Jornal Força da Massa - STINPAN - 2016/01

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ForçaDaMassa

Jornal do Sindicato dos Trabalhadores da Panificação - STINPAN

Rio de Janeiro, Seropédica e Itaguaí

As máscaras começaram a cair

Abril, maio e junho de 2016

O gabinete interino põe no forno medidas duras e à toque de caixa. O nome do projeto é ‘ponte para o futuro’ mas a receita desencadeou formas selvagens e atrasadas de capitalismo, que apequenam a Democracia e tentam proteger políticos investigados pela Justiça, implodindo o Estado e impondo aos trabalhadores a conta da crise. Depois de uma década de relativa prosperidade, uma sucessão de acontecimentos surpreendentes e vibrantes levaram ao afastamento da presidenta Dilma, fato que dividiu os brasileiros e teve repercussão mundial negativa, por causa da corrupção que envolve os principais artífices da ação. Em maio, pesquisas apontaram que apenas 8% da população preferia a solução impeachment de Dilma e Temer presidente, a opção da maioria para superar a crise política, segundo o Ibope, era a saída dos dois e a realização de novas eleições (62%); outros 25% queriam a permanência de Dilma. Em junho, pesquisa da CNT/MDA mostrou que para 46% dos entrevistados, a corrupção com Temer será igual a Dilma e 18,6% acha que será pior, totalizando 65,2% de insatisfação; no momento do fechamento desta edição, Temer teria aprovação de 11,3% e 50,3% desejavam nova eleição. Enquanto Dilma oferece aos senadores um plebiscito sobre novas eleições, Temer negocia cargos para garantir os 55 votos necessários para a saída definitiva da petista. Michel Temer (PMDB) foi delatado na Lava a Jato e está inelegível no TRE paulista. No Rio de Janeiro, o governador Pezão, eleito com propina da Petrobras/COMPERJ segundo delatores empreiteiros, por motivo de saúde, veio a transmitir o cargo para o vice Francisco Dornelles (PP). Como resultado de 22 anos de governos do PMDB e PSDB (Moreira Franco, Marcelo Alencar, Garotinho, Rosinha, Sérgio Cabral e Pezão), às vésperas das Olimpíadas, o Rio decretou calamidade financeira, em meio ao colapso dos serviços públicos.

Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

A posse de Gilmar Mendes no Tribunal Superior Eleitoral em 12 de maio foi o primeiro compromisso do interino Michel Temer. Em plena crise e contenção de despesas, Temer enviou ao Congresso aumento de 30% do Judiciário, da Câmara e do Senado, conformando uma elite judiciária-legislativa para implantar o Parlamentarismo, um sistema que retira os poderes do presidente eleito, para estabelecer a democracia indireta das bancadas partidárias que legislam em causa própria.

STINPAN conclui reformas na sede e inicia projeto memória no mês dos padeiros

Enquanto o 08 de julho celebra o patronato da panificação, o trabalhador festeja o seu dia em 13 de junho. Neste ano, o STINPAN comemora o mês dos padeiros com reformas na sede da Praça da Bandeira, para prover condições adequadas para o desempenho das atividades sindicais e sociais, com melhorias no auditório de 250 lugares, na área social, no refeitório e no espaço recreativo do primeiro andar.

Impasses com o Patronal e a Wickbold chegam a um fim

STINPAN celebra acordo favorável com a Panco

Nas empresas com até 150 funcionários, o aumento de 10% vigora a partir de 01 de maio e será pago em duas parcelas, 7% em maio e 3% em outubro; nas firmas acima de 150, o aumento seria 10% integral em maio, mas a Wickbold recorreu. (pag. 04)

O Acordo Coletivo 2016 abrangeu reajuste de salário pelo INPC de maio, 9,82%. Piso, vale compras e abonos tiveram aumento acima do INPC. Os termos foram ratificados em 02 de junho, na assembleia na fábrica de Seropédica. (pag. 04)

Grupo Bimbo entre o discurso e a prática Na fábrica da Estrada Velha da Pavuna da maior indústria de panificação do mundo, as práticas não condizem com a imagem irrepreensível que a empresa busca transmitir. Ao ser alertado, o empreendedor restringiu a atividade sindical na planta fabril. (pag. 05)

n.o 2016/01

Dirigentes de centrais reuniram com Michel Temer antes do afastamento de Dilma No luxuoso Novotel perto da Estação Carandiru do Metrô paulista, o seminário nacional “Trabalhadores em tempo de crise – construindo alternativas”, promovido pela UGT e a Unicamp em 25 e 26 de abril, reuniu cerca de 900 sindicalistas. A reunião aconteceu às vésperas da votação do relatório do impeachment pelo Senado. O presidente da central anfitriã Ricardo Patah e a senadora Marta Suplicy deram as boas vindas, explicaram que em vez de sorteio e showmício para festejar o 01 de maio, o objetivo ali era pensar caminhos para o sindicalismo e a sociedade na crise. “Acompanhamos com apreensão a inflação, o desemprego, o governo esfarelando, não passa lei nenhuma no Congresso, o país paralisou. Há uma reação muito forte, dizendo que é golpe e que a democracia está em risco. Não é, tem embasamento jurídico e quem faz impeachment é a política”, disse a senadora que trocou o PT pelo PMDB. Na manhã seguinte, o presidente da UGT, dirigentes das centrais Força e CGTB se reuniriam com Michel Temer em Brasília, mas não houve compromisso com a pauta dos trabalhadores. O governador de SP Geraldo Alckmin apareceu no evento da UGT e foi apresentado por Ricardo Patah como “o futuro presidente do Brasil”. “A vontade é fazer as malas. Um cidadão acusado de desvio na merenda, apresentado assim dessa forma em um encontro nacional”, comentou o dirigente do STINPAN Carlos Jorge dos Santos, que esteve em SP com os diretores Edilson Lima e Jorge da Silva. (pag. 03 e 08)

E mais: - Insumos transgênicos padeiros e consumidores têm o direito à informação sobre a presença de OGMs nos produtos.

- O trabalho escravo no cacau e no Brasil.

(pag. 06)


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Editorial:

A impingidela da presidente

A

partir de fevereiro de 2016, a diretoria do STINPAN examinou denúncias provindas da grande indústria e das padarias, onde trabalhadores e trabalhadoras continuavam em serviço com ferimentos nas mãos e nas costas, causados por acidentes ou doenças ocupacionais, em alguns casos, o atestado médico foi questionado e o empreendedor os persuadiu a continuar na produção, sem folgas ou feriados, até a exaustão total; houve relatos de mulheres que quando retornaram da licença maternidade foram demitidas. Se com os direitos em vigor a condição do trabalhador permanece áspera, como não temer a flexibilização? A crise não foi causada pelos trabalhadores, estes entregaram o sangue para erguer o Brasil até a posição de 8a. economia planetária; a crise é constituitiva do modelo capitalista e não é admissível que uma minoria neoliberal, com o argumento da superação da carestia, tome o poder e imponha a penalização de quem cria as riquezas com o próprio trabalho. O STINPAN não consente com a supressão dos direitos sociais conquistados pela Democracia e expressa repúdio ao entronamento de seres corruptos e violentos, elevados ao topo da carreira pública. Neste período de incertezas, é recomendável o reagrupamento da categoria, muito debate interno, com a participação dos associados nas atividades sindicais. Para facilitar a interação e os encontros, o STINPAN reformou a área social e seu auditório com 250 lugares, investiu na reformulação do portal para acesso por celulares e está implantando um boletim digital. O convite para a mudança é o Força da Massa, em sua edição especial, marcada pelo fato indelével do “impedimento” da presidenta Dilma pelo parlamento. A palavra “impeachment” não faz parte da lingua portuguesa, o termo em inglês foi introduzido no vocabulário dos povos cujas nações aderiram ao modelo de democracia norteamericana; a palavra não consta em dicionário nativo, naquela que seria a sua posição na ordem alfabética, figura o termo “impingir”, cujo sgnificado é apresentado por Gustavo Barroso como “dar com violência, fazer acreditar iludindo, pespegar, vender por mais do que o justo valor, fazer passar uma coisa por outra”. Ao lado de “impeachment” ser uma palavra alienígena e feia, que impede a democracia direta, os plebiscitos e referendos, observa-se que o substantivo do verbo impingir melhor define o processo que catapultou os homens de Michel Temer do Jaburu para a presidência. O que está em curso não é um “impeachment”, mas sim, uma impingidela!

Força da Massa

Haymarket - origens do Primeiro de Maio Em 1884, a predecessora da Federação Adolf Fisher, George Engel, Albert Parsons, SaAmericana do Trabalho convocou um movimuel Fielden, Michael Schwab e Oscar Neebe mento pela jornada de oito horas para 01 de foram levados a julgamento e entraram para maio de 1886, em Chicago, capital do estado a história como “Os Mártires de Chicago”; o de Illinois. A motivação não era radical, leis fejovem carpinteiro Louis Lingg foi acusado da auderais e estaduais das oito horas já vigoravam toria da bomba, embora inúmeras testemunhas nos EUA desde 1867, mas o governo falhava de que ele não estava no local. na aplicação. Os slogans eram “oito O julgamento durou dois mehoras de trabalho, oito horas de desses e é um dos mais famosos dos canso, oito horas para fazer o que EUA, pelo conjunto de ilegalidades quisermos. Ou diminuem a jornada e injustiças cometidas, inclusive paou aumentam os salários!”, músigamento de propina para o júri vocas populares foram escritas e tar pela condenação. O juiz Joseph cantadas em todo lugar. Gary fez questão de explicitar a No 01 de maio, 80 mil trabatese de que a bomba fazia parte lhadores, sindicalistas, reformistas, de um complô mundial contra os socialistas, anarquistas e outros EUA. Em 20 de agosto de 1886, o viajaram até Chicago e marcharam júri condenou os oito trabalhadopela Avenida Michigan, carregando res à morte: Adolph Fischer, Georbandeiras e cartazes. A solidariege Engel, Albert Parson e August Lucy Parsons dade entre as categorias assustou Spies foram enforcados em 11 de empregadores, que temeram uma novembro de 1887. “Se é necessárevolução proletária nos EUA; alguns patrões rio subir também ao cadafalso pelos direitos dos concordaram com a redução das horas sem trabalhadores, pela causa da liberdade e para mereduzir salários, o que aumentou a força o molhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou”, teriam vimento. Os líderes foram identificados como a sido as últimas palavras de Albert Parsons. negra Lucy e o anarquista Albert Parsons. Lucy A pressão da opinião pública teria obrigado nasceu escrava no Texas em 1853, era alfabeo governo a mudar a pena de Samuel Fielden tizada e depois da guerra civil, mudou-se para e Michael Shwab para prisão perpétua; o jovem Chicago, onde organizava as costureiras; ParLingg foi assassinado na cela, com a cabeça essons era gráfico e editor do jornal popular “O tourada por uma dinamite, no dia do perdão. Alerta”. Os “Mártires de Chicago” foram sepultados Na segunda feira 03 de maio de 1886, num cortejo com mais de 25 mil operários e trabalhadores que faziam piquetes nas fábricas durante semanas as casas proletárias exibiram foram atacados pela polícia e três foram morflores vermelhas, em sinal de luto e protesto. tos a tiros, a violência gerou indignação e novo Em 1893, o governador John Altgeld reconheprotesto foi marcado para a Praça Haymarket, ceu os erros e libertou quem estava preso. O na noite de terça 04 de maio. O encontro em caso bárbaro ganhou projeção em julho de Haymarket aproximava-se do fim, estaria come1889, quando a Federação dos Trabalhadores çando a chover e pessoas dispersavam, narram Americanos sugeriu em uma conferência em as fontes americanas, quando os trabalhadores Paris, que o 01 de maio fosse o Dia Internaforam atacados por 176 policiais armados com cional do Trabalho, em memória dos mártires e rifles, no momento em que o pastor Samuel das injustiças de Haymarket. Fielden discursava. Um desconhecido lançou Haymarket é considerado um crime de Esuma dinamite, um oficial foi atingido e morreu, a tado. As demandas do movimento eram liberpolícia atirou no escuro, 38 trabalhadores foram dade de expressão e de imprensa, direito à livre mortos e 115 ficaram feridos, 60 policiais foram assembleia, ao julgamento justo, à organização alvejados e oito morreram no fogo amigo. e às oito horas diárias. Segundo o pesquisador No dia seguinte à tragédia foi decretado Edgar Rodrigues, a primeira tentativa de comeLei Marcial nos EUA, a mídia insuflou a sociedamorar o 01 de maio no Brasil foi em 1894 em de contra os trabalhadores, casas foram invadiSão Paulo, por iniciativa do anarquista italiano das sem ordem judicial e jornais empastelados, Artur Campagnoli, frustrada pela prisão dos o governo ocupou militarmente bairros opeativistas pela polícia; na década seguinte, houve rários, mais de 300 foram presos e torturados comemorações em várias cidades, com elabonos interrogatórios. O jornalista Auguste Spies, ração de jornais em São Paulo, Santos, Porto do “Diário dos Trabalhadores”, os sindicalistas Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro.

Expediente: Conselho Editorial: Ronaldo Sales Lima – Presidente; Carlos Jorge dos Santos Silva - Secretário Geral; Antônio de Freitas Lopes Neto – 1o. Secretário; Raimundo Nonato da Silva – 1o. Tesoureiro; Jorge da Silva - 2o. Tesoureiro; Jacson Fernandes da Cunha - Diretor de Formação e Organização; Nilcério Rosa do Nascimento - Diretor de Assuntos Previdenciários; Elio Catarino Ribeiro, José Carlos Costa de Sousa, Raimundo Freire Carneiro - Conselho Fiscal; Arlindo Viana da Silva, Braulina de Oliveira Amorim, Edilson José dos Santos Lima, João Carlos Guedes Filgueiras - Suplentes. Portal Stinpan: Irlen Menezes / Administrativo e sistema de informações: Rafael Concencio / Suporte técnico: Alexandre Valle / Secretaria: Gisele Freitas / Rodrigo Lima Jornalista: Felipe T. B. Caixeta MTB 4385834 0020 RJ Email: jornalismo@stinpan.org.br

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Abril, maio e junho de 2016

Interino tem pressa para aprovar 150 projetos contra os trabalhadores Dúvidas sobre a honestidade dos parlamentares no julgamento de Dilma e as motivações do grupo que assumiu o poder terminaram na primeira semana de governo, com o escândalo Romero Jucá. Flexibilidade, conceito que implica mais liberdade para as empresas gerirem contratos, benefícios e jornadas, aparece na fala do patronato como chave para o país voltar a crescer, no entanto, em uma sociedade desigual, o crescimento econômico, por si, não significa fortalecimento da classe trabalhadora e melhoria das condições de vida dos mais pobres. Em sua exposição no evento “Trabalhadores em tempo de crise”, o pesquisador José Krein alertou que correm 55 Projetos de Lei elaborados pelo Congresso entre 2014, 2015 e 2016 que conformam uma ofensiva legislativa para desmanchar o sistema de proteção social no Brasil. Estes projetos estão articulados com a agenda da Confederação Nacional da Indústria, que tem 101 propostas que pretendem fazer com que o trabalhador passe a negociar diretamente com o empregador, com o pressuposto que tudo pode ser flexibilizado e sem o arbítrio dos sindicatos. A Confederação Nacional da Agricultura endossa esta narrativa, enfatiza a redefinição do conceito de trabalho escravo e quer impedir que empresas sejam punidas por manterem

trabalhadores em situação análoga à da escravidão. “A ponte para futuro apresentada por Michel Temer é um diagnóstico dos empresários, não ouviram os trabalhadores e a academia”, comentou o professor da Unicamp. Este documento destaca a desindexação dos salários da inflação e que o parlamento vai arbitrar o salário mínimo de acordo com as circunstâncias orçamentárias, ou seja, o reajuste poderá ser abaixo do INPC. José Dari Krein observou que se a ofensiva neoliberal coloca e tira presidentes, muda e suprime leis, de 2013 a 2016 os movimentos sociais de trabalhadores e da juventude, com ocupações de escolas, marchas, ativismo de torcidas organizadas de futebol, entre outros, evidenciam sinais de contestação a esta ordem imposta. “Existem indícios claros na sociedade que a lógica neoliberal é percebida como insustentável e o movimento sindical pode fazer um processo de resistência à esta lógica que pretende construir um mercado e não a nação. Nós queremos construir uma nação e incluir o povo no crescimento econômico”, defendeu o pesquisador no auditório tomado de sindicalistas oriundos de 20 estados brasileiros.

Temer o presidente? Com nomes e medidas espantosas, o governo interino causa apreensão. A escolha de Blairo Maggi, o rei da soja transgênica, conhecido pelas posições contra indígenas e agricultores pobres, para o Ministério da Agricultura, deflagrou mortes no campo. Com a justificativa de cortar despesas,Temer suprimiu as pastas de Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial, para criar um Ministério da Justiça e Cidadania, entregue a Alexandre de Moraes, secretário de Segurança de SP. Alexandre constou no Tribunal de Justiça de SP como advogado em 123 processos da Transcooper, cooperativa investigada por lavagem e corrupção pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele advogou para o Eduardo Cunha e o absolveu da acusação de falsidade ideológica (uso de documento falso). Como secretário de segurança de Alckmin (PSDB), comandou em 12 de janeiro de 2016 uma manobra condenada pelo próprio manual da PM, o kettling (Caldeirão de Hamburgo).Trabalhadores, jovens, idosos, mulheres, crianças, jornalistas foram isolados por cordões policiais que não permitiam que ninguém entrasse ou saísse da manifestação, então foram surpreendidos pelo terror de incontáveis bombas, espancamentos, perseguições e atropelamentos.

Governador de SP atravessou o samba em encontro da UGT O músico Ronaldo Boldrin realizou em 25 de abril a abertura cultural do seminário “Trabalhadores em Tempo de crise”, organizado pela UGT em SP. “Aperta o nó da carestia, aperta tudo para fazer economia”, rimou o cantador, embalado pelas palmas da plateia sorridente. Sem mais delongas, Ricardo Patah formou a mesa, tomaram assento o colegiado da UGT, representantes do CESIT/ Unicamp, Força Sindical, CGTB, MTB, Dieese, MTE; depois do hino nacional, um vídeo mostrou a UGT em 26 estados, com 1.246 entidades e 10 milhões de filiados. “Aqui não tem patrulhamento ideológico, há pluralidade, todos os lados vão falar”, disse o presidente da central . Seis oradores foram selecionados, Claudio Marcolino, deputado e superintendente do MTE em SP, discursou que em oito anos de Lula e quatro de Dilma, houve aumento real de salário e empresários enriqueceram. “O governo dos trabalhadores mudou a cara do país. Minha Casa Minha Vida, 20 milhões de pessoas no bolsa família que saíram da miséria, compram arroz, feijão, roupas e giram a economia”, registrou o parlamentar. O presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, responsabilizou Dilma e Temer pela crise, por terem pago R$ 502 bilhões de juros em 2015, enquanto pessoas padeciam nos hospitais, escolas sem vagas e no desemprego. “Quem estava com a caneta na mão não éramos nós, o vice presidente ficou sete anos e não apresentou nenhum projeto, para a CGTB, é escolher novamente, eleições gerais já”, posicionou-se. “Se Michel Temer chama as centrais, vamos pela porta da frente, não vamos deixar espaços só para os banqueiros, os trabalhadores devem se posicionar”, defendeu João Carlos Gonçalves, o Juruna da Força. O deputado federal Roberto Santiago (PSD) falou “tem que conversar com todo mundo”. Chiquinho Pereira, presidente dos padeiros de SP, mencionou 60 medidas, proje-

tos de lei e portarias para ceifar direitos, chamou Dilma de ex-presidenta e constrangeu o auditório; ele desculpou-se e propôs a unificação das centrais sindicais.

ruiu com a gestão do PMDB. “O que preocupa na Olimpíada é a restrição da democracia”, disse Proni. “Samaranche, franquista, ao se dizer não político, faz a pior política, Havelange anA crise tem nome dou com os piores ditadores do mundo. Olímpiada é um Waldir Quadros (FAótimo negócio, vide o camCAMP) comparou os oito po de golfe, a construção de anos de FHC com os oito de 18 torres de 32 andares em Lula e encontrou 30 milhões área de preservação ambiene 600 mil miseráveis a menos tal, 250 mil pessoas desalojacom o petista, com melhorias das pela Copa e a Olimpíada, para a baixa classe média; no com a utilização de métodos primeiro mandato de Dilma, nazistas no Brasil, durante um houve continuidade. “Foi o governo popular”, disse KfouRicardo Patah e Chiquinho Pereira ajuste do Joaquim Levi que produri. Nilson Duarte, presidente foram os organizadores do evento ziu a crise de 2015 e 2016, ele do Sindicato dos Trabalhadofez a mobilidade para baixo”, disse o professor. A res da Indústria da Construção Pesada e da UGTdespeito da “globalização do mal”, com pirataria -RJ, disse que sua preocupação tem sido vigiar para nas rotas de cargueiros, tráfico de armas, drogas, que os trabalhadores voltem para casa com vida. a islamização da agenda com o preconceito de “O legado da Olimpíada serão 15 mil demitidos até que o cidadão árabe é um terrorista em potencial, agosto, quando as obras estiverem concluídas”. Juca EUA (1%), China (6%), India (7%), União Europeia Kfouri finalizou dizendo “desesperar jamais, nós não (1,5%) cresceram, enquanto o PIB do Brasil foi 4% temos o direito de desistir. Quem se curva aos podenegativo, relatou Luiz Alberto Machado (FAAP). rosos mostra os fundilhos para os oprimidos”. “A crise mais profunda que os brasileiros vivem, a da Na mesa da tarde, Valéria Guimarães (UFRJ) democracia, que não é só o voto. Há um déficit na explanava sobre trabalho e o ócio, cultura popular, cultura política democrática, de convivência e respeito resistência e liberdade no centenário do samba, às intransigências que são necessárias para um país quando foi interrompida por Ricardo Patah, que contemporâneo e democrático”, disse o historiador anunciou a presença de Geraldo Alckmin e que Alberto Aggio, da UNESP. ele faria uma saudação. “O caipira Alckmin, muito Na volta do almoço, o pesquisador Marcelo sensível com os trabalhadores, o futuro presidente do Proni e o jornalista Juca Kfouri debateram intenBrasil”, apresentou Patah. O governador do PSDB ções ocultas, impactos e legados da Olimpíada do atravessou o samba, criticou a carga tributária, os Rio. Com orçamento previsto de R$ 39 bilhões, o 500 bilhões pagos de juros e a transferência de evento teve implicações para o colapso das finanrenda da produção para os rentistas. “Emprego ças do Estado, onde aposentados ficaram sem os não é obra do acaso. Na década de 1970, o Brasil proventos, servidores sem salário e a economia crescia 12% ao ano”, lembrou o governador.


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Força da Massa

Sindicato Patronal e Wickbold vão reajustar salários em duas parcelas Depois de uma negociação emperrada, o Sindicato da Panificação concordou que nas empresas com até 150 funcionários, o aumento seja de 10%, pago em duas parcelas, 7% em 01 de maio e 3% em outubro; nas firmas acima de 150 funcionários, como a Wickbold, o reajuste seria integral em maio. A proposta do Patronal era 7%. “É a primeira vez que vejo aumento pago em duas parcelas. Este foi o modo que encontramos”, relatou Ronaldo Sales, presidente do STINPAN. As principais cláusulas do Acordo Coletivo 2016/2017 foram: piso salarial do padeiro, confeiteiro e mestrinho de R$ 1.284,00 a partir de 1º de maio e R$ 1.320,00 em outubro; para as demais funções R$ 1.070,00 em maio e R$ 1.100,00 em outubro; gratificação de caixa de R$ 55,00 ao empregado que exerce a função; abono de R$ 75,00 no mês de aniversário do trabalhador. Acordo indigesto na Wickbold Em 07 de abril, os trabalhadores da Wickbold estiveram em assembleia para definir as reivindicações do acordo coletivo 2016: reajuste de 15%, piso de R$ 1.800, equiparação do valor das horas extras com a sede paulista, adicional de 40% na jornada noturna, vale compras de 91 para R$ 200 mensais, abono por tempo de serviço, entre outros. Na data, colaboradores relataram o descumprimento do acordo 2015, o kit parturiente não foi distribuído, o Plano de Saúde corporativo tinha cobertura restrita e médicos da empresa os persuadiam a trabalhar, mesmo com o dia abonado. Na indústria de 6 milhões de pães/ mês, as equipes atravessavam a noite com fome, não havia lanche, o pessoal do turno da tarde jantava às 16h e depois só em casa de madrugada. Em 23 de junho, o Sindicato retornou à Curicica para a categoria decidir se aceitava ou não a contra-proposta do empregador. Primeiro, a

Wickbold ofereceu 70% do INPC e a manutenção das cláusulas de 2015, o que foi recusado pelo STINPAN. Ao saber do acordo com o Patronal e do aumento de 10% em maio, relatou Ronaldo Sales, a negociadora da empresa se disse indignada e insinuou que podia apartar o sindicato da fábrica. “Para fazer uma negociação diferenciada, a empresa deverá ser transparente, abrir a contabilidade com o acompanhamento de um técnico do Dieese. Quanto ao sindicato, as assembleias podem ser do lado de fora da fábrica”, esclareceu Ronaldo Sales. Em 21 de junho, a representante trouxe nova proposta: reajuste de 8% em maio e 2% em dezembro, sem pagamento do retroativo; abono do Dia do Padeiro de R$ 180,00, adicional noturno de 35%, cesta alimentação de R$ 101,00, cartão farmácia de R$ 363,00, cesta natalidade de R$ 100,00. Os colaboradores não ficaram satisfeitos, falaram em defasagem salarial, enfatizaram o precedente do reajuste parcelado, explicaram que o cartão farmácia era uma falácia, riram do reajuste de 91 para R$ 101 na cesta alimentação. O acordo não agradou ninguém, mas cada turno votou de uma forma: a noite aprovou por 28 votos a 3; a manhã votou 17 a 14 a favor, a tarde, com a participação do pessoal de vendas e da administração, foi o mais crítico e recusou por 22 a 8. No somatório, o sim venceu por 53 a 39. Na segunda parte da assembleia, os colaboradores aborrecidos com o desenlace do impasse descontaram na própria pele, com a decisão de não reajustar em R$ 2,00 a contribuição assistencial este ano. Os termos poderiam ter sido rejeitados e outras formas de ação aventadas, até a paralisação da planta fabril, mas aceitaram os termos da empresa e puniram o sindicato que pressiona para as condições de trabalho progredirem. Consulte os termos do Acordo Coletivo de 2016 no portal do STINPAN.

Sindicato homologou 1.143 rescisões de janeiro a maio A incerteza, a flexibilização e a precarização do emprego geram perdas materiais e abalo psicológico em quem menos possui. “Janeiro para cá aumentou o número de homologações. A crise está afetando geral e também o ramo da panificação. A maioria dos empregadores está alegando o corte para continuar sobrevivendo”, relatou Ivan Lima Rocha, responsável pelo setor. De janeiro a maio, o STINPAN registrou 834 rescisões na sede e na delegacia em Campo Grande foram mais 309, informou a auxiliar de secretaria Adriana Cândida. Os meses mais difíceis foram março com 261 e maio com 270 demissões, mas o número poderá ser maior, pois a rotatividade é grande e empregados assinaram a rescisão sem a assistência do sindicato. “A hora da homologação é a mais problemática da relação de trabalho. Quando o trabalhador está saindo, ele comenta o que não ia bem no contrato e no ambiente de trabalho, o que antes ele não falava por medo de retaliações, de ser demitido”, diz Ivan Rocha, que não acredita que a troca de Dilma por Temer poderá trazer melhor sorte. “Na imprensa e nos discursos oficiais, existe

Ivan Lima Rocha, filho da liderança histórica dos padeiros cariocas, Inaldo de Lima Rocha, trabalha desde 1970 no STINPAN.

uma tendência de responsabilizar os trabalhadores e fazê-los pagar pela crise, reforçam uma ideia deque o sindicato não deve se colocar entre o empregado e o empregador, que o funcionário deve negociar aumento ou demissão diretamente com os patrões, com a flexibilização de direitos, mesmo que fira a legislação. Se depender de negociação direta, o patrão só vai dar o que não tem mais jeito”, alertou o experiente dirigente sindical. Homologações de janeiro a maio de 2016: Janeiro - 248 / Fevereiro – 189 / Março - 261 / Abril - 175 / Maio – 270 / Total: 1.143 demissões

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Abril, maio e junho de 2016

STINPAN consegue acordo favorável com a PANCO Cláusulas da negociação foram formalizadas após a assembleia com os trabalhadores em 02 de junho A assembleia iniciou às 11:30h com outras três sessões às 13:30h, 15:30h e 16h, para que o máximo de trabalhadores participassem da decisão; até o encerramento às 16:30h, cerca de 200 colaboradores tinham atendido à convocação e o exercício da democracia mudou a rotina da fábrica de Seropédica. O presidente do STINPAN Ronaldo Sales explicou que diferente do ano anterior, quando primeiro havia realizado a assembleia para levantar as reivindicações para depois levar ao empreendedor, em 2016 o sindicato montou um elenco de demandas para negociação direta com a empresa, até que chegaram a um impasse. “O cenário político-econômico está difícil, houve horas de reuniões, chegamos a valores máximos e agora trazemos para vocês decidirem se aceitam ou não”, disse o dirigente. As cláusulas em negociação foram lidas uma a uma: reajuste de 10% do piso, passando o pessoal em experiência para 1.485,00 e os contratados para R$ 1.540,00; correção do salário pelo INPC de maio que foi de 9,82%; valores do abono por tempo de serviço continuavam os mesmos do ano anterior; em relação a participação nos lucros, a proposta do PLR era R$ 2.100,00, pagos em duas parcelas de R$ 1050,00, em julho de 2016 e janeiro de 2017; vale compras teria reajuste de 12,5%, passando a R$ 180,00 e o abono do Dia do Padeiro (13 de junho) subiria 11%, atingindo R$ 200,00. A Panco inseriu cláusulas de redução no valor da segunda parcela do PLR, se de julho a dezembro o colaborador viesse a faltar até três vezes sem justificativa, perderia 40% da parcela, até cinco 60% e acima de seis, o valor integral. Na negociação, a Panco aderiu ao programa empresa-cidadã, agora homens poderão usufruir de 20 dias e mulheres de seis meses de licença maternidade; a indústria também acordou que aposentados que continuam na ativa poderão solicitar a demissão e acessar os benefícios da rescisão, como se demitidos sem justa causa; a empresa firmou com o sindicato que em caso de suspensão da produção por motivos técnicos como falta de insumos, água, energia, pela manutenção ou quebra de equipamentos, a compensação pelas horas paradas não será exigida dos trabalhadores, o tempo perdido deverá ser reposto como horas extras. Depois da exposição dos termos, quando o presidente do STINPAN abriu para as considerações da plenária, alguns filiados demonstraram desinteresse no que estava sendo debatido e votado, pensando estarem em um jogo de cartas marcadas, onde as cláusulas vieram prontas do empreendedor e não havia nada a dizer. A partir da escuta das falas destes trabalhadores, observou-se que um mal entendido ocorreu, por causa de um cartaz com as cláusulas do acordo afixado no quadro de avisos do refeitório e o depósito do vale alimentação com o valor corrigido, antes da assembleia. Ronaldo esclareceu que o cartaz divulgava termos não formalizados, que a colocação em pontos visíveis da fábrica foi a pedido do sindicato para estimular o debate, que não havia nada decidido

e quem fechava o acordo eram os trabalhadores na assembleia, inclusive, poderiam rejeitá-lo ou solicitar novos termos. Um colaborador opinou que a crise era política e não financeira, não justificava a perda do aumento real de salário. “Conseguimos a inflação cheia, correção de abono e PLR maior que o INPC. Não foi tão ruim para a gente não. Entendemos o momento e puxamos o máximo que pudemos”, confidenciou Ronaldo Sales. Filiados sugeriram o pagamento do PLR e abonos até o dia 15 do mês; em votação, os termos da Convenção Coletiva foram aprovados por unanimidade. Dois Reais fazem diferença Outra questão em votação foi a atualização do valor da contribuição assistencial, de 19 para R$ 21,00. Ronaldo explicou que o reajuste visava garantir a manutenção de atividades, serviços e convênios, os advogados e dentistas. O dirigente foi então consultado sobre a possibilidade do STINPAN abrir uma filial mais próxima da fábrica, para facilitar o acesso aos benefícios, em especial ao consultório dentário. Ronaldo explicou que não havia uma base suficiente na Panco e nas padarias de Seropédica para viabilizar o investimento. “Ampliar o número de associados no município, precisamos fazer uma campanha de filiação, a começar pela fábrica”. Um colaborador comentou que o isolamento e a precariedade do transporte dificultavam o acesso aos dentistas do sindicato, conhecidos na categoria pela qualidade do atendimento, disse que abrir um consultório odontológico poderia estimular a adesão de associados em Seropédica. Os trabalhadores mostraram-se descrentes que a própria Panco, ao ver a vontade de cuidarem da saúde bucal, viesse a montar o consultório na fábrica. Até encontrar solução intermediária, um convênio com clínica em Seropédica ou Nova Iguaçu, Ronaldo Sales sugeriu reservar dias específicos na filial Campo Grande. Neste ponto, eles informaram que clínicas particulares em Seropédica monopolizavam o atendimento, criavam restrições e obstáculos para consultas ou exames, exigiam co-participação e oneravam o trabalhador, com o relato de situações indesejadas e desgastantes provocadas pelo plano de saúde. “Será exigido da Salutar que o problema não persista, uma vez que o sindicato inclusive aceitou dividir com o plano de saúde os valores reajustados pela clínica, para que os serviços não fossem interrompidos”, contou Ronaldo Sales, evidenciando como sindicatos e associados podem se tornar reféns dos serviços dos planos privados, o que exprime a urgência de incluírem a saúde pública de qualidade na pauta sindical. A timidez e insegurança foram dissipando, em votação, os trabalhadores aprovaram o reajuste e quase todos saíram apressados, pois o tempo na fábrica é sempre curto; quem permaneceu por um ou dois minutos a mais, perguntou sobre supressão de horas extras e como proceder para associar-se.

Ronaldo Sales relatou que a Panco aceitou o aumento do piso acima do INPC, entre outras conquistas.

O meu, o seu e o nosso A Panco consolidou-se como a terceira maior do Brasil, atrás de Bimbo e Wickbold, com 15% do mercado da panificação industrial. Joel Domingos da Silva, 53 anos, natural de Caxias e com 18 de casa, é o gerente geral da fábrica de Seropédica, com 460 funcionários. “Uma média de 45 toneladas por dia, estamos no limite da automação, a presença humana é indispensável, não tem chance das máquinas tomarem mais postos de trabalho”, afirmou. Os produtos são elaborados com trigo do Canadá e a compra do insumo está centralizada em SP. Joel conversou sobre segurança, cursos, palestras, treinamento, brigada de incêndio, uso obrigatório de EPI, mas reconheceu que o técnico de segurança não está presente nos três turnos. “Os turnos diurnos são os mais produtivos”, explicou. Ele anunciou a instalação de um exaustor para amenizar a temperatura na linha de produção. A fábrica de Seropédica está localizada em uma fazenda na Rodovia Presidente Dutra, na saída 205 sentido São Paulo. Com a conclusão do Arco Metropolitano em 2014 e que corta a Via Dutra naquele ponto, outras empresas como Brasilit, Sadia e Golgi se instalaram no vasto descampado que se tornou um centro logístico importante do Sudeste. No entanto, os serviços públicos não acompanharam o desenvolvimento, faltam linhas de ônibus; após a jornada diária, colaboradores chegam a esperar mais de duas horas por condução em lugar ermo, as mulheres aguardam em trechos sem iluminação e passam apreensão. Uma forma de afastar a situação de risco e stress que atrapalha a produtividade, opinaram os colaboradores, está na melhoria do transporte público de Seropédica, caro e deficitário; a Panco não possui transporte próprio e poderia chamar para si a responsabilidade da solução do problema, com a implementação de um serviço com rota e horário para levar as equipes até a estação de trem em Japeri ou ao centro de Seropédica.

Grupo Bimbo refuta colaboradores e restringe atividade sindical na fábrica Após denúncias, dirigentes do STINPAN visitaram a fábrica da Bimbo em Inhaúma entre 13 e 20 de março, quando verificaram riscos nos três turnos da produção. Operários da noite obrigados a abrir mão da folga semanal e a trabalhar 14 dias ininterruptos, ajudantes responsáveis por máquinas sem o salário correspondente à função, alta temperatura, problemas no banco de horas, ausência de técnico de segurança e apenas um supervisor (visto colocando pães no cesto por falta de outros colaboradores) cuidava da produção e da entrega de EPI´s no horário noturno. “A inadequação acontecia no turno mais produtivo, quando havia quatro linhas em operação”, apontou o sindicalista Carlos Jorge dos Santos. Um deficiente auditivo operava a masseira que só dispunha de alarme sonoro e colaboradores reclamaram da forma rude com que um supervisor lidava com as equipes. Os fatos foram oficiados à gerente nacional de gestão de pessoas da Bimbo, Patrícia Victor Pigozzi, para verificação de providências, a começarem pela folga em 26 de março. Ela informou que as equipes não seriam solicitadas a trabalhar na madrugada de Páscoa. O Grupo Bimbo, pertencente ao mexicano Daniel Servitje, o maior fabricante de pães do mundo, com 156 fábricas e U$$ 12,6 bilhões, se propõe a ser “um lugar extraordinário para trabalhar”, no código de ética com os colaboradores, diz “primar e garantir o respeito a sua dignidade, a sua individualidade e facilitar um ambiente seguro para seu bem-estar e desenvolvimento”. Na diligência sindical, Carlos Jorge viu cartazes com as mensagens nas paredes, mas as narrativas revelavam práticas outras. Em reunião com a representante da empresa, Flávia Lima, a diretoria do STINPAN foi informada que colaboradores deslocados de função recebiam salário substituto e que as horas extras eram pagas. “A única forma de provar se todos estão recebendo a diferença devida, é a apresentação do contracheque ao representante do sindicato, por quem estiver se sentindo lesado”, explicou Carlos Jorge. Em relação à obrigação de trabalhar na folga, a Bimbo reconheceu a prática e afirmou que havendo necessidade, continuará a exercê-la para atender às demandas de produção. A legislação permite não folgar em troca de horas extras. “O problema na Bimbo é que lá não tem escolha, trabalhar na folga tem sido uma imposição, se o trabalhador quiser folgar, torna-se alvo de advertências, o que traz insegurança quando o desemprego cresce no país”, comentou Carlos Jorge. Sobre a ausência de técnico de segurança à noite, a Bimbo respondeu que está adequada à norma do SESMT. O empreendedor restringiu a entrada dos sindicalistas na fábrica., agora permitida se agendada com antecedência e com a delimitação do setor a ser visitado, para o acompanhamento por um representante da empresa. A medida constitui cerceamento da livre atividade sindical, alertou o procurador do Ministério Público do Trabalho, João Carlos Teixeira.


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Força da Massa

Chocolate, o amargo sabor da escravidão Insumos de marcas renomadas podem ter origem no trabalho escravo inclusive infantil

No século o XXI a exploração do trabalho escravo atinge mais pessoas do que em qualquer outro período da humanidade, ele floresce nas áreas mais pobres da África, Índia e América Latina, como também na rica Inglaterra e nos Estados Unidos, com a escravização de imigrantes e refugiados no serviço doméstico. Quem revela a triste realidade é a pesquisa “Escravidão – uma Investigação Global”, apresentada no filme com mesmo título, dirigido pelos britânicos Brian Woods e Kate Blewett. No documentário lançado em 2001, os pesquisadores libertam crianças escravas na indústria da tapeçaria em Bihar na Índia, compram escravos em Mali e encontram trabalhadores do cacau libertados na Costa do Marfim na África Ocidental e que nunca tinham provado o sabor do chocolate. De acordo com os pesquisadores, a escravidão aumentou com a globalização da economia, quando grandes empresas transferiram fábricas para Ásia e Índia, onde o trabalho tem menor valor, vigoram formas violentas de controle social e a legislação é frágil. Se no passado os escravos eram caros e os donos se responsabilizavam por eles, hoje são baratos e de fácil reposição, podem ser explorados e descartados livremente, depois de exauridos na extração de matérias primas, mineração, fabricação de roupas e agronegócio. Os escravos globais alimentam a economia mundial com café, açúcar e o cacau. “No caso do cacau, ao tempo em que desaba o preço da matéria prima, sobe o dos

chocolates que os consumidores pagam. Cerca de 2/5 do chocolate produzido no mundo vem do trabalho escravo”, afirmou Brian Woods. Para especuladores e as grandes empresas, importa baixar o preço e não interessa saber em que condições a “commoditie” cacau foi produzida. A partir desta pesquisa, sete grandes empresas foram denunciadas na Justiça Americana pelo uso de insumos produzidos com trabalho escravo: Hershey, Mars, Nestlé, ADM Cocoa, Godiva, Fowler’s Chocolate e Kraft. No Brasil, se a LACTA estiver associada à KRAFT e a Garoto junto da Nestlé, também poderão estar contribuindo para a prática. Em setembro de 2015, uma ação da FDA, o órgão governamental americano responsável pelo controle dos alimentos, acusou a Mars, a Nestlé e a Hershey de enganarem os consumidores, que “sem querer” financiavam o trabalho escravo infantil do cacau na África Ocidental. A Nestlé, que tem lucros de cerca de 100 bilhões de dólares por ano, propôs ao FDA erradicar o trabalho infantil de suas lavouras até 2020, no entanto, o número de crianças que trabalham na indústria do cacau aumentou 51% entre 2009 e 2014, segundo relatório de julho de 2015 da Universidade Tulane, de Nova Orleans. Conheça o relatório da Universidade de Tulane: https://www.google.com.br/webhp?sourceid =chromeinstant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=tulane%20university.

Parlamentares em luta pelo fim (da lei) do trabalho escravo no Brasil

Projeto memória: STINPAN a caminho do primeiro centenário

A Comissão de Agricultura do Congresso Nacional, composta majoritariamente por deputados ruralistas, aprovou uma proposta que pode redefinir o conceito de trabalho escravo e alterar o Código Penal, onde três artigos (149, 203 e 207) tipificam e coíbem o crime. Com a retirada de termos como “jornada exaustiva” e “condições degradantes de trabalho” da legislação, latifundiários, empresários e políticos estariam livres da acusação e afastariam o risco da desapropriação dos imóveis onde as práticas forem verificadas. Atualmente, o Código Penal define trabalho escravo como “reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”. No PL 3842/12, a expressão “condição análoga a de escravo, trabalho forçado ou obrigatório”, compreenderá o serviço realizado sob ameaça, coação ou violência, com restrição de locomoção e para o qual a pessoa não tenha se oferecido espontaneamente. Diversos deputados respondem ou foram condenados pelo crime. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT - CNBB), pelo menos 25 mil trabalhadores, muitos deles crianças ou adolescentes, são escravizados no Brasil por ano.

O Sindicato dos Padeiros do Rio vai celebrar o primeiro centenário em 2019 e com a aproximação deste marco, o STINPAN decidiu iniciar um projeto de memória sindical, para reconstituir e pensar esta longa trajetória. Neste sentido, a assessoria de comunicação localizou jornais, documentos e fez contato com associados mais antigos. A partir de levantamentos preliminares no Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro (AMORJ/UFRJ), houve a identificação do jornal “A Voz do Padeiro” de 1919 e nove edições de “O Panificador”, publicadas entre agosto de 1921 e junho de 1922, onde estão registradas preocupações, injustiças e desejos dos trabalhadores de um tempo entre guerras e ausência total de direitos. A pesquisa localizou na página quatro do Jornal “O Despertar”, publicado em 19 de junho de 1918 pelos marceneiros, informes sobre a “Liga Federal dos Trabalhadores de Padaria”, então sediada à Praça Tiradentes 71 e associada à União Geral dos Trabalhadores (UGT-RJ), junto com mais 14 categorias como metalúrgicos, pedreiros, barbeiros, alfaiates e marceneiros.

O insumo transgênico e o direito à informação

Padeiros preparam e consumidores adquirem pães, bolos e biscoitos sem saber da presença de organismos geneticamente modificados na massa. O problema não se resume aos produtos elaborados com milho porque a lecitina de soja está em quase todas as fórmulas. Em junho de 2003, Lula cedeu a pressões dos ruralistas e editou Medida Provisória para legalizar o comércio da safra de soja geneticamente modificada, plantada de forma ilegal e clandestina por produtores gaúchos. De lá para cá, enquanto França, Alemanha e Suiça proibiram plantios de milho, soja e outros transgênicos devido aos riscos ambientais, sociais e para a saúde humana, as autoridades nacionais desprezaram o princípio da precaução e abraçaram a proposta, rebaixando os brasileiros à condição de cobaias de substâncias criadas por multinacionais e cujos efeitos ainda são imprevisíveis. Mas afinal, o que são organismos geneticamente modificados (OGM)? OGMs são seres que sofreram manipulação da sua carga genético, com a introdução de genes de outros organismos, para que se diferenciem em algum aspecto específico do original. No caso da soja, os geneticistas da Monsanto objetivaram criar uma planta resistente ao agrotóxico Round Up produzido pela própria empresa, de modo que o veneno ao ser lançado sobre a lavoura exterminasse qualquer forma de vida, exceto a soja round up ready. Sementes e agrotóxicos são parte de um mesmo pacote fornecido pelas mesmas empresas, seis grandes corporações transnacionais cujo lucro supera 13 bilhões de dólares por ano só no Brasil: Monsanto (Estados Unidos), Syngenta (Suíça), Dupont (EUA), Basf (Alemanha), Bayer

(Alemanha) e Dow (EUA). Ao lado da polêmica sobre o câncer e outros malefícios relacionados ao consumo de OGMs, tem a contaminação humana e ambiental pelos agrotóxicos. Outra questão é a ruptura do ciclo da vida e da subsistência do agricultor, pois as sementes das plantas transgênicas não germinam e a cada safra precisam ser compradas de novo das empresas. Em 2005, o governo federal estabeleceu que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTN-Bio) como instância responsável pela análise dos pedidos de liberação dos OGMs. Composta por representantes do poder público e das empresas, a CTN-Bio aprovou os 26 pedidos encaminhados ao órgão. Por esta razão, em 10 anos, o Brasil tornou-se o maior plantador de OGMs e o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com a utilização de um milhão de toneladas de veneno anualmente, em especial o Glifosato na soja. Hoje, cinco tipos de soja, 18 de milho e 12 de algodão, além de uma de feijão OGM, estão nas prateleiras de supermercados, nos produtos das padarias e predominam na alimentação dos brasileiros. Pão de milho por gentileza Na grande indústria e nas padarias de bairro, os trabalhadores são orientados a utilizar pré-misturas (mix) para facilitar a elaboração de pães, broas e bolos, sem que saibam o que vem

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dentro dos sacos; consumidores, por sua vez, adquirem broas, pão de ló, bolo de laranja, coco, milho, chocolate e outras guloseimas, preocupados com a limpeza do estabelecimento, a integridade das embalagens e que estejam frescos, mas poucos levam em conta os insumos com que são produzidos. Responsável por 70% dos insumos de padaria no Brasil, a Bunge informa fornecer milho geneticamente modificado pelo Bacillus thuringiensis, o Streptomyces viridochromogenes, o Agrobacterium tumefasciens e o Zea mays, na sua linha de pré-misturas. Marcas de derivados de milho como fubás e milharinas podem ser todos transgênicos e a soja OGM, na forma de lecitina, compõe de biscoitos a chocolates. A letra T em um triângulo amarelo nas embalagens deveria indicar a presença de OGM, mas o expediente não tem sido usado nas padarias e nos pães industrializados. Procuradas pela reportagem do STINPAN, Wickbold, Grupo Bimbo e a Panco, produtora do famoso pão de milho, não se pronunciaram ainda sobre o assunto, que persistirá em debate no Força da Massa. Observa-se que uma mudança de postura da indústria, ao passar a exigir insumos não transgênicos de seus fornecedores, poderá alterar uma correlação de forças que tem sido desfavorável para a saúde e o meio ambiente brasileiro. E você amigo(a) padeiro(a), o que pensa do uso de insumos transgênicos na padaria?

O costume do pão de trigo chegou ao Brasil no século XIX e nos primeiros anos do século XX eclodiram movimentos de padeiros. A Liga Federal dos Empregados de Padaria, precursora do STINPAN, fazia parte da UGT que por sua vez era a sucessora da FORJ (Federação Operária do Rio de Janeiro), fechada pela polícia em 1917. A FORJ, de cunho anarquista, organizou greves de tecelões, sapateiros, leiteiros, trapicheiros, carvoeiros, metalúrgicos e operários da construção civil, sendo reprimida pela polícia. Os anarquistas propunham um sistema político sem a presença da autoridade, onde o povo governasse por meio de conselhos. A grande greve geral puxada pelos anarquistas no Rio em 1917 impulsionou a formação de diversas uniões e sindicatos, em março de 1918 foi criada a União Geral dos Trabalhadores e mais greves aconteceram. O governo respondeu com repressão brutal, fechando sindicatos e jornais nascentes, prendendo e deportando líderes anarquistas. A UGT foi dissolvida pelo Decreto nº 13.295, de 22 de novembro de 1918, “por se tratar de uma sociedade cujos atos são nocivos à ordem pública

e cujos membros são, na sua maioria, estrangeiros, agitadores ou verdadeiros anarquistas”, escreveu o vice-presidente da República Delfim Moreira. Após a insurreição anarquista de 1918, os padeiros cariocas desafiaram a repressão e o terrorismo de Estado para criar o sindicato em 1919, iniciando uma trajetória institucional que atravessa a República Café com Leite, o período Vargas, o fascismo e a consolidação das leis do trabalho, os anos JK, as mobilizações pelas reformas de base no governo Jango, o golpe e a ditadura civil-militar após 1964, as Diretas Já e o novo sindicalismo depois dos anos 1990. A história da entidade pode ser recuperada por meio de 26 livros que a partir de 1942 registram atas de reuniões de diretoria, assembleias e uma intensa atividade esportiva, recreativa, cultural e social. O projeto de memória sindical está desenvolvendo o método de trabalho e mensurando os recursos necessários para a conservação dos itens históricos, para ampliar os levantamentos e aprofundar a pesquisa, reunir fotos, documentos e digitalizar os materiais, sistematizar informações para publicação impressa,

Capa do jornal de maio de 1919, localizado no Arquivo de Memória Operária - AMORJ IFCS/UFRJ, com textos de Astrojildo Pereira, onde ele discorre sobre guerra mundial, religião e organização dos trabalhadores.

com a produção de depoimentos em vídeo com 100 associados até 2019, para instalar um banco de imagens e um documentário acessíveis pelo Portal STINPAN. A receptividade dos associados tem sido generosa e entusiasmada. Para saber mais e fazer parte do Projeto Memória STINPAN, ligue, cadastre seu telefone no sindicato ou escreva para o email do jornal.

Entrevista: Domingos do Cabo, um padeiro com 100 anos

Ele mora com a família em Bangu. Quando o senhor chega ao Brasil? Eu nasci em 29 de outubro de 1916, vou fazer 100 anos. Chego no Brasil com menos de 10 anos, morava em Olaria, a casa ainda está lá. Meu pai atravessou o oceano 14 vezes, até que conseguiu convencer minha mãe de vir. Eu estava na casa da doutora Hercília de empregado, eu era pequeno, tinha que trabalhar. Fale sobre a sua família. Eu sou da família dos Seixas, meu pai se chamava José do Cabo, minha

mãe Maria das Graças, viemos de Chaves, mas eu nasci nas Açoreiras, uma aldeia perto de Águas Frias. A família era de lavradores, meu pai gostava tanto do Brasil, de ano em ano ele vinha, minha mãe ficava chorando, até que um dia a minha madrinha morreu e então resolveram vir. Na minha aldeia os lobos vinham pegar caça dentro de casa, eles olhavam lá de cima da Serra da Estrela. Meu avô materno José Alves era alfaiate, estudou na França. Meu avô paterno, Caetano do Cabo, tinha sete filhos e um se chamava Domingos, que era uma pessoa das mais inteligentes do lugar. Naquele tempo se chamava almude, raza, cântaro de água e o meu tio transformou aquilo em litros. Fui batizado por causa desse meu tio e eu não fiquei atrás dele em sabedoria. Como se tornou padeiro? Entrei para a panificação por acaso, eu era um garotinho pequeno, comecei ajudando, de repente passei a ser chefe. Era uma padaria em Olaria, Padaria Bussaco, tinha meus 15 anos, eu aprendi com papai do céu, eu era sobrinho do Domingos. Comecei no balcão e depois vi que

havia muita falta de padeiro, passei para esse lugar. Fui profissional daquela firma grande, Plus Vita. O senhor participou do sindicato? Fui chamado para a direção do sindicato dos padeiros. Eu estou esquecido. Queriam que fosse diretor, mas eu saí fora, ficaram outras pessoas no meu lugar, na Presidente Vargas, perto do Campo de Santana. O que o senhor fazia quando não estava trabalhando? Eu jogava muita bola no Guarani, no Drummond. Tinha muitos padeiros jogando, mas um time formado do sindicato não me lembro. Domingo meu descanso era futebol, era goleiro do Olaria, em uma bola difícil chutada em cima de mim, acabei machucando o braço, o Castilho entrou no meu lugar. Depois que me estabeleci, abandonei o esporte. Então de padeiro, o senhor se estabeleceu como dono de padaria? Eu ganhava muito dinheiro como padeiro, aí me estabeleci. Minha primeira padaria foi a Alhambra em Olaria. Fui dono da Padaria São Domingos, onde conheci a minha esposa Selma, ela trabalhava no caixa.

Minha padaria ficava lotada, fazia pão que ninguém sabia, agora era época de folar, um pão que se faz em Portugal. Eu tive a São Domingos em Turiaçu, a São Cândido em Vilar dos Teles e a Panificadora Madureira. O primeiro forno contínuo que apareceu em Madureira fui eu quem inaugurei. Na São Domingos tinha forno contínuo subterrâneo com três andares, eu descia uma escada para fornear a massa embaixo, era à lenha, botava na fornalha, ficava queimando sempre, a labareda se espalhava e esquentava o forno. O pão de hoje é diferente do tempo que o senhor trabalhava? O pão não existe mais conforme era, porque não fazem o fermento como deve. Tem que ser feito o primeiro isco, segundo isco, terceiro isco, para depois fazer a massa. Para fazer a massa, tem que começar cedo, para sair às 4h da tarde, tem que começar quando for 2h da manhã, fazendo a fermentação. Esse pão de hoje eu não gosto não, a farinha é a mesma, mas a maneira de fazer não é igual. Eu estou com 100 anos, a minha história é muito grande, não dá para contar tudo não.


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Sindicalistas e pesquisadores examinam resultados do governo de coalizão do PT com o PMDB Em 2015, com o argumento de conter a inflação, o Brasil praticou os juros mais altos do mundo (14,25%) e decisões políticas retiraram a capacidade do Estado investir. “O PT nunca teve projeto de transformação, nem político nem econômico. Fez a reforma tributária? Dar renda para empresa e para rentista? Não houve ruptura com o que criticavam, o neoliberalismo, o resultado, não cresceu e não tem emprego, vem a precarização, a queda de renda e o enfraquecimento sindical”, disse Anselmo Luis dos Santos, pesquisador do Cesit/ Unicamp, no evento “Trabalhadores em Edilson Lima, diretor do tempo de crise”, em 26 STINPAN, representou de abril em SP. “Emboo sindicato em SP. ra os governos do PT não tenham sido dos trabalhadores, mas sim de um setor do empresariado, algo que esses governos fizeram incomodou o patronato. FIRJAN, FIESP, CNA estão envolvidos na produção da crise. O patronato se unificou em torno de uma plataforma política dos anos 1990, em uma perspectiva restauradora, embora o PT não tenha abandonado o neoliberalismo. A causa da crise é a ofensiva do capital internacional aliada a setores nacionais contrários ao governo timidamente reformista do PT”, disse Armando Boito, do IFCH/Unicamp. Para Anselmo Luis o projeto Temer era a “ponte para o inferno”, porque mudaria a orientação de um reformismo moderado para o conservadorismo radical. “Trata-se de uma crise que abala os alicerces da democracia brasileira. Desde que o PSDB perdeu a eleição, contesta o resultado, tentaram judicializar e entraram com o impeachment. Deu-se à busca de um pretexto qualquer para anular o resultado das urnas de 2014. Depois de Dilma, preso o Lula, vão pegar os sindicalistas e os movimentos populares”, vaticinou Armando Boito. A economista Lena Lavinas narrou que depois de cinco séculos de capitalismo, no século XX começaram os gastos com proteção social; no Estado de bem-estar social, com educação,

saúde e serviços públicos, os super-ricos pagavam mais impostos. Nos anos 1980 e 1990, com o neoliberalismo de Margareth Thatcher, mudou a lógica do Estado de provedor para promotor, com redução de gastos e corte de impostos. O desemprego vira culpa do trabalhador, que ficou obsoleto e acabou descartado. No século XXI, disse a professora da UFRJ, ocorreu o apogeu da valorização financeira, o Estado passou à condição de Carlos Jorge dos Santos, Sefiador de garantias cretário Geral do STINPAN. para o setor financeiro conceder crédito, com a privatização generalizada dos bens públicos. “A revolução contemporânea do capitalismo consiste de todos estarem conectados ao setor financeiro, até os beneficiários do bolsa família tem uma conta individualizada. A inclusão financeira é o processo de endividamento das famílias, programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida são exigências da financeirização”, explicou. Plano de saúde complementar, escola, FIES e fundos de previdência geridos pelos bancos prosperaram, enquanto investimentos em saúde, transporte e educação pública ficaram comprometidos. “Fala-se em equalização pelo mercado. Investimento em saneamento não teve, só os ricos têm saneamento. O governo não fez o dever de casa com a política social”, observou Lena Lavinas. Em seis anos (2010-2015), o governo federal, sob a batuta do PT, desonerou cinco e depois 56 setores com o intuito de elevar a competitividade no mercado internacional. Essas desonerações alcançaram R$ 1,6 trilhão no período. Não só o Estado deixou de arrecadar esse montante, mas deste cerca de R$ 650 bilhões foram retirados do orçamento da seguridade social (COFINS, CSLL, PIS-PASEP, folha de pagamento, todas receitas vinculadas e exclusivas da Seguridade). Ataques à Previdência e aos programa sociais escondem que a previdência privada (capitalização aberta) cresceu de 23 para R$ 620 bilhões filiado à

STINPAN, desde 1919 garantindo os direitos do trabalhador Conheça os benefícios e se torne um associado com mais quatro dependentes, por um valor colaborativo justo e solidário.

- Assistência Jurídica, Médica, Odontológica e Social - Cursos de Padeiro, Gestão de Padarias, Informática e Inclusão Digital - Auxílio Maternidade e Auxílio Funeral - Planos e convênios com óticas, laboratórios, escolas e universidades - Banco de Empregos - Assessoria Técnica Os documentos necessários para a adesão são original e cópia de RG, CPF, Carteira de Trabalho, comprovante de residência, certidão de casamento ou nascimento. Telefone, envie mensagem, venha até a sede ou a delegacia sindical do STINPAN.

entre 2002 a 2015. Somente em 2012, R$ 8,2 bilhões foram retirados da Saúde, por deduções no imposto de renda de pessoa física (gasto tributário) pelos mais ricos.“Ronaldo Fenômeno faz quatro lipoaspirações por ano pelo Plano de Saúde e deduz do imposto mais do que o jovem recebeu do bolsa família”, exemplificou. Para ela, a pior das medidas foi a expansão do crédito consignado, hoje cerca de 35% dos brasileiros estão altamente endividados, Jorge da Silva é o pessoas com até três salários 2.o tesoureiro. mínimos chegam a ter 70% da renda comprometida. “No neoliberalismo, é o cidadão que se endivida para tudo”. Para ela é fundamental manter o salário mínimo vinculado ao rendimento beneficiário, aumentar o teto de contribuições previdenciárias e por um fim a desonerações do capital. “O pato amarelo da FIESP é um absurdo. Houve uma desoneração de R$ 1 trilhão em 6 anos para este segmento”, concluiu a professora, muito aplaudida pela exposição. Faltou tempo para o público discutir as ideias, o primeiro a usar o microfone propôs que a plenária desautorizasse Ricardo Patah a falar em nome da UGT, pois o dirigente defenderia Temer. “É preciso tirar uma posição na assembleia. Ir falar com o golpista agora é temeridade, o que se tem de falar agora é em greve geral”, exigiu Nilton Ramos, do DER-BA, entre aplausos e vaias do auditório. O assessor dos padeiros de SP defendeu que com Temer, pior do que com Dilma não ficaria. Nilson Duarte, da UGT RJ, lembrou que a entidade é plural, que os trabalhadores estavam sendo divididos para defenderem bandeiras que não eram deles. Ele sugeriu um não retumbante à mudança nas regras do pré-sal, ao aumento da idade mínima para aposentadoria e à prevalência do negociado sobre o legislado, cobrou a taxação das grandes fortunas e o fim das terceirizações. Para ele, as presenças de Marta e Alckmin no evento foi um disparate. “Aqui não é um congresso político partidário, por acaso, construir alternativas é apoiar o Temer e Alckmin?”, disparou o presidente da Pesada.

STINPAN – Sindicato dos Trabalhadores nas

Indústrias de Panificação, Confeitaria, Doceria, Delikatessen, Fabricação de Confeitos, Bolos e Tortas, Doces e Salgados e de Produtos de Panificação Congelados, de Produtos de Cacau e Balas, de Torrefação e Moagem de Café, de Café Solúvel, de Produtos Dietéticos, Nutricionais e Macrobióticos e Similares.

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