Por que as mulheres são afetadas pelas decisões da OMC? As mulheres são as primeiras a sofrer as consequências do livre comércio e das políticas neoliberais. Porque, em relação aos homens, temos empregos mais precários, informais e não registrados. As mulheres temos mais dificuldades para encontrar emprego, recebemos um salário mais baixo por um trabalho igual, e avançamos mais devagar na escala hierárquica, apesar de termos maior formação. E somos o primeiro alvo das políticas de ajuste: quando uma fábrica fecha, somos as primeiras demitidas. O desemprego das mulheres é maior que o dos homens. Na América Latina, as mulheres têm acesso muito limitado à propriedade da terra. E 7 em cada 10 pessoas pobres são mulheres. Essas desigualdades podem piorar de acordo com a idade, a etnia, a orientação sexual ou o status socioeconômico das mulheres, entre outros fatores.
A desigualdade econômica entre homens e mulheres é uma forma de violência de gênero. Uma das maiores desigualdades econômicas é que as mulheres têm tratado historicamente da criação dos filhos, do cuidado da família e da casa, cuidado dos doentes e idosos e outras tarefas reprodutivas. Essas tarefas têm e geram valor econômico: quando são contratadas no mercado, elas têm um preço. No entanto, quando elas são realizadas dentro das famílias, não são pagas e são invisíveis para a economia. Na verdade, elas constituem um motor invisível e barato que permite o funcionamento econômico de um país.
Não é possível pensar na justiça econômica sem equidade de gênero.
Na América Latina, as políticas de livre comércio convergem com a ausência de serviços de atendimento pelo Estado. A liberalização da economia e o ajuste fiscal significam perda de direitos trabalhistas e deterioração da educação, saúde pública e proteção social. O enfraquecimento do papel do Estado nessas áreas significa recarregar esforços familiares. As tarefas do cuidado continuam a recair principalmente sobre as mulheres, tornando-as menos disponíveis para o trabalho remunerado e também para o tempo livre. Mas elas não são apenas um problema das mulheres. A desigualdade de gênero é funcional à estrutura do capitalismo: produz a redução dos salários para atrair investimentos, prejudicando os trabalhadores em geral. Além disso, sustenta toda a economia através do trabalho de cuidado não remunerado que as mulheres realizam. O livre comércio promovido pela OMC ameaça aprofundar essas desigualdades. É por isso que, juntamente com inúmeras organizações e redes locais, regionais e globais, a Rede de Gênero e Comércio convida as mulheres a se informar e discutir o “livre comércio” e suas consequências. Chamamos à resistência contra a OMC, que apenas gera políticas de exploração e pilhagem dos nossos povos e natureza.
Equidade de gênero com justiça econômica. É por isso que as mulheres dizem NÃO à OMC!
NÓS MULHERES DIZEMOS NÃO À OMC!
Entre 10 e 13 de dezembro de 2017, a Organização Mundial do Comércio se reúne em Buenos Aires. E o que isso tem a ver conosco?
Não temos escolha senão fechar a fábrica. Vamos ter que nos dedicar a importar... Agora você vai ter mais tempo para cuidar de seus filhos...
Não! Eu vou vender online.
REDE DE GÊNERO E COMÉRCIO
LIDERANDO DESDE O SUL
FUNDO DE MULHERES DO SUL
NÃO!
Mas você não precisará de uma vendedora?
VOCÊ SABIA QUE…
VOCÊ SABIA QUE…
A OMC é uma organização que promove as regras do comércio internacional com foco no “livre comércio”, isto é, baseado na livre circulação de bens, serviços e investimentos através das fronteiras, com a mínima intervenção dos estados. Apesar da OMC ser constituída por 164 países (de um total de 200), os acordos nela negociados representam os interesses dos países mais poderosos e das grandes corporações transnacionais, e não dos direitos ou das necessidades das pessoas.
VOCÊ SABIA QUE… O LIVRE COMÉRCIO promove a redução dos direitos de importação ou tarifas. Mas na verdade, quando um produto entra em outro país sem pagar tarifas, ele reduz os rendimentos do Estado. Além disso, o produto importado compete com vantagens sobre os
produtos locais. Não paga impostos e pode ser produzido a um menor custo e, portanto, ser mais barato. Consequentemente, o produto local deixará de ser produzido. Nos países em desenvolvimento, isso significa o fechamento de fábricas e desemprego.
VOCÊ SABIA QUE… As negociações dentro da OMC ficaram lentas. Então, se buscou avançar com tratados de livre comércio (TLC) em acordos regionais ou bilaterais entre países. Os TLCs reduzem a capacidade de negociação dos países mais frágeis, e em geral, forçam os países em desenvolvimento a realizar reformas legais, econômicas e sociais, a fim de conceder condições cada vez mais favoráveis aos investimentos e negócios das corporações transnacionais. Vinte anos de TLCs em nossa região produziram flexibilização da legislação trabalhista, desemprego, ameaça para as PMEs, destruição do meio ambiente e ausência do Estado nas políticas e serviços sociais, o que se traduz em mais trabalho não pago para as mulheres.
Para a reunião da OMC em Buenos Aires, além das questões comerciais tradicionais (agricultura, produtos industrializados, serviços, propriedade intelectual etc.), os países dominantes tentam incluir o COMÉRCIO ELETRÔNICO, ou o e-commerce, na agenda de negociações. A proposta é avançar para uma economia digital globalizada, sem fronteiras que, guiada pelas grandes
corporações financeiras, tecnológicas e de logística, possa facilitar de forma irrestrita os movimentos de capital, trabalho e insumos. Sua proposta é desregular completamente o comércio eletrônico e promover a livre circulação de dados, evadindo obrigações corporativas em termos de impostos, direitos trabalhistas ou dos consumidores.
VOCÊ SABIA QUE…
VOCÊ SABIA QUE…
Ainda mais perigoso é o fluxo livre de dados através das fronteiras. O capital mais valioso dessas empresas é a informação sobre usos, consumo, gostos, traslados, orientação política, etc. dos usuários: tudo isso é chamado de Big Data. O principal país com servidores capazes de hospedar esses bancos de dados são os Estados Unidos: transferi-los é uma ameaça à nossa soberania e nossa privacidade pessoal.
“LIVRE” COMÉRCIO ELETRÔNICO: LIVRE COMPETIÇÃO?
APPLE
AMAZON
Microsoft FACEBOOK
Se os mais poderosos conseguem impor seus interesses em termos de e-commerce, para os países mais frágeis significará: ceder sua soberania em muitas áreas; tornar-se mais vulneráveis em termos de segurança e dados fiscais dos contribuintes, consumidores e cidadãos em geral; deteriorar a capacidade regulatória dos Estados em benefício dos investimentos estrangeiros, destruir fontes de trabalho. E estabelecer uma espécie de “nova forma de colonização”.
São empresas norte-americanas que estão entre as 7 maiores transnacionais do mundo. Elas possuem tecnologia, subsídios, regras comerciais próprias
O comércio eletrônico, além de atender à automação do trabalho (substituição de pessoas por computadores) envolve outro fenômeno que podemos chamar de “uberização da economia”. O modelo de relação de emprego Uber consiste em uma empresa localizada, não importa onde, que conecta trabalhadores independentes (drivers) com usuários.
A empresa não assume riscos ou encargos sociais (salários, contribuições de aposentadoria etc.), mas impõe o valor do serviço e mantém para si uma porcentagem generosa. A precarização do emprego não é a única ameaça deste modelo: a Uber possui os dados dos usuários, um capital que lhe dará ainda mais lucros quando for comercializá-los.
Contato: Redgeneroycomercio@gmail.com
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