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3. Estudantes e Empatia

2.3. Pistas a seguir

Para nós, é evidente que os desafios para a educação em tempos de (pós)pandemia, são muitos, são diversos e são complexos. O nosso contributo não pretende ser a resposta, mas uma das respostas possíveis. Assim, procuramos antecipar o futuro, propondo um cenário em que a educação envolveria:

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• diversos intervenientes – alunos, professores, funcionários e profissionais das escolas, pais, líderes escolares, membros da comunidade envolvente à escola, autoridades locais;

• a integração, no currículo escolar, da aprendizagem social e emocional e as competências de cidadania digital;

• dar voz e envolver ativamente os alunos;

• ser suporte da formação para os professores e outros membros da comunidade escolar;

• criar um ambiente escolar promotor de valores, do diálogo e de bem-estar;

• estabelecer a interconexão da escola com a comunidade em geral.

Acreditamos ser possível, em conjunto, construir esta Educação. Mas para isso precisamos de todos nós! Devolvemos o desafio.

Mariana Barbosa120, Tânia Martins121, Nazira Bano122 e Inês Andrade123

Na próxima secção são apresentados testemunhos inspiradores em torno da empatia: O primeiro, é um testemunho pessoal da Inês Andrade, Presidente Associação No Bully Portugal. Segue-se um testemunho a três vozes, resultante da Ubuntu Talk ‘Estudantes e Empatia’124, na qual participaram Helena Pina Vaz, Diretora do Colégio Luso Internacional de Braga, Luísa Mota Ribeiro, Docente na Universidade Católica Portuguesa, e Ana Pinto (participante na Semana Ubuntu no Agrupamento de Escolas À Beira Douro).

3.1. No Bully Portugal

“A Empatia é a cura para o bullying”. Na Associação No Bully Portugal, acreditamos a 100% nesta receita. É por isso que treinamos educadores para promover a Empatia entre os jovens envolvidos em bullying. Quando um jovem faz bullying a outro, está a “bloquear” a sua Empatia pelo sofrimento do colega, o que o leva a ser indiferente para com a sua dor. Este processo pode durar dias ou anos, e pode ir desde um simples insulto até à morte. Os seus efeitos podem ser sentidos por toda uma vida, se não forem endereçados. Como é possível um humano fazer isso a outro? Há várias causas que levam alguém a fazer bullying, e também podemos sentir Empatia pelos bullies, mesmo que não concordemos com os seus atos. Um bully pode estar à procura de se sentir seguro, ao juntar-se a colegas que fazem bullying e aparentam ser mais fortes, evitando ser ele próprio um alvo; pode procurar ter a atenção dos colegas ou ser seu líder, e utilizar o bullying como ferramenta para tal; pode sentir-se frustrado por algum problema na sua vida e não conhecer formas positivas de canalizar essa frustração; pode ter exemplos na sua vida de pessoas violentas e desagradáveis para com os outros, e pensar que essa é a forma normal de agir. Estas são algumas das razões mais comuns, sendo

120 Docente na Universidade Católica Portuguesa (Porto). 121 Gabinete de Apoio ao Estudante, Escola Superior de Saúde de Santa Maria 122 Psicóloga de Educação e Orientação em Estágio Profissional na Escola Azevedo Neves. 123 Presidente No Bully Portugal. 124 Reflexão a partir de experiência de participação na sessão Ubuntu Talk #3 Estudantes e Empatia, do dia 7 de maio de 2021. Disponível em hhttps://youtu.be/TEbtO03oIPM

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE (PÓS)PANDEMIA

que nenhuma justifica esses comportamentos, que devem sempre ser travados. Felizmente, há uma solução para o bullying, e até é bastante simples! Chamamos-lhe o método No Bully. Primeiro, pomos os jovens envolvidos no bullying à vontade, sem ameaças de castigos ou reprimendas. Assim, não precisam de estar na defensiva e estão mais abertos a ouvir. Em segundo lugar, valorizamos o seu papel na resolução deste problema, para que se sintam poderosos, pois é aquilo que procuram quando fazem bullying. Em terceiro lugar, apelamos à sua Empatia (que até este ponto estava “bloqueada”) e tentamos que se ponham no lugar do colega que está a sofrer de bullying. Quando os jovens já se começam a abrir à Empatia e veem os colegas a fazer o mesmo, temos a oportunidade que necessitávamos para que mudassem de atitude. Aí, podemos convidá-los a pensar em ações a tomar para ajudar o colega, sem os forçarmos a fazer algo em específico, para lhes dar autonomia. É através deste processo que os educadores treinados por nós mudam as vidas destes jovens, tal como uma Psicóloga escolar, Giséla Diniz, que já trabalha connosco há 4 anos partilhou: “O projeto permitiu-me ver os meus alunos passarem de uma profunda tristeza e sofrimento a uma alegria e alívio.” A cura para o bullying existe, apenas é necessário disseminá-la, para que os educadores saibam lidar de uma forma construtiva com este problema, e cada vez haja menos bullying e mais crianças felizes!

3.2. Colégio Luso Internacional de Braga

Helena Pina Vaz, diretora pedagógica do Colégio Luso Internacional de Braga (CLIB), apresentou um modelo desenvolvido nesta instituição, que integra vários projetos sobre várias temáticas, dos quais se destaca o tema sobre “Empatia e o Estudante”. Este último teve um grande impacto no período de pandemia.

A diretora pedagógica menciona úteis e diversas estratégias implementadas com os mais jovens. Destaca-se a iniciativa que teve como objetivo os mais velhos colocarem-se no lugar dos mais novos, no sentido de valorizarem as suas competências e as suas dificuldades. Através da monitorização, os alunos de maior idade, numa pequena feira, ajudaram e apoiaram os do 1º ciclo a gerir uma pequena empresa, onde criavam um produto e aprendiam a vendê-lo.

Na verdade, existe, desde sempre, uma preocupação constante de que os estudantes promovam, para além da formação académica, a formação pessoal. O recurso a premiações de competências socioemocionais, nomeadamente de inteligência emocional, leva a que se passe uma mensagem de que mais do que resultados, devemos valorizar boas práticas nas escolas. Os alunos devem orgulhar-se dessas conquistas e perceber que as aprendizagens numa escola não se resumem ao que aprendem nos manuais escolares. Assim, é fundamental proporcionar-lhes experiências de vida, com vivências concretas de situações que os possam fazer crescer humanamente. Todas as oportunidades que promovam uma relação de ajuda com as pessoas, de modo a criarem-se sentimentos fortes de empatia, de solidariedade e interajuda, estarão a contribuir para o seu crescimento. Para que os alunos tenham uma melhor consciência do conceito de empatia e a consciência de se colocarem no lugar dos outros, são também abordados os conceitos do cuidado, serviço, bondade e simpatia, e ainda todos os gestos que promovem bem-estar das pessoas em diversos contextos.

“É essencial haver a consciência comum de que, se o meu vizinho não estiver bem, eu não posso estar bem” e além disso fazer bem promove o bem-estar de todos para quem dá e para quem recebe num “ciclo virtuoso bonito”. Isto só será possível se nos colocarmos no lugar do outro, ajudando-o nos seus problemas. É crucial que os alunos cresçam contribuindo para um mundo melhor em vez de serem criadores de mais problemas. Esta prática de Empatia, quando levada a sério, pode criar laços sólidos entre todos, num sentimento comum por uma causa. Este trabalho implica a desconstrução de todo o tipo de preconceitos, e é desenvolvido numa perspetiva da construção com o outro e não para o outro. Efetivamente esse investimento é com o sentimento de ser uma comunidade que cuida dentro e fora dos muros da escola.

Salienta-se que é um desafio acolher pessoas com culturas diversas, sem pretendermos sobrepor-nos a essas diferenças, e ajudá-los a manter a sua identidade, sem a pretensão de sermos multiculturais, mas sim interculturais, absorvendo a riqueza que essas culturas nos trazem nesta verdadeira oportunidade de servir. O exemplo referido por Helena Pina Vaz, das mulheres da etnia Massai, coloca-nos a refletir precisamente estas questões. Com o objetivo de tecerem colares acabam por empaticamente ouvirem-se e apoiarem-se umas às outras, criando ligações entre si. De facto, são promovidos na instituição vários projetos “colares” como oportunidade de desenvolvimento e enriquecimento de

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE (PÓS)PANDEMIA

“felicidade”. Nesta perspetiva, juntam-se muitas vezes para construírem casas, suprindo as carências de condições habitacionais muito degradadas. Sempre fazendo-o com as pessoas e não para as pessoas, como menciona Helena Pina Paz:

“Sendo uma instituição internacional, o colégio dá uma grande importância no acolhimento dos imigrantes, que deixaram o seu país com muito sofrimento, ajudando-os na sua integração sociocultural. Com igual preocupação, é também enfatizada a promoção da integração dos jovens adultos e suas famílias em contextos laborais. Com a ajuda destes jovens, foi possível criar a cozinha social, onde já foram servidas inúmeras refeições e organizados bancos alimentares. Têm sido igualmente desenvolvidos planos de apoio aos reclusos que se encontram em situação de cumprimento de pena. Por fim, acrescenta-se o projeto desenvolvido numa aldeia de Camboja, onde existem carências a todos os níveis e a ajuda é mais do que necessária.”

3.3. Aprendizagem e Serviço

A Aprendizagem e Serviço é um modelo pedagógico que está a ser desenvolvido nas instituições de ensino superior e consiste em promover aprendizagens dos estudantes através do serviço à comunidade. Neste modelo, os estudantes são convidados, no âmbito das suas unidades curriculares, a trabalhar em conjunto com a comunidade, sobretudo com populações que vivem situações de vulnerabilidade. Pretende-se que estas experiências reais, sejam win win, no sentido em que se espera que os estudantes coloquem o seu conhecimento ao serviço da comunidade, ao mesmo tempo que aprendem com ela. Há nestas experiências um sentido de dar e receber. É natural que neste processo, em que é chamada e potenciada a empatia do estudante, se verifique uma necessidade de desaprender conceitos, visões, ideias para poder aprender e reaprender. De facto, a empatia, para ser aprendida, tem que ser vivenciada, tem que partir de experiências reais e não apenas de suporte teórico. Há três conceitos que devem ser tidos em conta e trabalhados nas atividades que promovem a empatia dos estudantes, independentemente do grau de ensino que frequentem: conexão, transformação e reflexão. Para sentir a experiência do outro é necessário que

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