betenago@gmail.com @lentenago Instagram: @betenago
BE TE NAGÔ Bete Nagô é mulher preta, fotógrafa, artesã, arte-educadora e militante de movimentos sociais de lutas, um dos quais o Coletivo
Realizador: Alê Almeida
Mães de Maio. Nascida nas Palafitas do Guarujá e atualmente moradora do bairro
Mentoria: Coletivo Etinerâncias
do Macuco. Tem como base da composição
Diagramação: Anne Galvão
do seu trabalho as vivências diárias nos Movimentos Sociais e atividades culturais e
Projeto desenvolvido durante a 2ª
artísticas da Baixada Santista e no eixo São
edição da Colaboradora Artes e
Paulo, Rio de Janeiro. Atualmente é residente e da Colaboradora Artes e Comunidades do Instituto Procomum. Seu lema: “Quem vem
BETE NAGÔ
Esta edição do zine “Mosaico-obras das Musas”, em homenagem a Bete Nagô, faz parte de uma pesquisa realizada pelo bailarino, performer e arte-educador Alê Almeida sobre atravessamentos e memórias de mulheres que tecem um caminho de resistência na Baixada Santista.
Comunidades do Instituto Procomum 2020
do Mangue jamais se perde na lama, sim eu resisto à margem beirando e registrando todo o caos.”
Instagram: @ale.almeidaart
CORPO COERENTE em dizer que não pertenço a este l u g a r.
Te n h o u m c o r p o m a d u r o . . . Meu corpo, como é agora, sempre foi fora dos padrões. É um corpo de Mulher Negra, madura, pós bariátrica, pós quedas, idas e vindas, lutas e muitos questionamentos com dietas e balanças, mil tentativas d e s e e n c a i x a r, d e c e p ç õ e s c o m direito a coleção de cicatrizes das quais muito me orgulho pois dizem muito sobre quem eu realmente sou. Mas é um corpo coerente e ciente da minha beleza e sensualidade, com algumas limitações sim, pois quando saímos da casa dos “trinta“ temos que ter mais coesão. Fa t o, n ã o é m a i s u m c o r p o f i r m e e j o v e m , o t a l e d e s e j a d o “c o r p o ” de praia, mas um corpo que já explorou intensamente várias praias.
L i g o l o g o o F o d a - s e - é l i b e r t a d o r, recomendo! Com tudo isso aprendi que sofremos menos quando passamos a nos a m a r, a c e i t a r e v i v e r o m o m e n t o . Hoje sou aquela saborosa soma de alguns defeitos e ótimas qualidades. O nome disso Amor Próprio. A vida é muito breve para estar se preocupando com o que vão dizer se eu fizer isso ou aquilo. Quando tentam me silenciar grito mais alto escancaro sem pudores o meu Amor Próprio. Meu corpo é sim um ato político e se estou incomodando estou no caminho cer to.
e
Aos que se incomodam, recomendo... Apenas lidem.
ainda ouve, muito o discurso de anulação e exclusão desta sociedade opressora que insiste
Somos corpos reais e diversos e t o d o s c o m a s u a b e l e z a í m p a r.
Um
corpo
que
já
ouviu,
1986 – Destaque de Ala no GRES Império do Samba com o enredo samba Deusa de uma Raça em Santos. 1987 – Par ticipou como 1º Princesa
1 9 9 1 a 1 9 9 4 – Fu n d a d o p o r s u a m ã e e seu irmão o saudoso DJ, fez parte da diretoria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Infanto-juvenil Sambistas do Amanhã, como 1ª secretária e também e atuou como chefe de ala, coreógrafa, costureira de barracão e desfilou em substituição como 1ª Por ta Bandeira (em substituição), na aberta dos desfiles daquele ano de 1994.
1980 a 1985 – Foi bailarina do Te a t r o M u n i c i p a l d e S a n t o s e d o Conser vatório Municipal de Cubatão, onde participei de espetáculos no Paço Municipal de Cubatão. 1984 – Desfilou de passista na GRES 9 de Abril (Cubatão).
1988 – Par ticipou como composição carro alegórico no GRES Império do Samba com o enredo Adivinhe quem s o u ! B r i l h a n d o e s t o u To n y S t a r e m Santos.
197 7 a 1979 – Desfilou na saudosa GRES Império do Samba (Santos) como passista-mirim e Renascença da Lapa (São Paulo), guardiã do casal de Mestre -Sala e Por ta-Bandeira.
de Bateria no GRES Império do Samba com o enredo Silvio Caldas em Santos. Luciana da Cruz é artesã, empreendedora e sambista, luta pelo for talecimento afroempreendedor da região da identidade afro-brasileira e o regaste do carnaval santista não esquecendo o passado, ajudando no crescimento com, através de ações coletivas, sociais, ar te, cultura e empreendedorismo. “Nasci e cresci sob a bateria e barracões do GRES Império do Samba. Onde também participei das alas de cabrochas, destaque mirim da ala das baianas, passista, componente de ala, costureira e 1ª Filha do Sambista Dráuzio da Cruz, “O Imperador do S a m b a” e d a P o r t a - B a n d e i r a N a l ú ( A n n a L u c y G o m e s ) , “A I m p e r a t r i z ”, neta e afilhada de Elvira da Cruz e o c a n t o r L u i z A m é r i c o .”
AT U A Ç Ã O D E L U C I A N A
LUCIANA DA CRUZ
Realizador: Alê Almeida Esta edição do zine “Mosaico-obras das
Mentoria: Coletivo Etinerâncias
Musas”, em homenagem a Luciana
Diagramação: Anne Galvão
da Cruz, faz parte de uma pesquisa realizada pelo bailarino, performer
Projeto desenvolvido durante a
e arte-educador Alê Almeida sobre
2ª edição da Colaboradora Artes e
atravessamentos e memórias de
Comunidades do Instituto Procomum
mulheres que tecem um caminho de
2020
resistência na Baixada Santista.
LUCIANA DA CRUZ
Instagram: ale.almeidaart
1995 – Foi homenageada com a C o m e n d a Tr i c e n t e n á r i o d e Z u m b i d o s Palmares, da Prefeitura Municipal de S a n t o s , c o m o a m a i s “J o v e m E m p r e s á r i a N e g r a ”. 1994 – Desfilou em Ala da SRCSEBF Barroca Zona Sul (São Paulo), ano de inauguração de Sambódromo de São Paulo - ANHEMBI 1994 a 1999 – Atuou como Cabeleireira/ Maquiadora e sócia-proprietária do Salão Negreza. Onde realizou desfiles f a s h i o n h a i r, n o Te a t r o M u n i c i p a l d e Santos e outro no Studio 88 e lançou tendências nos cabelos étnicos com as tranças frisadas. 2000 – Par ticipou pela Liga das Escolas de Samba de São Paulo para compor o corpo de jurados do Carnaval de 2000, mas não sorteada. 2006 – Destaque de chão junto com minhas irmãs, fechando o desfile da GRCES Vila Nova (hoje Império da Vila), que fez homenagem ao nosso pai Dráuzio da Cruz.
luciana.rcruz@yahoo.com.br
2015 – Recebeu o Título de Honra Lady Imperiana e foi homenagem no dia Internacional da Mulher pelo Conselho de Par ticipação e Desenvolvimento da Comunidade Negra. 2016 – Desfilou como destaque de chão no GRCAS Mãos Entrelaçadas e organização e realização do 2º Encontro Fraternal do Samba - “Semana Dráuzio d a C r u z ”. P a r t i c i p o u d o d a s O f i c i n a s Cinemamemo, do Cur ta Santos, onde atuou como assistente de produção n o c u r t a “ S e i l á . . .” d o c o l e t i v o To m a d a . No mesmo ano foi eleita para participar do Conselho de Cultura de Santos, pasta Carnaval titular biênio 2016/2018, no qual participa e representa seu segmento na Comissão do Memorial do Carnaval e na Comissão da Bandas de Santos.
2011 – Fez par te do staff de por taria para o Desfile Oficial do Carnaval de Santos.
201 7 – Coordenação, organização e elaboração do regulamento para o concurso da Corte Carnavalesca de São Vicente, também foi eleita para participar do Conselho Municipal de Par ticipação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e de Promoção da Igualdade Racial, suplência representando o Conselho de Cultura d e S a n t o s / C O N C U LT b i ê n i o 2 0 1 7 / 2 0 1 9 , onde realizou o encontro de Sambarock e desfile Afro, em comemoração a Semana da Consciência Negra.
2012 e 2013 – Convidada para compor Comissão Julgadora do concurso de Rainha e Princesas do Carnaval do Guarujá de 2012 e 2013.
2018 – Desfilou no GRCES União Imperial, junto com a suas irmãs na frente da ala em que homenageava ao seu pai.
2007 - Certificada pela AJA (Associação dos Julgadores de Arte), do saudoso Ricardo Dias, onde foi julgar o desfile Oficial das Escolas de Samba de Santo André. Julgou o quesito Bateria.
Instagram: @lucianadacruz
2104/atual – Convidada para assessorar a Corte do Carnaval de Santos, onde atua até hoje.
As horas correm desenfreadas enquanto o país se dissolve nas estruturas de ódio e mor te em que foi construído. Mês que vem faço vinte e nove anos e a expec tativa de vida de uma travesti é de 35 anos no Brasil. Será possível alguma subjetividade alcançada pelos seus olhos? Algo que não recaia em um fetiche a ser vivido ás escondidas de um motel, de uma banheirão, ou de um quiosque às 04 da manhã beira-mar? Será possível alguma subjetividade em seus olhos? Algo que não me coloque num lugar sublime, “rainha’’,
MARIA SIL
@ale.almeidaart Instagram:
2020 Comunidades do Instituto Procomum edição da Colaboradora Artes e
de resistência na Baixada Santista.
Projeto desenvolvido durante a 2ª
mulheres que tecem um caminho atravessamentos e memórias de
Diagramação: Anne Galvão
e arte-educador Alê Almeida sobre
Mentoria: Coletivo Etinerâncias
realizada pelo bailarino, performer Sil, faz parte de uma pesquisa
Realizador: Alê Almeida
das Musas”, em homenagem a Maria Esta edição do zine “Mosaico-obras
C A R TA A O F U T U R O A M O R sociedade soterra sonhos em corpas como a minha e é preciso anos para cavar-se inteira e encontrar algo que valha esta vida. Eu, travesti, 28 anos, cuidando de minha mãe, vi a face da mor te se aproximar. Eu, travesti, 28 anos, vi o índice de assassinatos de mulheres trans e travestis dobrarem no período de isolamento social. Sabe, meu bem... Antes de toda a adequação de gênero eu pensava tanto em você, pensava se já existia e pulsava vida em algum lugar desta cidade, mas por um tempo ao me olhar no espelho eu achei que não podia ser tua mãe. Foi preciso o mundo paralisar para eu olhar no espelho e dizer: posso e serei mãe!
“deusa”, “especial”, alguém que de tão admirável torna-se intocável e incogitável diante das possibilidades de afeto. Será possível ver em mim algo além do corpo, e algo além da força? Alguma coisa humana, possível e quente.
C A R TA A M I N H E QUERIDE FILHE Queride filhe te escrevo quando você é ainda uma ideia íntima e frágil dentro dos meus melhores pensamentos. Escrevo para registrar - para ti e para o mundo - que a
O BARULHO DOS MEUS OLHOS O som que vem de dentro está
Um tiro que eu nem ouvi, mas senti
Fa l a m q u e o s o l h o s s ã o r e f l e xo
e n t e r r a d o e n ã o é c a p a z d e s a i r,
me atingindo sem piedade, me
da alma, que os olhos falam o
pois o cimento da minha alma
rasgando,
destruindo.
que a pessoa é e sente, mas os
o prende, aqui, dentro de mim.
Se eu morrer ele morre comigo,
olhos formam uma imagem! Não
Não existe solidão quando se
se
se
apenas uma, mas várias e várias
está acompanhado de um som e
alimenta do meu sofrimento, que
imagens que se modificam a toda
só Deus sabe o quanto eu queria
s e a l i m e n t a d o m e u a m o r, q u e s e
hora por sempre contarem uma
voltar a ser só. Só?
alimenta...
história.
Só eu posso ouvi-lo. Não adianta
Um som que me da ânsia...
A minha história...
O som do tiro que furou a caixa que
Você pode buscar meus olhos
importância.
eu aguardava com curiosidade. O
ver o que sinto,
a
repetição
tiro que não me deixou abri-la e
que sou, ou simplesmente ver
cotidiana que faz em mim. Pode
me fez perder toda a ansiedade
o q u e e u q u i s e r t e m o s t r a r, m a s
ser no banho, no metrô, ou até
do
ninguém pode me olhar e ouvir
durante uma transa e se inicia
todo o futuro
sua constância. Ele não muda,
tornando-o
presente,
é sempre o mesmo. É sempre o
óbvio,
sentido
eco, de um eco, de um eco, se
cabeça e sem espaço na minha
imortalizando na minha cabeça.
vida.
querer
descreve -lo,
lo, nada... sua
Ninguém
e
entende
permaneço
vivo
ele
reproduzi-
Ninguém entende a
proporção
eu
furando,
d e s c o b r i r.
sem
Estraçalhou na minha frente na
sempre minha
tentar dizer o
o barulho que a minha alma faz. Ninguém
pode
me
olhar
alma faz.
N i n g u é m p o d e e n t e n d e r. . .
itararecultural@gmail.com
e
entender o barulho que a minha
N i n g u é m p o d e m e e n t e n d e r.
Instagram: @emariasil
e
Fot ogr a f i a:Bi gaAppes
Fot ogr a f i a:Dani l oT a v ar es
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