Isabella Haddad orientada por Julio Luiz Vieira
ZOO XXI: APRENDER PARA EVOLUIR Uma investigação sobre as mudanças geradas nos zoológicos devido à novas preocupações socioambientais do novo milênio.
Trabalho de Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo 2018
Temos a base dupla e presente- a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações. Oswald de Andrade
AGRADECIMENTOS
Agradeço à todos aqueles que me acompanharam e fizeram parte de alguma forma nesses 6 anos de faculdade. À minha família, pelo carinho e cuidado. À minha mãe pelo apoio e suporte, proporcionando sempre uma boa educação. Aos professores, que compartilham seus conhecimentos dentro e fora da sala, criando um ambiente universitário de aprendizados constantes. À todos os mestres que me ensinaram ao longo desses anos, vocês ficarão na memória e no coração. Em especial ao professores que me acompanharam e auxiliaram no desenvolvimento desse trabalho. Ao querido professor Guilherme Motta, pelas orientações e conversas sempre agradáveis. Ao caro professor Julio Vieira, pelas instruções e questionamentos. Aos amigos e colegas, com os quias compartilhei bons momentos. Obrigada pela companhia e amizade ao longo desses anos. Por fim à todos aqueles que acreditam em um mundo melhor e que encontrem nesse trabalho, uma singela contribuição.
The concern around environmental issues has become part of the general knowledge, making society increasingly aware and informed about nature and the planet. This has profoundly altered the meanings and perspectives of zoos. The present work seeks to learn with the evolution of the zoos, understanding their origins as well as their re signification in this new century. Theoretical research along together with visits to the parks aims to the understanding of how have zoos changed in this period, especially in relation to their architecture. As a way to deepen the work, a Brazilian park was chosen in a way that could serve as the basis for the development of a model park. It is imagined that this zoo may serve as a national figure in the future, and therefore, must be developed accordingly to contemporary models and theories. Only by understanding the importance of the environment, as well as the institutions that protect it, can we evolve with a conscious society.
ABSTRACT
A crescente preocupação com meio ambiente passaram a fazer parte do conhecimento geral, tornando a sociedade cada vez mais consciente e informada sobre a natureza e o planeta. Isso acaba por alterar profundamente os significados e perspectivas dos zoológicos. O presente trabalho procura aprender com a evolução dos parques zoológicos, compreendendo suas origens e sua ressignificação nesse novo século. A pesquisa teórica junto as visitas realizada à parques tem como objetivo compreender como os zoológicos mudaram nesse período, especialmente em relação à seus aspectos físicos, ou seja, sua arquitetura, Como forma de aprofundar o trabalho, escolheu-se um parque brasileiro que pudesse servir base para o desenvolvimento de um parque modelo. Imaginase que este zoológico possa servir futuramente como modelo nacional, e deve portanto ser desenvolvidos conformes contemporâneos. Apenas ao entender a importância do meio ambiente e das instituições que primam por ele, poderemos evoluir com uma sociedade consciente.
RESUMO
01
INTRODUÇÃO 15
03
CONCEITOS 31
02
ORIGENS 21
04
MODELOS 45
05
07
NACIONAL 85
CONSIDERAÇÕES 183
06
PROPOSTA 115
08
BIBLIOGRAFIA
187
SUMÁRIO
01
˜
˜ INTRODUCAO
Atualmente as preocupações com o meio ambiente, ecologia e sustentabilidade estão sendo largamente discutidas, ampliadas e difundidas como nunca antes na história. Essa conscientização passou a fazer parte do conhecimento geral, tornando a sociedade cada vez mais atenta e informada sobre a natureza e o planeta. Discussões como o aquecimento global e extinção de espécies são temas altamente importantes, que não são mais ignorados por grande parte da população. Como Rogers (2001) considera, o aumento da conscientização ecológica junto ao aumento das tecnologias das comunicações são fatores essenciais que possibilitarão a harmonia da humanidade com seu meio ambiente.
16 | INTRODUCAO
Imagina-se que em função dessa temática atual, grandes mudanças ocorrerão nas próximas décadas. Nesse contexto, novos programas e instituições serão necessárias, enquanto outras ficarão no passado, e ainda haverá aquelas que se transformarão diante desses novos princípios.
Os zoológicos encontram-se dentro das instituições que já estão passando por mudanças profundadas, deixando de ter sua importância como locais de exibição de espécies exóticas, e passando a serem pontos de preservação e educação sobre animais e seu meio ambiente. Mesmo que ocorram mudanças, ainda há polêmicas que envolvem os zoológicos, onde questiona-se o aprisionamento dos animais em contraponto à sua existência no meio ambiente natural. Deve-se considerar que os zoológicos atualmente são instituições mundiais, que primam pela preservação e conservação dos animais e suas espécies do melhor modo possível, servindo também como local de pesquisa, educação, conscientização e divulgação de conhecimentos sobre os animais Os parques atualmente buscam refletir valores de ecologia e sustentabilidade, tanto em sua concepção como em sua construção. A propagação dessas ideias
Esse novo conceito de zoológico insere-se como algo fundamental para a proteção e conscientização ambiental, mas que em muitos casos ainda estão longe de seus propósito. Considerando que essa mudança de pensamento ocorreu fundamentalmente na virada do século, são poucos os zoológicos que possuem os investimentos e a vontade de alterar suas exibições (HENKE, 2000). Assim, muitos zoológicos não passam pelas transformações necessárias, gerando um problema cíclico de degradação onde cada vez mais atrai-se
menos visitantes e cada vez mais as condições dos animais tornam-se mais precária. Portanto torna-se cada vez mais urgente a instalação de parques que condizem com os preceitos mais contemporâneos de zoológicos. Dessa forma será possível aumentar a conscientização da população em relação à importância da existência de instituições que prezem pela proteção ambiental. Dessa forma, a temática desenvolvida foram os zoológicos do século XXI, e sua análise e compreensão em função das alterações causados devido à novos princípios ecológicos e ambientais. Ao longo do trabalho busca compreender e analisar teorias e modelos contemporâneos de zoológicos, de modo a entender princípios e conceitos que os diferencie de outros períodos. Para isso, empenhouse na compreensão de várias questões teóricas e especulativas do tema
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altera também as expectativas vindas dos visitantes. Esses por sua vez esperam encontrar aspectos e soluções que condizem com as preocupações em relação aos animais e meio ambiente. As novas áreas destinadas aos animais devem ser amplas e abertas, além de simularem o habitat natural dos animais, permitindoos viver com maior liberdade e privacidade. Outras preocupações ambientais, como a geração e consumo de energia, também são um aspectos essenciais dentro desses contexto.
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Pretende-se então ao longo da pesquisa averiguar se devido aos debates dessa natureza torna-se necessário adaptar e transformar os zoológicos de acordo com novos padrões, tanto em seus aspectos ideológicos como físicos, ou seja, sua própria arquitetura.
preceitos atuais, como naqueles que encontram-se desatualizados. Isso permitiu perceber a qualidade de ambos os modelos, além de avaliar as mudanças que ocorreram nos parques em função dos novos preceitos desenvolvidos nas últimas décadas.
Como forma de compreender melhor como esse novo zoológicos estão sendo concebidos e difundidos, estudou-se inicialmente o histórico da instituição, além de teorias e conceitos relacionados aos zoológicos atualmente. Ainda que sejam poucos os autores que tratam dessa temática, uniu-se conteúdos principais como forma de criar diretrizes e pensamentos gerais.
O trabalho inicia através de uma pesquisa história, que busca compreender a relação entre homem e animais ao longo do tempo. Partindo das civilizações antigas, explora-se o desenvolvimento do aprisionamento de animais ao longo dos séculos. Assim é possível entender as origens e ideologias que acompanharam os zoológicos desde sua origem e ao longo de sua evolução, a fim de compreender as razões de ser dos zoológicos.
A visita e análise de zoológicos, serviu como forma de verificar os conceitos teóricos na prática. A visitação foi de grande importância, visto que os zoológicos dependem muito de sua ambientação, algo que é melhor compreendido no local. Nesse sentido, foram feitas visitas tanto em parques que condizem com os
Em seguida, o segundo capítulo foca nas discussão vigentes dos zoológicos contemporâneo, destacando conceitos e modelos atuais. Partindo da mudança conceitual em relação ao meio ambiente, novos padrões foram criados, visando principalmente integrar à natureza aos animais.
É fundamental examinar parques desenvolvidos sob esse novo olhar, como forma de compreender melhor os aspectos teóricos na prática. Para isso, selecionou-se três zoológicos distintos, onde cada qual foi estudo a fundo. Dessa forma, foi possível averiguar fatores que tem êxito, e aqueles que ainda podem ser aprimorados. O quinto capítulo trata sobre os zoológicos brasileiros, e como dentre os poucos existente, o Zoológico de São Paulo apresenta-se como um dos principais modelos. Sua seleção como caso a ser estudado a fundo tem como intuito verificar-se se as novas tendências mundiais repercutem ou não no parque, chegam a causar intervenções ou não. Para isso, a segunda parte do capítulo trata de aspectos do parque, desde sua fundação em 1958 até sua situação atual.
ambiente que seja mais apropriado para os animais, de modo que haja mais respeito em seus habitats, condições climáticas e território. Consequentemente isso sofistica e engrandece a experiência dos visitantes. Deve-se buscar por soluções que deixem de exibir animais como objetos e passem a apresentação dos animais, além de acomodar programas complementares como o resgate e reabilitação de animais. De modo geral, o presente trabalho estuda a origem e aplicação dessas nova temáticas ambiental, relacionando-a aos jardins zoológicos. Entender a evolução no modelo de zoológicos reflete, de certa forma, como nossa sociedade é capaz de evoluir em relação ao próprio mundo que habita.
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Finalmente, partindo do Zoológico de São Paulo, bucou adequá-lo, para que seja capaz de se aplicar e transmitir os valores atuais de conservação e conscientização da flora e fauna. Ao propor mudanças procura-se criar um
02
ORIGENS
ORIGENS A relação entre homens e animais vem desde muito cedo na história da humanidade. Para entender a importância dos zoológicos atualmente é imprescindível considerar a evolução dessa relação ao longo da história.
MUNDO ANTIGO A civilização egípcia, que data de 3.000AC, já possuía animais selvagens aprisionados. Isso pode ser constatado através de uma ilustração presente em uma tumba com mais de 4.000 anos. A religião egípcia era Antropomórfica, ou seja, os Deuses possuíam forma humana e animal ao mesmo tempo. Um exemplo mais conhecido é o deus da morte Anúbis, que possui corpo humano e cabeça Canina. Desse modo uma extraordinária gama de animais foi considerada sagrada em diferentes lugares do Egito. Alguns animais eram inclusive mantidos como representantes divinos, possuindo cuidados e atenção especiais. Outros animais mais sagrados eram mantidos em semiliberdade, para que não perdessem seu instinto e anatomia selvagem.
22 | ORIGENS
Na Mesopotâmia há também evidências que a existência de um zoológico com grandes carnívoros, como leões. Acredita-se portanto comum na sociedade desse período ofertar como forma de tributos ou presentes.
indicam animais que era animais
A Grécia antiga é outra civilização que admirava os animais, principalmente as aves. Muitas viviam soltas
Figura 01: julgamento dos mortos em frente aos deuses Fonte: Britsh museum, 2018
em grandes parques, como gansos e patos. Outras eram treinadas e mantidas em menagerie01, como águias. A grande parte dos pássaros, principalmente os de canto, eram mantidos em completa liberdade, sendo apenas admirados à distância. No império Romano, século I AC, a admiração por animais selvagens sempre fez parte da cultura popular, onde era comum observar os animais de vários 01 Palavra francesa para designar uma coleção particular de animais vivos em cativeiro, geralmente selvagens e exóticos
IDADE MÉDIA Durante o período medieval europeu, grande parte dos animais selvagens eram propriedades de reis e alguns nobres. Estes eram mantidos ou em parques privados ou em menageries. Em várias cortes era comum haver macacos e outros primatas vestidos e acorrentados. Na França, o rei Felipe VI mantinha uma grande coleção de animais, incluindo leões e leopardos, dentro do Palácio do Louvre. Inclusive o Vaticano possuía uma coleção particular de animais, que foi expandida no final do século XV.
modos, seja fazendo truques ensinados ou em demonstrações públicas. No entanto, a relação desenvolvida com animais exóticos era baseada principalmente no fascínio dos instintos selvagens Apesar de não existir um modelo claro de zoológico na Roma antiga, o Coliseu romano serviu como uma mistura de zoológico e circo. Lá as espécies selvagens eram usadas para shows, combates e outros entretenimentos público, com o objetivo final sempre de matar o oponente.
Figura 03: Hernan Cortes encontram Moctezuma II in Tenochtitlan em 1519 (c.1890) Fonte: Wikipedia, 2018
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Figura 02: mosaico retrata batalha de animais como entretenimento Fonte: wikipedia, 2018
Com a descoberta do continente americano no século XVI, uma nova gama de fauna e flora foi descoberta. No México, Hermán Cortes encontrou na capital Asteca um zoológico como nada antes visto: jaulas com barras de bronze abrigavam pumas e jaguares. Isso confirmava que o interesse humano por animais vinha de múltiplas culturas. Ao retornarem à Europa, os exploradores começaram a replicar tal modelo em parques europeus.
ILUMINISMO Com o iluminismo e a Revolução Francesa no século XVIII, houveram grandes mudanças na sociedade europeia. Ao retirar o poder da realeza, as coleções de animais ficaram mais acessíveis. Nas menageries os animais eram observados ainda com curiosidade e admiração, focando então nos espectadores e não nas necessidades dos animais.
Figura 04: Parte traseira da Menagerie de Versailles durante o reinado de Luis XIV (1843-1715) Fonte: Wikipedia, 2018
No entanto, uma abordagem diferenciada foi iniciada no Jardin des Plantes, formado com animais vindos principalmente da antiga menagerie de Versailles. Seu diferencial foi em relação à sua concepção como uma coleção de valor científico, sendo assim, o antecessor dos modelos atuais de jardins zoológicos.
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A democratização europeia junto à acensão da industrialização permitiu o surgimento do zoológico considerado moderno: um local onde animais exóticos poderiam ser estudados isolados e em relação com o meio ambiente. Simultaneamente, o crescimento acelerado nos maiores centros urbanos resultou paradoxalmente na preservação de parques e áreas verdes, e os zoológicos entraram dentro desse contexto. Ainda que haja certa discordância sobre o primeiro zoológico criado sob os moldes considerados modernos, alguns merecem destaque. O Tiergarten Schönbrunn é
Figura 05: Pavilhão Central do Tiergarten Schönbrunn atualmente Fonte: Tiergarten Schönbrunn
Figura 06: Lhamas no Zoológico de Londores em 1835 Fonte: ZSL
atualmente o zoológico mais antigo operante no mundo todo. Em 1752 foi construído próximo ao Castelo de Schönbrunn, com o propósito de abrigar uma menagerie imperial. Também se destaca o Jardins des Plantes, inaugurado em 1793 na França, como já mencionado. Por fim, o zoológico de Londres se mantém aberto ao público desde 1828, dois anos após a formação da ZSL01. Outras experiências desse período que ainda permanecem relevantes são o zoológico de Berlim e Rotterdam, inaugurados em 1844 e 1857 respectivamente.
Figura 07: Cartão Postal do Tierpark Steillingen anunciando o sistema sem grades em 1907 Fonte: Wikipedia
MODERNIDADE
Carl Hageneck (1944-1913) sugeriu exibir animais em um ambiente mais natural, sem barras, separando os animais do público por fossos. Em 1907 foi inaugurado, em Stellingen, à norte de Hamburg, o primeiro zoológico sem grades do mundo. Isso permitiu que presas e predadores fossem exibidos de modo que parecessem juntos, possibilitando assim que os vistantes visualizassem a interação entre animais. A captura de animais selvagens na natureza passou a ficar cada vez mais difícil, o que fez com que fosse dada 01 Em inglês a sigla corresponde a Zoological Society of Londres, ou seja, Sociedade Zoológica de Londres
mais atenção aos animais já capturados, para que não adoecessem nem morressem. Isso ocorreu principalmente após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950. Dr. Heini Hediger, diretor do Zoológico Suíço de Zurich entre 1954 e 1973, foi de grande influência nesse período por ser um dos primeiros a sugerir mudanças no design dos zoológicos. Ele propunha que os zoológicos se adequassem para dar continuidade aos aspectos físicos e psicológicos da natureza dos animais dentro dos zoológicos. A década de 1970 foi um momento de grande difusão de ideias a respeito do tratamento de animais nos zoológicos. A Associação de Zoos e Aquários (Association of Zoos and Aquariums-
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No início do século XX haviam inúmeros zoológicos ao redor do mundo. No entanto, ainda haviam problemas nas instalações, além de que pouco valor era dado em relação à educação dos visitantes. Os animais eram tratados sem grande atenção, com jaulas e espaços restritos e sem ambientação.
AZA) foi criada para monitorar os padrões de zoológicos ao redor do mundo. Os zoológicos começaram a cooperar entre si de vários modos, não só com trocas de animais mas também com pesquisas conjuntas. Os departamentos de educação e pesquisa dentro dos zoológicos também passaram a ter maior importância. A abordagem de imersão foi apresentada em Woodland Park Zoo, Seattle, em 1978. David Hancocks inovou com a nova exposição dos gorilas, onde os animais foram inseridos em um espaço ambientado, trazendo os visitantes para dentro do habitat do animal. O que caracteriza esse modelo são os recintos, que procuram simular cenários reais para que os animais sintam-se mais à vontade e possam ter comportamentos naturais. Além disso as barreiras são sempre ocultas ou camufladas, com exceção de momentos quando esta apresenta-se exposta propositalmente, como em locais com vidros. A partir de então, os zoológicos adotaram esse modelo como padrão, ampliando e enriquecendo as antigas jaulas.
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Os efeitos positivos de tal abordagem podem ser vistos tanto no comportamento dos animais, como também do público. Dentre os vários motivos para que isso ocorra, está o fator surpresa e a proximidade, além dos estímulos dos sentidos. Isso contribui em grande parte para uma nova discussão sobre a abordagem que deveria ser feita nos zoológicos, tanto sob o ponto de vista dos animais quanto dos visitantes.
Figura 08: David Hancocks em frente ao novo recinto dos Gorilla em Woodland Park Fonte: ZOO SHARE 2018
BRASIL
Foi então com o início tardio da industrialização no país, em especial na região sudeste, que novos preceitos de civilização passaram a ser discutidos na então capital do país, Rio de Janeiro. Nesse período, muitas cidades foram palco de intensas mudanças e intervenções urbanas no início do século XX, em especial sob a presidência de Rodrigues Alves. O intuito dessas mudanças era criar uma imagem de cidade modernizada, além de sanar problemas de saúde pública.
a concentração de tais instituições no sudeste, reflexo claro da concentração de capital e avanços sociais presente nessa área Fatores que podem ter atrasado o desenvolvimento de tais instituições no país podem ser a falta de sucesso nos primeiros empreendimentos, além das várias crises políticas. A falta de uma organização que conduzisse tais instituições pode também ser um fator agregante, visto que simultâneo à criação da Sociedade de Zoológicos Brasileiros em 1977 houve um aumento significativo de zoológicos no país. Esse alarmante boom dado no final da década de 1970 demonstra claramente que apesar dos desejos de modernizar o Brasil desde a época imperial, isso só foi possível a partir do século XX.
As instituições culturais ganharam destaque nesse contexto, buscando refletir e expor a cultura e sociedade do país. A reforma Pereira Passos, no Rio de Janeiro, consolidou instituições relevantes até hoje, como o Theatro Municipal, inaugurado em 1909. Em São Paulo importantes obras também foram construídas no centro da cidade, como o Viaduto do Chá e o Theatro Municipal, em 1882 e 1911 respectivamente.
Ainda hoje, os principais Jardins Zoológicos do Brasil se encontram nos maiores centros urbanos. Dentre os que situa-se nas capitais, se sobressaem o do Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília. Existem ainda cidades do interior que abrigam zoológicos populares, como é o caso de Sorocaba e Ilha Solteira, ambos no Estado de São Paulo.
Dentro desse cenário de novas instituições culturais entram os zoológicos brasileiros. Mesmo com os esforços de modernização do país, a análise feita em relação aos zoológicos brasileiros por ELLIS (2001), demonstra que os resultados nem sempre foram satisfatórios. Em seus estudos destaca-se a distribuição de museus, parques e zoológicos nas regiões do Brasil, onde fica discrepante
Infelizmente, a documentação sobre os zoológicos no país é escassa, visto que muitas vezes não é escrita, publicada ou até mesmo encontrada, impedindo que se compreenda seus problemas à fundo ELLIS (2001). Simultaneamente essa escassez de documentos reflete problemas institucionais como falta de organização, de condições econômicas, entre outros aspectos.
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Desde seu descobrimento, o Brasil tem sua história marcada pela exploração de suas riquezas naturais. Isso se reflete inclusive nos períodos econômicos brasileiros, principalmente até meados do século XIX.
EXPERIÊNCIAS INAUGURAIS Apesar de não localizado no Brasil, o primeiro grande exemplo de zoológico que serviu aos brasileiros foi o Zoológico de Lisboa, inaugurado em 1884. Esse era amplamente divulgado e discutido em meio a imprensa da época. Em 1883, Ramalho Ortigão01 elogia em um artigo a comissão eleita para o projeto, além de ressaltar o carácter educativo e a concretização de um ideal de civilidade e urbanidade. No entanto, os anos seguintes não foram tao saudosos. Algumas das críticas feitas foram a falta de diversidade de animais e a falta de capacidade administrativa da instituição, resultando na queda do número de visitantes. O que apareceu inicialmente ser um empreendimento de sucesso, resultou em um fracasso que melhor seria se esquecido. Outro Zoológico essencial dentro do contexto Brasileiro foi o Zoológico do Rio de Janeiro. Interessou-se por tal empreendimento João Batista Drummond, que com a autorização do Império, deu início a construção em 1884. Dentre as principais condições impostas pelo governo estavam a presença do maior número e variedade animais possível e da distribuição dos animais “de acordo com a melhor classificação, guardando no tratamento as prescrições higiênicas aconselhadas pela ciência”(MAGALHÃES, 2011 apud PESSOA 2015).
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Após 4 anos em construção foi inaugurado em Janeiro de 1888. A setorização dos animais ocorria entre 01 Ramalho Ortigão foi um escritor português do final do século XIX, reconhecido por sua obra As Farpas.
Figura 09: Entrada do Parque em 1905 Fonte: Restos de Coleção
Figura 10: Gravura do Jardim Zoológico de Lisboa em 1884 Fonte: Restos de Coleção
ferozes e pacíficos. Muitos vinham de circo ou haviam sido capturados na natureza. Inicialmente foi muito bem aclamado, inclusive no exterior.
Figura 12: Gravura retrata a ambientação do parque Fonte: Diário do Rio
Ambos os casos do final do século XIX serviram como exemplos negativos para o desenvolvimento de outros zoológicos em todo o Brasil. Apesar das condicionantes básicas estarem presentes em abundância, como animais, mata e disponibilidade de terreno, tamanho foi o fracasso das experiências do Rio de Janeiro e em Lisboa que serviram como desestimuladores para a criação de novos parques no país. 29 | ORIGENS
Figura 11: Portões de acesso do Zoológico de Vila Isabel Fonte: Diário do Rio
No entanto, com o fim do período Imperial e início da República, acabou-se os investimentos públicos no parque. Como a arrecadação dos ingressos não era suficiente para a manutenção, o Barão de Drummond solicitou em 1890 que fosse possível explorar jogos lícitos dentro do Zoológico. Assim nasceu o Jogo do Bicho, um jogo de azar que se tornou popular. A partir de então o zoológico passou a ser visto como local de apostas, e não mais como um parque ou local de entretenimento familiar. Tamanha foi a degradação causada, que as próprias autoridades cariocas investigaram o caso, resultando no fim do jogo no zoológico. Com a falta de verba adequada para a manutenção dos animais e do parque, este foi revendido e passou por crises suscetivas até que foi encerrado na década de 40.
03
CONCEITOS
˜
˜ NOVAS CONVENCOES Na segunda metade do século XX, a aproximação do novo milênio despertou discussões que tratavam do futuro da sociedade. Diversos movimentos sociais e culturais questionaram os valores e problemas desvendando as enfermidades de nossa sociedade. Nesse contexto de indagação do mundo, a questão ambiental apareceu e ganhou força. Iniciada como uma crítica ao crescimento inconsequente da sociedade capitalista, o movimento foi impulsionado pelos diversos relatórios alarmantes sobre o curso que a sociedade estava seguindo. Aos poucos, a ideia do ser humano como uma criatura inserida em um contexto mais amplo, dependente de múltiplos recursos ambientais, passou a ser difundida em todo o mundo. Assim, em 1972 ocorreu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecido com Conferência de Estocolmo. Esta foi a primeira grande reunião organizada pela ONU01, na qual surgiu a discussão sobre a importância da preservação ambiental, e futuramente, do desenvolvimento sustentável. Desde então, a cada 20 anos uma nova conferência ambiental é realizada, como foi o caso da Eco-92 e, mais recentemente, do Rio +20.
32 | CONCEITOS
Dentre desse cenário ambiental, os zoológicos e aquários tiveram que reconsiderar suas ações, de modo 01 Criada em 1945, a Organização das Nações Unidas promove a cooperação internacional intergovernamental.
a se enquadrarem aos novos conceitos. Esse foi um momento marcante, onde pela primeira vez os zoológicos considerassem suas propostas de forma conjunta, unindo forças para a preservação e conservação de espécies. Em 1993, a WAZA02 (Associação Mundial de Zoológicos de Aquários) publicou sua estratégica de conservação, um documento que articulava o papel dos zoológicos e aquários do mundo todo pelos próximos anos. Pela primeira vez os zoológicos se uniram como uma entidade mundial em busca da conservação e preservação da fauna e flora do planeta. Ainda que já se tenham passado algumas décadas, a situação do planeta não melhorou como esperado. O momento ainda é crítico, e os zoológicos e aquários com a função de conservação e educação são atualmente mais importantes do que nunca. A percepção que temos sobre o meio ambiente reflete a qualidade ambiental que desejamos, isto é, apenas através da conscientização poderemos enfrentar a degradação ambiental (CASTELO, 1996 apud ARAGÃO, 2013).
02 A WAZA tem como objetivos principal promover a cooperação entre zoológicos e aquários em relação à conservação, gestão e criação de animais, de modo internacional, além de promover a educação ambiental, a conservação da vida selvagem e a pesquisa ambiental.
OBJETIVOS
Dessa forma, com a discussão ambiental como cerne dos principais problemas do século XXI, os zoológicos se adaptaram, tornando-se uma saída para a proteção da natureza. A WAZA, estabelece 11 princípios com os quais os zoológicos devem-se comprometer. Os principais pontos, que são de comum acordo, inclusive com muitos teóricos, são: conservação da natureza, realização de pesquisas e educação ambiental.01 A WAZA (2005) considera que os zoológicos, aquários e jardins botânicos, compõe uma gama reduzida de instituições capazes de agir em todo o espectro de conservação ambiental. Essas entidades atuam desde criação ex-situ de espécies, até sua reinserção in-situ. 01 Em 1977 na Conferência de Tbilisi , Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para proporcionar a todas as pessoas (...) protegerem e melhorarem o meio ambiente (ARAGÃO 2005)
Essas instituições podem ter impacto em seus visitantes, que por sua vez são capazes de influenciar políticas públicas, as quais afetam diretamente a conservação do planeta. (MARINO 2008, apud ARAGÃO, 2013) Ademas, os zoológicos possuem um grande audiência02, a qual pode ser influenciada e educada à respeito da proteção do planeta. Como Maganini (aragão apud maganini) reconhece, o interesse sobre o meio ambiental aumenta o cuidado e reconhecimento da fauna e flora silvestre. Os zoológicos não são apenas de grande importância para os animais e o planeta, mas também para seus visitantes. Cada vez mais a maior parte da população que vive nas cidades, e o contato com a natureza torna-se raro. Os zoológicos, de modo geral, apresentamse como um local de contato e aprendizado com a natureza em um meio urbano de forma que poucas outras instituições são capazes.
02 Segundo a WAZA, cerca de 700 milhões de pessoas visitam os zoológicos credenciados por ano.
33 | CONCEITOS
Como HANCOCKS (2012) coloca, os avanços vistos no zoológico ao longo de sua história são sempre reflexos da sociedade em que estão inseridos.
TEORIAS PRINCÍPIOS Pouco são os autores que tratam sobre as soluções de design dos zoológicos contemporâneos. Nesse contexto, Jon Coe aparece como a principal figura responsável pela divulgação das soluções mais atuais. Para ele, uma das principais questões que deve ser trata ao longo do parque inteiro é a mensagem transmitida ao público. Sempre que nos encontramos em um ambiente, o contexto nos transmite algum tipo de informação, consciente ou inconscientemente. Nesse sentido, todos os elementos presentes no parque são capazes de sensibilizar os visitantes, e devem portante ser examinados e aproveitados transmitir algum tipo de informação. Dessa forma COE (1987) classifica as abordagens no zoológico em duas principais categorias, que em si refletem muito as mudanças ocorridas nos parques nos últimos 50 anos. A primeira considerada Homocêntrica, coloca o humano como dominante do espaço. Esse é o modelo mais comum nos zoológicos, onde os animais são muitas vezes exibidos em edifícios ou jardins rodeados por observadores e cuidadores, de modo à apresentar o animal como algo sem razão existencial além do entretenimento. A segunda abordagem é classificado como Biocêntrica, onde o foco passa a ser os animais, os quais estão inseridos em um meio mais natural. Dessa forma, a prioridade é dada à educação dos visitantes, possível através da observação velada.
34 | CONCEITOS
Desde o final do século XX, tem-se uma inclinação no uso da concepção Biocêntrica, ou seja, o foco principal é dado aos animais. Dentro dessa situação, a principal tendência que vem sendo recorrente nos zoológicos é a abordagem imersiva, que pode ser caracterizada sob dois aspectos
IMERSÃO NATURAL A proposta nesse contexto é inserir os animais em ambientes adequados, tratando-os como parte da natureza: competentes, independentes e respeitados. Para alcançar resultados satisfatório sob essa ótica, Coe propões alguns fatores são elementares: 1 | Psicologia Aplicada: coloque os animais em uma posição elevada, forçando os vistantes à olharem para cima.
Figura 13: Elefantes em ambiente similar à seu habitat natural. BioParc Valencia Fonte: Própria
2 | Vistas: a linha de visão deve ser pensada cuidadosamente, considerando os elementos que serão vistos e aqueles que deverão ser ocultos, além dos pontos de visão. As vistas não são nem estáticas nem bidimensionais, isto é, os visitantes de movem e as vistas são resultado de uma paisagem tridimensional em movimento e devem evitar a visualização completa do recinto de um só local. 3 | Barreiras: criam não apenas uma separação física entre pessoas e animais, mas também uma barreira emocional caso estas não estejam devidamente ocultada.
Figura 14: Recinto com elementos nativos ao Urso Panda. Zoo Copenhagen Fonte: BIG
Trata-se de envolver os visitantes em uma paisagem cultural simulada através de diversos elementos, como arquiteturas e vegetações. Pode-se não apenas representar uma cultura tradicional, mas também laboratórios científicos e observatórios submarinos. Com esse modelo, é possível transmitir uma conexão entre o contexto cultural e os animais exibidos, de modo e reforçar a relação entre elementos diversos. Figura 15: Cenário auxilia na introdução da temática asiática. Zoo Leipzig Fonte: Própria
35 | CONCEITOS
IMERSÃO CULTURAL
CATEGORIAS Dentro da tendência de intervenções inovadoras nos zoológicos ao redor mundo, surgiram algumas soluções únicas, que apesar de diferirem das abordagens tradicionais de zoológicos, merecem atenção devido aos aspectos novos que apresentam.
ZOO-ENTRETENIMENTO O modelo alia entretenimento e animais para garantir satisfação do público. COE (2012) considera esse um modelo a ser desenvolvimento em países em desenvolvimento, visto que possuem características ideias, como clima apropriado e interesse em grandes empreendimentos. O Disney Animal Kingdom, pode ser considerado um dos mais promissores dessa categoria. Figura 16: Safari uma das atividades do Disney Animal Kingdom Fonte: WAZA
36 | CONCEITOS
BIG ARCHITECTURE Representa a alternativa pós-imersão para os zoológicos. São desenvolvidos muitas vezes por arquitetos generalistas, ou seja, com pouca experiência em parques desse gêneros. Esses projetos são recorrentes em zoológicos urbanos europeus, onde os projetos são selecionados a partir de concursos, que são julgados por equipes internas e não por designers especialistas. Figura 17: Welt der Vogel abriga aves do mundo todo. Zoo Berlin Fonte: WAZA
SUPER ESTRUTURAS
Figura 18: Hipopótamos localizados dentro de estufa. Zoo Berlim Fonte: Zoo Berlim
São grandes estufas, que buscam recriar ambientes quentes e úmidos para os animais, principalmente para o períodos de inverno. Esse modelo apesar de parecer ecológico, acaba por consumir muita energia e ter altos gastos. Muitos parques atualmente comportam esse modelo dentro de seu programa, como forma de abrigar animais exóticos.
DESIGN VERDE Considera-se que não bastam grandes mudanças nos zoológicos, se essas forem apenas visuais. É fundamental a atenção com sua pegada ambiental01. Isso inclui atitudes como reciclagem de lixo, uso de materiais orgânico, plantio próprio, e outras atitudes.
Figura 19: California Academy of Science conta com selo Prata de sustentabilidade Fonte: Ray Explores
01 Segunda a WWF, avalia-se a relação entre o consumo humano sobre os recursos naturais
Nessa proposta, a alta tecnologia pode ser aplicada desde um aplicativo até a simulação com Realidade Virtual, transportando os visitantes à natureza. Poucos creem em tal modelo, pois como RASBACH (2016) analisa “nada pode substituir a experiência do olho a olho com outro ser; ouvir, cheirar, observar e até tocar”, ou seja, a tecnologia não pode se sobrepor à uma experiência sensorial real. Figura 20: Animais virtuais permitem aproximação do público Fonte: Mother Nature Network
37 | CONCEITOS
TECHNO ZOO
ZOO DESIGN Ainda que as arquiteturas de zoológicos tenha avançado muito nas últimas décadas, ainda são poucos os profissionais que se dedicam na difusão desses conteúdos (COE 2011). Especialistas na área são raros e centralizados na América do Norte e Europa, fazendo com que os avanços sejam lentos e pontuais. Essa concentração, agregada a falta de autores relacionados à temática, reduz as fontes a poucos textos e livros que abordam a questão de planejamento e concepção dos zoológicos. No entanto, sabe-de que as exposições devem ser projetadas de maneira que produza resultados mensuráveis e específicos (JONES, 1986, apud Gewaily 2010)., para eventual avaliação posterior. Isso implica no estabelecimento de metas e objetivos para o parque logo no início do processo.
38 | CONCEITOS
Ainda que o desenvolvimento de um zoológico seja um projeto extenso e com uma multiplicidade de fatores, considerouse alguns pontos centrais discorridos pelos principais profissionais da área. Dessa forma determinou-se princípios e diretrizes gerais para os zoológicos contemporâneos.
MASTERPLAN Na reformulação de um zoológico existente, assim como na criação de um novo parque, o primeiro passo é a criação de um Masterplan completo. Nos últimos anos, o Masterplan para um zoológico progrediu de forma com que atualmente contemple aspectos como a gestão, receita, educação e preservação, devido principalmente às mudanças que essas instituições passaram nas últimas décadas (GUPTA 2008). O plano diretor do zoológico atualmente deve ser um documento que organiza a instituição além de seus aspectos espaciais, para um plano que lida com questões de gestão, manutenção, geração de receita, educação e conservação da vida selvagem, de modo a orientar o crescimento e controlar o resultado final. Na maioria dos casos, o plano é criado para zoológicos já existentes que procuram reorganizar a instituição de modo físico e ideológico. Dentro da parte física do Masterplan deve contar áreas de exposição, caminhos, edifícios de apoio, além de outros usos destinado ao público. O plano geralmente é organizado em áreas temáticas, ou seja, o parque é dividido em zonas taxonômicas, geográficas ou bioclimáticas, além dos programas adicionais(COE; GUPTA 2006). Para o desenvolvimento do planejamento
RECINTOS
Alguns dos principais aspectos que devem ser considerados ao longo do Masterplan, em relação aos visitantes, são uma ideologia a ser transmitida, a circulação e acessibilidade universal, instalações complementares para os visitantes, como pavilhões e locais de descanso. Sob o ponto de vista operacional, deve-se atentar à legislação do local, o modo operacional do parque, a localização e o bem-estar dos animais. De forma geral, a criação de um masterplan é resultado de inúmeras variantes e desenvolvido por uma vasta equipe. O desenvolvimento é complexo e multifacetado, passa por diversas fases e muitas vezes é revistos várias vezes ao longo do processo. Por isso, muitos parques acabam por ignorar e evitar o desenvolvimento de um novo masterplan para o parque, agindo pontualmente onde necessário, resultando em um programa fragmentado.
Dentro do planejamento do parque, o que tem mais importância é o modo como são pensados e desenvolvidos os recintos dos animais. Esse ainda é um ponto de pouca discussão, visto que os ambientes são tratados caso a caso, uma vez que as variantes são várias, como o local e os animais No entanto, como modo de compreender melhor os aspectos dos recintos, principalmente relacionados à sua arquitetura, estabeleceu-se alguns pontos relacionados aos recintos dos animais, que formam princípios básicos a serem considerados no desenvolvimento do parque. Esses quesitos surgiram a partir da união de propostas e diretrizes discorridas por vários autores ao considerarem os elementos fundamentais na exposição e nos recintos dos animais de zoológicos. Dessa forma esse modelo foi construído como fruto de uma colagem de diversas teorias, como o intuito de criar pontos centrais que permitisse considerar aspectos arquitetônicos dos zoológicos, possibilitando assim uma maior e melhor compreensão e aplicação de certos preceitos. Em seguida foram selecionados quatro pontos principais relacionados às arquiteturas dos recinto.
39 | CONCEITOS
é fundamental a presença de uma equipe multidisciplinar de consultores experientes (COE; GUPTA 2006), como arquitetos, engenheiros, paisagistas, administradores, biólogos, zoólogos, entre outros. Isso reflete a tanto a complexidade como a extensão demandada para um projeto como esse.
AUTENTICIDADE São os aspectos que tratam da semelhança do recinto em relação ao habitat natural do animal. Pode ser considerado como a união de elementos cenográficos dentro e ao redor do recinto, referindo-se de modo geral ao estilo de exibição que é adotado. Atualmente, opta-se em muitos casos por ambientes que sejam similares à natureza dos animais, estimulando assim comportamento e hábitos naturais. Sob o ponto de vista animal, a autenticidade é fundamental para que se sintam confortáveis e ambientados. O enriquecimento do ambiente surge como uma solução para aumentar e estimular comportamentos naturais, o que é um dos pontos essenciais para o bem estar animal (YOUNG, 2003 apud ARAGÃO, 2013).
Figura 21: Alimentação dos chipanzés ocorre por entre as árvores. BioParc Valencia Fonte: Zoo Leipzig
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Por ser a primeira impressão que os visitantes tem do local é de grande importância e deve impactálos, de modo a sentirem transmitidos ao habitat do animal. Ademas é uma oportunidade de apresentar “as características das zonas de paisagem” aos visitantes (DRECKER, 1992 apud GEWAILY, 2010). É resultado de alguns fatores constantes, ou seja, alguns de seus elementos não podem ser alterados e devem ser pensados ao longo do projeto, enquanto outros quesitos são de maior flexibilidade. Dentre os fatores constantes pode-se considerar condicionantes locais do projeto, como o clima de maneira geral, além do entorno imediato. Isso pode afetar tanto no comportamento animal, quanto na vegetação utilizada.
Figura 22: Savana africana composta por vegetação árida. Bioparc Valencia Fonte: Zoo Leipzig
CENÁRIO São os elementos visuais que compõe o espaço. De modo geral, constroem a paisagem, através da vegetação, lagos, arquiteturas, iluminação, entre outros. É um fator fundamental para compor a autenticidade, uma vez que seus elementos visuais unidos darão a unidade do conjunto capaz de criá-la.
Figura 23: Cenário portuário compõe recintos da Yukon Bay. Hannover Zoo Fonte: Zoo Leipzig
A vegetação é o principal elemento na cenografia do recinto, uma vez que tem valor além do estético, servindo como substancial aos animais. Como TANANT & NANIN (2008, apud GEWAILY 2010) pondera, é um dos elementos mais importantes para criar a sensação de estar. Utilizar a vegetação adequada é ser autentico ao habitat do animal e ao ambiente do zoológico. Outro elemento importante é o uso da água, que deve sempre que possível ser aproveitada pelos animais. As lagoas e rios artificiais devem ser capazes de agir simultaneamente como barreira e como fonte de água. Além do mais, á água é capaz de proporcionar um sentimento de calma e natureza, através de seu barulho e movimento.
Figura 24: Árvore complementa recinto dos elefantes africanos. Bioparc Valencia Fonte: Zoo Leipzig
É importante também ressaltar a importância de usar elementos regionais sempre que possível, já criando assim um paisagismo sustentável e adaptado.
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Outros elementos que compõe o cenário são mobiliários adjacentes, como bancos e brinquedos. Ainda que externo aos recintos em si, a ambientação imediata também e importante para criar um cenário consistente aos visitantes.
BARREIRA Refere-se aos elementos de separação entre os visitantes e os animais. Devem existir e são muito importante, principalmente por questões de segurança. Idealmente devem ser suaves, de modo a passarem despercebidas. O modelo clássico são as grades, que eram muito utilizadas nos primeiros zoológicos. Entraram em desuso nas últimas décadas, mas ainda ocorrem raramente, especialmente com animais que podem voar. As valas são outro modo de separação, a qual ocorre sem que haja obstrução visual. Estas foram usadas principalmente na segunda metade do século XX, muitas vezes acompanhando uma pequena grade baixa, para evitar que os animais e os visitantes caíssem nela.
Figura 25: Separação ainda permite contato entre animais e visitantes. Zoo Berlim Fonte: Própria
Outras modelos mais modernos são elementos naturais, como riachos e vegetação, que aparentam apenas servir como elementos da paisagem. Camuflados nesses elementos há muitas vezes grades metálicas ou elétricas camufladas.
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Em alguns casos utiliza-se vidros para permitir uma aproximação entre animais e visitantes sem perigo. Ainda que fique marcada como uma barreira física de certa forma, a transparência e proximidade faz dessa umas das opções amplamente utilizada. Há também barreiras que separam os animais, que podem ser semelhantes às que separam os visitantes.
Figura 26: Barreira disfarçada como troncas caídos. BioParc Valencia Fonte: Própria
PERSPECTIVA Compete ao local de onde os animais são observados pelos visitantes. Os pontos principais devem ser estratégicos e permitir boa visualização não apenas dos animais, mas da exibição como um todo. No entanto, como JONES (1982) aponta, os animais devem dominar a exibição, pois são o foco principal. Idealmente ficam claramente marcados, tanto pelo percurso, como por elementos adicionais, como placas e mobiliário. Deve haver poucas obstruções na área de visualização, tanto em relação à vegetação quanto as barreiras. Figura 27: Bancos e cobertura marcam ponto de visualização aos animais. Zoo Leipzig Fonte: Própria
As perspectivas criadas devem ser pensadas cuidadosamente, para que tirar o máximo aproveito da exibição. Deve-se perceber a integração dos elementos inseridos com os animais, além de outros elementos como vegetação.
Figura 28: Perspectiva dá a ilusão de proximidade entre leões e gazelas. BioParc Valencia Fonte: Própria
Considerando que grande parte do público são crianças, deve-se propor soluções para que elas sejam capazes de ver os animais em nível, assim como os adultos. Mobiliários simples como pedras e rampas, ou então aberturas nas partes inferiores, já permitem visibilidade aos pequenos.
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É importante que hajam vários pontos de vista para uma exibição, pois isso possibilita ver o animal de diferentes ângulos, podendo incluir outros animais ao fundo, de modo a encenar interações selvagens. Outro aspecto é fazer com que os visitantes não vejam o recinto inteiro de um único lugar, despertando assim a curiosidade dos visitantes.
04
MODELOS
SELEÇÃO O estudo de jardins zoológicos já consolidados tem como objetivo auxiliar na compreensão e desenvolvimento do trabalho. Através da análise de parques renomados procura-se entender melhor como ocorre a aplicação dos conceitos contemporâneos de zoológicos na prática, em especial relacionados à sua arquitetura. Para isso definiu-se alguns aspectos importantes para serem analisados, como o histórico e programa, de forma a criar uma panorama geral e comparativo sobre cada parque. Os três estudos de caso foram selecionados por serem parques conceituados e que apresentam soluções contemporâneas, além de possuírem peculiaridades que requerem atenção. Entre diversos fatores, o histórico de cada um proporcionou uma situação única à cada parque, ainda que o objetivo final em todos seja a implantação de um zoológico do século XXI.
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Verificou-se a qualidade dos parques estudados, não apenas por pesquisas e relatos, mas também através de uma visita in loco em todos eles. Isso é de extrema importância, pois como visto anteriormente, os zoológicos de modo geral dependem muito da ambiência criada, e por isso a vivência foi considerada muito importante. Por fim, um quarto estudo é dedicado ao projeto do zoológico de Argel, do arquiteto Oscar Niemeyer, Ainda que o projeto não tenha sido construído, há muito que pode ser explorado em relação aos desenhos e sua relação com preceitos modernos, e sua inovação.
ZOOLOGISCHER GARTEN LEIPZIG
Com o lema “Na trilha da Natureza”, o zoológico busca um conceito inovador. Isso inclui o bem-estar, criação e conservação das espécies, além de educação e exploração dos visitantes. Os recintos, que foram em grande parte reformulados, são projetados de acordo com as características específicas dos animais, recriando sempre que possível seus habitats naturais. A transição para o zoológico do futuro incluiu sobretudo e substituição de gaiolas e grades para extensas áreas, cheias de árvores e natureza. Essas novas áreas colocam o Zoológico como um dos mais modernos no mundo. Além disto destaca-se seu compromisso intenso com a conservação, participando de quase 60 programas de reprodução internacionalmente.
LOCALIZAÇÃO LEIPZIG, ALEMANHA ÁREA 26.3 HA INAUGURAÇÃO 09.06.1878 ESPÉCIES 804 ANIMAIS 9400 VISITANTES 1.709.491 ORGANIZAÇÕES WAZA, EAZA, VDZ 47 | MODELOS
O Zoológico de Leipzig localiza-se a noroeste do centro da cidade, no bairro Rosental, o qual é marcado pelo parque de mesmo nome, com uma área verde de 118 hectares. Trata-se de uma localização bem central, e pode se chegar facilmente a pé. É também acessível por meio de transporte público, através da linha 12 do metro. Possui edifício garagem para estacionamento logo em frente a entrada principal do zoológico.
HISTÓRICO Fundado em Junho de 1878 como um Jardim Zoológico privado por Ernst Pinkert, que já exibia animais desde 1873 por toda a Alemanha e buscava um local de exposição permanentemente.
do Sul, Gründer-Garten01, Pongoland e Gondwanaland. Desde Agosto de 2000 o parque vem passando por diversas mudanças, que possuem data de término prevista para 2020.
Após a Primeira Guerra Mundial , o zoológico foi ampliado entre 1920 e 1935, ganhado mais 12.5 hectares. O arquiteto Carl Jame Bühring dedicou-se a renovar o zoológico, criando um novo sistema de percursos, marcados por dois grandes eixos que acompanhavam os novos edifícios. Já durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 40, o zoológico optou por permanecer fechado. Ao ser reaberto em 1947 foram adicionados novos 16 hectares a sua área.
A primeira fase contou com o redesenho de áreas dedicadas aos principais animais, como os Primatas, Elefantes, Tigres e Leões, além da Savana Africana. A segunda fase, focou na construção da Gondwanaland, que foi inaugurada em Julho de 2011.
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A partir da década de 70 o zoológico se destacou por participar e incentivar a proteção e reprodução de espécies em extinção. Nesse mesmo período, passou a reconsiderar algumas de suas abordagens, criando novas áreas que contavam com valas ao invés de grades, de modo que a paisagem parecesse mais integrada. Desde 1998 o zoológico busca um novo conceito: “O zoológico do futuro”. O plano é transformar-se em uma experiência de imersão natural, com seis grandes áreas temáticas: África, Ásia, América
Figura 29: Casa dos Macacos (Affenhaus) em 1900 Fonte: Zoo Leipzig
Guiadas pelo novo diretor do Zoológico, Dr. Jörg Junhold, a fase final foi desmembrada em 5 etapas, que englobam desde a construção da última área temática, América do Sul, até pequenas adaptações para novos animais. 01 Gründer-Garten pode ser traduzido literalmente como “ Jardim dos Fundadores”
PROGRAMA O programa do Zoológico de Leipzig é extenso e vasto. Atualmente o zoológico se divide em 6 grandes áreas.
Figura 30: Mapa do Parque Fonte: Zoo Leipzig
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Logo na entrada fica o Gründer-Garten, onde ficam as áreas administrativas e históricas do parque. A Gondwanaland é a próxima atração, que abriga animais de climas tropicais. Em seguida fica a Asia e Pognoland, destinada à primatas, A Africa é o próximo território, e por fim o público pode conhecer animais da América do Sul.
GRÜNDER-GARTEN Localizada próxima a entrada do parque abriga os edifícios históricos, muitos dos quais sofreram alteração de uso, devido tanto às áreas novas do zoológico quanto a falta de adequação para seu uso original. O Salão de Congresso foi inaugurado em 1910 pelo fundador do zoológico e reformado em 2015, transformando-se em um centro de convenções e conferências. Similarmente, 100 anos após sua inauguração, a Entdeckerhaus Arche foi completamente renovada para que abrigasse um centro educacional interativo com mais de 500m2 . O Aquário e Terrário, inaugurado em 1910, são um dos poucos edifícios que manteve tanto seu uso quanto a sua estética em estilo Art Nouveau. No interior diferentes bacias e ecossistemas marinhos podem ser observados, além dos múltiplos terrários.
Figura 31: Entrada Original do Parque ainda em funcionamento Fonte: Própria
Figura 32: Praça central Gründer-Garten, ao fundo Koala-Haus e Entdeckerhaus Fonte: Própria
GONDWANALAND
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O mais ambicioso projeto de expansão do parque foi inaugurado em 2011. A grande estufa conta com um pé direito de 34.5 metros de altura e com uma área de 16.000m2, sendo portanto o maior salão tropical da Europa. No interior da Gondwanaland a temperatura é constantemente mantida entre 24-26ºC e com umidade de 65 a 100 por centro,
Figura 33: Cúpula geodésica da Gondwanaland Fonte: Própria
sendo ideal para as mais de 100 espécies de animais e 17.00 plantas tropicais em exibição. Há uma subdivisão interna entre as exposições de ordem continental : Ásia, África e América do Sul, onde em cada uma há elementos da fauna e da flora integrados, convidando os visitantes a procurar pelos animais.
Figura 34: Passeios no interior da Gondwanaland Fonte: Wolfgang Schmökel
O local pode ser explorado tanto a pé como também por uma passeio de barco, que além de permitir uma atividade diferenciada, também aproveita para educar ao abordar questões sobre preservação e conservação do mundo.
Figura 35: Passeio de barco no interior da Gondwanaland Fonte: Própria
ÁSIA
Figura 36: Temática asiática presente em vários momentos Fonte: Própria
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A Ásia é composta não por um complexo único, como em outras partes do parque, mas pela proximidade de animais asiáticos. Todos os elementos buscam referenciar a arquitetura e cultura asiática, que se revelam nas cores e símbolos utilizados nessa área do parque.
O templo Ganesha Mandir acomoda os elefantes asiáticos que residem no Zoológico. Construído em 1926, foi reconstruído e expandido em 2006. O novo complexo é composto áreas externas separadas, além da casa que abriga as instalações fechadas, totalizando uma área de 7.500m2 No subsolo há uma vitrine que permite os visitantes verem os elefantes se banhando em sua lagoa particular.
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Figura 37: Exterior do templo Ganesha Mandir, onde ficam os elefantes asiáticos Fonte: Própria
O Tiger-Taiga hospeda o Tigre Siberiano, e possui sua vegetação conforme o habitat natural dos animais. Consiste de dois recintos abertos, que juntos totalizam uma área de 1.200m2, além de uma área noturna para os animais. Nas imediações fica o Leopardo-de-Amur, que atualmente está em risco de extinção. As áreas ao ar livre foram pensadas de acordo com seu habitat e são resguardadas por uma rede metálica ou vidros, permitindo que os vistantes tenham a oportunidade de observar os animais com poucos obstáculos visuais. Em seguida, as paisagens montanhosas do Himalaia estão presentes nas áreas para os pandas vermelhos e para os leopardos da neve.
Figura 38: Recinto do Tigre concebido de acordo com seu habitat Fonte: Própria
PONGOLAND A primeira área completa do novo plano foi aberta em 2001, com mais de 30.000m2. Desde sua inauguração, abriga o centro de Pesquisa de Primatas Wolfgang Köhler, o qual tem sido o maior centro de pesquisa da área no mundo. O local conta com cinco instalações, internas e externas, para diferentes primatas, como orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. As áreas ao ar livre são altamente ambientadas, com árvores e cordas que estimulam os animais a se movimentarem como na natureza. Tudo é facilmente visto pelos visitantes, uma vez que a separação dos animais com os visitantes, ocorre por um distanciamento além de um pequeno córrego que não permite a passagem dos animais.
Figura 39: Ambientes externos compostos de forma a estimular hábitos dos animais Fonte: Própria
Figura 40: Recintos internos separam os animais por vidros, permitindo maior aproximação Fonte: Própria
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Já nos recintos internos, onde os animais ficam principalmente no período de inverno, cria-se espaços amplos e dinâmicos para que os diversos macacos possam pular e brincar durante os meses frios. Lá a separação ocorre muitas vezes por grandes vidraças, que permitem uma interação mais próxima entre os visitantes e os primatas.
ÁFRICA
Figura 41: Diversas espécies convivendo juntas em um mesmo espaço Fonte: Própria
A maior área do complexo é destinada aos vários animais de origem africana. Os percursos dessa área possuem trechos elevados que possibilitam a visualização dos animais sob diversos ângulos. Além disso, a separação dos animais, apesar de existir, não são marcantes, pois passam camufladas na paisagem como valas secas e riachos. A separação suave dá a ilusão de que os animais estão integrados entre si em um ambiente natural. A Savannah Makasi Simba é um recinto rochoso amplo destinado aos leões. Anexo ao complexo fica o espaço para os cães selvagens africanos.
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Figura 42: Barreiras entre animais ocorrem de forma camuflada Fonte: Própria
A Kiwara Savanna, com 25.000m2 , foi inspirada nas savanas africanas, permitindo que várias espécies coexistam no espaço, como girafas, zebras, gazelas, avestruzes, entre outros. Desse modo é possível ter uma percepção mais fiel do habitat natural desses animais. Separadas apenas por uma vala seca esta a Hyänenkopje, destinada às hienas. A área destinadas aos rinocerontes conta com 6.000m2 e inclui cinco alojamentos para os animais. Os visitantes podem observá-los tanto no nível do solo, como também em uma passarela de madeira elevada.
Figura 43: Recinto das girafas Fonte: Própria
AMÉRICA DO SUL Ainda não finalizada, é a última parte de renovação do zoológico, com previsão de término até 2020. As novas instalações abrigarão animas como lobos-guará, quatis, tamanduás, entre outros. Haverá também um recinto para focas, com um túnel submarino que permitirá aos visitantes uma visão em 360º dos animais. Figura 44: Capivara em um dos novos recintos do parque. Fonte: Zoo Leipzig
A nova saída do zoológico foi necessária devido ao aumento de visitantes nos últimos anos, separando assim o local de entrada e de saída. A lagoa de flamingos e a loja de souvenir marcam a finalização do passeio.
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Figura 45: Recinto dos flamingos antes da nova saída do parque Fonte: Própria
REFLEXÕES O Zoológico de Leipzig sempre buscou ao longo de sua história aprimorar e melhorar suas infraestruturas e experiências. Sua preocupação, no entanto, não é meramente com os espectadores, mas também com seus animais. É membro de diversas entidade de animais internacionais, como a WAZA01, EAZA02 e VdZ03. Tem sido muito engajado na conservação de espécies ameaçadas durante décadas, participando ativamente na conservação e preservação de espécies no zoológico, contando com um EBS04 e quatro EEP05 O aumento da visitação no zoológico ao longo dos anos reflete o desempenho e os esforços que vem-se fazendo desde a virada do século. Após sofrer uma queda na década de 90, o número de visitantes voltou a subir a partir dos anos 2000 devido principalmente às novas áreas do parque. Atualmente, o número de visitantes é quase o dobro do que no século XX. 01 Da sigla em inglês, World Association of Zoos and Aquariums, ou seja, Associação mundial de zoológicos e aquários, a WAZA é uma organização mundial de jardins zoológicos e aquários. 02 gicos
Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA) é uma organização europeia para a comunidade de aquários e jardins zooló-
03 VdZ é a sigla referente a Verband der Zoologischen Gärten, ou seja, Associação de Jardins Zoológicos, é a principal associação em países de língua alemão. 04 European Studbook, ou EBS, determina um Zoo como o responsável pela coleta todos os dados sobre nascimentos, mortes, transferências, etc., de todos os zoológicos e aquários EAZA que mantêm uma certa espécie em questão.
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05 EEP é a sigla para o Programa Europeu de Espécies ameaçadas de extinção é um programa europeu de reprodução criado para proteção de espécies animais.
O Zoológico de Leipzig é um dos melhores exemplos de como um zoológico tradicional pode-se transformar completamente para se adequar as novas ideologias ambientais contemporâneas. Para isso no entanto é necessário muito esforço e um plano ambicioso e conjunto. Em sua história buscou desde a metade do século XX uma nova abordagem em relação aos animais, entendendo desde muito cedo sua importante missão de proteção dos animais e conscientização dos visitantes. Assim, após quase duas décadas de transformações intensas, o zoológico é considerado um dos melhores da Alemanha e do Mundo.
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O Zoológico de Leipzig demonstra que a função do zoológico vai muito além da educação, conscientização e preservação. Mesmo nos dias atuais, os zoológicos não deixam de ser local de diversão e entretenimento, que merce portanto ser tratado como tal. O equilíbrio entre a qualidade de vida dos animais e a experiência dos visitantes é de fato encantadora. Dessa forma, o parque possui altas qualidades e ensinamentos que devem ser analisados e considerados ao propor uma intervenção de um zoológico.
ERLEBNIS ZOO HANNOVER
LOCALIZAÇÃO
Localizado na parte sudoeste da cidade de Hannnover, o zoológico fica inserido nas proximidades do Eilenriede, um dos maiores parques urbanos da Europa. É possível chegar ao parque por meio de transporte público: há opção entre a linha U11 do metro ou as linhas 128 e 134 de ônibus. Para os visitantes que desejarem ir de carro, há um estacionamento exclusivo com 960 vagas logo em frente à entrada. O zoológico também está conectado às redes de ciclovias e possui vários espaços de estacionamento para bicicletas.
HANNOVER, ALEMANHA
ÁREA 22 HA INAUGURAÇÃO 04.05,1865 ESPÉCIES 173 ANIMAIS 2039 VISITANTES 1.095.893 ORGANIZAÇÕES WAZA, EAZA, VDZ 59 | MODELOS
Em seu 150º aniversário o Zoológico buscou uma nova comunicação visual que reforçasse sua nova ideologia. Com o novo lema “Echt anders”, ou seja, “ Realmente diferente” busca refletir a experiência que o zoológico pretender oferecer aos visitantes, baseada em uma maior aproximação entre as pessoas e os animais
HISTÓRICO Fundado em 1865, o Zoo Hannover foi o quinto zoológico a ser aberto na Alemanha. Sua construção foi iniciada na metade do século XIX por membros da Sociedade de História Natural de Hannover. Já nos primeiros anos, o parque tornou-se o centro social da cidade, o que dificultava a missão dos diretores em consolidá-lo como um polo educacional. Durante as primeiras décadas do século XX o zoológico passou por uma grande crise financeira, devido às consequências da Primeira Guerra mundial, além da abertura de outros parques concorrentes, sendo fechado em 1922 por não ser mais financeiramente viável.
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Através de uma iniciativa popular foi reinaugurado em 1924, inclusive com novas instalações. O parque passou a ser utilizado tanto como uma grande sala de aula de biologia, como um lugar social, onde eram promovidos exibições de cinemas, espetáculos e festas. Apesar do grande sucesso, o número de visitantes na década de 1990 levou a uma nova crise interna, quando foi decidido que uma profunda reestruturação no conceito e na infraestrutura era necessária. Em 1995, uma equipe de planejamento interdisciplinar examinou os pontos fortes e fracos do parque, chegando à conclusão de que o zoológico
teria que enfrentar a competição com um novo conceito. Profissionais como zoólogos, biólogos, arquitetos e pesquisadores trabalharam em estreita colaboração para desenvolver o conceito “Zoo 2000”. A apresentação de animais convencionais foi abandonada e substituída por abordagens de imersão, ou seja, replicação de seus habitats naturais. Nesses novos projetos, as distâncias entre humanos e animais foram reduzidas e as barreiras de segurança necessárias foram camufladas na paisagem. Durante os últimos anos o zoológico continuou inovando, com novas áreas temáticas como o Outback e o Yukon Bay. Atualmente a principal obra que está acontecendo é a construção da nova entrada principal, e contará com áreas de descanso, centro de informações, entre outros.
Figura 46: Entrada do Zoológico em 1908 Fonte: Wikipedia
PROGRAMA O parque divide-se em áreas temáticas, onde o público é transportado aos ecossistemas dos animais, podendo observá-los aos longo dos 5 quilômetros de passeio.
Figura 47: Mapa do Parque Fonte: Zoo Leipzig
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Os primeiros animais no circuito são africanos, e em seguida os visitantes podem avistar os primatas. Logo após, Yukon Bay acomoda os animais de clima frio, como os Ursos Polares. As próximas atrações são Jungle Palace e Outback, que abrigam animais asiáticos e australianos respectivamente. Por fim, o Mullewapp e a fazenda Meyer são destinadas à animais pequenos e domesticados.
SAMBESI A área foi modelada a partir da paisagem africana de mesmo nome. No parque, um rio serpenteia por entre os recintos de vários animais como girafas, leões, hipopótamos e zebras. Em função do rio, há várias pontes e níveis elevados, que permitem não só a tranposição entre níveis, mas também a visualização dos animais sob diferentes pontos de vista.
Figura 48: Recinto das Zebras Fonte: Própria
Há também passeios de barcos guiados no rio durante os meses de verão, criando uma atração única e sazonal, que permite uma aproximação ainda maior entre visitantes e animais. Ao longo da fila, ficam animais africanos de pequeno porte, como os suricatos e os porcos espinhos.
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A maioria das barreiras entre animais e visitantes é feita por muros baixos de pedra, camuflados atrás de vegetação. Desse modo os visitantes pouco percebem a separação, realmente dando a ilusão de proximidade dos animais.
Figura 49: Área de embarque e desembarque para o passeio de barco Fonte: Própria
No Sambesi há também uma loja de souvenir temática, tanto em relação aos produtos quanto à arquitetura. O restaurante também segue o mesmo tema, de modo que os ambientes, mesmo um pouco distantes, parecem conectados. Figura 50: Girafas avistadas ao longo do passeio de barco Fonte: Própria
Na área que simula o deserto do Saara, todo o complexo segue o estilo marroquino nos mínimos detalhes. Nessa área ficam os Addax e o Pet Zoo africano, onde é possível alimentar e acariciar cabras africanas. Além de animais da região encontra-se também um centro de visitantes, onde o zoológico informa sobre seus esforços para proteção e preservação dos animais.
Figura 52: Recinto dos pelicanos no estilo Walk-In Fonte: Própria
Figura 53: Leões visto através de vidro permitem maior proximidade do público Fonte: Própria
Dentre os vários animais, destaca-se o recinto dos pelicanos, que segue o modelo walk-in, ou seja, é possível entrar no recinto e chegar muito próximo dos animais. Já os hipopótamos podem ser vistos debaixo d’água, em um cenário que simula uma caverna. Sem dúvida uma das maiores áreas é destinada às girafas e alguns antílopes. A distância e a elevação de onde são observadas dão a ilusão de aumentar os animais. Após passar pela Afi Mountain, os visitantes retornam a Sambesi e visualizam mais uma vez as girafas. Ao continuar o percurso estão os leões, que ficam em um local amplo e com ambientação similar à de seu habitat natural, com pedras planas e árvores. Se os visitantes olharem os animais sob um determinado ponto de vista, é possível ver ao fundo as girafas e antílopes, simulando uma situação da natureza.
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Figura 51: Pet Zoo Africano Fonte: Própria
AFI MOUNTAIN Através de uma caverna é possível ver os primatas, que possuem em seu recinto com cachoeiras e árvores de escalada. Ao lado há cordas e brinquedos que permitem às crianças brincarem de macacos. No final da trilha os visitantes encontram a casa da selva, com as instalações internas dos gorilas, chipanzés, orangotangos, entre outros.
Figura 54: Entrada na Afi-Mountain Fonte: Própria
64 | MODELOS
As áreas externas são amplas e com diversas cordas e árvores, permitindo que os macacos se exercitem. Todos os recintos são contextualizados de diversos modos , como cavernas e grutas, onde são camufladas várias vidraças que permitem a observação dos animais. A última área externa pertence aos gorilas, e se difere das outras uma vez que fica mais afastada e em um terreno de topografia mais acidentada. As instalações internas parecem ser mais antigas, mesmo assim não deixam de ser estimulantes e confortáveis aos animais, onde brinquedos e outras atividades entretêm os animais durante os meses de frio. Uma pequena floresta tropical fica no centro do complexo, servindo tanto como paisagem como também auxilia na qualidade e temperatura do ar. Dentro vários passarinhos entram e saem livremente das grades dos gorilas e chimpanzés, recriando um ambiente mais natural.
Figura 55: Recinto externo dos animais Fonte: Própria
Figura 56: Recintos internos dos animais, para os dias de frio Fonte: Própria
YUKON BAY
Aberto em 2010, o complexo simula uma cidade portuária, que abriga restaurantes e outras infraestruturas básicas, como os banheiros. Os navios e guindastes marcam claramente o porto e o mundo subaquático da região. É possível ver os ursos polares, separados por barreiras ocultas, além dos pinguins no navio naufragado. Em frente ficam as focas e leões marinhos, junto à uma arquibancada que serve para acomodar a plateia do show diário, onde são apresentadas características e singularidades dos animais. No interior do navio, as grandes janelas possibilitam ver os animais debaixo d’água. O primeiro recinto abriga focas e leões marinhos, outro, os pinguins e os dois últimos os ursos polares. Em todos, a movimentação da água é intensa, de modo a simular ondas. Um ponto que poderia ser melhor explorado são lugares para os visitantes sentarem e observarem os animais com calma.
Figura 57: Ambientação da cidade portuária abriga programas básicos Fonte: Própria
Figura 58: Cenário portuário cria barreiras ocultas aos Ursos Polares Fonte: Própria
Figura 59: Criança visualizando recinto do urso polar a partir da parte submersa Fonte: Própria
65 | MODELOS
Para acessar a área destinadas aos animais e à cultura canadense, os visitantes necessitam atravessar uma antiga escavação, um modo sutil de introduzir a temática aos visitantes, além de servir como momento de transição entre os ambientes. Ao sair, os visitantes podem observar os lobos e alces sob um terreno montanhoso rochoso artificial, onde a elevação dos animais dão a impressão de proximidade.
JUNGLE PALACE A zona representa a lenda do palácio do Marajá indiano Bakhat, que foi lentamente levado para a selva pelos animais após sua morte. A primeira atração são os elefantes asiáticos, no recinto composto por vários níveis, quase como uma grande escadaria, ocultando o sistema de vala.
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Em frente ficam os macacos de origem indiana, com uma área externa onde várias cordas permitem que se movimentem livremente. Ao lado, os tigres podem ser observados através de vidros e grades em seu amplo recinto ambientado. Apesar de bela, essa disposição não permite que as crianças menores enxerguem os animais de todos os pontos. Entre frente, um restaurante quase ao ar livre, parece ser utilizado principalmente em dias cheios de verão
Figura 60: Recinto dos Elefantes Asiáticos levemente escalonado. Fonte: Própria
O caminho continua através do grande salão, onde os visitantes podem observar os macacos à direita, e à esquerda fica uma sala com explicações e informações sobre os elefante e seu programa de preservação. Mais ao fundo, é possível ver a gigantesca jiboia, inserindo a víbora próxima de seus companheiros de ecossistema. Um dos últimos animais dessa parte é o Guepardo, em seu recinto com vegetação densa, de modo a permitir que o animai se esconda, um hábito natural que tem. Figura 61: O restaurante temático permite aos visitantes avistar aos animais da área Fonte: Própria
OUTBACK
Figura 62: Temática reforçada pela cenografia Fonte: Própria
Figura 63: Proximidade entre animais e visitantes Fonte: Própria
Em sua pequena extensão os visitantes podem ver aves e cangurus sob o estilo do Outback australiano. Caracterizada pela terra avermelhada e uma paisagem ondulante, o cenário é composto por uma antiga fazenda, um posto de gasolina abandonado e um pequeno pub, evocando memórias da área na Australian Ayers Rock. A primeira e principal atração é a facilidade walk-in com cangurus., permitindo chegar bem perto dos animais. Em seguida outras espécies de cangurus e emas dividem uma grande área, onde novamente elementos decorativos reafirmam o tema australiano.
MULLEWAPP
Figura 64: Restaurante Fonte: Própria
Baseada na história infantil Mullewapp, do autor Helme Heine, o local foi projetado como a casa dos três amigos: Johnny o rato, Franz o galo e Waldemar o porco. A área é destinada a crianças com playground, tobogãs e um restaurante. Os animais que ali habitam são em maioria camundongos e ratos. Há também uma área destinada a aulas e uma sala de biologia para excursões guiadas.
Figura 65: Cenário retrata uma fazenda Fonte: Própria
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FAZENDA MEYER Simulando um ambiente rual, com prados e uma lago, a área busca aproximar animais domesticados dos visitantes. Os edifícios históricos foram reconstruídos de acordo com os originais do zoológico, completando assim o cenário. É possível interagir com diversos animais, como pôneis, porcos, cabras, galinhas e coelhos. O conjunto ainda tem um playground e um restaurante sob a mesma temática.
ZOOLÓGICO DE INVERNO Para compensar a ausência de alguns animais, e o passeio de barco que fica fechado no inverno, o parque optou por aprimorar a experiência dos visitantes de outra forma. Durante o período entre novembro e março, a Fazenda Meyer e o Mullewapp são transformados no Zoológico de Inverno.
Figura 66: Fazenda Meyer decorada para o mercado de Natal Fonte: Própria
Algumas das atrações temporárias são a pista de patinação no gelo, tobogãs e um carrossel. Além de barracas que formam um clássico mercado de Natal, famosos por toda a Alemanha. A grande pista de patinação do gelo fica no centro, e atrai não só crianças, mas também adultos que podem jogar curling.
Figura 67: Patinação no gelo instalada durante o inverno Fonte: Própria
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ARENAS DE SHOW Diariamente seis shows ocorrem no Zoológico, onde são apresentadas características especiais dos animais, como comportamento ou habilidades, além de hábitos alimentares. Os shows acontecem principalmente no Sambesi, Estádio do Yukon e na Fazenda Meyer. Alguns animais que se apresentam são águias, araras, quatis e leões marinhos. Figura 68: Arquibancada de shows Fonte: Própria
REFLEXÕES O Zoológico de Hannover sem dúvida eleva a experiência dos visitantes através de sua abordagem contemporânea. Como seu próprio lema diz, é realmente diferente da maioria de outros parques semelhantes. Com quase duas décadas de dedicação para transformar o conceito de zoológicos urbanos, o Erlebnis Zoo foi capaz de se consolidar como tal, de modo que poucos outros parques zoológicos conseguiram no mesmo período. Sua atitude de entender desde o início que uma reestruturação drástica e profunda era necessária para a sociedade do novo século deve servir como exemplo e modelo para outros zoológicos. É perceptível a qualidade que o novo modelo traz aos visitantes e moradores do parque. Para os animais, espaços livres e integrados permitem uma vida mais natural, enquanto para os visitantes encanta os visuais amplos e naturais onde podem observar e aprender sobre os animais. Para levar os visitantes à outros mundos distantes, a ambientação se atenta aos detalhes, desde o recinto dos animais com elementos típicos de seus habitats, até objetos básicos, como latas de lixo. Como um todo o percurso principal é simples e diretos, mas permite atalhos para aqueles que quiserem dedicar-se a certos animais. Um ponto que também merce ser observados é a comunicação visual do zoológico, que é muito simples e efetiva, auxiliando os visitantes ao longo de todo o caminho, além do áudio guia, que oferece aos visitantes mais informações e características sobre os animais.
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De modo geral, toda a conceitualização do parque busca criar uma experiência diferenciada, e é capaz de atingir tal meta. Seu sucesso é comprovado pelos visitantes, que o elegeram-no como melhor Zoológico alemão em 2017.
BIOPARC VALENCIA
O Bioparc é marcado pela priorização do bem estar dos animais, desde sua concepção, onde as instalações são projetadas de modo a incentivar comportamentos naturais dos animais. Uma das abordagens para que isso seja possível é criar recintos que permitam que várias espécies vivam juntas, assim como na natureza. Isso acaba sendo não só um estimulo aos animais, mas também oferece aos visitantes uma percepção diferenciada, mais próxima da real natureza.
LOCALIZAÇÃO VAIÊNCIA, ESPANHÃ ÁREA 10 HA INAUGURAÇÃO 28.02.2008 ESPÉCIES 116 ANIMAIS 116 VISITANTES 600.000 ORGANIZAÇÕES EAZA, AIZA 71 | MODELOS
Em Valência, o rio Turia foi por muitos anos o marco da cidade. No entanto devido às inundações recorrentes, a cidade optou por desviar seu percurso, ocupando suas margens com um grande parque linear, que hoje abriga diversas atividades culturais e sociais. O Bioparc fica inserido ao longo desse novo eixo cultural, sendo o último programa implantado. ` Sua abordagem se diferencia de outros zoológicos pois tenta criar um conjunto, entre animais, vegetação e paisagem, de modo a simular um ecossistema natural. Assim os visitantes podem aprender não só sobre as espécies, mas também sobre suas relações com o ambiente.
HISTÓRICO
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O Bioparc Valência tem apenas 10 anos, sendo fundado em 2008, e foi construído com o intuito de substituir o antigo zoológico da cidade. Atualmente em sua primeira fase, o Bioparc tem 80.000m2 de área superficial e abriga mais de 800 animais de 116 espécies do continente africano, em grandes espaços que reproduzem o habitat de cada animal. Por ser um parque ainda novo, não possui certificações internacionais até o momento.
Figura 69: Mapa do Parque Fonte: Zoo Leipzig
PROGRAMA
Para chegar ao Bioparc é necessário cruzar uma ponte de 145 metros acima do Parque de Capçalera. É uma boa solução encontrada para que a entrada fique próxima a via principal, mas que permita ao mesmo tempo que o parque não seja interrompido pelo zoológico. Também cria-se uma situação interessante onde os visitantes tem um momento de transição entre a cidade e o parque. O cinema localiza-se ao final da ponte, como uma atração quase que obrigatória antes de iniciar o passeio. Os caminhos que levam ao parque são sempre muito agradáveis, com vegetação nas laterais e pavimentação adequada. A grande quantidade de pássaros e o sons dos rios e cachoeiras contribuem para criar uma clima agradável. Ao longo do percurso, vários jardins pequenos auxiliam na composição da paisagem, de modo elegante e em conformidade com o ambiente.
Figura 70: Bilheteria e acesso ao Bioparc Fonte: Própria
Figura 71: Ponte sobre o Parque de Capaçalera Fonte: Própria
Figura 72: Avenida principal, à direita a entrada de Madagascar Fonte: Própria
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A entrada é composta por vários edifícios, onde cada um abriga os usos principais de acesso, como restaurante, loja de souvenir, centro de informações, entre outros. A bilheteria fica bem ao centro desse conjunto, e em seguida as catracas. É uma área bem ampla e com locais de espera, ideal para acomodar excursões e grupos grandes que chegam. Um estacionamento fica localizado abaixo desse complexo.
Na avenida principal ficam o restaurante e o bar, além de servir como ponto central entre os diferentes biomas. Todos os espaços são bem abertos e ao ar livre, visto que o clima da cidade é quente na maior parte do ano. É possível sentar nas messas, e avistar os animais da savana, onde os várias espécies parecem estar totalmente integrados sem nenhum tipo de barreira.
Figura 73: Restaurante com vista para os animais Fonte: Própria
No centro do parque fica o anfiteatro que comporta até 1.000 pessoas. Lá acontecem shows e demonstrações de aves e mamíferos, de modo a ensinar aos visitantes informações e características dos animais. É um local simples mas de extrema eficiência, tanto programática como arquitetônica. Especializado em fauna africana, o restante do Bioparc é divido em quatro zonas. Figura 74: Anfiteatro durante apresentação Fonte: Própria
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SAVANA Ocupando um hectare, essa zona busca simular a savana africana, cheia de animais e com representações dos principais parques da África Oriental. Logo na entrada já é possível perceber a abordagem do parque: um grande campo abriga rinocerontes, zebras, gazelas, girafas e outros animais juntos. A vegetação nessa área segue a Figura 75: Ambientação de acordo com a temática desenvolvida Fonte: Própria
temática árida, com planícies verdes, cactos e terra avermelhada. Devido a topografia é possível, em alguns pontos, ter uma perspectiva de onde os animais encontram-se, aparentemente, juntos. Os desníveis e rios criados servem também como modo de separação entre os animais.
Os elefantes podem ser avistados juntos aos grandes baobás e pedras que compõe o cenário. Vários outros galhos de troncos de árvores servem tanto de ambientação, como de barreira aos usuários.
Figura 77: Recinto do recinto dos leões com antílopes ao fundo. Fonte: Própria
Ao final do percurso, têm-se um visual integrado da savana, onde inclusive os leões no topo das pedras parecem olhar as gazelas na planície, como se não houvesse nada que os impedisse de atacar. Figura 78: Planície das separada discretamente dos visitantes Fonte: Própria
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Os leões ficam em uma ampla área com pedras, rio e vegetação que permitem que brinquem, escalem, e principalmente durmam. São os únicos animais na savana que possuem vidros como barreira entre os visitantes, claramente como medida de segurança. Para avistá-los é necessário adentrar o aviário, onde pássaros exóticos voam livre. Desse modo, a situação mais fechada dos leões é aliviada com a justaposição dos pássaros livres.
Figura 76: Recinto que abriga diversas espécies juntas Fonte: Própria
ZONAS ÚMIDAS Inserida entre a savana e a floresta equatorial, essa área é principalmente demarcada pela grande gruta, que recriar a caverna Kitum, no Quênia. Logo na entrada há um cerco com tartarugas, que marca as pegadas de elefantes que chegaram à procura de sal. No interior da caverna há aquários com peixes africanos e tartarugas, além de vidraças que permitem uma vista para o Lago Kyoga, da Uganda, onde ficam diversos animais, de modo que parecem coexistir.
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No interior da caverna ficam vários animais, em sua maioria grandes peixes nos aquários. Os principais moradores no entanto são os hipopótamos, que são caracterizados pelo longo período que passam submersos. Portanto, é possível vê-los principalmente debaixo d’água junto aos peixes, através de um grande vidro.
Figura 79: Interior da caverna, à esquerda ficam os hipopótamos Fonte: Própria
Figura 80: Grande lago onde ficam os hipopótamos e peixes Fonte: Própria
Do lado oposto, quem chamam a atenção são os elefantes africanos. Ao avistar os animais pelo interior da caverna, com o respectivo pé-direito e nível em relação ao ambiente externo, cria-se uma situação inusitada aos visitantes, onde dá se a impressão de extrema proximidade e liberdade com os animais. Figura 81: Elefantes vistos interior da caverna Fonte: Própria
FLORESTAS EQUATORIAL
Figura 82: Troncos caídos compõe o cenário Fonte: Própria
As florestas são lar de um grande número de animais, onde se destaca o contraste entre a vida no topo das árvore e do chão da floresta. No parque, o ecossistema inicia com a representação de troncos caídos, o qual possui rupturas e frestas onde os visitantes podem espionar os animais. No interior, há terrários com várias espécies de répteis e invertebrados. A ambientação é composta pelos vários elementos, como rios, pedras e vegetações. Dentro dos recintos, esses elementos naturais aparecem tanto como cenário e também como barreira entre animais.
Figura 83: Recinto de animais terrestres da floresta Fonte: Própria
Figura 84: Família de chipanzés, avistados do ponto mais alto Fonte: Própria
Os chipanzés são avistados sob um ponto de vista elevado onde é possível vê-los nas copas árvores. O percurso continua em declive, até que os animais e o público fiquem no mesmo nível. Entre os gorilas e os chipanzés, a única separação é uma cachoeira, que se integra totalmente à paisagem. O local onde ficam os gorilas possui uma abordagem um pouco diferente do restante. Os corrimãos metálicos e as paredes em concreto dão um aspecto laboratorial, como se fosse um centro de pesquisa e proteção dos animais.
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No caso dos animais de campina, os recintos são desenvolvidos em grandes áreas. Elementos como pedras e árvores não apenas como objeto visual, mas servem aos animais, como sombra e fonte de água.
MADAGASCAR A fauna e a flora desta ilha no Oceano Índico, separada da África há 160 milhões de anos, evoluiu isoladamente, de modo que 80% das espécies são endêmicas, o que significa que elas só são encontradas nesta parte do planeta.
Figura 85: Recinto dos flamingos Fonte: Própria
A parte destinada a Madagascar é composta por três recintos e uma sala de exposições sobre a biodiversidade de Madagascar. No cenário composto por cachoeiras, rios e vegetação baixa ficam diversas aves aquáticas, como os flamingos Em seguida estão sete espécies de lêmures, em espaços abertos e com muitas arvores, permitindo assim que os animais percorram o espaço livremente, podendo inclusive interagir com os visitantes. .
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Figura 86: Espaço destinado aos lêmures. Fonte: Zoo Leipzig
REFLEXÕES O Bioparc Valência não é, como seu próprio nome indica, um zoológico tradicional. Por ter sido construído recentemente, teve liberdade total em sua instalação, diferentemente de outros casos onde as infraestruturas tiveram que ser adaptadas. O parque foi desenvolvido já tom a temática africana pensada, criando meior intergração entre todos os seus elementos. Dessa forma, os restaurantes, quiosques, banheiros, inserem-se de modo mais ambientado na paisagem. A escolha pela fauna africana, ainda que não seja uma temática local, apresenta-se menos problemática do que se aplicada em outros locais, devido ao clima da cidade. Valência é uma cidade litorânea, com pouca amplitude térmica ao longo do ano, o que permite que grande parte dos animais adaptem-se ao local, sem a necessidade de aquecimento ou resfriamento na maior parte do ano. A setorização em quatro ecossistemas, permite também a setorização dos animais de forma lógica, tratando os animais e a temática de cada bioma conjuntamente. O caminho em sentido único nos percursos permite o estabelecimento de uma linha de raciocínio e aprendizado para os visitantes, facilitando o passeio e evitando confusões.
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O BioParc é capaz de recriar os ecossistemas e ambientações modo altamente realista. Todos seus elementos foram cuidadosamente pensados, criando um parque agradável, do qual tanto os animais como os visitantes tiram proveito. Assim, o parque, ainda que seja um zoológico pequeno e recente, é sem dúvida uma amostra do que os zoológicos podem ser, desde que comprometidos como um pensamento ambiental e educacional.
ZOO ARGEL
Figura 87: Croquis Restaurante-torre Fonte: Fundação Oscar Niemeyer
FICHA TÉCNICA NOME
Zoo Argel
LOCALIZAÇÃO
Argel, Argélia
ÁREA
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INAUGURAÇÃO
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ESPÉCIES
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ANIMAIS
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VISITANTES
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ORGANIZAÇÕES
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PREÇO
-
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Em 1979, ao ser requisitado para projetar uma torrerestaurante em Argélia, haviam duas exigências programáticas: um restaurante rotativo e um setor de recreação adjacente que o justificasse. A critério de Niemyer, o projeto adjacente escolhido foi um jardim zoológico.
HISTÓRICO
PROGRAMA
Ainda na década de 70, Oscar Niemyer já avistava o futuro dos zoológicos, como um local ligados à problemas ecológicos e a preservação das espécies animais em extinção. Seu partido inicial foi estudar um zoológico integrado à um museu de ecologia, por onde o público passaria obrigatoriamente. Acreditava que a vida dos mamíferos, peixes e aves despertaria nos visitantes um interesse para lutar e proteger as espécies. Tal ideologia veio, como cita o arquiteto foi inspirada pelo famoso zoologista Konrad Lorenz, ganhador do prêmio nobel por seus estudos em comportamento animal.
O Masterplan foi idealizado como três núcleos circulares que abrigariam os animais, além de um núcleo central e o restaurante-torre. Por se tratar de uma proposta ainda inicial, não foram considerados aspectos como inserção urbana e delimitação de áreas. A primeira parte da visita seria o museu, com exposição relacionado à ecologia. Nele, os visitantes conheceriam mais sobre “a evolução das espécies e seu triste e progressivo desaparecimento”, como explica o próprio arquiteto.
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Apenas após o museu, o público entraria na área onde residem os animais. Como uma rua em pilotis, os
Figura 88: Perspectiva aérea do projeto Fonte: Fundação Oscar Niemeyer
Figura 89: Corte dos animais de terra, ar e mar respectivamente Fonte: Fundação Oscar Niemeyer
REFLEXÕES Poucas informações existem à repeito do projeto, visto que este acabou não sendo executado, e nem mesmo avançando para uma fase de maior detalhamento. Isso pode criar alguns questionamentos à respeito do projeto, como quais seriam as soluções utilizadas para a separação dos animais e a localização das áreas administrativas. No entanto, os poucos e expressivos registros do mestre revelam uma série de ideias que merecem atenção.
visitantes percorreriam os diversos setores, cada qual com um diâmetro diferente de acordo com a quantidade de animais. Para os mamíferos uma circunferência com 500 metros de diâmetro e com a passarela elevada à 5 metros do solo, tal diferença separaria os visitantes, que observariam os animais de cima, todos “livres, sem jaulas ou fossas, como a natureza os criou” (Niemeyer, 1979). Já os pássaros seriam restringidos dentro de um aviário com 250 metros de diâmetro. Os peixes seriam avistados por um túnel que permitira vistas ao aquário Ao final do passeio, os visitantes podem acessar o restaurante rotativo e os estacionamentos, como modo de finalizar o passeio.
Se destaca o traço solto e a abordagem modernista, características singulares do renomado arquiteto. A concepção de elevar o percurso do solo, liberando-o para os animais, ainda que seja uma clara solução modernista, cria uma proposta inusitada para os zoológicos da época. Com essa solução o arquiteto prioriza a ilusória liberdade dos animais, e retira os visitantes do mesmo plano, elevando-os sobre as passarelas. Niemeyer, como muitas vezes, foi um vanguardista de sua época. Nesse projeto, em especial, foi capaz de ainda na década de 70 visualizar as potencialidades presentes nos Zoológicos, que podem servir como exemplos e estímulos para a proteção da fauna em todo o mundo.
83 | MODELOS
Figura 90: Perspectiva dos animais a partir do passeio Fonte: Fundação Oscar Niemeyer
De modo geral, é um projeto simples e bem resolvido: três zonas animais, um museu central e o restaurantetorre. Além da passagem obrigatória dos visitantes pelo museu, nada mais é imposto pelo projeto. Os visitantes ficam livres para escolherem a ordem de visita às zonas.
05
NACIONAL
86 | NACIONAL
Como forma de compreender melhor a temática desenvolvida, buscou-se um parque brasileiro que pudesse servir como base para o desenvolvimento de análises. Posteriormente o parque servirá de suporte ao desenvolvimento de um projeto arquitetônico, onde serão contemplados os principais aspectos dos zoológicos contemporâneos.
adequada. No entanto, como analisado, ainda surgem resultados positivos dos zoológicos, principalmente quando bem concebido, tanto sob seus aspectos conceituais como físicos. Os zoológicos são também capazes de servir de centros de apoio para pesquisa científicas, além de estimular a educação sobre a natureza, como visto anteriormente.
Embora os zoológicos brasileiros tenham se expandido a partir da década de 1970, ainda são poucos os que triunfaram. São menos de 10 parques nas capitais, dos quais se destacam os zoológicos do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília. Já em relação aos parques situados no interior, ressaltam o zoológico de Itatiba (SP), Parque das Aves (PR) e Pomerode (SC). A falta de zoológicos inseridos em grandes centros urbanos, acaba por limitar o acesso de grande parte da população à essas instituições.
Os dados relacionados à qualificação dos parques existentes também são impactantes. Pelo levantamento realizado pela Sociedade de Zoológicos Brasileiros (SZB) em 2013, existem 106 zoológicos em todo o Brasil, dos quais 57% localizam-se na região sudeste, enfatizando sua concentração em áreas mais desenvolvidas do país. Do total, apenas 40 são credenciados, enfatizando a escassez e condições dessas instituições.
São inúmeros os fatores que ainda justificam sua a importância dessas instituições, além de sua implantação, especialmente em cidades. Devido aos diversos movimentos contrários à existência de zoológicos urbanos, é comum considerar o fechamento de tais instituições, especialmente quando essas não se encontram em situação
Pela WAZA, apenas o Zoológico de São Paulo e o Parque das Aves são reconhecidos como instituições membros. Essa qualificação significa que são instituições abertas ao público que se dedicam à fins culturais, educacionais, educativos e de conservação, de acordo com os padrões internacionais estabelecido pela organização. Outra entidade similar da qual o zoológico faz parte é a ALPZA, a organização regional de zoológicos da América Latina.
˜ PAULO ZOOLÓGICO DE SAO SELEÇÃO
A importância do zoológico para São Paulo se dá devido à valores históricos e culturais, e não deve ser desprezada. A cidade mais populosa da América01 necessita de equipamentos culturais de alto nível, não apenas para seus moradores, mas também como exemplo mundial, além de incentivar o turismo. Como a própria história demonstra, a instalação de equipamentos de cultura sempre ocorreu como forma de demonstrar o poder do centro urbano cultural da cidade. Em 2004 foi, o Zoológico de São Paulo foi considerado pelo Guiness Book o maior do Brasil. Logo em seguida, após atender as especificações requeridas, o parque foi classificado na categoria “E”, a mais alta, pelo IBAMA. No parque, atualmente há além da visitação pública, instalações responsáveis pela manutenção e pesquisa dos animais que 01
Segundo dados coletados pela Wikipedia
lá moram. A área de exposição e técnicoadministrativo ocupam uma área total de cerca de 300.000m2, ou seja, apenas cerca de 35% da área total. Uma visita às áreas expositivas constitui uma caminhada de cerca de 4km onde podem ser vistos cerca de 3.000 animais. As características do parque deixam clara sua posição como instituição mais preparada do país, adequando-se inclusive às qualificações internacionalmente requeridas No entanto, estuda-se se as infraestruturas atuais do parque realmente estão de fato próximas às propostas mais atuais, como vistas em outros zoológicos. Dessa forma, propõe-se uma análise detalhada ao parque, estudando suas origens e desenvolvimento ao longo dos anos, como forma de entender suas características. Tanto a pesquisa, quanto visita ao parque atual auxiliam a compreender os aspectos principais do parque. Por fim, a pesquisa resulta em um projeto, que tem como objetivo intervir e aprimorar os problemas atuais, solucionando-os com propostas contemporâneas.
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Elegeu-se o Zoológico de São Paulo, uma vez que é a instituição mais qualificada no país. Nesse caso, tanto seus aspectos físicos como ideológicos devem servir como modelo e exemplo à outros zoológicos brasileiros.
HISTÓRICO EMPENHOS INICIAS A discussão sobre a construção de um Jardim Zoológico para a cidade de São Paulo surgiu décadas antes de sua inauguração. Há registros ainda do século XIX que relatam o desejo da construção de tal projeto na cidade. Em 1888 Alfredo Loefgren, botânico sueco naturalizado brasileiro já defendia a construção de um Jardim Zoológico para a cidade. Sua proposta era transformar o Jardim da Luz em um zoológico junto à um jardim botânico. Nos anos seguintes, foram feitas várias especulações de onde e como deveria ser criado o futuro zoológico da cidade. O local parecia ser a maior preocupação, havendo sugestões entre a várzea do Carmo, a freguesia da Penha, o Butantã e inclusive a Avenida Paulista
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Até então os paulistas deviam se contentar com os circos que visitam a cidade ocasionalmente. Apesar de bem aclamados e populares, os circos propunham uma outra abordagem em relação os animais, além de não agregarem fatores ambientais, como jardins e espaços públicos. Outra opção era o Museu de Zoologia01, inaugurado em 1905, localizado na rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, contava principalmente com animais empalhados.
01 O edifício do atual Museu de Zoologia da USP localizado no bairro do Ipiranga, tem um projeto mais recente, da década de 1940 com autoria de Cristiano Stockler das Neves.
O primeiro zoológico paulistano foi inaugurado em 1892 no atual parque da Aclimação. Carlos Botelho, médico e fazendeiro, se maravilhou ao visitar o Jardin d’Acclimatation, em Paris, e resolveu então replicar o modelo do parque em São Paulo. O projeto diferenciase de outros modelos, como explicado por um de seus idealizadores, Isidore Geoffroy Saint-Hilaire: “É a reunião de espécies animais que podem dar com vantagem sua força, sua carne, sua lã, seus produtos de todos gêneros à agricultura, à indústria, ao comércio ou ainda uma utilidade secundária, mas muito digna, que podem servir à nossa recreação, ao nosso prazer como animais de ornamento, de caça ou de reconhecimento de algum tipo” (SAINT HILAIRE, 2015 apud PESSOA 2015)
Ou seja, não trata-se de um modelo de zoológico, mas sim de uma mistura entre fazenda com exibição de animais exóticos. Lá habitavam grandes felinos, como leões, e outros animais prestigiados, como elefantes e ursos. Durou até meados da década de 30, quando foi então abandonado, até que foi convertido no que é atualmente o Parque da Aclimação. Em 1909 foi aprovada uma Lei Municipal que estipulava a criação de um Jardim Zoológico público para a cidade. PESSOA (2015) considera que nesse período o projeto passou além de ser desejado, ser necessário para a cidade em desenvolvimento que era São Paulo.
Durante as décadas seguintes, várias críticas foram feitas sobre a ausência da instituição na cidade. Em 1913, um artigo lamenta a situação Brasileira, que apesar de ter uma fauna e flora incrível, possui apenas um zoológico, em contrapartida com outras grandes cidades do mundo. Em 1920, cobra-se a existência de um zoológico em São Paulo, visto que não havia nenhum em todo o Brasil.
Figura 91: Portaria do Jardim de Aclimação Fonte: Estado de São Paulo
Poucos anos depois, a discussão fica mais aprofundada quando Franco da Rocha02 escreveu uma coluna em prol da construção de um Jardim Zoológico paulista sob os moldes Europeus: “Os modernos Jardins Zoológicos guardam suas feras em áreas fechadas por fossos (...), de modo que essas prisões disfarçadas dão ao visitante a impressão de que os animais estão soltos, como vivem no seu habitat natural (ROCHA, Estado de S.Paulo, 14 mar. 1924 apud PESSOA, 2015)
Figura 92: Estacionamento do parque Fonte: Estado de São Paulo
02 Francisco Franco da Rocha (1864-1933) era um renomado médico psiquiatra paulista.
Figura 93: Elefantes à beira do lago da Aclimação Fonte: Folha de São Paulo
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Nas semanas seguintes, o Estado de S. Paulo recebeu apoio de leitores, fortalecendo o argumento com o carácter científico e os aspectos da natureza como fatores contribuintes para a criação do zoológico.
Innocencio Seraphico, vereador paulista, submeteu em 1926 um projeto que autorizava a criação do zoológico em São Paulo. Cerca de um mês depois a Câmara aprovou o projeto, formando então a comissão que seria responsável pelo desenvolvimento do futuro zoológico, da qual faziam parte Franco da Rocha e Carlos Botelho, entre outros profissionais.
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A primeira decisão a ser tomada seria em relação a localização, para a qual o parque do Jaguára foi sugerido por não ser muito afastado da cidade, possuir acesso por transporte público e dispor de mata preservada no local. O botânico Carlos Hoehne defendeu tal localização, onde o progresso da cidade estaria ligado à tal empreendimento, expondo assim a principal riqueza brasileira: a natureza. O zoológico também teria seu valor estético e ético, servindo como modelo de avanço civilizatório. Os anos seguintes foram de intenso trabalho da comissão, resultando na lei que regulamentava alguns aspectos do zoológico. Dentre as exigências estipuladas em 192, estava criar um zoológico destinado ao uso público, onde seriam conservados espécies da fauna e flora.
O emprenho da comissão foi tanta que rendeu uma vista de Heinrich Hagenbeck, filho do idealizador do zoológico sem grades em Hamburg, Alemanha. Segundo comentado por Franco da Rocha no Estado de S. Paulo, Hagenbeck considerou que São Paulo poderia ter “o zoológico mais belo do mundo” como justificou: “ (...) aquilo que outros têm feito com dificuldade, muito tempo e muito dinheiro, lá já existia concedido pela própria natureza: a floresta para um belo parque, água em abundância e acidentes magníficos do terreno para se preparar o “habitat” natural às diferentes espécies zoológicas” (ROCHA, O Estado de S.Paulo, 13 jul. 1927 apud PESSOA, 2015).
Considerou-se então que o futuro zoológico de São Paulo tinha tudo para prosperar. Havia o potencial e a necessidade necessária para tal. Nesse ponto, já havia sido confirmada a localização no Jaraguá, devido ao vasto de terreno, abundância de vegetação e água, além da facilidade de acesso tanto por transporte privado quanto público. Mesmo com tantas certezas, o projeto acabou por fracassar ainda naquele ano. Com a visita de Alfred Agache03 e a sugestão da escolha do terreno do Jabaquara, criou-se uma grande discussão a respeito. O jornal Folha de S. Paulo sugeriu que a mudança havia sido pensada em prol da valorização imobiliária dos terrenos públicos ali alocados. Apenas uma semana após tais comentários serem publicados na mídia, o município suspendeu as obras do Zoológico Público, e em seguida, transferiu o projeto ao Estado. Dentro de um meio político tenso, onde a revolução de 30 estava se 03 Alfred Agache (1875-1959) foi um renomado urbanista francês que visitou e fez palestras no Brasil durante a década de 1920.
EMPENHOS FINAIS
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“O sr. Pires do Rio , quando prefeito, pensou em tornar uma realidade essa velha aspiração dos paulistas. Mas, sobreveio a Revolução [de 1930] e nunca mais se ouviu falar nesse projeto” (Folha da Manhã, 24 jul. 1931 apud PESSOA, 2015)
Mesmo que a discussão relacionado à construção do zoológico em São Paulo tenha sido vasta no início do século XX, pouco foi realizado. Foram várias às tentativas, todas as quais consideravam diversos aspectos e evoluíram ao longo dos anos juntos à conceitos inovadores. Infelizmente, devido às circunstâncias do momento, nenhuma delas teve êxito, deixando a cidade sem zoológico ainda por muitos anos.
04 José Pires do Rio foi o prefeito de São Paulo entre 16 de Janeira d e1926 e 23 de Outubro de 1930.
Décadas depois, em meados da década de 1950 retomouse a discussão sobre a construção do zoológico para a cidade. Possivelmente o incentivo do governo JK e da construção de Brasília durante esse período estimularam construções que refletissem modernidade e progresso. No início de 1957 tomou-se decisões em direção a concretização do projeto, entre elas a formação da comissão que responsável, da qual fariam parte diversos profissionais, como zoólogos, professores, engenheiros, jornalistas, entre outros. Nos anos seguintes especulou-se diversas vezes sobre o projeto, em especial sobre o local de implantação do zoológico, onde disputavase entre o Jaraguá e o Jabaquara. Ainda no mesmo ano, decidiu-se pelo terreno no Jabaquara, um dos fatores determinantes da escolha foi o fato do terreno já ser do Estado, acelerando assim o processo e minimizando os gastos com desapropriações. Decidiu-se também pela construção de um zoológico de acordo com os novos modelos europeus, onde as grades haviam sido substituídas por fossos. Um dos grandes defensores desse modelo, Heini Hediger01 foi chamado para dar consultoria à comissão. Em sua entrevista ao Estado de S. Paulo, ressaltou a importância dos zoológicos urbanos e sua preocupação com o bem-estar animal, além de comentar sobre a fauna e flora brasileira, exposta em zoológicos mundo a fora. Antes de sua partida, revisou o projeto brasileiro, elogiando-o.
01 Heini Hediger (1908-1992) foi uma biólogo suíço conhecido como pai da zoologia, devido p seu trabalho em relação ao comportamento animal. Foi diretor do Tierpark Dählhöl, Zoo Basel e Zürich Zoo.
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aproximando, o projeto acabou sendo deixado de lado. Pouco se sabe sobre tal período, visto que a imprensa deve ter concentrado seu foco nos acontecimentos políticos da época. Há apenas uma lembrança de tal período anos depois:
A data de inauguração foi originalmente estipulada para o começo do ano de 1958, mas com os consequentes atrasos na obra devido à falta de verba, considerouse se a propriedade do parque seria de cunho público ou privado. Ainda em 1957, o então governador, Jânio Quadros propôs ao Legislativo que o zoológico fosse transformado em uma fundação. A Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) tem como objetivos principais manter a fauna existente, cuidar da população de animais, para fins educativos, recreativos e de pesquisa, além de proporcionar espaço para o trabalho de pesquisadores. Assim sendo, sua responsabilidade sempre esteve muito clara, de modo que foi uma das primeiras instituições brasileiras a propor e participar de programas de recuperação de espécies ameaçadas de extinção.
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Ainda que feitos as pressas, em pouco mais de um ano de construção, o zoológico de modo geral estava concretizado. Entre os problemas que afetaram a obra foram as chuvas intensas, atrasando a terraplanagem, e a falta de mão de obra dispostas à ir até o local, visto que era de difícil acesso. Isso causou atrasos na inauguração, que deveria ser feita em 25 de Janeiro, aniversário de 404 anos da cidade.
Figura 94: Estudos no local para a construção do parque Fonte: FPZSP
Figura 95: Construção via principal, junto ao lago, ao fundo a Mata Atlântica preservada Fonte: FPZSP
PRIMEIROS ANOS 16 de Março de 1958 ocorreu a inauguração do Zoológico de São Paulo com a presença do então Governador Jânio Quadros e do incentivador Emílio Varoli. Apesar de ainda estar inacabado, atraiu muitos visitantes curiosos nas primeiras semanas. No início, os primeiros habitantes exóticos, como leões e ursos, foram animais adquiridos de circos, enquanto outros animais nativos, vieram de Manaus. No total, o zoológico começou sua exposição com cerca de 350 animais. Inicialmente a entrada era franca, mas a partir de 1959, com a criação da Fundação Parque Zoológico, passou-se a cobrar ingressos para possibilitar a manutenção do parque.
Figura 96: Inauguração do Zoológico em 1958 pelo prefeito Jânio Quadros Fonte: FPZSP
A falta de documentação dos primeiros anos, tanto gráfica quanto textual, tende a demonstrar que não houve grande planejamento inicial ao desenvolver o zoológico. Imagina-se que o projeto foi feito com extrema rapidez, em pouco mais de um ano, em função da campanha eleitoral de 1958. O então governador de São Paulo, Jânio Quadros, pode ter encomendado o projeto à pressas como provável tática de campanha.
Figura 97: Estacionamento do parque nos primeiros meses de funcionamento Fonte: FPZSP
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Outras evidências que podem auxiliar a comprovar tal hipótese seria o estado incompleto com que o zoológico foi inaugurado. Apesar de contar com alguns animais, grande parte do complexo ainda estava em obras. Como relatado nos jornais, as obras foram terminadas meses depois de sua inauguração.
Uma outra evidência são as placas de construção expostas ao longo do parque, marcando os responsáveis e os anos de realização das várias etapas. A área do zoológico era de 18 alqueires, mas inicialmente apenas cinco seriam aproveitados. Em relação às atividades programáticas iniciais do parque, destacamse as aves divididas em seis viveiros, em um esplanada com 170 metros de comprimento.
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Outros animais, como rinocerontes e elefantes, teriam recintos amplos permitindo sua locomoção. Já os animais ferozes seriam mantidos em jaulas, como pode ser comprovado com foto retiradas nesse período, contrariando decisões inicias de separarem os animais por meio de fossos e valas como nos moldes europeus mais atuais. Como Pessoa (2015) analisa através de relatos da imprensa, os primeiros dez anos do parque são marcados com diversas críticas, principalmente à repeito da falta de manutenção e cuidado com os animais. Sete meses após a inauguração, o jornal Estado de São Paulo denunciou as condições que se encontrava o projeto. Alegou-se que as obras não possuíam verbas para ser finalizadas, pois mesmo o que já havia sido construído lutava para ser mantido em condições adequadas. Os animais que lá habitavam encontravamse em “condições precárias e inadequadas” (O Estado de S.Paulo, 12 out. 1958 apud PESSOA, 2015). Nos anos seguintes diversos jornais novamente enfatizaram que o projeto estava ainda em construção, visto que era necessário novos recintos para animais.
Figura 98: Placa marca inauguração do zoológico em 1958 Fonte: Própria
Figura 99: Placa marca uma das ampliação do parque em 1985 Fonte: Própria
Figura 100: Felinos em ajulas nos primeiros anos do parque. Fonte: Longo Jr., Design Total
Com o sucesso do novo logotipo, o próximo passo foi a criação de uma comunicação visual para todo o parque. Pretendia-se assim dar uma unidade ao complexo, além de orientar melhor o público. Deve-se atentar que até aquele momento, quase 20 anos após sua abertura, o parque ainda não contava com sinalizações adequadas, reflexo direto da falta, ou até ausência, de planejamento inicial. Dentre os requisitos necessários estavam as normas internacionais relativas aos animais, além da necessidade de inserção na paisagem e a minimização dos custo. Optou-se por placas na cor ocre com letras brancas aparafusada em tubos metálicos.
Figura 101: Logo principal desenvolvidos em 1972 Fonte: Longo Jr., Design Total
Figura 102: Logo complementares desenvolvidos em 1972 Fonte: Longo Jr., Design Total
01 Ambos profissionais, formados em arquitetura mas com escritório especializado em design gráfico, já haviam sido autores de importantes logos, como o do metro de São Paulo e da TV Cultura. Figura 103: Conjunto de sinalização do parque a partir da década de 1970 Fonte: Longo Jr., Design Total
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Em 1972, o então diretor Mario Paulo Autuori solicitou à João Carlos Cauduro e Ludovico Antonio Martino01 um projeto para a identidade visual do zoológico. Os novos logos contavam com a geometrização como aspecto principal, uma marca do escritório. Os tucanos, macacos, leões e elefantes inseridos em um quadrado sugeriam logo o tema, de modo a ser facilmente compreendido pelo público, incluindo crianças ainda não alfabetizadas.
A partir de então surgiu uma grande parceria entre o parque e o escritório de design, que se tornou responsável por pequenas obras que se decorreram nos anos seguintes. Os principais projetos desse momento foram os recintos dos gorilas e dos felinos, onde a ideia foi retirá-los de trás das grades e inseri-los em espaços que recriavam o cenário natural. Em 1974 foi proposto um Planejamento Ambiental para o parque, fornecendo orientações para “a construção da identidade ambiental do zoológico”que buscava “prender os visitantes e soltar os animais num ambiente o mais natural possível”(LONGO JR., 2007). Ainda que a proposta não teve êxito, indicava a necessidade de haver um plano teórico e prático que direcionasse as ações da fundação.
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Passaram 5 anos até que foi proposto um Masterplan ao zoológico, com a ideia de extinguir a necessidade de pequenos projetos de improvisação e adequação das instalações recorrentes daquele momento. Também objetivava-se a implantação de um planejamento ambiental de modo que todos seus elementos, tanto gráficos quanto teóricos e construtivos, estivessem harmonicamente organizados. Entre os problemas que o zoológico enfrentava constantemente estava o número
insuficiente de vagas de estacionamento e a escassez de setores de apoio ao público. Além disso a falta de abrigo para alguns animais era uma grave dificuldade, uma vez que deixava os animais fora do alcance visual do público. Incentivando a ideia estava o então governador Paulo E. Martins, que acabou assinando a autorização de implantação do plano no parque. Para a primeira parte do trabalho foi realizada uma intensa pesquisa sobre todos os aspectos do parque e da fundação, resultando em três volumes extensos de inventário. Outras informações ainda necessitavam ser reunidas, como a topografia e a situação atual do zoológico. Um levantamento topográfico feito em 1978 pela AGRIPLAN, uma empresa de planejamentos de agrimensura, encontrase disponível no acervo de desenhos da FAU-USP. A falta de documentação gráfica catalogada anterior a essa, reforça a ideia da construção às pressas do zoológico, de modo que nenhum documento oficial tenha sido guardado, necessitando então de um levantamento completo do projeto em 1978. Outra hipótese leva em conta a conclusão tardia das obras do projeto, e a possível ampliação pontual ao longo dos anos, tornando os desenhos da década de 1950 completamente desatualizados, justificando portanto o novo levantamento.
O novo plano tinha como estratégica principal aumentar o parque sob o menor custo possível, de modo a tirar o máximo proveito de situações paisagísticas e topográficas. Assim definiu-se três setores, que setorizariam os períodos de construção. As expansões aconteceriam primeiramente ao Sul, com uma permuta com o Zoo Safari, e à leste até a Avenida do Cursino.
Figura 105: Perspectiva da nova planície africana Fonte: Longo Jr., Design Total
Muitas das diretrizes seguiam a linha de pensamento de outras intervenções já realizadas no zoológico pelo escritório, como nos recintos dos gorilas, onde os novos abrigos dos animais deveriam constar com áreas maiores e elementos naturais. Junto à comunicação visual já existente, seriam adicionados um novo conjunto de equipamentos, como bancos, peitoris, lixeiras e até abrigos modulares em caso de chuvas. Em relação às construções buscouse materiais e soluções rústicas e naturais, de modo que integrassem-se ao parque. De acordo com o cronograma de obras, o projeto deveria ser iniciado em 1980 e
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Figura 104: Plano Diretor de1979 para o parque Fonte: Longo Jr., Design Total
Junto com as características topográficas do terreno, criou-se o Plano de Massas, similar a um zoneamento do parque, considerando a setorização dos animais além de áreas para o público e funcionários. Também foram pensados as questões de paisagismo e infraestruturas, como água e drenagem.
finalizado em 1988. No entanto, com o falecimento do diretor do zoológico, e a substituição por uma nova gestão, o projeto foi esquecido. Poucas foram as obras da primeira fase realizadas, como a Planície Africana e alguns viveiros. Imagina-se que com as mudanças na direção da fundação e do parque, pouco do que foi idealizado no Masterplan acabou sendo concretizado. Contrariamente, temse a impressão de que cada vez mais as intervenções no zoológico se afastaram do plano, atrelando problemas graves que perduram até os dias de hoje. Inclusive a distinta comunicação visual do zoológico foi substituída em meados da década de 90 por patrocinadores, e o logo reformulado em 2002. Ainda assim, a Fundação ainda considera o Masterplan de João Cauduro e Ludovico Martino como o plano oficial do parque, ainda que pouco dele tenha sido realizado. Embora o real projeto Zoológico de São Paulo tenha sido proposto décadas após sua inauguração, trata-se de uma concepção extraordinária para a época, ressaltando vários aspectos que eram até então discutidos sobre os zoológicos em todo o mundo. O
Plano diretor do Zoológico de São Paulo foi premiado pelo IAB em 1983 como melhor projeto urbano. Mesmo com a escassez de documentação relacionada ao parque, no acervo de desenhos da FAU-USP há um Masterplan datado de 1988 com o título “Relação Geral dos Recintos”. Nele constam os principais programas e recintos que haviam no zoológico no momento.
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Devido a sua semelhança com o programa atual, supõe-se que pouco foi alterado desde então. Dessa forma, imagina-se que tanto sua arquitetura, como infraestrutura e ideologia permanece a mesma por mais de trinta anos, refletindo o ausência de cuidado dado ao parque, tanto pelo governo como pela sociedade.
Figura 106: Foto-montagme do desenho referente ao levantamento feito em 1988 Fonte: FAU-USP
ATUALMENTE
Realizou-se uma visita ao zoológico, pretendendo melhor avaliar as condições e ambientação do parque. Dessa forma foi possível constatar problemas e soluções presentes no parque. Essa análise é de extrema importância para avaliação, uma vez que será possível assimilar quais aspectos do parque condizem com os princípios atuais de zoológicos, e quais questões merecem ser revisadas.
PRESERVAÇÃO O Brasil com sua extensa biodiversidade apresentase como um desafio na área de preservação das espécies nativas, especialmente com a redução dos habitats e com risco de extinção acelerado de algumas espécies. Nesse contexto, como já visto, os zoológicos são fundamentais como centros de preservação. O Zoológico de São Paulo possui programas que almejam a conservação ambiental e proteção animal. O parque trabalha tanto com estratégias in situ e ex situ, ou seja, dentro do zoológico e na natureza. A Fundação também realiza e colabora com diversos projetos de conservação de espécies, principalmente
espécies nativas e em risco de extinção. Os principais programas desse cunho são o CECF01, um centro de estudos no interior do estado, e o Núcleo de Atividades, uma iniciativa que permite atuar com pesquisa e conservação da fauna silvestre em vida livre. Juntamente atua em comunidades rurais, educando sobre valores de preservação e conservação do meio ambiente.
EDUCAÇÃO Algumas exposições e espaços educativos complementam o programa, enriquecendo o passeio e conhecimento do público. Ocorrem também atividades didáticas frequentemente no parque, da qual se detasca o Espaço Abaré, local destinado para ensinar e valorizar a cultura indígena do país. Outra atividade de grande interesse é o passeio noturno oferecido aos visitantes, no qual é possível observar espécies de hábitos noturnos. Há também visitas monitorada e cursos, com diversos focos, desde ações educativas de escolas até temas técnicos de biologia. O objetivo é sempre de ensinar no local sobre as diversas espécies, de modo a criar maior conscientização a respeito em relação à natureza.
01 Centro de Conservacão de fauna Silvestre do Estado de São Paulo, foi fundado em 2015 e possui infraestrutura completa, com instalações de apoio técnico, capazes de atuar na conservação de espécies, além de viabilizar programas de reintrodução de animais na natureza.
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O Zoológico de São Paulo é no momento a instituição mais qualificada do gênero no país. Como forma de compreender melhor como atua, estudou-se tanto seu programa física como suas ações educativas e de proteção ao animais.
PROGRAMA O programa é simples, pois não há uma multiplicidade de atividades, de modo que os animais são o foco principal. No entanto, o percurso difuso e a disposição aleatória dificulta tanto sua apresentação quanto seu aproveitamento.
possível também avistar chipanzés e orangotangos, além do restaurante principal. Na parte mais afastada do lago ficam diversas aves, como cisnes e gansos, além dos hipopótamos e zebras. Na parte central do zoológico ficam os animais de maior prestigio pelo público. Os elefantes africanos e rinocerontes ficam ao final da alameda de entrada,
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À esquerda da entrada ficam a maior parte dos animais. No primeiro trecho ficam principalmente animais como tartarugas e jacarés, mas também elefantes asiáticos e pequenos felinos. A Alameda das Aves, logo acima, abriga os principais aviários dos parques. Lá também ficam repteis e anfíbios, além dos micos. A Alameda do Urso e da Zebra, ainda mais acima, é composta principalmente pelo núcleo de educação ambiental, além de alguns animais como o Urso e Tamanduás. No entorno do lago principal ficam diversos recintos de animais, onde os principais são as ilhas dos macacos, localizadas no centro do próprio lago. Ao longo do percurso é
Figura 107: Mapa atual do parque Fonte: FPZSP
e à sua direita ficam as girafas. Mais ao fundo a grande planície africana abriga uma variedade de animais, como zebras, gazelas e avestruzes. Ao fundo também fica a conexão com o Zoo Safari, com bilheteria e área de espera. Outro atrativo central é a Alameda dos Leões, que abrigam os principais felinos, como os leões e os tigres. Figura 108: Foto atual da Avenida Miguel Stefno Fonte: Própria
VISITA Realizada durante o período de férias de inverno, a visita teve como objetivo compreender características do parque, além de coletar novas informações sobre o local. Procurou-se também observar os visitantes e animais de modo a entender aspectos que poderiam ser melhorados e outros que podem ser mantidos, além de experiência a ambiência do parque. Figura 109: Avenida Miguel Stefno imediatamente enfrente à entrada do zoológico Fonte: Própria
Figura 110: Ponto de ônibus em frente a entrada Fonte: Própria
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A primeira dificuldade que os visitantes encontram ao ir ao parque é sua localização. O zoológico encontra-se no extremo da Zona Sul de São Paulo, em uma avenida local estreita e de difícil acesso. Não há transporte público sobre trilhos, como o metrô ou a CPTM, e as linhas de ônibus que atendem o local também saem do Terminal de Ônibus Jabaquara, o mais próximo do local. Desse modo, grande parte dos visitantes optam por irem de carro.
O estacionamento encontra-se em frente ao zoológico, mas é operado independentemente. Trata-se de uma área desmatada do morro, onde foram marcadas vagas de estacionamento. O terreno possui declividade elevada, o que dificulta o acesso ao parque, e praticamente impossibilita o estacionamento de ônibus. Para acessar o Zoológico é preciso atravessar a avenida, que conta apenas com uma faixa de pedestres. Não há sinalização nem faróis que indiquem para os motoristas pararem, apenas funcionários auxiliam a travessia em dias de movimento com uma placa de sinalização. Essa situação é perigosa especialmente para crianças, que compõem grande parte dos visitantes.
Figura 111: Estacionamento do parque Fonte: Própria
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A entrada do Zoológico é cercada por grades, possivelmente para proteção das crianças, mas também evita que os diversos ambulantes perturbem os visitantes. Apesar de servir como precaução, essas grades reforçam o sentimento de aprisionamento, algo que vai na contramão das propostas atuais de zoológicos. O edifício de entrada pode ser descrito como uma grande cobertura com pé direito alto com pilares de concreto e cobertura ondulada. O contraste entre o concreto brutalista e as cabines coloridas provavelmente deve-se ao fato de que essas vieram posteriormente, assim como outros
Figura 112: Entrada do Zoológico de São Paulo Fonte: Própria
elementos. As proporções monumentais da entrada dificultam o sentimento de chegada e acolhimento naquele local. Outro problema é a falta de visibilidade da placa ‘Zoológico de São Paulo’, que é difícil de ser visualizada e fotografada devido ao seu posicionamento no alto da estrutura.
O mapa é setorizado em alamedas, todas com nomes de animais. Aparentemente não há nenhuma ligação entre as alamedas e seus animais, uma vez que a própria setorização dos animais é desordenada. As melhores formas de disposição dos animais é devido sua classificação científica, todos os primatas juntos por exemplo, ou por ecossistemas, animais africanos. No entanto, o parque não segue nenhum padrão, deixando os animais expostos de forma quase aleatória, gerando problemas de localização. Desse modo, o foco principal do Zoológico em relação ao seus visitantes, que é a educação, falha de maneria intrínseca.
Figura 113: Calçada em direção à entrada gradeada de ambos os lados Fonte: Própria
O marco principal do parque é o lago central, localizado à direita da entrada. Apesar de sua extensão, o lago é pouco aproveitado pelo zoológico, abrigando apenas alguns primatas e aves, como gansos e cisnes. Por ser um lago artificial, construído a quase cem anos, sua água encontra-se turva e pouco movimentada. No local de maior enforque, a ilha dos macos, é possível pontos de acumulação de lodos, o que acaba por degradar levemente a bela paisagem.
Figura 114: Banco em frente ao lago principal e à ilha dos macacos Fonte: Própria
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De modo geral, a setorização e os percursos são confusos, devido ao fato de ter sido construído em etapas sem que houvesse um Masterplan inicial, como já explicado anteriormente. No entanto, tais consequências são mais claras no parque com os visitantes, que ficam ainda mais confusos com as placas de sinalização e sem o mapa do parque, que deve ser pago a parte.
Figura 115: Proteção excessiva requer uma escadaria para visualização dos animais Fonte: Própria
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Figura 116: Barreira excessiva, formada por muros de pedras, grades e vala. Fonte: Própria
Figura 117: Crianças sobem nos muros de proteção Fonte: Própria
Dois problemas importante que estão relacionados é a dificuldade em visualizar os animais e o excesso de barreiras. Infelizmente, é difícil definir quais dos dois problemas surgiu primeiro, mas o fato é que um não existira sem o outro. Claro que é necessário que haja proteção, especialmente em caso de animais ferozes. No entanto, criar barreiras excessivas acaba por transmitir a sensação de confinamento dos animais, algo que os zoológicos estão se empenhando para mudar. No caso de São Paulo, na maioria dos recinto há em média três níveis de barreiras, como pode-se ver nas imagens. Com essa abordagem sendo repetida continuamente, é raro ver os animais sem que haja uma grade ou mureta na frente. Outro problema gravíssimo que isso gera é a falta de visão dos animais para crianças, que são a grande parte dos visitantes. Para um adulto mediano, a visualização de alguns animais principais, já e difícil, então para uma criança é quase impossível. Em razão disso surge o segundo grande problema: as crianças sobrem nas grades. Claramente isso é algo muito sério que não devia acontecer, pois os riscos são elevados. A razão das grades é para que aquela área não seja ultrapassada, mas em diversas ocasiões as crianças sobrem nas grades, eventualmente com a ajuda dos pais.
Acredita-se que o motivo principal para isso é, como dito anteriormente, a falta de visibilidade dos animais para as crianças. No entanto, ao invés de repensarem tal estratégia, o zoológico acabou por inserir cada vez mais grades e barreiras, o que pode ser constatado pela aparência e uso das diversas proteções. Em alguns casos, o excesso de barreiras compromete a visão do animal de tal forma, que arquibancadas servem de ponto de observação.
Figura 118: Criança avista os animais em cima do muro de proteção Fonte: Própria
Em relação aos abrigos dos animais podese considerar que muitos deles tentam incluir elementos naturais como parte integrante do recinto, mas isso é feito de modo falho e inadequado.
Dentre os recinto mais apropriados, destacase a ilha dos macacos, onde os animais tem estão restringidos pelo próprio lago, e tem a liberdade para movimentar-se livremente nas árvores e cordas.
Figura 119: Crianças pequenas tem pouca visibilidade em alguns pontos Fonte: Própria
Figura 120: Proteções altas dificultam visibilidade dos animais Fonte: Própria
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Outros recintos não levam em conta características essenciais dos animais, como é o caso o hipopótamo, que fica boa parte do dia submerso em sua lagoa, impossibilitando assim que seja visto. Mais uma vez, isso dificulta o aprendizado dos visitantes em relação às características básicas dos animais.
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Figura 121: Planície africa conta com poucos elementos do devido ecossistema Fonte: Própria
Figura 122: Urso em local com pouca ambientação e barreiras claras Fonte: Própria
Figura 123: Onça pintada em recinto parcialmente ambientado Fonte: Própria
Figura 125: Aviário com pouco espaço e vegetação frágil Fonte: Própria
Figura 126: Ilha dos macacos, com várias árvores conectadas entre si com cordas, permitindo aos animais que se locomovam livremente Fonte: Própria
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Figura 124: Recinto para os tamanduás bandeira Fonte: Própria
Atualmente os zoológicos estão buscando sua reconceituação, de um local de entretenimento para um local de educação e pesquisa. Para que isso ocorra, existem diversos elementos que são fundamentais, que vão desde os visitantes até o planejamento do parque. No entanto, o que foi observado durante a visita é que os visitantes do zoológico de São Paulo ainda o visitam principalmente como forma de entretenimento, o que não é o problema inicial, pois durante a visita eles podem perceber e entender aquele espaço como algo além de entretenimento.
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Há ações que tentam mudar esse paradigma. Alguns exemplos são a arena de shows e a cabana, as quais tem como princípio fazer demonstrações dos animais aos visitantes, para que possam aprender mais. No entanto, apesar da existência das estruturas, não há shows ou apresentações regularmente. Em suas construções, em especial do espaço Abaré, há uma tentativa de recriar arquiteturas tradicionais, de modo a reforçar o ensino da cultura indígena. Uma atividade que se destaca é o Zoo Safari, mas que haje de forma completamente independente. Dentro do zoológico pode-se apenas ver a entrada, onde os visitantes podem comprar ingressos e embarcar nos veículos que realizam o passeio. O Zoo Safari também possui uma entrada separada do zoológico, localizada na Avenida do Cursino.
Figura 127: Espaço Abaré, destinado à cultura indígena Fonte: Própria
Figura 128: Auditório aberto permite apresentações ao público Fonte: Própria
Figura 129: Acesso ao Zoo Safari Fonte: Própria
Outro ponto falho do parque é relacionado à educação e conscientização de seus visitantes. Um dos principais meios de educação sobre os animais são as placas de sinalização, no entanto estas são de difícil leitura, contêm pouca informações e estão desgastadas. A falta de brincadeiras ou recreações que possibilitem o conhecimento das crianças sobre os animais, faz com que o aprendizado ocorra principalmente através da observação dos animais.
Figura 130:Placas com informações sobre os animais Fonte: Própria
As placas de sinalização e localização são importantes, principalmente pois não se oferece o mapa aos visitantes gratuitamente. No entanto, muitas das placas são confusas e sobrecarregadas de informações, além de estarem desgastadas, dificultando o passeio.
No entanto são vários os locais por onde é possível avistar vassouras e baldes entre os recintos dos animais, o que é algo que os visitantes não esperam ver.
Figura 132: Áreas de manutenção visíveis ao público em muitas situações Fonte: Própria
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Um problema, que pode até passar despercebido, é a falta de cuidado com os bastidores do zoológicos, o que influência muito na percepção dos visitantes. Muitos parques, não apenas zoológicos, tratam isso com muita atenção, de modo a ocultar ou camuflar a área de serviços.
Figura 131: Placas de localização Fonte: Própria
A ambientação de modo geral é agradável, uma vez que em grande parte é composta por remanescentes da mata atlântica. As alamedas são arborizadas e possuem bancos para descanso. Contudo são poucos os locais de descanso que permitam avistar os animais. Por se localizar em uma área com terreno montanhoso, em muitos lugares do zoológico os percursos são acidentados. Isso dificulta a acessibilidade e também complica locomoção. Muitos dos caminhos são de pisos irregulares, como pedras e paralelepípedos, e nos trechos de asfalto possuem rachaduras e buracos. Uma característica curiosa é a presença de ruas e calçadas nas alamedas. Há também a falta de elementos básicos de acessibilidade universal, como rampas e guias no pisos. Deve-se notar também que muitos visitantes levam suas crianças com carrinhos de bebê, que também são afetados por esses problemas.
Figura 133: Locais de descanso em frente aos aviários Fonte: Própria
Figura 134: Bancos em frente ao lago principal Fonte: Própria
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Toda a parte administrativa fica localizada no limite esquerdo do parque, mas é oculta aos visitantes. Pode-se apenas avistar a entrada de serviço na Avenida Miguel Estefno, mas os acessos pelo interior do parque são discretos.
Figura 135: Via principal do parque após a entrada Fonte: Própria
Um fator que vem sendo explorado cada vez mais em locais de visita pública são programas que possibilitem arrecadação extra, como lojas e restaurantes.
Figura 136: Loja de lembranças logo na entrada Fonte: Própria
Ambas as lojas do zoológico são pequenas e pouco atraentes. A primeira localiza-se logo na entrada do parque enquanto a outra está mais a frente, na praça ao final da rua de entrada. Já os locais de alimentação são em grande parte patrocinados, mas servem bem ao propósito. O restaurante principal, ainda que seja o principal ponto de alimentação, acontece na verdade como uma grande lanchonete.
Figura 138: Lanchonete do parque Fonte: Própria
Um ponto interessante é o passeio pago pelo zoológico em veículo aberto, possibilitando ver todos os animais rapidamente sem que seja necessário caminhar. Outros atrativos que também são lucrativos, e poderiam ser explorados pelo parque, são o aluguel de carrinhos para crianças e armários.
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Figura 137: Restaurante principal Fonte: Própria
As construções dos programas básicos, como as lanchonetes e banheiros são sempre feitas de modo muito simples. Alguns autores, como Coe e Gulpa (2006), consideram a importância da inserção desses componentes ao longo do projeto como partes que devem ser integradas, tanto em relação programática quanto ambiental.
˜
˜ INTERVENCAO
ANÁLISE CRÍTICA Como visto através do seu histórico, o zoológico de São Paulo é resultado de um processo longo e fragmentado. Reflexo dessa fragmentação são os múltiplos problemas que o parque vem enfrentando desde sua abertura, e que muitas vezes são resolvidos pontualmente, como já era sugerido na elaboração do Plano Diretor no final da década de 1970. Como LONGO JR. (2007) analisa, a ideia desse plano era “frear as improvisações e (...) colocar em prática as premissas do planejamento ambiental”. Como sabemos que a execução do Plano não foi realizada por completo, e sim apenas em alguns locais isoladamente, imagina-se que as improvisações continuam até os dias de hoje.
112 | NACIONAL
Agregada à fragmentação construtiva existe também ideologia frágil. Dessa forma, a falta de um guia central que direcione à conceitos, tanto ambiental como educacional, enfraquece a concepção do parque.
Entretanto deve-se destacar o potencial dos zoológicos como instituição culturais e educativas, de modo que poucas outras instituições tem o mesmo apelo sobre esse ponto de vista. Além disso, os zoológicos também são essenciais como centros de apoio a preservação ambiental, o que é de extrema importância em países com ampla fauna e flora, como é o caso do Brasil. A sociedade paulistana, e brasileira, de modo geral não tem o costume de visitação à locais de cultura, tampouco de valorização da natureza e outros aspectos nacionais. Portanto, as poucas instituições que cumprem à esse fim devem ser locais de excelência que incentivem esses aspectos. Há tentativas que procuram aprimorar a situação do parque ao propor programas adicionais, como é o caso das visitas guiadas e o espaço Abaré. Ainda assim, essas
De modo geral, pode-se considerar que uma mudança nos aspectos essenciais deixou de ser desejada e passou a ser necessária ao parque para que esse seja considerado dentro dos parâmetros que um zoológico no século XXI procura. Por esses motivos considera-se que uma intervenção grande é necessária para que o Zoológico de São Paulo assuma o papel que pode ter na maior metrópole brasileira, servindo não apenas de exemplo para a cidade, mas também para todo o país que carece de outras instituições desse gênero. As construções atuais são, como um todo, simples e sem
unidade. Portanto, a falta de características marcantes no atual zoológico, tanto sob o ponto de vista histórico quanto arquitetônico e ambiental, permitiu a avaliação da situação sem que tenha a preocupação da permanência de alguma construção ou elemento. Assim sendo, considerou-se que a melhor forma de atingir o máximo potencial do Zoológico de São Paulo é propor uma remodelação completa do parque, criando uma nova proposta que seja capaz de solucionar problemas que existem desde sua concepção. Isso significa repensar o complexo todo, considerando desde sua localização e inserção urbana, até a setorização e programa. O momento atual na história supõe que a proposta considere as teorias e conceitos atuais. Estima-se que dessa forma, o zoológico seja capaz não apenas de se recolocar no cenário mundial, mas que também seja um polo cultural e educacional de importância para a cidade.
113 | NACIONAL
propostas não são capazes de impactar os visitantes. Para isso seria necessário intervir em aspectos físicos do zoológico, como é o caso do acesso, dos percursos confusos e da setorização aleatória dos animais.
06
PROPOSTA
LOCAL
116 | PROPOSTA
PARQUE DO ESTADO O Parque Estadual as Fontes do Ipiranga (PEFI) é uma área contínua de preservação de remanescentes de Mata Atlântica, com um dos maiores índices de proteção de natureza do país. Localizado na parte Sul da cidade de São Paulo, é circundado por todos os lados pela intensa urbanização.
Tem uma área de 536 hectares e altitude entre 770 e 825 metros, e sua vegetação é classificada como Mata Atlântica densa. Foi originado com o intuito de proteger os recursos hídricos da bacia do riacho do Ipiranga, de modo a garantir o abastecimento de água potável na capital.
Dentro do PEFI residem algumas instituições, como a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), Centro de Exposição Imigrantes, o 3ª Batalhão de Polícia, o Instituto de Botânica (IBt), que conta com o Jardim Botânico de São Paulo, além da Fundação Parque Zoológico, responsável pelo Jardim Zoológico de São Paulo e o Zoô Safari.
O parque já possui seus limites demarcados desde 1893. Em 1917 foram construídas as cinco barragens dentro do parque, represando os principais córregos do local. No entanto, a crescente urbanização no entorno poluiu as águas, encerrando sua utilidade como reservatório ainda na década de 1920.
Fica localizado à 9km ao sul da Praça da Sé, e à apenas 2km dos limites da Área de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo. O parque recebe bastante poluição aérea devido a sua inserção urbana, visto que há várias indústrias na região, principalmente nos distritos de Diadema e São Bernardo do Campo.
Foi considerado Logradouro Público em 1928, quando iniciou-se sua transformação em parque público. Na década de 1930 foram construídos o Jardim Botânico, o IAG e o então Departamento de Produção Animal. No final da década de 1960, teve seu nome alterado para Parque Estadual as Fontes do Ipiranga. No mesmo ano definiu-se as áreas florestais do parque, como de preservação, para “proteger sítios de excepcional beleza ou valor científico e histórico e asilar exemplares da fauna e flora ameaçadas de extinção”(SÃO PAULO (ESTADO) Secretaria do Meio Ambiente, 2002, p. 21)
Figura 139: Mapa de áreas verdade de SP Fonte: Gestão Urbana
Desde então é considerada Reserva Biológica, devendo ser mantida intacta, preservando as nascentes e atuando como repositório biológico. Em seu interior, é
permitido apenas construções relacionadas com seu uso ambiental, como torres de observações e trilhas. As áreas do Jardim Zoológico e ao Jardim Botânico são voltadas à pesquisa e visitação pública, onde é permitido outras construções relacionadas ao tal uso institucional.
ENTORNO O PEFI fica localizado na subprefeitura do Ipiranga, no distrito Cursino. Os bairros adjacentes são Cursino e Água Funda, além dos municípios de Diadema e São Bernardo. A história do entorno é recente em relação à cidade, visto que ficam afastados do centro, sendo incluídos apenas após o crescimento exponencial da cidade na metade do século XX. Na cartografia de 1930, é possível perceber o início do arruamento do bairro e pequenos núcleos isolados, principalmente da Água Funda à norte do parque. Já na década de 1950 verifica-se a expansão da cidade, de modo que os bairros não encontram-se isolados. Parte desse desenvolvimento deve-se ao loteamento da área nos anos 50 por Miguel Estefno. O bairro do Cursino, por sua vez, foi fruto da retalhação da fazenda de André Cursino, ainda no século XIX.
Figura 140: Mapa de áreas verdade de SP Fonte: Gestão Urbana
No levantamento oficial da Prefeitura de 1985, o PEFI já encontrava-se rodeado por urbanização, podendo ser considerado uma ilha de preservação em meio a cidade. Por ser uma área pública de preservação, o parque teve impactou o crescimento dos bairros adjacentes, agindo sempre como uma barreira. Desse modo as dinâmicas do entorno tem pouca repercussão no parque, que são de carácter metropolitano. Até as interações com os municípios vizinhos são mais importantes nas dinâmicas urbanas do bairro no dia-a-dia, visto que as cidades de São Bernardo e Diadema se conurbaram à São Paulo ainda na década de 1970. Salvo a verticalização pontual do entorno, imaginase que pouco do entorno tenha mudado desde nos últimos anos, visto que as imagens de satélites feitas a partir dos anos 2000 são de modo geral similares aos levantamento da década de 1980.
117 | PROPOSTA
A última grande alteração no PEFI ocorreu com construção da Rodovia dos Imigrantes, onde parte de seu traçado a leste foi alterado. A partir de então o parque permanece praticamente o mesmo.
DIRETRIZES Algumas ponderações sobre parque atual foram fundamentais para a intervenção, de modo a criar diretrizes iniciais
LOCALIZAÇÃO Existem problemas relacionados à inserção urbana no atual local do Zoológico de São Paulo. O parque, ainda que englobado pela cidade, continua com seus acessos principais isolados, visto que toda a área envoltória do é ainda de preservação ambiental integral.
118 | PROPOSTA
Assim o paradoxo encontra-se no isolamento do parque em relação à cidade e sua inserção em meio a mata. Considerou-se que sua inserção em um local de preservação, repleto de mata atlântica, com lagos e ampla área para intervenção é raro de se encontrar, e apresenta-se mais favorável para o desenvolvimento da proposta, do que sua relocação para uma área mais centralizada. Infelizmente isso significa que a chegada ao parque continuará restrita pela Avenida Miguel Estefno. O acesso poderá ser feito tanto por veículos, como pela linha de ônibus exclusiva que parte do terminal Jabaquara, há 2.5 km do parque.
CARACTERIZAÇÃO De acordo com o novo Plano Direto Estratégico (PDE) da cidade, o Parque do Estado é caracterizado como Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, uma Macroárea de Preservação dos Ecossistemas Naturais, e ainda como Parque Estadual de Proteção Integral. O PDE estipula, no art. 265, que as áreas verdes são de interesse público para o cumprimento de funcionalidades ecológicas, paisagísticas, produtivas urbanísticas, de lazer e práticas de sociabilidade, além de permitir a implantação de áreas de lazer, recreação de uso coletivo, segundo art. 275 (PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO, 2014) O zoneamento, por sua vez, classifica o lote da Fundação Parque Zoológico de São Paulo como Zona Estadual de Preservação (ZEP), sob a qualificação PA13. Nessa categoria todos os parâmetros urbanísticos são marcados como NA, ou seja, não aplicáveis. Isso significa que os índices dependem de consultas pontuais de acordo com o projeto, visto que as atividades instaladas nesse zoneamento são muito especificas. Dessa forma a consideração feita em relação à caracterização do terreno foi de atentar ao impacto ambiental, buscando minimizá-lo, além de respeitar os limites de mata preservada, trabalhando apenas nos locais já desmatados.
BRASILIDADE
Apenas em relação à fauna, o Brasil é lar para cerca de 9 mil vertebrados e mais de 100 mil invertebrados, dos quais mais de mil espécies estão atualmente sob ameaça de extinção01. Entre as principais razões que causam a diminuição das espécies na natureza estão conflitos relacionados ao crescimento da sociedade, de formas mais imediatas, como é o caso dos desmatamentos, ou mais lentas, através da poluição e mudanças climáticas. 01 Dados do Ministério do Meio Ambiente, no Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (CTFB)
Como visto anteriormente, ao considerar o potencial que os zoológicos tem de educar e conscientizar a população à respeito da preservação ambiental, o novo zoológico de São Paulo deve ser uma das principais instituição nesse campo. Para isso, dentro do novo plantel de animais do parque farão parte apenas indivíduos nacionais, ou seja, todos os animais do zoológico serão de origem brasileira. A priorização será de animais resgatados ou com lesões que impossibilitem sua sobrevivência na natureza, tornando o parque em um grande centro de recuperação de espécies. Deve-se considerar também que por todos os animais serem de biomas nacionais, os quais possuem características gerais semelhantes, todos podem ser inseridos no local sem que sejam necessários adaptações artificiais, como aquecimento, resfriamento ou iluminação. Isso é fundamental não apenas para a adaptação dos animais, mas também é essencial para que o projeto seja mais sustentável, requerendo menos energia e manutenção.
119 | PROPOSTA
O Brasil é um país de extensão continental, contendo múltiplas características, tanto sociais como ambientais. Juntos os diversos biomas, são responsáveis por abrigar a maior biodiversidade do planeta, demandando do país responsabilidade pela conservação e preservação de sua fauna e flora.
MASTERPLAN A concepção do novo zoológico de São Paulo, e seu respectivo Masterplan, teve seguiu alguns princípios inicias.
PRESERVAÇÃO
Em primeiro lugar, considerou-se essencial manter a área preservada de Mata Atlântica intacta. O projeto ocuparia então apenas a área já desmatada do parque, de acordo com os dados do levantamento feito em 2002 pela Secretaria do Meio Ambiente.
HIDROGRAFIA
O segundo ponto foi manter o lago principal do parque, tanto como memória do atual parque como devido aos seus registros históricos.
ADMINISTRAÇÃO
120 | PROPOSTA
Por fim, manteve-se a área administrativa ao fundo do parque, visto que as instalações aparentam estar adequadas, Trata-se de um uso isolado ao uso público de parque, composta por áreas administrativas, além de laboratórios e cozinhas. O restante do programa foi decomposto em três áreas principais: acesso, educação e exibição.
Figura 141: Esquema de diretrizes Fonte: Própria
MUSEU DE ECOLOGIA
PASSARELA
CIRCUITOS SUSPENSOS
Figura 142: Esquema de concepção Fonte: Própria
Para o acesso, decidiu-se que permaneceria do lado oeste, e o restante do programa ficaria do lado leste da Avenida Miguel Estefno, como já acontece atualmente. A verticalização do estacionamento, transformando-o em edifício garagem, teve como princípio aumentar o número de vagas carros e ônibus, sem que fosse necessário extravasar a área do estacionamento aberto atual. O Museu de Ecologia, localizado no centro do lago principal, serve tanto ao objetivo educacional do zoológico, como forma de conectar os programas adjacentes. Assim os visitantes são compelidos à passarem pela parte educativa, que aborda temas relacionados à proteção do planeta e a conscientização de sua população. Também foi de grande importância a concepção dos percursos elevados, de modo a permitirem que os visitantes transitem em nível, visto que o terreno é excessivamente acidentando. Isso resultou na liberação do solo para os animais, de forma a serem inseridos em um ambiente mais natural.
121 | PROPOSTA
EDIFÍCIO GARAGEM
PROJETO
122 | PROPOSTA
O projeto desenvolvido trata de remodelar o zoológico de São Paulo, de modo a se adequar melhor aos conceitos atuais. Em seguida, a descrição tanto do Masterplan, como das três principais áreas do complexo.
Figura 143: Corte Geral Transversal Fonte: Própria
EDIFÍCIO GARAGEM
PASSEIOS
123 | PROPOSTA
MUSEU DE ECOLOGIA
124 | PROPOSTA
Figura 144: Implantação e Corte Longitudinal Fonte: Própria
ÁREAS ÁREA FPZSP
820 000 m2
ÁREA DO LOTE (MDC)
660 000 m2
ÁREA DE PRESERVAÇÃO
305 000 m2
ÁREA SEM PRESERVAÇÃO
355 000 m2
ÁREA DE INTERVENÇÃO
EDIFICIO GARAGEM
55 000 m2 300 000 m2
47 826 m2
MUSEU CENTRAL
4 612 m2
ECOSSISTEMAS
24 253 m2
PANTANAL AVES CERRADO FLORESTA
6 176 4 573 6136 7367
ÁREA CONSTRUÍDA
76 691 m2
ÁREA DE OCUPAÇÃO
34 028 m2
T.O. (INTERVENÇÃO)
12%
C.A. (INTERVENÇÃO
0.25
125 | PROPOSTA
ADMINISTRÇÃO
126 | PROPOSTA
O grande volume circular comporta o estacionamento público do complexo. Como visto, o local permanece de difícil acesso em relação a cidade, de modo que o visitantes chegam predominantemente de veículos, sejam esses automóveis particulares, transporte púbico ou inclusive por meio de ônibus e vans.
O acesso aos que chegam pelo sistema de transporte público é feito pela entrada principal logo ao lado, que segue em declive até o core do edifício. Nas margens do vazio central, ficam localizados os dois eixos de circulação, cada qual com uma escada de emergência, quatro elevadores e duas escadas rolantes.
Um aspecto do edifício é sua inserção em relação ao terreno, de forma a ficar parcialmente enterrado. O atual local de estacionamento já fica nessa posição, onde as vagas são determinadas de maneira improvisada e sob um alto aclive, como já visto anteriormente. Aproveitouse então da característica geográfica do local para inseri o edifício garagem, de modo a camuflar sua altura, parecendo mais inserido na paisagem.
Pouco antes dos ponto de ônibus, fica o acesso para todos os demais veículos, como ônibus, vans e automóveis. Tanto na entrada como na saída, uma faixa é dedicada aos veículos de grande porte, como os ônibus, e outra para veículos padrões.
O programa do edifício é composto pelo acesso de pedestre no andar inferior e acima fica o estacionamento para ônibus e vans. Os próximos três andares são destinados ao estacionamento de carros, e por fim, no último pavimento fica o programa de chegada ao zoológico.
Para o estacionamento de ônibus privados, no primeiro pavimento, a disposição das vagas de forma circular permite o embarque e desembarque nos ônibus de forma mais segura, visto que logo pode-se acessar o núcleo de circulação vertical sem ter que cruzar o circuito de veículos. Tal arranjo permite que haja menor risco de acidentes, o que é de extrema importância dado que grande parte dos visitantes de excursões são grupos escolares.
A Avenida Miguel Estefno foi alargada no trecho próximo ao acesso, de modo a criar ponto de ônibus laterais em ambos sentidos. Isso permite que o embarque e desembarque seja feito com mais segurança e sem atrapalhar o fluxo da via.
As vagas para automóveis encontram-se nos próximos três pavimentos e também são dispostas de forma radial. O formato circular acabou por possibilitar o trânsito de mão única, seguindo sempre no sentido horário, em todos os pavimentos. As rampas entre níveis ficam localizadas 127 | PROPOSTA
EDIFÍCIO GARAGEM
nas extremidades externas da circunferência. No total são mais de 650 vagas, sendo mais de 7% dessas vagas especiais, destinadas à deficientes, idosos e gestantes. No pavimento superior encontra-se um grande programa de atividades que dão início a experiência do zoológico. A recepção e bilheteria encontra-se na parte norte do edifício, e logo atrás um amplo lounge com vista para o complexo conforma uma área de espera e descanso para os visitante. O principal restaurante do complexo encontrase também nesse setor, seguindo o modelo self-service é capaz de comportar mais de 250 pessoas. À direita da bilheteria encontra-se a loja de souvenir temática do parque, além da catracas de acesso ao parque. Essa solução considera obriga os visitantes a passar pela loja, tornando-o um possível consumidor tanto no início quanto no fim do passeio. No terraço após o controle de acesso, os visitantes atravessam a ponte de 115 metros de comprimento,
E07 26.00
E06 20.00 E05 17.00 E04 14.00 E03 11.00
E02 05.00
128 | PROPOSTA
E01 02.00
Figura 145: Estacionamento Corte A-A Fonte: Própria
que passa sobre o lago e a Avenida Miguel Estefno, até chegar na próxima área do projeto: o Museu de Ecologia. Ainda no edifício garagem, os banheiros localizam na periferia desses usos de carácter mais público, visto que o restante do programa do último andar é de acesso controlado. Lá encontram-se os dois auditórios com capacidade para mais de 150 lugares cada, de modo a servirem para palestras e congressos sobre zoológicos e proteção ambiental, além de poder ser usado pelos visitantes em apresentações de teatros ou filmes. Há também três salas que permitem atividades em grupo, além de uma pequena área administrativa, destinada à relações públicas.
129 | PROPOSTA
A cobertura do edifício abriga as devidas áreas técnicas, como casa de máquinas e caixa d’água. Aproveitou-se do restante da área para criar uma grande cobertura verde, com mais de 7.000 m2, capaz de absorver calor e água além de se integrar à paisagem.
130 | PROPOSTA
2
1
3
A 10
11 09
12
B
08
4 01 07
4
02
B 06
03 05
04
A
Figura 146: Estacionamento Corte A-A Fonte: Própria
131 | PROPOSTA
1 | PONTO DE ÔNIBUS 2 | ACESSO DE VEÍCULOS 3 | ACESSO PÚBLICO 4 | CIRCULAÇÃO
132 | PROPOSTA
O programa do edifício é composto pelo acesso de pedestre, o estacionamento para ônibus e carros, e por fim, no último pavimento fica o programa de chegada ao zoológico. Figura 147: Perspectiva da bilheteria e lounge, com catracas de acesso ao fundo. Fonte: Própria
1
A 10
11 09
12
2
B
08
01 4
07
4
02
B 06
03 05
04
A
Figura 148: Estacionamento Planta 02 Fonte: Própria
133 | PROPOSTA
1 | PONTO DE ÔNIBUS 2 | ACESSO DE VEÍCULOS 3 | ACESSO PÚBLICO 4 | CIRCULAÇÃO
134 | PROPOSTA
Figura 149: Estacionamento Planta 03
Figura 150: Estacionamento Planta 04
A
B 1
1
B A
Figura 151: Estacionamento Planta 05 Fonte: Própria
135 | PROPOSTA
1 | CIRCULAÇÃO
136 | PROPOSTA
A recepção e bilheteria encontra-se na parte norte do edifício, e logo atrás um amplo lounge com vista para o complexo conforma uma área de espera e descanso para os visitante. Figura 152: Perspectiva da bilheteria e lounge, com catracas de acesso ao fundo. Fonte: Própria
A B
L
5 C
K 4
A
J
D
4
3
3
2
5 I
E
2
1 +20,00 m
H
F
B
12
1
3
G
G
6
6
1 F
H
B
7
6 2
8
8
6
I
E
11
9
9 3
10
D
J
A
4 C
K 5 B
L A
Figura 153: Estacionamento Planta 06 Fonte: Própria
1 | BILHETERIA 2 | LOUNGE 3 | LOJA 4 | ENTRADA 5 | SAÍDA 6 | BANHEIROS 7 | ADMINISTRAÇÃO 8 | AUDITÓRIO 9| FOYER 10 | SALA DE PROJEÇÃO 11 | DEPÓSITO 12 | RESTAURANTE 13 | COZINHA
137 | PROPOSTA
10
138 | PROPOSTA
Figura 154: Estacionamento Planta 07
Figura 155: Estacionamento Corte B-B Fonte: Prรณpria
Fonte: Prรณpria
JARDIM RALO CAPEAMENTO PLATIBANDA IMPERMEABILIZAÇÃO FIXAÇÃO ESTRUTURA EM CONCRETO
FIXAÇÃO ESTRUTURA DE CONCRETO PAINEL FACHADA
Figura 156: Estacionamento Detalhe 01
Fonte: Própria
DET. 2
DET. 1
Figura 157: Estacionamento Detalhe 02
Fonte: Própria
E07 26.00
E06 20.00 E05 17.00 E04 14.00 E03 11.00
E02 05.00 E01 02.00
139 | PROPOSTA
JARDINEIRA
140 | PROPOSTA
MUSEU DE ECOLOGIA
O core do edifício é composto por dois elevadores, que tem suas aberturas alternadas de acordo com o lado de saída para os percursos. Sempre do lado oposto à saída dos elevadores ficam os três banheiros,cada qual com layout individual, o que permite acessibilidade em todos, além de facilitar o uso de crianças com pais. Como forma de estruturar o edifício sem que houvesse obstáculos ao longo do trajeto expositivo, concebeu-se o seguinte esquema estrutural. Nas bordas do núcleo central, duas paredes estruturais são responsáveis pela ancorarem das doze vigas de concreto em balanço, dispostas a cada 30º, que acompanham os pisos rampeados. Vigas secundárias seguem os limites da laje, auxiliando no travamento e suporte da estrutura. No nível de chegada, uma pequena recepção auxilia os visitantes à dar início ao passeio, ainda que o programa seja bem imediato: as rampas descem até os níveis de acesso aos percursos externos. A solução de rampear a maior parte do edifício acaba por otimizar a circulação entre níveis, tornando mais fácil o deslocamento de
Ao longo da descida, as exposições explicam a importância da proteção ambiental, além das características dos ecossistemas que serão visitados em seguida. Ao acessar os níveis dos percursos, os visitantes saem do museu em direção às áreas expositivas através de passarelas sob o lago principal do parque. Cada percurso termina de forma cíclica, ou seja, os visitantes retornam pela mesma passarela e adentram o museu mais uma vez, e continuam o passeio em direção ao próximo ecossistema. No último pavimento deste volume fica localizado outro restaurante, este por sua vez com poucas mesas e serviço à la carte, diferentemente do outro restaurante principal. Sua localização há 27 metros de altura também possibilita uma visão panorâmica do parque e da cidade. A fachada externa é concebida como uma malha losangular em madeira, com fechamento em vidros smart glass transparentes, capazes de bloquear a incidência solar, aumentando assim a eficiência do edifício. O desenhos da fachada permitem não apenas criar uma proteção solar adicional ao edifício, que pela forma e localização recebe muita isolação, mas também cria um jogo de sombras e vistas mais interessante. 141 | PROPOSTA
Ao atravessar a ponte, os visitantes entra na principal parte educativa do parque. O volume é rampeado, e possui seção elíptica irregular, resultando em uma forma que remete à uma árvore.
crianças e grandes grupos, além de conferir um uso duplo às lajes como museu e circulação simultaneamente.
142 | PROPOSTA
Ao acessar os níveis dos percursos, os visitantes saem do museu em direção às áreas expositivas através de passarelas sob o lago principal do parque. Figura 158: Vista do museu de ecologia a partir da passarela em direção ao percurso do cerrado Fonte: Própria
M09 34.00
M08 31.00
M07 27.00
M06 22.00
PAINEL DE VIDRO CAIXILHO EM MADEIRA GUARDA-CORPO DE VIDRO
M04 15.00
FIXAÇÃO CAIXILHO FIXAÇÃO ESTRUTURA ESTRUTURA CONCRETO
M03 09.00
FORRO EM MADEIRA
DET. 1
M02 07.00
Figura 159: Museu Detalhe Fachada Fonte: Própria
Figura 160: Museu Corte B-B Fonte: Própria
143 | PROPOSTA
M01 01.00
A
A
1 3
B
1
2
B
2
5
4
B
B
Figura 161: Museu Planta 08
A
A
1| CASA DE MÁQUINAS 2| CAIXA D’ÁGUA
Figura 162: Museu Planta 07
A
A B
4
B
1
5
B
1| RECEPÇÃO 2| ELEVADORES 3| RESTAURANTE 4| COZINHA 5| BANHEIROS
2
2
B
3
Figura 163: Museu Planta 06
1| PASSARELA 2| CHEGADA 3| EXPOSIÇÃO 4| ELEVADORES 5| BANHEIROS
A
A
144 | PROPOSTA
1
Figura 164: Museu Planta 05
1| ELEVADORES 2| BANHEIROS
Figura 165: Perspectiva recepção museu. Fonte: Própria
145 | PROPOSTA
No nível de chegada, uma pequena recepção auxilia os visitantes à dar início ao passeio.
A
A 3
B
1
B
2
2
1
3
B
B
Figura 166: Museu Planta 04
A
A
1| ELEVADORES 2| BANHEIROS 3| FLORESTA
1| ELEVADORES 2| BANHEIROS 3| CERRADO
Figura 167: Museu Planta 03
A
A 3
B
1
1
B
2
2
3
B
Figura 168: Museu Planta 02
1| ELEVADORES 2| BANHEIROS 3| AVES
A
A
146 | PROPOSTA
B
Figura 169: Museu Planta 01
1| ELEVADORES 2| BANHEIROS 3| PANTANAL
M09 34.00
M08 31.00
M07 27.00
M06 22.00
Figura 170: Museu Corte A-A Fonte: Prรณpria
147 | PROPOSTA
M04 15.00
148 | PROPOSTA
PERCURSOS
A geometrização do percurso também auxiliou na criação de grandes áreas internas, que servem como principal lugar de disposição dos animais. Através dessa área central foi possível criar paisagens imersivas, onde as várias espécies aparentam estarem juntas, ainda que haja uma série de barreiras ocultas. A estrutura do módulo deriva da concepção de incluir de apenas um pilar de concreto por módulo, de forma a ter menos impacto no solo. Este pilar, por sua vez, encontra-se desalinhado do eixo, sendo menos visível aos visitantes, simulando a levitação do percurso. O restante da estrutura é desenvolvido em madeira, como forma de trabalhar aspectos mais naturais da materialidade. Duas grandes vigas vencem o vão principal, auxiliadas por vigas secundárias paralelas, enquanto no sentido transversal três vigas travam a estrutura. O piso é composto por madeiras para deck externos, capazes de aguentar as
adversidades do clima. Por fim, na lateral são fixadas as ripas de madeira que conformam o guarda-corpo. A concepção estrutural do módulo permitiu também um circuito de serviços, utilizado principalmente pela equipe de manutenção e pelos cuidadores de animais. Dessa maneira, toda a parte de gestão fica escondida abaixo dos visitantes. Para abrigar usos complementares, como banheiros, quiosques de alimentação, salas de atividades, entre outros, foram desenvolvidos módulos extras. Esses, no entanto, ficam localizados na parte externa ao percursos, de modo a não interferir na área dos animais . Todos os percursos acontecem em nível, ou seja, são completamente acessíveis, havendo apenas diferenciação em relação ao solo conforme a topografia. Isso facilita a locomoção de crianças e grandes grupos, além de garantir a visitação de pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida sem grandes obstáculos. Ao longo do trajeto também encontram-se bancos, para que os visitantes possam descansar e admirar o parque. Os quatro circuitos abordam ecossistemas e animais brasileiros, de modo a incentivar a educação e cuidado das espécies nacionais. Os quatro sistemas selecionados são os seguintes: 149 | PROPOSTA
Os percursos foram concebidos partindo do módulo hexagonal, com lado de 6 metros e comprimento de 10.4 metros, criando assim uma malha regular sobre o parque. Essa modulação permitiu trechos retilíneos que variam entre si em ângulos múltiplos de 60º, de modo a criar curvas mais suaves e minimizar a visualização cruzada do circuitos. Onde acontecem as mudanças de direção módulos curvos semelhantes realizam a transição entre os retilíneos.
PASSEIO
6.00 M
150 | PROPOSTA
10.40 M
AMBIENTAÇÃO
COMPLEMENTARES Figura 171: Esquemas de composição dos percursos Fonte: Própria
Figura 172: Modulação baseada em grid heaxagonal Fonte: Própria
guarda-corpo 0.03 X 0.03 X 1.63 M
piso de tábuas 0.10 x 6.00 x 0.03 m
viga madeira terceária
0.30 x0.15 x 5.60 m
viga madeira secundária 0.30 x0.20 x 2.40 m
viga madeira primária 0.60 x0.20 x 9.60 m
Figura 173: Iosmétrica Módulo Fonte: Própria
151 | PROPOSTA
pilar de concreto
DET. 1 Figura 174: M贸dulo Planta Fonte: Pr贸pria
DET. 3
152 | PROPOSTA
DET. 2
Figura 175: M贸dulo Corte Longitudinal Fonte: Pr贸pria
GUARDA-CORPO 0.03 X 0.03 X 1.63 M APARAFUSAMENT0 ALTURA X LARGURA X COMPRIMENTO X QUANTIDADE
VIGA PRIMÁRIA
0.60 X 0.20 X 9.60 X 2
VIGA SECUNDÁRIA
0.30 X 0.20 X 2.40 X 20
VIGA TERCEÁRIA
0.30 X 0.15 X 5.60 X 3
PISO DE TÁBUAS
0.03 X 0.10 X 6.00 X 104
GUARDA-CORPO
1.63 X 0.03 X 0.03 X 208
PISO DE TÁBUAS 0.10 X 6.00 X 0.03 M
Figura 177: Detalhe 01
Fonte: Própria
MEDIDAS EM METROS
DIMENSIONAMENTOS
GUARDA-CORPO PISO DE TÁBUAS 0.10 X 6.00 X 0.03 M
VIGA MADEIRA PRIMÁRIA 0.60 X0.20 X 9.60 M
ENCAIXE 0.10 X 0.10 X 0.10
VIGA MADEIRA TERCEÁRIA 0.30 X0.15 X 5.60 M
PILAR DE CONCRETO
Figura 178: Detalhe 02 Fonte: Própria
GUARDA-CORPO PISO DE TÁBUAS 0.10 X 6.00 X 0.03 M
VIGA MADEIRA SECUNDÁRIA 0.30 X0.20 X 2.40 M
FIXAÇÃO VIGA SECUNDÁRIA
DET. 2
PILAR DE CONCRETO FIXAÇÃO VIGA PRIMÁRIA
Figura 179: Detalhe 03 Fonte: Própria
GUARDA-CORPO PISO DE TÁBUAS 0.10 X 6.00 X 0.03 M
VIGA MADEIRA SECUNDÁRIA 0.30 X0.20 X 2.40 M
FIXAÇÃO VIGA MADEIRA TERCEÁRIA VIGA MADEIRA PRIMÁRIA 0.60 X0.20 X 9.60 M
Figura 176: Módulo Corte Transversal Fonte: Própria
Figura 180: Detalhe 04 Fonte: Própria
153 | PROPOSTA
0.30 X0.15 X 5.60 M
154 | PROPOSTA
155 | PROPOSTA
Figura 181: Perspectiva passarelas em direção aos percursos Fonte: Própria
PANTANAL Localizado no centro-oeste, o Pantanal é caracterizado pelos marcantes períodos de cheias e secas dos rios, sendo classificado como uma planície aluvial. É o menor dos biomas brasileiros, abrangendo atualmente cerca de 2% do território nacional, ainda que essa seja apenas 1/8 de sua extensão original.
156 | PROPOSTA
Ao longo do percurso, os visitantes podem avistar onças-pintadas, capivaras, ariranhas, jacarés, entre outros animais característicos do ecossistema. O rio que serpenteia por entre a paisagem, tem como objetivo marcar essa característica do bioma, além atender aos animais e agir como barreira entre eles. A vegetação, topografia e pedras também são elementos que passam disfarçados como obstáculos.
157 | PROPOSTA
Figura 182: Perspectiva recinto das onรงas-pintadas com capivaras ao fundo. Fonte: Prรณpria
2 3
4 5
158 | PROPOSTA
6
Figura 183: Ambientação Pantanal Fonte: Própria
01
DIVERSOS VEADO
02FELINO
ONÇA-PINTADA
1
03MERGULHO ARIRANHA
04
TARTARUGA CÁGADO
05CAMPESTRE CAPIVARA
06
JACARÉS J. DO PANTANAL J. DO PAPO AMARELO
159 | PROPOSTA
1
RIO
160 | PROPOSTA
Figura 184: Pantanal Corte A-A | Ariranhas Fonte: Prรณpria
Figura 185: Pantanal Corte B-B | Onรงa-pintada e Capivaras Fonte: Prรณpria
161 | PROPOSTA
AVES O Brasil possui um grande número de aves, contabilizando quase 2.000 espécies01, cada qual com características únicas e marcantes. Dentre as aves mais conhecidas em todo o país destacam-se as araras e tucanos, além da seriema e o tuiuiú. As aves foram locadas separadamente dos biomas, visto que é necessário que haja uma barreira envoltória para que não escapem. Em função disso, o segundo circuito é encoberto por uma fina malha que permita que as aves voem livremente dentro do complexo, mas sem que haja o risco de fuga. O percurso é setorizado em três áreas, visando criar ambientes separados para os três principais tipos de aves do complexo: aves de voo alto, aves de caça e aves de voo baixo.
162 | PROPOSTA
01 Dado levantado pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) em 2014.
163 | PROPOSTA
Figura 186: Perspectiva aviรกrio. Fonte: Prรณpria
1 1
3
164 | PROPOSTA
3
Figura 187: Ambientação Aves Fonte: Própria
COPA
01
PAPAGAIO ARARA MAITACA MARACANÃ MARIANINHA PERIQUITO TUCANO
VOO
02 2
GAVIÃO HARPIA MUTUCUTU URUBU
TERRA
165 | PROPOSTA
03
MARRECA MACUCO PATO PATURI TACHÃ
Figura 188: Aves Corte A-A | Copa Fonte: Prรณpria
166 | PROPOSTA
Figura 189: Aves Corte B-B | Voo Fonte: Prรณpria
Figura 190: Aves Corte C-C | Terra Fonte: Prรณpria
167 | PROPOSTA
CERRADO Também conhecido como a savana brasileira, o cerrado é o segundo maior bioma do país. Inserido no coração do continente, é caracterizado por vegetação baixa e uma longa estação de seca. Mesmo com seu clima desértico, o grande a região origina as três maiores bacias hidrográficas do país. Recentemente, apenas 20% da área original do cerrado permanece intacta, devido à ameça de incêndios, além da ampliação da agricultura
168 | PROPOSTA
Inseridos no percurso estão os principais representantes da fauna do Cerrado, como o lobo-guará, tatus-canastras e o peculiar tamanduá bandeira. A paisagem nos recintos procura assemelhar a aridez do Cerrado, com vegetação rasteira e poucas fontes de água.
169 | PROPOSTA
Figura 191: Perspectiva recinto da suรงuarana com lobos-guarรก ao fundo Fonte: Prรณpria
3
2
4
170 | PROPOSTA
5
Figura 192: Ambientação Cerrado Fonte: Própria
DIVERSOS TAMANDUÁ BANDEIRA
01
TAMANDUÁ MIRIM EMA VEADO
02TATUS
03LOBO-GUÁRA 1
04SUÇUARANA
PREDADORES CACHORRO-DO-MATO JAGUATIRICA GATO-MARAJÁ
171 | PROPOSTA
05
172 | PROPOSTA
Figura 193 Cerrado Corte A-A | Lobo Guรกra Fonte: Prรณpria
Figura 194: Pantanal Corte B-B | Diversos Fonte: Prรณpria
173 | PROPOSTA
FLORESTA O Brasil é um país mundialmente famoso por suas florestas tropicais, das quais duas se destacam: a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica. A Amazônia constitui 30% de todas as florestas tropicais do mundo, sendo portanto de extrema importância não apenas na escala nacional. Dentro dos seus 4.2 milhões de km2 encontra-se uma ampla diversidade vegetal e animal, além de suas riquezas que são muitas vezes exploradas por moradores locais.
174 | PROPOSTA
Já a Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais devastados de todo o mundo, restando apenas pouco mais de 5% da área original. O início de tamanha destruição surgiu com a colonização brasileira e perdurou devido as grandes cidades instaladas dentro desse bioma. No zoológico será possível avistar muitos dos principais animais da região, como por exemplo os primatas, que ficam localizados em ilhas em dois lagos ao longo do percurso. Os animais terrestres, como a anta e queixada, poderão ser vistos juntos, como forma de criar um ambiente que integre as espécies assim como na natureza. A vegetação envoltória de Mata Atlântica original acaba por proporcionar um fator extra para a experiência dos visitantes, onde poderá ser observados animais livres que habitam as redondezas do parque.
175 | PROPOSTA
Figura 195: Perspectiva floresta de recinto misto, com animais como anta e queixadas. Fonte: Prรณpria
4
3
5 6
176 | PROPOSTA
5
Figura 196: Ambientação Floresta Fonte: Própria
1
CAMPESTRES
01
ANTA QUATI CAITUTU
02ANFITEATRO FELINOS
03
ARBORÍCOLAS PREGUIÇA JARITACA CUTIA IRARA JUPARÁ
04
PRIMATAS BUGIO M. ARARANHA M. PREHO M. BARRIGUDO MICO LEÃO
05
DIVERSOS
06
ANTA VEADO
177 | PROPOSTA
2
GATO-DO-MATO GATO MARAJÁ GATOU MOURISCO
Figura 197: Floresta Corte A-A | Campestre Fonte: Própria
178 | PROPOSTA
Figura 198: Floresta Corte B-B | Aborícolas Fonte: Própria
Figura 199: Floresta Corte C-C | Ilha dos Macacos Fonte: Própria
179 | PROPOSTA
RESULTADOS A proposta para o novo zoológico de São Paulo apresenta-se como uma inovação ousada, especialmente em contraste como atual parque. Trata-se de um projeto de escala metropolitana, que necessita de programa complexo e singular. Para isso, desenvolveuse um projeto que beirasse os limites de conceitos contemporâneos relacionados ao tema. Dentre os pontos negativos que persistem deve-se destacar a dificuldade de acesso, que permanece problemática devido ao isolamento do parque. É também delicada a implantação de um programa extenso como esse dentro de uma área de preservação permanente.
180 | PROPOSTA
No entanto, pode-se destacar como aspectos positivos a reformulação do parque, e consequentemente sua instituição, que atualmente não estão nas melhores condições. Na questão conceitual, o novo projeto propõe um novo local de aprendizado e entretenimento para a cidade. Sob o ponto de vista ambiental, a inovação do zoológico teria impactos tanto no local, através de soluções mais sustentáveis, como também à distância, através do gradual reconhecimento como instituição fundamental na área. Visualizar o que o Zoológico de São Paulo poderia ser para a cidade e sociedade, reflete muito sobre como lidamos com instituições que prezam tanto pelo conhecimento quanto pela preservação.
181 | PROPOSTA
Figura 200: Perspectiva geral do projeto Fonte: Prรณpria
07
˜
˜ CONSIDERACOES
Com os crescentes desastres ambientais que vem acontecendo no mundo, a preocupação ambiental merece mais atenção do que nunca antes. Dessa forma, para que as mudanças necessárias ocorram, é fundamental a conscientização da população. A promoção de discussões relacionadas à essa temática tornam-se cada vez mais essenciais em todos os campos de conhecimento. Considerando que a maior parte da população viverá em cidades até 203001 , deve-se atentar aos meios que conectem as pessoas à natureza, educando e demonstrando sua importância para o planeta. Os Zoológicos aparecem dentro desse cenário como solução mais direta e imediata para proteção dos animais e seus ecossitemas,
184 | CONSIDERACOES
01
Dado estimado pela ONU em 2016
capaz de atuar tanto na educação de seus visitantes quanto na conservação de espécies. Ainda que a proposta dos zoológicos não seja superior à vida livre, é ainda necessária nesse momento, principalmente em países subdesenvolvidos, onde os aspectos ambientais raramente são prioridades. O Brasil encontra-se portanto em uma situação grave, uma vez que as maiores reservas naturais do mundo são pouco valorizadas pela sociedade.
185 | CONSIDERACOES
Nesse sentido, tanto a pesquisa como o projeto, apresentam-se como uma reflexão crítica dos modos como instituições e arquiteturas podem auxiliar a sociedade a compreender o valor do meio ambiente. Imaginar as possibilidades dos zoológicos, é de certa forma refletir sobre o rumo da sociedade no futuro.
08
BIBLIOGRAFIA
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