Domingo, 21 de janeiro de 2018 – Ano X, Número 472 PASTORAL
Dízimo na era Patriarcal
Numa época marcada por muitas falcatruas e desvio de verba, inclusive no cenário religioso, ficamos desacreditados quando ouvimos falar de doações, contribuições, dízimos e ofertas. Alguns, inocentemente, ingenuamente, no afã de agradar a Deus, chegaram a dar quase tudo que possuíam para mercenários gananciosos que os iludiram com suas ludibriosas palavras aos incautos na fé. De outro lado temos aqueles que “justificados por estes abusos”, e tão apegados aos seus recursos, negam prestar qualquer tipo de contribuição a quem que seja, excetuando, é claro, aos próprios interesses deles mesmos. Em meio a tudo isso ouvimos a voz de Deus nos incitando a contribuir com nobres causas (Ef. 4.28; Pv 28.27) e a fazê-lo com desprendimento (Dt. 15.1-11) e satisfação, “pois Deus ama a quem dá com alegria!” (2ª Co 9.7). Um debate sobre o dízimo pode ser espinhoso e cansativo uma vez que abordagens cristãs relacionadas a finanças são, geralmente, marcadas por controvérsias e atritos. Lutero expressou essa dificuldade ao afirmar que “três conversões são necessárias: a conversão do coração, a da mente e a da bolsa”. Mas ainda que delicado e árduo, esse assunto exige cuidadosa reflexão e estudo. Qual o ensino bíblico correto e bem contextualizado sobre a contribuição financeira? O dízimo era coisa só do Antigo Testamento ou devemos obedecê-lo hoje? Como saber se não serei defraudado ao contribuir com determinada causa, e finalmente (e mais importante), como meu coração lida com o fato de ter que dar para outros aquilo que poderia ficar só para mim? A principal coisa que precisamos considerar à luz das Escrituras, é que contribuição
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financeira na Igreja não tem a ver essencialmente com suprir necessidades, mas tem a ver com adoração no coração. Não devemos contribuir simplesmente porque existe uma demanda, uma necessidade, um desafio de aquisição. Essas coisas podem existir ou não, mas independentemente disso, dar coisas reflete não apenas desprendimento mas veneração, devoção, culto. A primeira vez que aparece na Bíblia a palavra “oferta” é exatamente quando aparece o primeiro registro de adoração a Yahweh (Gn 4).Nos é dito que, “no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou” (Gn 4.3-5). É num contexto de adoração a Yahweh que Abel oferece mais excelente sacrifício (culto) do que Caim (Hb 11.4), sendo aprovado por Deus quanto às suas ofertas. Deus se agradou (Gn 4.4), afinal o culto é para Deus. Ele deve ser adorado e glorificado. Ele é quem deve ser agradado. A contribuição foi aceita, porque a adoração foi aceita. Deus se agradou de Abel e depois da sua oferta. A fé de Abel o levou a agir assim. Contribuição financeira tem a ver com adoração. Além deste primeiro episódio, podemos perceber que as primeiras citações bíblicas da palavra “dízimo” antes mesmo da lei mosaica, também ocorrem no contexto de adoração primitiva com os patriarcas Abraão e Jacó. No período patriarcal, Abraão entregou o dízimo de tudo a Melquisedeque (Gn 14.20). O que foi entregue naquela ocasião, era a décima parte dos despojos de uma batalha e não do produto da terra ou do
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rebanho. O texto não traz mais informações quanto à forma ou o motivo de Abraão tê-lo feito, pois ao que se sabe, não havia ainda nenhum mandamento divino obrigando-o a entregar o dízimo. Alguns anos depois daquele episódio, Jacó fez um voto de dar a Deus o dízimo de tudo o que viesse a possuir em sua jornada a Padã-Harã (Gn 28.22). Não se sabe como aquele voto seria cumprido, como o dízimo seria entregue ou quem haveria de recebêlo. Na fuga de seu irmão, no caminho à Padã Harã, em certo lugar, que ele chamou Betel, ele tem uma experiência com Deus com relação à Aliança da qual ele tinha conhecimento pelo testemunho de seu pai Isaque. Teve um sonho, uma renovação da Aliança em Cristo apresentado na simbologia da escada e dos Anjos que subiam e desciam numa alusão clara da Reconciliação dos céus com a terra pela cruz. A promessa da posse da terra é renovada, quando agora, Jacó reconhece que Deus estava naquele lugar, o qual ele chama , Betel, Casa de Deus, e O ADORA com um voto de dar o dízimo de tudo de acordo com as mesmas circunstâncias em que seu avô Abraão havia feito. Esses casos apontam para duas verdades básicas: a prática de entregar o dízimo fazia parte da religiosidade dos patriarcas e ela era uma expressão direta do reconhecimento da generosidade de Deus para com os seus adoradores. Em ambos os casos, a entrega do dízimo foi associada à adoração ao Senhor.
Daniel Alves Pastor da IPC
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