As mulheres contra o G20

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3. A inclusão digital

desregulação, precarização. O teletrabalho, que supostamente facilita a conciliação com o trabalho não remunerado das mulheres, continua as colocando como principais responsáveis do cuidado.

O que diz o W20... …que participar do mundo digital será logo uma condição básica para entrar no mercado de trabalho e melhorar a qualidade de vida das mulheres. No mundo, há 200 milhões de 4. O Desenvolvimento rural mulheres a menos que de homens com acesso a um celular, e 250 milhões a menos com O que diz o W20... acesso à internet. ...que as mulheres são responsáveis pela metade da produção mundial de alimentos, e O que não diz... no entanto, a maioria delas não recebe uma …que a brecha tecnológica entre homens e renda por seu trabalho, o que reduz suas mulheres tem muito a ver com a tradicional possibilidades econômicas. divisão sexual do trabalho: os homens dedicados ao trabalho produtivo, incluídas O que não diz... a ciência e a tecnologia, e as mulheres, ao … que esses alimentos são os que a maioria trabalho reprodutivo. de nossas sociedades consome. E que estas …que a economia digital está criando mulheres e a agricultura familiar em geral enormes impactos no mundo do trabalho. Um estão sendo ameaçadas e expropriadas deles é o crescimento do setor de serviços pelo agronegócio e as empresas de cultivos em detrimento da produção de bens. Outro, é extensivos de exportação que, com seus que vem modificando as relações de trabalho: agrotóxicos, contaminam a terra, as maior flexibilidade, trabalho em casa, mulheres, suas famílias e produções.

As responsabilidades do cuidado devem ser distribuídas entre os Estados, as empresas, as famílias e os homens. A igualdade nos salários e nas oportunidades não se resolve com uma lei, mas sim, criando condições sociais e políticas mais equitativas para o desempenho laboral das mulheres. Os Estados devem garantir pisos mínimos de proteção social para todo tipo de trabalho, incluindo o trabalho informal. Não se trata de propor modelos de empresárias de sucesso, promovendo o empreendedorismo e a meritocracia, mas de conseguir condições dignas para todo tipo de trabalho.

WOMEN 20

Procurar a equidade de gênero requer abordar as raízes da subordinação das mulheres, isto é, a apropriação de seus corpos, suas vidas e trabalho. A partir das construções de gênero, as mulheres continuam sendo as principais responsáveis das tarefas do cuidado em nossas sociedades, e isso condiciona sua desvantagem no mercado de trabalho. Os Estados devem formular políticas que revertam essas desigualdades. As mulheres rejeitamos o uso enganoso que fazem G20 e W20 de nossas reivindicações: NÃO, em nosso nome! NÃO ao G20! Rede de gênero e comércio Equidade de gênero com justiça econômica

“Empoderamento” “Inclusão digital” “Desenvolvimento rural” “Inclusão pelo trabalho”

E dizem que os governos dos países mais ricos e poderosos do mundo nos darão tudo isso????

AS MULHERES CONTRA O G20! Nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro de 2018 acontecerá a Cúpula de Presidentes do G20 em Buenos Aires: dela participarão as principais figuras do poder político, econômico e financeiro mundial.

As mulheres dizemos Não ao G20 porque sabemos que as decisões ali tomadas serão prejudiciais a nossos povos, e particularmente a nós mesmas, sobretudo àquelas em situações de vulnerabilidade. mail redgeneroycomercio@gmail.com Fb Red de Género y Comercio WWW.GENEROYCOMERCIO.NET


O QUE É O G20? O “Grupo dos 20” reúne os presidentes dos países economicamente mais poderosos do mundo, mais alguns emergentes com alguma importância no sistema financeiro global. A presidência do G20 muda a cada ano, e em 2018 o país anfitrião será a Argentina. O G20 se forma a partir da ampliação do G7 (EUA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Itália e Canadá), quando ao final dos anos 90, as crises econômicas produzidas em vários lugares do mundo desestabilizam o sistema financeiro internacional, e os países mais poderosos decidem incorporar outros menores, a fim de conter os riscos sistêmicos. Por trás dos interesses desses países, encontram-se as grandes corporações transnacionais e o poder financeiro mundial.

QUEM FAZ PARTE DO G20? Os países-membros do G20 – industrializados e “emergentes” – representam 85% do produto bruto mundial, dois terços da população e 75% do comércio internacional. Há grandes desequilíbrios dentro do G20: de fato são as economias dos Estados Unidos e Europa quem definem as normativas da regulação financeira, deixando os demais países de fora das decisões. Se bem inicialmente o G20 tratou da regulação do sistema financeiro completamente desorganizado pela crise de 2008, posteriormente foi perdendo seu foco e importância inicial e agora com uma agenda ampla e um pouco genérica, parece tentar domesticar os países “desobedientes” e impor as políticas econômicas de ajuste estrutural. Não por acaso a Cúpula se realizará em um país da América Latina, região que buscou se afastar das políticas tradicionais do FMI, e que, embora tenha sido em grande parte novamente submetida politicamente, possui movimentos sociais muito dinâmicos, como o movimento de mulheres, feministas e da dissidência sexual.

Uma das estratégias do G20 é apropriar-se de termos que fazem parte das reivindicações dos movimentos sociais para usá-las de maneira enganosa. Fica difícil de acreditar em conceitos como “empoderamento”, “inclusão” ou “desenvolvimento sustentável” em um contexto de políticas econômicas concentradoras e excludentes que priorizam os fluxos financeiros e a acumulação de lucro.

WOMEN20: EMPODERAMENTO? INCLUSÃO?

Todos estes temas têm um forte impacto sobre a população e acirram as desigualdades sociais e de gênero. O que de fato está em jogo é o modelo de desenvolvimento que os governos, capturados pelos interesses das grandes corporações, estão promovendo como falsa solução à crise econômico-financeira, social e ecológica. É significativo que na agenda do G20 figure o “futuro do trabalho”, quando os mesmos governos que o integram, na prática promovem reformas legislativas que atentam contra os direitos trabalhistas e de seguridade social, e atacam as organizações sindicais. Quando suas políticas de livre comércio destroem as indústrias nacionais e as economias regionais gerando desemprego. O mesmo sucede com os demais tópicos da agenda: “o futuro alimentar sustentável” ou a “infraestrutura para o desenvolvimento”. Embora a Cúpula diga que tratará do “futuro sustentável da alimentação”, em todos os países do G20 as empresas transnacionais do agronegócio crescem, promovendo mudanças na legislação para facilitar a apropriação dos recursos naturais, incluindo algo tão básico como as sementes, enquanto avançam as monoculturas (transgênicas) associadas aos seus pacotes tecnológicos e um modelo produtivo extrativista. O que eles chamam de “infraestrutura para o desenvolvimento” não está realmente projetado para o desenvolvimento industrial e tecnológico dos países menos desenvolvidos. Na verdade estão pensando na facilitação dos investimentos nas chamadas PPP (Parcerias Público-Privada) que somente beneficiam as grandes corporações e mineradoras extrativistas, aprofundando a divisão internacional do trabalho, e levando a estes países a serem meros produtores de matérias-primas. Ao mesmo tempo, o investimento estrangeiro mantém os chamados países “emergentes” endividados eternamente e, portanto, atados às decisões políticas dos credores econômicos.

O G20 inclui os chamados “Grupos de afinidade”. São espaços dos quais a sociedade civil supostamente participa para colocar suas propostas aos governos enquanto grupos: empresários, acadêmicos, sindicatos e também … mulheres. As autoridades do W20 (Women 20) foram designadas pelo presidente argentino: são duas mulheres, ambas provenientes da atividade empresarial. Elas definiram a agenda das mulheres para o G20 centrada em quatro eixos: 1. Inclusão pelo trabalho

2. Inclusão financeira

O que diz o W20... ...quase a metade das mulheres do mundo carece de renda própria e as que possuem, ganham em média 30% a menos que seus pares masculinos. Constituem um terço da força de trabalho, e esta baixa participação leva a uma perda de competitividade e de crescimento das economias.

O que diz o W20... … que o acesso aos serviços financeiros e a uma educação financeira adequada são condições necessárias para o desenvolvimento econômico. Mesmo estando à frente de pequenas e médias empresas, as mulheres têm muito mais dificuldade que os homens para ter acesso a uma conta bancária e um crédito.

O que não diz... ...quais são as raízes dessa disparidade: o trabalho invisível, não remunerado nem reconhecido de cuidado do lar, das crianças, idosos e doentes que as mulheres realizamos, e que permite que toda a economia funcione.

O que não diz... …que as desigualdades que impedem uma mulher de acessar o sistema financeiro e os créditos são culturais, sociais e econômicas. Que 7 em cada 10 pessoas pobres no mundo são mulheres, em particular mulheres negras, indígenas e migrantes. …que as mulheres mais pobres, para sustentar seus empreendimentos ou mesmo o consumo dos lares devem recorrer ao endividamento através de microcréditos com juros altíssimos, ficando submetidas a uma violência econômica real.


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