Exposição
Personalidades IPT O IPT completa em 2011 nada menos que 112 anos de história. Uma história feita de muita Ciência e muita Tecnologia, que se confunde com a própria história do desenvolvimento tecnológico brasileiro. Dr. Alberto Pereira de Castro Dedicação ao IPT: 1939-2005
Antonio F. de Paula Souza Dedicação ao IPT: 1899-1903
Milton Vargas Dedicação ao IPT: 1938-1988
Mas, sobretudo, uma história feita por pessoas. Funcionários que dedicaram suas vidas ao Instituto, fazendo dele o que ele é hoje. Gente conhecida pelo Brasil afora e além, nomes conhecidos que encontramos nos prédios, nas pontes das cidades, nos livros das universidades, muitas vezes sem saber que
Ary Frederico Torres Dedicação ao IPT: 1926-1939
Ernesto Pichler Dedicação ao IPT: 1933-1959
Adriano José Marchini Dedicação ao IPT: 1933-1959
passaram também por aqui. Durante todo o 112º ano de vida do IPT, convidamos você a conhecer a vida e o trabalho desses ipeteanos ilustres. Traremos todo mês uma exposição sobre cada uma dessas personalidades.
Vicente Chiaverini Dedicação ao IPT: 1939-1949
Francisco Maffei Dedicação ao IPT: 1929-1968
Romeu Corsini Dedicação ao IPT: 1939 e 1958
Frederico Brotero Dedicação ao IPT: 1930-1952
Hubertus Colpaert Dedicação ao IPT: 1928-1957
Aldo Andreoni Dedicação ao IPT: 1945-1971
Dr. Alberto Pereira de Castro Escolhemos o Dr. Alberto Pereira de Castro como a primeira personalidade a ser homenageada, e também como uma homenagem ao IPT em seu aniversário. E não foi à toa. Além de ter dedicado três décadas de trabalho ao Instituto - como pesquisador, como superintendente e como conselheiro - seu nome é ainda hoje lembrado com carinho por muitos ipeteanos. Mesmo após sair do Conselho de Orientação, aos 90 anos, o Dr. Alberto ainda era consultado por muitos como uma referência por sua sabedoria nas questões do IPT e da Ciência & Tecnologia no Brasil. Apelidado de “Senhor IPT”,
Dr. Alberto nos
deixou em agosto de 2010. Em 27 de junho, dia em que esta exposição foi inaugurada, contam-
1915-2010
se exatos 75 anos que começou a trabalhar aqui, como assistente-aluno.
Iniciou sua carreira como Engenheiro Auxiliar da Seção de Metais, chegando a superintendente do Instituto durante o período de 1968 a 1985. De 1995 a 1996, atuou como vice-presidente do Conselho de Orientação e, de 1996 a 2005 foi presidente do mesmo Conselho. Foram 32 anos dedicados ao IPT promovendo seu crescimento aliado ao desenvolvimento do Brasil.
Organizamos esta exposição como homenagem a esse ilustre ipeteano, e ao mesmo tempo como um presente ao IPT, mantendo viva um pouco da história de um de seus ícones mais importantes.
Vida Em 19 de maio de
1915, nasce Alberto Pereira de Castro, em Mineiros (GO),
filho de Rodrigo Pereira de Castro e Ernestina Cesar de Castro Filho.
Proveniente de uma família de comerciantes, aos nove anos de idade, Alberto partia com seus pais e oito irmãos para a cidade de Botucatu (SP). Anos depois, por causa da grave crise econômica de
1929, a família muda-se para
Uberlândia (MG), onde concluiu o ginásio.
Em
1933, aos 17 anos, vai
para São Paulo prestar o vestibular para o
curso de engenharia da Escola Politécnica. A cidade enfrentava um período difícil, reflexo dos acontecimentos do ano anterior com a Revolução Constitucionalista. Seu esforço nos estudos lhe rendeu o primeiro lugar no exame vestibular, o que lhe ajudou a se aclimatar na cidade.
Na Politécnica dos anos trinta foi aluno destacado de sua turma, o que lhe rendeu uma vaga como assistente-aluno de Ary Torres no IPT, entre
1936
e 1938. Este seria o início de uma longa - embora não contínua - carreira no Instituto, totalizando 32 anos de dedicação.
Após a formatura em
1938, retornou
a Uberlândia apenas para casar-se com Fausta Copertino, sua namorada do ginásio. Instalados em São Paulo, o casal viveu 75 anos de matrimônio, até o falecimento Dr. Alberto na época de sua formatura, em 1938
de Dr. Alberto, no ano passado. Tiveram quatro filhos e viveram grande parte de suas vidas num pacato sítio em Cotia.
A Europa vivia a I Guerra Mundial, e São Paulo estava em expansão, com a constante chegada de imigrantes que imprimia à cidade vivacidade e diversidade cultural. Na política interna, o governo priorizava os interesses das oligarquias cafeeiras, em detrimento a possíveis estímulos à
Segundo a esposa, em casa Dr. Alberto era um homem muito calado. Talvez empenhasse muito tempo refletindo sobre as questões da Ciência e Tecnologia no Brasil. “O IPT era a minha rival”, conta ela, em tom de saudade.
industrialização nascente.
Na companhia de sua esposa, Dona Fausta
Com a idade avançada, Dr. Alberto saía muito pouco, mas se mantinha atualizado por meio dos jornais, que lia diariamente
Contribuições Aluno de destaque na Escola Politécnica, o jovem Alberto tornou-se colaborador
Nesse período, ganhou experiência nos mais variados assuntos econômicos,
de seu orientador, o Engº Ary Torres, passando a trabalhar, em 27 de junho de
financeiros e tecnológicos do país.
1936, na seção de Ensaios Mecânicos de Metais do IPT.
Em
1944, Dr. Alberto se desligou do IPT e passou a lecionar a disciplina
de Metalografia, na Escola Politécnica da USP. Contudo, não se dedicou exclusivamente à vida acadêmica; por duas décadas, acumulou grande experiência na indústria, ocupando a direção técnica de empresas como a Usina Santa Olímpia e a Cobrasma (nascida de uma parceria entre grupos financeiros nacionais e as estradas de ferro privadas, sob a égide da Coordenação da Mobilização Econômica e com o apoio tecnológico do IPT).
Teve no
um
papel
fundamental
desenvolvimento
industrial
brasileiro, participando junto ao governo de seu planejamento. De Seção de fundição do IPT, onde eram preparados os moldes para a fabricação de peças metálicas moldadas (1940). Dr. Alberto foi chefe da Seção entre 1941 e 1944
1952 a 1968, ocupou
posições de destaque em diversos grupos
executivos,
conselhos
e associações responsáveis por Sua carreira como pesquisador, entretanto, durou apenas
preparar as bases para a instalação e
sete anos. Em virtude da II Guerra Mundial, houve grande
florescimento da indústria nacional.
necessidade de substituir importações. Em
1943, o governo
então criou a Coordenação da Mobilização Econômica, na qual o Dr. Alberto participou como representante do IPT no Setor da Produção Industrial. A missão era elaborar a planificação industrial do Brasil.
Visita da equipe do IPT a uma fundição na região do ABC paulista (década de 40). Na marcação, podemos localizar o Dr. Alberto entre os colegas
Antiga oficina da Cobrasma, em 1947. Dr. Alberto foi superintendente da área de fundição da empresa entre 1948 e 1968
Contribuições Nos anos 60, o Brasil passou por um período de estagnação econômica e
Em 1968, retorna ao IPT como superintendente, cargo que ocupou
crise política que se iniciou com a renúncia de Jânio Quadros. A inflação atingia
por 16 anos. O foco de sua gestão era o relacionamento e a colaboração do
altos picos e minguavam os investimentos nacionais e estrangeiros.
Instituto com outras entidades
As novas indústrias não haviam criado empregos suficientes para a
e
população urbana em crescimento e a renda estava cada vez mais
universidades;
concentrada.
classe, associações profissionais
instituições,
tais
como:
entidades
de
e grupos produtores; órgãos da administração estadual e federal; e o Conselho Estadual de Tecnologia.
Ao longo dos anos 70, o IPT passa por uma expansão considerável. novos
São
convênios
firmados nacionais
e
internacionais e a infraestrutura do Instituto salta de cinco para Em1981, o ministro de Minas e Energia, César Cals de Oliveira Filho, visita o IPT para conhecer o projeto de utilização de turfa para fins energéticos no Estado de São Paulo
19
divisões
técnicas,
contando
com um quadro de mais de três mil
Dr. Alberto (esquerda), com Olavo Setúbal (centro) e Luís Carlos Bonilha (direita). Dr. Alberto e Olavo Setúbal eram grandes amigos desde os tempos da faculdade
colaboradores em 1981. Nesse período, Dr. Alberto intensificou suas parcerias com entidades
Sua preocupação, no período, era adequar o IPT para atender às novas demandas
governamentais, sempre atuando nas áreas de tecnologia, pesquisa e
da indústria com projetos cada vez mais complexos.
desenvolvimento. Em seus últimos anos de dedicação ao Instituto,
de 1995 a 2005,
Dr. Alberto foi vice-presidente e presidente do Conselho de Orientação, contribuindo com toda sua experiência, no Instituto e fora dele, para a discussão e direcionamento das questões estratégicas do IPT.
Visita do presidente Ernesto Geisel ao IPT em 1978, acompanhado dos ministros Reis Velloso, Shigeaki Ueki, Dirceu Nogueira, Almeida Machado e do governador Paulo Egydio
Crescimento do quadro de pessoal entre 1975 e 1981
Organograma do IPT em 1983
Memória viva Como líder seduzia pelo diálogo aberto e de conteúdo, pela sua visão de futuro tecnológico e industrial, e pela tranquilidade com que analisava as situações - desde as simples até as mais complexas. Assumiu decisões ousadas e polêmicas. Transformou o Instituto em S/A e acreditou na viabilidade da Paulipetro. Os ventos da redemocratização e das greves geraram um clima desfavorável, provocando sua saída em 1983, lamentada pelos próprios ipteanos. Anos mais tarde, foi convidado a retornar como consultor e depois como presidente do conselho, contribuindo com sua vasta experiência nas discussões das questões estratégicas e determinação de novos rumospara o Instituto.
Visita dos pesquisadores do IPT ao Dr. Alberto, em março de 2010
Fernando José Gomes Landgraf, presidente do IPT
O Dr. Alberto foi por décadas a referência mais influente para o IPT. Conhecedor como poucos das forças e fraquezas do desenvolvimento tecnológico e da engenharia no Brasil, ele sempre foi determinante para a qualidade de decisões. Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.
Não era de seu feitio escrever muito e sim dialogar, estimular, orientar e discutir.
Dr. Alberto Pereira de Castro foi um homem à frente de seu tempo: tinha visão do futuro e muita curiosidade sobre novas tecnologias! Quarenta anos atrás apontava a necessidade de se estudar as “super trees”; na época, nem se mencionavam as árvores clonadas, de rápido crescimento, alta produtividade e excelentes propriedades. Mais tarde, o tema atraía todo o setor florestal que, nessa base, alcançou hegemonia mundial.
Eduardo C. O. Pinto, ex-chefe do Agrupamento
Márcio Nahuz, ex-pesquisador do IPT
de Processos Metalúrgicos do IPT
Doutor Alberto era uma referência para todos nós no IPT e, em 18 anos de trabalho intenso, esteve sempre no centro das decisões que marcaram os grandes processos de transformação e de crescimento do instituto. Diretores do IPT continuavam indo, sempre que possível, a sua casa para pedir conselhos e aprender com sua sabedoria. João Fernando Gomes de Oliveira, ex-presidente do IPT
Foi um homem sagaz, muito estudioso, o que se poderia chamar de um homem letrado. Conversar com ele era sempre um abrir de portas para áreas do conhecimento e formas não convencionais de abordagem de problemas. Foi único em suas características: aos 90 anos ainda incorporava o “espírito da época” só que, curiosamente, avançado em uns 10 anos em relação a todos nós. Qualquer pesquisador do IPT que teve contato com ele sempre se refere a -”É, o Dr. Alberto já falava nisso há mais de 10 anos”... Exemplo brilhante e incomum de ser humano onde convergiam caráter, visão, conhecimento técnico e gentileza. Marcos Tadeu Pereira, ex-pesquisador do IPT
“Passei um dia pelo gramado alguém me seguiu ali, depois, se fez mais um caminho” (T. Mars) Creio que esse caminho simboliza os muitos e profícuos anos de dedicação do Dr. Alberto ao IPT. José C. Zanutto, pesquisador do IPT