cultural ANO XI – Nº 12 – NOVEMBRO/14
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Consumo sustentável: uma equação entre desejo e necessidade” ENTREVISTA Sérgio Niza
PALAVRA DE MÃE Sustentabilidade: verdade ou utopia?
EDITORIAL O desejo e a necessidade. O dilema contemporâneo atinge pessoas de todas as idades. De todas as classes sociais. É tema de debates que dividem opiniões, mas que convergem quando confrontadas com a pressa por respostas. Durante todo o ano de 2014, o CEI Romualdo Galvão se propôs a desvendar essa equação. De um lado, o consumo responsável, consciente, que exige um engajamento individual e coletivo para consumir menos e melhor. Do outro, a chamada “sociedade de consumo”, o ter em detrimento do ser, onde o descarte de bens é a tônica. Com o tema integrador “CONSUMO SUSTENTÁVEL: uma equação entre desejo e necessidade”, um convite a repensar a vida. Um olhar sobre o que cada um de nós pode fazer.
Nesta Ceia Cultural, alunos do 9ª ano apresentam uma campanha publicitária, que estimula o consumo com equilibro. A sustentabilidade é tema da Palavra de Pai e do texto coletivo produzido por alunos do 1º ano do Ensino Fundamental, dentro do projeto Educação para o Desenvol-
vimento Sustentável, orientado Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), através do Programa de Escolas Associadas (PEA).
A cultura também ganha espaço nas páginas desta Ceia. De Zila Mamede, um olhar apurado sobre a obra da poetisa potiguar. Já o poeta e cordelista Antônio Francisco inspira alunos 8º ano a revelarem seus sonhos, numa releitura do cordel “Meu Sonho”. E a biografia de Luís da Câmara Cascudo, premiada pela Academia Norteriograndese de Letras, é orgulho e destaque. Nesta edição, uma viagem pelo Seridó potiguar e os efeitos de umas das piores secas dos últimos anos são retratados pelo professor de História, Walclei de Araújo Azevedo. Já o professor Luiz Roberto Dante esclarece: afinal, “É preciso decorar a tabuada?” Há ainda o olhar crítico dos estudantes no Caderno de Poesias; o ensino bilíngue e a música como diferencial no ensino; e uma entrevista exclusiva com um dos fundadores do Movimento da Escola Moderna (MEM), o português Sérgio Niza. Aproveite esta Ceia e boa leitura!
Índice 03 - LITERATURA
12 – ENTREVISTA
04 - HISTÓRIA
14 – AULA INTEGRADA
Um olhar para Zila Mamede O Seridó em tempo de seca
06 - FILOSOFIA
Platão “esotérico”: a discussão contemporânea sobre as doutrinas “não-escritas”
Sergio Niza
Compreendendo o caos político: os 50 anos do Golpe Militar de 1964 e o ENEM
15 – ANÚNCIO INSTITUCIONAL
07 – BIOGRAFIA
16 - POESIA
08 – TEXTO COLETIVO
’Meu Sonho’... Nosso sonho
Luis da Câmara Cascudo e a identidade nacional: o homem, o folclore e os símbolos Agricultura familiar: um exemplo de sustentabilidade
09 – ARTIGO DE OPINIÃO
A cidadania expressa pelo voto
10 – LINGUAGEM
Bilinguismo e Infância
11 – MATEMÁTICA
É preciso decorar a tabuada?
Caderno de Poesias
18 – RELEITURA
Revista Ceia Cultural ISSN 1808-7320 Diretora Maria Lúcia Andrade de Azevedo Diretora Pedagógica Ana Flávia Andrade de A. Oliveira Diretoras Adjuntas: Cristine Cunha Lima Rosado Flávia Lanúbia Nóbrega Costa Araújo Conselho Editorial Profª. Ana Cristina Dias Profª. Celina Bezerra Profª. Cristine Cunha Lima Rosado Redação Italo Amorim Revisão Ana Cristina Dias Projeto Gráfico e Diagramação Terceirize Editora www.terceirize.com Edição Verbo Comunicação & Eventos Telefone: (84) 3201-7429 assessoria@verboeventos.com.br Informações CEI – Centro de Educação Integrada Telefone: (84) 4006-0550 www.ceinet.com.br ceiacultural@ceinet.com.br anadias@ceinet.com.br Os artigos assinados por colaboradores não necessariamente refletem a opinião do Conselho Diretor do CEI.
19 – HISTÓRIA
Projeto Pasquim
20 – MATÉRIA Sol – Lá – CEI...
22 – PALAVRA DE PAI
Sustentabilidade: verdade eu utopia?
23 – UNICEI Ilustração feita pelas alunas Lara da Costa Galvão Bezerra Freire, Maria Luiza Chaves Fernandes de Figueiredo e Maria Beatriz Medeiros de Melo
Um olhar para Zila Mamede
LITERATURA
Joanna Pires e Veruska Maria Pontes Sena | Professoras do Ensino Fundamental II
Zila Mamede registrou em seus poemas as impressões que adquiriu na infância. Ela admirava o canavial, a plantação, a lagoa, o rio, o mar. Em um de seus versos, ao pensar no outro ela nos diz:
“Penso-te como o claro silêncio permanente da neve como a branca surpresa de uma flor nascente.” Lançando seus olhares para estes versos e para todos os poemas de Zila Mamede os alunos dos oitavos anos dedicaram os poemas a todas aquelas pessoas que tiveram as mesmas vivências recitadas por ela. E você, ao lançar um olhar para os poemas de Zila Memede, a quem você os dedica?
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HISTÓRIA
O Seridó em tempo de seca Walclei de Araújo Azevedo | Professor de História “(...) O sertão é mais que uma região fisiográfica. Além da terra, das plantas, dos bichos e do bicho-homem – tem o seu viver, os seus cheiros, cores e ruídos. (...).” (Osvaldo Lamartine) Era madrugada no sertão, na casa grande da Fazenda Vaca Brava, em Acari, coração do Seridó. Uma morada secular, de paredes largas e alpendre acolhedor, semelhante a muitas que conheço. No dizer do sertanejo Osvaldo Lamartine: “Casas grandes de duas águas, erguidas mais para o meio das fazendas, não muito longe das cacimbas de beber, sempre viradas para o nascente na defesa de todos os dias contra a quentura e o cangaço. (...)”. Ela começava a despertar... O antigo relógio de pêndulo anunciava 03h30min da madrugada. Era hora de iniciar a lida sertaneja. O dono da casa acordava... Sertanejo estrumado na terra do curral, já entrado em anos e com certo pessimismo em relação aos invernos, fato que lhe valeu o justo apelido de “o profeta das secas”. Homem preso à terra, pois teve o seu umbigo enterrado na porteira do curral e que lá enterrou o dos filhos e netos, seguindo uma tradição familiar. Ele adentrava a cozinha na companhia de um dos netos, menino de 10 anos, esperto e atento às indagações e aflições de sua terra e sua gente. Lamparina na mão era hora de fazer o fogo: lenha no fogão, algumas maravalhas e um pedaço de pano velho, acondicionado em uma lata com óleo queimado derramado sobre a lenha. Pronto! Fogo aceso, chaleira de ferro fundido com água no fogo, logo todo o espaço estaria impregnado com o delicioso cheiro do café passado e coado no pano. O menino, sentado à mesa grande, de tábua corrida e gavetas, guarnecida de um lado por um banco do comprimento dela e tamboretes com acentos de couro, observava o avô que estava um tanto acabrunhado e que saía por uma das portas que dava acesso ao alpendre da cozinha, a fim de observar o quebrar da barra em busca de uma promessa de chuva para o sertão castigado pela estiagem. Naquele ano a barra do dia 1º de janeiro quebrou feia, quase sem nuvem. Sinal ruim...
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No sertão do Seridó, vive-se na dependência de haver ou não inverno. Assim desde tempos imemoriais, o sertanejo se apega à experiências que nasceram da observação cuidadosa de quem sentiu na alma a amargura da seca. Elas se ancoram em vários aspectos da natureza. Do nascer do Sol à posição do vento, da florada das árvores à prenha dos animais, esbarrando na fé dos santos protetores. São muitas as constatações: se o quebrar da barra do dia 1º de janeiro apresentar uma barra bonita – cheia de nuvem, é inverno na certa; se for esfacelada, quase sem nuvem, é seca. Se relampejar na véspera de São José (18/03) e chover no dia (19/03) é sinal de inverno. Chuvas na véspera e no dia de São Canuto (19 e 20/01), o ano é bom. Em janeiro, observam-se as chuvas que caem dentro do mês: se chover no primeiro dia do ano, chove em janeiro; chuva no dia 02, fevereiro será chuvoso; chuva no dia 03 cairá muita água em março e assim por diante. E tantas outras que por não serem infalíveis alegram ou entristecem a alma do sertanejo. A seca se anunciou. A florada cor de ouro das craibeiras não segurou. Nenhum ninho de rolinha. Nos alpendres, armazéns e telheiros não se encontrou a casa de maribondo. Os pardais não apareceram no curral. A preá não estava prenha, o tejo andava sumido e as lagartixas se esconderam. Nem os santos protetores mandaram recados animadores. Em tempo de seca, o leite é escasso. Os tambores antes cheios, não passam da metade, é preciso economizar no consumo diário para vender mais e garantir o sustento das vacas. Terminada a tarefa, as vacas que antes iam para o pasto, na seca, sem o pasto, ficam nos arredores do curral na sombra de algum pereiro ou oiticica, ruminando a quentura do dia e esperando a água e a ração minguadas. O alimento principal é o xiquexique, cactácea rica em água e nutrientes, presente de Deus para o Seridó, santo remédio para se enfrentar a incerteza da seca. A queima do xiquexique é tarefa penosa. Trabalho para sertanejo de fibra que não se abate por qualquer coisa. Naquele dia, o menino escutou o avô sentenciar aos trabalhadores: “é hora de encaibrar os ganchos de queimar
xiquexique. Compadre José, Duda, Chico, compadre Zé Firmino, vamos tentar salvar o que sobrou”. A luta pesada começa dia a dia, no calor escaldante da seca, potencializado pelo fogo das coivaras... O espinho queimado e cortado em pedaços é servido ao gado em cochos. No fim da dura tarefa, os sertanejos estão chamuscados e desanimados... Certo estava Euclides da Cunha quando disse: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. O menino com chapéu de vaqueiro, baladeira na mão, um pequeno bizaco com pedras colhidas ao redor da casa e alpercatas de couro nos pés saía em busca da caça infantil. Passou pela sala de fora e encontrou a avó na espreguiçadeira, de olhos fechados, rezando um terço certamente pedindo a Deus para apaziguar aquele terreiro de tantos redemoinhos e amenizar o calor dos dias. Nenhuma rolinha ou lagartixa... A baladeira não disparara um só tiro... Ao longe, o canto do tetéu e os gritos de um socó a martelar o silêncio e a solidão da seca... De volta, o menino subiu na parede do curral e observou o seu entorno que era pura desolação. O velho cajueiro da frente que, em outros tempos, alimentou tanta gente com seus doces frutos vermelhos e amarelos, morreu. Na outra extremidade, depois do açude, as mangueiras e as azeitonas roxas, cenários de brincadeiras infantis, quedaram sob o machado da seca voraz. Viraram árvores de nunca mais... Em tempo de seca a “Moça Caetana” passa levando no seu rastro muitos viventes do vegetal aos bichos e até o bicho-homem... Olhando em direção ao rio seco, na divisa com a propriedade vizinha avista a velha craibeira desafiando a secura dos dias com seu inaudível grito vegetal de tristeza. Mais embaixo na manga, a centenária cacimba que nunca negava água, agora estava seca. Escondeu a água como se diz no Seridó. No salitro, perto da casa velha, um ajuntamento de urubus sobrevoando uma carcaça em uma dança macabra. Era a pobre vaca malhada que de tão velha e fraca caiu e não levantou, findou-se ali. O menino fez o caminho de volta à casa grande, tristonho com o que viu e sentiu. Na cozinha, encontrou comadre Izaltina, outra fiel moradora da fazenda que preparava o fogo para extrair o azeite da carrapateira. Na medicina popular do sertão, o azeite de carrapato como se diz é remédio para curar muitos males: usado em umbigo de recém-nascido, ferimentos em geral, no auxílio a vacas com dificuldade para parir, entre outros usos. Quando preparava o azeite, acreditava que se um homem entrasse no ambiente com chapéu de couro, o azeite não dava o ponto, desandava. Fazia queijo de coalho como ninguém. O secular brabo estava lá, acomodando os ferros de marcar o gado, a marca avoenga, a marca paterna e materna, de tios e tias, herança familiar, relicário das nossas mais antigas tradições de criar. O garoto passou pela saleta dos potes, matou a sede e chegou até o armazém, compartimento da casa que servia
para guardar ração de saco, celas, cangalhas, urus,11 ligeiras, chibatas, chocalhos e algumas indumentárias do vaqueiro – gibão, perneiras, coletes e esporas, pendurados em armadores de madeira, empoeirados e sem uso, pois não havia gado para campear, apenas as magras vacas de leite... Na secura daqueles dias, não se ouvia o aboio – canto dos vaqueiros ao conduzir o gado. De acordo com o mestre Cascudo: “Canto sem palavras, marcado exclusivamente em vogais, entoado pelos vaqueiros quando conduzem o gado. (...) Cada aboio é uma improvisação. É coisa séria, velhíssima em uso, respeitada. (...) Aboiar era, legitimamente uma credencial para o orgulho sertanejo”. No alpendre, o menino olhava em direção ao nascente, parando o olhar no barreiro seco torrado, a velha escola vazia, o calor do meio dia que parecia ferver a caatinga já tão esturricada. Em um dos bancos do alpendre, um livro esquecido – é o Quinze de Raquel de Queiroz, romance que fala de uma seca maldita. Folheando, se deteve na página 23, em que leu a despedida do vaqueiro Chico Bento ao gado que era abandonado à própria sorte. A descrição triste e poética da autora diz assim: “(...) Encostado no mourão da porteira de paus corridos, o vaqueiro das Aroeiras aboiava dolorosamente, vendo o gado sair, um a um, do curral. A junta de bois mansos passou devagarinho. O velho touro da fazenda saiu arrogante. Garrotes magros, de grandes barrigas, empurravam as vacas de cria, atropelando-se. Até a derradeira rês, a Flor do pasto, fechando a marcha, também transpôs a porteira e passou junto de Chico Bento que lhe afagou com a mão a velha anca rosilha, num gesto de carinho e despedida. (...) Saída a última rês, Chico Bento bateu os paus na porteira e foi caminhando devagar, atrás do lento caminhar do gado que marchava à toa, parando às vezes, e pondo no pasto seco os olhos tristes, como numa agudeza de desesperança. (...)”. No fim do dia, encostado na parede do alpendre que dava para o curral, escutando a conversa dos trabalhadores que voltavam da luta inclemente, o menino olhava em direção ao poente. O cenário avermelhado sugeria despedida, fim, recomeço... Ele desejava sentir novamente o cheiro da terra molhada, o canto e o cheiro das águas que desciam caudalosas e barrentas nas sangrias dos açudes. A atmosfera inconfundível da pegada do inverno. Mas, logo chegaria a hora de dormir... Após pedir a bênção aos avós, nada mais que cair no fundo da rede e sonhar o sonho dos meninos... O menino tornou-se adulto, com a vida já em início de tarde, foi morar em uma cidade grande que nunca será sua. Os avós partiram, levados pela Caetana. Na Fazenda Vaca Brava, alguns espaços foram transformados definitivamente... Mas as secas continuam a existir, justificando a afirmação de Euclides da Cunha de que elas são o “martírio secular da terra.” Configurando assim um penoso e eterno embate entre o homem e a natureza.
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FILOSOFIA
Platão “esotérico”: a discussão contemporânea sobre
as doutrinas “não-escritas.”
Prof. Maurício Alves Bezerra Júnior | Professor de Formação Ético-Social e Filosofia no CEI
Em qualquer livraria ou biblioteca do Ocidente, ou – me arrisco a dizer – do Oriente, você vai encontrar algum exemplar da República, do Mênon ou qualquer outra obra escrita cuja autoria é atribuída ao filósofo grego Platão. Mas será que este pensador, que fora traduzido para quase todos os idiomas modernos, não valorizava tanto assim a escrita, considerando-a fator limitante para um filósofo? Para alguns pensadores alemães e italianos, isto é a mais pura verdade. E se eles estiverem corretos? O que fazer com a vasta obra platônica? Faremos fogueiras e nos sentaremos ao redor delas apenas para conversar sobre o que Platão não quis escrever e relegou apenas à dimensão oral? Bem, veremos. Mas Nascido em Atenas no século V a.C, durante mudanças significativas na política democrática e na cultura grega, Platão é, sem dúvida, o maior expoente do pensamento antigo. Sendo compreendido como principal porta-voz da doutrina socrática, criando um estilo particular de articulação de conhecimento filosófico – em forma de diálogos escritos - e, por sua vez, influenciando outros importantes pensadores de sua contemporaneidade. A filosofia platônica, principalmente devido à preservação de seus escritos, que a tradição afirma ter nos chegado praticamente de forma completa, foi por mais de um milênio a mais estimulante e “influente” (REALE, 2007). Platão ensinou a perceber a realidade sob um novo prisma, sendo diretamente relevante no afã dos padres da Igreja medieval em encontrar novas concepções metafísicas. Justamente por ser um pensador que teve os seus escritos estudados e revistos à exaustão durante mais de um milênio, poderíamos nos perguntar: é possível uma nova interpretação do pensamento platônico? Para responder tal questão, devemos, contudo, considerar que existem várias visões sobre Platão, e com critérios diferenciados, embora haja um critério imperativo na tradição interpretativa (REALE, 2007). Esses critérios tradicionais concluem que os escritos de Platão exprimem, com segurança, todas as suas doutrinas, e que não há nada além dos escritos que seja válida a interpretação. Durante muitos séculos, até o século XIX, essa posição era quase que unilateralmente defendida. Contudo, desde a primeira metade do século XX, reverbera um novo olhar sobre a doutrina platônica, que lança dúvidas acerca da totalidade de conteúdo expostas nos escritos de Platão. Esse novo olhar tem sido largamente defendido pelos adeptos da escola de Tübingen-Milão, que defendem que existe um Platão “esotérico”, que dedicou seus mais relevantes conhecimentos, acerca dos primeiros princípios, não à escrita, por considerá-la apenas de caráter hipomnemática, mas sim à oralidade dialética - “doutrinas não-escritas” - , reservada ao interior de sua Academia e preservada pelos seus discípulos a partir de uma tradição indireta e de seus “autotestemunhos” contidos no Fedro e na Carta VII (REALE, 2007). A escola de Tübingen-Milão e o “maior valor” nas “doutrinas não-escritas” de Platão Durante muito tempo, a obra escrita de Platão foi considerada mais que suficiente para se compreender todo o pensamento do filósofo. Acreditava-se que, com uma leitura atenta dos textos originais, poderia se exprimir inclusive as teorias metafísicas platônicas, e pouco valor dava-se à tradição indireta que afirmava existir um conjunto de “doutrinas não-escritas” de Platão, as quais ele reservava apenas aos seus discípulos no interior da Academia. Este Platão “esotérico” seria discordante do “exotérico”, exposto em seus escritos. Platão, dito assim, diferenciava-se, expressando-se de uma forma dentro das paredes da Academia e de outra forma fora desta. No século XX, os adeptos da escola de Tübingen-Milão, tiveram a intenção de resgatar a interpretação mais aprofundada da tradição indireta e lançar-lhe um olhar atento. Também debruçaram-se sobre os “autotestemunhos” de Platão, expressos no Fedro e na Carta VII, donde se pode extrair várias críticas do filósofo ateniense à capacidade da escrita em mostrar as coisas de “maior valor”, por isto ele levaria às “doutrinas não-escritas” seus principais conteúdos (REALE, 2007). A partir do intenso estudo de Giovanni Reale e seus colaboradores de Milão, no início da década de 1980, a teoria das “doutrinas não-escritas” obteve maior notoriedade. Entretanto, ainda se depara com muito ceticismo acadêmico e imobilidade nas discussões, muitas vezes até por
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parte dos adeptos da própria escola de Tübingen-Milão, ao utilizarem o argumento de que a proposta de uma mudança de paradigma desperta certa incredulidade por parte dos opositores, sendo necessário esperar a quebra de ideias preconcebidas. Observando o Fedro, a Carta VII e a tradição indireta, a escola de Tübingen-Milão compreendeu que, para Platão, os escritos não são a verdadeira expressão para poder entender o pensamento de um filósofo, uma vez que, este deve-se ater às coisas de “maior valor”, sendo possível alcançá-las apenas na dimensão da oralidade dialética. Não obstante, deveríamos lançar um novo olhar nos diálogos platônicos e reconsiderar sua filosofia mais pelo que nos expõe a tradição indireta, exemplificada em Aristóteles e em outros de seus discípulos, do que pelos seus escritos, uma vez que seu próprio autor os considera insuficientes. A tradição indireta, resgatada pela escola de Tübingen-Milão, desvela-se sobre os ensinamentos que Platão fazia em sua Academia, apenas para seus discípulos. O Platão “exotérico”, ou seja, que se expõe fora da Academia, a partir de seus escritos, é uma espécie de filósofo limitado, não podendo expressar toda a sua compreensão da realidade, por não transcender do campo sensível para o metafísico. Esse novo olhar deve, sobretudo, debruçar-se sobre o Platão “esotérico”, para lançar luz à compreensão do verdadeiro pensamento platônico.. Os tubingueses compreenderam que, por ter vivido em uma transição da cultura oral para a cultura escrita, Platão dava àquela maior importância, ao considerar a oralidade mais relevante no processo de constante refutação dos interlocutores. Nesse sentido, a escrita passa a ser encarada como mera ferramenta, que faz com que o indivíduo que desconheça as coisas essenciais, como por exemplo, a ideia de Bem, passe a conhecê-lo de forma inadequada, podendo levar à interpretações errôneas e até podendo ser utilizadas de maneiras iníquas, por quem não tivesse os valores de um filósofo. Os tubingueses compreenderam que a escrita de Platão seria apenas um “meio hipomnemático”, ou seja, de apenas trazer à memória conhecimento para os que já sabiam, considerando, ainda assim, os escritos como limitados em forma e conteúdo (REALE, 2007). Os tubingueses também compreenderam que, nos diálogos platônicos, mesmo os mais famosos, existem certos “passos de omissão”, nos quais o condutor do diálogo, Sócrates, ou outro personagem se mostra reticente em continuar oferecendo determinadas respostas (TRABATTONI, 2003). Para os adeptos da Escola, Platão mostra-se omisso não por ser incapaz de continuar, ou por caráter aporético, mas por considerar que apenas na confrontação oral pode-se chegar ao conhecimento das coisas essenciais, metafísicas. Devemos, contudo, considerar que o olhar dos tubingueses tem muitos críticos, os quais procuram, com argumentos retirados dos próprios diálogos platônicos e da tradição indireta, exaustivamente estudados ainda hoje, refutar a ideia da existência de “doutrinas não-escritas”, que Platão teria relegado a uma maior importância “intra-academicamente”. Este debate ainda está inflamado. Com defensores vorazes de ambos os lados. Devemos, contudo, reconhecer que ler e reler a obra platônica, seja para concordar com os tubingueses, seja para reafirmar a posição de seus críticos, é um exercício que permite ao indivíduo construir uma relfexão cada vez mais firme sobre si mesmo e a realidade que o cerca. Bibliografia PLATÃO. CARTAS VII. Trad. José Trindade e Juvino Maia Junior. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2008. 107p. ___________. Fedro. Trad. José Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1997. REALE. G. Platone. Alla ricercadellasapienzasegreta. Milão: Rizzoli, 1998. ___________. Para uma nova interpretação de Platão. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1997. SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos diálogos de Platão. Trad. Georg Otte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. TRABATTONI, F. Oralidade e escrita em Platão. Trad. Roberto Bolzani Filho e Fernando Eduardo de Barros Rey Puente. São Paulo: Discurso Editorial; Ilhéus: Editus, 2003.
BIOGRAFIA
Luís da Câmara Cascudo e a identidade nacional:
o homem, o folclore e os símbolos Victória Rincon Machado Mourão Crespo | Aluna do 3º ano do Ensino Médio
Era sexta-feira, 30 de dezembro de 1898, quando Luís da Câmara Cascudo nasceu. Às 17 horas e 30 minutos, em Natal, abria seus pulmões em choro de vida nova e aguardava o seio quente da mãe para lhe acalentar. Os olhos fechados, a boca colada à pele materna, Cascudo parecia ter vindo na hora exata de apreciar em silêncio seu primeiro crepúsculo. Posteriormente, passaria a colecioná-los. Por enquanto, limitava sua visão a um breu infindo de quem nunca deixou que as próprias pupilas fossem tocadas pelo mundo. Mundo que ele viria a conhecer e explorar com seu espírito Victória Crespo Rincon recebe a premiação das mãos do curioso e sedento pelo saber, mas que ainda estava escondido presidente da ANL, Diógenes da Cunha Lima, e da diretora do Instituto Ludovicus, Daliana Cascudo. acariciando suas pálpebras cerradas. A noite já se fazia alta e, possivelmente, o Boitatá passeava nhas eram sua adoração e valorização do local de origem que pelas florestas. Incandescente, enxergava pelo menino Cascu- escreveu: “O homem é a cidade em que nasce. O povo da minha do e, dentro de alguns anos, teria essa gentileza retribuída em cidade foi a minha curiosidade inicial, a pesquisa do repórter, a forma de reconhecimento pelo futuro folclorista. Responsá- análise do estudioso. O povo na convivência termina sendo a vel pela publicação do livro Dicionário do Folclore Brasileiro, grande família anônima, da qual nós vivemos. Por isso, eu acreCâmara Cascudo demonstrou interesse singular pelo povo dito aos oitenta anos, que quem não tiver debaixo dos pés da brasileiro e por sua cultura, atribuindo-lhes valor único. Tais alma, a areia de sua terra, não resiste aos atritos da sua viagem elementos, complementares entre si, recebiam a atenção jor- na vida, acaba incolor, inodoro e insípido, parecido com todos”. nalística do escritor, que observava o cotidiano e o registrava, Ao lado de intelectuais como Gilberto Freyre e Sérbuscando traços que caracterizassem a identidade nacional. gio Buarque de Holanda, Cascudo integra sua obra a uma Desde pequeno, dedicava-se aos livros e à contemplação fase de construção da identidade nacional, que ganha forda normalidade. Vítima de uma infância marcada pela doença ça a partir do final do século XIX, com a Proclamação da e pelo pouco vigor físico, o pequeno Luís não podia correr República em 1889 e a consequente necessidade de novos nem pular e lançava-se ao universo da imaginação. Longe de símbolos patrióticos que legitimassem o regime instaurado. suas limitações, abraçava tradições e estórias. Descobria-se, Na busca por raízes e particularidades que pudessem repreentão, irrestrito. O bicho-papão poderia até rondá-lo, mas é sentar o povo brasileiro em sua totalidade, explora a história improvável que um dia viesse a lhe fazer qualquer mal. Cas- brasileira e seus desdobramentos, percebidos nos costumes e cudo sabia conquistar a todos e nem um monstro poderia re- expressões da população a ele contemporânea. sistir a seus galanteios, ainda mais se tratando de um dos mais Com relação a sua própria história, Cascudo, apelido do conhecidos de sua tão adorada cultura popular brasileira. avô paterno, foi sobrenome que surgiu sem família que o Atento às mais sutis manifestações culturais, fosse pela fala precedesse, tendo sido adotado primeiramente ou pelos gestos, e conhecido por seu perfil de pelo pai de Luís. Por se referir ao conservado“provinciano incurável”, o “Mestre Cascudo” rismo obstinado do avô, poderia ser dito que Texto vencedor do lançou as bases do que o antropólogo José a denominação nada tinha a ver com nosso Prêmio Literário Reginaldo Santos Gonçalves denomina anfolclorista de influências tão marcadamente Câmara Cascudo tropologia nativa e desenvolveu uma obra de modernas. Luís da Câmara Cascudo lembrava personalidade marcante. Sua universidade Promovido pela ANL muito mais o peixe cascudo, bichinho dócil de não precisava de muros, parecia ser ele própele grossa, habitante de água doce e conheciprio um centro acadêmico. Levava dentro de do por limpar aquários. si todo o material necessário à sua produção No dia 30 de julho de 1986, Câmara Cascudo se une à e poderia fazer da mesa de um bar o escritório perfeito para eternidade e abandona seu corpo já desgastado. Abandona, estudar costumes. O Cascudo boêmio, homem simples de sob a forma de legado, tudo o que produziu e se deixa secharuto nos lábios, ia logo se confundindo e se misturando ao duzir pelo canto irresistível de uma Iara que paira no céu. ícone sagrado das letras. Cascudo, peixe de água doce, lança-se ao ar e abandona Autor de mais de 160 livros, teve seu trabalho aclamado por a segurança do rio em que vivia. Rende-se à personagem diversos prêmios, como o Grande Prêmio Machado de Assis folclórica que o esperava para um último e breve estudo. Em e o Prêmio Nacional de Cultura de 1970. Em 1977, recebeu o contato com a atmosfera, seus pulmões se fecham em sustroféu Juca Pato de Intelectual do Ano. piro de vida longa e ele aguarda o seio quente da sereia para Além de sua companheira e de sua família, uma das maiores lhe acalentar. Então, rodopia e se espalha em cores avermepaixões da existência cascudiana foi, sem dúvidas, Natal. Tama- lhadas de crepúsculo infindo.
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TEXTO COLETIVO
Agricultura familiar:
um exemplo de sustentabilidade Produção coletiva dos alunos do 1º ano do Ensino do Ensino Fundamental O projeto Educação para o Desenvolvimento Sustentável orientado pela UNESCO, através do Programa de Escolas Associadas, do qual participamos, ensejou na Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental, estudos sobre Agricultura Familiar. Entre
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outras atividades, os alunos observaram, numa comunidade rural, cultivos que configuram práticas agrícolas familiares. O texto coletivo do 1º ano do Ensino Fundamental expressa a observação realizada.
ARTIGO DE OPINIÃO
A CIDADANIA EXPRESSA PELO VOTO Camila Pinheiro Cruz Bezerra | Aluna do 3º ano do Ensino Médio O conceito de democracia ampla surgiu na Grécia antiga, atrelado ao de cidadania. Entretanto, era um direito restrito a poucos indivíduos. No Brasil, a democracia se instaurou desde a República Velha, porém a participação efetiva dos brasileiros no cenário político só se concretizou no século XXcom movimentos sociais, como o das “diretas já” que almejava a retomada do voto direto pelos cidadãos extinto durante o regime militar. Em 1989 foi concretizada essa conquista, que hoje está sendo negligenciada com o questionamento da obrigatoriedade do voto previsto na Constituição. Essa, porém, é uma prática necessária que visa garantir a atuação e proximidade dos brasileiros na política do país. Jean Jacques Rousseau defendia que a comunidade deveria se unir, visando alcançar o seu bem comum, e assim, eleger um governante que garantisse a prosperidade: era o firmamento do contrato social. Tal princípio difundiu-se e é, atualmente, aplicado em vários países, inclusive no Brasil. Dessa forma, para a segurança de uma boa gestão que preveja aos indivíduos o cumprimento dos seus direitos, é necessário que esses se articulem de forma a garantir o contrato social. O voto é, portanto, o mecanismo
ideal que possibilita a ampla participação política e a representação da massa populacional no governo, sendo a extinção da sua obrigatoriedade, uma ameaça à democracia. Além da garantia da escolha que favoreça a maioria, o voto ainda é uma prática que garante a aproximação dos brasileiros com a política. O sociólogo Antônio Carlos Vale demonstra que a falta de interesse dos cidadãos nesse âmbito, se dá pela fraca base ideológica que rege os partidos políticos. Como uma herança histórica, os ideais da elite governante não se aplicam à maioria da população, que, desacreditada, afasta-se da política, alienando-se. O voto é, assim, o método que permitirá a maior inclusão e representatividade desses indivíduos. Dessa forma, é preciso que se dê continuidade à obrigatoriedade da participação política através do voto. Para que se garanta um maior engajamento dos brasileiros em tal etapa, é interessante que o governo, associado à mídia e aos partidos políticos, promova campanhas publicitárias que expliquem aos eleitores sua importância no processo eleitoral. É viável que essas se deem através da distribuição de panfletos, comerciais televisivos e em sites na internet.
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LINGUAGEM
Bilinguismo e Infância Ana Clara Oliveira Coordenadora Pedagógica do Programa Bilíngue - Colégio CEI
A comunicação é um dos principais motivos pelo qual precisamos conhecer outros idiomas, mas não o único, pois além de fatores, como: oportunidades no mercado de trabalho, facilidade de acesso e compreensão de uma forma geral, já é um fato que, hoje em dia, falar pelo menos um segundo idioma tornou-se mais do que essencial. Dessa forma, o aprendizado de uma língua adicional, desde os primeiros anos de vida de um indivíduo, tornou-se algo essencialmente importante, uma vez que, em especial, nessa fase, a criança encontra-se mais receptiva e interessada em aprender o que se passa ao seu redor. Assim, o simples contatoque as crianças têm com a língua inglesa através de programas de TV, músicas e filmes, desperta nas mesmas, certo interesse por aprender e utilizar esse idioma. A aprendizagem/aquisição de uma língua adicionalacontece através de associações, de forma que a criança estude um determinando conteúdo utilizando a língua em questão sem que haja a necessidade de tradução para a língua materna e ela venha a utilizar a língua num contexto mais semelhante possível ao de uma situação real de uso da língua. O grande desafio dos educadores do ensino bilíngue na infância é de estimular seus alunos a se comunicarem utilizando o idioma de maneira natural.Por isso a necessidade de despertar na criança a vontade de fazer uso desse idioma para comunicação. Portanto, para Hagège: [...] a finalidade natural da língua estrangeira é, tal como na língua materna, a de ser utilizada numa relação entre pessoas, na qual está incluída a afetividade de cada um, e na qual, num contexto social específico, se espera um determinado efeito do que se diz e se recebe uma determinada sensação do que se ouve. (1996, p. 89) Dessa forma, esse aprendizado torna-se favorável ao contato com uma nova cultura, através do uso do idioma por meio de associações entre a percepção visual, auditiva e oral, tal como no convívio e a socialização entre as crianças. Assim, a criança não irá aprender a língua adicionalsimplesmente sem motivos relevantes, mas porque estaráestudando por uma finalidade maior, a de agir e se comunicar em situações reais em sua vida, a compreender e ser compreendida. Por fim, ressaltamos que as contribuições acerca das habilidades em línguas adicionais não se resumem apenas em compreender e falar em um nível de fluência desejado, mas devem tornar o sujeito um ser humano melhor, em constante busca pelo conhecimento e esse aprendizado deve ser um processo contínuo eduradouro. HAGÈGE, Claude. A criança de duas línguas. Instituto Piaget, 1996.
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MATEMÁTICA
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É preciso decorar a tabuada? Prof. Dr. Luiz Roberto Dante Autor da Coleção ÁPIS de Matemática
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“Três vezes um, três. Três vezes dois, seis. Três vezes três, nove. Três vezes quatro, doze, Três vezes...”Esta é uma canção bastante antiga, que ainda se ouve em casa e na escola. É a tabuada sendo decorada, como se fosse uma música estrangeira, que decoramos de tanto se ouvir e repetir, mas não temos a tradução, não entendemos seu significado e, portanto, não nos envolvemos com ela. Apenas repetimos. É o memorizar, o decorar puro e simples, sem que nenhum significado esteja associado a ela. Nas séries iniciais, do ponto de vista da aprendizagem da matemática por compreensão, saber essa canção assim, simplesmente decorada, não contribui com nada. Então, não é preciso saber a tabuada de cor? Hoje já há um consenso que sim. É preciso saber a tabuada de cor. Mas, antes é preciso compreendê-la. Por exemplo, podemos trabalhar de modo compreensivo com a criança a ideia básica da multiplicação, que é juntar quantidades iguais. Isso pode ser obtido brincando com tampinhas, palitos, bolinhas, dedos da mão, etc. Assim, contribuímos para que ela mesma descubra quantas bolinhas há em 3 grupos de 2 tampinhas, em 3 grupos de 3 tampinhas, em 3 grupos de 4 tampinhas, etc. Como ex.: ºººººº 3 grupos de 2; ººººººººº 3 grupos de 3 e ºººººººººººººººº 3 grupos de 4.Um pouco mais tarde, podemos explorar a mesma ideia como a adição de parcelas iguais sempre perguntando quanto resulta ao todo. Por exemplo: 2 + 2 + 2 (3 vezes 2); 3 + 3 + 3 (3 vezes 3); 4 + 4 + 4 (3 vezes 4). Assim fazendo, a criança vai, pouco a pouco, compreendendo o significado de 3 x 2, de 3 x 3, de 3 x 4, etc. E, de tanto usar, acaba decorando, acaba memorizando os resultados. Mas, poderia se perguntar: “Qual é a diferença entre compreender e depois decorar e simplesmente decorar?”
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Quando compreendemos uma coisa e a esquecemos, sabemos como recuperá-la, sabemos como refazer essa coisa. Quando apenas decoramos, ao esquecer, ao “ter um branco” em nossa mente, não sabemos recuperar a informação. Por exemplo, uma criança que só decorou a tabuada do 7 recitando-a, sem compreendê-la, e se esqueceu quanto é 7 x 8, não consegue sair de uma simples multiplicação do tipo 7 x 128. A criança que compreendeu a ideia de multiplicação e, em seguida, de tanto usar, decorou alguns resultados básicos, quando esquece um deles, sabe como recuperá-lo, fazendo desenhos de bolinhas, risquinhos ou continhas de adição. Neste caso, tendo se esquecido qual é o resultado de 7 x 8, ela o recupera, fazendo, por exemplo, 8 + 8 + 8 + 8 + 8 + 8 + 8 e verificando que 7 vezes o 8 é 56. Ao passo que aquela que só decorou sem compreender o que estava fazendo, não tem meios para recuperar a informação, “não sai do lugar” sem o auxílio de uma pessoa ou de uma tabuada pronta. É, pois muito importante, nas séries iniciais, que a criança compreenda o que está fazendo. Depois de compreender, é conveniente que ela desenvolva e treine habilidades para fazer cálculos mentais. No final do quarto ano, por exemplo, é preciso que a criança saiba de cor todas as tabuadas e faça mentalmente algumas multiplicações do tipo 3 x 40= 120, 3 x 400= 1.200, etc. Uma maneira interessante de explorar as tabuadas é pedir que as crianças completem logicamente as sequências: 0, 2, 4, 6, __, __, __, __, __, __,.0, 3, 6, 9, __, __, __, __, __, . 0, 4, 8, 12 __, __, __, __, __, __, __, __ . etc.Bingos de tabuada, dominós de tabuada, jogos com tabuada, gincanas de tabuadas na sala de aula, etc., são atividades interessantes para memorizar as tabuadas após tê-lascompreendido.
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ENTREVISTA
Sérgio Niza Considerado o movimento pedagógico mais atuante, em todo o território português, desde meados da década de 1970, o Movimento da Escola Moderna (MEM) é uma associação portuguesa que se destaca na produção de práticas inovadoras de formação de professores e de ação educativa. Durante esse processo, o professor Sérgio Niza, um dos fundadores do MEM, tem atuado na transformação da instituição escolar, a fim de torná-la uma escola de todos, onde cada
um dos alunos pode ir ainda mais longe em seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. Em entrevista à Ceia Cultural, direto de Portugal, o estudioso falou sobre a educação como forma de democracia, as transformações trazidas pelo Movimento ao longo das décadas no processo pedagógico das escolas portuguesas; e como essas idéias podem ser aplicadas em outros contextos, como, por exemplo, em escolas brasileiras.
Quais os princípios norteadores da ação pedagógica do MEM?
cooperativa e ficou mais nítido quando começamos a estudar Vygotsky, que é a força da comunicação e como assenta na comunicação o próprio desenvolvimento humano de modo dialético. A comunicação faz desenvolver, o desenvolvimento faz avançar a comunicação e assim por diante. Mas que nos custam a desenvolver, porque na escola, enquanto alunos, fomos aprendendo tudo ao contrário. Costumo às vezes até dizer que é preciso passar por um luto cultural para construirmos uma resposta por oposição a esse método simultâneo de ensinar a todos ao mesmo tempo. Temos também como princípios norteadores as variantes pós vygotskianas atuais. Fazemos uso dos autores pós vygotskianos que seguem a vertente histórico cultural como o Bruner. E tomamos como grande referência o Gordon Wells. Um outro princípio do MEM é a formação do professor a partir da profissão. A profissão foi retirada da formação, com mudanças ocasionadas, aqui na Europa, pela Declaração de Bolonha. Cada vez mais se tem menos tempo na escola. E a nossa ideia é partir das práticas, da ação em sala de aula. A intervenção do especialista nesse modelo é útil, mas não suficiente. Somos nós os professores que nos formamos uns aos outros.
Antes de lhe falar mais objetivamente dos princípios, eu quero falar da nossa intenção. O Movimento pretende uma ruptura com o que os investigadores de Stanford chamam de isomorfismo institucional. Nos Estados Unidos, sobretudo na Universidade de Stanford, há diversos teóricos, especialmente na área da Sociologia [...] que pensam que o trabalho na escola pode se dar de forma única, o que remete a um modelo do século XVII, um modelo reproduzível, com o princípio de ensinar a muitos como se fosse um só. [...] Então, queremos analisar criticamente esse modelo de escola, mais especificamente de sala de aula, quando ainda não era moda a sala de aula, sua dinâmica, e não a escola como um todo. Nós desde sempre tentamos estudar e valorizar a importância do trabalho em cooperação em oposição ao trabalho por competição e a admitir a estrutura básica como ideal de democracia. Para nós, a dimensão estrutural da cooperação, a gestão direta de todos, o trabalho escolar com base nessa estrutura
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“
A base fundamental do nosso trabalho é a base fundamental de todo o trabalho humano: que todo trabalho é feito por projetos.” Que repercussões trouxe o MEM, em relação aos valores democráticos na prática pedagógica das escolas portuguesas? Não temos dados registrados sobre esse aspecto. Mas trabalhos de mestrado e doutoramento têm sido elaborados no seguimento da discussão. Tem sido estudado o tempo da palavra do aluno e professores na sala de aula. Existem pesquisas nas escolas americanas que demonstram que o tempo da palavra dos alunos é apenas 1/5 do tempo de fala total da aula, o que impede uma prática dialógica e se distancia das teorias histórico culturais. E para nós, o direito de todos à fala é um valor democrático presente nas ações dos professores que fazem parte do MEM. Como é desenvolvida a “formação acreditada”, ou seja, a formação cooperada e contínua de professores? Qual o impacto na formação dos alunos? A ideia da autoformação não é uma ideia individualista, parte da ideia de que somos nós, professores, que nos formamos uns aos outros. É uma oposição à ideia de formação acadêmica. Quando temos a compreensão do que é fundamental para a nossa prática, do que é fundamental para o nosso desenvolvimento profissional é que nossa prática é fundamentada no ensino e aprendizagem do conhecimento vivido das práticas. A maioria do nosso trabalho decorre dos relatos das práticas, dessa troca nesse convívio. E isso tem repercussão na formação dos alunos. Tem que ter. Apesar de não termos isso definido, vemos descrito, inclusive nos relatos das revistas do MEM, a evolução da aprendizagem dos alunos a partir da análise das atividades. Como a participação cooperada no currículo escolar, que envolve professores e alunos, assegura a inclusão de conhecimentos importantes, cientificamente, por vezes não reconhecidos por estes atores? Foi interessante fazeres essa pergunta. Nós somos muito organizados. Esse autogereciamento é muito importante para a concretização dos objetivos. Escola Moderna não deve ser confundida com as escolas libertárias de Neil. O que fazemos é revelar para o aluno, desde o início, o que eles têm que estudar naquele ano. Para que eles saibam que há um condicionalismo e que o Estado obriga os cidadãos a cumprirem um currículo, e eles têm os professores para os ajudarem a vencer esse currículo.
Os alunos vão escolhendo os conteúdos que vão estudar com mais ênfase. A base fundamental do nosso trabalho é a base fundamental de todo o trabalho humano: que todo trabalho é feito por projetos. Pois, como Marx nos ensinou, todo trabalho humano assenta-se numa ideia, não numa materialidade. Temos que antecipar na cabeça o produto final. Todo trabalho é idealizado. E o grande impacto na formação do aluno é que eles desenvolvem planos individuais de trabalho, que se trata de um projeto intelectual. Para nós, o projeto não é uma estratégia, mas a construção de um projeto intelectual. Como essas ideias podem ser transpostas para outros contextos? Por exemplo, numa escola privada no Nordeste brasileiro, onde parte dos alunos demanda uma maior compatibilidade entre práticas democráticas e responsabilidades? Para nós são a mesma coisa. E não são, sobretudo, coisas que se conflitem. Porque, para nós, quando estamos a pensar em democracia, estamos a pensar em uma responsabilidade. A unidade básica é a classe, que é uma comunidade de aprendizagem que gere todo o trabalho, com o apoio do professor, mas o professor não pode substituir os alunos. Logo, não se pode atribuir ao professor a responsabilidade da aprendizagem dos alunos. Temos é que ter muitos instrumentos que monitores a aprendizagem para saber onde está cada um em cada momento. Precisamos ter mapas de registro de cada aluno.
E para nós, o direito de todos à fala é um valor democrático presente nas ações dos professores que fazem parte do MEM.”
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AULA INTEGRADA
COMPREENDENDO O CAOS POLÍTICO: OS 50 ANOS DO GOLPE MILITAR DE 1964 E O ENEM Carmelo Alves Costa | Professor do Ensino Médio.
“Basta! [...] Não é possível continuar neste caos em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro.”
(Editorial do Correio da Manhã de 31 de março de 1964).
O trecho acima descreve o exato momento no qual o Brasil enterraria a sua democracia nos anos 1960 e 1970 e passaria por um conturbado e violento Regime Militar. No entanto, não raramente ouvimos as pessoas defenderem o desejo de que o Brasil retornasse à Ditadura Militar que governou o país entre 1964 e 1985. Reforçando tal opinião, diversos programas televisivos defendem a ideia golpista com o argumento do crescimento econômico ou da segurança nas ruas. Como educadores e refletindo acerca da seriedade do tema para os brasileiros de hoje, especialmente para os mais jovens, a Equipe de Ciências Humanas decidiu realizar uma Aula Integrada para descortinar os eventos entre 1946, quando o presidente Getúlio Vargas foi obrigado a renunciar, e 1964, quando o presidente João Goulart foi impedido de continuar a governar o país devido ao Golpe de Estado. No entanto, não perdemos de vista a praticidade que nosso sistema educacional nos condiciona e tomamos como elementos norteadores para o momento da reflexão com os alunos, os eixos cognitivos do ENEM, bem como as competências e habilidades decorrentes destes. Para que o nosso aluno possa construir uma argumentação acerca do que representou o Regime Militar para o país e elabore propostas de intervenção sobre a sua própria realidade, o foco da Aula Integrada foi o eixo cognitivo número 2: “Compreender fenômenos (CF): construir e aplicar conceitos das várias áreas
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do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.” Nas reuniões e discussões de preparação da Aula Integrada, percebemos a necessidade de levar o aluno a vivenciar o tenso Brasil dos chamados governos liberais-populistas (1946-1964), período que contou com o suicídio de um presidente (Getúlio Vargas, em 1954), e a renúncia de outro ( Jânio Quadros, em 1961), além da pressão externa causada pela Guerra Fria. A Aula Integrada contou com professores de História, Geografia, Economia, Sociologia, Filosofia, Arte, Língua Portuguesa e Literatura. Na tarefa de pensar uma realidade de 50 anos atrás e compreendê-la com mais clareza, a diversidade de olhares possibilitou uma profundidade ao tema que fugiu ao cotidiano e ao apelo puramente midiático, fazendo o estudante atingir o objetivo da aula, refletir e comparar a realidade brasileira pré-64 e a atual para construir seus próprios argumentos sobre o tema. Ao final da aula, no debate com os alunos e como equipe de ensino de uma escola formadora de intelectuais e cidadãos, reforçamos a nossa crença na qual o caminho mais curto para a solução dos problemas de nossa sociedade certamente não é o da falta de diálogo, da falta de reflexão, da falta de construção de argumentos livres ou de cidadãos atuantes, mas a defesa de uma democracia forte.
ANÚNCIO INstItuCIONAl Maria Suerbene Paulino Pereira | Professora do Ensino Fundamental II
O anúncio institucional é um gênero textual cujo objetivo é divulgar ações sociais, culturais ou esportivas sem fins lucrativos, com intenção de convencer o interlocutor a de engajar em uma dessas ações. A fim de divulgar o tema integrador 2014 da nossa escola – Consumo sustentável: uma equação entre desejo e
necessidade –, os alunos do nono ano foram convidados a criar uma campanha publicitária cuja meta era desafiar cada pessoa a consumir com equilíbrio e buscar alternativas ecológicas para um mundo melhor e mais verde. Aprecie os trabalhos expostos na Tenda da Leitura e se engaje também nessa campanha!
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POESIAS
O N R
DE
A I S
E O P
E D A
C
Clarice Mariz Turma: 9ยบ EM
Larissa B. Oliveira Maria Isabelle Turma: 9ยบ BM
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Anne Caroline Luciana Melo Turma: 9ยบ EM
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RELEITURA
“Meu sonho”... Nosso sonho Joanna Pires e Veruska Maria Pontes Sena | Professoras do Ensino Fundamental II
O sonho inspira todo e qualquer um a lutar pro um ideal, um desejo ainda não concreto e nos dá força para seguir em frente, em busca de realizá-lo. Para o cordelista e poeta Antônio Francisco, seu sonho é com um mundo melhor, longe de qualquer
“Quando chegamos na praça, Eu parei, passei a mão Numa estátua de ouro Parecia com Sansão, Só que, em vez de uma queixada, Era uma enxada na mão.” (Trecho do Cordel.)
“Búfalos, zebras, elefantes, Ali bem perto pastando... Alces, gazelas, girafas, Pela relva saltitando Os dinossauros passando.”
(Trecho do Cordel.)
Sonhamos com um mundo Que os pássaros espalhem seus assobios Quem encham-se os campos de plantação Que os peixes voltem aos rios Quem tragamos serenidade A esse mundo sem piedade
Nós sonhamos com o mundo, Em que os animais sejam livres E fiquem longe da extinção Que eles tenham o seu lar Sem poluição Que o homem possa respeitar Esta imensidão Chamado planeta terra.
Eduardo Araújo; Elaine Spindola; Giulia Sousa; Jordana Gomes; Sarah Galvão– 8º CM
Brenda Tolentino; Giorgia Lopes; Igor Lira; José Victor Uchoa; Lucca Silva – 8º AV
E sem perdão.
“Eu disse: - “No meu planeta, Se um pássaro cantar bem, Vai morrer por trás das grades Sem ter matado ninguém E cantar pra seus algozes A troco d´água e xerém.”
“Depois eu parei pra ver, Cada qual o mais contente. Um deles passou a mão No peixe suavemente E depois o colocaram Dentro d´àgua novamente.”
A paz domina essa terra Em um mundo sem guerra Vendo no vento silencioso Nenhum ser humano maldoso Céu aberto, maré alta Amizade nas estradas.
Nós sonhamos em um lugar Onde o pássaro possa cantar Onde a chuva possa cair Onde as plantas possam florir Onde as crianças possam crescer Onde a gente, em paz, possa viver.
Heitor Callipo; Kevin Mendonça; Luis Antônio; Pedro Lucas; Rafael Gomes – 8º DM
Beatriz Palácio Andrade; Carolina Panosso; Gabriella Sá; Giovana Montenegro; Mariana Brito – 8º AM
(Trecho do Cordel.)
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violência contra o ser humano, as plantas e os animais. Veja, com os olhos da reflexão, que os alunos retrataram o cordel “Meu Sonho” através de imagens e, por meio de versos, revelaram seus sonhos. E...sonhe...sempre.
(Trecho do Cordel.)
HISTÓRIA
PROJETO PASQUIM Andrey Oliveira | Professor de História
Criada na transição do século XVIII para o XIX, a charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, um acontecimento com um ou mais personagens envolvidos, expondo figuras públicas a situações ridículas. A palavra charge é de origem francesa e significa carga (exagero nos traços do caráter de alguém ou de algo). Alguns elementos utilizados na construção da charge: ruptura discursiva; exagero nas distorções; linguagem visual; polifonia e intertextualidade. O pasquim é sinônimo de jornalismo alternativo feito por veículos mantidos fora do controle da grande mídia. Associados a ideologias de correntes políticas de esquerda,
difundiram-se durante o primeiro reinado, mas já existiam no período colonial criticando a corte portuguesa. De permanência efêmera, logo que concretizados os seus objetivos eles paravam de circular. Para a disciplina de história, as charges foram produzidas pelas turmas do 8º ano cei- 2013 abordando o formato pasquim de criticar a coroa portuguesa no Brasil colonial. As conjurações mineira e baiana, inspiradas no iluminismo, criticavam a exploração de Portugal sobre as suas regiões por diversos motivos: os altos impostos (dentre eles a derrama); a permanência do trabalho escravo; os privilégios dos portugueses e nobres; a inflação no preço dos alimentos; dentre outros.
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MATÉRIA
Sol – Lá – CEI...
Quando educação e música andam lado a lado Com letras de temática infantil e auxílio de um violão, as canções logo são incorporadas a uma dinâmica lúdica. Primeiro vem a repetição dos versos. Depois sons extraídos a partir de movimentos com o corpo, e logo as crianças são divididas em duplas para que uma estimule a outra. Assim a aula do professor Everson Ferreira vai ganhando forma e prendendo a atenção dos alunos. A música é uma das atividades oferecidas na carga horária escolar do CEI Romualdo Galvão, para todas as turmas da Educação Infantil e parte do Ensino Fundamental. Uma vez por semana, são cerca de 40 minutos dedicados ao ensino da música. Através de vivências e atividades práticas, canto, exploração de sons no corpo e noções de teoria musical, os alunos são motivados a uma auto-superação. “Nossa intenção não é formar um músico. Mas estimular o aluno a desenvolver habilidades que o acompanharão por toda a vida”, explica Everson. Desde 2008, a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica no território brasileiro. É o que diz a lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008. Apesar da obrigatoriedade, apenas em dezembro de 2013, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou parecer com diretrizes para a operacionalização do ensino de música nas escolas. Esse parecer ainda aguarda homologação do Ministério da Educação (MEC). “Mesmo antes da lei, o CEI já estava atento a essa necessidade. Tanto que os alunos já tinham acesso a momentos com música em sala da aula ou participavam do coral formado na escola”, conta.
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Para os mais de 200 alunos dos oitavos anos do CEI Romualdo Galvão, a música é conteúdo pedagógico. Em sala, são abordados elementos da linguagem musical, como ritmo, harmonia, melodia, e ainda as manifestações musicais do Rio Grande do Norte. “Nossa intenção é construir coletivamente o conceito de música e sua relação com as diversidades culturais. Através de aulas expositivas e de práticas musicais, desenvolvemos projetos que favorecem a apreciação da música brasileira e mundial, em especial a música regional representada pelas bandas de música do Seridó, a Cantoria de Viola dos repentistas”, pontua o professor Janilson Batista, que também assume a regência do Coral do CEI Romualdo Galvão. “Quando cheguei ao CEI, encontrei alunos familiarizados com a arte. E isso impulsionou o trabalho. Tanto que em apenas um mês de ensaio, já fizemos a primeira apresentação com o Coral. Foi uma grande surpresa”, relembra. O grupo, criado em 2000, é formado por 30 alunos/coralistas e tem um repertório baseado na literatura coral, com destaque para o cancioneiro infanto-juvenil. As músicas, cantadas em uníssono, se adequam ao Tema Integrador da escola e estimulam a superação pessoal dos alunos. No Coral do CEI também há espaço para a interdisciplinaridade, com destaque para questões que versam sobre a frequência dos sons, a formação dos fonemas, articulação das palavras. Temas comuns nas aulas de física e língua portuguesa. “O desafio é muito mais pedagógico do que performático”, garante o professor.
Acompanhando o coral em suas apresentações, a pianista e professora de música, Liana Monteiro, também se divide para auxiliar na produção musical dos espetáculos do Grupo de Teatro da escola. “Há aproximadamente dois anos me aproximei do teatro e isso acabou estimulando quem já cantava ou tocava algum instrumento”, revela Liana. O resultado do trabalho pôde ser visto durante o XV Festival de Teatro do CEI, realizado em novembro de 2013,
no Teatro Riachuelo. Dois musicais foram apresentados e, pela primeira vez, as músicas foram cantadas e tocadas pelos próprios alunos. “Optamos por não convidar cantores profissionais, como já havia sido feito. A banda do CEI nos auxiliou e contamos com a participação especial de um pai de uma das alunas, que tocou saxofone. Foi um momento inesquecível”, relembra a professora, que assinou a direção musical do festival.
Banda CEI Criada em 2010, a banda conta com guitarra, bateria, baixo, teclado e vocal. No repertório, clássicos da Música Popular Brasileira, Rock e do Pop nacional e internacional. Ao longo de sua formação, a banda do CEI já ultrapassou os muros da escola para se apresentar em grandes palcos da cidade, como o Teatro Riachuelo e o Teatro de Cultura Popular (TCP). Para participar da banda, basta ser aluno CEI e dominar um instrumento musical ou cantar. Os ensaios acontecem sempre às segundas-feiras, das 18h às 20h, na própria escola.
GeraSons O projeto “GeraSons” foi criado pelo professor Josenilson Batista e tem o objetivo de estimular a apreciação da música vocal, através da apresentação de coros convidados de faixas etárias distintas. No repertório do projeto, destaque para diversos gêneros musicais, como MPB, música erudita e música regional. A mostra de canto coral acontece dentro da programação da Semana de Arte Literária do CEI e reúne um público recorde no Centro de Atividades Culturais da escola.
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PALAVRA DE MÃE
Sustentabilidade: verdade ou utopia?
Renata Carla Tavares dos Santos Felipe - Mestra e Doutora em Engenharia Mecânica, Professora do IFRN). Mãe do aluno Tiago Tavares Santos Barbosa Felipe, do 6º CM.
Sustentabilidade é um tema tão discutido, atualmente, e por que não ser tratado de maneira simples e verdadeiro? Trata-se, etimologicamente, de uma palavra que tem sua origem na expressão latina sustentare, que significa manter, sustentar, permanecer, resistir por mais tempo. Dessa forma, o termo em tela tem perseguido vários caminhos a serem trilhados como, por exemplo, ser considerado como algo exotérico, como algo incomum até mesmo incompreensível por pessoas menos esclarecidas, bem com um modismo, por se tratar de um tema relacionado à defesa do “verde”, neste período atual de elevado consumo humano. No entanto, não é possível discordar, de que este tema hoje, faz parte da agenda e do métier diário de todos os que pensam na relação entre crescimento econômico e desenvolvimento social de uma dada área geográfica, município, estado, país ou até mesmo de um continente. Entretanto, há de convir que a sustentabilidade esteja relacionada diretamente ao processo econômico e social de um determinado território; estando, também, atrelado a sua dimensão ecológica, ou seja, às condições impostas pela natureza, pela biosfera. Convém ressaltar que, quando tratar-se de economia, a sustentabilidade deverá ser considerada e lembrada como uma grande parceira da natureza e de seus recursos naturais. Diante do exposto, pode-se dizer que a sustentabilidade traz em seus esteios fatores que podem tornar o processo insustentável, que são o crescimento acelerado da população, a redução da base de recursos naturais, os diversos processos industriais, utilitários de grandes gamas de recursos e energias não renováveis e, ainda, poluem o meio ambiente; e, além de tudo isso, ressalta-se o alto consumo de material descartáveis, produzindo uma população, conhecida como os consumistas, ditados pela geração do consumo. Talvez seja por isso que, os cientistas que analisam e estudam as questões ambientais, afirmam que o sistema ambiental planetário pode se tornar ainda mais insustentável, devido a toda uma teoria vigente da economia, na qual o crescimento tem que acontecer a qualquer custo, em que a população ou parte dela acumula rapidamente os bens materiais, riquezas e como consequência energia; e com isso ocasionando a destruição dos sistemas de sustentação da vida. Dessa forma, a passagem de um mundo dilapidador dos recursos naturais para um mundo sustentável tem se tornado tão difícil, mas possível por cada um de nós, no rumo da melhoria de qualidade de vida e da prosperidade humana. Nesse sentido, é urgente uma mudança radical do atual modelo insustentável mundial para um outro modelo civilizatório. Isso é uma verdade e não uma utopia. Por isso, exige-se uma profunda mudança na teoria do conhecimento e nas
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ciências gerais. Com isso, a investigação das fronteiras das ciências, suas teorias e seus novos paradigmas emergentes constituem uma tarefa primordial e fundamentalmente importante para uma nova visão do mundo, tão necessária para a realização do tão pretendido desenvolvimento sustentável, ou da sustentabilidade. Essa mudança decorre da superação de pensamentos e paradigmas ultrapassados como exemplos o cartesiano-newtoniano causalista (baseado na troca) e o mecanicista-euclidiano reducionista (falta de visão do todo), os quais têm cindido as relações entre humanos e sua própria natureza vivencial. Portanto, torna-se cada vez mais forte e evidente a necessidade da conscientização das atuais e futuras gerações e os limites em que a natureza e o meio ambiente nos dão. E aí, é possível observar claramente como nós enquanto cidadãos a necessidade que temos de nos satisfazer com a aquisição de determinados bens, pois somos humanos, porém nos esquecemos de que as gerações futuras também terão as suas aspirações. Diante disso, surgem alguns questionamentos, como: será que estamos pensando de fato em nos sustentarmos por um longo período de tempo ou na sustentabilidade do processo e produto, no verde, na natureza e no mundo futuro? Será que precisamos consumir o que vem sendo difundido por toda uma sociedade calculista e consumista? Será que estamos pensando no outro ser enquanto cidadão capaz de interferir no processo e no produto? Então, ficam alguns pontos de reflexão que devem ser lembrados e considerados quando pensarmos na formação das gerações futuras, para um desenvolvimento sustentável, e na formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Então, falar em sustentabilidade envolve muito mais que a geração e criação de novos produtos e processos. Implica, a nosso ver, no modo e modelo de vida, nos sistemas produtivos, na organização da sociedade; e tudo isso envolve algo que às vezes nos esquecemos que é a forte relação direta com a agricultura, a indústria, a pobreza, a habitação, a injustiça, o transporte, a corrupção, a educação e o desenvolvimento humano. Sustentabilidade! Palavra de todo nosso dia-a-dia, de nossa casa, de nosso trabalho, de nossa escola, de todos os lugares humanos. Então para isso, é importante ter um sincronismo muito bem articulado entre a biologia e a filosofia, a ciência e a consciência; e que deva ser exercitada por todos nós, de todas as maneiras, da mais simples e a mais complexa. Mas, afinal: sustentabilidade é uma verdade ou uma utopia? A nosso ver, uma necessidade premente e urgente das sociedades, num mundo em crescimento e expansão. Esta é uma boa reflexão a ser feita.
UNICEI
O UNICEI é um evento formativo, no qual os alunos são protagonistas e, voluntariamente, organizam, junto à comunidade escolar, dois dias de discussões, partilha de experiências, divertem-se em comunhão com princípios
e valores essenciais para seu crescimento humano. O Grêmio Estudantil Ayrton Senna trabalhou duro para os excelentes resultados do evento.
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