Ano IX – nº 10 – novembro/12
Interação social: o compartilhar de espaços e diferenças
Entrevista
Patrimônio Cultural
Cristine Cunha Lima Rosado
Saudades da Velha Ribeira
NESTA EDIÇÃO
Editorial Há 40 anos, o Colégio CEI educa e forma cidadãos capazes de interagir e intervir de forma ética e consciente na sociedade. Neste ano, o CEI dirigiu suas estratégias didáticas e pedagógicas para a reflexão sobre o tema integrador Interação social: o compartilhar de espaços e diferenças e, no decorrer das aulas, alunos e professores trabalharam a importância das interações sociais saudáveis em seus projetos escolares. Em seu 40º aniversário, o CEI comemora também a publicação da 10ª edição da revista Ceia Cultural, que traz, em suas páginas, saborosas crônicas, poesias, resenhas e artigos. Com destaque para o tema integrador, a Ceia apresenta também uma entrevista com a doutoranda em educação, Cristine Cunha Lima Rosado, que fala acerca das mudanças que o processo educacional vem sofrendo nas últimas décadas e a importância da inclusão como porta de acesso para novos saberes. O artigo da aluna Renata Gondim Alecrim, Uma impunidade, dezenas de conseqüências, discorre sobre a criação de estereótipos pejorativos e preconceito. Ainda nessa ver-
LITERATURA tente, Ana Flávia Andrade de A. Oliveira, diretora pedagógica do colégio, explica no texto Interação social: o compartilhar de espaços e diferenças, o porquê da escolha deste tema integrador e como ele foi trabalhado durante o ano letivo de 2012. Várias outras questões atuais são abordadas em artigos redigidos por alunos e professores. Além disso, textos como o do professor Walclei de Araújo Azevedo, Saudades da Velha Ribeira e do professor Fábio Dias, Fernando Pessoa – muito além dos heterônimos, possibilitam aos leitores uma rica degustação cultural. Deleite-se com esta Ceia!
Revista Ceia Cultural ISSN 1808-7302 Diretoras Maria Lúcia Andrade de Azevedo Ana Flávia Andrade de A. Oliveira Conselho Editorial Profª. Ana Cristina Dias Profª. Celina Bezerra Rebecca Guimarães Queiroz Redação Rebecca Guimarães Queiroz DRT/RN 1.364 Revisão Ana Cristina Dias
ERRAMOS! O desenho que ilustrou a edição passada da Ceia Cultura é, na verdade, da aluna Ingrid Aby Faraj Santos.
Tiragem 2.000 exemplares Produzido por Projeto Gráfico Infinitaimagem Fone: (84) 3231-3795 / 8805-1004 infinitaimagem@infinitaimagem.com.br Edição Verbo Comunicação & Eventos Telefax: (84) 3201-7429 assessoria@verboeventos.com.br Jornalista Responsável Sylvia Serejo – DRT/RN 916
Índice 03 – Literatura
12 – Entrevista
04 – Patrimônio Cultural
14 – Artigo
06 – Educação
15 – Artigo
Além “daquela ponte” há poesia?!
Saudades da velha Ribeira
Crianças aprendendo com as formigas a compartilhar espaços e diferenças
07 – Homenagem Professor Jonas Bezerra
Cristine Cunha Lima Rosado
Brincando de música?
A culpa é somente do forró?
18 – Artigo de Literatura Fernando Pessoa, muito além dos heterônimos
09 – Resenha
19 – Artigo
10 – Artigo
20 – Matéria
11 – Tema Integrador
22 – Palavra de Pais
O maior cenário
Interação Social: o compartilhar de espaços e diferenças
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Os artigos assinados por colaboradores não necessariamente refletem a opinião do Conselho de Direção do CEI.
16 – Caderno de Poesias
08 – Crônica O Teatro Vicentino
Informações CEI – Centro de Educação Integrada Fone: (84) 4006-0550 www.ceinet.com.br ceiacultural@ceinet.com.br anadias@ceinet.com.br
Aluno do CEI visita estúdios Maurício de Souza
Encontramos poesia e inspiração imagética onde existir o nome NEWTON NAVARRO. Cronista, pintor, poeta e orador, seu trabalho expõe o que existe de melhor do povo nordestino: força, brilho, persistência... Ele virou ponte entre o rio e o mar, entre o povo e a poesia, entre o real e a fantasia. Sua história ficou imortalizada na memória do nosso povo. Por isso, na exposição literária de 2012, os alunos foram convidados a conhecer um pouco da vida e da obra desse grande ícone da literatura potiguar. Através da releitura dos quadros e textos do poeta, as turmas do 6º ao 9º Ano expressaram um pouco daquilo que sentiram ao lerem e interpretarem o homem que, segundo seus amigos, foi um pioneiro cultural e incentivador de novos talentos. Há o cheiro de Newton em cada obra exposta.
Uma impunidade - dezenas de consequências
Teatro CEI - Educando através do lúdico
Além “daquela ponte” há poesia?!
Equipe de Língua Portuguesa Capa: Ilustração vencedora do concurso Capa Ceia Cultural, de autoria do aluno Rafael Dantas Veggi, 9º ano do Ensino Fundamental II
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PATRIMÔNIO CULTURAL
*fotos do arquivo pessoal de Rejane Cardoso
Rua Doutor Barata - Ribeira
Rua do Comércio - Ribeira, atual Rua Chile
Avenida Tavares de Lyra
Teatro Alberto Maranhão - antigo Teatro Carlos Gomes
S a u d a d e s d a Velha R ibeira Walclei de Araújo Azevedo Professor de História
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eitado numa rede no terraço de minha casa, em um momento de descanso, envolvido pela saudade do meu chão sertanejo – companhia constante em todos esses anos que habito no litoral – adormeço e sou levado por uma Quimera de asas longas, voando alto para além do infinito, da imaginação... Um cenário começa a se delinear em meio à espessa névoa que se dissipa e vai, gradativamente, deixando visíveis cenas cotidianas que mais parecem uma aquarela muito antiga, desgastada pela ação do tempo. O que vejo não é o meu sertão encantado. É outro espaço, outro tempo, cenas que conheci nos livros de História, nos poemas sobre Natal, cidade praiana de tantos amores e cantares, no universo cascudiano. É a Ribeira! Agora tenho certeza, posso vê-la na sua intensidade. Mas por que Ribeira? O mestre Cascudo nos diz que o espaço recebeu esse nome pelo fato de ser uma campina alagada, onde hoje é
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a Praça Augusto Severo, às margens do Potengi, que lavava os pés dos muros. No local do Teatro Alberto Maranhão, tomava-se banho salgado em fins do século XIX. O português julgou ver uma ribeira e, assim, virou consciente coletivo. Não é a Ribeira atual. É aquela mais viva, elegante, com aura de virada do século XIX para o século XX, com expressões e impressões da belle époque... Bondes puxados por tração animal, o movimento intenso de pessoas, o casario, lojas exibindo em vitrines um pouco da moda europeia. Estou na movimentada Rua do Comércio – hoje, Rua Chile –, feirantes, comerciantes ambulantes, armazéns de secos e molhados. O enorme burburinho que vem do cais da Tavares de Lira enche o ambiente de sentimentos... É o espaço da vida se fazendo. Um monumento me chama atenção, o sobrado da Rua do Comércio, edifício imponente que, no final do séc. XIX (1868), passou a ser a sede da administração provincial, perdendo esse status em 1902, no governo de Alberto Maranhão. O velho casarão assistiu à campanha da abolição, hospedeira do conde d’Eu, príncipe consorte do Império; à proclamação da Repú-
blica; à deposição do então presidente da província do Rio Grande do Norte, Miguel Castro; à posse de Pedro Velho, eleito pelo Congresso, e à posse do desembargador Joaquim Ferreira Chaves, eleito pelo povo. Sobrevoando o espaço, percebo grandes hotéis, armarinhos, alfaiatarias, farmácias, clubes de danças e, o melhor de tudo, posso ver o cine Politeama do senhor Petronilo de Paiva, inaugurado no dia 08 de maio de 1911, pronto para uma sessão. Várias pessoas esperavam pelo espetáculo da sétima arte, coisa da belle époque... Continuo o passeio e chego ao primeiro ponto da Ribeira a ser iluminado com luz de gás acetileno em 1905, trecho que vai da Rua Frei Miguelinho , estendendo-se ao quartel do Batalhão de Segurança, na esquina da Silva Jardim até a Praça Augusto Severo. Os sonhos são desconexos... De repente, vejo-me na Praça Augusto Severo, em enorme ajuntamento de pessoas na frente do imponente teatro Carlos Gomes – hoje Teatro Alberto Maranhão. Era sua inauguração, em 24 de março
de 1904. Uma diversidade de sons e cores. Damas e cavalheiros elegantemente vestidos dão ao ambiente aquele ar requintado do início do século XX. Entre os convidados que adentram a casa de espetáculos, visualizo figuras importantes como: Alberto Maranhão, o mecenas potiguar; Pedro Velho, líder político e médico; Palmira Wanderley, poetisa e mulher à frente do seu tempo; desembargador Francisco de Salles Meira e Sá, relevante figura do poder judiciário no Estado; o professor Manoel Dantas, brilhante intelectual; o poeta Manoel Segundo Wanderley; Amaro Barreto de A. Maranhão, professor de canto e pianista, entre outros nomes relevantes do meio artístico, político e intelectual da Cidade. A inauguração do teatro se deu com um festival de caridade. A renda seria revertida para os sertanejos que chegavam a Natal fugindo da seca - martírio da terra que destrói a vida e a dignidade humana. O tom da festa foi dado por muitas apresentações. Um grupo de crianças representando “A promessa”, ato em versos, de Henrique Castriciano. Deolindo Lima recitou um mo-
nólogo de Artur Azevedo. A orquestra do teatro, conduzida por Luigi Maria Smido, executou breve programa, que acompanhou o barítono Comoletti, o qual cantou a canção do aventureiro do “Guarani”, de Carlos Gomes, e a ária de Fígaro, no “Barbeiro de Sevilha”. Um turbilhão de sentimentos se apodera de mim. Vejo, ouço, sinto, mas não posso tocar, interagir... Naquele contexto, sou apenas uma miragem, um produto do imaginário... Sigo adiante, paro em frente ao Grupo Escolar Augusto Severo e alcanço a Av. Junqueira Aires, hoje Luís da Câmara Cascudo. Identifico a antiga Vila Barreto, atualmente Colégio Salesiano São José; a Capitania dos Portos, agora das Artes; o belo Solar Bela Vista, majestoso e requintado, remanescente da arte neoclássica. Um impulso do inconsciente me leva para o interior da residência de Luís da Câmara Cascudo, ouço o barulho da sua máquina de escrever, é o mestre em sua produção intelectual... Mais uma vez não consigo interagir... Gostaria de lhe perguntar tantas coisas, entender melhor seu universo... No entanto,
eu e a imagem estamos separados pela barreira instransponível do tempo. Alcanço uma das janelas da casa e me deparo com um maravilhoso espetáculo da natureza, o pôr do sol no Rio Potengi. A cena provoca o meu despertar. Procuro a velha Ribeira, não encontro. Sinto saudade, quanta saudade... O retorno ao mundo real me fez refletir sobre a Ribeira moderna: o trânsito desenfreado, a correria cotidiana, os espaços transformados definitivamente. O que vi em sonho praticamente desapareceu em nome da modernização que insensibiliza. Restam apenas alguns monumentos; uns relativamente bem cuidados; outros muito carentes da atenção do poder político e das instituições voltadas para a preservação do patrimônio histórico-cultural. Estes, quando paramos para admirá-los, parecem nos dizer “estou aqui, faça alguma coisa por mim, sou parte da sua história, luto dia-a-dia contra a ação do tempo e do desrespeito social. Preciso continuar encantando os que me enxergam.”... Eles irão continuar existindo? Isso só o tempo dirá...
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EDUCAÇÃO
HOMENAGEM Clara Germano França
Crianças aprendendo com as formigas a compartilhar espaços e diferenças
9º ano do Ensino Fundamental II
HOMENAGEM A JONAS Um homem sorridente Um professor cativante É assim que lembraremos de você Da primeira nota baixa Ao 10 com muito esforço, você estava presente Deu-nos gosto pela matéria Deixou respeito e admiração
Reflexão Tudo... Indefinido... Indecifrável... Inconcebível... Às vezes uma pessoa, um passeio uma viagem de férias!
Não teve uma vida fácil Sobreviveu aos preconceitos De forma admirável Acordou do sonho da vida E os que você tocou Sempre lembrarão de você Um professor exigente Um ser humano encantador
Victória Diniz 9º ano do Ensino Fundamental II
Marley Dantas de Araújo e Cláudia Leite Professoras da Educação Infantil
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efletindo sobre a sociedade de hoje em dia, em que nos falta tempo e nos sobram tarefas, a vida nem sempre se mostra fácil e equilibrada, geralmente se mostra conflituosa, apesar de termos espaços e regras específicas que nos ajudam a organizar melhor nossas vivências. Nessa perspectiva, o colégio CEI nos apresenta o tema integrador INTERAÇÃO SOCIAL: o compartilhar de espaços e diferenças, que abrange várias facetas dessa sociedade em que estamos inseridos, fazendo-nos refletir e buscar uma educação voltada para a ética e o respeito com o mundo e as pessoas ao nosso redor. Tomando como base esse conceito, trabalhamos o projeto Compartilhando espaços e diferenças (Formigas), com o
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Estágio III, fazendo um levantamento de dados sobre o que as crianças sabiam e o que gostariam de saber acerca do assunto. A partir de atividades de ensino-aprendizagem envolvendo o referido tema, tais como conversas em roda, pesquisas de campo, revistas, jornais e livros, participação da comunidade, registros de experiências vivenciadas em sala e produção coletiva de um texto no qual as crianças apresentaram o que aprenderam por meio desse projeto, trabalhamos todas as áreas de conhecimento. Entre diversas atividades, levamos a turma a visitar os jardins da escola, com o objetivo de observar as formigas, despertando o interesse pela investigação científica e pela preservação da natureza. Ao contarmos a história “A Cigarra e a Formiga”, conversamos sobre a divisão dos trabalhos apresentados no conto e estimulamos a turma a comparar com as informações pesquisadas: a rainha é a responsável pela re-
produção, os soldados pela defesa da colônia e as operárias pela limpeza e busca de alimentos. Procurou-se, assim, fazer com que os alunos percebessem como as formigas compartilham o mesmo espaço, cooperando umas com as outras para o bem de todas, respeitando as diferenças existentes entre elas. No decorrer do desenvolvimento do projeto, visitamos o insetário no Parque das Dunas. Lá, as crianças ouviram os biólogos, que não apenas nos ajudaram a fazer novas descobertas, como também esclareceram as dúvidas que iam surgindo quando confrontávamos os conhecimentos prévios e teóricos que coletamos no início do projeto com os novos que adquirimos na pesquisa. Com este projeto, as crianças perceberam a importância do espaço escolar para uma boa convivência e aprendizagem, compreendendo a relevância da participação de cada um na relação com o meio natural e social.
Também pode ser o nada Aquilo que falta Aquilo que sumiu Aquilo inexistente Preenchido por lembranças Boas, más, irrelevantes... Mas “ in”consequentes no viver. Tenho vontade Nela serei eu Tudo ou Nada Nesta concebo o ruim Naquele realizo desejos Viajo, tenho saudade, volto Ao meu porto, minha Pátria! (Jonas Bezerra) Natal, 03/03/2012
JONAS, Todos nós, alunos e ex-alunos, aprendemos com você mais que a língua portuguesa. Aprendemos as lições de solidariedade e, acima de tudo, respeito ao próximo. Mesmo com diferenças e opiniões adversas, o respeito a sua pessoa era imenso. Mais que um professor e um educador, um amigo! Obrigada por tudo. Uma parte do que sou construí com sua ajuda e serei eternamente grata. Você será sempre lembrado e adorado por nós, não o esqueceremos, jamais. Não pense que sua perda será fácil! Vir ao CEI e não lhe encontrar nos corredores, com um sorrisão no rosto, já será horrível e a saudade será inevitável ... Ao ouvir músicas de Chico Buarque, as lágrimas vão descer. Todos os momentos ficarão guardados conosco, sendo eles ruins ou bons. Ao lembrar você, o coração baterá mais forte. O mundo está perdendo um ser humano e nós, um professor amigo, mais que amigo! Fique com Deus, Jonas!
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CRÔNICA
RESENHA
Maria Beatriz Emerenciano 1º ano do Ensino Médio
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ocê já pensou no amanhã? Deve perder tempo pensando no que aconteceu ontem, aposto! Já me falaram que saudade é sinônimo de velhice, que quanto mais saudade se vai tendo das coisas e das pessoas, mais velho você vai ficando. Já me disseram também que não se pode julgar o passado com os olhos do hoje, porque o que ocorreu lá é fruto daquela época, não se deve querer tirar experiência, de onde não tem. Quando estou longe de quem gosto, o hoje me atormenta, não me abandona. É como diz Brás Cubas: “Era como se os minutos fossem horas e as horas fossem dias, como se meu relógio tivesse quebrado.” O ontem aliado do passado me atormenta, tento fugir para os mais altos lustres do castelo, mas as escadas estão sedadas, como os ponteiros do meu relógio. Tento descer, mas não consigo também. É como uma prisão, em que você é obrigado a estar ali, querendo fugir, retardar ou avançar. A vida já é curta e nós a encurtamos ainda mais, desperdiçando o tempo, pensando no fútil, no passado. Perdemos o nosso tempo presente, planejando o futuro, que é tão incerto quanto nossa ideia de morte. Enquanto estamos aqui sentados, planejando coisas futuras, o destino está lá, rindo de nossos planos.
O Teatro Vicentino Mariana Bezerra Montenegro 1º ano do Ensino Médio
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alar das obras de Gil Vicente – o grande nome do Teatro Humanístico de Portugal – é algo prazeroso, pois ele usa e abusa da simplicidade material em seus figurinos e enriquece os textos de suas peças com termos literários de bastante valor. As peças de teatro, em sua época, costumavam ser apresentadas no pátio das igrejas e dos mosteiros, tendo um caráter altamente religioso. No entanto, seus textos tinham também conteúdo moralizante para o público e procuravam tematizar os comportamentos condenáveis, assim como enaltecer as virtudes das pessoas. As cenas elaboradas por Gil Vicente tinham como foco os erros de ricos e pobres, nobres e plebeus, ridicularizando os pecadores, porém, sempre buscando divertir a plateia, estimulando um comportamento virtuoso, o que fez com que suas obras fossem chamadas de “alegóricas”. Temos, como exemplo do Teatro Vicentino, o Auto da Barca do Inferno, peça crítica determinante do futuro de homens que compõem a sociedade, representada pelos nobres, plebeus, trabalhadores ou mesmo os agiotas. Na obra, duas barcas têm como chefes das navegações um anjo e um diabo, os quais julgam as atitudes dos homens, levando-os para o caminho “merecido”. A obra foi reeditada, recentemente, num livro de 151 páginas, pela Editora Ática. Juntamente a ela, estão outras duas grandes obras de Gil Vicente – Farsa de Inês Pereira e Auto da Índia. Vale a pena conhecê-las, tanto por serem grandiosas quanto atuais.
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ARTIGO
TEMA INTEGRADOR
O maior cenário Bruno de Lira 1º ano do Ensino Médio
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obra A Divina Comédia, de Dante Alighiere, escrita no século XIV, apresenta a viagem do autor pelo inferno, pelo purgatório e pelo céu. Naturalmente, trata-se de um texto embasado em valores vindos do cristianismo, visto que Alighiere era cristão e encontrava-se em um contexto no qual a religião católica era, notavelmente, influente em todo o continente europeu. A influência católica não só abrange o destino das almas humanas no pós vida, como também no que diz respeito aos valores morais e aos modelos de conduta que os seres humanas devem ter ainda em vida, para poderem alcançar o paraíso. A ONG Gherush 92 quer banir a obra das escolas italianas, alegando que esta apresenta ofensas aos homossexuais, judeus e mulçumanos. Essa Organização, que defende os direitos humanos, aponta que a obra possui acusações falsas comprometedoras dos avanços da luta contra o racismo e a discriminação. Mas aí é que entra um ponto muito sutil: a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU, em 1948, defende liberdade de crença,
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liberdade de expressão, igualdade de todos os seres humanos, independentemente de qualquer fator cultural. Esses valores são essencialmente distintos daqueles que estavam em vigor na época de Dante, período em que a Igreja Católica também exercia poder político e boa parte dos direitos das pessoas, senão a totalidade, passava pela mão desta instituição. É a partir dessa análise que se torna aplicável o conceito antropológico de relativismo cultural, segundo o qual a análise de sistemas culturais só é válida quando não partimos dos valores ocidentais modernos, como os conceitos atuais de moral e ética. Como disse Franz Boas, em 1887: “Civilização não é algo absoluto, mas é relativa e nossas ideias e concepções são verdadeiras apenas na medida de nossa civilização.” Trocando em miúdos, julgar a obra de Dante requer que utilizemos os valores morais e éticos de sua época. Dito isso, outro ponto importante aparece. A Gherush diz que, banindo o livro das escolas italianas, estaria sendo evitada a passagem sem fi ltro de um conteúdo racista e discriminatório para as novas gerações, julgando que tal conteúdo teria um efeito negativo e que levaria aos estudantes comportamentos preconceituosos. Isso pode até ser verdade, mas não em uma escola
Interação social: o compartilhar de espaços e diferenças
decente, que realmente preze pelo conhecimento científico. Em condições ideais, seria apresentado um direcionamento metodológico para que o livro pudesse ser utilizado adequadamente, possibilitando uma experiência didática proveitosa. O que não podemos esquecer é que A Divina Comédia é uma obra literária, um clássico, lido e passado através de gerações. Sua influência na literatura é extraordinária, importantíssima. Sua estrutura, contendo cantos compostos de tercetos, desenvolve-se a partir do simbolismo do número 3, que representa: a Santíssima Trindade, o equilíbrio e estabilidade em algumas culturas. Curiosamente, a obra possui 3 personagens principais, é composta por 3 livros, por estrofes de 3 versos e, mais surpreendentemente, os 3 livros rimam no final, pois terminam com a mesma palavra: stelle, que significa estrelas. Seu conteúdo apresenta rico material sobre a relação entre o homem, a fé e a razão, entre outros muitos aspectos que revolucionaram a produção literária mundial. Devemos saber ponderar certos aspectos para poder tomar certas decisões. Dada a importância da obra, seria um estupidez e até uma heresia literária, por assim dizer, bani-la. É preciso analisar o cenário mais abrangente.
Ana Flávia Andrade de A. Oliveira Diretora Pedagógica do CEI
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m 2012 concentramos nosso pensar e agir na elaboração de estratégias didático-pedagógicas que auxiliaram o corpo discente e docente a refletir sobre interações sociais saudáveis e a maneira de como podemos usufruir delas para melhorar nossa qualidade de vida. O tema foi ressaltado em produções textuais dos alunos, representações de teatro, exposições, campanhas educativas, demonstração de atitudes. Interação, o próprio nome se define, é o processo em que a ação produz uma resposta, na maioria das vezes, na mesma direção e na mesma proporção da que foi, incialmente, produzida. É um processo para o qual o senso comum costuma atribuir chavões, como “violência gera violência”, “gentileza gera gentileza” e outros tantos que costumamos ouvir, sem fazer a devida reflexão. O Tema Integrador de 2012 nos convidou a essa reflexão, que na verdade não é de um ano, de
um mês, mas do cotidiano da educação. Quando convivemos em um grupo social, os nossos pensamentos, falas e ações afetam os que conosco convivem, de forma positiva ou negativa, devendo cada indivíduo estar ciente de sua intervenção dentro de uma comunidade. Não podemos arriscar opiniões sobre alguém, ou acusar alguém de algo, sem pensar nas consequências que advêm para a pessoa e para a realidade social que compartilha. Espaços e diferenças exigem sempre a interação respeitosa, tolerante, na qual os inevitáveis conflitos sejam tratados com a serenidade de um diálogo que construa o bem-estar coletivo. Essa será sempre nossa expectativa da convivência escolar, familiar e social.
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ENTREVISTA O acesso ao conhecimento hoje não está mais limitado à escola, pela quantidade de formas existentes para adquiri-lo, no entanto, é na escola que se viabiliza a organização científica do conhecimento.
Cristine Rosado O que, historicamente, tem mudado em relação ao ensinar e aprender?
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urante as últimas décadas, o mundo vem passando por uma sucessão de acontecimentos importantes devido à globalização, o que ocasionou mudanças em vários segmentos da sociedade, inclusive na educação. Pertencemos hoje à Sociedade do Conhecimento, em que crianças e adolescentes são seres críticos, com acesso a inúmeros meios tecnológicos que proporcionam a obtenção infindável de informações. Nesse movimento tecnológico, a escola deve se renovar e transformar a relação entre o ensinar e o aprender no século XXI. Em entrevista à Ceia Cultural, Cristine Cunha Lima Rosado, pedagoga, mestre e doutoranda em educação pela UFRN, fala sobre essas transformações na educação do mundo contemporâneo, destacando o novo papel da escola e dos professores no atual processo de ensino e aprendizagem.
Durante muito tempo, essa relação foi dicotômica: o professor ensinava (emissor) e o aluno aprendia (receptor), o que ficou tão conhecido como “Educação Bancária”. Assim, o professor não tinha a preocupação com a forma que o aluno iria aprender, apenas em ensinar o que lhe competia. Hoje, graças aos esforços de estudos de diversos teóricos, em especial após a década de 80, com a consolidação das teorias cognitivista e sócio-interacionista, começou-se a pensar em uma aprendizagem significativa, que valoriza a interação do sujeito com o conhecimento. Um pouco mais à frente, na década de 90, lançou-se um olhar mais reflexivo para a docência, para o processo de ensinar. Assim, a perspectiva de que o professor aprende enquanto ensina e ensina enquanto aprende elevou o aluno a um novo patamar, o de sujeito ativo no processo de aprendizagem. Diante das orientações mais críticas da Pedagogia, como deve se desenvolver o processo de ensino e aprendizagem? O acesso ao conhecimento hoje não está mais limitado à escola, pela quantidade de formas existentes para adquiri-lo, no entanto, é na escola que se viabiliza a organização científica do conhecimento. Por isso, a preocupação atual não está apenas na apropriação dos saberes socialmente relevantes, mas na forma com a qual cada sujeito trata dessa informação, em sua capacidade de refletir sobre os fatos, argumentar, analisar criticamente, possuindo a visão plural e
histórica desse conhecimento. Assim, professores e alunos, ambos envolvidos e implicados no processo de ensino-aprendizagem, desenvolvem suas potencialidades. Nesse contexto, o processo de ensino-aprendizagem tem que favorecer situações que mobilizem o pensamento complexo e a interação efetiva entre sujeito e conhecimento. Como a Sra. vê o desgaste da autoridade do professor na educação brasileira? Como o papel de MEDIADOR da aprendizagem pode fortalecer ou fragilizar essa autoridade? Antes de se discutir sobre o desgaste da autoridade, devemos retomar um erro conceitual cometido por muitos educadores: a diferença entre autoridade e autoritarismo. O professor autoritário tenta estabelecer a ordem através da imposição. Já o professor que tem autoridade consegue a organização desejada através da reflexão e da metodologia adotada, percebendo a disciplina como expressão do desenvolvimento e maturidade dos alunos. O professor autoritário não consegue mediar situações de aprendizagem, apenas repassa conteúdos historicamente elaborados. Já o professor que tem autoridade pode fortalecer sua função de mediador através da sua própria segurança no papel que está desempenhando, o de profissional qualificado, que repercute na admiração e respeito dos alunos. Há uma assertiva que nos diz: “Se a pessoa não pode aprender da maneira como é ensinada, deve ser ensinada
da maneira como pode aprender.” Qual sua posição sobre a inclusão na escola? Precisamos reconhecer que existem diversas possibilidades de aprendizado, para todos, não só para os alunos com necessidades educacionais especiais. Pensar em inclusão é permitir ao aluno, independente de qualquer limitação que venha a ter, o acesso a novos saberes, e principalmente a aprender com a diferença do outro. Para tanto, é preciso oferecer inúmeras estratégias e criar situações de aprendizagem que permitam o trabalho intelectual de todos. O ensinar, reconhecida função social da escola, já não dá conta das demandas postas pela sociedade. Qual sua orientação frente a uma outra díade: Ensinar-Educar? Ensinar pressupõe a instrução sobre determinados conhecimentos. De fato, a escola é o local propício para o ensino e durante muito tempo se limitou a essa função. Na sociedade contemporânea, porém, tal aspecto não pode ser mais considerado suficiente, sendo necessário ampliar o papel atribuído à escola. Agora, ela pode ser considerada o local no qual o sujeito não apenas aprende o conteúdo, mas pensa sobre ele e lhe dá sentido. Esse ato intelectual e reflexivo diz respeito à função de educar, que inclui a formação de valores e atitudes. Assim, frente às demandas atuais, o ensinar-educar é imprescindível quando almejamos a formação de sujeitos críticos e reflexivos, que não apenas compreendam a realidade, mas a ressignifiquem.
Pensar em inclusão é permitir ao aluno, independente de qualquer limitação que venha a ter, o acesso a novos saberes, e principalmente a aprender com a diferença do outro. 12
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ARTIGO
ARTIGO
A culpa é somente do forró?
Brincando de música? Everson Ferreira Fernandes Professor de Música
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música é uma linguagem, um meio de expressão. Através dela nos comunicamos, utilizando o som como matéria prima para sua produção. Porém, na cultura brasileira, poucas são as pessoas que se apropriam realmente dessa linguagem e fazem dela um meio de expressão e comunicação. Em nossa sociedade, criou-se um mito de que, para se praticar música (tocar, cantar, compor, reger, fazer arranjos), é necessário ter “dom”. Não podemos negar que algumas pessoas têm mais aptidão musical que outras, mas na verdade todas as pessoas são musicais. O homem nasce com a capacidade de fazer música, mas, da mesma forma que precisa aprender a falar, a ler e a escrever ele precisa ser estimulado. A criança, desde a mais tenra idade, relaciona-se com a música de forma muito natural e espontânea, em contato com sons do cotidiano, canções de roda, cantigas de ninar, parlendas, dentre outras formas com as quais vão descobrindo o mundo dos sons e criando um repertório que mais tarde permitirá que se expressem através desses sons. Desde aí, inicia-se um processo de musicalização intuitivo dessas crianças. Nessa fase, a relação da criança com a música se dá através do brincar, associando música e dança. Vivenciar a música! Cantar, realizar jogos e brincadeiras musicais, conhecer diversos sons e suas propriedades,
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conhecer os instrumentos musicais e seus respectivos timbres, produzir sons utilizando a voz, o corpo e diversos materiais, ouvir música, tocar flauta doce, conhecer e cantar as notas musicais, tocar instrumentos de percussão em grupo e criar histórias para serem sonorizadas. Arranjos simples, letras e canções, são algumas das atividades realizadas nas aulas de musicalização das turmas do Estágio III da Educação Infantil ao primeiro ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de proporcionar aos alunos um maior contato com a música e estimular a prática musical. O objetivo final das aulas de musicalização infantil não é o de formar músicos profissionais, mas possibilitar a todos os alunos um contato com a prática e a linguagem musical e favorecer o desenvolvimento dos alunos de uma forma global. Para Hentschke e Del Ben (2003,p.181), o principal propósito da educação musical nas escolas é desenvolver a capacidade dos nossos alunos para vivenciar música, ampliando e aprofundando suas relações com ela. Penna (2008, p.41) concebe a musicalização como um processo educacional orientado, que se destina a todos que, na situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas de apreensão da linguagem musical, sejam adolescentes ou adultos. Para a autora: “musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o material sonoro-musical como significativo”. A autora destaca também que a educação musical escolar não visa à formação do músico profissional, nem é, tão somente, uma preparação para um estudo
de música mais amplo de caráter técnico ou profissionalizante. Percebemos que a concepção dos objetivos da educação musical escolar na atualidade difere muito daquele conceito herdado dos conservatórios musicais, que relacionava o ensino musical ao ensino do instrumento. Segundo o educador musical suíço da década de 60, Edgar Willems, a prática musical está estreitamente associada a aspectos humanos. Ele relaciona os elementos básicos da música com aspectos humanos: Ritmo: Vida fisiológica – Ação Melodia: Vida afetiva – Sensibilidade Harmonia: Vida mental – Conhecimento A música na escola é, portanto, uma disciplina com conteúdos, conhecimentos, práticas e objetivos específicos, mas a sua prática, por estar intimamente ligada com aspectos da vida humana, pode favorecer o desenvolvimento dos mesmos. Em alguns países da Europa onde a música está presente no currículo escolar há várias décadas, está comprovado, através de pesquisas, que a prática musical contribui de forma significativa para o desenvolvimento de habilidades e competências do ser humano como: coordenação motora, concentração, percepção, socialização, dentre outras. REFERÊNCIAS HENTSCHKE, Liane e DEL BEN, Luciana. Aula de música: do planejamento e avaliação à prática educativa. In: HENTSCHKE, Liane e DEL BEN, Luciana (Organizadoras), Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. PENNA, Maura, Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008
Fernanda Guedes Queiroz de Lira 1º ano do Ensino Médio
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ão é algo apenas empregado nas músicas do forró estilizado da geração atual. Os palavrões estão presentes, por exemplo, na década de 80, quando Chico Buarque, nas músicas Geni e Zepelim, usou, na primeira, uma palavra de baixo calão censurada pela ditadura militar. Retratando a ideia do músico, cantor e compositor Carlos Rennó, segundo a qual o palavrão na música brasileira surgiu a partir da música americana, Bob Dylan usou um “son of the bitch” na música Hurricane, talvez a letra mais longa de suas composições. Dylan foi grande poeta e possivelmente Chico conhecia seu trabalho, tendo sido, provavelmente, influenciado por ele. Hoje, palavras de baixo calão não são empregadas apenas em músicas, mas também em desenhos, novelas e outros programas televisivos. E se pensam que esses termos estão dentro de nossa linguagem só por obra das músicas, estão enganados, pois além da influência de outros países, o palavrão vem sendo colocado no nosso vocabulário cotidiano,
e não só em músicas como as interpretadas por Charlie Brown Jr. e até mesmo a veterana Rita Lee, que há muito usam palavras deste tipo. Durante o Tropicalismo, muitos termos que eram censurados fazem parte agora de nosso cotidiano. Na época dos nossos avós, chamar um palavrão era um desrespeito total. Hoje faz parte até da comunicação de pais e filhos. Muitos são pais de uma geração que ouviu Ultraje a Rigor, Cazuza, Renato Russo, os quais usaram palavrões dentro das músicas, embora com o intuito de uma crítica à sociedade e à política. Vários jovens de hoje não se interessam pela crítica contida nas músicas, mas gostam delas, pela utilização de termos vulgares. A música brasileira chegou a esse estado de vulgaridade não só pelo que fazemos hoje, mas pelo que fizemos no passado, um passado que, aos poucos, foi influenciando o nosso presente, já que não podemos apagar uma história de influências como a do Tropicalismo e da música internacional.
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POESIAS Não deveria se chamar amor O amor que eu te tenho é um afeto tão novo Que não deveria se chamar amor De tão irreconhecível, tão desconhecido Que não deveria se chamar amor Poderia se chamar nuvem Porque muda de formato a cada instante Poderia se chamar tempo Porque parece um filme a que nunca assisti antes Poderia se chamar labirinto Porque sei que não poderei escapulir Poderia se chamar aurora Pois vejo um novo dia que está por vir Poderia se chamar abismo Pois é certo que ele não tem fim Poderia se chamar horizonte Que parece linha reta, mas sei que não é assim O amor que te tenho é um afeto tão novo Que não deveria se chamar amor De tão irreconhecível, tão desconhecido Que não deveria se chamar amor Poderia se chamar primeiro beijo Porque não lembro mais do meu passado Poderia se chamar último adeus Porque meu antigo futuro foi abandonado Poderia se chamar universo Porque sei que não o conhecerei por inteiro
Rotina Quem sempre desaparece pela alvorada Com o cândido amor que em mente raciocina Aniquila qualquer pensar e ilude a sina – O castigo de persistir na paixão errada.
Maçã Uma maçã tão bonita Vermelha como o sangue de uma cabrita Encanta-me essa bela cor Pena que o gosto é de isopor Igor Maia (3º ano do Ensino Médio)
Ébrios errantes alheios à realidade, Palavras codificam o embate de olhares. É eterno o aguardar dos amantes peculiares Que ainda não podem se amar com a liberdade. Punição divina, amam-se o Inverno e o Outono... Continua-se a ânsia da vida por poesia Mas mantém-se o belo semblante de outrora... Ao anoitecer das lágrimas áureas e sono É anunciado o esperado ao longo do dia: Regressa quem só esvaecerá pela aurora. Renato Gurgel (1º ano do Ensino Médio)
Saudações a Diógenes da Cunha Lima Diógenes, hoje vamos o prestigiar Gostamos muito da sua atitude Em relação ao baobá E com muita alegria queremos o parabenizar A xanana é uma bela flor Adoramos e a admiramos E com sua beleza comemoramos Quando um dos símbolos de Natal virou Com sua radiante cor. Esses grandes amigos Todos do CEI a te saudar Com toda a alegria do mundo Vamos contigo a amizade celebrar Agora iremos finalizar Espero que goste do nosso poema Em homenagem a esse grande homem E com amor a paixão celebrar. Jacqueline Dantas Maria Eduarda Mesquita (5º ano do Ensino Fundamental II)
Poderia se chamar palavra louca Que na verdade quer dizer aventureiro E poderia se chamar silêncio Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo E poderia simplesmente não se chamar Para não significar nada e dar sentido a tudo Paulo Fernando Correia Botelho (2º ano do Ensino Médio)
Um grande artista Newton Navarro em 1928 nasceu E na cidade de Natal viveu Artista de enorme sensibilidade Para as artes tinha facilidade Dos pais o talento herdou E dramaturgo, poeta e pintor ele se tornou Crônicas, poemas e livros ele escreveu E muitas coisas aprendeu Foi para Recife fazer vestibular E para as artes ele decidiu cursar Artista amado e aclamado Por muitos era admirado Newton Navarro em Natal morreu A muitos entristeceu Porém ninguém o esqueceu Renata Correia Daniela de Lucena (7º ano do Ensino Fundamental II)
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ARTIGO DE OPNIÃO
ARTIGO DE LITERATURA propósitos literários. Esses documentos foram encontrados na famosa arca que guarda, ainda hoje, grande parte da obra mística do poeta, com temáticas que vão de sociedades secretas à mediunidade. Nessa perspectiva, é possível sempre ter uma dupla interpretação da obra de Fernando Pessoa: uma visão tradicional (a do excepcional poeta que fala daquilo que todos sentimos, mas não soubemos dizer o que e como era) e a visão do poeta que fala sobre seus traumas, sua insatisfação com a suposta mediunidade. Talvez tenha sido esta genialidade desse poeta de Lisboa: “Dizer tudo de todas as maneiras”.
Fernando Pessoa muito além dos heterônimos Fábio Dias Professor de Língua Portuguesa
Fernando Pessoa sempre foi um dos mais misteriosos poetas da literatura mundial. Em Portugal, onde nasceu, especificamente em Lisboa no ano de 1888, desde criança, já era sozinho e com brincadeiras diferentes das dos outros meninos de sua idade. Aos seis anos ele tinha “amigos” fictícios, que lhe escreviam cartas, consolando-o da morte do pai e do irmão. O interessante é que tais cartas eram escritas por um estrangeiro, Chevalier de Pas, com ideias que uma criança normal não teria maturidade para desenvolvê-las. Esse estranhamento de Fernando Pessoa não ficou apenas nas brincadeiras de sua infância. Ele tornou suas brincadeiras em literatura. Criou o que hoje se chama de heterônimos, que seriam autores fictícios criados por um poeta, por exemplo, porém com estilo, filosofias, biografias distintas da do autor criador, daí a diferença com o pseudônimo, que seria um nome falso do autor, mas com todas as características dele. Os heterônimos mais famosos de Fernando Pessoa são Álvaro de Campos,
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com seu estilo direto e com jatos de emoções; Alberto Caeiro, com seu estilo bucólico e simples; e Ricardo Reis, o poeta clássico, regrado e que ensina a pensar e a sentir. Apesar de esses serem os mais famosos, há cerca de 180 heterônimos registrados na obra que já se publicou de Fernando Pessoa. Nesse número, estão incluídos os nomes de sua mãe, Dona Maria Magdalena, seu Tio Cunha, o poeta inglês Henry More, um frei chamado Maurice, algumas mulheres e vários outros que se “comunicavam” com Fernando Pessoa. A crítica literária afirma que Pessoa criara os heterônimos para expressar aquilo que estava em seu interior e que não tinha coragem de expor como Fernando Pessoa. Estudos recentes feitos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, porém, afirmam que Pessoa dá outra explicação para o fenômeno da heteronímia: a mediunidade. Isso mesmo, ele se considerava médium. É o que revela uma carta escrita a sua Tia Anica em que descreve, minuciosamente, os fenômenos mediúnicos que o estariam acometendo, além de vários textos escritos com caligrafias diferentes, em idiomas diferentes e sem
Não fica só na literatura esse estranhamento de Fernando Pessoa. Há fatos igualmente misteriosos que, até hoje, continuam obscuros, como é o fato que envolveu o mago inglês Aleister Crowley. Pessoa, lendo uma revista em que Crowley fazia mapas astrais de celebridades de Londres, percebeu um erro nos mapas e escreveu ao mago, corrigindo-o. Este, impressionado com tamanho conhecimento místico de um desconhecido, decidiu vir a Lisboa conhecer Fernando Pessoa. O navio que trazia o mago atrasou por duas horas e ele, assim que viu Pessoa, disse: “Que ideia foi essa de mandar aquele nevoeiro?”. O misterioso é que o mago foi visto pela última vez entrando na casa de Pessoa e desapareceu sem nenhuma explicação, implicando a Pessoa vários interrogatórios policiais. Dois anos depois, Aleister reaparece na Alemanha dizendo que pegara uma passagem secreta ou coisa do tipo. O fato é que o episódio nunca foi esclarecido. Ao lado dessa vida secreta extremamente interessante, Fernando Pessoa teve uma vida social bem pacata, envolvendo-se apenas com uma mulher, Ophélia Queiroz; teve poucos amigos íntimos, o mais próximo foi Cortes Rodrigues e Mario de Sá Carneiro, que se suicidou ainda muito jovem. Em 1935, no auge da maturidade literária, Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática, em decorrência do uso abusivo de bons vinhos, deixando a seguinte frase”I know not what tomorrow will bring”.
Uma impunidade dezenas de consequências Renata Gondim Alecrim 1º ano do Ensino Médio
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Ministério Público entrou com uma ação contra a Editora Objetivo, por causa do verbete da palavra “cigano”, publicado no Dicionário Houaiss. A Editora deve ser penalizada pela não neutralidade na edição do dicionário, pois isso pode consolidar ideias errôneas sobre os ciganos e a impunidade, neste caso, pode incentivar o preconceito com eles. Realizado por Hitler, o Holocausto, além de perseguir judeus e negros, também matou os ciganos. Isso mostra como os ciganos sofrem discriminação desde a década de 40 e o quanto é preciso educar a sociedade para que essas discriminações não ocorram mais, já que nos direitos humanos somos todos iguais perante a lei e ninguém deveria ser motivo de calúnias raciais. Por isso não podemos classificar uma raça por qualquer tipo de estereótipo pejorativo. E a falta de punição, neste caso, virá a espalhar mentiras sobre os ciganos, já que não são todos eles que trapaceiam e roubam. Isso é apenas uma generalização caluniosa que jamais deveria ter sido publicada em um dicionário. Esse verbete pode passar a ideia errada do que é ser “cigano” para leigos, os quais poderão ter preconceito. Em suma, a Editora tem que ser penalizada retirando do mercado todas as edições do dicionário e o Governo e as Escolas precisam investir em campanhas contra o preconceito racial. Só assim poderemos conviver em uma sociedade menos ignorante e mais justa.
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MATÉRIA
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a trajetória de seus 40 anos de tradição, o Colégio CEI sempre apoiou e investiu em atividades que auxiliam na formação escolar de seus alunos e no desenvolvimento de suas personalidades. Foi por isso que, em 1999, a direção do colégio incentivou a formação de um grupo de teatro na escola, quando, no mesmo ano, promoveu a primeira edição do FETAC – Festival de Teatro Amador do CEI, que chega à sua XIV edição. O grupo de teatro do CEI nasceu espontaneamente durante as aulas de artes visuais do então professor da escola, Nilton Xavier. No decorrer de suas aulas para os alunos dos Ensinos Fundamental II e Médio, o professor começou a trabalhar a essência e
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a prática do teatro como extensão de sua disciplina. Esse trabalho gerou resultados e comentários positivos, e a ideia do exercício do teatro no colégio foi ganhando dimensões maiores até que, em 1999, foi formada oficialmente a primeira oficina de teatro do CEI. A oficina foi oferecida para os estudantes dos 1ºs aos 5ºs anos e sua primeira turma, composta de 40 crianças. Nos anos seguintes, a procura pelo ingresso no grupo de teatro do colégio foi crescendo, o número de turmas foi aumentando e, hoje, o CEI possui 08 turmas de teatro, divididas por faixa etária. A professora de teatro e artes do colégio, Ruth Freire, acompanhou o nascimento desta oficina e, desde então, segue à frente dos grupos de teatro da escola.
Segundo Ruth, as atividades teatrais trazem inúmeros benefícios aos alunos que as praticam, como a melhora no aprendizado escolar, o despertar da reflexão crítica e expressão de sentimentos, desenvolvimento da espontaneidade, da imaginação e da descontração através de exercícios de criação. “A maioria dos alunos ou pais que nos procuram têm como objetivo principal obter melhorias no desempenho das crianças e dos adolescentes, como, por exemplo, melhorar a comunicação, a leitura, a construção de textos, e desenvolver a sociabilidade”, afirma a professora. Através do lúdico, o exercício do teatro proporciona às crianças e aos jovens o
reencontro com a poesia, a literatura, a história, a linguística, a música, enfim, com expressões artísticas tão subvalorizadas pelas atuais gerações. “As peças são montadas por mim e pelos alunos. Eu crio os diálogos, mas durante as aulas, o texto e a construção dos personagens vão sendo criados também por eles. Isso desenvolve a imaginação, a construção e a conversação, tão preteridas nos dias atuais pelas mensagens rápidas que a internet proporciona”, diz Ruth.
mental I, uma do Ensino Fundamental II e uma turma do Ensino Médio. Ao todo, são cerca de 200 alunos participando dos grupos de teatro da escola, mas, segundo Ruth, a procura pelas aulas é bem maior. “A procura é maior a cada ano, mas achamos melhor limitar cada turma em 20 alunos; algumas acabam ultrapassando esse número. No momento das inscrições, damos preferência aos alunos antigos e as vagas são preenchidas logo no primeiro dia”, completa.
Atualmente, as nove turmas de teatro da escola são coordenadas pela professora Ruth, com o auxílio do professor Paulo Welbson Silva do Nascimento, formado em Artes Cênicas. Ao todo, são quatro turmas da Educação Infantil, sendo duas delas do tempo integral, uma turma do 5º ano, duas turmas do Ensino Funda-
Nas aulas semanais, os alunos fazem exercícios de interpretação, montam os espetáculos, desenvolvem os cenários, pensam nos figurinos e, até, nas formas de divulgação dos eventos. Os alunos são muito dedicados e, no geral, se apaixonam pela arte do teatro. Duas alunas do colégio, que participaram do
teatro no CEI, seguiram com as aulas após concluírem o Ensino Médio e hoje são atrizes profissionais. Durante o ano letivo, os alunos têm no calendário dois momentos oficiais voltados para o teatro na escola. O primeiro é o Recital de Poesia que acontece durante a Semana de Arte Literária do CEI, no primeiro semestre e, o segundo, no FETAC, que acontece em novembro. Porém, durante o ano surgem vários convites para outras apresentações dentro e fora da escola. Os grupos de teatro do CEI já se apresentaram no Teatro Alberto Maranhão, no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto, na Casa da Ribeira, na UnP etc. Além disso, ganharam vários prêmios no Festival de Teatro da Petrobrás.
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PALAVRA DE PAIS
Aluno do CEI visita Estúdios
Maurício de Sousa Romana Alves Xavier
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apa, doze de julho de 2012. Era uma tarde de quinta-feira, mais um típico dia de chuva na cidade de São Paulo. Podia até parecer, mas aquele não era um dia comum, especialmente para Fernando Alves Xavier, aluno do CEI, aniversariante, que aguardava ansiosamente na recepção o início da visita aos Estúdios Maurício de Sousa, autor estudado no 1º ano do Fundamental, do qual é aluno. Para Fernando, não poderia haver melhor presente de aniversário, ele simplesmente adora os gibis da turma da Mônica! Estudar o autor e sua obra fez com que ele mergulhasse no mundo dos quadrinhos e aumentasse o interesse pela leitura, de uma forma impressionante. Ver de perto como se fabrica todos esses sonhos e conhecer o próprio Maurício foi realmente mágico, até para mim, que tendo passado a infância entre gibis da Turma da Mônica, encontrava-me naquela visita aos Estúdios, em companhia dos meus dois filhos e marido. E assim, adentrando no universo lúdico dos quadrinhos, Fernando conheceu todo o processo de fabricação dos roteiros, acompanhando passo a passo a produção das famosas revistinhas que habitam o imaginário infantil de muitas gerações. “Bem, gente, tudo começa por aqui. Nós criamos o roteiro. O roteirista não precisa ser desenhista, fazemos apenas traços na realidade. Todos os roteiros vão para apreciação do próprio Maurício. Somos cerca de 20 roteiristas e produzimos em média, 1200 histórias por mês. Depois do visto do Maurício, que faz questão de acompanhar tudo de pertinho, os roteiros são passados aos desenhistas que vão efetivamente desenhar e aí tudo passa também pelo letrista que põe as letras nos balões, pelo colorista que coloca as cores e seus diversos tons e por último, chega ao arte-finalista que dá todo o acabamento, para que o desenho não saia do padrão do
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personagem. Trabalhamos assim, até chegarmos ao produto final, e fazemos os gibis com uma média de 3 meses de antecedência”, explicava Robson Barreto, roteirista que trabalha nos Estúdios há mais de 20 anos. Nas mãos do desenhista, o roteiro ganha vida e as histórias saltam do papel. Mas, dos primeiros traços até a finalização, há um longo caminho a ser percorrido. “Aqui, começamos a ilustração. É importante saber desenhar as formas básicas: triângulo, círculo, retângulo, quadrado, porque a partir delas, fazemos todos os elementos: boca, nariz, cabeça e o que mais precisar”, nos dizia o profissional. Após passear pelo estúdio e conhecer todo o processo, Fernando conheceu o setor responsável por produzir a Turma da Mônica jovem, um segmento que já é produzido integralmente com recursos digitais. Conhecemos também o setor de marketing e de publicidade da empresa, que mesmo quando trabalha em parceria com outras empresas voltadas ao público infantil, desenvolve seus próprios produtos como embalagem, folders, banners e o planejamento do evento. Após conhecermos as instalações e nos encantarmos com a rotina lúdica da equipe de profissionais talentosos, fomos visitar a sala mais cobiçada de todas: o local de trabalho do autor Maurício de Sousa. Lá, pudemos conhecê-lo e também sua filha, Mônica de Sousa, fonte de inspiração para a famosa personagem. Fernando mal podia acreditar. Conhecer o Maurício e a Mônica, e além de tudo perceber o quanto são adoráveis e simpáticos, foi indescritível para todos nós. Fernando queria muito que Maurício soubesse do seu aniversário, mas estava com vergonha de dizer. Então, nós contamos ao autor, que o parabenizou e desenhou para ele o Bidu. “Fernando adora o Bidu, principalmente depois que aprendeu na escola que foi o primeiro personagem criado pelo autor”, ressalta Ricardo Xavier, pai de Fernando.
Prezados Pais, Seu filho agora dá os primeiros passos para ser uma criança bilíngue. E vocês, como responsáveis, não podem ficar de fora desse novo mundo. Por isso, o Learning Fun disponibiliza a vocês, no site www.learningfun.com.br, todas as informações sobre o ensino bilíngue, sugestões de jogos educaƟvos para seu filho, sites interessantes para crianças e pais e músicas uƟlizadas no processo de aprendizagem para reforçar a memorização e a pronúncia da criança. Ao se cadastrar no site, vocês podem fazer o download do Manual dos Pais da Educação Bilíngue, comparƟlhar os trabalhos do seu filho, receber a newsleƩer e acompanhar todas as novidades do Learning Fun e do bilinguismo.
INGLÊS PARA CRIANÇAS
André Cunha, Eduardo Filho, Ian Gusmão, Marcela Sá, Tais Rodrigues e Virginia Mota 9º ano do Ensino Fundamental II
Matheus Lyra 9º ano do Ensino Fundamental II
Carolina Barbosa Rosa 9º ano do Ensino Fundamental II
José Victor Hazin 9º ano do Ensino Fundamental II