Folha Sertaneja - 172

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O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO Criado em 18/02/2004 • Fundador: Antônio Galdino Paulo Afonso-BA • Edição de Janeiro de 2019 • Ano XIV • Número 179

"Até aqui nos ajudou o Senhor" (I Sm 7:12)

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Nota da Chesf sobre o fechamento do Hospital em Paulo Afonso agita políticos e moradores da região trução de usinas hidrelétricas e barragens na região, há 70 anos, comunica à Prefeitura de Paulo Afonso a redução de vários serviços e o posterior fechamento definitivo do Hospital Nair Alves de Sousa, “em dezembro de 2020, com ou sem a transferência definitiva do HNAS para a UNIVASF, a Chesf se retirará da operação e da gestão do HNAS”. E este Hospital durante muitas décadas foi considerado referência em urgência e emergência na região e atende a milhares de moradores de cerca de 25 municípios desses quatro estados da federação brasileira.

Foto: Antônio Galdino

Uma carta da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf – datada do dia 02 de Janeiro de 2019, assinada pelo Sr. Adriano Soares da Costa, Diretor de Gestão Corporativa desta empresa, dirigida ao Prefeito Luiz Barbosa de Deus, do município de Paulo Afonso apareceu nas redes sociais em meados desse mês de Janeiro e provocou o maior reboliço na região, assanhando políticos e moradores de municípios dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Nesta carta o diretor da Chesf comunica que o Hospital Nair Alves de Souza, criado e mantido pela empresa hidrelétrica federal desde o início de suas obras de cons-

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Há três anos, uma dessas barragens de rejeitos, também em Minas, em Mariana, assombrou o mundo quando os mais de 50 milhões de toneladas de rejeitos invadiram vilas, mataram pessoas, chegaram aos rios que são a razão da vida na região e ao mar. Uma tragédia muito lamentada pelo mundo a fora. Lamentada. Só isso. Ainda hoje, mais de três anos depois, famílias vivem de favor em casas de parentes ou recebendo um aluguel social – até quando? – da poderosa empresa mineradora Vale do Rio Doce e suas subsidiárias.

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Foto: Corpo de Bombeiros/MG

As barragens de rejeitos de minérios em Minas Gerais João de Souza Lima preocupam os ribeirinhos do rio São Francisco faz palestra sobre o cangaço em São Paulo

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Morre aos 79 anos, Abel Barbosa Lima, que foi barbeiro do Rei Pelé, em Santos Página 9


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Paulo Afonso - BA • Edição de Janeiro • Ano XIV • Número 179

EDITORIAL

Rompimento de barragem em Brumadinho

O Hospital e o rio. Duas urgências, urgentíssimas!

Algumas matérias que chegam ao Congresso Nacional, às Assembleias Legislativas e às Câmaras Municipais se revestem de tanta urgência e importância na sua análise pelos parlamentares que chegam com o carimbo e a recomendação de “urgência, urgentíssima”. Pois era assim que deveriam ser tratadas, pelas instâncias que realmente têm o poder de resolver, as questões que se apresentaram para os pauloafonsinos e para os brasileiros nesse agitado mês de Janeiro, o primeiro mês de 2019: O Hospital Nair Alves de Souza e o Rio São Francisco. No começo do mês, a falta de diálogo civilizado entre a Chesf e a Prefeitura de Paulo Afonso resultou na emissão de uma carta do diretor de Gestão Corporativa da Chesf, Adriano Soares da Costa destinada ao prefeito de Paulo Afonso, Luiz Barbosa de Deus, dando conta que a Chesf estava reduzindo alguns serviços do Hospital Nair Alves de Sousa, extinguindo outros e anunciando que “em dezembro de 2020, com ou sem a transferência definitiva do HNAS para a UNIVASF, a Chesf se retirará da operação e da gestão do HNAS”. A carta, datada de 2 de Janeiro de 2019, vazada para as redes sociais e a imprensa local, provocou grande agito nas comunidades ribeirinhas do São Francisco em dezenas de municípios dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, todos com suas populações atendidas há dezenas de anos pelo SUS nas dependências do Hospital Nair Alves de Souza, criado pela Chesf, ainda em 1949 para atender aos seus trabalhadores empenhados em construir a sua primeira usina hidrelétrica. A Chesf é uma empresa de economia mista com mais de 99% de suas ações controladas pelo governo federal, portanto, uma empresa federal e a região onde hoje moram mais de 500 mil pessoas é carente, desde sempre, de serviços na área da saúde, uma responsabilidade do governo federal. Tudo funcionava muito bem, a Chesf dizendo aos quatro ventos das suas ações sociais na região e o HNAS era a última fronteira, pois a hidrelétrica, por determinação dos governos dos presidentes Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, desde o ano de 1996 vem sendo proibida de exercer essa sua “fun-

ção social” e a empresa, pressionada por Decretos Federais, já havia acabado com o zoológico (importante para o turismo local) e todas as escolas da empresa, consideradas modelo em educação em todo o Nordeste. A Chesf teria que cuidar apenas da produção, transmissão e comercialização de energia hidroelétrica de suas usinas instaladas ao longo do rio São Francisco, de Sobradinho até Xingó, como se, por trás da operação destas grandes usinas, dos botões e teclados, não existissem seres humanos, operando os sistemas. Na pressão para se desfazer de tudo que não fosse gerar energia, restava o HNAS, cujo processo de transferência para órgão federal apropriado vem se arrastando há muitos anos. Para a manutenção da vida das pessoas, faltou ao governo federal adotar a condição de ação “urgente, urgentíssima”. Ao contrário, decide-se, com uma canetada de um diretor de estatal, mostrar-se a que ponto chegou a insensibilidade de alguns e fechar o Hospital da Chesf em Paulo Afonso. Simples assim, como se gente não valesse nada... Outro fato que vem assombrando os moradores da região de Paulo Afonso e milhões de outros moradores ribeirinhos do rio São Francisco é o descaso, o tratamento apenas interesseiro em altos lucros dos exploradores das muitas minas do Estado de Minas Gerais, onde também nasce o rio São Francisco. O estouro da Barragem de rejeitos de Mariana e agora de Brumadinho e a existência de muitas outras com este mesmo risco podem acabar com a vida de muitos rios como já aconteceu com o rio Doce, agora o Paraopeba com o agravante de que estas águas contaminadas e a lama podre e cheia de metais pesados podem chegar ao rio São Francisco, o “rio da unidade nacional”. E nas margens deste grande rio, tão sofrido e abandonado, cujos projetos de revitalização vêm se arrastando há dezenas de anos, sem ação efetiva do governo federal, vivem milhões de pessoas, tribos indígenas que têm no rio o seu sustento, mais de quinhentas povoações desde pequenos povoados a grandes metrópoles, centenas, milhares de grandes projetos de irrigação, grandes reservatórios que permitem a produção de energia hidroelétrica para abastecer todo

EXPEDIENTE Rua da Concórdia, 555-B - Gal. Dutra - Chesf Tel/fax: (75) 3282.0046 - CEP: 48607-240 Paulo Afonso - Bahia E-mail: professor.gal@gmail.com

O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO

Acesse nosso site: www.folhasertaneja.com.br Diretor Antônio Galdino Secretário de Redação Ricardo da Costa

Os textos assinados não representam necessariamente a opinião do jornal, sendo da responsabilidade dos seus autores.

Colaboradores desta edição Francisco Nery Júnior, Edson Lucena, Vitor Batista dos Santos, Juliana Ribeiro dos Santos Costa, João de Sousa Lima e Valdomiro Nascimento

Diagramação Admilson Gomes Fotos Antônio Galdino e Lucas Hallel Impressão Editora Fonte Viva

o Nordeste, pela grande empresa Chesf, a mesma que quer fechar o Hospital de Paulo Afonso. Até quando os milhões de brasileiros nordestinos vão ficar à mercê dos interesses de riqueza das grandes empresas, de políticos corruptos, de gestores municipais, estaduais, federais que privilegiam o interesse político partidário às necessidades de vida com qualidade de milhões de pessoas. Porque, há dezenas de anos se arrasta a situação do Hospital mantido pela Chesf em Paulo Afonso e o governo federal, nesses anos todos, não agilizou para que ele fosse logo transferido para a UNIVASF, como Hospital Universitário e venha atender, como instituição federal, a todos os moradores dos estados desta federação brasileira nesta sofrida região Nordeste? Até quando os moradores de Paulo Afonso, onde está o Hospital Nair Alves de Souza e cuja região cresceu pela grandeza do rio São Francisco, vai ouvir discursos vazios, falsos, promessas nunca cumpridas de políticos, estaduais, federais, até ministros que a cada quatro anos, como nas copas do mundo do futebol, voltam para abraçar crianças sujinhas, tomar um gole de cachaça nos botecos e enganar mais uma vez a população esperançosa de dias melhores? Cuidar que as pessoas tenham o acesso à saúde, adotar medidas de revitalização do rio São Francisco, tão explorado e maltratado ao longo de sua caminhada desde Minas Gerais, estas, senhores parlamentares, governadores, senhores ministros da República Federativa do Brasil, estas sim, são questões urgentes, urgentíssimas que a população da região e ao longo do rio, milhões de pessoas, exigem solução imediata. O mais, senhores, reuniões vazias, discursos inúteis e cheios de promessas falsas e mentirosas, disso o povo já está cansado e, com certeza, as suas ações estarão sendo observadas com muito rigor e nas próximas eleições, em todos os níveis, o voto desse povo será o aplauso ou a condenação dos futuros candidatos. Salvar o Hospital Nair Alves de Sousa e salvar o rio São Francisco, são projetos da maior urgência, de “urgência, urgentíssima”. Senhores, o povo tem pressa! O tempo é agora!

Francisco Nery Júnior Três anos pós o rompimento da barragem de rejeitos da Vale do Rio Doce em Mariana, novo rompimento em Brumadinho, também em Minas Gerais. Sete cadáveres encontrados até agora, cerca de duzentos desaparecidos e prejuízos incalculáveis. Estamos falando da Vale do Rio Doce, a terceira maior mineradora do mundo. O leitor deve estar acompanhando a cobertura da imprensa, competente e precisa, desta tragédia que indiscutivelmente compromete, mais uma vez, a imagem do Brasil no mundo globalizado; tragédia que não poderia ter acontecido [de novo]. O senhor presidente da Vale afirma ter o comprovante que a barragem foi vistoriada por uma empresa alemã especializada há menos de um mês, embora estivesse desativada há três anos o que nos autoriza a desconfiar de sabotagem. Tomando como certo que o presidente fala a verdade, desconfiamos de sabotagem. Desta vez, a preocupação para nós de Paulo Afonso é maior. Os rejeitos desembocaram em um afluente do São Francisco cuja água bebemos. Dentro de cerca de um mês, alguma coisa do lixo de minério da Vale deverá estar chegando por aqui. Não pretendemos discutir com o leitor por que cargas d’água várias barragens de rejeito, repletas de poluentes vários, situadas a montante de vilas e cidades, não são construídas e inspecionadas seguindo as mesmas regras de segurança das barragens das nossas hidrelétricas.

Mas, nós em Paulo Afonso, podemos pensar que lições poderemos aprender com o descaso inconcebível com a vida e a tradição; patrimônio e esforço daquelas populações. Poderíamos questionar, por exemplo, as inspeções periódicas das nossas barragens pela Chesf. Confiamos nos técnicos da empresa. Gostaríamos apenas de saber se essas inspeções estão sendo feitas com o devido rigor. Por outro lado, que situações potencialmente perigosas poderiam ser evitadas? Enquanto não tivermos uma ponte urbana, a proteção lateral da ponte do canal, ponte rodoviária, não deveria ser elevada? Considerando que o tronco é mais pesado que as pernas, uma pessoa que receba um “tombo” para o lado fatalmente não cairia no canal? E a proteção logo acima da estação rodoviária? Uma carreta desgovernada seria retida ou passaria por cima arrasando com tudo e todos à frente como a lama da Vale? Parece também justificável a nossa preocupação com a ponte metálica entre Bahia e Alagoas. Como estão sendo feitas a inspeção e a manutenção? A concepção da década de quarenta suportaria sem preocupação o peso de carretas cada vez mais possantes? Paramos por aqui. O leitor certamente vai levantar nos comentários mais alguns pontos ou situações perigosas na nossa região. Estamos certos que as nossas autoridades estarão prontas para a devida análise e providências necessárias.

Quando será que Paulo Afonso vai deixar de viver à sombra da Chesf e da Prefeitura? Edson Lucena Quando será que Paulo Afonso vai deixar de viver à sombra da Chesf e da Prefeitura? Somos fronteira entre quatro estados, e com todo potencial a ser explorado, não produzimos nada em escala industrial! Não tem um centro de distribuição de absolutamente nada! Falta articulação política. De nada serve uma secretaria com dez mil nomenclaturas, mas que só serve para fazer o óbvio, e ainda assim sem qualidade técnica. "Turismo, Indústria e Comércio". É muita firula, pois dos três itens da pasta, dois não existem e um depende de pagamentos da PMPA, INSS e Zona Rural. Não existe oxigênio. Fora isso, somos famosos pelas cachoeiras que não mais existem, pelo bondinho que não mais funciona, e pelas "belezas naturais" que foram construídas pelo homem. Somos uma farsa? Somos reféns das tetas dos royalties? Não temos capacidade para empreender fora da caixa? Precisamos incentivar a vinda de indústrias para a nossa cidade. Podemos produzir e distribuir, e esses dois, juntos, não é para qualquer lugar. Como pode uma cidade com tanto potencial - pelo menos a síndrome deste existe - não fazer nada? Como pode a cidade, em grande parte, viver às custas da Prefeitura, com grande parcela da população pendurada nos cabides do executivo e do legislativo? O comércio precisa pulsar. A cidade precisa de novos ares, de novos horizontes, de novas e variadas receitas. É inaceitável que grande parte da população fique à mercê da vontade

política do grupo A ou B, grupos esses que só querem "alimentar" os seus, e sobrando migalhas, jogam para os pombos famintos. Precisamos produzir, precisamos fazer a economia girar sem que para isso a prefeitura esteja presente diretamente na condição de "mamãe". Paulo Afonso é uma cidade MUITO jovem. E com muito menos de uma década de vida, evoluiu acima da média da maioria dos interiores de mesmo porte. O problema é que esse bum foi proporcionado pela "mamãe Chesf", e essa já fechou as torneiras há muito tempo, e com esse fechamento, estagnou. É hora de declarar independência, de se mostrar capaz, de sair da sombra do fantasma do "potencial", e fazer, de fato, acontecer. Para o turismo, temos tudo para sermos referência, o maior polo da região. Nos falta gestão pública e vontade/coragem do privado. Como pode, Paulo Afonso, ser dormitório de quem vai fazer turismo em Canindé? Pior que isso é a nossa cidade ficar vendendo passeios para todas essas cidades vizinhas, simplesmente por falta de opção para os turistas dentro da nossa casa. Para a produção de alimentos, principalmente frutas, temos grande potencial, mas sempre foi preferível deixar toda essa riqueza de terra e água, somente para a diversão de meia dúzia que desfilam suas lanchas, e constroem suas casas em áreas da Marinha. Potencial é uma palavra que define Paulo Afonso. Mediocridade é uma palavra que define a realidade do que é feito para se aproveitar esse potencial. (Edson Lucena é empresário em Paulo Afonso)


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Fotos: Antônio Galdino

Nota da Chesf sobre o fechamento do Hospital em Paulo Afonso agita políticos e moradores da região

Uma carta da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf – datata do dia 02 de Janeiro de 2019, assinada pelo Sr. Adriano Soares da Costa, Diretor de Gestão Corporativa desta empresa, dirigida ao Prefeito Luiz Barbosa de Deus, do município de Paulo Afonso apareceu nas redes sociais em meados desse mês de Janeiro e provocou o maior reboliço na região, assanhando políticos e moradores de municípios dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco.

Nesta carta o diretor da Chesf comunica que o Hospital Nair Alves de Souza, criado e mantido pela empresa hidrelétrica federal desde o início de suas obras de construção de usinas hidrelétricas e barragens na região, há 70 anos, comunica à Prefeitura de Paulo Afonso a redução de vários serviços e o posterior fechamento definitivo do Hospital Nair Alves de Sousa, “em dezembro de 2020, com ou sem a transferência definitiva do HNAS para a UNIVASF, a Chesf se retirará da operação e da gestão do HNAS”.

E este Hospital durante muitas décadas foi considerado referência em urgência e emergência na região e atende a milhares de moradores de cerca de 25 municípios desses quatro estados da federação brasileira. As medidas de restrições de serviços prestados pelo HNAS começam imediatamente como se pode ver nos itens abaixo elencados na carta dirigida à Prefeitura de Paulo Afonso, onde se lê: a) “Não serão mais realizadas cirurgias eletivas no âmbito do HNAS; b) A partir de 01/03/2019, a urgência do HNAS estará aberta apenas no horário das 07h. às 19h.; c) A partir de 01/03/2019 não haverá atendimento de ortopedia e o número de postos médicos obstetras urgentistas será reduzido de 02(dois) para 01(um); d) No prazo de 06(seis) meses, o número de leitos do HNAS será reduzido em até 60% (sessenta por cento).

e) Em dezembro/ 2020, com ou sem a transferência definitiva do HNAS para a UNIVASF, a Chesf se retirará da operação e gestão do Hospital.” O diretor da Chesf diz também que as medidas tomadas foram “recomendações do Comitê de Auditoria e Riscos da Eletrobrás – CAE”. A carta aparece logo após a diretoria da Chesf ter tomado a decisão de transferir a gestão do Hospital Nair Alves de Souza diretamente para o controle da sede da hidrelétrica, no Recife, retirando essa responsabilidade do Departamento de Gestão Regional, antiga APA, existente em Paulo Afonso. Como justificativa pela redução e extinção dos serviços de saúde no único hospital de uma empresa federal nesta região tão carente, a Chesf diz em sua carta que: “Embora serviços de saúde não integrem o objeto social da Chesf, a Companhia vem sendo substancialmente onerada pelos custos

do HNAS, com cifras que se aproximam de R$50 milhões por ano, situação que se agrava com a inadimplência do Município de Paulo Afonso, o qual, mesmo recebendo as verbas do Ministério da Saúde destinadas ao HNAS, nas faz os repasses dos valores à Chesf”. No final da carta o diretor da Chesf diz “reitera ao Município de Paulo Afonso solicitação para que pague à Chesf o débito relacionado ao HNAS,

no valor de R$18.259.531,79 (dezoito milhões, duzentos e cinquenta e nove mil, quinhentos e trinta e um reais e setenta e nove centavos) – valor histórico líquido e com base dezembro/2018”. A Chesf enviou cópia desta carta para a SESAB (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia), MPBA (Ministério Público da Bahia), (MPF) Ministério Público Federal, Conselho Municipal de Saúde de Paulo Afonso e CREMEB.

O que a carta da Chesf apresenta é mais um capítulo de uma longa história que existe desde os primórdios da Chesf que criou o HNAS há 70 anos e o fato “dos serviços de saúde não estarem integrados ao objeto social da Chesf”, remonta a decisão do presidente Fernando Collor de Mello nos idos de 1996 e corroborada e ampliada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no final do século passado quando determinaram que a Chesf teria como atividade fim a geração, transmissão e comercialização de energia hidro elétrica, obrigando a empresa a realizar intensa atividade de desimobilização de uma série compromissos sociais que a Hidrelétrica do São Francisco assumiu com a região, como a extinção do zoológico (um atrativo ao turismo local), a desativação de todas as escolas e do Colégio Paulo Afonso – COLEPA – considerado modelo no Nordeste, que, junto com o Centro de Treinamento da Chesf, que recebia estudantes e engenheiros de toda a América Latina, formou grande parte da mão de obra especializada da própria Chesf e de muitas empresas do Brasil e da América Latina. Foi assim também com os clubes sociais e muitas outras atividades com as quais as comunidades da região contaram durante

dezenas de anos, dentre elas os serviços de saúde do Hospital Nair Alves de Souza, que há anos vem sendo reduzidos. Qualquer estudioso desta região há de concordar da importância da existência da Chesf desde os idos de 1949 promovendo mudanças radicais no cenário, na vida das pessoas, no desenvolvimento regional. A sua chegada ainda no final de 1948 transformou uma vasta região de caatinga com algumas casas esparsas, uma região conhecida como Forquilha, nas proximidades da grandiosa Cachoeira de Paulo Afonso em um município grande, hoje com mais de 120 mil habitantes. Mais que isso, a Chesf fez nascer muitos outros municípios na região e da primeira e pioneira Usina de Paulo Afonso, inaugurada pelo presidente João Café Filho justo no mês de janeiro de 1955, Paulo Afonso

possui hoje cinco grandes usinas hidrelétricas – Paulo Afonso 1, 2, 3, 4 e Apolônio Sales/ AL que, juntas e somadas com as usinas Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE e Xingó, em Canindé do São Francisco/ SE, todas do Complexo Paulo Afonso, são capazes de gerar mais de 84% de toda a energia de fonte hidráulica produzida pela Chesf.

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O que os últimos governos têm feito é tirar proveito da Chesf que se transformou em cabides de empregos para atender a grupos políticos da ocasião e a maior empresa do Nordeste, que trouxe tanto desenvolvimento à região e fez com que a sua história fosse contada em duas partes: o Nordeste ANTES e DEPOIS da Chesf, tem sido apequenada, desvalorizada para tristeza daqueles que a fizeram grande, que acreditavam nas palavras do seu presidente, o ex-ministro Antonio Ferreira de Oliveira Brito que dizia: “A Chesf não tem dono nem Senhor.” Há anos que se sabe que isso não é verdade. Cada governo que chega assume a paternidade da Chesf e faz com ela o que lhe dá na telha. Assim, livrou-se do zoológico porque a “atividade fim”

Fotos: Acervo Chesf

A história do Hospital da Chesf começou há 70 anos

da Chesf não permitiu contratar biólogos, veterinários e técnicos especializados nesta área, como exigia o Ibama. Extinguiu suas escolas modelos porque a “atividade fim” da Chesf não permitiu contratar professores e especialistas na área da educação. Há anos que se faz o mesmo com o Hospital, muitas vezes citado pelos gestores da Chesf como o foco da ação social da Chesf na Região. E como a “atividade fim” da Chesf não permitia a contratação de médicos, enfermeiros e profissionais na área da saúde, foi-se terceirizando alguma coisa, extinguindo-se um ou outro serviço porque os governos federais, a Chesf estatal, todos sabiam que a retirada desse “serviço social” da região seria ruim para a imagem dos governantes do país...

Casa O Ferrageiro nasceu em Santana do Ipanema/ AL em 1922 e desde os anos de 1970 sua filial de Paulo Afonso ajuda este município a crescer.

Ninguém será tão inocente que venha a acreditar que a decisão do diretor de Gestão da Chesf é uma decisão dele, pessoal, ou da diretoria da Chesf. A diretoria da Chesf, que é uma empresa de economia mista de que o governo federal possui mais de 99% de suas ações, tem seus diretores nomeados pelo governo por indicação de algum político e, neste caso específico, a carta do diretor de gestão da Chesf cumpriu “uma recomendação da Eletrobrás”. A carta, estranhamente apresentada no dia 2 de janeiro, depois de muitos dias de feriado de fim de ano, gerou muitos debates, levantamento de culpados, reuniões intermináveis, palavras destemperadas, mostrou políticos oportunistas, muitas ações locais e regionais, distantes do centro das decisões para um problema que se arrasta há dezenas de anos.


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Fotos: Antônio Galdino

A saúde em Paulo Afonso e região. UTI e promessas políticas

Ainda bem antes dos Decretos Nº 2.033, de 11/10/1996 e 2.527, de 23/03/1998, assinados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, reforçando decisão anterior do presidente Fernando Collor de Mello sobre o Plano de Desimobilização de Bens das empresas estatais – aqueles que foram criados para atender outras atividades das empresas, que não aquelas de sua “atividade fim”, já se falava e já se decidia retirar a Chesf do controle e gestão de muitas atividades. Anos antes desses decretos já se falava na mudança de gestão do hospital da Chesf para outros gestores, associações ou outros que não a Chesf, cujo foco era “gerar, transmitir e comercializar energia hidro elétrica”, como se por trás de botões, operação de máquinas, dos computadores, dos sistemas, não existissem homens com as necessidades sociais para se manterem produtivos e saudáveis. Quando a Chesf foi criada em Paulo Afonso existiam apenas alguns casebres es-

palhados pela caatinga e foi a presença da grande empresa construtora da primeira grande usina hidrelétrica no Nordeste que atraiu grande multidão que foi se arrumando como deu na região. De um lado da Barragem Delmiro Gouveia, nasceu, cresceu, agigantou-se a Vila Poty, nome herdado justamente dos milhares de sacos de cimento desta marca utilizados pela Chesf na grande obra. Do outro lado, em Alagoas, nasceu a Vila Zebu, outra marca de cimento também utilizado pela Chesf. A própria Chesf, pela necessidade de melhor acomodar seus trabalhadores, criou o Acampamento da Chesf, com toda a infraestrutura. Cerca de 2 mil residências, ruas pavimentadas, hospital, clubes sociais, cooperativa e escolas, muitas escolas, um grande ginásio, tudo tão moderno que ficou conhecida como Cidade da Chesf. E tão importante e grandiosa foi a intervenção da Chesf na região que a Vila Poty, em 1953, transformou-se em Dis-

trito de Glória e cinco anos depois, em 1958 emancipou-se, transformou-se no município de Paulo Afonso, que já nascia com uma população de mais de 25 mil habitantes. E continuou crescendo, contrariando estudiosos que mostram que, concluídos os trabalhos de grandes obras a tendência é que esses povoamentos se esvaziem e se transformem em cidades fantasmas, de poucos moradores e muitos prédios destruídos e abandonados... Paulo Afonso não foi assim porque as obras da hidrelétrica do São Francisco na região, desde a Usina de Paulo Afonso (iniciada em 1948) à Usina Hidrelétrica de Xingó (inaugurada em 1995) foram quase 50 anos de obras continuadas, fixando as populações na região. E, por todo esse tempo, o Hospital Nair Alves de Souza, da Chesf, foi o suporte para atendimento à saúde dos moradores de toda esta região, muitas vezes aumentados nesses 50 anos de obras. E o Hospital da Chesf, bandeira social levantada aos quatro ventos pela empresa, passou a receber pressões cada vez maiores para sair da gestão da Chesf. O mês de janeiro tem sido marcante nas decisões que envolvem a Chesf na região. Foi em 15 de Janeiro de 1955 que a hidrelétrica inaugurou a Usina Paulo Afonso. A carta do diretor de gestão da Chesf endereçada à prefeitura e muitos outros órgãos, é data-

da de 02 de Janeiro de 2019 e foi também no dia 04 de Janeiro de 2010 que aconteceu uma das maiores, talvez a maior reunião com participação de políticos, representantes da Chesf e da região realizada em Paulo Afonso para se discutir a transferência do Hospital da Chesf para o Governo do Estado da Bahia. Foi no Memorial Chesf Paulo Afonso e ali estavam diretores da Chesf, secretário de saúde do governo da Bahia, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos da região, vereadores. Foram horas de discursos, alguns bem inflamados, encaminhamentos, tenho dito e datas vênias. Há exatos 9 anos... Ali se prometia o céu e muito mais. Melhorias no atendimento à saúde, criação de UTI com dezenas de leitos.

Caires e o então seu secretário de Saúde do Estado da Bahia, Jorge Solla, que logo foi para o Congresso Nacional, e distribuiu as tarefas de cada um: “Gilberto, a Chesf prepara as instalações no HNAS; Jorge, o governo do Estado dá os equipamentos e, Raimundo, a Prefeitura contrata o pessoal. E abriu os pulmões para completar: ‘E daqui a sessenta dias eu volto aqui para inaugurar a UTI no Hospital da Chesf”. A fala empolgada do governador virou anedota... O outro governador da Bahia, agora reeleito, bradou aos quatro ventos que a “história da criação da UTI pela UNIVASF tá demorando tanto que mais parece novela mexicana”. É que há anos que vinha sendo anunciada a construção de 30 leitos de UTI, no HNAS, promessa feita ainda com mais ênfase nos períodos de campanhas para as eleições. Então, no calor da campanha para a sua reeleição, Rui Costa anunciou a construção de uma UTI menor, de 10 lei-

tos, no Hospital Municipal de Paulo Afonso, no Bairro Tancredo Neves e ainda uma Policlínica Regional, também no BTN. As duas obras estão em construção, ainda sem data de conclusão e inauguração, anunciadas para “este primeiro semestre de 2019”, conforme nota da Secretaria de Saúde da Bahia que anuncia para 1º de Fevereiro edital para concurso para preenchimento de vagas na Policlínica Regional de Paulo Afonso. Eis que, bem antes destes benefícios serem concluídos e entregues para serem utilizadas por uma população regional de mais de 500 mil habitantes de quatro Estados – Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, a prefeitura de Paulo Afonso, cuja população já passa de 120 mil habitantes, recebe a informação do Sr. Adriano Soares da Costa, Diretor de Gestão Corporativa da Chesf que “passando ou não para a UNIVASF, a Chesf se retirará da operação e da gestão do HNAS”.

Outras promessas ainda mais contundentes, em cima dos palanques nas campanhas eleitorais, novamente enganaram os sonhadores sertanejos. Em comício em Paulo Afonso, ao lado da Colégio Montessori o então governador da Bahia, Jaques Wagner, hoje senador da República, chamou ao palco o então Administrador da Chesf, Gilberto Pedrosa, o prefeito Raimundo

Reunião na Câmara de Paulo Afonso. E na Câmara de Glória

tra a posição da Chesf, sob a alegação que a Chesf estava descumprindo O Termo de Compromisso 01/2015, firmado entre a empresa, o governo da Bahia, a Prefeitura de Paulo Afonso, a Univasf, a EBSERH. “Esse Termo de Compromisso foi renovado em meados de julho de 2018, com a participação e a chancela do Ministério Público Federal, além da Prefeitura

De Paulo Afonso, UNIVASF, Estado da Bahia, e CHESF”, segundo informa, Flávio Henrique, o vice-prefeito de Paulo Afonso. Foram muitos discursos, alguns muito inflamados onde estavam palavras como “irresponsável”, “destrambelhado” e outras sobre a carta enviada à Prefeitura. A Chesf não esteve presente nem representada nesta reunião que

teve como mérito marcar território, posições de políticos presentes. Em seu discurso, o prefeito de Paulo Afonso, Luiz Barbosa de Deus, foi muito duro com a diretoria da Chesf e atribuiu as medidas tomadas pela Chesf como uma retaliação ao débito de 18 milhões que a Chesf alega que a Prefeitura tem com a hidrelétrica por serviços prestados pelo HNAS. O prefeito, confirmando o que já disseram o seu procurador geral, Igor Montalvão, rebate que “se a Prefeitura deve à Chesf eu pago amanhã. Mas, na verdade o devedor nesse caso é a Chesf que deve à Prefeitura de Paulo Afonso valor de mais de 56 milhões de reais. Ou seja, o crédito a favor da Prefeitura é de 38 milhões de reais”. Luiz de Deus também in-

formou que “o citado valor apresentado pela Chesf como débito da Prefeitura estava em negociação com a Chesf, com a diretoria anterior, num encontro de contas”. A mudança do foco da reunião da Câmara levantou questionamentos outros e as pendências financeiras tendem a ser tratadas na esfera jurídica. O presidente da Câmara Municipal de Paulo Afonso Pedro Macário Neto relembrou importantes discussões que tiveram iniciativa dentro da câmara de vereadores e que hoje beneficiam não só a cidade de Paulo Afonso, mas também toda a região, como a manutenção da 1ª Companhia de Infantaria, a recuperação da BA-110 e agora o impasse entre a CHESF e o HNAS. Macário afirmou que durante os próximos dois anos

irá trabalhar para levar ao conhecimento de todos, os inúmeros trabalhos que o Legislativo vem fazendo. “Temos que levar ao conhecimento da população o que está sendo feito na câmara de Vereadores. Disse ainda que pretende manter a boa relação com o Executivo. “A Câmara é um poder independente, tem sua autonomia e vamos trabalhar de forma árdua para conseguirmos tudo que for de melhor para a cidade. Vamos continuar dialogando com a prefeitura. A câmara precisa, e vai estar presente em todos os lugares e discussões importantes para o município de Paulo Afonso”. Também a Câmara de Glória realizou, no dia seguinte, 25 de Janeiro, Sessão Extraordinária sobre o mesmo tema.

Fotos: Antônio Galdino

O vereador de Paulo Afonso, Marconi Daniel teve a iniciativa de solicitar ao presidente da CMPA vereador Pedro Macário a convocação de reunião extraordinária desta Câmara Municipal para discutir a situação. A reunião da Câmara de Paulo Afonso foi realizada no dia 24 de Janeiro, foi muito concorrida, com grande público, o que fez com que a direção da Câmara mandasse instalar um telão na área externa para acomodar parte do povo. Ali estavam, além dos vereadores de Paulo Afonso, outros vereadores da região, do Município de Glória, Jeremoabo e os prefeitos de Paulo Afonso, Santa Brígida, Rodelas e Glória, representantes de instituições de saúde. Todos fizeram discursos con-


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Outra reunião. Da CIR. E a posição do Ministério Público Federal A carta da Chesf à Prefeitura teve outros desdobramentos a nível local e regional

a decisão anunciada de forma unilateral, sem consultar os entes envolvidos, a Chesf descumpre acordo iniciado em 2015 e firmado em agosto de 2018, com a participação dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, Governo da Bahia, Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, UNIVASF e EBSERH, através do qual a unidade seria federalizada

e transferida para gestão universitária, após investimentos de R$ 45 milhões na reforma e ampliação da unidade”. A Sesab agendou reunião

em Paulo Afonso, dia 29 de Janeiro com os membros da Comissão Intergestores Regionais (CIR) com a presença do Ministério Público e representações dos entes envolvidos, a fim de reverter esta decisão”. Além de Paulo Afonso, os municípios pactuados são: Glória, Rodelas, Abaré, Macururé, Chorrochó, Santa Brígida, Jeremoabo e Pedro Alexandre. Segundo Ivaldo Sales Júnior, Secretário Municipal de Saúde de Paulo Afonso, “na reunião do CIR era prevista a presença, além dos oito municípios pactuados, os representante da SESAB, do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal, Conselho Municipal de Saúde, da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), da Empresa Brasileira de Ser-

blico Federal, Dr. Fernando, informou que o MPF estaria encaminhando documento à Chesf para que a empresa respondesse, em 10 dias, os questionamentos levantados, especialmente o descumprimento do Termo de Compromisso firmado entre vários órgãos sobre a transferência do HNAS para a Univasf onde funcionaria como Hospital Universitário, com leitos de UTI para atender também à população regional. A informação que chega é que até o dia 06 de Fevereiro a Chesf deve se pronunciar sobre o assunto.

viços Hospitalares (Ebserh), entre outros.” “Nosso objetivo é reunir o maior número de entidades possíveis para que possamos debater essa decisão unilateral da Chesf e reverter essa situação. A medida descumpre tudo aquilo que foi acordado desde 2015 e seguia ainda em 2018, inclusive com Termo de Compromisso formal, onde a Chesf se compromete em investir cerca de R$ 45 milhões na reforma e melhorias no HNAS, incluindo a implantação dos 30 leitos de UTI. Após esses investimentos, o termo assinado ainda prevê o repasse do Nair para a Univasf, que será gerido pela Ebserh. Essas reformas deveriam ser realizadas até dezembro de 2020”. Nesta reunião, realizada no antigo prédio da DIRES em Paulo Afonso, o promotor representante do Ministério Pú-

Fotos: ASCOM/PMPA

Enviada com cópia para a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – SESAB, o órgão estadual também entrou na conversa. Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), falou sobre o anúncio da Chesf. “A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) foi surpreendida pelo anúncio da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) de suspender a realização de atendimentos no Hospital Nair Alves de Souza (HNAS), na cidade de Paulo Afonso (BA). A unidade hospitalar, que vem sendo mantida por meio de convênio entre a Chesf e a Prefeitura de Paulo Afonso desde a sua fundação, configura-se hoje como o principal equipamento hospitalar da região, que abrange municípios da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Com

Todos sabem ou deviam saber que a Chesf construiu o seu hospital para atender, prioritariamente, às necessidades de atendimento aos seus empregados, a grande maioria deles trabalhando em condições sub-humanos, os “cassacos”, cavando túneis, sujeitos a acidentes constantes e prontamente atendidos neste hospital por médicos que têm histórias fantásticas como os Doutores Muccini, Militão, Teixeira, Edison Teixeira, Orlando (dentista) e muitos outros pioneiros que ainda era renomados professores de Ciências no Ginásio Paulo Afonso. Enfermeiros como Campelo, Hortêncio e muitos outros ficaram na história por sua dedicação nos trabalhos no Nair Alves de Souza. Há um caso que circulou por muito tempo na Chesf de um atendimento feito por Dr. Muccini, que faleceu há poucos anos atrás, aos 94 anos de idade. Certa vez chegou ao hospital um operário com um vergalhão enterrado na cabeça, parecendo uma grande antena. Dr. Muccini teria aberto o crânio do operário com uma furadeira, retirou o vergalhão e o homem sobreviveu. O Hospital é responsável por muitos milhares de nascimentos de cidadãos de Paulo Afonso e moradores de outros estados

vizinhos. Certamente que a maioria dos funcionários da Chesf das gerações posteriores aos pioneiros construtores das primeiras usinas hidrelétricas nasceram na maternidade da Chesf. Entre os mais recentes estão o Deputado Federal Mário Júnior e o Deputado Estadual Paulo Rangel, para citar apenas alguns. O hospital da Chesf que era apenas um pequeno prédio com algumas poucas salas, cresceu à proporção que aumentou consideravelmente o número de empregados na obra da hidrelétrica. Houve um tempo em que eram mais de 11 mil empregados da Chesf. Depois vieram os terceirizados. O hospital da Chesf chegou a ter mais de 200 leitos. Depois, foi minguando. Reduziu-se o número de empregados. Foram oferecidos convênios na área de saúde e o hospital continuou a receber, agora numa proporção muitas vezes maior, o público externo da Chesf, do município de Paulo Afonso e de mais de 20 outros dos quatro estados vizinhos, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, atendidos pelo SUS, bancado pelo governo federal. Até que este governo federal, dono da Chesf, na gestão Collor de Mello, resolveu que não cabe à Chesf cuidar da saúde de ninguém e apenas e

tão somente, “gerar, transmitir e comercializar” a energia das águas do rio São Francisco através das muitas usinas construídas na região de onde poderia captar até mais de 80 por cento de sua hidro energia. E então, há mais de 20 anos, vem desimobilizando tudo o que não seja “gerar, transmitir e comercializar” energia hidro elétrica. E surgem as muitas perguntas que não querem calar. - Porque durante tantos anos e tantos governos federais não se conseguiu encontrar uma forma de livrar a Chesf, que é federal, dessa sua árdua tarefa de cuidar de vidas sem deixar o povo carente abandonado? - Porque vem se arrastando há tantos anos essa história da passagem do Hospital da Chesf para a UNIVASF, duas instituições federais? Não custa lembrar que em 14/03/2013, a Chesf entregou, em solenidade muito concorrida, com a presença de deputados e de representantes do governador da Bahia, prefeitos e lideranças políticas da região, um terreno de 100 mil metros quadrados para a UNIVASF construir o campus universitário de Paulo Afonso que, seis anos depois, o primeiro de três blocos ainda não foi concluído. E que a Chesf investiu na reforma de

vários pavilhões do Centro de Treinamento de Paulo Afonso, cerca de sete, cedidos à UNIVASF, para o funcionamento do Curso de Medicina desta Universidade Federal do Vale do São Francisco. - O que têm feito os deputados famosos, nascidos no HNAS, além de discursos e promessas para resolver essa pendenga da Chesf para o povo ficar feliz? - Porque um ex-Ministro da República, que tem casa na principal avenida de Paulo Afonso, quando esteve no cimo da glória, não colocou o seu peso político para que Paulo Afonso viesse a se tornar numa referência regional na área de saúde? - Porque os representantes políticos de Paulo Afonso e também aqueles de cidades

da região nos quatro estados, não uniram suas forças nas Assembleias Legislativas de seus Estados e na Câmara dos Deputados e no Senado Federal nesses anos todos, em benefício da saúde dos moradores da região? Foi necessário que a Chesf saísse com uma carta/bomba anunciando que não aguenta mais a pressão para se desfazer do seu hospital, nem os custos de manutenção de um serviço que o governo federal, dono da hidrelétrica vem dizendo, desde os anos de 1990 que ela, a Chesf, não pode fazer, para que o povo se assanhasse... Talvez se esta carta do diretor de Gestão da Chesf tivesse sido feita ainda no final do século passado e tivesse provocado o reboliço que fez agora, esse tema estaria esgotado desde então porque, com certeza, os poderosos daquele tempo, pressionados pelo povo, fariam com que a região de Paulo Afonso ostentasse, como o faz o hospital mantido pela Hidrelétrica de Itaipu, estranhamente, também mantido por uma estatal federal, binacional, de energia elétrica, os selos de excelência na qualidade de oferta de serviços à saúde dos moradores de toda a região. As centenas de milhares de moradores desta região nor-

destina não podem ficar sem assistência médica. Pergunta-se ainda: Qual o preço de uma vida humana? De um pioneiro que fez da Chesf uma gigante? Do trabalhador humilde que não tem a quem apelar para continuar vivo? De uma família que vive na área rural produzindo o alimento para nossas mesas? Qual é o preço de uma vida? Ora, parece óbvio que o Hospital que vem sendo mantido pela Chesf em Paulo Afonso, município do Estado da Bahia, há 70 anos, atende a uma população de territórios diversos da federação – os Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Também está claro que a Chesf, que é uma empresa do governo federal, foi impedida por esse governo de realizar atendimentos na área da saúde pois a sua atividade fim é “gerar, transmitir e comercializar energia hidro elétrica. Cabe então ao governo federal suprir os estados desta federação deste atendimento. Há um agravante sério se desenhando. Chega a notícia que a Fachesf, mantida pela Chesf, estará aumentando os seus planos de saúde em 25%, com acréscimo de mais 9% em alguns deles o que vai fazer com que muitos deixem esses planos porque não vão poder pagar e serão forçados a serem atendidos pelo SUS. E como será esse atendimento aos pioneiros, aos que fizeram a Chesf e hoje estão aposentados e morando em Paulo Afonso? - Se essa assistência médica não pode ser feita pela Chesf, será por quem? E quando isso será definido? - O que se está esperando? Que toda essa região de Paulo Afonso, que já exporta doente para tudo que é lugar e muitos morrem nas estradas, amplie seus cemitérios?

Fotos: Acervo Chesf

Foto: Antônio Galdino

O HNAS e algumas perguntas que exigem respostas urgentes


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Os impactos da carta Deputada Dayane Pimentel (PSL/BA) da Chesf à Prefeitura leva ao Ministro da Saúde o problema de Paulo Afonso do Hospital da Chesf em Paulo Afonso A iniciativa da Rádio Angiquinho muito positiva levou a população regional a se posicionar sobre o assunto. Outras rádios, jornais, sites, blogs da região também se comprometeram e o tema logo se espalhou. Como infelizmente acontece em momentos como este, sempre aparecem políticos querendo tirar proveito, prometendo soluções que não estão ao seu alcance e, pior, aproveitando-se de momento de fragilidade da população para aparecer como benfeitor e pior ainda buscando responsabilizar outros políticos, adversários pela situação criada. E, obviamente, que atitudes assim geram polêmicas e discussões. Os cuidados com o atendimento à saúde na região, com se viu, vêm sendo descuidados há muitos anos, como se a vida não merecesse mais respeito. Agora, centenas de milhares de pessoas querem ações definitivas e urgentes. Por que uma vida pode ser perdida em pouco tempo.

A direção do jornal Folha Sertaneja foi procurada pelo presidente do PSL, Roosevelt Carvalho e diretores do partido em Paulo Afonso na tarde do dia 1º de Fevereiro para informar sobre o contato da Deputada Dayane Pimentel, com o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta sobre o Hospital Nair Alves de Souza. Como já havia se colocado em entrevista na Rádio Angiquinho, Roosevelt Carvalho e Láercio Vaz, do diretório do PSL, externaram o seu descontentamento com a postura de alguns deputados do PT que quiseram atrelar a situação do HNAS ao governo do Presidente Bolsonaro. Ao jornal Folha Sertaneja, Roosevelt Carvalho falou; “É triste ver que em um momento destes, quando a população precisa de apoio para que o HNAS não deixe de funcionar, alguns deputados insistam nesse discurso vazio de palanque, querendo responsabilizar o presidenFoto: Kaká

O primeiro grande impacto foi o despertamento das comunidades da região para a perda da já precária qualidade de atendimento à saúde que vai alcançar mais de meio milhão de pessoas na região. Houve uma agitação grande entre os políticos, provocados pelos moradores. A Rádio Angiquinho, uma pequena emissora instalada no Distrito de Barragem Leste, no município de Delmiro Gouveia, que tem como diretor o pauloafonsino Giuliano Ribeiro, abriu seus microfones e criou um canal de comunicação chamado SOS Hospital Nair. Diariamente, centenas de pessoas deixam seus comentários, fazem cobranças aos políticos para que intercedam em favor da manutenção do HNAS. A Rádio ouviu o diretor da Chesf sobre a sua carta, deputados estaduais da Bahia, muitos vereadores, prefeitos da região e lideranças políticas.

te Bolsonaro por esta atitude da Chesf. A diretoria da Chesf que está aí ainda é a mesma mantida pelo PT e pelo MDB. E é muito estranho que esta carta data de 2 de Janeiro, um dia depois da posse do presidente Bolsonaro e no mesmo dia da posse do Ministro das Minas e Energia, com decisões tão fundamentadas, como a orientação da Eletrobrás, apareça com esta data, 2 de janeiro, depois de uma semana de feriados e recessos de fim de ano.” “De nossa parte, estamos em contato com a Deputada Federal da Bahia, Professora Dayane Pimentel para que este assunto seja avaliado em outras instâncias, a

nível federal e acabamos de receber um vídeo em que a Deputada Dayane leva o problema de Paulo Afonso, ainda durante a cerimônia de sua posse na Câmara Federal, ao Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandeta, em que tanto o Ministro como a Deputada se comprometem em encontrar a forma para que o Hospital da Chesf continue atendendo à população da região”. A deputada informou: "O ministro se comprometeu junto comigo a buscar entender o que está acontecendo

e buscar com as autoridades competentes solucionar o caso. A população de Paulo Afonso não pode ficar sem os serviços do HNAS" Palavras do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta: "Temos divisões de competências, mas a população não quer saber se é federal, estadual ou municipal. A população quer que o hospital seja ampliado e atenda bem. Juntamente com a professora Dayane, vamos ter uma reunião na semana que vem, com outros entes públicos para que a população de Paulo Afonso não seja prejudicada com a suspensão de serviços do hospital"

Camila Nairely, aluna egressa do Colégio Sete, entra para a Academia de Força Aérea Por Marcos Pinheiro | Comunicação Colégio Sete de Setembro www.colegiosete.com.br Hoje, o Colégio Sete de Setembro comemora junto com Camilla Nairely a sua aprovação na Academia de Força Aérea, da FAB - Força Aérea Brasileira. A paixão pela carreira militar motivou a jovem a buscar sua vaga através do concorrido concurso público.

A gratidão também não poderia ficar fora das suas palavras: “O Colégio Sete contribuiu imensamente para as bases que tenho hoje, principalmente nas matérias de exatas, que são muito cobradas nos concursos militares”.

Ao longo da sua caminhada, Camila E em meio à felicidade pela tão so- Nairely contou com o apoio e a torcinhada conquista, Camilla destacou o da dos amigos e de toda a sua família, imenso carinho que sente por toda a principalmente da sua mãe Kátia e dos Equipe Sete, em especial os professores seus tios, Joabson, Adriana, Márcia e Ícaro Varjão, Glória Aline, Isaac Vieira e Andrea. São para eles que ela dedica Osman Ramalho. o seu sucesso.


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A UNEB em Paulo Afonso, forma a primeira turma do Curso de Bacharelado em Arqueologia do Estado da Bahia Vitor Batista dos Santos Juliana Ribeiro dos Santos Costa O Curso de Bacharelado em Arqueologia da Universidade do Estado da Bahia, UNEB-Campus VIII, Paulo Afonso, se constitui como sendo a Primeira Turma de Arqueologia no Estado da Bahia. Neste texto, buscamos trazer à memória, os primórdios e algumas vivências, durante a trajetória da Primeira Turma do Curso de Bacharelado em Arqueologia do Estado da Bahia. O Curso de Bacharelado em Arqueologia da UNEB/ CAMPUS VIII surgiu a partir das inquietações da Profa. Dra. Cleonice Vergne, primeira e única arqueóloga até então na região, que junto com seus colaboradores e incentivadores iniciou a luta para que o Curso fosse implantado, tendo em vista a carência de profissionais da Arqueologia e a magnitude do Patrimônio Arqueológico existente na re-

gião, composto por uma centena de Sítios de registro rupestre no estilo de grafismos puros. Este conjunto de Sítios, forma o Complexo Arqueológico de Paulo Afonso, o qual engloba os territórios de Rio do Sal, Malhada Grande, Lagoa das Pedras e Xingozinho. O Centro de Arqueologia e Antropologia de Paulo Afonso/CAAPA é o responsável pela Curadoria do Acervo oriundo dos Sítios pesquisados no Complexo Arqueológico Paulo Afonso, bem como pela salvaguarda de diversos Acervos provenientes de pesquisas arqueológicas, através de endossos institucionais, sob a coordenação da Profa. Dra. Cleonice Vergne. O CAAPA também é o Laboratório do Curso de Bacharelado em Arqueologia da UNEB Campus VIII- Paulo Afonso e o Complexo é Laboratório Prático do Curso.

O ingresso ao Curso é realizado através de processo seletivo, tradicionalmente conhecido como vestibular, ou por meio do SISU, através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em 2014.2 teve inicio o primeiro semestre letivo que contou em sua aula inaugural com a presença ilustre de um dos ícones da Arqueologia Brasileira a Dra. Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão e de outros arqueólogos, tais como: Dr. Everson Paulo Fogolari, Me. João Cabral de Medeiros e a Dra. Maria Cleonice de Souza Vergne, idealizadora e coordenadora do Curso. O Curso de Bacharelado em Arqueologia conta com oito semestres letivos, nos quais são trabalhadas diversas disciplinas que englobam conteúdos referentes à Arqueologia e outras ciên-

cias afins (embasamentos teóricos, metodológicos e técnicos); o conhecimento aprofundado das sociedades pré-históricas, colonial e pós-colonial; a sensibilização em relação à cultura material e imaterial, como um dos vieses de compreensão do passado; a formação de uma consciência preservacionista a respeito do patrimônio, em todas as suas concepções: histórico, arqueológico, paisagístico, artístico, arquitetônico, entre outros. A importância e eficácia do desenvolvimento de Educação Patrimonial como uma das estratégias de preservação dos Bens Patrimoniais; os procedimentos de administração e gestão do Patrimônio, bem como, aulas práticas de campo, laboratório e etc., no intuito de proporcionar aos alunos conhecimentos e habilida-

O historiador e escritor João de Sousa Lima, vice-presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso anda feliz com o resultado do seu trabalho de pesquisa sobre um dos temas que vem despertando o interesse de estudiosos de todo o mundo: o cangaço no Nordeste brasileiro. Dedicado a aprofundar a pesquisa sobre esse tema há muitos anos, os estudos de João o têm levado para proferir pesquisas em vários lugares do Brasil. Recentemente foi homenageado pela Câmara Municipal de Santana de Ipanema/AL; justamente em reconhecimento pelos estudos que tem feito e que já lhe renderam 10 livros como fatos inéditos relatados a partir de muitas viagens, conversas com os envolvidos e busca documental. No último mês, em viagem que faz regularmente à cidade de Piranhas onde tem muitos amigos, João foi apresentado à cantora Amanda Acosta, que foi do grupo Trem da Alegria

Foto: Divulgação

Escritor João de Souza Lima faz palestra sobre o cangaço em São Paulo

e que estivera antes em Paulo Afonso, na Casa da Cultura e visitou o Museu Casa de Maria Bonita, mas não estivera ainda com o escritor. Dessa conversa em Piranhas surgiu o convite para João de Sousa fizesse uma palestra sobre o tema cangaço em São Paulo para atores que estavam se preparando para encenar o espetáculo As Cangaceiras. Convite acertado, João viajou para a capital paulista e ali fez a palestra tema de um dos

seus livros “Mulheres Cangaceiras” para o Grupo Velloni Produções Artísticas, responsável por esta peça. A palestra, realizada na Casa Palco, na Rua 13 de Maio, em São Paulo no dia 29 de janeiro trouxe muitos elementos para a peça As Cangaceiras, de Newton Moreno, direção de Sergio Módena e produção de Rodrigo Velloni que estreia em abril no Teatro Popular do SESI na Av. Paulista e já foi aberto um novo convite para o escritor pau-

loafonsino assistir a noite da estréia. “A maior alegria de tudo isso é ver como o trabalho que tenho feito esses anos todos vem sendo valorizado e aceito em outros lugares, como foi recentemente em Santana do Ipanema e é importante esta aceitação por um público que não é nordestino mas que reconhece a sua história e a sua cultura e a transforma em arte, numa grande metrópole, como São Paulo”, disse João de Sousa Lima.

Foto: Divulgação

O pauloafonsino Cícero Clebson faz bonito mais uma vez na Corrida de São Silvestre Na 94ª edição da tradicional Corrida Internacional de São Silvestre, a prova de rua mais importante da América Latina, que acontece em 31 de dezembro na capital paulista, mais uma vez o atleta pauloafonsino, Cícero Clebson, teve uma excelente participação. Com o forte calor e a grande multidão de mais de 30

mil inscritos de vários países e o percurso de 15km, o maratonista ficou em 89º lugar na colocação geral e em 10° lugar na sua categoria (30 a 34 anos). Atualmente Cícero reside em São Paulo, onde vai continuar os treinos para participar de várias competições ao logo do ano, dentre elas o Torneio Estadual Paulista de

Atletismo, almejando assim uma vaga no Troféu Brasil de Atletismo. “Vamos continuar treinando, focado nas competições para alcançar objetivos. Meus agradecimentos ao Coopex - Colégio Boa Idéia, Trino2Luz, Imprensa Local, amigos e familiares”, externou Cicero Clebson. (Por: Niedja Torquato)

des teórico-metodológicas, permitindo a atuação efetiva destes, em pesquisas arqueológicas, tanto em campo, quanto em laboratório, tais como: mapeamento dos sítios arqueológicos; sondagens e escavações; registro dos sítios e dos problemas de conservação; coleta, acondicionamento e análise do material evidenciado; elaboração de relatórios, pareceres e perícias técnicas, bem como, procedimentos voltados para a salvaguarda do patrimônio arqueológico (limpeza, acondicionamento, inventário, catalogação, manutenção, tombamento e conservação dos vestígios arqueológicos). Além dos estágios supervisionados efetuados no Complexo Paulo Afonso, foram realizadas visitas técnicas englobando os contextos arqueológicos históricos e pré-

-históricos: a primeira visita foi realizada em 2016, a uma das áreas arqueológicas mais significativas das Américas, o Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí. Em 2017, foram realizadas visitas técnicas a Salvador, Cachoeira, Santo Amaro, São Felix, São Cristóvão e Laranjeiras. E em 2018, a visita técnica foi realizada na cidade de Canudos, Bahia. Tais visitas tinham como objetivo proporcionar aos discentes, um novo olhar sobre as nuances que envolvem a arqueologia como um todo. A UNEB forma agora no semestre 2018.2, mais precisamente no dia 16 de fevereiro de 2019, sua Primeira Turma de Bacharelado em Arqueologia, mas já existe uma segunda turma em curso e aguarda o ingresso da terceira turma em 2019.

Zé Carlos do BTN é novo líder da oposição. Bero, do Jardim Bahia é o líder da situação na Câmara de Paulo Afonso

Eleito pela coligação PRB - PT - PSD, que apoiou a candidatura a prefeito de Luiz de Deus (PSD) em 2016, o vereador Jose Carlos Coelho (PRB), foi escolhido o novo líder da bancada da oposição na Câmara Municipal de Paulo Afonso. A escolha foi assinada por sete dos nove vereadores da base oposicionista, presentes na reunião. Jean Roubert e Mário Barreto, foram contrários. Alguns analistas políticos, avaliam que efetivamente a oposição da Câmara neste biênio ficará restrita a Jean Roubert e Mário Barreto. De acordo com o vereador José Carlos Coelho, a liderança representa uma honra e também um desafio. “É uma honra assumir o desafio de liderar uma bancada tão bem qualificada. Continuarei desenvolvendo a oposição responsável, fiscalizando e tentando o

entendimento para melhorar a qualidade de vida da população de Paulo Afonso”, declarou Zé Carlos do BTN. Por seu turno, o ex-vice-presidente da Câmara, na gestão de Marcondes Francisco, Albério Faustino Farias, conhecido como Bero, do Jardim Bahia (PT), eleito vereador em 2016, com 1.528 votos, pela mesma coligação PRB-PT-PSD, foi escolhido para ser o líder da bancada da situação na Câmara Municipal de Paulo Afonso. Com a atual composição da mesa diretora, mesclada de vereadores da oposição e da situação e as lideranças de bancadas do mesmo grupo político original, em um ano que antecede as eleições municipais de 2020, há uma grande expectativa de como serão os trabalhos na Câmara Municipal de Paulo Afonso neste biênio 2019/2020. (com informações de Luiz Brito)


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Foto: Lucas Hallel/Ascom Funai

As barragens de rejeitos de minérios em Minas Gerais preocupam os ribeirinhos do rio São Francisco

Índio Pataxó olha rio Paraopeba morto

Há três anos, uma dessas barragens de rejeitos, também em Minas, em Mariana, assombrou o mundo quando os mais de 50 milhões de toneladas de rejeitos invadiram vilas, mataram pessoas, chegaram aos rios que são a razão da vida na região e ao mar. Uma tragédia muito lamentada pelo mundo a fora. Lamentada. Só isso. Ainda hoje, mais de três anos depois, famílias vivem de favor em casas de parentes ou recebendo um aluguel social – até quando? – da poderosa empresa mineradora Vale do Rio Doce e suas subsidiárias. A área por onde os rejeitos de arrastaram como cobra pelo chão, virou terra arrasada, agressiva e feia mudando o cenário de uma região tão bela. Agora, estoura a barragem de Brumadinho, com um volume de rejeitos de cerca de um quarto da barragem de Mariana, mas com poder de destruição muito maior dizimando centenas de vidas humanas, milhares de animais e transformando a região em terra arrasada. Uma semana depois da tragédia mil vezes anunciada, mais de cem corpos humanos

ou partes deles foram encontrados, mais de duzentos e cinquenta continuam desaparecidos, centenas deles jamais serão resgatados. Além desta grande tragédia que dizimou vidas, milhões de outros moradores dos rios da região sofrem com a destruição de nascentes, mananciais e rios grandes como Paraopeba que é um dos maiores afluentes do rio São Francisco. Moradores de dezenas de cidades à margem desse rio não vão mais poder usar as suas águas e ficam na dependência do fornecimento desse líquido para consumo humano, animal e atender às suas necessidades diárias. Os índios Pataxós que vivem às suas margens já consideram o rio Paraopeba morto e choram porque era dali que eles tiraram o seu sustento, a pesca e a água para suas plantações. Os milhões de moradores das margens do rio São Francisco vivem o temor dos efeitos que esses rejeitos podem trazer às suas águas, já poluídas e poucas, aos seus projetos de irrigação, às suas muitas usinas hidrelétricas, porque os

rejeitos das três barragens que se romperam na região de Brumadinho seguem rápidos pelo rio Paraopeba, um dos maiores afluentes do rio São Francisco, causando destruição e mortes. Além dessa catástrofe em curso, chega a público a informação de que outras barragens, de poder destrutivo muitas vezes maior em região próxima a Brumadinho também correm o perigo de estourar e se isso acontecer tudo cairá diretamente no rio São Francisco, cujas águas percorrem quase 3 mil quilômetros e sua bacia hidrográfica banha os Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe além de terras de Goiás e do Distrito Federal. Para toda essa região do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste seria o apocalipse. Mais preocupante se torna a notícia quando a ela se acrescenta a informação que das mais de 24 mil barragens do Brasil, apenas 3% (três por cento) delas foram fiscalizadas recentemente. A situação é tão delicada que a Vale do Rio Doce, considerada a terceira maior empresa de mineração do mundo, decidiu fechar, desativar 10 destas suas barragens de rejeitos só no Estado de Minas Gerais, todas próximas de Brumadinho. Os moradores de Paulo Afonso e de todo o Nordeste sabem da excepcional importância do rio São Francisco para as suas vidas, para o desenvolvimento regional. Já foi chamado de “rio da unidade nacional”, “o grande caminho da civilização brasileira”, há séculos, por estudiosos de sua história com João Ribeiro, Theófilo de Andrade e

Euclides da Cunha, autor de Os Sertões. O rio São Francisco é o único grande rio totalmente brasileiro. A sua importância geográfica, econômica tem merecido milhares de estudos no Brasil e em países de todo mundo e a sua grandeza motivou a visita do Imperador D. Pedro II à sua Cachoeira de Paulo Afonso, em 20 de Outubro de 1859 e versos imorredouros de Castro Alves. O olhar de Delmiro Gouveia viu no poderoso rio a oportunidade de gerar energia hidro elétrica para mudar a paisagem do Nordeste. Não conseguiu o seu intento mas em 1913 construiu o marco inicial desse sonho, a Usina Angiquinho. Anos depois, a partir de 1948, a Chesf construiu sua primeira usina – Paulo Afonso – e começou a reescrever a história de toda a Região Nordeste com a energia das águas do rio São Francisco. A história do Nordeste é contada em dois grandes capítulos: O Nordeste ANTES e o Nordeste DEPOIS, da chegada da “luz de Paulo Afonso”, a energia tirada das águas do São Francisco. Em cinquenta anos – de 1948 a 1995 - foram construídas muitas grandes hidrelétricas nas margens desse poderoso rio e as grandes barragens construídas ao longo desse rio mudaram radicalmente as paisagens. Além da Usina de Três Marias, gerenciada pela CEMIG e localizada bem próxima das barragens de rejeitos de Minas Gerais, com a capacidade de geração de 386 MW, o rio São Francisco possui as muitas outras usinas hidrelétricas gerenciadas pela Chesf.

Na Bahia, a primeira delas é a de Sobradinho com capacidade de geração de 1.050,3 MW. Ainda em terras baianas o Complexo de Usinas de Paulo Afonso reúne as usinas Paulo Afonso I, com 180 MW, Paulo Afonso II, com 443 MW, Paulo Afonso III, 794,2 MW, Paulo Afonso IV, com 2.462,4 MW e Usina Apolônio Sales, já em terras alagoanas do município de Delmiro Gouveia, com 400 MW. Do Complexo de Paulo Afonso fazem parte ainda as Usinas Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE, com a capacidade de geração de 1.479,6 MW e a Usina Hidrelétrica de Xingó, a maior do sistema Chesf, no município de Canindé do São Francisco/SE com a capacidade de geração de 3.162 MW. Com as usinas hidrelétricas instaladas em suas águas, o rio São Francisco tem a capacidade gerar 10.360 Megawatts de energia hidro elétrica. Para isso foram também construídas ao longo do rio grandes reservatórios, gigantescas barragens com a capacidade de acumular 50 bilhões de metros cúbicos de água, assim distribuídos: Reservatório de Delmiro Gouveia, em Paulo Afonso, que alimenta as usinas Paulo Afonso, 1, 2 e 3 – 26 milhões de metros cúbicos; Reservatório da Usina PA-4 – 127,5 milhões de metros cúbicos; Reservatório de Moxotó – 1 bilhão, 150 milhões de metros cúbicos (estes três reservatórios em Paulo Afonso/BA). O reservatório de Itaparica, que alimenta a Usina Luiz Gonzaga tem a capacidade de acumular 10

bilhões, 780 milhões de metros cúbicos de água. Todo o reservatório da Usina Hidrelétrica de Xingó está dentro do cânion do rio São Francisco que tem 65 quilômetros e começa em Paulo Afonso. Ele acumula 3 bilhões e 800 milhões de metros cúbicos de água. O maior reservatório do rio São Francisco é da Usina de Sobradinho que tem capacidade para acumular 34 bilhões, 116 milhões de metros cúbicos de água. (Fontes: Chesf – ANEEL e ANA) Pela grandeza de suas águas nasceram os grandes projetos de irrigação nos Estados da Bahia, Pernambuco e Sergipe, cuja produção de frutas abastece os mercados dos Estados Unidos, Canadá e países da Europa. São as águas do rio São Francisco que fizeram crescer os projetos de turismo, especialmente na região Nordeste. São motivos muito sólidos para se entender a preocupação de milhões de moradores em mais de 500 povoações ano longo do rio São Francisco, fonte de progresso e de vida.

A tragédia de Brumadinho faz lembrar Drummond e desperta a poesia social

De fato, como se sentia Drummond, parece que a ganância de riqueza dessas grandes empresas mineradores transformou estes exploradores dos minérios, os donos, os ricos, em homens com "oitenta por cento de ferro nas almas"...

Dois poetas da Academia de Letras de Paulo Afonso, Rafael Neto e Alcilvandes Santana, também choram pelo pouco valor que os grandes negócios dão à vida do homem, dos animais, da natureza destruída na sua busca incansável por mais e mais lucros e, para isso, tem contado, ao longo de dezenas de anos, com a conivência e até parceira de políticos e governantes sem escrúpulos.

O cenário das muitas serras, das muitas pedras das terras mineiras por certo o inspiraram a nos deixar uma reflexão que se estende pelos cuidados e dificuldades do nosso caminhar: “No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho...” A construção de barragens econômicas para as grandes empresas como a de Mariana e agora a de Brumadinho e muitas centenas de outras espalhadas pelo Brasil tem gerado apreensão e questionamentos feitos por especialistas nesta área da engenharia moderna, ambientalistas, poetas, escritores ao longo dos anos sem serem levados a sério pelos governos constituídos que têm se mostrado irresponsáveis e cedido sempre, nesses anos todos, ao poder econômico.

Grito de alerta Ouço um grito de alerta De um povo triste e surpreso Por tantas vítimas na lama Brumadinho sente o peso A tragédia ao povo oprime E o responsável do crime Não pode sair ileso. Rafael Neto (WhatsApp 75 99111-2108) Os versos de Rafael Neto são parte de uma coletânea idealizada pelo poeta Zeca Pereira com vários colegas todos sensibilizados com a tragédia de Brumadinho.

Há três anos, Mariana estourou, destruiu vidas, arrasou a terra e nada se fez. Agora, Brumadinho causa transtornos ainda maiores. Entre mortos e desaparecidos chega-se a quase 400 pessoas e, como disse o Padre Fábio de Melo em texto nas redes sociais, são milhões de outros seres, vertebrados e invertebrados, gente, animais, plantas, a natureza toda morta... Ainda no ano de 1984, Carlos Drummond de Andrade, o mineiro de Itabira, parecia antever essas tragédias que se repetem nas terras belas de Minas Gerais nos últimos anos e escreveu: I O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse Mais leve a carga.

II Entre estatais E multinacionais, Quantos ais! III A dívida interna. A dívida externa A dívida eterna. IV Quantas toneladas exportamos De ferro? Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro? (Drummond, 1984)

A Vale matou o vale A Vale do Rio Doce Furtou o doce do vale. A Vale, vale mais! O vale, já não vale! Vidas que não seguirão, Afogadas, submersas, Asfixiadas pela usura Sepultadas na lama. O Rio do vale perdeu o doce Só restou fel e amargura A Vale matou o vale. A impunidade revela A verdade da Vale A Vida, não vale nada! (Alcivandes S Santana)

Foto: Corpo de Bombeiros/MG

Isso nos faz lembrar do poeta Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, que já cantava em versos as suas terras. Drummond nasceu em Itabira, e em Confissões de Itabirano, diz: “Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas.


Paulo Afonso - BA • Edição de Janeiro • Ano XIV • Número 179

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Durante cerca de 50 anos cortei meu cabelo com o gloriense Abel Barbosa Lima, conhecido como Abel Barbeiro, um dos pioneiros nessa profissão desde o ano de 1959. Abel Barbosa Lima, nasceu em Glória-BA em 19/11/1940 mas, no começo dos anos de 1950 veio morar em Paulo Afonso. Ele trabalhou em vários lugares em Paulo Afonso. No mercado público, dentro da Chesf, no Abrigo de Zé Freire, no Salão dos irmãos Zé e Nezinho, que ainda trabalham na Avenida Getúlio Vargas, perto do Bradesco. Morou uns tempos em Três Marias e outro tempo em Santos/SP, quando teve a oportunidade de cortar o cabelo de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. Nos últimos anos vivia adoentado. Sempre conversávamos muito e ele às vezes falava em ir pra São Paulo, onde mora uma filha, cuidar da saúde, mas logo desistia dessa ideia porque dizia que não gostava de São Paulo, do frio dali.

Fotos: Antônio Galdino

Morre aos 79 anos, Abel Barbosa Lima, que foi barbeiro do Rei Pelé, em Santos

Nos últimos meses de 2018, se queixava muito das dores que vinha sentido. Também reclamava que estava tendo pouco clientes porque “a modernidade inventou umas maquininhas que todo mundo tá usando nesses cortes malucos que tem aí...” Em Setembro, decidiu alugar o espaço do seu Salão Jóia, bem em frente à parada de ônibus do BTN 1, na rua do antigo Campo do Flamengo mas colocou a sua cadeira de barbeiro na área da casa e con-

tinuou atendendo. Fiz o meu último corte de cabelo já ali. De conversa sempre agradável, gostava de acompanhar a política, falava dos filhos, tinha sempre muitos elogios para todos, destacando os que estavam mais perto, cuidando dele, o mais novo, Rodrigo, o seu xodó e Abel, que ele chamava Abelzinho que lhe deu muitas alegrias como jogador de futebol, uma de suas paixões, ele que era vascaíno roxo. Sobre Abel, o filho, dizia: - sempre foi um grande jo-

gador. Aqui, fez bonito desde quando jogava no time do CSU. Jogou no CRB, no juvenil do Corinthians e no Vitória. Hoje, casou, mora em Pernambuco e trabalha no Ceará. E sempre mostrava a foto da netinha linda, filha Abelzinho. Tem outros netos, filhos de Denise, que mora em São Paulo. Além de Rodrigo e Abel, tinha ainda os filhos Jaqueline, Selma, Denise e Alberto. E os irmãos Nena, Dina, Bela, Félix e Nininha. Abel completou 79 anos em Novembro e nunca parou de trabalhar. Gostava de cortar o cabelo das pessoas o que fazia como uma grande arte. No sábado, dia 26 de janeiro fui ao BTN para cortar o cabelo com o velho Abel e tive a informação que ele estava em tratamento em Salvador-BA, onde mora um dos seus irmãos. No segunda-feira, dia 28, Rodrigo me manda uma mensagem informando que ele havia falecido pela manhã. O corpo foi velado em frente à

sua casa, ao lado do prédio do seu Salão Jóia e o seu corpo foi sepultado, com sempre foi desejo dele, em sua terra natal, Glória/BA, no dia 29 de janeiro de 2019. Eu, Professor Salésio, Engenheiro Raimundo Costa e muitos outros dessa geração fomos seus clientes onde ele trabalhou e perdemos um grande amigo, um dos pioneiros de Paulo Afonso. Um fato interessante: Durante muito tempo, Abel teve acesso a exemplares de uma publicação que era distribuída com os passageiros da Itapemirim, uma revista com reportagens sobre turismo e cultura regional. E, como ele sabia que eu me interessava por esses assuntos, todos os meses Abel reservava um exemplar dessa revista para mim. Vou repassar esses exemplares para o acervo da Biblioteca Abel Barbosa, seu xará, criada pela Academia de Letras de Paulo Afonso, que presido no momento. Também era leitor assíduo e crítico do jornal Folha Ser-

As Profissões do Passado Abel Barbeiro e a máquina do Rei Pelé

Os velhos barbeiros também fizeram histórias na década de 1950 e com suas navalhas e máquinas manuais aparavam as madeixas, barbas e bigodes dos homens que buscavam a sorte nas obras de represamento do Velho Chico e alguns desses profissionais ainda estão em exercício em nossa cidade. Um desses barbeiros é Abel Barbosa Lima. Nascido em 19 de novembro de 1940, em Glória, Bahia, filho de Anésio Félix de Lima, que era um dos maiores criadores de bode da região, com roça no povoado Nambebé. Aos 12 anos de idade Abel veio estudar em Paulo Afonso e ficou residindo no Hotel “Grande Ponto”, de propriedade de Lelé Parreira. No Nambebé Abel ficava observando Mané de Lourenço cortando cabelo e fazendo barbas. Aos sábados ele vinha

com sua madrinha Maria de Germana fazer a feira dentro do acampamento da Chesf. Na feira Abel via várias barracas improvisadas onde trabalhavam vários barbeiros. Abel pediu uma lona a sua madrinha e ela comprou e o presenteou. Com o pessoal dos povoados Tigre e Arrasta-Pé, que vinham vender carvão, Abel encomendou algumas madeiras. Aos sábados e domingos, com 16 anos de idade, entre os barbeiros Zé Caetano, Zé Baixote, Zé Camilo, Zé Fernandes e Manuel Pereira, Abel armava sua tolda e ia trabalhar. Um fato curioso contado por Abel foi que em um dos sábados, feira lotada, um rapaz do povoado Tigre amarrou seu burro no pau da barraca de Abel e passando um caminhão o burro se assustou com o barulho do motor em funcionamento e saiu corren-

do no meio da feira arrastando a madeira da barbearia de Abel e ele e seu freguês ficaram embaixo da lona e quando conseguiram se desvencilharem da cobertura tiveram que enfrentas as risadas dos amigos e feirantes. Um dos famosos barbeiros, o senhor Timóteo viu Abel trabalhando e o convidou para trabalhar com ele em uma barbearia que ficava entre o Hotel Cacique (de propriedade de Dona Zira) e o Hotel Baiano (de Antonio Baiano). Da frente do salão saía o caminhão pau de arara de Amaury, filho de Seu Lúcio. Um dos passageiros que ia viajar cortou o cabelo com Abel e o convidou para ir pra cidade de Três Marias e como Abel tinha nessa cidade o irmão Fernando, ele falou com o pai que o liberou para ir a viagem. Depois de um ano e oito meses Abel retornou a Paulo Afonso e seu cunhado Nelson Barbosa Lima comprou o salão de Bento, que ficava vizinho a gráfica Jatobá, na Rua do Coqueiro. Mais uma vez um freguês que gostou do trabalho de Abel e que era de São Paulo o convidou para ir trabalhar “Na Cidade Grande” e Abel mais uma vez partiu na aventura. De São Paulo Abel seguiu foi pra Santos e por coincidên-

cia, chegando lá, encontrou o conterrâneo Toninho de Doralice, que o levou até o salão do amigo Manuel (Maneco), na Rua Conselheiro Nébias, onde Abel começou a trabalhar. Corria o ano de 1959. Maneco era o famoso barbeiro que cortava o cabelo do “Maior Atleta do Mundo”, o mundialmente conhecido Pelé. Em uma dessas passagens do Rei do Futebol pelo salão de Maneco, o Rei Pelé lia um jornal enquanto aguardava Maneco finalizar a barba de outro freguês, nesse espaço de tempo chegou um rapaz e pediu para que Abel cortasse seu cabelo igualzinho a Pelé. O jogador tirou o jornal que cobria o rosto e olhando para o rapaz deu um sorriso e ficou observando Abel realizar o famoso corte “Jack Demis”. Quando Abel pegou o espelho pra mostrar cabelo ao freguês Pelé falou: - O rapaz corta bem! O rapaz corta muito bem Maneco e eu vou cortar hoje com ele aqui!

taneja que deixávamos todos os meses no Salão Jóia. Em Março de 2016, levei o escritor João de Sousa Lima para uma conversa com Abel e dessa conversa nasceu mais um amigo. João, que é historiador, escreveu a histórias de algumas profissões antigas de Paulo Afonso e falou muito de Abel Barbeiro. Em sua homenagem, reproduzimos a seguir esta matéria publicada na coluna Histórias Sertanejas naquela edição de Março de 2016 deste jornal Folha Sertaneja. À família e aos amigos de Abel Barbosa Lima, Abel Barbeiro, o nosso profundo sentimento de pesar e nossa gratidão a Deus que nos permitiu compartilhar desse convívio por tantos anos... Paulo Afonso, BA., 29 de Janeiro de 2019 Professor e escritor Antônio Galdino da Silva Diretor do jornal Folha Sertaneja Presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso

João de Sousa Lima

Historiador e Escritor Membro da ALPA Academia de Letras de Paulo Afonso Cadeira 06

Desse dia em diante Maneco perdeu o freguês famoso e Abel ganhou as graças do Rei do Futebol. Tornaram-se tão amigos que Pelé sempre que ia jogar em Santos levava três ingressos para Abel, alertando: - Um ingresso pra você, outro para sua noiva e outro para seu cunhado pois só assim o sogro libera a moça, pois ele não vai deixar ela sair sozinha com você não! Em 1962, no dia que Abel falou a Pelé que iria retornar para Paulo Afonso, Pelé ficou triste e disse: - Tome aqui meu telefone e se algum dia você decidir voltar pra cá eu mando o dinheiro para custear sua viagem! Abel voltou e foi trabalhar com o cunhado, depois casou com Percilânia e teve seis filhos. Tempos depois trabalhou com os irmãos Zé e Nezinho.

Tempos depois comprou um curral no Mulungu e construiu um sítio onde hoje é sua residência e comercio. Um dos fregueses assíduos de Abel há mais de 45 anos é, Antonio Galdino, diretor do Jornal Folha Sertaneja. Desde 1980 eu só corto meu cabelo com Pitú, na vila Barroca. Abel ainda vive e trabalha no Mulungu, recorda sempre dos amigos de profissão: Gabriel (seu irmão), Dílson, Adauto, Zé, Nezinho, Zé Caetano, Mané Pereira e Zé Fernandes. A máquina que por anos Abel cortou o cabelo do “Maior Atleta do Mundo” ele me presenteou para ser exposta no futuro Museu do Nordeste. Paulo Afonso, 29 de março de 2016


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Paulo Afonso - BA • Edição de Janeiro • Ano XIV • Número 179

Foi realizada com grande sucesso a 3ª Bienal Regional de Arte e Cultura em Rodelas

Por Valdomiro Nascimento

Sábado, 12 de Janeiro os moradores de Rodelas e visitantes viveram um dia de “Sertão Iluminado”. Sob a Direção de Valdomiro Nascimento, Coordenador Cultural de Rodelas, foi realizada com grande sucesso no sábado, 12 de Janeiro, no Centro Educacional Municipal João Justiniano da Fonseca, nesta cidade ribeirinha do rio São Francisco, a 3ª. Bienal Regional de Arte Cultura em Rodelas “Sertão Iluminado”. O evento é uma realização do Projeto Escolas Culturais que é uma ação do Governo do Estado da Bahia, desenvolvida por meio da iniciativa interinstitucional firmada entre as Secretarias da Educação (SEC), Secretaria de Cultura (SECULT) e Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDRDS) com a participação na ges-

tão do Instituto de Ação Social Pela Música – IASPM. A gastronomia e o artesanato produzido na região foram muito apreciados pelo grande público que compareceu a este evento que movimentou a cidade de Rodelas, que recebeu também, além dos rodelenses os fazedores de arte de Abaré e de Macururé e os presentes puderam conhecer melhor a essência da arte indígena e de artistas da região, além de projetos inovadores como o do engenheiro Berg Almeida.

Nesta III Bienal foram mostrados os deliciosos doces caseiros de Ni; os bordados caprichados de Abigail Almeida, as belezas do Artesanato de Socorro da Grovila-8; as peças em Barro da Associação das Mulheres do Barro, representada por Nueli Cruz da Tribo Indígena Tumbalalá do Povoado de Pambu (Município de Abaré). Também foi mostrada a História do Anjo Perdido de Abaré em um belo painel, assim como foi apresentado o Projeto de criação de tilápia pelo Engenheiro de Pesca Berg Almeida, utilizando para isso a água de poços artesianos em pleno sertão, através da OIGERRIS (Organização Icozeirense Gerando Emprego e Renda com Responsabilidade Social) liderada por Marcelo Tolentino e Valdeni Nascimento do Povoado de Icozeira (Abaré).

Do Município de Macururé vieram os lindos trabalhos dos Artesãos Hermes e José Carlos. Uma das atrações desta 3ª Bienal de Artes e Cultura realizada em Rodelas foi a exibição do Filme “1798: Revolta dos Búzios” (Circuito Luiz Orlando – NAD – Núcleo de Apoio a Difusão – DIMAS, Bahia) merecendo toda a atenção e muitos aplausos das mais de cem pessoas presentes que também não pouparam elogios aos integrantes do Grupo de Teatro Chaplin de Rodelas, que encenaram a Peça “Um Encontro com Jesus”. O Colégio Dulcina Cruz Lima, cujo nome homenageia a primeira Professora de Rodelas, teve a sua história contada através de textos e fotos, como um reconhecimento da sua importância para a educação em Rodelas, funcionando desde 1966, no

Governo Municipal do Prefeito Manoel Moura. Pela Portaria 2.347, D.O.E. de 11 e 12.04.1981, foi criado o Grupo Escolar Dulcina Cruz Lima. Em 10.04.1987, na Gestão do Prefeito Francisco de Sales Maniçoba de Moura, a Secretaria da Educação Estadual publica a Portaria 129, convertendo-o em Colégio. A 3ª Bienal Regional de Arte Cultura em Rodelas, foi um marco importante para o seu organizador, Valdomiro Nascimento, porque, segundo ele, “além de oportunizar o conhecimento da história, o resgate da memória da nossa região através da culinária, das artes, do artesanato, do teatro, do cinema, ainda permitiu que o evento se regionalizasse acolhendo esses valores culturais de outros municípios vizinhos, como Abaré e Macururé mostrando quão rica

é esta nossa cultura regional dos ribeirinhos do São Francisco.” E, concluiu o Valdomiro Nascimento, Coordenador Cultural de Rodelas, responsável por esse Projeto Escolas Culturais: “Como dizia o cartaz desse evento, vivemos mesmo um sábado de Sertão Iluminado nesta 3ª Bienal e isso só foi possível graças ao apoio do Governo do Estado da Bahia e de parceiros desta região como a Prefeitura e a Câmara Municipal de Rodelas, Jailson Transportes, Miguel Carvalho, professores e diretores das escolas que nos apoiam nesse projeto e a imprensa regional como o fotógrafo rodelense Osvaldo Feliciano, a Rádio Sertaneja FM, de Abaré, a TV São Francisco e o jornal Folha Sertaneja, de Paulo Afonso. Queremos assim, compartilhar com todos esse grande sucesso. A todos o nosso melhor agradecimento”.

Apresentamos o nosso aluno Karl Victor Campos do Nascimento. Aprovado em Medicina na UNIVASF e na UFBA em 1º e 3º lugar respectivamente, além de ter a excelente média ENEM de 805 pontos.


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