Missão Tecnica ASBRAER - Brasil/Itália - Mar/2012Brasil italia email

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Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

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AssociAção BrAsileirA dAs entidAdes estAduAis de AssistênciA técnicA e extensão rurAl Presidente Júlio Zoé de Brito — IPA/PE Vice-Presidente Jefferson Feitoza de Carvalho — Emdagro/SE diretor da região centro-oeste José Guilherme Tollstadius Leal — Emater/ DF diretor da região nordeste Jefferson Feitoza de Carvalho — Emdagro/SE diretor da região norte Cleide Maria Amorim de Oliveira — Emater/PA diretor da região sudeste Marcelo Lana Franco — Emater/MG) diretor da região sul Rubens Ernesto Niederheitmann — Emater/PR) sede SCLN 116, Bloco F, Edifício Castanheira, Sala 218 — Brasília-DF CEP: 70.773-500 Telefone: (61) 3274-3051 Fax: (61) 3347-7114 E-mail: asbraer@asbraer.org.br Site: www.asbraer.org.br diretor executivo: Hector Carlos Leal Barreto Assessora Administrativa: Mariana Matias Assistente Administrativa: Jaqueline Ferreira Santos Assessoria de comunicação: André Lage e Rosane A.Garcia

Missão Técnica asbraer brasil /iTália Publicação da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) Projeto gráfico, redação e edição: Ascom/Asbraer Revisão: Luciana Pereira (luciana.revisora@gmail.com) Entrevistas gravadas por Mariana Matias, em colaboração com a Ascom Fotos cedidas pelos integrantes da missão Imagens:Tiragem: 1.000 exemplares Brasília, março de 2012


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A extensão rural brasileira vai à Itália


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nesta edição A rota da missão

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Apresentação

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Delegação brasileira

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Começando pelo mercado

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Sabores e aromas da terra e do mar Embalagem cultural na produção agropecuário

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Superarticulação se aplica ao meio rural brasileiro, elionaldo de Faro teles

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Alto nível de organização, José noivo carvalho

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A Ater brasileira é um serviço de qualidade, Karine Araújo Queiroga

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Oportunidades para estreitar parcerias, luiz Ademir Hessmann

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Leis sanitárias criam gargalos, Markan Zik uchoa

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Nossa legislação deve ser repensada, Marcelo lana Franco

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Montepulciano: vinhos abençoados até pelo papa

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A extensão rural brasileira na FAO

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Inea, um instituto para a agricultura

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Na FAO, espaço para a cooperação técnica, Maria inês nogueira Pacheco 40

Na FAO, a importância da extensão brasileira, Júlio Zoé de Brito

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Mercado quer a produção familiar, Max Ataliba

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Forma de organização influencia preço do produto, Argileu Martins silva

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É preciso qualificação no campo, Miyuki Hyashida

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Controle para agregar valor aos produtos, cleide Maria Amorim

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Não estamos tão longe do ideal, romualdo Militão

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Estratégias inspiradoras, ditmar Alfonso Zimath

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Ater brasileira é maior e melhor, tanara lauschner

É preciso repensar as relações o campo, evair Vieira de Melo

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Flagrantes fotográficos da missão

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A rota da missão

distância e tempo entre as cidades visitadas pelos integrantes da Missão Brasil/itália Roma/Grossetto Grossetto/Florença Florença/Montepulciano*

188km 141km 131km

2h 2h 1h30

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Montepulciano/Roma Roma/Napoli

182km 227km

2h 2h30

* Montepulciano pertence à Província de siena Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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rePúBlicA itAliAnA A Itália fica ao sul da Europa cAPitAl Roma Vista do prédio da FAo: ruínas da roma antiga

Apresentação

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Missão Técnica Brasil/Itália, promovida pela Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), no período de 22 de fevereiro a 3 de março de 2013, propiciou aos participantes — a maioria dirigentes das entidades estaduais de Ater — uma imersão nas técnicas e nas estratégias direcionadas à produção e à comercialização de produtos agrícolas. Diferentemente da Missão à China, em que o foco foi o trabalho desenvolvido em propriedades com dimensões inferiores às dos minifúndios nordestinos, a incursão pelo Velho Continente, objetivou conhecer, além das técnicas de cultivo, as diferentes formas de as mercadorias chegarem aos consumidores. Na prática, permitiu um passeio por tecnologias e sistemas que agregam valor aos resultados alcançados por agropecuaristas, em sua maioria, familiares. A programação da viagem contemplou encontros com técnicos do movimento Slow Food, uma tendência em sentido contrário do fast food; especialistas e catedráticos da Universidade de Florença; e organizadores da Feira Agrosud, uma referência em equipamentos, 6

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máquinas e implementos agrícolas voltados a todos os segmentos produtivos rurais. Mas, entre todas as reuniões e experiências, mereceu destaque a realizada com os diretores da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A demonstração dos impactos dos serviços de assistência técnica e extensão rural aos dirigentes da FAO abriu caminho para um diálogo permanente entre a Asbraer e a organização, que permitirá as instituições brasileiras contribuírem com todos os esforços para a eliminação da fome no planeta. Cada etapa da viagem foi avaliada pelos integrantes da delegação brasileira. Por meio de entrevistas, eles compararam o trabalho promovido na Itália com o realizado no Brasil e identificaram soluções, que incorporaram à bagagem de volta ao Brasil. Para todos os participantes, a missão técnica foi mais uma realização exitosa da Asbraer, com o intuito de descortinar horizontes e buscar saberes que contribuam para o avanço dos serviços de Ater prestado aos agricultores brasileiros. Júlio Zoé de Brito, presidente da Asbraer

PrinciPAis cidAdes Milão, Nápoles, Turim, Palermo, Gênova Veneza, Florença, Verona, Bolonha, Cagliari, Bari, Parma, Udine Módena e Livorno PoPulAção 60,74 milhões de pessoas dAtA nAcionAl 25 de abril, Dia da Resistência e Libertação ÁreA do PAís 301,302km² rendA Per cAPitA US$ 30,5 mil MoedA oFiciAl euro PiB US$ 1,77 trilhão Desse total, 3% são a contribuição do meio rural setor AgroPecuÁrio emprega 1,18 milhão pessoas PrinciPAis Produtos Beterraba, uva, milho, tomate e trigo, além de bovinos, suínos e aves ProPriedAdes rurAis Em média, os imóveis têm 7 hectares, mas cerca de 75% das fazendas ocupam menos de 5 hectares

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Delegação brasileira Adenieux RosA sAntAnA, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural, do Instituto de Desenvolvimento Rural de Tocantins (Ruraltins) ARgileu MARtins silvA, diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Dater/MDA) Cleide MARiA AMoRiM, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater-Pará) ditMAR Alfonso ZiMAth, diretor de Extensão Rural e Pesca da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) elionAldo fARo de teles, presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) evAiR vieiRA de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa) heCtoR CARlos BARReto leAl, diretor executivo da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer)

KARine ARAúJo QueiRogA, secretária executiva de Política Agrícola da Secretaria de Agricultura do Amazonas luiZ AdeMiR hessMAnn, presidente Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) MARCAM ZiK uChoA, diretor de Extensão Rural do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam) MARCelo lAnA fRAnCo, ex-presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater Minas) MARiA inês nogueiRA PACheCo, presidente do Instituto de Inovação para o Desenvolvimento rural Sustentável de Alagoas (Emater Alagoas) MARiAnA feRReiRA MAtiAs, assessora administrativa da Asbraer MAx AtAliBA feRReiRA PiRes, presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap) MiyuKi hyAshidA, presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural de Tocantins (Ruraltins) nAthAliA Rio PReto v.MAChAdo, intérprete

José noivo CARvAlho, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) Júlio Zoé de BRito, presidente da Asbraer e do Instituto Agronômico de Pernambuco (Ipa)

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RoMuAldo Militão, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater-PI) tAnARA lusChneR, secretária executiva de Agricultura do Amazonas

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em roma, o eatly Market é um centro de gastronomia, que teve origem em turim, em janeiro de 2007. trata-se de uma uma vitrine dos produtos agropecuários italianos com fi

Começando pelo mercado

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MA DAS PRINCIPAIS CARACTERíSTICAS DAS MIS-

técnicas da Asbraer é a intensa agenda de compromissos. Muito pouco ou quase nada sobra de tempo para que os integrantes possam conhecer os aspectos pitorescos dos países visitados. A incursão pela Itália não foi diferente. Os 14 integrantes da comitiva brasileira embarcaram em 22 de fevereiro. Após 12 horas de voo, eles desembarcaram em Roma, no sábado, e no domingo (24/2) iniciou-se a agenda de compromissos. SõES

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O ponto de partida foi o Eataly, em Roma, um santuário da gastronomia e referência dos produtos agropecuários italianos. Padaria, açougue, peixaria, restaurantes, bebidas, livros, itens para cozinha, cursos e muitas outras opções associadas à atividade agropecuária e à gastronomia revelam as etapas do processo de produção dos italianos. Além das compras, o local oferece opções para os visitantes degustarem o que há de melhora das iguarias da cozinha italiana. Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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particularidade, durante uma caminhada de quase três horas de duração. A comitiva foi acompanhada pelos representantes do Slow Food, um movimento contrário ao fast food. Eles estabeleceram um roteiro que permitiu à delegação entender o funcionamento do megamercado e conhecer as características de muitos produtos.

Para conhecer o eataly, são pelo menos três horas de caminhadas com filiais em cinco cidades italianas, quatro no Japão e uma em nova York

vitrine ESSA ExCEPCIONAl vITRINE MOSTRA COMO é POSSívEl agregar valor cultural aos alimentos, por meio da identificação geográfica e do certificado de origem. Esse dois elementos permitem ao consumidor tomar conhecimento da procedência das mercadorias, das tradições do local; da organização e da história dos produtores. Como e por quem os alimentos foram cultivados deixaram de ser indagações e passaram a estabelecer uma relação de intimidade entre o cliente e o agropecuarista. Pela dimensão — três andares —, o mercado exige um guia, a fim de que o visitante possa conhecê-lo, sem deixar escapar nenhuma Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

o apoio de um guia é essencial para percorrer o megamercado

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slow Food/eataly

No Eataly, os integrantes da missão técnica puderam conhecer as mais diferentes formas de comercialização de organização do processo de venda das mercadorias

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Produtos in natura e industrializados, originários de propriedades familiares, conferem ao Eataly o status de magavitrine da agricultura italiana

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Sabores e aromas da terra e do mar

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— COM uM compromisso seguido por outro – levou as pessoas a se moverem em um ritmo frenético, como os ponteiros dos segundos. Alguns costumes se perderam e outros foram afetados profundamente, entre eles, a boa culinária. Em meio à agitação do dia a dia surgiram os chamados fast food, que oferecem pratos rápidos e padronizados. Em contrapartida, sabores, cheiros e aromas desse ou daquele cardápio, associados às tradições e às culturas de uma região, começaram a cair no universo das boas lembranças. No fim dos anos 1980, foi criado o Slow Food, um movimento internacional, liderado pelo italiano Carlo Petrini. Em oposição ao fast food, o slow pode ser entendido como alimentação lenta ou saudável, que prima pelos produtos orgânicos e pela qualidade do que chega à mesa, ou seja, segue o conceito de ecogastronomia. logo depois de conhecer o Eataly, a delegação brasileira partiu para os pontos de origens das muitas iguarias encontradas no megamercado. No fim da tarde de 24 de fevereiro, o grupo chegou à comuna de Grossetto, a 188km de Roma, onde pernoitou para, na manhã seguinte, iniciar mais um dia de intensas atividades. Na manhã de 25 de fevereiro, já em Grossetto, 12

CORRERIA IMPOSTA PElA vIDA MODERNA

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em orbetello, um conjunto de tanques para reprodução e criação de pescados

os brasileiros reuniram-se com técnicos e representantes do Movimento Slow Food, na Casa da Biodiversidade, instalada em uma fazenda conhecida como Fortaleza da Raça Bovina Maremmana. Entre os vários objetivos do movimento está o de resgatar o interesse das pessoas pela alimentação, pela procedência dos produtos e pelo sabor do que está ingerindo ou servindo às refeições. Nas ações voltadas para essa meta, o movimento busca conjugar o prazer da alimentação com a consciência e a responsabilidade ambiental, ao mostrar as fortes conexões que existem entre o prato e o planeta. Ainda no período da manhã, os brasileiros foram levados à Peschiera Di Santa liberata, em Orbetello, onde conheceram mais uma fortaleza do Slow Food, dedicada à produção de pescados. A delegação participou de um encontro técnico com os pescadores locais, em Santa liberata, onde eles mostraram os sistemas adotados para a criação de peixes em tanques.

FiLOSOFiA DE

SlOw FOOD, O AlIbom, limpo e justo. Os produtos têm que ser saborosos e cultivados livres de elementos prejudiciais à saúde, ao ambiente e aos animais. E mais: os produtores devem reACORDO COM A FIlOSOFIA

MENTO DEvE SER

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ceber uma remuneração justa por seu trabalho. Na Itália, o Slow Food também tem fortalezas, que são regiões nas quais a atividade agropecuária ocorre de forma sustentável. Além disso, o movimento promove grandes eventos para a divulgação das mercadorias, da origem e dos restaurantes e, assim, promove uma aliança entre o cozinheiro e o agricultor. O SF também organiza encontro entre os produtores e os consumidores, nos espaços denominados mercados da terra. O movimento conta, atualmente, com mais de 100 mil associados e tem uma expressiva representação — as chamadas fortalezas — no Brasil, como as do baru, do guaraná, das abelhas nativas e, do arroz- vermelho, no vale do Piancó, na Paraíba; do umbu, na Bahia; do palmito-juçara e, do pinhão, em Santa Catarina; e outras.

integrantes da missão chegam a orbetello: criação de peixes

casa da Biodiversidade do slow Food instalada na fazenda de criação do gado da raça Maremmana: encontro técnico com a delegação brasileira

delegação é informada sobre a criação do gado Maremmana

Raça Maremmana

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MareMMana (foto) pertence à cepa podólica, uM grupo de bovinos cinzentos, muito próximo ao antigo boi selvagem, o auroque (bos primigenius), descrito pelo imperador Júlio césar, no de bello. o animal tem marcados caracteres de rusticidade, como elevada capacidade de pastar em qualquer estação em terrenos áridos, alimentando-se de recursos vegetais que não servem para outras espécies. essa possibilidade torna a criação do Maremmana mais barata, sem contar a resistência à seca, aos predadores e aos parasitas. a criação do Maremmana ocorre, tradicionalmente, em estado bravo por todo o ano. a alimentação leva em conta as estações do ano: no inverno, são explorados os bosques e matas, que servem também de abrigos; na primavera, após os partos, as vacas têm fartura nos pastos; e no verão, áreas pantanosas, prados e prados irrigados asseguram a nutrição do rebanho. o desmame dos bezerros raça bovina

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acontece no outono. a estação da cobertura dura aproximadamente três meses, com grupos de 20 a 30 vacas por touro, que são constituídos na estação das flores.

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delegação brasileira reunida com professores e especialistas da universidade de Florença. na pauta, identificação geográfica dos produtos agrícolas e desenvolvimento rural

Embalagem cultural na produção agropecuária

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M 26 DE FEvEREIRO, A DElEGAçãO BRASIlEIRA SE encontrou com professores e pesquisadores da universidade de Florença para tratar de identificação geográfica dos produtos agropecuários No Brasil, a identificação geográfica dos produtos agropecuários é um processo que começa avançar em algumas regiões, mais expressivamente no Sul. Na Itália, o sistema é amplamente usado. Além de estabelecer uma relação mais estreita entre consumidor e produtor, essa informação garante uma embalagem cultural, que implica agregar valor à mercadoria que chega às mãos do consumidor. Assim, ganha o agricultor, que tem os produtos valorizados, e o cliente, por saber da origem e da história do que está comprando. Para conhecer mais profundamente o tema, os integrantes da Missão Técnica Brasil/Itália foram, em 26 de fevereiro, até a universidade de Florença, onde foram recebidos pelos professores Giovanni Belletti, Andrea Marescotti e Silvia Scaramuzzi. Belletti é um especialista em identificação geográfica e desenvolvimento rural. Coube aos representantes do setor de produção agrícola vegetal da Toscana, Stefano Barzagli e Angela Crescenzi, fazerem uma explanação sobre o papel 14

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Acima, professor giovanni Belletti palestra para os participantes da missão brasileira. Abaixo, ele presenteia o presidente da Asbraer, Júlio Zoé de Brito, com publicações da universidade de Florença

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Júlio Zoé palestrou sobre a realidade da extensão rural brasileira

da região em apoiar e desenvolver os aspectos práticos desse sistema. No processo de troca de experiências, entre brasileiros e italianos, o presidente da Asbraer e do Instituto Agronômico de Pernambuco (Ipa), Júlio Zoé de Brito, apresentou a instituição que dirige e os serviços de extensão rural oferecidos no Brasil. Na sequência, o diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Argileu Martins Silva, fez uma panorâmica sobre a agricultura brasileira. O diretor de Extensão Rural e Pesqueira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Ditmar Alfonso Zimath, palestrou sobre a experiência brasileira de agregar a origem e a identificação geográfica aos produtos da agricultura familiar na Região Sul do Brasil. Agricultores e representantes de produtos com identificação geográfica, como os consórcios para

Argileu Martins fez uma explanção sobre a agricultura familiar

ditmar abordou a experiência catarinense sobre identificação geográfica

proteção do azeite IGP e do presunto Toscano, foram os modelos que ilustraram o encontro técnico entre brasileiros e especialistas na universidade Florença.

delegação brasileira faz uma foto oficial ao se despedir da univesidade de Florença Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

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Montepulciano: vinhos abençoados até pelo papa

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uARTA-FEIRA,

27 DE FEvEREIRO. OS INTEGRANTES da missão técnica voltaram à estrada, com destino a Montepulciano, a 131km de Florença. levaram uma hora e meia para chegar a mais uma comunidade da Província de Siena, na região da Toscana. Com uma área de 165km², a cidade está no topo de uma colina a 605 metros acima do nível do mar, em meio a dois grandes vales — o val di Chiana e o val 16

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d’Orca. Na agenda de mais um dia de trabalho, os compromissos dos brasileiros eram: conhecer os vinhedos, a produção e o sistema de comercialização de vinhos com identificação geográfica, além de encontros com produtores e autoridades de setor. O vinho de Montepulciano ganhou prestígio no século xvI, ao encantar o papa Paulo III. Quatrocentos anos depois, passou a ser protegido pelo Consórcio del vino Nobile di Montepulciano, Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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criado em 1965, que congrega todas as vinícolas locais. No total, são 274 associados —- 200 em cooperativa e 74 individuais. O consórcio protege todas as vinícolas locais. O vinho característico da região só pode ser produzido em áreas montanhosas, dentro dos limites de Montepulciano, com uvas dos tipos blackt horn (80%), canaiolo nero (15%) e mammolo (5%). Para ser levada ao consumo, a bebida deve ter 12,5% de álcool e ser envelhecida em grandes barris de carvalho por 24 meses. O vinho responde por 70% da economia da cidade. Por meio do consórcio, ele é o grande elo entre restaurantes, cafés, mercado de trabalho e todos os segmentos da cadeia produtiva. O consórcio faz a manutenção da história local, com a restauração de monumentos e prédios, e a promoção de festas e festivais. Assim, Montepulciano se coloca no cenário italiano como um atraente destino turístico, tanto urbano quanto rural.

Propriedade rural em Montepulciano

conjunto habitacional às margens na área rural de Montepulciano

no encontro técnico, em Montepulciano, os integrantes da delegação brasileira receberam informações sobre a produção e a identificação geográfica das mercadorias agropecuárias de Montepulciano — região conhecida pelos vinhedos — e pelo alto nível dos vinhos, ali, produzidos Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

Queijos e salame servidos com os bons vinhos de Montepulciano Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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integrantes da Missão técnica Brasil/itália com o diretor-geral da FAo, Francisco graziano da silva (c), na sede da instituição, em roma. o encontro resultou em um convite à Asbraer para compor a Plataforma da Agricultura tropical

A extensão rural brasileira na FAO

O

— INCERTO — NO EMBARQuE DA delegação brasileira para Roma confirmouse em terras italianas. Por cerca de uma hora e meia, em 28 de fevereiro, os integrantes da missão técnica reuniram-se com o primeiro escalão da Organização das Nações unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); por quinze minutos, a conversa foi com o diretor-geral, Francisco Graziano da Silva, o primeiro brasileiro a ocupar o posto mais alto da instituição. Os assessores da organização fizeram um relato sobre a extensão rural no mundo e sua importância. Desde que assumiu a direção da FAO, Graziano, reiteradas vezes, declarou que a maior preocupação é o combate à fome no planeta. O presidente da Asbraer, Júlio Zoé de Brito, fez uma explanação sobre a atuação de Ater frente à realidade rural braENCONTRO

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si-

leira, sobretudo em relação ao principal programa social do governo brasileiro, o Brasil sem Miséria. A exposição foi complementada pelo diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Argileu Martins da Silva, que abordou, ainda aspectos da agricultura familiar. Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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reconhecimento da contribuição que a extensão rural pode dar à transformação da qualidade de vida no Brasil e em outros países Júlio Zoé de Brito,

presidente da Asbraer, ao avaliar o convite da FAO Ao lado do presidente da Asbraer, Júlio Zoé de Brito (d), o diretor-geral da FAo, Francisco graziano da silva, reconheceu que os serviços de Ater são ensenciais para vencer o desafio de erradicar a fome

O diretor-geral da FAO afirmou que a extensão rural brasileira tem servido de modelo para outros países e é um importante instrumento para erradicar a fome das nações em desenvolvimento. Para Graziano, é fundamental que os serviços de Ater cheguem aos agricultores familiares, além de vencerem o desafio de eliminar a fome. cOnvite O ENCONTRO TéCNICO COM A CúPulA DA FAO FOi um dos mais expressivos da missão. Em 05 de março, dois dias após o retorno da delegação ao Brasil, a Asbraer recebeu um convite formal da FAO para participar, como parceira, da Plataforma da Agricultura Tropical (TAP). O presidente Júlio Zoé de Brito afirmou que o convite foi recebido com “muito orgulho”, e representa “o reconhecimento da contribuição que a extensão rural pode dar à transformação da qualidade de vida no Brasil e em outros países”. Segundo o presidente da Asbraer, a parceria com a FAO exigirá muita responsabilidade. “Estaremos com os outros atores, principalmente nos trópicos, trabalhando em favor dos menos assistidos e daqueles agricultores em condições adversas.” No comunicado à Asbraer, o diretor-geral adjunto de Gestão de Recursos Naturais e Meio Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

Ambiente do Departamento de Alimentação e Agricultura da ONu, Alexander Müller, informou que a Plataforma de Agricultura Familiar foi reconhecida, em 2011, pelos ministros da Agricultura dos países que compõem o G-20, como elemento importante “para o reforço das capacidades das tecnologias agrícolas e de sistemas produtivos para os países em desenvolvimento”. Ainda segundo ele, em 2012, a Declaração da Cúpula do G-20 reforçou: “Para combater a fome, nos comprometemos a continuar nossos esforços em nossas iniciativas, incluindo a Plataforma de Agricultura Tropical”. Müller esclareceu que o objetivo da TAP “é para melhorar a eficácia e a eficiência no compartilhamento de conhecimento e programas de desenvolvimento de capacidades para fortalecer os sistemas de inovação agrícola nos países-alvos nos trópicos através de mecanismos novos” De acordo com o presidente da Asbraer, a extensão rural brasileira, por meio das entidades oficiais, tem levado a expertise dos seus técnicos aos países em desenvolvimento — especialmente aos da África —, a fim de permitir que os agricultores familiares se apropriem do conhecimento acumulado. Os serviços brasileiros de Ater têm chegado também às ilhas do Caribe. Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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delegação brasileira em visita ao instituto nacional de economia Agrária (inea), em roma, um dos últimos compromissos oficiais previstos no roteiro da missão

Inea, um instituto para a agricultura

O

ENCONTRO TéCNICO NO INSTITuTO

NACIONAl DE Economia Agrária (Inea), em Roma, e a visita à Agrosud, feira bienal do setor industrial agrícola, em Napoli, foram os dois últimos compromissos dos integrantes da Missão Técnica Brasil/Itália. Na tarde de 28 de fevereiro, os brasileiros tiveram uma longa reunião com os dirigentes do instituto, um organismo público de investigação, supervisionado pelo Ministério da Agricultura, Alimentação e Florestas da Itália. A identificação geográfica, que acompanha os produtos colocados à disposição dos consumidores, voltou a ser o principal ponto de pauta. O debate foi precedido de uma palestra sobre a realidade da agricultura italiana. Embora não seja a principal atividade econômica do país, a organização da produção rural italiana é modelar e inspiradora para diferentes países. 20

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Criado em maio de 1928, o Inea tem autonomia científica, legal, organizacional, administrativa e financeira. Desde o início do século passado, a instituição é responsável por inquéritos e estudos de economia agrícola e florestal, levando em conta as necessidades emergentes e as transformações do sistema industrial italiano. O instituto é responsável pela elaboração de estudos que projetam o comportamento das diversas cadeias produtivas do setor agropecuário nos diferentes cenários econômico no mercado italiano e em outros países. Hoje, o Inea é uma referência para a formação de uma cultura de contabilidade agrícola na Itália, como organismo de ligação entre o estado e a Comissão Europeia. Frente à tendência de regionalização da produção agropecuária, o Inea tem oferecido grande contribuição para suprir as demandas por apoio técnico e metodológico, propiciando uma relação Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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delegação brasileira posa para foto oficial, após visitar a Agrosud, feira bienal de máquinas, equipamentos e produtos agrícolas

Agrosud: animais expostos para comercialização

integrantes da Missão Brasil/itália iniciam visitação à feira Agrosud

mais intensa entre as autoridades regionais. O Inea produz pesquisas para várias instituições. Os estudos orientam os investimentos dos setores públicos e privados, considerando a vocação da região e a conjuntura mercadológica. Os investimentos da rede Garfagnana, do ramo hoteleiro e de entretenimento, no agroturismo foram citados como exemplos do aproveitamento do trabalho do instituto. O mesmo ocorreu com as aplicações da empresa Soprip, com sede em Parma, em energia renovável, orientadas pela instituição. Em relação ao Brasil, essas iniciativas podem ser comparadas com os arranjos produtivos locais, que buscam o fortalecimento das atividades agropecuárias.

Feira Agrosud, uma exposição bienal, que chegou, em 2013, à quarta edição. voltada para o setor agropecuário, os destaques da mostra foram os projetos de agroenergia. Plantas e sistemas de energias renováveis e sustentáveis voltados às necessidades do campo. Mas não faltaram inovações nas áreas da tecnologia, da zootecnia, da indústria de laticínios, dos equipamentos, dos implementos e insumos. Na visita à feira, a delegação brasileira se reuniu com autoridades governamentais do setor, com representantes da indústria. O espaço da feira é dividido em salões temáticos, como pecuária, frutas e legumes, máquinas, alimentação, floricultura, casas verdes, sistemas de rega, embalagem, tratamentos biológicos e integrados e outros. A mostra oferece também áreas específicas para a comercialização de animais, a maioria bovinos.

AgrOSud NA véSPERA DO EMBARQuE PARA O BRASIl, os integrantes da missão conheceram, em Napoli, a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

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entreVistA | Júlio Zoé de Brito Presidente da Asbraer e do instituto gastronômico de Pernambuco

Na FAO, a importância da extensão brasileira

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Reconhecimento da contribuição que a extensão rural pode dar à transformação da qualidade de vida no Brasil e em outros países”

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INCuRSãO PElO uNIvERSO RuRAl ITAlIANO REvElOu POSSIBIlIDADES DE COMBINAçõES

que fortalecem a agricultura familiar e, promovem a cultura regional e o agroturismo.O saldo da Missão Técnica Brasil/Itália, promovida pela Asbraer, vai além da identificação de oportunidades, que se aplicam a diferentes nichos no meio rural brasileiro. Para o presidente da Asbraer, o encontro técnico com a cúpula da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, que durou cerca de uma hora e meia, foi um dos momentos políticos mais importantes da viagem. O presidente da organização, o brasileiro Francisco Graziano da Silva, conversou com o grupo por 15 minutos, transmitiu a prioridade que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, confere à extensão rural do país. Mais: ele abriu a possibilidade de a Asbraer ser um canal perante a FAO de cooperação internacional. A seguir, os principais trechos da entrevista de avaliação de Júlio Zoé de Brito:

Presidente, como o senhor avalia a missão à Itália? Tivemos uma missão bem representativa, com a participação de representantes de 12 unidades da Federação. Na Itália, conhecemos desde a produção no campo até o agroturismo. Do ponto de vista político, um ato extremamente importante foi a nossa reunião na FAO, durante uma hora e trinta minutos. O presidente (Francisco Graziano da Silva) recebeu-nos por, pelo menos, 15 minutos e transmitiu a prioridade que a presidenta Dilma quer dar à extensão rural e abriu a possibilidade de a Asbraer poder ser um canal perante a FAO da cooperação internacional de segmentos futuros. Tivemos mais de 20 companheiros, em um ambiente de muita harmonia, que assegura maior integração maior entre todos. Faço uma avaliação extremamente positiva e, ao voltar ao Brasil, extremamente feliz e satisfeito, estou convicto de que essa estratégia de promover uma missão por ano é muito

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importante. Espero que, no próximo ano, possam organizar uma missão para a Austrália, a índia ou outro país, que nos ofereça uma experiência capaz de nos ajudar na missão de fazer com que a agricultura familiar no Brasil seja cada vez melhor e mais profissional. O que o senhor achou do encontro técnico com a equipe do Movimento Slow Food? Tivemos a oportunidade de conhecer uma experiência que envolve toda uma cadeia produtiva, que tem como critério a produção familiar, o território, além de pensar no consumidor final e ainda preservar costumes, a fim de manter um cardápio associado à cultura de uma população. Todo esse processo foi uma resposta da sociedade para um período de expansão no país de uma rede de fast food. um grupo de pessoas, preocupado em preservar a tradição da comida italiana, apostou na criação da rede chamada slow food, que

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valoriza a produção local e familiar. Para isso, introduziu um conjunto de critérios de qualidade e fez com que eles chegassem ao consumidor final. Acho que vamos encontrar nichos de oportunidades no Brasil para que essa cadeia, muito bem representada no nosso país pela agricultura familiar, possa ter oportunidade de verticalizar e valorizar a produção, a fim de que possa ser transformada em bem-estar e riqueza para os agricultores.

implementadas, que nos permitam aprender, assim como os consumidores, a medir o tamanho da oportunidade. Assim, a longo e médio prazos, poderemos estabelecer mais uma política pública para a agricultura familiar do Brasil

Presidente, quais pontos, para o senhor, são superados pela política brasileira? No Brasil, temos um cardápio de políticas públicas que envolve desde as sementes, o conhecimento, Em relação à realidade seguros e o conjunto de rebrasileira, quais são as des diferenciadas de finanprincipais diferença ciamento até oportunidades identificadas pelo senhor? de comercialização. Aqui, Observamos que, na Itália, na Itália, percebemos que, os mercados estão estabeleciAcho que vamos encontrar por meio de um grande emdos e cobram valores que espresário, eles identificaram tão fora da realidade brasinichos de oportunidades no e investiram em uma oporleira. Tivemos a oportunidade Brasil para que essa cadeia, tunidade de negócio, que é de comprar alguns produtos muito bem representada no cuidada pela iniciativa pridentro do mercado, mas que, nosso país pela agricultura vada e por algumas organidificilmente, o consumidor de familiar, possa ter zações não governamenclasse média no Brasil comtais. Isso extrapolou para praria rotineiramente, poroportunidade de verticalizar e outros países, como Japão, que são muito caros. Porém valorizar a produção” Estados e Brasil. Para se imagino que, dentro da nossa tornar uma política pública realidade, se existir um invessão necessários mais investimento que contemple a possibilidade de o agricultor familiar fazer um pro- timentos. Então, o que percebemos aqui, de duto com qualidade, com assistência técnica e forma muito nítida, é que o apoio do Estado extensão rural, além de toda uma logística orga- se soma ao da iniciativa privada para consonizada, com certeza vamos encontrar pontos de lidar uma política para a agricultura. Mas, oportunidade. Assim, essa diferenciação poderá voltando à realidade do nosso país (Brasil), ser superada e teremos produtos de qualidade não temos muita experiência de a iniciativa adequados à realidade de nossa economia. privada colocar tanto aporte financeiro para ajudar o agricultor familiar. Achamos que uma política como essa teria, pelo menos em O senhor vislumbra uma política princípio, que contar com o apoio governapública diferenciada que permita mental aliado ao da iniciativa privada, em implementar essa ideia? Sim. Evidentemente, uma inovação dessas sintonia com o consumidor, para que o slow precisa dar passos lentos, firmes e graduais. food seja mais uma política para a agriculNão poderá ser uma política pulverizada. Te- tura familiar, a fim de transformar em bemremos que passar por estágios, pelos quais estar e riqueza essa importante ferramenta algumas experiências pilotos comecem a ser que conhecemos na Itália.

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entreVistA | Argileu Martins silva diretor do departamento de Assistência técnica e extensão rural do Ministério do desenvolvimento Agrário

Forma de organização influencia preço do produto

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S FORMAS DE ORGANIZAçãO DOS AGRICulTORES fa-

miliares italianos despertaram a atenção do diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Argileu Martins. Segundo ele, esse processo permite que esses produtores levem aos mercados externos

suas mercadorias e conquistem melhores preços. No Brasil, a falta de capacitação técnica dos profissionais da extensão, dos produtores e de adequação da legislação nacional ainda são dificuldades a ser superadas para elevar o status da produção brasileira. A seguir, os principais trechos da entrevista do diretor do Dater.

O que o senhor achou quais há consumidores com maior poder mais importante nesses aquisitivo. Portanto, chamam atenção, encontros técnicos? entre tudo que nós vimos, essas diverO que chama a atenção é o prosas formas de organização dos agricesso de organização dos agricultocultores, ora para identificar e agreres. Fica cada vez mais evidente, e gar valor a seus produtos por meio isso não é novidade, que os agriculda identificação de origem, ora pelo tores organizados, especialsistema de organização dos mente em torno consórcios. de uma pessoa jurídica, ganham Em relação à muito mais força realidade brasie capacidade, não leira, qual é a só de ter sistemas principal difede produção mais rença? integrados, como, A principal diprincipalmente, ferença é cultude relacionar os ral. Nós sabemos mercados. E, aqui, e, evidentemente, ainda há outro percebemos, que status: na medida a legislação saniem que eles agretária brasileira gam valores culé menos flexível turais aos seus para esse tipo de A principal diferença é cultural e, evidentemente, produtos, passam iniciativa. A legispercebemos que a legislação sanitária brasileira não somente a ter lação italiana facié menos flexível para esse tipo de iniciativa” preços diferencialita mais, embora dos, mas entram não seja menos em mercados, nos rígida do ponto de 24

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vista da segurança alimentar. Poderíamos dizer que ela fomenta esse tipo de organização, porque pensa nas pessoas, sem esquecer a segurança dos produtos. Para o estado italiano, é importante esse tipo de organização, em que você integra os pequenos e cria oportunidades de negócios. Nós percebemos, aqui, que os agricultores familiares, por conta dos selos, da identificação de origem e da organização em consórcios, estão no mercado internacional com seus produtos. E percebemos que há muito disso no Brasil, sem essa mesma estratégia de organização. Entendo que é um desafio de todas as organizações da Asbraer, aqui presentes, doravante despertar para esse tipo de iniciativa, começando com a capacitação dos seus técnicos, dos seus profissionais e com a compreensão clara de que isso, do ponto de vista objetivo, vai trazer mais renda às famílias que são trabalhadas pela extensão rural. Quais são os pontos em que a política do Brasil supera o que nós vimos no encontro? O sistema de registro de origem dos produtos no Brasil ainda é incipiente; falta muita capacitação dos técnicos, da extensão rural, dos agricultores de adequação da legislação brasileira para atingirmos esse patamar. Evidentemente, já temos produtos e comunidades em cadeias produtivas com organização suficiente para chegar nisso, mas o número de produtos com certificado em uso no Brasil é muito pequeno, em comparação com a Itália. Na opinião do senhor, o que deve se mudado na política brasileira para que possamos superar isso? A questão do selo, das identificações, está afeta aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, e não a um órgão que trata de tudo, de patentes industriais, inclusive do registro de produtos provenientes da agricultura. Então, é necessário trabalhar essa estratégia para que esses ministérios com afinidade direta com o rural possam trabalhar, liderar e executar esse tipo de política.

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Percebemos, aqui, que os agricultores familiares, por conta dos selos, da identificação de origem e da organização em consórcios, estão no mercado internacional com seus produtos. E percebemos que há muito disso no Brasil, sem essa mesma estratégia de organização”

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entreVistA | cleide Maria Amorim Presidente da emater do Pará

Controle para agregar valor aos produtos

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INCuRSãO PElA ITÁlIA MOSTROu à PRESIDENTE da Emater do Pará, Cleide Maria Amorim, que a agricultura familiar precisa ter domínio de todas as etapas da cadeia produtiva, da industrialização e da comercialização. Segundo ela, é necessário o controle de todas as fases para agregar valor aos produtos, levando em conta, principalmente, o fato de a Região Norte

O que a senhora achou mais importante nos encontros técnicos ocorridos durante a missão? Foi tudo muito importante, pois pudemos tirar algum ensinamento de cada atividade da programação. Foi bom também pelo entrosamento entre as pessoas, e esse é um ponto muito favorável. Percebemos que há problemas que podemos resolver entre nós, dentro do Brasil. Quanto à missão, tiramos uma lição muito importante para o Norte, onde prevalece a produção de matéria-prima. vimos que temos que fazer toda a cadeia produtiva e indus-

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do Brasil ser uma grande fornecedora de matéria-prima. Cleide Amorim reconheceu que os agricultores italianos estão bem à frente dos brasileiros. Em contrapartida, o governo brasileiro oferece apoio e incentivos que poderão fazer o produtor do país chegar a níveis igualmente elevados. Abaixo, os principais trechos da entrevista da presidente da Emater paraense. trializar os produtos, a fim de agregar valor a eles. Isso não é tão difícil, pois vimos que, com muito pouco, isso é possível. Talvez seja necessário um pouco mais de entrosamento entre as pessoas para mostrar ao produtor que podemos fazer toda a cadeia, incluindo a comercialização.

Tiramos uma lição muito importante para o Norte, onde prevalece a produção de matéria-prima. Vimos que temos que fazer toda a cadeia produtiva e industrializar os produtos, a fim de agregar valor a eles”

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Em relação à realidade vivenciada no Brasil, o que a senhora destacaria como sendo a principal diferença? A principal diferença é justamente essa agregação de valores aos produtos; mas é preciso conside-

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Produtos italianos expostos no eataly: para cleide Amorim, presidente da emater do Pará, a principal diferença em relação às mercadorias brasileiras é o valor agregrado. “não que não possamos chegar a esse ponto, mas eles alcançaram um nível tecnológico muito avançado”

rar que a realidade deles (italianos), a agricultura familiar, é muito diferente da nossa. Não é que não possamos chegar a esse ponto, mas eles alcançaram um nível tecnológico muito avançado. No caso da feira que visitamos constatamos que temos feiras bem maiores e com tecnologias bem mais apropriadas à nossa realidade, ou seja, nada é tão difícil. Talvez a disciplina, a boa vontade e a organização dos produtores sejam melhores do que as nossas. Na opinião da senhora, para os agricultores brasileiros obterem mais ganhos, o que seria preciso mudar na política estadual ou federal? O ganho foi justamente ver que temos conAssociação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

dições de chegar aonde eles chegaram, até porque a nossa capacidade de produção é muito maior que a deles. Temos muito mais a crescer do que eles, pois já chegaram a um nível e não têm mais para onde crescer, enquanto nós temos muito a caminhar. Então, isso faz com que possamos, por meio, não só das políticas públicas, mas do associativismo e do cooperativismo, avançar muito mais. Quais são os pontos da política brasileira que, na sua opinião, superam o que vimos na Itália? A política do Brasil talvez seja justamente o que eles (italianos) não têm garante incentivos para os produtores, o que pode fazer com eles cresçam. Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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Estratégias inspiradoras

“É

sileira, algo que não trabalhamos muito para a valorização dos alimenficar que, mesmo nos países tos e isso é muito forte nas experiêndesenvolvidos, há dificuldacias que vimos até agora”, afirma Ditdes que precisam ser supemar, ao acrescentar que “talvez essa radas a todo momento. Precisamos, seja a grande virtude do trabalho do por meio dessas missões, aprender Eataly e do Slow Food”. um pouco sobre os problemas com Ele lembra que, em Santa Catarina, que vamos nos deparar no futuro ou a Epagri tem a preocupação de enfatique já estamos enfrentando de forma zar, diante da rede supermercadista, similar”, avaliou o diretor de Extenque a agricultura familiar não é apesão Rural e Pesca da Empresa de Pesnas um negócio, mas uma questão de quisa Agropecuária e Extensão Rural responsabilidade social. “A sociedade de Santa Catarina (Epagri-SC), Ditmar precisa perceber isso para que possaAlfonso Zimath, a Missão Técnica Bramos, de fato, favorecer esse segmento sil/Itália. (agricultura familiar) e consolidá-lo Para Ditmar, a cultura é a princicomo atividade importante para o depal diferença entre o meio rural brasenvolvimento do país e da própria sileiro e o italiano. “O Brasil tem suas alimentação de todos os brasileiros.” peculiaridades. Então, é muito difícil Ditmar Zimath reconhece que a copiar e aplicar práticas que, aqui política brasileira direcionada ao (Itália), deram certo. Devemos ter a campo tem grandes virtudes. Entre preocupação de entender como eselas, destaca as decisões voltadas à ses processos foram trabalhados, distribuição de renda, ao apoio à agricomo eles articulam estratégias e Olhando os territórios cultura familiar e as tentativas de asisso sim, levar para o exercício da e as localidades, segurar maior equidade no desenvolrealidade brasileira.” acho que há grandes vimento nacional dentro da sua Se levadas em conta as dimenpossibilidades de uso grande diversidade — mas observa sões territoriais — o Brasil é 28 vedessas estratégias que o conjunto de políticas públicas zes maior do que a Itália —, Ditmar utilizadas pelo Slow Food não permite uma visão das peculiadiz que esse aspecto impõe uma dificuldade muito maior para o país e pelo Eataly Market em ridades de cada região. “A gente semvárias regiões do Brasil” pre usa uma máxima: quando você no momento de pensar uma política procurar olhar o todo e criar uma brasileira. “Agora, olhando os terriditmar Alfonso Zimath única ferramenta para atender ao tórios e as localidades, acho que há grandes possibilidades de uso dessas estratégias todo, nunca atende ninguém. você trabalha semutilizadas pelo Slow Food e pelo Eataly Market pre pela média e ninguém enxerga a média”, ensina. Para ele, a amplitude continental do Brasil em várias regiões do Brasil.” De acordo com o diretor da Epagri, a adaptação exige políticas públicas em todos os níveis — fedesses modelos de comercialização à realidade bra- deral, estadual e municipal — que contemplem sileira traria pelo menos dois ganhos à sociedade: mecanismos que respeitem as realidades e as poos consumidores teriam acesso a produtos nacio- tencialidades locais. Na opinião do diretor de Exnais com valor agregado de cultura, associado a tensão Rural e Pesca de Santa Catarina, o grande um processo de educação; o agricultor, por sua vez, desafio é identificar mecanismos que permitam alcançaria melhor oportunidade de valorizar sua ajustar as políticas para “trabalharmos o desenforma de vida, de trabalho e, ao mesmo tempo, de volvimento dos agricultores do Norte, do Nordeste, resgatar suas raízes. “Seria uma revisão do próprio do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste, com as suas processo educativo de formação da sociedade bra- peculiaridades e necessidades específicas”. uMA OPORTuNIDADE íMPAR veri-

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entreVistA | evair Vieira de Melo

Presidente do instituto capixaba de Pesquisa, Assistência técnica e extensão rural (incaper) e do conselho nacional dos sistemas estaduais de Pesquisa Agropecuária (consepa)

É preciso repensar as relações no campo

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ARA O PRESIDENTE DO INCAPER e do Consepa, Evair Vieira de Melo, o modelo organizacional dos agricultores italianos é uma experiência que merece atenção e que sinaliza para a necessidade de o Brasil repensar e pactuar melhor as relações dos diversos públicos do campo (pequeno, médio e grande produtores) com as questões ambientais. No entanto,

O que senhor achou mais importante nos encontros ocorridos durante a missão? Acho que foi um momento importante de comparação com o nosso país. O Brasil é muito novo, do ponto de vista da ciência, da tecnologia, do processo de educação. visitamos um país que tem, no mínimo, dois mil anos de presença na história da humanidade. Então, esse encontro de realidades, para nós que fazemos um projeto em um país em construção, foi fundamental para que possamos perceber o caminho percorrido. é uma lição que nos permitirá fazer correções e ajustes na nossa trajetória tendo deles (italianos) como exemplo naquilo que acharmos positivo para o nosso país.

do ponto de vista político, Evair de Melo avalia que o modelo de discussão e a presença do Estado em um país em construção, como o Brasil, revelam-se melhores. “O nosso maior desafio não é encontrar um modelo, mas planos que levem ao desenvolvimento sustentável”, diz Evair na entrevista, cujos principais pontos estão a seguir.

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O nosso maior desafio não é encontrar um modelo, mas planos que levem ao desenvolvimento sustentável; considerando a nossa diversidade, há um aumento considerável de complexidade”

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Em relação à realidade brasileira, qual é a principal diferença que o enhor identificou? Sem dúvida nenhuma, a diversidade. A nossa grande dificuldade em relação ao processo deles são as diversidades cultural, étnica, de solo, de temperatura, de topografia, calor, irradiação... A dimensão territorial brasileira é a diferença fundamental. O nosso maior desafio não é encontrar um modelo, mas planos que levem ao desenvolvimento sustentável; considerando a nossa diversidade, há um aumento considerável de complexidade. Isso aumenta muito o grau de competitividade e de dificuldade, naturalmente.

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entreVistA | evair Vieira de Melo

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pública mais orientada, a O que o senhor acha que fim de que haja melhor pode seraplicado à reaalinhamento de nossas lidade brasileira? universidades, da pesA experiência de organiquisa, da ciência, da teczação, que é fundamental. Embora o nosso sistema nologia e das vivências Precisamos pactuar mecom as realidades locais. lhor as relações da agriculpolítico não seja perfeito, Embora o nosso sistema tura familiar – da média e evoluímos no debate, político não seja perfeito, da grande – com a questão evoluímos no debate, na ambiental. Precisamos fana participação e participação e precisamos zer uma extensão, com meprecisamos construir o construir o nosso grande nos assistência técnica, no nosso grande plano de plano de negócio. Talvez sentido de construir um seja esse o nosso maior modelo organizacional, em negócio. Talvez seja esse desafio. que fique claro onde estao nosso maior desafio” mos, para onde vamos e com que responsabilidade Na opinião do senhor, evair Vieira de Melo e compromisso. Acredito em quais pontos o Brasil que esse é o nosso princisupera o que vimos, pal desafio: organizar os aqui, na Itália? sistemas produtivos e de intervenção nos Eu acho que o debate e o nosso modelo recursos naturais (água e solo). democrático de participação são pouco mais avançados. Aqui (na Itália), a gente percebe que o estado, em algum momento, está Na opinião do senhor, o que deveria omisso. Eu acho que a presença do estado ser mudado nas políticas estaduais brasileiro é importante, porque em um país ou federal para que os produtores em construção há políticas amplas para totenham mais ganhos? Precisamos de nos profissionalizar um dos. Então, considero um avanço o nosso pouco mais em termos de organização ou modelo de debate e de participação em dede cooperativa ou associações. Não vou cha- senvolvimento, que vai nos permitir enconmar isso de pacto nacional, mas uma política trar, lá no fim, um horizonte mais confiável.

Mercadorias da agricultura familiar chegam às gôndolas do supermercado com informações sobre a origem da produção para os consumidores 30

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entreVistA | elionaldo de Faro teles

Presidente empresa Baiana de desenvolvimento Agrícola s.A (eBdA)

Superarticulação se aplica ao meio rural brasileiro

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ARTICulAçãO ENTRE POlíTICAS PúBlICAS, desenvolvimento territorial, processo de identificação geográfica, cultura, comercialização de produtos e outros fatores que melhoram a vida dos agricultores foi o que mais chamou a atenção do presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Elionaldo de Faro Teles, na viagem à Itália. “Há um projeto superarticulado que pensa especificamente o desenvolvimento dos territórios, o turismo, a questão técnica, a ex-

O que o senhor achou mais importante nos encontros técnicos ocorridos na Itália? Existe uma semelhança muito grande com a ação que tentamos desenvolver no Brasil: discutir especificamente a assistência técnica, especializá-la, cada vez mais, e compreender o desenho do projeto que estamos construindo. Comparamos a assistência técnica pública com o processo privado. Mais: conseguimos estabelecer uma conexão internacional acerca dos problemas que temos no mundo, e os nacionais. O que mais interessa, no entendimento da nossa empresa, é compreender para onde caminha esse processo de desenvolvimento e, efetivamente, melhorar as condições da população, pois temos um trabalho muito grande na agricultura familiar.

tensão rural.” Para ele, esse sistema articulado de ações poderá ser aplicado ao Brasil, envolvendo os agricultores que estão no processo de verticalizar a produção e melhorar a apresentação, a fim de agregar valor às mercadorias, mas a incursão em terras italianas mostrou também que o Brasil tem políticas voltadas para o agricultor familiar, o que permite ao país apoiar aqueles que nunca tiveram nada. Abaixo, os principais trechos da entrevista do dirigente da EBDA.

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Não temos no Brasil uma articulação ampla das políticas públicas que convirja para os setores da agricultura e da agricultura familiar”

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Em relação à realidade vivenciada no Brasil, qual é a principal diferença na comparação com o que o senhor viu na Itália? Foi possível perceber, no encontro na universidade de Florença, que todo o processo de IGP (Identificação Geográfica de Produtos) está articulado com o desenvolvimento territorial. Considero que não temos no Brasil uma articulação ampla das políticas públicas que convirja para os setores da agricultura e da agricultura familiar. Então, o evento foi muito bom, porque deu para perceber a existência de uma política nacional em curso na Itália, toda articulada com o setor específico da agricultura, que tem a pesquisa envolvida, e os departamentos nacionais, que, por sua vez,

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entreVistA | elionaldo de Faro teles

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de fato com a agricultura fatêm no processo de desenvolmiliar do Norte e do Nordeste vimento um olhar próprio e de todo o Brasil. Tem que hapara a vida dos agricultores. ver uma simbiose. A pesquisa Há um projeto superarticulado e a própria universidade têm que pensa especificamente o que estar articuladas conosco, desenvolvimento dos territóalém de projetos nacionais. rios, o turismo, a questão técO Brasil consegue, Acho que, no Brasil, já estamos nica, a extensão rural. Esse hoje, fazer uma em curso para esse processo projeto articula o que é priarticulação extremamente de desenvolvimento. Na mivado e o que é público e possinha opinião, falta aprofundar bilita às cooperativas e às asinteressante na separação um pouco mais e garantir as sociações históricas terem um e no apoio àquele que questões de qualificação, em processo de desenvolvimento, cada território, em cada reuma valorização cultural fannunca teve nada” gião, para que a gente acontástica, uma agregação de vateça mais. No país, eu diria, eslores aos produtos dos agriculpecificamente, na Bahia, ter tores familiares. O que de fato territórios, comunidaprecisamos fazer, de fato, é nos espelhar para que possamos adaptar a nossa des de planejamento que funcionem para todas realidade, naquilo que for possível, não pen- as secretarias, seria uma grande alternativa sando apenas no mercado, mas no processo de para que pudéssemos avançar nesse processo. desenvolvimento das pessoas do Brasil. Para o senhor, em quais pontos a política O que poderá ser aplicado efetivamente à brasileira supera o que vimos na Itália? Acho que eles não têm política nacional para realidade da Bahia? Creio que podemos levar adiante o processo o agricultor familiar especificamente, porque, de organização de formação de cidadania. Per- resguardadas as proporções, não tem diferença. cebemos claramente que o cidadão italiano está O Brasil consegue, hoje, fazer uma articulação completamente articulado com princípios e me- extremamente interessante na separação e no tas que foram estabelecidos, dentro de um or- apoio àquele que nunca teve nada. Então, perganograma e de um programa montados em cebemos claramente que o MDA (Ministério do nível nacional, sobre os quais ele tem pleno co- Desenvolvimento Agrário) tem uma relação conhecimento. A visita que fizemos ao mercado nosco muito forte, acerca das políticas nacio(Eataly) mostrou que essa articulação é viva e nais e dos grandes projetos que temos, ; a linha todos ganham no processo. O agricultor precisa do Pronaf (Programa Nacional de Fortaleciter algum tipo de valorização, para que possa mento da Agricultura Familiar), que estamos participar efetivamente. Percebi que podemos conseguindo avançar. Conseguimos fazer, para aplicar ao Brasil, aos estados, para aqueles agri- o nosso tempo, no Brasil, o que é mais necessácultores que estão no processo de verticalizar rio para o agricultor, que ainda tem dificuldasua produção, melhorar as condições de apre- des educacional e cultural. O Brasil precisa sentação das mercadorias e de trabalho efeti- aprofundar essa relação e, de fato, ter mais revamente, para que possamos ter, então, uma cursos e um processo organizativo para os agrirealidade bem modificada proximamente. cultores que realmente necessitam. Penso para o semiárido nordestino um projeto estadual, com especificidade para cada estado, mas anPara que essas mudanças cheguem aos procorado em uma proposta nacional de sustentadutores rurais, o que será preciso mudar bilidade para os agricultores vencerem o desanas políticas estadual e federal? Acho necessária uma articulação maior em fio de agregar valor e vender bem seus torno de um objetivo central: o que queremos produtos. 32

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entreVistA | José noivo carvalho

coordenador de Assistência técnica e extensão rural da empresa de Pesquisa Agropecuária e extensão rural de santa catarina (epagri)

Alto nível de organização

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MBORA SEJA PRECISO AvANçAR MuITO NO BRASIl para agregar valor cultural à produção da agricultura familiar, o país está à frente da Itália no que se refere às políticas públicas de crédito, avalia o coordenador de Assistência Técnica e Ex-

O que o senhor achou mais importante nos encontros da missão? Na minha avaliação, o mais importante foi a troca de experiências com a realidade italiana. A produção e a comercialização da agricultura familiar são bem distintas das brasileiras. Temos condição de fazer algo semelhante, mas o nível de organização deles é muito alto. Acho que essa foi uma boa lição.

tensão Rural da Epagri, José Noivo Carvalho. Para ele, a troca de experiências com a realidade agropecuária italiana foi um dos pontos altos da missão técnica promovida pela Asbraer. A seguir, os principais trechos da entrevista de José Noivo.

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mercadorias coloniais, o grande ganho será o desenvolvimento das comunidades, que muitas vezes são deprimidas social e economicamente. Mas temos barreiras a serem vencidas, especialmente nas legislações tributária e previdenciária, que apertam demais e impõem dificuldades ao agricultor. Em relação à legislação sanitária, é necessária uma ação muito forte das entidades para torná-la diferenciada em relação ao produtor familiar. Acredito que esse seria o primeiro passo a ser dado para agregar valor e industrializar alguns produtos, levando conta a cultura do povo.

O que pode ser aplicado A agricultura familiar foi, ao à realidade de Santa longo do tempo, orientada Catarina? Temos muito a caminhar Quais são os pontos da para a produção de para aplicar o sistema de trapolítica brasileira que commodities” balho que eles têm aqui (na superam os da na Itália? Itália), principalmente a Hoje, nós temos na política braidentificação geográfica. Temos agricultura fa- sileira aspectos muito importantes de apoio à miliar e produtos com uma identidade cultural agricultura familiar, que é o nosso principal foco, muito grande e com diferenciações interessantes, entre eles as compras institucionais, como a commas estamos trabalhando com commodities. A pra direta, que tem uma legislação específica, agricultura familiar foi, ao longo do tempo, orien- que obriga os órgãos públicos a adquirirem desse tada para a produção de commodities. é possível segmento produtos diferenciados. Isso é um mudar essa cultura, mas será muito trabalhoso. ponto importante e, aqui, não vi nada nessa linha. No Brasil, há todo um apoio na área de fiEm sua opinião, o que deveria mudar na polínanciamento, com juros diferenciados para o tica estadual ou federal para garantir ganhos produtor familiar, que, com certeza, é fundapara os agricultores brasileiros? mental. Para implementarmos algumas das poNo momento em que tivermos uma situação líticas que vimos aqui (na Itália), essas políticas diferenciada de produtos, com a valorização de brasileiras são extremamente importantes. Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

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entreVistA | Karine Araújo Queiroga secretária executiva de Política Agrícola da secretaria de Agricultura do Amazonas

“A Ater brasileira é um serviço de qualidade”

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OR TODAS AS PECulIARIDADES

ímpares do Amazonas, o sistema de identificação geográfica, que agrega cultura e valor aos produtos rurais italianos, foi o que mais chamou a atenção da secretária executiva de Política Agrícola do Amazonas, Karine Queiroga. Segundo ela, muito do que foi apresentado nos encontros técnicos poderá ser aplicado às mercadorias da Amazônia – que, por si só, é uma grife competitiva. Essa mesma lógica se aplica, na opinião da secretária, a outras regiões do Brasil, mas, na comparação das políticas públicas entre os dois países, Karine Queiroga ressalta a importância da Ater brasileira: “A nossa extensão rural, com certeza, faz o diferencial e permitiu que a nossa agricultura se sobrepujasse no cenário internacional”. A seguir, os principais trechos da entrevista da secretária.

O que a senhora achou mais importante nos encontros técnicos? Achei muito interessantes os temas que foram colocados. um dos principais, para 34

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A base é a organização social, para que os produtos deles tenham reconhecimento, valorização e propiciem geração de renda. O fato de estarmos na Região Amazônica, naturalmente, já é uma marca, pois a Amazônia hoje é como uma grife”

mim, que poderia ser aplicado na realidade do Amazonas, foi justamente o de identificação geográfica, devido às potencialidades e pelo fato desse tema estar começando

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a ser discutido lá. Podemos pegar alguns exemplos que foram expostos durante a missão, como eventos que deram certo, para aplicarmos à nossa realidade.

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entreVistA | Karine Araújo Queiroga

Para poder aplicar essa política de identificação geográfica, o que deveria ser mudado napolítica do estado ou em nível federal, a fim de elevar os ganhos dos agricultores amazonenses e dos brasileiros, de modo geral? Acho que o primeiro ganho é valorizar os produtores locais, principalmente com a organização. A base é a organização social, para que os produtos deles tenham reconhecimento, valorização e propiciem geração de renda. O fato de estarmos na Região Amazônica, naturalmente, já é uma marca, pois a Amazônia hoje é como uma grife. Então, temos que ser um pouco mais agressivos, no sentido de usar essa grife. Como a Itália usa a grife da gastronomia e a cultura muito forte em relação aos vinhos, às massas, nós temos esse potencial no Brasil. Acho que no Amazonas isso ainda está muito sensível; temos que fazer trabalhos mais intensivos, principalmente em relação às políticas públicas, para favorecer, justamente, esses segmentos da agricultura. Foram muito interessantes alguns conhecimentos que percebemos na Itália e, com certeza, dá para serem aplicados à nossa

realidade, não só no Amazonas, mas em várias regiões do país.

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A nossa extensão rural, com certeza, faz o diferencial e permitiu que a nossa agricultura se sobrepujasse no cenário internacional. Hoje, somos um dos maiores produtores de café e de grãos, e isso está muito ligado à extensão rural pública, que é um serviço de qualidade”

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Na opinião da senhora, quais são os pontos a política brasileira supera o que foi visto na Itália? Com certeza, a extensão rural pública. A Itália tem um sistema diferenciado. lá, a assistência técnica é basicamente privada, até pelo porte da agricultura. A agricultura brasileira é diferenciada. No Amazonas, pelo menos 90% dos nossos agricultores são familiares e, por isso, temos nossa política de extensão rural, que foca justamente esse grupo, ou seja, produtores de pequeno porte, microagricultores, para que eles possam entrar no mercado e obter renda. A nossa extensão rural, com certeza, faz o diferencial e permitiu que a nossa agricultura se sobrepujasse no cenário internacional. Hoje, somos um dos maiores produtores de café e de grãos, e isso está muito ligado à extensão rural pública, que é um serviço de qualidade, mas, como todo tipo de serviço, temos algumas dificuldades, principalmente no Amazonas, devido à dimensão geográfica. Com certeza, se não tivéssemos Ater pública, nossa realidade seria outra.

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entreVistA | luiz Ademir Hessmann presidente da empresa de Pesquisa Agropecuária e extensão rural de santa catarina (epagri)

Oportunidades para estreitar parcerias

O

S ENCONTROS TéCNICOS SOBRE IDENTIFICAçãO

geográfica e a possibilidade de uma parceria mais estreita com os italianos foram o que mais atraiu a atenção do presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Luiz Ademir Hessmann. Ele atribui o elevado grau de organização dos agricultores do país visitado ao tempo de preparação.

O que o senhor destacaria como importante dos encontros técnicos? A importância primeira é a que nos possibilitará maior parceria com a Itália em vários aspectos da inovação, especialmente na identificação geográfica. Isso nos dará expertise e nos provocará a buscar um maior número de resultados.

Embora essas questões ilustrem bem as diferenças entre o meio rural brasileiro e o italiano, Hessmann afirma que “em vários aspectos temos muito que avançar, mas não podemos deixar de reconhecer o bom trabalho que fazemos no dia a dia, não só em Santa Catarina, mas em todo o país”. A seguir, os principais trechos da entrevista do presidente da Epagri. Em relação à realidade que o senhor vivencia no Brasil, qual é a principal diferença, quando comparada com a Itália? Aqui, na Europa, eles tiveram maior preparação, especialmente na organização. O que mais demove todas as questões é que estão começando uma crise é bem verdade, mas, ao mesmo tempo, eles têm uma realidade

‘‘

Na política estadual, nós imaginamos, precisa ter maior interação com os parceiros, como os sindicatos rurais e as prefeituras. Uma vez ganhando esse espaço na sociedade organizada, tenho certeza de que iremos avançar bastante”

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entreVistA | luiz Ademir Hessmann bem confortante. Além disso, o governo vem demonstrando total apoio aos agricultores. Na avaliação do senhor, o que poderá ser aplicado à realidade brasileira? Especialmente a questão da identificação geográfica, que é importante, principalmente para nós que já temos algumas ações nesse sentido. Além disso, aspectos da organização dos produtores, dos consórcios – que são uma realidade em Santa Catarina, mas precisam ser aprimorados – e a busca por maior flexibilização na legislação no que tange ao Código Florestal, que agora será implementado no Brasil. Em sua opinião, para os agricultores brasileiros obterem mais ganhos, o que seria preciso mudar na política estadual ou federal? Na política estadual, nós imaginamos, precisa ter maior interação com os parceiros, como os sindicatos rurais e as prefeituras. uma vez ganhando esse espaço na sociedade organizada, tenho certeza de que iremos

avançar bastante. Porém, para isso, são necessárias algumas mudanças na legislação nacional. uma das mudanças que estão previstas, especialmente na questão de extensão rural e assistência técnica, é a facilitação, por parte do governo, para garantir maior velocidade na ação e nos comprometimentos. Quais são os pontos da política brasileira que superam o que foi visto na Itália? Primeiro, a vontade de ser brasileiro. O Brasil, com certeza, tem uma experiência bastante grande, um conhecimento voltado para o pequeno produtor, aquele que precisa do apoiamento. Em vários aspectos temos muito que avançar, mas não podemos deixar de reconhecer o bom trabalho que fazemos no dia a dia, não só em Santa Catarina, mas em todo o país. Agora, mais ainda, com essa entidade pública que vai coordenar o serviço de extensão rural, haverá maior dinâmica. Tenho plena certeza de que o Brasil e Santa Catarina não perdem muito para os países desenvolvidos.

Reunião em Montepulciano: organização dos agricultores italianos e identificação geográfica, mencionados pelo presidente da epagri, luiz Hessmann, foram temas da maioria dos encontros técnicos que a Missão Brasil/itália propiciou aos participantes Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

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entreVistA | Markan Zik uchoa diretor de extensão rural do instituto de desenvolvimento Agropecuário e Florestal sustentável do estado do Amazonas

Leis sanitárias criam gargalos

“P

RECISAMOS INvESTIR NA CAPACITAçãO , trabalhar a nossa legislação sanitária, que é o grande gargalo nesse momento para podermos avançar”, avalia o diretor de Extensão Rural do Idam, Markcam Zik Uchoa, frente aos en-

contros técnicos promovidos pela Missão Itália. Segundo ele, além da política para o setor agropecuário, o Brasil dispõe de terras agricultáveis, que são escassas no país visitado. Abaixo, os principais trechos da entrevista de Markam Uchoa. duto para isso. Para que os nossos agricultores tenham ganhos semelhantes aos italianos, o que deveria ser mudado na política estadual ou federal? Acho que deveríamos integrar mais os órgãos de assistência técnica, de vigilância sanitária (que, em minha opinião, é o grande gargalo). Precisamos avançar muito nisso.

O que o senhor achou mais importante nos encontros técnicos? Na Itália, há um trabalho integrado e consolidado, que envolve toda a cadeia produtiva ― desde a produção, passando pelo beneficiamento, até a embalagem e o comércio. Isso é muito importante, pois eles têm uma fatia significativa do mercado, com produto de qualidade e controlado. Em relação à realidade vivenciada no Brasil, qual é a principal diferença? Na comparação com o sistema italiano, o nosso é muito incipiente. Precisamos investir na capacitação, trabalhar a nossa legislação sanitária que é o grande gargalo nesse momento para avançar.

Em quais pontos a política brasileira supera o que foi visto nos encontros técnicos na Itália? Superamos na nossa capacidade de produção, evidentemente que regionalizando e tiPrecisamos rando o nicho de mercado e de produtos que são importantíssiinvestir na mos para inserirmos no mercado capacitação, Diante do cenário rural itanacional. Acredito que esse é o trabalhar a nossa liano, que poderia ser apligrande diferencial, além da área legislação cado à realidade brasileira? agricultável que temos no Brasil. sanitária para Acho que precisamos trazer o Na Itália, a dificuldade de terra agricultor familiar e a produção é muito grande. Para termos avançar” para um padrão de qualidade, a uma ideia, o setor produtivo fim de inserir os produtos no agrícola tem uma participação mercado. Evidentemente, isso será em etapas: de 2 a 3% no Produto Interno Bruto da Itália. primeiro, o mercado local; em seguida, o inte- Em contrapartida, temos potencial em relação restadual; e, depois, avançamos para o mer- a essa amplitude de mercado pela qualidade cado internacional, pois temos potencial e pro- dos nossos produtos. 38

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entreVistA | Marcelo lana Franco ex-presidente da emater de Minas e, hoje, à frente da empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas gerais (epamig)

“Nossa legislação deve ser repensada”

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e a inserção dos produtos rurais embalados com elementos das culturas regionais em diferentes mercados foram o que mais chamou a atenção do ex-presidente da Emater de Minas Gerais Marcelo Lana. Segundo ele, para levar o Brasil a esse pataORGANIZAçãO DOS AGRICulTORES ITAlIANOS

O que o senhor achou nos encontros técnicos da Missão Itália? Achei a organização dos produtores e a busca do mercado pela identificação geográfica, pela valorização da cultura e pela comercialização muito interessantes. Eles valorizam bastante as regiões e a cultura ― como a região da Toscana ― ao fazerem um link com o todo, e não só com o produto. Qual é a diferença, em comparação com a realidade vivenciada pelo senhor no Brasil? Precisamos avançar muito em todas as regiões, especialmente em relação à cultura. Acredito que a nossa legislação deve ser repensada para que isso ocorra.

mar seria preciso mudar a legislação. Hoje, no país, há ações pontuais que se assemelham ao que acontece na Itália, porém o ideal seriam ações que envolvessem as questões ambientais, culturais e a legislação. Abaixo, os principais trechos da entrevista de Marcelo Lana. tuais, mas estamos longe do modelo italiano, com cinco ou seis produtos, quando o ideal seria toda uma cultura, que envolvesse questões ambientais, culturais e a legislação. é preciso haver valorização da mercadoria por meio do preço para incentivar o agricultor a diferenciar a produção.

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É preciso haver valorização da mercadoria por meio do preço para incentivar o agricultor a diferenciar a produção”

O que o senhor acha que poderia ser aplicado à realidade brasileira? Em Minas Gerais, especificamente, temos uma atuação forte com o queijo canastra e o seco, o café e o Minas leite. Temos algumas ações ponAssociação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

Em sua opinião, o que deveria ser mudado? Especialmente esses produtos que têm identificação geográfica. Eles têm que ter acompanhamento tributário e ambiental, e uma logística é fundamental. é importante que se tenha uma programa claro em nível nacional para atingir todas as unidades da Federação.

Diante do que foi visto durante a missão, em quais pontos o Brasil supera a Itália? No Brasil, temos uma assistência técnica pública eficiente. Há sinalização da presidente Dilma (Rousseff) de criar uma empresa pública nacional e a Asbraer é fundamental nisso. Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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entreVistA | Maria inês nogueira Pacheco Presidente do instituto de inovação para o desenvolvimento rural sustentável de Alagoas (emater)

Na FAO, espaço para a cooperação técnica

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MBORA HAJA GRANDE DIFERENçA ENTRE AS realidades rurais do Brasil e da Itália, a preocupação do setor público brasileiro para garantir a inclusão produtiva no campo é um dos aspectos políticos que se sobressaem na comparação com as ações do setor público italiano voltadas para a agricultura. Para a presidente da Emater de Alagoas, Maria Inês Pacheco, o encontro com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) foi um dos pontos altos da Missão Técnica Brasil/Itália, organizada pela Asbraer. Na sua opinião, a reunião com a cúpula da organização abriu oportunidades de construção de cooperação técnica. Na volta ao Brasil, ela inclui na bagagem, não somente os resultados dos encontros técnicos, mas também a capacidade de organização dos produtores rurais, madura e articulada, que pode ser aplicada à realidade alagoana. A seguir, os principais pontos da entrevista de Maria Inês.

O que a senhora achou mais importante nos encontros técnicos? Devemos considerar que foi muito importante a presença da Asbraer na FAO. Essa reunião nos permite elaborar uma proposta de cooperação técnica com a instituição e estabelecer um processo de articulação que propicie um intercâmbio maior das ações internas e com os países que têm processo de desenvolvimento de inovação de novas tecnologias, especialmente no que diz respeito à assistência técnica e à extensão rural. Achei esse encontro com a FAO muito importante, pois abre a possibilidade de a Asbraer construir uma proposta técnica de cooperação. vale destacar o encontro com a universidade de Florença — sobretudo com a Faculdade de Economia, porque ela nos permite al40

Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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Nós temos que avaliar, dentro da Asbraer, quais são os estados ou as empresas públicas de Ater que têm esses acordos de cooperação com as universidades locais e que permitem dar continuidade a essa parceria ou a esse trabalho feito em Florença” gumas ações conjuntas para a questão de identificação geográfica dos produtos e inserção qualificada desses produtos no mercado. Temos produtos significativos no âmbito da agricultura familiar. Talvez, da forma como ocorre em Florença, possamos agregar valor Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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delegação brasileira reunida com a cúpula da FAo, em roma: para a presidente da emater Alagoas, uma chance de acordo voltado a um intercâmbio maior das ações internas e com os países que têm processo de desenvolvimento de inovação de novas tecnologias principalmente em relação à assistência técnica e à extensão rural

a esses produtos e facilitar o processo de comercialização. Entendo que essa parceria com a universidade, com a Faculdade de Economia de Florença, deve envolver alguma instituição de ensino superior do Brasil. Nós temos que avaliar, dentro da Asbraer, quais são os estados ou as empresas públicas de Ater que têm esses acordos de cooperação com as universidades locais e que permitem dar continuidade a essa parceria ou a esse trabalho feito em Florença. Devemos destacar ainda os contatos feitos com outras instituições e, principalmente, com o setor produtivo. Percebemos que há possibilidade de melhorar esse processo de articulação, estabelecer parcerias para que a inovação realmente consiga chegar ao Brasil. Dessa forma, no geral, acho que a missão foi muito positiva. Ela mostrou que existe algo muito próximo entre a atividade produtiva daqui (Itália) e o que é desenvolvido no Brasil, sobretudo no que diz respeito à produção alimentar — fruticultura e hortaliças — de uma maneira geral. Temos muito o que aproveitar desses encontros. Em relação à realidade vivenciada no Brasil, qual é a principal diferença que a senhora identificou na Itália? Temos uma diferença significativa, que é o nível dos investimentos feito pelos agricultores. Na Europa, os produtores têm um poder aquisitivo elevado, boa infraestrutura, relaAssociação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

ções com o mercado e legislação consolidada. Isso tudo facilita o desenvolvimento das atividades produtivas. No Brasil, temos muitas coisas em construção e, principalmente, uma população rural empobrecida, que depende muito do setor público. Assim, a principal diferença é a economia de um país rico, que, apesar das dificuldades que está enfrentando, tem relações consolidadas, poder de participação, de conhecimento e de investimento. O que a senhora acha que poderá ser aplicado à realidade de Alagoas? Aqui (na Itália), tem muita coisa relacionada à inovação e, sobretudo, ao apoio institucional do poder público e das organizações. Em relação à realidade alagoana, podemos aproveitar o processo de organização bem maduro e articulado, que envolve poder público, produtores e sociedade. No Brasil, com certeza, temos que aprimorar isso. Quais são os pontos em que a senhora acha que a política do Brasil supera o que foi visto na Itália? No Brasil, temos uma atenção muito forte do poder público. Existe uma preocupação, tanto federal quanto estadual, para que encontremos caminhos e opções mais viáveis para que a atividade produtiva aconteça no meio rural. Então, acho positivos a participação e o investimento do setor público para que a inclusão seja mais qualificada. Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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entreVistA | Max Ataliba diretor-presidente do instituto de desenvolvimento rural do Amapá (rurap)

Há nichos no mercado que querem a produção familiar

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territorial, que permite agregar valor à produção por meio da identificação geográfica, foi o que mais atraiu a atenção do diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap), Max Ataliba. AlTO GRAu DE ORGANIZAçãO E DE GESTãO

Para ele, falta aos agricultores brasileiros esse nível de conscientização de que o trabalho em grupo beneficia a todos e impacta positivamente na formulação e execução das políticas públicas voltadas para o campo. A seguir, os principais trechos da entrevista de Max Ataliba.

O que o senhor achou mais interessante na Missão Itália? Os encontros sobre identificação geográfica mostraram como os agricultores italianos conseguiram um elevado nível de organização e de desenvolvimento. Eles conseguem fazer a gestão territorial, identificar todo o processo de beneficiamento e de valorização do produto; isso gera um valor bem mais alto para as mercadorias e beneficia o agricultor. Em relação à realidade que o senhor vivencia no Brasil, qual é a principal diferença? é a organização dos agricultores italianos. vou comparar com o Amapá, por conhecer melhor o problema. lá, os agricultores não têm consciência dos benefícios do trabalho em grupo. Eles não se deram conta de que a parceria pode facilitar o trabalho, reduzir custos, elevar a renda e influenciar as políticas públicas, principalmente no apoio da assistência técnica voltada para a valorização do produto local.

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Quais são os pontos da política brasileira que, para o senhor, superam o que vimos na Itália? Não sei se superam, mas temos várias conquistas, como a lei de Ater, e avançamos com a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que valoriza as entidades estaduais de Ater. O Brasil tem muitas possibilidades por ser um país com alta biodiversidade, o que nos oferece muitos produtos a serem explorados na Amazô-

nia, na Mata Atlântica, na Região Sul, ou seja, há um grande potencial. Mas precisamos de políticas públicas para atuar mais fortemente com os agricultores no mercado, para que ele absorva a produção, que deve ter qualidade e ser ofertada com regularidade. Nesse aspecto, devem haver ações de publicidade e marketing, pois já existe um nicho de mercado no Brasil que quer o produto da agricultura familiar de melhor qualidade.

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Precisamos de políticas públicas para atuar mais fortemente com os agricultores no mercado, para que ele absorva a produção, que deve ter qualidade e ser ofertada com regularidade”

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entreVistA | Miyuki Hyashida Presidente do instituto de desenvolvimento rural do estado de tocantins (ruraltins)

É preciso qualificação no campo

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NTRE O ElEvADO vOluME DE INFORMAçõES DOS

encontros técnicos, a presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado de Tocantins (Ruraltins), Miyuki Hyashida, destacou as relacionadas à identificação geográfica dos produtos do campo. Segundo ela, esse pro-

a indicação geográfica com o capim-dourado, o que levaria à preservação da espécie e à agregação de valor aos nossos produtos.

O que a senhora achou mais importante nos encontros técnicos? O mais importante foi ver que, na Itália, há esse trabalho de certificação de origem e de identificação geográfica, realmente, dos produtos dos pequenos agricultores. Dessa forma, é possível melhorar a vida dos nossos agricultores familiares. Em relação à realidade vivenciada no Brasil, qual foi a principal diferença que a senhora notou na Itália? A diferença é bastante grande, porque os nossos produtores ainda não têm, na sua formação, a mesma vontade dos italianos. Isso tudo tem um custo, e é bem elevado. Em compensação, eles ganhariam muito mais. Teremos que trabalhar, primeiro, a educação, a qualificação e a capacitação dos nossos agricultores para que eles consigam entender que esse tipo de trabalho trará uma situação melhor.

cesso poderá ser aplicado às mercadorias feitas com o capim-dourado, hoje bastante conhecido no Brasil e no mundo. Para Miyuki, além de melhorar a vida dos agricultores, a IG poderá favorecer a preservação dessa matéria-prima. A seguir, os principais trechos da entrevista.

‘‘

Para a senhora, o que deveria ser mudado na política estadual ou federal para que os agricultores alcançassem melhores ganhos? Bastante coisa. Temos muito que trabalhar, pois muitas vezes fazemos propostas, aderimos aos programas do governo que incentivam a produção, mas, ao mesmo tempo, há programas do mesmo governo que criam dificuldades. Por exemplo, podemos citar as situações de meio ambiente, de licenciamentos, complicações nos selos dos produtos finais.

Teremos que trabalhar, primeiro, a educação, a qualificação e a capacitação dos nossos agricultores para que eles consigam entender que esse tipo de trabalho trará Quais são os pontos em que a uma situação melhor”

Na opinião da senhora, o que mais poderá ser aplicado à realidade local? Na nossa realidade, temos situações, como a do capim-dourado, um produto que praticamente só existe na região do Tocantins. Devido a um trabalho de marketing anterior, ele é conhecido em países da Europa, como Itália, Espanha e Portugal. Como existe mercado, nós poderíamos trabalhar Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

política do Brasil supera a da Itália? O que temos de bom são os programas. Hoje, dentro da extensão, conseguimos trabalhar desde o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) até os programas de crédito, de compra direta, mas, nesse meio, há outros gargalos que, precisamos trabalhar. Acho que esse é um trabalho da Asbraer que podemos fazer com bastante força para realmente ajudar esse povo. Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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entreVistA | romualdo Militão Presidente da emater do Piauí

“Não estamos tão longe do ideal”

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A COMPARAçãO COM A ITÁlIA E COM OuTROS países da Europa, o Brasil, descoberto há 513 anos, é muito jovem. Apesar da diferença secular que separa a realidade brasileira da europeia, na avaliação do presidente da Emater do Piauí, Romualdo Militão, “não estamos tão

longe do ideal”. Segundo ele, onde há assistência técnica e extensão rural, os pequenos agricultores produzem mais. Em várias culturas, a produtividade brasileira supera a dos Estados Unidos e a da Europa. A seguir, os principais trechos da entrevista do presidente da Emater do Piauí.

O que o senhor avaliou como mais importante nos encontros? Toda a transferência de conhecimento possível para a comunidade no estado é muito importante, sobretudo quando se vê uma cultura tão antiga e organizada. No Nordeste há uma desarticulação entre organizações e associações. O Brasil é muito novo 500 anos não são nada em relação à Europa precisamos abrir nosso mercado. Na produção de queijo de Minas, por exemplo, podemos levar o exemplo daqui (da Itália) e formar, lá (no Brasil), esse tipo de consórcio. O pessoal de Minas acaba de migrar para o Pará a fim de produzir queijo muçarela.

Em quais pontos as políticas públicas do Brasil superam o que encontramos aqui? Não estamos muito longe do ideal.Os nossos pequenos agricultores estão em uma fase muito boa. é claro que falta muita coisa, mas nosso serviço de assistência técnica e de extensão é algo bem montado, funciona. Onde há assistência técnica e extensão, os pequenos agricultores produzem muito mais. Em relação aos grandes produtores, vale salientar que o Brasil passa por um momento muito bom. O país tem diminuído a abertura de áreas e aumentado a produtividade. E não é somente isso em relação à Europa. Hoje, em várias culturas, a nossa produtividade supera a dos Estados unidos e a da Europa. Então, ficamos felizes de fazer essa constatação, o que mostra que estamos no rumo certo. Claro que há vários gargalos. Temos que continuar crescendo, mas as proteções estão sendo muito bem empregadas no Brasil.

A seu ver, quais seriam os ganhos para os brasileiros e o que deveria ser mudado nas políticas públicas para que isso acontecesse? levamos daqui o que vimos sobre organização, proteção dos consórcios e dos nichos de mercado. No Nordeste, é preciso incluir muitas culturas de confecção, de produção, que são desprotegidas. O mais importante é a condução dessas proteções, que passa pelas instituições associações, organizações, cooperativas. Aqui, eles conseguiram elevar os valores, aumentar o volume de vendas e a proteção dos produtos dessas áreas. 44

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Onde há assistência técnica e extensão, os pequenos agricultores produzem muito mais. Em relação aos grandes produtores, vale salientar que o Brasil passa por um momento muito bom. O país tem diminuído a abertura de áreas e aumentado a produtividade”

Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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entreVistA | tanara lauschner secretária executiva de Agricultura do Amazonas

Ater brasileira é maior e melhor

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EMBAlAGEM CulTuRAl DADA AOS PRODuTOS agro-

pecuários italianos foi, na avaliação da secretária executiva de Agricultura do Amazonas, Tanara Lauschner, um dos elementos mais interessantes dos encontros programados pela missão técnica. Segundo ela, o Amazonas tem potencialidade para adotar o sistema de identificação geográfica, sobretudo pela riqueza de produtos indígenas e exóticos, aliada

à diversidade cultural que o estado abriga. No Brasil, os agricultores produzem para pensando nos consumidores. “Os italianos invertem um pouco essa lógica. Os agricultores ensinam aos consumidores o que eles precisam comer”, acrescentou a secretária, a fim de ilustrar uma das muitas diferenças existentes entre o meio rural dos dois países. Abaixo, os principais trechos da entrevista de Tanara Lauschner. tros países e de outros estados brasileiros. Além desse aspecto, o clima é outro fator que nos impede de aproveitar muito do que vimos. Em relação à extensão rural, os italianos dão muita força ao setor privado. No nosso estado praticamente não existe a extensão rural privada, porque são poucos os grandes produtores que têm assistência técnica privada.

O que a senhora achou mais importante nos encontros técnicos da missão? A importância que eles dão para a parte cultural na Itália. Na agricultura, a venda dos produtos sempre está relacionada à cultura dos italianos. Esse é um ponto que achei bastante interessante. Em relação à realidade vivenciada no Brasil, qual é a principal diferença? O Amazonas é um estado extremamente grande, com distâncias geográficas gigantescas, e sem estradas, onde você tem que fazer as coisas de avião ou barco. é uma situação geográfica muito diferenciada da Itália, de ou-

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No Brasil, trabalhamos pensando nos consumidores. Os italianos invertem um pouco essa lógica. Os agricultores ensinam aos consumidores o que eles precisam comer, o que é importante para valorizar a cultura”

Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

O que pode ser aplicado na realidade brasileira? No Brasil, trabalhamos pensando nos consumidores. Os italianos invertem um pouco essa lógica. Os agricultores ensinam aos consumidores o que eles precisam comer, o que é importante para valorizar a

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entreVistA | tanara lauschner cultura, para manter, às vezes, aquele animal que está em extinção ou aquela gastronomia específica que faz parte da cultura deles. Então, eles praticamente ditam para os consumidores o que eles precisam ter. Isso a gente não tem no Brasil.

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Já temos no Brasil a política dos territórios, que foi um pouco inspirada nesse modelo da Itália. Não sei se superaria, porque ainda estamos no início e o recurso que temos é pouco; na Itália está mais avançado. Acho que nossa organização de extensão rural pública, hoje, é maior e melhor do que na Itália”

Em sua opinião, para os agricultores brasileiros obterem mais ganhos, o que seria preciso mudar na política estadual ou federal? Acho que, na questão da identificação geográfica, temos muita potencialidade lá no Amazonas. Temos culturas muito específicas, produtos de áreas indígenas, produtos exóticos muito particulares de lá, e essa questão de ter uma identificação geográfica, uma origem protegida, é algo que ainda está muito incipiente no nosso estado. Seria interessante se trabalhássemos a legislação para fazer um pouco da forma como eles fazem, um consórcio que tome conta disso, porque hoje não é

dessa forma. Hoje você tem uma regulação como se fosse uma marca, como se fosse uma empresa. Nesse sentido, seria muito bom fazer com que os agricultores, com os restaurantes ou distribuidores ou com supermercados, pudessem definir como proteger, como fazer os protocolos de plantio.

Em quais pontos a política do Brasil supera o que foi visto na Itália? Já temos no Brasil a política dos territórios, que foi um pouco inspirada nesse modelo da Itália. Não sei se superaria, porque ainda estamos no início e o recurso que temos é pouco; na Itália está mais avançado. Acho que nossa organização de extensão rural pública, hoje, é maior e melhor do que na Itália, apesar de haver alguns problemas. Embora alguns estados brasileiros tenham orçamento pequeno, se formos comparar com a Itália, o nosso serviço de Ater é melhor.

na itália, a venda dos produtos tem forte relação com a cultura do local onde são cultivados ou industrializados 46

Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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Flagrantes fotográficos

integrantes da delegação brasilieira no eataly

eataly: um canteiro de sabores e aromas

no eataly: queijos e embutidos para todos os sabores

integrantes da delegação na visita guiada pelo eataly Market

sabores do mar

tipos e cores de massas: ao gosto do consumidor

Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural

cardápio como peça de decoração Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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Flagrantes fotográficos

na universidade de Florença, a delegação brasileira participação de uma reunião técnica sobre identificação geográfica dos produtos agropecuários

Praça em Florença

Praça em Florença 48

Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural


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Flagrantes fotográficos

integrantes da Missão Brasil/itália na Agrosud, feira bienal de produtos agropecuários italianos, que exibe as inovações tecnológicas do setor

representantes do norte na Agrosud: Miyuki Hyashida, Adenieux e cleide Amorim

Júlio Zoé (d), elionaldo de Faro(c): interesse por máquinas

representantes do norte na Agrosud: Miyuki Hyashida, Adenieux e cleide Amorim

Pelas ruas da itália, uma arquitetura diferente, que chama a atenção do visitante

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Missão Técnica Asbraer — Brasil/Itália

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