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Tenha Cuidado do Teu Próximo – Parte I IPB Aracruz 01/04/10 O Grande Exemplo de Neemias Neemias 1 INTRODUÇÃO Nesta noite eu gostaria de falar do terceiro exemplo positivo sobre ter cuidado do próximo. Na última vez falamos de Daniel. Um servo de Deus que viveu gerações e situações diferentes: Foi jovem e mais experimentado, foi pobre e foi rico; foi escravo e foi senhor; foi rejeitado por alguns reis e foi amado por outros; foi político, profeta, sacerdote e governador. E em todas as coisas, Daniel viveu um projeto de vida santo para Deus e influenciador para o próximo. Quando chegou na Babilônia “resolveu Daniel firmemente não contaminar-se com as finas iguarias do rei.” Essa decisão foi na verdade a tônica de todo o seu ministério. No final de sua vida, pouco se sabe sobre ela, podia dizer como Paulo: “Combati o bom combate, complei a carreira, guardei a fé.” Daniel pensou até em seus inimigos. Muito mais em seu povo para buscar a sua restauração. O outro exemplo positivo de hoje também vem do exílio. Um pouquinho à frente de Daniel. Eu gostaria de falar um pouco sobre Neemias. Essas duas figuras são importantes para pensarmos no próximo porque o primeiro(Daniel) marca o início do cativeiro; o segundo (Neemias) marca o seu fim. O Grande Exemplo de Neemias Neemias 1:4 A história de Neemias é um desafio constante em nossas vidas a cada dia. Não se trata apenas da vida de um homem abnegado e disposto a
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mudar. Há lições de coragem mescladas com euforia e um tempero de grande convicção. Os seis primeiros capítulos do livro tratam da reconstrução dos muros, os seis últimos, da reinstrução do povo de Deus. Percebemos então duas tônicas do livro: reconstrução e reinstrução, duas realidades que não eram novas para Israel, mas que eram fundamentais para trazer a dignidade, a herança e a ocupação da terra perdida depois do cativeiro de 70 anos da Babilônia. Em 530 aC, o poderoso império babilônico foi destruído pela Pérsia, o rei Ciro encorajou o remanescente judeu a retornar ao seu próprio país e à cidade de Jerusalém. Daí ser ele chamado pelo profeta Isaías (Is 44:28) de pastor de Deus. O contraste do cativeiro no Salmo 137 – “As margens do rio da Babilônia nos assentávamos e chorávamos lembrando de Sião” – com a restauração no salmo 126 – “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião ficamos como quem sonha” – é gritante. Imediadatamente 50.000 judeus retornaram e foram confrontados com a tarefa de reconstrução do templo. Enfrentaram uma oposição tremenda dos povos que viviam ao redor da cidade santa e, não resistindo a oposição, abandonaram o trabalho. Cerca de 16 anos depois Deus levantou os profetas Ageu e Zacarias que desafiaram o povo a mudar o estilo de vida e não negligenciar o chamado de Deus. Isso porque muitos judeus mesmo no cativeiro da Babilônia desfrutavam de uma vida muito confortável, trabalhando, ganhando dinheiro, comendo bem, já que esse povo abençoado fora presenteado por Deus com muitos talentos e dons que eram essenciais aos babilônicos. Por volta do ano 458 aC, sob a liderança de Esdras, o povo voltou (Esdras era descendente direto de Arão e possuía um caráter firme), restabeleceu os padrões morais e a vida espiritual do povo de Deus. Por volta de 445 aC, Deus levanta outro homem para continuar a reconstrução, seu nome, Neemias.
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Eu gostaria de falar um pouco dos capítulos 1 de Neemias e sua oração a Deus. Algumas características de Neemias que demonstram a sua vontade de cuidar do próximo: 1. Neemias teve coragem de fazer perguntas – Vr. 1-2 Não sabemos ao certo se um de seus irmãos teria feito umaviagem a Jerusalém ou apenas recebido notícias de lá. O fato é que Hanani e alguns judeus foram ter com Neemias em Susã. Comentadores (Alexander MacLaen) dizem que Susã era a cidade onde ficava a residencial real de inverno. E alí Neemias fez a pergunta sobre a situação em Jerusalém. A primeira leva de judeus retornando a Jerusalém já tinha acontecido há aproximadamente 12 anos, sendo liderada por Esdras. E Neemias está preocupado. Daí ele faz perguntas sobre seus irmãos: O relatório não foi nada animador. As vezes não perguntamos com profundidade porque não queremos ouvir o relatório que o irmão tem para nos dizer. Quando pensamos com empatia o relatório de destruição nos causa impacto profundo. Na verdade, ele nos tira da nossa posição de conforto. Existe um livro escrito em 1992 por Naamã Mendes muito interessante chamado “Igreja um Lugar de Vida”. O capítulo 2 deste livro é entitulado “Lugar de Exercício de Misericórdia.” Neste capítulo Naamã analisa aquele encontro de Jesus com o paralítico no tanque quando Jesus perguntou: Queres ser curado? (Talvez estudaremos um dia sobre ele) E Naamã desenvolve a seguinte tese: “Perguntar é comprometer-se.” Muitas vezes não perguntamos porque temos medo da resposta. Quando Jesus fez aquela pergunta Ele sabia muito bem que resposta podia oferecer.
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Cuidar do próximo significa fazer perguntas corajosas. Neemias fez isso. Ele teve coragem de perguntar porque sabia que poderia ter uma resposta que o forçasse a tomar uma decisão. Aliás toda resposta a uma pergunta nos força a responder de volta com alguma coisa. Ou seja, oferecer ajuda. Responder também é comprometer-se. Muitas vezes as nossas respostas são evazivas porque temos medo de que as respostas certas nos levam a mudança de vida. Jesus perguntou ao paralítico junto ao tanque de Betesta- Queres ser curado? – O paralítico respondeu evazivamente: Não tenho ninguém que me coloque no tanque. Jesus não havia perguntado: Como você vai entrar no tanque? Ou você não tem amigos? Ou quer uma ajudinha. Ele fez a pergunta certa e esperou a resposta certa. 2. Neemias pensou com empatia – Vr. 4 “Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei....” As coisas estavam muito bem com Neemias. Ele possuíam uma grande simpatia do rei e progredia profissionalmente. Talvez há 12 anos atrás quando Esdras arregimentou 50 mil judeus para retornar, Neemias até teria pensado e voltar para ajudar. Mas o tempo passou. No capítulo 2:4 o rei disse a Neemias: Que me pedes agora? Talvez nos últimos 12 anos Neemias tenha usado sua posição junto a família real para ajudar efetivamente seu povo. Mas o tempo passou e Neemias estava agora novamente no que chamamos de “zona de conforto”. Muitos de nós estamos também na nossa “zona de conforto.” Mas tudo começou na fábrica da mente de Neemias. Neemias já vinha pensando sobre Jerusalém e sobre os judeus que estavam lá. E diane do relatório nada animador (Vr. 3) ele foi invadido por essa dor aguda, talvez Neemias até perdeu noites de sono, pensando sobre os judeus em Jerusalém.
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Ter cuidado do próximo significa importar-se com o próximo. Precisamos nos colocar no lugar dele. Precisamos sair da nossa posição de conforto, inicialmente, com a mente e inquirir a respeito daqueles que precisam de nós. Em Mateus 15.32 Jesus disse aos seus discípulos a respeito da multidão faminta: “Tenho compaixão desta gente...” Jesus olhou para aquela multidão e seu coração foi invadido pela compaixão de Deus. Em Filipenses 2:5 Paulo, inspirado por Deus, diz: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” Toda ajuda verdadeira, substancial e que alcança o coração do próximo vem como resultado desta “reflexão empática”. O que é empatia? a palavra empatia tem a sua origem na linguagem grega – empatheia, que significa tendência para sentir o que se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas, vivenciadas por outra pessoa. Mark W. Baker disse: “A maior expressão de empatia é sermos compreensivos com alguém de quem não gostamos.” A empatia pela dor e situação do próximo faz com que nosso conforto fique sem graça, que nosso luxo perca o sabor, que nosso comodismo seja atacado pela ação em direção à pessoa. Neemias pensou com empatia e começou a sentir a dor daquele povo. O apóstolo Paulo chega a usar uma figura bem conhecida para expressar o sentimento de empatia que tinha pela igreja. Em Gálatas 4:19 ele diz: “meus filhos, por quem de novo sobre as dores de parto, até ser Cristo formado em vós.” Portanto, com Neemias aprendemos a fazer perguntas e também a pensar com empatia. 3. Neemias fez da oração o seu alimento – Ele orou por direção a Deus – Vr. 5-7
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“E disse: ah! SENHOR, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos! Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamente contra ti, não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo.Veja como esses passos de desenrola na vida de Neemias. Primeiro ele sente empatia, depois faz a pergunta corajosa e a resposta o leva para a oração.” Tudo o que fizermos precisa ser feito em oração. Toda ajuda sem oração pode se tornar apenas num veículo social. É a oração que transforma as boas obras em uma arma poderosa nas mãos de Deus. A oração, por sua vez, nos leva a ação. Quem ora e não age está apenas aliviando a conciência diante da dor do próximo. Um dos livros mais belos sobre oração na minha opinião é o livro de Wesley L. Duewel entitulado “Oração Poderosa que Prevalece”. O título do capítulo 4 é “Não Orar é Pecado”. Wesley lança mão do texto de 1 Sm 12:23 (Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós), e diz: “Não existe um meio mais fácil de cometer pecado do que o pecado de não orar. Esse é um pecado contra o homem e contra Deus. Podemos pecar não só por agir errado, mas também por não fazer o que é certo, não cumprir o nosso dever. Tg. 4:17 diz: “Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”. Lc. 12:47 diz: “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade” comete tal pecado.
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“Tais pecados de omissão não nos separam de Deus, mas certamente entristecem o coração do Senhor. Eles demonstram desreipeito pela Palavra de Deus, pelo amor de Cristo e pelo terno Espírito Santo, que busca lembrar-nos do que devemos fazer. Os pecados de omissão enfraquecem a nossa vida espiritual, tornam-nos comparativamente inúteis para Deus e roubam de nós as recompensas que Deus deseja dar-nos. Não orar é pecado, o pecado da omissão. Mas Wesley Duewel nos adverte que ele está falando sobre orar pelo nosso próximo. Ele diz que “orar em nosso próprio benefício é petição e não intercessão.” O cristão simplesmente não tem opção. Pergunta: Você tem orado pelo teu próximo? Você tem alguém em sua pauta de oração que te faz bater nas portas do céu com importunação para que o Senhor mude as circunstãncias? Se você tem alguém nesta lista, esta pessoa é bem aventurada. Vejamos aqui rapidamente algumas características da oração de Neemias: 3.1. É uma oração que nos lembra quem Deus verdadeiramente é – Vr. 5 “...SENHOR, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia...” 3.2. É uma oração que nos chama a responsabilidade – Vr. 5 “...que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!” 3.3. É uma oração perseverante – Vr. 6 “Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite,...” 3.4. É uma oração de confissão e concerto –
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Vr. 6 “...e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado.” Não dá mesmo para entender porque esses homens, como Neemias e Daniel, insistiam tanto em dizer para Deus que o pecado do povo era na verdade o pecado deles. Esse é o senso forte criado pelo povo de Israel. Eles se sentiam um só povo. Com a vinda do Espírito e a inauguração da igreja Cristã, esse senso deveria ser ainda mais forte. O apóstolo Paulo fala sobre sermos membros de um só corpo e sentirmos a dor dos membros como se fôssemos nossa. Ter cuidado do nosso próximo, no contexto bíblico, é confessarmos o pecado do nosso próximo como se fosse nosso pecado. CONCLUSÃO A pergunta que você deve fazer é: Você tem tido cuidado com o teu próximo? A reflexão que você deve fazer é: Aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Hoje é o teu próximo, amanhã pode ser você. A decisão que você deve tomar é: Você e não outro. Você mesma é a pessoa que Deus quer usar.