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Onde Estão os Teus acusadores? João 8:1-11 IPCci 04/09/11 Rev. Jorge Luiz Patrocinio, Ph.D. INTRODUÇÃO A passagem Bíblica que narra o encontro de Jesus com a mulher apanhada em flagrande adultério é rica de detalhes: Primeiro, porque é um dos textos dos Evangelhos que não possue paralelo em nenhum outro lugar – Inclusive, na tradução de João Ferreira de Almeida o texto está até em colchetes, demonstrando que dos originais do Novo Testamento encontrados a partir do primeiro século, vários deles nem mesmo traz consigo o acontecimento. Mas, é certo que isto não desqualifica o acontecimento segundo as melhores tradições cristãs.1 Segundo, que Jesus se encontra num momento de muita oração e Jejum. Jesus no templo é um assunto importante para o evangelista João. Terceiro, demonstra a singeleza do Mestre: "Jesus, assentando-se, ensinava no templo" (Jo 8:2). Ele se assentava em qualquer parapeito, degrau, calçada, barco, aonde fosse e ministrava a Palavra. Enquanto isso, os fariseus disputavam o púlpito e as melhores cadeiras nas sinagogas. Ele havia acabado de ensinar aos discípulos, estava saindo do templo e enquanto se dirige para casa, um motim se forma em Sua direção. Dezenas de homens carregam uma mulher segurando-a fortemente nos braços. Empurram, agridem verbalmente. Ela, com as vestes rasgadas, os cabelos assanhados, chora, soluça implora piedade. 1 Em sua carta de Páscoa de 367 dC, Atanásio, bispo de Alexandria, escreveu a primeira lista com os 27 que viriam a formar o Novo Testamento canônico. O Sínodo de Hipona em 393 dC aprovou o Novo Testamento tal como conhecemos hoje
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Teria sido a mulher, vitima de armação? Onde estaria o homem que adulterou com ela? Por que omitiam parte da lei de Moisés que previa apedrejamento para o casal? "Também o homem que adulterar com a mulher do outro havendo adulterado com a mulher de seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera" Lv 20:10 A intenção não era fazer justiça, mas punir Jesus, a mulher era uma espécie de "isca": "Na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas, Tu, pois, que dizes"? Jo 8:5. Alguns dizem que os homens já até seguravam pedras nas mãos. Outros preferem optar por uma situação mais real de um julgamento dentro dos muros do Templo como sendo apenas um questionamento e não o ato em si. Mas é certo que os homens ficam surpresos com a atitude de Jesus. Movimentam a cabeça em dúvida enquanto olhares procuram resposta: "O que Ele está fazendo"?! Jesus continua simplesmente a escrever na terra. Penso que o gesto de Jesus foi uma forma de dizimar a ira, calar os insultos, as muitas vozes. Jesus se inclina e eles silenciam, soltam à mulher, que em suspense aguarda o desfecho. "Ele escrevia com o dedo na terra" Jo 8:6 O Mestre está agachado a espalhar com as mãos o pó das pedras, a areia. Representantes da Lei ajuntam pedras. Jesus representante da graça se interessa pelo pó delas. Eles, a morte. Jesus, a vida: “E formou Deus o homem do Pó da terra" (Gn 2:7). Nas mãos do carpinteiro, o pó da terra é moldado. Aquele motim de homens enfurecidos não contamina o coração de Jesus. Já não se ouve o som das muitas vozes, uns poucos homens perguntam simultâneamente: "Dize o que devemos fazer"? "Jesus endireita-se e diz: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela e tornando a inclinar-se escrevia na terra" Jo 8:7-8
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Jesus escreve na terra de costas para eles. A palavra de Jesus, mais uma vez transforma a situação. Obriga-os a refletir: "Saíram um a um a começar pelos mais velhos." Envergonhados, feridos na consciência, soltam as pedras ao chão. E vão embora... O episódio poderia ter acabado alí. Jesus, se fosse um Mestre como um de nós, poderia, e deveria, terminar o acontecimento e ir embora com os seus discípulos aliviado de ter conseguido se sair de mais uma das armadilhas mais bem montadas dos judeus. Afinal, se tivesse absolvido a mulher teria ele ido contra a Lei de Moisés. Se tivesse mandado apredrejá-la, iria Ele contra a Lei dos Romanos que não se condenava ninguém sem antes ouvir a pessoa. Em ambos os casos, Jesus teria oferecido aos Escribas e Fariseus toda a munição que eles precisavam para levá-Lo perante as autoridades Romanas. Um dia falei numa formatura de Direito sobre o maior advogado de todos os tempos. Há um julgamento a céu aberto: E o julgamento é duplo: Há o interesse maior em condenar Jesus do que a própria mulher. E ao Jesus proferir aquelas palavras, Ele estava arrancando aquela mulher do banco dos réus e colocando assentado bem alí, no banco da consciência cada um de seus condenadores. Mas Jesus não pára o episódio ali. Ele faz a pergunta: Onde estão os teus acusadores? Jesus poderia ter feito outras perguntas para aquela mulher: O que queres que eu te faça? Mas Ele toca no ponto central: Onde estão os teus acusadores? Aplicação Essa não é uma história longe de nós. Essa é a nossa história. Os pecados mudam, as circustâncias se mascaram diferentemente; mas o encontro é o mesmo: Cristo e uma pessoa pecadora.
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Neste encontro a maior dor é também o maior alívio; o maior choro é também a porta do contentamento. Ou seja, nós pecadores nos encontramos com o Santo filho de Deus. Muitos de nós somos apanhados em flagrante nos pecados da vida; outros, como os próprios acusadores da mulher, são movidos pela própria consciência. O fato é que diante de Jesus, o interno e o externo se misturam, o que se vê e o que está escondido chegam iguais à presença da luz imarcessível de Deus. Porque Jesus fez aquela pergunta àquela mulher? E o que essa pergunta tem a ver com você e comigo? Eu quero deixar quatro lições que encontram, na verdade, fundamento em textos espalhados no Novo Testamento: Onde estão os teus acusadores nos ensinam que: 1) Eu vim para que tenham vida e vida em abundância – João 10:10 De todos que se entrevistar, como aquela mulher ou qualquer outra situação, as palavras são sempre as mesmas: Eu quero viver a minha vida, eu preciso viver a plenitude de minha vida. Toda essa busca do que o homem chama de vida, que é o prazer pessoal, a auto satisfação, acaba levando-o a uma escravidão. “O ladrão vem para matar, roubar e destruir...” A pergunta de Jesus ressalta a sua missão: Vida e vida em abundância. Para Cristo, as pessoas são mais importantes do que as coisas, as instituições, a posição, a religião, o statos quo da sociedade. Neste encontro do texto, Jesus se expôe. Ele se coloca entre a mulher e seus acusadores, entre a Lei e os Escribas e Fariseus.
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A ausência da vida alí é patente: Falta vida na mulher, que há anos vivia em busca da felicidade. Quantos são assim em nossos dias: Acham que estão vivendo abundantemente em busca dos prazeres do pecado. Mas só Cristo pode oferecer essa vida abundante. Falta vida naqueles religiosos que sedentos pelo sangue do inocente, usa a dor de uma mulher, torce os textos da Bíblia; tudo isso em busca de condenar àquele que questionava a religião deles. É triste que haja pessoas mais preocupadas com a sua conscepção de certo e errado da religião do que com as vidas. 2) Onde abundou o pecado, superabundou a graça – Romanos 5:20 A pergunta de Jesus àquela mulher assentuou o que Jesus já havia dido: O filho do homem veio para salvar o que se havia perdido. E numa grande contravenção da graça perante a Lei, o perdão de Deus é sentido e vivido de forma equivalente ao pecado cometivo. Em Lucas 7:47 nos é dito que uma mulher pecadora entrou no recinto onde Jesus estava e ungiu os seus pés. Jesus disse ao dono da casa que questionava o ato: “Aquele a quem pouco se perdoa, pouco se ama.” Mas aquele a quem muito se perdoa, muito se ama. O pecado vivido em grande medida abre os veios para uma vida superabundante de graça. Deus perdoou ao rei Manassés, um feiticeiro; Deus perdoou ao rei Davi, um adúltero; Deus perdoou a Paulo, um perseguidor e assassino Deus perdoou a Pedro, um machão que se acovardou diante de alguns criados; Deus perdoou a um ladrão condenado a pena de morte. Deus perdoou a uma mulher Samaritana, mulher de 7 homens.
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Ao que muito se perdoa, muito se ama. 3) Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus – Romanos 8:1 A graça não veio para condenar, mas para salvar: "Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais" Jo 8:11. A mulher profundamente agradecida sai correndo pelas ruas segurando suas vestes rasgadas. A notícia deve ter se espalhado em Jerusalém, chegado aos ouvidos de todos. E aquilo que era motivo para a grande condenação de Cristo, se tornou razão de toda a cidade se alegrar pela salvação de Deus. Além disso, a Bíblia não menciona o que aconteceu com aquela mulher e nem mesmo se ela tinha um casamento. Não podemos conjecturar, mas vejo a libertação produzida por Cristo ganhou todos os espaços de sua vida. No grande tribunal dos homens, aquela mulher foi absolvida pela cosciência de seus acusadores que sentiram a dor aguda de seus próprios atos escondidos. Mas no grande tribunal de Deus, ela foi absolvida pela interceção de Jesus Cristo: Eu não te condeno, disse Ele. 4) Esquecendo-me das coisas que para traz ficam, prossigo para o alvo – Filipenses 3:13 Jesus disse: “Vai e não peques mais.” Cristo é maravilhoso, pois não somente perdoa os pecados passados. Ele também abre uma nova perspectiva do futuro. Não importa qual foi o seu pecado, o daquela mulher, o de Davi, o de Paulo, o de Manassés, e outros, foram terríveis. Mas para Deus não há pecadinho e nem pecadão porque pecado é pecado e todos eles são tratados pelo derramamento do sangue na cruz. Deus não vive do nosso passado e não quer que vivamos também.
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A mulher samaritana deixou o seu cântaro. Paulo deixou seus comparsas. Todos que se encontram com Cristo precisam deixar o que até este momento os aprisionava. Deixar para ganhar; largar para conquistar; esquecer para e se lembrar das promessas de Deus. CONCLUSÃO Onde estão os teus acusadores? Homens – consciência – Deus. Todos te absolveram. Deus também te absolve.