Abril / Maio / Junho ‘20
INVICTUS
sugestões de leitura em tempos de confinamento
por
LUÍS MENDONÇA DE CARVALHO
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INVICTUS – Sugestões de leitura em tempos de confinamento, por Luís Mendonça de Carvalho Edição: IPBeja – Serviços de Planeamento, Marketing e Comunicação Design: Pedro E. Santos Junho de 2020
Invictus Em meados de Março de 2020 fomos surpreendidos com a pandemia que mudou radicalmente as nossas vidas. Apesar da situação anómala, os Serviços de Planeamento, Marketing e Comunicação (SPMC) do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) consideraram manter determinadas rotinas e, nesse sentido, continuar a dar cumprimento a um dos nossos propósitos: fazer chegar a informação à qual temos acesso sobre a instituição, à comunidade IPBeja. Mas este foi (e continua a ser) um período muito peculiar: para além do serviço de informar, entendemos que poderíamos ser também facilitadores no acesso a determinada informação que pudesse ter um contributo interessante no sentido de ajudar a preencher um vazio, resultado de um confinamento “obrigatório” que contraria o sentido gregário do ser humano, e cuja dimensão ainda é impossível calcular. Por coincidência, recebemos a proposta do Prof. Luís Mendonça de Carvalho no sentido de incluir um separador na newsletter diária e oficial do IPBeja – IPBeja AO DIA – que fizesse algumas sugestões para leitura através de links disponíveis online. Pareceu-nos uma excelente ideia e sugerimos inclusivamente que a escolha fosse o mais ecléctica possível, por forma a abarcar diversas áreas da cultura. Oferecemos ao separador o título de “Sugestões de leitura em tempos de confinamento por… Luís Mendonça de Carvalho” e a primeira publicação ocorreu no dia 16 de Abril de 2020. A partir daí, assistimos a uma publicação regular que já visitou diversos recantos da cultura nacional e internacional. Pelo seu crescente interesse, considerámos que não podia ficar apenas na publicação diária, rapidamente substituível pela que nos chega no dia imediatamente a seguir. Por isso, quisemo-la publicar em fascículos trimestrais aos quais demos o nome de INVICTUS, como alusão à importância da resiliência e da perseverança em todos os momentos da vida. Começamos com este primeiro fascículo, alusivo ao trimestre Abril, Maio e Junho. Não sabemos se vamos fazer mais, quantos mais, seguindo o mesmo modelo ou fazendo outras opções. A bem da verdade e ao dia de hoje, isso pouco nos interessa: tal como escreve M. Torga, Em qualquer aventura,/O que importa é partir, não é chegar. Votos de boas leituras a todos.
Ana Paula Figueira Pró-Presidente Planeamento, Marketing e Comunicação IPBeja
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Introdução Este opúsculo apresenta sugestões de leitura que, de forma fragmentada e diária, foram dadas ao longo de quase três meses, na «newsletter» IPBeja Ao Dia. A sua génese encontra-se ligada ao Grande Confinamento provocado pela pandemia que nos assolou em 2020 e este foi o nosso modo, necessariamente simples e despretensioso, de mitigar o isolamento a que fomos obrigados. Os livros são a melhor ligação, por vezes a única, que temos com um passado mais ou menos longínquo, onde quase tudo o que agora experimentamos já ocorreu. Por esta razão, podem ser leais conselheiros que nos guiam e ajudam a sobreviver. Este foi o propósito primordial destas nossas sugestões, tentarmos mostrar que a vida sempre triunfa, que tudo é transitório e que a leitura pode ser uma forma extraordinária de resistência e de fruição. Esta viagem conduziu-nos até ao continente africano, às planícies da Arcádia grega, às cozinhas da corte da Rainha D. Maria I, ao chá do Japão, às florestas e ao mar português, à época de ouro do cinema americano, à poesia de Alcipe, Pessoa e Amália, à Utopia e a tantos outros locais reais ou imaginários onde só a leitura nos leva, assim como à revelação de mistérios que apenas a literatura nos concede. Foi para nós um desafio construir esta viagem cujo itinerário aqui se apresenta, para que outros possam sempre iniciá-la.
Luís Mendonça de Carvalho Professor Coordenador, IPBeja
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sugestões de leitura em tempos de confinamento
16 de abril Obras em reserva | O Museu que não se vê A Imprensa Nacional | Casa da Moeda e o Museu Nacional de Arte Antiga oferecem, durante o actual período de confinamento, uma selecção de catálogos de exposições realizadas neste museu. Será oferecida uma obra por semana; a primeira, referente à exposição OBRAS EM RESERVA | O MUSEU QUE NÃO SE VÊ, que esteve patente entre Maio e Setembro de 2016, está aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/ MNAA_ObrasReserva.pdf
Uma outra obra em oito volumes (cerca de 12.000 páginas), também disponível na web é a «História de África», patrocinada pela UNESCO e disponível em língua portuguesa: https://www.netmundi.org/home/2019/ colecao-historia-geral-da-africa-8-livros-parabaixar-pdf/?fbclid=IwAR1ZYrQw1E9w0MR9Zr_ dEGGDN3RczxzYNWdAd0sRTOGyG1otdptof8rJZG4
17 de abril A História do Dinheiro A Academia das Ciências de Lisboa disponibiliza o texto da comunicação “A História do Dinheiro”, proferida perante esta instituição por João Pedro Vieira, curador no Museu do Dinheiro (Banco de Portugal). O texto, no qual se documenta a evolução do dinheiro como documento privilegiado para a história da humanidade, não só económica, mas também política, cultural e tecnológica, pode obter-se, aqui: http://www.acad-ciencias.pt/document-uploads/9307616_vieira,-joaopedro---a-historia-do-dinheiro.pdf
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20 de abril Maria Helena da Rocha Maria Helena da Rocha Pereira (1925-2017) foi, porventura, a mais importante helenista portuguesa da segunda metade do século XX e deixou-nos uma obra notável. A Imprensa da Universidade de Coimbra e Fundação Calouste Gulbenkian disponibilizam, nesta ligação, uma obra que inclui algumas das suas traduções de teatro grego clássico (Antígona, As Bacantes, As Troianas, Medeia, etc.): https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/43423/1/ Traduc%CC%A7o%CC%83es%20do%20Grego.pdf
No início do século XVII, os italianos, desejosos de restabelecer o teatro grego, criaram a ópera. A mais antiga ópera de reportório é «L’Orfeo» (1607) de Cláudio Monteverdi (1567-1643). Aqui se pode ver uma notável interpretação da mesma, apresentada no Gran Teatre del Liceu (Barcelona), com encenação de Gilbert Deflo e orquestra dirigida por Jordi Savall: https://www.youtube.com/watch?v=dBsXbn0clbU
21 de abril O Cozinheiro Moderno Através do «site» da Biblioteca Nacional Digital, pode obter-se a obra «O Cozinheiro Moderno» de Lucas Rigaud, editado em Lisboa, no ano de 1780: http://purl.pt/22625/4/
O autor foi cozinheiro da Rainha Dona Maria I e, neste livro, compilou receitas que preparava para a Corte Portuguesa. Algumas utilizavam plantas facilmente disponíveis no Alentejo, por exemplo: Conserva de Flor de Laranjeira (p. 467) ou Xarope de Papoilas (p. 473). Na página 472 está a receita do Capilé, um xarope feito com folhas de avenca que, durante décadas, foi muito consumido no nosso país.
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22 de abril Dissertação de Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês A Dissertação de Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês apresentada, em 2014, por Rui Esteves da Silva à Universidade do Minho, é um precioso registo sobre a História do Chá (preto e verde) em Portugal. Pode ser obtida aqui: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/ 1822/33070/1/Rui%20Manuel%20Esteves%20da%20Silva.pdf
Na Biblioteca Nacional Digital encontra-se uma outra obra fundamental para a história desta bebida [O Culto do Chá] escrita por Wenceslau de Moraes e editada em 1905. http://purl.pt/26764/3
23 de abril Guia ilustrado sobre as espécies arbóreas indígenas da Floresta Portuguesa O Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) disponibiliza, no seu «site», um interessante guia ilustrado sobre as espécies arbóreas indígenas da Floresta Portuguesa. Este guia pode ser obtido aqui: http://www2.icnf.pt/portal/florestas/gf/prdflo/resource/ doc/ICNF_EspeciesIndgenas_Edicao2016-2.pdf
Na década de 1970, o nosso país foi um dos mais importantes centros mundiais de extracção e tratamento da resina de pinheiro. Evocando este passado/presente, o ICNF oferece-nos, também, um opúsculo profusamente ilustrado sobre a indústria resinífera portuguesa: http://webpages.icav.up.pt/pessoas/mccunha/Silvicultura/ Aulas/Pinheiros/resinagem_2016.pdf
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24 de abril O Tempo Resgatado ao Mar Em 2014, o Museu Nacional de Arqueologia, em colaboração com o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, apresentou a exposição temporária «O Tempo Resgatado ao Mar», na qual se mostraram peças provenientes de expedições subaquáticas realizadas em Portugal, nos últimos trinta anos. Esta exposição era acompanhada por um magnífico catálogo, que se pode obter aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/ MNA_OTempoResgatadoAoMar.pdf
27 de abril Charlie Chaplin Charlie Chaplin (1889-1977) foi um notável actor e realizador de cinema. A sua personagem favorita (Charlot) é uma das mais reconhecidas da história da Sétima Arte. A obra «O Essencial sobre Charlie Chaplin», redigido pelo Professor José-Augusto França, é um interessante ensaio sobre a vida deste actor e pode ser obtido aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/125_ OEssencialSobreCharlesChaplin.pdf
O chapéu-de-coco (ou bowler), utilizado por Charlot, foi criado pela chapelaria londrina Lock & Co. Hatters (a mais antiga do mundo) para o Conde de Leicester. Este nobre inglês queria um chapé forte e impermeável, que pudesse ser usado pelos seus guardas florestais. Mais informação sobre o chapéu e a chapelaria, aqui: https://www.lockhatters.co.uk/
Esta ligação permite re(ver) um dos filmes de Charlot, «O Garoto/The Kid» (1921): https://www.youtube.com/watch?v=q1U0eKOOwsQ
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28 de abril Vocabulário de objectos do Culto Católico A Universidade Católica e a Fundação da Casa de Bragança editaram, em 2004, um «Vocabulário de Objectos do Culto Católico» no qual se encontra explicado o uso de centenas de objectos religiosos, como o turíbulo, o resplendor, a tripla tiara, a mitra, os flabelos, etc. Uma cópia desta obra, profusamente ilustrada, pode obter-se aqui: https://drive.google.com/file/ d/0B7xgTMCrAWKfWVp3bV9GV3o5TkE/view
29 de abril As Obras Poéticas da Marquesa de Alorna Alcipe era o «nom de plume» de Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna, que nasceu em Lisboa, em 1750, e nesta cidade faleceu, em 1839. A Marquesa teve uma infância atribulada porque, com apenas 8 anos, entrou para o Convento Chelas, com a mãe e a irmã, na sequência do Processo dos Távoras (os avós maternos foram executados na sequência desse processo) e aí permaneceu até 1777. A sua vida foi intensa, com aventuras, viagens, exílios, intrigas políticas e muitos salões literários. O livro «As Obras Poéticas da Marquesa de Alorna» reúne alguns dos seus poemas mais belos: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/ BFLP_MarquesaDeAlorna_ObrasPoeticas.pdf
A Fundação das Casas de Fronteira e Alorna (Lisboa) mantém viva a herança cultural e literária da Marquesa, e de outros familiares que marcaram a história cultural e política do nosso país. Site da Fundação https://fronteira-alorna.pt/ Visita Virtual aos Jardins e ao Palácio Fronteira https://www.google.com/maps/@38.7403582,9.1804026,2a,75y,171.55h,84.63t/data=!3m6!1e1!3m4!1sh3_ MfbDqiigOzZBLwNbbLw!2e0!7i13312!8i6656
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30 de Abril Amália Rodrigues: Dos Poetas Populares aos Poetas Cultivados Hoje, relembramos Amália Rodrigues (19201999), com este ensaio «Amália Rodrigues: Dos Poetas Populares aos Poetas Cultivados» escrito por Vasco Graça-Moura e apresentado à Academia de Ciência de Lisboa (2013): http://www.acad-ciencias.pt/document-uploads/2699211_ amalia-rodrigues.pdf
Também o filme «Amália» (2008), realizado por Carlos Coelho da Silva e com Sandra Barata Belo (Lisboa, 1978) no papel de Amália: https://www.youtube.com/watch?v=yXT8iex8xtE
4 de maio Os Ballets Russes em Lisboa «Os Ballets Russes em Lisboa», escrito por Maria João Castro, é um interessante ensaio sobre a estada, na capital portuguesa, entre Dezembro de 1917 e Março de 1918, desta lendária companhia russa, que tinha sede em Paris. A companhia, fundada por Serguei Diaghilev (1872-1929), manteve-se activa entre 1909 e 1929 e com ela colaboraram alguns dos mais consagrados artistas do século XX, como Igor Stravinsky, Pablo Picasso, Henri Jean Cocteau, Anna Pavlova, George Balanchine e Vaslav Nijinski. O ensaio pode ser obtido aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/133_ OEssencialSobreOsBalletsRusses.pdf
Foi para esta companhia que Igor Stravinsky (1882-1971) compôs, em 1913, a «Sagração da Primavera», coreografada por Vaslav Nijinsky (1890-1950). Na noite de estreia, o público reagiu violentamente, tal foi o impacto desta obra na audiência parisiense. Um excerto (reconstituição) do que deverá ter sido a coreografia original, pode ser vista aqui: https://youtu.be/jF1OQkHybEQ?t=159
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5 de maio Utopia Thomas More (1478-1535), um dos grandes humanistas do Renascimento, foi o autor de uma obra inspiradora: a «Utopia» (1516), na qual se apresenta uma sociedade insular alternativa, generosa e tolerante. Nos alvores da União Soviética, a «Utopia» foi muito popular entre os novos dirigentes russos porque nela se apresentam princípios e formas de organização social que os governantes russos desejavam implementar, nomeadamente, a abolição da propriedade privada. Por ter sido martirizado, devido às suas convicções religiosas (e também políticas), More foi canonizado pelo Papa Pio XI (1935) e, no ano 2000, o Papa João Paulo II consagrou-o como protector dos Políticos e dos Homens e Mulheres que servem as mais altas funções do Estado. A vida de Thomas More foi dramatizada sob a forma de uma peça de teatro depois transcrita para filme [A Man For All Seasons, (1966)], vencedor de seis Óscares da Academia, entre os quais, o de melhor filme e de melhor actor principal. Uma cópia da «Utopia» pode obter-se aqui: http://funag.gov.br/biblioteca/download/260-Utopia.pdf
6 de maio O Príncipe Feliz «O Príncipe Feliz» de Oscar Wilde é um conto magnífico, no qual a estátua de um jovem príncipe, coberta de ouro e pedras preciosas, se comove com o sofrimento dos humanos e, com o auxílio de uma andorinha, decide despojar-se das suas riquezas. Este e outros dois contos [«O Rouxinol e a Rosa» e «O Amigo Dedicado»] foram traduzidos por Sandra Maria da Costa Luna, na sua Dissertação de Mestrado em Estudos Anglo-Americanos (Variante de Tradução Literária) apresentada à Universidade do Porto. Uma cópia desta tese pode obter-se aqui: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/55978/2/ tesemestsandraluna000127843.pdf
Através desta ligação, pode ouvir-se a versão original do «Príncipe Feliz», lida pelo lendário actor inglês, Sir John Gielgud: https://www.youtube.com/watch?v=MQPEGC399Kw
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7 de maio George Agostinho Baptista da Silva George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994) foi um filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo e pedagogo, que teve uma vida intensa, múltipla. Nasceu no Porto, estudou em Paris, foi professor liceal e, após ter sido expulso da função pública por se recusar a subscrever os princípios do Estado Novo, estabeleceu-se no Brasil. Legou-nos obras inspiradoras, plenas de preceitos éticos e pedagógicos, nas quais se encontram excelentes aforismos: “O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.” “O homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta.” “O que interessa na vida não é prever os perigos das viagens; é tê-las feito.” “O mundo acaba sempre por fazer o que sonharam os poetas.” Um interessante ensaio sobre a sua vida, pode obter-se aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/83_ OEssencialSobreAgostinhoSilva.pdf Neste «link» pode ver-se o documentário «Agostinho da Silva - Um Pensamento Vivo»: https://www.youtube.com/watch?v=GZcGd_lcOv4
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8 de maio D. Pedro e D. Inês A trágica história Inês de Castro e do infante Dom Pedro inspirou autores a criarem obras de arte nas mais distintas áreas: literatura, pintura, escultura, teatro e cinema. A paixão de Inês e Pedro gerou questões de natureza política que levaram o Rei D. Afonso V a mandar assassinar Inês de Castro, que morreu juntos aos seus filhos. Quando o infante D. Pedro ascendeu ao trono, terá feito coroar Inês antes de o seu corpo ser sepultado no magnífico túmulo que se encontra no Mosteiro de Alcobaça. Este túmulo, e o do Rei D. Pedro I, são um ponto focal para todos os que se interessam pelo estudo da arte portuguesa de meados do século XIV. Recorde-se que o programa da Visita de Estado da Rainha Isabel II, em 1957, incluiu o Mosteiro de Alcobaça para conhecer, não apenas o edifício, mas, principalmente, os túmulos de Pedro e Inês. A obra «D. Pedro e D. Inês» escrita por Maria Helena da Cruz Coelho e António Manuel Ribeiro Rebelo e editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra: https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/39161/3/ Pedro%20e%20Ines.pdf
Um programa da RTP (1978) sobre Inês e Pedro, apresentado pelo Professor António José Saraiva: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/os-amores-de-d-pedro-e-d-ines-de-castro/
Imagens (Fevereiro de 1957) da Rainha Isabel, em Alcobaça (aos 23:28 minutos): https://arquivos.rtp.pt/conteudos/visita-de-sua-majestade-a-rainha-isabel-ii-ii-parte/
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11 de maio Luísa Todi Luísa Todi nasceu em Setúbal, em 1753, e foi a mais aclamada e a mais internacional das cantoras de ópera portuguesas. Actuou nas principais capitais europeias setecentistas – Madrid, Paris, Londres, Viena, Berlim, e, quando se apresentou em Veneza, em 1791, este ficou conhecido como o Ano Todi. Ainda hoje, se encontram testemunhos do êxito da cantora em Itália, desde o nome de ruas ao de hotéis. A convite da Imperatriz Catarina, a Grande, viajou até São Petersburgo. Uma noite, Luísa Todi interpretou uma ária da rainha Dido, da ópera Didone Abbandonata. A Imperatriz russa ficou tão emocionada que, no final do espectáculo, retirou o diadema que usava naquela noite e ofereceu-o a Luísa Todi, dizendo-lhe: «Cantais e morreis como uma verdadeira rainha. Sois vós que mereceis esta coroa». Luísa Todi voltou para Portugal e estabeleceu-se no Porto. Aí residia quando, no dia 29 de Março de 1809, o infame exército francês comandado pelo General Soult (Segunda Invasão Francesa) quebrou as linhas defensivas da cidade. A população indefesa, temendo a barbárie do exército francês, correu para a Ponte das Barcas, tentando atravessar para Vila Nova de Gaia. A frágil ponte quebrou-se e terão morrido cerca de 4.000 pessoas – uma placa evocativa deste trágico episódio é ciosamente preservada. Luísa Todi estava lá, caiu à água, foi salva por uma criada, mas perdeu a sua lendária colecção de jóias. Presa pelos franceses, foi presente ao General Soult, que a libertou porque se recordava das suas magníficas actuações em Paris. Posteriormente, Luísa Todi estabeleceu-se em Lisboa, onde viria a falecer, no dia 1 Outubro de 1833. Em 1873, foi publicado um ensaio sobre a vida de Luísa Todi, escrito por Joaquim de Vasconcelos (1849-1936) que, na procura de informações sobre a vida da artista, percorreu o Bairro Alto (Lisboa) onde Todi morou nos últimos anos da sua vida. Encontrou uma idosa florista que conheceu Luísa e se lembrava de muitos episódios da sua vida – era filha da criada que salvou Luísa Todi no Porto. Uma cópia da obra de Joaquim de Vasconcelos pode ser obtida aqui: https://archive.org/details/DELTA53898_1FA/page/n11/mode/2up
Uma ária da ópera Didone Abbandonata, na voz de Ana Paula Russo – cantora de ópera natural de Beja: https://www.youtube.com/watch?v=lKf-ohussWw
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12 de maio Artur Pastor Hoje, revistamos a obra de Artur Pastor (1922-1999), um dos grandes nomes da fotografia portuguesa do século XX, através da leitura de um catálogo editado pela Câmara Municipal de Lisboa, actual proprietária do seu valioso espólio. http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/ Eventos/arturpastor/catalogoarturpastor.pdf
Artur Pastor nasceu em Alter do Chão, estudou em Évora (na Escola de Regentes Agrícolas) e foi fotógrafo do Ministério da Agricultura. Ao longo de décadas, percorreu o nosso país para registar tradições ligadas à agricultura e a outras actividades económicas (pesca, salinas, feiras, etc.). Recentemente, o Arquivo Municipal de Lisboa e o Centro Unesco – Beja organizaram, com fotos deste autor, a exposição «Um Alentejo Distante». Centenas de belíssimas fotos da sua colecção estão disponíveis aqui: https://arturpastor.tumblr.com/
13 de maio A Visita da Velha Senhora Revisitamos a mais conhecida peça de teatro do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990): A Visita da Velha Senhora (1955), que estreou em Portugal, em 1960, tendo Amélia Rey Colaço (1898-1990) como protagonista, no papel de Clara Zachanassian. Segundo o autor desta peça, Clara colecciona maridos, que despreza, e é uma «senhora de 62 anos, ruiva, colar de pérolas, pulseiras de ouro enormes (...) com ar de dama do grande mundo, com uma graciosidade invulgar, apesar de todo o grotesco», Decide visitar a decadente cidade na qual nasceu (Güllen), para se vingar dos que a humilharam e, também, para «nos mostrar que, mais do que a política ou a qualquer forma de ideologia, é o dinheiro que comanda o mundo». Em 1964, a lendária actriz sueca Ingrid Bergman (1915-1982) interpretou Clara Zachanassian, no filme homónimo da peça de teatro, realizado por Bernhard Wicki (1919-2000). https://ieacen.files.wordpress.com/2015/08/a-visita-da-velha-senhora.pdf
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14 de maio Receitas e Sabores dos Territórios Rurais Hoje, recomendamos o livro «Receitas e Sabores dos Territórios Rurais», editado pela Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Rural. Nesta obra, com 270 páginas, encontramos centenas de receitas de 40 territórios culturais do nosso país; do Alentejo, seleccionaram-se 52 receitas. Com esta obra, os autores desejam «valorizar muitas das boas receitas da gastronomia nacional, trazendo maior visibilidade pública aos pratos tradicionais e estimular a população e os restaurantes a recolocarem estes pratos no centro da alimentação nacional». A gastronomia portuguesa é, de facto, excepcional e a sua divulgação muito deve a Maria de Lourdes Modesto. A grande «Diva da Gastronomia Portuguesa» nasceu em Beja, no dia 1 de Junho de 1930, e iniciou a sua carreira televisiva no dia 15 de Maio de 1958. http://www.minhaterra.pt/wst/files/I12086-MT-MGP-WEB.PDF
15 de maio Revista Macau Hoje, viajamos até Macau, território que se manteve sob administração portuguesa desde meados do século XVI até Dezembro de 1999, para recomendarmos, não livros, mas publicações periódicas: a Revista Macau (editada pelo Gabinete de Comunicação Social do Governo da Região Administrativa Especial de Macau) e a Revista de Cultura (editada pelo Instituto Cultural de Macau). A história da Revista Macau remonta ao ano de 1987, tendo já tido várias séries; actualmente, publica-se a 4.ª série, com periodicidade bimestral. O «site» da revista é este: www.revistamacau.com/
Todos os números da 4.ª série (desde Dezembro de 2005), estão aqui («download» gratuito): https://issuu.com/revista-macau Ainda no território de Macau, o Instituto Cultural de Macau publica uma interessante revista sobre temas do Extremo Oriente, e muitos outros, que se encontra disponível aqui: http://www.icm.gov.mo/rc/4
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18 de maio Ritmanálise Hoje, recomendamos um pequeno livro, editado pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, sobre a «Ritmanálise». E o que é a Ritmanálise? O autor do ensaio que aqui aconselhamos e, também, o filósofo que apresentou este modelo ao mundo, assim o explicam: O ensaísta Rodrigo Sobral Cunha escreveu: «A Ritmanálise é um novo modelo integral de conhecimento operacional concebido pelo filósofo, físico e matemático português Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos (1889-1950) e apresentado à Europa pelo filósofo e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962).
O ritmo é a própria energia de existência em todas as escalas e assim o princípio unificador da física, da biologia e da psicologia. Tanto o universo como a própria vida assentam em sistemas rítmicos interativos, desde as frequências regulares da radiação, passando pelo pulsar vital, até às oscilações do psiquismo humano, que esta nova forma de atividade criadora procura compreender e orientar.» A obra (La Dialectique de la Durée, 1936) de Gaston Bachelard, que apresentou a Ritmanálise à comunidade científica mundial, inicia-se assim: «Há alguns anos, foi-nos confiada uma importante obra que, tanto quanto saibamos, ainda não apareceu nas livrarias. A obra apresenta este belo título, luminoso e sugestivo: A Ritmanálise. Ao praticá-la, adquirimos a convicção de que há lugar, em psicologia, para uma ritmanálise no mesmo estilo em que se fala de psicanálise. Cumpre curar a alma sofredora – em particular a alma que sofre com o tempo, que sofre de spleen [melancolia] – através de uma vida rítmica, de um pensamento rítmico, de uma atenção e um repouso rítmicos.» De acordo com Rodrigo Sobral Cunha: «Lúcio Pinheiro dos Santos nunca chegaria a encontrar editor para a obra, mas as obscuras vicissitudes da história da ritmanálise prolongam-se para além da morte do fundador, cujo espólio, após reiterados insucessos de tentativas de publicação, a viúva queimaria em acto empedocliano em frente da Imprensa Nacional pelo final dos anos 50 (não se sabe se por iniciativa própria, se por ordem do filósofo).» «O Essencial sobre a Ritmanálise»: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/112_ OEssencialSobreRitmanalise.pdf
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19 de maio Henri Cartier-Bresson Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi um fotógrafo francês que muito contribuiu para a «memória futura» do século XX. Viajante intrépido, registou a vida na antiga União Soviética, os últimos vestígios culturais da China Imperial e a própria Revolução Cultural (1966-1976), a Índia após o ocaso do domínio colonial inglês, entre outros momentos históricos captados pelas suas câmaras. Também esteve em Portugal durante a década de 1950, pouco após cofundar a agência Magnum, uma cooperativa internacional de fotógrafos, com escritórios em Nova Iorque, Paris, Londres e Tóquio. Henri Cartier-Bresson fotografou homens e mulheres que marcaram o século XX, como Albert Camus, Marilyn Monroe, Truman Capote, Alberto Giacometti, Mahatma Gandhi, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. O catálogo que hoje recomendamos (Decisive Moments) foi editado pela Fine Art Society e acompanhou uma exposição realizada em Londres: https://issuu.com/jaenero/docs/hcb-catalogue
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20 de maio Rosália de Castro Rosália de Castro (1837-1885) foi uma escritora galega que nasceu em Santiago de Compostela, e é uma das figuras mais marcantes da literatura ibérica. Ultra-romântica e profundamente lírica, interpretou muito bem o mundo das crenças e da saudade e, com a obra «Cantares Gallegos», foi precursora do Renascimento da Cultura Galega. Uma vida privada instável, causada por um casamento infeliz, está reflectida nas suas obras; os seus versos descrevem «o remorso, o desejo reprimido, a angústia de viver, a desilusão da solidão espiritual, o medo da morte, a efemeridade da afeição, a sensação de que tudo é inútil.» A Fundação «Casa de Rosalía» [https://rosalia.gal/]: «É unha organización de interese galego que ten como finalidade fomentar e difundir o culto á memoria de Rosalía, de Manuel Murguía e dos seus fillos; conservar o conxunto da Casa-Museo de Rosalía; conservar e incrementar o património rosaliano dispoñéndoo do mellor xeito para que poida ser contemplado e estudado». A obra «Cantares Galegos», que descreve a alegria do povo, o seu folclore e o amor à pátria: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/42/ Cantares_Gallegos_1863_Rosal%C3%ADa_Castro_de_ Murgu%C3%ADa.pdf
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25 de maio A Ordem de Malta O mais pequeno país da comunidade internacional não é o Vaticano, como, em geral, se supõe, mas sim uma outra entidade jurídica, também localizada em Roma: a Ordem de Malta, ou, no seu nome completo, Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. O território da Ordem é composto por dois «espaços»: o Palácio Malta [Palazzo Magistrale] (na Via Condotti) e a Villa del Priorato di Malta (no Aventino, uma das Sete Clinas de Roma). O governo da Ordem de Malta foi expulso da ilha homónima quando, em 1799, o exército de Napoleão seguia para o Egipto; Napoleão quis ir até ao Egipto para, entre outras razões, melhor se identificar com Alexandre, o Grande, e Júlio César. Napoleão Bonaparte levou consigo não só exércitos, mas também académicos e foi a partir dos estudos destes que nasceu a egiptologia contemporânea. Os cavaleiros exilaram-se em Roma, onde o Papa lhes conferiu um estatuto de extraterritorialidade, esperando voltar a Malta, mas tal nunca aconteceu. A Ordem emite selos postais, passaportes e cunha moedas, tal como qualquer país soberano. O «site» da Ordem: www.orderofmalta.int/ Portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, com informação sobre a Ordem de Malta: https://www.portaldiplomatico.mne.gov.pt/relacoesbilaterais/historia-diplomatica?view=article&id=495:ordem-de-malta&catid=119
Artigo sobre a Ordem de Malta: http://www.estudioshistoricos.org/20/eh2012.pdf
Artigo sobre a História da Ordem de Malta em Portugal: https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/47109/1/Algumas_achegas_para_o_estudo_das_origens.pdf
Grão-Mestres Portugueses da Ordem de Malta: http://www.ordemdemalta.pt/grao-mestres-portugueses. html
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26 de maio Tesouro da Vidigueira O «Tesouro da Vidigueira» é o nome pelo qual é conhecido um conjunto de três peças proveniente do Oriente – um oratório-relicário, um porta-paz e uma estante de missal – que integram as colecções do Museu Nacional de Arte Antiga e que, no passado, fizeram parte do património do Convento de Nossa Senhora das Relíquias, na Vidigueira. O «Tesouro» integrava um conjunto superior de peças, agora perdidas, doadas por André Coutinho, um clérigo portuense que, por volta de 1545, partiu para a Índia em busca de um promissor «negócio da China» e que, após o seu regresso a Portugal, se instalou no referido convento. Durante muito tempo, acreditou-se que estas peças, criadas na década de 1580, eram provenientes de uma oficina de produção indo-portuguesa, no entanto, a descoberta, no oratório, de caracteres chineses permitiu concluir que a produção do tesouro não teve apenas mão indiana mas também chinesa. Este «Tesouro» foi estudado e apresentado numa exposição que esteve patente no Museu Nacional de Arte Antiga, e cujo catálogo pode ser obtido aqui: http://museudearteantiga.pt/content/files/lr_stp_viagenstesourovidigueira_website-min.pdf
O resultado da análise com feixes de iões (IBA), que foi feito às peças, pode ser lido aqui: http://projects.itn.pt/Corregidor/21.pdf
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27 de maio Frei Luís de Sousa «Frei Luís de Sousa», obra dramática escrita por Almeida Garrett (1799-1854), estreou em Lisboa, no Teatro do Salitre, em 1847, e é considerada a obra-prima do teatro romântico português e uma das obras-primas da literatura nacional. O enredo inspira-se na vida do escritor Frei Luís de Sousa e retrata a resistência à dominação filipina. Frei Luís de Sousa foi o nome eclesiástico de Manuel de Sousa Coutinho, que nasceu em Santarém (c.1555) e faleceu em Lisboa (1632). Este português, teve uma vida plena de aventuras; ainda jovem, foi feito prisioneiro por corsários que o encarceraram em Argel, cidade na qual conheceu Miguel de Cervantes, viveu em Espanha, foi alcaide-mor do Castelo de Marialva, esteve na América do Sul, casou com Madalena de Vilhena e, mais tarde, após a morte trágica da filha, ingressou no Convento Dominicano de São Domingos de Benfica (a esposa recolheu-se ao Convento do Sacramento, com o nome de Soror Madalena das Chagas). Após deixar a vida secular, dedicou os seus dias à escrita, sendo hoje considerado um dos melhores autores portugueses do século XVII. A obra «Frei Luís de Sousa» pode ser obtida aqui: http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/literatura-1/1051-1051/file.html
O filme realizado por António Lopes Ribeiro (1950) https://www.youtube.com/watch?v=tSVszbvutKA
Um opúsculo pedagógico sobre esta peça: https://www.tndm.pt/fotos/escolas/frei-garrett_ 9540037324f7d736283c5c.pdf
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28 de maio A Royal Lunch - A Visita a Sintra da Rainha Alexandra do Reino Unido Hoje, recomendamos a obra «A Royal Lunch - A Visita a Sintra da Rainha Alexandra do Reino Unido», editada pelos Parques de Sintra (Monte da Lua), em Outubro de 2019, para evocar a visita da monarca inglesa, no dia 24 de Março de 1905. Este livro, com 274 páginas e 150 imagens, reúne quatro estudos, realizados por conservadores dos Palácios Nacionais de Sintra e da Ajuda, sobre: porcelana, prata, vidro e protocolo. Pode obter-se aqui: https://www.parquesdesintra.pt/wp-content/ uploads/2019/10/ColecoesEmFoco_PNSintra_eBook_2_ HQ.pdf
29 de maio O Sangue de Bizâncio O dia 29 de Maio de 1453 marca, simbolicamente, o fim da Idade Média e o início do Renascimento. Foi neste dia, uma terça-feira, que Constantinopla – a cidade Constantino – capital do Império Romano do Oriente, caiu em poder dos Otomanos (turcos). Mais tarde, já no século XX, a cidade mudou o nome para Istambul. O Império Romano do Oriente foi uma organização política singular. Durante mil anos, os seus habitantes falaram grego, consideraram-se romanos, foram fervorosos cristãos, mas preservaram e leram a literatura clássica grega, como a Ilíada e a Odisseia. A tomada de Constantinopla pelos Otomanos, um povo proveniente da Ásia Central que se havia convertido ao Islamismo, causou um profundo terror na Europa Ocidental. Durante
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décadas, os monarcas ocidentais, não quiseram acreditar que os otomanos pudessem conquistar a cidade, defendida por muralhas que muitos consideravam inexpugnáveis e que tinham resistido a dezenas de cercos (excepto à hedionda 4.ª Cruzada). Contudo, a tecnologia tinha evoluído e as muralhas eram agora uma defesa frágil perante os canhões, peças de artilharia que eram uma novidade no arsenal europeu e que os Otomanos usaram contra Constantinopla. A obra colectiva que hoje recomendamos (O Sangue de Bizâncio) é uma interessante história sobre o Império Romano do Oriente, vulgarmente conhecido como Império Bizantino, e foi editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Pode obter-se aqui: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/livro/o_sangue_de_biz%C3%A2ncio_ ascens%C3%A3o_e_queda_do_imp%C3%A9rio_romano_do_oriente
1 de junho Danças Populares Portuguesas Hoje, sugerimos um interessante ensaio sobre «Danças Populares Portuguesas», redigido por Tomaz Ribas. Nesta obra, encontramos uma breve história de evolução da dança no território nacional, desde as danças de origem «pagã», às danças pírricas, outras de origem afro-brasileira, danças de trabalho, de sedução, etc. O estudo inclui elementos para uma carta coreográfica de Portugal; na região do Baixo Alentejo, encontramos as danças dos Balhos de Cadeia e Balhos de Roda. A obra pode obter-se aqui: http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digitalcamoes/etnologia-etnografia-tradicoes/111-111/file.html
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2 de junho Lucien Donnat | Um Criador Rigoroso Lucien Donnat (1920-2013) foi, entre 1941 e 1974, cenógrafo e figurinista da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, no Teatro Nacional Dona Maria, onde criou cerca de 140 cenários, para além de outras actividades, como a composição musical. Órfão de mãe, aos 14 anos, Lucien foi enviado para Paris, onde, em 1937, ingressou na «École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs» mantendo, simultaneamente, uma efémera carreira como «chansonnier» nos cabarés de Paris. No final do Verão de 1939, estava de férias em Lisboa, quando a Alemanha invadiu a Polónia e se iniciou a II Guerra Mundial. Este facto, impediu-o de regressar a Paris, decidindo, então, abrir o seu primeiro atelier, na Rua das Janelas Verdes, onde a família mantinha a York House. Ao longo das décadas seguintes, desenvolveu uma carreira multifacetada; desenhou os painéis de azulejos que evocam produtos de origem portuguesa (faiança, cortiça, conservas de peixe, cortiça, etc.) que hoje se conservam na estação ferroviária do Rossio (Lisboa), decorou salas no Palácio Estoril Hotel, no Hotel Ritz, no Hotel Avenida Palace, na Embaixada de França em Lisboa, na Nunciatura Apostólica de Lisboa, na York House e no Convento dos Cardaes, onde viveu os seus últimos anos. O espectáculo «A Senhora Klein», de Nicholas Wright, com encenação de João Mota e levado à cena na Comuna – Teatro de Pesquisa, foi a sua última obra, como cenógrafo. Como refere Eunice Tudela de Azevedo, num dos capítulos da obra que hoje recomendamos: «parece não ter havido, no panorama artístico do século XX português, um ser tão completo e com tanta actividade em diversas áreas quanto Lucien Donnat (…). A sua história é uma narrativa de determinação, trabalho, ambição e coragem; de entrega total aos seus objectivos, por mais duro que o caminho se adivinhasse. Donnat, que nunca se vergou perante as adversidades da vida, costumava relembrar que devemos todos almejar a perfeição, porque Deus está nos detalhes. Lucien também.» A obra «Lucien Donnat | Um Criador Rigoroso» pode ser lida aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/LucienDonat.pdf
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3 de junho A Formação de Portugal Hoje, recomendamos a obra «A Formação de Portugal» do Professor Orlando Ribeiro. Nesta obra, encontramos uma interessante sinopse da evolução do território historicamente definido como Portugal, incluindo a diversidade cultural das regiões que o compõem, as influências históricas da romanização, dos «bárbaros» oriundos do Norte da Europa e dos muçulmanos que, a partir do século VIII, aqui se estabeleceram. Este livro inclui muitas referências ao Alentejo, nomeadamente, às necrópoles dolménicas, à geografia física ímpar, aos regionalismos linguísticos, à evolução do próprio topónimo (no passado, a nossa região também se denominava Entre Tejo e Odiana) e ao padrão de povoamento, com a curiosidade de nos informar que, no século XIII, a Vidigueira recebeu muitos migrantes do Minho para aí se estabelecerem. Ênfase é atribuída à conservação da organização muçulmana no Algarve, região que, de facto, manteve uma elevada autonomia dentro do nosso país, devido ao isolamento que as serras algarvias impunham. Como curiosidade, recordemos que o último monarca português, Dom Carlos, era Rei de Portugal e dos Algarves. O Professor Orlando Ribeiro (1911-1997) foi, porventura, o mais importante geógrafo português do século XX, tendo desenvolvido notável investigação em Portugal Continental e nas antigas possessões ultramarinas, nomeadamente em Goa, Cabo Verde e Angola. Foi por sua iniciativa que, em 1943, se instituiu o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. A obra «A Formação de Portugal» pode obter-se aqui: http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digitalcamoes/geografia-1/112-a-formacao-de-portugal/file.html
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4 de junho A História das Plantas Hoje, recomendamos uma obra que se conservou durante mais de 23 séculos; uma obra que resistiu à génese e ao ocaso de reinos e impérios: «A História das Plantas», escrita por Teofrasto. Teofrasto nasceu por volta de 372 a.C., na ilha de Lesbos, e faleceu em 288 a.C.. O seu verdadeiro nome seria Tirtamos, mas Aristóteles, que foi seu mestre, tê-lo-á apelidado de Teofrasto, nome que significa «aquele que apresenta eloquência divina». Após a morte de Aristóteles, foi Teofrasto que assumir a direcção do Liceu – escola fundada por Aristóteles – onde leccionou durante cerca de 35 anos. Este autor deverá ter escrito mais de duzentos títulos sobre temas tão díspares como física, zoologia, botânica e literatura, mas poucas das suas obras chegaram até nós, entre as quais está «A História das Plantas». Este tratado botânico foi, recentemente, traduzido pela Professora Maria de Fátima Sousa e Silva, catedrática de grego na Universidade de Coimbra, instituição na qual se encontra a mais importante escola de grego do mundo lusófono, e, também, pelo Professor Jubilado Jorge Paiva, notável botânico e divulgador de ciência, que foi lente na Universidade de Coimbra. Pode ser lida, aqui: https://digitalis-dsp.uc.pt/ bitstream/10316.2/39060/6/ Historia%20das%20Plantas.pdf
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5 de junho Vista Alegre: História, Colecionismo e Mercado Hoje, recomendamos uma tese sobre a mais antiga fábrica de porcelanas da Península Ibérica – «Vista Alegre: História, Colecionismo e Mercado» – redigida por Ana Rita Soares Mendes e apresentada ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, para obtenção do grau de mestre em Mercado de Arte. A Vista Alegre foi fundada em 1824, por José Ferreira Pinto Basto, um proprietário agrícola e comerciante que decidiu iniciar uma carreira industrial. Em 1812, comprou a Quinta da Ermida, nas proximidades de Ílhavo e, em 1816, comprou, em hasta pública, a Capela da Vista Alegre e os terrenos envolventes. Em 1824, apresentou uma petição ao Rei D. João VI para «erigir uma grande fábrica de louça, porcelana, vidraria e processos chímicos na sua Quinta chamada da Vista-Alegre da Ermida». Com o Alvará Régio de 1 de Julho de 1824, D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana e, cinco anos depois, esta empresa recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento régio pela sua arte e sucesso industrial. Em 1964 foi inaugurado o Museu da Vista Alegre, expondo ao público peças representativas do longo caminho percorrido e, em 1985, foi criado o Clube do Colecionadores. Em Maio de 2001 deu-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o sexto maior do mundo nesse sector. Um exemplo de leilões dedicados às peças Vista Alegre está aqui: https://www.cml.pt/leiloes/online/1241/vista-alegre
A tese sobre a Vista Alegre pode ser lida aqui: https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/12728/1/ VISTA%20ALEGRE%20EF.pdf
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8 de junho O Virtuoso Criador Hoje, recomendamos o catálogo de uma exposição dedicada a Machado de Castro – «O Virtuoso Criador» – que esteve patente no Museu Nacional de Arte Antiga. Joaquim Machado de Castro nasceu em Coimbra (1731) e faleceu em Lisboa, no final do ano de 1822, tendo sido um dos mais influentes escultores europeus da segunda metade do século XVIII e início do século XIX. A sua obra mais conhecida é, porventura, a estátua equestre (1775) do Rei D. José, que se encontra na Praça do Comércio (antigo Terreiro do Paço), mas Machado de Castro também coordenou o programa escultórico da Basílica da Estrela e do Palácio da Ajuda. A estátua de D. José I foi a primeira estátua equestre feita em Portugal e, também, a primeira de grandes dimensões a ser fundida de um só jacto. A representação de D. José I encontrase entre duas alegorias: o Triunfo (representado pelos cavalos) e a Fama (representada pelo elefantes, que foram um símbolo da Corte Portuguesa). O modelo em gesso (escala natural) desta estátua encontra-se na Casa dos Gessos, uma dependência do Museu Militar. Machado de Castro escreveu obras sobre arte escultórica; a mais conhecida é a «Descripção analytica da execução da estatua equestre erigida em Lisboa à gloria do Senhor Rei Fidelíssimo D. José I», editada em Lisboa, no ano de 1810. A Casa dos Gessos pode «visitar-se» aqui: https://vimeo.com/285262191
A obra «O Virtuoso Criador» pode obter-se aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/ MNAA_OVirtuosoCriador.pdf
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9 de junho Amor de Perdição Recomendamos a leitura de um clássico português – Amor de Perdição (1862), escrito por Camilo Castelo Branco (1825-1890) e, em complemento, o filme homónimo realizado por António Lopes Ribeiro (1943), que contou com a presença da jovem Carmen Dolores, no papel de Teresa de Albuquerque. «Amor de Perdição» é a obra mais conhecida de Camilo Castelo Branco e uma das mais importantes do Romantismo Português. Narra a história do amor proibido entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, contra as convenções sociais oitocentistas. Camilo inspirou-se em factos da sua vida e escreveu este romance em apenas quinze dias, durante o cárcere na Cadeia da Relação, no Porto, devido a um famoso processo de adultério com Ana Plácido (1831-1895). O livro pode obter-se aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/ livros/gratuitos/CCB_Amor_Perdicao.pdf
O filme está aqui: https://www.youtube.com/ watch?v=i_6_UkQTnmI
Um documentário sobre Camilo Castelo Branco e a sua obra: https://vimeo.com/11695854
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15 de junho Poder e Iconografia no Antigo Egipto Recomendamos a leitura da obra «Poder e Iconografia no Antigo Egipto» de José Sales, na qual se apresenta uma interessante síntese da história, da iconografia e do panteão egípcio. Ao longo deste livro ficamos a conhecer os mais relevantes «deuses vivos» que governaram o Egipto, nomeadamente Hatshepsut que, durante mais de duas décadas, reinou como faraó. Foi sob os seus auspícios que se fez a lendária Viagem ao País do Punt, do qual se trouxeram mercadorias raras e preciosas, como ébano, peles de leopardo, árvores de incenso e de mirra. O registo desta expedição (século XV a.C.) é o mais antigo da história da botânica e encontra-se gravado nas paredes do templo funerário da Rainha, em Deir-el-Bahari, próximo do Vale dos Reis. Recomendamos, também, a leitura do catálogo que acompanhou a exposição «Hatshepsut | From Queen to Pharaoh» que esteve patente no Museu Metropolitano de Arte (Nova Iorque) e um documentário do «Discovery Channel» sobre esta soberana. O livro «Poder e Iconografia no Antigo Egipto»: https://core.ac.uk/download/pdf/61424302.pdf
O catálogo da exposição: http://resources.metmuseum.org/resources/ metpublications/pdf/Hatshepsut_From_Queen_to_ Pharaoh.pdf
Documentário sobre Hatshepsut https://www.youtube.com/watch?v=RwOvdnmBDh0
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16 de junho René Lalique: o Artista, o Místico e o Empreendedor Recomendamos a leitura da tese «René Lalique: o Artista, o Místico e o Empreendedor», redigida por Patrícia Ferrari, na qual se apresentam episódios da vida e carreira deste autor, e se revisitam aspectos estéticos, simbólicos e económicos da sua produção artística. René Lalique (1860-1945) foi um artista francês que revolucionou a joalharia e a arte de trabalhar o vidro. Ao longo da sua vida, manteve uma frutuosa relação com Calouste Gulbenkian, que lhe adquiriu cerca de 200 peças. Uma selecção das mesmas encontra-se exposta no museu da Fundação, em Lisboa, onde constitui um dos mais importantes acervos deste autor, em colecções privadas. Nem todas as peças compradas por Gulbenkian se encontram na Fundação porque algumas perderam-se ou foram oferecidas. Lalique foi um dos principais criadores de jóias da Arte Nova [Art Nouveau], um movimento de arquitectura e artes decorativas, inspirado na Natureza, que influenciou a arte europeia entre 1890 e os anos 1920. Algumas peças de Lalique, na Fundação Calouste Gulbenkian: https://gulbenkian.pt/museu/artist/rene-lalique/
«Site» do Museu Lalique, instalado em Wingen-sur-Moder (Alsácia, França), local onde o artista criou uma fábrica de objetos destinados ao consumo alargado [Arte Social] e à utilização do vidro na arquitectura e no «design»: https://www.musee-lalique.com/en
«Site» da Fundação Calouste Gulbenkian, no qual se anuncia a exposição «René Lalique e a Idade do Vidro», com abertura prevista para o próximo dia 30 de Outubro: https://gulbenkian.pt/museu/agenda/rene-lalique-e-aidade-do-vidro-arte-e-industria/
A tese «René Lalique: o Artista, o Místico e o Empreendedor» pode ser obtida aqui: https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/17130/3/ Master_Patricia_Santos_Ferrari.pdf
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17 de junho Etimologia dos Hidrotopónimos de Portugal Continental – História Linguística de um Território Hoje, recomendamos uma interessante «visita» à onomástica portuguesa: «Etimologia dos Hidrotopónimos de Portugal Continental – História Linguística de um Território» redigida por Carlos Alberto Matias de Abreu Rocha e apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2017. Durante a leitura desta tese ficamos a conhecer a origem etimológica de centenas de topónimos que evocam a história do uso da água em Portugal, alguns dos quais situados no Distrito de Beja (páginas 231-244), como, por exemplo, a Ribeira do Vascão [latim vasca = agitação forte, convulsão] Outro interessante aspecto hídrico é a «metamorfose» de humanos em cursos de água, ocorrência descrita em fontes clássicas, como as «Metamorfoses» de Ovídio. Um dos episódios mais conhecidos é a história de amor entre a ninfa Galatea e o mortal Acis – uma paixão proibida pela natureza porque as ninfas não podem amar mortais. Quando, pleno de ciúmes, o gigante Polifemo assassina Acis, Galatea fica desesperada e decide transformar Acis num rio [o actual Rio Jaci, na Sicília, próximo do Monte Etna]. Desde o Renascimento, este episódio serviu de inspiração a muitas obras de arte. Uma dessas obras é a ópera Acis e Galatea (1718), composta por Haendel. Em 2009, a Royal Opera House e o Royal Ballet uniram-se para a encenar e, pela primeira vez, a ópera e o bailado juntaram-se no palco desta centenária instituição londrina (os bailarinos eram o alter ego dos cantores). O resultado é belíssimo. O gigante mata Acis, Galatea lamenta a sua morte e o coro instiga-a a transformar Acis num rio de águas vivas: https://youtu.be/JcvMwLFqPek?t=4684
Os momentos finais, nos quais Acis, sob a forma de um rio, vem despedir-se de Galatea https://youtu.be/JcvMwLFqPek?t=5374
A tese «Etimologia dos Hidrotopónimos de Portugal Continental» pode obter-se aqui: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/31972/4/ ulfl242462_td.pdf
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18 de junho Uma Família Inglesa Hoje, recomendamos a obra «Uma Família Inglesa» de Júlio Dinis. Este romance foi, inicialmente, publicado em folhetins, no ano de 1868 e aborda questões inerentes a uma certa burguesia portuense que acreditava no progresso através do trabalho, do comércio e do desenvolvimento técnico. A acção desenvolve-se na colónia de imigrantes britânicos, em particular na família Whitestone, e conta-nos a relação que esta mantém com os portugueses que para ela trabalham e que com ela convivem. Neste interessante romance, para além de encontrarmos os valores e as virtudes aclamadas pela sociedade vitoriana – a família e o trabalho – também se encontra a infâmia e a ignomínia que, como sempre, é imperioso derrotar. O médico Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto, em 1839, e nesta cidade faleceu, vítima de tuberculose, em 1871. Assinou as obras literárias com o pseudónimo de Júlio Dinis e é considerado um escritor de transição entre o romantismo e o realismo. «Uma Família Inglesa» está aqui: http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digitalcamoes/literatura-1/1060-1060/file.html
19 de junho Anne Frank (1929-1945) Hoje, evocamos Anne Frank (1929-1945), a menina alemã que, com a família, tentou salvar-se da barbárie nazi, refugiando-se na Holanda. No dia em que celebrou 13 anos, Anne recebeu um diário, e este foi o seu «amigo e confidente» durante os meses que esteve escondida no «anexo». A história da família Frank não teve um final feliz. O anexo foi denunciado às autoridades nazis – há sempre quem colabore com a barbárie – e, em Agosto de 1944, foi invadido, saqueado, e os ocupantes enviados para campos de concentração. Anne e a irmã faleceram em Bergen-Belsen, no final do Inverno de 1945; todos encontraram a morte nos campos de extermínio, com excepção de Otto, Pai de Anne.
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Após o final da II Guerra Mundial, que terminou no dia 8 de Maio de 1945, com a rendição incondicional da Alemanha, Otto Frank regressou a Amesterdão, e aí lhe entregaram o Diário, que foi editado em 1947, para realizar um dos sonhos de Anne – ser escritora. Na primeira versão, alguns trechos foram censurados, para não revelar conflitos familiares e questões mais reservadas. Durante o dia, quando estavam no anexo, os ocupantes mantinham-se em silêncio. Por vezes, Anne deitava-se no chão e observava os ramos de um castanheiro, que via através da janela e sobre ele escreveu, várias vezes. As árvores são, de facto, seres magníficos. Recordo um episódio narrado por Heródoto, nas «Histórias», que nos diz que Xerxes, imperador persa, se comoveu ao ver um plátano, quando se dirigia para a Grécia, para a invadir e destruir. Emocionado, ordenou a alguns soldados que protegessem a árvore e que ninguém ousasse cortá-la. Mais de dois milénios após este episódio, em Londres, Handel compôs a ópera Serse (Xerxes) e foi assim que imaginou o encontro de Xerxes com o plátano… Ombra mai fu / di vegetabile / cara ed amabile / soave più [Nunca houve sombra / de uma árvore / tão querida e adorável / tão suave]. A interpretação virtuosa de «Ombra mai fu», pelo contra-tenor alemão Andreas Scholl: https://www.youtube.com/ watch?v=N7XH-58eB8c
Aqui está o Diário de Anne Frank, em banda desenhada: http://aevdigital.pt/download/928/O%20 DIARIO%20DE%20ANNE%20FRANK%20 -%20Ari%20Folman.pdf
E aqui se pode «viajar» até à casa onde Anne viveu: https://www.annefrank.org/en/annefrank/secret-annex/
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22 de junho Manuel Mafra e as Origens da Cerâmica Artística das Caldas da Rainha Hoje, recomendamos a tese de doutoramento «Manuel Mafra e as Origens da Cerâmica Artística das Caldas da Rainha», redigida por Cristina Ramos Horta, e que foi apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Manuel Mafra (1831-1905) foi um notável artista que, no início da segunda metade do século XIX, se estabeleceu nas Caldas da Rainha e aí criou uma escola artística que teve projecção internacional – foi premiado na Exposição de Paris (1867) – em parte pelo apoio que recebeu da Casa Real Portuguesa, já que as suas peças foram escolhidas para decorar os Palácios da Pena, o Palácio das Necessidade e o Palácio Ducal de Vila Viçosa. O Rei D. Fernando II, esposo da Rainha D. Maria II, foi um ávido coleccionador de obras deste autor, que, ainda hoje, está representado nas colecções de grandes museus europeus, como, por exemplo, no Victoria & Albert (Londres). A cerâmica de Manuel Mafra recorria a elementos da natureza (fauna e flora) aplicados em relevo, para decorar as peças, conferindo-lhes um aspecto próximo das faianças que haviam sido produzidas em Itália durante o século XVI. Estas obras inseriram-se numa corrente artística revivalista que teve, também, expressão em França e no Reino Unido. Nas Caldas da Rainha, o século XIX foi um período áureo para a cerâmica, que deixou de ter uma função meramente utilitária, para apresentar uma forte componente artística. Esta ligação artística foi reforçada quando, em 1884, Rafael Bordallo Pinheiro foi nomeado director artístico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, que ainda se mantém activa, agora integrada no Grupo Vista Alegre. Cristina Ramos Horta foi directora (2000-2009) do Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, e a sua tese pode obter-se aqui: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/11311/1/ ulsd068457_td_Cristina_Horta.pdf
Este é o «site» da Fábrica Bordallo Pinheiro: https://pt.bordallopinheiro.com/
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23 de junho Barroso Sugerimos uma viagem ao Barroso, região portuguesa que, tal como o Alentejo, preserva tradições ancestrais; esta viagem será feita através do livro «Montalegre», escrito José Dias Baptista. Esta obra, profusamente ilustrada, apresenta costumes locais associados aos ciclos da agricultura (centeio, linho), à etnobotânica (croças de juncos, silo das batatas) e à pecuária (raça barrosã, boi do povo e chegas), para além de mostrar os principais monumentos e ecossistemas da região. Nesta região localiza-se aquela que é, porventura, a mais «mística» das aldeias de Portugal – Vilar de Perdizes – na qual organizam, desde 1983, os afamados congressos de medicina popular, que reúnem curandeiros, endireitas, ervanários e parapsicólogos. Pertencem a Montalegre as aldeias portuguesas que, desde o século X até 1864, fizeram parte do «Couto Misto», um microestado com cerca de 27 km², localizado na fronteira entre Portugal e a Galiza que terminou com o Tratado de Lisboa, o qual definiu as fronteiras definitivas entre Portugal e Espanha, à excepção da «Questão de Olivença», território português, administrado por Espanha desde a Guerra das Laranjas (1801). Os habitantes do «Couto Misto» estavam isentos de impostos, podiam escolher a nacionalidade que desejassem (portuguesa ou espanhola), recusar o serviço militar, e as autoridades locais podiam, também, conceder o direito de asilo a quem fosse perseguido (como em Éfeso, na Antiguidade). Desde meados da década de 1990 que, na Galiza e no Barroso, se desenvolvem iniciativas para fazer renascer o «Couto Misto/Couto Mixto». O livro sobre Montalegre está aqui: https://www.cm-montalegre.pt/cmmontalegre/uploads/ document/file/44/LivroMontalegre.pdf
Mais sobre o Couto Misto: https://www.natgeo.pt/national-geographic/2018/10/ couto-misto-pedaco-da-historia-de-portugal
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24 de junho Amélia Rey Colaço (1898-1990) Recomendamos a leitura de um ensaio sobre a vida de Amélia Rey Colaço (1898-1990) que, com o marido, Felisberto Robles Monteiro (1888-1958), geriu uma companhia de teatro que se manteve activa entre 1921 e 1974 – um caso de excepcional longevidade na História do Teatro europeu. Amélia Rey Colaço pertencia a uma família da alta burguesia lisboeta, fazendo com que a escolha profissional fosse notável já que, naquele tempo, a profissão de actriz era socialmente muito desvalorizada. Entre as décadas de 1920 e 1960, as atrizes eram figuras centrais nos grupos de teatro português, recordemos, por exemplo, Maria Matos e Palmira Bastos, contemporâneas de Amélia Rey Colaço, que também tiveram carreiras muito longas e marcaram a arte do seu tempo. Embora tentasse ser «apolítica», a Companhia Rey Colaço – Robles Monteiro teve sempre ligações muito fortes à elite do Estado Novo, o que precipitou a sua queda, quando se deu a Revolução dos Cravos. Como refere o autor do ensaio, que agora se recomenda, «as escolhas teatrais e dramatúrgicas da actriz foram pautadas por critérios estéticos e artísticos, e não pelas tonalidades políticas de determinado texto ou autor, ou pelas repercussões de que dela adviessem. Prova disso são as incessantes tentativas de obter autorização para levar à cena peças como Mãe Coragem, de Brecht, ou Felizmente há luar!, de Sttau Monteiro, apelando insistentemente junto da tutela e frequentemente tentando contorná-la, sem sucesso, sabendo que se tratavam de textos particularmente gravosos para o regime. Ou ainda as várias tentativas de reintegrar a atriz Maria Barroso no Teatro Nacional, num período em que as ligações desta à oposição política a haviam já tornado persona non grata do regime. Com Maria Barroso, Amélia Rey Colaço tinha uma amizade profunda, que ainda lhe valeu na fase final da sua vida, após o 25 de Abril, quando Amélia Rey Colaço foi descartada como símbolo do antigo regime». Na noite de 1 de Dezembro de 1964, a Companhia Rey Colaço – Robles Monteiro perdeu todo o seu espólio, quando um incêndio devastou o Teatro Nacional Dona Maria II. Ensaio sobre Amélia Rey Colaço: https://periodicos.furg.br/hist/article/ download/7188/5174
Entrevista de Amélia Rey Colaço, após o incêndio: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/incendio-no-teatrodona-maria-ii/
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25 de junho A Língua Portuguesa como Ativo Global Recomendamos a leitura do ensaio «A Língua Portuguesa como Ativo Global», coordenado por Luís Reto e editado pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. Esta obra disserta sobre a língua portuguesa, não numa perspectiva filológica, nem de análise histórica da evolução do nosso idioma, mas enquanto activo estratégico dos países da CPLP. Faz uma análise das 10 línguas mundiais mais relevantes, de entre os cerca de 7000 idiomas contemporâneos, não se limitando a ordená-las de acordo com o número de falantes, mas integrando indicadores económicos e de dispersão geográfica relativos a cada comunidade linguística. A língua portuguesa é um idioma global, quando consideramos o número de falantes e a dispersão geográfica, que abrange todos os continentes, embora em alguns países (Timor) ou territórios (Macau), que têm o português como língua oficial, o número de falantes que têm o português como língua materna seja muito reduzido – cerca de 0,1% em Timor e 2,4% em Macau. Ao lermos este ensaio ficamos, também, com um conhecimento mais profundo sobre o Instituto Camões, a Rede Brasil Cultural e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Este último, criado em 2002, e com sede permanente na Cidade da Praia (Cabo Verde), tem como objectivo «a promoção, o enriquecimento e a defesa da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em fóruns internacionais» O ensaio termina com uma lista das 110 línguas que têm mais do que 1 milhão de falantes, desde o Akan ao Zulu, e pode ser obtido aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/138_ OEssencialSobreALinguaPortuguesa.pdf
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26 de junho O Livro do Desassossego Sugerimos a leitura de «O Livro do Desassossego», composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa – aliás, Fernando Pessoa (1888-1935). Trata-se de uma obra-prima composta de «fragmentos» redigidos durante mais de duas décadas. Eis alguns desses «fragmentos»: «Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!» «Não sei que sentido tem esta viagem que fui forçado a fazer, entre uma noite e outra noite, na companhia do universo inteiro. Sei que posso ler para me distrair. Considero a leitura como o modo mais simples de entreter esta, como outra, viagem; e, de vez em quando, ergo os olhos do livro onde estou sentindo verdadeiramente, e vejo, como estrangeiro, a paisagem que foge…» «Eu sou como alguém que busca às cegas, sem saber onde esconderam o objecto que não disseram o que é.» «Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.» «Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura.» «A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo.» «A manhã do campo existe; a manhã da cidade promete. Uma faz viver; a outra faz pensar.» «O Livro do Desassossego» está aqui: https://www.luso-livros.net/wp-content/ uploads/2013/11/Livro-do-Desassossego-.pdf
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29 de junho «Teogonia» Recomendamos a leitura da «Teogonia», de Hesíodo, que reúne um conjunto de tradições orais explicativas da génese do mundo natural e dos deuses do panteão grego. Esta obra, explica a origem do Caos, da Terra (Gaia/Geia), do Tártaro (mundo subterrâneo) e de Eros (desejo, amor). Da união destas forças surgiram o Dia, a Noite, o Céu (Úrano), a Mar e as Montanhas. É aqui que se explica a origem dos Titãs, filhos de Gaia e de Úrano, dos Ciclopes e muitas outras personagens divinas ou heróicas. Por exemplo, Cronos (o Tempo) castrou o pai (Úrano) e do esperma que caiu nas ondas do mar, próximo da actual ilha de Chipre, nasceu Afrodite; cujo nome alude à sua origem [do grego ( ) = espuma do mar]. Cronos casou-se com a irmã, Reia, e junto originaram a segunda geração divina (Deméter, Poseídon, Zeus, Hera, Hades), mas Cronos engolia os filhos, quando estes nasciam, até que Reia escondeu o filho mais novo, Zeus, e deu a Cronos uma pedra, que este engoliu acreditando ser o seu filho. Zeus foi escondido numa gruta na ilha de Creta, cresceu, destronou o Pai e fê-lo regurgitar seus irmãos, que o reconheceram como governante supremo. Todas estas narrativas, e muitas outras, se encontram na Teogonia, que pode ser lida, aqui: https://www.assisprofessor.com.br/documentos/livros/ hesiodo_teogonia.pdf
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30 de junho O Essencial sobre Dante Aligheri Recomendamos a leitura do ensaio «O Essencial sobre Dante Aligheri», redigido por António Mega Ferreira e editado pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. Este ensaio, apresenta-nos o autor da Divina Comédia e contextualiza a obra de Dante na produção literária do seu tempo. Também nos relata alguns dos mais significativos episódios da história política e social da península itálica, na transição entre os séculos XIII e XIV, nomeadamente a instabilidade crónica do Papado e a sua contínua interferência no poder temporal. Dante Alighieri nasceu em Florença, no ano de 1265 e cedo conheceu Beatriz Portinari, por quem se apaixonou e que irá ser uma personagem recorrente na sua obra poética, ao contrário da esposa – Gemma Donati, com a qual Dante se casou aos 12 anos, por imposição familiar – e dos filhos, que estão ausentes da sua obra. No início do século XIV, Dante partiu para o exílio, devido a processos que lhe foram movidos em Florença, mas sempre acreditou que conseguiria a reversão dos mesmos devido aos seus conhecidos dotes literários e à fama que já tinha. Tal nunca aconteceu, e Dante faleceu no exílio – em Ravena – em 1421, com a idade de 56 anos. A sua obra mais famosa – A Divina Comédia – é um poema dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso, que foi editado em vários tomos, o último dos quais póstumo. O poema narra uma viagem pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, e descreve, com pormenor, cada uma dessas etapas. Durante a viagem, Dante é guiado pelo poeta clássico Virgílio (Inferno e Purgatório) e por Beatriz (Paraíso). «O Essencial sobre Dante Aligheri» está aqui: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/134_ OEssencialDanteAlighieri.pdf
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