Série “Alcançando além de nós mesmos” Estudo 3
A Sarça que ardia, mas não se consumia Êxodo 3.1-10 Pr. Jorge Patrocínio –
INTRODUÇÃO Em 40 anos no palácio Moisés aprendeu a ser grande. Foi educado com os melhores dos melhores. Viveu o glamour constante da festa palaciana e nunca teve tempo para a meditação espiritual por causa da filosofia, arte, estudos culturais e bélicos. Agora ele está vivendo a sua segunda etapa da preparação no deserto onde Moisés vai aprender a ser pequeno. Não mais luzes e cores, brilhos e festas. Sua companhia é agora senão unicamente as ovelhas. Alexander MacLaren diz o seguinte sobre esse episódio: “Foi uma descida aguda do palácio de faraó para o deserto. E quarenta anos de vida de pastor eram um contraste estranho para o futuro brilhante que uma vez parecia estar à frente de Moisés quando ainda no Egito. Mas, lembre-se Deus testa suas armas antes de usá-las e os grandes homens são geralmente preparados para grandes realizações através de grandes aflições. Solicitude é a pátria do forte, e o deserto, com seus rochedos selvagens, seu silêncio terrível, e o seu globo único, como uma só peça, do céu azul, foi um melhor lugar para encontrar Deus do que o ar pesado de um palácio, ou o esplendor lucrativo de uma corte.” Foi ali que Deus encontrou Moisés e revelou-se a ele. Aprenda esta lição: Muitas vezes é no palácio que aprendemos a manejar todas as ferramentas de nosso comissionamento, mas somente no deserto essas ferramentas serão testadas. No deserto acabamos recebendo a lubrificação de nossas armas que as colocarão prontas para serem usadas. Lembre-se Desertos, vales e lutas são sempre a preparação para grandes conquistas.
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Série “Alcançando além de nós mesmos” Em Atos 21.7-16 há um grande acontecimento. Paulo já havia feito pelo menos 3 grandes viagens missionárias e agora estava de volta para Jerusalém. Ele passa em Cesaréia na casa do diácono Filipe. Alí suas 4 filhas profetizavam quando chegou um profeta de nome Ágabo. Quando Ágabo chegou, ele tomou o cinto de Paulo e amarrou seus próprios pés e mãos, e disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os Judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto. “Quando ouvimos estas palavras, diz o evangelista Lucas, tanto nós como os daquele lugar, rogamos a Paulo que não subisse a Jerusalém.” Vr. 13 – “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” Talvez diríamos: Que desperdício para a Obra perder um grande missionário como Paulo. Talvez faríamos até como Pedro fez quando Cristo disse sobre seu sofrimento. Mas se Paulo não tivesse sido preso, irmãos, hoje não teríamos as chamadas Epístolas da prisão que são Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Muitos dos nossos desertos são na verdade lugares que Deus nos leva para preparar-nos, para servir a Ele e aos outros com maior intensidade, ardor e poder. Mas olhando para este texto a pergunta que salta à mente é “porque Deus se manifestou daquele jeito”? Queimando e não consumindo um arbusto? Moisés já tinha sido consumido por um zelo tremendo quando ainda estava no Egito. - Êxodo 2.11 – “Sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que um certo egípcio espancava um hebreu” – Naquele momento Moisés teve que escolher entre a frieza dos livros (do ensinamento do palácio) e o ardor da religião aprendida com sua mãe. Moisés ardia por vontade de fazer justiça e ele se levantou e matou o egípcio. Lembre-se Toda justiça advinda de nosso ardor humano produz morte ao invés de vida. Muitas vezes queremos fazer o que é correto, mas não através do fogo do deserto que queima mas não consome, e sim pelo ardor de nosso temperamento.
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Série “Alcançando além de nós mesmos” Acredito que uma das coisas mais difíceis para tratarmos é o nosso temperamento. Na Bíblia temos homens, como Pedro, que sofreram com isso. Moisés já tinha tido um fogo devorador dentro de si, mas esse fogo humano produziu morte. Agora Deus o leva para o deserto para ter a experiência do fogo, do verdadeiro fogo que queima mas não consome. E é partindo deste ponto que quero pensar com os irmãos sobre o seguinte tema:
A Sarça que ardia, mas não se consumia Penso que o significado daquela sarça ardendo, mas não se consumindo traz grandes lições para todos nós que queremos viver o projeto cristão de alcançar além de nós mesmos. Entre os estudiosos há pelo menos duas linhas de interpretações sobre a idéia dessa sarça ardendo e não se consumindo: (1) A primeira é que ela era a representação simbólica da perseguição de Israel no Egito, sendo ainda assim conservado por Deus; (2) A segunda interpretação é que essa sarça ardendo e não se consumindo é o símbolo da ação de Deus e não de perseguição. Particularmente acredito que a segunda explicação é mais acurada. Em vários lugares na Bíblia, o fogo é usado com algo purificador e comissionador de Deus. (1) Quando Abraão preparou um altar para confirmar o pacto com Deus (Gn. 15.17) nos é dito: “E sucedeu que, posto o sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fumegante, e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços.” – Aqui o fogo é devorador, mas não consumidor. (2) Na visão do profeta Isaías (10.17) – “ A luz de Israel virá a ser como fogo e o seu Santo como labareda, que abrase e consuma os espinheiros e os abrolhos da Assíria num só dia.” (3) No dia do Pentecostes, (At. 2.3) “E apareceran, distribuídas entre eles, línguas como de fogo...”
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Série “Alcançando além de nós mesmos” (4) E Hebreus (12.29) nos diz que “o nosso Deus é fogo consumidor.” (5) E o profeta Isaías, o mesmo que havia visto o Senhor no altar e experimentado em seus lábios o gosto do fogo dos céus, diz futuramente (33.14): “Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?” (6) E mesmo diante da fornalha de fogo ardente do inimigo, aquecida sete vezes mais, (Dn. 3.19), o aspecto do quarto homem é mais resplandecente por causa do fogo de Deus. Vejamos, então, alguns ensinamentos sobre essa sarça ardendo e não se consumindo:
Para aqueles que são comissionados, o fogo é símbolo de PURIFICAÇÃO O fogo tem fascinado a humanidade durante milhares de anos. Ao seu redor, e graças ao seu calor, tem vivido centenas de gerações. O fogo foi a maior conquista do homen pré-histório. A partir desta conquista o homem aprendeu a utilizar a força do fogo em seu proveito, extraindo a energia dos materiais da natureza ou moldando a natureza em seu benefício.
O fogo purifica, é fonte de vida, luz, calor, mudanças, glorificação, refinamento, energia e purificação. A manifestação da Sarça ardendo e não se consumindo no meio do deserto era a manifestação da vida no meio do lugar considerado morto. Deus estava agora levando Moisés para a refinaria espiritual. A partir daquele momento Moisés seria inflamado pelo fogo que arde e não se consome. Ele não mais iria matar quando estivesse tomado pela ira, mas interceder por vida, mesmo quando o povo adorasse a um bezerro de ouro. Moisés era o homem mais manso da terra (Nm 12:3) porque fora queimado com o fogo e não consumido, senão seu temperamento intempestivo. Se você quer viver além de você mesmo você precisa do fogo purificador para que suas ações, mesmo enérgicas, possam queimar mas não consumir.
(2) A sarça também demonstrava a natureza do Deus comissionador -
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Série “Alcançando além de nós mesmos” O fogo que queima e não consome, que não tem tendência para destruir em sua energia nem consome pela sua própria atividade, diferentemente do fogo humano, é também e certamente o símbolo de um Ser cujo ser deriva Sua lei e origem de Si mesmo. “Eu sou o que Sou” – Diz o Senhor. – A lei da Sua natureza, o fundamento de Seu ser e a única condição de Sua existência estão presos aos limites de Sua própria natureza de ser o Deus criador não criado. Você e eu precisamos reconhecer e dizer: Eu sou o que eu tenho me tornado; ou eu sou o que eu nasci para ser; ou mesmo eu sou o que as circunstâncias me têm feito ser. Mas somente Deus e mais ninguém pode dizer: Eu sou o que sou. Todas as outras criaturas são elos. Todas as criaturas são derivadas e, por isso, limitadas e mutáveis. Mas o Deus que se apresenta na sarça que queima e não se consome é absoluto, auto-dependente e, portanto, eternamente inalterado. A sarça que queima e não se consome aponta para o Deus que vive para sempre. O viver humano é um processo de mortificação de células que acontece a todo momento no corpo humano até o momento da morte. Mas o grande “Eu sou” não possui esse processo. Ele é fogo que não se consome. Deus não precisa de descanso para recuperar Suas energias exauridas. Seus dons não precisam de um depósito. Deus não tem dons em depósito para dar aos seus filhos. Ele é o Autor da vida. Seus dons emanam de Si sem necessidade de reserva e sem possibilidade de falência.
(3) A sarça aponta para o fato de que nossas obras não serão em vão Vr. 6 “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão e o deus de Jacó...” E Jesus falando sobre a ressurreição dos mortos em Mateus 22:32, usa este texto de Êxodo e diz: Ele é Deus de vivos e não de mortos. A manifestação da sarça ardendo e não se consumindo, indicava um ministério para Moisés que não teria fim porque suas obras o acompanhariam. Foi exatamente essa revelação que João teve (Ap. 14.13) “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor; sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois suas obras os acompanham.
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Série “Alcançando além de nós mesmos” É exatamente por isso que o autor aos Hebreus diz que Moisés considerou o “opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão.” (Hb. 11.26).
(4) A sarça que arde e não se consome também demonstra a fonte de nossos recursos – Vr. 5 “Não te chegues para cá. Tira a sandálias dos pés porque a terra em que está é terra santa.” Muito se tem falado sobre esse versículo e muito se tem alegorizado sobre qual a sandália que precisamos retirar para uma maior intimidade com Deus. Mas se quisermos compreender o texto mais contextual e literalmente precisamos não focar nossa atenção na sandália, mas na qualidade do chão. A terra em que está é terra santa. Essa expressão nos leva a entender o seguinte: Todo o nosso comissionamento para a pregação do evangelho parte do lugar santo. Os nossos pés estão fincados na santidade de Deus. Talvez seja por isso que o profeta Isaías (52.7) disse: Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas...” O apóstolo Paulo usou esse texto para pontuar a pregação do Evangelho (Rm. 10.15) O Salmo 1.3 nos fala sobre o justo dizendo que “ele é como árvore plantada junto a corrente das águas e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.” Tirar a sandália dos pés é para sentir o chão e ter contato mais íntimo com Aquele que se fez presente. Não há possibilidade de se viver uma vida para alcançar além de nós mesmos, a menos que entendamos de onde nasce a fonte de nossa autoridade, poder e vitória. Veja ainda a expressão inicial do versículo 5 “Não te chegues para cá”. Que grande contraste do que Deus falaria para Moisés em Êxodo 33 ao mostrar a Sua glória: “Eis aqui um lugar junto a Mim” (Vr. 21) Daquela primeira experiência da Sarça ardendo e não se consumindo e do momento de ver toda a glória de Deus, vários anos haviam se passado na vida de Moisés.
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Série “Alcançando além de nós mesmos” Lembre-se Tudo começa com a sarça e se você colocar-se nas mãos de Deus, Ele mesmo te levará num processo de descortinamento das gloriosas riquezas dos céus.
CONCLUSÃO Gostaria de concluir dizendo o seguinte: O crente que não tem propósito é um contra-censo e infeliz porque vive fora da vontade de Deus que é o comissionador e dá sentido de vida.
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