Pela Segunda Vez

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PELA SEGUNDA VEZ ZAC


Ă todos aqueles que acompanharam atĂŠ o fim! -ZAC


Um Estou na frente do espelho decidindo qual roupa usar, talvez um simples vestido, ou talvez uma coisa mais formal. Acabo vestido minha blusa branca e uma saia com flores azuis. Coloco o meu casaco e dou uma última olhada no espelho. Tudo como sempre, roupas arrumadinhas, cabelo sobre os ombros. Está nevando lá fora, mas mesmo assim, resolvo ir de carro pra escola. O sonho de qualquer adolescente de 16 anos. Faz alguns meses que vim morar sozinha. Meus pais me dera um apartamento quando eu fiz dezesseis. O porsche vermelho veio como um brinde. Entro no carro e mesmo sendo dificultada pela neve, consigo chegar á tempo de assistir a primeira aula. Sento na primeira cadeira da terceira fila ao lado da minha amiga Cara. Ela está com um novo corte de cabelo. O cabelo longo de cor avermelhada agora dá lugar a um cabelo curto e bagunçado com mechas loiras. - O que achou do novo visual? – pergunta ela. - Nada mal – respondo. - É pra semana punk-rock do meu clube de música. – diz ela. - Mais punk-rock do que isso, impossível. – falo. A Srtª. Day dá início á aula falando sobre a importância do nosso cérebro no armazenamento de memórias. Depois da explicação imensa do assunto sem sentido, ela anuncia o baile anual de primavera. Olho para Cara franzindo as sobrancelhas. - Sem par? – pergunta ela. - Sem par. – falo concordando


Nós fizemos um acordo de sempre irmos aos bailes juntas. Era tradição. Pacto entre amigas. Ao terminar a aula saio da sala e me dirijo ao meu armário. Abro a porta e coloco as minhas coisas lá dentro. Fecho a porta. Há um garoto por trás. Ele tem olhos claros e um cabelo loiro que cai sobre sua testa. - Oi – diz ele. - Oi – respondo. - Você é a Chloe Marteen, não é? – pergunta ele. - Sim, sou eu mesma. – respondo – E você é...? - Eu sou o Josh. Josh Carter. – diz ele. Passamos um tempo trocando olhares, até eu quebrar o silêncio. - Por que me procurou? – questiono. - Eu queria saber se você quer ir ao baile comigo? - Eu? Mas eu nem te conheço, nunca vi você na vida. – falo. - Isso é um não? – ele diz. - Mas é claro que isso é um não. – falo isso sendo um pouco arrogante. - Tá. Saquei qual é a sua. – fala ele. Saio caminhando pelos corredores e encontro Cara na porta ginásio. - Vi você conversando com aquele garoto novo. O que ele queria? – diz Cara. - Adivinha. – digo eu. - Você não quebrou nossa promessa não foi? – ela fala. - Mas é claro que não. Por que eu faria uma coisa dessas? –falo. Ela ri.


Nós caminhamos até a porta do colégio e vou em direção ao carro. Pergunto a Cara se ela quer vir comigo. Ela diz que não. Ao mesmo tempo ela coloca a mão no meu braço. - Espera. – diz ela. - O que foi? - É que... Você foi a melhor amiga que eu tive em toda vida. - Eu sei, mas por que tá dizendo isso? - Não. Alguma coisa me disse que eu deveria falar. - Tá bem. – digo. Entro no carro e me despeço dela, achando meio estranho o que ela disse. No caminho de casa há uma estrada que vai dar bem no alto da montanha. Não é muito longe, mas leva uns 50 minutos até chegar lá. Como não há nada pra fazer em casa. Resolvo dar uma passadinha por lá. Cinquenta minutos á parte e lá estou eu. Desço do carro e me apoio na cerca que rodeia a montanha. A vista é tão linda, além de ver toda a cidade, dá pra ver um campo de flores brancas e rosas vermelhas. A vida é tão linda nos momentos em que você sabe aproveitá-la. Esse é um. Entro no carro, mas ao invés de ouvir o clique da porta, ouço a buzina de um caminhão vindo em minha direção. Acordo lá em baixo, no campo bonito. As flores brancas estão manchadas de sangue. O meu sangue. Fecho os meus olhos, dou uma respirada e de repente, estou na frente do espelho decidindo qual roupa usar. O meu dia começou de novo.


Dois Isso não é possível. Não pode ser real. Deve ser um sonho ou pesadelo. Para confirmar, eu belisco a mim mesma com tanta força que a dor é insuportável. Definitivamente, isso não é um sonho. Dou um grito tão alto meus ouvidos doem. - Isso não é real. – grito. Meu dia começou outra vez. Eu já vi isso em alguns filmes. Mas, nunca ouvi falar de casos assim na vida real. Sei quem pode me ajudar. David. Um gênio nerd da minha escola. Ele deve saber de alguma explicação para isso. Acho que não foi atoa que o adiantaram dois anos na escola. Pego minha mochila e tomo meu café em mais ou menos um minuto. Uma voz sussurra em meus ouvidos. - Diga sim ás possibilidades. – diz a voz que não parece vir de lugar nenhum. - Quem tá aí? – pergunto, mas não há nenhuma resposta. Mas como assim? Que possibilidades? O meu dia já foi muito estranho até agora. Saio e vejo o meu carro. Intacto. Sem nenhum arranhão. Nem parece que saiu rolando montanha abaixo. A neve dificulta a minha visão. Entro nos corredores da escola e vejo David vagueando perto da biblioteca. - Preciso falar com você. – digo. - Ah não, eu não vou fazer seu trabalho de Ciências outra vez. - exclama ele. - Isso foi no segundo ano. Agora a coisa é mais grave! – digo. - Então tá? Pra que você precisa de mim. – diz - É como um Déjà vu. Eu tinha saído da escola, estava nas montanhas e um caminhão saiu me arrastando. Agora meu dia todo começou outra vez.


- Uau! Isso é bem esquisito! – fala David. - O que você pode fazer? – pergunto. - Bem, eu posso dar uma pesquisada. – ele diz. - Tudo bem, mas não esquece, viu? - Pode deixar comigo. Dirijo-me a sala de aula e vejo Cara, sentada do mesmo jeito do meu déjà vu ou de ontem, ainda não sei como chamar esse fato. - Gostei do cabelo. – digo para Cara. – O seu clube de música punk-rock vai adorar! - Mas, como você sabe, eu ainda ia te contar... – diz ela fazendo uma cara de espanto. - É uma história bem complicada. Depois eu te conto. Eu estava louca pra contar tudo para Cara, mas aqueles não eram nem hora e nem lugar certos, pois a professora tinha acabado de chegar. Se eu tivesse prestado atenção na aula do meu déjà vu, com toda certeza eu teria uma participação excelente nessa. De novo ela fala sobre o baile de primavera. Olho para Cara. - Sem par? – ela diz. - Sem par. – respondo. Toca o sinal e somos liberados da aula. Tento fazer tudo como fiz da outra vez. Então essa é a hora em que eu vou em direção ao meu armário. Ele está lá de novo. - Oi. – diz ele. - Oi. – respondo. - Você é a Chloe Marteen, não é? - Sim, sou eu mesma, e você é o Josh Carter. – falo


- Como você...? – ela faz uma cara inexpressiva. Tenho que parar de fazer isso com as pessoas, mas é tão divertido. - Ouvi boatos. – minto. - Tá. Saquei. – fala ele. - Então, bem, você quer ir ao baile de primavera comigo? Penso em dizer não, mas me lembro da voz me mandando dizer sim as possibilidades. Não sei o que ela quis dizer com “possibilidades”, mas isso me parece uma. - Adoraria. – respondo.


Três Um sorriso se forma no rosto de Josh Carter. Ainda tenho que explicar a Cara por que quebrei nossa promessa de irmos ao baile juntas. Nem eu mesma sei como explicar. Encontro ela na porta do banheiro. - O que aquele garoto queria? – pergunta Cara. - Me convidar para o baile. – respondo. - Você não aceitou né? – diz Cara. Fico em silêncio. - Ai meu Deus! Eu não acredito que você quebrou nossa promessa. Alguém bateu na sua cabeça com um martelo ou o que? - Cara, eu senti pena dele e resolvi aceitar. – digo. - Mas e eu? Com quem eu vou ao baile? – pergunta ela. - A gente dá um jeito. – falo. - Que jeito? – questiona. - Não sei, mas... – começo a falar, mas Cara me interrompe. - Olha você tá muito estranha essa manhã! Diz logo o que aconteceu com você! – grita ela. Agora vou ter que dizer a verdade. Estamos sozinhas no corredor da escola. Todos já foram embora. - Eu morri. – falo. - O que? Mas como assim? Você tá aqui na minha frente. - Foi como se o meu dia tivesse começado outra vez. Eu estava na montanha e aí um caminhão veio e me jogou lá em baixo e de repente eu estava na frente do espelho como se nada tivesse acontecido. Eu ouvi uma voz dizendo


pra eu falar sim para as propostas que me fizessem. Por isso eu quebrei nossa promessa. - Desculpa! Eu não sabia. - Não precisa se desculpar. - É que você é... – ela começa. - É a melhor amiga que eu já tive em toda minha vida. – termino a frase. - Você tem que parar de fazer isso. – diz ela rindo. - Eu sei. – rio. – Agora tenho que ir. Chego a minha casa e decido me deitar. O dia foi bem cansativo. Mas o celular tocando não me deixa cochilar. É a mamãe ligando. - Mãe? - Oi filha. Eu queria muito falar com você. - Pode dizer. - Hoje á noite eu vou dar um jantar com a vizinhança e queria muito que você comparecesse. - Não vai dar. – digo. - Mas filha... – ela começa a falar. - Á menos que tenha docinhos de coco. – interrompo. - Pode deixar. Docinhos de coco já estão na lista. – diz ela. Então era isso o que teria acontecido se eu não tivesse ido para a montanha. Um jantar na casa da minha mãe. Peculiar. Poderia ter dito a ela tudo o que estava acontecendo. Mas, resolvi deixar passar. Minha mãe definitivamente não sabia guardar segredos. Visto meu vestido azul, calço meus sapatos e coloco meus brincos de bolinhas. Deixo meu cabelo do jeito que está. Coloco o celular na bolsa e já


estou pronta. Pego meu carro e vou para a casa da minha mãe. Não é muito longe, mas também não é muito perto. Quando chego lá percebo que há alguma coisa diferente. Talvez seja a iluminação ou ela pode ter mandado pintar tudo de novo, como faz todo mês. Entro e vejo o salão repleto de pessoas bem-vestidas e com joias tão brilhantes que os meus olhos doem. Percebo que minha mãe está andando em minha direção. - Mãe, por que você não me avisou que viriam todas essas pessoas? - O que foi? Eu disse que seria um jantar, não um funeral. Você já devia saber que os jantares de sua mãe, Angie Marteen, são os mais frequentados de toda a cidade. – diz minha mãe. - É. Eu sei. – respondo. - Vem cá filha. Quero te apresentar á umas pessoas. – diz ela me puxando. – Essa aqui é a família Carter. Há uma mulher, um homem e um rapaz. O rapaz eu já conheço. Josh Carter. - Essa é Madeline Carter. – diz ela apontando para a mulher. - Andrew Carter. – fala apontando para o homem. - e Josh Carter. – o rapaz. - Prazer conhecer você querida! – fala Madeline. Faço um sorriso falso, aperto a mão dela e digo: - O prazer é todo meu! A música começa a tocar. É a hora da dança. - Me concede essa honra? – diz Josh. - Pode ser! – isso saiu como uma grosseria, mas essa não era a intenção. Ele me puxa e começamos a dançar lentamente. E perfeitamente. - Isso era pra ser só um jantar. – sussurro. - E eu era pra ser um engomadinho que nem esses. – diz Josh.


- Mas acontece que você também aparenta ser um desses engomadinhos. – falo. - É aí que você se engana! – diz ele. - Sei. - digo. – Já deu. Solto a mão dele e vou em direção ao jardim da casa da minha. O meu lugar preferido quando eu era pequena. Sento-me no meu balanço de pneu. Há dois balanços. Mas um deles continua vazio desde que o meu pai se foi. - O que faz você achar que pode sair assim? – diz Josh. - Ah não. Vê se me deixa em paz. – exclamo. - Tarde demais. Você já disse sim para mim. - Olha, eu nem quero ir nesse baile idiota. – grito. - A verdade é que você não quer ir ao baile comigo. – fala Josh. - Isso é bem provável. Aliás, eu nem te conhe... – começo a falar, mas sou interrompida por um beijo de Josh Carter. O beijo dura alguns segundo, duraria mais se eu não tivesse empurrado ele pra longe de mim. Nem sei explicar o que eu sinto. - Tarde demais. – diz ele. – Já beijei você! Pode me dar o número do seu telefone? - Claro que não! – grito. - Ainda vamos nos encontrar muito gatinha. – diz ele ironicamente. - Espero que não. – retribuo. Ele sai do jardim. Meus sentimentos estão bagunçados. Sabe quando você ama muito uma pessoa, que nem mesmo que você tente trazer á tona os defeitos dela, você não consegue. É assim que me sinto em relação á Josh Carter. O amor está gritando dentro de mim. É tarde demais. Eu já me apaixonei.


Quatro Levanto-me com o sol batendo em meus olhos. Levanto, cheia de sono, pois fui dormir tarde na noite anterior. Não consegui dormir direito pensando naquele beijo. Em menos de uma hora chego à escola. E ele está me esperando na frente do meu armário. Josh. - Você é uma sombra ou o que? – pergunto. - Sou um garoto. – diz ele. – O que acha de sair comigo hoje à noite? - Bem, provavelmente, minha resposta vai ser não. – digo. - Acho que você quer sair comigo, mas está com medo. – diz Josh. - Medo de que? – falo. - Medo de mim. Você não me conhece o bastante para querer sair comigo. - Acerou em cheio. – digo franzindo as sobrancelhas. - Passo na sua casa ás seis. – diz ele indo em direção á sala de aula. - Mas eu nem disse nada. – falo, mas já é tarde. Ele já foi. Bem, agora eu tenho um encontro – cujo eu recusei. – me esperando ás 6:00. Surpreendente. Assisto ás duas primeiras aulas e somos dispensados para a educação física. - Fala sério que você aceitou sair com aquele cara? – pergunta Cara. - Eu não aceitei. Ele fez isso por mim. – digo. - Esse cara é estranho. – diz ela. - E você? Alguma paquera nova? – pergunto á Cara. - Pra falar a verdade. Sim. Eu estou saindo com meu vizinho. – responde.


- Aquele que trabalha de barman? – pergunto. – Como ele se chama mesmo? - Não. Não é aquele. É o irmão dele. O Fred. – diz Cara. - Boa sorte, então, com o irmão do barman. – digo. - Eu vou precisar. – diz ela. Quando termina a educação física, vou ao vestiário me trocar e depois volto para minha casa. Decido sair um pouco. Vou visitar minha mãe. Entro no carro e começa a nevar novamente. Desde aquele dia que não neva tanto assim. Mas isso não me impede de receber uma recepção bem calorosa da minha mãe. - Filha! Como você está? – pergunta ela. - Estou bem. – digo. – E com muito frio. - Vem. Vamos tomar um cafezinho! – ela fala me puxando para dentro de casa. Eu e minha mãe adorávamos conversar enquanto tomávamos café. Pelo jeito. Ela ainda não perdeu o costume. - Alguma novidade? – ela me pergunta. - Bem, eu tenho um encontro hoje á noite. - Hum, um encontro? Posso saber com quem? - Com Josh Carter. Aquele que esteve aqui na sua festa. Com os pais dele. - O filho de Andrew Carter? O Joalheiro? - Sim. Ele mesmo. O pai dele é joalheiro? - Claro que é. Ele fez uma fortuna vendendo joias de alta qualidade. Uma referência da alta sociedade. - Uau! Eu não sabia disso. - Então, o que vai vestir?


- Sei lá, qualquer coisa. - Ah não. Você não vai vestir qualquer coisa num encontro como esses. – diz ela. Já volto. Ela sai da sala de jantar e algum tempo depois volta com uma caixa enorme nas mãos. - O que é isso? - Abra a caixa! Retiro a parte de cima que cobre a caixa e vejo um vestido magnífico. Ele é branco com algumas pérolas. Vai mais ou menos até o meu joelho e é justinho no meu corpo. - Mãe! É maravilhoso! - Eu sei. Eu que escolhi. – diz ela rindo. – Era pra quando você completasse 17 anos. Mas vejo que minha garotinha já está madura demais para usá-lo. - A garotinha cresceu. – rio. - Isso está na cara. – diz ela alisando o meu rosto. - Mãe. Eu não sei como agradecer. - E não precisa. Vai lá e mostre a verdadeira pessoa que você é.

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São dez pra seis, ele ainda não chegou. Posso inventar uma desculpa de que estou resfriada por causa da neve. Sinceramente, não estou com a menor vontade de ir nesse encontro. Quando penso em ir tirar a maquiagem, um carro buzina lá fora. Tarde demais. Ele já chegou. Enquanto vou em direção ao carro, ele murmura alguma coisa, como: - Nossa! Você está linda! - Obrigada. Agora podemos ir?


- Ah claro! Ele está vestindo um casaco verde com um gorro azul que esconde seus fios loiros. Está calçado com botas de neve. Eu deveria ter vestido uma roupa que me protegesse contra o frio, mas fiz questão de usar o vestido que a minha mãe me deu. Tento imaginar onde estamos indo. Penso em perguntar, mas resolvo ficar quieta. Algum tempo depois já não aguento mais e solto: - Onde você está me levando? – pergunto. - É um lugar especial. - Como o que? - Como um lugar que tem a sua cara. Ou seja, deve ser um lugar muito bonito. – diz ele. - Tenho que confessar que você é bem galanteador. Avisto algumas luzes dentro de vidros transparentes pendurados em cima de algumas árvores. Até que vejo uma toalha por cima do chão coberto de neve. Uma cesta com algumas comidas e uma garrafa de café. - Um piquenique? – pergunto. – Pensei que íamos jantar. - Eu não faço a linha tradicional. - Deu pra perceber, mas, qual o sentido de um piquenique na neve? – pergunto. - Vamos descobrir agora. – responde ele. Nós descemos do carro e nos sentamos em cima da toalha de piquenique. A lua ilumina junto com os potes de vidro em cima das árvores. - Está muito frio. – digo.


- Fica com o meu casaco. – diz ele, retirando o casaco e oferecendo para mim. - Mas e você? Vai ficar com frio? – pergunto. - Eu me viro. – diz ele. Observo a paisagem e vejo que aquilo, quando não está congelado, é um lago. Eu me lembro de ter vindo aqui nesse lugar algumas vezes com meu pai. Ele dizia que eu tinha que aprender a pescar, para quando eu fosse acampar, não passasse fome. Ele tentou me ensinar a pescar, mas na terceira aula, ele já estava doente. O médico disse que ele estava com câncer. Algumas semanas depois, ele veio comigo, e disse que ele estaria como uma estrela no céu. Sempre me olhando do alto. Aquela foi a última vez que estive com meu pai, antes dele partir. Olho para o alto e vejo que uma das estrelas está tão brilhante que ofusca as outras. Deve ser ele. Ele cumpriu sua promessa. Do meu olho começa a jorrar uma lágrima. - O que você tem? – pergunta Josh. - O meu pai. – digo. - Sinto muito. – diz ele. Eu encosto minha cabeça no ombro dele. E fecho os meus olhos. E penso no meu destino. Será que aquele acidente foi só um sonho? Ou será que tudo isso está dentro da minha imaginação. Tenho que me lembrar de falar com David e perguntar o que ele descobriu sobre isso. Ele tira um cobertor da sua mochila e o joga em cima de mim. Passando um pouco do imenso frio. - Bem, isso era pra ser um encontro. – diz ele. - Desculpe. Eu estou estragando tudo. – digo. - Nem pense nisso. – fala. – Vamos nos divertir!


Ele se levanta do chão e vai em direção ao lago congelado. Primeiramente, acho que ele está tentando dançar. Mas não. Ele está esquiando no gelo. Só que sem patins. - Acho melhor não fazer isso. – digo. - O gelo está fino. Pode se quebrar a qualquer momento. - Ah, o que é isso, deixa de boba... O gelo se quebrou e agora Josh está mergulhando dentro da água congelada. Um grande buraco se abre no gelo. Penso que ele está se afogando. Até ele dar um salto e me molhar toda. - Chloe, pega aquele coberto pra mim. – diz ele enxugando os cabelos. Pego o coberto e enquanto ando olho nos olhos dele. Percebo que a intenção dele não era que eu trouxesse o coberto, mas sim que eu entrasse na água com ele. Quando me dou conta, já é tarde demais. Ele me puxa pra dentro da água congelante, e nós dois começamos a rir um do outro.


Cinco Acordo com o toque do celular. Alguém está ligando. É Lis Falsani. Eu já ouvi esse nome é algum lugar. Mas é claro! Como eu pude me esquecer. Nós estudamos juntas na quarta série! Já trocamos nossos testes uma vez, quando ela não tinha estudado e eu me ofereci para ajuda-la. Sem mais nem menos, atendo o telefone. - Lis? – pergunto. - Sim. Ainda lembra de mim? – diz ela com certo tom de empolgação na voz. - Tenho uma vaga lembrança de você. – digo com uma voz sonolenta. – pode ir direto ao assunto? - Bem, hoje á noite eu vou dar uma festa, e eu queria muito que você viesse. Convidei todo o colégio. Todos confirmaram presença. Espero que você venha. – diz ela, sua voz é tão aguda que me dá arrepios. - Vou tentar ir. Se a preguiça não me vencer. – digo. - Você e suas gracinhas! – diz ela. Desligo o telefone. Que ótimo. Uma festa. Digo para mim mesma. Bem, eu ainda tenho algumas horas para decidir se eu vou não. +++ Saio um pouco e vou passear na floresta congelada. Consigo ver o meu reflexo no gelo liso. A neve cobre o meu cabelo. Deito no chão e faço um anjo de neve. A última vez que eu fiz isso foi á uns cinco anos atrás, quando ainda morava com meus pais.


Bem, não foi uma decisão difícil morar sozinha. Tinha que sair um pouco daquela rotina de garota patricinha e mimada. Nunca quis ser tachada assim. Sinto uma vibração no meu bolso de trás. Mas não é uma ligação. É uma mensagem. “Você vai naquela festa idiota?” “Ainda não decidi. Você vai?” “Acho que sim. Quero sair um pouco.” “Nesse caso, eu também vou.”

+ + + A maquiagem está um pouco borrada, mas acho que ninguém vai perceber. Meu vestido é preto com as mangas brancas. O tecido é tão fino que dá para ver um pouco do meu tórax. A campainha toca. Deve ser Cara. Ela não iria a essa festa sem antes ter certeza de que eu ia também. - Dá pra gente ir logo ou você é uma tartaruga?- diz ela. - Vem. Vamos logo antes que você exploda. – digo. +++ A casa de Lis Falsani é enorme. Tão grande que tem um CEP só pra ela. - Que casinha! – diz Cara admirada. Ao entrar na festa vejo tanta gente que os meus olhos se perdem. Há uma mesa enorme cheia de doces e um DJ com vários aparelhos de som ao seu lado. Vejo que Lis e outra garota estão vindo em minha direção. - Que bom que você veio! – diz Lis. – Essa e a minha irmã Kate. – diz ela apontando para a garota estranha.


- Não sabia que você tinha uma irmã. – diz Cara. - Ela é filha do meu padrasto. – responde Lis. Percebo que Kate não para de olhar para mim. Deve ter alguma coisa errada. Talvez seja a maquiagem borrada. - Belo vestido. –diz ela. - Obrigado. – digo. - Vem Chloe, vamos arranjar uns caras. – diz Cara me puxando. - Fo um prazer rever você Lis. - digo. - O prazer foi todo meu. – fala. Cara se aproxima da mesa de doces. - Ai meu Deus! Eu não acredito que eles têm isso por aqui! – diz ela pegando um dos doces. - Quando você falou arranjar uns caras, pensei que fossem garotos, não doces. – digo. - Na verdade, esse doce se chama “cara” na Escócia. – fala. - Como você sabe? –pergunto. - Eu não sei. Eu inventei. – responde ela. O DJ solta uma música bem lenta. Acho que é a hora da dança, pois todos estão abraçados com seus pares, se ao menos eu tivesse um. - A senhorita quer dançar? – diz um garoto para Cara. - Adoraria. – Cara diz. – Você não se importa né Chloe? - Não. Pode ir. Eu vou ficar aqui comendo uns “caras”. – digo. O garoto que convidou Cara para dançar ri da minha cara. Eu gostaria de ter um par agora. Sinto-me um pouco excluída no meio da multidão.


Vejo um casal dançando. A garota é Kate, mas o rapaz está de costas para mim. Mas eu conheço esse cabelo loiro. Eu já vi em algum lugar. O casal muda de posição. Agora o rapaz está virado para mim. Preferiria que não estivesse. Não esse rapaz. É o Josh. O Josh que me convidou para o baile. O Josh que me roubou um beijo no quintal da minha mãe. O Josh que puxou pra água congelada. Ele percebe que estou olhando pra ele e solta Kate imediatamente. Saio daquele lugar e vou para um corredor bem afastado do salão principal. Mas é inevitável não ouvir o tênis deslizando sobre o carpete. - Você está com ciúmes? – pergunta Josh. - Por que eu estaria com ciúmes de você? – retruco. - Porque você saiu de lá como se o mundo fosse se acabar. – diz ele. - Achei que a gente tivesse alguma coisa. – resmungo. - Espera aí! Nós tínhamos alguma coisa? – diz ele com uma cara feliz. - Você não entende mesmo uma mulher. –digo. - Você que entendeu tudo errado. Kate é minha prima. Eu só estava dançando com ela. – fala. - Ela é sua prima? – digo arrependida. - É sim. O pai dela é irmão do meu pai. – diz Josh. - Desculpa, eu não sabia. –digo. - Não precisa pedir desculpas. Basta um beijo. –diz ele pegando na minha cintura. Encosto os meus lábios no dele. Estamos corpo á corpo. A música fica lenta. Todos estão se beijando no salão principal. O beijo começa a ficar mais longo.


Josh vai me abraçando mais forte a cada segundo. - Vamos para outro lugar. – digo afastando meus lábios dos seus.


Seis Encaro o espelho e tento arrumar meu cabelo, mas o reflexo do sol só atrapalha. Decido fazer uma trança. Não tenho nenhum compromisso marcado para hoje, então, posso relaxar um pouquinho. O silêncio da minha casa estava bom, até o celular tocar. - Oi. – diz Josh. - Oi. – falo. - O que acha de ir a um lugar bem especial comigo? – pergunta ele. - Bem, se você vai me livrar do tédio, claro que eu quero ir. – digo. - Passo aí pra te pegar. – diz ele. - Ok. – falo. ... Pela janela do carro, a única coisa que consigo ver é neve. - Josh, esse não é mais um daqueles seus lugares estranhos, não é? – pergunto. - Bem, eu não considero estranho. – responde ele. - Mas, e só uma estrada coberta de neve. – digo. - Não é lugar, mas sim, as pessoas. – fala. - Você e suas frases de efeito baratas. – falo rindo. Tenho que concordar. Josh tem razão. Não é o lugar, mas, são as pessoas. Eu já vi isso em algum livro quando estava fazendo trabalhos de literatura pra escola. Isso faz sentido. As pessoas fazem o lugar. As pessoas transformam o mundo a sua volta. E você só precisa descobrir como isso é possível. De outra maneira, as atitudes das pessoas fazem o lugar. - Vem, vamos descer. Já chegamos. – diz Josh.


Pra onde eu olho tudo está coberto de neve. - O que estamos fazendo no meio do nada? – pergunto. - Somos só eu, você e o carro. – diz ele sorrindo. – Claro que nós vamos nos sentar em cima dele. Porque isso é romântico. - Vindo de você, quase tudo é romance. – digo. Nós no sentamos em cima do carro. Josh puxa o meu pescoço e me dá um beijo. - Quero tornar isto oficial. – Josh fala. - Como assim? – digo. - É um presente para você. – diz ele me entregando uma caixinha preta. A caixinha pequenininha veio com um cartãozinho escrito: “Para Chloe. Com amor, Josh.”. Ao abri-la vejo um anel dourado. Nele tem gravado as nossas iniciais e logo abaixo “Para Sempre”. - Eu quero tornar o nosso namoro oficial. – diz ele. – Quero que você use isto. - Ela é linda. Obrigada. – digo. – Mas e você? Não vai usar uma também? Ele estende a mão até que eu possa ver o anel com nossas iniciais, e também está escrito “Juntos”. - Juntos para Sempre, não é? – digo. - Para Sempre. – diz ele. De repente tenho uma visão do meu acidente, eu estou jogada no chão e sangrando muito e há muita gente ao meu redor. A minha mãe se joga no chão perto do meu corpo. Consigo ver Cara chorando muito. Seus olhos estão inchados. Ouço um grito ensurdecedor. Fecho os meus olhos e grito mais forte ainda. - Calma. O que foi? – diz Josh.


Abro os meus olhos e percebo que ainda estou com Josh sentada em cima do carro. Ainda estou com o anel “Para Sempre”. - Ainda estamos aqui? - pergunto. As lágrimas escorrem pelos meus olhos. - Você começou a surtar e a gritar do nada. – diz ele. - Foi só um pensamento ruim. – digo chorando. – Promete que vai estar comigo para sempre? - Para sempre. – diz ele me abraçando.


Sete A madrugada parece ser mais longa do que o normal. Tento esquecer aquele pensamento terrível. Mas, aquilo tudo parecia tão real. O acidente. A dor. O sangue. Mamãe. Cara. Tudo. Mas, os braços de Josh me acolhiam e acalmavam todo o momento. As mãos dele nas minhas. Os anéis “Juntos Para Sempre”. Fecho os olhos e tento dormir, mas é quase impossível. Tenho que esquecer isso. Tenho que deixar para trás. Não podemos deixar que pequenos rabiscos fora da linha venham a estragar nossa obra de arte. Os erros não definem o caráter de uma pessoa, arrependimento sim. Recuso-me a ficar acordada. Deve ter algum remédio para dormir no armário da cozinha. Vasculho por toda parte, mas a única coisa que acho é um chá de qualquer coisa. Acho que serve para insônia. Bebo até deixar o copo vazio. O gosto amarga na minha boca. Volto para o meu quarto e vou mais uma vez tentar dormir. --O chá deve ter efeito mesmo. Dormi o dia inteiro. Parece que um trator passou em cima de mim. A minha cabeça está doendo. Há uma mensagem de Cara no meu celular. “O que você acha de vir jantar na minha casa?” Meus dedos estão dormentes. Depois eu respondo a mensagem. Vou tomar um banho pra ver se o meu corpo volta a seu estado original. --Depois de algum tempo assistindo TV, lembro-me da mensagem de Cara.


“- Eu adoraria jantar na sua casa, mas estou com muita preguiça de dirigir.” – digito. Alguns minutos depois ela responde á minha mensagem. “- Você está querendo dizer que eu tenho que ir te buscar?” “- Isso seria bem provável.” “- Chego em 30 minutos.” --A Casa de Cara não é muito grande, mas é muito acolhedora. A Sra. Stewart, mãe de Cara, é uma mulher muito gentil, ela só um probleminha com limpeza. Ela limpa tudo que o que vê pela frente como se a qualquer momento os germes fossem virar mutantes e atacar a casa dela. Por isso ela vive com um spray de limpeza e um desentupidor de privada nas mãos. - Olá queridinha! – diz a Sra. Stewart. - É um prazer vir aqui outra vez. – digo. Cara me puxa para subir as escadas, inicialmente acho que ela está me levando ao quarto dela, mas é um pouco mais distante. Estamos indo em direção ao sótão. - O que vamos fazer no sótão? – digo. - Quero te mostrar uma coisa. Abrimos a porta e vejo tudo escuro e caixas de tamanhos variados com coisas inúteis dentro. Cara vai em direção á um baú de madeira, cheio de poeira em cima. Ela senta no chão e procura alguma coisa dentro do baú. - O que você vai me dar? – pergunto. Ela tira um livro grande com uma capa vermelha sem título nenhum.


- Olha. – diz ela. Ela abre o livro e vejo algumas fotos nossas e também algumas frases. - Era da minha vó. – ela fala. – Aí eu achei esse livro e comecei a colar algumas fotos nossas. Esse livro têm muitas frases inspiradoras. Minha vó escreveu todas elas. Eu estava guardando pra te dar. - É lindo, Cara. Mas eu não posso aceitar. É da sua família. – digo. - Não é mais. – diz ela. – Considere isso como um presente. - Obrigada. – digo me abaixando para pegar o livro. Ao encostar minha mão no livro, visualizo toda aquela cena de novo. O acidente. Meu corpo. Todo aquele sangue. As pessoas me cercando. Dessa vez há uma enfermeira do meu lado. Ela sussurra algo no meu ouvido. Algo como: - Seja forte. Você precisa ser forte agora. Sua voz é grossa e causa arrepios dentro de mim. Ser Forte. Tudo o que eu não estou conseguindo ser.


Oito Grito e abro os meus olhos. Percebo que ainda estou aqui. Sentada no chão com Cara. Ela tenta me acalmar. - Você está bem? – pergunta ela meio confusa. - Sim. Eu estou. Não foi nada de mais. – respondo. Minha cabeça dói. Entrei de novo naquele pensamento. Eu gostaria de entender o que são essas alucinações. Por que eu tenho me lembrado constantemente daquele acidente terrível? Tenho que descobrir. Lembro-me de que pedi a David para dar uma investigada nesse déjà vu. Quero perguntar a ele, o que descobriu. Tenho que ser forte. Foi tudo o que aquela enfermeira da alucinação me falou. Para que eu tenho que ser forte? Eu já não sou forte o bastante suportando tudo isso? Vou para casa descansar. Pego o livro que Cara me deu de presente e me levanto do chão. - Cara, eu tenho que ir agora! – digo. - Mas já? E o jantar? – ela questiona. - O jantar pode ficar para outro dia? – pergunto. - Tá, mas, você quer que eu dirija o seu carro até a sua casa, você não está legal. – ela diz. - Eu vou sozinha. Você pode ficar aí e jantar com a sua família. Não quero atrapalhar. - Tudo bem. - Obrigada pelo presente. - Era isso ou aquelas pulseiras escrito “Melhores Amigas”. - Esse livro é bem melhor! – rio. – E, aliás, olha o que o Josh me deu.


Mostro o meu anel para ela. - Ai meu Deus. É lindo! - Você já arranjou um par para o baile? – pergunto. - Na verdade já. Aquele cara com quem eu estava saindo! - Agora nós duas temos pares para o baile. Isso é tão demais! – digo. - Bem, acho que eu já vou. Outro dia a gente sai pra fazer compras juntas. - Tchau! Não se esqueça de ler o livro que eu te dei de presente! - Não vou esquecer! – falo. Saio da casa Cara e entro no meu carro. Por um segundo sequer, eu não paro de pensar naquela voz dentro da minha cabeça. Todas aquelas pessoas ao meu redor. Ao me aproximar de casa, avisto Josh perto da porta, segurando um buquê de flores. Ele veste uma roupa de frio e tem um capuz cobrindo a sua cabeça. Ao chegar à frente da minha casa, paro e desço do carro. - O que faz aqui uma hora dessas? – pergunto. - Há algum tempo eu estou aqui, como não tinha ninguém em casa, resolvi sentar e esperar você voltar. - Como sabia que eu ia voltar? – rio. - O que? – ele faz uma cara de desentendido. - Como sabia que eu não estava numa balada me esfregando nos garotos e só ia voltar de madrugada? - Você estava fazendo isso? - Não. - Confiança faz parte de um relacionamento. Eu confio em você. – diz ele me entregando o buquê de flores. – Escuta, quem te deu essa livro? – ele aponta para o livro que ganhei de presente.


- Ah, esse livro, foi a minha amiga que me deu. - Legal. – uma pausa. – O que acha de nos beijarmos? - Seria uma ótima ideia. Ele me beija. E aquele beijo faz com que eu me sinta segura. Seus braços me agarram e me abraçam. Eu estou me sentindo forte, como aquela enfermeira disse. - E você, o que acha de dormir comigo? – pergunto, retirando meus lábios dos seus. - Ideia maravilhosa! – ele fala. --Nossas mãos se encontram em meio ao emaranhado de lençóis. Tento quebrar o silêncio. - Como você consegue ser assim? – pergunto. - Assim como? - Você parece ser tão decido. Tão cheio de atitude. Tão... Forte. - A vida me ensinou a ser assim. Acho que as quedas nos ensinam a como resistir. As quedas nos tornam inquebráveis. É como um elástico. Quanto mais você estica, mais longo ele vai ficando. Mas se você puxá-lo com muita forca, ele pode se partir. Temos que aprender com os nossos pequenos erros para que um grande erro não destrua a nossa vida. - Isso faz total sentido, mas, por que você me convidou pra ir ao baile? Aposto que tantas outras garotas mais bonitas do que eu devem te dar mole. - Você é a garota mais bonita que eu já vi na vida. Eu te vi toda tímida, fuçando no seu armário e pensei: “Aquela garota, eu preciso chama-la para o baile.”. Fiquei alguns dias pedindo informações sobre você e gostei do que ouvi. Inteligente, bonita, autentica, única. Diferente de todas as outras garotas que já deram mole pra mim. E agora, você também é minha namorada. Mais um motivo pra eu te achar a garota mais especial de todas.


Eu rio. E descubro que não é preciso muito para ser feliz. Você só precisa de alguém que te faça feliz.


Nove - Como está o café? – pergunto a Josh que está sentado perto do balcão da minha cozinha. - Está maravilhoso. – ele elogia. - Não precisa mentir para me agradar. Eu sei que o meu café é péssimo. - Não seja tão dura com si mesma. – ele diz. – Seu café é mesmo uma droga. - Tudo bem. Isso não me irrita porque eu sei que é verdade. – digo enquanto coloco a louça suja na pia. Josh dormiu na minha casa. Pela primeira vez eu acordei ao lado de alguém sem ser os meus pais. Nas noites de tempestade, eu corria para a cama deles, meu pai me contava histórias, enquanto minha mãe o mandava calar a boca. - Tem algum programa pra hoje à noite? – ele me pergunta. - Por enquanto, nada de bom. – respondo. - Sabe o que seria bom? – questiona. - Irmos a uma balada cheia de prostitutas? – indago. - Quase isso. - O que é então? - O que acha de conhecer meus pais? - Você acabou de comparar sua casa com um prostíbulo? - Ah, qual é? Você vai? – Josh pergunta. - Josh, eu já conheci seus pais. – digo. Eu me refiro á festa na casa da minha mãe, em que os pais de Josh e ele estavam presentes.


- Não exatamente. Você só os viu por uns dois segundos. Por favor. Faça isso por mim. Por nós. Temos que conhecer os pais um do outro já que estamos em um relacionamento sério. - Tudo bem. Eu vou me vestir. Caminho até o meu quarto e fico em frente ao espelho, tentando descobrir que roupa devo usar em tal situação. Tiro do meu guarda roupa uma blusa de renda preta e uma saia branca. Por fim, eu coloco meu casaco de inverno, calço meu sapato e pego a minha bolsa de sempre. Acho que isso serve para conquistar os pais do seu namorado. A meu ver, a família Carter tem muito bom gosto. - Estou pronta. –digo. - Você não está pronta! – exclama Josh. - Esqueci alguma coisa? – indago. Josh se aproxima de mim, sem fala nada. Ele olha nos meus olhos e me beija. - Você está maravilhosa! – ele diz. --A casa dos pais de Josh é uma casa grande, mas nada tão espantoso. O grama é escura com umas bolinhas brancas, que acredito que seja neve. Josh me puxa até a entrada da casa e abre a porta. - Temos visita. – ele grita. A mãe dele, Madeline Carter, vem nos receber, ela está tão elegante como da última vez, na casa da minha mãe. - Josh querido, por onde você andou? - Mamãe, essa é a Chloe Marteen, minha namorada. – diz ele me apresentando.


- Oh querida, onde estão os meus modos? É um prazer ter você conosco. Você é uma menina muito bela, assim como a sua mãe. Acredite, sua mãe era igualzinha a você na nossa adolescência. - Obrigado. - Chloe, espere um pouquinho enquanto eu vou trocar de roupa. – Josh diz no meu ouvido. - Pode ir. Eu espero. – digo. Madeline sorri para mim, um sorriso falso, ela não está feliz em me receber. - Venha, sente-se. – ela aponta para o sofá a poucos metros da porta de entrada. – A empregada já vai trazer o café. Eu me sento no sofá, mas por mais que eu tente, não consigo relaxar com a mãe de Josh me olhando. - Então querida, conte-me, quais são os seus planos para o futuro? - Bem, eu pretendo terminar o ensino médio, fazer uma boa faculdade, e conseguir um bom emprego. Quando eu termino de falar, Josh vem descendo as escadas rapidamente. - Mãe, onde está o papai? – Josh pergunta. - Oh, ele teve que ir resolver uns probleminhas na joalheria. - Bom, nesse caso, a gente volta outro dia. – ele diz. - Mas já? – diz Madeline fazendo uma cara surpresa. – Foi um prazer ver vocês. - O prazer foi todo meu. – digo. - Vem Chloe, eu vou te deixar em casa. --Cara disse que viria a minha casa hoje á noite. Então deve ser ela que está tocando a campainha.


- O que você veio fazer aqui mesmo? – pergunto. - Ah, não esquenta, eu vim assaltar a sua casa. – Cara responde ironicamente. - Você não tem jeito mesmo. Entra. – abro a porta. - Só vim pra dar um “Oi”. Fui á um jantar de família aqui perto e resolvi dar uma passadinha aqui. Alguma novidade? - Ah, hoje eu fui conhecer os pais do Josh. - Sério? Pensei que os pais dele fossem estátuas de ouro fino expostas no museu do Louvre. - Eu só conversei um pouco com a mãe dele. O pai dele não estava presente. - E aí? Como ela é? – Cara questiona. - Ela é legal. – respondo. - Pode falar a verdade. Eu não falo pra ninguém. – Cara insiste. - Ela é uma vadia. – digo.


Dez - Ah, fala sério. – Cara fica surpresa. – Como assim ela é uma vadia? - Ela foi super falsa comigo. Aquele sorriso dela não me engana. – digo. - Talvez ela seja uma daquelas mães super protetoras. – ressalta Cara. Acho que isso faz sentido. A mãe dele deve estar esperando uma patricinha mimada que acaba de chegar das suas férias na Europa. Eu não sou essa garota. Minha mãe pode ser rica, mas, o dinheiro não se torna prioridade na minha vida. E eu nem gostei tanto assim da Europa. - É. Faz sentido. – digo. - Bem, essa é a minha hora. Tenho que ir. – Cara explica. – Fica atenta. - Por que eu deveria ficar atenta? – questiono. - Quem sabe a sua sogra vem te fazer uma visitinha. – ela diz. - Vou dormir com uma frigideira debaixo do travesseiro. – falo. - Nada melhor do que a boa e velha frigideira. – Cara ri. - Frita ovos e esmaga cabeças como ninguém! – brinco. Cara sai e fecha a porta. O barulho da porta se fechando dói na minha cabeça. Acho que é melhor eu ir relaxar no sofá e assistir um pouco de TV. Quem sabe talvez seja melhor esquecer tudo o que se passou no dia de hoje. Sintonizo a TV em alguma maratona de filmes que eu já devo ter assistido alguma vez e não me lembro mais. Percebo que em meio a algumas revistas jogadas sob a mesa de centro á frente da televisão, está o livro que Cara me presenteou. Resolvo abri-lo e ler algumas páginas.


Folheio o livro até chegar a uma foto de nós duas, com mais ou menos nove anos. Com a boca suja de batom, na beira do lago, nós ríamos de nós mesmas. Abaixo da foto, há uma frase do livro O Diário de Anne Frank. “E apesar de rir e fingir que não me importo, eu me importo sim. Tem dias que gostaria de ser diferente, mas isso é impossível. Estou presa ao caráter com qual nasci, e mesmo assim tenho certeza de que não sou má pessoa. Faço o máximo para agradar a todos, mais do que eles suspeitariam num milhão de anos.” Isso me faz bem. Faz-me bem, saber que eu posso ser eu mesma, mesmo que eu não consiga agradar á todos, tenho pessoas que me amam do jeito que eu sou. Sempre vai ser assim. Uns amando. Outros odiando. Mas apesar de tudo, sempre sendo o que eu realmente sou. Você pode até tentar esconder sua personalidade dos outros, mas, de alguma maneira ela vai aparecer. Algum dia, quem sabe, as pessoas amem o que elas realmente são. E não uma ilusão criada para fazer o gosto de outras pessoas. Anne Frank estava certa. Coberta de razão. Fico meditando essa rase no meu pensamento. Pensar, uma coisa que eu sei fazer, e que ninguém pode interferir nos meus pensamentos. Só que dessa vez pensei demais e acabei cochilando, Deitada no sofá. Com a TV ligada. Com o livro em meus braços. Faz parte da minha personalidade. Eu. Acordo com o telefone tocando em cima do braço do sofá. Há quatro chamadas não atendidas da minha mãe. Ela deve ter algo muito importante para me contar. Retorno a ligação e ela atende como se já estivesse esperando que eu ligasse. - Filha, eu estava preocupada, você não atendia ao telefone! – exclama ela.


- Desculpa mãe, é que eu cochilei no sofá. – explico. - Enfim, o que você queria me falar? - Sabe que dia é amanhã? – indaga. - Seu aniversário? – questiono. - Você sabe que não. – ela diz. - Aniversário de algum dos seus empregados? - Também não. - Aniversário dos seus cartões de crédito? - Você me faz parecer uma pessoa egoísta e consumista. – ela diz. – Bem, egoísta eu não sou, só uma pessoa que adora passar dos limites, ainda mais quando se fala de cartões de crédito. – explica. – Mas não é isso que se comemora amanhã. - E o que é então? – pergunto. - Reunião de família! – ela fala com a voz entusiasmada. - Ai não! – resmungo. - Qual é filha? Nós sempre adoramos essas reuniões. E o melhor é que dessa vez vai ser na minha casa. Você pode aproveitar e nos apresentar oficialmente o seu namorado. Qual é mesmo o nome dele? - É Josh, e eu não sei se ele toparia participar dessa reunião. - Eu vou ficar muito decepcionada se vocês não comparecerem. - Está bem! A gente se vê amanhã! – digo. - Ai meu Deus! Isso vai ser tão divertido! – exclama ela. Não posso acreditar. Reunião de família. Brigas. Palavrões. Fofocas. Tias Chatas. Parentes Ridículos. Minha família. Mas dessa vez, não vou ter que passar por isso sozinha. Vou convidar Josh para ir comigo.


Onze O sol invade a casa pela janela da frente. O telefone vibra na minha orelha. Josh não atende as minhas ligações. Já estava perdendo as esperanças, até ele me ligar. - Josh? – indago. - Oi amor! – ele diz calmamente. - Preciso falar com você. – digo. - Tudo bem. Pode falar! – ele exclama. - Você pode me acompanhar á uma reunião de família, hoje na casa da minha mãe? - Claro que sim! Adoraria conhecer o resto da sua família! – ele responde. Confesso que torci para Josh dizer que não poderia ir comigo. Não estou disposta para uma reunião de família. Ainda mais, quando se trata da minha família. - Tudo bem, então. Você pode me pegar ás sete? – questiono. - Perfeito. – ele diz. - Ok, então. Tenho que desligar. Tem outra pessoa me ligando, deve ser a minha mãe. – digo ao sentir o celular vibrar no pé da minha orelha. - Te amo garota. – ele se despede. - Eu te amo mais! – afirmo. Ele desliga o telefone e quando desvio o olhar para a tela do celular, percebo que não é a minha mãe, mas sim, Cara. - Oi Cara. – digo. - O que acha de fazer umas comprinhas? – ela pergunta ao mesmo tempo em que eu caminho em direção á janela e abro a cortina.


Percebo que está nevando muito. Á ponto de cobrir a cidade de neve. - Agora? Com esse tempo? – interrogo. - Você tem casaco não têm? – ela rebate. - Tenho, mas... – não consigo terminar a frase sem que Cara me interrompa. - Fechado. Chego aí em alguns minutos. – ela afirma. --- Anda logo! – Cara me apressa enquanto pego a minha bolsa. - Já vou! – grito na esperança de que ela me escute. Caminho até a porta e vejo Cara de gorro, casaco e botas de neve. - Quando você falou que vinha me buscar, achei que você viria de carro. – digo. - Ah, você sabe muito bem que eu não tenho carro. – ela rebate. Eu conheço Cara o bastante para saber que ela ama dirigir, ela sempre guiava o carrinho de bate-bate quando éramos crianças. E agora, ela adora dirigir um carro, seja o de quem for, mas ela gosta. A expressão dela de “cachorro perdido” não me engana. - Tudo bem, Cara, eu deixo você dirigir o meu carro. - É isso aí. --Cara dirige até o centro da cidade e estaciona em frente á uma loja de vestidos chiques. - Tudo bem. Agora me diz o que nós vamos fazer nessa loja? – pergunto. - Ah, você sabe. O baile já está quase chegando. – ela responde. - Baile? – questiono surpresa.


Eu me dou conta de que havia esquecido do baile. O baile para qual Josh me convidou. O baile de primavera. É daqui á algumas semanas, e eu ainda nem me preparei. - Sim, Chloe, o baile. – ela afirma. Antes de começarem férias de primavera, a professora nos informou que o baile seria no começo do semestre. Tenho praticamente algumas semanas para me preparar. - Ai meu Deus, temos que escolher nossos vestidos! – exclamo. - E é por isso que nós viemos á essa loja. – Cara explica. Nós entramos na loja, e até onde a minha vista alcança, há um mar de vestido espalhados por toda loja. Tem de todos os modelos, de todas as cores, de todas as formas. Há vestidos para todos os gostos. Uma moça vestida de branco e ela caminha em nossa direção. - Em que posso ajudar vocês? Eu já vi esse rosto em algum lugar. Essa mulher me lembra uma pessoa da qual eu não consigo me recordar. Tento descobrir quem ela é, olhando disfarçadamente para o seu rosto. - Nós gostaríamos de ver alguns vestidos para bailes de primavera. – Cara explica á mulher. - Ah claro, tenho um vestido perfeito para essa mocinha aqui. – diz ela apontando para mim. – Vou chamar á outra funcionária para te atender, querida. – ela olha para Cara. – Sara! – grita a mulher. Outra mulher vestida do mesmo jeito da outra aparece e conduz Cara até o provador. - Vamos querida! – diz a mulher segurando a minha mão. Ela me leva até o outro provador, que fica um pouco distante de onde Cara está. A mulher, cujo nome eu não sei, me deixa sozinha no provador e sai á procura de algum vestido que sirva para mim.


Alguns minutos depois ela volta, trazendo em suas mãos um vestido enorme e longo. A parte de cima do vestido e cheia de lantejoulas rosa que vão até a cintura, a partir dai o vestido continua rosa, mas sem lantejoulas, alguns centímetros depois o rosa vai começando a esmaecer até ficar totalmente azul. Não um azul escuro. Mas, um azul leve que contrasta muito bem com o rosa. - É lindo! – digo enquanto passo a mão em cima das lantejoulas rosa. - Vai ficar perfeito em você! – a mulher diz. A voz dessa mulher. Eu já ouvi em alguém lugar. Eu já vi essa pessoa, mas não me lembro dela. A mulher me deixa sozinha de novo para que eu possa experimentar o vestido. Depois de algum esforço para conseguir colocar o vestido em mim, eu finalmente me olho no espelho. E não vejo mais uma menininha risonha. Mas sim, uma jovem adulta, que sabe o que quer, que já tem escolhas definidas, uma mulher forte. Mas infelizmente, eu não consigo me imaginar como essa mulher decidida. Mas sim, uma adolescente ingênua, fraca e sentimental. Essa sou eu. A imagem da mulher forte se desfaz, e é substituída pela garotinha assustada. A atendente dá loja bate na porta do provador. - Precisa de ajuda? – ela se oferece. - Ah, é, eu vou levar o vestido. – digo. - Sabia que ia gostar. – ela diz. Tiro o vestido e visto a minha roupa e coloco meu casaco por cima. Saio do provador e vejo Cara sentada me esperando. - Puxa, até que enfim. – ela diz. - Que vestido você escolheu? – pergunto. - Eu não vou te contar, é surpresa! – exclama.


- Dinheiro ou cartão? – pergunta a mulher do caixa. - Ah, sim, desculpa. Cartão, por favor. – digo entregando meu cartão de crédito para ela. A moça me devolve o cartão e ao mesmo instante a mulher que me atendeu volta com a sacola de papel com o vestido dentro dela. - Espero que você se divirta no baile! – ela diz entregando-me a sacola. - Obrigada! – digo baixinho. Agora consigo olhar nos olhos dela. Bem no fundo. Ela é quem eu temia que fosse. A enfermeira do meu pesadelo. A enfermeira que socorreu naquela visão do acidente. A enfermeira que me mandava ser forte.


Doze A mulher parada na minha frente. Quero sair de perto dela. Quero sair desse pesadelo. Esses sonhos aterrorizantes. Eu posso estar ficando louca. Mas aquele acidente foi bem real. As lembranças estão queimando na minha mente. Saio de mim e fico paralisada. É Cara quem me conduz pra fora da loja. Ela está indo em direção ao meu carro, mas eu me desvio dela e vou à direção contrária. Ela me chama, mas eu finjo que não ouço. Entro em um beco entre uma casa e uma padaria. Sento-me no chão ao lado de uma lata de lixo. As lágrimas começam a cair do meu rosto. Uma dor de cabeça terrível assola a minha mente. Eu me encosto-me à lata de lixo. Vejo que há uma lata de ervilhas na minha frente. Eu a pego, e jogo na parede com tanta força a ata se abre, espalhando ervilhas por todo o beco. Ouço alguns passos e sem demorar muito Cara chega e fica surpresa a me ver nesse estado. - Chloe, o que você tem?! – ela grita. Eu não respondo nada. Não consigo pensar em nada. Nem no que falar. - Chloe fica calma! – ela tenta me acalmar. Mas eu só consigo chorar e gritar. Nada me acalma. Nem eu mesma sei o que aconteceu comigo. Cara tira o meu telefone da bolsa e disca algum número. - Alô, Josh, você precisa vir aqui, urgentemente! A Chloe está tendo um ataque de choro. – ela diz. – Não, eu não sei o que aconteceu com. Você precisa vir aqui. – repete. – No cruzamento da Sanford com a Principal. – informa a localização. Cara se senta ao meu lado e tenta me acalmar novamente, alisando as minhas costas e dizendo que tudo vai ficar bem.


Aos poucos eu vou melhorando, e voltando para si. Tentando entender o que aconteceu comigo. Quem era aquela mulher, e aqueles pesadelos terríveis. E a pior parte. Aquele acidente de carro na montanha. Agora, eu não sei mais separar a “normalidade” e a “realidade”. Tento acalmar a mim mesma, dizendo que foi só um sonho ruim e que nada daquilo aconteceu. O vento seca as lágrimas que ainda molham o meu rosto. O carro de Josh estaciona na frente de beco e ele sai com pressa. Ele se abaixa e me coloca em seus braços. Ao mesmo tempo ele me leva em direção ao carro. - Você que devíamos levar ela para um hospital ou coisa do tipo? – pergunta Cara. - Não precisa. Eu só quero ir pra casa. – digo. Eles ficam surpresos por eu ter falado alguma coisa. - Tudo bem. O pior já passou. Vamos te levar pra casa. – diz Josh. --Cara abre a porta da minha casa, enquanto Josh me coloca de novo em seus braços e me leva pra dentro. Eles me levam para o meu quarto e me colocam na minha cama. Eles se sentam em poltronas que ficam em frente á minha cama. Eles ficam olhando para mim e ao mesmo tempo trocam olhares entre si. Algum tempo depois e Josh interrompe o silêncio. - Chloe, você pode nos contar o que aconteceu? - Não. Eu não vou contar á vocês! – grito. - Por favor, nós precisamos saber. – Josh insiste. - Não! Eu não vou contar e pronto! – grito o mais alto que posso. - Tudo bem, eu não quero te forçar a nada. – Josh diz tranquilamente.


- Gente, o papo tá muito interessante, mas, eu preciso ir agora. – Cara interrompe. – Melhoras, Chloe, melhoras. - Tudo bem. Pode ir. – digo. Josh fica um tempo me olhando. E então eu faço um pedido. - Você pode cantar pra mim? – peço. - Cantar? – ele reage. – Tudo bem, aceito esse desafio. Você tem algum instrumento que eu possa tocar? Eu aponto para o violão velho ao lado do guarda-roupa, que meu pai me deu quando fiz Dez anos e coloquei na cabeça que queria ser cantora. Depois eu caí na real, e o violão passou a servir enfeite no meu quarto. Josh se levanta da cadeira, tira o violão da sua capa e começa a cantar para mim. Uma canção velha. Que eu cantava quando era criança na escola. “Enfrente os seus medos, oh, não tenha medo. Se levante e enfrente seus medos.” A voz dele me acalma e me faz descansar tranquilamente, enquanto repouso sob a minha cama. Quanto ele termina de cantar, coloca o violão no chão e agarra a minha mão. - Nós ainda vamos á reunião de família? – pergunto. - Chloe, eu acho melhor não, você teve um dia difícil. – ele diz. - Mas, eu quero ir, eu quero ver a minha mãe. – digo. - Tudo bem, se você quer ir, a gente vai! – ele diz.


Treze Há vários carros estacionados em frente á casa da minha mãe. Faz algum tempinho que não vejo meus parentes distantes. Pra ser mais exata, um ano. Desde o fracasso que foi a reunião passada, quando o silicone falso da minha tia, foi parar em cima do prato principal. Eu não sei como isso aconteceu, mas, eu evito coisas desse tipo. Josh e eu saímos do carro e ele me conduz até a ponta da frente. Quando entramos na casa, vejo meus primos pequenos brincando na sala de estar. Há uma bola de futebol americano presa na TV da sala. Esses pequenos são capazes de muita coisa. Coisas do tipo, rato na salada e baratas na cadeira da vovó. Minha tia Lucy vem até nós. O seu cabelo channel está imutável. Desconfio que seja uma peruca, porque o cabelo dela sempre está do mesmo jeito. - Oh, querida! Como você cresceu! – ela exclama. – Quem esse rapaz bonitão? - Esse é o meu namorado Josh, tia. – sorrio falsamente. - Oh, mas querida, e esses peitos? São de verdade? – ela balança os meus seios para cima como se eles fossem algum tipo de brinquedo de criança. - São sim, tia. – digo afastando as mãos dela pra longe de mim. Josh e eu saímos daquele ambiente e seguimos em direção à sala principal. A Sala está lotada. - Essa é sua família? – Josh indaga. - Bem, acho que a maioria que está aqui, deve ser. Minha avó vem até mim, andando vagarosamente e com leveza. Ela é uma mulher que eu admiro muito, mas... - Carla!


... Ela não lembra o meu nome. - É Chloe, vovó. Chloe. – digo enquanto abraço-a. Minha avó vai á sala brigar com as crianças pequenas, enquanto eu e Josh começamos á vagar pelo salão á procura da minha mãe. - Ei, Chloe, vamos pegar alguma coisa pra beber? – Josh me convida. - Claro, ali. – aponto para uma mesa repleta de taças de vinho. Nós caminhamos em direção à mesa e pegamos duas taças de vinho. Josh faz um sinal para que possamos brindar. - Ao nosso amor. – ele diz. - Ao nosso amor. – concordo. Alguém vem em nossa direção. Josh balbucia alguma coisa como “Esse vinho está divino.” Enquanto tento focaliza o rosto daquela pessoa. Eu fico boquiaberta quando identifico aquele corpo feminino. Minha prima Grace, senão, o satanás em forma humana. Nós duas temos a mesma idade, mas não, o mesmo caráter. Ela era uma menina terrível no jardim da infância. Ela gostava de ver as pessoas se darem mal. Sempre foi invejosa e gananciosa. Ela consegue tudo o que quer, principalmente quando se fala de garotos. - Chloe. – ela tenta parecer feliz. - Diab... Ops, quis dizer, Grace! É tão bom ver você. – digo. - Quem é esse bonitão? – ela pergunta. - Ah, esse é o meu namorado Josh. - Nossa, que forte. – diz ela se esfregando em Josh. – E que olhos lindo. Ela tenta me fazer ciúmes, e consegue. Minha paciência tem um limite, e Grace sempre alcança esse limite.


- Foi ele quem tirou a sua virgindade? – ela diz. - Já chega. – digo Não demora muito até a taça de vinho na minha mão pousa sob a cara dela. Grace fica encharcada de vinho dos pés a cabeça. E sua cara não é de uma pessoa feliz. Todos viram os olhares para nós três. - Sua vagabunda! – ela grita furiosamente. Eu seguro a mão de Josh, espero ter a atitude necessária para dizer alguma coisa. Mas a única coisa que consigo dizer é... - Vem Josh, vamos embora daqui.


Quatorze Eu não sinto menor arrependimento de ter feito aquilo. Acho até que ela merecia mais. Mas eu não vou voltar lá. Aquela sala está cheia de pessoas que me acham louca. Nesse momento, o que consegue acalmar os meus nervos é Josh junto ao jardim da casa da minha mãe. Por mais que a neve esteja invadindo a cidade, a grama é sempre verdinha e as flores se auto contrastam. Eu me sento debaixo de uma árvore velha, cujas folhas estão amareladas e caem repentinamente. Josh se senta ao meu lado. - Você não vai me dar sermão, não é? – digo. - Não. Mas aquilo que você fez foi muito errado. - Ah é, então você estava gostando dela te abraçando? E dizendo todas aquelas coisas na minha frente? - Você podia ter tomado uma atitude mais madura! – ele exclama. - Eu não tive reação. Jogar aquele vinho nela foi um impulso. Eu sou assim. Depressiva, explosiva, eu gosto de chorar, eu me apaixono fácil, eu confundo meus sentimentos, essa sou eu, tá legal? – grito. - Essa não foi a garota por quem eu me apaixonei. – ele diz. O som da sua voz quebra o meu coração. Todas aquelas palavras pisoteiam a minha cabeça como se fosse papel amassado. Eu sou uma garota feita de vidro que está em pedaços. - Isso me magoou. – digo enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. - Lá vem você e esse seu sentimentalismo! – fala Josh, irritado.


- Enquanto uns são sentimentalistas demais, outros são ignorantes demais. – falo. – Você não entende as mulheres! - Eu entendo as mulheres. Eu não entendo você! – ele grita para mim. Ele continua pisando em meus cacos de vidro. Cada palavra dói mais que a outra. De repente, aquelas alucinações voltam á minha mente. Todo aquele acidente torna-se real á meus olhos. E eu não estou conseguindo respirar. A dor na minha cabeça é insuportável. Ouço a voz da minha mãe dizendo: “Vai ficar tudo bem”. A sua voz não está calma como sempre, pelo contrário, ela está desesperada. Tento compreender aquela cena, e então, tudo aos meus olhos desaparece. ... Acordo no meu antigo quarto, de quando eu ainda morava com os meus pais. As fotografias na parede são as mesmas. Tento focalizar na pessoa que está do outro lado da porta. Ela se vira para frente e então eu descubro que é a minha mãe. Ela conversa com outra pessoa, um homem, vestido de branco, que me parece ser um médico. O sol irradia o quarto. Sei que a festa já acabou, pois não ouço mais barulho. Minha mãe balbucia alguma coisa para a pessoa que acredito ser um médico. Entendo alguma coisa da conversa deles. Algo como: - Doutor, ela tem algum problema psicológico? – minha mãe pergunta. - Aparentemente não. Quando ela acordar, eu preciso fazer um exame oral, em que ela me conte tudo o que viu o sentiu. – diz o homem que agora tenho certeza que é um médico. - Ela está ficando louca? – pergunta uma voz masculina que me parece ser a de Josh. Josh. Aquela briga. Aquelas palavras. Aqueles sentimentos destruídos.


- Bem, isso depende dos comportamentos dela atualmente. Ela teve algum outro momento de loucura? - Ontem. Ela teve um ataque de choro. E algumas outras vezes ela falou sobre uns pesadelos ou coisa do tipo. – diz Josh. - Nós precisamos conversar com ela. – diz o Doutor. Minha mãe vira o olhar para dentro do quarto onde estou e percebe que eu já estou acordada e estava ouvindo a conversa deles. - Ah Doutor. Ela já acordou. – minha mãe diz. Os três entram devagar no meu quarto. Um passo de cada vez. Como se eu fosse um leão que está adormecido. - O que aconteceu? – pergunto, mas, minha voz parece estar debilitada. - Naquela hora no jardim, você começou a gritar como louca e depois você desmaiou. – Josh conta. - Eu não me lembro disso. – digo. - Tudo bem. Eu quero conversar á sós com a mocinha aqui. – diz o médico. Mamãe e Josh saem do quarto e me deixam a sós com o médico. - Querida, qual a última coisa de que se lembra? - Só me lembro de estar discutindo com Josh e então tudo escureceu. – explico. Eu sei. Eu omiti a verdade. Não falei dos flashbacks e nem daquele acidente. Nem das vozes. Da enfermeira. Eu prefiro deixar isso guardado comigo. Afinal, todos já estão pensando que eu estou louca. - Tem certeza que não está escondendo nada? – ele insiste. - Não preciso te contar os detalhes da minha vida. O que aconteceu comigo vai ficar comigo! – exclamo. - Pense bem, isso é para sua própria saúde mental. – diz ele.


- O que vai fazer bem para minha saúde mental, é que você saia desse quarto e me deixe sozinha. - Tudo bem. Não vou insistir. – ele fala enquanto sai do meu quarto. Por um segundo minha mente se tranquiliza e eu volto a dormir. ... Acordo ouvindo passos sorrateiramente bem dados. Por mais que eu não queira, eu abro os meus olhos e vejo ele. Josh. - Oi. – ele diz enfiando as mãos nos bolsos da calça. - Achei que não ia querer me ver. – digo. - Que história é essa? – ele indaga. - Você sabe muito bem. A briga de ontem. – falo. - Chloe, eu não queria dizer aquilo tudo. – ele fala fechando os olhos. - É, mas você disse! – grito. - Desculpa. – diz ele abaixando a cabeça. - Desculpas não vão adiantar agora. – digo fortemente. – O que foi quebrado, não se concerta de uma hora para outra. Isso exige tempo. - O que você quer dizer com isso? – ele me interroga. - Eu quero terminar. – explico. – Nosso namoro. - Por causa de uma briguinha? – ele resmunga. - Por causa de palavras. Elas machucam. Mesmo quando não deviam. – declaro. - Tudo bem. Se for isso o que você quer. Espero que algum dia você reconsidere. – ele comenta. – Só lembre-se que o que foi quebrado, se concerta mais rápido quando duas pessoas fazem isso.


Ele sai do quarto. Parecia arrasado. Eu devo ter usado as palavras para magoá-lo. Não pretendo reconsiderar. Não pretendo voltar para ele. Mas quando foi embora, ele levou consigo dias alegres e uma parte de mim. As pessoas dizem “Siga o seu coração”, mas a questão é, quando seu coração está partido em mil pedaços, a que parte você deve ouvir?


Quinze É tão bom estar em casa novamente. É claro que a minha mãe queria que eu ficasse lá mais alguns dias, enquanto ela tivesse certeza que eu estava bem. Vou ter que passar a noite em sintonia com a televisão, já que agora não tenho mais Josh para me fazer companhia. Bem, nesse momento já me sinto um pouco arrependida por ter terminado com ele. Acho que fui imatura e infantil. Mas, é tarde demais. Não estou a fim de ferir meu orgulho. Vai passar. Porque todas as coisas são passageiras. Quanto mais sentimentos. Como dizem, não há nada melhor que se jogar no sofá para relaxar. Eu me deito no meu sofá e ligo a TV. Pego o controle que está em cima da mesinha de centro, junto com as revistas bagunçadas. Coloco em um canal qualquer, aliás, nem estou com tanta vontade assim de ver TV. Eu só quero me desligar um pouco do mundo. Mas tem alguém batendo na porta. E esse barulho me incomoda muito. Eu não iria me levantar para abrir a porta se Cara não tivesse gritado. Eu me levanto e sigo em direção à porta. Mal começo a rodar a chave e Cara já entra com tudo. - Que tipo de amiga é você?! – ela exclama. - O que? Como assim? – indago.


- Você foi pra uma festa, aprontou todas, quase morreu, destruiu os sentimentos dos outros e nem me contou? - Acho que essa sua história está um pouquinho exagerada. – digo fechando um olho e torcendo a boca. - Então me conta todos os detalhes. – diz ela sentando em uma das cadeiras perto do balcão. - Vamos começar por partes. Primeiro, eu joguei uma taça de vinho na minha prima Grace, porque ela estava dando em cima do meu namorado. Depois, eu estava discutindo com Josh e desmaiei e depois, quando acordei, eu terminei com ele. – explico. - Uau, melhor que muitas novelas por aí! – ela diz fazendo cara de espanto. – Mas, por que você terminou com ele? - Eu não sei. Eu estava confusa, meus sentimentos estavam embaraçados e eu estava me sentido humilhada. Então, eu terminei com ele. - Tem certeza que foi só isso? – ela insiste. - Eu não vou te contar sobre o que se passa dentro da minha mente. É terrível. – falo. - Calma garota. Eu já te disse pra não assistir mais a novela da Maria do Bairro! Isso te deixa louca! – sua expressão vira uma careta. - Eu não ando mais assistindo aquelas novelas. Todas as vezes que eu assisto, a mocinha morre no final. – digo fazendo piada. - Engraçadinha. – ela sussurra. Alguém bate na minha porta. Eu não me lembro de ter pedido pizza e nem de ter chamado o clube da limpeza. Então, se Cara já está aqui, eu não imagino quem seja. Abro a porta e me surpreendo. É David. O garoto a quem eu pedi informações sobre o déjà vu. Sobre o acidente.


Eu não consigo acreditar que só agora ele conseguiu informações. Ele parece um pouco atormentado. - David? - Chloe. – diz ele com a voz atarantada. – E... Eu posso...? – ele gagueja. - Claro. Pode entrar. – digo escancarando a porta. Cara estava bebendo um copo de água, mas ao ver David ela cospe a água para fora como se fosse um aguador de jardim. - O que esse nerd faz na sua casa? – ela questiona. - Bem, á algum tempo eu pedi pra ele pesquisar um assunto pra mim. – eu digo. - É. E eu consegui o que você queria. – David diz. - Tudo bem. Pode me contar. – digo encostando um dos braços em cima da cadeira onde Cara está sentada. Ele olha para Cara com um olhar desconfiado. - Aqui não. Nós podemos ficar á sós? – ele pergunta. - Claro, vem, vamos para o meu quarto. – digo. - Como assim, Chloe, você acabou de terminar com seu namorado e já vai levando outro pro seu quarto? – Cara brinca. - Cara, por favor, você vai envergonhar o rapaz. – falo para ela. Nós andamos em direção até o meu quarto. Eu entro primeiro e David vem me seguindo. - Tudo bem, pode começar. – sussurro. - Eu acho melhor você sentar. – ela corresponde. Eu me sento na cama ainda um pouco trêmula. Sei que o que vem por aí não é nada bom.


Bem, eu não sei como dizer isso de outra maneira, mas, vamos lá. - explica. Nada disso do que você está vivendo é real. - O que você disse? – tento entender. - Que nada disso é real. Olha, você me falou sobre um acidente, provavelmente você entrou em coma, e tudo isso que você está vivendo é projetado pela sua própria mente. Eu, você, Cara, seu namorado, todos somos alucinações criadas por você. Depois do acidente, tudo passou a ser, como um sonho. Nada do que você fez nesse sonho, realmente aconteceu. Sua mente não quis aceitar a realidade, por isso, projetou todo esse mundo novo. Essa nova oportunidade. Eu estou em choque. Não pode ser. Não consigo acreditar. - Isso não é verdade. Você deve estar enganado! – digo lacrimejando. - Então, como você explica seu dia ter começado outra vez? Já viu isso acontecer na vida real? – ele questiona. - Não, mas eu já vi em filmes. – falo enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto. - Aposto que esses filmes não são baseados em fatos reais. – ele me interrompe. - Mas, e, como você explica esses flashbacks? Aposto que não pesquisou isso! – exclamo. - Eu tenho uma ligeira explicação para isto. Chama-se “Surto de Realidade.” Por alguns segundos, você despertou deste sonho. - E quando isso vai acabar? – tento falar aos prantos. - Bem, pode ser a qualquer momento, ou pode ser que... - Pode ser o que? - Você tinha algum compromisso marcado importante, antes do acidente? - Bem, só o baile de primavera. – digo.


- Então nesse caso eu diria que isso não vai durar muito tempo. – ele me diz. – Ah, mais uma coisa. Quando você acordar, vai acordar onde seu corpo real está agora, provavelmente em um hospital. E somente você se lembrará disso. Nem eu vou saber que te disse essas coisas todas. – explica. Após algum tempo chorando e tentando aceitar a verdade, David coloca a mão nas minhas costas e diz: - Sinto muito.


Dezesseis David me deixa sozinha no quarto. Quero ficar só. Assim consigo me recompor mais depressa. As lágrimas molham a minha blusa branca de lã. Coloco as mãos na minha cabeça, mas, alguma coisa está presa á minha mão e machuca o meu couro cabeludo. É o anel que Josh me deu. Havia esquecido que ele ainda estava na minha mão. Agora já não faz mais sentido “Juntos Para Sempre”. É como diz o velho ditado. “Nada é para sempre.” Nem mesmo o amor que eu achava ser infinito. Ás vezes não entendemos ao certo, o significado das coisas. Você pode amar ao máximo uma pessoa, mas se você não confiar totalmente no seu parceiro, o amor vai enfraquecendo, e murchando até acabar de vez. Você também não pode forçar uma pessoa a gostar da outra. Esse é o pior tipo de amor. Amor se conquista, não se obriga. Amor é paz e não guerra. Amor é união e não separação. Ouço os passos de Cara, entrando no meu quarto. - Chloe, eu estava escutando atrás da porta e... – ela pausa. – Ai, meu Deus, você não vai acreditar naquele palhaço, não é? Cara se senta ao meu lado. - Eu acredito, Cara, eu acredito. Isso é a única coisa que eu posso acreditar. É a única explicação. Eu sei que não estou ficando louca. – argumento. Ela ia falar alguma coisa, mas a sua boca se fecha e nenhum som sai dela. As lágrimas aos poucos terminam de molhar o meu rosto e o meu coração vai desacelerando. Eu apoio a minha cabeça no ombro de Cara e ela me abraça.


- Olha, se isso for mesmo verdade, quando acordar desse sonho, me procure. E me conte tudo. – ela chora comigo, o que faz com que as lágrimas voltem a molhar meu rosto. – Eu vou acreditar em cada palavra que você disser, como eu sempre faço. – ao concluir a frase, ela já está aos prantos, suas lágrimas desbotam a calça cor azul marinho. - Você é a melhor amiga que eu já tive! – digo. - Ei! Essa fala é minha! – ela ri. Então, eu me lembro. Algum tempo antes de ir para a montanha e sofrer o acidente, na saída da aula, Cara meu parou e disse que eu era a melhor amiga que ela já teve. - Só você consegue me fazer rir quando estou triste. – expresso. - Não. – ela me responde. – Tem outra pessoa também. - Quem? – indago. - Josh. – ela rebate. Esse nome traz de volta tantos sentimentos bons, mas não sei se devo me aproximar novamente. - Cara, não devemos falar sobre isso. Isso já é passado. – exclamo. - Não é não, isso é ontem. Ainda não deu tempo pra você esquece-lo. – ela discute. - O que você acha? – questiono. - Eu acho que vocês dois deveriam se ver outra vez. - Eu não pretendo revê-lo. Cara se levanta, e por mais que o sol brilhe, consigo ver seu rosto. O rosto que eu nuca parei pra notar. O rosto da minha melhor amiga. Lembro-me de quando ela cortou o seu cabelo e disse que era para o clube de punk-rock. O seu cabelo agora já está na altura das orelhas e raiz já começa a transparecer sua cor natural. Ela sempre foi mais bonita do que eu. O seu corpo e robusto e bem formado, já eu sou um tanto quanto magrela.


- Preciso ir. – ela diz. – Minha mãe quer que eu lave a louça. - Tudo bem.


Dezessete Já faz algum tempo que Cara foi embora, mas a campainha continua a soar. Não pode ser ela de novo, ela não esqueceu nada aqui. E não pode ser ele. Eu o magoei demais. Ele deve estar me odiando nesse momento. Mas não. Ele está na minha porta. - Josh. – cumprimento. - Oi Chloe. – ele devolve. - O que faz aqui? – pergunto. - Bem, Cara me ligou dizendo que eu deveria te ver. - Ela disse isso, foi? - Eu posso entrar? – ele indaga. - Ah, claro. – minha voz soa fria e seca. Ele entra e parece um pouco tímido como se não me conhecesse. - Então, tem alguma coisa pra me falar? – pergunto. - Na verdade, sim. – diz – Bem, eu admito que fui tolo e infantil, mas você também foi. Acho que nós nos precipitamos. Essa não era a decisão certa a tomar. Nós dois erramos. E eu sei que você ainda me ama. - Como tem tanta certeza disso? – rebato. - O seu coração ainda bate junto com o meu. – ele é sincero. Todas essas palavras apagam um momento ruim e trazem de volta tudo de bom que já passamos juntos. - E você? Ainda me ama? – questiono. Ele ergue a mãe, no alcance dos meus olhos e só então consigo decifrar. Ele ainda está usando o anel “Para Sempre.”.


Vejo em seus olhos que ele não mentiu, nem quando disse que me amava, nem quando disse que eu ainda o amava. Eu também levanto a minha mão e encosto o meu anel no seu, formando “Juntos para Sempre”. Eu o abraço e os seus dedos envolvem a minha cintura, como da última vez que nós nos abraçamos. Então, eu me dou conta de que isso é só um sonho, e que tudo vai desmoronar alguma hora. Mas se for para desmoronar, eu quero estar ao lado de Josh. - Eu senti tanto a sua falta. – ele sussurra ao meu ouvido. - Foi só um dia. – digo de volta. - Pareceu uma eternidade! – ele devolve. Seus lábios encostam-se aos meus, e tudo volta ser como era antes. Todo medo que eu sentia, parece que fugiu do meu corpo. Eu voltei a ser a garota de uns dias atrás. - Vem, vamos sair. – convida. - Espera, vou pegar o meu casaco! - Traz o violão também! – ele sorri. - Para onde vamos? – pergunto curiosa. Ele não diz nada, mas o sorriso em seu rosto fica cada vez maior.


Dezoito Depois de alguns quilômetros rodados, reconheço o lugar. Onde foi o nosso primeiro encontro. Onde Josh me trouxe pela primeira vez. Onde nós nos sentamos e conversamos. Onde ele me jogou dentro d’água. O lugar ainda continua o mesmo de semanas atrás. As mesmas luzes. O mesmo gelo, o mesmo buraco no gelo. Josh estaciona o carro no lugar de sempre e eu caminho em direção ao montinho de grama coberto de neve. Eu forro o chão com o cobertor que Josh trouxe e me sento em cima dele. Ele sai do carro e se senta ao meu lado, trazendo consigo o violão. Ele começa a tocar algumas notas, que depois viraram melodias, e depois uma canção sem letra. Não sei de que forma, mas, isso mexe comigo. E é algo que eu não consigo explicar. Mas, na vida, nada tem explicação, apenas acasos e descasos. Milhares de estrelas enfeitam o céu escuro e o fazem parece brilhante, a neve ainda não derreteu, tudo está conservado, e em seu lugar, pode parecer um final feliz, mas, acredite, esse não é o final. Josh solta o violão e o solta sobre o que ainda resta do montinho de grama. - Cara te contou? – pergunto. - Sim, ela me contou tudo. – ele responde sem olhar pra mim. Eu não queria falar nisso, mas eu não quero perdê-lo, eu não posso, mas talvez contar tudo a ele resolva um pouco as coisas. - Nós não vamos ter um final feliz. – digo. - Isso mesmo! – ele começa. – Nós não vamos ter final. Nós vamos estar juntos.


- Para sempre. – completo a frase. Ele encosta sua cabeça na minha, e eu agarro o seu pescoço, e digo. - Não sei como eu pude dizer não pra você. - Você disse não para mim? – ele indaga. - Sim, mas foi da primeira vez, e agora que tivemos uma segunda, ele vai se esgotar. E nós vamos ficar no não. – eu falo. - Talvez não – diz – Talvez a vida nos dê uma terceira chance. - Isso é impossível. - Não, você vai ver, nosso amor é forte, não é qualquer sonho ou pesadelo que vai apagar isso. Você só tem que ter fé. - Você tem razão. Eu não preciso ficar pagando de louca. – digo á Josh. - Você é a minha louca, e nós vamos ser loucos juntos! – ele aproxima a sua boca da minha, e eu já o que isso quer dizer. Nós nos beijamos, e enquanto isso durar, a neve vai continuar caindo.


Dezenove O baile é daqui a algumas horas. Minha mãe disse que seria uma boa ideia eu vir na casa dela pra me arrumar. E foi mesmo. Uma última olhada no espelho e, agora sim, consigo enxergar a Chloe mulher. Tudo está perfeito. O meu cabelo está amarrado em um coque com algumas pedrinhas brilhantes por cima e a franja mal cortada, fica uniforme com a ajuda de toda a maquiagem azul e lilás que impermeia o meu rosto pálido. E o vestido, caiu como uma luva, ficou melhor do que na própria prova. Os sapatos dificultam um pouco ao andar, mas com alguns minutos consigo dominá-los. Estou me olhando no espelho, quando minha mãe abre a porta do quarto, sem mais nem menos. - Filha, o Josh chegou! - Eu já vou descer. Minha mãe. Não sei o que dizer a ela. A coitada não sabe de nada. E nem precisa saber. Eu nunca estive tão próxima dela, pois, a sua obsessão e seu ego, sempre falaram mais alto. Mas, agora, ela é a minha mãe. A que cuidava de mim quando eu era bebê, e ela nunca vai merecer saber que a sua filha está em coma, num quarto de hospital. Eu estou pronta. Saio do quarto e começo a andar delicadamente pelo corredor. Há um grande desafio pela frente, a grande escada principal, estreita e longa. Viro a parede e tenho uma vista ampla da sala da minha mãe. E lá embaixo, está ela com sua máquina fotográfica. E ao lado dela, está Josh, com seu terno azul escuro e seu cabelo meio partido e penteado para o lado. E a peça chave, o seu sorriso.


Eu desço alguns degraus, e o sapato de salto começa a incomodar, eu pensei que iria conseguir andar bem com ele, mas, eu insisti pela sua beleza e o seu tamanho. Tento dar uma levantada no vestido. Solto as mãos do corrimão. Um passo em falso, e eu saio rolando escada abaixo. Eu não sinto dor, sinto uma coisa confortável. Foi tão rápido. As mãos de Josh me seguram e eu abro os olhos, e os seus miram o olhar para mim. - Você está linda! – elogia. - Não tanto quanto você. – digo. Eu caí, mas suas mãos me seguraram antes que eu pudesse começar a rolar a escada. Isso é o amor. Na hora em que eu fechei meus olhos, eu sabia que havia alguém em quem eu podia confiar. E então, cá estamos nós. Lindos e Apaixonados. Nós saímos da sala da minha mãe e seguimos em direção ao carro de Josh, tenho um pouco de dificuldade para entrar por causa do vestido. --Nós chegamos ao baile, e é incrível como conseguiram decorar o ginásio da escola. As flores de papel, as plumas, os pares dançando. Logo avisto Cara e o seu parceiro dançando, ela está incrível, com um longo vestido bege e uma flor da mesma cor em seu cabelo. A música que está tocando é bem agitada, e não sei se consigo acompanhar o ritmo. Josh pega a minha mão e nós começamos a dançar aleatoriamente. É difícil acompanha todos que já estavam dançando. Eu me sinto ofegante e cansada. - Josh, eu acho melhor eu me sentar.


- Tudo bem, quer que eu vá buscar um copo de água? - Não precisa. Eu só quero descansar. Alguma coisa começa a me sufocar, e tirar o meu fôlego. Eu respiro com dificuldade. Sei que preciso de ar urgente. Então eu tiro os sapatos doloridos e saio correndo para o lado fora do salão. A música agitada é substituída por uma mais lenta e mais melódica. Josh sai correndo atrás de mim, que já esbarrei em várias pessoas. Eu chego do lado de fora, mas não melhoro. As coisas só pioram. Agora sinto também um enorme dor de cabeça. Josh chega atrás de mim e me abraça. - Eu acho que essa é a hora. – digo com dificuldade. - Lembre-se que nós vamos estar Juntos para Sempre. – percebo que os seus olhos começam a se encher de lágrimas. - Eu nunca vou esquecer. – falo segurando as suas mãos. – Você é o melhor sonho que já tive. Nós nos beijamos pela última vez. E à medida que nossos lábios se tocam, a dor vai aumentando até ficar tudo branco. Tudo que eu vivi nesse sonho passa por mim como um fio. As lágrimas, os sorrisos, as brigas, as amizades, os beijos, os presentes, as músicas. Tudo se passa, até tudo ficar preto de uma vez. E enfim, eu acordo com o alto som do monitor cardíaco voltando a apitar.


Vinte Minha cabeça dói, e a minha visão está embaçada. Eu não sei ao certo o que aconteceu, mas o sonho deve ter acabado e eu devo ter voltado á realidade. Consigo focalizar a minha visão. Isso me parece um quarto de hospital. Sinto uma coisa apertando minha cabeça. Eu estou cercada de máquinas que não param de apitar. A enfermeira chega ao quarto e fica surpresa a me ver acordada. Ela fica tão espantada que sai correndo e gritando pelo médico. Algo muito grave deve ter acontecido. Nunca vi tantas máquinas em um só cômodo de hospital. Meu corpo parece estar paralisado, pois não consigo me mexer. Tento me mover, mas só sinto dor. Ouço passos acelerados e desesperados. São várias pessoas. E eu já posso imaginar quem elas são. Consigo ver minha mãe chorando muito. Ela corre para mim como se não houvesse amanhã. - Minha filha! – grita. – Você está viva. – diz. – Você está viva. – repete. Ela passa a mão na minha testa e acaricia os meus cabelos. Uma de suas lágrimas cai na minha bochecha. Cara chega apressada. Não há lágrimas em seus olhos, mas ela parece abismada. Ela pensa em me abraçar, mas se dá conta que os aparelhos e fios em cima de mim não vão deixar isso acontecer. Todos me olham como se eu fosse água no deserto. Eu não consigo falar nada, e, nem quero.


Eu só quero levantar e sair correndo por aí. Quem sabe talvez, criar asas e sair voando, desaparecer. Eu só quero saber dele. O que aconteceu com ele. Onde ele está. Ele ainda me ama? Tão intrigante quanto um coração quebrado, que não pode ser refeito facilmente, só o tempo é capaz de curar. Mas eu não quero esperar. Eu que beijá-lo. Quero seus lábios nos meus. Quero reviver todos os bons momentos, e também os maus. Eu só quero estar com ele. E então faço a pergunta mais sombria da minha vida. - Onde está Josh? O silêncio toma conta da sala. Minha mãe e Cara trocam olhares. Elas parecem não saber de nada. Como se eu estivesse falando em grego. E então, recebo a resposta que eu jamais esperava receber em toda a minha vida. - Quem é Josh? – pergunta Cara.


Vinte e Um Aconteceu o que eu temia. Voltei a triste e sozinha realidade. É como dizem, tudo que é bom, dura pouco. Ainda mais, quando se fala de sonhos. Para elas, Josh é só mais um no meio de tantos outros alunos da escola. Já falei sobre ele uma vez, com Cara, antes do acidente, quando ainda não nos conhecíamos. Mas não importa. Porque tudo foi apagado do mundo real. Tudo está guardado dentro de mim. Só pra mim. Só eu posso visitar as minhas memórias e reviver aquilo tudo. Tudo de novo. - Por que eu estou aqui? – pergunto. Um médico surge atrás da minha mãe e começa a falar. - Você sofreu um acidente de carro. Nós internamos você. Fizemos de tudo para te salvar. E aqui está você. Bem. – ele explica. - Eu não estou bem. – digo. – Eu quero falar com o Josh. – grito. - Querida nós não sabemos quem é Josh. Eu sinto muito. – fala a minha mãe. Cara não sabe o que dizer. Ela só observa as expressões de todos. - Me deixem á sós com ela. – Cara diz. Todos saem da sala e eu fico sozinha com Cara. - Você realmente está bem? – Cara questiona. - Acha que eu estou ficando louca? Eu tive um sonho maluco que pra mim durou meses e eu tinha um namorado a quem eu rejeitei de cara e logo depois eu tive a oportunidade de dizer “sim” para ele. E nós tivemos um belo romance e eu vivi como nunca tinha vivido todos esses anos da minha vida. E


agora acordo nesse hospital com todos achando que eu sou louca. – respondo. - Você só precisa ficar calma. – ela me fala. Cara senta na beirada da cama e me olha fixamente e sorrindo. - Eu acredito em você. – diz. – Eu sempre acredito. - Eu sabia que iria acreditar.


Vinte e Dois Epílogo (Três semanas depois) Depois de tanta confusão, eu ainda consigo viver. É difícil viver com a lembrança de uma pessoa em sua cabeça, e na vida real parecer estranhos. Estou tentando me readaptar á rotina antiga. Escola, amiga, mãe, tédio, televisão, lembranças. Não há nada como chegar em casa e ver aquele belo sofá te encarando e dizendo “sente-se em mim”. Talvez eu faça isso mais tarde. Tenho que tomar um banho, trocar de roupa, comer alguma coisa e depois, o sofá. Entro no banheiro e começo a tirar a roupa com cheiro de hospital, quando o telefone toca. É Cara que está ligando. Eu pego o telefone no bolso da calça que agora está solta no chão do banheiro. - Oi. – digo. - Você tem companhia para o baile? – pergunta. E então me dou conta, que o baile ainda não aconteceu de verdade, apenas no meu sonho. - Eu não vou ao baile, Cara. - Tem certeza disso? – insiste. - Tenho plena convicção. – devolvo. - Acho que você devia pensar melhor. – continua. - Eu estou com a cabeça muito cheia pra pensar.


Ela desliga o telefone e manda um torpedo. “Por favor, encontre-me neste endereço.” E abaixo da mensagem manda uma localização que eu conheço perfeitamente. O lugar onde Josh me levou pela primeira e pela última vez. O rio congelado, com um buraco bem no meio. Onde ele tocou violão pra mim e eu me deitei em seus braços. Onde o meu pai me levava. Claro, apenas um sonho. Não sei se devo voltar lá, posso parecer uma intrusa. A última vez que estive lá realmente, foi quando meu pai me levou para me ensinar a pescar. Quando ainda era outono e as folhas vermelhas caiam sobre a água cristalina. Devo pensar enquanto tomo banho. Isso vai me ajudar a esfriar a cabeça. Entro debaixo do chuveiro e o abro. A água escorre pelos meus ombros nus e me faz tremer de frio. Lavo os meus cabelos e depois o meu corpo, isso dura uns cinco minutos até eu fechar o chuveiro. Enrolo-me na toalha e sigo em direção ao meu quarto. Abro meu armário e escolho uma roupa casual. Uma blusa branca, uma saia com flores azuis e por cima um cardigã rosa. Botas de neve marrons e gorro azul claro com uma flor branca. Pode não parecer adequado á ocasião, mas me sinto bem vestida assim. Para finalizar desço á mão pelos longos fios levemente dourados do meu cabelo fazendo uma trança. Finalmente, minha bolsa de couro rosa claro, com tudo o que preciso dentro. Celular, espelho, chaves do carro e batom rosa. Acho que estou pronta, pelos menos, me sinto pronta.


Ando em direção á porta sem saber o que me espera. Pego o meu carro e tento lembrar o caminho daquele lugar. Alguns erros á parte e, eu chego ao lugar. Procuro Cara por todos os lados, mas não a encontro. Ela deve estar escondida detrás de algumas dessas árvores. Consigo ver um corpo do outro lado do rio congelado. Tento aproximar e visão e identificá-lo. De início, penso que deve ser Cara tentando me fazer uma pegadinha mal sucedida. Mas é um corpo masculino robusto, com um casaco azul escuro com a gola vermelha e um gorro listrado. Eu já vi essas roupas em algum lugar. E não em qualquer lugar, mas sim, no meu sonho. É ele. Josh Carter. Penso em sair de fininho para que ele não me veja, mas é tarde demais. Eu viro de costas e ele assobia para mim. - Quem é você? – grita. Eu não respondo. É melhor ele não saber que sou eu. Sou apenas uma estranha que o rejeitou. - Venha aqui! – grita mais alto. Eu decido ir. Caminhar até ele não parece ser uma má ideia. Embora eu não saiba qual vai ser a sua reação, caminho com firmeza. Estou quase lá. Mais alguns passos e eu o vejo novamente. Pisar na neve não foi uma boa ideia. Minha bota escorrega no gelo derretido e quando eu penso que vou cair, os seus braços me seguram novamente, como quando caí da escada na casa da minha mãe. Seus braços estão firmes, como sempre.


Eu me levanto e limpo a neve da minha saia. Ele olha para mim desconfiado. - Chloe Marteen? – indaga, curioso. - Sim, sou eu. E você é o Josh Carter, não? – pergunto. - Sim. – diz. – Mas eu achei que você não quisesse me ver outra vez. E achei também que eu era o único dessa cidade que conhecia este lugar. - Achou errado. Duas vezes. – articulo. Ele olha fixamente para mim, como se eu fosse água no deserto. - Por que está aqui? – questiona. - Bem, minha amiga me mandou vir aqui, e então... - Não é isso. Achei que você estava no hospital. – ele me interrompe. - Sim. Eu sofri um acidente no mesmo dia em que você me convidou para o baile. – explico. Por um momento o assunto se esvai e começamos a trocar olhares. E então, eu quebro o silêncio. - Olha, eu preciso te contar uma coisa! – grito. – Eu tive sonhos com você. Nós éramos um casal feliz. Eu te amava tanto, e você me fazia feliz. Tínhamos tudo pra dar certo. Mas, o sonho terminou, eu acordei e tudo se acabou. Você não sabe a quão arrependida eu estou de não ter dito “sim” quando você me convidou para o baile. Foi mal. As lágrimas que saem dos meus olhos embaçam a minha visão. Eu o abraço, mas não é recíproco. Ele só me olha, com a boca aberta, sem palavras. Ele deve estar me achando esquisita e problemática. Eu dou de costas e saio do volta para o outro lado do rio, com todas as minhas esperanças despedaçadas de um final feliz. Não vou ter um “Para Sempre”. Sinto raiva dos meus pais por terem me contado todas aquelas histórias de fantasia em que tudo acaba bem.


Eu chego ao meio do gelo e então, ouço uma voz balbuciando alguma coisa. Depois de alguns segundo eu compreendo o que ele disse. E eu retiro tudo o que disse. O sorriso toma forma no meu rosto. - Juntos. – ele repete. Eu me viro de costas e corro em sua direção com os braços abertos. Quando chego perto dele, murmuro. - Para sempre! – falo ao seu ouvido. Eu o abraço. Isso significa que estamos Juntos Para Sempre, e não é nenhum anel ou simbolismo que pode representar isso. Ele me solta e diz: - Ainda é tarde demais para dizer sim para mim? - Nunca é tarde! – exclamo. Eu o beijo, e dessa vez, é de verdade.


Fim.


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