Estudo 4 - Tira a Sandália dos Pés

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TIRA AS SANDÁLIAS DOS PÉS Êxodo 3:13:1-5 INTRODUÇÃO Semana passada, vimos sobre a Sarça que ardia e não se consumia. Hoje eu gostaria de estudar um pouco mais sobre esse texto, agora focando a ordem de Deus para Moisés tirar as sandálias dos pés. Há muitos pregadores que tentam ver algum simbolismo nesta expressão para aplicá-la aos nossos dias. Particularmente não sei se deveríamos fazer isso. Realmente não sei. Não sei se devemos interpretar o texto literalmente ou simbolicamente. É fato que há alguns textos que claramente não são literais: Por exemplo: Em efésios 1:18 o apóstolo Paulo diz: “Iluminado os olhos do vosso coração, para saber qual é a esperança do seu chamamento...” Paulo aqui diz que o nosso coração tem Olhos. Em Apocalipse 2, nas cartas enviadas às sete igrejas, a Palavra de Deus fala repetidamente: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Numa alusão clara às coisas espirituais. Essas duas verdades “olhos do coração” (em Paulo) e “ouvidos” (Em Apocalipse) se coadunam perfeitamente com as palavras de Jesus em Marcos 4:11-12: “A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam...” Em Isaías 52:7 o profeta diz: “Quão formosos são os pés do que anuncia as boas novas...” Expressão repetida por Paulo em Romanos 10:15. Esses e outros textos nos mostram que não é de todo absurdo tirar lições metafóricas das palavras de Deus a Moisés. Mas ainda assim, me aventuro a pensar sobre esse texto de uma forma mais literal e tirar lições para nós hoje. Um pouco sobre os tempos Bíblicos: O costume de tirar as sandálias na Bíblia é amplamente divulgado.


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William Coleman em seu livro “Manual dos tempos e costumes bíblicos” nos diz que nos tempos bíblicos no Oriente Médio quando uma visita chegava a uma casa, havia um escravo incumbido de remover-lhe as sandálias dos pés. As vezes esse ato era assumido por um membro da família e demonstrava claramente sinal de humilhação. Talvez daí se tenha vindo a expressão de João Batista sobre Jesus ao dizer que não era digno de desatar-lhe as sandálias dos. (Jo. 1:27) Coleman diz ainda que em festas sagradas as pessoas tinham que tirar os sapatos, o mesmo acontecendo quando entravam num lugar santo, como o santuário ou o templo. Merril Tenney em “Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos” aponta para Lucas 15:22 (O filho pródigo voltando descalço) e 2 Sm. 15:30 (Davi fugindo descalço de Absalão) para demonstrar que andar descalço na rua era indício de pobreza ou sinal luto. Antes deste episódio com Moisés, há alguns textos que mencionam o uso de sandálias, mas parece ser deste encontro com Deus e a ordem para tirar as sandálias dos pés que surgiu o costume bíblico de se tirar as sandálias para entrar no santuário ou templo. A pergunta crucial é: Porque Deus mandou Moisés tirar as sandálias? E quais as lições que podemos aprender? Tira a Sandália dos Pés Quais as lições que podemos aprender desta ordem divina feita a Moisés no Monte Horebe? •

1. A LIÇÃO DA OBEDIÊNCIA OBEDIÊNCIA Mais tarde Josué também quando está entrando na terra prometida recebeu uma ordem semelhante quando o Anjo do Senhor desejou falarlhe (Js. 5:15). Imediatamente ao ouvir a divina ordem, Moisés tira as suas sandálias. Falamos que a Sarça ardente representava entre a justiça de Moisés que ardia e produzia morte (Ex. A morte do Egípcio) e a justiça de Deus que ardia e produzia vida.


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Pelo zelo das coisas de Deus Moisés tinha enfrentado o Rei mais poderoso da terra, mas para ele liderar o povo de Deus, ele iria precisar aprender o que significa “obedecer”. Esta é uma lição para nós: Não basta fazer a obra de Deus. É preciso fazer a obra de Deus dentro dos princípios de Deus. Muitas vezes queremos fazer a obra de Deus no formato que nós achamos ser o melhor. Alguns quase querem ensinar a Deus. A lição de obediência é fundamental tanto para entrarmos no Reino de Deus (Vinde a mim) como para sermos agentes atuantes deste Reino (Ide e pregai o Evangelho). O grande Rei Saul, que se sobressaia a todos em sua época, sucumbiu perante a tentação humana e carnal de fazer a obra de Deus sem obedecer a Deus. Digo que ele sucumbiu porque Deus o removeu do seu posto. Afinal, disse Deus, a minha glória não a dou a ninguém (Is. 48:11). Em 1 Sm 15:22 o profeta Samuel fala ao desobediente rei Saul o seguinte: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” As bênçãos são derramadas a partir de um coração submisso a Deus - Dt 28:1-14 – Mas toda a promessa deste texto se fundamenta como uma resposta do que acontece no primeiro versículo: “Se atentamente ouvires a voz do senhor...” 2. A LIÇÃO DA HUMILDADE Alguém disse que ao obedecer e tirar as sandálias, “Moisés desceu um pouco, ficando na sua real estatura.” Esta declaração, apesar de bonita e bem elaborada, não condiz com o texto. Não foi a altura da sandália que fez Moisés descer mais. Na minha opinião, o que acontece aqui é que Moisés já havia perdido tudo do Egito, ou aberto mão de todas as riquezas do Egito. E tudo isso ele tinha feito não foi porque Deus aparecera a Ele, mas por causa do zelo da religião judaica.


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Aqui Deus se revela a Moisés e pede Moisés tudo o que ele tem: o cajado, as sandálias, a vida. Moisés precisava aprender a grande lição da humildade para ser um líder de verdade. Daí Moisés passou a ser conhecido como o homem mais manso da terra. Jesus instaurou entre os seus discípulos o que podemos chamar de contracultura: Mateus 20: 25-28 “Então Jesus, chamando-os disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiores exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, seja esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja esse o último.” Pedro, aconselhando aos presbíteros, escreve (1 Pe. 5;3): “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós... não como dominadores dos que vos foram confiados; antes, tornando-vos modelos do rebanho.” Precisamos nos despojar do orgulho e prepotência e Moisés foi convocado a tirar as sandálias para expressar humildade. Pergunta: O que é humildade? Alguns acham que humildade está relacionada a uma condição financeira inferior. Outros pensam que humildade está vinculada a falta de conhecimento, falta de oportunidade de estudo. Ou até mesmo, ao tom de voz manso. Humildade, ainda, para alguns, está vinculada a um temperamento introspectivo onde não fala nada e nunca coloca sua posição. Segundo o apóstolo Pedro, humildade está ligada a uma submissão a Deus que se manifestará em nossas ações perante o homem. Em 1 Pe. 5:6 ele diz: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.” Aqui está o fundamento da humildade: Nos submetermos a Deus e deixar que Ele faça a Sua obra em nós. E Pedro ainda diz: “... Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.” Aqui há uma lição muito forte; a saber, se não


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formos humildes poderemos nos encontrar numa posição onde o próprio Deus esteja nos resistindo. Já imaginou a gente fazer a obra de Deus tendo Deus mesmo como o nosso maior opositor? Se acha que isso não é possível leia o episódio de Paulo em Atos 16:7 Recapitulação: Já vimos que a ordem de Deus a Moisés: Tira a sandália dos pés – traz a lição de obediência e de humildade, mas em terceiro lugar... 3. A LIÇÃO DA REVERÊNCIA – Eclesiastes 5:1 nos diz o seguinte: “Guarda o teu pé quando entrarem na casaa de Deus...” Moisés estava aqui tendo uma experiência viva com o que significa reverência. Ele tinha aprendido com seus pais sobre a reverência a Deus, mas agora ele se deparava com o seu Senhor. No Brasil vivemos num tempo de profunda falta de reverência, da banalização do sagrado. E essa banalização do sagrado é tanto teórica como prática. O que quero dizer com isso? Na teoria o crente brasileiro não é reverente: Ele fala mal das coisas de Deus. Ele critica aquilo que a igreja está fazendo. Ele se auto-denomina como grande teólogo e sabedor de todas as coisas de Deus. Daí não pensar Duas vezes em omitir opinião sobre as coisas de Deus e muitas vezes opinião pejorativa, ofensiva e depreciativas. Alguns não pensam duas vezes em dizer: Isso é do diabo. Sobre algum acontecimento na igreja brasileira (Acontecimento diferente do que ele crê). Fizeram isso com Jesus: Disseram que ele espulsava os demônios pelo poder do maioral dos demônios. Essa é uma irreverência teórica. Mas há a irreverência prática. Aquela em que a pessoa banaliza a sua própria aproximação das coisas de Deus. Exemplos:


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Há pessoas que entram na igreja de forma totalmente desordenadas (sentar, pensar, vestir e celular). Há pessoas (Não sei aqui em nossa igreja, porque se soubesse talvez não seria tão direto) que enviam mensagens no celular na hora do culto. Outro exemplo de irreverência prática. Não nos preparamos para estar com Deus e o Seu povo. A Confissão de Fé de Westminster no Capítulo XXI, art. VIII nos diz sobre a santificação do domingo, nos diz que devemos preparar os nossos corações de antemão e ordenar os nossos negócios ordinários para guardarmos o dia nos ocupando com o serviço a Deus. Muitas vezes ficamos no sábado até de madrugada acordados e no domingo estamos cansados e indispostos para servirmos a Deus. Isso tem a ver com reverência. Outro exemplo Como bons brasileiros, amamos futebol (Eu gosto demais), mas muitas vezes não só deixamos de vir a casa de Deus por causa de uma partida como trazemos a partida para dentro da casa de Deus. Um pedido pessoal: Não falem comigo sobre futebol na igreja. Moisés aprendeu a lição sobre reverência. Mas há ainda uma última lição que talvez seja a fundamental por abranger as demais:

3. A LIÇÃO DA SANTIDADE O Senhor lhe dizia a razão de Moisés tirar as sandálias: Porque a terra onde estás é terra santa. Em Genesis 28:10 temos o episódio do sonho de Jacó com a escada que ligava o céu e a terra. Vr. 13 diz: “Perto estava o Senhor e lhe disse: eu sou o Senhor...” Vr. 16: “Despertado Jacó do seu sono disse: Na verdade o Senhor está neste lugar e eu não sabia... Quão temível é este lugar? É a casa de Deus, a porta dos céus.” Mas veja que faço uma diferenciação entre santidade e reverência. Porque reverência está ligada ao que proferimos e fazemos em relação ao culto a Deus; mas santidade é mais abrangente.


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1 Pedro 5:15 nos responde como a santidade se processa: “Santificai a Cristo nos fossos corações...” A santidade acontece no interior e se manifesta em nossas ações. Atos 2:43 nos diz: “Em cada alma havia temor...” Penso que a reverência é uma manifestação coletiva, a santidade é individual.

CONCLUSÃO CONCLUSÃO Se eu puder resumir tudo o que falamos aqui sobre tirar as sandálias dos pés, direi o seguinte: Tudo se resume em “relacionamento”. Relacionamento com Deus em santidade que se manifesta no relacionamento com a igreja em amor e se espalha no relacionamento com o perdido em misericórdia.


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