Estudo 1 a saída do egito

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A Saída do Egito Êxodo 12:37-51 e 13:17-22 Introdução Existem momentos de tribulações em nossa vida em que Deus parece demorar. É certo que mil anos para o Senhor são como um dia. Deus trabalha no turno da noite. Jesus disse: O meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também. E o salmista afirmou: É certo que não dorme, nem dormita o Guarda de Israel. Mas existem momentos que o nosso tempo parece se arrastar e a nossa visão da existência acorrentada com os dissabores da vida simplesmente não combina com a visão de Deus. No salmo 143 Davi experimentou momentos de grandes medos da morte. Os Salmos de Davi deste período passaram a ser conhecidos como orações e súplicas a Deus por libertação. Neste sentido o Salmo 143 é preponderante. Davi está vivendo momentos muitos difíceis contra os seus inimigos e ele diz: Vr.1 “Atende, Senhor, a minha oração, dá ouvidos à minhas súplicas.” No versículo 2 ele vai dizer: “Senhor, não entres em juízo com o teu servo porque à tua vista não há justo nenhum vivente.” Em outras palavras, Davi está dizendo a Deus: “Senhor, atende-me unicamente por Sua misericórdia. Não dá aqui para eu ficar argumentando como o Senhor e dizendo que eu sou justo diante de seus olhos” As perseguições se acirram contra ele de tal maneira que ele começa a lutar consigo mesmo; no sentido de entender o porquê Deus parece não atendê-lo. E no versículo 7 Davi não se agüenta e clama: “Dá-te pressa, Senhor, em responder-me...” Esta expressão de Davi, “dá-te pressa” encontra um eco altissonante na história que Jesus contou sobre o juiz iníquo e a viúva, quando Jesus encerra a história dizendo (Lc. 18:7-8): “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça...” Aplicação do texto de Êxodo O episódio narrado nos textos que lemos em Êxodo que é o apex da saída do povo de Israel do cativeiro egípcio é com certeza uma situação semelhante a que Davi parece experimentar de uma suposta “demora de Deus.” O povo de Israel fora escravizado no Egito e já por 430 anos vivia debaixo do tacão de Faraó. É quase uma eternidade. É um tempo inimaginável. Será que Deus tinha se esquecido do Seu povo? Será que Deus parecia demorado em atender o clamor da escravidão do povo que Ele amava e tinha escolhido? Senão bastasse toda essa “demora”, Deus agora levanta um Israelita que aos olhos do povo tinha mais sangue egipcio nas veias do que israelita. Afinal, enquanto o povo


2 sofria debaixo do poder de Faraó, por quarenta anos, Moisés desfrutava das benesses do Egito e da vida da Corte. É verdade que este período foi uma estratégia de Deus para preparar o libertador, mas para a vida cotidiana e prática do povo, não parecia assim. Por mais quarenta anos, enquanto o povo continuava sofrendo, Moisés agora fugira e fora morar na terra de Midiã (2:15), onde se casou com a filha do sacerdote local (2:21) e tornou-se pastor do rebanho de seu sogro. Agora, depois de oitenta anos, Moisés recebe o chamado de Deus e retorna aos israelitas escravizados para pregar esperança e proclamar a libertação. E depois de um movimento quase que teatral e sincronizado no Egito de idas e vindas diante de Faraó, agora finalmente o povo será libertado. Por dez vezes Moisés vai a Faraó e o povo se prepara para partir, mas Faraó continua endurecido em seu coração, em parte por causa de sua própria impiedade e em parte porque Deus mesmo endurecera o seu coração. Pois Deus disse logo no início da odisséia - Ex. 7:3- “Eu endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e maravilhas”. Mais a frente em Êxodo 14:4 Deus ratifica: “Endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que Eu sou o Senhor...” É fato de que além disso, as pragas serviam para subjulgar os deuses do Egito e também para preparar o coração do povo de Israel. Qual é a aplicação para os nossos dias? Lembre-se que não há circunstâncias em nossa vida que passam desapercebidas a Deus, e todo o movimento do Senhor é feito de forma a nos ensinar Seus caminhos e glorificar o Seu santo nome. A visão de Paulo sobre as dores da vida é algo inimaginável para o homem do século XXI. Ele diz em 2 Corintios 4:17-18: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” A recompensa espiritual de Deus para aqueles que permanecem fiéis a Ele é tão grande, tão preciosa, tão pesada que, para Paulo, qualquer tribulação se transforma em algo leve e momentâneo. Diante de tudo aquilo que Deus iria realizar na vida do povo de Israel na reconquista da terra prometida, culminando com a vida de Jesus Cristo e a abertura do reino dos céus para todos os povos, quatrocentos e trinta anos, por mais incrivelmente escravizador e demorado que pareça, são um tempo breve, leve e momentâneo. Mas o momento chegou, após quatrocentos e trinta anos o povo de Israel finalmente foi liberto do cativeiro egipcio. O texto que lemos é o momento exato, o décimo mas definitivo, momento da saída do povo do Egito.


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Diante disto eu gostaria de meditar com os irmãos sobre A Saída do Egito. Ou seja, quais os ensinamentos deste momento de caminhada inicial que são verdadeiros à nossa trajetória de fé? Na saída do Egito...

1) Nada ficou para tráz – Vrs. 37-38 Durante a administração das dez pragas, Faraó começou a oferecer uma estratégia interessante que seria um desastre para o povo de Israel caso Moisés e Arão aceitassem. Na primeira praga (as águas tornam em sangue – Ex. 7:14-25) Faraó está irresoluto: “Virou-se Faraó e foi para a sua casa; nem ainda isso se considerou o seu coração.” Mas a partir da segunda praga (rãs) algo começa a contecer com Faraó. Ele não está disposto em perder os seus escravos, mas percebendo que a mão de Deus estava com Moisés, Faraó faz quatro propostas indecentes ao povo de Israel: Veja, essas propostas encontram eco em nosso dias a cada um de nós. A primeira proposta encontra-se em Êxodo 8:25-26 que era a proposta para o povo de Israel orar a Deus ali mesmo na terra do Egito. “Então chamou Faraó a Moisés e a Arão, e disse: Ide, e sacrificai ao vosso Deus nesta terra. E Moisés disse: Não convém que façamos assim, porque sacrificaríamos ao SENHOR nosso Deus a abominação dos egípcios; eis que se sacrificássemos a abominação dos egípcios perante os seus olhos, não nos apedrejariam eles”. A segunda proposta encontra-se em Êxodo 8:28-29 que era uma liberação temporária do povo para adorar a Deus não muito longe não muito longe do Egito. “Então disse Faraó: Deixar-vos-ei ir, para que sacrifiqueis ao SENHOR vosso Deus no deserto; somente que, indo, não vades longe;...”E Faraó é petulante ao dizer “...orai também por mim....” A terceira proposta encontra-se em Êxodo 10:9-11 que era a liberação somente dos os homens deixando os jovens, mulheres, crianças e o rebanho no Egito. “E Moisés disse: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque temos de celebrar uma festa ao SENHOR. Então ele lhes disse: Seja o SENHOR assim convosco, como eu vos deixarei ir a vós e a vossos filhos; olhai que há mal diante da vossa face. Não será assim; agora ide vós, homens, e servi ao SENHOR; pois isso é o que pedistes. E os expulsaram da presença de Faraó” A quarta proposta encontra-se em Êxodo 10:24-26, pois quando Faraó percebeu que a mão de Deus era com Moisés ofereceu ao servo de Deus que partissem somente as pessoas mas o rebanho permaneceria no Egito.


4 “Então Faraó chamou a Moisés, e disse: Ide, servi ao SENHOR; somente fiquem vossas ovelhas e vossas vacas; vão também convosco as vossas crianças. Moisés, porém, disse: Tu também darás em nossas mãos sacrifícios e holocaustos, que ofereçamos ao SENHOR nosso Deus. E também o nosso gado há de ir conosco, nem uma unha ficará; porque daquele havemos de tomar, para servir ao SENHOR nosso Deus; porque não sabemos com que havemos de servir ao SENHOR, até que cheguemos lá” Ora, todas essas ofertas pareciam ser muito boas para Israel. Pois elas apresentavam um avanço para o povo escravizado e agora o povo vislumbrava a possibilidade de uma libertação, mesmo que parcial. Mas Faraó era poderosíssimo e porque não aceitar as ofertas do Rei? A última oferta, então, era um grande avanço: Que saísse todo o povo, mas deixasse para tráz o rebanho. Mas Moisés e Arão tinham uma visão muito clara da vontade de Deus: A libertação precisa ser completa. Se formos com este povo sem levarmos os animais, dizia Moisés, como ofereceremos holocaustos ao Senhor? E a resposta de Moisés foi aguda, pontual, enérgica a Faraó e é didática a todos nós: Em Êxodo 10:26 Moisés diz “...os nossos rebanhos irão conosco, nem uma unha ficará...” A vida com Jesus é uma vida integral. Infelizmente, alguns tomam a decisão de seguir a Jesus, mas acreditam que alguma parte de suas vidas pode continuar comprometida com os padrões do mundo. Acredito que foi por isso que Jesus tratou aquele jovem rico com amor, mas com tanta firmeza: “Vai vende tudo o que tem, dá-o aos pobres e depois vem e segue-me...” Seguir a Jesus implica em render a Ele tudo o que somos e o que temos. Veja, irmãos, uma unha não é nada; mas na vida espiritual é um comprometimento. A saída do Egito nos ensina que nada pode ficar para tráz. Na saída do Egito...

2. O povo passou a andar com Deus – Vr. 41 O povo passou a experimentar da companhia soberana, cuidadosa, presente e efetiva de Deus. Veja a declaração de Moisés - “todas as hostes do Senhor saíram do Egito” – Por quatrocentos e trinta anos o povo estava vivendo escravizado, humilhado e maltratado, e talvez até pensando que Deus os havia abandonado. O fato declarado por Moisés é que Deus nunca tinha se apartado deles. Que havia na terra da Egito a presença das hostes do Senhor. E é interessante que aquele povo escravizado que saiu às pressas do Egito sem nem mesmo tempo para levedar o seu pão, agora é chamado de “exército do Senhor.” Porque o povo que está saindo é chamado de exército do Senhor? Porque as hostes do Senhor


5 se misturam entre eles. Porque o exército dos céus os acampanham. Exodo 13:21 “O Senhor ia adiante deles...” Aquele povo é chamado de exército porque o Senhor dos exércitos é o seu general. Jesus ficou no deserto por quarenta dias para ser provado e tentado pelo diabo; mas anjos vieram para serví-lo após aquele confronto. Salmo 34:7 nos diz que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem...” – E eu ouso a dizer que mesmo antes de você ter vindo para a presença de Deus, o Senhor cogitava meios para cuidar de você e te trazer ao momento do encontro com Cristo. Mas na saída do Egito, no momento da libertação, a presença de Deus passa a ser diferenciada, passa a ser efetiva, sensível, relacional. Deus passa a relacionar-se conosco. Cap. 13:17-23 – Deus guia o Seu povo de forma sábia e libertadora. 1. Deus conhece as nossas limitações – 13:17 2. O caminho de Deus pode não ser o mais curto, mas é o mais seguro e acertado -13:18 3. Deus vai sempra a diante a na retaguarda – 13:21-22 2 Corintios 5:17 “Assim se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” A presença do Senhor é pessoal, real, espiritual e verdadeira em nossa vida. Precisamos nos relacionar com Ele como uma pessoa, como o nosso Senhor, o noivo de nossa alma. Assim, devemos deixar as práticas do Egito e passar a andar de uma forma totalmente nova que agrade a Ele. Jeremias 32:36-39 diz o seguinte: “Agora, pois, assim diz o SENHOR, o Deus de Israel, acerca desta cidade, da qual vós dizeis: Já está entregue nas mãos do rei da Babilônia, pela espada, pela fome e pela peste. Eis que eu os congregarei de todas as terras, para onde os lancei na minha ira, no meu furor e na minha grande indignação; tornarei a trazê-los a este lugar e farei que nele habitem seguramente. Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhesei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos.” Ou seja, Deus nunca deixou de ser o Deus de Israel, mas somente depois do cativeiro (egípcio e babilônico) é que Deus passou a andar com o povo de forma relacional. Romanos 6:4 “Fomos sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai; assim também andemos em novidade de vida.” E desse texto de Romanos 6:4 nos vêm a terceira lição da saída do Egito; a saber. Na saída do Egito...

3. A aliança com Deus foi renovada – Vr. 42-50


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Deus havia dado um sinal da aliança para aquele povo: a circuncisão. Todo macho ao oitavo dia deveria ser circuncidado para trazer sobre o corpo uma marca que indicasse que o homem estava em aliança com Deus. As mulheres entravam em aliança com Deus através da aliança do pai e, posteriormente, a do marido. Mas agora na saída do Egito Deus dá outro sinal desta aliança: a páscoa. O cordeiro seria morto e o sangue colocado na porta das casas do Israelitas para que o anjo que trazia a sentença da morte do primogênito não visitasse as suas casas. Por causa disso, a instituição da páscoa, que literalmente significava “passar por cima”, passou a ser conhecida como a “libertação.” E o texto apresenta as instruções claras sobre a páscoa: 1. Não seria um evento único. Vr. 42 “... esta é a noite do Senhor que devem todos os filhos de Israel comemorar nas suas as gerações...” 2. Não seria uma prática sem princípios - Vr. 43 “... nenhum estrangeiro comerá dela.” 3. Seria um evento para a família - Vr. 46 “O cordeiro há de ser comido numa só casa...” – 4. Seria também um evento para todo o povo - Vr. 47 “Toda a congregação de Israel o fará...” 5. Seria um evento inclusivo - Vr. 48 “... se algum estrangeiro... quiser celebrar a páscoa, seja circuncidado...” O Antigo Testamento é sombras do Novo Testamento. Da mesma forma, Deus continua a chamar o homem para entrar em aliança com Ele. Esta aliança apresenta a libertação espiritual daqueles que passaram da morte para a vida. Ao mesmo tempo, dois sinais são colocados sobre este povo, a Igreja, que passa a ser “povo de propriedade exclusiva de Deus.” O batismo que pelo qual confessamos o Senhor como o nosso salvador e passamos a receber o selo visível da graça invisível. E a Santa Ceia na qual comemoramos repetidamente o ato único do oferecimento de Cristo na cruz do Calvário.

Conclusão Versículo 51 “Naquele mesmo dia, tirou o Senhor os filhos de Israel do Egito, segundo as suas turmas.” A saída do Egito nos ensina hoje que: (1) Nada devemos deixar para tráz. Que a vida com Deus é uma vida integral e que nenhuma parte ou área de nossa vida pode continuar pactuando com as obras das trevas. (2) Também nos ensina que Deus promete andar conosco protegendo-nos, nos sustentando e nos guiando em Sua sábia vontade.


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(3) Por fim a saída do Egito nos ensina que não há mais volta porque entramos em aliança do Deus através do batismo e da Ceia do Senhor.


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