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Francisco João Humberto Maffei (1899-1968) atuou no IPT por cerca de 39 anos como assistente de pesquisa, engenheiro químico, diretor e superintendente. Seu espírito inovador e empreendedor fez do pequeno laboratório de química, criado no final dos anos 20, uma divisão de destaque do Instituto
Francisco João Humberto Maffei, engenheiro químico, professor e pesquisador, foi um homem ativo e infatigável na busca pelo desenvolvimento de pesquisas no país. Na Universidade de São Paulo, Maffei foi professor, diretor da Escola Politécnica e vice-reitor da universidade entre 1959 e 1962. A partir do final da década de 40, fomentou as inovações à pesquisa sistemática em Engenharia Química na instituição. O Prof. Maffei dedicava-se com afinco a ampliar as áreas de pesquisa e propiciar aos estudantes sólida formação. Foi o grande incentivador da criação do Departamento de Química, instituído em 1955, e criou o curso de Engenharia Naval sob sua direção. No IPT, foi o principal responsável pelo desenvolvimento de uma seção inteiramente dedicada à engenharia química e voltada para as múltiplas necessidades da indústria. Seu trabalho permeou todas as áreas da engenharia do País. Deu suporte técnico às indústrias que estavam em pleno progresso no Brasil e atuou juntamente com a Prefeitura da Cidade de São Paulo no processo de desenvolvimento e urbanização da cidade. Seu comprometimento com o desenvolvimento tecnológico trouxe o reconhecimento de seu trabalho e o convite para a superintendência do Instituto em 1949, cargo no qual atuou até o seu falecimento em 26 de janeiro de 1968.
confira a galeria de imagens no site do IPT: www.ipt.br
Vida Francisco João Humberto Maffei nasceu em 19 de março de 1899, na cidade de São Paulo, filho dos imigrantes italianos Francisco Humberto Maffei e Victoria Pirpho Maffei, que haviam chegado ao Brasil em 1881. Seu pai era técnico em fiação e tecelagem e foi gerente de tecelagem na cidade de Salto, interior do estado de São Paulo. Maffei passou grande parte da infância em Salto com seus sete irmãos, até a família se mudar para o bairro do Brás, na capital paulista, onde viveu o resto da infância e a adolescência.
“Meu pai tinha fascinação por novos inventos e pelos avanços da tecnologia; quando voltou a primeira vez dos Estados Unidos, nos anos 20, trouxe um rádio, se não me engano ainda de galena. Contaram minhas tias que todos os vizinhos do bairro se reuniam na casa de seus pais, onde então morava, para ver e ouvir aquela grande novidade. “
1932 - Família: Maffei (agachado) ao lado do pai
Francisco, filho de Maffei, em janeiro de 2012. Fez o curso primário na Escola Isolada do Brás e o curso secundário (atual ensino médio) no Instituto Alfredo Paulino, no qual depois chegou a lecionar. Ao terminar o curso secundário, foi trabalhar no setor industrial. Maffei era muito dedicado aos estudos e, por incentivo do irmão mais velho, Sábato Antonio, decidiu fazer o curso de Química, que se apresentava como uma profissão de futuro. Maffei entrou na Escola Politécnica em 1916, no recém-criado curso de química, e se formou em 1920. Em 1921, recebeu do Ministério da Agricultura uma bolsa de estudos para os Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos aperfeiçoando-se em tecnologia bioquímica e de alimentos.
1924 - Maffei quando trabalhava no
Déc. de1930 - Maffei ao lado da esposa
frigorífico Wilson
Vasni e a filha Beatriz. À frente, da esq para dir, as filhas Cecília e Marília
Ao retornar para o Brasil, Maffei colocou em prática os conhecimentos adquiridos no exterior, assumindo o cargo de diretor do laboratório de química do Frigorífico Wilson do Brasil. Em 1925, foi trabalhar na Escola Politécnica de São Paulo, como assistente de pesquisa. Chegou a vicereitor da Universidade de São Paulo na década de 1950, construindo uma sólida carreira.
Déc. de 1940 - Fundição na Usina de Chumbo, na cidade de Apiaí-SP
Nesse período, Maffei conhece, por intermédio de suas irmãs, a professora Vasni Abreu, da cidade de Jaú, interior de São Paulo. Ela viria a ser sua esposa e mãe de seus cinco filhos: Marília, Cecília, Beatriz, Francisco Humberto e Carlos Alberto. Maffei ingressa no IPT em 1929, como assistente de pesquisa, no Laboratório de Ensaio de Materiais. Sua determinação e vontade levaram o diretor do laboratório, Ary Torres, a convidá-lo cinco anos depois para criar a seção de Química do Instituto, com o mais amplo campo de atividades, de forma a atender às necessidades não só de um Instituto em crescimento, como também de todo o País.
Déc. de 1930 - Maffei na Fazenda Barra Mansa, na cidade de Jaú-SP
IPT
Déc. de 1940 - Colaboradores do IPT nas instalações no bairro do Bom Retiro
“A viagem foi grandemente proveitosa e trouxe sensíveis economias ao Instituto” Ary torres
No final da década de 1920, a industrialização crescente do País e o grande afluxo de imigrantes europeus e asiáticos funcionavam como catalisadores da modernização do Brasil. Fábricas de papel, tecidos, cerâmicas, adubo, alimentos e explosivos firmaram-se após o fim da I Guerra Mundial, enquanto outras surgiram para fazer face à procura de artigos cuja importação havia sido interrompida. O engenheiro Ary Frederico Torres, ao criar o IPT em 1934, intuiu que o País necessitava de um laboratório químico equipado para atender às demandas dessas indústrias emergentes. Ao investir na ampliação do Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM), convidou
Labs. de Química - na parte superior, seção de análises
1958 - Pesquisadores Wolfgang Kolbe (à esq.) e Ivo Jordan
químicas de produtos industriais, e abaixo, unidade de
recebendo as centrífugas para separação de isótopos
química analítica (qualitativa)
o químico Francisco João Humberto Maffei, funcionário do LEM desde 1929 e assistente de pesquisa dos laboratórios de físico-química e bioquímica da Escola Politécnica, para realizar este projeto. Maffei aceitou o desafio de montar um laboratório moderno e eficiente capaz de atender às indústrias em qualquer área da química. Para executar o seu projeto, ele visitou os principais laboratórios europeus da General Eletric, Schering Kahlbaum, Siemens Schuckert e Casa Zeiss, entre outros, e comprou equipamentos modernos para a nova seção, como um aparelho de raios-X, um polarógrafo e um espectroscópio, além de fornos, estufas, balanças e microscópios. A seção já estava praticamente montada em 1935. Somente nesse ano foram realizados vários ensaios oficiais, sendo os trabalhos mais importantes: a identificação de fibras têxteis, arenito asfáltico, condutibilidade térmica de produtos isolantes, emulsificação de asfalto e óleos, análises das condições em que era feito o tratamento pelo cloro das águas de abastecimento da capital paulista, estudos relativos ao problema dos despejos de águas residuais em rios e ribeirões e a solubilização do óleo de rícino em óleos minerais.
IPT A pesquisa sobre o “‘Processamento de Óleo de Rícino” resultou na primeira patente do Instituto, datada de 22 de dezembro de 1936. Essa pesquisa habilitou o IPT a estudar a industrialização da patente e resultou na construção de uma usina para sua produção em escala semi-industrial, no bairro paulistano da Barra Funda, em 1941 e 1942.
Déc. de 1960 - Seção de Óleo e Gorduras Técnicos faziam análises para produtos como sabão, detergente, desinfetantes e outros
As primeiras aplicações foram efetuadas em colaboração com a Prefeitura Municipal de Campinas, cujos veículos passaram a funcionar com lubrificantes obtidos a partir desse óleo. A seção também desenvolveu diversos trabalhos para órgãos públicos do Estado de São Paulo, cuja vida industrial estava em progresso. Atuou em conjunto com a Prefeitura em melhorias para a urbanização da cidade, como os estudos para resolver o problema de corrosão das canalizações de água, das águas minerais em várias regiões do Estado e o controle diário do gás de iluminação, verificando a pressão, o poder calorífico e a composição química para controle da toxidez. Déc. de 1960 - Colaboradores da Divisão de Química
Com o seu espírito empreendedor, Francisco Maffei conseguiu transformar a seção de química na mais movimentada do IPT, devido ao aumento da demanda de indústrias como a Cia. Nitro-Química Brasileira, o Instituto do Café, o Ministério da Guerra, as Indústrias Votorantim e a Cia. Mogiana e Sorocabana de Estradas de Ferro.
Na década de 1940, Maffei enfrentou grandes desafios. O País estava em crise por causa da II Guerra Mundial (1939-1945). A indústria nacional sofria pela dificuldade de importação de equipamentos e produtos. Embora desfavorável, esse cenário permitiu ao IPT apresentar o seu potencial tecnológico e humano. É nesse contexto que Maffei, com o apoio do superintendente Adriano Marchini, investe com todo vigor na Seção de Química, comprando novos equipamentos para os laboratórios e ampliando o escopo dos trabalhos realizados pela área.
Raio-X para estudo da estrutura fina dos materiais
Polarógrafo para análise qualitativa e quantitativa de
Conjunto CFR-ASTM para determinação do indice de
soluções baseada na polarização de eletrodos
octana de combustível líquidos
Déc. de 1940 - Aparelhos do laboratório semi-industrial
IPT Em 1942, Maffei se mudou por alguns meses para a cidade de Apiaí (SP) para fiscalizar os trabalhos de tratamento da prata na Usina de Chumbo, a primeira do País. Déc. 1940 - Usina de Chumbo de Apiaí: na primeira foto, Adriano Marchini ( à dir.) e Maffei em vistoria às operações pioneiras no processamento do minério de chumbo brasileiro
Um dos grandes trabalhos coordenados por Maffei desta década foi a pesquisa para substituição de combustível oriundo de petróleo, em falta devido à crise. O trabalho foi solicitado pelo interventor federal no Estado de São Paulo, Fernando Costa. Foram sugeridos vários tipos de combustíveis: líquidos sintéticos, obtidos do hidrogênio de carvão, óleo de xisto, benzol, óleos vegetais, álcool etílico e metílico, gases comprimidos (metana, etana, butana, propana), gás de hulha ou de iluminação e gás pobre (gasogênio). De todos esses combustíveis, o Brasil só podia contar com o gasogênio, álcool e óleos vegetais. Em 1946, a Seção é transformada em Divisão, dotada de três seções: Seção de Ensaios e Análises, Seção de Investigações Tecnológicas e Seção Cultural.
1949 - Aniversário do IPT - Francisco Maffei é o segundo sentado da esq. para a dir.
Em 1949, pelo seu brilhante trabalho, Maffei é convidado pelo Conselho de Administração do IPT a substituir o superintendente Adriano Marchini, que se afastou do Instituto para dedicar inteiramente às obras da Cidade Universitária. Coube a ele a tarefa de continuar as mudanças do IPT. Em 1954, com a aposentadoria de Marchini, Maffei foi nomeado para exercer em caráter efetivo o cargo de superintendente do Instituto, no qual permaneceu até o seu falecimento, em janeiro de 1968. Nesse período, Maffei orientou as atividades do IPT para estimular o desenvolvimento dos setores mais solicitados da indústria nacional, ajustando aos seus recursos os processos adequados de produção, divulgando técnicas de fabricação e os meios de aplicá-los, definindo os métodos de controle e as normas técnicas e colaborando de maneira eficiente na formação de técnicos especializados.
1957 - Edifício da Seção de Separação de Isótopos, atual prédio 24
Maffei viaja em 1956 aos EUA para participar da Conferência das Nações Unidas para a criação da Agência Internacional de Energia Atômica. No mesmo ano, cria no IPT a Seção de MatériasPrimas Nucleares para análises de areias monazíticas e de minérios radioativos, e, em cooperação com a Comissão Nacional de Energia Nuclear constrói um prédio (atual prédio 24) para abrigar as centrifugas destinadas à separação de isótopos. O modelo econômico de desenvolvimento, associado com capitais estrangeiros, se consolida nos anos 60. Isso permitiu ao IPT a abertura de novos rumos e a busca por uma nova forma jurídica de existência, mais desvinculada do Estado.
Déc. de 1960 - Maffei (terceiro da esq. para dir.) em reunião do Conselho de Administração do IPT
Em seus 18 anos de gestão no IPT, Maffei sempre buscou atender as necessidades do País. Prestou ampla assistência à indústria e à engenharia no Estado de São Paulo e no Brasil, fornecendo-lhes o que havia de mais atual na área. Divulgou e aplicou os mais modernos conhecimentos da ciência e da tecnologia, com a finalidade de aumentar a produção e aprimorar a qualidade dos produtos.
Escola Politécnica
Maffei fez uma sólida carreira como aluno, pesquisador, professor e diretor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
1956 - Maffei na inauguração do curso de Engenharia Naval da Escola Politécnica
Maffei ingressou na Escola Politécnica em 1916 como aluno, formando-se em 1921. Pela sua dedicação, ganhou no mesmo ano de graduação uma bolsa de estudos do Ministério da Agricultura para estagiar nos Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos. Lá, visitou laboratórios em Nova York e Chicago e teve contato com os processos de preparação de óleos e gorduras na Packing Wilson & CO, aprimorando seus conhecimentos em tecnologia bioquímica e de alimentos. Em 1924, Maffei se inscreve no concurso da Escola para professor substituto. É nomeado professor assistente do Laboratório de Físico-química, Eletroquímica e Bioquímica no ano seguinte. Sua determinação e vontade trouxeram, três anos depois, a conquista do cargo de professor substituto e depois adjunto. Maffei era um homem visionário e dedicava-se com tenacidade à pesquisa, sendo um dos pioneiros na implantação da pesquisa sistemática em Engenharia Química nos anos 40. A sua busca constante pela modernização dos laboratórios o levou a inaugurar o primeiro Centro de Microscopia Eletrônica.
1959 - Faculdade de Direito-USP Francisco Maffei na cerimônia de colação de grau da primeira turma de Engenharia Naval da Escola Politécnica
Déc. de 1950 - Francisco Maffei e o gov. Adhemar P. Barros (ao centro) na inauguração do Edifício do Depto. de Mecânica e Naval da Escola Politécnica
Entre 1953 e 1962, Maffei foi diretor da Escola. Acompanhou nesse período a transferência de alguns cursos da Politécnica, ainda no Bom Retiro, para as instalações do campus universitário do Butantã. O curso de Engenharia Naval foi criado em sua gestão. Além disso, foi grande incentivador da criação do Departamento de Química, inaugurado em 1955. Fazendo carreira na academia, foi nomeado vice-reitor da Universidade de São Paulo, cargo que desempenhou entre 1959 e 1962. Todas essas incumbências não o impediam de integrar-se ativamente a uma série de organizações. Maffei deixou a escola em 1964, ano em que se aposentou.
“Com sua vocação de formador e orientador de grupos de pesquisa, nesta Escola, foi dos que mais propugnaram e realizaram pelos cursos de doutoramento, pelo desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, para as suas teses e para os concursos de docência livre. Por isto, foram seus discípulos e foram por ele orientados pessoalmente os primeiros doutores em Engenharia química nesta Escola.” Tharcísio Damy de Souza Santos. (Artigo do professor Giovanni Brunello, Poli Memória, 1993)