ALDO ANDREONI
Aldo Andreoni (1917 - 2005)
Aldo Andreoni foi idealizador e criador da área de Engenharia Naval do IPT. Era amante da tecnologia e especialista em tudo o que fazia. Sua persistência e entusiasmo resultaram na construção do primeiro tanque de provas da América do Sul – antes mesmo da existência do curso de Engenharia Naval no Brasil – e tornaram o IPT pioneiro em ensaios de modelos físicos reduzidos. Os 25 anos de trabalho no Instituto contribuíram para o desenvolvimento das hidrovias nacionais e consolidaram a Seção de Ensaios de Modelos de Embarcações, atual Centro de Engenharia Naval e Oceânica do IPT. Aldo trabalhou arduamente não só para estruturar o laboratório, mas também para construir a sua credibilidade, demonstrando à indústria brasileira que os estudos feitos aqui nada deviam àqueles realizados por laboratórios estrangeiros.
VIDA Aldo Andreoni, filho dos imigrantes italianos Amélia Andreoni e Ferrucio Andreoni, nasceu em 17 de fevereiro de 1917, na cidade de São Paulo. Desde criança, Aldo era fascinado com modelos de barcos, paixão que o acompanharia por toda a vida. Concluiu o ginásio no colégio N.S. do Carmo em 1937 e, no ano seguinte, cursou o pré-politécnico no Liceu Pan-Americano, para entrar na Escola Politécnica. 1944 • Segundo Tenente no Ministério da Guerra, Andreoni exercia a função militar enquanto cursava Engenharia Civil na Escola Politécnica
Em 1940, ingressou no curso de Engenharia Civil na Poli. Já no segundo ano do curso, começou a se interessar por navios. Como as bibliotecas do IPT e da Politécnica não tinham quase nada sobre o assunto, começou a frequentar a biblioteca municipal e a estudar a enciclopédia Espasa, que apresentava informações sobre engenharia aeronáutica e naval. Para exercitar os novos conhecimentos, começou a realizar alguns projetos de embarcações. Enquanto cursava engenharia, Aldo também exercia a função de militar como Segundo Tenente no Ministério da Guerra. Na mesma década, numa festa das escolas de medicina e politécnica, conheceu a Srta. Haydee Setti, com quem se casou em 16 de janeiro de 1948. Tiveram duas filhas: Clélia Setti Andreoni e Lucia Maria Beatriz Setti Andreoni. Em 1945, após se formar, torna-se funcionário do IPT, onde já trabalhava como assistente-aluno. Foi aqui que Aldo conseguiu colocar em prática o seu sonho. Apesar da experiência que já tinha na área naval, cursou Engenharia Naval na Escola Politécnica, entre 1959-1961, para se aperfeiçoar. Na mesma Escola, lecionou e coordenou o estágio dos alunos do curso de Engenharia Naval. Em 1970 deixa o IPT e assume, em 1971, a Chefia do setor técnico da Comissão Executiva da Navegação do sistema Tiete-Paraná - CENAT, onde permaneceu até 1975. Dois anos depois passa a trabalhar nos Transportes do Estado de São Paulo S/A – TRANSESP. Em 1990 atuou na Secretaria dos Transportes e no Dersa SA – Departamento Hidroviário, onde ficou por 10 anos.
1945 • Aldo e Haydee, sua futura esposa, no Jardim do hotel Quisisana - Poços de Caldas - MG
Ao longo da vida, Aldo deixou várias contribuições para os estudos hidroviários brasileiros, como publicações e relatórios resultantes de trabalhos pioneiros. Além de sua paixão por embarcações, ele também era aficcionado por rádio amador, máquinas à vapor e trens elétricos.
Década de 90 • Aldo no Museu de Aviação de Munique - Alemanha
Década de 60 • Andreoni tinha dois hobbies: o radioamadorismo e os trens elétricos (foto acima)
ALDO NO IPT Aldo Andreoni ingressou no IPT em 1944, enquanto cursava o último ano de Engenharia Civil na Escola Politécnica. Nesta época, o Instituto trabalhava com testes de modelos reduzidos em Túnel de Vento para projetos de aviões e planadores. Enxergando uma grande correlação entre os estudos no ar e na água, Aldo logo viu uma possibilidade de pesquisar navios e embarcações. Pediu então ao superintendente Adriano Marchini para trabalhar como assistente-aluno do setor de Aeronáutica.
“Marchini perguntou: ‘Pra quê? A troco de que você quer fazer navios?’ Aí mostrei aquelas coisas, e ele disse você está admitido” Aldo Andreoni, em 1981 As ideias e projetos de Aldo convenceram Marchini, mas ainda restava um obstáculo: convencer o diretor do setor, Francisco Brotero, a aceitar sua ideia de projetar navios. A seriedade de seu trabalho foi, com o tempo, ganhando a confiança de Brotero, que finalmente o convidou, quando formado, para chefiar a Seção de Madeiras da Divisão de Aeronáutica.
“Aí me formei e Brotero disse se eu queria ficar chefe da seção de madeiras, porque estava levando a sério a parte de madeira... mas sempre pro lado da água” Aldo Andreoni, em 1981 Neste período, Aldo executou estudos com corpos de prova e ensaios estruturais em madeira, como flambagem, flexão estática e compressão. Em 1946, a Seção de Madeiras iniciou um estudo visando a novas aplicações das madeiras nacionais. Este momento marca a criação de uma área para aplicação naval – como sonhava Aldo. O primeiro trabalho foi a construção de um iate para mar.
1951• Sistema de Reboque de Modelos de Embarcações no Primeiro Tanque de Provas do IPT, no bairro do Bom Retiro (SP)
Década de 1950 • Setor de Cálculo na Seção de Ensaios de Modelos de Embarcações, ainda no bairro do Bom Retiro
No ano seguinte, a equipe projetou e construiu quatro barcos, além de elaborar a publicação “Cruzador de recreio a propulsão dupla”. Os estudos náuticos que o IPT desenvolvia com pioneirismo, qualidade e seriedade atraíram os governos do Pará, Maranhão e Goiás, que solicitaram ao Instituto um estudo para saber que tipo de barco se adequava melhor às hidrovias que ligavam os estados.
Década de 1950 • Seção de Ensaios de Modelos de Embarcações, ainda no bairro do Bom Retiro
ALDO NO IPT Incumbido de executar este projeto, Aldo percorreu todo o rio Tocantins para conhecer melhor as suas características e condições de navegação, e assim definir o protótipo de barco que melhor se adequasse a essas viagens. O resultado foi um modelo de barco a motor, para vencer as corredeiras do Tocantins. Contudo, para verificar o desempenho da embarcação de propulsão, era necessário testar o modelo em um tanque de experiências hidronâmicas, que, entretanto, não existia no Brasil. Em 1949, o IPT enviou Aldo em uma viagem de estudos e aperfeiçoamento no Nederlandsch Scheepsbouwkundig Proefstation - Wegeningen – Holanda, por 5 meses. Nesse centro de pesquisa, foi realizado o primeiro ensaio brasileiro com modelo em escala reduzida, que resultou na publicação pioneira “Viagem realizada ao baixo e médio Tocantins” (l948). Nesse mesmo ano, Adriano Marchini deixa a superintendência e é substituído por Francisco Maffei, que propõe criar uma seção dedicada aos estudos navais. Década de 1960 • Construção de modelos de embarcações nas antigas dependências da Seção de Engenharia Naval
“Vamos parar com isso daí, que está muito misturado. Não se entende mais nada aqui na aeronáutica... O senhor cria a seção de naval, eu faço um tanquinho” Francisco H. Maffei Em 1951, constrói-se o Laboratório de Ensaios Hidrodinâmicos, com um tanque em madeira de 13m de comprimento, 1,20m de largura e 1m de profundidade. Esse laboratório foi o primeiro no Brasil a realizar ensaios com modelos reduzidos de barcos com a finalidade de conhecer sua resistência hidrodinâmica.
1948 • Andreoni coordenou estudos no Rio Tocantins para conhecer as condições de navegação da região - na foto, margens do rio na cidade de Jutaí (AM)
1948 • Vista da cidade de Jabotal (PA) local de estudos do Andreoni sobre as embarcações do rio Tocantins
1948 • Corredeiras da Volta da Goiaba (PA), local de estudo do Andreoni para melhorar a navegação no rio Tocantins
ALDO E A CRIAÇÃO DA NAVAL Em 1952, os trabalhos desenvolvidos por Aldo permitiram a criação da Seção de Ensaios de Modelos de Embarcações. Esse foi um grande marco na vida de Aldo e também para a área de Engenharia Naval do IPT. Até a década de 1950, apesar do Brasil dispor de estaleiros, os projetos de embarcações eram testados por armadores estrangeiros. A partir da experiência adquirida na Europa, Aldo propõe construir um tanque de provas no Brasil para atender a indústria de construção naval do País. O projeto recebeu apoio do Conselho Nacional de Pesquisas-CNPq e da Marinha do Brasil.
“Estágio de verão, fevereiro, um tremendo calor. (...) Tiramos a roupa e mergulhamos no tanque (...) Aí veio o prof. Andreoni já gritando: ‘Vocês são uns criminosos! Vocês estão botando a banha de vocês na água. Vocês não sabem que isso altera o pH, altera a oleosidade, altera a viscosidade da água? (...)’ Nós entramos aqui, fomos nadando até a outra ponta e saímos de lá, mas levamos uma bronca naquele dia (...)” professor Célio Taniguchi Boletim Sobena Nº 5 • Ano II • Janeiro/Fevereiro 2010
Em 8 de maio de 1956, seu projeto de vida concretizou-se: inaugurou o primeiro tanque de provas da América Latina – um dos mais modernos do mundo – com 60m de comprimento, 3,70m de largura e 2,50m de profundidade. O laboratório trouxe uma nova perspectiva às atividades da seção, redefinindo os seus objetivos de trabalho: prestar assistência aos estaleiros; estudar a forma e propulsão de embarcações a serem construídas no Brasil e no exterior; desenhar cascos adequados as hidrovias brasileiras e pesquisar problemas náuticos em geral. A construção do tanque de provas também criou as condições para o surgimento do curso de engenharia naval da Escola Politécnica, em 1957. Aldo foi o coordenador e professor do estágio de alunos do Curso de Engenharia Naval da Politécnica na Seção de Engenharia Naval do IPT, entre 1956 e 1969. Década de 70 • Ensaio de comboio em canal de navegação no tanque de provas do IPT
1956 • Inauguração do tanque de provas - dir. para a esq.: Aldo Andreoni, o Ministro da Marinha Antônio Alves Câmara, três integrantes do quadro técnico da Marinha e o reitor da USP, Alípio Correa Netto
1954 • Visita da Marinha durante a construção do tanque de provas - Aldo Andreoni é o terceiro da dir. para a esq.
ALDO E A CRIAÇÃO DA NAVAL “No tanque, os estudantes sentirão, como no mar, todos os movimentos que o navio apresenta, verificando ainda coisas pouco explícitas, como o empuxo da hélice, seus conjugados, esforços do leme, os ângulos de inclinação etc” Aldo Andreoni • Revista do Globo nº 666 •16 a 29 de junho de 1956 Os anos 60 foram de pleno crescimento para o setor de naval no IPT. Em 1962, a Seção de Ensaios de Modelos de Embarcações transforma-se na Seção de Engenharia Naval, que é incorporada à Divisão de Engenharia Mecânica. Para melhor atender a indústria naval e complementar o novo curso da Escola Politécnica, Aldo constrói em 1963 o Túnel de Cavitação, com apoio da Marinha e de várias empresas do setor.
“O IPT foi a grande realização dele, com certeza o local onde ele teve maior satisfação profissional” Gustavo, neto de Aldo Andreoni
Ao longo dos anos, a demanda por trabalhos crescia e grandes projetos foram realizados com diversas entidades: SUNAMAM - Superintendência Nacional da Marinha Mercante, Hidrovia Tietê-Paraná, Petrobrás, Companhia Energética de São Paulo – CESP. Nesse ritmo, Aldo e sua equipe aperfeiçoavam a qualidade da construção naval no Brasil, colaborando para o desenvolvimento das hidrovias e das embarcações do País. Em 1970, Aldo deixa o IPT, local onde viu o seu sonho tornar-se realidade. Mas continua contribuindo para a melhoria das hidrovias nacionais, chefiando o setor técnico da Comissão Executiva da Navegação do sistema Tiete-Paraná – CENAT, de 1971 a 1975. Participou do projeto e da construção das eclusas de Barra Bonita, Promissão, Jupiá e outras do sistema Tiete-Paraná, realizando estudos de economia dos transportes fluviais, projetos e embarcações fluviais e portos. Década de 1970 • Andreoni participou do projeto de construção da câmara de eclusagem na cidade paulista de Barra Bonita
Entre 1977 e 1979, atuou como gerente do Projeto do Porto-Piloto de São Sebastião e de projetos de pesquisa e planejamento sobre terminais de carga na Transesp (Transportes do Estado de São Paulo S/A). Encerra sua vida profissional prestando serviços públicos no Departamento de Projetos Hidroviários, da DERSA, que chefiou por 10 anos (1990/2000).
Década de 1970 • Andreoni realizou estudos de transporte fluvial para a Usina Álvaro de Souza Lima (Usina de Bariri), no Rio Tietê
A eclusa de Barra Bonita foi inaugurada em 1973, sendo a primeira a entrar em operação na América Latina