HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA

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APRESENTAÇÃO

Conhecer a formação do pensamento desde suas raízes é de suma importância para compreendermos o alcance que ele possui na fundação das instituições que marcaram presença na História da Humanidade ou que ainda estão presentes e influenciando pensamentos e modus vivendi de indivíduos e grupos sociais. As origens gregas são importantes, pois é berço do pensamento filosófico sistematizado, mas as demais civilizações contribuíram para que o conhecimento não se limitasse ao filosófico e favorecesse o desenvolvimento das demais ciências que são conhecidas desde a época da antiguidade e outras reconhecidas mais recentemente. E isso não pode ser desconsiderado. Com o avanço dos estudos, das reflexões, das leituras, dos vídeos, enfim, da coletânea proposta como instrumentos, teremos condições de perceber o grau de influência de pensamentos ainda hoje, nas ciências naturais, humanas, na matemática e na teologia, por incrível que pareça. Portanto, o Curso de História da Filosofia Antiga irá proporcionar esse olhar para a construção conhecimento através das grandes contribuições de pensadores que marcaram o seu mundo, a sua época. “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.” Sócrates MARCELO WOLLENHAUPT MENNA BARRETO

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Sumário Conteúdo Aula 1 AS REFORMAS POLÍTICAS EM ATENAS ...................................................................................................................... 10 Grécia Antiga ................................................................................................................................................................ 11 ➢

Política .............................................................................................................................................................. 11

Sociedade.......................................................................................................................................................... 11

Economia .......................................................................................................................................................... 12

Religião ............................................................................................................................................................. 12

Sugestão de vídeo: https://youtu.be/DyrWYMOM5JA ............................................................................................. 12 ➢

Cultura .............................................................................................................................................................. 12

Resumo da História ................................................................................................................................................... 13 ⟹Período Homérico (séculos XII - VIII a.C.) ......................................................................................................... 13 ⟹Período Arcaico (séculos VIII - VI a.C.) .............................................................................................................. 13 ⟹Período Clássico (séculos V - IV a.C.) ................................................................................................................ 14 Quais as principais características dafilosofiapré-socrática?............................................................................................................. 14 Vídeo: https://youtu.be/34n8FBzf-fI ................................................................................................................... 15 Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.)................................................................................................................ 16 Vídeo: https://youtu.be/TXLOW5mAjmE .......................................................................................................... 16 Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.).................................................................................................................. 17 Vídeo: https://youtu.be/7CV2Kc8M7rY .............................................................................................................. 17 Vídeo: https://www.youtube.com/538c13c7-7a4c-48d7-ad63-e76bc1d60c9f .................................................. 17 Heráclito de Éfeso *(pertence à Escola Jônica) .................................................................................................... 17 Vídeo: https://youtu.be/W1ZxxZNSKzY ................................................................................................................ 17 Parmênides de Eleia ............................................................................................................................................. 17 Vídeo: https://youtu.be/dVJTZ46zesE ................................................................................................................. 17 Empédocles *(pertence à Escola da Pluralidade) ................................................................................................ 18 Vídeo: https://youtu.be/9mSKaaTtF8s ................................................................................................................ 18 ↘Demócrito e a Teoria Atômica .......................................................................................................................... 18 Vídeo: https://youtu.be/BP0ewOSFK4c ................................................................................................................ 18 Escolas Italianas ........................................................................................................................................................ 18 ↘Pitágoras de Samos........................................................................................................................................... 18 Vídeo: https://youtu.be/dTMNnikuyrc ............................................................................................................... 18 Xenófanes de Colofon .......................................................................................................................................... 20 Vídeo: https://youtu.be/R7y1VDIdwOg.............................................................................................................. 20 3


Xenófanes e a mitologia grega .................................................................................................................................. 21 A Teologia de Xenófanes .......................................................................................................................................... 21 Linha de Pensamento ............................................................................................................................................... 22 Argumentos contra a pluralidade ............................................................................................................................. 23 Argumentos contra o movimento ............................................................................................................................. 23 Vida ........................................................................................................................................................................... 24 Trabalhos .................................................................................................................................................................. 25 Sobre a Natureza .................................................................................................................................................. 25 Os quatro elementos............................................................................................................................................ 26 Amor e revolta ..................................................................................................................................................... 26 A esfera de Empédocles ....................................................................................................................................... 26 Obra .......................................................................................................................................................................... 28 O vazio e o turbilhão de Átomos ........................................................................................................................... 28 Na antiguidade...................................................................................................................................................... 29 Do Renascimento até o presente .......................................................................................................................... 29 Princípios básicos do estoicismo ............................................................................................................................... 32 Características do estoicismo ................................................................................................................................... 33 Filosofia social ........................................................................................................................................................... 34 Princípios filosóficos ................................................................................................................................................. 35 Compreensão dos deuses ..................................................................................................................................... 35 Compreensão da morte ........................................................................................................................................ 36 Compreensão dos desejos .................................................................................................................................... 36 O caminho do conhecimento .................................................................................................................................... 36 Diferença entre epicurismo e hedonismo ................................................................................................................. 36 Os aforismos de Epicuro ........................................................................................................................................... 36 Infância e juventude ............................................................................................................................................. 45 Afastamento da política e primeira viagem .......................................................................................................... 45 Primeira viagem à Sicília ....................................................................................................................................... 46 Fundação da escola e ensino ................................................................................................................................ 46 Velhice e morte ..................................................................................................................................................... 46 Obra .......................................................................................................................................................................... 46 Tradição e autenticidade ...................................................................................................................................... 47 Forma literária ...................................................................................................................................................... 47 Cronologia............................................................................................................................................................. 48 Filosofia .................................................................................................................................................................... 48 Teoria das Ideias ................................................................................................................................................... 48 4


Epistemologia ....................................................................................................................................................... 49 Dialética ................................................................................................................................................................ 49 Ética e justiça ........................................................................................................................................................ 49 Conceitos .............................................................................................................................................................. 49 Legado ...................................................................................................................................................................... 50 Ciência helenística .................................................................................................................................................... 50 AULA 10- As contribuições de Aristóteles à ciência .................................................................................................. 51 AULA 14- Zoroastro ............................................................................................................................................... 59 Doutrinas e crenças .................................................................................................................................................. 60

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AULA 1 - Os mitos gregos Os gregos foram uma civilização que não formaram um grande império, como os macedônios, os romanos ou o Islã, porém influíram decisivamente para a formação da cultura ocidental, para não dizer que foram seus pais. Como foi possível, numa pequena península do mar Mediterrâneo, o surgimento de uma sociedade que desenvolveu o que ainda hoje entendemos por política, filosofia, escultura e teatro, tendo o homem como o centro das interrogações? É possível fornecer algumas respostas a esta indagação, começando pelas primeiras manifestações culturais da cultura helênica, a mitologia. Todas as culturas em geral possuem a sua mitologia. Ela serve como uma explicação coerente para o surgimento do mundo, do homem e dos fenômenos naturais. Ela fornece um sentido, uma explicação, uma razão para a existência humana e sua presença na natureza. Os mitos são arbitrários assim como são as diferentes culturas. Cada mitologia conta a seu modo, com uma história diferente, a origem humana e a sua relação com as entidades divinas. Os gregos também produziram os seus mitos de criação, da origem humana e de explicação dos fenômenos naturais, como o dia e a noite, a presença do sol, da lua e dos oceanos. Porém algo novo surgiria na mitologia helênica. Segundo uma frase que sintetiza o espírito da mitologia grega, os gregos “divinizaram os homens e humanizaram os deuses”. O homem aparece como um ser em constante conflito com os deuses, procurando desafiar o destino e a realidade dada com sua inteligência e astúcia. Da mesma maneira, os deuses gregos são relatados como possuindo sentimentos, vingativos uns com os outros, gananciosos, mas em outras ocasiões realizando grandes banquetes, divertindo-se e embriagando-se. Nos relatos de Hesíodo, as entidades divinas são organizadas em grandes famílias, pelos diversos casamentos que dão origem a várias gerações. Assim, os gregos conceberam os deuses como dotados de sentimentos e características humanas, mas ao mesmo tempo divinas. A mitologia grega é uma grande galeria de entidades diversas. Não é nosso objetivo aqui descrevêla na sua totalidade, mas para ilustrar o que foi dito nos parágrafos anteriores, tomemos dois exemplos da mitologia helênica: o mito de Prometeu e de Ulisses. Conta a lenda grega que a primeira geração mítica criou a raça dos Titãs (Enciclopédia da Mitologia, Vol. II. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 305-320). Estes, na pessoa de Cronos (Saturno), o deus-tempo, destronaram seus antecessores, castrando Urano (Céu), princípio masculino de todas as coisas. Zeus (Júpiter), filho de Cronos, sucede ao pai e elimina toda a antiga estirpe, numa guerra sangrenta que coloca os olímpicos no poder. Pela lógica da seqüência temporal da História, a raça que sucederia aos olímpicos e deveria igualmente combatê-los e destroná-los são os homens. O crime de Prometeu foi ter tentado criar uma raça que superasse os olímpicos, a raça humana. Para forjar o homem, Prometeu arranca o barro do chão e mistura-o com suas próprias lágrimas. Incessantemente trabalhando, com paixão e arte aquela massa informe, obtém feições semelhantes às de um deus. Embevecido com sua obra, Prometeu decidiu esculpir uma multidão de estátuas. O grande gesto foi entregar o fogo aos homens. Conhecendo o segredo do precioso elemento, pouco os difere dos deuses. Estes, temendo o poderio humano, obtido com o domínio do fogo, discutem como tornar os homens novamente submissos e humildes. Júpiter inventa a forma mais rápida de destruir o paraíso dos homens: a mulher, representada por Pandora. Júpiter, antes de enviá-la aos homens, entrega-lhe uma caixa coberta com uma tampa. Nela estão contidas as misérias destinadas a assolar os mortais: reumatismo, gota, dores para enfraquecer o corpo humano, inveja, despeito e vingança para desesperar-lhes a alma. Quando Pandora chega ao mundo, encontra Epimeteu, irmão de Prometeu. Oferece-lhe então a caixa como um presente de Júpiter. Epimeteu, encantado pela bela visão de Pandora, esquece o juramento, feito a seu irmão, de jamais aceitar qualquer presente de Júpiter, e abre a tampa da caixa fatal. Imediatamente saltam de dentro da caixa todas as desgraças do mundo. Entretanto, no fundo do recipiente, permanece um sentimento que poderia estragar a vingança dos deuses: a esperança. Júpiter 6


não quer que os homens esperem mais nada. Sob sua ordem, Pandora fecha a caixa, deixando a esperança calcada no fundo, e o homem perde seu paraíso. Pandora torna-se esposa de Epimeteu e Prometeu é castigado ao acorrentamento no cume do monte Cáucaso, onde, durante o dia, uma águia devora-lhe o fígado, fazendo o criador dos homens contorcer-se em terríveis dores. O órgão regenera-se à noite, para a agonia da manhã seguinte. Foram trinta anos de dor até Prometeu ser libertado por Hércules, o mais forte dos homens. Vídeo : https://youtu.be/TV2gqEN8FrI O mito de Prometeu aparece em várias referências na literatura. Ésquilo (525-456 a.C.) dedicou a Prometeu uma trilogia, seguida de uma sátira. Somente uma destas é conhecida, Prometeu Acorrentado. No diálogo Protágoras, Platão (427?-437? a.C.) celebra Prometeu como deus civilizador, que dá fogo aos homens para que estes possam suprir suas necessidades, sociabilizarem-se e inventarem a linguagem. Prometeu também aparece em As Suplicantes, de Eurípedes (480?-406 a.C.). Alguns escritores cristãos, como Tertuliano e Santo Agostinho, adotaram Prometeu crucificado e revoltado como uma projeção de Cristo, o ‘verdadeiro Prometeu’. Na Renascença, viu-se em Prometeu a imagem da consciência humana, que se levanta contra tudo que é arbitrário. Na comédia mitológica de Pedro Calderón de la Barca (1680-1681), A Estátua de Prometeu, o herói é um estudioso homem de ciências, que, decepcionado por não ter conseguido ensinar seus concidadãos, retira-se à solidão e esculpe uma imagem de Minerva. No Romantismo, Goethe (1749-1832), num fragmento dramático intitulado Prometeu, descreve o herói liberto do medo dos deuses. Sua personagem chega a recusar parecer-se com um deus, e inclusive nega-se a morar com eles, no Olimpo. ⇒De forma geral Prometeu é o símbolo da humanidade tentando libertar-se do jugo divino. O outro mito grego que descreveremos é Ulisses. Suas aventuras foram narradas por Homero (século IX a.C.) na Odisseia. Juntamente com a Ilíada, as epopeias homéricas contêm relatos sobre a transformação da cultura helênica e de expansão das fronteiras, de colonização de terras distantes e de abertura de novas rotas de comércio. Mileto, onde historicamente nasceu o primeiro fragmento filosófico, sendo a maior cidade grega da Ásia Menor, conseguira lançar seus navios na rota do Mar Negro e no Cáucaso, onde abundavam os metais. Em direção ao Ocidente, foi explorado todo o contorno da Grécia. As viagens pelo mar e pelas rotas comerciais forneceram aos poetas da Antiguidade o material para a elaboração do mito de Ulisses. Helena foi raptada por Páris, príncipe troiano, e seu marido, Menelau, requisita todos os guerreiros gregos para lutar a seu lado, entre eles, Ulisses. Esta parte para a guerra, deixando sua esposa, Penélope, e seu filho, Telêmaco. Ulisses traça o plano grandioso que propiciaria aos gregos a conquista de Tróia, num conflito que já durava dez anos. Sob suas ordens, os soldados começam a erigir um grande cavalo talhado em madeira. No interior oco da estátua há lugar para dezenas de homens. O jovem Sínon entrega a obra aos troianos, dizendo-lhes tratar-se de um presente para a deusa Atena. Curiosos, os habitantes de Tróia correm para ver a misteriosa escultura. No intuito de conduzi-la a Príamo, seu rei, derrubam o sólido muro que defende a cidade. Felizes com o suposto fim da guerra e deslumbrados com o presente, os troianos festejam durante toda a noite. Na madrugada, dormem após consumirem muito vinho. Cautelosamente, os gregos saem do interior do cavalo e os soldados que estavam nos navios penetram pela fenda aberta no muro. Atacados de surpresa, os troianos sofrem sua definitiva derrota. Os gregos, após a vitória, esquecem de agradecer aos deuses, que os haviam ajudado na empreitada, e ficam irados. Sob a liderança de Atena, os olímpicos decidem que nenhum guerreiro conseguirá voltar à pátria, e sobre a cabeça de Ulisses, inventor do cavalo fatal, haverá de recair a punição com mais vigor. Assim, o herói torna-se vítima de tempestades noturnas que lhe açoitam a embarcação. Ele reconstrói navios e refaz planos de voltar para à Ítaca, onde estão Penélope e Telêmaco. Seus companheiros pouco a pouco perecem na jornada trágica. Na longa viagem de volta, Ulisses enfrenta os maiores perigos, como tempestades marítimas, sereias sedutoras e fatais, e Ninfas que, em cada ilha para onde o herói é atirado, recebem-no apaixonadamente e tentam mantê-lo prisioneiro. Muitas vezes ele amou estas Ninfas, e teve dificuldade em deixá-las, para continuar o retorno. No entanto, a saudade da 7


família triunfava sempre sobre as paixões do acaso. O herói civilizado, sediado numa terra onde é rei, está ligado vigorosamente ao núcleo familiar. Em uma de suas paradas durante o seu retorno, Ulisses teve de enfrentar na ilha da Sicília o ciclope Polifemo, a criatura de um olho só que devorava os homens. O relato de sua vitória sobre o monstro é um exemplo de utilização da inteligência contra a força bruta: Polifemo está ausente, apascentando os rebanhos. Não voltará tão cedo. Ulisses começa a inspecionar a caverna, para ver se descobre alguma outra saída. Não encontra. Mas, na busca, depara-se com um pedaço de madeira. Pede aos companheiros que agucem a ponta da estaca, endurecendo-a ao fogo. Depois, esconde-a, pensando em usá-la como arma contra o ciclope, tão logo ele voltasse. À noite, Polifemo reconduz os rebanhos para a gruta. Antes de dormir, agarra dois companheiros de Ulisses e devora-os, inteiramente crus. Surdo aos gritos desesperados do herói seus soldados, o monstro mastiga a carne com fome feroz. Refazendo-se da emoção, Ulisses aproxima-se do ciclope. Oferece-lhe uma gamela cheia de vinho tinto. De um só trago, Polifemo esvazia a gamela e pede mais. Ulisses serve-o três vezes. O ciclope, embriagado, pergunta ao prisioneiro qual era seu nome, e o herói responde: "Ninguém". "Ninguém, serás o último a ser comido depois dos teus companheiros. Sim. A todos comerei antes de ti. Será esse o meu presente de hospitalidade." Perplexo ante essa estranha hospitalidade, Ulisses observa o monstro caindo de cansaço e bebedeira, sobre sua imensa cama. Então, aquece a estaca que guardara como arma, e a introduz no único olho de Poliferno. O sangue corre da ferida. A carne arde. O monstro urra de dor. Os rugidos que emite, do fundo do sofrimento, ressoam como um estrondo. E fazem tudo tremer à sua volta. Ulisses e seus companheiros refugiam-se, espavoridos, no fundo da caverna, longe do alcance do ciclope cego e furioso. Atraídos pelos uivos de Polifemo, os outros Ciclopes da ilha acorrem. Perguntam-lhe quem o ferira tão fortemente. "Ninguém", é a resposta. "Ninguém me cega, Ninguém quer me matar". Sem saberem que "Ninguém" era um nome, os Ciclopes vão embora, pensando que tudo aquilo era obra de Júpiter. Ainda assim, pela manhã, cego e cheio de dor, Polifemo senta-se à porta, para deixar saírem os animais, e prepara-se para agarrar os homens, que julga estarem fugindo. Mas Ulisses já havia planejado a fuga: agarrados ao ventre dos carneiros, o herói e seus companheiros enganam novamente Polifemo e recuperam a liberdade. E, sem olhar para trás, correm até a praia, sobem nos navios e abandonam definitivamente a ilha dos sofrimentos e dos monstros (Enciclopédia de Mitologia, vol. II, p. 368). Quando retorna à Ítaca, o herói, que sempre pensa antes de agir, é sugestionado por Minerva a disfarçar-se de velho mendigo, para conhecer melhor a situação de sua mulher e de seu filho. Após vinte anos de agonia e espera, Penélope ainda é jovem e bela, pretendida por dezenas de homens que, certos de sua viuvez, querem esposá-la. Ninguém consegue afastá-los do palácio, onde se instalaram como se fossem donos, maltratando Telêmaco e humilhando Penélope. Mas ela, à custa de muito sacrifício, mantém-se fiel ao esposo ausente. Novamente transformado em velho mendigo, Ulisses entra no palácio real. Os pretendentes de Penélope bebem e gritam incansavelmente. Curva e humilhada no fundo da sala, a infeliz mulher observa a cena terrível sem poder impedi-Ia. Ao verem o falso mendigo na soleira da porta, os homens esbofeteiamno e atiram-lhe vinho por todo o corpo. Horrorizada com tal tratamento, Penélope chama a serva, Euricléia, e pede-lhe que conduza o pobre ancião a seus aposentos. Euricléia vem trazendo uma bacia cheia de água para lavar os pés do estranho, quando enxerga a cicatriz em seu joelho. No mesmo instante reconhece-o: aquele é Ulisses. E aquela marca fora obtida durante a luta que ele e seu pai empreenderam contra um javali, no monte Parnaso, há muitos anos. Comovida, Euricléia beija os pés de seu amo, que lhe pede silêncio. Chega a noite. Com Telêmaco, Ulisses junta todas as armas que consegue encontrar no castelo e prepara-se para o ataque. Penélope - esperando a chegada do esposo, mas ainda sem desconfiar que seja ele o forasteiro andrajoso - entra na sala onde estão os pretendentes e anuncia: esposará aquele que conseguir atirar uma flecha, com o arco de Ulisses, através de doze orifícios abertos nos cabos de doze machados. A arma é trazida. Um a um, os candidatos tentam esticar o arco, mas, embora usando de toda a 8


força, nada conseguem. É então que o mendigo se aproxima. Todos zombam de sua figura grotesca. Desafiam-no. Ele finge grande esforço ao empunhar o pesado arco. Atinge, porém, os doze alvos, e depois, rindo muito, mata um a um dos pretendentes. A velha ama chama Penélope ao quarto e conta-lhe o feliz segredo. A rainha sai correndo pelos salões do palácio e encontra-o sem demora. Baseados no relato homérico, vários escritores, antigos e modernos, criaram sua figura de Ulisses. Sófocles, na tragédia Ajax, Eurípedes, em Hécuba e em O Ciclope, Platão, Píndaro, Sêneca, Cícero, Dante, em A Divina Comédia e, no século XX, James Joyce.Homero sintetizou em Ulisses mais que um comerciante arrojado ou um marinheiro sem destino; no personagem está presente a marca da criatura que luta contra os desígnios dos deuses, tentando manter a supremacia da razão e da consciência humanas. Vídeo: https://youtu.be/zAmbd5xsuTo Essa mitologia, característica do séc. IX a.C.,forneceria os elementos fundadores para que a cultura grega desenvolvesse suas potencialidades máximas, expressadas plenamente a partir do séc. VII a.C., com a invenção das artes, da política e da filosofia, ao mesmo tempo que estas duas últimas romperiam definitivamente os laços do homem com os mitos.

CONTEXTO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA CIVILIZAÇÃO GREGA Enquanto nos grandes vales férteis do rio Nilo fixou-se a civilização egípcia e do rio Tigre e Eufrates a civilização babilônica, nas ilhas banhadas pelo Mediterrâneo oriental, outros povos desenvolveram características civilizatórias originais, como os egeus, que ocuparam a ilha de Creta. Ali encontraram o cobre em abundância e desenvolveram a metalurgia. Como o cobre não pode substituir a pedra, devido à sua baixa dureza, os cretenses iniciaram experiências para endurecê-lo, como fabricar uma liga com outros metais. Descobriram o estanho e saíram à sua procura fora da ilha de Creta, em diversos lugares onde era encontrado. Desta maneira, por volta de 2400 a.C. , tornaram-se os intermediários mais poderosos no tráfico do estanho e de objetos manufaturados de bronze no Mediterrâneo oriental. Daí adivinharia a hegemonia de Creta. Essa civilização construiu cidades importantes como Cnosso e Micenas. Os primeiros gregos foram os aqueus, quando no segundo milênio, vindos do norte, chegaram à península balcânica. Ocuparam e dominaram as colônias cretenses, cuja civilização souberam assimilar, tornando-se experientes marinheiros. Em 1400 a.C., lançaram-se sobre Cnosso e, ao que parece, a destruíram. Abatida pelos aqueus, a civilização cretense terminaria e da qual os gregos conservaram apenas uma vaga recordação, como a lenda de Teseu. Esta época ficou designada como por cretomicênica. Um fato novo ocorreria a partir do século XII a. C, a invasão de outro grupo vindo do norte, os dórios. Eles penetraram a sangue e fogo nas velhas cidades dos aqueus. Sendo guerreiros brutais, não respeitaram nem assimilaram a civilização que encontraram. A mais famosa cidade fundada pelos dórios foi Esparta, criando ali um Estado onde mantiveram com poucas alterações seus costumes tradicionais, como a sobriedade e o espírito bélico. Ante o avanço dos dórios, produziu-se uma dispersão de gregos, de que veio a resultar a fundação de muitas cidades em toda a bacia do Mar Egeu. Desde o século VIII aC até o século VI aC, muitas cidades gregas organizaram expedições destinadas a transportar densos contingentes de povoadores para distantes paragens, com a finalidade de ali fundar colônias. Estas tiveram um rápido desenvolvimento, com base no cultivo de cereais, não cultivados em suas metrópoles, ao mesmo tempo que mantinham vínculos religiosos e econômicos com estas. Deste modo a civilização grega passou a ocupar os territórios, pelos seus nomes atuais, das margens do Mar Negro, da península balcânica, da Ásia menor (hoje Turquia), das ilhas de Chipre e Creta, do sul da Itália e da Sicília (na época da colonização grega, designada de Siracusa). Este conjunto de colônias e metrópoles 9


possibilitou um intenso comércio e o surgimento da moeda como elemento indispensável para as transações. A moeda provocou profundas alterações no regime social. A nobreza, até então possuidora da terra como elemento principal de expressão de riqueza, passa a competir com uma nova classe social, possuidora da riqueza monetária advinda da atividade comercial. Surgem então diversos conflitos e revoluções contra os donos das terras, resultando na diminuição de seus privilégios e em novas constituições políticas, que distribuíram os privilégios à nova classe nascente e ao restante da população. A seguir, examinaremos, dentro deste contexto, como os reformadores agiram em Atenas de forma gradual até a consolidação do regime democrático, fruto da mistura das classes e do sentimento patriótico ocorrido em Atenas durante as Guerras Médicas. AS REFORMAS POLÍTICAS EM ATENAS O surgimento da democracia na Grécia antiga, principalmente em Atenas, foi resultado de um longo processo de reformas políticas de mais de um século. Antes de Péricles, considerado o político que dirigiu o auge do período democrático em Atenas, houveram nomes importantes como Drácon, Sólon, Efialtes e Clístenes. Cada um desses nomes reformou o sistema político ateniense, visando o seu aperfeiçoamento. Sólon decretou a liberdade do indivíduo, limitando o poder paterno, e sobretudo, proibindo a escravidão por dívidas sob todas as formas, inclusive a servidão penal. Os cidadãos foram divididos em quatro classes censitárias ou timocráticas, com seus respectivos direitos e deveres: 1- pentacosiomedinos: os que colhem em suas terras pelo menos 500 medinos de sólido (260 hectolitros) e 500 metretas de líquido (195 hectolitros); devem juntar-se ao exército com um cavalo e têm direito às principais magistraturas, o arcontado e a tesouraria. 2- cavaleiros: os que colhem pelo menos 300; também devem juntar-se ao exército com um cavalo. 3- zeugîtai: responsáveis por uma colheita de no mínimo 200; devem armar-se como hoplitas e podem aspirar a algumas funções subalternas. 4- thêtes: os que não possuem terras ou que não conseguem realizar a produção mínima de 200 medinos; podem fazer parte da Assembléia e dos tribunais, devem prestar o serviço militar como remadores e não possuem acesso às magistraturas. Provalvelmente em 581 aC, os comerciantes e os artesãos foram admitidos nas três primeiras classes: admitiu-se a equivalência entre o medino ou metreta e a dracma, ou seja, a equivalência entre as rendas imobiliárias e mobiliárias. O sistema de Sólon contemplara a classe rica com direitos e obrigações. O censo determinava não uma desigualdade de direitos, mas uma desigualdade de funções. Os thêtes serviam na frota como remadores e, em caso de necessidade, engajam-se no exército como infantes levemente armados. Nada devem ao fisco, já que sua renda não alcança o mínimo tributável. Os zeugitas serviam como hoplitas e pagavam o imposto extraordinário de guerra, a eisphorá. Os cavaleiros prestavam serviço militar na cavalaria e os pentacosiomedinos serviam igualmente como cavaleiros, mas, além disso, estavam sujeitos à onerosa prestação da trierarquia, isto é, a comandar uma nau e também a aparelhá-la, correndo por sua conta os custos da operação. Nesta época vigoraram três grandes partidos, liderados por uma grande família: os Eupátridas da planície eram dirigidos pelos Filaidas; os comerciantes e pescadores do litoral, pelo Alcmeônidas; os pequenos camponeses da montanha, pelos Pisistrátidas. Em 560 a.C. a vitória coube a Pisístrato, exercendo o governo de forma tirana. Ele solucionou definitivamente a questão agrária, distribuindo as terras improdutivas e os domínios confiscados dos nobres. Favoreceu o comércio marítimo, principalmente do trigo. Mandava celebrar festas em honra de Dionisio e representações teatrais. Construiu suntuosos prédios e ministrou educação política ao povo nas sessões da Assembléia e dos tribunais. A obra de Sólon seria concluída pelo sucessor dos Pisistrátidas, o alcmeônida Clístenes. Sua reforma ficou conhecida pela implantação do sistema decimal. Toda Atenas foi dividida em dêmoi, pequenas comarcas com assembléia, magistrados e administração própria. Cada cidadão estava inscrito no registro de um desses dêmoi, e o nome do dêmos que se acrescentava ao seu atestava a qualidade de cidadão. Houveram mais de 100 dêmoi. Todas foram divididas em 10 tribos. Cada uma das três partes de Atenas, a urbe ou Ástu, o litoral ou Parália e o interior ou Mesogéia, foram divididas em 10 seções, e Clístenes 10


destinou, por sorteio, a cada tribo uma seção em cada uma das três partes. Assim cada tribo compunha-se de três séries de dêmoi de três trítias. O sistema decimal foi aplicado às instituições legislativas, judiciárias e ao exército. O povo passou então a organizar-se sempre em 10 grupos. Em 462 a.C., Efialtes lidera uma reforma radical contra o Areópago, colégio cujos membros chamavam-se arcontes, aos quais cabia a guarda da constituição e o julgamento de crimes importantes, como o homicídio premeditado, e a administração do culto dos deuses da cidade. Efialtes retirou os poderes do Areópago e passou-os às assembléias populares e aos tribunais. Por estes atos, foi condenado à morte pela aristocracia. Fonte https://sites.google.com/site/filosofiadodireitoufpr/civilizacao-grega---contexto-historico

Grécia Antiga Grécia Antiga é a época da história grega que se estende do século XX ao século IV a.C.

Mapa da Grécia Antiga ➢ Política Quando falamos em Grécia Antiga não estamos nos referindo a um país unificado. Na verdade eram um conjunto de cidades que compartilhavam a língua, costumes e algumas leis. No entanto, muitas delas eram até inimigas entre si como foi o caso de Atenas e Esparta. De todos as maneiras, no Período Clássico, os gregos procuraram cultivar a beleza e a virtude desenvolvendo as arte da música, pintura, arquitetura, escultura, etc. Dessa maneira, acreditavam que os cidadãos seriam capazes de contribuir para o bem-comum. Estava lançada, assim, a democracia. Leia mais sobre a Democracia Ateniense. ➢ Sociedade Cada polis tinha sua própria organização social. Algumas, como Atenas, admitiam a escravidão, por dívida ou guerras. Por sua vez, Esparta, tinha poucos escravos, mas possuíam os servos estatais, que pertencia ao governo espartano. Ambas cidades tinham uma oligarquia que os governava que também eram os proprietários das terras cultiváveis. Também em Atenas verificamos a figura dos estrangeiros chamados metecos. Só era cidadão quem nascia na cidade e por isso, os estrangeiros não podiam participar das decisões políticas da polis. Entenda mais em: Esparta e Atenas.

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➢ Economia A economia grega se baseava em produtos artesanais, a agricultura e o comércio. Os gregos faziam produtos em coro, metal e tecidos. Estes davam muito trabalho, pois todas as etapas de produção - desde a fiação até o tingimento - eram demoradas. Os cultivos estavam dedicados às vinhas, oliveiras e trigo. A isto somavam-se à criação de animais de pequeno porte. O comércio estava presente e afetava toda sociedade grega. Para realizar as trocas comercais se usava a moeda "dracma". Havia tanto o pequeno comércio do agricultor, que levava sua colheita ao mercado local, quanto o grande comerciante, que possuía barcos que faziam toda rota do Mediterrâneo.

➢ Religião Templo Partenon, dedicado à deusa Atenas, protetora da cidade de mesmo nome A religião da Grécia Antiga era politeísta. Ao receber a influência de vários povos, os gregos foram adotando deuses de outros lugares até constituir o panteão de deuses, ninfas, seres humanos que alcançavam a imortalidade e deuses que perdiam sua condição imortal. As estórias dos deuses serviam de ensinamento moral à sociedade, e também para justificar atos de guerra e de paz. Os deuses também interferiam na vida cotidiana e, praticamente, havia uma deidade para cada função. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/DyrWYMOM5JA ➢ Cultura

Máscaras utilizadas no teatro grego A cultura grega está intimamente ligada à religião. A literatura, a música e o teatro contavam os feitos dos heróis e de sua relação com os deuses que viviam no Olimpo. As peças teatrais eram muito populares e todas as cidades tinham seu palco onde eram encenadas as tragédias e comédias. A música era importante para alegrar banquetes civis e acompanhar atos religiosos. Os principais instrumentos eram a flauta, tambores e harpas. Esta última era utilizada para ajudar os poetas a recitarem suas obras. Igualmente, os esportes faziam parte do cotidiano grego. Por isso, para celebrar a aliança entre as diferentes polis, organizavam-se competições nos tempos de paz. A primeira delas foi realizada em 776 a.C, na cidade de Olímpia e daí seria conhecida como Jogos Olímpicos, ou simplesmente, Olimpíadas. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/PB-xAILAqns

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Resumo da História A história da Grécia Antiga está dividida em quatro períodos: Pré-Homérico (séculos XX - XII a.C.) Homérico (séculos XII - VIII a.C.) Arcaico (séculos VIII - VI a.C.) Clássico (séculos V - IV a.C.) ⟹Período Pré-Homérico (séculos XX - XII a.C.) O primeiro período de formação da Grécia é chamado de A Grécia antiga se formou da miscigenação dos povos Indo-Europeus ou arianos (aqueus, jônios, eólios, dórios). Eles migraram para a região situada no sul da península Balcânica, entre os mares Jônico, Mediterrâneo e Egeu. Acredita-se que por volta de 2000 a.C. chegaram os aqueus, que viviam num regime de comunidade primitiva. Depois de estabelecerem contato com os cretenses, de quem adotaram a escrita, se desenvolveram, construíram palácios e cidades fortificadas. Organizaram-se em vários reinos liderados pela cidade de Micenas. Daí o nome Civilização Aqueia de Micenas. Depois de aniquilarem a civilização cretense, dominaram várias ilhas do Mar Egeu. Destruíram Troia, cidade rival. Porém, no século XII a.C. foi destruída pelos dórios, que impuseram um violento domínio sobre toda a região, arrasaram as cidades da Hélade e provocaram a dispersão da população, o que favoreceu a formação de várias colônias. Este fato é conhecido como a 1ª diáspora grega.

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⟹Período Homérico (séculos XII - VIII a.C.) As invasões dóricas provocaram um retrocesso das relações sociais e comerciais entre os gregos. Em algumas regiões surgiram o genos – comunidade formada por numerosas famílias, descendentes de um mesmo ancestral. Nessas comunidades, os bens eram comuns a todos, o trabalho era coletivo, criavam gado e cultivavam a terra. Tudo era dividido entre eles, que dependiam das ordens do chefe comunitário, chamado Pater, que exercia funções religiosas, administrativas e jurídicas. Com o aumento da população e o desequilíbrio entre a população e o consumo, os genoscomeçaram a desagregar. Muitos começaram a deixar o genos e procurar melhores condições de sobrevivência, iniciando o movimento colonizador por boa parte do Mediterrâneo. Esse movimento que marca a desintegração do sistema gentílico é chamado de 2ª diáspora grega. Esse processo resultou na fundação de diversas colônias, entre elas: Bizâncio, mais tarde Constantinopla, e atual Istambul; Marselha e Nice, hoje na França; Nápoles, Tarento, Síbaris, Crotona e Siracusa, conhecidas em conjunto como Magna Grécia, no sul da atual Itália e na Sicília. ⟹Período Arcaico (séculos VIII - VI a.C.) Exemplo de Polis grega no qual o templo ficava no lugar mais alto da cidade O Período Arcaico se inicia com a decadência da comunidade gentílica. Nesse momento, os aristocratas resolvem 13


se unir criando as frátrias (irmandades formadas por indivíduos de vários genos). Estas se uniram formando tribos. As tribos construíram, em terrenos elevados, as cidades fortificadas chamadas acrópoles. Estavam nascendo as cidades – Estados (pólis) gregas. Atenas e Esparta serviram de modelo para as demais polis grega Esparta era uma cidade aristocrática, fechada às influências estrangeiras e uma cidade agrária. Os espartanos valorizavam a autoridade, a ordem e a disciplina. Tornou-se um Estado militarista e foi uma cidade de escassa realização intelectual. Por sua vez, Atenas dominou durante muito tempo o comércio entre gregos e, em sua evolução política, conheceu várias formas de governo: monarquia, oligarquia, tirania e democracia. Atenas simbolizou o esplendor cultural da Grécia Antiga.

⟹Período Clássico (séculos V - IV a.C.) Fragmento de cerâmica ilustrando as Guerras Médicas O início do Período Clássico foi marcado pelas Guerras Médicas, entre as cidades gregas e os persas, que ameaçavam o comércio e a segurança das pólis. Após as guerras, Atenas tornou-se líder da Confederação de Delos, uma organização composta por várias cidades-Estados. Estas deviam contribuir com navios e dinheiro para manter a resistência naval contra uma possível invasão estrangeira. O período da hegemonia ateniense coincidiu com a prosperidade econômica de Atenas, com o esplendor cultural da Grécia. Nesta época, a filosofia, o teatro, a escultura e a arquitetura atingiram sua maior grandeza. Pretendendo impor também sua hegemonia no mundo grego, Esparta compôs com outras cidades-Estados a Liga do Peloponeso e declarou guerra a Atenas em 431 a.C. Depois de 27 anos de lutas, Atenas foi derrotada. Anos mais tarde, Esparta perdeu a hegemonia para Tebas e durante esse período a Grécia foi conquistada pelos exércitos da Macedônia. O período no qual os gregos estiveram sob o domínio do Império Macedônico, ficou conhecido como período helenístico. Grécia foi governada pelo imperador Felipe II e em seguida por seu filho Alexandre Magno, que conquistou um grande império. A fusão da cultura grega com a ocidental recebeu o nome de Cultura Helenística. Fonte www.todamateria.com.br/grecia-antiga/ AULA 2- A FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA Quais as principais características da filosofia pré-socrática? Vamos falar sobre os primeiros filósofos da história: os pré-socráticos. Tinham esse nome porque antecederam Sócrates, pensador de vanguarda na análise das temáticas humanas. Já sabemos que antes do surgimento da filosofia o homem buscava conhecer o mundo e suas relações através dos mitos. Essa atitude é chamada de cosmogonia (cosmo= mundo + gonia = nascimento), ou seja, a busca por compreender a origem do mundo – mas, nesse caso, de modo mitológico. Naturalmente, os primeiros 14


passos da filosofia foram rumo Ă pergunta “o que ĂŠ esse mundo?â€?, o que significa que o primeiro objeto de estudo filosĂłfico estĂĄ longe de ser inovador, nĂŁo fez nada senĂŁo tentar responder a uma questĂŁo que seus antecessores jĂĄ respondiam. É justamente nessa fase que os pensadores começaram a surgir. O que os prĂŠ-socrĂĄticos buscavam? Os prĂŠ-socrĂĄticos buscavam conhecer a physis, substrato Ăşltimo que permeia todas as coisas. Para eles, a origem do mundo e de tudo mais, nĂŁo sĂł se deu, mas tambĂŠm se dĂĄ em um substrato uno e imutĂĄvel que estĂĄ presente em toda parte. Acreditavam que, mesmo se os objetos se modificassem, a physis continuaria ali Ăşnica e intacta. Os primeiros filĂłsofos ficaram conhecidos como fĂ­sicos, justamente por estudarem a physis, mas essa nĂŁo foi uma busca coletiva đ?‘Şđ?’‚đ?’…đ?’‚ đ?’‘đ?’†đ?’?đ?’”đ?’‚đ?’…đ?’?đ?’“ đ?’‘đ?’“đ?’?đ?’„đ?’–đ?’“đ?’?đ?’– đ?’Šđ?’”đ?’?đ?’?đ?’‚đ?’…đ?’‚đ?’Žđ?’†đ?’?đ?’•đ?’† đ?’†đ?’”đ?’”đ?’‚ đ?’”đ?’–đ?’ƒđ?’”đ?’•âđ?’?đ?’„đ?’Šđ?’‚. ⇓ Principais prĂŠ-socrĂĄticos

Confira, na tabela abaixo, alguns dos prĂŠ-socrĂĄticos e suas caracterĂ­sticas: PrĂŠ-socrĂĄtico Physis

Argumento

Tales de Mileto

Tudo que ĂŠ vivo depende da ĂĄgua para existir.

Ă gua

Anaximandro Ă peiron

Para ele as coisas se originam de muitas formas e o que estĂĄ presente em tudo ĂŠ o “ilimitadoâ€?, ou seja, o apeĂ­ron

AnaxĂ­menes Ar

Para ele o ar dava origem a todas as coisas. As coisas nĂŁo sĂŁo nada senĂŁo ar rarefeito ou mais denso.

HerĂĄclito

Devir

Para ele a Ăşnica coisa que se mantĂŠm no universo ĂŠ o devir e ele ĂŠ que dĂĄ origem a todas as coisas

PitĂĄgoras

NĂşmero

EmpĂŠdocles

Quatro raĂ­zes

DemĂłcrito

Ă tomo

Para ele o número era o único elemento capaz de unir e gerar todas as coisas. Para ele todas as coisas se originavam da fusão ou separação da ågua, terra, ar e do fogo.

Para ele todas as coisas eram formadas de ĂĄtomos de tamanhos e formas variadas que e se uniam e se dividiam para dar forma ĂĄ matĂŠria.

Escola JĂ´nica Tales de Mileto (624--548 a.C.) VĂ­deo: https://youtu.be/34n8FBzf-fI 15


Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à ideia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um retorno a concepções míticas, mas simplesmente a ideia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações no Nilo, e atribuise a Tales a solução de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Tales). Tales viajou por várias regiões, inclusive o Egito, onde, segundo consta, calculou a altura de uma pirâmide a partir da proporção entre sua própria altura e o comprimento de sua sombra. Esse cálculo exprime o que, na geometria, até hoje se conhece como teorema de Tales. Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arché. Para Tales, o arché seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Principais fragmentos: • “...a Água é o princípio de todas as coisas...”. • “... todas as coisas estão cheias de deuses...”. • “... a pedra magnética possui um poder porque move o ferro..." Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerava a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguidores, embora discordassem quanto à “substância primordial” (que constituía a essência do universo), concordavam com ele no que dizia a respeito da existência de um “princípio único" para essa natureza primordial.Entre os principais discípulos de Tales de Mileto merecem destaque: Anaxímenes que dizia ser o "ar" a substância primária; e Anaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua perpétua inter-relação. Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.) Vídeo: https://youtu.be/TXLOW5mAjmE Anaximandro viveu em Mileto no século VI a.C.. Foi discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro achava que nosso mundo seria apenas um entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se dissolveriam em algo que ele chamou de ilimitado ou infinito. Não é fácil explicar o que ele queria dizer com isso, mas parece claro que Anaximandro não estava pensando em uma substância conhecida, tal como Tales concebeu. Talvez quisesse dizer que a substância que gera todas as coisas fosse algo diferente das coisas criadas. Uma vez que todas as coisas criadas são limitadas, aquilo que vem antes ou depois delas teria de ser ilimitado. É evidente que esse elemento básico não poderia ser algo tão comum como a água. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arché não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível. Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente. De acordo com ele para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser. O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. 16


Principais fragmentos: • “... o ilimitado é eterno...” • “... o ilimitado é imortal e indissolúvel...” •

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) Vídeo: https://youtu.be/7CV2Kc8M7rY Vídeo: https://www.youtube.com/538c13c7-7a4c-48d7-ad63-e76bc1d60c9f O terceiro filósofo de Mileto foi Anaxímenes. Ele pensava que a origem de todas as coisas teria de ser o ar ou o vapor. Anaxímenes conhecia, claro, a teoria da água de Tales. Mas de onde vem a água? Anaxímenes acreditava que a água seria ar condensado. Acreditava também que o fogo seria ar rarefeito. De acordo com Anaxímenes, por conseguinte, o ar("pneuma") constituiria a origem da terra, da água e do fogo Os três filósofos milésios acreditavam na existência de uma substância básica única, que seria a origem de todas as coisas. No entanto, isso deixava sem solução o problema da mudança. Como poderia uma substância se transformar repentinamente em outra coisa? A partir de cerca de 500 a.C., quem se interessou por essa questão foi um grupo de filósofos da colônia grega de Eleia, no sul da Itália, por isso conhecidos como eleatas. Heráclito de Éfeso *(pertence à Escola Jônica) Vídeo: https://youtu.be/W1ZxxZNSKzY Um contemporâneo de Parmênides foi Heráclito (c. 540-476 a.C.), que era de Éfeso, na Ásia Menor. Heráclito propunha que a matéria básica do Universo seria o fogo. Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo, seria a característica mais elementar da Natureza. Podemos talvez dizer que Heráclito acreditava mais do que Parmênides naquilo que percebia. "Tudo flui", disse Heráclito. "Tudo está em fluxo e movimento constante, nada permanece". Por conseguinte, “não entramos duas vezes no mesmo rio. Quando entro no rio pela segunda vez, nem eu nem o rio somos os mesmos". Parmênides de Eleia Vídeo: https://youtu.be/dVJTZ46zesE O mais importante dos filósofos eleatas foi Parmênides (c. 530-460 a.C.). “Nada nasce do nada e nada do que existe se transforma em nada”. Com isso quis dizer que “tudo o que existe sempre existiu”. Sobre as transformações que se pode observar na natureza: ”Achava que não seriam mudanças reais”. De acordo com ele, nenhum objeto poderia se transformar em algo diferente do que era. Início do racionalismo Percebia, com os sentidos, que as coisas mudam. Mas sua razão lhe dizia que é logicamente impossível que uma coisa se tornasse diferente e, apesar disso, permanecesse de algum modo a mesma. Quando se viu forçado a escolher entre confiar nos sentidos ou na razão, escolheu a razão. Essa inabalável crença na razão humana recebeu o nome de racionalismo. Um racionalista é alguém que acredita que a razão humana é a fonte primária de nosso conhecimento do mundo. Problema: Parmênides e Heráclito defendiam dois pontos principais diametralmente opostos. Parmênides dizia: • a) nada muda, • b) não se deve confiar em nossas percepções sensoriais. Heráclito, por outro lado, dizia: • a) tudo muda (“todas as coisas fluem”), e • b) podemos confiar em nossas percepções sensoriais. Quem estava certo? Coube ao siciliano Empédocles (c. 490-430 a.C.) indicar a saída do labirinto. Como estudioso da physis, Heráclito acreditava que o fogo era a origem das coisas naturais. Metafísica de Heráclito X Parmênides : Vídeo: https://youtu.be/xSlSmcWE0E4 17


Empédocles *(pertence à Escola da Pluralidade) Vídeo: https://youtu.be/9mSKaaTtF8s Ele achava que os dois estavam certos: • 1. A água não poderia, evidentemente, transformar um peixe em uma borboleta. Com efeito, a água não pode mudar. Água pura irá continuar sendo água pura. Por isso, Parmênides estava certo ao sustentar que “nada muda”. • 2. Mas, ao mesmo tempo, Heráclito também estava certo em achar que devemos confiar em nossos sentidos. Devemos acreditar naquilo o que precisava ser rejeitado era a ideia de uma substância básica única. Nem a água nem o ar sozinhos podem se transformar em uma roseira ou uma borboleta. Não é possível que a fonte da Natureza seja um único “elemento”. Empédocles acreditava que a Natureza consistiria em quatro elementos, ou “raízes”, como os denominou. Essas quatro raízes seriam a terra, o ar, o fogo e a água. A - Como ou por que acontecem as transformações que observamos na natureza? • 1. Todas as coisas seriam misturas de terra, ar, fogo e água, mas em proporções variadas. Assim as diferentes coisas que existem seriam os processos naturais gerados pela aproximação e à separação desses quatro elementos. • 2. Quando uma flor ou um animal morrem, disse Empédocles, os quatro elementos voltam a se separar. Podemos registrar essas mudanças a olho nu. Mas a terra e o ar, o fogo e a água permaneceriam eternos, “intocados” por todos os componentes dos quais fazem parte. Dessa maneira, não é correto dizer que todas as coisas mudam. • 3. Basicamente, nada mudaria. O que ocorre é que os quatro elementos se combinariam e se separariam - para se juntarem de novo, em um ciclo. B - O que faria esses elementos se combinarem de tal modo que fizessem surgir uma nova vida? E o que faria a “mistura”, digamos, de uma flor se dissolver de novo? Empédocles pensava que haveria duas forças diferentes atuando na Natureza. Ele as chamou de amor e discórdia. Amor uniria as coisas, a discórdia as separaria. Curiosamente, os quatro elementos correspondem, um a um, aos quatro estados da natureza: terra (sólido), água (líquido), ar (gasoso) e fogo (plasma). ↘Demócrito e a Teoria Atômica Vídeo: https://youtu.be/BP0ewOSFK4c Para Demócrito, as transformações que se podem observar na natureza não significavam que algo realmente se transformava. Ele acreditava que todas as coisas eram formadas por uma infinidade de "pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna, imutável e indivisível". A estas unidades mínimas deu o nome de ÁTOMOS. Átomo significa indivisível, cada coisa que existe é formada por uma infinidade dessas unidades indivisíveis. "Isto porque se os átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser divididas em unidades ainda menores, a natureza acabaria por diluir-se totalmente". Exemplo: se um corpo – de uma árvore ou animal, morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar origem a outros corpos.

Escolas Italianas ↘Pitágoras de Samos Vídeo: https://youtu.be/dTMNnikuyrc Representada pelo mestre de Pitágoras, Temistocléia e seus seguidores: Teano, Damo, Arquitas de Tarento, Arignote, Equécrates, Melissa, Myia, Fíntis de Esparta, Filolau de Crotona. A maioria dos discípulos desenvolvia conhecimentos em matemática. 18


Defendia uma doutrina com ênfase na metafísica e na filosofia dos números e da música como essência de tudo que existe e também da própria Divindade. O ponto central da doutrina religiosa é a crença na transmigração das almas ou metempsicose. Pitágoras, o fundador da Escola Pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação metafísico-científico-éticopolítica, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras queria -- e conseguiu -- fazer com que a educação ética da escola ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C. Um dos principais herdeiros foi o filósofo grego Platão. ↘Filolau de Crotona (em grego antigo: Φιλόλαος; século V a.C.) foi um filósofo pré-socrático pitagórico.[6] Vídeo: https://youtu.be/huJ1O9OzUDg Tradicionalmente se aceita que este filósofo tenha escrito um livro em que expunha a doutrina pitagórica (que era secreta e reservada apenas aos discípulos). Os fragmentos do livro conservam os mais antigos relatos sobre o pitagorismo e influenciaram fortemente Platão que, segundo a tradição, teria mandado comprar o referido livro, pagando por ele uma razoável quantia. [7] Pelo que se sabe, Filolau foi o primeiro pensador a atribuir movimento à Terra. Ele propôs um sistema no qual a Terra girava em torno de um fogo central, que não era o Sol e que não podia ser visto porque ficava sempre do lado oposto ao lado habitado da Terra. O fogo era considerado pelos pitagóricos o elemento mais puro. Entre o fogo central e a Terra existia um outro planeta, invisível, que Filolau chamou de antiterra. Os oito corpos celestes (Sol, Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Júpiter, Saturno) e a antiterra como décimo corpo celeste se movia em órbitas circulares em torno do fogo central. [8] A visão comum de que os pitagóricos afirmavam a importância da matemática no conhecimento [9] está presente no fragmento de Filolau: E todas as coisas que podemos conhecer contêm número, pois sem ele nada pode ser concebido nem conhecido[10] Filósofo pré-socrático e matemático grego, autor e professor da cidade de Tarento, nascido em Crotona, cidade da Magna Grécia, colônia grega na hoje Jônia italiana, o principal centro de estudo e divulgação do pensamento pitagórico, hoje na Itália, um dos primeiros pitagóricos, discípulo de Lísis e o primeiro a sistematizar a doutrina pitagórica, expondo-a no livro chamado Escritos Pitagóricos, segundo o historiador Diógenes Laércio (~ 240-310). Discípulo de sobreviventes da escola pitagórica, após o massacre destes pelos seguidores de Sibaris. Muito pobre, escreveu sob permissão dos seus professores, para vender, a primeira obra do pitagorismo, o que aparentemente foi a fonte do conhecimento da ordem pitagórica que, através de Platão (comprador do livro), temos conhecimento. Os fragmentos do livro Escritos Pitagóricos, que chegaram até nossos dias como citação ou comentário, doxografia, na obra de outros autores, constituem o mais antigo testemunho sobre os ensinamentos pitagóricos. Segundo sua filosofia o número, e por conseguinte a harmonia, é o que permite conhecer tudo que há de limitado na natureza, é o que possui realidade mais verdadeira, isenta de engano ou falsidade. Foi professor em Tarento do também famoso matemático grego, Arquitas de Tarento (428-365 a. C.) e de Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) . Outro seu livro conhecido foi Astronomia (430 a. C.) e muito provavelmente morreu também em sua terra natal. AULA 3- Escola Eleática Representada principalmente por: • Alcmeão de Crotona Filho de Peiritoos, é um dos principais discípulos de Pitágoras. Foi jovem quando seu mestre já era avançado em anos. Seu interesse principal dirigia-se á Medicina, de que resultou a sua doutrina sobre o problema dos sentidos e da percepção. Alcmeão disse que só os deuses tem um conhecimento certo, aos homens só presumir é permitido. • Vídeo: https://youtu.be/T1Ogy67llHU 19


Parmênides de Eleia O acme de sua existência foi por volta de 500 a.C. Foi ele o primeiro a demonstrar a esfericidade da Terra e sua posição no centro do mundo. Segundo ele, existem dois elementos: o fogo e a terra. O primeiro elemento é criador, o segundo é matéria. Os homens nasceram da terra. Trazem em si o calor e o frio, que entram na composição de todas as coisas. O espírito e a alma são para ele uma única e a mesma coisa. Ha dois tipos de filosofia, uma se refere a verdade e a outra a opinião. •

Xenófanes de Cólofon (em grego antigo: Ξενοφάνης ὁ Κολοφώνιος; ca. 570 a.C. — 475 a.C.) foi um filósofo grego, nascido na cidade de Cólofon, na Jónia(atual costa ocidental da Turquia). Cedo deixou sua cidade para levar vida errante na qualidade de rapsodo. Acredita-se que tenha passado algum tempo na Sicília e também em Eleia. Segundo a tradição, Xenófanes teria sido mestre de Parmênides de Eleia. Escreveu unicamente em versos em oposição aos filósofos jônios como Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto.

Xenófanes de Colofon Vídeo: https://youtu.be/R7y1VDIdwOg Originário da Jônia, viveu no sul da Itália. Precursor do pensamento dos Eleatas. Para ele a Physis era a terra. Escreveu em estilo poético. Defendeu a ideia de um Deus único. Tinha influência Pitagórica. Século IV a. C) atribui-se a ele a fundação da escola de Eleia. Levou vida errante, passando parte dela na Sicília, tendo fugido de sua terra natal por causa da invasão dos medas. Alguns duvidam de sua ligação com Eleia. Em seus fragmentos defendeu um deus único, supremo, que não tinha a forma de homem. Realçou isso afirmando que os homens atribuem aos deuses características semelhantes a eles mesmos, que mudam de acordo com o povo. Se os animais tivessem mãos para realizarem obras, colocariam nos deuses suas características. Restaram de suas obras alguns fragmentos, sendo que uns satíricos. Foi contra a grande influência de Hesíodo e Homero (historiador e escritor gregos). Zombou dos atletas, preferindo a sua sabedoria aos feitos atléticos, que não enchiam celeiros. O deus segundo Xenófanes está implantado em todas as coisas, o todo é um, e é supra-sensível, imutável, sem começo, meio ou fim. Teve como discípulo Parmênides. Segundo Hegel os gregos tinham apenas o mundo sensível diante de si, e não encontravam satisfação nisso. Assim jogavam tudo fora como sendo não verdadeiro, e chegavam ao pensamento puro. O infinito, Deus, é um só, pois se fosse dois haveria a finitude. Hegel identifica a dialética* em Xenófanes, uma consciência da essência, pura, e outra de opinião, uma sobrepondo a outra, indo contra a mitologia grega. É a primeira pessoa conhecida a utilizar a observação de fósseis como evidência para a teoria da história da Terra. Ele verificou a existência de fósseis de peixes e conchas em localidades distantes da costa marinha, chegando a conclusão que tais locais em outras épocas estavam embaixo da água [1] e foram fundo de mares [2] Da sua obra restaram uma centena de versos. A sua concepção filosófica destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem. As suas críticas à religião não tinham como objectivo um ataque pleno à dita mas, "dar ao divino uma pura e elevada ideia: o verdadeiro deus é único, com poder absoluto, clarividência perfeita, justiça infalível, majestada imóvel; que em pouco se assemelha aos deuses homéricos sempre a deambular pelo mundo sob o império das paixões", ou seja: só existe um deus único, em nada semelhante aos homens, que é eterno, não-gerado, imóvel e puro. Filósofo, poeta, sábio e pensador religioso. Fundador da escola de Eleia. Adversário do antropomorfismo dos poetas, dedicou-se a demonstrar a unidade e a perfeição de Deus. Sua doutrina é um panteísmo idealista que vê uma unidade em toda a matéria. 20


Xenófanes foi provavelmente exilado da Grécia pelos persas que conquistaram Colofão por volta de 546 a.C.. Depois de viver algum tempo na Sicília e de levar uma vida errante através do Mediterrâneo, ele se estabeleceu em Eleia, no sul da Itália. Como poeta nômade, tornou-se através de suas viagens um homem muito instruído, que sabia interrogar e narrar. A aceitar a veracidade de seus versos, Xenófanes viveu noventa e dois anos, como ele mesmo transcreve nesse trecho: “Já sessenta e sete anos se passaram; Fazendo vagar meu pensamento pela terra da Hélade; De meu nascimento até então vinte e cinco a mais; Se é que eu sei falar com verdade sobre isso.” Xenófanes e a mitologia grega Expressando-se quase sempre através de poemas, os quais recitava ao longo de suas andanças, Xenófanes mostrava seu desprezo pelos deuses-antropomorfos que eram adorados em sua época e pela aceitação popular da mitologia de Homero e de Hesíodo. “Tudo aos deuses atribuíram Homero e Hesíodo, Tudo quanto entre os homens merece repulsa e censura, Roubo, adultério e fraude mútua." Xenófanes atacava a imoralidade dos deuses e deusas da mitologia grega, ridicularizava a crença na transmigração da alma e condenava a luxúria. Defendia a sabedoria e os prazeres sociais sem excesso. “É de louvar-se o homem que, bebendo, revela atos nobres Como a memória que tem e o desejo de virtude. Sem nada falar de Titãs, nem de Gigantes, Nem de Centauros, ficções criadas pelos antigos. Ou de lutas civis violentas, nas quais nada há de útil. Ter sempre veneração pelos deuses, isto é bom.” A Teologia de Xenófanes Xenófanes é considerado pela maioria como sendo mais um reformador religioso do que um filósofo. Diferentemente de Anaximandro, que criou o conceito do apeiron (ilimitado, indefinido), mas buscava na natureza intrínseca da matéria a causa para todas as transformações, Xenófanes dizia que o ser absoluto, essência de todas as coisas, era o Um. E de acordo com Teofrasto, uma das fórmulas contidas nos ensinamentos de Xenófanes era: “Tudo é o Um e o Um é Deus”. Aristóteles em seu livro Metafísica, nos relata: “Pois Parmênides parece referir-se ao Um segundo o conceito, e Melisso ao Um segundo a matéria. Por isso aquele diz que o Um é limitado, e este, que é ilimitado. Xenófanes, o primeiro a postular a unidade, nada esclareceu, nem parece que vislumbrou nenhuma dessas duas naturezas, mas, dirigindo o olhar a todo o céu, diz que o Um é o Deus.” Consequentemente, o conceito Deus é então criado por Xenófanes como sendo um ser mais alto, com uma identidade abstrata, e não possui nenhum atributo conhecido pelos homens, e tão pouco é semelhante a estes - nem quanto à figura, nem quanto ao espírito. A respeito disso, Clemente de Alexandria, em sua obra Tapeçarias, reproduz essa estrofe também atribuída a Xenófanes: “Mas se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões E pudessem com as mãos desenhar e criar obras como os homens, Os cavalos semelhantes aos cavalos, os bois semelhantes aos bois, Desenhariam as formas dos deuses e os corpos fariam Tais quais eles próprios têm.” •

Zenão de Eleia, (em grego antigo: Ζήνων ὁ Ἐλεάτης; cerca de 490/485 a.C.?--430 a.C.?)[1] foi um filósofo pré-socrático da escola eleática que nasceu em Eleia, hoje Vélia, Itália. Discípulo 21


de Parmênides de Eleia, defendeu de modo apaixonado a filosofia do mestre. Seu método consistia na elaboração de paradoxos.[2] Deste modo, não pretendia refutar diretamente as teses que combatia mas sim mostrar os absurdos daquelas teses (e, portanto, sua falsidade). Acredita-se que Zenão tenha criado cerca de quarenta destes paradoxos, todos contra a multiplicidade, a divisibilidade e o movimento (que nada mais são que ilusões, segundo a escola eleática). A citação padronizada usa DK29[3] para Zenão. Vídeo: https://youtu.be/ZDvH8hGhvBk Ao contrário de Heráclito de Éfeso, Zenão exerceu atividade política. Consta que teria participado de uma conspiração contra o tirano local, sendo preso e torturado até a morte. Considerado por Aristóteles como o criador da dialética. Filho de Teletágoras, Zenão foi adotado por Parmênides na Escola de Eleia. Tornou-se um professor muito respeitado em sua cidade, e devido a isso, envolveu-se bastante com a política local. Juntamente com outros companheiros e conspiradores, Zenão tentou derrubar o tirano que governava a cidade. Foi preso e torturado até à morte. A partir de sua morte, tornou-se um herói, deixando uma marca na lembrança de seus compatriotas contemporâneos. Muitas lendas surgiram sobre as circunstâncias em que verdadeiramente tudo aconteceu. Uma dessas versões nos conta que, Zenão ao ser torturado impiedosamente pelo tirano, em praça pública, e querendo este arrancar-lhe a todo custo a confissão dos nomes de seus companheiros conspiradores, Zenão primeiro delatou todos os amigos do tirano como sendo participantes ativos da rebelião e posteriormente, insultou o próprio tirano, frente a frente, como sendo a peste do Estado. Diz-se que Zenão, já todo ensanguentado, postou-se como se quisesse dizer ainda alguma coisa aos ouvidos do tirano, mordendo-lhe, no entanto, a orelha e cerrando tão firmemente os dentes, que para soltar teve que ser trucidado pelos soldados, que o mataram ali naquele instante. Tal história de bravura e coragem espalhou-se posteriormente entre os cidadãos de Eleia, que, por fim, reagiram contra a tirania erguendo-se contra o seu governante, e ganharam a liberdade. Outros narram que, ao invés da orelha, Zenão teria ferrado seus dentes contra o nariz do tirano. E outros dizem ainda que, após enormes torturas, Zenão cortou sua própria língua com os dentes e a cuspiu no rosto do tirano, para lhe mostrar que jamais delataria nenhum de seus companheiros. Linha de Pensamento No pensamento de Zenão, as seguintes características são por ele atribuídas a deus: • O primeiro atributo deduzido pelo filósofo para compor o conceito Deus é a eternidade. Assim, Zenão nos diz: “É impossível que algo surja; pois teria que surgir ou do igual ou do desigual. Ambas as coisas são, porém, impossíveis; pois não se pode atribuir, ao igual, que dele se produza mais do que deve ser produzido, já que os iguais devem ter entre si as mesmas determinações. Tampouco pode surgir o desigual do desigual; pois se do mais fraco se originasse o mais forte, ou do menor o maior, ou do pior o melhor, ou se, inversamente, o pior viesse do melhor, originar-se-ia o Não-Ser do Ser, o que é impossível; portanto, deus é Eterno.” • O segundo atributo que Zenão atribui à divindade é a Unidade, como pode ser visto nesse argumento: “Se Deus é o mais poderoso de tudo, então lhe é próprio que seja Um; pois, na medida em que dele houvesse dois ou ainda mais, ele não teria poder sobre eles; mas enquanto lhe faltasse o poder sobre os outros não seria Deus. Se, portanto, houvesse mais deuses, eles seriam mais poderosos e mais fracos um em face do outro; não seriam, por conseguinte, deuses; pois faz parte da natureza de Deus não ter acima de si nada mais poderosos; pois o igual não é nem pior nem melhor que o igual – ou não se distingue dele. Se, portanto, Deus é e se ele é de tal natureza, então só há um deus; não seria capaz de tudo o que quisesse, se houvesse mais deuses.” • Quanto à figura, Zenão propõe que Deus tem a forma de uma esfera – “Sendo Um, é em toda parte igual, ouve, vê e possui também, em toda a parte, os outros sentimentos, pois, não fosse assim, as 22


partes de Deus dominariam uma sobre a outra, o que é impossível. Como Deus é em toda parte igual, possui ele a forma esférica; pois não é aqui assim, em outra parte de outro modo, mas em toda parte igual.” Por fim, Zenão conclui que deus não é nem limitado nem ilimitado, nem móvel nem imóvel. Visto que o ilimitado e o imóvel são características do Não-Ser; e, que o limitado e o móvel são características do Múltiplo, Zenão afirma: “O Um, portanto, não está nem em repouso nem se movimenta; pois não se parece nem com o Não-Ser nem com o Múltiplo. Em tudo isso, deus se comporta assim; pois ele é eterno e uno; idêntico a si mesmo e esférico, nem ilimitado nem limitado, nem em repouso nem em movimento.”

Argumentos contra a pluralidade Seguindo o pensamento de seu mestre Parmênides, que afirmava a unidade do Ser, Zenão concebeu contra a pluralidade os seguintes argumentos ou paradoxos: 1. ”Se a pluralidade existe, as coisas serão ao mesmo tempo limitadas e infinitas em número.” – De fato, se há mais de uma coisa, vemos que entre a primeira e a segunda existe, então, uma terceira. Assim, entre a primeira e a terceira, existirá uma quarta; e assim, ao infinito. 2. ”Se a pluralidade existe, as coisas, ao mesmo tempo, serão infinitas em tamanho e não terão tamanho algum.” – Igualmente aqui, se duas coisas possuem cada qual sua espessura, e entre essas duas espessura há uma terceira espessura, há que se concluir que entre a primeira espessura e essa terceira espessura, haverá também uma quarta espessura; e assim, ao infinito. Argumentos contra o movimento No pensamento dos eleatas, o movimento, tal como as mudanças e as transformações físicas, nada mais eram do que ilusões provocadas pelos nossos sentidos. Para propor que o movimento não existe, Zenão concebeu os seguintes argumentos ou paradoxos, que até hoje são objeto de muita discussão entre filósofos e cientistas. 1. Paradoxo da dicotomia – Imagine um móvel que está no ponto A e quer atingir o ponto B. Este movimento é impossível, pois antes de atingir o ponto B, o móvel tem que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas para atingir C, terá que primeiro atingir o meio do caminho entre A e C, isto é, um ponto D. E assim, ao infinito. 2. Paradoxo de Aquiles – Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância; e quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito. 3. Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo a flecha em voo está em repouso. 4. Paradoxo do estádio - Assim como a flecha, argumenta que é impossível que a subdivisibilidade do tempo e do espaço termine em indivisíveis. É o mais discutido e com a descrição mais difícil. •

Melisso de Samos (em grego antigo: Μέλισσος ὁ Σάμιος) foi um militar, político, filósofo e poeta grego. Vídeo: https://youtu.be/zZkJPhcIWoY Ele nasceu na ilha de Samos, Mar Egeu, em c.470 a.C..[1] Melisso foi um filósofo da Escola eleática, sendo, provavelmente, discípulo de Parmênides.[1] 23


Provavelmente o filósofo é o mesmo Melisso que Plutarco menciona como comandante da frota de Samos, que derrotou os atenienses em 442 a.C..[1] Um estadista e comandante naval sâmio que também contribuiu com a filosofia, e produziu influência no atomismo de Leucipo e Demócrito, tornando-se um dos continuadores da escola eleática, os quais tenderam a conciliações. Inicialmente o militar, desempenhou papel de relevância na política grega, como comandante da esquadra naval que derrotou os atenienses de Péricles (441 a. C.). Praticamente este é a única ação que se sabe de sua vida e como filósofo, que tenha atingido o apogeu de sua existência pelos anos posteriores a esta batalha ( 444-441 a. C). Pela sua obra depreende-se que foi mais um polemista e defensor das idéias de Parmênides de Eleia, portanto antipitagórico, e sobretudo contra Empédocles, não se sabe todavia como teria tomado contato com as doutrinas da escola ocidental. Tratou de ajustar os extremismos do eleaticismo com a filosofia jônica, tornando-se responsável pela sistematização dessa doutrina, além de mudar alguns pontos de vista, e estabeleceu que o ser é infinito, tal como é infinito no tempo, ou seja eterno. Seu principal poema foi Sobre o ser ou Sobre a Natureza, do qual se conservaram até nossos dias dez fragmentos, e morreu em lugar incerto. Simplício se referiu a um seu livro, denominando-o Tratado sobre a física ou do ente.

Empédocles (em grego antigo: Ἐμπεδοκλῆς; Agrigento, 490 a.C. - 430 a.C.), foi um filósofo e pensador pré-socrático grego e cidadão de Agrigento, na Sicília.[1] É conhecido por ser o criador da teoria cosmogênica dos quatro elementos clássicos que influenciou o pensamento ocidental de uma forma ou de outra, até quase meados do século XVIII.

Ele também propôs poderes chamados por ele de "Amor" e "Ódio" que atuariam como forças que tanto podem formar elementos quanto separá-los. Essas especulações físicas faziam parte de uma história do universo que também trata da origem e do desenvolvimento da vida. vídeo: https://youtu.be/9mSKaaTtF8s

Vida O templo de Hera em Agrigento, construído quando Empédocles era jovem, por volta de 470 a.C. • Empédocles nasceu em 490 a.C. em Agrigento (Ácragas) na Sicília, em uma renomada família. Pouco se sabe sobre sua vida. Seu pai Meto parece ter sido importante na derrubada do tirano de Agrigento, presumidamente Trasideu, filho de Terone, em 470 a.C. Empédocles deu seguimento à tradição democrática da sua família, ajudando a derrubar o governo oligarca seguinte. Diz-se que ele foi magnânimo apoiando os pobres ; severo na perseguição dos abusos da aristocracia e até declinou de governar a cidade quando lhe foi oferecido. Sua oratória brilhante , seu conhecimento profundo da natureza e a reputação de seus poderes sobrenaturais, incluindo a cura de doenças e previsão de epidemias produziram vários mitos e histórias em torno de seu nome. Ele era tido como mágico e controlador de tempestades. Ele mesmo, em seu famoso poema Purificações parece ter prometido poderes miraculosos, inclusive a destruição do mal, a cura da velhice e controle sobre a chuva e o vento. Empédocles era ligado por laços de amizade aos médicos 24


de Acron e Pausânias, que eram seus eromenos, a vários pitagóricos e até,há quem diga, a Parmênides e Anaxágoras . O único discípulo de Empédocles mencionado é o sofista e retórico Górgias. Timeu e Dicearco de Messina falaram da viagem de Empédocles ao Peloponeso e da admiração que lhe foi prestada lá.. Outros mencionaram sua estadia em Atenas e na então recém fundada colônia de Túrio, em 446 a.C.. Existem também alguns interessantes relatos de sua viagem ao extremo oriente às terras dos magos. De acordo com Aristóteles, ele morreu com 60 anos (c. 430 a.C.), embora outros escritores o tenham como vivendo até aos cento e nove anos de idade De forma semelhante, há alguns mitos acerca da sua morte: uma tradição, que é atribuída a Heráclides do Ponto, representa-o como tendo sido removido da terra; enquanto outras o têm perecendo nas chamas do Monte Etna. Trabalhos Empédocles é considerado o último filósofo grego a escrever em versos e os fragmentos que restam de suas lições estão em dois poemas: Purificações e Sobre a Natureza. Empédocles estava sem dúvida familiarizado com os poemas didáticos de Xenófanes e Parménides- podem ser encontradas alusões a este último nos fragmentos, - mas ele parece tê-los superado na animação e riqueza de seu estilo, e na clareza das suas descrições e dicção. Aristóteles apelidou-o de pai da retórica, e, embora apenas tenha reconhecido a métrica como ponto de comparação entre os poemas de Empédocles e os épicos de Homero, ele descreveu Empédocles como Homérico e poderoso na sua dicção. Lucrécio fala dele com entusiasmo, e via-o evidentemente como o seu modelo.[25] Os dois poemas juntos compreendem 5000 linhas.[26]Sobreviveram cerca de 550 linhas da sua poesia, embora porque os escritores antigos raramente mencionavam que poema estavam a citar, não é sempre certo a que poema as citações pertencem. Alguns estudiosos acreditam hoje em dia que havia apenas um poema, e que as Purificações formavam meramente o início de Sobre a Natureza. Conhecemos apenas aproximadamente 100 versos da sua Purificações. Parecem terem sido uma visão mítica do mundo, o que, não obstante, foi parte do sistema filosófico de Empédocles, As primeiras linhas do poema foram preservadas por Diógenes Laércio: Amigos, que habitais a grande cidade, junto aos fulvos rochedos de Ácragas, no alto da cidadela, amadores de nobres trabalhos, respeitáveis abrigos para os estrangeiros, homens inexperientes da maldade, eu vos saúdo! Eu, porém, caminho entre vós qual Deus imortal, e não mais como mortal, por todos honrado como me convém, coroado de guirlandas floridas. Desde minha entrada nas florescentes cidades, sou honrado por homens e mulheres; seguem-me aos milhares, a fim de saber qual o caminho da riqueza; uns necessitando oráculos; outros, feridos por atrozes dores, Pedem uma palavra salvadora para as suas múltiplas doenças. [ Era provavelmente este trabalho que continha uma história sobre almas, onde nos é dito que existiram em tempos espíritos que viviam num estado de êxtase, mas tendo cometido um crime (de natureza desconhecida) eles foram punidos ao serem forçados a tornarem-se seres mortais, reencarnados de corpo para corpo. Os Humanos, os animais, e mesmo as plantas são esses espíritos. A conduta moral recomendada no poema pode permitir tornar-nos deuses novamente. Sobre a Natureza Existem aproximadamente 450 versos do seu poema Sobre a Natureza, incluindo 70 que foram reescritos de fragmentos de papiro, conhecidos como Papiro de Estrasburgo. O poema consistia originalmente de 2000 versos hexâmetros e fora feito para Pausânias. Era esse poema que mostrava seu sistema filosófico. Nele, Empédocles explica não apenas a natureza e a história do universo, incluindo sua teoria dos Quatro elementos, mas ele descreve suas teorias da causa, da percepção e do pensamento, assim como também explicações do fenômeno terrestre e processos biológicos. 25


Embora familiarizado com as teorias dos Eleatas e dos Pitagóricos, Empédocles não pertencia a nenhuma escola definida. Sendo ecléctico no seu pensamento, ele combinou muito do que tinha sido sugerido por Parménides, Pitágoras e pelas escolas jônicas. Era um firme crente nos mistérios órficos, bem como um pensador científico e um precursor da ciência física. Aristóteles menciona Empédocles entre os filósofos jônicos, e coloca-o em relação próxima com os filósofos atomistas e com Anaxágoras. Empédocles, tal como os filósofos jônicos e os atomistas, tentou encontrar a base de toda a mudança. Tal como Heráclito, eles não consideraram vir à existência e o movimento como a existência das coisas, e o repouso e a tranquilidade como não-existência. Isto é porque eles tinham derivado dos Eleatas a convicção de que uma existência não poderia passar para a não-existência, e vice-versa. A fim de permitir que a mudança ocorra no mundo, e contra a opinião dos eleatas, eles viram as mudanças como resultado da mistura e separação de substâncias inalteráveis. Assim Empédocles disse que uma vinda à existência de uma não-existência, bem como uma morte e aniquilação completa, são impossíveis; o que chamamos de vir à existência e a morte é apenas a mistura e separação do que estava misturado. Os quatro elementos Foi Empédocles que estabeleceu os quatro elementos essenciais que fazem toda a estrutura do mundo fogo, ar, água e terra. Empédocles chamou estes quatro elementos "raízes" que, de maneira típica, ele também identificou com os nomes místicos de Zeus, Hera, Nestis e Aidoneu. Empédocles nunca usou o termo "elemento" (em grego: στοιχεῖον) (stoicheion), que parece ter sido usado pela primeira vez por Platão. De acordo com as diferentes proporções em que esses quatro elementos indestrutíveis e imutáveis são combinados uns com os outros é produzida a diferença da estrutura. É na agregação e segregação de elementos que assim resulta, que Empédocles, como os atomistas, encontrou o verdadeiro processo que corresponde ao que é popularmente chamado de crescimento, aumento ou diminuição. Nada de novo vem ou pode vir a ser, a única mudança que pode ocorrer é uma mudança na justaposição de elemento com elemento. Essa teoria dos quatro elementos tornou-se o padrão dogma nos dois mil anos seguintes. Amor e revolta Os quatro elementos são, contudo, simples, eternos e imutáveis, e como a mudança é a consequência da sua mistura e separação, foi também necessário supor a existência de poderes em movimento - para trazer a mistura e a separação. Os quatro elementos são colocados eternamente em união, e eternamente separados uns dos outros, por dois poderes divinos, amor e ódio. O Amor (em grego: φιλία) explica a atracção de diferentes formas de matéria, e o Ódio (em grego: νεῖκος) é responsável pela sua separação. Se os elementos são o conteúdo do universo, então o Amor e o Ódio explicam a sua variação e harmonia. O Amor e o Ódio são forças atractivas e repulsivas que o olho comum pode em funcionamento entre o povo, mas que realmente permeiam o universo. Eles imperam alternadamente sobre as coisas, sem contudo algum ser sempre muito ausente. A esfera de Empédocles Como estado original e o melhor, houve um tempo em que os elementos puros e os dois poderes coexistiam numa condição de repouso e imobilidade na forma de uma esfera. Os elementos existiam juntos na sua pureza, sem misturas ou separações, e o poder de união do Amor predominava na esfera: o poder separador da revolta guardava as bordas mais extremas da esfera. Desde essa altura, a revolta ganhou mais balanço e a ligação que mantinha as substâncias elementares puras juntas na esfera foi dissolvida. Os elementos transformaram-se no mundo de fenómenos que assistimos hoje, cheio de contrastes e oposições, operado tanto pelo Amor como pela Revolta. A esfera sendo a personificação da existência pura é a personificação ou representação de deus. Empédocles assumia um universo cíclico onde os elementos regressam e preparam a formação da esfera para o próximo período do universo. 26


Anaxágoras de Clazómenas ou Clazômenas (em grego clássico: Ἀναξαγόρας; transl.: Anaxagoras; ca. 500 a.C. — 428 a.C.), , filósofo grego do período pré-socrático. Nascido em Clazômenas, na Jónia, fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jónia, e lá fundou uma nova escola. Vídeo: https://youtu.be/dNS2SlrU9vU

Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a Natureza ou Da Natureza, em que tentava conciliar a existência do múltiplo frente à crítica de Parmênides e sua escola, conhecida como "Eleatas". Anaxágoras Também foi um dos primeiros a questionar a ideia de divindade do Sol e também da Lua tendo uma visão deles como sendo respectivamente: uma quente pedra vermelha e uma terra. Uma citação interessante é a seguinte: Sócrates estando em julgamento, no momento sendo acusado por Meleto de não crer nos deuses cita Anaxágoras: (Meleto) - Digo isto: que você não acredita nos deuses, absolutamente. (Sócrates) - Que maravilha, Meleto! Como pode dizer isso? que eu, então, ao contrario de toda a humanidade, não acredito que o Sol e a Lua sejam deuses? (Meleto) - Não, por Zeus, ó juízes, porque diz que o sol é uma rocha e que a lua é uma terra! (Sócrates) - Então acusa Anaxágoras, meu caro Meleto, e o coloca como debil? Supõe que sejam tão iletrados que não sabem que os livros de Anaxágoras de Clazômena são cheios de tais afirmações. [4] Anaxágoras propôs, assim como os pluralistas, um princípio que atendesse tanto às exigências teóricas do "ser" imutável, princípio de tudo, quanto à contestação da existência das múltiplas manifestações da realidade. Esse novo princípio, Anaxágoras chamou homeomerias. As homeomerias seriam as sementes que dão origem à realidade em sua pluralidade de manifestações. Afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous (νοῦς), conceito que geralmente é traduzido por inteligência. Segundo o filósofo, o Nous atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias, sementes que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous, que é ilimitado, autônomo e não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Os fragmentos preservados versam sobre: cosmologia, biologia e percepção. Esta noção de causa inteligente, que estabelece uma finalidade na evolução universal, irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles. Influência também exercerá em Leibniz, que aproveitará a ideia de homeomerias. •

Leucipo de Abdera (em grego antigo: Λεύκιππος; primeira metade do século V a.C.) foi um filósofo grego. Tradicionalmente, Leucipo é considerado o mestre de Demócrito de Abdera e, talvez, o verdadeiro criador do atomismo (segundo a tese de Aristóteles), que relatava que uma matéria pode ser dividida até chegar em uma pequena partícula indivisível chamada átomo. Vídeo: https://youtu.be/Kb8FF24LVj0

Sobre suas origens praticamente nada é conhecido, mas o lugar mais provável de seu nascimento é Mileto na Ásia Menor; em seguida mudou-se para Abdera. Parece ter sido contemporâneo de Anaxágoras de Clazômenas e de Sócrates. A tradição lhe atribui a autoria de um único livro intitulado A grande ordem do mundo, também chamada Grande Cosmologia, um texto muito diferente da Pequena Cosmologia de Demócrito. Talvez tenha escrito um segundo livro, que teria se chamado Sobre o espírito, mas este escrito pode ter sido apenas um capítulo da obra anterior. 27


• Demócrito de Abdera (em grego antigo: Δημόκριτος, Dēmokritos, "escolhido do povo"; ca. 460 a.C. — 370 a.C.) nasceu na cidade de Mileto, viajou pela Babilônia, Egito e Atenas, e se estabeleceu em Abdera no final do século V a.C. É tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates, e, além disso, do ponto de vista filosófico, a maior parte de suas obras (segundo a doxografia) tratou da ética e não apenas da physis (cujo estudo caracterizava os pré-socráticos). Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (do grego, "a", negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também o conceito de um universo infinito, onde existem muitos outros mundos como o nosso. Embora amplamente ignorado em Atenas durante sua vida, a obra de Demócrito foi bastante conhecida por Aristóteles, que a comentou extensivamente. É famosa a anedota de que Platão detestava tanto Demócrito que queria que todos os seus livros fossem queimados. [1][2] Há anedotas segundo as quais Demócrito ria e gargalhava de tudo e dizia que o riso torna sábio, [3][4] o que o levou a ser conhecido, durante o renascimento, como "o filósofo que ri". Na Grécia antiga, Protágoras de Abdera teria sido seu discípulo direto [5] e, posteriormente, o principal filósofo influenciado por ele foi Epicuro. No renascimento muitas de suas ideias foram aceitas (por exemplo, Giordano Bruno), e tiveram um papel importante durante o iluminismo. Muitos consideram que Demócrito é "o pai da ciência moderna".[6] Obra A obra de Demócrito sobreviveu apenas na forma de relatos de segunda mão, algumas vezes sendo contraditórios e não confiáveis. Muito desses relatos vêm de Aristoteles, seu principal crítico, mas que reconhecia o valor de sua obra em filosofia natural. Aristóteles escreveu um relato único, cujas passagens foram encontradas em outros relatos. Diógenes listou um grande número de obras de Demócrito em diversas áreas, incluindo ética, física, matemática, música e cosmologia. Duas obras, A Grande Ordem do Mundo e A Ordem do Micromundo são às vezes tidas como de Demócrito. O vazio e o turbilhão de Átomos No Renascimento, Demócrito era conhecido como "o filósofo que ri".

Auto-retrato (1629) de Rembrandt intitulado O Jovem Rembrandt como Demócrito, o Filósofo que Ri. Aristóteles diz que o raciocínio que guiou Demócrito (e Leucipo) para afirmar a existência dos átomos foi o seguinte: [7][8] o movimento pressupõe o vazio no qual a matéria se desloca, mas se a matéria se dividisse em partes sempre menores infinitamente no vazio, ela não teria consistência, nada poderia se formar porque nada poderia surgir da diluição sempre cada vez mais infinitamente profunda da matéria no vazio. Daí concluiu que, para explicar a existência do mundo tal como o 28


conhecemos, a divisão da matéria não pode ser infinita, isto é, que há um limite indivisível, o átomo. "Há apenas átomos e vazio", disse ele. Observando um raio de sol que penetrou numa fresta de um recinto escuro, Demócrito viu partículas de poeira num movimento de turbilhão, levando-o à ideia de que os átomos (os indivisíveis da matéria) se comportariam da mesma maneira, colidindo aleatoriamente, alguns se aglomerando, outros se dispersando, outros ainda nunca se juntando com outro átomo. Para Demócrito, o cosmos (o Universo e tudo o que nele existe) é formado por um turbilhão de infinitos átomos de diversos formatos que jorram ao acaso e se chocam. Com o tempo, alguns se unem por suas características (às vezes, as formas dos átomos coincidentemente se encaixam tão bem como peças de quebra-cabeça) e muitos outros se chocam sem formar nada (porque as formas não se encaixam ou se encaixam fracamente). Dessa maneira, alguns conjuntos de átomos que se aglomeram tomam consistência e formam todas as coisas que conhecemos, que depois se dissolvem no mesmo movimento turbilhonar dos átomos do qual surgiram. A consistência dos aglomerados de átomos que faz com que algo pareça sólido, líquido, gasoso ou anímico ("estado de espírito") seria então determinada pelo formato (figura) e arranjo dos átomos envolvidos. Desse modo, os átomos de aço possuem um formato que se assemelha a ganchos, que os prendem solidamente entre si; os átomos de água são lisos e escorregadios; os átomos de sal, como demonstra o seu gosto, são ásperos e pontudos; os átomos de ar são pequenos e pouco ligados, penetrando todos os outros materiais; e os átomos da alma e do fogo são esféricos e muito delicados. Na antiguidade O epicurismo (cujos representantes principais foram Epicuro e Lucrécio), que teve uma ampla difusão na antiguidade, foi influeciado pelo atomismo de Demócrito, mas com grandes mudanças. A principal diferença foi o abandono da ideia de turbilhão de átomos e a afirmação de que os átomos possuem peso e que, por isso, os átomos percorrem linhas retilíneas paralelas, tal como objetos em queda livre. Ocasionalmente, cada átomo exibe espontaneamente um desvio mínimo da linha reta indeterminado e imprevisível, desvio esse chamado clinamen. Esse desvio mínimo é que explicaria o choque e encontro entre os átomos. Do Renascimento até o presente Visto que, na concepção de Demócrito, o cosmos não é determinado por um poder que estivesse acima dele e o submetesse a algum plano ou finalidade (tal como divindades religiosas ou a causa final que Aristóteles defendia; ver artigo teleologia), mas sim pelo movimento imanente (auto-criador ou emergente) do próprio cosmos, sua ideia de necessidade era intrínseca à de acaso, e a de ordem, intrínseca à de caos. Esse modo de pensar pode ser encontrado amplamente difundido desde o renascimento e permeia toda a filosofia e ciência modernas, desde Giordano Bruno, Galileu Galilei e Espinoza até a física quântica e a cosmologia atual, passando pela teoria da evolução das espécies, mesmo que sua ideia original do átomo tenha se tornado obsoleta desde o século XVIII. O Choroso Heráclito e o Risonho Demócrito, afresco de Donato Bramante (1444–1514), Pinacoteca di Brera, Milão.

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Demócrito foi um escritor prolífico e Diógenes Laércio Dentre estas, destacam-se: • Pequena ordem do mundo; • Da forma; • Do entendimento; • Do bom ânimo; • Preceitos. No entanto, nenhuma obra de Demócrito sobreviveu até os tempos presente. Assim, tudo o que se sabe dele vem de citações e comentários de outros autores. Portanto, de sua imensa obra só restaram fragmentos (que totalizam 300) de suas teorias. A coletânea de fragmentos mais conhecida é a organizada por Hermann Alexander Diels, em sua obra Die Fragmente der Vorsokratiker (Os Fragmentos dos Présocráticos). Sobre a agressividade "Toda belicosidade é insensata; pois enquanto se busca prejudicar o inimigo, esquecemos o nosso próprio interesse." — Fragmento 237 Contra a educação autoritária "Melhor (educador) para a virtude mostrar-se-á aquele que usar o encorajamento e a palavra persuasiva, do que o que se servir da lei e da coerção. Pois quem evita o injusto apenas por temor a lei, provavelmente cometerá o mal em segredo; quem, ao contrario, for levado ao dever pela convicção, provavelmente não cometerá o injusto nem em segredo nem abertamente, Por isto, quem agir corretamente com compreensão e entendimento, mostrar-se-á corajoso e correto de pensamento." — fragmento 181 A felicidade — agir sabendo os limites de nossas forças "Bem mais sensato do que o homem é o animal que, em sua necessidade, sabe quanto necessita. O homem, ao contrario, quanto necessita não o sabe." — Frag. 198 "Os insensatos desejam as coisas ausentes, mas desperdiçam as presentes ainda que mais valiosas que as passadas." — frag. 202 "É preciso que aquele que quer sentir-se bem não faça muitas coisas nem particular nem publicamente, e que aquilo que faz não assuma além de sua força e natureza. Ao contrário, é preciso que, mesmo que a sorte lhe seja hostil e, pela aparência, o leve pouco a pouco ao excesso, tenha cuidado bastante para renunciar e não procurar mais que suas forças permitem, pois uma plenitude razoável é coisa mais segura que uma superplenitude." — Frag. 3 "A moderação aumenta o gozo e acresce o prazer." — Frag. 211 "Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui." — Frag. 231 AULA 4- Estoicismo

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O estoicismo foi uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século III a.C.

Zenão de Cítio(334-262 a.C.), fundador do estoicismo

Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, da relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a crença de que é virtuoso manter uma vontade (chamada prohairesis) que está de acordo com a natureza]. Devido a isso, os estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta. Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza. Mais tarde os estoicos – tais como Sêneca e Epiteto – enfatizaram que, porque "a virtude é suficiente para a felicidade", um sábio era imune ao infortúnio. Essa crença é semelhante ao significado da frase "calma estoica", embora a frase não inclua as visões dos "radicais éticos" estoicos, onde somente um sábio pode ser considerado verdadeiramente livre e que todas as corrupções morais são igualmente perversas. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética, articuladas por princípios comuns. A ética estoica que teve maior influência no desenvolvimento da tradição filosófica e alguns pensam que chegou a influenciar os primórdios do cristianismo Desde a sua fundação, a doutrina estoica era popular com seguidores na Grécia romana e por todo o Império Romano, incluindo o imperador romano Marco Aurélio (r. 121–180), até o fechamento de todas as escolas de filosofia pagã em 529 por ordem do imperador Justiniano(r. 527–565), que os percebeu como em desacordo com a fé cristã. O neoestoicismo foi um movimento filosófico sincrético, juntando-se o estoicismo e o cristianismo, influenciado por Justus Lipsius.

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Crisipo de Solis (c. 279 – c. 206 a.C.)Cópia romana de original helenístico do século III a.C.

O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de Solis, sendo levado a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes da Babilônia. Ali, seus continuadores foram Marco Aurélio, Sêneca, Epiteto e Lucano. O estoicismo foi uma doutrina que sobreviveu todo o período da Grécia Antiga, até o Império Romano, incluindo a época do imperador Marco Aurélio, até que todas as escolas filosóficas foram encerradas em 529 d.C. por ordem do imperador Justiniano, que percepcionou as suas características pagãs, contrárias à fé cristã. A escola estoica preconizava o cultivo da equanimidade frente à dor de ânimo causada pelos males e agruras da vida. Reunia seus discípulos sob pórticos ("stoa", em grego) situados em templos, mercados e ginásios. Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista, além da influência de Sócrates. Princípios básicos do estoicismo A filosofia não visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso seria admitir algo que está além de seu próprio objeto. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o do estatuário é o bronze, a matéria-prima da arte de viver é a própria vida de cada pessoa. —Epiteto

Os estoicos apresentavam uma visão unificada do mundo consistindo de uma lógica formal, uma física não dualista e uma ética naturalista. Dentre estes, eles enfatizavam a ética como o foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de mais interesse para os filósofos posteriores. O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bemestar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza". Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza". 32


A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai". Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz", assim afirmando um desejo individual "completamente autónomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista". O estoicismo tornou-se a filosofia mais popular entre as elites educadas do mundo helenístico e do Império Romano, a ponto de, nas palavras de Gilbert Murray, "quase todos os sucessores de Alexandre [...] declararem-se estoicos."

Características do estoicismo • • • • •

Virtude é o único bem e caminho para a felicidade; Indivíduo deve negar os sentimentos externos; O prazer é um inimigo do homem sábio; Universo governado por uma razão universal natural; Valorização da apatheia (equanimidade);

Por volta de 301 a.C., Zenão de Cítio ensinou filosofia no Pórtico Pintado, lugar a partir do qual o nome da filosofia se originou.[15] Ao contrário de outras escolas de filosofia, como a dos epicuristas, Zenão escolheu ensinar a sua filosofia num espaço público, que era uma colunata com vista para o local central de manifestação da opinião pública, a Ágora de Atenas. As ideias de Zenão desenvolveram-se a partir do cinismo, cujo fundador, Antístenes, foi um discípulo de Sócrates. O seguidor mais influente de Zenão foi Crisipo de Solis, responsável pela moldagem do que actualmente é denominado estoicismo. Estoicos posteriores, da época do Império Romano, focaram o aspecto da promoção de uma vida em harmonia com o universo, sobre o qual não se tem controlo directo. Os acadêmicos dividem, normalmente, a história de estoicismo em três fases: • A primeira (estoicismo antigo) desenvolveu-se no século III a.C., com Zenão de Cítio, Cleanto, Crisipo de Solis e Antíprato de Tarso, se preocupando com a lógica, a física, a metafísicae a moral. • Na segunda (estoicismo médio), o pensamento estoico combinou-se com o espírito romano. Foi representado por Panécio de Rodes (180 - 110 a.C.) e Possidónio (135 - 51 a.C.). • A terceira (estoicismo imperial ou novo estoicismo), com representantes como: Caio Musónio Rufo, Sêneca (nascido no início da era cristã e falecido em 65 d.C., Epicteto (50 - 125 d.C.) e Marco Aurélio (121 - 180 a.C.), que foi imperador romano em 161 As obras de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio propagaram o estoicismo no mundo ocidental. A última época do estoicismo, ou período romano, caracteriza-se pela sua tendência prática e religiosa, fortemente acentuada como se verifica nos "Discursos" e no "Enquirídio" de Epiteto e nos "Pensamentos" ou "Meditações" de Marco Aurélio. A obra de Sêneca, Cartas morais a Lucílio, pode ser vista como um excelente curso de estoicismo. Não sobreviveu, até a actualidade, qualquer obra completa de um filósofo estoico das duas primeiras fases. Apenas textos romanos da última fase nos chegaram completos Os estoicos acreditavam que o conhecimento pode ser atingido por meio do uso da razão. A verdade pode ser distinguida da falácia, embora, na prática, apenas uma aproximação possa ser conseguida. De acordo com os estoicos, os sentidos recebem constantemente sensações: pulsações que passam dos objectos através dos sentidos em direcção à mente, onde deixam uma impressão na imaginação (phantasia). Uma impressão originária da mente era designada de phantasma. A mente tem a capacidade de julgar (sunkatathesis) — aprovar ou rejeitar — uma impressão, permitindo que possa ser feita uma distinção entre uma verdadeira representação da realidade de uma falsa. Algumas 33


impressões podem ter um assentimento imediato, enquanto que outras podem apenas atingir diferentes graus de aprovação hesitante, que podem ser chamadas de crenças ou opiniões (doxa). É apenas através da razão que podemos atingir uma clara compreensão e convicção (katalepsis). A certeza e o conhecimento verdadeiro (episteme), alcançável pelo sábio estoico, podem apenas ser atingidos pela verificação da convicção com a experiência dos pares e pelo julgamento colectivo da humanidade. Produz para ti próprio uma definição ou descrição da coisa que te é apresentada, de modo a veres de maneira distintiva que tipo de coisa é na sua substância, na sua nudez, na sua completa totalidade, e diz a ti próprio se é seu nome apropriado, e os nomes das coisas de que foi composta, e nas quais irá resultar. Pois nada é mais produtivo para a elevação da alma, como ser-se capaz de examinar metódica e verdadeiramente cada objecto que te é apresentado na tua vida, e sempre observar as coisas de modo a ver ao mesmo tempo que universo é este, e que tipo de uso tudo nele realiza, e que valor todas as coisas têm em relação com o todo. —Marco Aurélio Filosofia social Uma característica distintiva do estoicismo é o seu cosmopolitismo: todas as pessoas seriam manifestações do espírito universal único e deveriam, de acordo com os filósofos estoicos, em amor fraternal, ajudaremse uns ao outros de maneira eficaz. Nos Discursos, Epicteto comenta sobre a relação do ser humano com o mundo: "cada ser humano é, primeiro, um cidadão da sua comunidade; mas também é membro da grande cidade dos homens e deuses..." Esse sentimento ecoa o de Diógenes de Sínope, que disse "Eu não sou nem ateniense nem coríntio, mas um cidadão do mundo." Os estoicos da época promoviam a ideia de que as diferenças externas, como status e riqueza, não são importantes nas relações sociais. Em vez disso, advogavam a irmandade da humanidade e a natural igualdade do ser humano. O estoicismo tornou-se a mais influente escola do mundo greco-romano e produziu uma grande quantidade de escritores e personalidades de renome, como Catão, o Jovem e Epiteto. Em particular, os estoicos eram notados pela sua defesa à clemência aos escravos. Sêneca exortava: "Lembra-te, com simpatia, de que aquele a quem chamas de escravo veio da mesma origem, os mesmos céus lhe sorriem, e, em iguais termos, contigo respira, vive e morre." Vídeo: https://youtu.be/WjZHIhYZVsk O sábio é imune aos infortúnios Vídeo: https://youtu.be/_Gupr3Ec504 Da tranqüilidade da alma : Sêneca Vídeo: https://youtu.be/QIpBt2CnTnc AULA 5- Epicurismo O epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Já quando os desejos são exacerbados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade que é manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito, ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV a.C., e seguido depois por outros filósofos, chamados epicuristas. Epicuro também é conhecido como o Filósofo do Jardim, pois "O Jardim" foi como ficou conhecida a escola por ele fundada e que consistia numa comunidade de amigos e seguidores. Lá, escreveu com detalhes a filosofia que iria se tornar conhecida como epicurismo.

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Segundo Epicuro, para ser feliz seria necessário controlar os nossos medos e desejos de maneira que o estado de prazer seja estável e equilibrado, com um consequente estado de tranquilidade e de ausência de perturbação. No Jardim, em Atenas, Epicuro escreveu mais de 300 trabalhos, dos quais nenhum sobreviveu; deles restam apenas notícias de seus discípulos ou alguns fragmentos. Sua filosofia é de cunho materialista, não havendo espaço para a imortalidade. [3] O filósofo acreditava que o maior bem era a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de tranquilidade, chamado de ataraxia, e de libertação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal, conhecida como a aponia; por meio do conhecimento do funcionamento do mundo e da consciência da limitação dos desejos. A combinação desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma mais elevada. A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas bastante prática. Buscava sobretudo encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados. Para isso, fundamentava-se em uma teoria do conhecimento empirista, em uma física atomista e na ética. No mundo mediterrânico antigo, a filosofia epicurista conquistou grande número de seguidores. Foi uma escola de pensamento muito proeminente por um período de sete séculos depois da morte do fundador. Posteriormente, quase relegou-se ao esquecimento devido ao início da Idade Média, período em que se perderam a maioria dos escritos deste filósofo grego. A ideia que Epicuro tinha era a de que, para ser feliz, o homem necessitava de três coisas: liberdade, amizade e tempo para filosofar. Na Grécia Antiga, existia uma cidade na qual, em todas as paredes do mercado, se havia escrito toda a filosofia da felicidade de Epicuro, procurando conscientizar as pessoas de que comprar e possuir bens materiais não as tornariam mais felizes, como elas então acreditavam. O epicurismo foi uma corrente filosófica surgida durante o período da Antiguidade conhecido como helenismo, que se inicia no final do século IV a.C. "Trata-se, portanto, do período iniciado com a formação dos reinos que dividiram entre si o império de Alexandre, o Grande, e que durou até a conquista romana, em 146 a.C., quando a Grécia foi declarada província romana. Segundo alguns historiadores, esse período iria até o advento de Augusto e a definitiva consolidação do Império Romano (aproximadamente 20 a.C.)." [5] Como figura notória deste período, tem-se Alexandre III da Macedônia, que ficou conhecido historicamente como Alexandre, o Grande. Educado por Aristóteles e familiarizado com a cultura grega, Alexandre foi responsável por conquistar a Mesopotâmia, a Pérsia, a Fenícia, a Palestina e o Egito. Uma de suas técnicas de dominação era realizar a manutenção das instituições culturais dos vencidos, o que resultou na fusão dos elementos culturais gregos e orientais; a esta nova cultura chamou-se de helenismo. A conquista do Oriente provocou uma série de alterações políticas e culturais, e as tendências filosóficas do período são a expressão dessas mudanças, como no caso do epicurismo. Princípios filosóficos Epicuro viveu as contradições deste novo mundo. Sua filosofia se opôs à metafísica de Aristóteles, cuja origem ele chama de espiritualismo de Platão, que defendia a ideia de uma dimensão além do sensível, supra-real, ao qual seria o fundamento que constituiria o mundo que vemos, tocamos e participamos. Com uma filosofia Não determinista , Epicuro defende a ideia de que nada está além dos nossos sentidos, e que não existiria nenhuma realidade que não poderia ser entendida com auxílio dos nossos cinco sentidos, princípio denominado "naturalismo radical". Para esclarecer este fundamento, que é compreendido por três tomadas de consciência do indivíduo e funciona como um caminho para a felicidade, divide-se ele em três postulados, segundo o estudioso Juvenal Savian Filho: Compreensão dos deuses Segundo a crença dos gregos, os deuses estariam preocupados com o ser humano, sendo responsáveis pelas suas vitórias ou desgraças, o que acarretaria num medo inerente ao homem, que temeria ser punido a qualquer momento por um de seus atos. Epicuro critica esta ideia e defende que os deuses existem, mas não estão preocupados conosco. Afinal, como afirma em sua metodologia do conhecimento, os juízos que temos dos deuses não se baseiam em prolepses, isto é, em imagens formadas pelas repetições, que 35


produzem veracidade, e nos permitem chegar em conclusões sobre o real. Os deuses, para alguns estudiosos da filosofia de Epicuro, não tomam consciência dos humanos, afinal, na perfeição não poderia caber a imperfeição, sequer por conhecimento. Se os deuses não se encarregam de nosso destino, benção ou maldição, cabe a nós mesmos a responsabilidade. A felicidade ou o sofrimento depende das escolhas de cada um. Compreensão da morte Para acabar com o temor da morte, Epicuro defende a ideia da morte como sendo o nada. A dor e o sofrimento residem nas sensações, na vida como fardo, e se a morte é o total aniquilamento do "viver", o sábio de nada tem a temer. A lógica é que se é a vida e as sensações que causam o sofrimento do indivíduo, a morte existiria para cessar as sensações, ser o nada, a privação total. Portanto, é inadmissível aceitar que ocorreria sofrimento, pois a morte ocasionaria o extermínio das sensações. Compreensão dos desejos É necessário compreender a distinção entre os desejos naturais e desejos inúteis, infundados ou também chamados de frívolos. Para Epicuro, o desejo se origina de uma falta, que pode partir da natureza (desejo natural) ou de uma opinião falsa (desejo frívolo). Os desejos podem ser divididos em: • Desejos naturais e necessários: são os desejos que livram o corpo da dor da fome e da sede; • Desejos naturais e não necessários: são os desejos que surgem da vontade de variar, por exemplo o alimento ou a bebida, para variar também o prazer do corpo; • Desejos não naturais e não necessários: são os que nascem de uma opinião falsa sobre o mundo, incentivados por sentimentos de vaidade, orgulho ou inveja. Epicuro tem uma finalidade concreta: a eliminação das dores e a busca dos prazeres. O sábio deveria desejar os objetos simples e naturais e saber que, por ser imperfeito, sentirá dor, inevitavelmente. O sábio é, portanto, aquele que toma consciência da própria existência e destino, não aceitando o determinismo de nenhum deus. Para ele, o importante na busca é a saúde física e a serenidade interior, ocasionadas pela escolha de quais desejos deverão ser saciados. A felicidade reside, então, na saúde do corpo e da alma, que não pode ser entendida, obviamente, como metafísica, mas parte fundamental da própria existência corpórea. Ser feliz é ter pleno domínio destes prazeres, o que pode ser alcançado com a compreensão da natureza dos deuses, da morte e dos desejos. [ O caminho do conhecimento A teoria do conhecimento epicurista caracteriza-se pela valorização da experiência imediata, ou seja, para Epicuro, todo o conhecimento tem como origem as sensações e impressões dos sentidos e todas as sensações são sempre verdadeiras. Por exemplo: um remo, se visto dentro da água, possui uma imagem retorcida, porém, se visto fora dela, possui aparência reta e plana. Neste caso, qual das sensações estaria correta? Para Epicuro, não há erro, apenas uma precipitação. O remo sempre aparentará ser retorcido, caso visto de dentro da água. Para esclarecer isto, o filósofo utilizado do termo "prolepse", que pode ser entendido como um resquício de percepção anterior, uma espécie de "arquivo de nossa memória." Será a repetição das percepções que irão determinar qual a "verdadeira" forma do remo e construir o conhecimento dentro da ética epicurista.[8] Diferença entre epicurismo e hedonismo Embora o epicurismo seja uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo, já que declara o prazer como o único valor intrínseco, a sua concepção da ausência de dor como o maior prazer e a sua apologia da vida simples tornam-no diferente: o hedonismo, além de levar em conta os prazeres sexuais, incentiva o prazer intensamente, enquanto no epicurismo o prazer possui papel passivo, na ausência de paixões e na eliminação de qualquer fator que cause o sofrimento ou temor, como a morte. Os aforismos de Epicuro No livro Máximas Principais , João Quartim de Moraes, professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas, traduz os principais aforismos que apresentam a ética das ideias de Epicuro. Em síntese, na forma como foram traduzidos pelo estudioso, com um breve comentário: “

Aquele que é plenamente feliz e imortal não tem preocupações, nem perturba os outros; não é

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afetado pela cólera ou pelo favor, já que tudo isso é próprio à fraqueza. Para Epicuro, os deuses existem, mas não se preocupam conosco. Como seres perfeitos de nada necessitam, nem de ninguém. Sentir ódio, raiva e medo é condição própria de seres imperfeitos, não dos deuses, cuja condição divina não permite que careçam de algo além de si mesmos. “

É impossível viver prazerosamente sem viver prudente, bela e justamente, nem viver prudente, bela e justamente sem viver prazerosamente. Aquele que está privado daquilo que permite viver prudente, bela e justamente, não pode viver feliz, mesmo se for correto e justo.

"É preciso ser sábio, não para ter prazer (todos os experimentam), mas para viver prazerosamente". Para Epicuro, a vida prazerosa exige paz de espírito, não sendo somente a totalidade dos prazeres da vida. A principal diferença, portanto, do epicurismo e do hedonismo é que o primeiro considera o prazer do repouso, a experiência psíquica da lembrança também é um prazer; enquanto a segunda considera apenas a experiência prazerosa no momento de sua fruição. “

Nenhum prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos prazeres acarreta sofrimentos bem maiores do que os prazeres.

Nenhum prazer é, por essência, ruim: é o que produzimos com ele que, dependendo do tamanho de seu sofrimento, ditará se realmente valerá ser saciado. O prazer de tomarmos um copo de água quando estamos com muita sede é tão verdadeiro quanto o sofrimento de ser afogado pelas águas do mar. As drogas, por exemplo, usadas sem critério médico, podem produzir um mal muito maior que a euforia ou bem-estar que causam quanto ao prazer imediato que proporcionam. Em síntese, o prazer e o sofrimento resultam da relação do corpo com os objetos circundantes. “

Aqueles desejos naturais que quando permanecem insatisfeitos não provocam padecimento, mas suscitam forte tensão, são produto de uma vã opinião, e quando não se dissipam não é por causa de sua natureza própria, mas da futilidade humana.

"Epicuro considera naturais e necessários os desejos que suprimem o padecimento, por exemplo, de beber quando temos sede, ao passo que por naturais e não necessários ele entende aqueles que apenas diversificam o prazer sem remover o padecimento" (MORAES, 2010, p. 47). A passagem é um escólio de Diógenes Laércio, que esclarece um ponto fundamental do aforismo quanto a diferenciação dos desejos ditos "naturais e necessários" e outros "naturais e não necessários." Por serem desejos naturais, logo, não deveriam nos perturbar. Se isso realizam, são baseados em opiniões vazias, ocas. É comum chamarmos de "futilidade" o vício de seguir esse tipo de opinião. Epicurismo: vídeo: https://youtu.be/ze0xsYI7GGY Hedonismo filosófico O hedonismo é muito confundido com o epicurismo, apesar de eles possuírem divergências claras. O epicurismo surge através de Epicuro, que, levando em conta o hedonismo que o antecede, irá, segundo suas concepções, aperfeiçoá-lo, salientando que o prazer deverá ser regido pela razão, o que resulta em moderação. Antiguidade Aristipo de Cirene (ca. 435-335 a.C.),[2] contemporâneo de Sócrates, é considerado o fundador do hedonismo filosófico. Ele distinguia dois estados da alma humana: o prazer (movimento suave do amor) e a dor (movimento áspero do amor). Segundo ele, o prazer, independentemente da sua origem, tem sempre a mesma qualidade e o único caminho para a felicidade é a busca do prazer e a diminuição da dor. Ele afirma inclusive que o prazer corpóreo é o próprio sentido da vida. Outros defensores do hedonismo clássico foram Teodoro de Cirene e Hegesias de Cirene. 37


É importante notar que o hedonismo cirenaico diferencia-se da filosofia Epicurista, sobretudo no que diz respeito à avaliação moral do prazer. Enquanto a escola cirenaica preceitua que o prazer é sempre um bem em si e que será melhor quanto mais tempo durar e quanto mais intenso for, a filosofia epicurista determina que o prazer, para ser um bem, precisa de moderação (em grego, phronēsis). Hedonismo : vídeo: https://youtu.be/XkJ8Y_dIPW8

AULA 6- Ceticismo O ceticismo filosófico se manifestou na Grécia clássica, aparentemente um de seus primeiros proponentes foi Pirro de Elis (360-275 a.C.) que estudou na Índia e defendia a adoção de um "ceticismo prático". Carneadesdiscutiu o tema de maneira mais minuciosa e contrariando os estoicos, dizia que a certeza no conhecimento, seria impossível. Sexto Empírico (200 a.C.) é tido como a autoridade maior do ceticismo grego. Mesmo atualmente o ceticismo filosófico costuma ser confundido com o ceticismo vulgar e com aquilo que a tradição cética denominou de "dogmatismo negativo". Nada mais está tão em desacordo com o espírito do ceticismo do que a reivindicação de quaisquer certezas, seja as positivas ou as negativas. Ceticismo – vídeo: https://youtu.be/nVemk7-iiXs Cinismo O cinismo (em grego antigo: κυνισμός kynismós, em latim cinicus) foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates e como tal praticada pelos cínicos (em grego antigo: Κυνικοί, latim: Cynici). Para os cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza. O primeiro filósofo a definir o cinismo foi Antístenes, ex-aluno de Sócrates no final do século V a.C. Ele foi seguido por Diógenes de Sinope que levou o cinismo aos seus extremos lógicos e passou a ser visto como o arquétipo de filósofo cínico, sua autarkeia (auto-suficiência) e a apatheia perante as vicissitudes da vida eram os ideais do cinismo. O cinismo se espalhou durante a ascensão do Império Romano no século I quase se tornando um movimento de massa, e assim, os cínicos eram encontrados pedindo e pregando ao longo das cidades do império. A doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmam que o cristianismo primitivo adotou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas. O nome "cínico" (em grego antigo: κυνικός kynikos, igual a um cão, κύων (kyôn)|cão (genitivo: kynos). Uma explicação existente em tempos antigos de porque os cínicos eram chamados de cães era porque o primeiro cínico, Antístenes, ensinava no ginásio Cinosargo, um ginásio e templo para nothoi atenienses. "Nothoi" é um termo que designa aquele que não possui a cidadania ateniense por ter nascido de uma escrava, estrangeira, prostituta, de pais cidadãos mas não legalmente casados, ou ainda, bastardos de mulheres hilotas. A palavra Cynosarges significa ou pode significar ainda "alimento de cão", "cão branco", ou "cão rápido". Parece certo, contudo, que a palavra "cão" também foi lançada aos primeiros cínicos como um insulto por sua rejeição descarada quanto às convenções sociais e sua decisão de viver nas ruas. Diógenes de Sinope, em particular, foi referido como o cão, ao ter afirmado que "os outros cães mordem seus inimigos, eu mordo meus amigos para salvá-los". Mais tarde, os cínicos também buscaram transformar a palavra a seu favor, como um comentarista explicou: Há quatro razões de por que os "cínicos" são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas. A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. 38


Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, como os cães fazem, ladrando contra eles Os cínicos gregos e romanos clássicos consideravam a virtude como a única necessidade para a eudaimonia (felicidade) e viam a virtude como inteiramente suficiente para alcançar a felicidade. Os cínicos clássicos seguiram esta filosofia a ponto de negligenciarem tudo que não promovesse a perfeição da virtude e alcance da felicidade, assim, o título cínicos, deriva da palavra em grego κύων (significando "cão") porque supostamente negligenciavam a sociedade, a higiene, a família, o dinheiro, etc, de uma forma que lembra os cães. Eles procuraram libertar-se de convenções; tornando-se auto-suficientes - possuindo autarquia - e vivendo apenas de acordo com a natureza. Eles rejeitavam todas as noções convencionais de felicidade que envolvessem dinheiro, poder, ou fama a fim de viverem de forma virtuosa e portanto feliz. Os cínicos antigos rejeitavam os valores sociais convencionais e criticavam alguns tipos de comportamentos, como a ganância, que era vista como causadora de sofrimento. Uma maior ênfase sobre este aspecto de seus ensinamentos levou, ao final do século 18 e início do 19,à compreensão moderna de cinismo como "uma atitude de desdém negativo ou cansado, especialmente uma desconfiança geral quanto à integridade ou motivos professos dos outros." Esta definição moderna de cinismo está em contraste marcante com a filosofia antiga, que destacou "a virtude e a liberdade moral na libertação do desejo." Filosofia O cinismo é uma das filosofias mais marcantes de toda a filosofia helenística . O cinismo oferecia às pessoas a possibilidade de felicidade e liberdade do sofrimento em uma época de incertezas. Embora nunca tenha havido uma doutrina cínica oficial, os princípios fundamentais do cinismo podem ser resumidos da seguinte forma: O objetivo da vida é a eudaimonia (felicidade)e clareza ou lucidez (ἁτυφια) - libertação da τύφος (nebulosidade) que significava ignorância, inconsciência, insensatez e presunção. A eudaimonia é alcançada ao se viver de acordo com a Physis (a natureza) como entendida pelo Logos do ser humano. τύφος (a arrogância) é causada por falsos julgamentos de valor, que causam emoções negativas, desejos não naturais e um caráter vicioso. A eudaimonia ou o desenvolvimento humano, dependem de auto-suficiência (αὐτάρκεια), apatheia, arete, filantropia, paresia e indiferença para com as vicissitudes da vida (ἁδιαφορία). Evolui-se através de práticas ascéticas (ἄσκησις) que ajudam o indivíduo a tornar-se livre de influências tais como riqueza, fama ou poder - que não têm valor na natureza. Exemplos incluem Diógenes de Sínope que vivia em um barril e andava descalço no inverno. Um cínico pratica o descaramento ou a desfaçatez (Αναιδεια) e desfigura o nomos da sociedade; as leis, os costumes e convenções sociais que as pessoas aceitam como o correto. A sabedoria maior consistia na ação, não apenas no pensar. Assim, um cínico não tinha bens e rejeitava todos os valores convencionais de dinheiro, fama, poder ou reputação. Viver de acordo com a natureza requer apenas as necessidades básicas para a existência e qualquer um pode tornar-se livre ao libertar-se de todas as necessidades resultadas da convenção.[19]:34 Os cínicos adotaram Héracles como seu herói e epítome do cínico ideal. De acordo com Luciano de Samósata, Cérbero e o cínico certamente estão relacionados através do cão. O modo de vida cínico exigia formação contínua, não apenas no exercício de julgamentos e das impressões mentais, mas também treinamento físico: Ele costumava afirmar que o treinamento era de dois tipos, mental e corporal: o último dizendo que com o exercício constante, as percepções são formadas, tal como assegura a liberdade para as ações virtuosas; e metade deste treinamento é incompleto sem o outro, boa saúde e força estão entre as coisas essenciais, seja para o corpo ou para a alma. E ele apresentava provas irrefutáveis para mostrar facilmente que com a prática de ginástica chega-se até a virtude. Nos trabalhos manuais e outras artes se pode ver que os artesãos desenvolvem habilidade manual extraordinária através da prática. Mais uma vez, o caso dos 39


tocadores de flauta e dos atletas: que habilidade eles adquirem por sua própria labuta incessante; e, se eles tivessem transferido seus esforços para o treinamento da mente, como em seus trabalhos não teriam sido em vão ou ineficaz. Nada disso significava que o cínico se afastava da sociedade. Os cínicos viviam sob o olhar público e eram completamente indiferentes em face de qualquer insulto que possam resultar de seu comportamento pouco convencional. Os cínicos dizem ter inventado a ideia do cosmopolita: quando lhe foi perguntado de onde veio, Diógenes respondeu que era "um cidadão do mundo", (kosmopolitês). O ideal cínico era evangelizar; como o cão de guarda da humanidade, era seu trabalho perseguir as pessoas sobre o erro de suas maneiras.[20] O exemplo de vida do cínico (e o uso da sátira mordaz cínica) expunha as pretensões que se colocam na raiz das convenções cotidianas. Embora o cinismo concentrou-se exclusivamente em ética, a filosofia cínica, teve um grande impacto no mundo helenístico. Em última análise, tornou-se uma importante influência para o estoicismo. O estoico Apolodoro de Selêucia escrevendo no século II a.C., afirmou que o cinismo é o caminho curto para a virtude. Influências Vários filósofos, como os pitagóricos, defenderam a ideia de vida simples nos séculos anteriores aos cínicos. No início do sexto século a.C., Anacársis, um sábio cito exortou o modo de vida simples dos Citas enquanto fez críticas aos costumes gregos a uma maneira que se tornaria o padrão entre os cínicos. Talvez de importância foram contos de filósofos da Índia que eram conhecidos por gregos posteriores como os gimnosofistas, que adotaram um asceticismo rigoroso juntamente com um desrespeito às leis e costumes estabelecidos. Por volta do século 5 a.C., os sofistas tinham começado um processo de questionamento sobre muitos aspectos da sociedade grega, como a religião, a lei e a ética. No entanto, a influência mais imediata para a escola cínica foi de Sócrates. Embora não fosse um asceta, ele professou amor pela Virtude, indiferença para com a riqueza, e um desdém pela opinião geral. O Cinismo foi grande influenciador do estoicismo. A virtude moral - autarquia Ao contrário da acepção moderna e vulgar da palavra para o cinismo, o objetivo essencial da vida era a conquista da virtude moral, que somente seria obtida eliminando-se da vontade de todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. Defendiam um retorno à vida da natureza, errante e instintiva, como a dos cães. Afirmavam que dispunha o homem de tudo que necessitava para viver, independente dos bens materiais. A isto chamavam de autarcia (ou a variante, porém com outra acepção mais difundida, autarquia) condição de auto-suficiência do sábio, a quem basta ser virtuoso para ser feliz. O termo grego original é autárkeia - significando autossuficiência. Além dos cínicos, foi uma proposição também defendida pelos estóicos. Desacreditavam as conquistas da civilização e suas estruturas jurídicas, religiosas e sociais - elas não trariam qualquer benefício ao homem. Sendo autossuficiente, tudo aquilo que naturalmente não é dado ao homem pelo nascimento (como o instinto) não pode servir de base para a conceituação da ética. Este pensamento pode ser encontrado no mito do bom selvagem, de Rousseau. Pensamento Sua filosofia partia do princípio de que a felicidade não depende de nada externo à própria pessoa, ou seja, coisas materiais, reconhecimento alheio e mesmo a preocupação com a saúde, o sofrimento e a morte, nada disso pode trazer a felicidade. Segundo os cínicos, é justamente a libertação de todas essas coisas que pode trazer a felicidade que, uma vez obtida, nunca mais poderia ser perdida. Aliado ao discurso, também o modo de vida do cínico deveria ser conforme as ideias defendidas. Para eles a virtude reside, sobretudo, na conduta moral do homem, naquilo que lhe é intrínseco - e não nas conquistas materiais, na aparência exterior. 40


Os cínicos, assim como Sócrates, nada de escrito deixaram. O que se sabe sobre eles foi narrado por outros, em geral, críticos de suas ideias. O mais importante representante dessa corrente foi um discípulo de Antístenes chamado Diógenes. Ele vivia dentro de um barril e possuía apenas sua túnica, um cajado e um embornal de pão. Conta-se que um dia Alexandre Magno parou em frente ao filósofo e ofereceu-lhe, como uma prova do respeito que nutria por ele, a realização de um desejo, qualquer que fosse, caso tivesse algum. Diógenes respondeu: Desejo apenas que te afastes do meu Sol. Essa resposta ilustra bem o pensamento cínico: Diógenes não desejava nada a mais do que tinha e estava feliz assim (apenas, no momento, gostaria que seu sol fosse desbloqueado). O Sol também pode ser entendido como a Sabedoria ou a fonte do Conhecimento. Platão usou a metáfora do sol em seu mito da caverna, significando a presença do Conhecimento e da Verdade que ilumina. Assim, Diógenes, quando pede para Alexandre Magno não se interpor entre ele e o Sol, aponta para o fato de que o filósofo não necessita de nenhum poder situado entre ele e o Conhecimento. Assim como a preocupação com o próprio sofrimento, a saúde, a morte e o sofrimento dos outros também era algo do qual os cínicos desejavam libertar-se. Por isso que a palavra cinismo adquiriu a conotação que tem hoje em dia, de indiferença e insensibilidade ao sentir e ao sofrer dos outros. Diógenes de Sinope – vídeo: https://youtu.be/0wkBkrP3ZNY

AULA 7- FILÓSOFOS SOCRÁTICOS O ÓCIO Entre os gregos o trabalho era tido como a expressão da miséria humana, portanto, desprezado. Para famosos pensadores como Aristóteles e Platão o trabalho estava ligado com o campo da necessidade, como, por exemplo, alimentar-se e cobrir-se. Tratava-se de uma nítida separação entre o mundo do “labor”, o mundo da “necessidade” e o mundo regido pela “razão”. Assim, a única atividade digna dos homens livres era o “ócio”. Neste sentido, a noção de cidadania grega estava intimamente ligada com o trabalho, ou seja, somente as pessoas que não precisassem trabalhar, ou ocupar-se das atividades ligadas ao campo da necessidade, poderiam de fato se considerar cidadãos plenos e participar da politike, isto é, dos assuntos da pólis. Interessante notar que a palavra ócio, em grego, é skole; de onde deriva a palavra escola em português, que em latim é schola e em castelhano, escuela. Quer dizer, os nomes dados aos lugares destinados à educação significavam ócio para os gregos. Assim, eles consideravam o ócio como algo a ser alcançado e desfrutado. De acordo com estudiosos, a vida de ócio dos gregos só foi possível por causa da escravidão, pois na época havia duas classes de homens: os dedicados à arte, à contemplação ou à guerra; e os que eram obrigados a trabalhar, inclusive em condições precárias: os escravos. Para o filósofo Aristóteles, o ócio era uma condição ou estado – o estado de estar livre da necessidade de trabalhar. Ele fala também da vida ociosa em contraposição à vida de ação, entendendo por ação as atividades dirigidas para obtenção de fins materiais. Não considerava ócio a diversão ou o recreio, porque eram atividades diretamente relacionadas com descanso do trabalho; e a capacidade de viver devidamente o ócio era a base do homem livre e feliz. Para os gregos, o ócio não significava não fazer nada, mas sim dedicar-se às ideias e ao espírito, na contemplação da verdade, do bem e da beleza. VÍDEO: https://youtu.be/IDru5qNfDX0

Sócrates 41


Nascido nas planícies do monte Licabeto, próximo a Atenas, Sócrates vinha de família humilde. Era filho de Sofronisco- motivo pelo qual ele era chamado em sua juventude de Sokrates ios Sōfronískos (Sócrates, o filho de Sofronisco) -, um escultor, especialista em entalhar colunas nos templos, e Fainarete, uma parteira (ambos eram parentes de Aristides, o Justo). Durante sua infância, ajudou seu pai no ofício de escultor. Porém, muitas vezes seus amigos zombavam da sua incapacidade de trabalhar o mármore. Mesmo quando aparecia uma oportunidade de ajudar o seu pai, sempre acabava atrapalhando. Seu destino foi apontado, pelo próprio Oráculo de Delfos, como um grande educador, mas foi somente por influência da sua mãe que ele pôde descobrir sua verdadeira vocação. Sócrates foi casado com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve um filho, Lamprocles.Há relatos de que o casal possivelmente teve mais dois filhos, Sofronisco e Menexeno. Porém, segundo Aristóteles, citado por Diógenes Laércio, Sofronisco e Menexeno eram filhos da segunda esposa de Sócrates, Mirto, filha de Aristides, o Justo. Sátiro e Jerônimo de Rodes, também citados por Diógenes Laércio, dizem que, pela falta de homens em Atenas, foi permitido a um ateniense casado ter filhos com outra mulher, e que Sócrates teria tido Xântipe e Mirto ao mesmo tempo. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando se recusou a tentar fugir para evitar sua execução. Este fato mostra que ele (assim como outros discípulos) não teria entendido a mensagem que Sócrates passa sobre a morte (diálogo Fédon). Sócrates costumava caminhar descalço, não tinha o hábito de tomar banho e amava livros sobre sexologia. Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficava imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve, segundo os escritos de Platão, o que demonstra seu caráter lendário. Cláudio Eliano lista Sócrates como um dos grandes homens que gostavam de brincar com crianças: uma vez, Alcibíades surpreendeu Sócrates brincando com seu filho Lamprocles. Conta-se que um dia Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo “filosofou”: Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá! Sócrates concluiu então que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego). Assim, logo sua vocação falou mais alto e ele partiu para aprender filosofia, onde foi discípulo dos filósofos Anaxágoras e Arquelau. Seu talento logo chamou a atenção. Tanto que foi chamado pela Pítia (sacerdotisa do templo de Apolo, em Delfos, Antiga Grécia) de o mais sábio de todos os homens! O seu pensamento desenvolveu-se de 3 grandes ideias: a) a crítica aos sofistas; b) a arte de perguntar; c) a consciência do Homem. Método Socrático O método socrático consiste em uma técnica de investigação filosófica, que faz uso de perguntas simples e quase ingênuas que têm por objetivo, em primeiro lugar, revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em valores e preconceitos da sociedade, e auxiliá-lo assim a redefinir tais valores, aprendendo a pensar por si mesmo. 42


Ideias Filosóficas As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas ideias filosóficas. Consequentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores. Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo "conhece-te a ti mesmo". Sócrates também duvidava da ideia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada para as pessoas. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates frequentemente dizia que suas ideias não eram próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas . Amor Em O Banquete, de Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As idéias de Diotima estão na origem do conceito socráticoplatônico do amor. Também em O Banquete, no discurso de Alcibíades se descreve o amor entre Sócrates e Alcibíades. Conhecimento Sócrates dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância. Segundo ele, a verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão (daí a célebre frase "Só sei que nada sei"!). Ele acreditava que os erros são consequência da ignorância humana. Nunca proclamou ser sábio. A intenção de Sócrates era levar as pessoas a conhecerem seus desconhecimentos ("Conhece-te a ti mesmo"). Através da problematização de conceitos conhecidos, daquilo que se conhece, percebe-se os dogmas e preconceitos existentes. Busto de Sócrates no Museu do Vaticano. Virtude O estudo da virtude se inicia com Sócrates, para quem a virtude é o fim da atividade humana e se identifica com o bem que convém à natureza humana. Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou a sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas. Política Diz-se que Sócrates acreditava que as ideias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Opunha-se à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época; essa mesma ideia surge nas Leis de Platão, seu discípulo. Sócrates acreditava que ao se relacionar com os membros de um parlamento a própria pessoa estaria fazendo-se hipócrita. O Sócrates também foi a favor de uma burocracia eleita, em detrimento de uma burocracia por sorteio: [Foi] considerado que esta forma de nomeação de magistrados [isto é, as eleições] também foi mais democrático do que o vazamento de lotes, uma vez que no âmbito do plano de eleição por sorteio oportunidade decidiria a questão e os partidários da oligarquia, muitas vezes obter os escritórios; 43


Considerando que no âmbito do plano de selecionar os homens dignos, as pessoas têm em suas mãos o poder de escolher aqueles que estavam mais ligados à constituição existente. [Sócrates] ensinou aos seus companheiros a desprezar as leis estabelecidas por insistindo na loucura de nomeação de funcionários públicos por sorteio, quando nenhum iria escolher um piloto ou construtor ou flautista por sorteio, nem qualquer outro artesão de trabalho em que os erros são muito menos desastrosa do que erros na arte de governar. Paradoxo Socrático Os "paradoxos socráticos" são posições éticas defendidas por Sócrates que vão contra (para) a opinião (doxa) comum. Os principais paradoxos são: 1-"A virtude é um conhecimento"; 2-"Ninguém faz o mal voluntariamente"; 3-"As virtudes constituem uma unidade"; 4-"É preferível sofrer injustiça do que cometê-la" (Górgias 469 b-c) ou "jamais se deve responder à injustiça pela injustiça, nem fazer mal a outrem, nem mesmo àquele que nos fez mal" (Críton 49 c-d). Sócrates afirmava que "Ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis." VÍDEO: https://youtu.be/lquq1Wypk_4

AULA 8- Platão A mãe de Platão (Atenas, 428/427– Atenas, 348/347 a.C.),era Perictíone, cuja família gabava-se de um relacionamento com o famoso legislador e poeta lírico ateniense Sólon. Perictíone era irmã de Cármides e sobrinha de Crítias, ambas figuras proeminentes na época da Tirania dos Trinta, a breve oligarquia que se seguiu sobre o colapso de Atenas no final da Guerra do Peloponeso (404–403 a.C). Além do próprio Platão, Aristão e Perictíone tiveram outros três filhos: Adimanto, Glaucão e uma filha, Potone, a mãe de Espeusipo(então o sobrinho e sucessor de Platão como chefe de sua Academia). De acordo com A República, Adimanto e Glaucão eram mais velhos que Platão. No entanto, na Memorabilia, Xenofonte apresenta Glaucão como sendo mais novo que Platão. Aristão parece ter morrido na infância de Platão, embora a data exata de sua morte seja desconhecida.Perictíone então casou-se com Perilampes, irmão de sua mãe que tinha servido muitas vezes como embaixador para a corte persa e era um amigo de Péricles, líder da facção democrática em Atenas. Em contraste com a sua reticência sobre si mesmo, Platão muitas vezes introduziu seus ilustres parentes em seus diálogos, ou a eles referenciou com alguma precisão: Cármides tem um diálogo com o seu nome; Crítias fala tanto em Cármides quanto em Protágoras ; e Adimanto e Glaucão têm trechos importantes em A República. Estas e outras referências sugerem uma quantidade considerável de orgulho da família e 44


nos permitem reconstruir a árvore genealógica de Platão. De acordo com Burnet, "a cena de abertura de Cármides é uma glorificação de toda [família] ligação... os diálogos de Platão não são apenas um memorial para Sócrates, mas também sobre os dias mais felizes de sua própria família.". Infância e juventude Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427-428 a.C.[24] (no sétimo dia do mês Thargêliốn), cerca de um ano após a morte do estadista Péricles,[24] e morreu em 348 a.C.[24] (no primeiro ano da 108a Olimpíada). A data tradicional do nascimento de Platão (428/427) é baseada em uma interpretação dúbia de Diógenes Laércio, que afirma: "Quando Sócrates foi embora, Platão se juntou a Crátilo e Hermógenes, que filosofou à maneira de Parmênides. Então, aos vinte e oito anos, segundo Hermodoro, Platão foi para Euclides, em Megara." Em sua Sétima Carta, Platão observa que a sua idade coincidiu com a tomada do poder pelos Trinta Tiranos, comentando: "Mas um jovem com idade inferior a vinte seria motivo de chacota se tentasse entrar na arena política". Assim, a data de nascimento de Platão seria 424/423. De acordo com Diógenes Laércio, o filósofo foi nomeado Arístocles, como seu avô, mas seu treinador de luta, Aristão de Argos, o apelidou de Platon, que significa "grande", por conta de sua figura robusta. De acordo com as fontes mencionadas por Diógenes (todas datam do período alexandrino), Platão derivou seu nome a partir da "amplitude" (platytês) de sua eloquência, ou então, porque possuía a fronte (platýs) larga.] Estudiosos recentes têm argumentado que a lenda sobre seu nome ser Aristocles originou-se no período helenístico.[30]Platão era um nome comum, dos quais 31 casos são conhecidos apenas em Atenas. A juventude de Platão transcorreu em meio a agitações políticas e a desordens devido à Guerra do Peloponeso, à instabilidade política reinante na cidade de Atenas que foi tomada pela Oligarquia dos Quatrocentos e assim submeteu-se ao governo dos Trinta Tiranos. Apuleio nos informa que Espeusipo elogiou a rapidez mental e a modéstia de Platão como os "primeiros frutos de sua juventude infundidos com muito trabalho e amor ao estudo".Platão deve ter sido instruído em gramática, música e ginástica pelos professores mais ilustres do seu tempo. Dicearco foi mais longe a ponto de dizer que Platão lutou nos jogos de Jogos Ístmicos.[35] Platão também tinha frequentado cursos de filosofia, antes de conhecer Sócrates, mas primeiro ele se familiarizou com Crátilo (um discípulo de Heráclito, um proeminente filósofo grego pré-socrático) e as doutrinas de Heráclito. Afastamento da política e primeira viagem

Após o término da guerra em Atenas, em cerca de 404 a.C, auxiliado pelo reinado espartano vitorioso, o terror da Tirania dos Trinta começou, e entre seu membros, incluía-se parentes de Platão: o primo e o irmão de sua mãe, Crítias e Cármides, que participaram do governo Platão foi convidado a participar da vida política, mas recusou porque considerou o então regime criminoso. Mas, a situação política após a restauração da democracia ateniense em 403 também o desagradou, sendo um ponto de viragem na vida de Platão, a execução de Sócrates em 399 a.C, que o abalou profundamente, levando-o a avaliar a ação do Estado contra seu professor, como uma expressão de depravação moral e evidência de um defeito fundamental no sistema político. Ele viu em Atenas a possibilidade e a necessidade de uma maior participação filosófica na vida política e tornou-se um crítico agudo. Essas experiências levaram-no a aprovar a demanda por um estado governado por filósofos. Depois de 399 a.C, Platão foi para Megara com alguns outros socráticos, como hóspedes de Euclides (provavelmente para evitar possíveis perseguições que lhe poderiam sobrevir pelo fato de ter feito parte do círculo socrático). Diógenes Laércio conta que ele "foi a Cirene, juntar-se a Teodoro, o matemático, depois à Itália, com os pitagóricos Filolau e Eurito; e daí para o Egito, avistar-se com os profetas; ele tinha decidido encontrar-se também com os magos, mas a guerras da Ásia o fizeram renunciar a isso"Apesar desse relato de Diógenes Laércio, é posto em dúvida se Platão foi mesmo ao Egito, pois há evidências de que a estadia foi inventada no Egito, para aproximar Platão à tradição de sabedoria egípcia. 45


Primeira viagem à Sicília Por volta de 388 a.C, Platão empreendeu sua primeira viagem a Sicília. Em Taranto, Platão conheceu os pitagóricos, e o mais proeminente e politicamente bem sucedido entre eles, o estadista Arquitas, que o hospedou e protegeu. A mais famosa fonte da história do resgate de Platão por Arquitas está na Sétima Carta, onde Platão descreve seu envolvimento nos incidentes de seu amigo Dion de Siracusa e Dionísio I, o tirano de Siracusa, Platão esperava influenciar o tirano sobre o ideal do rei-filósofo (exposto em Górgias, anterior à sua viagem), mas logo entrou em conflito com o tirano e sua corte; mas mesmo assim cultivou grande amizade com Díon, parente do tirano, a quem pensou que este pudesse ser um discípulo capaz de se tornar um rei-filósofo. Dionísio I se irritou tanto com Platão a ponto de vendê-lo como escravo a um embaixador espartano de Egina, felizmente tendo sido resgatado por Anicérides de Cirene, que estava em Egina, ou ainda, o navio em que retornava foi capturado por espartanos o que o fez ser mantido como um escravo. Este relatos sobre a primeira estadia em Siracusa são, em grande parte, controversos: os historiadores tradicionais consideram assim os detalhes do encontro entre Platão e o tirano, e a posterior ruptura com ceticismo. Em todo caso, Platão teve contato com Dionísio e o resultado foi desfavorável para o filósofo já que sua sinceridade parece ter irritado o governante. Fundação da escola e ensino A Academia de Platão em Atenas Mosaico em Pompéia, século I Academia de Platão

Depois de sua primeira viagem à Sicília, por volta de 388 a.C, aos 40 anos, decepcionado com o luxo e os costumes da corte de Dionísio I de Siracusa e de lá é expulso, Platão compra um ginásio perto de Colona, a nordeste de Atenas, nas vizinhanças de um bosque de oliveiras em homenagem ao herói Academo. Ele amplia a propriedade e constrói alojamentos para os estudantes. Os membros da Academia não eram estudantes no sentido moderno da palavra, pois aos jovens, juntavam-se também anciãos; provavelmente todos deviam contribuir para o financiamento das despesas; ademais, o objetivo último da Academia era o saber pelo seu valor ético-político. Durante duas décadas, Platão assumiu suas funções na Academia e escreveu, nesse período, os diálogos chamados "da maturidade": Fédon, Fedro, Banquete, Menexêno, Eutidemo, Crátilo; começou também a redação de A República. Velhice e morte Ao regressar em 360 a.C, Platão voltou a ensinar e escrever na Academia permanecendo como um autor ativo até a sua morte, em 348/347 a.C., aos oitenta anos de idade; conta-se que fora sepultado no terreno da Academia, para dentro do muro de demarcação da propriedade, ou ainda no jardim da Academia. Com sua morte, a Academia passou a ser dirigida por Espeusipo, forte simpatizante do aspecto matemático da filosofia de Platão. Obra

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Parte de P.Oxy. LII 3679, com trecho da República, de Platão. Houve um período na Idade Média em que quase todas as suas obras eram desconhecidas; mas, antes disso e depois da redescoberta de seus textos (Petrarca, no século XIV, tinha um manuscrito de Platão), Platão foi lido e tomado como ponto de referência. Tradição e autenticidade Todas as obras de Platão que eram conhecidas na antiguidade foram preservadas, com exceção da palestra sobre o bem, a partir do qual houve um pós-escrito de Aristóteles, que se encontra perdido. Há também obras que foram distribuídas sob o nome de Platão, mas possivelmente ou definitivamente não são genuínas; apesar disso, elas também pertencem ao Corpus Platonicum (o conjunto das obras tradicionalmente atribuída a Platão), mesmo com sua falsidade sendo reconhecida mesmo nos tempos antigos. Um total de 47 obras são reconhecidas por terem sido escritas por Platão ou para o qual ele tomado como o autor. O Corpus platonicum é constituído de diálogos (incluindo Crítias, de final inacabado), a Apologia de Sócrates, uma coleção de 13 cartas e uma coleção de definições, o Horoi. Fora do corpus, há uma coleção de dieresis, mais duas cartas, 32 epigramas e um fragmento de poema (7 hexâmetros) que, com exceção de uma parte desses poemas, não são obras de Platão. É importante notar que na Antiguidade, vários diálogos considerados como falsamente atribuídos a Platão eram considerados genuínos, e alguns desses fazem parte do Canonde Trásilo, um filósofo e astrólogo alexandrino que serviu na corte de Tibério. Trásilo organizou os Diálogos de modo sistemático em nove grupos, chamados de Tetralogias, cujos escritos foram aceitos como sendo de Platão. Segundo Diógenes Laércio(III, 61), se encontravam na nona tetralogia "uma carta a Aristodemo [de fato a Aristodoro]" (X), duas a Arquitas (IX, XII), quatro a Dionísio II (I, II, III, IV), uma a Hérmias, Erastos e Coriscos (VI), uma a Leodamas (XI), uma a Dion (IV), uma a Perdicas (V) e duas aos parentes de Dion (VII, VIII)". Trásilo criou a seguinte organização: 1. 2. 3. 4.

Eutífron Apologia Críton Fédon

1. 2. 3. 4.

Crátilo Teeteto Sofista Político

1. 2. 3. 4.

Parmênides Filebo O Banquete Fedro

1. 2. 3. 4.

Alcibíades I Alcibíades II Hiparco Amantes Rivais

1. 2. 3. 4.

Teages Cármides Laques Lísis

2. 3. 4.

Forma literária Com a exceção das Epístolas e da Apologia, todas as outras obras não foram escritas em forma de poemas didáticos ou tratados - como eram escritos a maioria dos escritos filosóficos, - mas em forma de diálogos. A Apologia contém passagens ocasionais de diálogos, onde há um personagem principal, Sócrates, e diferentes interlocutores em debates filosóficos separados por inserções e discursos indiretos, digressões ou passagens mitológicas. Além disso, outros alunos de Sócrates 47


como Xenofonte, Ésquines, Antístenes, Euclides de Megara e Fédon de Elis têm obras escritas na forma de diálogo socrático (Σωκρατικοὶ λόγοι Sokratikoì logoi). Platão foi certamente o representante máximo desse gênero literário, superior a todos os outros e, mesmo, o único representante, pois apenas em seus escritos é que se pode reconhecer a natureza autêntica do filosofar socrático, que nos outros escritores, degenerou em maneirismos; sendo assim, o diálogo, em Platão, é mais do que um gênero literário: é sua forma de fazer filosofia. Nem todos os trabalhos no Corpusde Platão são diálogos. A Apologia parece ser o relato da defesa de Sócrates e seu julgamento, e Menêxeno é um pronunciamento para funeral. As treze cartas são ditas serem de Platão, mas a maioria são rejeitadas pelos pesquisadores modernos como sendo ilegítimas. A Sétima Carta ou Carta VII é uma das mais importantes cuja disputa permanece por dois motivos: (a) oferece detalhes biográficos de Platão e (b) coloca afirmações filosóficas sem paralelos em outros diálogos. Provavelmente a Sétima Carta é uma obra ilegítima e portanto não é uma fonte confiável para conhecer a biografia e filosofia de Platão. Cronologia A questão da cronologia ainda continua a gerar opiniões conflitantes. Análises estilométricas os diálogos demonstram que eles podem ser agrupados em três categorias definidas como obras do período Inicial, Médio e Tardio, embora exista este consenso comum, não há nenhum consenso sobre a ordem em que as obras devem figurar em seus respectivos grupos. Outro método usado para determinar a ordem cronológica dos diálogos se baseia na conexão entre os vários trabalhos. Os estudiosos têm usado a evidência de pontos de vista filosóficos similares nos diálogos para sugerir uma ordem cronológica interna. As referências textuais dentro dos diálogos também ajudam a construir uma cronologia, ainda que existam pouquíssimos casos de um diálogo se referir a outro. Finalmente, a cronologia pode ser determinada a partir do testemunho de fontes antigas. Filosofia Para Giovanni Reale, os três grandes pontos focais da filosofia de Platão são: a Teoria das Idéias, dos Princípios e do Demiurgo. A obra Fédon engloba todo o quadro da metafísica platônica e enfatiza essas três teorias, mas Platão advertiu os leitores de sua obra sobre a dificuldade existente em compreendê-las Política Platão, em sua obra A República, faz uma critica a forma de governo de sua época, pois afirma que os governantes deveriam brigar para não governar, como brigam para chegar ao poder. Diz, ainda, que o verdadeiro chefe não nasce para atender os interesses de si próprio, mas sim de toda a coletividade a ele subordinada. Dessa forma, entende-se que a critica de Platão estava ligada ao governo que criava leis visando seus interesses, e os determinando como justo, entretanto, punindo como injusto aquele que transgredir suas regras, uma vez que o elegido para governar poderia ser o mais votado, mas não sendo, portanto, o mais preparado para aquela função. Nesse sentido, Platão afirma que " Efetivamente, arriscar-nos-íamos, se houvesse um Estado de homens de bem, a que houvesse competições para não governar, como agora as há para alcançar o poder, e tornarse-ia, então evidente do verdadeiro chefe não nasceu para velar pela sua conveniência, mas pela dos seus subordinados. (Platão, A República, p. 34)". Conclui-se que, deve se buscar uma harmonia entre o governante e o seus subordinados, em outras palavras, o ideal de Estado deveria corresponder ao ideal de homem. Teoria das Ideias A Teoria das Ideias ou Teoria das Formas afirma que formas (ou ideias) abstratas não-materiais (mas substanciais e imutáveis) é que possuem o tipo mais alto e mais fundamental da realidade e não o mundo material mutável conhecido por nós através dos sentidos. Em uma analogia de Reale, as coisas que 48


captamos com os "olhos do corpo" são formas físicas, as coisas que captamos com os "olhos da alma" são as formas não-físicas; o ver da inteligência capta formas inteligíveis que são as essências puras. As Ideias são as essências eternas do bem, do belo etc. Para Platão, há uma conexão metafísica entre a visão do olho da alma e o objeto em razão do qual tal visão não existe. Este "mais real do que o que vemos habitualmente" é descrito em sua Alegoria da caverna. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/Rft3s0bGi78 Epistemologia Muitos têm interpretado que Platão afirma — e mesmo foi o primeiro a escrever — que conhecimento é crença verdadeira justificada, uma visão influente que informou o desenvolvimentos futuro da epistemologia. Esta interpretação é parcialmente baseada na uma leitura do Teeteto ,no qual Platão argumenta que o conhecimento se distingue da mera crença verdadeira porque o conhecedor deve ter uma "conta" do objeto de sua crença verdadeira (Teeteto 201C-d).Ess mesma teoria pode novamente ser vista no Mênon, onde é sugerido que a crença verdadeira pode ser aumentada para o nível de conhecimento, se está ligada a uma conta quanto à questão do "por que" o objeto da verdadeira crença é assim definido (Mênon 97d-98a). Dialética A dialética de Platão não é um método simples e linear, mas um conjunto de procedimentos, conhecimentos e comportamentos desenvolvidos sempre em relação a determinados problemas ou "conteúdos" filosóficos. O papel da dialética no pensamento de Platão é contestada, mas existem duas interpretações principais: a dialética platônica é tipo de raciocínio ou um método de intuição. Simon Blackburn adota o primeiro, dizendo que a dialética de Platão é "o processo de extrair a verdade por meio de perguntas destinadas a abrir o que já é implicitamente conhecida, ou de expor as contradições e confusões de posição de um oponente". Karl Popper afirma que a dialética é a arte da intuição para "visualizar os originais divinos, as formas ou ideias, de desvendar o grande mistério por trás do comum mundo das aparências do cotidiano do homem." Ética e justiça Na República, Platão define a justiça como a vontade de um cidadão de exercer sua profissão e atingir seu nível pré-determinado e não interferir em outros assuntos, Para que a justiça tenha alguma validade, ela terá que ser uma virtude e, portando, contribuidora de modo constitutivo para a boa vida de quem é justo. Na filosofia de Platão, é possível visualizar duas modalidades de justiça: uma, absoluta, e outra, relativa. A justiça relativa é a justiça humana que espelha-se nos princípios da alma e tenta dela se aproximar.Platão situa a justiça humana como uma virtude indispensável à vida em comunidade, é ela que propicia a convivência harmônica e cooperativa entre os seres humanos em coletividade. Conceitos Anima mundi Considerada por Platão como o princípio do cosmos e fonte de todas as almas individuais, o termo é um conceito cosmológico de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manisfestar em leis que afetam a matéria. O termo foi criado por Platão pela primeira vez na obra República ou ainda na obra Timeu. Demiurgo O uso filosófico e o substantivo próprio derivam do diálogo Timeua causa do universo, de acordo com a exigência de que tudo que sofre transformação ou geração (genesis) sofre-a em virtude de uma causa.A meta perseguida pelo demiurgo platônico é o bem do universo que ele tenta construir. Este bem é recorrentemente descrito em termos de ordem, Platão descreve o demiurgo como uma figura neutra (nãodualista), indiferente ao bem ou ao mal, 49


Legado Apesar de sua popularidade ter flutuado ao longo dos anos, as obras de Platão nunca ficaram sem leitores, desde o tempo em que foram escritas. O pensamento de Platão é muitas vezes comparado com a de seu aluno mais famoso, Aristóteles, cuja reputação, durante a Idade Média ocidental, eclipsou tão completamente a reputação de Platão que os filósofos escolásticos referiam-se a Aristóteles como "o Filósofo". No entanto, no Império Bizantino, o estudo de Platão continuou. Os filósofos escolásticos medievais não tinham acesso à maioria das obras de Platão, nem o conhecimento de grego necessário para lê-los. Os escritos originais de Platão estavam essencialmente perdidos para a civilização ocidental, até que foram trazidos de Constantinopla no século de sua queda, por Gemisto Pletão. Acredita-se que Pletão passou uma cópia dos diálogos platônicos para Cosme de Médici em 1438/39 durante o Conselho de Ferrara, quando foi chamado para unificar as Igrejas grega e latina e então foi transferido para Florença onde fez uma palestra sobre a relação e as diferenças de Platão e Aristóteles; assim, Pletão teria influenciado Cosme com seu entusiasmo. Durante a Era de Ouro Islâmica, estudiosos persas e árabes traduziram muito de Platão para o árabe e escreveram comentários e interpretações sobre Platão, Aristóteles e obras de outros filósofos Platonistas (ver Al-Farabi, Avicena, Averróis, Hunayn ibn Ishaq). Muitos desses comentários sobre Platão foram traduzidos do árabe para o latim e, como tal, influenciaram filósofos escolásticos medievais. Vídeo: https://pt.wikipedia.org/wiki/Plat

Ciência helenística Na medicina, destacaram-se Herófilo e Erasístrato, que viveram em Alexandria na primeira metade do século III a.C. Herófilo, considerado o fundador da anatomia, recusou-se a aceitar os dogmas estabelecidos, atribuindo maior importância à observação direta. Fez estudos importantes no campo da frenologia, tendo feito a distinção entre cérebro e cerebelo. Descreveu também o duodeno, o pâncreas e a próstata e descobriu o ritmo do pulso, apresentando lei matemática para a sístole e a diástole. Na matemática, Euclides de Alexandria, autor de "Os Elementos", lançou nesta obra as bases da geometria como ciência. Apolónio de Perga estudou as seções cônicas. Mas o maior matemático foi Arquimedes de Siracusa (c.287 a.C.-212 a.C.) que inventou o cálculo integral e descobriu a lei da impulsão, tendo realizado também algumas invenções (planetário, bomba aspirante). Na astronomia, Aristarco de Samos (c.310 a.C.-230 a.C.) defendeu que o Sol era o centro do sistema planetário (heliocentrismo), teoria que gerou polêmica na época e foi contestada por Arquimedes e Hiparco de Niceia. Este último foi responsável pela atribuição ao ano solar da duração de 365 dias, 5 horas, 55 minutos e 12 segundos, um cálculo errado apenas por 6 minutos e 26 segundos. Eratóstenes de Cirene(c.275 a.C.-194 a.C.) descreveu a Via Láctea e organizou a geografia como ciência.

Euclides de Alexandria (em grego antigo: Εὐκλείδης Eukleidēs; fl. c. 300 AC) foi um professor, matemático platónico e escritor possivelmente grego, muitas vezes referido como o "Pai da Geometria". Além de sua principal obra, Os Elementos, Euclides também escreveu sobre perspectivas, seções cônicas, geometria esférica, teoria dos números e rigor. 50


A geometria euclidiana é caracterizada pelo espaço euclidiano, imutável, simétrico e geométrico, metáfora do saber na antiguidade clássica e que se manteve incólume no pensamento matemático medieval e renascentista, pois somente nos tempos modernos puderam ser construídos modelos de geometrias nãoeuclidianas. Euclides é a versão portuguesa da palavra grega Εὐκλείδης, que significa "Boa Glória". AULA 10- As contribuições de Aristóteles à ciência

Retrato de Aristóteles Aristóteles foi um pensador universal. Seus conhecimentos e investigações se estenderam para todos os ramos do conhecimento humano da época. Eles escreveu um dos primeiros tratados de física. Livro que por mais de 1.000 anos moldou o pensamento ocidental sobre o tema até advento da física newtoniana. Ele também escreveu fartamente sobre o conhecimento das ciências biológicas. Aristóteles estudou anatomia e o comportamento de dezenas de animais e escreveu um importante tratado sobre o assunto. Algumas das suas observações, feitas sem nenhum dos equipamentos moderno, foram posteriormente confirmadas pela biologia moderna embora, na maioria das vezes, tenha se demonstrado que elas não foram muito precisas. Embora o trabalho de Aristóteles em zoologia não tenha sido isento de falhas, ele realizou a mais grandiosa síntese biológica do seu tempo. Seu tratado de zoologia era tão vasto e meticuloso que se manteve como a maior autoridade sobre o assunto por muitos séculos depois de sua morte. Suas observações sobre a anatomia do polvo, crustáceos e outros invertebrados marinhos são extremamente corretos e com resultados impressionantes. Ele descreveu o desenvolvimento embrionário de baleias e golfinhos e os distingui dos peixes. As investigações de Aristóteles sobre as ciências da Terra podem ser encontrados em seu livro chamado “Meteorologia”, a palavra hoje significa o estudo do clima, mas Aristóteles usou a palavra em um sentido muito mais amplo. Nesse livro ele discutiu a natureza da terra e dos oceanos e explicou todo o ciclo da água na natureza, com precisão. Aristóteles também discutiu a natureza dos ventos, terremotos, trovões, raios, arco-íris, meteoros, cometas e da própria Via Láctea. Para ele o processo de formação da terra ocorre de forma gradual e em períodos de tempo que são tão imensos em comparação com o tamanho da nossa vida que essas mudanças não são observadas pelos seres humanos. Como pensador de cunho científico o maior legado de Aristóteles é, sem dúvida, seus estudos de lógica. O cerne dos conceitos e noções que ele descreveu demonstraram ter um legado atemporal, e arrevessaram os séculos se incorporando como um verdadeiro patrimônio do pensamento humano. Aristóteles teria escrito mais de 150 tratados filosóficos e científicos durante sua vida. Porém apenas 30 sobreviveram ao tempo. Nesse pequena fração de sua obra já é impressionante a enorme gama de problemas filosóficos e científicos na qual ele se debruçou. É verdade, estudiosos modernos consideram que muito dos conhecimentos listados nessas obras não teriam sido genuinamente descobertas de 51


Aristóteles, mas sim uma espécie de compilação de conhecimentos preexistentes. De qualquer forma, é inegável o seu gênio e sua capacidade de análise e sistematização, que conseguir reunir dentro de sistemas de pensamento ordenado todo esse conhecimento. Aristóteles passou boa parte de sua vida viajando pela Ásia Menor e as ilhas do Mediterrâneo. Em 338 antes de Cristo, ele voltou para sua terra natal, a Macedônia, para se tornar tutor do jovem Alexandre, o Grande, que se tornaria o maior conquistador da antiguidade.

Leia mais em: http://ciencia.me/l5g Para ele, espécies que se reproduzem sexualmente se desenvolvem quando os fluidos da mãe e do pai se juntam. Esta combinação é a causa essencial que inicia o processo de desenvolvimento gradual da vida. Gradualmente, ao longo do tempo, o individuo começa a ganhar forma e surgir. Assim, para Aristóteles a contribuição materna é a causa material, e sua contribuição para a formação do embrião vinha do sangue menstrual, que ao juntar-se com o sêmen do pai formava a vida. Segundo sua conclusão, o sangue menstrual feminino é apenas “o qual gera a vida” e deve ser posta em prática pelo sêmen masculino que é “aquilo que gera a vida”. Juntos, de acordo com a natureza essencial das espécies, poderiam ter o potencial de tornar um ser real. Os pais; o sexo masculino e feminino servem como “princípios geradores” e cada organismo individualmente começa de novo. Para Aristóteles, as causas são internas devido a combinação de fluídos. Seguindo suas próprias propostas filosóficas Aristóteles acreditava que uma vida individual orgânica requer uma alma, que deve estar lá desde o início e que reside no interior do corpo material. Esta alma orienta o processo gradual de desenvolvimento epigênista dos organismos. Aristóteles estudou anatomicamente mais de 500 espécies, dissecando um grande número de animais e descrevendo, nos vertebrados, todos os órgãos internos. Essas descrições ainda continuam atuais, sendo melhores, até mesmo, do que as publicadas em livros científicos de hoje. A classificação feita por ele foi baseada na comparação das estruturas desses animais, divididos por Aristóteles em dois grupos: sanguíneos e não sanguíneos, ou seja, espécies com ou sem sangue vermelho. No grupo dos vertebrados, o filósofo observou peixes; aves; quadrúpedes ovíparos, incluindo répteis e anfíbios; e quadrúpedes vivíparos, abrangendo os mamíferos aquáticos, como as baleias. Ele identificou várias características dos cetáceos, admitindo na época que os golfinhos não eram peixes, pois respiravam e tinham pulmões. Já no grupo dos sem sangue, Aristóteles observou espécies de moluscos, crustáceos e insetos, dentre outros. Além disso, ele foi o primeiro a descrever o desenvolvimento do embrião da galinha, observando a olho nu todas as suas fases. ASPECTOS PSICOLÓGICOS (...)Os deuses cuidam de nós e orientam nossos destinos, È o que ensinam muitas culturas humanas; outras entidades, mais malévolas, são responsáveis pela existência do mal. Ambas as classes de seres, tanto faz se consideradas naturais ou sobrenaturais, reais ou imaginárias, servem ‡s necessidades humanas. Mesmo que sejam inteiramente fantásticos, as pessoas se sentem melhor acreditando neles. Assim, numa época em que as religiões tradicionais tem estado sob o fogo fulminante da ciência, não È natural cobrir os antigos deuses e demônios com vestes científicas e chamá-los de alienìgenas? A crença em demônios era difundida no mundo antigo. Eram considerados seres naturais, e não sobrenaturais. Hesíodo os menciona de passagem. Sócrates descrevia sua inspiração filosófica como obra de um demônio pessoal e benigno. Sua professora, Diotima de Mantinéia, lhe diz (no Banquete de Platão) que: Todo o demoníaco é intermediário entre Deus e os mortais. Deus não tem contato com os homens. Ela continua: isso por meio do demoníaco é que existem relações e diálogos entre os homens e os deuses, quer em estado desperto, quer durante o sono. Platão, o discípulo mais 52


famoso de Sócrates, atribuía um papel elevado aos demônios: Nenhuma natureza humana investida de poder supremo é capaz de ordenar os assuntos humanos, diz ele, sem transbordar de insolíncia e iniqüidade.... Não nomeamos bois para ser os senhores dos bois, nem bodes para ser os senhores dos bodes, mas somos nós próprios, uma raça superior, que os governamos. De maneira semelhante, Deus, por amor ‡ humanidade, colocou acima de nós os demônios, que somos uma raça superior, e eles, de forma fácil e prazerosa para si mesmos, e não menos prazerosa para nós, tornam as tribos dos homens mais felizes e unidas, ao cuidar de nós e nos dar paz, reverencia, ordem e justiça que nunca falham. Ele negava firmemente que os demônios fossem uma fonte do mal, e não representava Eros, o guardião das paixões sensuais, como um deus, mas como um demônio, nem mortal, nem imortal, nem bom, nem mau. Mas todos os platônicos posteriores, inclusive os neoplatônicos que influenciaram poderosamente a filosofia cristã sustentavam que alguns demônios eram bons e outros maus. O pêndulo balançava. Aristóteles, o famoso discípulo de Platão, considerava com seriedade a afirmação de que o roteiro dos sonhos È escrito pelos demônios. Plutarco e Porfírio afirmaram que os demônios, que preenchiam o ar superior, vinham da Lua. Apesar de impregnados pelo neoplatonismo da cultura em que estavam imersos, os primeiros padres da Igreja ansiavam por se separar dos sistemas de crença pagãs. Ensinavam que a essência da religião pagã consistia no culto de demônios e homens, ambos interpretados erradamente como deuses. Quando São Paulo se queixou (EfÈsios 6:14) da maldade em lugares celestiais, não estava se referindo ‡ corrupção do governo, mas aos demônios, que viviam naqueles locais: Pois não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra príncipes das trevas desse século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Desde o início, os demônios significavam muito mais do que uma simples metáfora poètica para o mal no coração dos homens.(...) Carl Sagan O mundo assombrado pelos demônios

AULA 11- A Psykhé Psicologia (do grego psykhé, "psique, "alma", "mente" e lógos, "palavra", "razão" ou "estudo") é a ciência que estuda o comportamento (tudo o que um organismo faz), processos mentais (experiências subjetivas inferidas através do comportamento) e questões existenciais (ser-no-mundo). Entre os filósofos gregos surge a primeira tentativa de sistematizar o estudo sobre o homem enquanto portador de duvidas de sua existência e sobre processos mentais;

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Sócrates foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte. Sócrates teve a preocupação de separar os homens dos animais, pois naquele tempo não se tinha a percepção de separação entre homem e animal, sentimentos, raciocínio, vontades; Homem: usa a CONSCIÊNCIA Animal: usa o INSTINTO Sugestão de vídeo: https://youtu.be/809bdDKp1BA Platão procurou definir um lugar para a razão no nosso próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontra a alma do homem. A medula seria, portanto, o elemento de ligação da alma com o corpo. Este elemento de ligação era necessário porque Platão concebia a alma separada do corpo. Quando alguém morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/undefined Para Aristóteles – homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação à matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito. Aristóteles estudou as diferenças entre a razão, a percepção e as sensações. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/kkHJce9-oLE Santo Agostinho (354 d.C., Tagaste - 430 d.C., Hipona, Annaba, Argélia) acha que o homem é uma alma que faz uso de um corpo; Até naquele conhecimento que se adquire pelos sentidos, a alma se mantém em atividade e ultrapassa o corpo; A alma não era somente sede da razão, mas a prova da manifestação divina no homem; Sugestão de vídeo: https://youtu.be/holW-1sj73E São Tomas de Aquino (1225, Roccasecca, Itália – Abadia de Fossanova, Itália - 1274) afirma a união da alma e do corpo, e afirma a existência de apenas uma alma e uma só forma (corpo); O ser comunicável não é mais formalmente o mesmo, pois não vira ato, mas ainda persiste, da mesma forma que as potências vegetativas e sensitivas permanecem na vida após à morte; Para São Tomás, nossos conhecimentos têm origem no geral e universal, sendo que os nossos conhecimentos particulares só determinam o que já está no nosso conceito de ser. Sugestão de vídeo: https://youtu.be/DSHyjqgdi-s RENÈ DESCARTES ((La Haye en Touraine,França, 1596 - Estocolmo, Suécia, 1650 ➢ Complexo mente – corpo;

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Até então intelectuais adotaram postura DUALISTA, com o argumento de que a mente e o corpo são de naturezas diferentes; A mente influencia o corpo, mas o corpo não exerce tanta influência na mente; ➢ ➢ ➢ ➢ ➢

A concepção mecanicista do corpo; A teoria do ato reflexo; A interação mente-corpo; A localização das funções mentais no cérebro; A doutrina das ideias derivadas e inatas.

Sugestão de vídeo: https://youtu.be/rGGxJMxZawM

AULA 12- FILOSOFIA ROMANA Nos séculos I a.C. e I d.C. Roma vivia sua fase de apogeu. Com a força das suas legiões os romanos haviam estendido seu domínio por toda Bacia Mediterrânea. As terras conquistadas viraram grandes latifúndios cultivados por populações escravizadas. O intenso comércio e a espoliação sistemática das províncias, através de tributos, geravam tanta riqueza, que além do ócio das elites e suas extravagâncias, permitia sustentar, também, uma política de “pão e circo” que mantinha alienada a massa dos excluídos, sem terra e sem trabalho. Com o fim da república e a implantação do império, o Senado é gradativamente despojado de poder e torna-se figurativo. Conspirações e golpes palacianos colocam imperadores no poder ou os derrubam e assassinam, como foi o destino de tantos deles. Foi neste contexto que floresceu a filosofia em Roma. Mas o pensamento romano, e a sua cultura de uma maneira geral, foram pouco originais. Os pensadores romanos elaboraram um pensamento eclético, isto é, aberto e que mistura aspectos de várias correntes filosóficas, mas sempre com forte conteúdo moralizante. Sua ética baseada no estoicismo é, entretanto, menos rígida que aquela professada pelos estóicos de uma maneira geral. Para os romanos, a virtude consiste em permanecer indiferente ao mundo, mas não há mal nenhum aproveitar a vida ou desfrutar dos bens materiais, como fazem os homens em geral. O que importa não é tanto chegar à verdade, mas ao conhecimento do que é conveniente para o homem. Somente no século III, quando já começava decadência do Império romano, é que surgiu um pensamento filosófico realmente novo e significativo, com o aparecimento do neoplatonismo e, mais tarde, com a estruturação do cristianismo. Com herança forte na Filosofia Helenísica, os romanos não tinham uma exata linha de pensamento, tomando como base para sua filosofia a moral. O povo romano se inspirava nos mistérios da religião e na adoção de deuses estrangeiros, influenciados, também, pelo estoicismo e epicurismo. A filosofia romana inspirou, drasticamente, no pensamento ocidental. Escolas e seitas filosóficas, criadas no período de transição do paganismo para o cristianismo, dividiram opiniões e deram origem ao sincretismo grego-romano-judaico-oriental. Destas teorias, destacam-se o estoicismo, que é a vertente cívica e política, que busca a ataraxa e a aponia. Acreditam que o prazer é o fim da vida. Muitas vezes tidas como duas escolas diretamente opostas de pensamento, o Epicurismo e o Estoicismo foram extremamente influentes em seu tempo, tanto na Grécia quanto na Roma Antigas.

Sugestão de vídeo: https://youtu.be/pDfoN3-PT4M 55


Estoicismo Romano Sêneca (Córdova, Espanha 4 a.C. - 65 d.C., Roma, Itália), ocupava-se da forma correta de viver a vida (ou seja, da ética), da física e da lógica. Via o sereno estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a imperturbabilidade da alma, denominada ataraxia (termo utilizado a primeira vez por Demócrito em 400 a.C. Juntamente com Marco Aurélio e Cícero, conta-se entre os mais importantes representantes da intelectualidade romana. Sêneca via, no cumprimento do dever, um serviço à humanidade. Procurava aplicar a sua filosofia à prática. Deste modo, apesar de ser rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro. Sêneca não viu nenhuma contradição entre a sua filosofia estoica e a sua riqueza material: dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar da riqueza. Sêneca via-se como um sábio imperfeito: "Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela que sei dever ser vivida." Os afetos (como relutância, vontade, cobiça, receio) devem ser ultrapassados. O objetivo não é a perda de sentimentos, mas a superação dos afetos. Os bens podem ser adquiridos, à condição de não deixarmos que se estabeleça uma dependência deles. O pensamento de Sêneca, especialmente suas críticas ao comportamento vulgar, permite que se conheça melhor a sociedade de Roma no século I d.C. Para Sêneca, o destino é uma realidade. O homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é um dado natural. O suicídio não é categoricamente excluído por Sêneca. Sua principal filosofia, o estoicismo, pode ser encarada como um sistema para prosperar em ambientes de alto estresse. Em seu núcleo, ensina como separar o que você pode controlar do que não pode e nos treina para se concentrar exclusivamente no primeiro. As cartas de Sêneca podem ser interpretadas como um guia prático para frugalidade e como contentar-se com o suficiente. A prática do estoicismo torna você menos emocionalmente reativo, mais consciente do presente e mais resiliente. À medida que você navega na vida, esse tipo de treinamento de força mental também facilita as decisões difíceis, seja desistir de um emprego, fundar uma empresa, convidar alguém para sair, terminar um relacionamento ou qualquer outra coisa. A filosofia de Sêneca aborda a busca da felicidade, a preparação para a morte, as desilusões, a amizade e levanta uma das principais questões humanas: como conjugar qualidade de vida e tempo escasso. Leitores do século XXI serão surpreendidos por lições como: "A duração de minha vida não depende de mim. O que depende é que não percorra de forma pouco nobre as fases dessa vida; devo governá-la, e não por ela ser levado"; "Pobre não é o homem que tem pouco, mas o homem que anseia por mais. Qual é o limite adequado para a riqueza? É, primeiro, ter o que é necessário, e, segundo, ter o que é suficiente" Ou ainda: "Não deixemos nada para mais tarde. Acertemos nossas contas com a vida dia após dia".

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“A Sabedoria e a Alegria Vou ensinar-te agora o modo de entenderes que não és ainda um sábio. O sábio autêntico vive em plena alegria, contente, tranquilo, imperturbável; vive em pé de igualdade com os deuses. Analisa-te então a ti próprio: se nunca te sentes triste, se nenhuma esperança te aflige o ânimo na expectativa do futuro, se dia e noite a tua alma se mantém igual a si mesma, isto é, plena de elevação e contente de si própria, então conseguiste atingir o máximo bem possível ao homem! Mas se, em toda a parte e sob todas as formas, não buscas senão o prazer, fica sabendo que tão longe estás da sabedoria como da alegria verdadeira. Pretendes obter a alegria, mas falharás o alvo se pensas vir a alcançá-la por meio das riquezas ou das honras, pois isso será o mesmo que tentar encontrar a alegria no meio da angústia; riquezas e honras, que buscas como se fossem fontes de satisfação e prazer, são apenas motivos para futuras dores.”

“Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si. Não queres ser justo sem gozares da fama de o ser ? Pois fica sabendo: muitas vezes não poderás ser justo sem que façam mau juízo de ti! Em tal circunstância, se te comportares como sábio, até sentirás prazer em ser mal julgado por uma causa nobre.” "Todos os homens querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a vida mais feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos no enganar no caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior a distância."

“Rir é correr risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Estender a mão é correr o risco de se envolver. Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu. Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas. Amar é correr o risco de não ser correspondido. Viver é correr o risco de morrer. Confiar é correr o risco de se decepcionar. Tentar é correr o risco de fracassar. Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada. Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada. Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem. Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre!”

Sugestão de vídeo: https://youtu.be/h6oI99l3Xfk Marco Aurélio (em latim Marcus Aurelius; 121 d. C. — 180 d. C.), foi imperador romano desde 161 até sua morte. Seu reinado foi marcado por guerras na parte oriental do Império Romano contra os partas, e na fronteira norte, contra os germanos. Foi o último dos cinco bons imperadores, e é lembrado como um governante bem-sucedido e culto; dedicou-se à filosofia, especialmente à corrente filosófica do estoicismo, e escreveu uma obra que até hoje é lida, Meditações.

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“O melhor modo de vingar-se de um inimigo, é não se assemelhar a ele.” “Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa.” “Antes o reprovamento por um gênio do que um louvor de um idiota.” “A experiência é um troféu composto por todas as armas que nos feriram.” Sugestão de vídeo: https://youtu.be/Vm0JSeMwo2I AULA 13- Mesopotâmia Há cerca de 4 mil anos, os sacerdotes mesopotâmicos dedicavam-se a estudar os corpos celestes e seus movimentos. Eles acreditavam que os astros influenciavam a vida cotidiana dos homens e que eventualmente poderiam interferir na agricultura. Com isso, desenvolveram a astrologia e a astronomia, assim como aperfeiçoaram os conhecimentos da matemática. Nesse campo os mesopotâmicos desenvolveram a álgebra e dividiram o círculo em 360 graus. O calendário lunar, a semana de sete dias, a divisão do ano em doze meses e o do dia emdois períodos de doze horas-- todos esses aspectos fundamentais da nossa cultura surgiram na Mesopotâmia. Como surgiu a Astronomia As origens da astronomia Ocidental podem ser encontradas na Mesopotâmia, a “terra entre dois rios”, Tigre e Eufrates, eram os reinos antigos dos Sumérios, Assírios, e Babilônios eram localizados. Uma forma de escrita conhecida como cuneiforme surgiu entre os sumérios aproximadamente em 3500-3000 a.C. Os sumérios somente praticavam uma forma básica de astronomia, mas tiveram uma importante influência na sofisticação da astronomia dos babilônios. A Teologia Astral, que deu aos deuses planetários um papel importante na Mitologia e religião mesopotâmica, começou com os sumérios. Eles também usavam um sistema numérico sexagenal (base 60), que simplificava a tarefa do registro de números muito grandes ou muito pequenos. A prática moderna de dividir um círculo em 360 graus, de 60 minutos cada, começou com os sumérios. Para maiores informações, veja os artigos em numerais babilônios e matemática. Fontes clássicas normalmente usam o termo Caldeus para os astrônomos da Mesopotâmia, que foram, na verdade, sacerdotes escribas especializados em astrologia e outras formas de divinação. As atividades mais antigas de astrônomos babilônios foram as observações de fenômenos astronômicos significativos que eram considerados presságios. O melhor exemplo conhecido é o tablete Vênus de Ammisaduqa, um registro da primeira e última visibilidade observada do planeta Vênus no século XVI a.C. Os textos do tablete de Vênus foi posteriormente incluído em um extenso compêndio de presságios chamado de Enuma Anu Enlil. 58


Um aumento significante tanto na frequência quanto na qualidade das observações babilônias surgiu durante o reinado de Nabonassar (747-733 a.C). O registro sistemático de fenômenos considerados como mau agouro em diários astronômicos que se iniciou nesse período, permitiu que fosse descoberto um ciclo repetitivo de eclipses lunares a cada 18 anos, por exemplo. O astrônomo grego Ptolomeu posteriormente usou os registros feitos na época de Nabonassar para consertar o início de uma era, já que ele sentiu que as observações usáveis mais antigas haviam sido feitas naquela época. O último estágio no desenvolvimento da astronomia babilônia ocorreu durante o perigoso do Império Selêucida (323-60 a.C) No terceiro século, astrônomos começaram a usar “textos anuais” para predizer os movimentos dos planetas. Esses textos compilavam registros de observações passadas para encontrar ocorrências repetitivas de fenômenos considerados como mau agouro para cada planeta. Aproximadamente na mesma época, ou um pouco depois, astrônomos criaram modelos matemáticos que os permitiram predizerem os fenômenos diretamente, sem necessitar da consulta nos registros antigos. As influências Mesopotâmicas na astronomia ocidental são extensas. Foi dos mesopotâmicos que os gregos ganharam seus conhecimentos sobre os planetas visíveis e as constelações do zodíaco, os séculos de registros de observações astronômicas e até a idéia de que os movimentos dos planetas poderiam ser preditos com precisão. AULA 14- Zoroastro

O Faravahar (ou Ferohar), representação da alma humana antes do nascimento e depois da morte, é um dos símbolos do zoroastrismo Zoroastro viveu na Ásia Central, num território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irã e a região ocidental do Afeganistão. Não existe um consenso em torno do período em que viveu; os acadêmicos têm situado a sua vida entre 1750 e 1 000 a.C. Sobre a sua vida, existem poucos dados precisos, sendo as lacunas preenchidas por lendas. De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zoroastro viveu no século VI a.C., pertencendo ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote. Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu Manah ("Bom Pensamento") e que o conduziu até à presença de AúraMasda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas, sendo este o primeiro de uma série de encontros com Aúra-Masda, que lhe revelou a sua mensagem. As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zoroastro. Após doze anos de pregação, Zoroastro abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na Báctria (região que se encontra no atual Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zoroastro e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino. O principal documento que nos permite conhecer a vida e o pensamento religioso de Zoroastro são os Gathas, dezessete hinos compostos pelo próprio Zoroastro e que constituem a parte mais importante 59


do Avesta ou livro sagrado do zoroastrismo. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda, o que situaria Zoroastro entre 1500-1 200 a.C. e não no século VI a.C. Vivia na Idade do Bronze, numa sociedade dominada por uma aristocracia guerreira. Para alguns investigadores, muito mais do que o fundador de uma nova religião, Zoroastro foi antes um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma mudança no panteão dominante que ia no sentido do monoteísmo e do dualismo. Na perspectiva de Zoroastro, os ahuras passam a ser vistos como seres que escolheram o bem, e os daivas, como seres que escolheram o mal. Na Índia, o percurso seria inverso, com os ahuras a representarem o mal, e os daevas a representarem o bem. Zoroastro elevaria Aúra-Masda ("Senhor Sábio") ao estatuto de divindade suprema, criadora do mundo e única digna de adoração. Outro conceito religioso por ele apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Aúra-Masda. Nos Gathas, os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstrata; séculos depois, eles serão transformados e elevados ao estatuto de divindades. Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina. Os Amesha Spentas são: • • • • • •

Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais; Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo; Spenta Ameraiti - ("Devoção Benfeitora"): a terra; Khashathra Vairya - ("Governo Desejável"): o céu e os metais; Hauravatat ("Plenitude"): a água; Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.

Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, o dualismo torna-se cosmológico, entendido como uma batalha no mundo entre forças benignas e forças maléficas. Atualmente, os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético ou o dualismo cosmológico, existindo também outros que aceitam os dois conceitos. Alguns acreditam que Aúra-Masda tem um inimigo chamado Angra Mainyu (ou Ahriman), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo. Angra Mainyu não deve ser visto como um deus; ele é, antes, uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Aúra-Masda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de Spenta Mainyu). No final, Angra Mainyu será destruído e o bem triunfará. Outros zoroastrianos encaram o dualismo no plano interno de cada pessoa, como a escolha que cada um deve fazer entre o bem e o mal, entre uma mentalidade progressista e uma mentalidade retardatária. Os zoroastrianos acreditam que Zoroastro é um profeta de Deus, mas não é alvo de particular veneração. Eles acreditam que, através dos seus ensinamentos, os seres humanos podem aproximar-se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha). Doutrinas e crenças Os masdeístas não representam seus deuses em esculturas e têm templos. Deixou traços nas principais religiões mundiais como o judaísmo, cristianismo e islamismo através das seguintes crenças: • Imortalidade da alma • Vinda de um Messias • Ressurreição dos mortos • Juízo final 60


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