Ano 03 | Nº 06 | fevereiro de 2021
REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E O RENDIMENTO DA SOJA Elmar Luiz Floss Instituto Incia; e.mail: elmar@incia.com.br A agricultura no Brasil experimentou grandes mudanças nos últimos 60 anos (1960/2020), especialmente quanto ao aumento no rendimento das culturas e à melhoria da qualidade do grão colhido. No Sul do Brasil, as mudanças na agricultura iniciam nos anos 1950 com a mecanização das lavouras (importação de tratores, semeadoras, arados, grades, colhedoras e outros equipamentos), saindo de uma agricultura basicamente de subsistência (colonial) para uma agricultura mais empresarial. O principal objetivo era a a produção de trigo para atender à crescente demanda interna desse cereal, pois o Brasil era grande importador. Essa crescente produção de trigo gerou a criação de infraestrutura de beneficiamento e armazenagem, como a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (CESA) e o surgimentos das cooperativas de produção, as cooperativas tritícolas. Nos anos 1960, essa maquinaria agrícola e infraestrutura de beneficiamento e armazenagem, serviu de base para o crescimento anual da lavoura de soja na região1. A produção de grãos de soja é a que mais cresceu no mundo (+649,6%), passando de 45,0 milhões de toneladas em 1976, para 337,3 milhões de toneladas na safra 2019/20 (estimativa do USDA, outubro de 2020). A área cultivada, aumentou no período de 37,17 milhões de ha para 122,65 milhões de ha (+.230,0%). O rendimento médio, evoluiu de 1.544 para 2.750 kg ha-1 (+ 78,1%). No Brasil, a produção evoluiu, no mesmo período, de 11.227,1 milhões/t para 124.844,5 milhões de toneladas (+1.011 %), enquanto a área cultivada, cresceu no mesmo período de 6.476,3 para 36.949,0 milhões de ha (+470,5 %). O rendimento da soja, no Brasil, aumentou de 1.749,8 kg ha-1 na safra 1976/1977 para 3.379 kg ha-1, na safra 2019/20 (+93,1%), conforme estimativa da Conab (2020). No Brasil, é a cultura principal em área cultivada, produção e geração de divisas na exportação (mais de 42 bilhões de dólares no ano de 2020). E, graças a disponibilidade de farelo de soja (proteína), o Brasil bate recordes na exportação de carne suína (4º. maior exportador) e de frangos (2º. maior exportador). O aumento do rendimento/produtividade é o resultado do desenvolvimento de Texto extraído do livro: Elmar, Luiz Floss. Produção de alimentos – “a nobre missão da agricultura”. Passo Fundo: Aldeia Sul e Berthier, 2020. 199p. 1
n o va s tecnologias pelas pesquisas, pública e privada, a difusão dessas, mas, especialmente, devido à adoção dos apontamentos pelos produtores rurais. Essa evolução no rendimento deve-se às diferentes revoluções tecnológicas implementadas nos últimos 60 anos, como a calagem, a adoção do sistema plantio direto, o uso de cultivares transgênicos, a adubação equilibrada (macro e micronutrientes), a maior eficiência no controle de plantas daninhas, pragas e moléstias, e, finalmente, o advento do uso das ferramentas da agricultura de precisão. 1 Calagem A primeira grande revolução tecnológica iniciou-se no Rio Grande do Sul em meados da década de 1960, quando, por meio da calagem, denominada de “Operação Tatu”, os solos ácidos, com excesso de alumínio e baixa disponibilidade de nutrientes (ex. fósforo, cálcio e magnésio), foram transformados em solos altamente produtivos. Foi um projeto pesquisado e implantado pela Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), num convênio com a Universidade de Wisconsin, EUA. Na busca de altos rendimentos há necessidade de elevar o pH em água na camada de 0-20 cm de 6,0 a 6,5. A calagem reduz a disponibilidade de elementos tóxicos no solo (alumínio) e aumenta a disponibilidade de vários nutrientes (nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, molibdênio, entre outros). A calagem, além de melhorar a nutrição das culturas, estimula um maior desenvolvimento do sistema radicular. E quanto maior o volume de raízes em contato com o volume de solo, maior é a eficiência na nutrição das culturas. No entanto, o excesso de calcário em superfície (0-10cm) promove a indisponibilização de alguns micronutrientes, como manganês, cobre, zinco e boro. O desafio é a correção da acidez em profundidade (20-40cm), mediante a calagem em profundidade associada à subsolagem. Essa é uma prática promissora para áreas que não têm limitações de pedras na superfície superior. Visa à correção da acidez, à neutralização do alumínio tóxico e ao aumento de nutrientes, em maior profundidade, melhorando o perfil até 40 cm de profundidade. A maior infiltração de corretivos depende de uma melhor estrutura física dos solos e o cultivo de culturas de cobertura verde. Também, já há equipamentos disponíveis para realizar a subsolagem associada à aplicação de corretivos em profundidade. Na mesma operação, busca-se a melhoria das propriedades físicas e químicas dos solos. O melhor momento é com culturas de cobertura já estabelecidas (ex: milheto, braquiárias, sorgo forrageiro, capim Sudão, aveia preta, centeio, crotalarias, ervilhacas, nabo forrageiro, dentre outras, dependendo da região e da época), para reduzir as perdas de solo por erosão e para que as raízes ocupem o espaço poroso criado, melhorando, dessa forma, também as propriedades biológicas dos solos. Além da calagem, a redução da atividade do alumínio em profundidade pode ser realizada por meio da gessagem. O gesso agrícola (sulfato de cálcio) é um condicionador químico do solo, fornecedor de cálcio e enxofre. Como o sulfato, é altamente solúvel e móvel no solo, infiltra com facilidade, acompanhado de cátions. Com uma alta saturação de cálcio em superfície (mediante calagem prévia), o sulfato carrega esse cátion em profundidade, o que estimula o crescimento radicular (a raiz cresce ao toque do cálcio). A maior concentração de cálcio diminui a atividade do alumínio, bem como a formação de sulfato de alumínio, o principal inibidor do crescimento de raízes. 2 Adubação Entre os fatores mais importantes para a expressão do potencial genético das culturas está a nutrição adequada, juntamente com os demais fatores que influem na disponibilidade desses nutrientes no solo, no contato do nutriente com a raiz, na absorção, no transporte, na assimilação, e na redistribuição na planta.
Com o aumento do rendimento das culturas, há a necessidade de uma alta disponibilidade de macro e micronutrientes, de adequadas relações entre esses nutrientes e, ainda, de tomar-se por base um conhecimento da extração e da exportação de nutrientes nos níveis de rendimento obtidos em cada gleba da lavoura. Uma adubação eficiente objetiva conseguir um equilíbrio nutricional na planta, que garanta um adequado crescimento de raízes, parte aérea e, especialmente, uma maior formação de grãos. A adubação racional é a diferença entre a necessidade da cultura (extração/exportação) e a disponibilidade de nutrientes no solo, multiplicada pelo fator de eficiência de cada nutriente. Caso os teores dos nutrientes no solo forem muito altos, a quantidade de nutriente aplicada deve ser igual à exportação. Em qualquer nível abaixo, a quantidade será equivalente à extração. O diagnóstico da disponibilidade de nutrientes no solo deve ser realizado por intermédio da análise química, complementada com uma análise foliar. A análise de solo indica, teoricamente, a quantidade de nutrientes que podem ser absorvidos pelas culturas (nutrientes disponíveis), e a análise foliar, o que é, efetivamente, absorvido naquelas condições de clima e solo. No entanto, uma planta somente é nutrida adequadamente se houver disponibilidade de água no solo. Sem água no solo, não há solubilização dos corretivos e fertilizantes, crescimento de raízes, mobilidade de nutrientes no solo (fluxo de massa e difusão), transporte dos nutrientes da raiz para a folha (movimento apoplástico), redistribuição dos nutrientes móveis (movimento simplástico) e assimilação dos nutrientes nas folhas, pois as reações bioquímicas somente ocorrem em meio aquoso. Os teores de nutrientes na biomassa das culturas variam entre cultivares, dependendo das condições de solo, da disponibilidade de água e oxigênio no solo, dos fatores climáticos, do órgão da planta e do estádio de desenvolvimento. A extração é a quantidade total de nutrientes acumulada nos grãos e na palha (parte aérea e raízes). Por convenção, dada a dificuldade de determinar a quantidade total de nutrientes acumulada nas raízes, considera-se apenas a quantidade de nutrientes na palha (parte aérea). A exportação (índice de colheita de nutrientes) é a quantidade de nutrientes acumulados nos grãos, exportados da lavoura e não reciclados. Na medida em que o rendimento da soja aumenta, como resultado da genética e das modernas práticas de manejo da cultura, têm sido observadas com maior frequência respostas à aplicação de micronutrientes, via solo, semente ou foliar bem como o aparecimento de sintomas de deficiência. No diagnóstico da deficiência de micronutrientes, vários fatores devem ser considerados, tais como: a) os maiores potenciais de rendimento; b) o excesso de calcário em superfície; c) o efeito inibidor do glifosato; d) doses elevadas de fósforo na linha; e) a deficiência hídrica; e f) a qualidade dos fertilizantes foliares (Floss; Floss, 2020). A nutrição adequada das culturas depende da disponibilidade de nutrientes no solo e, também, da capacidade de absorção desses pelo sistema radicular, da disponibilidade de água e ar no solo. Portanto, a eficiência de absorção depende das adequadas propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos. Uma das mais importantes propriedades dos solos é a física, especialmente, a permeabilidade/porosidade, que influi na disponibilidade de água, ar e nutrientes, e no crescimento radicular (Floss; Floss, 2020). A compactação do solo reduz o espaço poroso (especialmente os macroporos), limitando a penetração das raízes e a infiltração e o armazenamento de água e de ar. As causas principais da compactação são o tráfego de máquinas agrícolas, em excesso ou de forma inadequada, o pisoteio excessivo pelos animais (na integração da lavoura-pecuária), o impacto direto da chuva sobre solos descobertos e o adensamento (migração da argila) nos solos.
Quanto à melhoria das propriedades químicas do solo, visando a altos rendimentos, o manejo deve buscar um pH entre 6,0 e 6,5, o aumento crescente dos teores de matéria orgânica (fundamental na agregação do solo, aumento da CTC, retenção de água, atividade microbiana e a disponibilização de nutrientes), a saturação de bases (Ca, Mg e K) acima de 70% da capacidade de troca de cátions (CTC), a alta, ou muito alta, disponibilidade de macronutrientes (P, K, Ca, Mg, S) e micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn), o equilíbrio de bases (50-70% da CTC ocupada pela Ca, 15-20% pela Mg e 35% pelo K), e a neutralização do alumínio tóxico (Floss; Floss, 2020). A melhoria das propriedades químicas do solo, visando a altos rendimentos, deve atingir um perfil de 040 cm de profundidade. Para atingir esse objetivo, são fundamentais a calagem, a gessagem, a adubação racional e a produção permanente de biomassa, seguindo o princípio “colher/semear/colher”. Um solo bem manejado é aquele em que há aumento progressivo do teor de matéria orgânica, o principal fator responsável pela melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. As propriedades biológicas mais importantes são o aumento de bactérias fixadoras de nitrogênio (ex. Bradyrhizobium, Azzospirilum, Pseudomonas), liberadores de fósforo, mediante a síntese de fosfatases (ex. Micorrizas, Baccillus), controle biológico de pragas (ex. Baccillus, Pocconia, Beauveria), controle de patógenos (ex. Tricoderma, Baccillus), além de outros microrganismos como as nitrobactérias, sulfobactérias, entre outros. Um solo fértil é um solo vivo. A presença do material orgânico no solo é determinante da atividade dos microrganismos, bem como no seu montante populacional, uma vez que a matéria orgânica é, antes de mais nada, fonte de energia para os organismos do solo (Floss; Floss, 2020). A bioanálise do solo (DNA e enzimas como fosfatases, arilsulfatases e beta-glicosidases) é ferramenta promissora no diagnóstico das propriedades biológicas e sua relação com a fertilidade dos solos. 3 Progressos do melhoramento genético Pelo melhoramento genético, foram desenvolvidos cultivares com potencial de rendimento cada vez mais elevado e houve a melhoria da qualidade de grãos. Houve mudanças significativas em caracteres morfológicos e agronômicos, como na redução do ciclo dos cultivares e da estatura de plantas, prevenindo o acamamento e tornandoas mais responsivas à adubação. Outro aspecto importante é uma melhor adaptabilidade dos cultivares aos diferentes ambientes para permitir a expressão desse potencial genético. Na cultura do milho e sorgo, foi significativo o aumento do potencial de rendimento a partir do desenvolvimento de híbridos. Nessa revolução tecnológica, destaca-se a participação de empresas internacionais de melhoramento genético, que se instalaram no Brasil graças à Lei de Proteção de Cultivares (1997) e a Lei de Biossegurança (2005), especialmente nas culturas de soja e milho, que representam 90% do total de grãos alimentícios produzidos no Brasil. Na soja, nossa principal cultura, cada novo cultivar desenvolvido apresenta características diferenciais, como maior potencial de rendimento, melhor qualidade do grão, adaptabilidade a cada região, resistência/tolerância a moléstias e pragas, além da tolerância a fatores abióticos, ciclo mais curto, menor estatura de plantas, folhas mais curtas e eretas (lanceoladas), resistência ao acamamento, entre outras. É de fundamental importância a diversificação de cultivares de diferentes ciclos, com diferentes eventos biotecnológicos, diferentes graus de resistência/tolerância a pragas e moléstias, além, da diversificação nas épocas de semeadura. Essa prática minimiza os estresses, gera maior estabilidade de produção ao longo dos anos e promove o escalonamento da colheita. No entanto, a genética chega na lavoura por meio da semente, sendo fundamental a qualidade dessa. A qualidade da semente é um dos fatores mais importantes para
obtenção de altos rendimentos, cuja correlação é maior com o vigor do que com o poder germinativo. O vigor é um conjunto de características das sementes, que garante alto poder germinativo, uma emergência rápida e uniforme, e a obtenção de plântulas vigorosas. Plântulas vigorosas têm maior capacidade de formar raízes, maior ramificação lateral, afilhamento, maior índice de área foliar (IAF) e maior produção de matéria seca. O vigor das sementes de soja está, diretamente, ligado ao conteúdo de reservas na semente (especialmente as proteínas), pelos níveis adequados de hormônios (giberelinas, auxinas e citocininas) e altos teores de molibdênio (Floss; Floss, 2020). Também é relevante o tratamento adequado das sementes com o melhor inseticida (em função das pragas que predominam em cada lavoura) e fungicidas de qualidade (em função da predominância de patógenos existentes no solo e dos patógenos presentes nas sementes), o que deve ser previsto mediante uma análise prévia de sanidade das sementes. A qualidade da semeadura se traduz por uma adequada distribuição das sementes, na horizontal (distribuição espacial) e na vertical (uniformidade de profundidade). Nesse sentido, é primordial considerar: a) condições de solo (a semeadura deve ser realizada, preferencialmente, de forma direta sobre palhada); b) dessecação antecipada (a semeadura deve ser realizada no limpo); c) momento adequado da semeadura (fotoperíodo, temperatura do solo, arejamento e condições hídricas adequadas); d) adequada distribuição espacial (espaçamento x número de sementes na linha); e) profundidade de semeadura; f) velocidade de semeadura (no máximo de 6 km h -1). 4 Implantação do sistema plantio direto (SPD) O solo é o maior patrimônio de produtor rural, não as benfeitorias, as máquinas e equipamentos ou as tecnologias de manejo utilizadas. Portanto, os maiores investimentos devem ser realizados na melhoria do solo, na busca de produtividade, rentabilidade e sustentabilidade. A capacidade produtiva da planta depende de um adequado crescimento de raízes, pois a eficiência de absorção de água e nutrientes, é uma relação direta entre o volume de raízes em contato com o volume de solo. O aprofundamento do sistema radicular também minimiza os efeitos de veranicos. A implementação do sistema plantio direto (SPD), na palha, a “agricultura conservacionista por excelência”, a partir das décadas de 1970-1980, foi decisiva na redução drástica da erosão do solo, na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, na melhoria da qualidade das águas, na redução da necessidade de máquinas/equipamentos/mão de obra, e na economia com diesel (aproximadamente 43 litros/ha), graxas e lubrificantes. A erosão empobrecia o solo e causava o assoreamento de rios, açudes, barragens e estradas. O terraceamento não era suficiente para evitar a erosão. Pesquisas realizadas nos anos 1970 demonstraram que as mobilizações do solo (aração profunda, grade de destorroamento, grade de nivelamento, semeadura, gradilha, capinadeira dirigível) provocavam uma perda de até 150 toneladas de solo fértil por ano, representando, além da perda da camada superficial do solo, a mais fértil, na qual se concentram o calcário, os nutrientes e a matéria orgânica, também o assoreamento de rios, açudes, barragens e estradas (Floss, 2013). Mas não somente o produtor rural ganhou com isso, uma vez que o sistema plantio direto contribui muito com a redução da emissão de gás carbônico. O desafio é a produção anual de, no mínimo, 9 a 12 t/ha de palhada seca, considerando o índice pluviométrico e a temperatura média. De modo especial, se deve manter o solo coberto no intervalo entre uma cultura econômica e outra com um consórcio de culturas de cobertura ou adubos verdes. Além da redução da erosão, aumento da infiltração de água, desenvolvimento de bioporos, reciclagem de nutrientes, aumento da matéria orgânica, há a liberação de diferentes exsudatos radiculares que
estimulam o desenvolvimento de diferentes microrganismos benéficos no solo e a supressão de alguns patógenos. O SPD também é uma prática ambiental, pois contribui com o sequestro de carbono no solo, já que reduz a emissão de gás carbônico. Cada vez que o teor de matéria orgânica no solo (MOS) aumenta 1%, isso representa 20 mil kg de MOS num hectare, considerando uma camada de 20 cm de profundidade e densidade de 1g cm -3 de solo. Como, em média, 50% da MOS é carbono (C), representa 10 mil kg ha -1 de carbono orgânico. Para acumular um kg de C pelas plantas, há necessidade de uma assimilação de 3,67 kg de gás carbônico (CO2). Portanto, no sequestro de 1% de MOS por hectare são sequestrados 36,7 mil kg de CO2. Como a combustão de um litro de gasolina libera 2,34 kg de CO2, o sequestro de 36,7 mil kg de CO2, por ha, equivale à combustão de 15.684 litros de gasolina. Essa MOS aumenta a CTC do solo, pois 70% a 90% dessa depende da MOS. De outro modo, cada vez que a MOS aumenta 1%, a retenção de água no solo aumenta em 223 mil litros de água (uma chuva de 22,3 mm). Na comparação do preparo convencional (aração, grade de destorroamento e grade niveladora) com o sistema plantio direto, considerando a sucessão cereais de inverno e culturas de verão, há uma economia de 40 litros de diesel por ha/ano. Considerando a estimativa de 40 milhões de ha conduzidos sob SPD no Brasil, isso representa uma redução na combustão de óleo diesel da ordem de 1,6 bilhões de litros/ano. 5 Controle fitossanitário das culturas Grandes perdas de rendimento ocorriam há poucos anos, devido a pragas (especialmente, lagartas, pulgões, percevejos), moléstias e plantas daninhas mesmo com a calagem e a adoção adequado do SPD. Na década de 1970, o controle de lagartas e percevejos em soja, por exemplo, necessitava de até seis aplicações de inseticidas altamente tóxicos, principalmente por estarem na forma de pó. Eram aplicados até 20-25 kg de inseticida por ha, ao passo que, hoje, esse controle é realizado com maior eficiência, menor contaminação ambiental e humana, com o uso de, aproximadamente, 100-300 mL ha-1. No controle de plantas daninhas na soja, passamos da aplicação de até 5 produtos sequenciais para apenas 1 ou 2 produtos, graças à utilização quase total dos cultivares transgênicos. Também houve um aumento significativo na eficiência de controle de moléstias, integrando-se a resistência genética, o manejo e a utilização de fungicidas mais eficazes no tratamento de sementes e parte aérea. Houve uma melhoria também nas tecnologias de aplicação de agroquímicos. Para o controle preventivo de moléstias, são imprescindíveis a rotação de culturas, o uso de sementes sadias e a adubação equilibrada de macro e micronutrientes. Atualmente, são usados produtos mais eficientes, em menores doses e menos tóxicos, com menor contaminação ambiental e humana, bem como de resíduos nos alimentos. No entanto, novos problemas preocupam, como a resistência de plantas daninhas a herbicidas, o aparecimento de novas pragas ou o ressurgimento de outras pragas (nematóides, lagartas, mosca branca, percevejos, dentre outras) de difícil controle, e, também a perda rápida da eficiência dos fungicidas. É impreterível agilizar o registro de novas moléculas, mais eficientes e menos tóxicas ao homem, a busca da resistência genética, a rotação de culturas e de cultivares, a melhoria na eficiência de aplicação, a mistura com protetores, a nutrição equilibrada, o controle biológico (ex. Tricoderma, Bacillus, Pocconia, dentre outros) e o uso de indutores de defesas (“vacinas”), como os fosfitos, o ácido salicílico, os aminoácidos fenilalanina e tirosina, dentre outros.
O controle biológico e o uso de indutores de defesas atende ao desafio do aumento crescente dos rendimentos e com a qualidade dos grãos produzidos. 6 Biotecnologia na agricultura Nas culturas da soja, milho e algodão, a introdução de cultivares transgênicos representou uma das contribuições mais efetivas da biotecnologia na produção vegetal. Certamente, não há registro na história da agricultura de uma adoção tão rápida e eficiente de uma nova tecnologia, como a transgênese. O uso mundial de culturas transgênicas evoluiu de 1,7 milhões de hectares em 1996 para 189 milhões de hectares em 2019. Não há registro na história da agricultura mundial da adoção tão rápida e eficiente de uma nova tecnologia, como a transgênese. Foram desenvolvidos cultivares com maior potencial de rendimento, menor ciclo e estatura de plantas, prevenindo o acamamento e tornando-as mais responsivas à adubação. O principal evento biotecnológico é a resistência a herbicidas e no controle de lagartas, como glifosato (RR e RR2/Intacta), glufosinato de amônio (Liberty Link), e em implantação a resistência aos herbicidas glifosato + 2,4 D colina (Enlist), dicamba (Intacta 2 Xstend). Certamente, as novas tecnologias da engenharia genética, como o CRISPR, vão contribuir, decisivamente, no desenvolvimento futuro de cultivares, que além do maior potencial de rendimento, apresentem maior tolerância a estreses bióticos e abióticos. Grandes novidades virão em um futuro próximo, quando os produtores terão à disposição não só cultivares com vários eventos biotecnológicos transferidos, aliando altos potenciais de rendimento, qualidade de grãos, resistência a pragas e doenças, bem como tolerância a estresses abióticos, especialmente, maior tolerância à deficiência hídrica e a melhoria da qualidade dos grãos. Altos rendimentos exigem cultivares de alto potencial de rendimento, adaptabilidade às diferentes regiões edafo-climáticas, estabilidade de produção, diante da variabilidade climática existente, ciclo curto, baixa estatura de plantas, maior resistência/tolerância à pragas e moléstias, bem como, maior tolerância aos estresses abióticos. 7 Agricultura de precisão Vivemos a era da agricultura de precisão, também chamada agricultura digital e agricultura 4.0, a nanotecnologia na agricultura. Não se trata apenas da utilização de GPS em máquinas e equipamentos agrícolas, mas, também, da conjugação dos maiores avanços da informática, da engenharia mecânica, eletrônica, comunicação (nanotecnologia eletrônica), mas também da biologia molecular, fisiologia vegetal e nutrição de plantas (nanotecnologia biológica), proporcionando-se as condições mais adequadas para o melhor desenvolvimento das culturas, fazendo-o de forma rentável e sustentável. A amostragem de solo georreferenciada foi um avanço extraordinário no diagnóstico das condições de solo, a correção do solo e adubação a taxa variada, o piloto automático, a pulverização dirigida, o corte secções na semeadura e pulverizações, o diagnóstico do desenvolvimento da cultura e a identificação de deficiências nutricionais e a presença de pragas, patógenos e plantas daninhas. Diante dos custos cada vez mais elevados de corretivos e fertilizantes, os cuidados com a contaminação ambiental, considerando a busca de maior produtividade com rentabilidade, é imperiosa a aplicação a taxas variadas. Para o diagnóstico, será cada vez mais importante a amostragem de solo georreferenciada, a conjugação de mapas de fertilidade e mapas de colheita, o uso de drones e do uso de imagens via satélite. Por que aplicar corretivos, fertilizantes e agroquímicos em excesso em áreas da
lavoura as quais não precisam e aplicar quantidades menores naquelas que mais precisam? Portanto, a continuidade de crescentes rendimentos será obtida pela interação de todos os fatores envolvidos e não somente por fatores isolados. Pouco adianta ter um GPS e deixar de fazer coisas simples, mas fundamentais no manejo das culturas, como o uso de sementes sem vigor. A agricultura futura será cada vez mais digitalizada, aumentando os custos das máquinas e equipamentos. Por isso, o “uber” chegará no meio rural. As empresas estarão, não apenas comercializando os agroquímicos, corretivos e fertilizantes, mas, já fazendo a aplicação desses na lavoura. Essa mudança, também atende às, cada vez, mais rígidas leis ambientais, determinadas pela exigência do mercado consumidor, de alimentos com menos resíduos, a rastreabilidade e a redução da contaminação do ar, águas e solos. Referências CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de grãos, 1977-2020. Brasília: Conab, 2013-2018. Disponível em: www.conab.gov.br. Acesso em: 22 out. 2020.
FLOSS, E.L. Agronegócio e desenvolvimento – pontos de vista. Passo Fundo: Passografic, 2013. FLOSS, E.L.; FLOSS, L.G. Fatores e processos essenciais para altos rendimentos de soja. Informações Agronômicas. Piracicaba: NPCT, n.5, março de 2020. p.1-19. USDA. World Agricultural Production. Setembro de 2020. Disponível em: www.usada.gov/data/world-agriculural-production. Acesso em: 22 out. 2020.