilidade é imputada como corruptível e pecaminosa. E, o mundo se resumia ao palco do triunfo dos homens vis, apegado aos ditos prazeres vulgares da carne.Quanto mais o homem aceita seus impulsos, em sua rudez e crueza, menos é domesticado e mais elevado é o nível cultural do qual faz parte. No sentido contrário, quanto mais o homem é medíocre, fraco, servil e cobarde mais necessitará da civilização, da moral, pois viverá em todo lugar, há na vida, no próprio corpo, o “Reino do Mal”. A acepção de que o mundo no qual vivemos seria um grande “vale de lágrimas” que é noção célebre presente no hino católico Salve Rainha, comprova que a vida física é ontologicamente degradada e que nós humanos, somos miseráveis de nascença, cabendo-nos apenas aguardar piedosamente a clemência divina. Esse desprezo pela existência é extraordinariamente contrário ao projeto de uma religião da imanência tal como a vivenciada pelos gregos da época pré-socrática, posto que a prática religiosa capaz de proporcionava ao seu praticante a aquisição de uma serenidade e alegria nas suas disposições de ânimo através da contemplação da beleza da divindade, considerando que o mundo seria expressão do seu resplandecente reflexo, de forma que o homem era unificado com a potência da natureza. Na religiosidade grega, nada há que lembre ascese, espiritualidade e dever, tudo que se faz presente é divinizado. A base teológica de uma

religião fixada na axiologia transcendente retira do mundo cotidiano a própria justificação da vida, através da separação da esfera do sensível (inferior) e do espiritual no plano superior. O ressentimento no fraco é tido como a impossibilidade de superar as suas limitações pessoais, assim como de interagir, na sua vida concreta, com os níveis de forças dos seus adversários, desenvolve na sua engenhosa imaginação, uma série de causas puramente ilusórias, nas quais considera que, enfim, viria a ocorrer uma punição ao agressor, o forte. A punição nascia através da fantasia da imaginação limitando-se a satisfação mórbida de seu próprio íntimo no sofrimento de seu inimigo. Como complemento dessas questões levantadas podemos dizer que a elaboração da ideia da existência do Inferno como local de expiação da iniquidade seria uma das mais grotescas criações do espírito de ressentimento contra a divergência, contra todo tipo de ação que vai de encontro dos interesses e valores teológicos instituídos dogmaticamente pela estrutura dominante dos sacerdotes. Nietzsche ironizou o fato de Dante Alighieri ter colocado no portal do “Inferno” de sua “Divina Comédia” a inscrição: “Também a mim criou o eterno amor”. Quando o mais justificável era cogitar em: “Também a mim criou o eterno ódio”. Quem sofre do distúrbio do ressentimento visa obter plena satisfação através da contemplação deleitosa do sofrimento alheio, uma vez eu a compensação da dor com a dor o satisfaz intimamente. Contudo apresentou Nietzsche outra possibilidade: o uso da faculdade do esquecimento que representa um dos grandes enunciados de sua ética trágica por permitir uma compreensão sadia e vitoriosa sobre a existência. 49


Assim é mais adequado do que reagir aos estímulos externos, o ato de esquecer as impressões afetivas decorrentes de encontros ruins que só geram afetos degenerativos (tais como: ódio, o rancor e o medo). O “homem escravo” é incapaz de conviver de forma harmônica com o jogo de afetos (usando-os como instrumento para a sua ação), deixando-se dominar por estes, sofrendo assim os seus terríveis revezes ao longo da sua vida. Quando desenvolvemos a capacidade de esquecer, é possível superar o nível valorativo típico dos decadentes. O uso do esquecimento estaria vinculado principalmente pelo tipo nobre cuja vida é composta pelos afetos saudáveis. Como expressão de fraqueza vital, o homem transfere o direito de punição para uma entidade metafísica uma ideia de Deus com traços vingativos.O ressentido legitima a tradição teológica de caráter transcendente vislumbra a existência de divindade oposta ao Deus pleno de amor preconizado pela mensagem de Jesus.Esquecer não é simples vis inertiae (força inercial) como creem os superficiais, mas uma força inibidora ativa e positiva, no mais rigoroso sentido, graças a qual o que é por nós acolhido, não penetra mais em nossa consciência, no estado de digestão psíquica e de todo multiforme processo da nossa nutrição corporal ou assimilação física. A superação do ressentimento na ética de Nietzsche seria a oportunidade maior para o desenvolvimento da criação de valores afirmativos mesmo diante de condições desfavoráveis de existência.É a tristeza e a decadência da vitalidade que leva o homem desenvolver o pessimismo tornando-se inapto a interagir afirmativamente.O ressentimento mina lentamente a potência de agir do indivíduo, e o torna uma triste figura e de acabrunhada existência. Enfim, o que confirma que a filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas. Fonte: https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/a Sugestão de vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=c6fxF5KHwKM A conversa de Freud sobre ética apareceu, principalmente, no célebre ensaio O mal estar na civilização. A história contada nesse belo ensaio é a de um conflito entre a força denominada de Eros e a força denominada de instinto de morte. Essas forças se mostram na narrativa do ensaio de modo bem determinado, cada uma com sua função. Todavia, Freud as apresenta como irmãos siameses. Quando uma surge, imediatamente deve surgir a outra – elas se apresentam enlaçadas, talvez de modo indissolúvel. Eros é o amor. A palavra amor designa a fusão, a união. Assim, a ação de Eros é a de agregação. Graças a Eros os indivíduos isolados são postos no interior de grupos e estes, por sua vez, são empurrados para a formação de outros grupos maiores. O elo dessas agregações, isto é, aquilo que faz com que um indivíduo se integre em um grupo e ali permaneça e o que faz com que os grupos permaneçam unidos, com tendências a se agregar a outros, é batizado por Freud de libido. Nem a necessidade nem a vantagem do trabalho comum, por si sós, conseguiriam manter a união dos indivíduos se não fosse o elo libidinal. A libido é o princípio de vida, o que vem com Eros. Mas, esta é apenas uma das cabeças dos irmãos siameses. Contrariamente à força que agrega, há a força que tende a desfazer a união. Trata-se da agressão – o instinto agressivo ou a manifestação mais visível do instinto de morte. O instinto de morte é assumido por Freud como existente à medida que ele nota que, contra as unidades que surgem pela agregação, pelo amor, sempre ocorre o aparecimento de forças contrárias que visam dissolver tais unidades, em busca de uma volta ao estado primitivo e inorgânico. Trata-se de uma devolução da vida à morte – pela agressão. Por isso mesmo o nome não poderia ser outro senão instinto de morte. A libido que une nunca se mostra sem sua contrapartida, que é a agressividade, que tenta retroceder e fazer desaparecer a união. Junto das manifestações sexuais, que são expressões da libido de modo mais visível, há sempre algum componente de sadismo e/ou masoquismo, mostrando assim a presença, em graus variados, da agressividade no momento mesmo do amor. O princípio de morte não deixa o princípio de vida atuar solitariamente. Irmãos siameses são irmãos siameses! 50


Esses dois princípios atuam no interior tanto do desenvolvimento do indivíduo, que deve se integrar em grupos, quanto no processo da civilização humana, que é a integração entre grupos que vão, então, gerando grupos maiores. No caso do primeiro, o telos é a felicidade. No segundo, não é que a felicidade seja posta de lado de uma vez, mas o telos é realmente a criação de uma coletividade maior. É exatamente na observação desses dois processos que Freud recoloca sua teoria das funções da consciência tripartida em ego, id e superego. Como no caso ele não trata do indivíduo somente, e sim de sua relação com a sociedade, as noções de ego, id e superego são mostradas de um modo especial. A noção de superego, por analogia, extrapola a consciência individual. Freud se preocupa em mostrar – e é isso que ele diz que considera o novo na sua narrativa do comportamento humano – a ideia de um superego não psicológico, um superego cultural. O superego corresponde, como ele diz, à força dos primeiros grandes líderes da comunidade, que registraram as primeiras leis e que, enfim, se mostraram como que divinos ao agirem desse modo. São exatamente esses líderes que irão deixar para as suas comunidades, que continuam os seus desenvolvimentos, as exigências “que tratam das relações dos seres humanos uns com os outros” e que estão “abrangidas sob o título de ética”. Em outras palavras, o superego cultural é nada mais nada menos que a ética.

Aula 17- Qual é o papel da ética, do superego cultural? O mal-estar na civilização lida com questão da busca da felicidade e, enfim com o que se mostra como o infortúnio humano, que é a agressão entre os homens. Quanto a esse problema, Freud diz que sempre esperamos muito da ética. Ela é importante, pois queremos que ela resolva um problema difícil o da agressividade mútua. É como se a ética fosse uma terapia, diz ele, uma vez que se espera alcançar com ela, por meio de “uma ordem do superego, algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras atividades culturais.” Ora, se é isso que se deve abordar a fim de compreender a ação ética, o objeto tem de ser exatamente a norma mais atual do superego. Em outras palavras, o objeto é o preceito ético mais universal de SIGMUND FREUD nossos tempos, o mandamento cultural vigente que, enfim, veio do superego. Freud aponta corretamente para o mandamento “amai ao próximo como a ti mesmo”.

Freud acha esse imperativo ético exigente demais, aliás, como toda ordem do superego que, enfim, pouco se preocupa com o homem. “Amai ao próximo como a ti mesmo” é uma afronta a qualquer tipo de egoísmo ou de narcisismo. Ao se tentar seguir um imperativo desse tipo, o que se pode esperar do ego individual? O ego individual teria de ser capaz de um controle total do id, mas é óbvio que esse controle não existe. A exigência do superego cultural, com o “Amai ao próximo como a ti mesmo” ultrapassa as possibilidades do homem e, quando algo desse tipo ocorre, há infelicidade – ou mesmo, no plano de análise de um superego individual com um ego individual, há a neurose. Além do mais, quem quisesse seguir o mandamento em questão, uma vez diante de outro que não desse muito valor para a tal regra, cairia em desvantagem e, então, passaria por um duplo sofrimento. A 51


frustração levaria à culpa. Ser passado para trás produziria a mágoa. Diante disso, Freud vê que lidar com a agressividade não é fácil. Ele diz: “que poderoso obstáculo a agressividade deve ser, se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a própria agressividade!”. Como a ética nada é senão o superego cultural, e este, por sua vez, é uma analogia com o superego psíquico individual, a analogia pode continuar, diz Freud, e então podemos imaginar mais correlações. Assim como o superego individual, com suas exigências, pode produzir neuroses, a analogia permite dizer que éticas difíceis de serem cumpridas poderiam criar civilizações neuróticas. Por conseguinte, a idéia tão tentadora quanto perigosa seria a de começar imaginar terapias para toda uma civilização. Freud, aqui, se abstém de dar caminhos. Todavia, ao final do ensaio em questão, traça uma observação interessante sobre tendências. Durante todo o percurso em que fala de ética, o que aborda não é outra senão a ética moderna, a chamada “ética do dever”. Neste tipo de ética, a virtude moral vai para um lado e a felicidade, não raro, vai para outro. Mas, ao final, Freud assume que os juízos de valor dos homens acompanham “diretamente os seus desejos de felicidade”. Neste caso, Freud parece assumir uma visão próxima da ética antiga, a ética da eudaimonia. Na ética antiga, o objetivo é a realização da felicidade ou o alcance da felicidade. Ainda que eudaimonia não possa ser traduzida, exclusivamente, por felicidade em um sentido moderno, o que Freud diz o coloca em proximidade com a ética das virtudes, a ética clássica. No entanto, mais uma vez, ele novamente altera o curso. Fala da correlação entre juízos de valor e desejos de felicidade não para endossar uma posição ética, mas para, em seguida, dizer que essa busca de felicidade faz os homens encontrarem argumentos de toda ordem para “sustentarem suas ilusões”. Ao fim e ao cabo, Freud não assume uma posição ética filosófica. No que parece que vai endossar a eudaimonia, em um final que seria espetacular, recua para a posição de um teórico que busca certa neutralidade filosófica no campo doutrinário moral. Não se trata de neutralidade científica, e sim de neutralidade no campo da filosofia prática. Pesa forte, nesse caso, o espírito de época. Desse modo, o que faz é um estudo que poderíamos dizer que se trata de um tipo de metaética, uma especial narrativa teórica que poderia, talvez, fundamentar ou justificar uma doutrina – exatamente essa doutrina que ele, Freud, não ousa explicitar. Paulo Ghiraldellli Jr, filósofo Fonte:http://www.portalentretextos.com.br

Aula 18 -A questão do bem e do mal

A questão do bem e do mal não é mera formulação de uma mente humana pouco ocupada, mas, ao contrário, é uma realidade viva que se apresenta a cada um de nós desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura e em tantos outros documentos históricos dos primórdios das diversas civilizações. A título de definição precisa, à luz da Filosofia, constatamos que pode ser chamado de bem “tudo o que possui um valor moral ou físico positivo, constituindo o objeto ou fim da ação humana”. Para Aristóteles, o bem ‘é aquilo a que todos os seres aspiram’; ‘O bem é desejável quando ele interessa a um indivíduo isolado, mas seu caráter é mais belo e mais divino quando se aplica a um povo e a Estados inteiros’. “Tanto para os antigos quanto para os escolásticos, o bem designa, em última instância, o Ser que possui a perfeição absoluta: Deus” (...) “Enquanto conceito normativo fundamental na ordem

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ética, o bem designa aquilo que é conforme ao ideal e às normas da moral” (H. Japiassú; D. Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: JZE, 1999). Bondade coração O mal, por sua vez, designa “em um sentido geral, tudo o que é negativo, nocivo ou prejudicial a alguém”. ‘Podemos considerar o mal em um sentido metafísico, físico ou moral. O mal metafísico consiste na simples imperfeição, o mal físico no sofrimento, e o mal moral no pecado’ (Leibniz)” (idem). Contra a tese maniqueísta – segundo a qual há dois princípios coeternos, um bom e um mal que têm existência em si mesmos – a filosofia e a teologia cristãs se levantaram, especialmente com Santo Agostinho, século V, que fora maniqueísta, para dizer que o mal não existe em um sentido absoluto, mas apenas como imperfeição, limitação de um ser. Desse modo, a escuridão não tem existência própria, ela só pode surgir na falta da luz. ‘O bem é desejável quando ele interessa a um indivíduo isolado, mas seu caráter é mais belo e mais divino quando se aplica a um povo e a Estados inteiros’. Cardeal Orani João Tempesta Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro Fonte:http://www.a12.com/redacaoa12

A questão do mal em Agostinho Agostinho foi uma das grandes mentes do Ocidente que tentou resolver o chamado “problema filosófico do mal”. Sua abordagem da questão não foi apenas prática, mas brilhante. Existem dois diferentes aspectos neste problema. Uma maneira de abordar a questão da origem do mal é levantando um silogismo (uma série de afirmações que formam um argumento coerente: 1) Deus criou todas as coisas; 2) o mal é uma coisa; 3) portanto, Deus criou o mal. Se as duas primeiras premissas são verdadeiras, então a conclusão é inescapável. Essa formulação, se sustentada, é devastadora para o cristianismo. Deus não seria bom se ele tivesse criado o mal. Agostinho percebeu que a solução estava relacionada à questão: o que é o mal? O argumento acima depende da ideia de que o mal é uma coisa (veja a segunda premissa). Mas e se o mal não for uma "coisa" nesse sentido? Então o mal não precisaria ser criado. Então, sua busca pela fonte do mal irá por outra direção.Agostinho abordou a questão por um ângulo diferente. Ele perguntou: Há alguma evidência convincente de que um Deus bom existe? Se alguma evidência nos leva a concluir que Deus existe e é bom, então ele seria incapaz de criar o mal. Então, sua fonte deve ser alguma outra coisa. Se essa abordagem de Agostinho é verdadeira, ela levanta um par de silogismos que leva a diferentes conclusões.

Primeira: 1) Todas as coisas que Deus criou são boas; 2) o mal não é bom; 3) portanto,o mal não foi criado por Deus. 53


Segunda:1) Deus criou todas as coisas; 2) Deus não criou o mal; 3) portanto,o mal não é uma coisa. Essa é a estratégia de Agostinho. Se o mal não é uma coisa, então o argumento contra o cristianismo desenvolvido pelo primeiro silogismo que vimos não tem fundamento porque uma de suas premissas é falsa. A questão fundamental é: o que é o mal? Central para a ideia de bem de Agostinho (e, consequentemente, de mal) era a noção do ser. Para Agostinho, tudo o que tinha o ser era bom. Deus como a fonte do ser é perfeitamente bom, juntamente com tudo o que ele trouxe à

existência. A bondade é uma propriedade que varia em diferentes níveis. Com esse fundamento, Agostinho estava agora preparado para responder à questão principal: Onde está o mal? Qual a sua fonte? Quando e por onde ele entrou? A resposta de Agostinho foi: "O mal não possui uma natureza negativa, mas a perda do bem recebeu o nome de 'mal'". A diminuição da propriedade do bem é o que é chamado mal. O bem tem um ser substancial, o mal não. Desde que todas as coisas foram feitas boas, o mal necessariamente deve ser uma privação do bem. "Tudo o que é corrompido é privado do bem".

Então, dizer que alguma coisa é má é apenas uma maneira de dizer que ela é privada do bem, ou tem uma quantidade menor de bem que deveria ter. Mas a questão permanece: "Quando e por onde ele entrou?". Agostinho observou que o mal não poderia ser escolhido, pois ele não era uma coisa a ser escolhida. Alguém pode apenas afastar-se do bem, isso é, de um grau maior para um grau menor (na hierarquia de Agostinho) desde que todas as coisas são boas. Pois, segundo ele, quando a vontade abandona o que está acima de si e se vira para o que está abaixo, ela se torna má - não porque é má a coisa para a qual ela se vira, mas porque o virar em si é mau. O mal, então, é o próprio ato de escolher um bem menor. Para Agostinho a fonte do mal está no livre arbítrio das pessoas. FONTE: glauberataide.blogspot.com.b

,consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distinta. Alguns consideram que qualquer suposição de que o comportamento de uma pessoa está ligado à sua categorização racial é inerentemente racista, não importando se a ação é intencionalmente prejudicial ou pejorativa, porque estereótipos necessariamente subordinam a identidade individual a identidade de grupo. Na sociologia e psicologia, algumas definições incluem apenas as formas conscientemente malignas de discriminação. Entre as formas sobre como definir o racismo está a questão de se incluir formas de discriminação que não são intencionais, como as que fazem suposições sobre preferências ou habilidades dos outros com base em estereótipos raciais, ou formas simbólicas e/ou institucionalizadas de discriminação, como a circulação de estereótipos étnicos pela mídia.

Também pode haver a inclusão de dinâmicas sociopolíticas de estratificação social que, por vezes, têm um componente racial. Algumas definições de racismo também incluem comportamentos e crenças discriminatórias baseadas em estereótipos culturais, nacionais, étnicos ou religiosos. Uma interpretação do termo sustenta que o racismo é melhor 54


entendido como "preconceito aliado ao poder", visto que sem o apoio de poderes políticos ou econômicos, o preconceito não seria capaz de manifestar-se como um fenômeno cultural, institucional ou social generalizado. Alguns críticos do termo afirmam que ele é aplicado diferencialmente, com foco em preconceitos que partem de brancos e de formas que definem meras observações de eventuais diferenças entre as raças como racismo. Enquanto raça e etnia são considerados fenômenos distintos na ciência social contemporânea, os dois termos têm uma longa história de equivalência no uso popular e na literatura mais antiga das ciências sociais. O

racismo e a discriminação racial são muitas vezes usados para descrever a discriminação com base étnica ou cultural, independente se essas diferenças são descritas como raciais. De acordo com a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial das Organização das Nações Unidas (ONU), não há distinção entre os termos "discriminação racial" e "discriminação étnica", sendo que a superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, além de não haver justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em qualquer lugar do mundo.

Na história, o racismo foi uma força motriz por trás do tráfico transatlântico de escravos e de Estados que basearam-se na segregação racial, como os Estados Unidos no século XIX e início do século XX e a África do Sul sob o regime do apartheid. As práticas e ideologias do racismo são universalmente condenadas pela ONU, na Declaração dos Direitos Humanos. Ele também tem sido uma parte importante da base política e ideológica de genocídios ao redor do planeta, como o Holocausto, mas também em contextos coloniais, como os ciclos da borracha na América do Sul e no Congo, e na conquista europeia das Américas e no processo de colonização da África, Ásia e Austrália. O racismo tem assumido formas muito diferentes ao longo da história. Na antiguidade, as relações entre povos eram sempre de vencedor e cativo. Estas existiam independentemente da raça, pois muitas vezes povos de mesma matriz racial guerreavam entre si, e o perdedor passava a ser cativo do vencedor, neste caso o racismo se aproximava da xenofobia. Na Idade Média, desenvolveu-se o sentimento de superioridade xenofóbico de origem religiosa. Bebedouros distintos para "brancos" (white) e "negros" (colored) nos Estados Unidos em 1939 Quando houve os primeiros contatos entre conquistadores portugueses e africanos, no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos da África entraram em acordos comerciais com os europeus, que incluíam o comércio de escravos, que, naquela época, era uma forma aceite de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade e não uma questão racial. No entanto, quando os europeus, no século XVI, começaram a colonizar o Continente Negro e as Américas, encontraram justificações para impor, aos povos dominados, as suas leis e formas de viver. Uma dessas justificações foi a ideia de que os negros e os índios eram "raças" inferiores. Passaram, então, a aplicar a discriminação com base racial nas suas colônias, para assegurar determinados "direitos" aos colonos europeus. Àqueles que não se submetiam, era aplicado o genocídio, que exacerbava os sentimentos racistas, tanto por parte dos vencedores, como dos submetidos. Alguns casos de discriminação foram a confinação de povos em reservas e a introdução de leis para institucionalizar a discriminação, como foram os casos das leis de Jim Crow, nos Estados Unidos, e do apartheid na África do Sul. Sugestão de vídeos: https://pt-br.facebook.com/.../a-cidade-mais.../1329636577091346/ https://youtu.be/zMUnFlkqTGU Formas de racismo 55


Eugenia No século XIX, houve uma tentativa científica para explicar a superioridade racial através da obra do conde de Gobineau intitulada Essaisurl'inégalitédesraceshumaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas). Nesta obra, o autor sustentou que, da raça ariana, nasceu a aristocracia que dominou a civilização europeia e cujos descendentes eram os senhores naturais das outras raças inferiores.

Genética Embora existam classificações raciais propostas pelas mais diversas correntes científicas, pode-se dizer que a taxonomia referência uma oscilação de cinco a duas centenas de raças humanas espalhadas pelo planeta, além de micro raças regionais, locais ou geográficas que ocorrem devido ao isolamento de grupos de indivíduos que cruzam entre si. Portanto, a separação racial torna-se completamente irracional em função das composições raciais, das miscigenações, recomposições e padronizações em nível de espécie que houve desde o início da caminhada da humanidade sobre o planeta.

De acordo com Guido Barbujani, um dos maiores geneticistas contemporâneos,“a palavra raça não identifica nenhuma realidade biológica reconhecível no DNA de nossa espécie, e que portanto não há nada de inevitável ou genético nas identidades étnicas e culturais, tais como as conhecemos hoje em dia. Sobre isso, a ciência tem ideias bem claras ” A genética demonstra que a variabilidade humana quanto às combinações raciais pode ser imensa. Mas as diferentes adaptações ocorridas a nível racial não alteraram sua estrutura quanto espécie. Desta forma, a unidade fundamental da espécie humana a nível de macroanálise permanece imutável, e assim provavelmente permanecerá apesar das diferenças raciais num nível de microanálise. Todas as raças provêm de um só tronco, o Homo sapiens, portanto o patrimônio hereditário dos humanos é comum. E isto por si só não justifica o racismo, pois as raças não são nem superiores, nem inferiores, são apenas diferentes. O racismo pode ser pensado como uma "adoção de uma visão equivocada da biologia humana", expressa pelo conceito de "raça", que estabeleceu uma justificativa para a subordinação permanente de outros indivíduos e povos, temporariamente sujeitos pelas armas, pela conquista, pela destituição material e cultural, ou seja, pela pobreza, como conceitua Antônio Sérgio Alfredo Guimarães. Atualmente, ramos do conhecimento científico como a antropologia, história ou etnologia preferem o uso do conceito de etnia para descreverem a composição de povos e grupos identitários ou culturais. Xenofobia Muitas vezes, o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos, podem ser considerados paralelos e de mesma raiz, isto é, ocorrem quando um determinado grupo social começa a hostilizar outro por motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento em que o grupo mais poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente, pois o segundo não aceita seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo primeiro. Muitas vezes, com a justificativa da diferença física, que acaba se tornando a base do comportamento racista. Disgenia Uma forma de racismo menos conhecida consiste na crença de que a miscigenação gera indivíduos inferiores aos de "raça pura" (degeneração). Seja a ambos, como defendia Louis Agassiz, seja a um deles, 56


como defendia Gobineau.Uma forma atual de racismo tem ocorrido como reação ao racismo contra negros e de indígenas e asiáticos que consiste em negar a identidade mestiça e a defesa de que as populações de pardos fazem de sua condição de mestiça, exigindo-se que as populações mestiças sejam tratadas como negras, indígenas ou brancas, negando sua peculiaridade. O movimento negro no Brasil não aceita o termo "mulato" nem aceita o "Movimento Mestiço" e o grupo "Nação Mestiça", tendo declarado o Movimento Negro que a mestiçagem é a "ideologia do embranquecimento".

Internet Valendo-se, ao mesmo tempo, da possibilidade de anonimato e do alcance a milhões de internautas, o racismo tem se espalhado de maneira intensa pelo mundo digital. Com discursos racistas, revisionistas ou neonazistas, milhares de sites, blogs, comunidades virtuais do Orkut e MySpace disseminam o ódio racial e a intolerância. O primeiro crime virtual de racismo no Brasil ocorreu em meados do ano de 1997 na cidade de Juiz de Fora (Minas Gerais), quando computadores de uma universidade foram utilizados para a divulgação de várias mensagens preconceituosas contra negros e homossexuais em uma lista de discussão sobre sexualidade instalada na Unicamp. O episódio que, por vários dias, ocupou as manchetes dos jornais do país, ficou conhecido como o caso rancora. No Brasil, a divulgação do racismo, mesmo pela internet, trata-se de um crime, conforme é caracterizado pela legislação brasileira. Alguns sites advogam o direito à liberdade de expressão e afirmam não se considerarem racistas, por expressarem apenas opiniões. Outros sugerem maneiras de como manter o material distante das autoridades competentes. Por esta característica, muitos sites, principalmente os disponibilizados em provedores gratuitos, são retirados do ar, para, em seguida, reaparecerem, múltiplos em três ou quatro servidores novos, inclusive em domínios estrangeiros. Um dos sites pesquisados afirma exatamente isto: para cada site retirado do ar, assume-se o compromisso de disponibilizar, pelo menos, três novos. Isso evidencia uma rede. Segundo o Ministério Público do estado de São Paulo, estão ativas, no Orkut, mais de cinquenta comunidades que pregam a violência a negros, judeus e asiáticos. Misoginia O preconceito contra a mulher negra tem suas raízes na escravidão, que, apesar de ter sido abolida há décadas, ainda tem influência nas relações sociais, no modo de pensar e de ver o outro e a si mesmo. O preconceito contra a mulher sempre foi tão incutido na sociedade, que gerou nelas mesmas uma visão autodepreciativa de sua posição nas relações sociais e como tal no mercado de trabalho. Com a criação do movimento feminista e depois de muitas lutas, as mulheres conquistaram alguns direitos e de certa forma algumas barreiras sociais foram quebradas. Porém, a atual situação das mulheres não sofreu muitas alterações. No mercado de trabalho, as mulheres ainda ocupam cargos inferiores em relação aos homens. Isto se comprova através de estudos recentes, revelando que para elas alcançarem os mesmos cargos que os homens, em empregos formais, necessitam de uma vantagem de cinco anos de escolaridade. Esses dados agravam-se quando relacionados à mulheres negras, que necessitam de oito a onze anos de estudo a mais em relação aos homens.

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Aula 20 - Bipolaridade política e a minha obrigação de ter um lado. Ao que me parece, hoje existe a clara necessidade que você se declare contra ou/e a favor de alguma coisa para que as pessoas possam decidir se você é um: Coxinha reacionário ou Esquerdopata iletrado. Para que assim deduzam se você vale ou não a pena sempre nos termos do 8 ou 80, como se não houvesse variantes e o mundo fosse uma espécie louca de 2+2 onde você é obrigado a escolher um time para amar, que de bônus, vem com outro para odiar criando a “vilanização” do seu oposto quase automaticamente. E mesmo que diga que ou outro lado é que usa da vitimização para manipular as coisas, você acaba também se colocando como uma vítima que em algum momento sucumbiu a um algoz e que só agora recobrou os sentidos depois de um “assalto violento” que lhe deixou na merda ideológica. É engraçado olhar como um lado se sente sempre culturalmente ou moralmente superior ao outro, sem considerar que ambos têm idiotas reproduzindo o que algum “letrado” disse para tentar parecer mais inteligente ou simplesmente se sentir fazendo parte de algo e no fim das contas, são essas crenças vazias + discurso de ódio que deixa tudo uma grande merda digna de estragar almoço de família por causa de um adesivo político. Mas a grande questão aqui é que eu não acredito que haja “ponto final” na história do mundo, simplesmente porque elas são contadas por pessoas, na maioria das vezes mais inteligentes que eu ou você, mas ainda assim são pessoas que em um dado momento foram influenciadas por outras assim como você foi influenciada por elas. Disso flui toda uma linha imprecisa que se rende a ideia de quem conta a história é o vencedor, mas a visão de perder ou ganhar é no mínimo questionável quando se leva em consideração tantos acontecimentos simultâneos e interesses ocultos. Ao longo dos anos a gente já viu a história ser contada e recontada diversas vezes, cada hora de um jeito, cada hora com uma retificação que surgiu de uma coisa que os livros ocultaram ou de uma carta que encontraram, mas não, essa carta era falsa e aí…blábláblá ninguém sabe, mas todo mundo pensa a respeito, alguns munidos de mais neurônios e outros de menos. Não sou genial e nem de direita ou de esquerda, simplesmente por acreditar na interdependência dos dois sistemas e ter certeza absoluta que nenhum dos extremos são legais, por isso, um precisa do outro para manter a rédea curta e ações coerentes. Talvez o totalitarismo possa ter sido legal para aquelas senhorinhas do protesto, minha mãe costuma dizer que para ela foi indiferente porque no interior não se tem muita noção dessas coisas e ela mesmo não se interessava, mas para mim, não consigo nem se quer me imaginar em um sistema não democrático e acredite que pensei muito sobre isso durante o lendário “Vem para a rua”, quando dei uma surtada e saí colhendo com representantes dos dois extremos sobre o que poderia acontecer de pior segundo o ponto de vista de ambos. Sou dramática e entrei em pânico ao mesmo que não sabia o que sentir, só o que pensar. Pensei tanto que naquele momento me envolvi, realmente quis ouvir todo mundo e tive certeza de como me sinto a respeito de direitas ou esquerdas extremas. Vire tudo para a direita.

Um intelectual que superou a educação alienativa do Paulo Freire e o Marxismo cultural que contaminou o mundo, desvendou o grande quebra cabeça do mundo descobrindo a investida dos esquerdopatas contra a família no anseio de destruir o modelo Cristão de vida através da Agenda fromhell que desfragmenta a sociedade ponto a ponto para torna-la mais suscetível à 58


dominação. Mas você não vai se render de forma alguma e vai lutar para que esses imundos devolvam a educação, a união das famílias e tudo que ainda der tempo de tomar de volta! Os esquerdopatas ou são ignorantes que servem como massa de manobra ou estão de má fé contra as pessoas de bem que estão do lado certo da história e defendem a moral desse país! Vire tudo para a esquerda. Contra os grandes conglomerados, bancos, indústria da moda por acumularem riquezas e eu acreditar que essas riquezas devem ser distribuídas com quem precisa. As minorias precisam ser defendidas, então vamos nos agrupar de

acordo a minoria que pertencemos e deixaremos os que acham que nos entendem de fora disso porque somente uma minoria sabe como é ser quem é. Então vamos á vante companheiros (não vejo mais ninguém falando camaradas, só os da direita) e não toleraremos retrocesso desde que não mexa com nenhuma minoria e se um dia o povo chegar ao poder vai ser a melhor coisa do mundo porque essa hierarquização está errada e a meritocracia só serve para quem já nasceu sendo privilegiado. Vamos inverter a pirâmide, quebrar paradigmas e o mundo será mais justo! Eles não passarão!

Sigo páginas e pessoas representativas acampadas nesses dois extremos e estou ciente de grande parte dos discursos e lutas, justamente por isso não me sinto obrigada a acampar com nenhum dos dois, mas motivada a aproveitar e disseminar ideias e iniciativas que são frutos do equilíbrio desses dois discursos. • Capitalismo consciente. • Economia compartilhada • E milhares de iniciativas que buscam um mundo mais bacana construído a partir do bestof das coisas que a humanidade tem construído ou destruído até aqui. Então para finalizar o post que não tem a pretensão de ensinar ou censurar. Eu que sou alguém que de fato, ainda preciso estudar muito nessa vida (todos precisam), nesse exato momento me posiciono a favor de um equilíbrio e não me sinto alienada ou mais burra por me posicionar dessa forma. É inegável os benefícios e os malefícios que ambos os lados trouxeram para a humanidade e que nenhum dos dois são completamente santos como alguns fervorosos gostam de acreditar. Afinal, vamos lembrar que certa feita houve uma guerra civil do povo contra o governo onde o povo pedia para que o sistema escravocrata permanecesse. A história ensina que nem sempre a gente está certo só por acreditar muito naquilo, então procurar se informar e pensar por você mesmo talvez possa ser a chave de um real progresso. Me perguntei duas coisas: Odiando essa galera aí, a quem vou beneficiar? Quero mesmo beneficiar essa galera, ou tentar fazer algo melhor? E sobre o governo, por favor né? Se o único problema do Brasil fosse o PT a gente estava mega tranquilo! Sugetões de vídeo: https://youtu.be/D5EQpvDqK5Q https://youtu.be/8KVfCSi7JSo Jéss Reis FONTE: https://medium.com

Aula 21 - O que é Hedonismo: 59


Hedonismo consiste em uma doutrina moral em que a busca pelo prazer é o único propósito da vida .A palavra hedonismo vem do grego hedonikos, que significa "prazeroso", já que hedon significa prazer. Como uma filosofia, o hedonismo surgiu na Grécia e teve Epicuro e Aristipo de Cirene como alguns dos nomes mais importantes. Esta doutrina moral teve a sua origem nos cirenaicos A festa dos deuses Giovanni Bellini, 1514 (fundada por Aristipo de Cirene), epicuristas antigos. O hedonismo determina que o bem supremo, ou seja, o fim último da ação, é o prazer. Neste caso, "prazer" significa algo mais que o mero prazer sensual. Os utilitaristas ingleses (Bentham e Stuart Mill) foram os continuadores do hedonismo antigo. Em muitas ocasiões o hedonismo é confundido com o epicurismo. No entanto, existem algumas diferenças entre eles, sendo que Epicuro criou o epicurismo com o objetivo de aperfeiçoar o hedonismo. O epicurismo tem como um dos objetivos a ausência da dor, e por isso o prazer tem um papel mais passivo, e o indivíduo deve renunciar a coisas que possam originar dor e sofrimento. No caso do hedonismo, a busca pelo prazer é aconselhada de forma intensa, levando também em conta os prazeres sexuais. Como o hedonismo aborda a busca excessiva pelo prazer como o propósito mais importante da vida, muitas religiões a repudiam, pois consiste em uma doutrina que entra em choque com a doutrina de muitas igrejas.

Hedonismo ético e psicológico O hedonismo pode ser dividido em duas categorias: hedonismo ético e hedonismo psicológico. O hedonismo psicológico tem como fundamento a noção que em todas as ações, o ser humano tem a intenção de obter mais prazer e menos sofrimento, e essa forma de viver é única coisa que fomenta a ação humana. Por outro lado, o hedonismo ético tem como princípio o facto de o homem contemplar o prazer e os bens materiais como as coisas mais importantes das suas vidas. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/x_zA_PZM1oc Fonte: https://www.significados.com.br

É no exercício do direito de participação da pólis – política – que o Bem pode ser alcançado porque visa o Bem comum, ao viver juntos, dividir o mesmo espaço, em um determinado tempo, usufruindo das riquezas que a sociedade produz e da cultura produzida que lhe dá um rosto para as mais variadas comunidades. Com isso, não se separa, em hipótese alguma, ética e política. Uma não pode existir sem a outra, somente sua combinação pode alcançar os objetivos. Para isso, Aristóteles, propõe que a felicidade pode ser alcançada desde que três conquistas se realizem: A primeira é sobre os bens materiais suficientes, para a nossa subsistência, devem ser suficientes parauma vida sem carências. Os bens são produzidos para nos servir, e não para serem guardados com avareza. Como é possível ser feliz se se passa fome, frio, sede?

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A segunda é sobre o prazer. Não o prazer pelo prazer, mas das coisas agradáveis. Pode ser desde um copo de água fresca em um dia de calor, passando pelo pão dividido na mesa em família, o sim ouvido ao fazer a proposta à pessoa amada. Esses prazeres podem variar de pessoa para pessoa. A terceira é a mais importante, por Aristóteles denominada de excelência, que se divide em intelectual e moral. A excelência intelectual se refere ao espírito elevado à realização das potencialidades mais nobres da razão, como por exemplo a ciência, a sabedoria filosófica e a inteligência. Isso é o que compreende cultivar o espírito, onde depende da educação desenvolver ao máximo as potencialidades racionais. A excelência moral diz respeito a todas as virtudes que enobrecem a existência humana, como a coragem, a liberalidade, a honestidade, a amabilidade. Está relacionada ao coração, aos bons sentimentos, o controle dos impulsos instintivos. É oferecida pelo exemplo oferecido pela sociedade, amigos, familiares. A primeira se adquire pela instrução, a segunda por meio do hábito. Ética e indiferença refletem no comportamento social A indiferença está no meio das pessoas que fingem que não veem o que se passa a sua volta, quando anda pelas ruas, em que pedintes estendem a mão, para lhe pedir uma esmola, mas em tom de voz austero e sem mesmo olhar, diz: não tenho. Tudo isto se faz presente na sociedade em que vivemos, em que maltrapilhos dormem embaixo de marquises e pontes, sempre com a humildade estampada em seus rostos, sabem que são inferiores, sabem que são excluídos, ninguém os vê, ninguém preocupa com eles. O Estado que deveria ser o responsável e até penalizado por estes fatos, por serem omissos com o lidar com os pobres, os excluídos, com os pedintes. Para o Estado são os lixos da vida e para sociedade que vê tudo e nada faz, fingindo que nada vê, são reacionários e indiferentes no convívio social. Toda sociedade humana existem as leis e regras mesmo que estas leis, muitas vezes não são corretas, elas existem. Feitas por representantes, que muita vezes não representa a vontade popular de fato, mas são eleitos para isto. Às vezes estas leis não são éticas, mas devem ser seguidas por ser a moral de uma determinada sociedade, regras que devem ser seguidas por todos de uma sociedade Em nossa Constituição: ➢ Construir uma sociedade livre, justa e solidária ➢ Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. ➢ Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Parece que nada que esta na Constituição é obedecida pelo Estado, que se diz ser democrata, mas isto não é democracia, em que muitos cidadãos são excluídos, são abandonados a própria sorte, sem que o Estado os protejam, dando lhes o mínimo necessário para que possa sobreviver, para que possa ter uma abrigo descente e não marquises de prédios, mas sim uma casa, para viver com dignidade. Esta indiferença que existe hoje, faz com que a criminalidade aumenta cada dia que passa, e o valor da vida humana passa ser desprezível, matando por um telefone celular, a vida perde o verdadeiro sentido, pela a omissão do Estado, das pessoas esclarecidas que tiveram oportunidades de estudar, de saber discernir o certo do errado,

mas fecham os olhos e vivem hoje enclausuradas em suas casas, fingindo que esta tudo bem. A indiferença faz surgir nas sociedades, os revoltados que não tiveram oportunidades de frequentar uma escola, de não ter tido na vida nenhuma escolha, a não ser entrar para o crime, onde são acolhidos pelos traficantes e respeitados dentro do crime, mesmo sabendo que a vida dele vai ser curta, logo estarão mortos, mas este pouco em que vivem teve o verdadeiro respeito dos companheiros, e isto se deve as mentiras dos governantes de uma sociedade omissa. A ética tem que existir sempre, por ser o pilar mais forte de uma sociedade, respeitando sempre os princípios morais da sociedade, mas 61


quando esta moral é deixada de lado, em que a justiça passa ser omissa, não sendo para todos, como deveria ser. Trata o rico de maneira diferente, por ter bons advogados e os pobres às vezes fica na cadeia anos de sua vida, por ter furtado um alimento para saciar a fome do filho, dele próprio, mas ele não tem advogado, são a

escoria, então podem apodrecer nas cadeias superlotadas, pela incompetência dos governantes, que omitem, que querem apenas o poder para manipular e enganar o povo que não tiveram oportunidades de sair do estado de pobreza financeira e intelectual, por não terem oportunidades de frequentar uma escola.

Quantas vezes você percebe ao parar em um semáforo, os vidros dos carros ficarem fechados, e os que estão abertos fecham, para não escutar ao pedinte que lhes estendem a mão, pedindo algum trocado para saciar a fome. Esta indiferença da angustia, da uma sensação de impotência, mas como resolver tudo isto. Não podemos levar todos para dentro de nossas casas, não temos dinheiro suficiente para saciar a fome de todos, mas temos algo que poucos têm… Sabedoria, educação e um pouco de dinheiro. Tivemos mais oportunidades em ter alcançado um patamar melhor que muitos. Sejamos radicais em nossas vidas em participar mais da vida política do País, não elegendo mentirosos, ladrões, os que querem perpetuar no poder, para ficar mais rico. É dever de todos os cidadãos de bem, que quer ter um futuro melhor para os filhos, em um mundo equilitario, com liberdade de ir e vir, de segurança, de paz interior e amor ao próximo, lutar para que o Estado brasileiro seja menos mentiroso, e faça mais pela população brasileira, principalmente para os menos favorecidos, com educação, com respeito e que a justiça seja igual para todos e não haja discriminação de status social. AmynDaher Jr., escritor Fonte: www.dm.com.br

Aula 22 - Livre-arbítrio, determinismo e responsabilidade moral Howard Kahane Tradução de Álvaro Nunes Segundo um ser extraterrestre tralfamadoriano, no livro Slaughterhouse Five de Kurt Vonnegut, Jr., os tralfamadorianos viajaram até aos confins do universo e só na Terra se fala de livre-arbítrio. Talvez. Mas fala-se mesmo muito. Livre-arbítrio e determinismo O problema do livre-arbítrio e do determinismo surge devido a uma aparente contradição entre duas ideias plausíveis. A primeira é a ideia de que os seres humanos têm liberdade para fazer ou não fazer o que queiram (obviamente, dentro de certos limites — ninguém acredita que possamos voar apenas por querermos fazê-lo). Esta é a ideia de que os seres humanos têm vontade livre — ou livre-arbítrio. A segunda é a ideia [...] de que tudo o que acontece neste universo é causado, ou determinado, por acontecimentos ou circunstâncias anteriores. Diz-se de aqueles que aceitam esta ideia que acreditam no princípio do determinismo e chama-se-lhes deterministas. (De aqueles que negam esta segunda ideia diz-se que são indeterministas.)

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Pensa-se frequentemente que estas duas ideias entram em conflito porque parece que não podemos ter livre-arbítrio — as nossas escolhas não podem ser livres — se forem determinadas por acontecimentos ou circunstâncias anteriores. Todos os Sonhos do Mundo Portugal | Brasil 2. Somos nós sempre responsáveis pelas nossas acções? Além disso, algumas pessoas defenderam que se tudo o que fazemos é determinado pelo que aconteceu no passado de uma forma tal que as nossas escolhas nunca são livres, então não somos moralmente responsáveis por nenhuma das nossas acções, porque nesse caso não escolhemos livremente fazê-las. Pode esta ideia estar correcta? Sugestão de vídeo: https://youtu.be/z-ATdBKNErM Determinismo radical, determinismo moderado e libertismo

Na história da filosofia, foram propostos essencialmente três tipos diferentes de respostas a esta questão. Um consiste em aceitar que o determinismo é verdadeiro e, por conseguinte, que a responsabilidade moral não tem sentido. A este ponto de vista chama-se geralmente determinismo radical, e àqueles que o aceitam deterministas radicais. Um segundo ponto de vista é o de que tem efectivamente sentido sustentar que as pessoas são moralmente responsáveis pelas suas acções, porque o determinismo está errado e nós no fim de contas temos livre-arbítrio. Chama-se com frequência libertista a este ponto de vista e aos seus defensores libertistas. Finalmente, um terceiro ponto de vista é o de que ao aceitarmos o determinismo e a liberdade da vontade não nos contradizemos, pelo que podemos ser considerados moralmente responsáveis pelas nossas escolhas embora elas sejam determinadas. Chama-se geralmente determinismo moderado a este ponto de vista e aos seus defensores deterministas moderados. Sugestão de v[ideo: https://youtu.be/4rnKvrV2D-w Determinismo radical Quando examinado, vê-se que o determinismo radical baseia-se em três princípios: O princípio do determinismo — que tudo o que acontece tem uma causa; O princípio de que se uma acção é determinada, então não é livre (a pessoa não poderia realmente ter escolhido não a fazer); e O princípio de que a pessoa é moralmente responsável apenas por acções livres. Argumentos a favor do determinismo radical Os deterministas radicais tendem a acreditar que a segunda e a terceira das afirmações necessárias para apoiar a sua posição são óbvias (e o mesmo fazem os libertistas). Parece-lhes óbvio que as acções determinadas, digamos, pela hereditariedade e pelo ambiente não podem ser acções livremente escolhidas; e igualmente óbvio que as pessoas são apenas responsáveis pelas acções que escolheram livremente. Por isso, os deterministas radicais concentraram o seu fogo no primeiro princípio — que o determinismo é verdadeiro. Os seus argumentos são muito fortes. Em primeiro lugar, as provas a favor do determinismo em geral baseadas na vida diária parecem extraordinariamente fortes. Quando

pomos açúcar no café, esperamos que o café fique doce e ficaríamos muito surpreendidos se não o ficasse. Quando passeamos, o solo suporta63


nos sempre — não nos enterramos lentamente na terra. Do mesmo modo, a gravidade nunca falha — nunca flutuamos suavemente até às estrelas. Quando os astronautas vão para o espaço, milhares de peças de equipamento têm de trabalhar de forma exactamentecorrecta milhões de vezes — “exactamentecorrecta” significa exactamente como foi previsto pelas teorias científicas acerca das leis da natureza que explicam como as coisas estão determinadas para acontecer. A verdade é que não podemos fazer um movimento sem confiar em pelo menos algo que funcione como funcionou no passado. Assim, cada experiência que temos parece apoiar a tese

geral de que tudo o que acontece neste universo é causado ou determinado pelo que aconteceu no passado. Mas a questão principal entre os deterministas radicais e os seus opositores não é a propósito do determinismo ou da causalidade em geral. A questão diz respeito apenas a um conjunto limitado de acontecimentos ou circunstâncias no universo, a saber, a escolhas e acções humanas, em particular, a escolhas e acções morais. São as nossas acções livres (não-determinadas)? São as nossas escolhas livres? Há “espaço” suficiente nas leis que governam o universo para que estas coisas possam acontecer? Os deterministas dizem que não e as provas parecem estar fortemente a seu favor.

Em primeiro lugar, na vida diária fazemos constantemente previsões acerca do que as pessoas irão fazer. Como é óbvio, não podemos fazer previsões com 100 % de precisão, mas as pessoas perspicazes, de algum modo, fazem-nas razoavelmente bem. Classificam as pessoas em pessoas em quem se pode confiar, egoístas, sem escrúpulos, sociáveis, agressivas, hostis, e tudo o mais, com um sucesso moderado que é difícil explicar se as nossas acções e as nossas escolhas não forem determinadas. Além do mais, sabemos pela vida diária quão facilmente podemos alterar os nossos estados e capacidades mentais tomando drogas. É essa a razão do amplo uso do álcool, da marijuana, da cafeína, da nicotina, da aspirina, do Valium, e de outros modificadores da mente — alteramos as nossas percepções, libertamos as nossas inibições ou livramo-nos da dor. No caso do álcool, com frequência enfraquecemos a vontade moral ou abalamos, por exemplo, a resolução de nos abstermos de relações sexuais imorais. Tudo isto apoia o ponto de vista dos deterministas e opõe-se à ideia de vontades livres (não-causadas).

Além disso, há as provas decisivas da ciência. Os cientistas pressupõem que as leis da natureza que descobriram se aplicam a tudo no universo, incluindo as minúsculas partículas que constituem o cérebro e o sistema nervoso humanos. Quando escolhemos fazer algo — digamos, apertar um dedo indicador contra o gatilho de uma arma carregada apontada a um inimigo —, impulsos eléctricos viajam do cérebro para os músculos apropriados do corpo. Há uma grande quantidade de provas científicas (e nenhumas contraprovas convincentes) de que estes impulsos eléctricos são causados por outros impulsos no cérebro, que em última instância são causados por interacções químicas algures no corpo (por exemplo, em várias glândulas que segregam hormonas e na retina do olho). A noção de uma vontade livre (não-causada) parece assim contraditar alguns princípios científicos muito bem estabelecidos. Por último, deve-se fazer notar que, na vida diária, os indeterministas, tal como todas as outras pessoas, agem como se acreditassem realmente que o determinismo é verdadeiro. Em particular, antecipam as escolhas morais das outras pessoas exactamente como toda a gente. E pressupõem que a exortação moral, o treino moral e a educação moral serão eficazes, embora o objectivo do treino moral seja influenciar as decisões morais dos estudantes. Se as pessoas tomam efectivamente as suas decisões morais independentemente das forças causais, como tem o treino moral efeito? O argumento contra o determinismo radical Como vimos, o determinismo radical baseia-se em três princípios. Não o podemos refutar rejeitando o primeiro deles (o princípio do determinismo), como acabámos de defender. Por isso, para refutá-lo, temos de atacar o segundo e o terceiro princípios (embora praticamente ninguém escolha o terceiro). Como 64


veremos, esta é exactamente a forma como os deterministas moderados refutam o determinismo radical. Mas por detrás desta refutação encontra-se um desejo muito forte de que as pessoas sejam responsáveis pelas suas acções e escolhas e uma enorme necessidade de admirar e premiar aqueles que se sacrificam pelo seu dever e de abominar e punir a obra do diabo. E essa é, em última instância, a razão fundamental para rejeitar o determinismo radical. (Seja o que for que alguns filósofos possam afirmar, a verdade é que quando julgamos moralmente os outros não nos importa se as nossas escolhas morais são determinadas ou não — uma vez mais, repara no comportamento quotidiano de todos, incluindo os deterministas radicais.) Libertismo Ao contrário dos deterministas radicais, os libertistas (com frequência chamados indeterministas) negam que o determinismo seja verdadeiro. O libertismo é o ponto de vista segundo o qual as escolhas morais são em geral livres; isto é, não-causadas (ou autocausadas) e que, portanto, temos razões para considerar que as pessoas são moralmente responsáveis pelas suas acções. Isto é outra forma de dizer que o determinismo é falso, pelo que há liberdade da vontade e, portanto, a moralidade faz de facto sentido. Como é óbvio, os libertistas sabem que não podemos fazer exactamente qualquer coisa — é completamente impossível ter poderes sobre-humanos. Mas, afirmam, somos geralmente livres nas situações morais típicas em que podemos escolher fazer ou não o mal, que é o que importa para justificarmos a prática da moralidade. Razões para aceitar o libertismo Há duas razões fundamentais para o libertismo ser tão popular. A primeira é a crença de que de outro modo não temos justificação para considerar as pessoas responsáveis pelas suas acções. (Deste modo, os libertistas concordam com os deterministas radicais que se as nossas escolhas morais forem determinadas, então não serão livres.) Sentimo-nos livres A segunda razão importante pela qual os libertistas acreditam que temos vontades livres (não-causadas) é que sentimos que somos livres. Digamos que, em geral, quando escolhemos mentir sentimos que poderíamos ter escolhido não mentir, que a nossa escolha não nos foi imposta pelo que nos aconteceu no passado. Por outras palavras, sentimos que podíamos ter escolhido caminhos verdadeiramente alternativos. Argumentos contra o libertismo Infelizmente, estas duas defesas libertistas são inadequadas. Peguemos na segunda — de acordo com a qual temos uma sensação de liberdade. Mesmo que isto seja verdadeiro (e alguns deterministas também pensam que é) não prova que temos de facto livre-arbítrio, porque muitas sensações são enganadoras (por exemplo, a sensação de que num dia frio o ar está mais frio do que a água da praia). Assim, o simples facto de nos sentirmos livres não é razão suficiente para acreditarmos que somos realmente livres. Mas poderia ser uma prova de que somos livres, tal como, digamos, sentirmos que partimos um osso é uma prova de que partimos. Não nos sentimos livres quando escolhemos fazer isto em vez de aquilo? Sim, claro. Mas não no sentido relevante de independente de causas, porque não se pode sentir uma causa! Portanto, também não se pode sentir a ausência de causa. Peguemos num caso em que toda a gente concorda não existir liberdade de escolha — digamos, um acto reflexo como o movimento automático da perna. Quando o médico bate no lugar certo do joelho do 65


paciente e a sua perna se eleva, ele não sente a causa do movimento da perna — sente unicamente o movimento da perna. Em casos deste género, certamente que o movimento do nosso corpo é causado, mas não sentimos essa causa. Por que devemos então acreditar que sentimos a ausência de causa? Contudo, para sentirmos uma escolha como livre temos de senti-la como não-causada, temos de sentir a ausência da causa. E isto é algo que não podemos fazer. (Se pensas que podemos, pergunta a ti mesmo que sensação têm as causas — ao invés das vontades.) É verdade que nos podemos sentir compelidos (forçados) ou não-compelidos (não-forçados) a fazer certas escolhas. Mas, como veremos quando discutirmos o determinismo moderado, ser compelido é muito diferente de ser causado e não ser compelido muito diferente de não ser causado. Não somos responsáveis por acções não-causadas Vejamos agora o segundo argumento importante a favor do libertismo — que apenas o libertismo torna racional a ideia de responsabilidade moral. Supõe que o Silva decide roubar o Banco de Portugal e que ninguém o forçou a fazê-lo (razão pela qual a sua acção não implica qualquer compulsão). Para serem consistentes, os libertistas têm de dizer que só temos justificação para considerar o Silva moralmente responsável pela sua acção se ela não foi causada, nem mesmo pelos seus próprios motivos, desejos ou objectivos. O problema é que os libertistas escondem algo. Só faz sentido considerar uma pessoa moralmente responsável por escolhas que resultem pelo menos em parte de necessidades ou desejos que tentou satisfazer fazendo essas

escolhas! Esta inversão impressionante da pretensão libertista é de crucial importância. Para ver a sua força, imagina que és livre em sentido libertista. Isto é, imagina que as tuas escolhas não são causadas, nem mesmo pelos teus desejos, motivos ou objectivos. Supõe que vais a descer a rua principal quando de súbito puxas de uma pistola e matas alguém a sangue frio. Se te perguntassem por que fizeste essa coisa horrível, que poderias responder? Unicamente que não tens qualquer ideia da razão por que escolheste fazê-la, porque se soubesses a razão, saberias o que te tinha motivado a fazê-la e, assim, saberias (em parte) a causa de o teres feito. (Algumas pessoas diriam que o teu desejo não foi a causa da acção mas antes um efeito do mesmo processo fisiológico que causou a acção.)

Para perceber a ideia, imagina que dizes que mataste porque querias mostrar que te poderias libertar das limitações vulgares das acções humanas, querias quebrar a regra contra o assassinato unicamente para mostrar que podes fazê-lo (tal como há uns anos algumas pessoas corriam nuas unicamente para provar que o podiam fazer). Por conseguinte, o teu desejo de provar isto seria a causa da tua acção, ou parte dela. Para que o assassinato seja uma acção verdadeiramente livre, nenhum desejo destes ou de qualquer outro tipo pode ter causado a tua escolha. Assim, se te perguntassem por que razão fizeste aquele acto, terias de responder que não tinhas qualquer razão e te limitaste a escolher fazê-lo. Portanto, se o libertismo estivesse correcto, o que escolhes fazer não poderia ser causado pelo teu carácter ou resultar de algum dos teus desejos, motivos ou valores. Não poderia ser causado pela inveja, pelo teu desejo de provar algo, pelo desejo de vingança ou qualquer outra coisa. Não poderia, por conseguinte, ter qualquer ligação efectiva contigo ou com quem tu és. Assim, se as tuas escolhas fossem verdadeiramente não-causadas, seria um erro elogiar-te, censurar-te, recompensar-te ou punir-te pelo que escolhes fazer, que é precisamente o inverso de aquilo que os libertistas pretendem. Podemos escolher livremente os nossos desejos e motivos? Confrontados com objecções deste tipo, alguns libertistas admitem que aquilo que queremos é influenciado pelos nossos desejos e motivos, mas defendem que podemos escolher livremente os nossos desejos e motivos ou, pelo menos, decidir com base em quais agir. Mas será isto correcto? Em primeiro lugar, como mostrámos, todas as provas parecem indicar que os nossos desejos e motivos são tão causados como tudo o resto. E, em segundo lugar, se fôssemos realmente livres para escolher coisas como desejos, não haveria nenhuma razão para escolhermos um 66


desejo em vez de outro. Não teríamos mais razões para desejar o amor do que o ódio, tartes de maçã do que veneno, a vingança do que crianças ou a vida do que a morte. Para ver que as coisas são assim, imagina que és livre de escolher os teus próprios desejos, objectivos e motivos — não com base nos que tens agora, mas a partir do zero. Digamos que escolhes um conjunto A de desejos em vez de um outro conjunto B. Supõe que o conjunto A contém o desejo de assassinar a tua avó e que o fazes. Se te perguntassem por que desejaste fazer uma coisa tão horrível, o que poderias responder? Unicamente que não tens qualquer ideia da razão por que escolheste esse desejo, porque se soubesses a razão, saberias o que te teria motivado a fazê-lo, e estamos a pressupor que começaste do zero, isto é, que escolheste sem ter quaisquer desejos ou motivos anteriores. Portanto, se fosses completamente livre para escolher os teus próprios desejos e motivos, livre até dos desejos e motivos que tens efectivamente agora, os desejos que escolherias não teriam a mínima ligação contigo, como defendemos anteriormente. (Não serviria de nada dizer que poderias escolher livremente os teus próprios desejos com base nos desejos que já tens, porque nesse caso os novos desejos alegadamente “escolhidos livremente” derivariam na realidade dos antigos e não da tua escolha livre.) Podemos nós escolher resistir aos nossos desejos e motivos? Confrontados com objecções deste tipo, alguns libertistas admitem que aquilo que queremos é influenciado pelos nossos desejos e motivos e que não podemos escolher os nossos desejos e motivos independentemente dos que já temos. Mas argumentam que podemos escolher livremente resistir a agir com base nos nossos motivos e desejos imorais empregando a nossa força de vontade (ou tendo mais força de vontade) e, portanto, somos moralmente responsáveis pelas acções realizadas para satisfazer esses desejos. (Por exemplo, diz-se frequentemente que não nos podemos libertar dos desejos da carne, mas podemos dominar estes desejos se nos esforçarmos bastante.) Mas a experiência diária assim como as teorias psicológicas indicam que a quantidade de força de vontade que podemos empregar para resistir à tentação de fazer uma acção imoral depende da força relativa do desejo de cometer a acção má comparada com o desejo de fazer aquilo que é moralmente correcto. Por exemplo, se o Silva resistirá ou não à tentação de fazer amor com a mulher (que também está disposta) de um amigo depende da força do seu desejo de fazê-lo comparada com o seu desejo de ser leal ao amigo ou de evitar o que acredita ser errado. É-nos tão impossível escolher livremente a intensidade dos nossos desejos quanto escolher livremente os próprios desejos. Pensa por um momento no que seria escolher a Uma vez mais, se lhe perguntassem por que razão intensidade dos nossos desejos. Supõe que o escolheu fazê-lo, que poderia responder? Não desejo do Silva por sexo é o dobro da intensidade poderia apelar a qualquer motivo ou desejo de do seu desejo de ser leal ao seu amigo e que tentar com mais força porque estamos a escolhe duplicar a intensidade do desejo de ser pressupor que ele escolhe livremente tentar com leal. Se lhe perguntassem por que razão escolheu mais força. aumentar a intensidade do seu desejo de ser leal, Estamos presos à conclusão de que as nossas o que poderia dizer? Tão somente que não tinha escolhas e acções têm de derivar dos nossos qualquer ideia da razão pela qual o escolheu. Em desejos e motivos ou, mais exactamente, do particular, não poderia apelar a qualquer motivo nosso carácter. É óbvio que podemos escolher ou desejo de o fazer, porque estamos a pressupor livrarmo-nos de um desejo particular, ou que escolheu livremente aumentar o seu desejo, intensificá-lo, mas apenas baseados noutros o que significa que escolheu fazê-lo sem um desejos e motivos que tenhamos. De outro modo, motivo ou desejo como causa para o fazer. fazê-lo não teria qualquer ligação com quem somos — teria caído do céu — e certamente que Ou então supõe que ele escolhe duplicar a sua não teríamos responsabilidade por o ter feito. vontade de poder, isto é, escolhe resistir à Parece, então, que o libertismo não é satisfatório. tentação de pecar com duas vezes mais força. 67


Determinismo moderado Parece que ficámos encurralados. Temos de rejeitar o determinismo radical porque nega a responsabilidade moral. Mas temos igualmente de rejeitar o libertismo, porque se fosse verdadeiro, nunca teríamos justificação para considerar as pessoas moralmente responsáveis pelas suas acções. O problema está na nossa definição de liberdade. Dissemos que chamaríamos livre a uma escolha se não fosse causada. Mas há outra concepção de escolha livre, mais útil. Para ilustrá-lo, imagina os soldados Silva e Nunes de sentinela durante a guerra, o Silva depois de 72 horas acordado em batalha e o Nunes depois de um bom descanso. Supõe que o Silva tenta ao máximo estar acordado, enquanto que o Nunes, digamos, por travessura, se deixa deliberadamente dormir. Parece que neste caso deveríamos repreender o Nunes por se ter deixado adormecer, mas não o Silva, porque o Nunes, se quisesse, poderia ter estado acordado, enquanto o Silva não poderia, ainda que de facto o desejasse. O Nunes deveria ser considerado culpado porque quis fazer a acção maldosa, enquanto o Silva deve ser considerado inocente ou, pelo menos, ser perdoado, porque quis fazer o seu dever, estar acordado, e tentou ao máximo fazê-lo. Podemos dizer que adormecer foi, no caso do Nunes, um acto livre, porque não foi compelido — não foi forçado a adormecer “contra a sua vontade”. Mas o adormecer do Silva não foi livre, porque foi compelido pela fadiga corporal a fazer o que desesperadamente não queria fazer, a saber, adormecer. Os deterministas moderados consideram a ausência de compulsão, e não a ausência de causa, o critério da liberdade de escolha. Em termos gerais, defendem que as pessoas agem livremente quando fazem o que querem e escolhem fazer e não agem livremente quando o que fazem é forçado ou compelido. Por outras palavras, de acordo com os deterministas moderados, uma vontade livre é simplesmente uma vontade não-compelida.

Compulsão interna e externa As acções compelidas dividem-se em dois tipos, internas e externas, consoante a origem da força que compele. A sentinela que tenta ao máximo estar acordada mas apesar disso adormece é compelida internamente, porque forças psicológicas no interior do seu corpo são a causa de que adormeça. As crianças fechadas nos quartos pelos pais são compelidas externamente, porque as forças que limitam o seu comportamento são externas aos seus corpos. Os deterministas moderados defendem que a ausência de compulsão, e não a ausência de causa, é a marca de um acto livre. Todos os actos são causados, mas apenas alguns são compelidos. As acções determinadas podem ser livres Recorda agora os três princípios que conduzem ao determinismo radical, a saber: O determinismo é verdadeiro, pelo que todas as nossas escolhas e acções são determinadas por circunstâncias anteriores; As acções determinadas por circunstâncias anteriores não podem ser livres; Somos moralmente responsáveis apenas por acções livres. Deve ser óbvio neste momento que os deterministas moderados aceitam os princípios 1 e 3 mas rejeitam o princípio 2. Eles chamam a atenção para o seguinte: na vida diária, o critério de escolha livre não é a escolha ser não-causada mas antes a escolha ser não-compelida, não forçada, pelo que a pessoa faz o que quer e escolhe fazer. Os deterministas moderados “salvam” assim a ideia de responsabilidade moral e resolvem o problema do livre-arbítrio e do determinismo defendendo que a liberdade necessária para justificar considerar as pessoas moralmente responsáveis pelas suas acções não é a ausência de determinismo, que nunca existe, mas a ausência de compulsão, a liberdade para fazer o que queremos fazer, o que com frequência temos. 68


Razões para aceitar o determinismo moderado A razão fundamental para aceitar o determinismo moderado é que parece resolver o problema sem violar quaisquer intuições fortemente arreigadas. Ao contrário do libertismo, o determinismo moderado é consistente com a tese determinista muito bem estabelecida segundo a qual tudo tem uma causa. Ao contrário do determinismo radical, é consistente com a ideia de que temos justificação para considerar as pessoas moralmente responsáveis pela maior parte das suas acções. Além disso, diz-nos grosso modo quais são as acções pelas quais somos responsáveis (as que não são compelidas) e pelas quais não o somos (as que são compelidas) e fornece-nos um critério para decidir em casos particulares (as acções que queremos fazer não são compelidas, ou livres, as acções que não queremos fazer mas fazemos na mesma são compelidas, ou não livres). E fá-lo de um modo que está razoavelmente de acordo com a prática diária, uma vez que, em geral, na vida diária somos desculpados pelas acções compelidas e considerados responsáveis apenas pelas não-compelidas. Dificuldades do determinismo moderado O determinismo moderado enfrenta dois problemas fundamentais. Primeiro, como os próprios deterministas moderados costumam afirmar, o critério para determinar se as escolhas são livres ou compelidas precisa de ser aprimorado. Dissemos que, em termos gerais, as acções são livres quando os agentes fazem o que querem fazer e são compelidas quando é ao contrário; e que uma pessoa é responsável apenas pelas suas acções livres. Considera então os casos seguintes: Uma dama imensamente rica da Avenida de Roma rouba um alfinete de gravata de diamantes na Ourivesaria Sarmento, da Rua do Ouro. O alfinete não tem qualquer utilidade para ela e mais tarde irá lamentar tê-lo roubado. Mas, na altura, qualquer que tenha sido a razão, não resistiu à tentação de roubálo — o seu desejo de roubar foi mais forte do que o seu desejo de não o fazer — pelo que escolheu fazê-lo. Ainda assim, é frequente dizer-se que uma tal pessoa é doente mental, uma cleptomaníaca que age compulsivamente, e, portanto, não é responsável pelas suas acções. Contudo, segundo o critério de compulsão aqui apresentado, a sua acção tem de ser considerada livre. Um prisioneiro de guerra, depois de ter sido barbaramente torturado, entrega segredos ao inimigo. Quer revelar os segredos e escolhe fazê-lo (para evitar ser mais torturado). Geralmente, julga-se que não deve ser castigado por tê-lo feito, porque quase toda a gente, mais cedo ou mais tarde, cede à tortura. Contudo, segundo o critério de liberdade que fornecemos, ele escolheu livremente revelar os segredos. Uma pessoa internada num hospital para doentes mentais mata outra numa luta devido a um parceiro sexual. Essa pessoa quer matar e escolhe matar e, no entanto, a maior parte de nós diria que, devido a ser louco, não é responsável. Um marido que investiu bastante na sua mulher e no seu casamento apanha-a na cama com outro homem e mata-a num acesso de paixão. Na altura, quer matá-la e escolhe fazê-lo — ninguém o força. No entanto, algumas pessoas diriam que ele não deveria ser castigado por este acto, uma vez que, nestas circunstâncias, não era livre para dominar a sua raiva. Sob o efeito de sugestão pós-hipnótica, o Silva mata a avó. Ele gosta dela e normalmente nem lhe passaria pela cabeça fazer-lhe mal. Apesar disso, na altura da decisão, quer matá-la. Deste modo, segundo o critério de liberdade dos deterministas moderados, o acto parece livre, embora a maior parte de nós dissesse que o Silva não era um verdadeiro agente livre. Quando lhe deram grandes doses para o ajudar a suportar as dores causadas por ferimentos de guerra, o Nunes adquiriu, sem quaisquer más intenções, o vício da morfina. Agora arruína a sua vida ao tentar satisfazer o hábito. Embora seja verdadeiro que quer romper com o hábito, também é verdadeiro que, quando cede e toma a droga, quer tomá-la (o seu desejo pela droga é mais forte do que o seu desejo de romper com o hábito) e escolhe tomá-la. A maior parte de nós diria que tomar a droga é uma acção compelida. Contudo, com base no critério aqui apresentado, parece livre. A compulsão não é a única defesa 69


Como é óbvio, não podemos ter a certeza de que o determinismo moderado resolva o problema até sabermos como lidar com casos como os que acabámos de apresentar. Diferentes deterministas moderados tratam estes casos de forma diferente. Uma forma é chamar a atenção para que a liberdade de compulsão não é o único critério de responsabilidade moral. As crianças, por exemplo, são frequentemente desculpadas por escolherem livremente acções pelas quais os adultos são castigados. O mesmo se passa com os doentes mentais. A questão é que tais pessoas de algum modo carecem de estatuto moral, talvez porque não se pode esperar que conheçam a natureza moral dos seus actos (como a criança de três anos que puxa a irmã bebé para fora do berço) ou que conheçam as consequências das suas acções (o louco que acidentalmente deita fogo a uma casa) ou tenham a vontade para agir com base nesse conhecimento (o doente esquizofrénico que não sai da cama). Precisamos um critério de desejo verdadeiro Outra forma de lidar com o problema é defender que às vezes o que queremos e escolhemos num dado momento — digamos, no calor da paixão, como no caso 4, acima — não é o que realmente queremos fazer; pensa no arrependimento que se segue a tê-lo feito. Deste ponto de vista, a intensidade relativa dos nossos vários desejos ao longo de um grande período de tempo determina

os nossos verdadeiros desejos num dado momento. Desta forma, as acções compelidas têm origem quando os nossos desejos mais fortes num dado momento entram em conflito com os nossos desejos mais fortes a longo prazo. Um exemplo disto é o desejo de tomar a droga que, num dado momento, um toxicómano tem, mesmo que, em geral, o seu desejo mais forte seja o de perder o hábito.Muitas pessoas ainda consideram o determinismo e a responsabilidade moral incompatíveis O objectivo da investigação filosófica é ver como as coisas nos parecem depois de termos ouvido os argumentos, especialmente os da outra parte. Depois de ouvir os argumentos a favor do determinismo moderado, os libertistas, em particular, ainda acham errado considerar as pessoas responsáveis pelas suas acções se essas acções forem causadas por leis naturais sobre as quais os seres humanos não têm qualquer domínio. Também não lhes serve de consolo ouvir que as pessoas escolhem fazer a maior parte do que fazem, ou que as suas acções resultam dos seus desejos ou motivos, se esses desejos, motivos e, deste modo, todas as escolhas, forem determinadas por leis naturais. Considerar as pessoas responsáveis em tais circunstâncias parece-lhes que é como considerar robôs responsáveis pelas suas acções.

E talvez este seja o ponto principal. Há alguma razão para tratar os seres humanos de forma diferente das mesas, cadeiras, televisores ou computadores? Há alguma coisa nas relações humanas ou na nossa natureza social que constitua uma razão para olhar os seres humanos como responsáveis pelo que fazem, e os televisores e computadores não? Parece adequado censurar os amigos quando nos decepcionam, mas não um computador (limitamo-nos a mandar arranjá-lo). A forma como nos sentimos a propósito de pessoas é substancialmente diferente da forma como nos sentimos a propósito de máquinas inanimadas, e esse sentimento diferente é a justificação — se houver alguma — para considerar as pessoas e não as máquinas responsáveis pelas suas acções (não-compelidas). Por que, então, continuam a existir discordâncias sobre este tema? Em parte, talvez, devido a uma falta de atenção aos argumentos dos outros lados da questão. Mas, em parte, devem-se também a diferenças a propósito de outras questões filosóficas que estão com ele relacionadas, talvez mesmo a diferenças acerca da natureza do próprio trabalho filosófico. Por exemplo, alguém cujas convicções religiosas exigem que as pessoas sejam consideradas responsáveis por algumas das suas ações não pode consistentemente apoiar a posição do determinismo radical acerca da questão do livre-arbítrio. Embora não seja prático lidar com todas as questões relacionadas ao mesmo tempo, o que eventualmente dissermos a seu propósito ajuda a determinar que respostas à questão do livre-arbítrio e do determinismo podemos aceitar. 70


(Retirado de ThinkingAbout Basic Beliefs (Wadsworth, Belmont, 1983), pp. 43-64.)

“A virtude do bem viver está nos princípios morais, minha filha.” Seu Madruga – seriado Chaves

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