ISAAC BARELLA ACRAS
A EXPRESSÃO DO CAPITAL PELOS SÍMBOLOS DE CONSUMO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Publicidade, Propaganda e Mercado São Paulo, Janeiro de 2011
ISAAC BARELLA ACRAS
A EXPRESSÃO DO CAPITAL PELOS SÍMBOLOS DE CONSUMO
Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do Curso de Especialização, para obtenção do título de Especialista em Publicidade, Propaganda e Mercado sob a orientação do Prof. Dr. João Luís Anzanello Carrascoza.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Publicidade, Propaganda e Mercado São Paulo, Janeiro de 2011
Banca examinadora:
Dedico esta dissertação a todos que posicionam a estrutura do capital como algo secundário às relações humanas naturais.
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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Prof. Dr. João Luís Anzanello Carrascoza, o qual acreditou junto a mim nesse estudo. Agradeço também a todos os integrantes da sociedade urbana capitalista, os quais indiretamente, me instigaram a decodificar as estruturas de expressão vigentes na comunicação a partir dos símbolos, iniciando pelo capital.
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RESUMO
A síntese deste ensaio acadêmico estrutura-se pelas vias de comunicação
intermediadas pelos produtos, integrantes do contexto social brasileiro. Dentre suas diversas facetas comunicacionais, traremos um pequeno recorte sobre a expressão do capital imersa nas relações de compra e posse de produtos, os tornando símbolos de consumo, quando inseridos no contexto social das classes econômicas.
Também nos estimulamos a decodificar os pormenores de precificação praticados
no mercado, e entender como este composto colabora para a produção de símbolos de consumo representativos. Como consequência procuramos percorrer as artérias para a aquisição de bens de consumo no Brasil, fechando assim o ciclo intermitente de precificação e consumo, incitados pela publicidade.
Sugerimos que a retórica expressa pelos símbolos de consumo esteja sendo
absorvida como verdadeira pelos meios de comunicação, tão somente pela leitura da posse de bens. Utilizada como base principal para a comunicação com o público alvo, esta retórica pode gerar constantes ruídos e déficits comunicacionais, por vezes mascarados pela expressão do montante de capital aparente que as classes determinadas expressam. Porém, com acesso ao financiamento, essas classes podem expressar-se supostamente mais ricas do que são, dificultando a definição correta do público-alvo para a elaboração de campanhas de comunicação mais efetivas, alinhadas ao mercado brasileiro.
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ABSTRACT
The synthesis of this academic essay is structured by the ways of communication
mediated by the products, members of the Brazilian social context. Among its several communication facets, we will bring a small cutout about the expression of capital embedded in the relations of buying and holding products, making them consumption symbols when placed in the social context of economic classes.
We also encourage ourselves to decode the pricing details at the market and
understand how this compound contributes to the production of symbols of representative consumption. As a consequence, we tried to move through the arteries to the acquisition of consumer goods in Brazil, closing the intermittent cycle of pricing and consumption, spurred by advertising.
We suggest that the rhetoric expressed by the consumption symbols is being
absorbed as true by the media, only because the possession of goods. Used as the primary basis for communication with the target audience, this rhetoric can generate constant noise and communication deficits, sometimes masked by the amount expression of apparent capital that the determined classes expresses. However, with access to finance, these classes can express themselves supposedly richer than they are, hindering the proper definition of the target for the development of more effective communication campaigns, aligned with Brazilian market.
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LISTAS
CAPITULO III Figura 1: Modelo de precificação........................................................................................................................................................................ 22
CAPITULO IV Figura 2: Renda domiciliar......................................................................................................................................................................................... 26 Figura 3: Renda domiciliar detalhada......................................................................................................................................................... 26 Figura 4: Evolução das classes econômicas...................................................................................................................................... 26 Figura 5: População por classes econômicas................................................................................................................................... 27 Figura 6: Pirâmide econômica do Brasil................................................................................................................................................ 28 Figura 7: Perfil das Classes......................................................................................................................................................................................... 29 Figura 8: Acumulação de capital........................................................................................................................................................................ 31 Figura 9: Rendimento por idade ativa........................................................................................................................................................ 33 Figura 10: Renda média do brasileiro......................................................................................................................................................... 34 Figura 11: Modelo de expressão do capital........................................................................................................................................ 35 Figura 12: Prestações por valor............................................................................................................................................................................ 37 Figura 13: Prestações por valor consolidado................................................................................................................................... 37 Figura 14: Financiamentos por faixa de valor............................................................................................................................... 39 Figura 15: Simulação de financiamento habitacional, Caixa SBPE............................................................. 40
CAPITULO V Figura 16: Simulação de crédito geral, Itaú...................................................................................................................................... 41 Figura 17: Simulação de financiamento, AE carros............................................................................................................. 42 Figura 18: Projeção do preço do metro quadrado.................................................................................................................... 43 Figura 19: Inadimplência de prestações.................................................................................................................................................. 43
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................................................................................................................................ 2 RESUMO..................................................................................................................................................................................................................................................... 3 LISTAS............................................................................................................................................................................................................................................................ 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................................................................................. 7 CAPITULO I RAIZES DOS SÍMBOLOS DE CONSUMO E SEUS VALORES BASE............................................... 9
CAPITULO II INTRODUÇÃO À ESTRUTURA DO CAPITAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL.......... 14
CAPITULO III SUPERVALORIZAÇÃO PELA PUBLICIDADE DOS BENS DE CONSUMO..................... 20
CAPITULO IV CONSUMO DE SISTEMAS DE CRÉDITOS NO BRASIL.................................................................................... 25
CAPITULO V A COMUNICAÇÃO CERTA AO PÚBLICO ERRADO................................................................................................ 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................................................... 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................................................ 53
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INTRODUÇÃO
A partir da sociedade capitalista moderna, principalmente nos países em
desenvolvimento, identificamos os produtos como estruturas simbólicas de forte atuação na comunicação social. Dentre suas diversas facetas comunicacionais, pretendemos com esta dissertação, decodificar a via mestra da expressão do capital, em que permeiam os produtos no contexto sócio econômico, principalmente o brasileiro.
Recorreremos sobre como a inserção do sistema de capital e produção repercutiu
na simbologia dos produtos, agregando valor ideológico a sua composição. Assim discutiremos sobre a precificação exercida pelo mercado, e como se precede a leitura social do preço neste contexto social.
Tangenciando as diversas facetas de comunicação expressas pelos produtos de
alto valor agregado, principiamos a identificar como estes podem se tornar símbolos, no contexto social de um país subdesenvolvido como o Brasil. Enfatizando o valor do capital embutido nos produtos, pretendemos desmembrar como se precede esta expressão no ambiente das relações sociais.
Perceberemos no desenrolar da reflexão, que se é verdade que podemos utilizar
dos símbolos mencionados para comunicar um valor líquido expresso na moeda local, o montante expressado por sua vez, pode ser acrescido e manipulado, composto pelos sistemas de crédito ou financiamentos; modelos estes adotados pela realidade brasileira.
A partir da análise de dados secundários do IBGE e associações de crédito
brasileiras, que clarificam a condição econômica do Brasil, e o consumo de sistemas de financiamento decorrente, veremos que o capital expresso pelos símbolos de consumo é composto em grande parte por um valor financiado, e uma pequena parte é realmente
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injetada. Se só assim o pode ser no Brasil, a leitura desta expressão se torna natural e mistificada por nossa sociedade, posicionando as classes sociais sempre acima de sua condição econômica natural.
Espera-se assim, ao final deste estudo, impugnar a expressão econômica a partir
dos produtos, desmistificando o capital aparente; e trazer uma fagulha a mais dos valores humanos naturais a composição social imersa nos sistemas de capitais.
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CAPÍTULOS DE ANÁLISE E REFLEXÃO
CAPÍTULO I RAÍZES DA EXPRESSÃO DOS SÍMBOLOS DE CONSUMO
As condições prévias das quais partimos para esta reflexão acadêmica, não são
bases arbitrárias ou dogmas; são bases reais fundadas na história da condição social humana, e suas formas de aglomeração e conformações naturais.
A primeira condição para toda história humana é, naturalmente, a existência
de seres humanos vivos. O primeiro estado real a constatar é, portanto, o patrimônio corporal desses indivíduos e as relações que este patrimônio desenvolveu, ao longo da história, com o restante da natureza1. Neste sentido o homem passou a expressar a sua ação criativa, exteriorizando-a; modificando os elementos naturais e criando apêndices − que depois viriam a ser chamados de produtos − para compor e facilitar a sua existência nas suas atividades diárias.
Podemos distinguir os homens dos animais, primeiramente pela sua capacidade
criativa e de comunicação, que geraram codificações de linguagem, estendendo-se por consciência, pela religião, ciência, filosofia e por tantas outras. Apesar das diferenças, todas estas manifestações intelectuais partem do mundo físico e estrutural. Os próprios homens começam a se distinguir dos animais desde que principiam a produzir os seus meios de existência, um passo adiante de sua organização corporal. Ao produzir os seus meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material, sobrepondo e anexando estruturas materiais à sua condição corporal e humana.
1
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, L’idéologie allemande (1re pertie: “Feuerbach”), Paris, Éditions Sociales, 1953. Traduzido do alemão por Reneé Cartelle. Tradução de Wilva Kovesi. 9
A maneira pela qual os indivíduos manifestam a sua vida reflete exatamente
o que são. E o que eles são coincide, portanto, com a sua produção, tanto com o que produzem quanto com a maneira pela qual o produzem. Como exemplo nas análises paleontológicas, em que se é necessário resgatar os produtos resultantes da produção da sociedade estudada, como vasos, utensílios e objetos, para que seja possível analisar e até descobrir fatos relevantes daquela conformação social. Desta forma entendemos que, o que os indivíduos “são” depende, portanto, das condições materiais de sua produção, da sua capacidade criativa de modificar, que resulta em objetos e bens físicos, refletindo exatamente os apêndices materiais que são absorvidos por esta sociedade.
A produção e seus “frutos” ou produtos, sendo aqui tratados como símbolos
de consumo, só aparecem com o crescimento da população e sua organização social. A própria produção pressupõe de sua parte relações dos indivíduos entre si, interdependência, conformação e consumo como práticas sociais. A forma dessas relações é hoje condicionada pela produção e suas resultantes. Mas nem sempre assim o fora.
Imersos na estrutura social humana, desde o início de suas formações e
aglomerações, já se percebiam emaranhados de relações entre a condição de vida humana (corpo físico natural) e os elementos materiais que eram agregados a mesma (matéria prima). Esta última era enriquecida por modificações criativas, no início simplórias, mas que já podiam produzir ferramentas, armas e utensílios domésticos que facilitavam as atividades do cotidiano nas sociedades primordiais e grupos indígenas. Além de sua utilização prática, abrangia-se também a efetivação da conduta humana por meio de tais instrumentos e objetos, o que significa que eles se referiam às várias habilidades requeridas pelo emprego de tais artefatos. Os guerreiros portavam arcos e armas, as mulheres das tribos eram comumente encontradas portando cestas, vasos e artefatos domésticos; assim definiam-se pouco a pouco as diversas relações e estratos sociais frente à utilização destes artefatos.
10
Como ressalta Pierre Weil2, podemos interpretar o corpo físico como a principal
ferramenta de comunicação, e, analisando por meio da linguagem proxêmica, acoplaremos os diferentes aparatos (símbolos de consumo) a esta estrutura corporal. Desta forma, desejamos nos certificar que os bens de consumo possuem uma linguagem inata e dialogam automaticamente com o receptor na comunicação não verbal, assim que a conexão temporal e visual é estabelecida, e que, dentro dos diferentes estratos sociais, imersos em uma cultura de valores capitais, identificam e expressam a identidade do seu detentor, perpassando por vezes, até o seu discurso verbal.
Na antiguidade, as relações sociais estavam sedimentadas frente à atitude e
atuação dos seres humanos, onde víamos elementos materiais (produtos) que compunham aquelas massas sociais − mas que eram apenas apêndices sem valor ou distinção clara por si só − e por estarem inseridos no contexto social, já definiam a atividade daquela personalidade. Nesta organização social, as figuras que a compunham, muitas vezes compartilhavam o mesmo utensílio, sendo que a percepção de posse não era ainda estendida a pequenos itens e objetos; esta percepção somente estava inserida na noção de grande propriedade e definição do território a qual pertencia aquela comunidade. Nesse sentido então, podemos compreender as relações de posse da antiguidade como algo estendido à grande comunidade ou clã e suas estruturas internas perante os outros grupos externos distintos daquela região, que traziam diferentes costumes e crendices. Assim torna-se importante analisarmos alguns exemplos de estruturas sociais precedentes ao capitalismo, para compreender como precede o surgimento dos símbolos de consumo e como a estratificação social tornou-se possível também a partir deles.
No princípio da vida social, sem o valor do capital líquido envolvido, víamos
nas relações sociais de semelhança, um fato importante: todos os indivíduos da mesma
2 WEIL, Pierre e TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. p. 63. 57ª edição. Rio de Janeiro, 2004. 11
idade eram parentes uns dos outros, no mesmo grau3. Em outros casos nos aproximamos, ainda mais, de algo definido por Durkheim como horda4. Já Fison e Howitt descrevem tribos australianas que não tem mais de duas dessas divisões5.
Também a disposição dos clãs no interior da sociedade e, por conseguinte, a
configuração desta podia variar: é o caso de muitas tribos indígenas da América do Norte6. Cada clã fica encastoado num grupo mais vasto que, sendo formado pela reunião de vários clãs, tem uma vida própria e um nome especial. Cada um desses grupos pode estar encastoado com vários outros, em outro agregado ainda mais extenso, e é desta série de encastoamentos sucessivos que resulta a unidade da sociedade total.
A prova desta preexistência social é que nos mesmos habitantes da mesma vila,
há relações que são evidentemente de natureza doméstica e características do clã. Todos os membros da vila têm, uns sobre os outros, direitos de hereditariedade, na ausência de parentes propriamente ditos7. Um texto que se encontra nos Capita Extravagantia legis salicae (art. 9) nos mostra que, em caso de assassinato cometido na vila, os vizinhos eram coletivamente solidários. De outro lado, a vila é um sistema muito mais hermeticamente fechado aos de fora, e recolhido em si mesmo, do que seria uma simples circuncisão territorial. Ninguém nela podia se estabelecer sem o consentimento unânime, expresso ou tácito de todos os habitantes.
3 4
MORGAN, Lewis. Ancient Society - classics of anthropology, pp. 62-122 DURKHEIM, Emile. The rules of the sociological method, Capítulo 5. Para Durkheim, à fim de constituir para reflexão, o tipo de sociedade ideal cuja coesão resultasse exclusivamente das semelhanças, se deveria concebê-la como uma massa homogênea, cujas partes não se distinguiam umas das outras, e, consequentemente, não estariam arranjadas entre si; tal sociedade seria destituída de qualquer forma definida e qualquer organização. Seria o verdadeiro platoplasma social, o germe de que sairiam todos os tipos sociais. 5 Kamilaroi and Kurnai. Também por este estado passaram, originalmente as sociedades indígenas da América. (MORGAN,Lewis. ob. cit.) 6 MORGAN, Lewis. ob. cit., p. 153 7 E. GLASSON, Le Droit de succesion dans les lois barbares, p. 19 12
Enquanto as massas primitivas se dividiam por relações de consanguinidade, reais
ou fictícias, a sua evolução produziria nos segmentos não mais agregados familiais, mas circuncisões territoriais, e posteriormente de bens e produtos gerados por essa circuncisão.
A expressão simbólica dos produtos, por sua vez, tornou-se extremamente mais
complexa para a sociedade contemporânea. Em tempos de consumo midiático, enquanto que as raízes da cultura simbólica por objetos não se envolvia o capital, centrando-se nos valores simbólico artístico e funcional de cada produto, a mesma passou a ter, por vezes, valores muito expressivos embutidos em suas estruturas de produção e utilização.
Podemos dizer, que com a evolução social, o nosso meio natural e necessário não
é mais o nativo, e sim o profissional. Não é mais consanguinidade, que marca o lugar, mas a função que o indivíduo preenche no contexto social. É por esse contexto que os símbolos de consumo ganham força na comunicação social, pois eles são resultantes da atividade profissional que marca a estratificação social. A maneira pela qual as funções se dividem é então calcada, tão fielmente quanto possível, sobre o modo por que a sociedade já está dividida.
Utilizamos mais símbolos de consumo que podemos perceber para nossa
comunicação diária, sendo que esses sistemas comunicacionais estão fortemente interligados com o estrato social no qual estamos inseridos, e passam a serem notoriamente elementos de reforço de nossa atuação social e profissional. Nos diferentes planos sociais, percebemos diferentes símbolos entre as classes, mas que se identificam em suas classes qualitativas setorizadas e expressam especificidades muito delicadas para cada estrato social no qual está inserido, até sobrepondo-se muitas vezes a faceta social de consanguinidade.
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CAPITULO II INTRODUÇÃO À ESTRUTURA DO CAPITAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Neste capítulo pretendemos analisar, como o valor do capital foi inserido no
contexto comunicacional da resultante simbólica dos bens de consumo, que antes não traziam em sua composição o valor líquido do capital ou valor de troca, mas tão somente prático; o valor de uso8.
A produção e os meios de enriquecimento da matéria prima, possibilitados
pela revolução industrial em que vimos concentrações enormes de máquinas, e, por conseguinte toda a sua sofisticação, vieram trazer diferenças significativas no contexto de produção e elaboração dos objetos. Como ressalta Schemoller, uma nova forma de organização se iniciava, o que posteriormente viria a trazer modificações na relação de produção e consumo. “As diferentes cidades tendem sempre para certas especificidades, de tal modo que hoje as distinguimos em cidades de universidades, de funcionários, de fábricas, de comércio, de águas, de capitalistas. Em certos pontos, em certas regiões, concentram-se as grandes indústrias − construções de máquinas, fiações, manufaturas de tecidos, costumes, altos-fornos, indústria açucareira − as quais trabalham para todo o país. Aí se estabelecem escolas especiais, a população trabalhadora aí se adapta, a construção de máquinas ai se concentra, enquanto que as comunicações e a organização do crédito se acomodam às circunstâncias particulares.”9
Ao passo que tínhamos, nas comunidades históricas, produtos rupestres e
8 9
MARX, Karl. O Capital, Volume 1 - Parte I, Capítulo I SCHEMOLLER, La division du travail étudieé au point de vue historique, pp. 145-148 14
“inacabados”, agora, desenvolveríamos uma capacidade de lapidar e trazer um brilho quase que perfeito aos objetos. A partir das técnicas de acabamento e refinamento dos produtos, a injeção de capital necessária para embarcar estes objetos “grandiosos” na realidade humana tenderia a aumentar. Assim, o valor percebido nos produtos também se elevou. Fato este que estava sempre visível a todos, pois os preços do mercado estavam abertos e declarados, a quem a curiosidade o tocar. Desta forma, os produtos já podiam definir claramente encastoamentos sociais, pois o produto se relacionava ao seu portador, o qual teria tido acesso econômico aquele bem, exprimindo monetariamente sua capacidade e superioridade social.
O foco das relações humanas, após a inserção do sistema de capital, que viria
a ser expresso pelos produtos, tendenciou à mudança. O modo de agrupamento dos homens passa a prover da divisão do trabalho, diferente do que exprimia a repartição da população pelo espaço. O meio profissional não coincide mais com o territorial do que com o familial. É um novo quadro que substitui os outros. E esta substituição não é possível senão na medida em que o antigo sistema sucumba. Em tal perspectiva vulgarizada, a relação do homem com a natureza é reduzida a valores instrumentais e de eficiência, as relações sociais às do senhor e escravo; e os legados das civilizações antigas em partes são postos de lado e obscurecidos, cedendo espaço às representações simbólicas nas intempéries da divisão do trabalho e sua produção correlacionada.
Passamos a deixar os laços familiares em segundo plano, a tal ponto que abrimos
espaço para que os produtos ganhem poder social, e às vezes até “vida”; pois o empenho necessário na produção daquele bem é tão intenso e qualificado, que de tal forma nos trazem orgulho ao ver o produto final realizado. Além desta perspectiva de realização e trabalho, o produto sempre expressará algo mais, algo que não o dignifica como o trabalho realizado, mas é tão verdadeiro quanto: o capital necessário e voltado para a sua própria produção.
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“A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostrámos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano. É evidente que a atividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a tornálas úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar.”10
Como ressalta Olgaria Matos, os próprios produtos por si só exprimem um
brilho surpreendente aos nossos olhos, um design que fora aprimorado tantos anos e estudado, agora nos convence e nos motiva a desejá-lo, botões, inteligência e tecnologia, qualidade dos materiais envolvidos como cromo, prata, por vezes brilhantes e diamantes são elementos que passam por processos muito qualificados e que são beneficiados de tal forma a perderem a acessibilidade e naturalidade funcional, para representar por meio físico o seu valor, a seu montante de capital envolvido em todas as máquinas benfeitoras e usuais daquela corporação a qual o produziu.
No processo de produção, os diversos estágios do desenvolvimento da divisão
do trabalho representam igual número de diferentes formas de propriedade. Em outros 10
MARX, KARL, O Capital. Volume 1 - Seção 4, Capítulo I. 16
termos, cada novo estágio da divisão do trabalho, específica para o processo de produção agora muito mais complexado que outrora, determina, ao mesmo tempo, relações dos indivíduos entre si, no tocante às coisas, instrumentos e produtos do trabalho.
A sociedade constituída sob a forma a ressaltar o capital em suas trocas, deixa
para trás então a verdadeira face das relações humanas e centra-se na economia, e dela partem todos os seus desmembramentos, os quais posteriormente deveriam tecer a malha das comunicações e relações sociais modernas.
Neste ambiente propício à economia, podemos nos setorizar e nos identificar
na sociedade utilizando-se de símbolos, ou, imagens e conceitos fortemente arraigados e preconceituados por nossa cultura local e global. Conceitos estes que trazem o valor capitalista em todas as manifestações de relação entre ter e ser. Ao passo que existimos e temos algo palpável, quanto mais enriquecido este material em valor de troca e de uso, mais forte símbolo de expressão ele se injeta em nas nossas relações.
De fato, simbolicamente este objeto embarca muito trabalho, raciocínio lógico,
e grandes processos de lapidação e atividade criativa; são estes e outros elementos que acabam por definir o preço real do produto, expresso em unidade da moeda local, somando-se impostos ou taxas, o preço entendido por todos os membros da comunidade é algo claro e está licitamente expresso ao olhar de qualquer pessoa que interaja com seu contexto. Por fim, o valor do capital embutido naquele símbolo embarca o início do pensamento lógico existente para a absorção e aceitação deste objeto no universo contextual humano.
O mercado se autorregula e define a grande altura − por meio da publicidade
e valorização das marcas − universos de precificação definitivamente inatingíveis e impossíveis para a grande maioria das realidades econômicas mundiais. Pois não só
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o capital embutido naquele produto, como o lucro que compõem a faceta contextual daquela precificação, mas um valor simbólico, que é o valor da atividade criativa do homem, todo o seu empenho e imaginação são precificados também em sua maior fatia, trazendo um valor impalpável à sua composição, que irá compor o preço final do produto.
Podemos perceber que os símbolos de consumo tem um grande poder de classificar
e julgar a posição determinada de um indivíduo na sociedade global, atuando a partir do capital, conduz as relações interpessoais, permitindo a mobilidade e estratificação sociais. Este fato nos incentiva a pesquisar as estruturas sociais, desfragmentando as formas mais convincentes de estratificação e expressão social a partir dos símbolos de consumo, dentre elas, a sua capacidade de expressão do montante acumulado de capital do indivíduo.
“Na medida em que o processo de trabalho é puramente individual, o mesmo trabalhador reúne todas as funções que mais tarde se separam. Na apropriação individual de objetos naturais para seus fins de vida, ele controla a si mesmo. Mais tarde ele será controlado.”11
Cenário este, em que encontramos indivíduos imersos em diversos estratos
sociais que podem se comunicar utilizando-se de várias ferramentas, começando pelo seu patrimônio corporal, algo comum e natural a todos os indivíduos. Neste, o homem percebe que somando alguns itens materiais capazes de se comunicar e que possuam valor agregado, enriquecido por diversos processos, ele pode complementar essa comunicação, expressando, por meio de valor de mercado, o montante de capital injetado para a produção daquele produto, e do montante de todos os objetos e produtos que os circundam.
11
MARX, KARL. O Capital. Volume 1, Seção 5, p. 137 18
Expressando seu capital, o emissor pode manipular a situação do diálogo, Marx
reforça que ele pode controlar a situação, mas que também será controlado. Dependendo de sua capacidade comunicacional ele pode utilizar-se da situação social para emitir intencionalmente uma mensagem. Somando ao seu discurso verbal o símbolo o qual lhe pertence (bens de consumo duráveis ou não), ele poderá o envolver em um diálogo e expressar intencionalmente o valor percebido daquele produto, cristalizando naquela comunicação, a sua posição social como parte de sua retórica verbal.
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CAPÍTULO III SUPERVALORIZAÇÃO DOS BENS DE CONSUMO PELA PUBLICIDADE
No contexto de sociedade capitalizada e dividida por esferas de produção e
distribuição do capital, em sua estrutura decorrente, podemos perceber que o valor das coisas pode ser ideológico, como já disse Marilena Chauí12: o real é constituído por coisas; nossa experiência imediata da realidade nos leva a imaginar que o real é feito objetos materializados (sejam elas naturais ou humanas), sejam eles físicos, mentais, culturais oferecidos à nossa percepção e as nossas vivências.
Também o empirismo vem confirmar tal posição do homem com sua própria
existência material, na experiência dos sentidos considera-se que o real são fatos ou coisas observáveis e que o conhecimento da realidade se reduz à experiência sensorial que temos dos objetos, cujas sensações se associam e formam ideias na nossa consciência.
O idealista, por sua vez e em vias contrárias, considera que o real são ideias ou
representações e que o conhecimento da realidade se reduz ao exame dos dados e das operações de nossa consciência, ou do intelecto como atividade produtora de ideias que trazem sentido ao real e o fazem existir para nós.
Assim a publicidade vem confirmar, agregando ao valor-de-uso dos produtos,
algo como um valor ideológico ou extrínseco sobre as coisas, e seu empirismo para com o homem fundado pela base do capital. O homem passa a abster-se em parte frente as experiências emocionais humanas e a se fundamentar pela sua percepção dos sentidos. Assim, ele torna-se alvo fácil para as sugestões publicitárias, conformadas de ideologia e dogmas a serem estabelecidos.
12
CHAUÍ, Marilena. O Que é Ideologia. p. 7 20
O homem produtor, que agora não mais escravo declarado mais que vende a sua
força de trabalho para um fim determinado, fim este que muitas vezes se vê inacessível para ele, mais que tem um pouco de seu trabalho embutido naquele produto. Como ressalta Marx: “A UTILIZAÇÃO da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo o vendedor dela trabalhar. Este, ao trabalhar, torna-se realmente no que antes era apenas potencialmente: força de trabalho em acção, trabalhador. Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de ser empregado em valores-de-uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades de qualquer natureza.”13
Então, a satisfação das necessidades passa para um ponto de difícil definição.
A profissão do publicitário começa a agregar valor simbólico e ideológico as coisas, como diz Marilena Chauí14: Além de procurar fixar seu modo de sociabilidade através de instituições determinadas, os homens produzem ideias ou representações pelas quais procuram explicar e compreender sua própria vida individual, social, suas relações com a natureza e com o sobrenatural. Essas ideias ou representações, no entanto, tenderão a esconder dos homens o modo real de como as suas representações foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Esse ocultamento da realidade chama-se ideologia. Por seu intermédio, os homens legitimam as condições sociais de exploração e de dominação, fazendo com que pareçam verdadeiros.
Portanto, o preço “real” das coisas fora legitimado pela própria ideologia dos
homens para com os homens, intermediados pela publicidade. Assim aceitamos o valor extrínseco dos produtos como se fosse real e partimos a aceitar e regular o mercado para este novo patamar de precificação. 13
MARX, KARL. O Capital, Volume 1, Seção 3, Capítulo VII: processo de trabalho e processo de produção de mais valia 14 CHAUÍ, Marilena. O Que é Ideologia. p. 8. 21
Para que possamos compreender mais profundamente como funciona a
precificação dos bens de consumo, sugerimos aqui uma referência de precificação por derivativos. Popularmente chamados de opções15, os derivativos são ativos do mercado financeiro que derivam da ação, é o direito de comprar ou vender ativos. Quando se compra uma opção de compra, está se comprando o direito de comprar a sua ação relacionada, a determinado preço a determinado prazo. Estes; por sua vez podem assemelhar-se a precificação dos símbolos de consumo conhecidos no mercado. As opções no geral são altamente voláteis e portam em sua constituição de precificação basicamente valor intrínseco e extrínseco, ou valor do tempo ou expectativa. Ao relacionarmos os derivativos com o modo de precificação dos bens de consumo encontramos pontos coincidentes para uma analogia.
Assim analogamente às opções sugerimos que os produtos tenham em sua
composição primeiramente o valor intrínseco. Na opção propriamente dita esse valor se dá pelo preço que se quer comprar o ativo subjacente. Por exemplo se você comprar uma opção de compra da Petrobrás, um direito de comprar uma ação da petrobrás por dois reais (R$2,00), este dois reais equivalem ao valor real intrínseco da opção, ou seja, suponhamos que a ação da Petrobras hoje16 está em trinta e oito reais (R$38,00) e você comprou o direito de comprar a Petrobras a R$36,00, este direito vale R$2,00 que está inserido no valor intrínseco deste derivativo.
No ambiente de consumo podemos traduzir o valor intrínseco como algo inerente
a realidade física e material daquele produto, seu beneficiamento e lapidação verdadeiros e a qualidade real qual precede a existência e dificuldade no processo de se extrair aquele componente da natureza, executar sobre ele todos os processos físicos, químicos, os maquinários, elementos de fundição, corte, extração, manipulação e tratamento no 15 16
BASTTER, Mauricio H. Investindo em Opções, p. 28 Valor de mercado para o ativo PETR4, situado no dia 6/04/2010. Série histórica, Agência Estado. 22
material bruto. Ao passo que também consideramos todas as facetas, por mais complexas que sejam, setorizadas ou não de produção como o design, sistema, funcionalidade, muitas vezes por software ou composições mais diversas que possam compreender naquele bem de consumo e serem trazidas em sua composição.
Por sua vez anexado ao valor intrínseco, quase como algo ideológico, temos o
valor extrínseco. Nas opções esse valor é o valor de expectativa sobre o ativo subjacente e as demais variáveis que influenciam no preço da opção. Como as opções tem vencimento, perdem o seu valor de expectativa até o momento do vencimento. Seu valor está diretamente ligado ao tempo.
Nas opções o tempo deprecia o ativo, pois, como a opção é um derivativo de uma
ação, conforme o tempo passa a expectativa sobre o ativo, se nada acontece, diminuí, trazendo novas perspectivas, por via pessimistas, sobre a operação até o seu vencimento.
No ambiente de consumo, também o tempo deprecia os produtos, perdendo-
se muito valor extrínseco deste produto ao longo do tempo. Assim ao adquirirmos determinado produto compramos valor extrínseco em sua grande parte, aceitamos expectativas e simbologias embutidas nesse material que o vivificam, que ora pela publicidade, ora pela própria ideologia dos homens determinam e situam os produtos como símbolos, os símbolos de consumo.
Outro fator importante que não está diretamente relacionado ao preço da opção,
mas que muitas vezes é o objetivo da operação financeira, é o lucro. Este fator se relaciona com qualquer atividade capitalista de produção e comercialização de mercadorias. Os lucros normais e médios se obtêm vendendo as mercadorias não acima do que valem e sim pelo seu verdadeiro valor, o qual fora aceito e legitimado por seu contexto social. Porém na produção desta mercadoria, o trabalhador deverá produzir mais do que lhe é
23
pago, gerando mais-valia. Assim é possível vender a mercadoria beneficiada, pelo seu valor de mercado e ainda obter lucro sobre a operação.
VALOR EXTRÍNSECO
PREÇO REAL DO PRODUTO
Valor fundamentado pela publicidade, ideologia e simbologia do produto no contexto social.
LUCRO
Valor resultado da operação de mais-valia
VALOR INTRÍNSECO
Valor fundamentado por matéria prima, custos de beneficiamento e produção, custos diretos e indiretos sobre a operação com este material Figura 1: Modelo de precificação17
A partir do momento que aceitamos em nossas trocas humanas os “símbolos de
consumo”, o mercado se torna extremamente complexo e volátil, pois agora não temos mais somente a base intrínseca e o lucro presumido para situar o produto em determinada faixa de preço. Assim o mercado se autorregula trazendo os símbolos de consumo como grandes comunicadores do capital. Este capital a qual nos referimos é o capital virtual daquele produto, é o valor extrínseco e ideológico daquele bem. Este valor, que não é mais questionado por nossa sociedade, pois já está em nossa realidade, precificando nosso contexto, legitimado pelo mercado de troca. Teríamos aceitado, no desenrolar da história que os produtos ganhassem valor extrínseco ao ponto de estarem muitas vezes
17
Fonte: modelo proposto pelo autor. A intenção futura deste estudo é pesquisar as proporções reais para valor extrínseco, intrínseco e lucro no modelo de precificação dos produtos de diversas classes. Sendo que a proporção atual desta figura é meramente ilustrativa. 24
inacessíveis às nossas condições e classes sociais. Aliás, estão estes notadamente acima de nossa condição econômica de adquiri-los.
Como afirma Andrezza Reis18, o ato de consumir é uma das atividade mais básicas
do humano, pois apesar do indivíduo ser capaz de viver sem produzir, ele não consegue ficar sem consumir. Assim os problemas começam a surgir quando a renda gerada não é capaz de suprir o seu consumo.
Embasando a afirmação de Andrezza, Barbosa e Campbell19 dizem que qualquer
pessoa, mesmo que não produza nenhuma riqueza econômica, como é o caso de crianças e empregados, são capazes de consumir diversos tipos de bens e serviços. Isso acontece porque o consumo se dá por várias formas, desde o seu sentido de esgotamento, em que as pessoas buscam para saciar suas necessidades fisiológicas, até sua capacidade de conferir status, que resulta numa nova composição de identidades e um maior distanciamento entre as pessoas.
Garcia Canclini também levanta a relação existente entre o consumo e o exercício
de cidadania20, mostrando que, no momento atual, o ato de consumir é um dos elementos que influenciam a construção de identidades.
Temos no consumo de simbologias e valor extrínseco, a base estrutural de difícil
reversão para a precificação e supervalorização dos bens de consumo, que, no contexto social os tornam símbolos comunicacionais. Como o real e o palpável em termos do sentido é o que primeiramente é percebido pela população, expressar o capital através 18 Andrezza Gazzana Reis. Graduanda em Ciências da Comunicação com habilitação em Publicidade e Propaganda na Unisinos e Letras (habilitação tradutor InglêsPortuguês) na UFRGS. E-mail: <dezzareis@hotmail.com>. 19 BARBOSA, Lívia e CAMPBELL, Colin. O consumo nas ciências sociais, FGV. 20 CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. p. 53. 25
dos símbolos de consumo é algo pertinente, pois toda mercadoria pode ser convertida em símbolo de consumo, basta estar supervalorizada e constituída por grande valor ideológico, que consequentemente trará no seu preço o reflexo dessa valorização. Na atualidade nada mais existe que não tenha valor extrínseco e ideológico embutido em sua precificação e nós aceitamos esse valor como real, utilizando-o para expressar um capital sempre acima de nossa condição social.
26
CAPITULO IV CONSUMO DE SISTEMAS DE CRÉDITO NO BRASIL
Com a valorização abusiva dos bens de consumo, devido em grande parte ao seu
valor extrínseco, que fora trabalhado extensivamente pelos comunicadores em toda parte; os preços tornaram-se bem elevados e por vezes inalcançáveis à maioria da população brasileira. Senão por muito esforço e acumulo de capital, poucos são os brasileiros que tem acesso às fatias mais sofisticadas do consumo, definindo assim, por produtos de maior valor agregado, os símbolos de consumo; que podem expressar e comunicar, em um país em desenvolvimento, significações expressivas em termos econômicos, geradoras de status e poder social para com seus integrantes.
García Canclini21 esclarece a relação existente entre o consumo e a cidadania,
situando o ato de consumir como um dos elementos que influenciam a construção de identidades. Identificando também Walter Benjamin como a “perda da aura”, no mundo da mercadoria não existem singularidades, não só os objetos são tecnicamente reproduzidos aos milhares como também se tornam equivalentes a outras mercadorias, pelas quais podem ser trocados, que por sua vez que podem ser trocados pelo denominador comum e homogeneizador universal, o dinheiro.
Neste sentido, a busca por possuir símbolos de consumo diferenciados, cada vez
mais expressivos em montante de capital, se mostra pertinente na sociedade brasileira como atitude para se igualar, na sua forma de consumo, às sociedades desenvolvidas. A partir de 1950, onde se vivia a ideologia do desenvolvimentismo sob o governo de Juscelino Kubitschek, com a industrialização voltada para o mercado interno, incentivava-se também a vinda do capital internacional como condição prévia para
21 CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 27
atingir o desenvolvimento e competir com ele em igualdade de condições. Junto à esse capital trouxeram-se culturas e ideologias embaladas por fortes marcas que impuseram ao mercado brasileiro a situação de consumo necessária ao desenvolvimento. Corno recorda Celso Furtado22, no momento em que a divisão internacional do trabalho especializa alguns países na atividade agrário-exportadora, como o Brasil, há urna expansão econômica cujo excedente não é investido em atividades produtivas e sim dirigido ao consumo das classes abastadas, que faziam do consumo de luxo um instrumento para marcar a diferença social e a distância que as separava do restante da população.
A industrialização jamais se tornou o carro-chefe da economia brasileira como
economia capitalista desenvolvida e independente. Mas como já disse Marilena Chauí:
“A “identidade nacional” pressupõe a relação com o diferente. No caso brasileiro, o diferente ou o outro, com relação ao qual a identidade é definida, são os países capitalistas desenvolvidos, tomados como se fossem uma unidade e uma totalidade completamente realizadas. É pela imagem do desenvolvimento completo do outro que a nossa “identidade”, definida como subdesenvolvida, surge lacunar e feita de faltas e privações.”23
Para o brasileiro, adquirir bens de alto valor agregado é um forte símbolo de
expressão do seu capital econômico na sociedade, firmando a sua condição social. Portanto, como adquiri-los não é viável com o orçamento mensal básico, devido ao câmbio da moeda desfavorável, impostos, taxas e valor extrínseco. Alguns dados apresentados aqui podem indicar que a busca pelo financiamento mostrou-se por devidas vezes o único caminho para que sociedade brasileira, baseada e dividida pelo capital de consumo, pudesse seguir os modelos de mercado e consumo importados dos países desenvolvidos. 22 23
FURTADO, Celso. O longo amanhecer.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. p. 15. 28
Iniciando essa análise, partiremos da situação e definições das classes sociais no
Brasil, e por conseguinte a sua decorrência como busca ao financiamento.
De acordo com o Centro de Políticas Sociais da FGV24, o Brasil possuí um quadro
econômico distinto da sociedade capitalista desenvolvida, em que se valoriza a diferença. 10/9/2010 Apesar da grande diferença social que temos em nosso país, surge ao longo dos anos,
uma aglomeração na classe C, onde podemos perceber na figura 2 e 3, a massificação do consumo de baixa renda domiciliar, das classes 10/9/2010 sociais definidas pelo IBGE:
10/9/2010
Definição das Classes Econômicas
Renda Domiciliar Total de Todas as Fontes limites
Classe C2 Classe C1 Classe B2 Classe B1 Classe A2 Classe A1
Superior 420 705 802 1126 1888 4854 4902 6329 9366 0
1126 1888 4854 4902 6329 9366
Figura 3: Renda domiciliar detalhada
Evolução das Classes Econômicas
D2
D1
C2
C1
1,78% 2,54% % 2,60% %
E1
13,04% 13,07% 12,81%
8,78% 8,05%
E2
13,69% 11,28% 10,81%
7,23% 7,28%
13,81%
14,31%
2009
18,68% 22,69% 22,31%
2008
1,83% 2,55% % 2,50% %
2003
1,97% 2,46% % 2,57% %
Figura 2: Renda domiciliar
Renda Domiciliar Total de Todas as Fontes limites
26,,53% 28,13% 2
Classe E Classe D Classe C Classe B Classe A
Superior p 705 Inferior 1126 Classe E2 0 Classe E1 4854 420 Classe D2 541 6329 802 Classe D1
2,01% 2,86% % 2,94% %
Classe E
ClasseSuperior Dp Inferior 0 Classe C 705 705Classe B 1126 1126 4854 4854Classe A 6329 6329
Definição das Classes Econômicas
Inferior 0 705 1126 4854 6329
18,88%
Definição das Classes Econômicas Renda Domiciliar Total de Todas as Fontes limites
B2
B1
A2
A1
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
7
14
Figura 4: Evolução das classes econômicas
7
24
FGV - Centro de Políticas Sociais. A nova classe média: o lado brilhante do pobres. p. 7 29
10/9/2010
Também podemos constatar na figura 4 acima a mobilidade das classes sociais
ao longo dos anos, e como a nova classe média passou a ganhar espaço e atuação no mercado, confirmando a massificação do consumo de renda média no Brasil.
População por Classes Econômicas
Total Classe E Classe D Classe C Classe B Classe A
2003 175,398,020 49,319,851 46,884,477 65,871,283 6,977,329 6,345,080
2004 177,758,060 45,147,533 48,286,025 70,620,183 7,100,301 6,604,018
2005 180,001,710 41,047,646 48,713,422 75,266,800 7,583,287 7,390,555
2006 2007 2008 2009 182,218,501 184,384,292 186,440,290 188,194,383 35,196,724 33,659,359 29,860,927 28,838,782 48,006,542 46,298,711 45,399,117 44,453,034 81,889,806 86,476,548 91,762,175 94,934,828 8,549,859 9,271,379 9,925,842 10,369,023 8,575,570 8,678,295 9,492,229 9,598,716
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
Figura 5: População por classes econômicas
O espaço abrangido por esta nova classe média, mobiliza a massificação do
consumo, possibilitando o acesso a produtos mais simbólicos economicamente. Em contrapondo, frente esta mobilidade da classe C, os símbolos consumidos pelas classes A e B, já não possuem mais tanta força simbólica (em termos econômico-sociais) passando
A Importância danova Classe Média
a ser consumidos também pela nova classe C. Assim a mobilidade dos símbolos de
Os 94,9 milhões de brasileiros que estão a necessitar símbolosclasse de maiormédia valor agregado para se diferenciarem nadenova correspondem a da classe C, elevando o50,5% nível econômico da simbologia doIsto capitalsignifica exercida pelaque sociedade. da população. a nova classe média brasileira não só Apesar da concentração renda ser muitotido desigual no Brasil, percebemos que inclui o eleitorde mediano como a maior parcela dal população para a d classeturno C. Destade aquele que decide destá emergindo d o segundo dforma melhores condições uma de vida eleição, perpassam por esta estrutura social, possibilitando acesso ao crédito mas que ela poderia e a melhores condições decidir de financiamento. sozinha um pleito eleitoral. consumo . também acontece, sendo que neste novo cenário as classes A e B, passam
30
A Pirâmide Populacional dividida em Classes Econômicas
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
Figura 6: Pirâmide econômica do Brasil
Na figura 6 acima, podemos visualizar a composição das classes sociais no Brasil
9
até 2009, comportando a classe AB nesta data, mais de 19 milhões de habitantes. Já a classe C ganhando espaço pulou de 65 mi para 94 mi da hab. em 6 anos. “Os 94,9 milhões de brasileiros que estão na nova classe média correspondem a 50,5% da população. A Nova Classe média também é a classe dominante do ponto de vista econômico, concentra 46,24% do poder de compra dos brasileiros em 2009 (era 45,66% em 2008) superando as classes AB estas com 44,12% do total de poder de compra. As demais classes D e E tem hoje 9,65% do poder de compra caindo de 19,79% logo antes do lançamento do plano Real.”25
25
FGV - Centro de Políticas Sociais. A nova classe média: o lado brilhante do pobres. pp. 10-11 31
Assim vemos que a mobilidade social se tornou exequível no Brasil e já
comportamos uma classe social que ascendendo, detêm um maior poder de compra deste mercado, ocupando-se em novos costumes e formas em empregar seu capital. Esta nova classe desejaria agora novos bens ou símbolos de consumo que exprimam e consolidem a sua nova realidade econômica. Também as classes A e B, desencadeadas por esta situação necessitariam de novos símbolos de consumo (mais sofisticados e caros) para se diferenciar das classes emergentes.
Pela Figura 7 abaixo pretendemos identificar o perfil da classes C no Brasil.
Confrontando a divisão e distribuição do trabalho com o perfil social de ocupação atual,
10/9/2010
ambos em relação as classes sociais podemos encontrar semelhanças na distribuição das classes e concentração de poder econômico encontrado no início da introdução do capital no Brasil com a distribuição atual. Ocupação Perfil das Classes Econômicas - 2009 Posição na ocupação Categoria
CLASSE AB
CLASSE C
CLASSE D
CLASSE E
Sem Emprego
2.14%
3.86%
7.20%
10.11%
Inativo
30.53%
34.84%
43.56%
48.05%
0.29%
2.33%
4.49%
4.68%
0.57%
4.53%
5.95%
4.27%
21.11%
22.96%
11.77%
4.31%
Empregado Agrícola Empregado Doméstico Empregado com carteira E Empregado d sem carteira
4.85%
6.75%
6.68%
4.47%
Conta-própria
11.89%
11.85%
11.00%
11.05%
Empregador
9.81%
2.14%
0.55%
0.55%
público
16.84%
7.09%
3.19%
1.61%
Não remunerado -
1.95%
3.65%
5.62%
10.90%
Funcionário
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
Figura 7: Perfil das Classes
Contribuição Previdenciária
32
2003
2008
2009
Esta distribuição do trabalho favorece especializações, e com a segmentação
das ocupações em nichos muito específicos podemos observar que o perfil das classes econômicas em 2009, para classe C, que a maioria da chamada nova classe média se encontra na posição de empregado com carteira, também podemos observar, neste âmbito, uma crescente da classe E para a classe A. Este fato é o primeiro requisito para aprovação de um financiamento na maioria das empresas de crédito. Assim estas pessoas possuiriam agora um maior poder de compra, pois teriam acesso ao crédito.
A formalização do trabalho no Brasil confirmou a tendência dos últimos
anos e voltou a crescer em 2009, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009), realizada pelo IBGE (Instituto brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a pesquisa, o país tinha em setembro de 2009 (mês da coleta de dados) aproximadamente 32,4 milhões de empregados com carteira de trabalho assinada. Isso corresponde a 59,6% do total de pessoas empregadas no país. O número de 2009 é 1,5% maior do que o registrado no ano anterior. Em termos absolutos, no ano passado houve a inclusão de 483 mil trabalhadores nesse grupo. Entre 2004 e 2009, enquanto o número total de brasileiros empregados cresceu 16,7%, a parcela dos empregados com carteira de trabalho assinada aumentou 26,6%. Em cinco anos, foram geradas 7,1 milhões de vagas com essa característica.
O acesso ao crédito poderia ser uma indicação que este grupo atua fortemente
no mercado de capital e acumula ao longo de sua vida uma quantidade de bens para sustentar a sua condição econômica na sociedade.
33
Tabelas de resultados - Indicadores de 2004 a 2009 ____________________________________________________
7 Rendimento 7.1 Pessoas em idade ativa Tabela 7.1.2 - Distribuição do rendimento mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento, por Grandes Regiões, segundo as classes de percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, em ordem crescente de rendimento - 2008-2009
Classes de percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, em ordem crescente de rendimento (%)
Distribuição do rendimento mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento (%) Grandes Regiões
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
2008 Simples Total Até 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20 a 30 Mais de 30 a 40 Mais de 40 a 50 Mais de 50 a 60 Mais de 60 a 70 Mais de 70 a 80 Mais de 80 a 90 Mais de 90 a 100 Mais de 95 a 100 Mais de 99 a 100 Até 10 Até 20 Até 30 Até 40 Até 50 Até 60 Até 70 Até 80 Até 90 Até 100
100,0 1,0 2,9 4,1 4,1 5,0 6,2 7,8 10,2 15,4 43,4 31,0 12,5 1,0 3,8 7,9 12,0 17,0 23,3 31,1 41,2 56,6 100,0
100,0 1,0 2,7 4,7 5,2 5,4 6,6 8,1 10,6 15,3 40,4 28,4 11,5 Acumulado 1,0 3,7 8,4 13,6 19,0 25,6 33,8 44,3 59,6 100,0
100,0 0,9 1,9 3,4 5,5 6,2 6,2 7,1 9,4 13,8 45,5 33,8 14,7 0,9 2,8 6,3 11,8 18,0 24,3 31,4 40,8 54,5 100,0
100,0 1,5 3,5 3,6 4,4 5,3 6,6 7,9 10,4 15,4 41,4 29,2 11,5 1,5 4,9 8,5 12,9 18,3 24,8 32,7 43,1 58,6 100,0
100,0 1,6 3,5 3,7 4,5 5,4 6,7 8,0 10,6 15,5 40,6 28,5 11,1 1,6 5,1 8,8 13,3 18,7 25,4 33,4 43,9 59,4 100,0
100,0 1,1 3,0 3,3 3,7 4,5 5,5 6,8 9,1 14,9 48,2 35,0 14,1 1,1 4,0 7,4 11,0 15,5 21,0 27,8 36,9 51,8 100,0
2009 Simples Total Até 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20 a 30 Mais de 30 a 40 Mais de 40 a 50 Mais de 50 a 60 Mais de 60 a 70 Mais de 70 a 80 Mais de 80 a 90 Mais de 90 a 100 Mais de 95 a 100 Mais de 99 a 100 Até 10 Até 20 Até 30 Até 40 Até 50 Até 60 Até 70 Até 80 Até 90 Até 100
100,0 1,0 2,8 4,3 4,3 5,1 6,2 7,9 10,1 15,3 43,0 30,8 12,6 1,0 3,8 8,1 12,4 17,5 23,7 31,6 41,7 57,0 100,0
100,0 1,1 2,7 4,6 5,3 5,4 6,4 8,0 10,3 14,9 41,3 29,3 12,0 Acumulado 1,1 3,7 8,4 13,7 19,1 25,5 33,5 43,8 58,7 100,0
100,0 1,0 1,9 3,3 5,6 6,4 6,4 7,2 9,4 13,8 45,0 33,4 14,3 1,0 2,8 6,2 11,7 18,2 24,6 31,8 41,2 55,0 100,0
100,0 1,5 3,6 3,8 4,4 5,4 6,6 7,9 10,4 15,3 41,3 29,3 11,9 1,5 5,1 8,9 13,3 18,7 25,2 33,1 43,5 58,7 100,0
100,0 1,6 3,6 3,8 4,6 5,5 6,8 8,1 10,7 15,5 39,9 27,8 11,1 1,6 5,2 9,0 13,6 19,1 25,9 33,9 44,6 60,1 100,0
100,0 1,1 3,1 3,6 3,8 4,6 5,7 7,0 9,2 14,7 47,2 34,3 14,1 1,1 4,3 7,8 11,6 16,2 21,9 28,9 38,1 52,8 100,0
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008-2009. Nota: Exclusive as informações das pessoas sem declaração de rendimento.
Figura 8: Acumulação de capital
34
Nos dados da figura 8, acima, podemos compreender que a maioria dos perfis
sociais no Brasil permite a acumulação de capital ao longo da vida, como já se pode ver na figura 8, o público de maior poder de consumo no Brasil se dá pela classe da terceira idade, dos 70 aos 90 anos, a mesma em que se concentra a maior porcentagem de rendimentos e acumulação de capital.
Na Figura 9 a seguir podemos visualizar em Reais (R$) o quadro de rendimento
médio real das pessoas em idade ativa do Brasil, de 2008 a 2009. Verifica-se que para a faixa de idade dos 20 aos 50 anos, temos um valor médio de R$ 500,00 de renda mensal. Esta nos parece ser uma realidade um tanto improvável, tendo como referência as relações de consumo praticadas no mercado brasileiro por esta classe.
35
Tabelas de resultados - Indicadores de 2004 a 2009 ____________________________________________________
7 Rendimento 7.1 Pessoas em idade ativa Tabela 7.1.4 - Rendimento médio mensal real das pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento, por Grandes Regiões, segundo as classes de percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, em ordem crescente de rendimento - 2008-2009
Classes de percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, em ordem crescente de rendimento (%)
Rendimento médio mensal real das pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento (R$) (1) Grandes Regiões
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
2008 Simples Total Até 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20 a 30 Mais de 30 a 40 Mais de 40 a 50 Mais de 50 a 60 Mais de 60 a 70 Mais de 70 a 80 Mais de 80 a 90 Mais de 90 a 100 Mais de 95 a 100 Mais de 99 a 100 Até 10 Até 20 Até 30 Até 40 Até 50 Até 60 Até 70 Até 80 Até 90 Até 100
1 064 102 304 433 441 534 662 832 1 081 1 638 4 621 6 607 13 350 102 203 280 320 362 413 473 548 669 1 064
830 81 224 391 433 451 550 676 876 1 267 3 358 4 722 9 529 Acumulado 81 152 232 282 315 355 401 461 549 830
695 65 132 239 384 433 433 494 652 958 3 161 4 700 10 238
1 235 183 426 445 544 660 808 973 1 288 1 904 5 116 7 198 14 221
1 214 190 428 450 545 659 807 969 1 281 1 878 4 929 6 916 13 434
1 303 141 387 433 475 583 716 884 1 187 1 946 6 289 9 124 18 373
65 98 145 205 251 281 311 354 421 695
183 304 351 399 451 511 578 666 803 1 235
190 309 356 403 454 514 579 666 801 1 214
141 264 321 359 404 456 517 601 750 1 303
2009 Simples Total Até 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20 a 30 Mais de 30 a 40 Mais de 40 a 50 Mais de 50 a 60 Mais de 60 a 70 Mais de 70 a 80 Mais de 80 a 90 Mais de 90 a 100 Mais de 95 a 100 Mais de 99 a 100 Até 10 Até 20 Até 30 Até 40 Até 50 Até 60 Até 70 Até 80 Até 90 Até 100
1 088 108 309 465 471 551 678 859 1 096 1 663 4 683 6 703 13 742
871 95 231 401 465 474 555 696 900 1 296 3 592 5 107 10 461
722 69 135 241 402 465 465 519 678 997 3 253 4 822 10 319
1 255 190 452 473 557 672 823 986 1 307 1 915 5 178 7 348 14 900
1 252 198 455 478 571 690 847 1 011 1 334 1 945 4 993 6 968 13 897
1 298 148 406 465 493 598 738 911 1 189 1 906 6 131 8 900 18 249
108 208 294 338 381 430 491 567 689 1 088
Acumulado 95 163 242 298 333 370 417 477 568 871
69 102 148 212 262 296 328 372 441 722
190 321 372 418 469 528 593 682 819 1 255
198 327 377 426 479 540 607 698 837 1 252
148 277 340 378 422 475 537 618 761 1 298
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008-2009. Nota: Exclusive as informações das pessoas sem declaração de rendimento. (1) Valores inflacionados pelo INPC com base em setembro de 2009.
Figura 9: Rendimento por idade ativa
36
____________________________________________________________ Síntese de indicadores sociais Uma análise das condições de vida da população brasileira 2010
Tabela 9.6 - Rendimento médio do trabalho principal das pessoas de 16 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência e em trabalhos formais e informais, por sexo, segundo as Grandes Regiões, as Unidades da Federação e as Regiões Metropolitanas - 2009 Rendimento médio do trabalho principal das pessoas de 16 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência e em trabalhos formais e informais, por sexo (R$) (1)
Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas
Ocupadas Total
Brasil
Trabalhos formais (2)
Homens Mulheres
Total
Homens Mulheres
Trabalhos informais Total
Homens Mulheres
1 071,40
1 218,30
861,50
1 371,40
1 529,50
1 141,30
695,00
821,20
518,70
889,00
975,20
748,60
1 219,10
1 296,90
1 094,90
661,30
756,20
504,40
Rondônia
1 065,70
1 211,30
811,80
1 256,80
1 437,30
968,20
836,10
958,20
599,30
Acre
1 179,90
1 254,40
1 065,40
1 696,80
1 823,50
1 517,40
684,60
742,70
587,80
Amazonas
930,50
1 007,90
810,80
1 237,90
1 321,10
1 107,90
674,30
745,00
565,90
Roraima
989,50
1 055,50
894,90
1 375,50
1 469,40
1 255,10
674,30
744,70
563,80
Pará
781,70
862,50
645,20
1 086,80
1 120,90
1 026,80
622,30
724,50
453,00
859,70
975,40
714,80
1 185,50
1 246,70
1 090,50
628,50
749,80
497,90
1 035,80
1 130,90
890,30
1 323,30
1 436,10
1 180,70
788,30
903,40
579,30
886,40
968,80
758,00
1 282,30
1 376,90
1 144,30
633,00
718,60
493,70 355,80
Norte
Região Metropolitana de Belém Amapá Tocantins
703,60
766,30
603,50
1 099,80
1 87,70 1
967,20
448,80
504,90
Maranhão
Nordeste
699,30
785,50
550,40
1 179,90
1 335,50
922,80
469,50
528,90
364,60
Piauí
567,10
614,50
493,00
1 207,20
1 335,40
1 038,40
321,20
363,00
251,40
Ceará
655,30
713,10
569,60
1 036,10
1 102,60
942,10
432,60
492,40
341,40
893,80
1 020,10
737,70
1 160,70
1 233,40
1 053,90
625,50
770,00
475,20
Rio Grande do Norte
769,30
852,00
634,30
1 101,70
1 239,70
898,70
484,70
543,90
378,50
Paraíba
768,70
832,40
657,00
1 213,80
1 345,90
994,10
444,60
471,00
396,30
Pernambuco
717,60
771,70
629,20
1 052,30
1 118,90
946,30
460,70
510,10
378,00 473,50
Região Metropolitana de Fortaleza
960,70
1 090,50
787,10
1 216,40
1 310,40
1 076,80
644,20
789,50
Alagoas
Região Metropolitana de Recife
730,90
763,40
674,80
1 014,70
1 037,60
978,90
480,90
537,90
373,40
Sergipe
776,20
857,90
659,10
1 158,20
1 247,40
1 028,00
465,50
536,90
364,60 362,10
Bahia Região Metropolitana de Salvador Sudeste Minas Gerais
712,90
774,10
617,00
1 100,60
1 173,40
993,20
465,00
528,30
1 019,60
1 178,50
837,60
1 328,80
1 414,30
1 212,20
636,20
827,50
459,20
1 217,00
1 411,10
957,40
1 428,10
1 601,40
1 179,50
841,90 1 043,30
603,90
645,90
455,80
964,20
1 109,90
761,80
1 196,10
1 337,50
993,70
1 235,00
1 466,00
972,50
1 433,10
1 631,50
1 184,10
Espírito Santo
996,80
1 142,80
784,50
1 217,20
1 364,00
992,60
Rio de Janeiro
1 305,30
1 518,50
1 026,50
1 585,40
1 779,30
1 409,70
1 651,50
1 104,20
1 724,40
1 935,80
1 326,40
1 545,90
1 038,10
1 486,70
1 462,70
1 698,40
1 174,40
1 213,80
1 423,20
1 187,00
1 389,20
Região Metropolitana de Belo Horizonte
Região Metropolitana do Rio de Janeiro São Paulo Região Metropolitana de São Paulo Sul Paraná Região Metropolitana de Curitiba
788,20
842,30 1 087,80
612,80
699,90
829,90
523,50
1 294,60
837,20 1 006,80
659,90
1 409,50
881,90 1 070,00
700,90
1 668,00
1 231,30
985,40 1 259,90
674,10
1 622,20
1 810,00
1 378,30 1 146,70 1 458,40
807,80
925,10
1 411,20
1 619,20
1 117,80
852,50 1 054,70
585,20
911,00
1 413,10
1 608,40
1 138,20
826,90 1 028,10
565,50
1 406,80
1 646,90
1 105,00
1 634,20
1 872,20
1 323,40
967,70 1 189,70
708,20
Santa Catarina
1 334,40
1 571,10
1 000,80
1 479,50
1 726,20
1 125,50
956,70 1 156,50
687,70
Rio Grande do Sul
1 168,20
1 367,50
894,50
1 362,50
1 555,70
1 093,00
832,20 1 036,10
559,90
1 291,20
1 511,30
1 027,90
1 495,40
1 700,20
1 233,70
889,80 1 105,00
663,50
Região Metropolitana de Porto Alegre
1 277,40
1 461,90
1 016,20
1 610,50
1 779,40
1 357,60
862,20 1 045,10
620,60
Mato Grosso do Sul
Centro-Oeste
1 113,40
1 335,20
804,90
1 373,30
1 558,10
1 077,10
799,30 1 028,30
529,60
Mato Grosso
1 104,00
1 260,60
855,00
1 381,00
1 525,50
1 131,50
798,20
948,20
579,70
Goiás
1 053,30
1 232,90
795,20
1 281,40
1 454,80
1 021,20
805,80
983,10
563,10
Distrito Federal
2 176,50
2 446,70
1 848,40
2 605,70
2 876,60
2 268,00 1 263,70 1 498,20
993,80
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009. Nota: Para classificação dos trabalhos formais ou informais, foi utilizada a definição da Organização Internacional do Trabalho - OIT (PERFIL..., 2009). (1) Exclusive as pessoas sem declaração de rendimento e pessoas com rendimento nulo. (2) Inclui empregado com carteira de trabalho assinada, trabalhador doméstico com carteira de trabalho assinada, militar, funcionário público estatutário, conta própria e empregador que contribuíam para a previdência social.
Figura 10: Renda média do brasileiro
37
Na figura 10 acima, pretendemos mostrar que a condição de vida da população
brasileira não é realmente grandiosa em termos de rendimento médio, beirando os R$ 1.000,00. Assim, vivemos em uma condição social, intermediada de produtos e bens de consumo que se tornam ainda mais simbólicos por estarem inseridos em uma sociedade em desenvolvimento ou menos abastada. Estes símbolos expressam com força e presença um montante de capital que facilmente se sobrepõe a condição que os rendimentos médios da população brasileira poderia abrigar, gerando um fator o qual denominaremos capital aparente. Em outras palavras, o capital aparente seria o capital percebido pela sociedade, expresso pelos símbolos de consumo portados por um cidadão. Este capital é em grande parte o valor que está financiado, sendo que o portador de um bem de consumo não o possui completamente, estando este bem financiado em sua grande parte. O capital financiado somado ao capital real injetado resulta no capital aparente que será percebido pela sociedade de consumo em suas diversas relações. É importante ressaltar que a expressão do capital aparente não é comumente questionada pela sociedade, não distinguindo imediatamente o capital financiado e real. Assim é possível expressar o preço real do produto a partir dos símbolos, sem risco de ser desmistificado pelo financiamento. CAPITAL
Capital financiado
CAPITAL APARENTE
Capital real
COMPRA
Montante de capital necessário para possuir determinado produto
LEITURA SOCIAL PRODUTO
(símbolo de consumo)
EXPRESSÃO
Expressão imediata do preço real do produto
PREÇO REAL DO PRODUTO
Valor extrínseco
Lucro Valor intrínseco
Figura 11: Modelo de expressão do capital26
26
Fonte: modelo proposto pelo autor
38
Mas como adquirir estes bens, inseridos na sociedade brasileira, senão pelo
financiamento? Como o rendimento médio não permite tal aquisição de bens de consumo, que são comuns em outros países de condição econômica mais próspera, no Brasil o financiamento permite que os integrantes da sociedade adquiram bens de consumo altamente valorizados, e em posse destes expressem o preço real daquele produto, mesmo ainda não o possuindo completamente, mas de imediato, já se pode expressar este montante como sendo quitado. Por vezes, em alguns modelos de financiamento, que não exigem entrada, o indivíduo ao menos começou a pagar aquele bem e já pode usufruir da mesma simbologia expressando seu capital aparente no contexto social.
Desta forma equiparamos, mesmo que ilusoriamente,
a nossa condição
econômica a países desenvolvidos, consumindo os mesmo produtos, mas em realidades diferentes. O Brasil, um país que não encontrou outra solução que não o financiamento, adotou este modelo e fatigou a sua população com financiamentos longos, boletos e notas promissórias, e consequentemente muita inadimplência no pagamento das prestações. Assim, foi possível e continua sendo, expressar internacionalmente um montante de capital ilusório, mas que mudou o gráfico de consumo e importações pelos brasileiros. Já internamente, acirrou-se a disputa simbólica entre as classes, elevando o nível aparente da condição econômica de sua população.
A seguir iremos utilizar como objeto de estudo o segmento imobiliário do Brasil
para clarear como é frequente se recorrer ao financiamento imobiliário para aquisições desta natureza.
A casa, o lar, um símbolo de consumo de altíssimo valor agregado expressa nas
relações sociais o teto, o aconchego, e principalmente um montante de capital base para as próximas aquisições. O lar é absorvido pela sociedade de consumo como um símbolo de sucesso profissional e pessoal do indivíduo, o qual conseguiu proporcionar a si mesmo uma condição de vida e conforto satisfatórios. 39
QUADRO 2.12
90
FINANCIAMENTOS HABITACIONAIS (SBPE) Distribuição do Número de Prestações por Faixa de Valor
QUADRO 2.12
90
Censo Semestral
FINANCIAMENTOS HABITACIONAIS (SBPE) De R$ 20,01 De R$ 50,01 a De R$ 100,01 a Ano/Mês Nº de Inst. Até R$ 20,00 a R$ 50,00 R$ 100,00 R$ 200,00 Distribuição do Número de Prestações por Faixa de Valor Censo 02-jun Semestral 32
Nº Prestações Valor em R$ 1,00
Ano/Mês 02-dez
Nº de 32Inst. Nº Prestações Valor em R$ 1,00
1.688 17.395
1.855 258.917
4.396 2.259.044
11.925 15.937.531
De R$ 200,01 a De R$ 300,01 a De R$ 400,01 a De R$ 500,01 a R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 600,00 R$ 300,00 12.986 27.955.587
15.982 11.504.401
17.948 12.432.164
18.856 16.871.429
De R$ 600,01 a R$ 700,00
Acima de R$ 700,00
Total
46.203 43.895.029
64.659 155.612.881
196.498 286.744.378
a De R$ 400,01 a De R$ 100,01 a De R$ 200,01 a De R$ 300,01 a De R$ 500,01 a De R$ 600,01 a 1.507 De R$ 20,01 1.475 De R$ 50,01 3.801 10.928 12.214 15.159 17.282 18.344 45.123 Até R$ 20,00 R$10.662.353 400,00 R$11.683.108 500,00 R$15.442.202 600,00 R$42.241.652 700,00 50,00 R$2.232.213 100,00 R$ 20.643.083 200,00 R$35.004.455 300,00 16.567 a R$234.343
Acima de R$ 64.709 700,00 156.488.953
190.542 Total 294.648.929
02-jun 03-jun
32 32
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
1.688 1.321 17.395 12.988
1.855 1.259 258.917 228.171
4.396 3.162 2.259.044 2.371.467
11.925 9.791 15.937.531 23.757.114
12.986 11.397 27.955.587 38.139.519
15.982 14.154 11.504.401 11.774.416
17.948 16.525 12.432.164 12.254.015
18.856 17.570 16.871.429 13.944.484
46.203 43.948 43.895.029 41.245.754
64.659 66.082 155.612.881 150.437.111
196.498 185.209 286.744.378 294.165.039
02-dez 03-dez
32 31
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
1.507 629 16.567 12.459
1.475 1.130 234.343 228.165
3.801 2.921 2.232.213 2.476.452
10.928 8.833 20.643.083 25.704.015
12.214 10.764 35.004.455 39.651.291
15.159 12.734 10.662.353 14.433.071
17.282 14.823 11.683.108 12.575.079
18.344 15.696 15.442.202 10.912.053
45.123 40.380 42.241.652 38.279.459
64.709 64.212 156.488.953 144.313.605
190.542 172.122 294.648.929 288.585.649
03-jun 04-jun
32 30
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
1.321 566 12.988 11.208
1.259 6.949 228.171 510.599
3.162 3.684 2.371.467 2.709.565
9.791 8.804 23.757.114 29.625.588
11.397 10.588 38.139.519 40.031.748
14.154 12.696 11.774.416 17.292.994
16.525 14.687 12.254.015 13.653.788
17.570 15.659 13.944.484 10.008.463
43.948 39.479 41.245.754 37.596.460
66.082 63.696 150.437.111 146.995.062
185.209 176.808 294.165.039 298.435.475
03-dez 04-dez
31 29
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
629 408 12.459 3.144
1.130 6.884 228.165 321.448
2.921 3.610 2.476.452 275.613
8.833 8.292 25.704.015 1.264.022
10.764 10.271 39.651.291 2.798.830
12.734 13.256 14.433.071 5.201.389
14.823 15.488 12.575.079 7.636.741
15.696 16.305 10.912.053 9.368.750
40.380 39.776 38.279.459 32.441.855
64.212 64.827 144.313.605 136.943.517
172.122 179.117 288.585.649 196.255.309
04-jun 05-jun
30 29
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
566 720 11.208 2.257
6.949 6.642 510.599 316.281
3.684 3.268 2.709.565 242.666
8.804 7.486 29.625.588 1.135.744
10.588 9.488 40.031.748 2.392.589
12.696 12.462 17.292.994 4.391.737
14.687 14.721 13.653.788 6.644.600
15.659 15.583 10.008.463 8.571.921
39.479 37.835 37.596.460 27.907.825
63.696 64.815 146.995.062 130.689.447
176.808 173.020 298.435.475 182.295.067
04-dez 05-dez
29 31
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
408 417 3.144 1.555
6.884 6.530 321.448 313.233
3.610 3.108 275.613 231.375
8.292 7.225 1.264.022 1.099.985
10.271 9.172 2.798.830 2.314.245
13.256 11.791 5.201.389 4.154.574
15.488 14.395 7.636.741 6.497.353
16.305 15.237 9.368.750 8.382.109
39.776 37.268 32.441.855 27.511.924
64.827 68.179 136.943.517 152.212.166
179.117 173.322 196.255.309 202.718.519
05-jun 06-jun
29 31
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
720 473 2.257 4.228
6.642 822 316.281 29.634
3.268 9.078 242.666 539.948
7.486 9.223 1.135.744 1.421.795
9.488 12.079 2.392.589 3.043.806
12.462 14.949 4.391.737 5.264.098
14.721 18.382 6.644.600 8.289.118
15.583 19.201 8.571.921 10.562.816
37.835 46.728 27.907.825 34.452.524
64.815 84.076 130.689.447 169.891.215
173.020 215.011 182.295.067 233.499.182
05-dez 06-dez
31 28
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
417 425 1.555 2.193
6.530 870 313.233 31.345
3.108 8.915 231.375 528.032
7.225 8.751 1.099.985 1.367.538
9.172 11.716 2.314.245 2.965.402
11.791 15.779 4.154.574 5.561.009
14.395 20.319 6.497.353 9.164.838
15.237 21.919 8.382.109 12.067.711
37.268 54.422 27.511.924 40.130.386
68.179 95.606 152.212.166 182.698.113
173.322 238.722 202.718.519 254.516.567
06-jun 07-jun
31 23
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
473 402 4.228 1.961
822 814 29.634 29.315
9.078 8.677 539.948 518.897
9.223 8.978 1.421.795 1.408.524
12.079 13.346 3.043.806 3.392.877
14.949 18.373 5.264.098 6.491.328
18.382 23.423 8.289.118 10.574.723
19.201 26.472 10.562.816 14.577.878
46.728 64.259 34.452.524 47.412.099
84.076 109.482 169.891.215 206.428.280
215.011 274.226 233.499.182 290.835.882
06-dez 07-dez
28 21
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
425 372 2.193 2.274
870 866 31.345 113.813
8.915 8.774 528.032 529.989
8.751 9.711 1.367.538 1.198.346
11.716 15.589 2.965.402 3.959.848
15.779 21.332 5.561.009 7.524.850
20.319 27.427 9.164.838 12.391.464
21.919 31.322 12.067.711 81.627.462
54.422 76.373 40.130.386 277.452.391
95.606 127.031 182.698.113 236.926.762
238.722 318.797 254.516.567 621.727.199
07-jun 08-jun
23 22
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
402 523 1.961 2.320
814 855 29.315 30.559
8.677 8.692 518.897 527.305
8.978 9.786 1.408.524 1.539.176
13.346 16.886 3.392.877 4.299.006
18.373 23.674 6.491.328 8.352.413
23.423 30.536 10.574.723 13.797.195
26.472 34.410 14.577.878 18.921.376
64.259 85.931 47.412.099 63.416.616
109.482 146.932 206.428.280 276.821.636
274.226 358.225 290.835.882 387.707.602
07-dez 08-dez
21 23
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
372 555 2.274 3.950
866 1.096 113.813 39.083
8.774 8.985 529.989 555.365
9.711 10.547 1.198.346 1.654.398
15.589 19.087 3.959.848 4.865.800
21.332 26.970 7.524.850 9.517.246
27.427 34.953 12.391.464 15.798.336
31.322 39.891 81.627.462 21.945.845
76.373 102.101 277.452.391 75.468.897
127.031 184.935 236.926.762 352.973.029
318.797 429.120 621.727.199 482.821.949
08-jun 09-jun
22 23
Nº Prestações Nº Prestações Valor em R$ 1,00 Valor em R$ 1,00
523 555 2.320 3.950
855 1.096 30.559 39.083
8.692 8.985 527.305 555.365
9.786 10.547 1.539.176 1.654.398
16.886 19.087 4.299.006 4.865.800
23.674 26.970 8.352.413 9.517.246
30.536 34.953 13.797.195 15.798.336
34.410 39.891 18.921.376 21.945.845
85.931 102.101 63.416.616 75.468.897
146.932 184.935 276.821.636 352.973.029
358.225 429.120 387.707.602 482.821.949
23
Nº Prestações Valor em R$ 1,00
555 3.950
1.096 39.083
8.985 555.365
10.547 1.654.398
19.087 4.865.800
26.970 9.517.246
34.953 15.798.336
39.891 21.945.845
102.101 75.468.897
184.935 352.973.029
429.120 482.821.949
39.891 21.945.845
102.101 75.468.897
184.935 352.973.029
429.120 482.821.949
Fonte: DESIG 08-dez
09-jun
Nº Prestações Valor em R$ 1,00
23
555 1.096 8.985 10.547 19.087 26.970 34.953 3.950 39.083 555.365 1.654.398 4.865.800 9.517.246 15.798.336
Figura 12: Prestações por valor
Fonte: DESIG
Figura 13: Prestações por valor consolidado
Nas figuras 12 e 13 anteriores, podemos verificar a situação do número de
prestações por faixa de valor praticados na SPBE (Sistema brasileiro de Poupança e Empréstimo) da caixa, no Brasil. Na vertical da figura 12, em sete anos observa-se uma tendência de alta constante do número de prestações, e consequentemente o valor total financiado. O interessante é observarmos que o número de prestações aumenta exponencialmente, agora na horizontal, indicando que quanto maior o valor da parcela,
40
maior o número de prestações. Assim, tomando como base o maior número da prestação (acima de R$ 700,00), esta parcela só poderia ser absorvida, e mesmo seu crédito aprovado para um mínimo de situação econômica da classe C, onde temos a renda média domiciliar no Brasil de R$ 1.126,00 à 4.854,00 (figura 2). Portanto, a concentração do capital aparente se encontra nesta classe, inflando a sua capacidade de comunicação do capital a partir dos símbolos de consumo, e podendo até situar a sua condição de perfil de público-alvo à uma classe mais alta, no caso a classe B.
De acordo com a revista Infomoney27, o volume de empréstimos para a compra de
imóvel com recursos da poupança cresceu 51,9% em janeiro, frente ao mesmo período do ano passado, para o recorde de R$ 2,88 bilhões. Este foi o melhor resultado da história do SBPE. Frente a janeiro de 2008, quando havia uma euforia do crédito imobiliário foi registrado crescimento de 77,3%. No acumulado dos últimos 12 meses, os empréstimos para a compra de imóvel com recursos da poupança cresceram 15,5%, frente ao período de 2009, com um volume financiado de R$ 35 bilhões.
Estes dados demonstram, como se confirma na figura 14 a seguir, que houve
incremento no capital aparente das classes sociais do Brasil, principalmente da classe C, em janeiro de 2010, de R$ 2,88 bilhões. Assim, principiamos a quantificar o montante de capital aparente, possibilitado pelo crédito.
27
Fonte: Revista InfoMoney. Data: 25/02/2010 41
42
22
22
22
22
21
21
Ago/2009
Set/2009
Out/2009
Nov/2009
Dez/2009
Jan/2010
259
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
213
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
10 3.864
229 10 3.864 150
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
4.405
49 3.071
4.405 159 49 3.071 153 22
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS RESIDENCIAIS
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
22
153
159
7
150
7
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
3.126
3.126 229
9
9
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
3.496
3.496
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS 213
9
9
T.M. - IMÓVEIS COMERCIAIS
3.659
3.659
SFH - IMÓVEIS RESIDENCIAIS 259
Unid.
Cont.
Faixa (1)
Nota: (1) SFH - Financ. Habitacionais concedidos no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação TM - Financ. Habitacionais concedidos à Taxa de Mercado
Fonte: DESIG
Núm. Inst.
Mes/Ano Cont.
22
217
23
210
8.402
26
254
32
275
42
268
0,15
3,75 27
306
22,50 10.067
1,39
3,75
23,75 12.678
0,03
3,28
23,30 11.771
0,07
5,09
25,02
0,03
3,82
21,08 11.671
0,10
3,63
22,16 11.622
A/D %
27
306
10.067
42
268
12.678
32
275
11.771
23
210
8.402
26
254
11.671
22
217
11.622
Unid.
5.700.950
138.283.465
1.224.491.710
7.043.120
128.643.822
1.564.106.355
4.059.450
119.169.396
1.428.242.710
10.956.980
91.675.155
1.028.077.785
3.153.800
117.286.372
1.415.523.487
2.130.310
102.548.361
1.397.432.515
Valor (B)
Imóvel Usado
0,31
7,44
65,85
0,29
5,38
65,43
0,19
5,64
67,57
0,68
5,66
63,49
0,15
5,73
69,19
0,11
5,06
68,94
B/D %
49
459
13.138
91
427
17.083
39
425
15.635
33
439
11.528
35
467
15.167
31
476
15.281
Cont.
Figura 14 : Financiamentos por faixa de valor
2.841.054
69.798.009
418.412.302
33.314.613
89.755.519
567.773.680
672.900
69.273.040
492.436.565
1.080.683
82.447.901
405.100.181
678.128
78.051.286
431.168.182
2.016.920
73.661.517
449.204.188
Valor (A)
Imóvel Novo
Financiamentos Imobiliários para Aquisição por faixa de aplicação Recursos do SBPE - Concedidos no período Valores Nominais
QUADRO 2.6
49
459
13.138
91
427
17.083
39
425
15.635
33
439
11.528
35
467
15.167
31
476
15.281
Unid.
8.542.004
208.081.474
1.642.904.012
40.357.733
218.399.341
2.131.880.035
4.732.350
188.442.436
1.920.679.275
12.037.663
174.123.056
1.433.177.966
3.831.928
195.337.658
1.846.691.669
4.147.230
176.209.878
1.846.636.703
Valor (C)
Total por Faixa
0,46
11,19
88,35
1,69
9,14
89,18
0,22
8,91
90,86
0,74
10,75
88,50
0,19
9,55
90,26
0,20
8,69
91,10
C/D %
13.646
17.601
16.099
12.000
15.669
15.788
Cont.
13.646
17.601
16.099
12.000
15.669
15.788
Unid.
Total do Mês
1.859.527.490
2.390.637.109
2.113.854.061
1.619.338.685
2.045.861.255
2.026.993.811
Valor (D)
Em R$ 1
58
A seguir quantificaremos, a partir de simuladores de financiamento de diversas
fontes, o montante de capital aparente, ou crédito, possibilitado a uma situação de um integrante da classe C. Iniciamos com a própria SBPE:
Figura 15 : Simulação de financiamento habitacional, Caixa SBPE
43
Na figura 15 acima, vemos que o incremento no capital aparente desta operação
é de 28,54%. Ou seja se o valor do imóvel é de R$ 400.000,00, é possível financiar R$ 88.000,00, em 264 meses, tendo um valor de prestação na altura de R$ 1.200,00. Assim esses R$ 88.000,00, passam a ser expressos imediatamente a partir da ocupação do imóvel, mesmo sendo financiados em 264 meses.
Fonte: http://www.itau.com.br, acesso em 03, jan, 2011 as 15:43
Figura 16 : Simulação de crédito geral, Itaú.
Na figura 16 acima, destacamos a quantidade total de crédito para uma situação de
classe C, em que a renda mensal média se encontra na faixa dos R$ 3.000,00. Dispostos para este indivíduo o crédito já aprovado total é de R$ 134.000,00. Em 1 ano a renda total do indivíduo será de R$ 36.000,00. Então podemos dizer que for contratado todo o crédito disponível em 1 ano, este sujeito expressaria um montante de capital aparente (a ser pago) de 372,22 %.
Utilizando somente como exemplo, a fim de enriquecer o estudo com a variedade
de casos, iremos utilizar uma simulação para financiamento de automóveis. Apesar da nova lei vigente em 2011, que define restrições para o financiamento de automóveis28, 28
Para financiar com 24 a 36 parcelas, é necessário dar entrada de 20% do valor total do veículo; para financiar entre 36 e 48 parcelas, entrada de 30%; de 48 a 60 meses, entrada de 40%. Os juros subiram de 1,3% para 2,3%, em média. Ficou muito mais difícil (e caro) aos bancos financiar em mais de 60 vezes. 44
o capital aparente embutido em veículos, ignorando aqui toda a simbologia adicional embutida em um símbolo de consumo como este, sempre foi muito grande.
Na figura 17 abaixo, demonstramos uma simulação para financiamento de um
veículo de R$ 40.000,00, dando entrada de R$ 5.000,00. Em outras palavras, nesta operação é possível expressar um capital aparente de 800% em cima do capital real injetado.
Fonte: http://aecarros.com.br/financie/index.aspx, acesso em 07, jan, 2011 as 11:58h
Figura 17 : Simulação de financiamento, AE carros.
Podemos compreender, a partir das simulações anteriores, que a expressão do
capital aparente pode ser muito maior que o verdadeiro capital acumulado dos integrantes da sociedade capitalista brasileira. O mercado, por sua vez, tende a acompanhar e ler a expressão do capital aparente em sua precificação, elevando os preços à um patamar em que o capital real, ou a renda anual, principalmente da classe C, por si só já não pode alcançar a compra dos produtos desejados, recorrendo invariavelmente ao financiamento.
45
lo a ar o”. n os ue bi em
de pessoas na classe média, deve mos ter mais 20 milhões de pes soas entrando nessa categoria até 2015”. Também deverá aumentar, prevê o estudo, a participação das classes A e B – e a classe B é rele vante em termos do potencial de consumo imobiliário. A MB Associados avalia a
an em va a e i os zer is a da ca ma da rí -
sideradas “superestrelas”houve apreciação consistente e acima da média do valor dos imóveis “ao longo de mais de 50 anos”. Em síntese, os preços dos imóveis localizados em São Paulo tende rão a subir até 2015. Estimativas de evolução do setor imobiliário – Os preços dos
za o estudo – “é fundamental para a análise de bolha, pois uma das im plicações é que a economia precisa continuar tendo perspectiva positi va de crescimento de renda e PIB para poder comportar aumentos significativos de preços de imóveis, diferente do que aconteceu nos exemplos citados” no exterior.
PROJEÇÃO DO PREÇO DO METRO QUADRADO 6,622 5,954 5,354 3,892
3,500
2009
2,350
2,113
1,900
2010
2011
2012 Luxo
Médio
2013
3,595
3,232
2,906
2,906
5,108
4,593
4,130
3,714
3,339
3,003
2,700
4,814
4,329
2014
2015
Econômico Fonte: MB Associados.
Figura 18 : Projeção do preço do metro quadrado.
SFI - 15
Na figura 18 acima, segue a projeção para o preço do metro quadrado no Brasil.
Nesta conjuntura podemos avaliar que os preços para os símbolos de consumo de alto valor estão recheados de valor extrínseco. Como há um processo de crescimento forte da demanda na economia brasileira em vista do forte aumento da classe média nos últimos anos, se voltando para o ramo imobiliário, os preços tomaram proporções exorbitantes, e, aliados ao financiamento constroem o ciclo de precificação e valorização do mercado brasileiro. paralisação de 11%, pelas FINANCIAMENTOS COM MAIS DE 3 PRESTAÇÕES EM ATRAS0 – EM % geral na secu regras da Basi 12.02 ritização. Mas, léia). A regula 11.2 11.14 como afirma o ção prudencial 10.51 9.66 estudo da MB foi reformula 8.5 Associados, é da e o Banco preciso “ter Central dispõe 6.3 em mente que de informações o estouro da sobre a carteira 4.23 bolha foi o ga de crédito das 3.07 2.56 2.52 tilho da crise, instituições. mas ela por si Com tais infor só não teria mações, o BC 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 levado a crise tem condições Fonte: Abecip. Elaboração: MB Associados. Nota: dados de 2010 até abril. dessa magnide evitar situ tude. O pro ações de risco Figura 19 : Inadimplência de prestações blema foi a falta de confiança ge Em Hong Kong, onde os preços sistêmico. Os depósitos compul neralizada no sistema financeiro dos imóveis incluem-se entre os sórios podem ser utilizados em que paralisou o crédito e o pro mais altos do mundo, houve con momento de falta de liquidez, cesso decisório macroeconômico trole dos índices de inadimplên como ocorreu em 2008, evitando Na figura 19 acima, percebemos que mesmo com os preços elevados o brasileiro durante algum tempo”. cia “porque a maior parte dos que instituições “mais fragiliza Concorreram para a mais compradores é de classe média e das” contaminassem o resto do se mostra bom pagador, no tocante a financiamentos habitacionais. Seja pelos sistemas grave crise imobiliária da história alta e ainda se exige um alto va sistema e dando tempo para se um sistema de securitização “tão lor de entrada no pagamento do readequarem. fora da alçada de regulação”, a imóvel”, além de regras rígidas de Sobretudo, como o merca venda de hipotecas a quem não concessão de crédito – exatamen do secundário é incipiente – ao 46 tinha condição financeira míni te ao contrário do que ocorreu contrário do que ocorre nos Es ma para pagá-las e regras do mer nos Estados Unidos. tados Unidos –, “a maior parte do cado subprime, tais como as cláu A experiência brasileira – O financiamento ainda é feita pelo sulas que previam o reajuste das estudo deixa claro que seria mais SFH, o que vale dizer que toda a
de aprovação de crédito, que cercam de todas as formas, ou pela índole do brasileiro, vemos o declínio no gráfico de inadimplentes. Esta figura nos mostra que o desejo dos brasileiros em sustentarem a sua posição social é real. A partir da compra e expressão dos bens duráveis, nós brasileiros lutamos para o pagamento em dia de nossas prestações, e não medimos sacrifícios para tal. Assim declinamos o gráfico de inadimplência, tendenciando um menor risco para os futuros financiamentos. Deste modo consolidamos e consumimos, cada dia mais, os sistemas de crédito brasileiros.
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CAPITULO V COMUNICAÇÃO CERTA AO PÚBLICO ERRADO
Primeiramente vamos nos atentar para comunicação, suas definições e atribuições.
Uma das acepções presente nos dicionários, que situa comunicação como substantivo, define-a como sinônimo de vias de comunicação (estradas, artérias). Comunicação, nesta perspectiva, se aproxima muito dos significados de “transporte” ou “transporte de coisas”. Isso pode indicar, de alguma forma, como o termo comunicação está fortemente atrelado às práticas econômicas, à troca de bens. Se observarmos a questão da mensagem e informação, perceberemos que existe um produto nas relações de comunicação: Um produto simbólico e de significado. Assim existe uma troca que se realiza nas relações de comunicação, essa troca também é pautada por bens simbólicos, que geram significados.
A publicidade em todas as suas ramificações e mesmo a propaganda busca realizar
as trocas corretas para com seus públicos e impactá-los desta maneira, emitindo pacotes de significações que se comunicam, harmonizando o mais perfeitamente possível com o sujeito a ser comunicado. A publicidade pode ser entendida como “atividade mediante a qual bens de consumo e serviços que estão a venda se dão a conhecer, tentando convencer o público da vantagem de adquiri-los” (GOMES, 1998, p.24). Ao se iniciar uma campanha de comunicação se precede, dentre todas as variáveis, a definição do público-alvo, afim de mitigar as distorções e ruídos comunicacionais que possam desalinhar a mensagem com seu público-alvo.
Considerando a reflexão de Orozco29, temos uma via para o entendimento
das divergências entre os termos receptor e público-alvo. Pois, a partir das escolhas paradigmáticas da academia e das agências, se construíram maneiras diferentes de pensar este sujeito, designado com termos que denotam sentidos tão distintos. 29
OROZCO, Goméz G. La investigación en comunicación desde la perspectiva cualitativa, p.36. 48
Mas como estudado anteriormente, a definição do público-alvo pode se equivocar
em expressões do capital das supostas classes sociais, não podendo ser esta, tão somente a via única para tal definição. Os indivíduos que compõem a sociedade tendem a expressar uma grande parcela de capital que não possuem, possibilitado pelo financiamento, mascaram a realidade de suas classes sociais, supostamente se posicionando, por meio de símbolos de consumo em uma classe social superior.
Esta condição social, mascarada pelo sistema de crédito, pode ser compreendida,
lida e absorvida pelos publicitários a fim de produzir mensagens e pacotes de significação para estas “realidades”. Mas estaríamos nós publicitários produzindo mensagens e vendendo produtos ao público correto? Estaria mesmo a sociedade, estratificada pelos sistemas de crédito, expressando uma condição econômica mais elevada por meio de símbolos comunicacionais?
Ao observar os dados que precederam esta reflexão vimos que a situação econômica
brasileira não está em condições de adquirir bens e adotar os modelos capitalistas dos países desenvolvidos, em sua totalidade. O rendimento médio mensal é muito baixo e denota capacidades muito limitadas de aquisição de bens de consumo. Desta forma a publicidade ora comunica produtos corretos ao público que economicamente não poderia adquiri-lo, se não pelo modelo de sistema de crédito implantado no Brasil; ora pelo mesmo motivo, ao incentivar a aquisição dos mesmos, nas normas de estratificação social do Brasil, imprime a esses produtos uma maior capacidade simbólica e comunicacional. Pois estes, inseridos no contexto econômico brasileiro se tornam símbolos de consumo, que possuem força econômica de expressão, estratificando as classes sociais.
A publicidade pode estar ignorando a realidade em números dos brasileiros. Ela
está comunicando e adotando valores estrangeiros em uma sociedade ainda em evolução econômica. Estes valores não poderiam ser adotados sem uma consequência para nossa
49
situação econômica atual. “Estamos vendendo ouro a mendigos”. Tanto é verdade que não se obtém o recall estimado para a maioria das campanhas aqui veiculadas para o público AB e C, vendendo símbolos de alto valor agregado que não podem ser consumidos por nós. E inversamente as campanhas do tipo Casas Bahia, fundadas no financiamento ou parcelamento se adequam mais a condição de vida brasileira e atingem um maior percentual de retorno em vendas para as instituições. É só analisarmos a pirâmide de classe social exposta na figura 6, para percebermos onde está o maior montante da população brasileira, em sua base na classe ED e a nova classe C.
Ao fim, pior que vender produtos imbuídos de valor ideológico, dificultando a
sua aquisição, percutimos com tal prática social, o avanço do capital aparente imerso em nossa realidade econômica. Deste modo mistificamos as trocas justas no ambiente de consumo, idealizando e trazendo a qualidade de vida à uma patamar muitas vezes sofrido e ilusório, que pode acabar por via dupla, nos consumindo. Por consequência eleva-se a magnitude dos símbolos de consumo acima das relações humanas naturais, posicionando as aparências nas extremidades, e sedimentando as diferenças sociais.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente a toda reflexão aqui levantada, percebemos que a as relações das sociedades
primordiais para com os objetos não passavam de vias práticas e destituídas de sentimento de posse. Mas que após a inserção do sistema de capital, e a possibilidade de troca dos produtos pelo capital líquido permeando as relações sociais, o consumo passa a simbolizar e expressar todo o capital projetado pelo bem de consumo.
Os produtos tendo em sua composição um valor ideológico acentuado, possibilitam
ao mercado a auto regulação das precificações à elevados patamares. E com a legitimação social acerca dos preços praticados, os produtos ‒ com preços inflacionados ‒ se tornam símbolos de consumo, comunicando o montante de capital aparente de sua figura social correlacionada.
Principalmente no contexto social brasileiro, onde a economia subdesenvolvida
ainda está em evolução, permitindo a grande desigualdade social, os produtos ganham força simbólica para a expressão do capital, sendo utilizados como meio de consolidação da camada social, de status ou capital aparente.
A partir do financiamento, os brasileiros adquirem bens de consumo que podem
expressar um montante de capital aparente de até 300% maior do que possuem. Assim é possível ascender nas classes sociais pela expressão do capital aparente maior que o que é realmente da posse geral.
Além deste quadro, vimos que os simbolismos de expressão o capital são
perecíveis e perdem o valor com o tempo, antes mesmo que possam ser pagos em sua totalidade do financiamento.
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Engajados por tal suposição, propomos às instituições de comunicação analisar
mais precisamente os dados econômicos do Brasil, e definirem previamente seu público alvo, não a partir dos bens adquiridos mais pela renda média de classe social.
Assim entendemos que seria uma via mais efetiva para leitura social, o
entendimento de seu universo e a posterior confecção de mensagens para os públicos determinados, minimizando os ruídos no processo de comunicação. Também pleiteamos um maior alinhamento das campanhas de comunicação como público brasileiro, o qual tenta importar nocivamente, modelos de consumo estrangeiros em sua estrutura social, incitados também pela publicidade.
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