(L) O TOQUE DE JESUS

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O Toque de Jesus Pastor Jorge Patrocínio, Ph. D IPB Aracruz – 01/2/09 MC. 1.40-41

EXÓRDIO – O Violino Conta-se a história de um violino. Batido, riscado e empoeirado pelo tempo estava, e o leiloeiro não deu muito valor ao violino. Achou que não valia muito a pena diante de tantas peças raras que lhe garantiriam maior ganho. Mas mesmo assim o segurou sorrindo sarcasticamente: “Quanto me dão por ele?” gritou. “Quem começa a oferta? Vamos ver: Um dólar, um dólar: quem dá mais? Dois dólares, quem dá três?” “Três dólares, dou-lhe uma, dou-lhe duas...” Mas do meio da multidão um senhor de cabelos grisalhos veio e pegou no arco então. Tirou o pó do velho violino, as cordas soltas apertou. Friccionou as cerdas de arco madeira e tocou uma doce melodia que a todo mundo cativou. Não era apenas um violonista, mas sim aquele que havia construído o violino e que sabia de seu valor intrínseco. A música parou, e o leiloeiro, agora falando de mansinho, disse: “Quanto dão pelo velho violino?” E o segurou com muito carinho. “Mil dólares, quem dá mais? Dois mil!” E três, quem dá? Três mil! Dou-lhe uma, doulhe duas... Vendido!” disse ele pra fechar. Mas leiloeiro, o que mudou o seu valor? Foi algo que disseste? Mas bem clara foi a resposta: Foi o toque do Mestre. Muita gente triste e perdida, surrada pelo pecado, em desatino. É menosprezada no leilão da vida como o velho violino, abandonado, desafinado e empoeirado. Mas quando vem o Mestre, a multidão não consegue supor, que uma vida possa mudar tanto com um toque da mão do Senhor. Mas não é um toque de alguém, não é um toque de um grande tocador da vida. É o do seu próprio criador. Daquele que como ninguém consegue afinar as cordas da existência humana para tocar até mesmo nos momentos em que as cortinas já se fecharam e não mais se tem a música.

INTRODUÇÃO

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O Toque de Jesus Jesus entrou na história e mostrou o valor de um toque. Ele tocou os intocáveis, alcançou os inalcançáveis e restaurou com um toque os casos perdidos de Israel. Ele tocou os olhos do cego, tocou uma meretriz, tocou pobres e ricos, religiosos e pecadores, santos e fariseus. Jesus tocava até os mortos, mesmo sendo contra a tradição dos judeus. Ele sabia a importância e o valor de um toque. De seu toque. Mas ouve duas ocasiões narradas pelo evangelista Marcos em que o toque de Jesus foi ainda mais sobrenatural. Aliás, dois acontecimentos que se entrelaçam com tantas similaridades e ao mesmo tempo tanta diferenças. Em Marcos 5.25 nos é dito que a Mulher enferma Aproximou-se e tocou em Jesus. E neste texto de Marcos 1.40 o leproso também aproximou-se. Mas aqui foi o Senhor quem tocou primeiro. No primeiro acontecimento a iniciativa foi da mulher, no segundo a iniciativa foi de Jesus. Mas em ambos os casos há um toque comprometedor, arrebatador, revolucionário, curador. Um toque para mapear e reescrever as linhas surradas daquelas vidas. Em ambos os casos, as conseqüências do toque não podem ser mensuradas. A hemorragia da mulher e a lepra do homem faziam parte, juntamente com um morto, da tríade de imundícia definida pela lei judaica. Mas Jesus quebrou esse paradigma e mostrou que a verdadeira imundícia não era o que estava pelo lado de fora, mas dentro no coração do homem.

TEXTO Fico a imaginar essa cena. Um homem que provavelmente vivia no vale dos leprosos. Por alguma razão, todo o avivamento despejado em Cafanaum escorreu até Galiléia e lá alcançou o vale dos intocáveis, dos desafortunados, dos incuráveis, dos leprosos. E esse leproso tem uma idéia inusitada. Sair daquele lugar sombrio, escuro, fétido e encontrar-se com o Carpinteiro de Nazaré. Aquele homem precisou romper com o medo, com a solidão, com a vergonha de expor seus membros mutilados, com o perigo de um apedrejamento. Mas ele foi, e ele se aproximou do Mestre. Ele se ajoelhou e clamou: Senhor, se quiseres tu podes me curar? Fico a imaginar aquela cena daquele homem ajoelhado, com a cabeça baixa, os olhos fechados, um sussurro de oração esperando que aquele Mestre fosse diferente dos outros e lhe dissesse uma única palavra de cura.

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O Toque de Jesus Foi quando para a surpresa de todos e felicidade assustadora do leproso, Jesus o tocou. Aquele não foi um toque ocasional, acidental ou nem mesmo oportunista. Aquele foi um toque profético, restaurador, revelador da verdadeira natureza de Deus que se compadece na dor. Jesus não tocou aquele homem para entrar na história da religião como um mestre revolucionário do status quo da época. Ele tocou aquele homem para entrar em sua história e reescrevê-la com penas dos céus e reintroduzi-lo para sua família, igreja e sociedade.

APLICAÇÃO É interessante que Jesus não precisava tocar no leproso para curá-lo. Aliás, o texto nos diz que a cura não aconteceu quando Jesus tocou, mas posteriormente quando Jesus falou. Mas porque Cristo tocou aquele homem? O que podemos aprender com o toque de Jesus? Quais são os ensinamentos que tiramos tanto de nós para com Deus; como de uns para com os outros, quando olhamos essa cena de Jesus tocando aquele homem? Diante deste texto que gostaria de pontuar algumas verdades sobre o Toque de Jesus.

(1) Tocar é conhecer É verdade que a Bíblia nos fala que Jesus conhecia muito bem os intentos do coração do homem. Jesus via os de perto e os de longe. Por exemplo: Quando Jesus olhou a Pedro naquela fatídica noite da traição, Jesus o enxergou por dentro, mesmo de longe. Quando Jesus aproximou-se de Natanael, lhe disse: Antes de Filipe te chamar, eu te vi debaixo da figueira. (Jo. 1.48) Jesus não precisava se aproximar para conhecer. Mas quando Jesus tocou naquele leproso, ele teve uma outra visão dele. Jesus enxergou aquele homem numa outra dimensão. Talvez essa fosse uma das maiores conseqüências e dores de um leproso. Isto é, viver uma vida no anonimato, perder a sua identidade, perder a intimidade até mesmo de sua família.

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O Toque de Jesus Tocar é conhecer. Somente quando nos aproximamos de alguém e nos permitimos tocar em suas vidas é que vamos verdadeiramente ter a visão que essa pessoa tem de si mesma. Exemplo – Viagem a São Paulo: Estava retornando de São Paulo com a Vera e o André quando entramos na Avenida Brasil no Rio. Vera sentia dores no banco de trás e eu vagueava os meus olhos entre o velocímetro do carro e as placas mal sinalizadas do local para não perder a entrada. Percebi que estava a 80 kilômetros por hora, do lado direito da pista, quando olhei no retrovisor e vi um caminhão tão próximo que não conseguia ver os seus faróis pelo retrovisor. Aquele carro me incomodou tanto que precisei jogar para o lado esquerdo da pista para que ele pudesse passar. E quando aquele homem passou, ele esbravejava contra mim, fazia gestos obscenos e acelerava o caminhão. Eu fiquei pensando: Ele não me conhece, ele não sabe o porquê estou andando nesta velocidade. Somente quando nos aproximamos de alguém é que conhecemos a sua realidade. Sabe por que muitas vezes há fofocas, maledicências, invejas e muita gente falando mal uns dos outros dentro das igrejas, porque não há aproximação. Não há toque, não há conhecimento, não há investimento para entender porque alguém é como é. Nós temos falado que queremos que esta igreja seja conhecida como o melhor lugar para uma família estar. Mas sabe quando isso acontecerá? Quando encurtarmos as distâncias, quando acabarmos com os vácuos existenciais entre nós, quando nos aproximarmos e tocarmos na vida do nosso irmão. Muitas vezes perguntamos para alguém: Como você está? Pergunta como está só tem sentido quando vem acompanhada do toque porque no toque a pergunta se torna pessoal, próxima. Perguntas de longe não passam de desencargo de consciência. Cristo nos ensina que Ele toca para nos conhecer. E talvez a gente até pergunte: Mas e Sua onisciência? Jesus não conhece todas as coisas? Ele nos conhece mesmo de longe. É verdade, mas Ele nos toca para tomemos a consciência de que Ele nos conhece.

(2) Tocar é se comprometer-seDos cinco sentidos que temos, o tato é muito especial. Por exemplo, o que vemos (com os olhos) e ouvimos (com os ouvidos), são geralmente coisas ou pessoas que ficam a certa distância de nós.

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O Toque de Jesus Mas o tato (o toque) é diferente, pois é um sentido muito mais íntimo. Somente quando tocamos é que nos aproximamos e quando nos aproximamos, conhecemos e quando conhecemos nos comprometemos. A criança que chora acalma-se ao sentir o toque acariciador da mãe. O toque é importante porque através dele podemos exprimir toda uma gama de emoções. Um aperto de mão amigável, um abraço afetuoso, a ternura de um beijo. Sabe-se hoje que através do toque que o bebê recebe da mamãe (durante o banho, nas trocas das fraldas, no embalar do sono), ela forma sua imagem corpórea, reconhecendo-se como amado ou não. O toque pinta quadro na mente. O carinho ajuda a fortalecer a auto-imagem. Filhos seguros possuem maior probabilidade de serem bem sucedidos em sua vida. Talvez aqui devamos dar uma pausa para orientar os pais (principalmente os homens). Muitos pais são distantes fisicamente de seus filhos, talvez porque nunca aprenderam com seus pais o valor de um toque. Crianças privadas do toque podem desencadear carência afetiva, tornando-se indivíduos dependentes de relacionamentos sem compromisso. Não é só para a criança que o toque é benéfico, mas também para os pais que se tornam mais seguros, afetuosos e felizes. Todos nós temos o desejo de amar e ser amado. Mas tocar é comprometer-se. É assim com o amor de Deus. Quando todas as tentativas de comunicação falharam, Deus resolveu entrar no mundo e tocar nos homens. Deixou de ser um Deus à distância e passou a ser uma Presença real, perto de nós. Na Pessoa do Seu Filho, viveu com os homens e tocou nas suas vidas. Na encarnação o Deus espiritual se materializou e tocou no material para restaurar a verdadeira espiritualidade do homem. O abismo entre a raça humana e o seu Criador foi extirpado. Assim, por meio de Jesus, Ele pôde estender a Sua mão e tocar nos olhos de um cego, por exemplo, abrindo-os para verem o Seu rosto, cheio de amor. Pôde também pegar na mão de um homem aleijado e fazê-lo andar. Imagine o caso do leproso no texto em que lemos, obrigado a viver longe da família e dos amigos, condenado a gritar todas as vezes que via alguém se aproximando: "Imundo, Imundo", para não contagiar as pessoas. Imagine este homem que nunca sente o aperto de mão de um amigo, nem o beijo de uma esposa. Mas na Bíblia lemos as seguintes palavras espantosas: "Aproximou-se de

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O Toque de Jesus Jesus um homem com lepra, que se ajoelhou e Lhe disse: "Senhor, se quiser, pode curar-me." E Jesus estendeu a mão, tocou-lhe e disse: "Quero. Seja limpo". No mesmo instante o homem ficou livre da lepra. Que emoções surgiram dentro daquela alma abandonada quando sentiu o toque, cheio de ternura, da mão de Jesus. Mas quando Jesus tocou naquele leproso ambos se comprometeram. O leproso se comprometeu com Cristo, mas Cristo se comprometeu diante de uma sociedade retrógrada e tendenciosa. Portanto, irmãos, Tocar é comprometer-se.

(3) Tocar é revelar-se – Vr.41 “Jesus profundamente compadecido...” - O toque de Cristo revelou a sua compaixão pela dor. Fico a imaginar aquela cena. Talvez quando Cristo aproximou-se daquele homem e viu toda a dor de sua alma pela carne cortada pela lepra e a consciência cortada pelo ensinamento de sua imundícia, Jesus sentiu uma pontada aguda no coração chamada “compaixão”. Jesus se transportou para dentro daquela existência e se viu rejeitado no lugar daquele homem. Talvez aquele leproso prostrado “lembrou” Àquele que nunca esquece que Ele mesmo tinha vindo para ser “um homem de dores e que sabe o que é padecer. Um homem rejeitado do qual dEle não se fizeram caso. Um homem que dele esconderam o rosto.” Talvez aquele leproso tenha reafirmado a Cristo que Seu ministério espiritual seria como uma lepra recebendo todas as injúrias, desprezos, rejeições dos filhos dos homens. E a compaixão na alma de Cristo foi como uma descarga elétrica em todo o seu corpo para energizá-lo em direção aquele homem. E como apenas uma pequena fagulha da santidade de Deus, Jesus transformou aquele homem imundo em um homem santo. Com aquele toque Jesus se revelou como aquele disposto a amalgamar-se com o pecador, recebendo em seu corpo todas as dores do pecado para transmitir para o corpo do homem toda a glória da santidade. Lembre-se: As palavras podem ser dúbias, mas as ações são límpidas. O olhar pode esconder intentos maus e bons, mas o toque revela a essência de nossa compaixão. Veja esta série de ações do versículo 41. (1) Jesus compadeceu-se; (2) Jesus estendeu a mão; (3) Jesus tocou e (4) Jesus

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O Toque de Jesus CONCLUSÃO Gostaria de encerrar cantando um hino: Tocou- Me Algemado por um peso / Oh quão triste eu andei / Ao sentir a mão de Cristo Já não sou quem era eu sei. Tocou- me Jesus tocou- me / De paz ele encheu meu coração/ Quando o senhor Jesus me tocou/ Livrou- me da escravidão. Desde que aceitei a Cristo / E senti seu terno amor / Tenho achado paz e vida/ Pra sempre cantarei em seu louvor

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