Não é educomunicação

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Donizete Soares

educação+comunicação

NÃO É =educomunicação

abordagens


donizete soares

educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Quando eu educo – e todo nós, adultos, educamos sempre – direciono o caminho dos mais jovens. Digo a eles, de corpo e alma, não só o quê, mas também o como eles devem pensar, sentir e... viver.

Ao que parece, sempre foi assim: adultos são referência de pensamento e vida para os que mais jovens. Gostando ou não, querendo ou não, percebendo ou não, adultos são nada mais nada menos que modelo, portanto, algo a ser seguido, imitado e copiado. Não importa como nos dirigimos a eles, se os tratamos de modo bem intencionado ou não, o fato é que eles verão em mim e em você, adulto, alguém que vale a pena [ou não vale a pena] imitar. O tão antigo “quando eu crescer, quero ser [ou não quero ser] igual a você”, definitivamente, não é brincadeirinha ou frase de efeito. É de verdade que eles dizem isto. Não é por acaso, portanto, que educar [educare, em Latim: ex = fora e ducere = guiar, conduzir, liderar] é o mesmo que levar o outro pra fora de si mesmo [do seu próprio mundo] e apontar a ele a existência de outros indivíduos e outros mundos. Educar é indicar aos mais jovens modos de ser e de conviver e, particularmente, convencê-los de que o nosso mundo [do jeito que é ou do jeito que gostaríamos que fosse] deve ser o mundo deles também. Educar, então, é obra de todos os adultos. 1


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Crianças e adolescentes não educam; são educados. Crianças e adolescentes não ensinam; são ensinados. E aprendem. Aliás, como aprendem!!!

Basta olhar pra você, adulto ensinador, como aprendeu bem as lições de seus pais, avós, professores, chefes, pastores, gurus... Basta olhar para o que chamamos sociedade e seus valores para compreender a concepção que temos de homem, de justo, de belo, de bom.... Basta olhar para cada um de nós e avaliar o quanto de pré-conceitos não só mantemos, mas fazemos questão de repassá-los aos nossos filhos, alunos e 'subordinados' em geral. Cada vez que nós, adultos, optamos por isso ou aquilo, tomamos essa ou aquela decisão, agimos dessa ou daquela maneira, estamos direcionando os mais jovens para que também eles optem, tomem a mesma decisão e ajam do mesmo modo como agimos. Como não despencam das alturas e nem brotam do chão, faz todo sentido afirmar que, assim como nós, em geral, somos o que nossos pais quiseram que fôssemos, nossos filhos, em geral, são o que nós queremos que eles sejam.

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Foi a educação que recebemos que nos levou – e nos leva – a decidir pelos caminhos que seguimos. Ela tem tudo a ver com o ser que queremos, podemos e conseguimos ser.

Aliás, o que somos e fazemos da vida não é outra coisa senão tentar, o tempo todo, conjugar esses verbos da melhor maneira possível. Inclusive, o mundo que recebemos pronto dos que vieram antes mantém-se e/ou altera-se de acordo com o que nós – no tempo em que vivemos – queremos, podemos e conseguimos fazer com que ele se mantenha ou se altere. E assim, desse ou daquele jeito, o entregamos aos que vêm depois de nós.

Isto quer dizer que a educação é social, no sentido que são os vários grupos sociais os reais e verdadeiros educadores.

Nós

todos,

os

adultos,

somos

educadores. Somos nós quem dizemos quais os caminhos que os mais jovens devem seguir.

A partir de determinado momento, entretanto, adultos – em geral, homens – de determinados grupos sociais decidiram instituir [isto é, fundar, criar] e institucionalizar [isto é, cristalizar procedimentos e comportamentos, dando-lhes caráter oficial] o que sempre foi uma ação intencional de todos os grupos humanos: a educação.

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Como não encontraram resistência – possivelmente porque, antes, trataram de 'quebrar ao meio' as estruturas sociais dos vários outros grupos, amontoando pessoas de pensamentos e jeitos e gostos diferentes em pequenos espaços –, seu projeto vingou. Foi quando surgiu a escola tal como a conhecemos hoje: espaço separado da convivência social, especialmente destinado à transmissão/aprendizagem de saberes previamente aprovados, definidos... e impostos, para um público-alvo específico. Em primeiro lugar, educadores [homens e mulheres adultos] categorizados: os profissionais da educação. Em particular, um deles, o professor, que deve professar ao menos um saber permitido, admitido e inserido no rol dos 'saberes acumulados da humanidade'... Mais: como profissionais da educação, devem ser remunerados, portanto, devem prestar contas a quem banca seus salários. Em segundo, educandos [os que devem ser educados] que, estreando no mundo dos adultos, não somente são obrigados a aceitar e acatar as condições previstas e preparadas, mas, sobretudo, serem gratos pela atenção a eles dispensada, tanto pelos educadores como pelos que pagam seus respectivos salários; todos os adultos, portanto.. Mesmo assim, raro é encontrar quem não aprova a 'escola como o lugar da educação'. Há críticos, sem dúvida, mas, em geral, o que dizem – seja lá o que for – é para 'melhorar' a escola, ou seja, o mesmo que afirmam em relação a tantas outras instituições criadas de modo parecido. Para a grande maioria das pessoas, todavia, a escola é tão importante quanto necessária; dizem que é nela que se aprende a ser 'civilizado', a 'ter acesso à cultura', a 'viver em sociedade'...

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Vivemos um tempo que foi pensado para funcionar mecanicamente. Cada coisa e cada um no seu devido lugar: 'faz o que eu mando e guarda o que você sabe'; 'cada um no seu quadrado'; 'manda quem sabe e obedece quem tem juízo'; 'cada um fazendo sua parte, tudo funciona bem'... tudo conforme o 'relógio de Descartes'.

Ou quase isso, já que o que se fez, de forma oportunista e perversa, foi aplicar apenas parte – ou o que é possível – do método 'cartesiano': assim como a máquina relógio, cujas peças autônomas mas interligadas e movidas pelo pêndulo funcionam perfeitamente, os corpos humanos individuais mas, principalmente, quando ampliados como 'corpo social' [ou sociedade], devem funcionar. Ou seja, se uma peça apresentar 'defeito', basta consertá-la ou colocar outra em seu lugar. Ora, se isto vale para a máquina relógio, deve valer também para a máquina social – devem ter pensado os 'arquitetos' do nosso tempo. O que ficou de lado nesta esperta e interesseira aplicação do 'mecanicismo' de Descartes, entretanto, é algo que não tem como ser esquecido.

Não há como 'deixar de lado' e não considerar justamente o que não só justifica mas sustenta o método: a dúvida.

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Duvidar de tudo, de absolutamente tudo, é condição básica para que o sujeito perceba que tudo o que é e está à sua frente, inclusive ele próprio, é e está porque ele e seus iguais permitem que seja e esteja; que não há algo 'de fora' dirigindo a sua vida, a não ser ele próprio e os que com ele vivem; que o 'relógio funcionando perfeitamente' só existe porque alguém o construiu; que, portanto, o que chamam de realidade não é senão o que ele e os outros, conscientemente ou não, admitem que seja realidade. E o que foi e é chamado 'sociedade' não é senão um suposto relógio construído por quem, se submetido à dúvida, não resiste ao fato de que o 'social' não passa de um projeto específico de um grupo social específico que num momento histórico específico, de modo perverso e oportunista, definiu como 'sociedade' algo que atende a interesses específicos ou, mais exatamente, algo que atende os interesses desse grupo. A considerar como 'verdadeiro' o processo mecânico imposto por tal grupo, a palavra que deveríamos aprender e jamais esquecer, independentemente do que quer que aconteça, deve ser uma só: ordem. Afinal, se máquinas – conjunto de peças independentes – bem elaboradas, bem construídas, em constante manutenção, funcionam como relógio, então, que cada um, assim como cada peça, faça bem o que lhe cabe fazer para o bem da 'sociedade'. Funcionando mecanicamente – sem a força e presença da dúvida que ameaça e compromete a viabilidade do projeto – o 'corpo social' deve atender perfeitamente aos interesses do grupo inventor da 'sociedade'. Para tanto, basta substituir e/ou jogar fora determinadas peças. Antes, porém, não apenas convém, mas é fundamental inventar, construir e manter instituições institucionalizadas, como escolas.

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Mesmo sendo tomado todas as precauções possíveis, no dia a dia nem sempre tudo funciona como o previsto – o que equivale a dizer que há precauções que não adianta serem tomadas.

Como assim? Já que o uso da razão é atributo humano, todo e qualquer indivíduo é também capaz de duvidar – o que faz da tomada de precauções, inclusive as de caráter violento, algo frágil, podendo levar, em alguns momentos, a movimentos de rebeldia quase que generalizada. Na maioria das vezes, contudo, tomar precauções tendem a dar certo e, mesmo capenga, o relógio volta a funcionar... Mas não consegue jamais impedir a ação da dupla razão e dúvida... Sim, porque nem todo sujeito – indivíduo que ousa duvidar – se contenta com apenas levantar questões e fazer ilações sobre os espaços que lhe foram concedidos para 'viver'. Nem todo sujeito – indivíduo que se reconhece e, portanto, se sabe ser humano – entende que pensar e duvidar são apenas ações intelectuais, como se cabeça e corpo fossem 'peças' separadas uma da outra. Sujeito sabe e age de corpo e alma; então, rebela-se. Revolta-se. Não se conforma... e altera o ritmo do ponteiro do relógio. Aliás, são exatamente as ações pontuais – não importando quantas pessoas atinjam – que promovem alguma alteração no cenário concebido pelo grupo inventor da 'sociedade'? 7


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Tem sido assim em todas as instituições institucionalizadas, da família às mais refinadas formas de poder organizado, incluindo as de caráter repressivo. É que nada se mantém exatamente conforme as intenções dos que levaram às suas fundações. Seres animados [ânima = alma = vida] não suportam 'cercadinhos'... Sempre houve, há e haverá quem não se conforma com essa ou aquela situação, e atua no sentido de alterá-la. Isto vale para todas as instituições – e na educação escolar não é diferente. Quantos houve, há e haverá que questionam e se posicionam criticamente frente a escola como espaço separado da convivência social? Felizmente, não são todos os pais, todos os professores, todos os adultos educadores que concordam com tudo o que uma suposta sociedade determina e impõe. 'Todo mundo é muita gente' – convém lembrar sempre! Vale dizer: também na educação, inclusive escolar, há o homem educado que age de forma não convencional. Por não concordar com as diretrizes oficiais da escola, por exemplo, há professores preparando e desenvolvendo conteúdos que levam seus alunos a se posicionarem contra ou a favor das 'condições previstas e preparadas' para eles. Ou seja, a educação – inclusive escolar – é campo de atuação que permite ações individuais, sejam de manutenção, sejam de alteração da vida social. Mas isto nada tem a ver com Educomunicação.

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Eu comunico – e todos nós comunicamos. E quando você eu comunicamos é também de corpo e alma que o fazemos – é por necessidade, portanto. Gritos, palavras, gestos... nada mais são do que meios de nos fazermos vistos pelo outro.

Precisamos que ele nos veja e, sobretudo, que nos reconheça. Somente assim nos entendemos seres humanos. Nossa existência individual e coletiva, a rigor, depende da existência individual e coletiva do outro, não importando se o conhecemos ou não, e nem se ele nos conhece ou não. Somente sabemos que estamos vivos quando o outro [individual e coletivo] afirma saber que estamos vivos e nós ficamos sabendo que ele sabe de nós.

Não por acaso, a comunicação é necessidade básica como a alimentação, simplesmente porque não há como sobreviver sem comida e sem comunicação. Aliás, parece impossível definir qual das duas vem primeiro: a falta de comunicação faz com que populações inteiras 'convivam' com a fome, assim como o estado de fome é responsável pela dificuldade de comunicação. Uma 'alimenta' a outra e, ambas, ou impedem ou possibilitam que o homem individual e coletivo se faça visto. 9


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Fome e dificuldade ou impossibilidade de comunicação matam. Tanto é assim que, sobretudo nos últimos séculos, uma e outra servem como instrumentos de controle sobre a vida e a morte de indivíduos e grupos sociais indesejáveis. É preciso tomar as terras onde habitam povos indígenas para atender aos interesses do agronegócio ou da indústria hidrelétrica? Muito simples: basta expulsá-los, deixá-los à míngua pelas estradas e impedir que se comuniquem com os outros grupos sociais. Torná-los 'invisíveis' através da fome e da não-comunicação é, mais do que estratégia, certeza de fazê-los desaparecer, seja 'desintegrando-os' para se tornarem iguais a todos os outros, seja matando-os fisicamente. Foi esta certeza que fez e faz com que se enfraqueçam grupos sociais e suas culturas em vários lugares do planeta e, em especial, no continente americano. Tem como não lembrar dos inúmeros grupos indígenas em nosso meio? Quanto menos espaços esses grupos encontraram para se manifestar, mais enfraquecidos foram e vão se tornando. Quanto mais cala-boca, menos gritos, palavras, gestos...

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Controlar a comunicação do indivíduo e dos grupos sociais é a forma mais efetiva, eficaz e eficiente de implantação do modo de ser/pensar/sentir/agir único e de acordo com os interesses do mercado que, embora desejado e mantido por muita gente, transforma tudo em mercadoria, meros objetos descartáveis com obsolescência programada. Feiras, lojas e shoppings estão cheios de mulheres, homens e coisas totalmente disponíveis.

Desde que foram criados – quando a cidade passou a ser mais 'interessante' que o campo –, os tais 'meios de comunicação social' funcionam como formas de controle social. Afinal, centenas, milhares, milhões de pessoas morando muito próximas umas das outras são capazes de fazer qualquer coisa. Mas 'qualquer coisa' é perigoso demais... Como é preciso falar diretamente com cada uma dessas pessoas e com cada um dos grupos sociais que moram na cidade e no campo, foram inventadas, implantadas e implementadas, como já foi dito, instituições institucionalizadas que operam 'meios de comunicação social'.

A quais interesses, então, tais instituições devem atender e, efetivamente, atendem? Pra quem os 'meios de comunicação social' são realmente importantes? O que justifica sua existência? Quem, de verdade, precisa deles? Quem efetivamente ganha com eles? 11


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Ora, afirmar que por comunicação social entende-se o ato de alguém dirigir-se a um dispositivo eletrônico [microfones, câmeras etc.] sem saber quem está do outro lado, ou a uma máquina [rádio, tevê etc.] para ler, ver e ouvir o que ela fala e mostra é, na melhor das hipóteses, um equívoco, um engano, uma falácia. O que há, neste caso, é informação [informare = in 'em' + forma 'aspecto, forma' = colocar numa forma], isto é, um pequeno grupo de pessoas dá forma a algo, quer dizer, diz o que quer e do jeito que quer seja lá pra quem for, buscando sempre convencer a todos de que o que foi dito/escrito/exibido por esse grupo é o que todos devem aceitar como verdadeiro, bom, bonito... e vantajoso. Em nosso meio, poucas famílias – porta-vozes de um grupo social – decidem o que deve ser lido/visto/ouvido, afirmando que seus textos, imagens e sons expressam a 'nossa cultura'. Como certamente 'convencer a todos' não é tão simples assim, os 'meios de comunicação social' – sem escrúpulos – buscam não apenas se impor sobre indivíduos e grupos, mas mantê-los subordinados à forma que eles dão a conteúdos cuidadosamente escolhidos para serem transmitidos. Sons, imagens e textos são 'profissionalmente' elaborados, testados e exibidos, tendo em vista impedir que surpresa alguma comprometa os fins a que eles, 'os meios', servem. Vale dizer: de comunicação não há nada nos 'meios de comunicação social'. O que há são 'meios de informação, divulgação e convencimento do que diz respeito aos interesses e objetivos de um grupo social específico'. O que há são poderosas produções gráficas e audiovisuais intencionalmente elaboradas e dirigidas à sociedade com o intuito de vigiar modos de ser/pensar/sentir/agir de indivíduos e grupos, especialmente os indesejáveis.

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Estamos, pois, diante da mais bem elaborada e refinada forma de controle e vigilância social criada e mantida pelas tais TIC's – tecnologias de informação e comunicação –, seguramente a maior e mais robusta conquista de um grupo social específico no mundo contemporâneo.

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Comunicação é o mesmo que ação em comum: quem fala ouve quem ouviu, quem vê é visto por quem o viu, quem lê também escreve sobre o que leu. É, portanto, ação em comum de quem fala/ouve, vê/é visto, lê/escreve de modo livre e consciente. E é também ação de quem somente o faz se quiser. E somente se quiser.

Comunicação é troca de informações. É negociação de conteúdos que, por sua vez, se transformam em informações que atendem a necessidades e interesses diversos e diferentes. E porque é troca e negociação – ou mais: exatamente por isso – exige disposição e disponibilidade para trocar e negociar. Disposição para superar os constantes e inevitáveis pré-conceitos que primam por dificultar e/ou impedir diferentes e possíveis abordagens de conteúdos. Disponibilidade ou condições objetivas que garantam, por exemplo, tempo livre para, não raro, longas negociações. Não basta disposição se não houver disponibilidade, assim como de nada vale disponibilidade sem disposição. Estar disposto e disponível são requisitos mais do que essenciais para quem entende a comunicação como ação de sujeitos, e o que informam e divulgam não é senão o que resulta de algo como 'produção coletiva de comunicação' – um tipo de produção que exige tempo.

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Não o tempo definido pela 'grade de programação' dos produtores de 'comunicação social', mas o tempo necessário para a troca e negociação. Não o tempo decidido pelo 'patrocinador' das empresas que dizem fazer 'comunicação social', mas o tempo que for preciso para que as necessidades e os interesses dos que realizam trocas e negociações contemplem o bem comum. Espaço e tempo na comunicação como ação em comum em nada se parecem ou têm a ver com espaço e tempo nos 'meios de comunicação social'. Aliás, é justamente o por quê e o como são utilizados – dessa ou daquela forma – alguns dos elementos que diferenciam tanto conceito como prática de comunicação em nosso tempo. Diferencia também o papel do indivíduo: para os 'meios de comunicação social', é o representante dos interesses de quem o contratou: é quem 'assina a matéria' em nome deles. Para a comunicação como ação em comum, além de não representar senão a si mesmo, é como sujeito que o indivíduo se inscreve no grupo – que, aliás, é quem 'assina a matéria'.

Não há produção coletiva de comunicação para atender necessidades e interesses que não sejam necessidades e interesses do grupo.

E não há como integrar-se num grupo sem, antes, perceber-se como e enquanto indivíduo disposto e disponível no sentido de constitui-se sujeito, isto é, capaz de decidir por si mesmo junto com os outros. Não há como produzir coletivamente peças de comunicação se cada um dos participantes não atuar decidida e efetivamente na ação de trocar e negociar informações.

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Não há como 'fazer comunicação' sem, antes, assumir o lugar de sujeito nas relações estabelecidas no grupo.

Ou seja, não há possibilidade de troca e negociação quando x está sobre y. Neste caso – que é o dos 'meios de comunicação social' – o que impera é a imposição, a sobreposição, a relação vertical, o exercício de dominação. Por outro lado, somente quando x está ao lado de y, isto é, quando há co-laboração, justaposição, relação horizontal, exercício de liberdade, podemos afirmar a possibilidade da 'comunicação como ação em comum'. Vale dizer: o que indivíduos e grupos pensam e

tornam público está

intimamente ligado ao tipo de relações que estabelecem entre si: quando verticais, não admitem adição, subtração, multiplicação, mas somente divisão; quando horizontais, realizam todas as operações.

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As empresas de 'comunicação' – não importando se são privadas, governamentais, confessionais, de associações... regulamentadas ou não – utilizam-se de tecnologias cada vez mais sofisticadas com o firme propósito de vender ideias, produtos e serviços. E não medem esforços para atingir esses objetivos. São empreendimentos que visam lucro e, portanto, jamais brincam em serviço...

Ocorre

que

essas

empresas

não

são

máquinas

que

funcionam

automaticamente. Seus equipamentos, para que tenham alguma serventia, precisam ser operados por seres suficientemente capazes de algo mais do que apertar botões. A utilização que fazem do tempo e do espaço, justificando assim os fins a que se destinam, não é definida por seus poderosos computadores, mas por homens e mulheres – seres humanos dotados de razão e dúvida, sensibilidade e inteligência, portanto. Por conta disso – assim como na educação – também na comunicação oficial/comercial, nem tudo se dá conforme o previsto, o elaborado, o determinado. Muita coisa pode acontecer... É que, tanto numa como noutra, o elemento determinante não são as máquinas, mas o sujeito: aquele que é e faz o que é e faz de acordo com o que quer, pode e consegue ser e fazer – embora tudo concorra contra ele. 17


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E esse sujeito que sente, pensa e é capaz de relacionar o que vê, lê e ouve com outros textos, imagens e sons também pode não se conformar com a condição de alimentador das máquinas das empresas de 'comunicação'. Quando isto acontece, é possível que algum sujeito encontre alguma forma de empreender ações individuais que, ao menos por algum tempo, enfrentam o sistema mecânico de venda de ideias, produtos e serviços. É o caso, por exemplo, do repórter que ousa desafiar o rigor da pauta definida pelo editor que, por sua vez, responde e atende aos interesses desse ou daquele anunciante. E então, de alguma forma, se rebela, podendo provocar alguma reação... O mesmo pode acontecer com qualquer outro trabalhador desse tipo de empresa, especialmente quando ele percebe que é tão somente mais um dos que, manipulando botões, faz com que essa máquina produza lucros controlando informações. O fato é que a comunicação, dada sua necessidade, portanto, campo de atuação política, possibilita ao sujeito – indivíduo que percebe que é ser humano – inventar ações que resultam ou na manutenção ou na alteração da vida individual e coletiva. Quando tais ações são contrárias ao funcionamento da máquina, o mais comum é o ameaçador ser 'sugado' e fatalmente cooptado; caso contrário, é simplesmente despedido e ponto final. Ou seja: assim como a Educação [instituição institucionalizada], a Comunicação também é espaço permeável à ação individual, que pode provocar, ainda que momentaneamente, alterações nas 'grades de programação' e, então, produzir efeitos indesejáveis e inesperados aos donos das máquinas.

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Ajustes, acertos, adaptações... tanto na máquina como no autor das ameaças são previsíveis e necessários. São apostas que, geralmente, resultam positivamente. Por outro lado, se as ações ameaçadoras tiverem como objetivo a retirada do relógio, o que resta a fazer é jogar fora a 'peça' e trocá-la por outra. Cooptação e/ou exclusão do sistema servem como estratégias de controle e poder para aperfeiçoar o funcionamento do relógio. Afinal, o importante mesmo é que a máquina não deixe de funcionar. Contudo, não são raros os sujeitos que enfrentaram as máquinas de informações e pagaram caro pelos seus atos de ousadia. Mas isto também não é Educomunicação.

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Mesmo assim – mas, sobretudo, porque nada apaga a chama de liberdade no ser humano –, não raro surge quem ousa enfrentar o 'sistema mecânico' das instituições oficiais/comerciais.

Tal enfrentamento pode durar algum tempo e até promover alguma alteração, muito embora os opositores, em geral, sejam cooptados e, os que não se deixam 'sugar', acabem por encontrar lugar somente fora do tal sistema. De qualquer modo, é importante ressaltar que ações desse tipo são ações individuais ou, quando muito, de alguns indivíduos que não necessariamente se opõem ao 'sistema mecânico' de tais instituições. Não querem – ou ainda não entenderam por que não querem – o fim desse modo de ser/pensar/agir próprio de um grupo social específico imposto a todos como único e verdadeiro. Ao contrário, o que lhes interessa é 'melhorar a sociedade', torná-la 'mais justa', 'mais humana', 'menos violenta'... Então, reivindicam [pedem ao rei] que seja mais 'humano' com eles. Não querem o fim das máquinas, mas que seus donos não cobrem e nem exijam tanto... Ou seja: ainda que se apresentem como ações válidas, desejáveis, necessárias e merecedoras de reconhecimento e consideração, expressam não mais que a indignação de indivíduos insatisfeitos e/ou mal acomodados nos espaços que lhe foram permitido frequentar. Não raro, são ações ousadas, corajosas, de enfrentamento, mas individuais – quando muito, seus autores outorgam-se o papel de representantes dos interesses de categorias profissionais, por exemplo.

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Ocorre que ações individuais estão muito longe de expressar o denso, comprometido e alegre empreendimento de sujeitos que não apenas buscam compreender o tempo em que vivem, mas, sobretudo, decidem o tipo de vida que querem viver.

Não se trata, portanto, de indignação por conta de algum desconforto, mas de não aceitação do que é imposto e busca de um modo próprio de viver.

Não manutenção, mas transformação social.

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Não é porque “Eu educo” e “Eu comunico” – e todos os desdobramentos da efetiva ação de educar e de comunicar – que faço Educomunicação ou, pior ainda, que 'eu educomunico'.

Quando educação [ação de conduzir] e comunicação [ação em comum] são ajuntadas num contexto histórico como o atual; quando, nesta condição, ambas compõem discursos e realizam práticas de modo oficial [portanto, imposto] e comercial [de acordo com os interesses de um grupo social, a quem somente interessa o mercado]; quando há indivíduos que optam por ser profissionais dessas áreas e, além

de

se

pretenderem

especialistas,

servem

à

educação

institucionalizada e/ou à máquina de informação... … não somente a educação e a comunicação se enfraquem como ideia [conceito], mas tornam-se dispositivos úteis e, mais que isso, necessários para a manutenção social. Neste contexto, apenas juntar educação e comunicação não passa de uma forma modernosa de controle social.

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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Afirmar que educação+comunicação NÃO É =educomunicação tem a ver com isto: enquanto as primeiras são passíveis de ações individuais, a última simplesmente inexiste se as ações não são coletivas.

Se na educação e na comunicação – apesar do 'cercadinho' em que foram dispostas, dificultando as relações humanas – podem surgir ações individuais questionadoras dos seus modos de atuação, na educomunicação tais ações somente serão possíveis se resultarem de decisões individuais e coletivas. Em educomunicação não há ações individuais pautadas na indignação causada pelo 'sistema mecânico', mas ações coletivas [fundadas em decisões individuais] e pautadas pela negação de tal 'sistema'.

Isto vale, obviamente, se você e eu entendemos 'educomunicação como intervenção social', e não como atualização modernosa de projetos em educação e

comunicação.

conscientemente,

Tem lemos

algum a

história

sentido [passado

se, e

presente] de forma crítica, e não movidos pelas belas intenções dos que querem 'melhorar' as instituições. Faz sentido falar em 'educomunicação' como algo novo e interessante e realmente possível se, de verdade, o que nos interessa é a alteração do tipo de vida que, sobretudo nos últimos tempos, temos aceito e adotado. 23


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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Manter a 'máquina em funcionamento' e dizer que trabalha com educomunicação – vale dizer: atuar no sentido da reprodução e não da intervenção social – de duas, uma: é ingenuidade ou puro oportunismo; é coisa de 'alegrinho' ou de espertalhão.

Fazer educomunicação ou algo como empreender ações na perspectiva da educomunicação – bem diferente e mais sério do que juntar educação e comunicação, portanto – supõe que sejam observados alguns elementos e procedimentos sem os quais, pelo que tudo indica, podemos dar qualquer nome às nossas ações, menos educomunicação. Aliás, convém lembrar, sempre, que compreender é mais do que entender seja lá o que for, e atuar vai além de cumprir ordens e seguir qualquer tipo de cartilha.

Sair do cercadinho

Instituições institucionalizadas como educação e comunicação – assim como saúde, esporte, artes, lazer etc. – nutrem-se do trabalho de seres humanos que, na medida em que 'vestem a camisa' de organizações e corporações, escondem muitas das marcas que os caracterizam justamente como seres humanos. Assim, incluir no dia a dia constantes ameças e/ou possível exclusão dos quadros institucionais, mais do que um dever de seres humanos trabalhadores, é exigência e garantia dos donos das máquinas para que sejam aceitos e remunerados. Então, submissos, adaptam-se às vestes na ilusão de protegerem seus corpos. 24


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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Ora, das instituições institucionalizadas somente fazem parte os que, antes, as escolheram. É preciso optar por elas para, então, talvez, ser admitido por elas. Não estão em seus quadros os que não querem ser enquadrados por elas. E para nelas permanecer, é preciso ser condescendente com as regras do jogo, ou seja, estar totalmente disposto a 'ceder às vontades, às opiniões alheias, ainda que não sejam coerentes com seus próprios princípios'. Ser

condescendente

fórmula

exigida

para

que

instituições

institucionalizadas tenham lucro – é, então, de forma pública e notória, não somente aceitar e acatar, mas, sobretudo, defender e manter, com a própria carne e o pensamento, um modelo de sociedade. Ser condescendente é ser cúmplice e mantenedor de um modo de ser/pensar/agir que em nada se parece ou tem a ver com educomunicação. Não se parece porque, enquanto sujeito crítico, o indivíduo não se admite como 'alimento' de máquina e nem participa de jogos cujas regras não foram escritas também por ele. E não tem a ver porque, como seres humanos, não somente somos racionalmente capazes de compreender toda e qualquer situação, por mais complexa que seja, mas suficientemente inteligentes para não negar a nós mesmos ante toda e qualquer situação. Discutir, debater, argumentar, concordar, discordar... Exercitar a capacidade de pensar e relacionar... Decidir... Agir... E rever a decisão e ação. Isto se parece e tem a ver com educomunicação entendida como 'intervenção social', portanto, não comprometida com a manutenção, mas com a alteração social.

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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Significa usar a razão, a capacidade de pensar a partir de si mesmo na relação com o outro, para superar a violência; é o mesmo que tornar-se humano ou recuperar e fortalecer a humanidade que há em cada um de nós. Caso contrário, o que, em geral, se chama educomunicação – assim como educação e comunicação – nada mais é do que pensamento e prática de manutenção social, de continuidade e, principalmente, de defesa de um modo de pensar e viver pautado por instituições institucionalizadas, que visam não a formação de sujeitos individuais e coletivos, altivos e comprometidos com a vida, mas de seres humanos condescendentes...

Isto quer dizer que, para empreender ações na perspectiva da educomunicação, é necessário não estar de acordo com o que existe como forma de convivência social. É preciso entender que o que chamamos sociedade é tão somente um jeito de viver, que nem sempre foi assim e, portanto, não tem que necessariamente ser assim. É

fundamental

compreender

que as instituições

sociais que conhecemos não caíram do céu; que foram criadas e aceitas e mantidas por homens como nós, mas que atendem interesses e necessidades que não são os interesses e as necessidades de todos, mas de alguns homens que conseguiram e conseguem impor aos outros grupos sociais os objetivos do seu grupo.

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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Se temas como estes, nascidos do necessário inconformismo – que, vale lembrar, nada tem a ver com indignação –, não forem compreendidos, não há por que falar em educomunicação como intervenção social. Por outro lado, se 'a camisa veste bem' e o 'conforto do cercadinho' respondem às perguntas eventualmente formuladas, e se essas respostas satisfazem os elementos necessários para um certo 'projeto de vida', não há por que empreender ações na perspectiva da educomunicação. Educação [escola] + Comunicação ['social'] enquanto instituições institucionalizadas servem exatamente pra isto.

Disposição e disponibilidade

Disposição para buscar saídas [isto é, criatividade] que possam viabilizar as ações: é fundamental 'sair do cercadinho' e devolver a 'camisa'. Disponibilidade porque, sem condições materiais e objetivas [isto é, sem garantir a sobrevivência], de nada adianta imaginar saídas: administrar o próprio tempo é fundamental. Sem esses elementos e procedimentos é praticamente impossível sequer falar em educomunicação.

E o mais importante de todos: a alegria de não 'ter o rabo preso com ninguém'. De ousar pensar com a própria cabeça. De tentar [isto é, de cutucar] mexer nas brasas internas que, certamente, guardam a chama da liberdade sempre presente em cada ser humano.

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Algo mais profundo e sério, portanto, do que ficar 'alegrinho' porque, atuando na escola, por exemplo, fez com que um grupo de crianças repetisse, com microfone em punho, exatamente o que elas teriam que dizer. Ou porque faz com que adolescentes, em geral os 'disciplinados', saiam para entrevistar pessoas com perguntas nem sempre formuladas por eles próprios.

Infelizmente, os 'alegrinhos' ou não têm noção do que fazem e, por isso mesmo, são presas fáceis dos que, definitivamente, não querem nenhuma alteração. Ou são oportunistas, como sempre, dispostos a fazer qualquer coisa por vaidade e/ou por conta de alguns trocados e, pior ainda, interessados em que tudo continue como está. Ou são bobos ou são perversos – e isto nada tem a ver com alegria.

Empreender ações na perspectiva da educomunicação como intervenção social tem a ver com estar animado [do latim, anima = alma], isto é, vivo, não 'mais ou menos vivo' e nem 'mais ou menos alegre'. Alegria e vida querem dizer a mesma coisa. Estar vivo, de verdade, e alegre por estar vivo é, ao menos, estar em busca de se livrar do cerco e das amarras

tão

necessárias

às

instituições

institucionalizadas,

que

simplesmente não sobrevivem se os indivíduos não alienarem o que eles têm de mais rico e nobre: a liberdade.

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Eis que chegamos, então, ao ponto crucial deste texto: não há como falar em educomunicação sem fundamentá-la no mais sincero desejo [no latim, desirare = necessidade] que habita em cada um de nós: o de ser livre. Não há como empreender qualquer ação nesta perspectiva se o objetivo não é o exercício da liberdade.

Não há educomunicação se o que se diz e faz em seu nome não é senão reprodução do que já existe. Educomunicação tem a ver com o novo, com o que ainda não existe. E, porque ainda não existe, é preciso inventá-lo. Ora, não há exercício de liberdade se o que se pretende, diz e faz não é senão manter as coisas como são e estão. E, porque são e estão como são e estão, é preciso intervir e provocá-las.

Se

produções

coletivas

de

comunicação

não

apontarem para o tipo de vida que quer, pode e consegue ser, elas não servem senão para manter o que está aí. E o que está aí, como sabemos muito bem, é a negação da real possibilidade de, juntos, decidirmos o que nós queremos ser – e não o que querem que sejamos.

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Só faz sentido juntar educação e comunicação se, efetivamente, estamos convencidos de que elas emergem das relações humanas e, como tal, expressam anseios/necessidades humanas. E não os interesses das empresas oficiais e comerciais de educação e comunicação. Não as necessidades e anseios de um grupo social, mas dos vários grupos sociais que formam o que se convencionou chamar sociedade. Nada

mais

nos

caracteriza

como

seres

humanos

do

que

a

vontade/necessidade de dizer o que sentimos e pensamos sobre tudo e sobre todos. Aliás, não é à toa que, desde que 'saímos do berço' e começamos a falar, temos opinião sobre o mundo e as pessoas ao nosso redor. Também é verdade que no decorrer da vida, grande parte de nós – depois de 'aprender' bastante – opta por se acomodar nos 'cercadinhos' sem perceber o quanto se des-hominiza 'preferindo' ficar quieto ao invés de se manifestar. Mas cada um de nós tem o direito de 'dar o seu palpite', dizer o que sente e pensa – do jeito que quer, pode e consegue – sobre tudo o que tem e o que não tem a ver conosco. E de ser ouvido também. E ver 'colocadas em cheque' cada uma de nossas afirmações e sustentá-las e alterá-las. Educação e Comunicação, entendidas como expressão de necessidades e anseios humanos – como 'fenômenos sociais' –, nada têm a ver com programas, projetos e ações de instituições institucionalizadas, tão somente ocupadas com a manutenção de um certo tipo de 'convivência social'. Educação e Comunicação – como 'fenômenos sociais' –, não têm nada a ver com medidas legais ou de conveniência que dificultem ou impeçam o indivíduo de exercitar sua capacidade não apenas de pensar, mas de expressar o que sente e pensa.

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educação+comunicaçãoNÃOÉ=educomunicação

Nada a ver, portanto, com qualquer ato que possa inibir e/ou dificultar qualquer possibilidade de coexistência social dos diversos grupos humanos. Educação e Comunicação como expressão de necessidades e anseios humanos têm a ver com ações que conduzam ao fortalecimento dos indivíduos para que eles, na medida em que se percebem como sujeitos individuais e coletivos – e de acordo com o querem/podem/conseguem – definam ações em comum, visando a que, eles próprios, escolham e se responsabilizem pelos rumos de suas vidas. Têm a ver com exercício de liberdade e, portanto, têm a ver com o novo, o que ainda não mas pode ser.

Sem antes compreender [abordar de forma crítica os temas] e 'optar' [deixar-se levar] pela simples junção de dois termos que em nosso tempo representam o que há de mais elaborado no quesito controle de indivíduos e de grupos sociais, convém afirmar que educação + comunicação NÃO É = educomunicação.

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Este texto, publicado em janeiro de 2014, integra a série abordagens.

pela constituição de sujeitos autônomos portalgens.com.br gens@portalgens.com.br


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