Cordas do Coração - Katie Ashley

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Às vezes, tenho uma sensação estranha sobre você. Principalmente quando você está perto de mim como agora. É como se eu tivesse uma corda amarrada aqui, sob a minha costela esquerda, onde está meu coração, firmemente atado a você em uma forma similar. Charlotte Bronte, Jane Eyre Nunca deixe uma pessoa puxar as cordas do seu coração, a menos que planejem amarrá-las permanentemente ao dela. Anônimo Há cordas no coração humano que é melhor não fazer vibrar. Charles Dickens


Dedicatória

Aos meus leitores, obrigada pelo amor ao Runaway Train. Vocês são demais!


Prólogo

ALLISON – Vá em frente, Allison – Mallory insistiu.

– Sim, faça isso agora! – Kim interveio quando me cutucou para seguir em frente. Voltei o olhar das portas de vidro do salão de baile para minhas duas melhores amigas. Os olhos brilhantes de ambas dançavam com uma mistura de animação e champanhe, que tínhamos escondido sorrateiramente quando os adultos não estavam olhando. Eu mesma havia entornado duas taças, e era exclusivamente o espumante que alimentava, naquele momento, minha coragem de aceitar o desafio delas. – Ele está sozinho, pela primeira vez, durante toda a noite. É o momento perfeito – disse Mallory. Mordendo o lábio inferior, eu vacilava indecisa em meus calcanhares, enquanto torcia as mãos. A agitação se enfureceu dentro de mim a respeito do meu potencial curso de ação. – Eu sei, mas... – Mas o quê? – Kim pressionou. – E se ele rir de mim? – Meus olhos se arregalaram de medo com os pensamentos selvagens galopando pela minha cabeça. – E se ele não fizer isso e, então, contar a Jake o que eu lhe perguntei? Mallory revirou os olhos verdes. – Pare de enrolar e vá logo! Kim assentiu. – Você vai se arrepender para sempre se não for. Levantei as mãos em derrota. – Beleza, tá bom. Vou fazer isso. – Agitei um dedo para elas. – Mas, se der terrivelmente errado, nunca falarei com qualquer uma de vocês de novo. Rindo, Mallory disse: – Sim, certo. Olhando por cima do meu ombro, procurei pela sala lotada de grupos de convidados da festa para os meus pais. O alívio me inundou quando os vi completamente ocupados. Embora intrigada sobre a


razão de meu irmão mais velho, Jake, estar diante deles encharcado até os ossos em seu terno com um sorriso tímido no rosto, consegui não deixar que a minha curiosidade levasse a melhor sobre mim, pela primeira vez. Em vez disso, concentrei-me na tarefa em questão. Minhas pernas bronzeadas por spray sob metros de cetim de meu vestido de debutante1 tremiam só de pensar no que estava para fazer. Respirei fundo algumas vezes para tentar acalmar os nervos. A última coisa de que eu precisava era desmaiar, com o vestido em volta da cabeça, e todos os meus amigos da escola presenciarem. Eu havia escolhido o lilás perfeito algumas semanas antes. Era exatamente como eu imaginava quando fiz os esboços do meu vestido dos sonhos. O corpete era incrustado com lantejoulas e contas prateadas, enquanto a parte inferior do vestido fluía para fora, fazendo-me parecer e me sentir como uma princesa da Disney. Tentei, ao máximo, eliminar as vozes da dúvida da minha cabeça. Em minhas pernas trêmulas, que me fizeram lembrar-me do novo potro da fazenda de Jake, obriguei-me a ir em frente e saí pela porta para o pátio. De pé, em frente à fonte espumante, estava o homem por quem eu estava apaixonada nos últimos três anos. Rhys McGowan, o baixista da banda mundialmente famosa, Runaway Train, e melhor amigo do meu irmão mais velho. Um homem que não tinha ideia de como eu realmente me sentia a respeito dele, porque ele apenas me via como a irmãzinha de Jake. Mas isso estava para mudar. Naquela noite, eu o faria ver muito mais. Por um momento, só pude olhar para suas costas largas, observando os movimentos dele enquanto fumava um cigarro. Por um instante, fui transportada de volta no tempo para a primeira vez que o encontrei. Minha irmã mais velha, Andrea, e eu tínhamos ido acampar por uma semana na fazenda de Jake. Na época, não sabia que ele tinha convidado seus novos colegas de banda para acompanhá-lo. Os caras estavam apenas começando, tocando aos fins de semana no pub da Eastman, no centro de Atlanta. Eu conhecia AJ porque ele era nosso vizinho de porta quando eu era pequena, mas os dois outros caras, Brayden e Rhys, eu nunca tinha visto antes. No momento em que Rhys se levantou da cadeira de sol e estendeu a mão para mim, me tornei um caso perdido. Gostei de cada detalhe dele, de seu modo de épocas passadas até os ondulados cabelos escuros e os olhos cor de chocolate. Ele era mais jovem do que os outros caras e, de alguma forma, isso o fazia parecer mais acessível ao meu eu adolescente. Mas meu amor foi selado no dia seguinte, quando ele se tornou meu verdadeiro cavaleiro de armadura brilhante. Enquanto nadava em cachoeiras nas terras de Jake, mergulhando fundo debaixo d’água, nadei até uma árvore caída em cujos galhos me enrosquei. Em pânico, eu me debatia para a esquerda e para a direita, mas não conseguia me soltar. De repente, os braços fortes de Rhys me puxaram e me livraram daquele emaranhado todo. Quando cheguei à superfície, estava tossindo e cuspindo entre lágrimas de medo. – Ei, pronto, não chore. Você está bem – ele disse, puxando-me contra seu peito nu. Eu me derreti contra ele. Mesmo depois que consegui respirar novamente, já sabendo que minha


vida não estava mais em perigo, não conseguia me afastar dele. Em vez disso, continuava tremendo por causa dos meus sentimentos crescentes, os quais Rhys confundia com tremor pelo meu quase afogamento. Quando ele começou a esfregar as mãos em círculos largos em minhas costas, suspirei de contentamento. Dei um pulo ao som de uma voz atrás de nós: – Que porra você acha que está fazendo? – Jake perguntou. A risada retumbou no peito de Rhys. – Calma, cara. Eu não estou me engraçando com sua irmãzinha. – Tá bom, mas é isso o que está parecendo para mim. Um gemido escapou dos meus lábios quando Rhys, com gentileza, afastou meus braços, liberandome de seu abraço. Ele, então, se virou para Jake. – Ela se enroscou naquela árvore caída e quase se afogou, seu cuzão. – Ele balançou a cabeça. – Não quero nem pensar no que teria acontecido se eu não a tivesse visto. Um arrepio percorreu Jake enquanto processava as palavras de Rhys. – Eu... eu não sabia. Sinto muito – desculpou-se enquanto avançava a passos largos pela água para vir até o meu lado. Ele passou os braços em volta de mim. – Oh, Allie-Bean, graças a Deus, você está bem. Não quero nem pensar em nada de ruim acontecer com você. – Mais uma vez, um arrepio percorreu seu corpo. Ele deu um terno beijo no topo da minha cabeça encharcada. – Está tudo bem. Estou bem – eu disse sem tirar os olhos de Rhys. Quando ele piscou para mim, meu coração acelerou e, mais uma vez, me vi lutando para respirar. – Sim, ela está bem. Ela é mais forte do que parece – ele comentou. – Venha. Vamos para dentro – Jake falou. – Não, eu quero ficar – insisti, incapaz de suportar a ideia de ser privada de um segundo que fosse de permanecer com Rhys, meu salvador. – Tem certeza? – perguntou Jake com a preocupação estampada nas sobrancelhas escuras. – Que merda, Jake, pare de ficar paparicando a garota. Ela disse que está bem – Rhys retrucou. – Tá bom. Mas tome cuidado, certo? – Jake pediu. Balancei a cabeça, assentindo. – Vou tomar. Prometo. Com um último olhar para mim, Jake nadou de volta para onde os outros estavam. Assim que Rhys se voltou para mim, a luz solar se refletiu nas gotas de água em seu rosto, dando-lhe um brilho quase angelical. Ele me ofereceu um sorriso radiante. – Cole em mim e vai ficar bem. Não vou deixar nada acontecer com você. – Obrigada – murmurei. Agora, três anos mais tarde, eu ainda amava Rhys com todo meu coração e minha alma. Claro, ele


realmente não sabia como eu me sentia a respeito dele. E não havia tempo como o presente para que esses sentimentos fossem conhecidos. – Oi, Rhys – falei. Ao som da minha voz, ele se virou. – E aí, Allie-Bean – ele disse, jogando o cigarro no chão. Enquanto apagava a bituca com a sola do sapato, enruguei o nariz tanto pelo cheiro da fumaça como por ele estar usando o velho apelido de Jake para mim. – O que você está fazendo aqui fora? Encolhi os ombros. – Eu poderia te perguntar a mesma coisa. – Bem, eu decidi fumar um cigarro depois de encontrar seu irmão e Abby nadando na fonte. Arregalei os olhos, surpresa. – É por isso que ele está todo molhado? Rhys riu. – Sim, é. Não tenho certeza de como ambos acabaram encharcados, mas tenho certeza de que há uma boa história sobre como isso aconteceu. – Ele piscou para mim. – Talvez até mesmo sórdida. Um rubor quente invadiu meu rosto pelas suas palavras e seus gestos. Em função dos olhares afogueados que Jake vinha dando para sua nova namorada a noite toda, eu poderia imaginar que definitivamente havia algo sórdido por trás daquilo, porque eles acabaram na fonte. Mesmo assim, me sentia feliz em ver a maneira como ele a olhava, exalando amor nos olhos também. Como eu tinha um coração romântico, esperava que ele tivesse encontrado alguém com quem sossegar de vez. Mudando meu pé de apoio, limpei a garganta. – Eu só queria agradecer novamente por tocar na minha festa. Foi incrível. Rhys sorriu enquanto procurava algo no bolso. Depois de tirar dele uma lata de balas, jogou duas na boca. Quando me ofereceu uma, balancei a cabeça. – De nada – ele retrucou. Dando alguns passos hesitantes para mais perto dele, eu disse: – Parece que você está sempre fazendo coisas boas para mim. Quero dizer, você me salvou há alguns anos e agora está fazendo da minha festa de debutante algo de que todos vão falar segundafeira na escola. – Independentemente do fato de que Jake teria me matado se eu tivesse dito não à sua festa, estou feliz por fazê-la. – Ele segurou meu queixo. – Qualquer coisa para você, Allie-Bean. Seu simples toque fez meu coração bater loucamente no peito. Parecia tão alto em meus ouvidos que eu esperava que Rhys não fosse capaz de ouvi-lo acima do barulho da fonte. – Fico feliz de ouvir isso – sussurrei sem fôlego. – Tenho algo para você. – V-você tem?


Ele ergueu as sobrancelhas escuras para mim. – Você acha que eu viria tocar em sua festa de aniversário sem lhe trazer um presente? – Como presente, basta você ter vindo e tocado – retruquei. Ele enfiou a mão no bolso do terno de novo. Dessa vez, tirou uma pequena caixa de joia com um laço cor-de-rosa e a entregou para mim. – Feliz aniversário, Allie-Bean. Ah. Meu. Deus. Ele estava me dando uma joia? Com as mãos trêmulas, peguei a caixinha. Não sei como meus dedos puderam desfazer o laço, mas, quando consegui, eu o afastei e abri a tampa. Tirei o papel de seda e encontrei um pingente redondo em uma corrente de prata. Uma magnólia branca pintada à mão com folhas brilhantes de um verde vibrante adornava o pingente. – Nossa, é lindo. – Engoli em seco e o peguei. – Você gostou mesmo? – Rhys perguntou com a voz sem a confiança habitual. – Sim. Sim, é claro que gostei – respondi rapidamente, sem tirar os olhos do colar. – Quando o vi, pensei em você. A magnólia é um símbolo delicado e bonito do Sul, e você é uma menina bonita do Sul. – Eu sempre amei magnólias. Onde foi que você encontrou isto? – Foi minha irmã que fez. Bem, ela pintou. Virei os olhos para encontrar os dele. – Sua irmã? Nos três anos que eu conhecia Rhys, ele raramente tinha falado sobre sua família, muito menos mencionado uma irmã. Assim, eu presumi que fosse filho único. A expressão dele entristeceu enquanto esfregava furiosamente o pescoço com uma das mãos. – Sim, minha irmã mais nova, Ellie. Ela é muito talentosa quando se trata de pintura. – Então nós temos algo em comum – falei, pensando em como eu gostava de fazer desenhos e esboços. Meu sonho era, um dia, me tornar uma designer de moda e ter minha própria linha de roupas. – Sim, vocês duas são artistas – ele murmurou baixinho. Sentindo que era tudo o que eu conseguiria extrair dele, sorri e disse: – Por favor, agradeça a ela por mim e diga-lhe que faz um belo trabalho. Gratidão substituiu a tristeza no rosto de Rhys. – Vou dizer. Estendi para ele o colar. – Coloca em mim? Ele franziu a testa. – Mas não combina com seu vestido. – Não me importo. Quero usá-lo.


– Você quer mesmo usá-lo agora? – perguntou incrédulo. Havia algo tão cativante no quanto ele queria que o colar me agradasse que tive vontade de jogar os braços em volta do pescoço dele e sufocar seu rosto com beijos agradecidos. – Claro que sim. Acho que é o presente mais lindo que recebi esta noite. Quando ele pegou a corrente de mim, seus lábios se curvaram, como se estivesse sorrindo. – Acho que você está só brincando comigo. Balancei furiosamente a cabeça de um lado para o outro, tentando mostrar-lhe sinceridade. – Não, estou mesmo dizendo a verdade. – Virei-me e levantei a massa de cachos soltos de forma que ele pudesse colocar o colar em mim. Uma vez que ouvi o estalo do fecho, virei-me. – Obrigada, Rhys. Vou sempre pensar em você quando usá-lo. Ele abriu um sorriso sincero que derreteu meu coração. – Faça isso. – Enquanto eu, distraidamente, passava os dedos sobre a magnólia, Rhys perguntou: – Então, havia uma razão para você vir até aqui para me ver, Allie-Bean? Meus dedos congelaram e senti um fluxo de calor aquecer minhas bochechas. – Ah, hã, não importa. Não era importante. – Claro que era. Mordi o lábio inferior. – Eu só queria saber se você faria... – Engoli em seco, tentando reunir minhas forças. – Se eu faria o quê? – Rhys provocou. – Se me daria um beijo de aniversário – sussurrei. Quando um sorriso radiante iluminou seu rosto, senti como se eu pudesse entrar em combustão. – Bem, fico muito feliz em atender ao seu pedido, mocinha. Ele se inclinou e me deu um beijo carinhoso na bochecha. Não consegui esconder a decepção, e acho que ele percebeu quando se afastou. – Qual o problema? Não me diga que fiz tudo errado – ele brincou. – Não, você não fez. É só que... – Enquanto meu coração batia fora de controle, a voz em minha mente soou forte quando me incitou: Vá em frente, Allison. Você pode fazer isso. – Eu queria um beijo de verdade. O sorriso de Rhys desapareceu instantaneamente. Suas sobrancelhas se ergueram enquanto os olhos castanho-chocolate se arregalaram sem acreditar. – Você quer um beijo meu? Eu não podia acreditar que ainda estava de pé na frente dele, muito menos que balançava a cabeça. – Eu quero que meu primeiro beijo seja dado por você – escapou antes que eu pudesse me controlar. – Debutante e nunca foi beijada? – ele questionou quase incrédulo. Sua surpresa me causou tal constrangimento que minha face corou.


– Na verdade, não exatamente, não por alguém que eu realmente quisesse beijar. – E você quer me beijar? – Sim. Demais – sussurrei. Um ruído sufocado veio do fundo da garganta de Rhys. – Eu não posso acreditar nisso – ele murmurou. Olhei para meus saltos de prata que espreitavam para fora da bainha do vestido. – Sinto muito. Os dedos de Rhys seguraram meu queixo e levantaram meu olhar para o seu. – Não se desculpe, Allie-Bean. É que você representa um perigo para mim – ele argumentou. – Mas não é assim de verdade. – Ah, eu não tenho dúvida de que Jake e seus pais certamente vão discordar. Embora uma parte minha quisesse virar e correr, mantive a posição. Tinha chegado longe demais para desistir. – É apenas um beijo. Ninguém nunca vai ter que saber, só você e eu. Com um olhar irônico, ele disse: – E as suas duas amigas que praticamente têm o nariz grudado contra o vidro agora, nos observando. Eu me virei e olhei para Mallory e Kim. Com um movimento rápido do meu punho, elas imediatamente se afastaram da janela e, em seguida, desapareceram. – Desculpe por isso – murmurei. Quando me atrevi a olhar para Rhys, ele parecia viver uma guerra furiosa contra si mesmo. Dei um passo hesitante para frente, diminuindo o pequeno espaço entre nós. Com uma voz que quase não reconheci como minha, eu disse: – Faça desta a noite mais feliz da minha vida me beijando. – Mas e se Jake nos pegar ou ficar sabendo? – Rhys espiou ao redor do pátio, como se procurasse o olhar irado de Jake. – Por favor, Rhys. – Tá certo, tudo bem. – Quando ele teve certeza de que estávamos verdadeiramente sozinhos, segurou meu rosto entre as mãos. Eu respirei; meu batimento cardíaco, já descontrolado, se acelerou para um galope selvagem. Em um turbilhão de emoções, o pátio começou a girar em torno de mim. Quando a boca dele pairou sobre a minha, Rhys sussurrou: – Feliz aniversário, Allison. No instante em que sua boca tocou a minha, tremi da cabeça aos pés. Seus lábios eram tudo que eu sonhei que seriam: quentes, macios, dominantes, vorazes. Eu poderia ficar ali com as mãos de Rhys no meu rosto e seus lábios nos meus para o resto da vida. Embora tivesse preferido a sensação do escorregar de sua língua contra a minha, Rhys manteve o beijo incrivelmente casto. Quando se afastou, pisquei várias vezes antes que meus olhos pudessem voltar a focar. A surpresa


me inundou ao ver Rhys olhando-me com uma expressão quase estupefata no rosto, as sobrancelhas franzidas em confusão e ele parecendo incapaz de falar. Sua reação não foi nada do que eu esperava que fosse. – Eu... eu tenho que ir – ele murmurou antes de começar a se afastar. – Obrigada – falei. Ele não respondeu. Em vez disso, apenas continuou olhando-me como se estivesse me vendo pela primeira vez na vida. Eu nunca o tinha visto tão perdido e confuso. – Rhys? Ele chegou até a porta do salão de baile antes que finalmente se virasse. De costas para mim, estendeu a mão para a maçaneta da porta, com ela pairando ali por um momento, antes que olhasse para mim por cima do ombro. Seus olhos ainda mantinham o olhar selvagem e confuso do momento anterior. – De nada, Allison. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele mergulhou para dentro do salão. Sozinha, tentei classificar as emoções fora de controle que flutuavam em mim. Muito tempo depois que Rhys tinha desaparecido, eu ainda permanecia junto à fonte. Sabia que, no instante em que voltasse para minha festa, o momento estaria acabado – eu seria a Cinderela após o relógio ter batido meia-noite. Então, fiquei do lado de fora, passando os dedos sobre meus lábios beijados por Rhys. Quando pensava em sua reação, eu só podia esperar que ele tivesse sentido mais do que havia imaginado. Que, naquele momento, tivesse me visto como algo mais do que a irmã caçula de Jake. Como alguém com quem, um dia, ele poderia estar. No fundo, eu acreditava que algum dia estaríamos juntos. Todas as coisas que nos mantinham separados – a minha idade, o que os meus pais e Jake pensavam, o status dele de celebridade – não teriam mais importância. Independentemente do sofrimento que viria, um dia ele seria de fato meu.


Um

RHYS

QUATRO ANOS E MEIO DEPOIS O ônibus de turismo chacoalhou ao longo de um trecho de calçada irregular, arrancando de minha mente o sonho delicioso e ilícito de uma bela morena ainda que sem rosto. Embora o sonho tenha se desvanecido em farrapos nebulosos de imagens, eu nem sequer tive de mexer os quadris para perceber que estava com uma enorme ereção matinal. Com os olhos ainda fechados, apurei meu ouvido a fim de perceber os sons em minha volta. Normalmente, uma sessão matinal de punheta não seria um problema quando eu andava junto com Eli e Gabe no ônibus do Jacob’s Ladder – o atual oásis de solteiro que abrigava mulheres seminuas e bebida grátis. Mas eles tinham ficado para trás na noite anterior, em Nashville, em vez de nos seguir para Louisville, então tive de conseguir uma carona amigável no ônibus familiar de AJ e Mia, o que significava que poderia ser interrompido a qualquer momento por um bebê ou uma criança gritando. Bem quando pensei que seria seguro deixar minha mão seguir o curso pelo meu peito nu para debaixo das cobertas, uma vozinha gritou: – Titio Weese! E tive apenas um milésimo de segundo para reagir antes que a cortina para o meu dormitório, na verdade, um poleiro no ônibus, fosse aberta, e então a sonolenta e precoce filha de 3 anos de idade de AJ, Bella, invadisse meu mundo. De alguma forma, no meu estado nebuloso, tive a presença de espírito de juntar as cobertas na cintura para proteger os olhos inocentes dela do meu infeliz pau da manhã. Quando, relutantemente, abri os olhos, Bella pulou sobre mim. – Hunf, devagar, Bella – resmunguei. – Hora de acordar – ela ordenou, apoiando os cotovelos no colchão enquanto balançava as pernas para trás e para frente.


Gemi. Minha ideia de hora de levantar e a dela eram muito, muito diferentes. Claro, não havia nenhuma porra de uma maneira de eu ser capaz de me levantar na frente da menina. De cueca ou não, exigiria muita explicação, e ela era exatamente o tipo de garota curiosa que queria saber o que estava acontecendo abaixo da minha cintura. Trocando minha mão debaixo das cobertas, me encolhi enquanto me controlava para evitar que o lençol assumisse a forma de uma tenda. Inclinando a cabeça, os olhos escuros de Bella com curiosidade presumiram. – Você tem um dodói no seu pipi? Mas que foda. Era sério que aquilo estava acontecendo? Como diabos eu deveria responder àquela pergunta sem que resultasse em AJ me esganar? Silenciando por um momento, tentei encontrar uma maneira de trabalhar sua pergunta a meu favor. – Aham, sim, eu tenho. Dói muito também. Então é melhor eu ficar aqui mais um pouco e deixar ele melhorar. – Quando ela começou a engatinhar no meu beliche, balancei a cabeça. – Não, não espere por mim. Vá tomar seu café da manhã. Depois de um momento de contemplação, Bella perguntou: – Quer que a mamãe venha dar um beijinho para sarar? – Diabos, não! – gritei e coloquei o braço sobre os olhos para tentar afastar a imagem mental de Mia em qualquer lugar perto de meu pau. Claro, independente de Mia ser gostosa pra cacete, ela era a esposa de AJ, e mãe. Simplesmente, não se fantasia com uma garota quando, acidentalmente, já a flagrou amamentando. Em função de tanto o pai como a mãe terem boca suja como marinheiros, Bella nem sequer se preocupou em me repreender por amaldiçoar como Jude e Melody teriam feito. Em vez disso, ela franziu a testa. – Por que não? Quando eu tenho dodói, mamãe faz melhorar me dando um beijinho. – AJ! – gritei a plenos pulmões. Àquela altura, eu não me importava se havia acordado a bebê Gaby. Eu precisava dele para fazer Bella sair dali o mais rápido possível. Felizmente, ele apareceu quase que instantaneamente para me livrar do meu sofrimento. – O que está acontecendo? – perguntou. Abri a boca para explicar, mas Bella falou antes de mim: – Titio Weese se sente mal porque tem dodói no pipi. Por que você não dá um beijinho para ele ficar bom, papai? Os olhos escuros de AJ se arregalaram até parecerem pratos de jantar. Sua boca abriu e fechou algumas vezes, mas ele não conseguiu emitir quaisquer palavras. Finalmente, gaguejou: – N-Não, não vou beijar seu... pipi! – E então direcionou sua ira sobre mim. – Que diabos você está fazendo falando sobre o seu pipi com a minha filha? – perguntou. Levantei as mãos na defensiva, mas, em seguida, rapidamente, baixei uma ao perceber que


precisava mantê-la no cobertor. – Eu não falei nada disso; ela quem falou logo que me deu um flagra tentando esconder minha ereção matinal. Enrugando o nariz, o rosto de AJ se transformou em uma expressão de desgosto e raiva. – Jesus, cara, pode abaixar o tom? Você está no ônibus com meus filhos. Revirando os olhos, retruquei: – Como se eu tivesse qualquer controle sobre essa merda. Enquanto AJ abria a boca para discutir comigo, Bella puxou a mão dele, com os lábios virados para baixo em uma carranca. – Mas por que você não beija o pipi dele, papai? – Simplesmente porque não se beija pipis! Nunca! – Ele olhou sério para a filha. – Não é para fazer isso agora nem, principalmente, quando se é mais velho. Não consegui evitar o grunhido que escapou dos meus lábios: – Sim, certo, como você gostaria que Mia adotasse esse mantra – murmurei em voz baixa. Ele me lançou um olhar de morte enquanto Bella levantou as mãozinhas dramaticamente, lembrando muito sua mãe quando estava frustrada. – Bem, eu só estava tentando ajudar. – Assim que ela começou a sair pisando duro, AJ a pegou e começou a fazer cócegas nela, que se dissolveu em risos. – Pare, papai. – Não tão rápido, filhota. O que a mamãe e eu dissemos a você sobre respeitar a privacidade de outras pessoas quando estamos na estrada? Contorcendo-se nos braços de AJ, ela respondeu: – Que eu devo chamar ou bater e depois esperar que alguém saia. Não ir intando. – Ir entrando – AJ corrigiu. – Ceto – Bella respondeu solene. – Mas você esperou o tio Rhys sair da cama dele? – Fazendo o possível para evitar a questão, Bella olhou para o chão, como se fosse a coisa mais fascinante que ela já tinha visto. Então AJ fez o que eu gostava de dizer brincando que era sua severa “Cara de papai”. – Isabella Sofia, responda para mim. – Não – ela respondeu suavemente, o olhar indo do chão ao meu. – Eu só queria ver titio Weese – ela continuou com o lábio inferior tremendo. Quase instantaneamente, aquele pontinho muitas vezes adormecido dentro de mim doeu ante o pequenino rosto triste de Bella. Entre todos os caras do Runaway Train, eu era, provavelmente, o menos afeito a crianças. Mas, então, havia momentos em que os filhos dos meus companheiros de banda me conquistavam. E eu vivia um desses momentos. Colocando as pernas para o lado de fora da cama, sentei-me. Após me assegurar de que o lençol ainda estava me cobrindo de forma adequada, disse:


– Está tudo bem, Bella. Não chore. Quando ela começou a fungar, fiz uma careta. Droga, não havia nada que eu odiasse mais do que quando crianças recorriam ao choro. Ver Bella chorar era pura agonia. – Dicupa, titio Weese. Não fica com raiva de mim – disse ela, esfregando as lágrimas dos olhos. Inclinando-me para frente, afaguei sua perna. – Ora, eu não estou bravo com você, querida. Só não faça mais isso, ok? – Pometo. AJ alternou seu olhar entre mim e sua filha, e então sua expressão se suavizou. Ele beijou o topo da cabeça de Bella. – Tudo bem, vá em frente e tome o seu café da manhã. Bella deu um beijo estalado no rosto de AJ antes de ele colocá-la no chão. Enquanto ia pelo corredor, ela perguntou a plenos pulmões: – Mamãe, o que é ejeção matinal? Ao som do grito de horror de Mia, AJ gemeu e esfregou a mão sobre o rosto. – Talvez trazer Mia e as meninas na turnê não tenha sido a melhor ideia do mundo. Eu ri. – Acho que estava indo tudo bem até que Bella alcançou domínio da compreensão e da fala. Ele balançou a cabeça tristemente. – E não há como enganá-la. Ela pega tudo o que é dito. Estou surpreso de ela não estar pedindo para Mia beijar o meu pipi. – Dê-lhe tempo. – Ugh. – AJ! – Mia chamou. – Acho que é hora de encarar a música – ele murmurou. – Estarei lá em poucos minutos para dar a Mia minhas desculpas. Vou seguir em frente e tomar um banho. Vamos fazer o primeiro ensaio, certo? – Sim, está certo. Enquanto AJ marchava pelo corredor para tentar explicar a Mia por que sua filha precisava de esclarecimento sobre ereção matinal, entrei no banheiro para um banho rápido e para me barbear. Assim que terminei, vesti um jeans surrado e uma camiseta. Saí do banheiro apertado e cheio de vapor para encontrar AJ sentado à mesa com Bella. Mia estava no fogão com Gaby apoiado em seu quadril. Olhando para eles, vi que pareciam, em cada detalhe, a imagem da família perfeita. Era difícil acreditar que estavam em um ônibus de turismo vivendo uma vida nômade por nove meses do ano. Mia não tinha incorporado a ideia de que poderia fazer uma turnê com duas crianças, mas as outras esposas do Runaway Train, Abby e Lily, a tinham convencido e prometeram que, com Allison, a irmã caçula de Jake viajando junto, ela teria muita ajuda.


Só de pensar em Allison, senti um ardor violento rasgando meu peito como um rastilho de pólvora fora de controle. Balançando a cabeça, tentei afastar os sentimentos que estava vivenciando. Mascarando minhas emoções com um sorriso, falei: – Bom dia. – Bom dia – Mia respondeu. Em seguida, entrei na cozinha para um muito necessário café, inclinei-me e dei um beijo em uma das bochechas rechonchudas de Gaby, com 11 meses de idade. Ela sorriu e bateu as pernas, parecendo cada vez mais com uma pequena Bella. Em voz baixa, disse a Mia: – Desculpe por Bella me ouvir dizer ereção matinal. Ela revirou os olhos. – Tudo bem. Já estou me resignando com o fato de que minhas filhas terão as bocas mais sujas na escola. – Inclinando a cabeça, acrescentou: – Talvez eu devesse pensar em ensino domiciliar, como a Lily faz. – Suponho que haja coisas piores na vida do que filhos de boca suja – brinquei. – Eu acho que sim. – Depois que me servi de uma xícara de café, Mia perguntou: – Quer algumas panquecas? – Claro; se você não se importar, eu adoraria. Ela sorriu. – Claro que não. Recostando-me contra o balcão, sorri de volta. – Eu sei que, como eu, você não é uma pessoa da manhã. Mia riu. – Isso é verdade mesmo. Confie em mim, se você tivesse me dito há três anos que eu gostaria de preparar café da manhã, ou todas as refeições, em uma apertada cozinha de um ônibus de turnê, eu teria pensado que você estaria louco de pedra. Mas aqui estou eu. – O amor te leva a fazer coisas loucas, não é? – perguntei. Uma expressão sonhadora surgiu em seu rosto quando ela olhou para onde Bella tinha subido no colo de AJ, formando um belo quadro juntos. – Sim, ele faz. Depois de resmungar com desdém, eu disse: – É exatamente por isso que planejo nunca me apaixonar. Mudando Gaby para o outro lado do quadril, Mia apontou o dedo em minha direção. – Ah, Rhys, eu mal posso esperar para ver o que acontecerá quando aquela mulher especial finalmente colocar as garras em você. Um sentimento estranho percorreu meu peito, fazendo-me esfregá-lo. Era quase o mesmo lugar


onde eu tinha sentido meu peito queimar mais cedo. – Que seja – murmurei, virando a cabeça para a mesa. – Espere, você poderia me fazer um grande favor? – Depende – respondi depois de tomar um gole de café escaldante. Ela me deu um tapa no braço, de brincadeira, antes de pegar um frasco no balcão. – Você pode levar este remédio de ouvido até o ônibus de Jake e Abby? Jules teve uma dor de ouvido chata, e o deles acabou esta manhã. – Você me dará uma porção extra de bacon crocante com as minhas panquecas quando eu voltar? – perguntei, oferecendo a Mia a minha melhor expressão de súplica. Ela riu. – Sim, darei. – Viu? Há outra razão para que eu nunca planeje me apaixonar. Com você, Abby e Lily, consigo ser perfeitamente mimado sem nenhum dos aborrecimentos de um relacionamento. Acenando com a espátula para mim, Mia disse: – Cuidado, senhor, ou você vai voltar para um cardápio sem bacon extra. Sorri para ela antes de trotar até o corredor. Enquanto descia as escadas do ônibus, não pude deixar de pensar em quanta coisa tinha mudado nos últimos anos para os meus companheiros de banda. Em outra época, Jake precisaria de mais preservativos ou lubrificantes, não de remédio para ouvido de bebê. Mas tudo isso mudou, uma vez que ele e AJ haviam se casado e tido filhos. Ultimamente, me sentia cada vez mais isolado no meio de meus irmãos. Eles eram todos maridos e pais de família agora, e isso era a última coisa que eu queria. Meus camaradas tiveram muita sorte no amor, mas eram os únicos relacionamentos positivos de casamento que eu já havia visto. Minha parte cínica pensava que tanto Jake como AJ ainda estavam na fase de lua de mel, casados apenas há um par de anos. Por meio de meus próprios pais e seus amigos, cresci vendo as terras emocionais devastadas, deixadas para trás, a partir de casamentos infelizes. Assisti a meu próprio pai se embaralhar com uma amante ou duas, enquanto ele e minha mãe ficavam presos em um relacionamento desprovido de respeito ou afeição mútua. Em seu mundo, o divórcio ainda era um pouco um estigma social, para não mencionar uma maneira de acabar com a fortuna da família. Afinal, acho que senti que não era um candidato para o amor. Ao contrário dos meus colegas, eu não tinha crescido em um lar amoroso com pais que me abraçassem e beijassem. Eu fui enviado para colégios internos, sendo criado pela minha babá, Trudie. Quando vivi um relacionamento ou dois, disse a temida palavra com “A” sem nunca tê-la realmente sentido. Só de conviver com as relações de meus companheiros de banda me mostrou que eu não tinha a mínima ideia do que era o amor romântico ou de como expressá-lo. Então, ali estava eu, meio que debatendo o novo mundo em que me encontrava. Claro, o Runaway


Train ainda percorria o país esgotando arenas e tocando ótimas músicas, mas isso simplesmente não era como tinha sido uma vez. A menos que eu voltasse para o ônibus do Jacob’s Ladder depois de um show, eu não ia encher a cara ou potencialmente pegar alguma groupie como costumava fazer no ônibus do Runaway Train. Fomos abençoados por nossa fama e celebridade terem crescido a ponto de todos termos nossos próprios ônibus agora. Claro, eu não me sentia exatamente como voando solo. Em vez disso, deixei os ônibus individuais para os meus companheiros de banda e suas famílias. O pior foi o fato de que AJ, Brayden e Jake estavam todos no meu pé para que eu sossegasse. Será que eu não poderia ficar solteiro o resto da vida? Acho que, aos 27 anos, eu deveria estar pensando em me casar, mas isso era realmente a última coisa em minha mente. Bem, pelo menos tinha sido até poucos meses atrás, quando minha vida foi totalmente abalada. Assim que atravessei o caminho passando pelo ônibus de Brayden, vi um dos nossos guarda-costas encostado contra a porta do ônibus de Jake. – Bom dia, Dustin – cumprimentei. Ele me olhou com uma expressão sonolenta. – Você acordou muito cedo esta manhã – comentou. – É que tenho um despertador chamado Bella. Ele riu enquanto abria a porta do ônibus de Jake. – Esses são o pior tipo. Eles não têm um botão de soneca. – Você tem toda razão. O som musical de um desenho animado me cumprimentou assim que comecei a subir os primeiros degraus do ônibus. Angel, a golden retriever de Jake e Abby, veio me saudar na escada com uma lambida na mão e um abanar de cauda. Um tagarelar de bebê veio da mesa da cozinha. Quando cheguei ao topo da escada, pude ver os bebês – Jax e Jules, de 5 meses de idade – sentados em suas cadeiras. – Ei, Abby, trouxe o remédio de ouvido de que você precisava. Mas não foi Abby que se levantou de uma cadeira. Em vez disso, ela estava vivendo e respirando a materialização do mais novo inferno em que me encontrava. Para dizer o mínimo, ela foi o fruto proibido que eu tinha ousado provar. Apenas a memória dela conjurou o mesmo incêndio furioso no meu peito como aconteceu antes. – Oh, ãh, olá, Allison. Eu não sei por que não tinha previsto aquilo. Quando saímos para a nova turnê, ela tinha vindo a bordo do ônibus de Jake e Abby, que insistiu em ser mãe em tempo integral; portanto, Allison estava sendo uma babá em tempo parcial para os gêmeos. Ela também estava usando a pausa de verão da faculdade para cumprir um estágio de prestígio na escola de design que cursava. Eu não podia


imaginar o quão estranho isso ia ser, uma vez que ela começou a trabalhar como nossa estilista para nos preparar para os shows. Allison me deu um tímido e contido sorriso. – Oi, Rhys. Abby está no banho, e Jake ainda está dormindo. Somos apenas eu e os gêmeos esta manhã. Balancei a cabeça enquanto me dava conta de que estávamos realmente sozinhos pela primeira vez desde que tudo havia dado tão terrivelmente errado. Desde aquele dia em Savannah, quando eu parti o coração dela, estávamos sempre cercados por Jake e Abby ou por meus outros companheiros de banda. Por um momento, tudo que pude fazer foi assimilar cada detalhe de seu cabelo escuro até a cintura, que estava puxado para trás em um rabo de cavalo, dos olhos castanhos quentes que olhavam interrogativamente para mim, do corpo alto e magro, com o qual aconteceu de eu estar muito bem familiarizado. Qualquer homem com olhos e um pau que funcionasse a teria achado linda e sexy demais. Mas eu não deveria olhá-la ou mesmo tocá-la, e porque eu o tinha feito, tudo estava tenso entre nós. Finalmente, voltei a mim para mostrar silenciosamente a caixa em minha mão. – Mia disse que Abby precisava disto. Allison deu um passo hesitante para frente. Quando ela pegou o frasco, nossas mãos se tocaram e, por mais clichê que possa parecer, senti um vigor dos meus dedos direto para o meu peito. Rapidamente, me afastei das mãos dela. A expressão de Allison se entristeceu com a minha reação. – Obrigada. Jules realmente precisa disto. – De nada – respondi. Fitei os gêmeos que estavam olhando para mim enquanto mordiam os próprios punhos. – Bem, é melhor eu ir, para que você possa voltar a alimentá-los. – Forcei um sorriso. – Não quero que eles comam as mãos ou qualquer coisa assim. Uma pequena risada escapou dos lábios de Allison após minha observação. E soou como música em meus ouvidos ouvi-la rindo de mim novamente. Durante as três semanas que havíamos compartilhado em Savannah, rimos bastante. Eu, certamente, senti falta disso. Para ser sincero comigo mesmo, eu senti falta dela. Afastei o pensamento da minha mente, virei-me e comecei a voltar para o corredor. Mas não demorei a estancar. Congelada, minha mente era um turbilhão de pensamentos. Eu tinha de fazer alguma coisa ou dizer alguma coisa. Não ia demorar muito e logo alguém notaria que ficávamos sem jeito quando estávamos no mesmo ambiente. Lentamente, me virei. O olhar de Allison estava fixo em mim enquanto ela mordia o lábio inferior nervosamente. Balancei a cabeça. – Olha, as coisas não podem continuar desse jeito entre nós. – Eu sei – ela murmurou.


– O passado é passado, e não podemos continuar deixando que nos atrapalhe no presente. – Eu, literalmente, fiz uma careta depois que as palavras saíram da minha boca. Não só elas eram um lugar-comum horrível, mas também fizeram a situação parecer simples demais, como se tudo o que foi dito e feito entre nós pudesse facilmente ser varrido para debaixo do tapete proverbial. – Eu sei que as coisas ficaram muito ruins entre nós quando deixei Savannah. Sinto muito por isso. Espero que você entenda que nunca iria magoá-la intencionalmente. Allison pareceu incapaz de falar, com o peito subindo e descendo apertado, mas ela, finalmente, balançou a cabeça. Depois de controlar minha respiração irregular, eu continuei: – Eu acho que a melhor coisa para nós seria esquecermos o que aconteceu e tentarmos seguir em frente. – Se você acha que isso é o melhor – Allison retrucou com a voz desprovida de emoção. – Eu acho. Realmente, é a única coisa que podemos fazer. Quando Allison fechou os olhos como se estivesse sofrendo, dei alguns passos hesitantes em direção a ela. Ao chegar mais perto, seus olhos se abriram, e ela se afastou de mim. Esfregando a nuca, suspirei frustrado. – Nós éramos amigos antes. Não podemos ser amigos de novo? – Claro que podemos – ela respondeu um pouco rápido demais. O brilho magoado nos olhos escuros traiu sua incerteza. Mas eu não tinha a intenção de discutir com Allison se ela estava mesmo que parcialmente concordando. Em vez disso, estiquei a mão. – Então, amigos de novo? Tentei ignorar como a mão dela tremia quando pegou na minha. – Sim, amigos. Naquele momento, a porta do banheiro se abriu. Eu puxei a mão de volta da de Allison enquanto Abby saiu de roupão e com uma toalha na cabeça. Seus olhos se arregalaram quando me viu e, em seguida, ela me deu um sorriso radiante. – Oi, Rhys. O que está fazendo acordado tão cedo? – Bella me acordou. Abby riu. – Ela é terrível, né? – É mesmo. Cruzando os braços sobre o peito, Abby perguntou: – Então você veio aqui para ver se eu estava cozinhando? Eu ri. – Não, não. Mia me pediu que trouxesse o remédio para Jules.


– Oh, obrigada, obrigada. Nós íamos ficar em apuros quando acabasse o efeito da última dose que eu dei a ela. – De nada. – Voltei meu olhar para Allison, que agora estava se ocupando em alimentar os gêmeos com algum tipo de cereal de arroz. – Então, vejo vocês mais tarde. – Tchau, Rhys – Abby disse, indo dar beijos nas bochechas dos gêmeos. Eu vislumbrei o olhar triste de Allison uma última vez antes de começar a descer do ônibus. Ele me disse tudo o que eu precisava saber, ou seja, que as palavras que ela havia acabado de dizer eram uma mentira total. No fundo, eu sabia que tinha sido assim para mim também. Mas que porra poderíamos fazer de diferente? Três meses atrás, uma perfeita tempestade destruíra tudo o que tínhamos sido uma vez um para o outro. Uma menina com saudade de casa e sozinha em Savannah, o mundo de perfeição e excessos de desamor de meus pais e uma garrafa de tequila prata tornaram-se os ingredientes que alimentaram a tempestade que mudou para sempre a nossa vida. E agora, como as cordas de um instrumento perfeitamente afinado que tinham se curvado sob a tensão, estávamos rompidos, se não arruinados.


Dois

ALLISON

TRÊS MESES ANTES Descansando encostada no corrimão de madeira da varanda charmosa da frente, lutei contra a vontade de chorar pela milionésima vez naquele dia. Mordiscando o lábio inferior, encolhi as pernas para descansar meu queixo nos joelhos. Em minha mão, estava o item que tinha provocado minhas emoções mais uma vez, meu celular. Exatamente quando estava tentando mergulhar na leitura sobre a vida de Coco Chanel, meu celular deu sinal de alerta de mensagem de texto. Para a maioria das pessoas, uma foto de gêmeos usando macacões esportivos iguais não seria motivo para ir às lagrimas. Mas, no meu caso, isso era apenas um símbolo tangível da saudade que me envolvia como um casaco pesado. Em seu chá de bebê, eu tinha dado à minha cunhada, Abby, um presente engraçado junto com os outros que havia comprado para minha sobrinha e meu sobrinho na época que estavam para nascer: dois macacõezinhos, um rosa e um azul, com os seguintes dizeres: Cuidado com a língua, imbecil. Eu sou um bebê! Eu mesma os havia bordado. Considerando a boca de Jake, juntamente com a de seus companheiros de banda, eu sabia que os gêmeos estariam expostos a uma infinidade de palavras de quatro letras. Abby havia gritado quando viu os macacões, e até mesmo Jake os achara engraçados. Eu já tinha esquecido os macacões até que veio a imagem via texto da minha sobrinha e do meu sobrinho de quase um mês de idade vestindo-os, com Jake fazendo sinal de positivo com os dois polegares sobre a cabeça dos bebês. Imediatamente, uma ardência angustiante atravessou meu peito e senti uma vontade enorme de estar de volta em casa, onde poderia abraçá-los. Embora a minha irmã mais velha, Andrea, tivesse se casado há dois anos, ela ainda não tinha filhos, então Jax e Jules foram meus primeiros sobrinhos. Não era só o fato de eu amar bebês e crianças que me fazia querer ficar perto deles, mas também por ser muito chegada à minha família, especialmente Jake; eu precisava estar com eles.


Por isso, não ajudava em nada estar a quase quinhentos quilômetros de distância, em Savannah. Portanto, estava muito longe dos gêmeos e do resto da minha família, dos meus amigos e de tudo o que eu amava no mundo. Eu tinha decidido que, em vez de estudar na unidade de Atlanta da Faculdade de Arte e Design de Savannah, precisava ficar a quatro horas de casa para ter liberdade e independência. Com dez e doze anos entre mim e meus dois meios-irmãos, eu tinha crescido muito mimada, não só pelos meus pais, mas por Jake e Andrea. O mundo em que vivi fora quase um casulo de segurança e conforto por quase vinte e um anos. Havia uma parte minha verdadeiramente madura e desenvolvida como pessoa, e eu precisava cortar as cordas amarradas com tanta força pelos meus pais. Eu precisava de experiências de vida fora do subúrbio confortável em que cresci. Agora, olhando para trás, eu fora absolutamente delirante. Praticamente no momento em que a SUV dos meus pais, junto com um trailer de mudança, deixou a garagem da minha nova casa, percebi que tinha cometido um erro enorme. Agora, dois meses depois, minha tristeza ainda não havia se dissipado. É claro que também não ajudou eu estar lambendo as feridas resultantes de um rompimento com o meu namorado de seis meses justo antes de sair de casa. Então, eu estava em uma cidade estranha, sem meus amigos, sem minha família e sem meu namorado. Mais do que qualquer coisa no mundo, desejava voltar para casa, onde tudo era familiar e confortável. Afinal, acho que se poderia dizer que eu não era grande fã de mudanças. Um monte de gente na minha situação teria apenas aceitado a derrota, jogado a toalha e voltado para casa com o rabo entre as pernas. Mas eu não era esse tipo de pessoa. Tenacidade residia no meu DNA, e estava determinada a cursar a faculdade, pelo menos naquele semestre todo. E, então, e só então, permiti-me embrulhar tudo, e mudar de volta para casa e fazer minha transferência para a unidade de Atlanta da faculdade. No entanto, a imagem de Jax e Jules havia testado a minha determinação em como ver as coisas. Eles estavam crescendo tão rápido. Eu tinha voado até lá no fim de semana seguinte ao que eles nasceram, mas, como Jules estava na UTI, nem sequer cheguei a vê-la muito bem. Agora que eles tinham sido liberados do hospital, eu queria uma oportunidade para abraçar os dois. Sabendo que Abby estava à espera de uma resposta, rapidamente mandei uma mensagem: “OMG, J & J são tão lindos. Daria qualquer coisa para os estar segurando.” Sua resposta veio em seguida: “No próximo fim de semana que você estiver livre, Jake & eu queremos que voe até aqui para vêlos.” Um grito estrangulado veio de minha garganta quando li o texto. Com as mãos trêmulas, comecei a digitar mensagens de volta com os meus agradecimentos. Eu queria não ter de trabalhar no dia seguinte para que pudesse realmente fugir. Abby prometeu fazer uma chamada via vídeo comigo e com os gêmeos em breve. Eu me sentia muito grata por Jake ter se casado com uma mulher tão doce e carinhosa que me aceitou como a irmã que nunca tivera, e isso significava muito.


Algum tempo depois de Abby ter mandado uma mensagem final, “Vejo você em breve!”, não consegui mais me concentrar na leitura. Em vez disso, sentei-me com a cabeça nas mãos, lutando contra a vontade de chorar. Quando pensei que as coisas não poderiam ficar piores, três pequenas palavras fizeram todo o meu mundo inclinar-se e girar. – Olá, Allie-Bean. Sacudindo a cabeça, olhei para baixo da varanda, para o topo da escada onde ele estava. – R-Rhys? – gaguejei. Ele sorriu. – Sim, sou eu. – Mas o que você está... – Na pressa para vê-lo, tentei deslizar para fora do corrimão. Em vez disso, em uma trapalhada total comigo mesma, enrosquei as pernas e caí para o lado, felizmente, nos arbustos que acompanhavam a varanda. – Hum – murmurei enquanto tentava me agarrar de alguma maneira para sair dos arbustos que arranhavam meus braços nus. – Espere. Vou ajudá-la – disse Rhys, inclinando-se sobre o corrimão. A última coisa no mundo que eu queria era que ele me ajudasse a sair daquela situação humilhante, mas, quando percebi que estava chegando rapidamente a lugar nenhum, cedi. Segurei suas mãos e deixei que sua força me puxasse por cima do corrimão. Uma vez que meus pés estavam de volta em chão firme, me recompus, ajeitando meu top e a calça jeans. Quando acreditei estar completamente recomposta, olhei para Rhys. – Obrigada. – Você não tem nada a agradecer. Não é todo dia que tenho a oportunidade de salvar uma donzela em perigo. Eu ri. – Você parece estar me salvando mais vezes do que gostaria de admitir. Um sorriso genuíno se abriu no rosto de Rhys. Eu sabia que, como eu, ele estava se lembrando daquele primeiro fim de semana que havíamos passado juntos. – Pelo menos esses arbustos parecem um pouco menos perigosos do que aquela árvore caída. – Isso é verdade. – Rhys riu por um momento, o que me fez lançar a ele um olhar perplexo. – Sinto muito. Eu só estou lembrando uma situação com arbusto do Monty Python. – Monty Python? Seus olhos se arregalaram quando ele levantou a mão. – Não me diga que você nunca viu Monty Python: em busca do cálice sagrado?– Quando balancei a cabeça, ele estalou a língua para mim em reprovação. – Vamos ter que remediar isso o mais rapidamente possível. Você não pode passar a vida sem meu insolente humor sarcástico. Sorri, despertando o entusiasmo de Rhys. – Parece bom para mim.


Passando as mãos pelos quadris, ele perguntou: – Então, como você está, Allie-Bean? A minha resposta à sua pergunta muito geral foi explodir em lágrimas. Detestei perder o controle de minhas emoções, mas o próprio fato de ele estar em pé diante de mim, para não mencionar ter parcialmente me resgatado, foi demais. Independentemente de outros namorados ao longo dos anos, eu nunca havia deixado de amar Rhys. Ele era o homem ideal que nenhum outro cara jamais poderia vir a ser. Ele era o sonho que eu esperava um dia se tornar realidade. Embora a imagem de Rhys estivesse desfocada, eu podia perceber a sua expressão preocupada. Meu Senhor, será possível que eu faça alguma coisa mais humilhante na frente dele? Limpando as lágrimas, eu disse: – Sinto muito. – Quer que eu vá embora? – Não! – gritei um pouco rápido demais. Ao ver suas sobrancelhas levantadas, tentei recuar. – Sinto muito por descarregar em você. Estou tendo um dia difícil. – Depois de um riso sem alegria, acrescentei: – Na verdade, estou assim já faz dois meses. – Jake mencionou que você estava um pouco saudosa de casa. – Ele disse? – Imediatamente meu coração pesou sobre meu estômago. Claro que Rhys não tinha vindo me ver por sua própria vontade. Teria sido demais esperar isso. Ele havia sido coagido pelo meu bem-intencionado irmão, o que esmagou as minhas esperanças e os meus sonhos. – Sim, ele me pediu para ver como você estava quando eu chegasse a Savannah. – E quando você chegou à cidade? – Agora de manhã. – E você veio tão rápido? – Não pude evitar perguntar, enquanto tentava não deixar meu coração traiçoeiro animar-se muito. Rhys sorriu. – Claro que sim. Jake é minha família, e isso significa que você é minha família também. – Ele acariciou meu rosto. – Verdade seja dita, eu não podia suportar a ideia de você com saudades de casa e triste. – Isso é tão doce – murmurei. Inclinando a cabeça, Rhys disse: – Bem, não seria muito cavalheiresco de minha parte dizer que você é uma boa desculpa para eu sair de casa e ficar bem longe da minha família fodida, certo? – Só um pouco. – Então acho que a crise de choro não me diz tudo o que preciso saber sobre como você está indo? Eu suspirei. – Sim, é isso mesmo.


Mexendo em seu colarinho, Rhys falou: – Jake também disse que você iria ter um chilique. Coloquei as mãos no quadril. – Teve alguma coisa que Jake não lhe disse? – Ele só comentou que você estava com saudade de casa, além do fato de seu namorado ter terminado com você porque não queria encarar a longa distância. Com uma risada, respondi: – Não querer encarar a longa distância foi o que eu disse aos meus pais e a Jake. Havia mais coisa na história. – Ah, é? – Já que você é o senhor inquiridor hoje, vou lhe dar o quadro completo. Aí então você poderá decidir se vai fazer o relato com todos os detalhes para Jake. Rhys riu. – Tudo bem, senhorita Atrevida, manda ver. – Mitchell não achava que a nossa vida sexual era ousada o suficiente, então ele queria que eu começasse a frequentar o clube privado de sexo do qual o pai dele fazia parte. A pele normalmente bronzeada de Rhys empalideceu, e ele cambaleou para trás. – Mas que porra! Eu não precisava saber disso. – Bem, essa é a verdade sobre o que aconteceu. Nós, na verdade, rompemos algumas semanas antes de eu vir, mas achei que meus pais lidariam melhor com essa história. Quero dizer, se Jake descobrisse, Mitchell, provavelmente, não precisaria mais se preocupar com sua vida sexual porque Jake iria deixá-lo sem pau. Depois de me olhar incrédulo por um momento, Rhys finalmente jogou a cabeça para trás e uivou de tanto rir. – Sim, você escolheu a história certa. É claro que estou tentado a encontrar este idiota eu mesmo. Quem diabos ele pensa que é tentando corromper você assim? Ele devia estar feliz por uma menina bonita querer desperdiçar seu tempo com ele. Meu coração bateu descontroladamente como uma britadeira no meu peito com tais palavras. – Obrigada. Ele realmente era um cara decente. Eu só não sabia que havia todas essas coisas decadentes sob a superfície. – Não deixe que um filho da puta desses abata você. Você é melhor que isso. – Isso é muito gentil, Rhys. Obrigada. – E agora eu acho que é hora de uma mudança na conversa. De alguma forma, sinto que caí na zona de perigo, como em Além da imaginação, por estar aqui falando de sexo com você. Com uma careta, rebati: – Eu estou com quase 21 anos, Rhys. Não sou mais um bebê. – Tenho certeza de que o tom


petulante que assumi não ajudou em nada a minha argumentação. Só faltava bater meu pé para ficar parecendo uma criança birrenta. – Ok, tá bom, você não é um bebê. Isso ficou muito claro para mim hoje – ele comentou com um sorriso. – Muito bom. Agora nós podemos, oficialmente, mudar de assunto. Rhys olhou ao redor da varanda. – Então, este lugar é realmente muito agradável. Eu esperava que você estivesse em alguns desses quartos de hotel convertidos em dormitórios ou qualquer outra casa de merda para estudantes universitários. Eu ri. – Tive sorte de encontrar este lugar em um anúncio. – Você está me gozando? Balançando a cabeça, respondi: – É sério mesmo. Claro, depois que conheci a proprietária, Cassie, não me surpreendi por ela ter descrito o quarto como o fez. Levantando as sobrancelhas, Rhys perguntou: – Ela é uma mulher velha e excêntrica com uma casa cheia de gatos? Eu sorri. – Na verdade, ela tem 25 anos e aluga quatro dos cinco quartos. – Legal. – Foi muito mais fácil vender a ideia de eu viver aqui do que em alguns dos dormitórios da faculdade, principalmente por eu ter morado em casa nos últimos dois anos em viagens constantes para o estado da Geórgia. Com uma piscadela que fez o meu pobre coração palpitar e ficar confuso de novo, Rhys disse: – Eles queriam manter seu anjinho longe de tentação e problema uma vez que ela foi para longe de casa pela primeira vez. – Tipo isso. Quando Rhys se aproximou, um olhar travesso brilhou em seus olhos. – Diga-me, Allie-Bean, em quantos problemas você se meteu? Prometo que vai ficar entre mim e você. – Ah, tá, como se eu pudesse ter algum – retruquei. – Palavra de escoteiro – ele disse, fazendo a saudação de três dedos. Com um suspiro, encostei-me para trás contra o corrimão. – A verdade é realmente pior do que qualquer mentira que eu pudesse inventar. – Sério? Confirmei com um gesto de cabeça.


– Eu não vou a lugar nenhum, além de escola e trabalho. – Ah, mas você poderia estar escondendo a verdade sobre que tipo de trabalho faz. Estudantes de arte fazem todos os tipos de trabalhos decadentes e eróticos. Como modelagem de nu, por exemplo. – E-eu não p-penso assim! – gaguejei com meu rosto inundado de calor. Rhys riu do meu constrangimento. – Então, qual é o seu inocente lugar de trabalho? – O mesmo lugar onde eu trabalhava em Atlanta, o Mellow Mushroom. Eles só me deram um lugar na Rua Liberty – respondi. – Você trabalha no Pênis Pizza? – ele perguntou com uma voz divertida. – O quê? Rhys sorriu. – Me desculpe. É o nome que eu e os caras usávamos quando vivíamos em Atlanta. Revirei os olhos. – Por que não estou surpresa com isso? – Ah, vá! Qualquer um diria que a decoração lembra a cabeça de um cogumelo sorridente. Segurando minha mão, eu disse: – Não precisa explicar. Prometo que entendo a comparação. Ainda com um sorriso brincando em seus lábios, Rhys comentou: – Você sabe que uma coisa que amo em você, Allison, é que não sinto a necessidade de me autocensurar; ainda que seja a irmã caçula de Jake e eu tenha, provavelmente, que tomar cuidado, posso ser exatamente como sou. – Não estou certa de isso ser uma coisa boa ou não. – É uma coisa boa. Tenho certeza. É raro eu estar aqui em Savannah, isso é certeza. – Aceito suas palavras. – Então, por que não saímos daqui por algum tempo? – É sério? Ele concordou. – Você mesma disse que não conseguiu ver muito de Savannah. – É verdade. Abrindo os braços, ele disse: – Então me deixe te mostrar tudo que minha cidade natal tem a oferecer. – Beleza, claro. Por que não? Vou apenas guardar meu livro e pegar minhas chaves. Sempre um cavalheiro, Rhys se curvou e pegou a biografia de Chanel que havia caído no chão com meu tombo. – Obrigada – agradeci quando ele me entregou o livro. – Por nada, Allie-Bean. – Quando estava quase entrando na casa, ele agarrou meu braço. – Você se


importa se eu espiar aí dentro? – Claro que não. Foi meio grosseiro não te convidar para entrar. – Não se preocupe em fazer cerimônia comigo, Allison. Sorri e segurei a porta aberta para ele. Vi que Rhys ficou impressionado quando entrou no hall. Tenho certeza de que a casa era pouco em comparação com a mansão onde ele havia crescido, ainda que fosse imponente e antiga, do tipo famoso em Savannah. – Este lugar é imenso por dentro – ele comentou. – É, sim, e no meu quarto ainda há uma sala de estar. Ele só se parece com os dormitórios da faculdade pelo fato de eu ter que dividir o banheiro com uma das garotas. – Após jogar meu livro sob uma das principais mesas de mármore da sala de estar, peguei a bolsa e coloquei-a no ombro. – Estou pronta. Rhys girou a cabeça, esticando-a até a escada, e olhou-me com curiosidade. – Não consigo ver seu quarto – ele disse, fazendo meu estômago sacudir com a potencial insinuação. Abaixando a cabeça, comentei: – Oh, eu, bem, é tipo meio confuso mesmo. – Tá tudo bem. Você poderá limpá-lo antes que eu volte aqui. – Voltar? – questionei sem convicção, erguendo o queixo para encontrar o olhar de Rhys. Então, isso não era mais somente o tempo de me observar a pedido de Jake? Ele queria de fato passar mais tempo comigo? Ah, que grande notícia de última hora. – Sim. Pensei que você pudesse sediar nossa noite do filme do Monty Python. Como um ansioso filhote de cachorro, rapidamente respondi: – Ah, é claro que farei isso. Ele sorriu. – Muito bom. Então, está tudo acertado. – Acertado? – repeti. – Vamos. Depois de fechar a porta da frente, segui Rhys pelos degraus da varanda e pela calçada ao longo da avenida Oglethorpe. – Você não foi mesmo capaz de explorar a cidade enquanto estava aqui? Balancei a cabeça. – Entre trabalho e escola, passo meu tempo ocioso sendo emo e ficando trancada no quarto. – Um riso borbulhou dos meus lábios ao ver a expressão quase horrorizada de Rhys. – Só estou brincando sobre ficar fechada no quarto. – Espero que sim. – A verdade é que ando bastante ocupada. Estou me candidatando a uma vaga para um estágio de


verão em design de moda. – Que legal para você. E o que isso implica? Rindo, respondi: – O que implica? Não acho que já te ouvi falar com tanta propriedade como ouvi nos últimos dez minutos. Rhys franziu a testa. – É um perigo voltar para casa e ficar cercado por aqueles babacas pomposos. Em geral, após voltar à estrada com os caras, demoro umas semanas para eliminar isso do meu sistema. – Gosto disso. Não há nada de errado em um vocabulário amplo. Erguendo as sobrancelhas para mim, ele perguntou: – Você está tentando dizer que usar palavras difíceis é sexy? – Uhum. Muito. – Então terei de continuar dando a você um ilustre repertório letrado, hein? – Ooh, gosto muito disso. – Essas palavras foram certamente um eufemismo, ou seja, Rhys queria que eu o achasse sexy? Ele não quis saber se outras garotas julgavam isso sexy. Apenas eu. Chameme de louca por eu estar, provavelmente, dando muito significado a isso, mas não conseguia evitar. Gostaria de aproveitar qualquer coisa que recebesse. Rhys sorriu e balançou a cabeça para mim. – Então, sobre o que é esse estágio de verão? Uma parte minha relutava em falar sobre o assunto, porque não queria azarar tudo. Conseguir crédito universitário completo para o que eu desejava fazer era bom demais para ser verdade. Porém, a expressão interessada de Rhys me fez esquecer minha decisão. – Seriam a concepção e a execução de uma coleção minha. – Isso soa intenso. – E é mesmo. Gostaria de receber o crédito não apenas para este verão, mas isso tomaria o lugar de vários outros cursos de design de moda. – Pra quem você trabalharia? Era o momento de revelar tudo. Mordiscando meu lábio inferior, respondi: – Runaway Train. – Como? – ele perguntou, a expressão revelando perplexidade. – Eu faria a concepção e a fabricação do vestuário para o Runaway Train e o Jacob’s Ladder. E também gostaria de colocar a mão na massa com a estilista atual. – Isso significa que estaria em turnê com a gente? – Sim, isso mesmo. Era difícil de entender a expressão de Rhys, parecendo que muitas emoções diferentes se filtravam por ele. Quando ele sorriu, suspirei aliviada.


– Isso soa como uma oportunidade maravilhosa, Allison. – Acha mesmo? – Claro. Quero dizer que uma coisa é começar a sair em turnê e trabalhar logo de cara com um verdadeiro e experiente designer e estilista, e outra coisa é você, na sua idade, criar sua própria coleção. Isso é impressionante. – Você fala como se tudo já fosse um negócio feito, que eu já conquistei. Não saberei por mais algumas semanas se serei ou não aceita. Afinal, há uma tonelada de candidatos. Balançando a cabeça, Rhys disse: – Não tenho dúvida alguma de que você vai conseguir. – Mas como você sabe se sou mesmo boa no ramo de design de moda? – Não tenho de saber o quanto você é boa no que faz. Eu sei que você é, e isso me basta pra dizer que é uma candidata no topo da lista. Foi inevitável que me sentisse muito lisonjeada pelo elogio a mim e as minhas habilidades. – Obrigada por acreditar em mim. – Não precisa me agradecer, Allie-Bean. – Ele inclinou a cabeça para mim. – Você já está preparada para nossa turnê? – Tão preparada como sempre estive – respondi, sorrindo. Após virar à esquerda, Rhys fez um sinal para uma mansão imponente. – Sabe o que é isso? Eu assenti. – A Juliette Gordon Low House2; a fundadora do Girl Scouts morava lá. Ele sorriu. – Vê só? Você não está totalmente perdida sobre a cultura e os pontos de referência em Savannah. – Mas nunca entrei lá. – Inclinando a cabeça, perguntei-lhe: – Quer ser meu guia turístico? – Eu adoraria. – Em seguida, espiando a placa que indicava os horários para os turistas e baixando os olhos em direção a seu caro relógio, Rhys fez uma careta. – Infelizmente, são quatro horas e estão encerrando as visitas. – Então, com um sorriso reluzente, ele continuou: – Eu poderia tentar usar meu status VIP, mas não tenho certeza de quantos guias turísticos de fato me conhecem. – Estou certa de que muitas Girl Scouts o conhecem. O público do Runaway Train é muito grande nessa faixa etária. – Talvez. – Bem, foi pro beleléu nosso tour. Isso significa que você terá de me trazer de volta outro dia, hein? – provoquei. Revirando os olhos, ele retrucou: – Você age como se fosse um sofrimento para mim passar o tempo com você. Não é o caso. – Não mesmo? – perguntei com as batidas do coração aceleradas.


– Claro que não. E mais, eu amo história. Conforme eu me esquivava de algumas Girl Scouts que saíam da loja de lembranças do museu, olhava Rhys com curiosidade. – Eu nunca te classificaria como um fã de história. Ele riu enquanto enfiava as mãos nos bolsos do jeans. – Na verdade, tenho absoluta certeza de que eu era mais um nerd da história. Acabei rindo com o pensamento absurdo de Rhys ser um nerd. Claro que, pelo jeito formal e correto de ele se manifestar aquela tarde, até poderia ser um, mas, simultaneamente, eu havia passado muito tempo à toa ao lado de Rhys, e ele se mostrava a coisa mais distante de um nerd. E isso não era somente minha paixão falando. – Você pode até rir, mas, sério, eu tenho evidências fotográficas de minha nerdice – Rhys argumentou. – Acho muito difícil de acreditar, considerando quem você é agora, que pertenceu, ainda que remotamente, à categoria dos nerds. Rhys fez um som de reprovação conforme conferia a esquerda e a direita do tráfego. – Vou me vangloriar muito maldosamente quando te mostrar as fotos e te dizer: “Bem que te avisei”. – Ah, isso nós vamos ver. Então, em seguida, entramos em uma praça das muitas de Savannah, a Wright Square, conforme Rhys rapidamente me informou, arrastando-me até uma pedra gigante situada no lado direito da praça. – Esta é a pedra dedicada a Tomochichi. Em 1733, quando os colonos ingleses chegaram a Savannah, ele era o chefe Yamacraw que lhes deu assistência. Ergueram a pedra mais de cento e cinquenta anos depois de sua morte. Enquanto Rhys continuava tagarelando sobre Tomochichi, eu tentava simular interesse, quando, francamente, aquilo não me interessava em nada. Assim que ele finalmente terminou, levantei a cabeça e sorri. – Ooh, que conversa mais nerd – provoquei. Ele riu da brincadeira, cutucando-me com o ombro. – Boba. – Apalpando a pedra, ele continuou: – E se eu lhe contasse que a pedra tinha algumas qualidades místicas? – Sério mesmo? Ele assentiu. – A lenda diz que, se você circula a pedra três vezes, sempre dizendo “Tomochichi”, o que deseja virará realidade. Levando minha mão ao quadril, olhei Rhys com desconfiança.


– Isso soa como um monte de besteira, parecido com um distorcido “desejo a uma estrela”. Rhys encolheu os ombros. – Pode ou não ser. Mas não vale a pena a tentativa de ter um desejo tornando-se realidade? Dei uma olhada nele e então para a pedra, não acreditando realmente que, aos 20 anos, eu levaria uma superstição a sério. Enquanto olhava para Rhys, diria que ele estava silenciosamente me desafiando a tentar. – Tudo certo. Muito bem. – Você vai mesmo tentar? – ele perguntou com a voz um tanto incrédula. – Ah, sim, vou fazer isso. Ele sorriu. – Imagino que haja um intenso desejo de estágio em seu coração, hein? Lutei para não rir na cara de Rhys se ele achava que eu iria mesmo desperdiçar meu desejo com o estágio. Claro, era importante, mas não havia nada mais relevante do que finalmente estar com ele. Sem qualquer outra palavra para Rhys, estendi a mão e toquei a pedra. – Tomochichi, Tomochichi, Tomochichi… – comecei, conforme iniciava a caminhada ao redor da pedra. Quando completei a primeira volta, vi Rhys sorrindo para mim como o gato Cheshire, de Alice no país das maravilhas. Ignorando-o, continuei andando e recitando “Tomochichi”. No entanto, é claro que, enquanto eu dizia o nome do chefe morto em voz alta, em minha cabeça era o nome de Rhys que pronunciava. Assim que terminei, tirei a mão da pedra e olhei Rhys interrogativamente. – E agora? – Basta esperar que seu desejo vai se tornar realidade. – Você já fez isso? – Não. Nem mesmo quando eu era criança aqui e vinha como visitante, e os guias turísticos nos contavam sobre tudo isso. – Por que não? Rhys encolheu os ombros. – Acho que não havia nada pra desejar. – Bem, isso é muito triste. Toda a vida é sobre ter desejos e vontades, né? – Acho que sim. Mas simplesmente nunca dediquei muito tempo e empenho para pensar neles. Era tão estranho o fato de eu conhecê-lo havia sete anos, passando horas e horas com ele em diferentes lugares, mas, naquele momento, eu sentia como se não conhecesse de fato Rhys. Ele era um quebra-cabeça que precisava ser desvendado, ainda que, ao mesmo tempo, eu tivesse a sensação de que faltassem algumas peças. E eu deveria escavar profundamente para desenterrá-las. – Para onde agora, capitão Guia Turístico?


– A Rua River fica a alguns quarteirões lá pra baixo. – Ele gesticulou para o norte. – Tá certo. Parece legal. – Vou adocicar nossa turnê te levando até a River Street Sweets, para uma pralina3 famosa. – Humm, eu adoro pralinas. Provavelmente não vou até lá desde a nossa excursão no oitavo ano. – Então você está muito atrasada para o passeio. Enquanto caminhávamos pela rua River, Rhys apontava para diferentes marcos históricos. Assim, além de continuar a aula de história, ele ainda mostrava bons lugares onde comer e passar o tempo. Claro que eu não me interessava por local algum, a não ser que Rhys planejasse me trazer de volta a eles. Quando chegamos à calçada de paralelepípedos da River, Rhys e eu paramos em algumas lojas. Gostei especialmente dos presentes engraçados e das camisetas. Uma vez que tínhamos rido e nos desafiado a comprar muitos daqueles abomináveis artigos, Rhys me levou até a imensa loja de doces. Assim que entrei, fechei os olhos e inalei profundamente. – Este cheiro é o paraíso – murmurei. Ele riu. – Concordo. Após devorar com os olhos as muitas guloseimas atrás da vitrine, escolhi algumas nozes cobertas de chocolate em conjunto com maçã caramelizada com castanhas e amêndoas. E ainda acrescentei o famoso doce de lá, a pralina. Enquanto eu saboreava uma das amostras de casca de chocolate, Rhys colocou suas escolhas em uma ordem que fez meus olhos saltarem. – O que foi? – ele perguntou. – Está pegando tudo isso pra você? – Eu sou conhecido por estocar coisas quando estou em turnê – ele explicou, puxando sua carteira. – Quem diria que você é tão tarado por doces? – É épico. Confie em mim. Não pude deixar de protestar quando Rhys empurrou para a caixa registradora os seus doces junto com os meus. – Não. Eu pago os meus – reclamei. – Foi ideia minha, então, eu pago. – Mas somente agora que sou pobre, uma estudante batalhadora, e você é o senhor dos sacos de dinheiro. Rhys riu. – Que seja. Depois que ele pagou tudo, deu seu endereço para que enviassem os doces em domicílio. Eu já havia imaginando como ele levaria aquilo para fora da loja, e também como transportaria até sua casa.


Quando tudo estava resolvido, caminhamos de volta para a luz do sol. – Está com fome? – Rhys perguntou. – Talvez com um pouco – respondi depois de terminar meu segundo prato de noz pecan. – Que tal alguns bons frutos do mar? – Eu adoraria. – Então me siga. Quando ele ameaçou entrar no Huey, que parecia um restaurante refinado, agarrei-o pelo braço. – Não, não estou vestida para esse lugar – sussurrei, apontando para meu jeans e minha camiseta. – Tá tudo certo. – Não, Rhys, por favor. As sobrancelhas dele se ergueram. – Será que isso te incomoda tanto assim? Eu não ligo a mínima para o modo como você está vestida, e sou VIP. Um sorriso brincou nos meus lábios. – Tem certeza? – Eu dificilmente chamaria minha camisa Ralph Lauren e meu short de roupa de gala. Além do mais, é uma armadilha para turistas. Muita gente não percebe. – Se você diz isso, tudo bem. – Confie em mim – ele disse, fixando no meu olhar seus olhos escuros. – Tá certo – murmurei sem convicção alguma. Ele sorriu enquanto caminhávamos até a recepção. Quando a hostess levantou os olhos de uma pilha de cardápios, ela os esfregou ao notar Rhys. Acho que é seguro dizer que ela o reconheceu não enquanto um rapaz nascido ali, mas de sua fama no Runaway Train. – Oh, hum, oi, quantos lugares? – Apenas dois. Poderia nos dar uma mesa com vista para o rio? – Sim, claro, um segundo. – Ela escreveu e reescreveu alguns números em um quadro branco antes de pegar dois cardápios. – Por aqui – comentou com um sorriso eletrizante que pertencia a uma candidata do Miss América. Enquanto ela nos conduzia passando por um labirinto de mesas, inclinei-me bem próxima a Rhys. – Tenho absoluta certeza de que seu status VIP apenas alavancou a mesa de alguém para nós. Rhys riu. – Estou surpreso de ela ter me reconhecido. O baixista nunca é notado em uma banda. Lutei contra o impulso de lhe dizer que nem todos os baixistas eram tão gostosos como ele. Em vez disso, eu falei: – Pensei que fosse o baterista que ficasse escondido atrás do equipamento. – Você acha que AJ poderia passar despercebido para os fãs?


Eu ri. – Na verdade, não. A hostess indicou nossa mesa, que nos oferecia uma excelente vista do rio e da multidão passeando pela rua. Após nos dar os cardápios, afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e sorriu abertamente para Rhys. – Tenha um ótimo jantar. – Obrigado. Estou certo de que teremos. Quando ela se afastou, não pude deixar de rir. – Francamente, acho que ela nem sequer percebeu que estou viva. Tinha olhos apenas para Rhys. – Você diz isso como se fosse uma coisa ruim – ele provocou enquanto pegava seu cardápio. – Agora você está começando a se parecer com Jake ou AJ. – Essa é uma associação terrivelmente pretensiosa. Eu ri. – É mesmo. – Olhando o cardápio, perguntei: – Então, o que é gostoso aqui? – Como eu já experimentei a comida de sua avó, sei que você gosta dos alimentos do Sul. – Que espécie de garota sulista eu seria se não gostasse de couve e de tomates verdes fritos? – Não seria muito boa – Rhys respondeu. Acenando seu cardápio, ele acrescentou: – Este lugar é foda quando se trata de comida do Sul. Os tomates verdes fritos aqui são de arrasar. E mais, há no cardápio o ensopadão de legumes, verduras e frutos do mar; portanto, você encontrará as verduras que sei que adora. Meu estômago roncou com as palavras de Rhys. – Parece legal para mim. Na verdade, tudo parece bom. Quando o garçom chegou, com o crachá onde se lia Lance, ele aproveitou o momento de tietagem com a presença de Rhys. – Sei que está aqui para jantar e não quero perturbá-lo, mas sou um grande fã do Runaway Train – ele disse, depois anotou nossos pedidos de drinques e aperitivos. – Obrigado. Isso significa muito – agradeceu Rhys educadamente. Com o charme que tenho certeza de que foi criado para ele quando nasceu, acrescentou: – Eu ficaria feliz em dar um autógrafo para você. Os olhos de Lance arregalaram e, por um instante, ele se atrapalhou com o bloco de couro onde anotava os pedidos. – Isso seria maravilhoso. Obrigado. Sério, obrigado. Ele, então, recuou, chocando-se com outro garçom e quase derrubando-o juntamente com uma bandeja de bebidas alcoólicas. Puxei o guardanapo até meu rosto para esconder o riso. Depois, já recomposta, larguei o guardanapo e perguntei: – Quem imaginaria que seria o cara a pagar mico por sua causa, e não a garota?


– Ah, garanto que ela ainda vai encontrar uma maneira de deslizar seu número para mim. – Você não está falando sério. – Quando ele assentiu, continuei: – Mas você está aqui comigo. Ele encolheu os ombros. – Você pode ser uma amiga ou minha irmã. Para algumas mulheres, não importa se eu estiver sentado aqui com uma aliança de casamento. – Que coisa nojenta – bufei, pegando meu copo de água. Rhys riu. – Por que está tão irritada? – Porque o casamento é uma coisa sagrada. A mulher deve ver a aliança de ouro e entender que o homem é inacessível. Quando as sobrancelhas de Rhys se ergueram, senti o calor inundar meu rosto. Com apenas um gesto, ele me fez perceber a ironia de meu comentário. Afinal de contas, eu nem estaria ali se meus pais não tivessem vivido um caso. Obviamente, minha mãe não fora intimidada pela aliança no dedo de meu pai. Com os olhos focados na toalha branca, perguntei: – Você se importa se mudarmos de assunto? – Sinto muito. – Não é culpa sua. – Olhei para cima para encontrar os olhos de Rhys. – Acho que eu deveria dizer que realmente quis dizer. Independentemente do que meus pais fizeram, acho a traição muito errada. É uma coisa que eu nunca faria. Inclinando-se para frente, Rhys acariciou minha mão com ternura. – Não se preocupe com isso. Sei como ninguém que não somos nossos pais. – Você está certo – murmurei. – Então, posso lhe contar que Jax mijou na minha cara quando Jake me fez trocar a fralda do bebê no último fim de semana? Eu ri. – Ah, não. Ele fez mesmo isso? Felizmente, depois, a conversa fluiu entre nós com a mesma facilidade do dia todo. Não era a primeira vez que estávamos juntos, mas era a primeira vez que estávamos apenas nós dois. Em geral, pelo menos Jake e Abby nos acompanhavam ou mesmo AJ, Brayden e suas famílias. Rhys queria saber sobre os cursos que eu estava fazendo. Entre os aperitivos de minha gumbo4 e os tomates verdes fritos de Rhys, conduzi a conversa para bem longe de mim, focando-me nele: – Então, quanto tempo ficará aqui em Savannah? Ele deu uma mordida no crocante tomate frito. – Isso depende. Duas, três semanas ou até que meus pais me deixem maluco pra caralho e eu fuja para preservar minha sanidade. Minha colher cheia de gumbo parou no meio do ar enquanto meu coração sofria por Rhys.


– É mesmo tão ruim assim? Encolhendo os ombros, ele respondeu: – Agora eles estão mais chatos do que qualquer outra coisa. Mas, quando perceberam que são incapazes de controlar minha vida, eles acalmaram um pouco. – Jake me contou que eles haviam te rejeitado – eu disse baixinho. – É verdade. Eles agiram assim depois que abandonei o curso de Direito, quando a banda conseguiu seu primeiro negócio. Como o filho mais velho, detentor do nome da família, “jogava fora sua vida em um sonho bobo”? Eles não estavam exatamente felizes com a ideia. Processando suas palavras, tomei outra colher da sopa fumegante. Após engoli-la, perguntei: – Talvez eles mudem de ideia quando você tiver mais sucesso financeiro, não é? Rhys espetou um pedaço de tomate com força. – Não. Isso tudo tem a ver com a morte de meu avô e com as cláusulas de seu testamento. – O quê? – perguntei, mas o garçom trazendo nosso jantar acabou me interrompendo. Embora eu estivesse quase satisfeita com o doce e a sopa, o prato cheio de camarão frito, ostras e escalopes fizeram meu estômago roncar. Depois de Rhys e eu nos servirmos, o silêncio pairou sobre a mesa, enquanto começávamos a devorar nosso jantar. Após quase esvaziarmos os pratos, olhei Rhys de modo compreensivo. – Sinto muito pelo seu avô. – Obrigado. Ele foi um dos homens mais decentes que conheci, apesar de sua riqueza. – O que havia no testamento que fez seus pais mudarem de ideia? – Uma coisa em que meu avô acreditava era na unidade familiar, colocando a família forte à frente de tudo. Como o único filho sobrevivente, a maioria dos investimentos iria para meu pai. Para receber tudo, ele não poderia rejeitar seu filho. Então, de algum modo, a morte de meu avô preparou o caminho para nossa reconciliação. – Com um riso sem alegria, ele acrescentou: – Não ocorreu tanto porque eles se importavam comigo; eles estavam mesmo preocupados com o dinheiro que iriam perder. Balancei a cabeça. – Não acredito nisso. Seu pai poderia ter fraudado algo no papel e continuar te ignorando. Ele devia querer um motivo para se reconectar a você. Limpando a boca com o guardanapo, Rhys se recostou em sua cadeira. – As famílias das pessoas não são todas como a sua, Allison. Eles não têm motivos honestos para o que fazem, além de não sentirem ou compartilharem muito amor. Meus pais nunca me abraçaram ou mesmo beijaram como os seus. Nem sequer me lembro de eles me dizendo que me amavam. – Quando suspirei em função da dor dele, Rhys encolheu os ombros. – É apenas uma coisa com a qual tenho convivido com o passar do tempo; alguma coisa que aprendi a aceitar. – Mas isso tudo é tão errado.


– Não preciso de sua piedade. Estou perfeitamente bem com a maneira como as coisas são. – Não, você não está bem. Está apenas criando uma fachada para mim, quando, na verdade, a questão com seus pais te incomoda muito. – Metida a psicóloga, além de designer de moda, né? – ele perguntou com sarcasmo. – Apenas não gosto de ver as pessoas com quem me preocupo magoadas. Detesto o que seus pais lhe fizeram. – Antes que eu pudesse me controlar, estendi a mão sobre a mesa para a mão de Rhys. – Você merece muito mais. A incredulidade ante minhas palavras e gestos brilhou nos olhos dele. – Está ciente de que não existem no mundo muitas pessoas como você? Pessoas de bom coração que se preocupam com os outros. – Talvez não no mundo onde você cresceu, mas isso existe no mundo de sua banda. Espero que saiba o quanto é amado por eles... por nós. – Eu sei – ele disse com suavidade. – Você também é amado por todos seus fãs, mas sei que não é um amor tangível. Você acha que, se eles realmente te conhecessem além de sua personagem, não iriam amá-lo? Mas isso ainda é amor e admiração, e você deve valorizar. Pegue isso e o ligue ao verdadeiro amor de sua família formada pela banda. Então, independente do seu passado, veja apenas quanto amor há cercando você agora. – Você sabe que é muito sábia para uma garota de 20 anos de idade. Ai. Teria Rhys seriamente me chamado de criança? Mas eu não queria estar no território de “criança”. Depois que me recuperei de meu breve horror, disse: – Bem, sou diferente porque sou uma alma velha. – Sim, é mesmo. E isso é uma coisa que temos em comum. Sempre fui velho para minha idade. Nunca me dei bem de fato com as crianças ao meu redor. Isso, mais minha inteligência, me tornou um pouco desajustado. Eu não sentia exatamente a que pertencia até que conheci Jake, Brayden e AJ. – E eles te completaram. Rhys bufou. – Isso soa completamente piegas e castrador. – Eu gosto do som disso. Sei que Jake tinha um vazio terrível dentro dele que precisava ser preenchido. Você e os garotos fizeram isso. – E Abby. – Sim, ela também. – Batendo o garfo no prato, decidi abordar algo que ainda me incomodava. – Registre aí que não sou uma criança, ok? Tenho certeza de que você odiava quando os caras te chamavam desse jeito antes. – Antes? Que inferno, eles ainda falam essa merda sobre mim. Eu ri. – Você vai repetir depois de mim? “Allison, você é uma mulher.”


Com uma careta, ele retrucou: – Sei que você é uma mulher. – Você me chamou de criança há dois segundos – rebati. – Mesmo que seja difícil para eu acreditar que você é a mesma pessoa de quando tinha 13 anos de idade e a quem eu salvei todos esses anos atrás, estou ciente de que é mesmo uma mulher adulta. – Legal. Fico feliz em ouvir isso. – Você é bem-vinda, criança – ele comentou com uma piscada de provocação. – Você, senhor, é impossível. – Quer alguma sobremesa? – Rhys perguntou. Inclinando a cabeça, tentei ver o relógio dele. – Espere, que horas são? – Quase seis e meia. Joguei meu guardanapo sobre a mesa. – Ai, que merda. É mesmo? – Qual o problema? – Inclinando-se para frente, ele me deu um sorriso travesso. – Não me diga que você se transforma em uma abóbora às oito? Sorrindo, respondi: – Humm. Não exatamente. Após tomar um gole de vinho, a expressão de Rhys ficou meio sombria. – Você não me contou que tinha um encontro hoje à noite. – Não, nada disso. – Uma parte minha debatia se mentia para ele e lhe dizia que precisava trabalhar. Eu precisava mesmo estar num local secreto, alguma coisa que nem sequer havia contado a Jake ou a meus pais. Não era algo de que me envergonhasse, mas a questão era que eu não tinha certeza de como eles se sentiriam. Quando continuei evasiva, Rhys disse: – Você tem certeza? Está agindo como se houvesse algum homem misterioso que precisasse encontrar. Como Rhys continuou me olhando, resolvi ceder. – Promete que não conta pra Jake? Os olhos escuros dele se arregalaram. – Você está fazendo alguma coisa que Jake não pode saber? – Isso é sério? Já cheguei aos 20 anos. Jake, provavelmente, não sabe metade das coisas que faço ou deixo de fazer. – Interessante – Rhys retrucou. – Você ainda não me respondeu. Levantando as mãos, ele disse:


– Tudo bem, tudo bem. Mas só se não for algo perigoso ou ilegal. – Tá certo. É o seguinte: tenho de voltar pra casa e me trocar porque, às dez da noite, vou cantar no Saffie’s Tea Room. O silêncio permeou a mesa enquanto Rhys não tinha um comentário rápido a fazer. Em vez disso, sentado imóvel, ele digeria o que eu havia acabado de dizer. Finalmente, perguntou: – Você acabou de se referir ao fato de que cantará hoje à noite em algum clube? – Sim. – E como isso é possível? Você tem apenas 20 anos. – A proprietária é Cassie, a dona da casa onde moro. – Entendo. Pegando novamente o guardanapo, eu o retorci com nervosismo. Não sei por que estava tão preocupada com a aprovação de Rhys. Afinal de contas, ele não era meu pai, nem mesmo Jake. Era apenas o cara por quem eu estava completamente apaixonada. – Veja bem, ela tem essa banda que toca durante a semana. Quando a vocalista terminou com o baterista, acabou deixando a banda, e Cassie ficou sem entretenimento. – Qual o nome da banda? – Magnólia Pink. As sobrancelhas de Rhys se ergueram, destroçando meus nervos já desgastados. Eu nem sequer poderia remediar a situação na esperança de que o nome da banda o fizesse se lembrar do encanto da magnólia que ele me dera no meu aniversário de 16 anos. Na verdade, estava pisando em ovos. – Entendo – ele disse mais uma vez. – De qualquer modo, depois que ela me ouviu cantando no quarto quando eu estava desembalando umas coisas, praticamente me preparou uma tocaia para que eu assumisse o lugar da vocalista até que ela encontrasse uma substituta. No começo, eu não queria, porque Jake é o artista da família, não eu. Verdade seja dita, nem sou uma boa cantora. Mas, como Cassie estava desesperada, acabei concordando. – Saffie’s Tea Room – Rhys repetiu numa voz mais calma. – Estou correto em supor que esse é o nome de Safo, a poetisa grega? – Sim, é – respondi, retorcendo meu guardanapo mais um pouco. – A poetisa grega lésbica. – Simmmm – sibilei, como se a orientação sexual importasse. Inclinando-se sobre a mesa com os cotovelos, Rhys levantou a cabeça para mim. – Me deixe ver se entendi. Você é menor de idade e canta em uma boate lésbica? – Uhum. Ele ainda me olhou por um momento antes de dar uma gargalhada. – O que eu não daria pra ver a cara de Jake quando ele descobrir.


– Isso não tem graça – bufei indignada. – É um lugar muito respeitável, e as garotas da banda não têm sido nada além de gentis e prestativas para mim. – Quando Rhys abafou o riso com o guardanapo, eu disse: – Pra falar a verdade, ando me divertindo bastante por lá, e falei pra Cassie que não precisa procurar uma substituta. Posso ficar até que volte para casa. A menção da palavra casa tranquilizou Rhys. – Você vai voltar para Atlanta? Olhando para baixo, suspirei. – Imagino que sou apenas um grande bebê. Sinto saudade de meus pais e de meus amigos, e até do meu cão Toby. Mais do que tudo, é complicado não poder ver os gêmeos sempre que quero. – Mas isso mudará quando sairmos em turnê. – Eu sei – murmurei. Alcançando o outro lado da mesa, Rhys segurou minha mão. – Tudo bem em sentir saudade de casa, Allison. – Isso indica total falta de força de caráter em não ser capaz de abraçar dificuldades e desafios. – Que bobagem. Não consegui evitar erguer minhas sobrancelhas com a seleção de palavras de Rhys. Mas então balancei a cabeça. – É mesmo? Aposto que você nunca sente saudade de casa – desafiei. A tristeza cintilou nos olhos de Rhys. E imediatamente me arrependi do que havia dito. – Aqui nunca representou bem um lar para mim. Você não se relaciona mesmo com seus pais quando é a babá que seca suas lágrimas após um pesadelo ou senta-se ao lado de sua cama quando você está doente. Ainda bem jovem, empurraram-me para internatos, e eu só vinha para minha casa aos fins de semana. Então fui para Atlanta fazer a faculdade, e agora vivo dentro e fora de um ônibus de turnê. – Correndo a ponta do dedo sobre a borda da taça de vinho, Rhys continuou: – Nunca houve realmente um lar pra mim. – Sinto muito. – Não precisa. É o que é. Assim, ainda que seja verdade que de fato não sinto saudade, há tempos anseio por Savannah. Sinto falta da minha babá, Trudie, das paisagens familiares e mais ainda da minha irmã. Aproveitando a referência à irmã secreta, eu disse: – Espero conhecê-la enquanto estiver aqui. Recusando-se a me olhar, Rhys encarou o copo de vinho, perdido em pensamentos. – Talvez – ele, enfim, murmurou. Eu nem precisava olhar o relógio de novo para saber que tinha de ir embora. Como se sentindo minha urgência, Rhys apontou seu olhar para o meu e pegou o celular. – Vou chamar um táxi, então você chegará mais rápido à sua casa.


– Obrigada – respondi, enquanto Rhys começava a digitar furiosamente mensagens de texto. Após gesticular para o garçom, a fim de pagar a conta, Rhys colocou a mão no bolso para pegar a carteira. Quando ele ia entregar o cartão ao rapaz, balancei a cabeça. – Não, por favor; eu mesma pago minha parte – protestei. Rhys fez um gesto negativo com a cabeça. – Eu te falei antes que você era minha convidada para o jantar, e falei sério. – Com uma piscadela, ele continuou: – Que tipo de cavalheiro eu seria se aceitasse que você pagasse a conta? – O tipo que acredita na igualdade das mulheres e no tratamento holandês? – Não quando se refere a você, meu amor. Essa declaração, combinada com a expressão de ternura no rosto de Rhys, causou-me um arrepio que percorreu todo meu corpo. – Tá legal. Mas, na nossa noite de cinema, o jantar é por minha conta, certo? À medida que Rhys se levantava de sua cadeira, ele sorriu. – Será que teremos Pênis Pizza? Porque vou te deixar me comprar um pouco disso. Eu ri. – Sim, teremos mesmo. – Erguendo minhas sobrancelhas, acrescentei: – E com certeza farei tudo pra você obter uma fatia bem grande com salsichas também. Após meu comentário, os olhos de Rhys se arregalaram. Assim que saímos do restaurante, ele balançou a cabeça. – Não é mais a doce e inocente pequena Allison que eu conhecia, hein? – Nem de longe. – Perdi muito quase não te vendo nos últimos anos, né? – Nem te conto. – Estou ansioso por saber. Tentei não escancarar a boca quando pisamos na rua River e havia um carro com motorista nos esperando. – Isso não parece um táxi. A resposta de Rhys foi abrir a porta para eu entrar. Depois que deslizei para o assento, olhei-o com expectativa. Ele encolheu os ombros. – Foi um aplicativo no meu celular que trouxe o carro aqui para você. Assim que me acomodei no interior elegante do veículo, assenti. – Legal. Muito legal. – Que bom que você gosta. Rodamos pelas ruas escuras em silêncio. Ocasionalmente, quando o carro dava um solavanco, a perna de Rhys se chocava com a minha, e toda vez ele se desculpava. Assim que o carro parou em


frente a minha casa, Rhys, mais uma vez, segurou a porta aberta para mim. Então, ele pediu ao motorista que esperasse um momento e começou a caminhar comigo até a entrada de casa. – Será que eu estaria ultrapassando meu limite se lhe dissesse que gostaria de ver sua banda hoje à noite? A pergunta me fez cambalear. Nunca, em um milhão de anos, pensei que um músico vencedor do Grammy pudesse querer me ouvir cantar em uma banda de boate. Parecia que era o dia de as maravilhas nunca cessarem. Com a minha hesitação, ele ergueu as mãos. – Está tudo bem. Eu nem deveria ter perguntado. – Não, não é nada disso. – Não é? Balancei a cabeça. – Não é que não quero que veja minha apresentação. Na verdade, eu ficaria até honrada. Apenas estou surpresa pelo fato de alguém como você querer passar a noite me ouvindo cantar em uma boate de lésbicas. – Encolhi os ombros. – Pensei que você tivesse coisas melhores pra fazer com seu tempo. Ele gargalhou. – Bem, minha opção certamente provará ser interessante, ainda que seja bom não se preocupar em dar em cima de alguém. – Sim, isso deve ser um problema para você, que é um roqueiro milionário, bonito e desejável – provoquei. Inclinando a cabeça, ele perguntou: – Você acha que sou bonito? Meu peito começou a subir e a descer acelerado, enquanto tentava, desesperadamente, recuperar o fôlego. – Claro que acho – respondi de modo rápido. Então, com o sorriso de Rhys, acrescentei: – Em sua opinião, não são todos que acham? – Não estou falando de todos; estou falando de você. – Sim, você é muito, muito lindo, certo? Agora, por favor, saia do meu caminho para que eu possa me aprontar? – Me desculpe. Eu não ousaria privar seu adorável público de sua presença. – Seu espertinho – murmurei enquanto começava a revirar minha bolsa à procura das chaves. Quando abri a porta, Rhys se desviou de mim. Apoiando a mão no batente, ele sorriu um dos sorrisos que havia cativado meu coração quando eu tinha 13 anos, e agora me deixava apaixonada e cheia de tesão. – Meu eu muito lindo irá te ver às dez da noite no Saffie’s Tea Room. – Tá certo – murmurei.


Só a presença de Rhys bastava para fazer minha libido sair de giro, mas quando ele começou a se inclinar para mais perto de mim, tive de lutar contra o desejo de entrar em combustão por causa de meus nervos e de meus hormônios. Não ajudou em nada ele cheirar tão incrivelmente ou o fato de eu poder sentir o calor despejado do corpo dele. Sentindo vertigens com a proximidade de Rhys, tentei não desmaiar. Depois de me beijar no rosto, ele se afastou. – Te vejo mais tarde. A extrema decepção com aquele simples beijo ricocheteou pelo meu corpo. – Até mais – respondi com tristeza, conforme ele descia os degraus da varanda. Por que ele tinha de parecer tão próximo e tão desejável em um momento e logo depois total e completamente inatingível?


Três

RHYS

Quando ousei olhar para meu relógio, fiz uma careta. Eu estava, oficialmente, meia hora atrasado para a apresentação de Allison. Deveria ter pensado melhor antes de voltar para casa para depois ir ao Saffie’s Tea Room. Eu fora laçado para me unir a meus pais na sala de jantar, onde eles estavam no meio de uma refeição com seus amigos do Fortune 500 Club. Foi um verdadeiro inferno na Terra. Logo após a sobremesa ser retirada, eu me desculpei com educação. Enquanto minha mãe questionava sobre minha opção de vida, propositalmente eu a evitava. Apesar de ter 27 anos, eu sabia que ela me faria sofrer quando rejeitei de novo o assunto dos Mastersons e a conversa de a única filha deles em Vassar estar morrendo de vontade de me encontrar. Eu queria um período de sossego, mas a última mulher na Terra seria uma ex-debutante que não se preocupava com um jogo de amor, mas, sim, com um jogo de status e sociedade. Pelo tempo que eu havia chegado apenas para tomar banho e vestir umas roupas novas, já era hora de estar lá na apresentação, e ainda não havia saído de casa. Como estava atrasado, aceitei que o motorista de meus pais me levasse, em vez de eu mesmo dirigir, assim, não perderia tempo tendo de estacionar. Acomodei-me nos assentos de couro do Bentley Mulsanne, um dos pretensiosos e extravagantes carros de meus pais, enquanto o motorista avançava pelo fluxo de turistas comum nos dias úteis de verão. De muitas maneiras, tinha sido uma ideia fodida um dia com Allison. Embora eu a tivesse encontrado no casamento de Jake e Abby e em outros eventos nos últimos anos, não tinha percebido ainda que ela realmente virara adulta. Ouvir sobre a vida sexual dela fora um choque para ambos, a cabeça e as calças, e, para ser honesto, eu não necessitava disso. Ao mesmo tempo, nem precisava ter ouvido sobre a vida sexual para notar como aquela adolescente desengonçada que conheci tantos anos atrás havia se transformado. Ela era tão bonita que Jake e seu pai, Mark, tinham muito com que se preocupar em relação a Allison e os homens.


Embora tenha sido ela a manifestar saudades de casa, realmente conseguiu tornar meu primeiro dia de retorno bastante agradável. Desde que saí de casa, visitava Savannah apenas por obrigação, não por vontade própria. Assim, estar com Allison nas próximas semanas tornaria minha estada bem mais fácil, e isso com certeza não fugiria de qualquer compromisso em relação a Jake ou a ela. E tudo porque eu queria passar mais tempo com alguém bonita, inteligente e engraçada como era Allison. Ela, de fato, não era uma tarefa maçante. Quando o motorista enfim me deixou na frente da boate, mal tive tempo de examinar o exterior do local. Para o bem de Allison, eu me sentia contente de ver que não estava numa área miserável da cidade, o que talvez atenuasse o susto de Jake. É claro que ele não ficaria encantado pelo fato de Allison ter escondido alguma coisa dele e de seus pais; afinal, essa atitude não combinava com ela, que sempre fora uma boa garota. Eu imagino que Allison estava de fato abrindo as asas e testando as águas rebeldes. Depois que desci correndo os degraus de tijolos para a entrada da boate, fiquei surpreso ao ver um leão de chácara em farrapos verificando os documentos de identidade, próximo a uma mulher vestida com elegância, que recebia os pagamentos da taxa de couvert artístico. – Você está perdido? – ele perguntou. – Estou aqui pra ver a apresentação de alguém – respondi. Resmungando, ele empurrou minha identidade de volta para mim. Embora eu pudesse ouvir a música lá dentro, não tinha certeza de que era Allison. Esperava muito não ter perdido a apresentação dela. Assim, quando entreguei o dinheiro à mulher, perguntei: – O Magnólia Pink ainda está tocando? Ela assentiu com um gesto de cabeça. – Ainda tocarão por mais trinta minutos. – Graças a Deus. Ela riu. – Querido, eles não são assim tão bons. Ignorando-a, entrei na boate mal-iluminada. Luzes piscavam entrecruzadas pelo teto e pelas paredes, enquanto velas nas mesas iluminavam com roxo, branco e preto as toalhas de linho. Além das mesas, havia uma pista de dança em frente ao palco. Conforme meu olhar percorria o local, deixei escapar um suspiro de alívio ante a aparência do interior. No fim, Safe me lembrou muito algumas das boates mais sofisticadas de Nova York e mesmo de Atlanta. Como que aniquilado com um Taser, minha atenção foi atraída para longe do cenário do lugar até o pequeno palco. Allison estava sentada à frente de um piano de cauda, parecendo muito equilibrada e segura de si, numa postura bem diferente de antes, sobretudo quando caíra pelo corrimão. Os longos cabelos castanhos cascateavam em ondas soltas pelas costas, descansando um pouco acima da cintura. O vestido vermelho que usava me fez lembrar alguma coisa saída de um livro de história


romana ou grega, e ela parecia mesmo, em cada detalhe, uma deusa no banco do piano. Uma orquídea vermelha solitária repousava atrás da orelha dela, tornando-a ainda mais delicadamente feminina. Alguma coisa dentro de mim ganhou vida ante a visão de Allison banhada pelas luzes brilhantes do palco. Era como se eu a visse pela primeira vez. Ela não era mais uma adolescente desajeitada com aparelho ortodôntico e pernas desengonçadas; era uma mulher. Se eu fosse de fato sincero comigo mesmo, admitiria que se tornara uma mulher linda e sexy. Naquele momento, eu me senti feliz porque ela se apresentava numa boate de lésbicas, já que me incomodava a ideia de qualquer babaca tentando dar em cima dela. Quando Allison se virou para o público e sorriu, ela pareceu um paradoxo. Enquanto um feixe de luz dava uma aura luminosa sobre sua cabeça, o vestido vermelho aniquilava completamente qualquer traço angelical nela. – Para a nossa próxima música, eu gostaria de tocar algo antigo que está entre as minhas canções favoritas. É um cover de Joan Armatrading, “The Weakness in Me” – ela explicou com o microfone fazendo sua voz ecoar pelo ambiente cavernoso. Conforme ela e suas companheiras de banda começaram a tocar os acordes iniciais da música, Allison, mais uma vez, espreitou o público. Ela parecia estar procurando alguém, procurando-me. Logo que os olhos dela encontraram os meus, balancei a cabeça e sorri. Ela retornou momentaneamente o sorriso. Enquanto retinha o meu olhar, começou, então, a cantar: – “I’m not the sort of person who falls in and quickly out of love. But to you I gave my affection right from the start”5. Conforme a voz de Allison enchia o ar, fiquei grudado no meu lugar, completamente paralisado por sua apresentação. Mulheres se chocavam contra mim, empurradas pela multidão para qualquer dança lenta ou mesmo para pegar algo na mesa, mas eu quase não as notava. Só tinha olhos para Allison, cuja voz soava sensual e rouca. Ela não havia se valorizado o suficiente. Sua voz não era tão forte quando a de Abby, embora ela tivesse mais talento do que a mulher lá fora sugerira e Allison insinuara. Facilmente se percebia que ela herdara o talento musical de Jake. Claro que a banda nunca decifraria isso naquela boate no subsolo, ainda que o público estivesse arrebatado, o que significava muito no longo prazo. Puxando meu celular do bolso da calça, comecei a filmar um trecho da apresentação de Allison. Afinal, bem lá no fundo, eu sabia que Jake iria querer ver a cena. Depois que superasse o choque inicial de saber que sua irmã menor de idade cantava em uma boate, ele se orgulharia dela. Era mais fácil firmar minha mão do que conter os meus sentimentos fora de controle em relação a Allison. Afeição fraternal com certeza não preenchia minha mente naquele momento. Quando ela finalizou a canção, um estrondo de aplausos irrompeu no ambiente. Allison sorria enquanto falava ofegante ao microfone: – Obrigada. Muito obrigada a todos.


Conforme ela se levantava do banco do piano, tomei um susto com a visão das botas de cano alto que usava, as quais pareciam saídas do filme Gladiador e, que foda, eram sensuais pra cacete. Em que raios eu estava pensando? De modo algum deveria colocar as palavras “sensuais pra cacete” e “Allison” na mesma frase. Afinal, eu a conhecia desde que tinha 13 anos de idade, e ela era como uma irmã para mim. Levando as mãos ao rosto, esfreguei com fúria olhos e testa, como se assim afastasse da minha mente a imagem sensual de Allison. Naquele momento, um ritmo ardente veio do palco e reconheci imediatamente a canção “Am I the Only One”. Allison parou à frente do pedestal do microfone. – “Please baby can’t you see my mind’s a burning hell? I got razors a rippin’ and tearin’ and strippin’ my heart apart as well.”6 Enquanto eu era capaz de ouvir mais do alcance vocal de Allison na canção, poderia ter dado um “foda-se” para aquela cantoria toda. Em vez disso, minha mente havia se arrastado para o território do x-rated, em função do modo como Allison balançava o pedestal do microfone, deslizando as mãos pelo metal prateado e movimentando os quadris no ritmo da música. Assim, fiquei pensando naqueles mesmos dedos bombeando para cima e para baixo meu pau. Quando ela transpôs o suporte e as coxas substituíram as mãos naquele atrito todo, o suor estourou em minha testa. Bastou a movimentação de Allison para uma ereção parcial bater na frente da minha calça. Eu não conseguia evitar espiar meu pau traidor. Não, não, não, isso não poderia estar acontecendo. Uma coisa era considerar Allison sexy, mas agora eu a olhava sorrateiro como um excitado filho da puta desesperado por uma orgia. Se Jake capturasse de relance meus pensamentos, ele arrancaria minha cabeça e, considerando que era mesmo horrível eu fantasiar assim com Allison, teria de permitir a ele que o fizesse. – Porra, como ela é gostosa. O que não daria para estar no meio daquelas coxas – disse alguém ao meu lado. – Eu sei. E aposto que ela tem um gosto tão doce quanto seu olhar – retrucou outra pessoa. Meu olhar foi de Allison às duas garotas próximas a mim. Uma delas chamou minha atenção e balançou as sobrancelhas sugestivamente. – Calma aí, estressadinho, eu sei que ela joga no seu time. Mas, mesmo assim posso fantasiar, né? Embora meu pau lembrasse que era muito excitante ter uma mulher quente como Allison, minha mente conseguiu sobrepujá-lo. Apesar de haver praticado o ménage à trois uma ou duas vezes, não podia nem sequer imaginar fazer isso com Allison. Sem falar que tive a sensação de que a tal da garota não estaria interessada em que eu participasse com ela. Allison terminou a canção com selvagens aplausos e assobios ensurdecedores. Desesperado atrás de uma bebida, fui para o bar. – Crown Royal, por favor – pedi a uma bartender com cabelo multicolorido. Ao colocar um copo vazio à minha frente, ela ergueu as sobrancelhas com piercing.


– Você deve ser de fora da cidade. Com uma risada, eu me acomodei melhor em um dos banquinhos. – Devo parecer mesmo de fora esta noite. Ela pegou a garrafa de uísque de debaixo do bar e encheu meu copo com a bebida de cor âmbar. – Normalmente temos um público local, mas às vezes um turista tropeça aqui por engano. Após tomar um gole que desceu queimando, eu disse: – Na verdade, estou aqui por Allison Slater. O barman sorriu. – Não surpreende em nada que esteja ficando com a única garota hétero do local. Balancei a cabeça furioso. – Opa, controle-se. Nós não estamos ficando. Ela é a irmã mais nova do meu melhor amigo, como minha irmã caçula. – Ah, isso é mesmo tudo que ela é? – A bartender piscou para mim. – Sem ofensa, meu querido, mas você não estava olhando para ela como uma irmãzinha. – Então, inclinou a cabeça, pensativa. – Bem, talvez no Alabama – ela provocou. – Que seja – resmunguei para meu uísque. Depois de virar um copo, pedi outro, levando-o para a mesa. Felizmente, o álcool ajudou a diminuir meu tesão e também quaisquer pensamentos lascivos sobre Allison. Depois de mais algumas músicas covers, ela apresentou algumas das canções originais do Pink Magnólia, que, sob a ótica de um músico, não eram tão fortes. Sentia-me agradecido por esse não ser o sonho de Allison, pois ela tinha outros talentos aos quais se dedicar. Pouco antes das onze horas encerraram a apresentação. – Obrigada a todos, obrigada pela presença. Tenham uma ótima noite – Allison gritou no microfone. Esticando meu pescoço, eu a observei saindo do palco. Enquanto era beijada e abraçada por algumas pessoas ali, ela mantinha os olhos nos meus, depois caminhando pelo público até onde eu estava. Ofegante, Allison se sentou à minha frente. – Então, o que você achou? – ela perguntou com os olhos escuros ainda brilhando por causa da adrenalina correndo nas veias. Eu sorri. – Você estava fantástica. As sobrancelhas dela se ergueram. – É mesmo? – Deixa disso; pare de querer elogios. Quando suas sobrancelhas vincaram, estendi a mão para segurar a dela. – Você é boa, Allison. Eu não te diria isso se não fosse verdade.


Um rubor lhe tingiu as bochechas. – Obrigada. Talvez fosse legal convidar Jake para o show. – Oh, tenho certeza de que ele ficaria assombrado com sua pole dancing no pedestal do microfone. Não consegui evitar o riso quando ela gritou e então cobriu o rosto com as mãos. – Eu iria morrer... Simplesmente morreria se Jake me visse daquele jeito – foi a resposta em um som abafado. – Você parecia se sentir bem lá em cima. Espreitando-me através dos seus dedos, ela perguntou: – Sério mesmo? – Muito legal e muito sexy – admiti. Retirando as mãos do rosto, ela me olhou. – Você me achou mesmo sexy? – ela perguntou incrédula. Por razões que eu não compreendia, Allison genuinamente se preocupava com minhas opiniões. – Claro que sim. Estaria cego se não gostasse de suas habilidades apalpando o microfone. – Eu estava sendo honesto, mesmo assim ela não precisava saber tudo, tal como o modo que me fez ficar de pau duro. – E ainda por cima saiba que não fui o único. Duas garotinhas ao meu lado falaram muito sobre você. – Falaram? Assenti e inclinei-me para mais perto dela. Ajustando o tom de minha voz ao som alto da música, eu disse: – Uma delas ficou especulando sobre como seria bom o gosto que você tem. Allison, mais uma vez, gritou e escondeu o rosto, dando uma resposta inocente que me fez rir: – Não há problema algum em ter admiradores. Afastando as mãos, ela abanou o rosto. – Acho que não há mesmo, mas é hora de mudarmos de assunto. – Se você insiste. Inclinando a cabeça, ela perguntou: – Então, você acha que Pink Magnólia poderia abrir os shows do Jacob’s Ladder e do Runaway Train em breve? Eu ri. – Não exatamente. Allison deu uma risadinha. – Eu não penso assim. Mas, de certa forma, estou feliz. É bem divertido fazer isso durante a semana, podendo extravasar energia por meio da música. E também por meio da performance. – Ela franziu o nariz. – Isso não é para mim. – Você está destinada para coisas maiores e melhores no mundo da moda.


– Assim espero. Uma atraente garota de cabelo preto cortado curto colocou um drinque de frutas com um guardachuva espetado na frente de Allison. – Beba, Sonny. Você deu um show esta noite. Aquele cover de Etheridge esteve fora deste mundo fodido. – Obrigada, Cassie. – Allison sorriu enquanto pegava a bebida. – Estou me sentindo um pouco sedenta depois de toda essa cantoria. Olhando as duas mulheres, eu, provocativamente, disse: – Espere um pouco. Ela não fez 21 anos ainda. Os olhos escuros de Cassie se estreitaram quando ela se aproximou de mim. – Sim, bem, o que você sabe, garoto bonito? Eu não ligo a mínima para quantos anos ela tem. Senti como se tivesse de defender a minha terra frente à garota que parecia querer acabar comigo por eu ter me atrevido a questioná-la. – A soberba do proprietário. Eu odiaria que você perdesse sua licença para bebidas alcoólicas. – Cassie e Allison caíram na gargalhada. – O que é assim tão engraçado? – exigi saber. – Eu sou a proprietária – Cassie respondeu. Assentindo, Allison disse: – Rhys, esta é minha colega de quarto de quem eu estava te falando, Cassie Broughton. Minhas sobrancelhas dispararam em sinal de surpresa. Afinal, Cassie não parecia muito mais velha que Allison, e ainda era proprietária de uma boate. Estendi a mão. – Muito prazer em te conhecer. Apertando minha mão, Cassie sorriu com sinceridade. – É bom te ver outra vez. – Outra vez? – perguntei. Ela confirmou com um gesto de cabeça. – Você, provavelmente, não se lembra de mim, mas nossos pais são amigos. Acho que fomos obrigados a participar de alguns jantares juntos, quando ainda éramos adolescentes. Conhecendo minha mãe, sei que ela talvez tentasse desesperadamente que você me namorasse. – Com um gesto dramático, ela continuou: – É tão perturbador que sua única filha seja lésbica. Não se pode gastar cada momento planejando o casamento do ano. Porque você teria de ir para o Norte com todos aqueles – ela baixou a voz – indesejáveis ianques liberais para ter um casamento oficial. – Colocando as costas da mão na testa, Cassie suspirou. – Deus me livre. De repente, eu me lembrei. Eu a havia encontrado antes, em uma festa ou duas, e ela era muito engraçada. O tão necessário alívio cômico para nossa situação. – Cassandra, certo? Revirando os olhos, ela deixou escapar um suspiro controverso.


– Só os babacas da sociedade me chamam assim. Eu ri. – Confie em mim. Eu não amo o mundo dos nossos pais. Cassie sorriu. – Bem que eu sabia que iria gostar de você. Allison fala de você o tempo todo. – Ela piscou para mim. – Só coisas boas. Com um grito sufocado, Allison apressadamente a corrigiu: – A banda. Falo sobre Jake e todos os caras. – Ela, mais uma vez, agarrou seu drinque de frutas e sugou-o duas vezes pelo canudinho. Um silêncio embaraçoso pairou sobre a mesa. Limpando a garganta, Cassie se inclinou apoiada nos cotovelos. – Então, o que acha da minha boate? – Ótimo, – respondi com entusiasmo. – Como você virou proprietária? – Herança da minha avó. É também dela a casa onde Allison e eu vivemos. – Um sorriso melancólico adornou o rosto de Cassie. – Ela era uma espécie de rebelde social. Você conhece o tipo; bebia e fumava quando não era coisa de uma dama e ainda praguejava como um marinheiro. Gosto de imaginar que minha avó aprovaria me comprar um estabelecimento onde se servem drinques fortes para as pessoas que tentam se engajar em atos indecentes. Eu ri do resumo que ela fez do Saffie’s Tea Room. – Comparado com um monte de boates onde estive, este lugar parece bem caseiro. – Acredite em mim; aqui é uma loucura nos fins de semana. Meu olhar cintilou em Allison. – Você se apresenta nesses “fins de semana de loucura”? As bochechas dela ficaram ruborizadas. – Nós nos apresentamos nas noites de sexta-feira, mas a figura principal é um DJ. Cassie riu. – Gosto de manter Allison afastada daqui nos fins de semana. Desse modo, nunca uma garota bêbada a converterá para o outro time. – Então já vi tudo – retruquei, piscando para Allison. Mais uma vez, ela balbuciou mortificada com os meus comentários e os de Cassie, e mais uma vez eu a achei absolutamente cativante. Apesar dos 20 anos, de muitas maneiras ela ainda era a adolescente inocente e ingênua que eu conhecera tantos anos atrás. A maioria das mulheres com quem tive contato era tão mundana e fechada em si mesma. Estar com Allison representava uma mudança agradável. – Se você não se importa, vou levar o assunto pra longe de meu suposto fascínio – ela disse. – Vá em frente, Sonny – Cassie retrucou. Allison focou sua atenção em mim.


– Amanhã à noite estarei livre. Você gostaria de uma sessão de cinema? Fiz uma careta. – Adoraria, mas tenho um estúpido leilão de solteiros7 e serei o mestre de cerimônia. Rolando os olhos de modo provocativo, Allison disse: – Como se eu não tivesse escutado essa desculpa um milhão de vezes. Ri. – Juro que é verdade. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, eu preferiria ficar assistindo ao Monty Python com você a vestir um terno de macaco com um bando de babacas da sociedade. – Acho que já ouvi alguma coisa sobre esse leilão. Não é sua mãe que está liderando? – Cassie perguntou. – Infelizmente, é. Por causa disso, fui laçado como mestre de cerimônia. Minha mãe só admira meu sucesso quando ele pode atender ao seus propósitos. Desta vez, ter um mestre de cerimônia que é uma celebridade vai reunir mais pessoas para que possam ter seus bolsos esvaziados. Eu até teria dito à minha mãe que não iria, mas é por uma causa que me toca o coração. – E que causa é essa? – Allison perguntou com delicadeza. – Pesquisa sobre autismo. – Enquanto mantinha os olhos fixos na mesa, sentia o olhar inquisitivo de Allison no meu rosto. Tenho certeza de que ela tentava decifrar os motivos por que alguém como eu estaria interessado em caridade. – É tão legal que esteja pensando em Lucy. Estou certa de que significa muito para Brayden e Lily você trabalhar para levantar dinheiro para pesquisa – ela disse. Meus olhos procuraram os dela. Embora Allison tivesse errado o alvo, respondi: – Suponho que sim. – Quem são Brayden e Lily? – perguntou Cassie, olhando de mim para Allison. – Meu colega de banda e sua esposa. Lucy, a filha caçula, foi diagnosticada com um tipo de autismo. No caso dela, mais uma doença sensorial que os médicos acreditam que pode melhorar, caso não seja corrigido, por meio de muita fisioterapia. – É um diagnóstico duro, mas pelo menos parece que há alguns aspectos positivos. Allison concordou. – Não existem pais mais doces e pacientes que Brayden e Lily. – É verdade – concordei. Com um sorriso meigo, Allison disse: – Bem, não terei uma noite de cinema com você, mas pelo menos sei que é por uma boa causa. Apoiando os cotovelos sobre a mesa, inclinei-me para ela. – Quem disse que não podemos passar a noite juntos? – O que isso significa? – Por que você não vai ao leilão comigo? Deve demorar de duas a três horas; depois, poderíamos


jantar. Mordiscando o lábio inferior, Allison disse: – Ah, não sei. Cassie a cutucou, brincando. – Vá, sim. Se não for, ficará sentada em casa sozinha com um pote de sorvete. Allison fechou a cara para Cassie. – Muito obrigada por me lembrar que sou uma fracassada sem vida própria – ela comentou com sarcasmo. – Venha comigo. Você vai começar a conhecer ainda mais da cultura e da história de Savannah. O leilão será no Mercer Williams House. – É a casa do filme Meia-noite no jardim do bem e do mal? Com um gesto de cabeça, respondi: – É, sim. – Pensei que havia virado um museu agora. – Embora esteja aberto para os turistas, a irmã de Jim Williams ainda vive lá. Foi assim que minha mãe conseguiu reservar o lugar para o evento. Ambas se conhecem há muito tempo. – Isso parece divertido – comentou Allison com um sorriso hesitante. – Então por que você não disse que sim? Acho que faz muito, muito tempo que não preciso batalhar tanto por um encontro. – À menção da palavra “encontro”, os olhos escuros de Allison se arregalaram. – Tentando remediar, eu disse: – Bem, você sabe o que quero dizer. – Só não desejo que seja algo que envolva piedade. – Piedade? – repeti. – Sei que Jake te pediu para que fique de olho em mim porque eu estava com saudades de casa. Mas não quero que se sinta na obrigação de me levar pra todo lugar ou, caso contrário, vou ficar toda deprimida sentada numa sala escura em casa. Eu ri. – Isso nada tem a ver com Jake ou piedade. Somos apenas você e eu nos divertindo na cidade, tá certo? – Tá certo. – E então, você vai? – A testa de Allison estava franzida indicando preocupação. – É black tie, né? – Sim, algum problema? As mãos dela remexiam ansiosamente o guarda-chuva do drinque. – Como sou nova na cidade, todos os meus melhores vestidos ficaram em casa. Cassie limpou a garganta. – Não precisa ter medo. Eu tenho o vestido perfeito e posso emprestá-lo a você. – Pode mesmo? – perguntou Allison.


Com uma risada, Cassie respondeu: – Sim, é um vestido preto curto de uma série de alta-costura ainda com as etiquetas. Minha querida mãe o trouxe da Fashion Week em Paris há alguns anos. – Ela piscou para nós. – Foi uma de suas últimas tentativas em tentar me deixar mais feminina. – Tem certeza de que não se importa em emprestá-lo? Cassie revirou os olhos. – Você não vê que eu nunca uso vestido? Muito menos alguma coisa babaca de alta-costura. – É verdade – Allison retrucou. – Exatamente. Então, ele é todo seu, desde que não se sinta desconfortável vestindo uma roupa que foi lançada já há algumas temporadas. Allison balançou a cabeça com força. – Tudo bem. Ficarei feliz. Cassie sorriu. – Problema resolvido. – E virou-se para mim. – Certifique-se agora de mostrar nossa garota no momento propício. Que foda que as palavras “Allison” e “momento propício” enviaram minha mente pervertida a uma direção aonde não deveria ir. Claro, também não ajudava eu ter uma visão tão deliciosa de Allison naquele vestido vermelho e com botas de cano alto. Merda, eu estava mesmo ferrado. Depois, bebendo o resto de meu uísque, encontrei no olhar de Allison e estampado nele o que eu esperava ser um sorriso fraternal. – Vou tentar fazer o meu melhor.


Quatro

ALLISON

Assim que saí, corri para casa como um relâmpago. Só dispunha de uma hora para tomar banho e me arrumar antes de encontrar Rhys na Mercer Williams House. Tendo em vista que eu cheirava a pizza e cerveja, precisava de algum tempo para me transformar e aparecer cheirosa e aceitável para ele. Passei voando pela porta da frente e encontrei Cassie descansando no sofá. – Aí está você. Coloquei o vestido em cima de sua cama. – Obrigada – ofeguei. Sem dizer mais nada, corri pelo corredor até meu quarto. Ao abrir a porta, inclinei meu corpo e apoiei as mãos no joelho, para recuperar o fôlego. Uma vez que minha respiração normalizou, olhei para o vestido espalhado sobre o edredom. – O quê...? – murmurei, dando alguns passos vacilantes até a cama. – Cassie! – O que foi? – ela perguntou. – Venha aqui! – exigi. Em questão de segundos, ouvi os passos dela correndo pelas tábuas velhas que rangiam. Assim que irrompeu pela porta, ela me olhou com ironia. – Que droga está acontecendo aqui? Sem encontrar as palavras certas, apontei para o vestido. Cassie cruzou os braços sobre os seios. – Não me diga que você não gosta? Com a mão, toquei levemente o tecido de seda. – Não é isso. O vestido é deslumbrante. – E qual é o problema? Eu não sabia bem como explicar que o pequeno vestido preto era, na verdade, um minúsculo vestido preto. Peguei-o e o ergui na frente do meu corpo. – Você não acha que ele é meio... – Enruguei meu nariz. – Promíscuo? Cassie jogou a cabeça para trás e riu. – Bem, ele é mesmo, afinal, veio de Paris.


Enquanto eu olhava para a parte inferior do vestido, pensei que as fendas e os rasgos no tecido faziam-no parecer como se tivesse sido preso em uma trituradora de papel. Eu amava moda, mas não conseguia compreender a proposta do design. – Você vai dar uma porra de um nocaute nesse vestido. Já estou prevendo vários caras gozando nas calças simplesmente com a visão de você nessa roupa. – Eca – murmurei com uma risada. Com um olhar de sabedoria, Cassie disse: – Seria grosseiro se Rhys ejaculasse só de te olhar? – Por que você precisa ser tão vulgar? – eu perguntei, imitando o tom arrogante que havia escutado a mãe dela usar nos disparates de Cassie. Ela sorriu. – Porque sim, querida, e eu devo ser. E não tente fugir do assunto referente a Rhys. Sentindo o calor inundar meu rosto, coloquei o vestido de volta na cama. – Preciso tomar uma ducha. – Lá está você de novo fugindo do assunto. Sei como se sente sobre ele, Allison. – Mas ele não sabe. – Mas ele precisa saber. Você tem de lhe contar. Que inferno, se você não consegue dizer em palavras, então deve mostrar em ações. – Quando abri a boca para protestar, Cassie sacudiu a cabeça. – Sei o que vi na outra noite. O homem pode até não mostrar, mas ele está total e completamente na sua. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, eu queria acreditar que era verdade o que Cassie estava dizendo. Apesar de nunca ter a chance de ficar muito tempo sozinha com Rhys, havia notado como ele me tratara de modo diferente na noite anterior, sem contar que me chamou de sexy e linda. Certamente não se diz isso a quem é considerada uma irmã caçula. Mas, ao mesmo tempo, o não dito entre nós estava longe demais de me fazer acreditar que havíamos invertido a situação. Balancei a cabeça para Cassie. – Você não entende. O que acontece entre nós... tem de ser tudo ou nada. Se as coisas derem errado, isso afetará muitas outras pessoas além de nós. – Mas, se você não tentar, nunca vai saber se funciona ou não. – Olha, sei que você está certa, mas preciso ir devagar, tá certo? Cassie fez uma careta. – E o quanto devagar você está pensando em ir? Agora, já está numa velocidade glacial. Suspirando, ergui a mão. – Vamos terminar esta conversa mais tarde para que eu não fique terrivelmente atrasada? – Tá certo, tá certo. Vá tomar um banho e elimine esse cheiro de tomate e cerveja. Joguei meus braços em torno de Cassie e apertei-os.


– Obrigada pelo vestido, mas, principalmente, obrigada por se preocupar com o que acontece entre mim e Rhys. Ela me apertou de volta. – Só quero que você seja feliz, Sonny. – Eu sei. Após eu me afastar, ela sorriu. – Agora se apresse. Você não quer fazer o Príncipe Encantado esperar muito tempo. – Exatamente – respondi, entrando apressada no banheiro. Já despida, saltei para o chuveiro fumegante. Lavei o cabelo, depilei as pernas e tomei banho, tudo em tempo recorde. Depois que sequei o cabelo, enrolei-me numa toalha e corri para pegar meu vestido sobre a cama. Mas aí estanquei. Cassie não estava sozinha na cama com meu vestido. Em vez disso, estava trocando carinhos com uma mulher que eu nunca havia visto antes. – Que diabos? – Não consegui deixar de dizer. Cassie se afastou e me deu um sorriso envergonhado. – Desculpe, Sonny. Estávamos entediadas esperando você sair do banheiro. Apertando a toalha em que me enrolava, eu disse: – Por favor, não quero interrompê-la. – E comecei a voltar para o banheiro. – Opa, não vá a lugar algum. – Ela apontou para a garota loira e magra ao lado dela. – Esta é Shelly. Ela vai fazer seu cabelo e sua maquiagem. Olhei para ambas. – Ela vai? Shelly sorriu. – Sou proprietária de um salão subindo a rua. Cassie assentiu. – Ela vinha pra cá de qualquer maneira, então pensei que poderia ajudá-la. Você sabe, deixá-la deslumbrante para Rhys. – Tem certeza de que não se importa? – perguntei a Shelly. – Claro que tenho. – Piscando, ela acrescentou: – Fico feliz de fazer qualquer coisa em nome do amor. Ri. – Tá certo, se você insiste. Eu adoraria que me deixasse bem linda. – Amor, você já é linda. Só vou melhorar o que você já é. Olhando para meus seios achatados, perguntei: – Você também pode melhorar isso? Ela sorriu. – Não faço milagres. Tenho certeza de que o vestido vai apertá-los e deixá-los maiores. Vá em


frente e o vista, e então vou começar a trabalhar. Concordei. Depois de pegar o vestido e a roupa íntima de que eu precisaria para voltar para o banheiro, entrei nele. Como não havia jeito de fechar o vestido sozinha, voltei ao quarto para que Cassie me ajudasse. Quando estava tudo pronto, sentei-me em uma cadeira e Shelly começou seu trabalho. Alguns minutos passaram enquanto ela acabava de secar meu cabelo, reforçando os cachos, e então a maquiagem foi feita. – Ah, está tudo pronto – Shelly disse finalmente. Rodopiando fora da cadeira, eu me apressei para me ver. Frente ao espelho alto e oval que eu havia trazido de casa, balancei a cabeça em sinal de descrença. Uma parte minha lutou contra a vontade de tocar o espelho para me certificar de que era realmente eu ali. – Ah, meu Deus, Shelly, você faz milagres. Ela riu enquanto ajeitava alguns cachos que caíam pelas minhas costas e depois passava um spray neles. – De novo, eu apenas reforcei a beleza que já estava aí. Meu olhar mergulhou dos meus longos cílios postiços para os lábios carnudos e cintilantes, chegando ao justo corpete sem alças do vestido de alta-costura. Shelly tinha razão ao dizer que a roupa ajudaria a aumentar meus seios. Pela primeira vez, meu sutiã de taça tamanho P estava parecendo um M completamente preenchido, pois meus seios se derramavam sobre a parte superior do vestido. Nem sei a última vez em que havia me sentido tão bonita, talvez só na minha festa de debutante. Eu precisava, desesperadamente, me sentir assim para aumentar a confiança e, então, abordar Rhys, que estava acostumado a mulheres deslumbrantes atirando-se nele com audácia. Embora eu nunca pudesse agir do mesmo modo, com certeza seria capaz de trabalhar a fim de que ele me notasse. Então, talvez, as coisas começassem a mudar para nós. – Você está de tirar o fôlego, Sonny – Cassie disse atrás de mim. – Obrigada. Espero que sim. – Meu olhar brilhou para o relógio sobre a mesa do criado-mudo. – Que merda. Já estou uns dez minutos atrasada. Cassie estendeu os braços e colocou as mãos sobre meus ombros. – Querida, você precisa respirar ou então acabará desmaiando. – Mas... – Sem mas. Tem um táxi te esperando lá fora; portanto, em menos de dez minutos você estará lá. – Ah, é? – perguntei, apressando-me para vasculhar o armário à procura dos sapatos pretos de salto. – Sim. Chamei um pra você enquanto Shelly estava fazendo sua mágica. Depois que deslizei nos sapatos, peguei minha bolsa. – Muito obrigada a ambas, muito, muito mesmo.


– De nada – responderam em uníssono. Assim que cheguei à porta, eu me virei. – Ah, só uma coisa. – O quê? – perguntou Cassie. – Você poderia se abster de transar na minha cama? Eu mesma nunca fiz isso nela. Cassie riu. – Sem problema. – Enxotando-me com a mão, ela continuou: – Agora, saia logo daqui. – Estou saindo, estou saindo – eu disse, deslizando pela porta. Em seguida, corri descendo os degraus e logo me acomodei no táxi, que, de forma piegas, senti como se fosse a carruagem da Cinderela. – Leve-me até a rua Bull, 429, o mais rápido que você puder – pedi ao motorista. Ele considerou o meu pedido uma ordem enquanto corria pelo meio-fio, adernando pela avenida Oglethorpe antes de fazer uma curva acentuada à direita. Segurei o assento de couro, rezando em silêncio para chegar intacta à Mercer Williams House. Na virada da Monterey Square, começamos a nos mover com lentidão. Então, olhando pela janela, vi manobristas em casacos brancos que corriam pela frente da casa, distribuindo os tickets e, em seguida, estacionando os carros. – Você pode me deixar aqui – eu disse ao motorista. – Tudo bem. Depois que peguei uma nota de dez em minha carteira, entreguei-a a ele. – Obrigada. – Tenha uma excelente noite, senhorita. – Você também – concluí, já estendendo o sapato de salto alto para a calçada. Após fechar a porta, caminhei o mais rápido que consegui. Segui alguns casais passando pelo portão de ferro forjado e andando até a frente da casa. Quando chegamos à porta, um homem de smoking estava verificando os convites. Comecei a entrar em pânico. Rhys não mencionara a necessidade de um convite. No entanto, já prestes a pegar meu celular para uma mensagem de texto a Rhys, o homem perguntou: – Senhorita? – Oh, humm, não tenho um convite. Fui convidada por alguém – expliquei, imediatamente percebendo que parecia idiota. Olhando para sua prancheta, o homem solicitou: – Nome? – Allison Slater. Ele percorreu a folha com um dedo e então parou. – Bom. Pode entrar. Suspirei aliviada, passando alegre por ele e entrando no vestíbulo de azulejos pretos e brancos da


casa. Imediatamente, senti como se estivesse entrando direto no filme Meia-noite no jardim do bem e do mal. Assim, meio que esperava Kevin Spacey por ali, fumando um charuto, junto a Jim Williams. Na ponta dos pés, estiquei o pescoço, procurando Rhys na sala lotada. Como não o vi, entrei na primeira sala à direita, onde muitas pessoas conversavam e bebiam champanhe. Saí e abri caminho pelo salão. Ainda sem encontrá-lo, resolvi que era melhor começar a perguntar. Tocando no ombro de um cara, eu disse: – Por favor? Depois que ele se virou, seu olhar mergulhou lentamente pelo meu corpo, como se quisesse memorizar cada curva. – E o que eu posso fazer por uma lindeza como você? – ele falou de modo arrastado. – Você sabe onde posso encontrar Rhys McGowan? Ele sorriu. – Você está querendo apostar nele hoje à noite? Franzi minhas sobrancelhas sem entender. – Perdão? Inclinando-se bem mais perto de mim do que eu gostaria, o cara disse: – Por que desperdiçar seu dinheiro nele se pode ir pra casa comigo? Garanto que vou te fazer gritar por um bom tempo. Toda. A. Noite. – Dá um tempo, Donaldson. – A voz de Rhys soou atrás de mim. Ao sentir as mãos de Rhys em minhas costas, imediatamente relaxei. Inclinando a cabeça, recebi o sorriso estreito dele. – Me desculpe não poder te encontrar mais cedo. – Está tudo certo. Rhys afastou os olhos de mim e fitou meu admirador devasso. – Vejo que você está se familiarizando com algumas pessoas. Donaldson, como Rhys o havia chamado, estendeu a mão. – Onde estão minhas boas maneiras? Nem me apresentei corretamente. Sou James Donaldson. – Allison Slater – respondi, balançando a mão dele com rapidez. Mas, antes que me afastasse, ele estava levando a palma de minha mão aos lábios. – Verei você mais tarde, senhorita Slater. Espero que aposte em mim esta noite. – Não conte com essa – Rhys resmungou entre dentes. James piscou para mim antes de tocar no ombro de Rhys. – É sempre um prazer encontrá-lo, McGowan. Tenha uma excelente noite. Rhys fez uma careta para James enquanto ele caminhava entre nós, e então se virou para mim. – Me desculpe por fazer você lidar com aquele babacão. – Ele não foi tão babaca assim.


– Ah, pode acreditar em mim. Eu o conheço desde que éramos crianças. Ele não é só um brigão, mas também um baita de um idiota mulherengo. – Então eu deveria ter dado uma joelhada nas bolas dele em vez de permitir que beijasse minha mão. Rhys arregalou os olhos por um segundo antes de explodir em riso. – Como eu teria gostado de ver isso. Estou certo de que você causaria uma excelente impressão. Ri. – Eu também. – Chega de falar daquele imbecil. Graças a ele, eu nem sequer consegui cumprimentá-la corretamente. – Tá tudo bem. Ele balançou a cabeça e posicionou-se na minha frente. Segurando minhas mãos, examinou-me. O calor de seus olhos fez meu coração disparar. – Você está de tirar o fôlego esta noite. – Obrigada – agradeci ofegante. Rhys sorriu. – Considerando que está pondo cada mulher nesta sala no chinelo, não me surpreende que aquele babacão tenha dado em cima de você. – Você não é o lisonjeador esta noite? – provoquei, tentando controlar minhas emoções. – Eu só falo o que vejo. – Quando os olhos de Rhys se deslocaram até meu peito, a expressão jovial dele, por um momento, desvaneceu. Com um movimento fluido, Rhys diminuiu a distância entre nós, apoiando-se no canto da sala de estar. Imediatamente, minha cabeça girou, enquanto eu recebia uma sobrecarga sensorial com a proximidade dele. Seu profundo aroma de almíscar encheu meu nariz, à medida que o calor que irradiava de seu corpo vestido num smoking quase chamuscava minha pele exposta no vestido sem alças de alta-costura. Eu olhava interrogativamente o rosto de Rhys, e os olhos escuros dele continuavam travados em meu peito. Um observador normal teria presumido que Rhys exibia um comportamento típico do sexo masculino, cobiçando meus seios. Mas eu sabia mais. Acima de tudo, eu o conhecia muito mais. Na verdade, a atenção dele fora atraída para o pingente aninhado em meus seios tamanho médio. Quando os dedos dele roçaram minha pele nua, não consegui evitar o tremor que percorreu meu corpo. Eu não queria nada, exceto sentir as mãos de Rhys em mim. Sendo bem franca, eu fantasiava sobre isso na maioria das noites, especialmente após um período sem orgasmo. Segurando o pingente, Rhys o pesou na mão, apreciando todos os detalhes dele antes de voltar os olhos para mim. – Não posso acreditar que você ainda o tem, e menos ainda que o usa.


Seu tom quase de acusação foi como uma ferroada, e eu puxei o pingente das mãos dele. Mas elas continuaram firmes nele, o que fez a fita de cetim machucar meu pescoço. – E por que eu não o teria? Ele encolheu os ombros. – Porque faz muito tempo que te dei isto. – Foi na minha festa de debutante – eu lembrei a ele. – Eu sei – Rhys murmurou. – Você sabe? Ele sustentou meu olhar enquanto manuseava a magnólia em relevo sobre o pingente. – Claro que sim. – Seu lábio arqueou em um meio sorriso. – Foi há apenas quatro anos, AllieBean. Ainda não sou tão velho para sofrer perda de memória. Um riso nervoso escapou de meus lábios. – Você não é velho. – Somente mais velho do que você – ele ponderou. – Só uns poucos anos – retruquei, erguendo meu queixo com determinação. Nos olhos castanhos salpicados de dourado de Rhys, vi a pergunta que ele jamais ousaria verbalizar. Quatro anos e meio se passaram desde aquela noite inesquecível junto à fonte em minha festa. Eu havia vivido outros amores e outras experiências de vida. Depois de todo esse tempo e a distância, ele se perguntava por que eu ainda usava uma gargantilha simples, pintada à mão por sua irmã, tão perto do coração. E eu queria, desesperadamente, lhe dizer que a usava porque, apesar de todos os amores e das outras experiências de vida, eu ainda continuava louca e completamente apaixonada por ele. Engolindo em seco, respondi: – Gosto de usá-la porque amo magnólias, sempre amei. Magnólias me lembram de mulheres fortes, do tipo que quero ser. Mas, acima de tudo, isso me lembra de minha casa. Rhys meneou a cabeça, aceitando minhas meias-verdades como se fossem o evangelho. Afinal de contas, talvez a evasão fosse a melhor coisa para nós dois. Pelo menos por enquanto, continuava dizendo isso a mim mesma. Agora que estávamos no limite de um território inexplorado, gostaria de jogar o jogo enquanto tivesse tempo, de modo a conquistar o coração de Rhys. Ele colocou com carinho o pingente de volta no meu peito e deu um passo para trás. – Estou feliz de que ainda o tenha, e de que ele signifique tanto pra você. – Como estávamos prestes a cair num silêncio embaraçoso, Rhys perguntou: – Está com fome? É claro que ele inventou de mudar de assunto. – Talvez um pouco. – Venha comigo. – E então ele me levou de volta para o corredor e para a sala de jantar, onde pegou um prato e começou a enchê-lo de alguns hors d’oeuvres. – Você ainda gosta de todas as


coisas de queijo, certo? Olhei-o chocada. – Uh, sim, gosto. Ele sorriu. – Experimente o espinafre e os canapés de queijo; estão deliciosos. À medida que ele colocava algumas frutas em meu prato, perguntei: – Como você se lembrou de que eu gostava de queijo? Ele me lançou um olhar fulminante. – E como não lembraria se me sentei ao seu lado em um milhão de churrascos e jantares ao longo dos anos? Você punha queijo ralado até nos hotdogs. Se isso tivesse sido um velho romance sulista ou um filme, eu desmaiaria naquele momento. Claro, a questão do queijo era apenas um detalhe, mas ele se lembrava. De mim. – Você está certo mesmo. Minha mãe diz que sou assim porque ela adorava queijo na gravidez. E, aparentemente, jamais gostara antes. – Contraí os lábios para evitar, mais uma vez, a verborragia que me fazia parecer idiota. Rhys sorriu ao me entregar o prato. – Aqui está. Isso deve controlar sua fome até que a gente possa jantar. – Obrigada, amável senhor – provoquei. Com uma gargalhada, ele apoiou a mão em minhas costas, conduzindo-me pelo corredor até um ambiente lindamente decorado, uma sala de estar. Acenando para a extensão da sala, ele disse: – O leilão será lá. A maioria das pessoas que irá apostar ficará lá e aqui. Mastigando um dos canapés, franzi o nariz. – Ainda é tão bizarro para mim que existam leilões de solteiros e de solteiras. Isso parece tão ultrapassado. – Concordo totalmente com você. É por essa razão que você não vai me ver incluído no programa. – Que pena. Eu poderia ser tentada a apostar em você. Rhys me deu um sorriso tão sexy que superaria em rivalidade o de AJ. – Sim, mas você é a garota de sorte que me tem de graça – ele desafiou. Engoli em seco. Tentando salvar as aparências, retruquei com rapidez: – Isso é verdade. Não quero perder meu dinheiro. Rhys riu com gosto, abrindo a boca para dizer mais alguma coisa quando fomos interrompidos por uma mulher em um vestido azul cintilante. – Aí está você – ela disse. Rhys, de imediato, ficou tenso e, após forçar um sorriso, ele falou: – Oi, mãe. Apesar de minha tentativa de não ficar encarando, não pude deixar de perceber cada detalhe da


mãe dele. Ambos tinham o mesmo cabelo e olhos escuros. O cabelo dela estava penteado para trás, formando um coque firme na base do pescoço. Embora estivesse na faixa dos 50, ela parecia muito conservada e jovial, com o rosto sem rugas, em razão ou de boa genética ou de um bom cirurgião plástico. Eu apostava na última opção. – Está quase na hora de começar. – Ela olhou do filho para mim. Então, apertou os lábios vermelhos, enquanto estreitava os olhos com astúcia. – E quem é essa jovem? – Allison Slater. Você se lembra de meu companheiro de banda, o Jake? À menção da banda, um ar de desprezo inundou o rosto da mulher. – Sim. – Allison é a irmã caçula dele. Ela está frequentando a SCAD8. – Que adorável – a mãe de Rhys comentou com tal entusiasmo que parecia que Rhys havia dito que eu estava em Savannah para uma convenção de prostituição. Imediatamente me lembrei de Uma linda mulher, quando a personagem de Julia Roberts, Vivian, diz sobre o amigo de Edward que você pode fazer gelo na bunda da arrogante esposa dele. Esse é o protótipo da mãe de Rhys. Ignorando o tom de voz dela, Rhys me disse: – Esta é minha mãe, Margaret. – É bom conhecer a senhora – eu disse, estendendo a mão. Após apertar minha mão com um movimento rápido, ela voltou sua atenção para o filho. – Espero que você alcance um bom valor no leilão desta noite. – Acho que vamos fazer um bom negócio. – Você me interpretou mal. Eu quis dizer que espero que você traga um monte de dinheiro. As sobrancelhas escuras de Rhys se ergueram indicando confusão. – Acho que não entendi. – Você é o solteirão final da noite. Ofeguei de surpresa, especialmente depois da conversa que acabáramos de ter. Rhys também pareceu passado, mas depois seu rosto corou de raiva. – Mãe, não me lembro de ter concordado em desfilar hoje à noite. Na verdade, tenho certeza de que você sabe como me sinto sobre esses leilões. Ela fez um gesto de desprezo com a mão em cujo dedo havia um diamante incrustado. – É por uma boa causa, não é? – Eu não gosto de virar um brinquedo de aposta. Acho que terei de, gentilmente, recusar. Margaret estreitou os olhos para ele. – Com seu nome constando no programa? Eu acho que não, Rhys. – Quando ele começou a protestar, Margaret balançou a cabeça. – Não vou ter meu evento arruinado em função de suas exigências mesquinhas. – Assim que um antigo relógio bateu a hora, Margaret empinou o queixo para Rhys. – É hora de começar o leilão. – Sem dizer mais nada, ela se virou, afastando-se de nós.


A mandíbula de Rhys se comprimiu. Estendendo a mão, toquei o braço dele com timidez. Como ele não recuou, eu o afaguei. – Sinto muito. Ele fechou os olhos por um momento. – Está tudo bem. Nem sei por que estou tão surpreso. Ela faz merda desse tipo o tempo todo. – Antes eu estava brincando, mas, se tivesse dinheiro, apostaria tudo em você. Rhys abriu os olhos e um sorriso lhe curvou os lábios. – Essa é uma ótima ideia. – Mas... – eu comecei a protestar. Ele sacudiu a cabeça. – Pra garantir que não serei um brinquedinho de alguém por uma noite, vou te dar o dinheiro pra apostar em mim. – Sério? – Claro. Por que não? – Mas como saberei quando parar? – Esse é o ponto. Você não vai parar. Será a vencedora, ok? Concordei com um movimento de cabeça. – Ok. Rhys se inclinou e beijou meu rosto. – Obrigada, Allison. Você é uma salva-vidas. Apreciei a proximidade entre nós por um fugaz momento, antes de ele se virar e caminhar até o palanque. Pegando o microfone de uma mesa com tampo de mármore, ele se posicionou atrás de um estrado de madeira que fora trazido para dentro. – Boa noite, senhoras e senhores. Espero que estejam aqui prontos para esvaziar seus bolsos em prol desta causa maravilhosa, porque agora é o momento de começarmos o leilão em prol da pesquisa do autismo. – Aplausos percorreram a sala. – Eu sou o mestre de cerimônia da noite, Rhys McGowan. – Ele foi interrompido por assobios e aplausos e sorriu, bem-humorado. – Obrigado; aprecio muito o entusiasmo de todos. E espero que estejam atentos aos programas, vendo quais os solteiros disponíveis e em que ordem. Então, vamos logo começar com isso, chamando nosso primeiro solteiro da noite, Walt Harrison. Fiquei um pouco afastada, observando Rhys por toda aquela movimentação. Ele era de fato um mestre de cerimônia muito bom, mantendo as pessoas rindo e os solteiros em movimento. Eu estava meio distraída quando uma garota da minha idade esbarrou em mim. – Bonito vestido. – Ah, obrigada. Na verdade, uma amiga me emprestou. Um sorriso repugnantemente doce apareceu nos lábios dela.


– Sem dúvida, ele veio do fundo do armário, considerando que é tão velho. Nem consigo mais calcular há quantas estações ele esteve na moda. As amigas que a cercavam riram abafando a boca com a mão. Embora quisesse dizer a ela mais de um milhão de coisas, eu me senti incapaz de verbalizar qualquer uma delas. Apertando minha taça de champanhe, simplesmente me afastei do grupo social de putas estereotipadas. Eu mal havia acabado de tomar um gole de champanhe para me acalmar, quando uma voz atrás de mim me fez sufocar: – Não se preocupe com a minha sobrinha, querida. Ela é uma vaca de segunda geração. Virando-me, deparei com uma mulher em um elegante vestido esmeralda. O cabelo preto e cinza estava penteado para trás com pentes brilhantes. Ela me deu um sorriso genuíno, o primeiro que eu havia testemunhado a noite toda, além de Rhys. – Obrigada... eu acho. Ela riu e, estendendo a mão enluvada, disse: – Eu sou Vivian Percy. – Allison Slater. – Não acho que tenha te visto antes nesta água infestada de tubarões. – Não, felizmente. Esta é a primeira vez e espero que a última. – Não te culpo por isso. Você está aqui com quem? – Rhys McGowan. – Como os olhos azuis da mulher se arregalaram, eu rapidamente acrescentei: – Ele e meu irmão são companheiros de banda. – Ah, sim, Rhys McGowan. Ele cresceu e virou um gatinho, não é? Com o calor inundando meu rosto, respondi: – É, sim. – Está pensando em apostar nele esta noite? – Humm, bem... – Eu não tinha certeza de que Rhys queria que nossos planos fossem conhecidos. – Ele é um ticket quente, querida. Eu não pensaria duas vezes nisso. – Sim, estou planejando apostar nele. Vivian sorriu. – Sorte sua. Agora guarde meu lugar por um momento enquanto corro atrás de algo pra comer. Estou morrendo de fome. – Claro. Mais dois solteiros foram leiloados até Vivian voltar. – Quem é o próximo? Olhei o programa. – Um tal de Jackson Marshall. Mudando seu prato para a mão esquerda, ela disse:


– Oh, graças a Deus, não sinto falta dele. – Ele é seu namorado? – perguntei casualmente. Vivian deu uma gargalhada. – Querida, talvez há quarenta anos eu tivesse tentado colocar minhas garras nele, mas Jackson é jovem o suficiente para ser meu neto. – Me desculpe. Ela agitou a mão que segurava um canapé. – Não precisa. Há uma razão pela qual quero apostar nele. Rhys interrompeu meus pensamentos falando: – Dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido por mil dólares. Com os aplausos explodindo, Vivian se inclinou para sussurrar no meu ouvido: – O pai de Jackson foi preso por fuga com dinheiro de investidores, um crime de colarinho branco, se você me entende. A única coisa de que as pessoas na sociedade de Savannah se orgulham é de suas mentes fechadas, idiotas imperdoáveis. Não há problema em Jackson ser um jovem íntegro com uma GPA 4.09 em Vanderbilt. A maioria das pessoas aqui gostaria de vê-lo no ostracismo, mesmo não sendo responsável pela atitude do pai. Naquele momento, Rhys chamou o nome de Jackson. Quando ele se dirigiu até o palanque, meus olhos se arregalaram de surpresa. Era como se Chace Crawford tivesse entrado no salão. Os olhos azuis dele brilhavam enquanto olhava para as pessoas. – Ai, meu Deus – murmurei. Vivian riu. – Eu me esqueci de dizer como ele é lindo, não é? – Um pouco. Pegando o microfone, Rhys leu uma biografia sobre Jackson, que, é claro, pareceu boa demais para ser verdade. Assim que terminou, Rhys disse: – Agora vamos começar os lances em quinhentos. O silêncio reverberou pelo salão. Conforme o sorriso radiante de Jackson recuava um pouco, Rhys limpou a garganta. – Alguém dá quinhentos? Enquanto Vivian respirava fundo, eu disparei na frente dela. – Quinhentos! – Deixei escapar, antes que me controlasse. Pouco importava que eu não tivesse quinhentos dólares ou que tivesse de explicar a meus pais por que o valor creditado no meu cartão era, na verdade, um leilão de solteiros. Um suspiro surgiu no meio da multidão, e Rhys piscou algumas vezes para mim, como se não tivesse certeza de poder acreditar no que via. O sorriso de Jackson, por sua vez, voltou a aumentar e ele deu uma piscadela para mim. Eu abaixei a cabeça, com as bochechas coradas.


– Bem, bem, olhe para você – Vivian murmurou. Olhando-a firme, retruquei: – Não consegui evitar. Me senti tão mal vendo Jackson lá em cima. – Sem medo, querida. Estou a ponto de colocar todos esses babacas bitolados no lugar que merecem. – Ela sorriu. – Só espero que não se importe se eu superar seu lance. – Ah, não ligo. Meu lance foi simplesmente um momento de impulsiva estupidez. E, então, olhei de novo para Rhys, que parecia ter-se finalmente recuperado de meu surto. Parecia que eu havia dado o pontapé inicial em algumas apostas em Jackson. – Temos novecentos. Eu ouço mil? Com um aceno de mão, Vivian disse: – Dez mil dólares. Minha boca se abriu em choque, enquanto o falatório zumbia à nossa volta. Jackson sorriu e balançou a cabeça para Vivian. Rhys tossiu. – Você falou dez mil dólares? – É isso mesmo, docinho – Vivian confirmou pausadamente. – Então, temos dez mil para Jackson Marshall. Alguém dá onze? – Ele teve, então, a audácia de me olhar e erguer as sobrancelhas. Quando fiz uma careta, Rhys sorriu. – Temos dez mil; dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido para a senhora Vivian Percy. Enquanto poucos aplausos ecoavam, Jackson veio diretamente em nossa direção, puxando Vivian para um abraço de urso. – Obrigado, senhorita Vivian. Mais uma vez, você foi muito generosa comigo. Ela deu nele um beijo estalado. Depois, friccionando o batom que havia sujado o rosto de Jackson, Vivian disse: – Acho que foi o suficiente. – Ela piscou para mim. – Estou certa de que a língua de todos sacudirá a noite toda, especialmente porque Jackson valerá mais que todos no leilão. – Aprecio isso. E espero que me permita levá-la para jantar e alguns drinques, tudo por minha conta, é claro – disse Jackson. – Será uma honra. Adoraria saber como está indo na faculdade. – Vivian estalou os dedos. – Ai, ai, acabei de lembrar que Jules chegará para uma visita em poucas semanas. Jackson sorriu. – Eu adoraria vê-la. – Então, está tudo certinho. Depois que Jackson deu em Vivian outro abraço, ele se virou para mim. – Obrigado por apostar em mim, mesmo sem ganhar, senhorita...? – Slater. Allison Slater. – Prazer em conhecê-la, senhorita Slater.


– E você é bem-vindo. Você sabe, o meu lance. Inclinando-se para perto de mim, ele me deu um sorriso que, normalmente, teria umedecido minha calcinha. – Eu também adoraria levá-la para jantar um dia desses. – É mesmo? Ele assentiu. – O que você vai fazer após o leilão? Afastando meu olhar dos hipnóticos olhos azuis de Jackson, procurei Rhys no palanque. Ele estava leiloando outro solteiro, embora atento a mim e ao rapaz. Eu não conseguia evitar uma sensação de prazer pelo fato de que ele parecia querer socar Jackson porque se atrevia a conversar comigo. – Você parece um sujeito de fato maravilhoso, mas já tenho planos. – Isso significa que existe alguém de quem você gosta? Concordei. – Sim, existe. – Ah, todas as garotas legais estão sempre ocupadas. Corei com os elogios. – Obrigada. – Te vejo por aí. Acenando, assisti a ele desaparecer na multidão. A batida do som do martelo de Rhys me assustou. – E agora chegamos ao último solteiro da noite. E parece que sou eu. Os assobios perfuraram meu tímpano. Virando-me para Vivian, eu disse: – Vou me aproximar do palanque. – Faça isso, boneca. Quando eu já estava quase à frente de Rhys, ele perguntou: – Vamos começar os lances com quinhentos? Abri a boca, mas fui interrompida por uma voz atrás de mim: – Quinhentos. Olhando por cima do meu ombro, vi que era a sobrinha de Vivian, a puta que havia insultado meu vestido. Oh, ela estava começando muito bem. – Eu tenho quinhentos. Alguém dá seiscentos? Enfiei a mão no cabelo e disse: – Seiscentos. Rhys sorriu. – Tenho seiscentos. Alguém dá setecentos? Pela segunda vez na noite, a puta me derrubou:


– Mil. Um falatório divertido encheu o ar sobre a senhorita Puta ter aumentado o lance. Rhys balançou a cabeça. – Bem, parece que temos mil dólares. Alguém dá mil e quinhentos? – Dois mil – cuspi. – Está certo, temos dois mil. Alguém dá... – Três mil – a senhorita Puta interrompeu. Eu a olhei. – Quatro mil. Intervindo entre nós duas, Margaret disse: – Senhoritas, vocês precisam seguir o protocolo. Baixando a voz, a senhorita Puta sibilou: – Você não vai para casa com ele. Eu vou. Sentindo-me como se estivesse de volta ao Ensino Médio, em vez de ser uma mulher adulta, retruquei: – Quer apostar? Rhys pigarreou no microfone: – Então, isso é quatro mil. Alguém dá quatro mil e quinhentos? – Cinco mil – a senhorita Puta respondeu, sem afastar os olhos dos meus. Nesse ritmo, o leilão poderia durar a noite toda; portanto, alguma coisa precisava ser feita. Jogando meus ombros para trás, dei um soco no ar. – Dez mil. Os olhos da senhorita Puta se arregalaram. – Ouvi você dar um lance de dez mil dólares? Erguendo minhas sobrancelhas, rebati: – Gaguejei? – Como ela não respondeu, continuei: – Sim, acho que você me ouviu corretamente. Desviei os olhos dos dela e fitei Rhys. – Temos um lance de dez mil. Ouço onze? Disparei para a senhorita Puta um olhar que a desafiava a tentar onze. Então, ela deu um suspiro de frustração e cruzou os braços sobre o peito, o que entendi como aceitação da derrota. Quando ninguém deu mais lance algum, Rhys bateu o martelo. – Parece que o senhor Marshall e eu estaremos vinculados aos lances de dez mil dólares, os mais altos da noite. – Mais uma vez, assobios e aplausos agrediram meus ouvidos. – Obrigado a todos que vieram para ajudar a fazer desta noite um sucesso. Obrigado também aos solteiros que ofereceram seu tempo e seus préstimos. Acima de tudo, obrigado a minha mãe, Margaret McGowan, pelo planejamento e pela realização das festividades desta noite.


Quando os aplausos começaram a diminuir, Rhys ignorou qualquer outra pessoa que estivesse ali à espera de poder falar com ele e veio diretamente para mim, com um sorriso radiante ao me puxar para seus braços. – Acho que só ganhei um encontro com você usando seu próprio dinheiro – eu disse perto do ouvido dele. Ele riu, o que fez meu corpo vibrar. Ao se afastar um pouco, ainda sorria. – Acredito que ganhou mesmo. E aonde pretende me levar em nosso encontro? Como eu tinha sido bastante classuda por uma noite, sabia que precisava de um lugar discreto. – Que tal B&D Burguers e algumas batatas fritas? – Ah, já entendi. Você está planejando ir a um lugar barato porque gastou muito dinheiro comigo. Sorri. – Sim, parece legal para mim. – Você está com sorte, sua pão-dura. Eu adoro o B&D Burguers. – Fico feliz de ouvir isso – respondi meio sem fôlego, pois Rhys ainda mantinha os braços me envolvendo. Então, alguém pigarreou atrás de nós. Era Margaret, com cara de azeda. – Rhys, querido... – ela começou. Ele ergueu a mão. – Mãe, me desculpe, mas esta jovem acabou de comprar meu tempo seguindo o protocolo. – O jornal quer uma fotografia nossa. Quando Rhys fez uma careta, eu o cutuquei para a frente. – Vá lá. O público que te adora está esperando. – Eu gostaria de dizer ao público que me adora para ir se foder – ele disse em voz baixa. Ri. – Por que não me dá as chaves? Eu te espero no carro. Ele ergueu as sobrancelhas interrogativamente. – Acho que está apenas tentando fugir com meu carro. – Pode ser. Você vai ter de esperar pra ver. Rhys riu enquanto pegava um ticket no bolso da calça. – Vá em frente e peça ao manobrista que pegue o carro. Estarei lá assim que puder. – Sem problemas. Assim que saí do salão, corri até Vivian no corredor. – Partindo, querida? – Sim, Rhys e eu vamos jantar. Ela sorriu. – Divirta-se. Ah, e faça alguma coisa que eu faria.


Ri diante daquela ousadia. Na verdade, eu ficaria feliz de fazer todas as coisas perversas e obscenas que Vivian possivelmente faria se Rhys estivesse a fim. Estar com os braços dele em torno de mim, ainda que por pouco tempo, fora muito bom. Eu não poderia ousar perguntar se ele tinha alguma ideia do quanto mexia comigo. Eca, eu odiava me sentir tão confusa e neurótica. Precisava me lembrar de que eu era forte, bonita, confiante e, portanto, não havia qualquer razão pela qual Rhys não quisesse ficar comigo. Assim que entreguei o ticket ao manobrista, silenciosamente, desejei com intensidade que tivesse meu homem.


Cinco

RHYS

O ponto alto da noite foi eu estar sentado no B&D usando smoking, empanturrando-me de hambúrguer e batata frita, com uma bela garota à minha frente. Após devorarmos toda a comida e recebermos olhares estranhos de outros clientes em função de nossa roupa formal, regressamos ao lugar onde Allison morava. No caminho, porém, fiz uma parada e peguei um pacote com seis latas de cerveja. Depois que estacionei o carro, virei-me para Allison, que ainda não havia feito um movimento sequer para sair. – O que está errado? – Estou com um pouco de medo de entrar. Torcendo-me no meu lugar para vê-la melhor, perguntei: – O que quer dizer? Ela deu uma risadinha. – Tenho a impressão de que Cassie e sua amiga podem estar transando no sofá. Hoje mesmo, mais cedo, elas já estavam se amassando na minha cama. – Droga – murmurei, tentando me livrar dos pensamentos de Cassie tendo relações sexuais. Assim que Allison saiu do carro, ela olhou o céu claro e todo estrelado. – Está uma noite tão bonita! Por que não bebemos na varanda? – Parece bom pra mim, Scarlet – brinquei. – Cale a boca. Você não tem uma varanda – ela disse, conforme nos aproximávamos da casa. – É claro que temos uma varanda. Eu só gosto de ser grosseiro e chamá-la de varanda dos fundos. Allison riu, e uma sensação estranha de aperto invadiu meu peito. Não sabia por que era tão importante que ela me achasse divertido. No entanto, mais do que ouvi-la rir, eu adorava fazê-la rir. – Por que estar em Savannah me dá vontade de falar e agir como uma sulista autêntica? – ela perguntou.


– Não sei bem, mas a cidade certamente exerce algum tipo de atração sobre você – respondi, abrindo a cerveja e entregando-a a Allison. – Acha que é vodu? Suspirei. – Talvez. – Então levantei minha cerveja para a lua cheia. – Aqui está todo o vodu e o mistério que fazem Savannah ser o que é. Empurrando sua long neck, Allison disse: – Para o vodu e o mistério. – E bebeu um gole de cerveja. Depositei a caixa de bebida sobre a mesa e nos acomodamos no balanço da varanda. Durante algum tempo, ficamos em silêncio, apenas ouvindo o ruído da oscilação do balanço. Virando-me, olhei o perfil de Allison ao luar. – Você sabe, continuo aprendendo mais e mais sobre você, Allie-Bean. – E o que exatamente você aprendeu nesta noite? Tomei um grande gole de cerveja e sorri para ela. – Antes de tudo, você fica meio osso duro de roer quando te provocam. Allison encolheu os ombros e suspirou. – Ela era uma vagabunda. Não, na verdade, era uma vadia – ela retrucou. A cerveja voou da minha boca para o chão de ladrilhos. – Merda, você acabou de dizer vadia? Rindo, ela abaixou a cabeça. – Sim, talvez. – Oh, caramba, isso é o melhor que aprendi hoje. Você sabe ter boca suja quando quer. Ela sorriu. – E eu não aprendi isso com meu irmão mais velho? – É possivelmente verdade – reconheci. – Então, o que mais aprendeu sobre mim – Allison perguntou. – Bem, além do fato de que você pode ir de uma moça gentil para uma cadela furiosa em poucos segundos, descobri que consegue lidar consigo em uma situação social dura assim. E também que sabe se vestir para impressionar. – Obrigada – ela agradeceu baixinho. – Acima de tudo, aprendi que você é uma mulher bem complexa e muito intrigante. A boca de Allison formou um perfeito “O” com minhas palavras. Tudo o que eu dissera era verdade. Nas últimas trinta e seis horas, eu, de fato, vira Allison de um prisma bem diferente. Era difícil imaginar que a conhecia desde que ela tinha 7 anos, sem perceber isso tudo. Não era apenas uma mulher agora, mas uma mulher bastante interessante. E eu nem tinha certeza de que Jake conhecia todas as múltiplas facetas do caráter da irmã.


– Você aprendeu muita coisa sobre mim, mas continuo sentindo falta de algumas coisas em você – ela disse. – Estou certo de que, se procurar no Google, encontrará um monte de merda sobre mim. Ela enrugou o nariz. – Não quero todas aquelas informações impessoais. Quero isso diretamente de você, que é uma fonte confiável. – Muito bem. Não tenho nada a esconder, então, bola pra frente. – Levantei as sobrancelhas. – Mas não se assuste com as respostas. – Não me importo. – Então, manda ver. Inclinando a cabeça, Allison perguntou: – Com quantos anos você perdeu sua virgindade? A pergunta cheia de ousadia, juntamente com a expressão interessada de Allison, fez o gole de cerveja que eu havia acabado de beber voar para longe. Passando a mão pela boca, eu disse: – Porra, essa foi direto na jugular, né? Ela riu. – Você ia preferir que eu te perguntasse a última vez que chorou? Balancei a cabeça furiosamente. Eu não fazia parte daquele grupo de homens bitolados que pensavam que chorar indicava fraqueza. Era mais o fato de eu não querer admitir que chorara há três dias, depois que havia visto minha irmã. Não me sentia pronto para falar sobre isso ainda. – Responda à pergunta – ela me pressionou. – Na realidade, comecei meio tarde. Eu tinha 19 anos. Allison se surpreendeu. – Sério? Ri. – Você parece chocada. Encolhendo os ombros, ela retrucou: – Imaginei que tivesse sido mais jovem, tipo 15 anos. – Eu estava concluindo o Ensino Médio com 15 anos. Acredite em mim, em quase toda minha adolescência eu usei óculos, tinha espinhas e era muito gordo. – Sacudi a cabeça, invadido por uma enxurrada de dolorosas recordações referentes a adolescentes ridicularizando-me. Essa era apenas uma das razões por que eu odiava reviver o passado; doía pra cacete. Tentando aliviar o clima pesado, acenei para mim mesmo. – Não fui sempre o garanhão que você está vendo hoje – brinquei. Meu esforço foi recompensado por um riso de Allison. – É difícil acreditar nisso.


Acabei estremecendo. – Ah, acredite em mim; há fotografias e vídeos como prova. Ela balançou a cabeça. – De jeito nenhum. Me desculpe. Não consigo imaginar que houve uma época em que você não era tão gostoso. – Tão porra louca como você é, tenho que agradecer o elogio. Sorrindo, Allison bebeu outro gole de cerveja. – Quem era ela? Eu me remexi no assento, sentindo-me desconfortável com aquele interrogatório todo. Que merda. Aonde Allison queria chegar? E agora que havia tocado no assunto, eu ia querer saber o mesmo sobre ela... ou não? – Você quer que eu dê os detalhes de como perdi a virgindade? – Claro. Afinal, detalhe é a palavra-chave das histórias do Sul, e estamos na cidade mais sulista do Sul. – É verdade. – Tomei um gole da minha long neck. Por razões que eu não compreendia, senti a necessidade de me defender para Allison. – A coisa é que eu já havia vivido alguma ação, mas ainda não havia selado o acordo, por assim dizer. – Que adorável – Allison disse, enrugando o nariz. – Ei, você é que pediu mais detalhes. Ela riu. – Você está certo. Continue, por favor. – Por volta dos meus 19 anos, as coisas finalmente começaram a acontecer. Eu havia conhecido Jake e os caras, e nós estávamos começando a tocar no Eastman. Depois de um período doente, consegui esteroides e fiquei mais forte. Fiz a cirurgia para corrigir o grau da minha visão, e minha mãe me pagou peelings químicos durante um ano, como presente de aniversário. – Você está divagando – Allison disse com um sorriso. – Estou tentando salvar minha pele pra explicar por que perdi a virgindade tão tarde. – Por favor, continue. Eu ri. – Ela se chamava Melanie e frequentava algumas das minhas aulas de Direito na Emoy. Como eu andava bem mais confiante, criei coragem de convidá-la para sair. Felizmente, ela aceitou e começamos a namorar. O rosto de Allison se encheu de surpresa. – Ah, então foi mesmo um relacionamento. – Sim, um pouco. Mas não durou muito tempo. Tive meu coração partido aos 21 anos. – Interessante. E quando a façanha foi feita?


Com uma piscadela, respondi: – Em uma suíte bastante chique no Ritz, em Atlanta. Os olhos de Allison se arregalaram. – Sério? – Ei, me dê algum crédito. Não sou o tipo de sujeito que perde a virgindade no banco de um carro. Ela riu. – Não, não consigo te ver fazendo isso. – Inclinando-se, ela acrescentou, com um ritmo provocativo de voz: – Claro, você teve de escolher um lugar top. Não podia perder a virgindade no Holiday Inn, podia? – Calma aí. Não posso evitar o modo como fui criado, mesmo que tentasse escapar dele com frequência. – Então já sabemos que você teve uma primeira vez muito chique. Mas e o namoro? Quanto tempo durou? Inclinando a cabeça, mergulhei no passado. – Seis meses. Melanie era um pouco mais velha do que eu. – Como Allison continuou com uma expressão interrogativa, eu disse: – Ela queria bem mais do que eu estava pronto ou disposto a dar nos meus 19 anos. – Entendo – Allison sussurrou. – E quanto a você? – Assim que o habitual rubor tingiu o rosto de Allison, balancei a cabeça. – Ah, não, não pense que vai ficar fora dessa. – Não vou – ela bufou. – Então, manda ver. – Está bem – ela murmurou. Transformei o riso em uma tosse quando Allison endireitou os ombros com determinação e bebeu toda a cerveja. – Eu tinha 17 anos. – Cara, você me venceu por dois anos, hein? – Sexo nunca é competição. – Às vezes, é pra ver quem vai terminar em primeiro lugar – ponderei, e ela corou de novo. – De qualquer forma, por favor, conte os sórdidos detalhes. – Como você, eu estava namorando. Dylan e eu começamos o namoro quando eu tinha dezesseis anos. Sustentando minha mão, perguntei: – Que idade ele tinha? – Dezoito. – Uau, homem mais velho, hein? Com um breve encolher de ombros, ela continuou: – Eu estava começando o Ensino Médio, e ele terminando.


– Ladrão de berço – provoquei. – Eu, dificilmente, chamaria essa diferença de idade assim. – Ele era o típico cara mais velho que namora garotinhas pra conseguir uma coisa? – Não exatamente. O nosso aniversário de seis meses de namoro foi logo após o meu de 17 anos, e ele não me pressionou nem sequer exigiu nada de mim. – E então, onde consumou tudo? Um tímido sorriso apareceu nos lábios de Allison. – Na fazenda de Jake. Com tal declaração, senti-me mais ereto. – Como assim? – Vocês viajaram em turnê, e não havia ninguém lá. Era o lugar perfeito pra ficarmos sozinhos. Eu disse à minha mãe que passaria o fim de semana com minha melhor amiga, Kim. Não ficamos na casa; fomos para o loft. Balancei a cabeça em total descrença. – Jake poderia explodir de raiva se soubesse que perdeu a virgindade no loft dele. Allison apenas revirou os olhos ante minha declaração. – Como se ele não tivesse contaminado aquele lugar de milhões de maneiras antes de Abby. – Na verdade, ele nunca levou galinhinhas pra lá. Tenho certeza de que só fez sexo com Abby no loft. – É mesmo? – perguntou Allison, as sobrancelhas erguidas de surpresa. – Sério mesmo. Eu até diria que você lhe perguntasse, mas isso seria bem inapropriado. Ela deu uma risadinha. – Concordo. Ficamos em silêncio por alguns momentos. Depois abri outra cerveja para nós dois; minha curiosidade estava com a corda toda. Então desviei para outro tipo de perguntas, do qual não deveria me interessar. – Além de Dylan, houve muitos outros caras? As sobrancelhas de Allison se ergueram. – Você está realmente me perguntando isso? Fazendo uma careta, bebi metade da cerveja que acabara de abrir. Depois de engoli-la, meneei a cabeça. – Desculpe. Isso foi errado de minha parte. Enquanto os dedos de Allison brincavam com o rótulo da cerveja, ela olhou para a frente e murmurou: – Três. – Acho que não ouvi.


Seu olhar fixou-se no meu e ela me deu um sorriso malicioso. – Meu número é três. Eu respirei fundo como se fosse um idiota recebendo um soco no estômago. Nem sequer tinha certeza da razão de o número ser importante para mim. Não sei se me sentia aliviado ou um pouco chocado. No grande esquema das coisas, três era um bom número. Eu sabia que Jake ficaria horrorizado se soubesse que sua irmã já havia ficado com um cara. – Entendo. Erguendo a cerveja até os lábios, Allison bufou. Após tomar um gole, ela me olhou. – Isto é tudo que você tem a dizer: “Entendo”? Respirei fundo. – Parabéns? – sugeri. Ela riu e balançou a cabeça. – Não é a reação que eu esperava. – E o que você faria no meu lugar? Inclinando o queixo, Allison respondeu: – Tá furioso? Me diga se três é um número exagerado para uma menina da minha idade. – Ah, por favor, você me faz parecer um tenso homem de Neanderthal. Sua vida, incluindo a sexual, é um negócio pessoal seu, apenas seu. Que se foda quem falar algo diferente. – Obrigada por sua sinceridade. – De nada – respondi com um sorriso. – Por mais que eu pensasse que já estava liberada sexualmente, eu ainda sou da velha e bonita escola. – Você quer dizer algo como não querer participar de jogos sexuais idiotas? – Não, refiro-me à minha atitude sobre quem estará comigo. – Fixando os olhos em mim, ela balançou a cabeça. – Nem consigo acreditar que estamos tendo uma conversa deste tipo. Parece que o álcool está soltando minha língua mais do que gostaria. A verdade é que dois foram namoro, Dylan e, depois, um babacão, e depois um foi luxúria pura. – Sério mesmo? – Agora você está dando uma de juiz? Eu ri. – Não, mas é difícil acreditar que, depois de como se descreveu, você, na verdade, apenas sucumbiu à luxúria. Um riso irrompeu dos lábios de Allison. – Você acabou de dizer sucumbiu? – Daquela vez, ela bufou. – Oh, Rhys, você parece um puro sangue azul quando está aqui e longe dos caras. Eles berrariam pra cacete se te ouvissem falar isso. – Não importa – resmunguei.


Cutucando meus ombros com os dela, Allison disse: – Sua vez. – Não acho que seja uma ideia legal. – E por que não? – Não quero que pense mal de mim. Ela revirou os olhos. – Como se eu já não soubesse que você é um baita promíscuo. – V-você acha que sou promíscuo? – gaguejei indignado. – Sim, acho. – Te asseguro que meu número não passa de cem. – Que reconfortante – ela ponderou. Levantando-me, caminhei até o lixo e nele joguei minha garrafa de cerveja. – Bem, o fato é que agora sou um músico famoso e tenho um número baixo bastante impressionante. Seu irmão era fora do normal. – Não é de estranhar que Jake tenha ultrapassado a promiscuidade morando no território sujo das putas. Minha raiva se dissipou, e acabei rindo das palavras de Allison sobre o irmão. Após abrir minha terceira cerveja, suspirei. – Acho que é hora de mudar de assunto. – Mais perguntas? – Claro. Mas apenas as que não têm nada a ver com sexo. – Parece bem justo. – Sorrindo, ela acrescentou: – Comece a falar. Pensei em uma questão segura para perguntar à Allison. – Com quantos anos bebeu pela primeira vez? – Dezesseis; o champanhe da minha festa. – Ah, entendo. – E você? – Doze. Os olhos dela se arregalaram. – Doze? Era apenas um bebê. – Foi apenas um drinque. Não comecei um caminho de bebida nessa idade. Ela riu. – Espero que não. – Tomando outro gole de cerveja, perguntou: – E onde estava? – Foi durante uma festa de meus pais. Eu queria ser como os caras mais velhos que estavam lá. Nós já havíamos determinado que eu era um desajustado socialmente difícil, então fazia muito sentido que agisse como um idiota para me enquadrar. Então, quando ousaram me dar um copo de


uísque, bebi em um gole só. – Estremeci enquanto a lembrança cintilava pela minha mente. – Pensei que fosse morrer. Acho que vomitei a maior parte da noite, e menti pra minha babá dizendo que era um distúrbio estomacal. Allison franziu a testa. – Pobrezinho. Ri. – Eu merecia aquilo. E ainda aprendi uma lição sobre querer me ajustar com as crianças mais velhas. Daquele momento em diante, não dei mais a mínima merda para o que eles achavam; assumi mesmo minha própria pessoa. – É um sábio aprendizado para alguém tão jovem – Allison ponderou. Balançando a cabeça, respondi: – Crianças em meu mundo crescem rápido. Quando você é levado para um colégio interno praticamente ainda bebê, aprende a confiar apenas em si mesmo. No fim, isso é tudo que você tem. Ao olhar Allison, vi em seus olhos lágrimas brilhando como diamantes. Na tentativa de aliviar a tensão do momento, ri. – Certo. Para você, acabaram as cervejas. – Algumas vezes, você me lembra muito o Jake. – É mesmo? Ela concordou com um movimento de cabeça. – Ele tentou muito se fechar para as outras pessoas a fim de que não vissem suas fraquezas. – Uma lágrima solitária riscou a face de Allison. – Sua dor. – Allison... – Eu te vejo, Rhys – ela sussurrou. Meu batimento cardíaco acelerou descontroladamente com receio da afirmação dela, levando-me a sentir um amor absoluto. Cristo, o que eu fizera para que Allison conseguisse, com tanta facilidade, ver através de todas minhas asneiras? A melhor pergunta era por que ela continuava sentada ao meu lado depois de ver meu verdadeiro eu? Como se lesse minha mente, Allison disse: – Eu vejo todos vocês, e não fico enojada. Descontente com o rumo que a conversa tomava, levantei-me do balanço. Precisava criar uma distância entre mim e Allison, pois, rapidamente, as coisas estavam ficando muito pessoais e profundas. Eu nem sequer conseguia me lembrar da última vez em que me abrira tanto com alguém como fazia com ela. E isso não bastou para que ela fosse tão compassiva e carinhosa. Ao mesmo tempo, ela me distraía por ser gostosa pra cacete. Em um momento, eu queria abraçá-la em busca do conforto que ela podia me dar. No outro, queria arrancar aquele vestido preto muito sexy que faria um cara ter um monte de ereções a cinquenta metros em cada pedaço daquela pele clara e cremosa.


– Bem, isso é suficiente por hoje. Você tem aula de manhã, e eu preciso do meu sono de beleza, que me dará forças pra enfrentar meus pais. Após limpar as lágrimas, do rosto, Allison se curvou e pegou os sensuais sapatos de salto que ela havia tirado quando nos sentamos. Os olhos estavam carregados de tanta emoção que ela lutava duramente para sustentar. – Obrigada pelo convite de hoje à noite. – Sou eu quem deve te agradecer. Eu teria sido leiloado para uma vadia, como você disse, se não fosse sua intervenção. A sombra de um sorriso brincou nos lábios dela. – Estou feliz por ter salvado seu dia. Sem me controlar, inclinei-me e dei-lhe um abraço. Conforme balançávamos para trás e para frente, as mãos de Allison seguraram minha camisa. Ter meus braços em torno dela me agitava de dois modos: emocional e fisicamente, ainda que as curvas sensuais pressionadas contra mim me fizessem concentrar mais no físico. Ela era tão delicada como o pingente com a magnólia que eu havia lhe dado. Dominado por seu perfume e sua suavidade, minha mente mandava que eu me afastasse. Muito bem, seu idiota, você tem dois segundos para se afastar antes que ela sinta como a está agarrando com sensualidade. Quando finalmente me afastei, sorri para Allison. – Vou te mandar em breve uma mensagem de texto sobre nossa noite de cinema. – Estarei esperando ansiosa. Depois de beijá-la carinhosamente no rosto, eu me virei e parti. Ainda que pudesse colocar uma certa distância entre nós, não conseguia afastar a sensação desencadeada pelo abraço. Ao me deitar naquela noite, eu quase sentia Allison em meus braços. E isso me deixou assustado pra cacete.


Seis

ALLISON

As duas semanas e meia seguintes voaram em um turbilhão de escola, trabalho e, mais importante, Rhys. Não havíamos passado um dia separados desde que ele chegara a Savannah. Fiel ao que dissera, ele veio até minha casa na noite após o leilão para Monty Python e Pênis Pizza. E acabou dormindo no sofá porque continuamos conversando e bebendo cerveja muito depois de o filme acabar. A segunda melhor coisa, após ver Rhys vestido com esmero num smoking, foi vê-lo emaranhado em cobertores, o cabelo todo despenteado, enquanto dormia no sofá. Claro que, naquela noite, também experimentei um nível de mortificação que desconhecia existir. Eu havia adormecido aconchegada próximo a Rhys, com os esforços de Hugh Jackman cantando como Jean Valjean em Os miseráveis. A proximidade de Rhys, assim como seu cheiro, mexera comigo à medida que deslizava mais e mais para a terra dos sonhos. Em meio aos farrapos nebulosos da subconsciência, comecei a sonhar. Deitada na minha cama, Rhys pairava sobre mim, os olhos famintos de desejo. Ele estava nu, e eu também, a boca dele aprisionando a minha. Ao sentir seus lábios quentes nos meus, acabei envolvendo-o pelo pescoço, puxando-o mais perto de mim. Meus dedos percorriam as mechas sedosas do cabelo de Rhys, à medida que ele enfiava a língua na minha boca. Conforme nos beijávamos, ele amassou meu peito, acariciando o mamilo até que chegasse a um ponto máximo de enrijecimento. Eu gemia na boca dele, roçando minhas pernas para obter a fricção que, desesperadamente, queria. Percebendo minha necessidade, a outra mão de Rhys deslizou entre minhas coxas, e logo os dedos se moviam para cima e para baixo da minha vagina, antes que apenas um mergulhasse dentro de mim. – Rhys – ofeguei, enquanto um dedo se transformava em dois. – Allison – ele sussurrou, olhando-me nos olhos com uma mistura combativa de amor e desejo. Cobri o rosto dele com as mãos, sentindo a barba por fazer. Eu nada mais queria sentir que não fossem meus músculos contraídos conforme Rhys descia sobre mim, os dedos bombeando dentro e


fora da minha vagina, enquanto eu arqueava os quadris. – Por favor, por favor – implorei. – Allison – Rhys repetiu, sacudindo meu ombro com a mão livre. Quando seus dedos saíram de dentro de mim, chorei frustrada. – Não, não pare! Ele começou a me sacudir mais e mais, até que meus olhos se abriram. Rhys me encarou, não com desejo, mas com preocupação. – Allison, acorde. Você está tendo um pesadelo. – Oh... meu... Deus – murmurei enquanto minhas mãos se ergueram para esconder meu rosto que ardia de humilhação. Como era possível que eu acabasse de ter um sonho erótico com Rhys, enquanto ele estava deitado bem do meu lado? Eu queria fugir do sofá e me trancar no quarto, mas permaneci ali, paralisada. – Você está bem? – Rhys perguntou. – Bem, bem mesmo – sussurrei atrás de minhas mãos. – Deve ter sido um inferno de um pesadelo, do jeito que gemia e se contorcia. Agora já sei que não posso mais assistir a filmes de terror tarde da noite com você. Como eu continuava com o rosto escondido, a mão de Rhys puxou a minha com delicadeza. – Ei, qual o problema? Mordi o lábio para não confessar que minha calcinha estava encharcada por eu ter sonhado com ele. E um sonho erótico. Esperava que ele não cheirasse minha excitação. Então, suspirei. – Estou envergonhada, só isso. Rhys abriu um sorriso sincero. – Não tem nada do que se envergonhar. Quer que eu fique aqui até que você durma de novo? Eu nem conseguia acreditar que ele estivesse disposto àquilo. – Por favor. – A primeira ordem é colocar algo menos depressivo para assistir do que Os miseráveis. Acho bom que seja uma comédia, para afastar os pesadelos. – Eu também. E então ele encontrou A louca! Louca história de Robin Hood e minha coleção de DVDs comunitária. Envolvendo-me em seus braços, dormimos de novo. Havia sido o céu na Terra, menos ser acordada de um sonho sexual delicioso. Conforme os dias passavam, ficávamos mais e mais tempo juntos, e tudo era bom: a conversa, a comida, os lugares aonde íamos. Rhys era um homem da Renascença por excelência, alguém que uma noite se dobrava de rir com comédias bobas, como O âncora: a lenda de Ron Burgundy e Com a bola toda, e depois era completamente arrebatado pela leitura de uma poesia ou pela inauguração de uma galeria de arte. Podia-se falar com ele sobre qualquer coisa, filosofia, história ou literatura, pois


estava sempre por dentro e trazia detalhes bem interessantes para a conversa. Ele conquistou duas de minhas companheiras de quarto sendo capaz de ajudá-las em Legislação de Design. Estar com Rhys implicava eu me mover para conhecer o melhor de dois mundos: a sociedade intelectual em que ele havia nascido e o universo baixo e sujo de roqueiros bebendo cerveja que ele tinha se tornado. As complexidades de Rhys aumentavam ainda mais o meu amor por ele. De todas as formas, parecíamos o par amoroso perfeito. Mas ainda não havíamos feito amor, pois existia um muro entre nós que nos impedia de passar a um próximo nível. Ainda que eu detestasse isso, Rhys mantinha as coisas estritamente platônicas. Ele nunca se sentava muito próximo a mim no sofá nem sequer segurava minha mão quando explorávamos a cidade. Eu tentava ser paciente e seguir o fluxo, na esperança de que as coisas mudassem, mas, conforme o tempo passava, minha paciência ia se desgastando. Porém, uma noite veio a mudança que eu esperava. No início da semana, eu havia aceitado um convite para uma festa na casa dos pais de Rhys, aonde ele ainda não me levara. Passávamos o tempo exclusivamente na minha casa. Como eu tinha encontrado a mãe dele somente no leilão de solteiros, imaginei que o convite significasse, de fato, algo mais. Então, de novo, eu me vi vivendo um estilo de vida Cinderela, tendo de me transformar para o baile com meu lindo príncipe. Depois que a vadia fizera comentários maldosos sobre meu vestido, eu estava determinada a não passar por isso outra vez. Então, já pronta para extrapolar minhas economias em algo fino, Cassie, mais uma vez, me ajudou. Por conta de suas ligações familiares, ela tornou possível que eu pegasse um vestido emprestado em uma loja de luxo. A única desvantagem é que teria de desfilar para eles na apresentação da coleção de outono, o que não era lá muito ruim. Com minha altura, poucos seios e estrutura pequena, eu já fora cortejada para desfilar antes, embora isso não fosse para mim. Muito tímida para ser o centro das atenções, eu preferia permanecer nos bastidores de design de moda. Conforme deslizava o tubo dourado de batom sobre os lábios, dava os toques finais em minha aparência. Com meu reflexo olhando-me no espelho de corpo inteiro, eu me sentia como Cinderela. A loja havia realmente me cedido o vestido mais perfeito que se possa imaginar. Era de cetim, sem alças, num vermelho bem profundo, quase vinho. Do busto até a cintura, as linhas de design entrecruzavam ajustando-se como uma perfeita segunda pele, antes de fluir para fora em torno de meus quadris. Em vez do pingente com a magnólia, eu usava as pérolas que ganhara de Jake e Abby em minha formatura do Ensino Médio. E nos meus pés se destacavam os mais sensuais sapatos de tiras de salto agulha, que combinavam com a cor do vestido. Olhando o relógio no meu criado-mudo, percebi que estava quase na hora de Rhys me pegar. Agarrei a reluzente clutch e corri pelo corredor. Na cozinha, dava para ouvir Cassie conversando com duas das nossas companheiras de quarto, Kelly e Tammy. Quando apareci na porta, elas deram vários assobios. Sorri.


– Obrigada. – Você vai arrasar – disse Cassie. Colocando meu pé para fora do vestido, perguntei: – Tem certeza de que esses saltos não são exagerados? – São sensuais como o inferno – Cassie respondeu, com Kelly e Tammy concordando. – Eles não fazem com que me sinta eu mesma. – Correndo a mão pelo cetim, suspirei. – Acho que nada disso combina comigo. Cassie balançou a cabeça. – Você está absolutamente sensacional, com saltos e tudo, vestindo o que se espera de você hoje à noite. Agradeça o fato de Rhys gostar de você também quando está de jeans e com cheiro de molho de tomate após o trabalho. Ri. – Acho que está certa. – O som de um carro interrompeu meu discurso autodepreciativo. – É ele? – Tammy perguntou. – Espero que sim – respondi. – Infernoooo. Rhys tem um puta carro muito legal! – Cassie exclamou. Assim que me virei, eu a vi na janela, espionando para fora através das cortinas. – Pare com isso, por favor. Você parece muito assustadora espionando Rhys assim. – Não estou espionando. Estou sendo uma proprietária apreensiva. Apenas verifico aquele carro estranho. Revirando os olhos, murmurei: – Você é impossível. – Que tipo de carro ele tem? – perguntou Tammy, unindo-se a Cassie na janela. – Você sabe que não entendo nada de carros. – Cassie sacudiu as cortinas de novo. – Humm, é, definitivamente, um clássico. Talvez uma Ferrari ou Porsche dos anos sessenta. – Sim, é um carro antigo. Coube a Rhys no testamento do avô. – Que meigo – disse Tammy. Com o toque da campainha da porta, deslizei com meu salto agulha. – Mais uma vez, estou achando que esses sapatos são um erro. Justo quando eu abria a porta, Cassie falou em uma voz bem pouco discreta: – Pare um pouquinho? Sério, esse é o mais sexy salto agulha “venha me foder” que já vi você usar. Ele até me dá tesão, por isso posso imaginar Rhys com um monte de ereções quando o vir. A vergonha disparou pelo meu corpo ao ver Rhys à minha frente, ouvindo Cada. Única. Palavra. Óbvio que a primeira coisa que ele fez foi olhar meus sapatos, mais expostos que o de costume, porque eu estava segurando a barra do vestido por ter corrido até a porta. Depois, ele olhou de volta para mim, com um sorriso sexy nos lábios.


– Belos saltos. – O-obrigada. – Não só meu coração acelerou com o sorriso dele, mas também minha calcinha ficou úmida. – Concordo com Cassie sobre o status “venha me foder”, ainda que provavelmente seja inadequado. Não, não é. Na verdade, poderíamos deixar a festa pra lá e você “viria me foder” agora. Afastando tais pensamentos, eu disse: – Ãh, acho que sim. Eu estava tão absorta nos comentários sobre os sapatos que levei um momento para assimilar a imagem de Rhys. Piscando várias vezes, lutei contra a vontade de apoiar a mão no batente da porta, para não deslizar numa poça de luxúria no chão. – Você está usando kilt6? O sorriso arrogante de Rhys desapareceu, substituído por um ar tímido quando ele olhou para si mesmo. – Acho que me esqueci de falar que parte de minha família reconhece o Dia do Tartan. – Como eu continuava com expressão de “cervo-nos-faróis”, Rhys explicou: – É quando as pessoas de origem escocesa comemoram a Declaração de Arbroath. – Eu não conhecia suas raízes escocesas tão fortes. Quero dizer, percebi um pouco pelo seu sobrenome. – Sim, meu tataravô era um lorde dono de uma linda e imensa propriedade. Minhas sobrancelhas se ergueram. – Isso significa que devo te tratar como “milorde”? Ele riu. – Não é bem assim. Como meu bisavô foi o quinto filho, ele não chegou a herdar o título. – Entendo. Cassie, então, veio se juntar a nós, assobiando baixo quando viu Rhys. – Olhe só pra você, todo fresco e limpo em uma saia. Vão pensar que é um traveco. Com uma risada bem-humorada, Rhys respondeu: – É um kilt, não uma saia. Cassie apontou para a virilha dele. – E está tudo livre aí embaixo? Embora minha mente tenha ido até lá, deixei escapar uma exclamação horrorizada com a pergunta de Cassie. Rhys sacudiu um dedo para ela. – Um cavalheiro nunca conta. – Pouco importa – Cassie comentou. Querendo escapar antes que a conversa ficasse ainda mais louca, eu disse:


– Vamos logo. Não queremos nos atrasar. Rhys concordou com um gesto de cabeça. Após nos despedirmos de Cassie e das outras garotas, fomos até a varanda e descemos as escadas. Enquanto ele abria a porta do carro para mim, abriu um sorriso genuíno. – Eu queria te dizer antes, mas estava meio distraído. Você está linda hoje, Allison. A sinceridade dele, juntamente com o modo como me olhava, esquentou meu rosto, enquanto um tremor de satisfação percorreu meu corpo. – Obrigada. Depois que afundei no assento de couro, Rhys, em vez de fechar a porta, inclinou-se para mim. – E estou contente que use um vestido longo pra esconder os saltos. Eles são terrivelmente perturbadores. Meu estômago revirou com tais palavras. E não ajudou em nada a piscada provocativa de Rhys enquanto fechava a porta. Vendo-o caminhar pela frente do carro, tentei alisar meu vestido, ou seja, fazer qualquer coisa que controlasse meus hormônios em fúria. Quando ele entrou no carro, olhei de soslaio para ver como ele se movimentava no kilt. Devia ter prática, porque, infelizmente, apareceram apenas as pontas dos joelhos. Então, passamos pelas ruas ao som suave do rádio. Eu estava ansiosa para ver onde Rhys vivia, imaginando que fosse em algum lugar no Distrito Histórico, em alguma casa de antes da Guerra Civil, a qual estava na família há gerações. Ao nos aproximarmos do Parque Forsyth, Rhys diminuiu a velocidade em uma rua que não me era familiar. Não demorou muito tempo para eu identificar sua casa, ou melhor, sua mansão, aquela em cuja frente os carros luxuosos se enfileiravam, à espera do manobrista. Era mesmo tão linda quanto eu havia imaginado. Em vez de esperar o manobrista, Rhys parou em um caminho de acesso que serpenteava em volta da casa, até a parte de trás. Após desligar o veículo, ele me olhou. – Tudo muito pretensioso, não é? – É magnífica. Amo casas do período pré-guerra. – Bem, ela é dos anos de 1830. – Mal consigo esperar pra ver lá dentro. – Vamos, então. – Rhys saiu do carro, deu a volta até meu lado e abriu a porta, enquanto desci tomando o máximo cuidado para não despencar dos meus saltos. Como continuamos a seguir pela parte de trás da casa, perguntei: – Não estamos indo para a parte da frente? Rhys revirou os olhos. – E aí passar pelo porteiro e toda essa babaquice? Não quero participar disso. – Oh – murmurei.


– O que quer dizer esse “oh”? – ele perguntou, caminhando à minha frente. – Achei que talvez sentisse vergonha de estar comigo – murmurei. Estancando, Rhys me olhou com uma expressão incrédula. – Você está falando sério? – Eu não me encaixo neste mundo aqui. – Nem eu – ele retrucou. – Mas você nasceu nele e, por Deus, tem sangue azul. Além disso, sua mãe deixou bem claro, há algumas semanas, que eu não era o tipo de garota por quem você devia se interessar. – Percebendo que havia falado demais, tentei corrigir com rapidez, acrescentando: – Estou me referindo ao tipo de garota com quem devia sair. – Não ligo porra nenhuma para o tipo de garota com quem meus pais acham que eu deveria sair. Gosto de estar com você. Não me lembro de uma época em que tenha me divertido tanto ou mesmo vivido tão em paz do que ao seu lado. E só você aqui comigo torna esta visita tolerável. E todas essas razões de fato importam, não os meus pais. Frente a tais palavras e à intensidade do olhar de Rhys, tive de focar em minha respiração. Inspira, expira, inspira, expira, recitei mentalmente conforme meu peito subia. Enfim, quando percebi que não ia desmaiar, murmurei sem qualquer vibração: – Está bem. Ele sorriu. – Muito bom. Fico feliz que tudo esteja resolvido. – E estendeu o braço para eu segurá-lo como um cavalheiro do passado faria. – Agora vamos. É hora de entrarmos no tanque de tubarões. Deslizei meu braço pelo dele e deixei que me conduzisse até a porta dos fundos, onde Rhys nem sequer se anunciou. Em vez disso, entrou direto. Na imensa cozinha com piso de mármore e bancadas de granito, havia uma atividade frenética. Os alimentos estavam sendo preparados e os funcionários zumbiam ao redor, como abelhas-operárias ocupadas. Tenho certeza de que a mãe de Rhys os consideraria mais como zangões. Eles nem mesmo notaram nossa presença. Apenas uma mulher já idosa, feição de americana-africana, se iluminou ao ver Rhys. – Olá, estrangeiro! – ela gritou. Desde que havíamos estacionado, Rhys abriu pela primeira vez um sorriso. – Ozella, minha cozinheira predileta do mundo todo. Ela agitou um dedo para ele. – Sou a única cozinheira que você já teve. Rhys riu. – Você ainda é a melhor. O elogio abriu um sorriso radiante no rosto da mulher. – Bom, já que você é um viajante do mundo e músico famoso, vou aceitar suas palavras.


Depois que se abraçaram, Rhys se virou para mim. – Allison, esta é a senhora Ozella Priceton, a cozinheira oficial de nossa família; esteve conosco desde antes de eu nascer até poucos anos atrás. Ela sorriu. – Se eu não tivesse me aposentado por motivos de saúde, ainda estaria aqui. Mas sempre venho supervisionar as principais festas da senhora McGowan. Estendi a minha mão. – É um prazer conhecê-la. – Igualmente. – Após soltar minha mão, brincando, ela deu um tapa no ombro de Rhys. – Por que você não me ligou pra contar que havia se acertado? Os meus olhos e os de Rhys se arregalaram com o erro de Ozella. – Não, não, não estamos juntos desse jeito – Rhys corrigiu com rapidez. Ozella pareceu confusa, as sobrancelhas vincadas. – Então, estão juntos como? – Ele é o melhor amigo do meu irmão – respondi. E ao mesmo tempo, Rhys disse: – Ela é a irmã caçula do meu companheiro de banda. – Uhum – Ozella respondeu com um brilho perspicaz no olhar. – Eu me perguntava como ela havia chegado a tal conclusão. Rhys nunca levara garotas lá antes? Ou era a maneira como interagíamos? O comentário dela fez surgir um silêncio embaraçoso, eu mordiscando o lábio e Rhys mexendo na lapela e depois nos punhos do paletó. – Zell, precisamos de você – alguém chamou do outro lado do cômodo. – Já vou – Ozella respondeu. Inclinando-se, abraçou de novo Rhys. – Desculpe, querido; tenho de trabalhar. – Foi tão bom te ver – comentou Rhys, abraçando-a com força. – Também acho. Não seja um estrangeiro quando estiver na cidade. Vá me ver a qualquer hora. Rhys concordou. – Eu irei. – Você é bem-vinda também, Allison. – Obrigada – sussurrei sem me atrever a olhar a expressão de Rhys. Depois que Ozella se apressou, ele se virou para mim. – Venha – disse ele, estendendo-me a mão. – Vamos encontrar meus pais para que eu a apresente adequadamente. Embora concordando com um gesto de cabeça, lutei contra a vontade de ficar na cozinha ou em outro lugar que fosse bem longe dos pais de Rhys. Já havia sido ruim o bastante passar um tempo com a mãe dele. E eu não poderia imaginar se com o pai seria melhor.


Abrigada ao lado dele, eu o segui para fora da cozinha e por um longo corredor, que me lembrou muito o da Mercer Williams House. Meus saltos estalavam pelo chão de mármore, enquanto dois reluzentes lustres de cristal iluminavam nosso caminho. À nossa frente, eu ouvia o som do quarteto de cordas tocando, o repertório clássico flutuando pelo ar, e a música acabou me acalmando. Apontando para o corredor, Rhys explicou: – O primeiro cômodo à direita é o salão de festas; é de lá que vem a música, e o lugar onde os convidados estão. As portas abrem para uma varanda. Arregalei os olhos. – Vocês têm um salão de festas? Ele encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. – E também uma sala de estudo, uma biblioteca e uma sala de bilhar, assim como no Clue. Um sorriso nervoso escapou de meus lábios. – É mesmo? – Foi divertido crescer numa casa tão grande para explorar, mas agora parece um pouco pretensioso. No meu íntimo, concordei com ele. Nunca me senti confortável com a riqueza ostensiva. Apesar de meus pais terem acumulado um bom dinheiro, vivíamos modestamente em comparação a muitos de seus amigos. Fiquei agradecida porque, quando o Runaway Train decolou, Jake permaneceu muito fiel às suas raízes, e isso significava permanecer nas terras onde crescera. – Eu nunca soube que você era rico. Rhys balançou a cabeça. – Apenas se lembre de que este é o mundo dos meus pais, não o meu; nunca foi e nunca será. – Vou tentar lembrar – murmurei, conforme Rhys me levava a um cômodo à esquerda, talvez a sala de estar oficial. Era um ambiente pesado, com lustres, tapetes persas e móveis ornamentados, certamente o tipo de lugar onde não se tirariam os sapatos para assistir à TV. – Rhys, querido, aí está você – Margaret falou do canto da sala, onde ela, com quem presumi ser o pai de Rhys, conversavam com outro casal. Quando nos aproximamos, o casal pediu licença e então ficamos somente nós quatro. – Mãe, você já teve o prazer; pai, por favor, permita-me te apresentar Allison Slater. Os olhos escuros do pai de Rhys se estreitaram conforme ele sugava um charuto malcheiroso. – É um prazer conhecê-la, senhorita Slater. Sou Elliot McGowan – disse com, a mão estendida. Assim como Rhys, o pai usava um kilt xadrez azul e verde. Respondi com rapidez, apertando a mão dele: – É um prazer também, senhor. – Soube que você está aqui em Savannah para estudar. – Sim. Frequento o Colégio Savannah de Arte e Design.


– E o que pretende de fato fazer com seu diploma? – Design de moda. Na óbvia falta de entusiasmo do pai, Rhys pigarreou. – Allison foi aceita para fazer um estágio de muito prestígio. Sorri. – Rhys está me bajulando. Na verdade, vou completar meu estágio quando sair em turnê com a banda. Margaret fez um barulho sufocado ao meu lado. Quando me virei, ela perguntou: – Você e Rhys vão passar muito tempo juntos? Concordando com um movimento de cabeça, respondi: – Vamos, sim, mas apenas no verão. Terei aulas de novo no outono. – Entendo – ela comentou, sem esconder seu desdém. Esticando o pescoço para olhar ao redor da sala, Rhys perguntou: – Onde está Ellie? Margaret enrijeceu de imediato antes de trocar um olhar com o marido. – Hoje à noite, aqui não é lugar para Eleanor – respondeu Elliot. A expressão agradável de Rhys se desfez. – E o que diabos isso quer dizer? Um risinho nervoso escapou dos lábios de Margaret quando ela acenou a mão de modo petulante. – Você conhece as limitações de sua irmã. Uma festa cheia de pessoas estranhas não é um lugar para ela. – Isso significa que é o local perfeito para ser constrangida por sua filha? – Rhys, você é adulto, mas não admito que fale assim com sua mãe – Elliot advertiu. Balançando a cabeça, Rhys perguntou com amargura: – Nem sei por que estou surpreso. Ela está aqui, ou você vai mantê-la bem longe, lá no Instituto Brandewine? – Ela está aqui, como todo fim de semana. Mas não irá participar da festa. – Vocês dois às vezes me enojam – Rhys gritou antes de se virar e caminhar com determinação para fora da sala. Troquei um olhar horrorizado com os pais de Rhys. – Desculpe-me – eu disse e corri atrás dele. Ao entrar no vestíbulo, olhei para todos os lados à procura de Rhys. Então, ouvindo uma porta bater nos fundos da casa, acelerei o passo o mais rápido que pude em meus saltos e meu vestido para alcançá-lo. Ao chegar lá fora, eu o vi espreitando toda a área do jardim. – Rhys, espere – chamei-o. Ele congelou. E ainda nem se virara quando o alcancei, os ombros largos contraídos, a cabeça


pendendo sobre o peito. Hesitante, toquei-o no braço. As palavras me fugiam. Havia, certamente, uma sórdida história envolvendo a irmã caçula dele, a qual eu desconhecia; uma história que o machucava muito profundamente. – Sinto muito. Você está bem? Rhys virou a cabeça e me olhou. – Não sinta. É uma merda como meus pais pensam besteiras. Acariciei o braço dele. – Ainda sinto muito pelo fato de eles te chatearem. É óbvio que ama sua irmã e não quer vê-la maltratada. – Eu a amo. – Os ombros dele despencaram. – Às vezes, acho que sou o único que a ama. – Então vamos vê-la. Estou certa de que ela quer passar um tempo com você. Com um leve aceno de cabeça, Rhys começou a caminhar para a porta da frente da antiga cocheira. Então, a mão dele pairou sobre a aldrava toda ornamentada, antes de puxá-la. – Allison, antes que a conheça, preciso que saiba algo sobre Ellie. – Está certo – assenti com cautela. Naquele momento, eu não imaginava o que havia atrás daquela porta. Ponderando sobre as palavras de Margaret e Elliot e a reação de Rhys, eu não sabia se Ellie era somente a típica filha rebelde de quem os tensos pais se envergonhavam, ou se havia alguma coisa a mais, algo bem mais grave. – Ellie é diferente. – Diferente como? – pressionei. Ele fez uma careta. – Odeio até mesmo falar isto sobre ela. A verdade é que ela é autista num grau bem severo. Não é como Lucy. – Rhys balançou a cabeça. – É uma coisa horrível de se fazer, mas, para que você esteja preparada, ela tem a síndrome de Savant, como Rain Man, só que não verbal. Meu coração se compadeceu pela dor que vinha de Rhys. – Por que seus pais não querem que ela vá à festa? – perguntei em voz baixa. Rhys passou a mão pelo rosto agoniado. – Ainda que minha mãe encabece campanhas beneficentes para a pesquisa do autismo, ela prefere manter Ellie fora de vista. Na maior parte das vezes, Ellie sente-se bem no meio de muita gente, pois barulho ou mesmo música não parecem incomodá-la como acontece com alguns autistas. É como se ela florescesse na companhia das pessoas, pelo menos na sua própria comunidade. Mas minha mãe jamais iria correr o risco de ter Ellie em uma festa. Para ela, minha irmã sempre será motivo de constrangimento, como uma rachadura em uma bela peça de cristal Waterford. Você pode pensar que, após vinte e três anos, ela teria aceitado a imperfeição, mas isso não ocorre. Durante a semana, Ellie fica no Instituto Brandewine, que é um lar para adultos com deficiência, basicamente um local onde


um monte de famílias ricas da Geórgia e da Carolina do Sul enfiam seus filhos adultos com distúrbios mentais. – Isso é tão triste. – Eu não suportaria isso se Ellie não vivesse feliz lá. Ela está bem adaptada e passa horas pintando. – Rhys me olhou fixamente. – Foi lá que ela pintou o colar que te dei. Ellie realmente gosta de pintar detalhes bem complicados em pequenos objetos. – Ela tem mesmo o dom. Rhys sorriu com tristeza. – Minha irmã é boa em muitas outras coisas, mas, infelizmente, meus pais se recusam a ver isso. Eles apenas se concentram no que ela não pode fazer, e não no que ela pode. Ellie nunca foi uma debutante, nunca teve uma festa de debutante e nunca vai aparecer nos jornais num casamento da sociedade. Toquei novamente no braço de Rhys. – Eu ainda quero conhecê-la. – Está certo – Rhys comentou com uma ponta de prudência na voz. Poucos segundos depois de ele bater na aldrava de bronze, a porta se abriu. Uma mulher de cabelo grisalho e sorriso caloroso e amigável apareceu diante de nós. – Rhys McGowan, como você está bem-vestido esta noite! – exclamou ela. Rhys inclinou-se e abraçou a mulher. – Obrigado, Trudie. Eu caprichei, não é? Abraçando-o com firmeza, Trudie deu um tapinha nas costas de Rhys. – Caprichou mesmo. Eu quase não teria te reconhecido em outra roupa que não as calças jeans surradas e camisetas. Rindo, Rhys argumentou: – Credo! Você age como se eu parecesse uma pessoa sem-teto. Até posso usar isso em casa, mas sempre me arrumo bem quando vou ao Instituto Brandewine ver Ellie. Ergui as sobrancelhas pelo fato de Rhys admitir que havia se esgueirado nas duas últimas semanas. Honestamente, não era da minha conta o que ele tinha feito enquanto não estava comigo. Mas era surpreendente que apenas agora eu estivesse aprendendo sobre Ellie. – É verdade mesmo, e pouco importa, porque você ficaria lindo como um artista de cinema ainda que num saco de batata. – Obrigado, Trudie. Você, sempre me bajulando. A mulher sorriu. – Aposto que Ellie vai se animar de te ver novamente. Ela se ilumina quando você está perto. Rhys fez uma careta. – Eu sei. Fico ansioso para vê-la todos os dias no instituto desde que voltei. Mas isso não basta.


Tenho de vir mais vezes pra casa quando estou em férias, mesmo que seja apenas por Ellie. Tocando o braço de Rhys num gesto tranquilizador, Trudie comentou: – A seu modo, ela entende. E gosta das conversas com você pelo computador. – As conversas de Skype. Trudie estalou os dedos. – É isso. – E então voltou sua atenção para mim, como se percebendo pela primeira vez que Rhys não estava sozinho. – Bem, quem é que temos aqui? – Essa é Allison, minha amiga. Ela é a irmã caçula de Jake, meu companheiro de banda. Um ar de sapiência tomou conta do rosto de Trudie. – Entendo. – Quando estendi a mão para cumprimentá-la, ela me puxou para um abraço. – É maravilhoso te conhecer, Allison. – Obrigada. Também é bom te conhecer. Após se afastar, ela segurou meu rosto com carinho, como se já nos conhecêssemos toda a vida. – Que linda jovem você é – ela comentou. Senti meu rosto esquentar com o elogio. – Obrigada. Ela olhou de mim para Rhys. – Que sorte seu companheiro de banda ter uma irmã tão bonita. Rhys limpou a garganta, desconfortável com a atenção que Trudie dedicava a mim. – Tenho sorte mesmo. Mas estou certo de que Jake não iria gostar que eu dissesse isso. – Você viajou com Rhys? – Trudie perguntou. Balancei a cabeça enfaticamente com sua suposição. – Não, não. Sou de Atlanta; estou aqui em Savannah para estudar no SCAD. – Ah, que interessante. E qual é seu curso? – Design de moda. Olhando de relance o meu vestido, ela balançou a cabeça. – Percebo isso. Você tem um gosto impecável. – Muito obrigada. Após limpar a garganta, Rhys perguntou: – Onde está Ellie? A expressão luminosa de Trudie esvaneceu um pouco. – Está na janela da frente, colada lá, observando o movimento dos carros indo e vindo. – Trudie balançou a cabeça. – Embora fique em seu mundinho na maioria das vezes, ela parece adorar uma festa. Rhys cerrou os dentes. – Eu sei.


Depois, concordando com Trudie, ele, mais uma vez, segurou minha mão e me levou através de um batente em arco para uma sala cheia de janelas do chão ao teto. Na outra extremidade do cômodo, vi Ellie, ou pelo menos suas costas, as mãos agarradas às cortinas de renda como se fossem tábuas de salvação para mantê-la ereta, enquanto ela inclinava a parte superior do corpo na janela. O cabelo escuro lhe chegava apenas até os ombros, no estilo pajem. Usando jeans e uma blusa listrada, ela parecia como qualquer garota de vinte e poucos anos. Mas, pelo jeito como murmurava e se comportava, notava-se uma diferença. – Ellie-Bellie-Mellie – Rhys a chamou, a voz vibrando com afeição. No momento em que ele falou, pensei no apelido que Jake me dera. Rhys sempre me chamara do mesmo modo e, embora eu odiasse, entendi que isso significava alguma coisa para ele. Devagar, Ellie esticou o pescoço na direção de Rhys, o rosto iluminado por um sorriso. Com cabelos e olhos escuros, ela se parecia muito com o irmão. Sem dizer uma palavra para Rhys, Ellie se apressou até o outro lado da sala, onde havia um pequeno piano de cauda. Depois que ela se acomodou no banco, Rhys sorriu. – Vamos tocar agora, Ellie? Eu queria te apresentar à minha amiga, Allison. – Ela não respondeu, nem mesmo olhou em minha direção. Manteve-se ereta, os dedos prontos sobre as teclas. – Está bem, se você tem certeza do que quer – disse ele. Mas Ellie não fez qualquer gesto ou barulho. Assisti perplexa a Rhys atravessar a sala até Ellie e sentar-se próximo ao piano. Do chão, ele pegou um violoncelo preto e lustroso. Acomodando-o entre as pernas, Rhys segurou o arco em uma mão. Depois que ajustou tudo corretamente, Ellie começou a tocar e, em poucas notas, o irmão se harmonizou com ela. – Reconhece? – ele me perguntou sobre a música. Fechando os olhos, tentei identificar um compositor ou um título. – Beethoven? – perguntei, abrindo os olhos de novo. Rhys assentiu. – “Moonlight Sonata” – ele gritou por cima da música. – Adoro Beethoven. Ele é o perfeito compositor emo clássico. Rindo, Rhys respondeu: – É verdade. – E, em seguida, concentrou-se no instrumento. Ele nunca havia mencionado que tocava violoncelo, embora fizesse sentido, pois ele e o baixo eram da mesma família. Muito atenta, vi como Rhys fechou os olhos e, com facilidade e precisão infinita, desenhou o arco pelas cordas. A mão esquerda dele se moveu com destreza por todo o braço do instrumento, e eu tremia um pouco acompanhando a força dos dedos. O sexo deveria ser um pensamento distante, mas havia alguma coisa muito erótica em observá-lo com os olhos fechados, mordendo o lábio em intensa concentração enquanto trabalhava os dedos para cima e para baixo do instrumento enorme de pé entre as pernas.


Conforme lutava contra o desejo, Trudie se aproximou. – Eles são muito talentosos, não é? – ela perguntou. – É incrível como se complementam. – Sim, ambos nasceram musicalmente talentosos. Ellie aprendeu ouvindo as primeiras aulas de música de Rhys, até que um dia a encontrei repetindo o que havia ouvido no piano. – Então, ela é completamente autodidata? Trudie assentiu. – Ela não lê música; apenas a ouve e memoriza. Quando terminou o dueto, eu e Trudie aplaudimos empolgadamente. Ellie fez um movimento para se levantar, mas Rhys pareceu antecipar o pedido silencioso dela. – Está certo, mas apenas mais um. Que tal, em vez dos clássicos, tentarmos Les Mis desta vez? – ele perguntou. Respirei fundo quando Rhys empurrou o queixo para mim e sorriu. Significava muito ele ter escolhido meu musical favorito, cuja nova versão havíamos acabado de assistir. Ellie, então, começou a tocar os acordes de uma canção com a qual eu estava bastante familiarizada, “Bring Him Home”. Conforme cada um tocava separadamente sua parte, eles se complementavam muito bem. As lágrimas saltaram enquanto eu os observava tocar a música tão lindamente. Então, percebi como esses momentos eram preciosos para Rhys. Por pouco tempo, ele esteve totalmente conectado com Ellie em um mundo onde ambos eram iguais e se entendiam de forma completa. Eu não podia evitar pensar que, desde que eram pequenos, o vínculo que os unia havia sido totalmente entrelaçado pelas cordas da música. Não importava aonde ele havia chegado ou seu status de celebridade, Rhys nunca havia deixado que se rompesse seu vínculo com a irmã, e essa conexão maravilhosa aqueceu meu coração. Para alguém que eu temia não saber como amar ou como ser amada, ele havia, felizmente, me provado que eu estava errada. Assim que eles terminaram, aplaudi de pé, até que minhas mãos ficaram manchadas de vermelho. – Isso foi... – E fechei os olhos, balançando a cabeça. – Nem tenho palavras para expressar como foi maravilhoso. Levantando-se, Rhys deu um sorriso radiante. – Estou tão feliz de que tenha gostado do concerto. Vou tocar pra você novamente algum dia. – Eu adoraria. Sem nada dizer para qualquer um de nós, Ellie fechou a tampa do piano, levantou-se e atravessou a sala parando à frente do espelho. Os murmúrios recomeçaram conforme ela olhava o vaivém dos convidados. Trudie sorriu. – Estou com medo de não conseguir levá-la para a cama até que a festa acabe. Ela quer absorver tudo.


– Ela não pode ir? – perguntei sem pensar. Quando Rhys me olhou surpreso, abaixei a cabeça. – Sinto muito. Apenas pensei que pudéssemos levá-la um pouco até lá, para que visse tudo de perto, e não através de uma janela. – É uma ideia fantástica – disse Rhys. Ergui a cabeça. A intensidade do olhar dele me fez estremecer, um misto de tantas emoções, ainda que a gratidão fosse a mais evidente. – É mesmo? Ele se virou para Trudie. – Você pode encontrar algo mais adequado para ela vestir? – Sim, acho que ela tem alguns vestidos no closet. Rhys concordou com um aceno de cabeça e então se aproximou de Ellie. – Você quer acompanhar Trudie e encontrar um vestido para ir à festa? Você é tão bonita e vai poder ver de perto todas as pessoas que está observando pela janela. Lentamente, ela largou as cortinas e, virando-se, foi para o lado de Trudie, que lhe perguntou: – Vamos encontrar algo para vestir, não é? – Então, ambas saíram da sala e entraram em um dos quartos. Assim que a porta se fechou, Rhys soltou um longo suspiro e, com expressão gentil, disse: – Obrigado por sua sugestão. Balancei a cabeça. – Não sei se agi corretamente. Seus pais não acham que ela devesse ir. Rhys fez um movimento com a cabeça. – Não se preocupe com o que eles disseram. Estão apenas tentando manter as aparências na frente dos amigos vaidosos. Esperava que Rhys estivesse certo. Então, a porta se abriu, e Ellie apareceu em um modesto vestido preto frisado, o cabelo puxado para trás por uma faixa cintilante. – Como você está linda! – Rhys exclamou, aproximando-se dela. Ele a abraçou com delicadeza, como se fazer isso com prudência não a ameaçasse. Ela deu um tapinha nas costas dele com uma das mãos. – Sou muito sortudo por estar escoltado por duas belas damas até a festa. – O rosto de Rhys foi iluminado por um enorme sorriso quando ele me fitou por cima do ombro. Era muito bom vê-lo tão feliz, e eu me sentia muito agradecida por ele me deixar compartilhar aquele momento. Conforme íamos passando pela porta, Trudie interrompeu Rhys. – Se você precisar de mim, estarei aqui. – Ela parecia emocionada e também preocupada com a ida de Ellie à festa. Rhys assentiu. – Vai dar tudo certo. Vou deixar Ellie ver todos e ouvir a música. E daqui a uma hora a trago de volta, para ela não ser superestimulada pela multidão.


– Isso parece bom. – Trudie deu um tapinha no braço de Ellie. – Divirta-se, querida. Já na trilha de tijolos, a irmã de Rhys, um pouco à nossa frente, esticava o pescoço para apreciar o quarteto de cordas vindo da tenda ao lado da casa. – Ela está se dirigindo à música; quer desfrutar tudo – disse Rhys enquanto subíamos a escada e entrávamos na cozinha. Ellie prestou pouca atenção às pessoas que lotavam o principal corredor e as outras salas, focada em localizar a origem da música que cantarolava. Rhys, por sua vez, era o cavalheiro sulista perfeito, falando com todos que encontrava, apertando a mão dos homens e beijando o rosto de algumas mulheres. E sempre fazendo questão de me apresentar. Durante todo o tempo que socializava, mantinha um cauteloso olhar em Ellie. Quando ela chegou à porta do salão de festa que dava para a varanda, parou. Ali, parecia ter encontrado o lugar perfeito para ouvir a música e ver os convidados dançando. Aqueles que não a conheciam pareciam frustrados por ela não se mover até eles. – Me desculpe, Eddie – Rhys disse a um homem calvo que usava um kilt xadrez vermelho e preto. Ele, então, atravessou a sala até alcançar Ellie, pegando-a pelo braço com gentileza. – Por que não nos sentamos a uma mesa, para que você veja e ouça melhor? Apesar de não parecer reconhecê-lo, ela permitiu que a levasse até uma mesa nos fundos da varanda. Eu me acomodei ao lado de Rhys, feliz por descansar os pés e por ouvir o quarteto. Meu olhar correu pela sala, fixando-se nos convidados. Vários usavam kilts, como Rhys, mas a maioria estava de smoking. Quando um garçom parou à nossa mesa, de bom grado peguei uma taça de espumante, e ainda bem que outro apareceu com uma bandeja de horsd’ oeuvres. Após devorar tudo com avidez, estiquei o pescoço à procura do outro garçom. Rhys riu a meu lado. – O que foi? – perguntei-lhe. – Tem comida de verdade na sala de jantar se você está com fome. O constrangimento aqueceu meu rosto. – Imagino que devorar a comida não seja muito refinado, hein? Revirando os olhos, Rhys disse: – Não ligo a mínima para qualquer coisa refinada. – Então se inclinou para frente. – Apenas me importa se você está com fome. – Estou. – E bem mais do que apenas comida. Eu gostaria de tê-lo como aperitivo, prato principal e sobremesa; esses eram os pensamentos que desviavam minha atenção no meio da festa. Ele sorriu. – Então me deixe te dar um prato. – Depois de acenar a mais um dos garçons, Rhys pediu: – Por favor, traga-me três opções dos pratos para o jantar. – Sim, senhor.


Enquanto o garçom se apressava, arqueei as sobrancelhas para Rhys. – Uau, isso foi impressionante. – O que quer dizer? – Ter alguém que te atenda assim, sem precisar ficar na fila como os camponeses. Sem falar que você tem um serviço de mesa ao lado. Rhys riu. – É basicamente como pedir algo em um restaurante. Os funcionários sabem manter os convidados de meus pais felizes e dar-lhes o que pedem. – Então, ele não estava se desfazendo em favores para te dar o que pediu porque você é o lorde da mansão? – Talvez. – Então, ele balançou a cabeça. – Não sou o lorde da mansão. Eu te disse que meu lado da família não tem um título. Quando abri a boca para provocá-lo ainda mais, o garçom chegou com nossos pratos. – Que rápido – murmurei assim que ele se afastou da mesa. – E tenho certeza de que o serviço foi rápido porque sou o Lorde McGowan? – Rhys perguntou, erguendo as sobrancelhas para mim. – Só há essa explicação. – Pouco importa – ele respondeu com uma risada bondosa. Enquanto eu destrinchava o frango deliciosamente aromático, Rhys tentou convencer Ellie a comer um pouco, mas seus esforços naufragaram quando dois gaiteiros em traje de gala passaram pela nossa mesa. Ela, então, largou o garfo e sentou-se mais ereta, a curiosidade aguçada. – Você não estava brincando sobre comemorar o Dia do Tartan, né? – perguntei. Ele sorriu. – Você acha que eu estaria balançando este kilt se não fôssemos firmes nisso? – Provavelmente, não. – Alcançando a bolsa, peguei meu celular. – Devo considerar de fato tirar uma foto e enviá-la a Jake. Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Rhys havia arrancado o aparelho de minhas mãos. – Porra nenhuma! – Por que não? – Porque ele e os outros vão tirar sarro de mim por dias, talvez até por semanas, se virem a foto. Em função de eu mesma já ter visto como Jake e AJ adoravam provocar Rhys, entendia que precisava respeitar sua vontade. – Tá bom, tá bom. Vou colocar o celular bem longe. – Quando estendi a mão, Rhys, com relutância, soltou-o na minha bolsa, parecendo aliviado. Em seguida, relaxamos nas cadeiras para desfrutar o resto da apresentação dos gaiteiros.


Assim que acabou e o quarteto recomeçou a tocar, Rhys me olhou e sorriu. Apontando para os casais que dançavam, ele perguntou: – Que tal uma dança? Apesar de Ellie parecer contente, eu não estava certa acerca de deixá-la, com receio de que se sentisse abandonada. Acho que Rhys percebeu minha apreensão. – Ela ficará bem e, lá da pista de dança, manteremos um olho nela – ele me garantiu. – Está bem; eu adoraria dançar com você. Enquanto Rhys se levantava, ele se inclinou perto do ouvido de Ellie e disse: – Allison e eu vamos dançar. Assim que voltarmos, eu te levarei até Trudie. De novo, ela não o reconheceu, mantendo o olhar à frente, com uma expressão de serenidade, sem parecer chateada pelo fato de a deixarmos lá. Pegando minha mão, Rhys me conduziu para longe da mesa. Enquanto caminhávamos por outros casais, o quarteto começou a tocar “Moon River”, a música tema de um dos filmes favoritos de minha mãe, Bonequinha de luxo. Não ficamos muito tempo no salão; em vez disso, permanecemos à margem dele, para que pudéssemos ver Ellie. Após encontrarmos o lugar perfeito, Rhys me puxou para mais perto dele. Claro que, como era uma festa da alta sociedade, não dançamos como eu estava habituada, mas de um jeito mais formal. Eu preferia poder enlaçar o pescoço de Rhys a ter uma mão na dele e outra em seu ombro. Parecia haver sempre algo para nos afastar. Quando a música terminou, Ellie se levantou da mesa. Rhys e eu congelamos, observando-a cuidadosamente. Mas ela apenas se sentou ao piano de cauda e começou a tocar junto com o quarteto, o que fez Rhys suspirar aliviado. Enquanto dançávamos, evitei pensar em minha frustração pelo ritmo das coisas. Então, um pensamento surgiu, e não consegui controlar o riso. – O que foi? – Rhys perguntou. – Nada – murmurei, recusando-me a encará-lo. Eu mal acreditava que havia rido alto. Rhys me fitou com um olhar cético. – Deixa disso. Acha que vou comprar essa ideia? Obviamente era algo divertido ou você não teria rido. Frente àquele olhar suplicante, decidi jogar limpo. – Dançando tão perto assim, não pude deixar de pensar na pergunta anterior de Cassie. Rhys franziu as sobrancelhas. – Do que está falando? Abaixando minha voz, eu lhe perguntei: – Você lembra quando ela falou de seu kilt? – Como ele ainda parecia nada entender, suspirei. – Você está usando cueca? – Nossa! Você é muito intrometida. O que te deu hoje à noite?


– Nada. Apenas curiosidade. E então ele sorriu de modo tão sexy que esquentou a calcinha rendada que eu estava usando. – Você quer saber mesmo ou é apenas para poder contar à Cassie? – Quero saber para mim – sussurrei. – Bem, você poderia ser ousada e alcançar lá embaixo pra ver por si mesma – ele provocou. Olhei-o sem piscar, imóvel por um minuto. Por um lado, fiquei chocada com a sugestão dele, algo atípico. Por outro, Rhys estava mesmo sugerindo que eu o tocasse tão intimamente no meio de uma pista lotada? – Eu, ããh – murmurei incoerente. Rhys riu. – Muito assustadora essa possibilidade para você, Allie-Bean? O tom de voz dele, meio condescendente, me irritou. – Não, é mais o fato de que não acho que sua mãe aprovaria que eu o apalpasse no meio desta festa tão chique. – Não ligo a mínima para o que minha mãe pensa. – Bem, mas eu ligo. Além disso, tenho de zelar pela minha reputação. Não vou fazer isso. – Que pena – ele retrucou, os olhos brilhando maliciosos. E em seguida abaixou a cabeça até a respiração aquecer o lóbulo da minha orelha. – Serei agradável e vou acabar logo com seu sofrimento: estou de cueca boxer. – Ah – retruquei incapaz de esconder a decepção. Não sei por que isso realmente importava para mim. Afastando-se, Rhys me olhou com uma expressão intensa. – Acho que estamos entrando em um território perigoso. Engoli em seco. – Es-estamos? Ele balançou a cabeça devagar. – Estou te contando coisas que não deveria. Não está certo. – Não quero que você diga ou faça alguma coisa diferente, Rhys – retruquei. – Não quer mesmo? – ele perguntou, erguendo as sobrancelhas surpreso. – Não quero mesmo. Gosto de você do jeito que é, o bem e o mal. O som de um grito e, em seguida, vidros quebrados nos arrebataram do momento. Rhys soltou os braços que me envolviam e correu de volta para a casa; eu o segui. Quando cheguei ao vão da porta, congelei. No meio do salão, Ellie estava tendo um ataque de raiva, gritando, puxando os cabelos e batendo os pés. A maioria dos convidados havia se dispersado para a extremidade oposta e cochichava por trás das mãos. Elliot e Margaret fizeram um semicírculo ao redor de Ellie, como se tentassem contê-la. Eles não


dirigiam à filha qualquer palavra de conforto; em vez disso, apenas a olhavam com ar de desprezo. No entanto, Rhys passou direto por eles para acalmar a irmã. – Ellie-Bellie-Mellie, por favor, não chore. Eu vou te acalmar. – Tais palavras, juntamente com a expressão de Rhys, partiram meu coração. – Shh, está tudo bem. Estou aqui. Ninguém vai te magoar – ele disse com suavidade. O choro de Ellie se transformou em gemidos, e ela foi se acalmando, balançando para frente e para trás, cantarolando a música que o quarteto estava tocando. – O que vocês fizeram? – Rhys perguntou, estreitando os olhos para os pais. No rosto de Margaret havia raiva, não constrangimento. – Não podíamos conversar com ela tocando. Só lhe pedi que parasse. Como recusou, fechei a tampa do piano para forçá-la a parar. As veias do pescoço de Rhys incharam de fúria. – Como você pôde? Ela não estava prejudicando ninguém. – Ela estava estragando a festa de sua mãe. E, em primeiro lugar, nunca deveria estar aqui – retrucou Elliot. Ignorando o pai, Rhys, timidamente, colocou um braço em torno dos ombros de Ellie. – Vamos. Vamos te levar de volta pra casa. Lá, você pode tocar durante toda a noite, se quiser. – Quando Ellie começou a resistir, Rhys se pôs a cantarolar a mesma música que ela, o que pareceu acalmá-la, até que, por vontade própria, se deixou levar para fora da sala. Eu os segui de perto, sem saber o que dizer ou mesmo o que fazer. Sentia-me parcialmente responsável, ainda que tivesse me preocupado ao sugerir que Ellie fosse à festa, com receio de algum desconhecido ridicularizá-la. Mas jamais imaginaria que a própria mãe iria tratá-la tão mal. Assim que chegamos à porta da casa, Ellie hesitou e se afastou de Rhys, caminhando pelo gramado. – Ela quer ir lá para o instituto – ele murmurou. – Mas esta não é a casa dela? – Não quando ela se sente magoada e raivosa. Acho que se poderia dizer que é o modo de Ellie fugir, distanciando-se de meus pais. Trudie abriu a porta e, no momento em que viu o rosto de Rhys, ela ofegou. – O que aconteceu? – Preciso levar Ellie de volta ao Instituto Brandewine. Agora. Com um aceno de cabeça, Trudie disse: – Vou pegar minha bolsa. – Você não precisa ficar lá com ela – Rhys explicou. Trudie sorriu e acariciou o rosto dele. – Eu não preciso, mas eu quero. Ela vai precisar de mim hoje à noite. – E então desapareceu para dentro da casa. Do outro lado do jardim, Ellie esperava pacientemente o carro de Rhys, balançando-


se ao som da música que de novo tocava na tenda. Hesitante, dei um passo para a frente. Colocando a mão sobre o coração de Rhys, disse as palavras doloridamente vazias no momento, mas as únicas em que consegui pensar para consolá-lo: – Sinto muito, muito mesmo. Rhys trouxe seu olhar de agonia até o meu. Vi que estava incomodado, não por Ellie ou, ao que parecia, não por mim, mas muito nervoso para verbalizar alguma coisa. Em vez disso, ele apenas fez um movimento com a cabeça em reconhecimento às minhas palavras. – Olha, sei que precisa ficar com Ellie esta noite. Não se preocupe comigo; vou chamar um táxi e... Rhys balançou a cabeça num gesto furioso. – Não, por favor, não vá. Fique aqui e espere que eu volte. – E apertou minha mão ainda sobre seu peito. – Preciso de você hoje à noite, Allison. O peso emocional do momento e tais palavras dificultaram minha respiração. Quando, finalmente, consegui falar, não percebi a ironia de minhas palavras até dizê-las: – Claro. Vou te esperar, não importa quanto tempo. – Obrigado, Allie-Bean. – Então, fomos interrompidos por Trudie, que apareceu agarrada a uma mala. – Me espere na casa da piscina. É onde eu fico quando venho aqui. Balancei a cabeça demonstrando entender o que Rhys estava falando. A sombra de um sorriso brincou nos lábios dele. – É bem ali. – Ele apontou para o lado da antiga cocheira, à qual uma construção com telhado de vidro estava interligada. – Tá certo. Vou te esperar lá. – Então observei enquanto ele e Trudie percorreram o jardim e puseram Ellie no carro. E permaneci no mesmo lugar até que o carro saiu da garagem e desapareceu na noite. Felizmente, o jardim estava iluminado para a festa, e foi fácil para eu encontrar a porta da frente. Conforme a empurrava, deixei escapar um assobio baixo. A “casa”, na verdade, era um longo cômodo envidraçado que parecia ter sido construído sobre uma piscina, talvez como segurança para Ellie. De um lado da piscina, havia um bar bem abastecido onde eu fiquei tentada a parar. Afinal, depois da última meia hora, precisava, desesperadamente, de um drinque para acalmar meus nervos. À medida que caminhava, era inevitável que balançasse a cabeça. Obviamente, os pais de Rhys não teriam apenas uma piscina mediana. Ah, não. Havia quase que uma cachoeira no final do cômodo, que dava para um recanto com formações rochosas sintéticas. E, ali dentro, uma grande jacuzzi. No final do quarto, minha atenção se desviou para duas portas de madeira. Com meus saltos clicando, eu me dirigi para lá. Ao abrir a porta, senti o cheiro de Rhys. Devia ser ali que ele ficava. Havia uma imensa cama de dossel e várias outras mobílias. As malas de viagem e as roupas dele se espalhavam pelo chão.


Muitas fotografias emolduradas adornavam o criado-mudo, a maioria delas de Rhys e Ellie, mas também havia algumas do Runaway Train. Com o coração batendo descontrolado, estendi a mão e peguei uma das fotos, uma singela imagem do casamento de Jake e Abby com os rapazes e suas famílias. Em vez do trabalho profissional do álbum de casamento, a foto registrava todos em um momento fugaz. Com o dedo sobre o vidro, vi uma ilha paradisíaca ao fundo, enquanto Jake, com um sorriso malicioso nos lábios, agarrava os peitos de Abby, que olhava com horror para a câmera. Rhys jogara a cabeça para trás, rindo de alguma coisa que AJ havia dito sobre as palhaçadas de Jake. Um dos braços dele estava em torno de minha cintura. Olhei-o com um sorriso de adoração. Dentre todas as fotos, eu me perguntava por que havia escolhido aquela para enquadrar. Certamente, Rhys percebera nos meus olhos e na minha expressão que eu sentia muito mais por ele do que amizade. Depois que coloquei a foto no lugar, saí do quarto, fechando as portas duplas atrás de mim. Sem nada para fazer exceto esperar Rhys, sentei-me à beira da piscina. Tirando os inoportunos sapatos de saltos altíssimos, afastei meu vestido e mergulhei os pés na água. Inclinei-me para trás apoiada nas mãos, os pés girando na água fria. Não sei quanto tempo fiquei lá, imersa em pensamentos, quando a voz de Rhys me sobressaltou: – Ei – ele disse com delicadeza. – Oi – respondi. Ele se sentou ao meu lado, com as pernas esticadas sobre o chão ladrilhado. – Ellie está melhor? – perguntei. Um sorriso tristonho se formou nos lábios dele. – Sim, ela estava bem quando saí de lá, ouvindo música e pintando. Acho que eu deveria ser grato às pequenas misericórdias da vida. – Grato por ela ser capaz de encontrar a felicidade? – perguntei em tom baixo. Rhys suspirou pesadamente, jogando a cabeça para olhar a Lua brilhando sobre o telhado envidraçado. – Meu coração sofre a cada dia por ela e sua situação, e às vezes sofre também por Lucy. Olhei-o com curiosidade. – Por que isso? – Um dia, quando Lucy for mais velha, vai ser inteligente o bastante para entender que há algo diferente nela. Mesmo sabendo que Bay e Lily jamais farão algo para causar à filha tal impressão, Lucy vai se comparar a Jude e Melody, talvez sentindo raiva por não ser como elas. – Rhys me olhou. – Ellie não precisa fazer isso. Ela nunca tem de se comparar a mim ou sentir como é não atender às expectativas dos nossos pais. Felizmente, ela vive alheia a tudo. Processei com lentidão a verdade nas palavras dele. Meu coração se comprimiu com a sensação de a meiga Lucy nunca ter de se sentir mal sobre ela mesma. Olhando minhas unhas dos pés pintadas


mergulhadas na água, tentei desligar a voz na minha cabeça, a mesma que insistia em que eu questionasse Rhys. Então, decidi perguntar ou nunca poderia olhá-lo da mesma maneira: – Rhys? – Humm – ele murmurou, contemplando a água. – Você nunca deixou Ellie muitas vezes com os rapazes, não é? – Não, nunca. Mordiscando o lábio, finalmente me atrevi a fazer a pergunta que estava me assombrando: – Você se envergonha dela? Rhys afastou os olhos escuros da água para encontrar os meus. Arregalou-os. – Como se atreve a me perguntar isso? – É uma pergunta sincera; afinal, só ouvi você falar de sua irmã algumas vezes antes de hoje à noite. Você nunca fala de sua família quando está com os caras. Com expressão fechada, ele cruzou os braços sobre o peito. – Você já deve ter percebido que sou uma pessoa bem reservada. – Pessoal ou emocionalmente fechado? Pestanejando precocemente, eu me preparei para Rhys gritar comigo, mas ele apenas murmurou: – Um pouco dos dois. – Você não precisa ser assim comigo. Quero que confie em mim, Rhys. – Confio em você; se não confiasse, jamais lhe permitiria que conhecesse Ellie. – Ele suspirou angustiado. – Na verdade, eu nunca poderia sentir vergonha ou mesmo constrangimento por minha irmã. A razão pela qual não falo dela ou a trago à nossa volta é por medo de minhas reações frente ao modo como os outros podem tratá-la. – Como assim? – Não consigo respeitar ninguém que aponte qualquer falha em Ellie. Desde que eu era criança, sempre a defendi. Quando eu estava no quinto ano, fui expulso de uma escola particular porque bati em uma criança com um taco de golfe depois de ela dizer às pessoas que minha irmã era uma retardada esquisita. – Ah, Rhys – murmurei. Ele balançou a cabeça com raiva. – Já terminei muitas amizades, e até alguns namoros, com pessoas que demonstraram desdém ou repulsa na presença de Ellie. – Que coisa terrível. – Ela merece ser respeitada como qualquer outra pessoa, então, por que dedicar meu tempo àqueles que não respeitam meu sangue? – Rhys gritou. – Quero dizer que é terrível alguém sentir desdém ou repulsa por Ellie – eu disse em tom baixo. A expressão de Rhys suavizou-se.


– Ah, me desculpe. – Está tudo bem. Ele concordou. – Eu não deveria falar desse jeito com você. – Pare de se torturar. – Como ele ainda não havia se convencido, eu disse: – Isso mostra a profundidade de seu caráter por se preocupar tanto com sua irmã. Ela é sortuda por ter você. – Acho que sou mesmo um canalha por não falar dela, né?! – Rhys perguntou. Pela expressão nos olhos dele, isso de fato o preocupava. – Não, entendo suas razões, mas, ao mesmo tempo, você está protegendo mais a si mesmo do que a ela, com motivos melhores que os dos seus pais, ainda que continue escondendo Ellie. – Quanto mais as pessoas a conhecerem, mais ela será ridicularizada – Rhys protestou. – Sim, mas acho que você ajudaria as pessoas autistas se saísse com Ellie e falasse sobre ela, também se cedesse seu nome à captação de recursos e a instituições beneficentes. O fato de você ser uma celebridade talvez até mude o modo como as pessoas veem os autistas. Rhys ficou pensativo por algum tempo. – Você está certa; nem acredito como não vi isso antes. – Lágrimas brilhavam nos olhos dele. – Isso faz com que me sinta um canalha egoísta e estúpido. Balancei a cabeça. – Algumas vezes, estamos tão envolvidos com a situação que não vemos as coisas como deveríamos. – Como eu poderia operacionalizar tudo isso com ela? – Não ouse dizer isso. Você nunca, nunca faria algo que magoasse Ellie. Com um sorriso cansado, ele retrucou: – Tudo bem. – Você tem um dos maiores corações que conheço. Não há um pingo de malícia em seu corpo. Você poderia andar descalço por um campo de vidro para se certificar de que Ellie estaria feliz. – Imagino que sim. Quando Rhys olhou com melancolia para longe da água, bati palmas. – Senhor, você precisa, desesperadamente, de uma bebida. – Firmando meu vestido, eu me levantei. – Vamos lá. Vamos assumir o lugar-comum e beber todos nossos problemas. Rhys me fitou por um instante antes de um sorriso se abrir por todo seu rosto. – Você tá certa. Se alguma vez houve uma noite para ser esquecida, é esta. Enquanto me impulsionava para um dos banquinhos, Rhys caminhou até o bar. – O que vai bem? – perguntei. – Parece que a melhor pergunta é: o que vai nos embebedar mais rápido? Ri.


– Se você ficar bêbado, como vou voltar pra casa? Rhys sacudiu os ombros. – Acho que terá de ficar aqui. A resposta me fez ofegar. – A-aqui? – gaguejei. – Além daquela monstruosa e fodida casa principal, tenho certeza de que há espaço na cocheira pra você. – Oh – murmurei, tentando esconder a decepção. Enquanto Rhys se sentava no bar com uma garrafa de tequila, ele piscou. – Claro, minha cama é imensa e não me importaria em compartilhá-la. Minha boca se entreabriu à medida que tentava assimilar tais palavras. Como um típico rapaz, Rhys fora capaz de ir de um estado emocional deteriorado para um demônio sensual em menos de dois minutos. Não entendo como os rapazes conseguem chicotear desse jeito seus sentimentos. Ou foi a gracinha de Rhys apenas uma maneira de aliviar o clima? Ou as palavras representaram uma proposta para ficar ali com ele? Decidindo não deixá-lo levar a melhor, respondi: – Ficaria feliz em compartilhar sua cama. Os olhos escuros de Rhys brilharam. – Acho que mudaria de ideia muito rápido depois que me ouvisse roncar. – Eu monopolizo as cobertas, portanto, estamos quites. – Dois companheiros de cama horríveis, hein? – Sim – respondi, ainda que secretamente pouco me importasse, desde que compartilhássemos a cama. Puxando dois copos próprios para drinques de debaixo do bar, Rhys os colocou à minha frente. – Você acha que consegue beber tudo de uma só vez? – Consigo, se você também conseguir – eu me atrevi a responder. – Tá certo; vou fazer isso – retrucou ele, e então abriu uma garrafa com a qual eu não estava familiarizada. Ao olhar para cima, ele percebeu meu olhar interrogativo. – Isto – ele começou, antes de balançar a garrafa – é pura tequila branca dos campos de agave fora de Guadalajara. – Parece forte. Rhys sorriu. – Confie em mim; ela é. Eles mal colocam uma tampinha de nada desta merda quando fazem margarita. – Como você conseguiu isso? – A família de AJ tem contatos com assassinos, então ele sempre nos traz um pouco quando vai visitá-los. – Entendo.


Conforme Rhys pegava seu copo, fiz uma careta. – Sem limão ou sal? Olhando-me por cima da borda do copo, ele respondeu: – Você não é tão durona assim. – Se você não tem, tá tudo certo. Rhys encheu o primeiro copo, então fez um gesto de positivo com o dedo antes de caminhar até o final do bar e curvar-se. Inclinando-me em meu banquinho, vi que ele se agachava no frigobar. Ao se erguer, havia dois limões nas mãos dele. No caminho de volta até onde eu estava, ele veio fazendo malabarismos com as frutas. – Eu não sabia que você era um homem de muitos talentos. – Oh, sou mesmo, e queria fugir com o circo quando era criança. Ri. – Sério? Ele levantou uma sobrancelha. – Você conhece meus pais. Qualquer coisa, incluindo o circo, teria sido melhor. – Meu sorriso desapareceu enquanto, de novo, sentia a intensidade da dor dele. Quando comecei a lhe dizer algo, ele balançou a cabeça. – Nada mais sobre isso ou teremos de virar a garrafa inteira. E tenho certeza de que acabaríamos em coma alcoólico. Após cortar os limões, ele pegou o sal e colocou tudo à minha frente antes de se encaminhar ao outro lado do bar. Então, sentou-se num banquinho ao meu lado. – Pronto; acho que está tudo certo agora. – Obrigada por aceitar o sal e o limão – agradeci. – Não é nada. Além do mais, eu te devia isso. Franzindo as sobrancelhas, perguntei: – Como assim? Sem encontrar meus olhos, Rhys passou o dedo ao longo do sulco de madeira do bar. – Você ficou aqui esta noite. – Claro que sim. O olhar dele se desviou do bar para mim. – Mas não precisava ficar. Depois de ver o que aconteceu com Ellie e toda a merda fodida que é minha família, você poderia ter caído fora. Que inferno. Provavelmente, ainda vai vazar daqui. Balancei a cabeça. – O que aconteceu foi terrível. Meu coração ainda dói por Ellie e por você. Mesmo assim, jamais me importaria menos com você. Contraindo a mandíbula, Rhys fixou os olhos nos meus. – Você se importa comigo, né?


– Muito. Sempre me importei e sempre me importarei – respondi com a voz oscilando de emoção. Então, fechei a mão sobre a dele. – E sempre estarei aqui para você, Rhys. – Beba tudo de uma só vez – ele ordenou, a expressão tensa, os olhos indecifráveis. Arrepios percorreram meus braços com o tom firme de Rhys. Eu não estava acostumada a vê-lo tão vigoroso. Por um momento, não consegui assimilar as palavras, como se o tom de toda nossa conversa tivesse mudado de rumo. Com relutância, obedeci à ordem dele. Mas, quando fui pegar um limão, ele me interrompeu. Enquanto o olhava curiosa, ele alcançou o saleiro e, inclinando a cabeça, agitou a garrafa perto do pescoço. Depois, aproximou o saleiro do meu pescoço. Respirei de modo errático com a proximidade de Rhys. Porém, mais que tudo, esse foi o caminho para que o tesão explodisse entre nós. Nada fora falado; nada fora feito para mudar as coisas, mas tudo era diferente. – Beba tudo de uma vez – ele repetiu. Com os dedos trêmulos, alcancei o copo, segurando-o com uma mão e, com a outra, o limão. Inclinando-me no banquinho, mergulhei a cabeça no pescoço de Rhys, os lábios pairando no calor da sua pele. Então, passei a língua sobre a barba rente do pescoço dele. Rhys respirou fundo. Devagar, minha língua subiu para a linha tênue do sal, provocando um pequeno gemido em Rhys. Uma vez terminado meu gesto, eu me afastei. Nem ousava olhá-lo; minha pele queimava apenas com a intensidade do olhar dele. Inclinando o copo, bebi em uma golada só. Quando apertei os olhos de dor, bati o limão contra os lábios, os dentes atravessando a fruta conforme minha boca sugava o suco. Ao engolir de novo, um calafrio ecoou pelo meu corpo. Então, abri os olhos e vi Rhys ainda me olhando, os olhos escuros brilhando com tanta intensidade que eu daria qualquer coisa para saber em que estava pensando. Ele estendeu a mão para o copo e o limão, sem desviar os olhos dos meus quando se inclinou. Posicionei melhor a cabeça para lhe facilitar o acesso. Estremeci com a sensação daquela língua quente em meu pescoço, e continuei tremendo mesmo após ele se afastar. E então Rhys virou a tequila, sem se preocupar com o limão. – Outro? – Sim. Repetimos o ritual. E de novo. Até que havíamos virado o copo cinco vezes, lambendo e chupando o nosso caminho até o pescoço mutuamente. Minha pele ainda formigava com a sensação da língua de Rhys. Aliás, meu corpo inteiro formigava com a bebida forte bombeando cada célula e molécula. Embora tivesse colocado apenas a língua em meu pescoço, a sensação das mãos dele roçando meus ombros e sussurrando em minha clavícula me deixava louca. Eu fantasiava que a língua de Rhys percorria meu peito e meus seios. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, eu o queria e, naquela noite, conseguiria realizar meu desejo. Pelos olhares cheios de tesão que ele me dava e pelos gemidos de prazer, eu sabia que ia acontecer. Finalmente, eu teria Rhys.


Sete

RHYS

Era oficial: eu estava bêbado pra cacete. Cambaleando no banquinho do bar, lambi o sal que restava em meu lábio superior enquanto a última dose de tequila queimava no meu estômago. Assim que olhei para Allison, meu pau empurrou minha calça. Maldição, ela era sexy pra caralho. A sensação de sua língua na minha pele tinha me excitado como nunca imaginei ser possível. Se ela fazia isso tocando meu pescoço, qual seria a sensação de ter suas mãos e sua boca no resto de meu corpo? Estremeci com o pensamento. Não só a língua me fizera bem, mas a pele acetinada sob minha própria língua. Eu poderia passar dias beijando e lambendo o pescoço de Allison. Mais do que qualquer outra coisa, queria beijar os lábios que se entreabriam cada vez que minha boca se aproximava dela. Como olhar fixamente para Allison começava a ser demais, desviei os olhos para a piscina. – Acho que devemos nadar – falei de repente. Considerando que nos olhávamos mutuamente como se estivéssemos muito excitados, talvez fosse uma boa ideia para arrefecer aquela porra toda antes que as coisas escapassem do controle. Allison me fitou surpresa. – Sério? – Uhmm. – Sem falar mais nada, despenquei do banquinho e cambaleei até a piscina. A água parecia refrescante e convidativa. Gotas de suor haviam estalado por todo meu corpo por causa da tequila, enquanto um desejo morno se espalhava sobre minha pele. Sem pensar, mergulhei direto para o fundo. O ar fresco da noite esfriava ainda mais a água. Deslizando por ela, senti como se houvesse pequenos pedaços de gelo cortando minha pele. Quando eu vinha à tona, via Allison à beira da piscina, olhando-me com ar de preocupação. – Que droga você está fazendo? – Pisando na água – respondi. – Natação.


– De paletó e kilt? – Foda-se o paletó. Eu queria nadar. – Sorri para ela. – Venha. É uma sensação maravilhosa. As sobrancelhas de Allison se alinharam conforme olhou o vestido. Errei ao pensar que ela saltaria e se uniria a mim. Em vez disso, começou a abrir o zíper do vestido. Hipnotizado, assisti à parte superior deslizar pelo corpo dela. Piscando rapidamente, passei a língua sobre os lábios, vendo-a tirar a roupa dos quadris. Quando havia uma poça de cetim no chão, ela pisou para fora, em pé diante de mim usando apenas calcinha e um sutiã sem alças. Porra, eu estava mesmo em apuros. Allison tinha o corpo de uma deusa feita para o sexo. – Continue esse pequeno strip tease que começou – eu disse, tentando me distrair. Apesar de muito bêbado, eu poderia ter lhe gritado que tirasse tudo. Com um sorriso tímido, Allison cruzou os braços. – É como um biquíni – ela protestou. Então, em vez de saltar, dirigiu-se à escada, entrando na água em um movimento lento e sensual. Eu não conseguia tirar os olhos dela, ainda que quisesse. Allison era sexy pra cacete. E era completamente cativante ela não ter ideia do efeito que exercia em mim. Ela nadou em minha direção em movimentos longos, o corpo ondulando suavemente a água. Mas, quando se aproximou, passou reto e continuou nadando, até que, finalmente, mergulhou sob a cachoeira e desapareceu de minha vista. Sob o peso das roupas, chutei forte a água para alcançá-la. Enquanto a cachoeira desabava sobre mim, procurei Allison, que estava apoiada na formação rochosa sintética, os olhos monitorando meus movimentos ao encontro dela. Allison parecia muito distante. Eu sabia que, quando me aproximasse, teria de devorá-la pra caralho. Havia passado as duas últimas semanas comportando-me como um cavalheiro, mantendo a porra de meus pensamentos pervertidos num baú. E também havia me lembrado de que ela era apenas uma amiga e, mais importante, a irmã de Jake. Passei tempo demais negando a mim mesmo o quanto desejava Allison. Portanto, de maneira alguma permitiria que o final da noite chegasse sem que eu tivesse o corpo dela. Ao alcançá-la, puxei-a para mim. Seu corpo escorregadio fundido contra o meu fez meu pau se contorcer com antecipação. – O que você fez comigo? – perguntei-lhe, olhando em seus olhos. O movimento de sobrancelha de Allison indicou desconcerto. – Não fiz nada. Balancei a cabeça. – Você já fez alguma coisa mudar em mim, me fez querer você. – Talvez você já me quisesse antes e não tenha percebido – ela contestou suavemente. – Você se refere às últimas semanas? – Quero dizer há muito, muito tempo. Mais tempo do que você gostaria de admitir. Piscando várias vezes, no meu estado de embriaguez tentei assimilar as palavras de Allison,


perguntando-me se ela estava certa. Será que já havia algo entre nós antes? E que droga ela quis dizer com mais do que eu gostaria de admitir? Ela fora apenas uma criança, na verdade uma adolescente, em todos os anos que a conhecia, e eu com certeza não era um cara pervertido que dava em cima de meninas. – Não sei sobre isso, mas sei que quero te beijar de novo. – Então me beije. Por alguns segundos, minha boca pairou sobre a dela. Senti sua respiração acelerada na minha bochecha. Então, sem mais ter de esperar, pressionei os lábios contra os dela. A água fria parecia ter esmorecido a intensidade dos momentos anteriores, quando estávamos bebendo. Dessa vez, Allison foi hesitante no início, deixando a mim a iniciativa, mas de repente o calor sedoso de sua língua percorreu meu lábio inferior. Gemi quase que no mesmo momento. Afastando-me, olhei o rosto dela. – Maldição, você é linda pra cacete – murmurei. Ela me olhou encantadora por sob os cílios. – Você acha isso mesmo? – Eu diria que é efeito da conversa tequila, mas acho que meu pau ia provar que estou errado. À medida que os braços de Allison envolviam meu pescoço, ela se apertava contra mim. – Não quero que seja efeito da tequila; quero que você sinta isso lá no fundo. Olhei os olhos dela, os quais deixavam transparecer tanta vulnerabilidade, e fui tomado por um sentimento de proteção. Não queria que ninguém a magoasse, muito menos eu e, naquele momento, eu representava um perigo para Allison. Sabia que ela me queria tanto quanto eu a queria, e não conseguia encontrar um jeito de afastá-la de tudo. Pela névoa de álcool e ainda enrolando a língua, eu precisava de alguns esclarecimentos antes de irmos mais longe. – Você gosta de mim, Allison? Você realmente gosta de mim? Com uma expressão solene, ela concordou. – Sempre gostei, e sempre gostarei – ela sussurrou. Na época, eu não compreendia a enormidade de tal declaração. Sabia apenas que meu pau gostava muito de Allison, muito mesmo, e, no meu estado de embriaguez, tentava decifrar o que, lá no fundo, sentia por ela. Havia tanta coisa para gostar: sua doçura, seu sorriso, seu senso de humor, sua delicadeza, seu espírito atencioso, seu talento artístico e também sua amizade. Sem nem mesmo tentar, ela havia encontrado uma maneira de quebrar meus muros e desnudar minha alma. Se eu fosse de fato sincero comigo mesmo, teria sido capaz de ver o quanto gostava de Allison... Talvez até mesmo estivesse apaixonado por ela. Mas foi impossível entender tudo isso naquela noite. Ignorando os mais amorosos sentimentos disparando em mim, concentrei-me na luxúria que crepitou no ar ao nosso redor. Gemi, pressionando meus quadris contra os dela. – Te quero. Te quero tanto que dói pra cacete.


Os dedos de Allison se emaranharam no meu cabelo. – Então me possua, Rhys. Minha mente gritou que eu fizesse a coisa certa: que me lembrasse de Jake; que me lembrasse de que Allison estava bêbada e eu também. Mas, em vez disso, fiz como a maioria dos caras quando se vê frente a uma garota encharcada e quase nua: pensei com meu pau. Minhas mãos agarraram a bunda de Allison, içando-a para que envolvesse as pernas ao redor de minha cintura. Então, comecei a caminhar para fora da piscina. – Ah, Rhys – Allison murmurou antes de comprimir os lábios nos meus. Nossas bocas trabalharam freneticamente uma na outra, provando uma mistura de tequila branca, desespero e puro desejo. Vencendo a pressão da água, finalmente cheguei aos degraus da piscina. Allison apertava os braços em volta do meu pescoço enquanto eu subia, o que complicou a tarefa, tendo em vista o peso de minhas roupas molhadas e do corpo dela. Durante todo o tempo, nossos lábios e nossas línguas continuavam se movendo freneticamente. Conforme seguíamos até o bar, tirei uma de minhas mãos da bunda de Allison e peguei uma garrafa de tequila. Após abrir com um pontapé uma das portas de madeira que levavam ao quarto, caminhei até a cama; então, um pouco antes de acomodar Allison, perguntei-lhe: – Você está certa disso? – Nunca tive tanta certeza de alguma coisa em toda minha vida – ela respondeu sem fôlego. Com delicadeza, eu a acomodei sobre o colchão. Enquanto permanecia entre as pernas de Allison, ela estendeu as mãos para as costas e desabotoou o sutiã, liberando os seios. – Ai, que foda; você é perfeita – murmurei. Com um sorriso tímido, ela deslizou pela cama e se recostou nos travesseiros, parecendo ler minha mente quando meu olhar pousou em sua boceta revestida com renda. Então, Allison enganchou os polegares no cós de elástico e, lenta e tediosamente, escorregou a calcinha pelas coxas. Ou para me provocar ou por estar muito acanhada, manteve as pernas juntas, o que me impediu de ver a gostosura entre elas. Nossa. De modo algum eu recuaria ao vê-la nua e ansiosa em minha cama. Colocando a garrafa de tequila sob o criado-mudo, comecei a arrancar as roupas molhadas do meu corpo. O olhar excitado de Allison me esquentou o corpo enquanto ela seguia meus movimentos. Apenas com a cueca boxer, peguei a tequila de volta e acomodei-me na cama. Allison me olhou, a pele corada e a respiração ansiosa. Pairando sobre ela, aproximei a garrafa de seu corpo e derramei o líquido prateado na carne exposta. Um rio de tequila correu do peito de Allison até a piscina em seu umbigo, enquanto minúsculos filetes riscavam sobre o estômago dela, parando no lençol. Mergulhei minha cabeça e lambi a bebida do umbigo e, com um movimento da língua, chupei a tequila que ia do abdômen ao peito. Pequenos tremores percorreram o corpo de


Allison, arrepiando sua pele enrugada da água. Unindo mais os seios dela, bebi a tequila restante e então chupei os mamilos. Os gemidos de Allison me incentivaram a continuar investindo. – Mais, Rhys – ela sussurrou, puxando os fios de meu cabelo. Quando lhe alcancei a boca de novo, meus lábios úmidos de tequila encontraram os dela em um beijo áspero. Então, mergulhando a mão entre as pernas de Allison, afundei um dedo dentro dela, depois outro, sentindo as paredes da vagina molhadas e quentes, enquanto continuava lhe lambendo e chupando os seios. Ela gostou, e foi o paraíso. Eu mal podia esperar para colocar minha boca na boceta de Allison. Quando ela começou a se aproximar do orgasmo, esfreguei seu clitóris. O prazer veio com um grito, e ela agarrou meus ombros, as paredes da vagina apertando meus dedos. Lutei para manter o sorriso de orgulho no rosto, a porra de meu ego realizado por vê-la gozando tão sensível e tão rapidamente. Enquanto nossos lábios e nossas línguas se fundiam, removi meus dedos e, então, nossos corpos começaram a se movimentar em perfeita sincronia. Esfreguei minha ereção dolorosa dentro de Allison, em uma deliciosa fricção que nos fez gemer. Continuei empurrando meus quadris contra os dela e, quando percebi que poderia gozar com tais movimentos, eu me afastei. – Não pare – ela gritou agarrada em meus ombros. – Estou só no começo. Conforme me largava sobre ela, virei a garrafa de tequila em meu peito. Assim que o líquido começou a escorrer pelo meu corpo, Allison se sentou para ampará-lo com a língua, lambendo e chupando com a mão agarrada a meu pau. Jogando a cabeça para trás, gemi enquanto ela trabalhava ao longo da cueca boxer encharcada. Quando tudo ficou demais, balancei a cabeça, ordenando: – Deite-se. Apesar do olhar interrogativo, Allison repousou de volta a cabeça no travesseiro. Puxando minhas mãos para suas panturrilhas, ela abriu generosamente as pernas, dando-me a visão de sua boceta reluzente. Lambi meus lábios antes de deslizar entre as coxas dela. Abaixando a cabeça, mergulhei a boca naquela maciez, lambendo a umidade de momentos antes. – Rhys! – Allison gritou, a mão puxando meu cabelo. Afastando as pregas da pele com os dedos, enfiei a língua nela. Logo que comecei a encontrar o ritmo, os quadris de Allison arqueando com meus movimentos de língua, ela choramingou de prazer. Continuei alternando os movimentos entre chupar seu clitóris e lamber sua boceta. Ela puxava meu cabelo com mais rudeza conforme o orgasmo se aproximava. Com as paredes da vagina de Allison ainda pulsando, eu me afastei relutante para arrancar a cueca e pegar, no criado-mudo, um pacote dourado. Após abri-lo, deslizei a camisinha pelo meu pau. Quando voltei para a cama, Allison abriu as pernas para mim. Posicionando-me entre elas, a cabeça do meu pau cutucou a abertura escorregadia. Com nossos lábios ainda unidos, empurrei para dentro


de Allison. Ela correspondia como todo homem sonha: molhada, ardente, apertada, e tudo pelo meu pau. Afastando a boca, concentrei-me nos olhos dela. – Está tudo bem? – ofeguei. Ela sorriu. – Ah, tá sim. Deus, ela era tão linda. Tão sexy. Tão receptiva. Mesmo sabendo que tudo estava bem, não acelerei o ritmo, mantendo-o torturantemente lento e constante, pois sabia que ela estava desfrutando o momento. Após alguns minutos de golpes lânguidos, aumentei o ritmo dos empurrões. Allison envolveu as pernas ao redor de minha bunda, puxando-me mais fundo dentro dela. Nossa respiração compartilhada e nossa pele unida se associaram ao som da batida. Era uma punição a queimadura dolorida que percorria meu corpo, mas não me atrevi a parar. Ela estava gostando pra caralho para que eu parasse. Então, Allison colocou os braços em torno do meu pescoço, puxando os lábios de volta para os seus. Minha língua movimentava-se para dentro e para fora dela, imitando os movimentos do meu pau. Eu queria que aquilo não acabasse nunca; eu queria permanecer dentro de Allison a vida toda, em um sentimento que nunca havia experimentado antes. E ainda me perguntava se era ação do álcool ou era ela mesma. Quando senti que as paredes da vagina se apertavam em torno de mim, mergulhei a mão entre nós e acariciei o clitóris inchado de Allison. Ela se afastou de minha boca para gritar, enquanto as paredes de seu corpo apertavam e libertavam meu pau. Continuei a bombear furiosamente, até que senti minha própria libertação chegar. – Allison, ah, que foda – murmurei, desabando sobre ela. Enquanto me esforçava para recuperar o fôlego, os dedos dela se perderam nos fios úmidos de suor do meu cabelo. Com a cabeça repousada no peito dela, ouvia as batidas de seu coração. Aspirei sua pele. – Você cheira a cloro – deixei escapar sem qualquer eloquência. Allison deu uma risadinha. – Acho que é porque estávamos nadando. Levantando a cabeça, sorri para ela. – Nadamos mesmo, né? Ela concordou com um movimento de cabeça. – Eu queria que você se visse. Em um minuto estava sugerindo que nadássemos; no outro, já se atirou na piscina de roupa e tudo. – Foi bem divertido, não acha? – Juro que não estou reclamando. Só lamento o cheiro de cloro.


– Acho que podemos remediar isso. – Com uma piscadela, saí de cima de Allison, ainda que quisesse ficar perto do corpo quente dela. – Vamos tomar uma chuveirada.


Oito

ALLISON

Fechei os olhos e deixei o vapor me envolver, junto com a sensação das mãos de Rhys em meu corpo. Eu teria dado tudo por um banho, sem perceber que isso significaria uma nova rodada com Rhys. Não que estivesse reclamando. Não. Eu estava no lugar onde meus mais fantásticos sonhos e fantasias haviam se tornado realidade. Finalmente ficara com ele, que tinha conquistado por completo minha mente, minha alma e, agora, meu corpo. Sempre soube que seria bom; só não imaginava o quão bom seria. Quando ele colocou a mão molhada entre minhas coxas e começou a me acariciar, gemi, os olhos fechados. – Isso parece você tocando meu clitóris como se ele fosse o trecho de uma música. – Sou terrivelmente bom com os dedos. Meus olhos se abriram quando me dei conta de que havia falado dos dedos em voz alta. Enquanto a mortificação se espalhava pelo meu corpo, Rhys sorriu. – Me deixe estimular ainda mais a fantasia. Ele, então, deslocou meus quadris para sua frente, como se eu fosse um violoncelo entre suas pernas. Experimentar a sensação real dos dedos de Rhys foi muito mais intenso do que vê-lo tocando o violoncelo mais cedo. Conforme a recordação fazia minha pele formigar, meu corpo agora estava iluminado pela sensação deliciosa dos dedos de Rhys movendo-se com a mesma precisão gloriosa entre minhas pernas. Enquanto eu apoiava a cabeça em seu peito, uma mão dele amassava meu seio e a outra se enfiava entre minhas coxas. Abrindo as pernas, dei-lhe mais espaço para trabalhar os dedos mágicos em mim. Empurrei os quadris contra a mão de Rhys, e seus dedos mergulharam cada vez mais fundo em mim. Agarrando-lhe os bíceps, apertei-os mais conforme as primeiras ondas do orgasmo me


dominavam. Quando tudo terminou e abri os olhos novamente, Rhys me olhava, observando-me absorver o prazer. – Você é tão sexy quando goza. Foi inevitável que eu corasse. – Não estou habituada a gozar tão intensamente ou muitas vezes. Não com um cara. Rhys ergueu as sobrancelhas. – O que isso significa? Sorrindo de modo tímido, respondi: – Você vai mesmo me fazer dizer isso de novo, hein? Como ele continuou me olhando confuso, levei as mãos até seu rosto. – Você é a única pessoa com quem estive que me fez gozar desse jeito. Ele arregalou os olhos. – Sério? – Sim, sério mesmo. – Quando um sorriso lhe curvou os lábios, bati em seu peito. – Não quero me arrepender de ter te falado isso. Ele riu. – Me desculpe, mas isso é bom pra cacete e fico envaidecido. Virando-me nos braços de Rhys, acariciei sua ereção crescente. – Acho que agora é sua vez. – De me lavar ou sair? – Um pouco dos dois. – Ajoelhei-me à frente dele. Seus olhos semicerrados me fitaram enquanto eu colocava a língua sobre a cabeça da ereção dele. Rhys estremeceu com o contato mínimo. Então, alternei meus movimentos, ora lambendo-o da raiz às pontas, ora chupando-lhe a cabeça. Em seguida, peguei o pau em minhas mãos, subindo e descendo por ele. Quando comecei a gemer, enfiando o pau na boca, Rhys sibilou, e presumi que era de prazer. Com as mãos emaranhadas no meu cabelo molhado, olhava meus lábios movimentando-se para cima e para baixo no pau dele. Deslizando as mãos entre as pernas de Rhys, massageei suas bolas com delicadeza. – Ah, porra, Allison – Rhys disse, jogando a cabeça contra o ladrilho. Então, retirei a ereção dele da boca e envolvi as bolas. Chupei e mordi de leve a carne sensível, o tempo todo correndo a mão para cima e para baixo no pau. Um tremor percorreu o corpo de Rhys, que afastou meu cabelo para trás, mas eu novamente chupava o pau dele. E continuei chupando intenso e rápidamente, até que senti seus quadris sacudirem e o início do jorro de esperma em minha boca. Rhys xingou e gritou meu nome, a cabeça fazendo um barulho alto conforme ele a batia contra o ladrilho. Eu o lambi até secar e depois me levantei. Depois que Rhys afastou a cabeça da parede, ele me avaliou com uma expressão aturdida, que, na


verdade, sugeria satisfação total. Eu sabia que, se ele nada dissesse, era sinal de que me saíra bem. – Você está com um pequeno sorriso de prazer – ele disse. Quando caí na gargalhada, com rapidez escondi a boca com a mão. – Eu poderia te dizer o mesmo – retruquei, o som das palavras saindo abafado. Rhys riu. – Vamos. Vamos sair daqui antes que nos transformemos em ameixas. Concordei. Rhys passou por mim, desligou o chuveiro, abriu a porta de vidro e fez sinal a mim para que saísse primeiro. Pisei no chão de ladrilhos e peguei uma toalha de banho. Rhys a tirou de mim e passou ele a secar meus braços e ombros, depois descendo para minhas coxas e pernas. – Serviço pessoal a meu lorde – brinquei quando Rhys insinuou que eu fizesse o mesmo com ele. – Apenas o melhor para você, minha mocinha. Brincando, dei um tapinha em seu braço. Envolvida em minha toalha, peguei outra para Rhys e comecei a secá-lo, as mãos sobre ele, esfregando o tecido felpudo sob seu corpo, e eu queria muito que ele se enterrasse dentro de mim. De novo. E não era a única pronta para uma nova rodada; a ereção crescente dele repousava contra minha coxa. – Vamos para a cama. – E ele me levou para fora do banheiro e de volta para o quarto. – Apoie-se nas mãos e nos joelhos – ele ordenou, e eu tremi. Normalmente, eu não gostava de receber ordens, mas o fato de ser ele fez toda a diferença. Depois de me livrar da toalha, subi na cama e me arrastei até o centro dela. Assim que me instalei, olhei por cima de meu ombro e, sem poder resistir, balancei a bunda para Rhys. – Vai logo. Não me faça esperar. – Você gosta que seja forte? – ele perguntou, acomodando-se atrás de mim. – Humm, sim. Quando ele bateu na minha bunda, o som ecoou pelo quarto, e me assustei. – Você gosta disso também? – Sim – sussurrei e, espiando por cima de meu ombro os olhos cheios de desejo de Rhys, ordenei: – Faça de novo. – Dessa vez ele bateu no lado oposto e gemi, meus dedos agarrados aos lençóis. Eu não aguentava mais esperar para tê-lo. – Por favor, Rhys. Senti o peso dele deixar o colchão e, então, ele estava procurando um preservativo na gaveta do criado-mudo. Felizmente, logo senti a cabeça do pau dele entrando em mim. Quando ele mergulhou profundamente no meu corpo, gritamos. Nada se igualava à sensação de ter Rhys dentro de mim, e todas as noites de fantasia com ele convergiram para aquele momento. Apertei as paredes da vagina ao redor dele, fazendo com que um gemido lhe ribombasse no peito. O som umedeceu ainda mais o meio de minhas pernas. Era muito sensual ouvir os sons de prazer de Rhys e saber que eu era a responsável. Como meu longo cabelo se espalhava pelas minhas costas, Rhys enredou os dedos nele, empurrando minha cabeça para trás; gemi e mordi o lábio. Curvando-se, Rhys se inclinou para onde


seus lábios roçavam meu rosto. – Você gosta rude e forte, não é? – Apenas com você. Apenas com você – ofeguei, virando a cabeça para que meu rosto roçasse no de Rhys. E era verdade. – Está certo. Só eu te deixo assim – ele retrucou. Minhas palavras haviam acariciado o ego de Rhys, o primeiro a realmente ficar daquele jeito comigo, assim como os orgasmos em uma intensidade desconhecida. Mas ele ainda não entendia que eu de fato poderia me deixar conduzir tão profundamente porque o amava com cada fibra de meu ser. Como ele continuava socando dentro de mim, nosso banho logo virou um desperdício, pois nossos corpos se revestiam com o brilho do suor provocado pelos esforços. Ofeguei quando Rhys saiu de mim. Olhando por cima de meu ombro, observei os movimentos dele balançando-se sobre os joelhos e apoiando os pés embaixo da bunda. Então, ele estendeu a mão para meus quadris e acomodou-me de joelhos também. Assim que minhas costas se apertaram no peito dele, Rhys entrou de novo em mim. A sensação foi avassaladora. Eu e ele gememos devido à profundidade de penetração que ele alcançou. Enquanto ele deslizava lentamente para dentro e para fora, comecei a entender os benefícios de nossa posição. Rhys conseguia atingir meus seios e beliscar meus mamilos, e também mergulhar a mão para me acariciar entre as pernas. Enquanto minha cabeça caía para trás contra o ombro dele, coloquei a mão no seu emaranhado cabelo escuro. Meu coração derreteu quando ele mergulhou o rosto para baixo e encontrou meus lábios em um beijo frenético. No instante em que deslizou a língua pela minha boca, gozei. – Rhys! Oh, que gostoso! – choraminguei, as paredes de minha vagina estremecendo. Como eu ainda estava curtindo o orgasmo, Rhys me colocou de bruços e começou a bombear com fúria até que gozou. Após terminar, ele se acomodou já fora de mim. Eu me sentia tão depauperada que mal conseguia manter a cabeça erguida. Rhys jogou o preservativo ao lado da cama e, então, pediu-me que viesse por cima dele. – Não, não mais. Não consigo agora. Estou exausta. Ele riu. – Eu estava tentando levantá-la para que entrássemos debaixo das cobertas. – Ah – falei, antes de me sentar. Rhys puxou o edredom e os lençóis e mergulhei sob eles, estendendo-me no colchão luxuoso. Depois ele escorregou para meu lado e aninhou-se em posição de conchinha contra minhas costas, a respiração mais e mais fraca até que, enfim, dormiu. Completamente satisfeita, caí em sono profundo, envolvida pelo abraço forte de Rhys. Eu já sabia que o amava antes dessa noite. Mas, após fazer amor com ele, eu estava completamente


apaixonada. Ele sempre fora dono de meu coração. Agora, era também do meu corpo.


Nove

RHYS

Como a luz do sol batia em meu rosto, acabei me mexendo na cama. Enquanto rolava para fugir da claridade, eu me emaranhei em uma massa de cabelos escuros. Tentava, desesperadamente, entender onde estava e com quem. E então notei Allison ao meu lado. Minha mente foi assaltada pela frase de John Milton10: “Esconde-me do olho garrido do dia” e de seu um tanto abastardamento “tudo parecia diferente à luz berrante do dia”. Que porra. O que eu tinha feito? Em algum lugar entre a tequila e o que havia acontecido com Ellie, eu tinha baixado a guarda e cedido à pior tentação. Um carretel de imagens x-rated cintilou pela minha mente, e me vi bebendo com Allison, pegando-a na piscina e, depois, levando-a para minha cama. A compreensão de tudo me atingiu, e tremi: eu havia fodido a irmã de Jake, em várias posições e usando muitos preservativos. Eu havia profanado a garota perfeitamente doce e angelical que, nas últimas semanas, fora o único ponto luminoso em meu mundo, além de Ellie. Colocando o antebraço sobre os olhos, gemi. Como ela me perdoaria? – Ei, você está legal? – Uma vozinha perguntou ao meu lado. Afastando o braço, encontrei o olhar cheio de expectativa de Allison. Apesar de parecer ter fodido duro e suportado muitas coisas que tínhamos feito, ela estava radiante pra caralho, chegando mesmo a brilhar. A luz do sol atingira a parte de trás do cabelo dela e caminhara pelo seu corpo, iluminando as curvas delicadas sob o lençol completamente branco. Com um sorriso hesitante, ela apoiou a mão no meu coração. – Fale comigo, Rhys. Naquele momento, pensamentos coerentes evaporaram de imediato. Somente a visão de Allison agitava alguma coisa em mim. Inferno do caralho. Não. Eu não podia ir lá de novo. Gemendo mais uma vez, recostei-me na cabeceira da cama, à procura das palavras certas. – Meu Deus, Allison, estou arrasado por causa da noite passada.


A expressão do rosto dela sugeriu que não compreendia. – Por que está arrasado? Esfreguei furiosamente meu rosto. – Eu me aproveitei de você quando estava apenas sendo gentil e compassiva. Possuí você bêbada. Eu... Ela me interrompeu, colocando a mão sobre minha boca. – Pare. Não há do que se desculpar ou mesmo ficar arrasado. Ontem à noite, houve dois adultos consentindo. E eu me lembro bem de ter dado permissão. Outra imagem granulosa cintilou vagamente em minha mente: Allison pedindo-me que a beijasse de novo. Ela certamente não fora coagida. Mas, mesmo que me acompanhasse, eu sabia que não devia tocá-la. – Ainda que se sentisse bem com tudo, não foi certo – protestei. Erguendo-se na cama, Allison nem sequer se preocupou em manter o lençol em torno de seu peito. Apertei os olhos para evitar o delicioso olho gordo nos seios dela. – Sua cabeça ainda está muito confusa para processar tudo. Vamos tomar um café e então conversaremos sobre o que aconteceu. À luz matutina, Allison parecia bem mais velha. Ela falou com tanta certeza que eu estava disposto a aceitar qualquer coisa que dissesse. – Tudo bem? – ela incitou. – Tudo certo. Vou vestir alguma coisa e correr até a casa principal. – Conforme empurrei o lençol, os olhos de Allison fitaram com apreço o meu pau, e foi muito difícil para mim não virá-la de costas e transar com ela de novo. – Você deve se vestir também. – Tem algo para me emprestar? – Claro que sim. Ela abriu um sorriso radiante, daqueles que me incendiavam do topo de minha cabeça até a sola de meus pés. Ao mesmo tempo, ela me confortou, pois era como se detivesse as respostas a todas as perguntas e preocupações que eu tinha sobre minha vida. Eu não imaginava por que diabos pensara aquilo dela. Allison era apenas uma amiga... uma amiga com quem agora eu tinha relações sexuais. Afastando os sentimentos estranhos que nadavam em minha cabeça, fui até a cômoda e peguei uma camiseta e alguns shorts. – Aqui. – Obrigada. – Ela os pegou e, então, saiu debaixo do lençol. Eu não acreditava em como ela se comportava de modo desinibido comigo. Quando Allison se encaminhou para o banheiro, saí pela porta lateral da casa. Entrando pelas portas do fundo, vi a cozinha vazia. Como conhecia bem minha mãe, ela havia pedido ao cozinheiro que lhe trouxesse o café da manhã em uma bandeja, simulando exaustão após a


festa. Era isso ou, então, ela insistira em fazer a refeição na varanda, de onde poderia observar qualquer estrago feito pelos convidados. Era sempre assim, embora não fosse conveniente para os outros. Peguei uma garrafa térmica da despensa, enchendo-a de café fumegante. Vários tipos diferentes de muffins e frutas estavam expostos na bancada. Coloquei um no prato e comecei a acumular mais alguns para o caso de Allison estar com fome. Assim que me virei para voltar à casa da piscina, a voz de minha mãe me interrompeu: – Aí está você. Como não te encontrei mais após a festa, achei que já havia nos deixado de novo. Só durante minha caminhada de manhã vi seu carro ainda aqui. Respirei fundo, tentando atenuar minha resposta. – Saí para levar Ellie pra casa e esperei até me certificar de que ela estivesse bem. Os olhos escuros de minha mãe se estreitaram um pouco. – Esta é a casa de Eleanor. – Aqui nunca será a casa de Ellie, mãe. Você tem de ser bem-vinda a sua casa, e sabemos que esse nunca será o caso. Sempre que minha irmã vem aqui, ela é exilada na cocheira. – Não é exílio. Lá ela tem liberdade. Revirando os olhos, recuei em direção à porta. – Não tenho a merda do tempo ou energia para esta conversa. Minha mãe cruzou os braços sobre o peito. – Você dedicou a mesma atenção à sua acompanhante para se certificar de que ela fizesse as coisas se precavendo lá na casa? – Ela se chama Allison e, pelo seu tom, tenho certeza de que já sabe que ela estava comigo na casa da piscina. – É a segunda vez que te vejo com aquela menina. Ela é importante para você? Ri sem qualquer alegria. – Não me diga que, como uma verdadeira mãe, você está mesmo interessada em saber com quem seu filho está envolvido? Estou certo de que isso envolve mais o status social de Allison e o tipo de sangue que corre nas veias dela. Minha mãe estreitou os olhos para mim. – Francamente, Rhys, já não basta você ter desafiado o desejo de seu pai e o meu abandonando a faculdade de Direito e o futuro num renomado escritório advocatício? Vai agora causar mais vergonha namorando uma moça tão distante de nossa esfera social? – Mãe, ainda é muito cedo para vir com esnobação – retruquei sarcasticamente. – Não seja tolo, Rhys. Aquela garota está tão completamente apaixonada por você que quer encontrar uma maneira de te agarrar na turnê com a banda, sob o pretexto de um estágio. Como minha mãe não era o tipo de mulher com quem pudesse me abrir acerca de meus sentimentos


e de minhas emoções confusos, apenas balancei a cabeça. – Olha, espero que isto te cale sobre o assunto: não estou namorando Allison, nem agora, nem nunca. Só há amizade entre nós, e jamais haverá qualquer outra coisa. Ouvindo um arquejo atrás de mim, virei-me. Com uma expressão horrorizada, Allison estava na porta, vestindo meu short e minha camiseta, aliás, bem grandes para ela. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela fugiu. – Que merda – murmurei, atirando tudo que estava em minhas mãos sobre a bancada. Então, corri atrás dela. – Allison, espere! – chamei. Quando ela se virou para mim, as lágrimas marejavam seus olhos. – O que você acabou de dizer pra sua mãe... é mesmo como se sente sobre mim? Eu não compreendia por que ela estava chorando, mas sabia que precisava fazê-la se acalmar. – Olha, poderíamos somente nos acalmar pela porra de um minuto e raciocinar sobre isso? – E sobre o que precisamos raciocinar exatamente? – ela pressionou. – Ah, sei lá. Talvez sobre o fato de que cometemos um erro terrível na noite passada. Hesitando sobre como se eu tivesse batido nela, Allison perguntou em voz sufocada: – Foi isso pra você? Um erro? – Claro que sim. Estávamos bêbados, a noite tinha sido um inferno pra mim, e você estava lá, tão meiga para me confortar. Juro por Deus que nunca tive a intenção de te seduzir. Os olhos de Allison se arregalaram. – Você acha que me seduziu? Fiz uma careta. – Estou certo de que você não faria nada daquilo se eu não tivesse me aproximado. Assumo total responsabilidade pelo que aconteceu. Ela me olhou como se houvesse crescido chifres e presas em mim, um ar de intensa incredulidade. Eu quase podia ver as engrenagens na cabeça dela, todas se torcendo. Então, Allison me assustou como o demônio, empurrando-me com força, as duas mãos apoiadas em meu peito. – Você... você é um babaca de merda! – ela berrou. Meus olhos se arregalaram não só com a escolha da linguagem, mas com a fúria que dominava Allison. Ela balançou a cabeça freneticamente para mim. – Se ontem à noite foi um erro e você apenas me seduziu, então, o que diabos temos feito nas últimas três semanas? Encolhi os ombros. – Não sei exatamente. Saindo? Passando o tempo como amigos? – Só como amigos? Era isso que eu representava pra você? – E o que mais deveria ser? – Oh, Deus – ela gemeu, fechando os olhos em seguida. Eu a conhecia o suficiente para entender aquele gesto, e me sentia uma merda total por lhe causar sofrimento. – Não consigo acreditar nisso.


Todo esse tempo eu fantasiei como seria quando lhe contasse o que sinto por você. Mas nunca pensei que seria um pesadelo assim. – Eu não entendo. – E isso era certamente um eufemismo. Abrindo os olhos, Allison me olhou de modo duro. – Você tem estado total e completamente cego, né? Ou eu acho que é mais como se estivesse emocionalmente trancado. – Ela deu um passo hesitante na minha direção. – A noite passada foi tudo pra mim, porque estava com o homem que amava. O homem por quem estive apaixonada desde os 13 anos de idade. As palavras de Allison tiveram o efeito de um raio me atingindo. – Você é apaixonada por mim? – perguntei incrédulo. – Não consigo acreditar que você é um homem inteligente, Rhys – Allison estalou. Percorrendo o rosto com as mãos, balancei a cabeça. Como diabos havia acontecido? Nós estávamos passando o tempo e nos divertindo juntos, e eu não tinha certeza de como ela havia entendido de modo diferente. Deus, como não notei isso por todos aqueles anos? Minha mente girava, e eu me perguntava se havia ignorado todos os sinais que lá estavam. Eu jamais me relacionara com uma garota que era tão somente amiga. Durante todos os anos, tratara Allison como uma irmã caçula. Mas, de alguma forma, nas três últimas semanas nossa relação havia mudado para uma amizade intensa. Ao mesmo tempo, tive de me perguntar se estava apenas me iludindo. O que sentia por Allison extrapolava a amizade? Claro, considerando como ela era linda e sexy, ficava fácil me sentir fisicamente atraído. No entanto, estava preocupado com o lado emocional da minha atração. Após exalar uma respiração irregular, Allison disse: – Esperei e tentei ser paciente. Pensei que, uma vez que atingisse a maioridade, você me veria de um modo diferente. E então, quando isso não aconteceu, quase desisti de esperar que ficássemos juntos. Mas não importava com quem eu estivesse ou onde você estava no mundo, porque a centelha de amor que eu sentia jamais seria extinta. Então você veio me ver, e vivemos as mais perfeitas semanas juntos. – Lágrimas marcavam o rosto de Allison, e meu peito se contraía de angústia. – E tudo isso foi pra nada, pois você está em pé aqui dizendo que não sente nada por mim. – Não é verdade. Eu me importo muito, muito com você. – Sim, como uma irmã ou um amigo. Mas você se importa comigo como alguém diferente? Uma namorada ou uma amante? Ainda que eu sentisse por ela mais do que deveria, de maneira alguma poderia admitir a possibilidade de namorá-la. Jake nunca iria aceitar ou mesmo permitir. A banda talvez implodisse com o estresse e a tensão. Além disso, havia o fato de que eu nunca mais havia namorado; queria a minha liberdade, e não viver preso a alguém. Allison não era o tipo de garota que vira uma foda de uma amiga. Ela era do tipo corações e flores, a garota romântica incorrigível que estava à espera do


príncipe encantado. Estávamos em um impasse e, quando chegasse a hora, não haveria de fato futuro algum para nós. – Allison – eu comecei em um tom de voz equilibrado –, o que você sente por mim não é real. Levando as mãos aos quadris, ela perguntou com raiva: – Não é? Então me diga exatamente o que é. Como nunca fui bom em transformar meus sentimentos em palavras, achei difícil verbalizar o que queria dizer. – Fascínio... uma quedinha. Todos esses anos você apenas pensou que me amava, porque tinha uma sensação falsa de quem eu era: o cara mais velho, inacessível. É uma romântica realização de um desejo. Essa era a pura verdade. Lógica. Inteligente. Allison era jovem demais para entender o amor. Inferno, nem mesmo eu conseguia compreendê-lo. Não; era esse o caminho certo a seguir. – Essa é a pior merda que já ouvi. Como ousa me dizer como me sinto? Sei o que sentia por você, Rhys, e é amor. Agora, se você é uma merda de galinha pra admitir o que sente por mim, então, tudo bem. Vamos deixar as coisas entre nós assim mesmo. Mas nunca me diga que não sei o que é amor. – Me desculpe. Não quis dizer exatamente isso. Só estou tentando encontrar as coisas certas pra te dizer. – As coisas certas pra me desiludir? A maneira certa pra colocar a triste e confusa menininha fora da miséria em que ela vive? – Allison, por favor. Ela balançou a cabeça. – Por quê? Por que você não pode ser sincero comigo? Por que não pode ser sincero consigo mesmo? – Estou sendo sincero – argumentei debilmente. – Então, na sua moldura distorcida de espírito, ontem à noite foi só um erro? Não foi uma ligação maravilhosa entre duas pessoas que se importam uma com a outra? – Não podemos ficar limitados ao que ocorreu ontem. Sim, o sexo foi fantástico e foi um momento incrível, mas estavamos perdendo tempo. Temos de pensar em Jake e em todos os outros. Seja lá o que existe entre nós, tem de parar. Há muita coisa em jogo pra jogarmos tudo fora por causa de uma noite de bebedeira. A mão de Allison foi até a garganta enquanto um grito sufocado escapou de seus lábios. Mais uma vez, as lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela. – Está certo, então. Vou deixar tudo pra trás. Vamos continuar como se nunca tivesse acontecido nada, se acha melhor assim. – Sinto muito mesmo, mas de fato acho. Você vai ver que, no final, tudo ficará bem. Seremos capazes de manter nossa amizade apenas, como se nada tivesse acontecido.


Ela fez um movimento rápido com a cabeça. – Cada vez que te encontrar, só vou tentar não pensar que você era o cara que não me magoaria, mas magoou. Eu não previ o movimento seguinte de Allison. Envolvendo os braços em torno do meu pescoço, ela mergulhou minha cabeça para baixo, a fim de conseguir me beijar, os lábios salgados em função das lágrimas que caíam. E enquanto a lembrança dos lábios desvanecidos dela abandonava minha mente, era como se cada molécula de meu corpo se agitasse, fazendo-me estremecer. Os anos se dissiparam para outro tempo em que me sentira da mesma forma ao beijar Allison. Naquele momento e também ao longo dos anos, eu havia negado os sentimentos que experimentara com uma garota de 16 anos nos braços. No entanto, ali estava eu vivenciando a mesma exata reação ao beijá-la. Naquele instante, eu soube que havia me enganado durante as últimas três semanas. Eu não ficara com Allison apenas como passatempo ou diversão; ela havia me fascinado e, lentamente, despertara minha paixão. Mas o tempo todo eu mentira para mim mesmo. Sempre quisera uma mulher bonita, talentosa e de bom coração que se importasse mesmo comigo, em uma real conexão. E, agora que a encontrara, estava jogando tudo fora. No entanto, fazer isso representava o único jeito de manter a paz com Jake. Allison era jovem, muito jovem para saber de fato o que queria. Quando amadurecesse mais, perceberia que eu era a última pessoa que ela poderia amar de verdade. E então acreditaria, como aconteceu comigo, que merecia um sujeito bem melhor. Ela também era preciosa, com um futuro brilhante para ser selado com alguém como eu. Naquele momento, eu daria qualquer coisa para ficar com os braços em torno dela, seus doces e suaves lábios nos meus, mas isso simplesmente não estava destinado a nós. As mãos de Allison lentamente deixaram meu pescoço enquanto ela se afastava. Sem dirigir qualquer palavra a mim, ela se virou e começou a andar pelo caminho que conduzia até a rua. – Espere; me deixe pelo menos te dar uma carona. Ela balançou a cabeça, negando. – Prefiro caminhar. – Por favor, não vá embora desse jeito. – Não há outro jeito de fazer isso. Adeus, Rhys. – Ela, então, continuou caminhando, passou pelo portão e desapareceu. Muito tempo depois, eu continuava em pé no mesmo local, perguntando-me que raio de merda havia acontecido comigo. Independente das emoções que oprimiam meu peito, eu precisava aceitar as mesmas palavras que havia dito a ela. Nada funcionaria entre mim e ela. Havia muitos obstáculos para superarmos. Só tenho de continuar dizendo isso a mim mesmo.


Dez

ALLISON

Já completaram dez dias e três paradas de turnê desde que Rhys e eu conversamos a sós no ônibus de Jake e Abby. Apesar de ter passado três meses desde o nosso tempo juntos em Savannah, a dor era tão fresca como no dia em que ele havia partido meu coração. Quem quer que tenha dito que o tempo cura todas as feridas estava se iludindo. Toda vez que eu via Rhys ou ficava perto dele, a gaze frágil em meu coração era arrancada, deixando a ferida dolorida e inflamada. Não sei como consegui passar por aquilo pelo resto do semestre sem ser reprovada. Depois daquele agonizante último dia quando Rhys arrasou o meu mundo, achei que seria difícil lidar com toda a situação. Nos primeiros dias, não saí da cama. Cassie e minhas colegas de quarto me forçaram a tomar sopa e comer um pouco da minha comida delivery favorita. Então, Cassie recorreu a um tratamento de choque para me tirar da cama. Uma vez fora do coma emocional, comecei uma existência um pouco zumbi – meu corpo passou pela escola e pelo trabalho, até mesmo cantou na Saffie’s, mas meu coração não estava nele. Apenas desaparecera depois que o sonho que eu nutria desde que era somente uma garota de 13 anos de idade fora destruído. Eu não soube de Rhys depois que ele sumiu da cidade naquele dia. Quando meu vestido e meus sapatos chegaram em um saco de roupa da lavanderia, não havia nenhuma nota anexa a ele. Parte de mim não podia acreditar que Rhys não havia, pelo menos, ligado para saber como eu estava. Isso seria a coisa decente a fazer, mas acho que eu me enganara o tempo todo sobre quem ele realmente era. No final do dia, eu quase queria acreditar que ele era tão frio e insensível como seus pais, embora soubesse não ser verdade. Anos assistindo a Jake lentamente se autodestruir quando se tratava de seus relacionamentos aumentaram minha sensibilidade de ver Rhys como de fato era. Ele simplesmente não conseguia lidar com o que tinha acontecido entre nós. No final do dia, eu acreditava mesmo que ele sentiu mais por mim do que poderia se deixar reconhecer. Felizmente, não tive que vê-lo até o batismo de Jax e Jules. E continuava a imaginar se ele tentaria evitar a cerimônia com todos juntos. Como madrinha de Jax, ele sabia que eu estaria lá. Uma parte


minha desejava desesperadamente que ele fosse lá para que eu o visse de novo, enquanto a outra esperava que ele não fosse para que meu coração não se dividisse em dois, mais uma vez. Quando ele entrou na sala onde tínhamos todos nos reunido antes da cerimônia, senti dificuldade em respirar. Agarrei Jax mais apertado para me manter firme no chão, assim não desmaiaria. Rhys me deu um pequeno sorriso e um “oi” do mesmo tipo que você daria a alguém que mal conhecesse. Era como se eu tivesse passado três semanas com uma pessoa totalmente diferente ou que eu tivesse feito amor com uma pessoa totalmente diferente. E a fissura aberta em meu coração pelo comportamento anterior de Rhys cresceu ainda mais. Mesmo sem o estágio, eu me veria fazendo parte de uma existência nômade para ser babá de Jake e Abby e, dessa maneira, ficar mais uma vez na órbita de Rhys. Embora muitas vezes pudesse me esconder com as crianças, o estágio me forçava a trabalhar com a estilista do Runaway Train, mas, mais importante, com os caras do Runaway Train. Não era algo que eu estivesse desejando. Olhando pela janela do ônibus, vi quando chegamos ao Century Link Center, em Omaha, para o show da noite. Balançando Jax no colo, lavei o rosto dele, tirando o cereal que ele comera. Do meu outro lado, Jake estava fazendo a mesma coisa com Jules. Enquanto alimentávamos os gêmeos, Abby fora se preparar para os ensaios, que ocorreriam assim que chegássemos. Quando o ônibus estacionou, ela saiu do quarto vestida e pronta. Como Omaha era uma parada de apenas uma noite, não ficaríamos em um quarto de hotel. Os gêmeos seriam levados para a arena e de volta para o ônibus. Foi difícil, mas, de alguma forma, todos nós fizemos isso acontecer. A porta do ônibus se abriu, e Dustin, um dos guarda-costas, subiu. – Vocês estão prontos? – Eu acho que sim. – Quando Abby começou a olhar freneticamente ao redor, eu disse: – Tudo dos gêmeos está embalado. Eles já estão cuidados. Ela abriu um sorriso agradecido. – Obrigada, Allison. – E então pegou Jules de Jake. – Você pode pegar as coisas deles, querido? – Claro – respondeu Jake pouco menos que entusiasmado. Em seguida, saímos do ônibus com Jax em meus braços, Jules nos de Abby, e Jake carregado com os apetrechos dos gêmeos. – Lembre-me por que não há um auxiliar fazendo essa merda? – Jake resmungou enquanto íamos a caminho da arena. – Porque, na vida real, pais com gêmeos não têm ajudantes para carregar as coisas deles – Abby respondeu. – Eles que se fodam – Jake retrucou. Eu não sei como Abby conseguiu ficar tão otimista diante de uma turnê cansativa e criando duas crianças em um ônibus. Sei que ela não tinha escolha, pois não era o tipo de mãe que deixa os filhos


para trás, mas, ao mesmo tempo, aquela rotina me esgotava quase todos os dias, e eu estava apenas tomando conta dos gêmeos, não dando também meu coração e minha alma a cada noite no palco. Por causa de todas as crianças do Runaway Train, havia sempre um cômodo reservado apenas para elas ficarem durante os ensaios e os shows, principalmente nas ocasiões em que não se contava com quartos de hotel. Quando entramos, encontramos Mia e Lily já lá dentro. Jake colocou com alegria as coisas dos bebês ao lado de um dos sofás. Assim que Abby e eu acomodamos os gêmeos nos chiqueirinhos, um técnico apareceu na porta. – Estamos prontos para Jacob’s Ladder. – Vou em um instante – Abby respondeu, virando a cabeça. Ela, então, concentrou a atenção nos bebês. – Tchau, meus anjos. Eu já volto, certo? – disse para os gêmeos. Eles continuaram saltando alegremente nos chiqueirinhos. Como Abby hesitou, tentei tranquilizá-la. – Eles ficarão bem. – Eu sei. Sou muito idiota para ficar tão preocupada por deixá-los apenas meia hora. Sorri. – Eu acho que é mais pelo fato de que você é uma boa mãe, em vez de uma idiota. Abby sorriu. – Eu acho que gosto do seu jeito de falar melhor as coisas. Quando ela se apressou para fora da sala, Jake se virou para mim e disse: – Ei, onde é que você quer tirar as medidas? – perguntou. No dia anterior, quando estávamos na estrada, eu tinha lembrado a Jake que precisava tirar as medidas do pessoal do Runaway Train e do Jacob’s Ladder para o meu estágio. Eu não havia insistido no assunto na primeira semana na estrada porque queria me instalar. Ele tinha levado muito a sério isso e mandou uma mensagem de texto para todos os caras a fim de se certificar de que eles estivessem prontos para medições, uma vez que entrássemos em Omaha. – Que tal no camarim? Ele concordou com um gesto de cabeça. – Legal. Vou juntar os caras e estaremos lá em dez minutos, ok? – Beleza. Só vou dar uma corrida até o ônibus para pegar minhas coisas. – Leve o Dustin ou o Ed com você. Lutei contra a vontade de revirar os olhos por sua superproteção. – Tá bom, vou levar, e obrigada por ser tão compreensivo com o meu estágio. Ele se inclinou e afagou o topo da minha cabeça. – Qualquer coisa para você, Allie-Bean. Senti a bílis subirem minha garganta à menção do apelido – exatamente o mesmo pelo qual Rhys havia me chamado. Claro, eu não podia dizer nada a Jake sobre isso. Às vezes era cansativo manter


as aparências perto do meu irmão e dos outros, especialmente quando Rhys estava por perto. Com Mia e Lily cuidando dos gêmeos, voltei para o ônibus com Ed, o enorme guarda-costas, a reboque. Quando peguei tudo de que precisaria, fizemos o nosso caminho de volta para o palco. Eu já ouvia a abertura do ensaio do Jacob’s Ladder assim que caminhamos pela área caótica dos bastidores. Quando cheguei ao camarim do Runaway Train, só encontrei Jake e Brayden. – Cadê os outros caras? Jake fez uma careta. – Boa merda de pergunta. Mandei uma mensagem explicando para onde eles tinham que ir. No corredor, o som de “Conga”, de Gloria Estefan, retumbava para onde as crianças estavam. Jake e eu trocamos um olhar. – Acho que sabemos onde AJ está – Jake falou. Dei uma risadinha. – Sim, essas músicas são a cara dele. Claro, não tem problema nenhum que todas as crianças sejam fãs dos anos oitenta. Brayden franziu as sobrancelhas confuso. – Desde quando ele ouve música cubana? Jake resmungou: – Desde que ele e os filhos são fãs dos anos oitenta e esgotam a paciência escutando esse CD dos maiores hits da época. Com um sorriso, Brayden comentou: – Ah é, tinha me esquecido disso. Apontando o dedo para mim, Jake disse: – Eu vou pegar AJ, e você pode encontrar o Rhys. – Não, não, tudo bem. Vou pegar o AJ, e tenho certeza de que Rhys vai aparecer – retruquei rapidamente. A última coisa no mundo que eu queria era tentar caçar Rhys. Antes de Jake argumentar alguma coisa, mergulhei para o corredor. Quando abri a porta do quarto das crianças, não pude deixar de rir. Jude, Melody e Bella estavam em volta de AJ, que, com Gaby nos braços, dava uns passos irados. Até Jax e Jules pulavam descontroladamente nos chiqueirinhos ao som da música. Assim que me viu, AJ começou a cantar junto com a música: – “Come on shake your body, baby, do the conga. I know you can’t control yourself any longer”11. – Com a mão livre, AJ gesticulou para eu me juntar a eles. Levantei as mãos. – Ah, não, eu não vou fazer isso, não. Depois de entregar Gaby para Jude, ele me pegou nos braços antes que eu pudesse protestar e, em


seguida, me fez dançar pelo cômodo. – Ninguém pode dizer não à conga – ele comentou quando me inclinou abruptamente. Dei um sorriso nervoso. – Você é muito persuasivo. – Dança com eu, papai! – Bella gritou atrás de nós. – Desculpe ser desmancha-prazeres, mas preciso tirar suas medidas. AJ me livrou de seus braços e bateu na própria testa. – Mer... Quero dizer, mercadoria. Esqueci completamente. – Sem problema. Quando Bella fez cara de choro, AJ se inclinou e a beijou. – Eu volto daqui a pouco, filhota. Ao chegamos ao vestiário, só estavam lá Jake e Brayden. – Eu não sei aonde diabos ele se meteu. Acabei de mandar mensagem para ele de novo. Gesticulando com indiferença, como se isso realmente não me magoasse e me deixasse puta da vida, respondi: – Não esquenta. Posso começar tirando as medidas de vocês. Jake deu um passo para frente. – Tenho certeza de que você precisa começar com o componente mais importante, certo? – perguntou com ar de provocação. – Claro – respondi. Posicionei meu bloco de notas, então peguei fita métrica e lápis e comecei a trabalhar. – Pronto – eu disse, uma vez que tinha tirado todas as medidas do pescoço para baixo por todo o corpo de Jake. – Você fez isso como uma profissional. Sorri pelo elogio. Depois de envolver a fita métrica em torno do meu pescoço, inclinei-me sobre o bloco de notas para registrar as medidas de Jake de uma maneira mais formal do que o que eu teria rabiscado em um pedaço de papel de rascunho. Quando terminei e me virei, AJ estava tirando sua camiseta “Bateristas fazem mais barulho”. Mordi o lábio para não rir. – Ham, você não precisa que ficar nu para eu conseguir tirar as medidas direito. Ele sorriu. – Depois de tirar as medidas do seu irmão, achei que você gostaria de ter um exemplo de compleição física de um homem de verdade. Jake bufou, desabando no sofá. – Continua sonhando, cuzão. Enquanto AJ se admirava na frente do espelho, flexionando os bíceps e exibindo o peitoral, puxei a


fita do meu pescoço. – Ok, senhor Gostosão, vamos resolver isso. Uma carranca alinhou as sobrancelhas de AJ enquanto ele se olhava no espelho. Em seguida, passou a mão para cima e para baixo no abdômen tanquinho que levava as mulheres à loucura. – Você sabe, eu estou começando a achar que ter filhos transformou minha embalagem de seis latas em um barril. Do outro lado do cômodo, Brayden uivava de tanto rir. – Da última vez, pelo que eu saiba, era Mia quem estava parindo as crianças, não você, então não tenho muita certeza de como seu corpinho de boneca foi afetado. Depois de AJ fazer uma careta para Brayden, perguntou para mim: – O que você acha, Allison? Não consegui segurar o riso, tanto pela pergunta como pela seriedade com que perguntou. – Eu acho que você não tem nada com que se preocupar, AJ. Com um meneio de sobrancelhas, ele perguntou: – Então, você acha que eu sou um DILF12, hein? Jake gemeu. – Sério, AJ? Não pergunte essas merdas pra Allison. Ignorando o senhor Superprotetor, fiz que sim. – Totalmente um DILF. Mia é uma mulher de sorte. Um sorriso radiante iluminou seu rosto bonito. Envolvendo-me em seus braços para um abraço agradecido, AJ disse: – Obrigado. Eu sabia que você era uma mulher com muito bom gosto. Esse foi o momento que Rhys escolheu para aparecer na porta. Seu olhar momentaneamente se estreitou para mim nos braços de AJ. Então, como se ele percebesse que não estávamos sozinhos, sua expressão se suavizou. – O que está acontecendo? Dando um passo para trás, AJ olhou de mim para Rhys. – Onde diabos você estava, cara? Você sabia que Allison precisava tirar nossas medidas antes do ensaio. Ele encolheu os ombros. – Desculpe. Eu não sabia que isso era tão importante. Tais palavras tiveram o efeito de um punhal enfiado em meu peito. Embora eu devesse ter desviado o olhar, não consegui, tentando, desesperadamente, encontrar o Rhys que eu havia amado por tanto tempo. Sinceramente, não conseguia entender por que ele estava sendo um idiota comigo. E enquanto seu desprezo pelo meu estágio me magoava, a total falta de bondade que ele demonstrava era muito pior. Principalmente porque era tão contra o caráter habitual de Rhys.


Levantando-se do sofá, Jake fuzilou Rhys com o olhar, e eu poderia dizer que o irmão mais velho nele se irritou. – O estágio de moda de Allie é uma coisa importante. Em vez de olhar para Jake, Rhys olhou para mim. No fundo, ele sabia o quanto era importante. Ele estava lá comigo em Savannah quando eu lhe contei tudo. Na verdade, ele acreditou completamente em mim naquela ocasião. Mas, agora, estava tratando o assunto como se fosse nada para ele. – Está tudo bem, Jake. De qualquer maneira, eu estava ocupada com vocês – comentei enquanto levava a fita métrica ao pescoço de AJ. Sem se deixar intimidar, Jake disse: – Por que você não faz à Allison um favor e vai buscar Eli e Gabe? – Eles ainda estão ensaiando com Abby – Rhys respondeu enquanto tirava uma garrafa de água do refrigerador. – Inútil – Jake murmurou baixinho. Assim que eu estava terminando as medidas de Brayden, Frank, o técnico principal do Runaway Train, veio até a porta. – Ei, Jake, eu preciso de todos vocês lá no palco. Uma das mudanças de cenário está nos dando problemas lá na arena, e quero ter certeza de que vocês acham que está funcionando bem. – Rhys, assim que acabarem as suas medições, venha nos encontrar no palco – Jake pediu. – Falou – Rhys disse. Quando a porta se fechou atrás deles, deixando-nos a sós, não pude evitar um sobressalto. Um silêncio alto tomou conta do cômodo como se estivéssemos trancados em um túmulo. Ao me posicionar à frente de Rhys, tirei a fita métrica do pescoço. Eu sabia que teria de quebrar o silêncio entre nós. – Pensei que tivéssemos concordado em ser amigos. As sobrancelhas de Rhys se ergueram de surpresa. – Quem disse que não éramos? Eu dei um sorriso triste. – Isto – movi minha mão entre nós – não se parece muito com amizade. Com uma expressão de desculpas, Rhys comentou: – Estou fazendo o melhor que posso, Allison. – Desprezando esta medição? Você, de todas as pessoas, sabe como este estágio é importante. Você estava lá torcendo por mim quase desde o início. Agora age como se não desse a menor importância. – Por favor, acredite em mim quando digo que sinto muito por estar atrasado para a medição. Eu não estava intencionalmente desprezando isto só para ser um idiota. Eu não podia dizer isso na frente dos outros, mas tenho tentado dar a você algum espaço para lidar com os seus sentimentos por mim.


Isso é o que estava fazendo esta tarde, quando perdi a noção do tempo. Então pensei que, agindo como se não me importasse na frente de Jake, ele não pensaria ter ocorrido algo entre nós. Eu me senti ferida pelo fato de que ele estava realmente procurando me evitar e tratando-me com luvas de pelica. Mas, em vez de mostrar minha mágoa, estampei um sorriso no rosto. – Eu entendo – respondi. Então, coloquei a fita métrica no pescoço de Rhys. No momento em que meus dedos tocaram sua pele nua, ele pulou. – Desculpe se meus dedos estão frios. – Tudo bem – ele retrucou quando me virei para anotar as medidas. – Levante os braços – pedi. Ao passar meus braços em torno de Rhys, meu rosto roçou seu peito. Eu não conseguia evitar o tremor quando inalei seu perfume. Enquanto ajustava a fita no peitoral dele, lembrei-me de como era seu peito nu, e até mesmo do que senti quando seu corpo pairou sobre o meu quando estávamos fazendo amor. Mesmo que odiasse o modo como ele estava agindo, não podia negar a atração que ainda sentia. Eu queria esfregar meu corpo contra o dele, sentir suas mãos em mim como já tinham ficado uma vez antes. Depois de afastar meus pensamentos lascivos, pedi: – Dobre o braço e apoie a mão no quadril. – Não ganho um “por favor”? – ele perguntou com uma cadência zombeteira na voz. – Você perdeu o “por favor” e o “obrigada” porque se atrasou – retruquei, passando a fita métrica por baixo de seu bíceps. Ele suspirou. – Eu disse que estava arrependido. E prometo que, da próxima vez que você precisar de mim para alguma coisa, vou estar lá na hora certa. Juro. Olhando para ele, examinei seu rosto e vi sinceridade nele. Balancei a cabeça. – Então, tá. Depois de medir cintura e quadris, anotei as medidas, o tempo todo temendo pelo que eu tinha de fazer a seguir. Por alguma razão, não parecera tão embaraçoso fazer a medição do cavalo das calças de Brayden ou AJ. Mas eu já sentia as bochechas aquecendo com o mero pensamento de fazer a mesma coisa em Rhys. Também não ajudava o fato de estarmos a sós. Ajoelhei-me na frente dele. – Que porra você acha que está fazendo? – Rhys perguntou, dando um pulo para trás, afastando-se de mim como se tivesse sido escaldado com água quente. Inclinando a cabeça para ele, soprei alguns fios de cabelo do meu rosto. – Sinto muito. Tenho que medir o cavalo de sua calça, ou ela não ficará ajustada. Rhys contraiu a mandíbula por alguns momentos antes de dar um passo e voltar para minha frente.


Não ajudou em nada o meu rosto ter que ficar exatamente no nível da virilha dele para eu fazer as medições. – V-Você pode a-abrir suas pernas um pouco? – Com um grunhido, Rhys moveu as pernas. – Obrigada – agradeci, levando a fita até a virilha. No momento em que minha mão roçou os testículos, o quadril de Rhys pulou para a frente. Tentando ignorar a reação dele, peguei a fita e a levei para baixo em sua perna até a parte de trás do calcanhar. Quando fui tirar a fita, respirei fundo. A frente da calça jeans de Rhys estava tensionada com a protuberância de uma ereção. Quando desviei meu olhar até o dele, Rhys balançou a cabeça furiosamente. – Não olhe para mim desse jeito! – Como eu estou olhando para você? – sussurrei. Ele lambeu os lábios. – Como se quisesse fazer algo a respeito do que você causou. Um calor aqueceu meu rosto. – Eu não tive essa intenção. Estava apenas tirando suas medidas. Abaixando-se, Rhys me agarrou por debaixo dos braços e me colocou em pé. Minha fita métrica caiu no chão entre nós. Ele me esmagou contra seu peito, com um olhar selvagem fixo em meus olhos. – Eu acho que você está gostando disso, hein? Não gostei do tom que ele estava usando; não era ele. Rhys nunca tinha falado assim comigo antes. – Não, eu... – Nenhum dos outros caras ficou de pau duro enquanto você os tocava, não é? – perguntou. Quando fiz que não com a cabeça, ele disse: – Eu não achei que eles tinham ficado. Eles não são como eu; não são afetados por você como eu sou. Meu coração pulou na garganta com aquela declaração. – V-verdade? Ele deslizou a mão sobre meu quadril e agarrou minha bunda. Quando ele apertou sua ereção contra minha pélvis, ambos quase sufocamos de prazer. – Me diga. Você me afeta? – Sim. Muito. Movendo sua pélvis na minha de novo, ele perguntou: – Você é afetada por mim? – Sim. Sempre – murmurei, olhando em seus olhos. Com sua boca pairando sobre a minha, Rhys balançou a cabeça. – Que foda, Allison... Achei que íamos ser amigos. – Nós somos. Um ar derrotado penetrou em seus olhos.


– Isto não se parece com amizade. Parece ser muito, muito mais. Que diabos? Rhys estava me chicoteando para trás e para frente com seu ioiô emocional. Ele quis dizer realmente que me queria agora? Ou estava apenas brincando comigo por mais de sua própria diversão sádica? Eu estava começando a achar que Rhys podia ser um filho da puta cruel. – Talvez seja porque um de nós não tenho sido sincero sobre como realmente se sentia – retruquei, elevando o queixo. Enquanto a cor sumia de seu rosto, Rhys congelou seus movimentos contra mim. Quando ele abriu a boca para dizer alguma coisa, a porta se abriu, e Eli irrompeu para dentro seguido por Gabe. – Aqui estamos. Nos apresentando para as nossas medições – disse Eli, fazendo uma saudação simulada para mim. Rhys se afastou de mim tão rápido que tive certeza de que ele ia acabar tendo uma concussão. Então se virou para esconder a evidência de sua excitação de Eli e Gabe. Eu me virei para enfrentar os gêmeos. – E aí, estou pronta quando vocês estiverem. Olhando para além de mim, as sobrancelhas de Gabe se franziram para Rhys. – Você está bem, cara? – perguntou. Em vez de responder, Rhys agarrou uma camisa do rack, e eu tive a certeza de que ele ia colocá-la na frente da virilha. Forçando um sorriso para Gabe, respondi: – É tudo culpa minha. Eu, acidentalmente, o espetei com um dos meus alfinetes quando estava começando a medição do comprimento do lado interno das pernas dele. – Graças a Deus, eles engoliram a história, considerando que não havia necessidade de alfinetes no momento. Ambos, Eli e Gabe, fizeram uma careta. Pondo a mão na frente da virilha, Eli disse: – É melhor você tomar cuidado extra por perto do meu instrumento. Ele é muito precioso para mim. Eu ri. – Vou me esforçar para lembrar isso. – Quando me abaixei para anotar a última das medições de Rhys, ele, finalmente, se virou. A cor tinha voltado a seu rosto, e ele deu um sorriso para os gêmeos. – Se vocês acabaram seu ensaio, acho que isso significa que é a nossa vez. Vejo vocês mais tarde – disse Rhys. E passou por mim sem dizer uma palavra. Enquanto eu lutava para manter as emoções sob controle, Eli veio para a minha frente, bloqueando minha visão da silhueta de Rhys, que saía. Ele me analisou com uma expressão muito séria. – Eu estou pronto para você, Allison. Você está pronta para mim? – Ele perguntou em uma gutural voz sexy. Comecei a rir de sua provocação. – Que foi? – perguntou, passando a mão sedutoramente por seu peito e parando logo acima da fivela do cinto. – Você é um idiota – disse Gabe atrás de nós.


– Não tenha ciúme por minha masculinidade estar dominando Allison agora – Eli rebateu. Minha mão foi até a boca para esconder meu riso por sua brincadeira. Ao longo dos últimos três anos e meio, eu havia começado a conhecer Gabe e Eli um pouco melhor. Quando Eli e eu fomos reunidos como padrinhos de Jax, passei a conhecê-lo ainda melhor. Enquanto eu estava tentando evitar Rhys na festa de batizado, Eli ficou mais do que feliz em me manter entretida. Havíamos passado a maior parte da festa juntos, caminhando pela propriedade de Jake e falando sobre tudo e mais alguma coisa. Era divertido estar com Eli, e também não doeu nem um pouco ele ser lindo de morrer. Parte de mim não podia deixar de reconhecer que eu estava atraída por Eli de uma forma diferente. Podia ser apenas o fato de ele me fazer esquecer Rhys. Quando finalmente me recuperei, fiz, com o dedo, sinal para que ele chegasse um pouco mais perto. Só para provocá-lo, sussurrei com uma voz sedutora: – Vamos tirar suas medidas. – Sem alfinetes, certo? – ele questionou. – Está bem. Prometo. Com Eli em pé e imóvel, tirei as medidas da parte superior de seu corpo. Quando me abaixei para tirar as medidas internas das pernas, ele riu como um adolescente imaturo. – Sério? – questionei. – Desculpe, é só que eu costumo pagar um jantar para uma menina antes de esperar que ela fique de joelhos. – Realmente? Ele sorriu. – Tá bom, então eu raramente tenho que pagar o jantar antes. – Você é mesmo um encanto, não é, Eli? – murmurei. Gabe concordou com a cabeça. – Fique feliz por Jake não estar aqui para ouvir você dizer isso. Com certeza, ele cortaria seu pau fora. Eu suspirei. – Honestamente, Jake tem que superar esse negócio de ser tão superprotetor. – Quando comecei a me levantar, Eli estendeu a mão em um gesto de ajuda. – Obrigada. Ele me deu um sorriso sincero. – Por nada. E não seja tão dura com Jake. É natural que irmãos mais velhos sejam protetores com suas irmãs. Nós nos sentimos da mesma maneira sobre Abby. Gabe assentiu. – Mesmo ela já sendo adulta, todos nós quase surtamos quando ela acabou em um ônibus cheio de roqueiros esquisitos.


Eu ri. – Mas teve um final feliz, não é? – Sim, e essa é exatamente a única razão por que seu irmão ainda está respirando, e não a sete palmos – Eli respondeu com uma piscadela. Assim que terminei com as medições de Gabe, juntei meu bloco de desenho. – Obrigada novamente por me ajudarem com este estágio, rapazes. – Ficamos contentes em fazer isso – Gabe afirmou. Quando me encaminhava para a porta, Eli me parou. – Para onde você vai? – Para o meu verdadeiro trabalho de verão: cuidar de sua sobrinha e do seu sobrinho. – Quer ajuda? Levantei as sobrancelhas em surpresa. – Você não tem coisas melhores para fazer antes do show? Ele sacudiu os ombros. – O que poderia ser melhor do que passar o tempo com uma garota bonita, bem como com a minha própria carne e sangue? Minhas bochechas se aqueceram com o elogio. Depois de tudo o que acontecera com Rhys, era bom ter um cara desejável me achando bonita. – Acho que não. Eli sorria enquanto me seguia pelo corredor até onde as crianças estavam. Felizmente, Mia e Lily ficaram cuidando dos gêmeos enquanto eu estava com os rapazes. Mas, claro, Abby tinha vindo direto do ensaio para encontrar seus bebês. Ela estava com Jules nos braços, embalando-a para frente e para trás para aquietar seus gritos. – Tudo bem? – perguntei, depois de colocar meu notebook sobre a mesa. Então tirei Jax do chiqueirinho e o peguei. – Está tudo bem. Acho que ela só está querendo dormir. Apesar de no quarto haver muito barulho mais cedo, com AJ bancando o DJ, agora estava tranquilo. No canto mais afastado, em uma mesa longe dos outros, Lily cuidava do trabalho escolar de Jude, de 8 anos de idade, e de Melody, de 5 anos. Do outro lado da sala, Mia se sentou em um tablado cheio de brinquedos, brincando com Bella, Gaby e Lucy. Eli se ofereceu para pegar Jules. – O que está errado, bebê? – questionou. Ela, imediatamente, se acalmou e olhou com os olhos arregalados para Eli. Ele fez caretas até que Jules estava rindo e agitando as pernas e os pés. Não pude deixar de sorrir do jeito dele com Jules. Eli certamente tinha um bom coração, e, entre ele e Gabe, ele sempre se mostrara muito mais interessado em segurar os gêmeos e passar o tempo com eles.


Um auxiliar apareceu na porta com uma guitarra na mão. – Aí está você – disse a Eli. E então atravessou a sala vindo até nós. – Você conseguiu consertar? – perguntou Eli com uma expressão ansiosa. O auxiliar assentiu. – Experimente e veja por si mesmo. Eli entregou Jules de volta para Abby. Então ele pegou a guitarra, ajeitou-se no sofá, apoiou o instrumento no joelho e começou a dedilhar alguns acordes. Olhou para cima e sorriu. – Obrigado, cara. Parece nova. – Beleza. Se tiver qualquer outro problema de novo, é só me avisar – o rapaz disse, antes de sair. – Você quebrou uma corda durante os ensaios? – Sim, a corda E, o que fu... – Eli olhou em volta para todas as crianças, que estavam ao alcance da voz. – ... estragou todo o conjunto de cordas. Eu não sabia o que ia fazer no show hoje à noite. – Você não poderia ter pedido uma emprestada? – perguntei, balançando Jax no meu joelho. Ante a minha pergunta simples, Eli respirou horrorizado e Abby revirou os olhos. – Eu disse alguma coisa errada? Abby sacudiu a cabeça. – É só que Eli tem um pouco de TOC com suas guitarras. – Eu sou um artista, e os artistas estão sempre específicos quanto à paleta que usam – Eli explicou. – Quando o Jacob’s Ladder estava apenas começando, a guitarra favorita dele ficou para trás em uma parada da turnê. Então Eli percebeu o que havia acontecido e se apavorou; embora tivesse uma réplica exata para tocar, ele mal conseguiu fazer isso durante o show sem cometer uma tonelada de erros. – Eu não tinha ideia de que você era tão especial – comentei. Dedilhando a guitarra, Eli parecia nos sintonizar para o momento. Quase instantaneamente, eu reconheci “You and Tequilla”, de Kenny Chesney. Por um momento, fui transportada do camarim de volta para o meu tempo em Savannah. Sempre que a palavra “tequila”era mencionada, eu pensava em Rhys e na nossa noite juntos. Era difícil acreditar que, entre todas as músicas, Eli iria escolher exatamente essa para tocar. Enquanto comecei a cantarolar junto, balançava Jax em meus braços. Quando Eli parou abruptamente e as cordas da guitarra fizeram um barulho estridente, dei um pulo. – Você – ele disse, apontando o dedo para mim. – Eu o quê? – Você podia perfeitamente cantar essa música em dueto comigo. Arregalei os olhos em horror. – Não, eu não. – Oh, vamos lá, eu estou morrendo de vontade de fazer essa música ao vivo, mas Abby se recusa a


cantar comigo. Abby riu. – Pode me chamar de louca, mas, por alguma razão, parece um pouco estranho cantar um dueto com seu irmão. Eu falei que podíamos fazê-la com ele cantando solo. Quando ri, Eli fez uma careta para nós. – Eu só peço uma coisa, e não consigo fazer isso acontecer. Com pena, ajeitei-me no sofá ao lado dele. Assim que acomodei Jax no colo, sorri para Eli. – Eu vou cantar com você agora, mas só para que possa praticar para cantá-la sozinho. Não sou uma cantora profissional e, certamente, não vou para a frente de milhares e milhares de pessoas para cantar. – Você vai mesmo? Assenti. – Não faz mal, Jax e Jules gostam que cante para eles, e está quase na hora de eles dormirem. Eli sorriu para mim. – Vou aceitar fazer o que você quiser. – Chegando mais perto de mim no sofá, ele ajustou a guitarra nos joelhos. Depois se virou para mim e, então, começou a dedilhar os acordes de introdução da música novamente. Foi por pura sorte que eu sabia a letra da canção, pois nunca fora grande fã de música country. Isso só cresceu em mim depois que Jake e Abby se juntaram. Eu fui com eles para os CMAs13 e, depois de conhecer Kenny Chesney, comecei a ouvir sua música. Quando Eli começou a cantar o primeiro verso, Jax se acomodou contra o meu peito. Assim como Abby, Eli tinha uma voz incrível. Quase não era justo ele ser tão bonito e tão talentoso. Sem mencionar que ele tinha uma personalidade muito cativante. Assim, realmente era uma ameaça tripla que ia fazer alguma mulher muito feliz algum dia – eu odiava que essa, provavelmente, não seria eu. Assim que chegou ao refrão, ele piscou para mim. E então entrei na harmonia com ele14:“You and tequila make me crazy – run like poison in my blood. One more night could kill me, baby…”4. Parando de cantar, Eli fechou os olhos em êxtase fingido. – Foi fantástico! – gritou com entusiasmo. Abby e eu rimos do comentário exagerado. Em meus braços, Jax esticava o pescocinho para cima para me ver enquanto eu cantava. Sorri para ele e, quando terminei minha parte, dei um beijo no seu cabelo escuro. Já no segundo verso, eu entrei cada vez que a vocalista original, Grace Potter, normalmente cantava. Lá pela metade da música, levantei os olhos e vi Rhys emoldurado no batente da porta. Uma mão estava apoiada no batente e o joelho estava dobrado como se ele tivesse congelado enquanto andava. Seus olhos penetraram nos meus, e senti uma onda de calor chamuscar as bochechas pela intensidade do olhar. Por um momento, não me incomodei de desviar os meus olhos dos dele. Em vez disso, eu estava muito interessada em explorar a gama de emoções que brincavam no rosto de Rhys. Lá


estavam curiosidade por eu estar cantando com Eli, junto com interesse e prazer verdadeiros em me ouvir cantar novamente. Meu batimento cardíaco aumentou com o que eu esperava que fosse a visão de ciúme fervendo debaixo da sua pele, enquanto observava Eli dirigir seu canto para mim. Também houve reconhecimento da importância do assunto da canção. Em sua mente, tequila tinha sido nossa ruína em Savannah. Apesar de ter sido, em parte, atribuída a ela meu comportamento desinibido com Rhys, a bebida certamente não me obrigou a fazer algo que eu havia sonhado fazer por muitos anos. Independente do que tivesse distorcido a ideia que ele fixara na mente sobre o porquê de nós não podermos ficar juntos, eu sabia qual era a verdade. Ele estava com um medo do cacete de admitir que gostava de mim. Ele tinha medo de Jake, mas, mais do que qualquer outra coisa, temia se entregar a outra pessoa. Tinha sido queimado por aqueles que deveriam amá-lo, então não tinha ideia de como realmente amar alguém sem se machucar. As sobrancelhas de Rhys se elevaram muito quando Eli cantou o trecho15:“When it comes to you, oh the damage I could do. It’s always your favorite sins that do you in”5. Ele moveu a mão livre para esfregar a mandíbula antes de voltar com ela para segurar os cabelos na base do pescoço. Eu só podia imaginar por que a frase o estava incomodando tanto. Ela era o protótipo do impasse em que nos encontrávamos. E, até aquele momento, ele tinha conseguido fazer uma série de estragos em meu coração e no relacionamento que uma vez tivemos. Uma parte minha sofria para ir até Rhys. Eu queria envolver meus braços em seu pescoço e dizerlhe que tudo poderia dar certo se ele se liberasse de seus receios preconcebidos. Mas a outra parte desejava ir até lá e estrangulá-lo por ser um filho da puta teimoso. Ao final da canção, bati palmas com as mãos de Jax em conjunto comigo. Ele riu e saltou no meu colo. – Você gostou, hein? Como Jax gritou em aprovação, Eli disse: – Acho que ele está dando o seu selo de aprovação para que um dueto deva acontecer entre nós dois. – Um dueto? – A voz de Jake soou da porta, os olhos estreitados com a visão de nós juntos no sofá. – O que vocês estão fazendo? – Só brincando – respondi. Empurrando Rhys para fora do caminho, Jake atravessou a sala em dois passos longos para ficar na nossa frente. Com a visão do pai, Jax ficou louco levantando os braços e estendendo a mão, então Jake o pegou. Ele pareceu quase cômico com um olhar ameaçador dirigido a Eli enquanto balançava o bebê nos braços. – Você contaminou todos nós, Jake – disse Eli. – O que você quer dizer? – ele perguntou, alternando o olhar entre mim e Eli. – Allison sabe realmente cantar.


Jake olhou com raiva para ele. – Sim, ela tem uma boa voz. E daí? Eli revirou os olhos. – Você deveria maximizar o talento dela, colocando-a no palco. Eu abri a boca para discutir com ele quando Rhys saltou atrás de Jake. – Allison não iria querer isso. Apesar de gostar de cantar em locais discretos, ela nunca, jamais iria querer se apresentar diante de milhares de pessoas. Além disso, seus talentos estarão muito mais bem aproveitados em design de moda. Mesmo que eu me esforçasse, não conseguiria, por nada no mundo, tirar os olhos de Rhys naquele momento. Ele estava sempre me provocando emocionalmente, e agora era mais uma vez. Com todo mundo olhando-o com surpresa, Rhys sacudiu os ombros. – É a verdade. Dando tapinhas na perna de Eli, eu disse: – Rhys está certo; não sou uma artista. – A não ser na Saffie’s – Rhys comentou com um sorriso brincando nos cantos dos lábios. As sobrancelhas escuras de Jake se franziram. – Que diabos é Saffie’s? Os olhos arregalados e horrorizados de Rhys me disseram que ele não tinha a intenção de me expor. Eu tenho certeza de que, depois de todos aqueles meses, ele imaginou que eu tivesse contado a Jake. Exalando um longo suspiro, eu disse: – Apenas uma boate lésbica onde eu estava cantando uma vez por semana lá em Savannah. Mudando Jax de lado no quadril, Jake pareceu quase cômico com uma expressão interrogativa. – Allie-Bean, há algo que você precisa me dizer? – Hã? Jake fez uma careta. – Não importa de que maneira. – Quando continuei com um olhar vazio, ele disse: – Você precisa me contar sobre ser... – Ele se inclinou e baixou a voz. – Gay – completou em um sussurro. Explodi em gargalhadas. Ambos, Eli e Rhys, começaram a rir junto comigo. – Jake, eu não sou gay. Eu estava apenas cantando em uma boate gay. – Ah! – Jake exclamou. Por um momento, ele não pareceu aliviado. De uma maneira distorcida, acho que teria sido mais fácil para ele que eu fosse gay quando estávamos em turnê com um grupo de homens com tesão. Em seguida, sua expressão mudou para a de sério e protetor irmão mais velho. – Você era menor de idade e cantava em uma boate? Eu tenho certeza de que papai e Nancy não sabem disso. – Agora eles sabem. Eu não lhes disse no início, porque imaginei que iriam surtar como você está


começando a fazer. – Você deveria ter visto, Jake. Ela foi incrível – disse Rhys. O olhar de Jake pulou do meu para o de Rhys. – Que diabos, cara? Você sabia disso? Rhys assentiu. – Eu fui a uma de suas apresentações. – E nunca pensou que talvez eu precisasse saber? Com um encolher de ombros, Rhys respondeu: – Não era para eu dizer. – Ele olhou para mim. – Ela é boa. Muito boa. Meu batimento cardíaco se acelerou com as palavras. Eu fiquei momentaneamente distraída pela mão de Abby no meu ombro. – Oh, Allison, eu gostaria que pudéssemos ter visto você. – Eu tenho em vídeo – disse Rhys, pegando seu telefone do bolso. – Você tem? – perguntei, minha voz embargada de emoção. – Eu pensei que Jake pudesse querer ver um dia – Rhys respondeu. – Ah – murmurei. Abby gritou com alegria e virou para o lado de Eli no sofá. Jake, com relutância, se apertou ao seu lado. Inclinando-se sobre o encosto do sofá, Rhys começou a passar o vídeo. Foi difícil processar o fato de ele ser tão aberto sobre mim e meu canto. Com relação a isso, eu não podia acreditar que ele estava compartilhando tudo o que se relacionava a nós e a nosso abominável tempo em Savannah. – Sua voz é incrível! – exclamou Abby. O calor aqueceu meu rosto com o elogio. – Obrigada. Cutucando Jake, Abby disse: – Ela não tem uma voz surpreendente, amor? Jake balançou a cabeça. – Eu não consigo entender como ela parece e canta como uma adulta. – Ele virou a cabeça para olhar para mim. – Você está absolutamente fenomenal, Allie-Bean. Lágrimas me encheram os olhos pela sinceridade de suas palavras. – Obrigada. – Que vestido sexy você estava usando lá. Você fica linda de vermelho. Gostei das botas também – Eli disse, piscando para mim. Jake deu um tapa atrás da cabeça dele. – Ai! – Eli gritou. – Veja lá o que você fala da minha irmã – Jake resmungou entre dentes. – Honestamente, Jake, tenho quase 21 anos, não 12 – reagi.


– Você sempre vai ser minha irmãzinha, mesmo quando estiver com 80. – E você com 90 e morto? – Eli questionou. – Cale a boca – Jake respondeu, o que me fez rir, e então lançou o olhar por cima do ombro para Rhys. – Tem alguma outra coisa que eu precise saber sobre o que aconteceu quando vocês dois estavam juntos em Savannah? A pergunta me fez estremecer. Rhys lançou um rápido olhar para mim antes de fixar seu olhar em Jake. Um riso nervoso escapou de seus lábios. – Nada mais além de algumas coisas de turistas para onde arrastei Allison. Jake riu. – Acho que você ainda é um nerd histórico, hein? – Sim, ele é – respondi rapidamente. Depois que Jake pareceu apaziguado com nossas respostas, ele, Abby, e Eli começaram a discorrer sobre os méritos de minha performance. Mas eu me desliguei do assunto. Tudo que eu conseguia fazer era olhar para Rhys. Mesmo quando ele encontrou meu olhar e o sustentou, não consegui desviar. Não me importava o que ele pensava de eu estar olhando para ele – eu gostava mesmo da menor das ligações com ele. E, apesar do meu peito se apertar com a agonia de como eu deveria abandonar meus sentimentos por ele, mais uma vez, desejei que, de alguma forma, as coisas fossem diferentes entre nós.


Onze

ALLISON

Depois de deixar Omaha durante a noite, nós chegamos a Cheyenne, Wyoming, assim que o Sol começava a nascer do lado de fora da minha janela. Após tomar um banho rápido, fui para a cozinha. Trajando apenas uma cueca boxer, Jake estava na frente do balcão misturando os cereais dos bebês enquanto Abby se sentava à mesa segurando os gêmeos, que choravam. – Bom dia – eu disse, acima dos gritos de Jax e Jules. – Bom dia – Jake murmurou. Empurrando-o para fora do caminho com o quadril, falei: – Dê aqui. Eu acabo isto. Você pega as mamadeiras deles. Jake balançou a cabeça e, em seguida, deu meia-volta e foi até a geladeira. Eu havia preparado as mamadeiras para várias mamadas na noite anterior. Ele as colocou no micro-ondas, esperou pelo sinal e, então, derramou um pouco de leite no braço para testar. Enquanto eu estava sugando o cereal em um dos feeders16, Jake pegou Jules nos braços e entregou a Abby uma mamadeira. Assim que os gêmeos receberam seu preparado, acalmaram-se instantaneamente. Eu levei os alimentadores até a mesa. – Você pode pegá-la, Allie-Bean? Tenho que preparar o arranjo musical para a nova música de Brayden. – Claro. Jake passou Jules para mim antes de eu me acomodar à mesa. Ele, então, correu de volta para o quarto para vestir alguma coisa. Quando voltou, beijou Abby e, em seguida, cada um dos gêmeos. Depois que ele foi embora, Abby e eu conversamos trivialidades enquanto os gêmeos terminavam as mamadeiras. Quando levei o feeder de cereal para a boca aberta, e à espera, de Jules, o som fraco de um dedilhar de guitarra desviou minha atenção para a janela. Olhei para Abby. – Você ouviu isso?


Ela fez que sim com a cabeça. – Eli deve estar praticando bem alto para que o som chegue até o ônibus desse jeito. Enquanto Jules sugava com vontade, a música continuou a crescer cada vez mais alto. Levantei-me e olhei para fora pelo vidro. Equilibrando Jules no quadril, usei a outra mão para erguer as cortinas e abrir a janela. Engasguei com a visão de Eli passeando no beco entre os ônibus, tocando a melodia “You’re Beautiful”, de James Blunt. Quando ele chegou à frente da janela, sorriu para mim e começou a cantar17: “I saw an angel, of that I’m sure”2. Um calor se espalhou pelas minhas bochechas. Na noite anterior, após o show do Jacob’s Ladder, ele me pegou cantando no camarim uma música do rádio, enquanto dava a Jax e Jules as mamadeiras para dormir. Balançando a cabeça com desgosto fingido, ele questionou: – Não me diga que você realmente gosta dessa merda? – Sim, na verdade, eu gosto. Gosto de todas as músicas dele. “Same Mistake”e “Goodbye My Lover” são algumas das minhas favoritas. Eli revirou os olhos quando se sentou no sofá ao meu lado. Depois de pegar Jax nos braços para me ajudar, ele disse: – Blunt é um compositor medíocre na melhor das hipóteses, para não mencionar que é um mané que trai as mulheres. Inclinando a cabeça, rebati: – Você sabe muito sobre um cara cuja música odeia. Ele sacudiu os ombros. – Eu sei da minha música. – Pouco importa – murmurei. – Independente da música de merda, eu não sabia que você cantava. – Um pouco. Eli sorriu. – Não seja modesta. – A modéstia é algo que seu eu egocêntrico pode achar benéfico – provoquei. Com a mão livre, ele coçou o queixo. – Humm, vou pensar nisso. Abby aparecera em seguida, e fomos até o ônibus para colocar Jax e Jules para dormir. Agora eu não podia acreditar que Eli estava em pé diante de mim, cantando. Fazendo uma pausa na música, ele ergueu os braços e gritou: – Lá está ela! A angel linda que assombra meus pensamentos de vigília – Erguendo as sobrancelhas, ele acrescentou: – Hummm e talvez alguns dos meus sonhos safados. Comecei a rir de sua declaração. – Os únicos anjos que eu conheço são sua irmã e a cachorra, e eu não sei por que você está aqui


cantando para ela... ou tendo sonhos safados com ela. Espere, não é por um anjo peludo que você está excitado? Eu poderia pegá-la para você . À menção de seu nome, Angel latiu e abanou o rabo. – Você está partindo meu coração – ele disse. Abby se juntou a mim na janela. – Eli, mas o que é que você está fazendo? São oito horas da manhã. Virando os olhos, Eli respondeu: – Dããã, eu estou fazendo uma serenata para uma bela mulher. Balancei a cabeça. – Você conseguiu o que queria e fez piada com a minha escolha de música. De novo. Então vá embora. Com os ombros caídos pela derrota, Eli começou a se afastar. Assim que eu ia virar as costas para a janela, ele começou a dedilhar novamente18: – “Yes, she caught my eye as we walked on by. She could see from my face that I was flying high”. – No trecho “flying high” 3, ele fez uma cara de maluco. Jules agitou as pernas e deu uma risadinha. – Seu tio Eli é muito engraçado, né? Sua minúscula palma da mão deu um tapinha no meu ombro quase no ritmo da música e, apesar de ser muito cedo, eu já podia dizer que ela tinha herdado os genes musicais dos pais. Naquele momento, a porta do ônibus se abriu, e Jake e Rhys subiram juntos a escada. Jake lançou um olhar de descontentamento para mim e para Abby. – Será que alguém poderia me dizer por que meu cunhado está cantando essa música idiota do lado de fora do meu ônibus? Eu dei risada. – É só uma piada entre nós. – Nós? – Jake repetiu, erguendo as sobrancelhas para mim. – O que foi? – perguntei de forma inocente. Cruzando os braços tatuados no peito, ele perguntou: – Existe algum “nós” que você gostaria de me contar? – Caia na real, Jake – murmurei enquanto balançava uma Jules agora agitada para trás e para frente em meus braços. – Que diabos isso quer dizer? – Jake perguntou. Apertei os olhos para ele. – Isso significa que, mesmo se houvesse algo entre Eli e eu, isso não é da sua conta. – Sério? Quando balancei a cabeça, observei o olhar intenso de Rhys por sobre o ombro de Jake. Ele


parecia tão interessado quanto meu irmão no que estava acontecendo entre mim e Eli. Enfureceu-me que ele agisse como se aquilo tudo lhe importasse, considerando a forma como estava me tratando recentemente. Em um minuto, ele me ignorava completamente e, então, no minuto seguinte, ficava me cercando como se eu fosse sua. Isso era confuso demais. Quando Eli passou para o segundo verso, Jake gemeu. – Já chega. Preferindo ignorar seu discurso, voltei para a janela e sorri para Eli, que estava prestes a terminar, mas recomeçou. – Eli. – Dei risada. Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, vi o lampejo da camiseta preta de Jake pelo canto dos olhos. Então, num piscar de olhos, ele estava ao meu lado com um balde de água e o virou pela janela, jogando tudo em cima de Eli. – M-Mas que p-porra é essa? – Eli gritou. – Isso vai te ensinar a não cantar músicas de merda pra minha irmã do lado de fora da janela do meu ônibus! – Jake respondeu, dando risada. Encostado no balcão da cozinha, Rhys também riu, e precisei de toda a força dentro de mim para não ir lá e dar um tapa naquela cara arrogante. Levando a mão livre até o quadril, reclamei: – Vocês dois acham isso engraçado? Rhys encolheu os ombros. – Ele, obviamente, precisava se refrescar para parar de nos torturar com seu canto. Jake balançou a cabeça. – Ele tem razão. Vocês devem ficar felizes por ele não estar ligado a um amplificador. Eu olhei para os dois. – Seus... idiotas! – Beijei Jules na bochecha e, então, empurrei-a para os braços de Jake. Sem falar mais nada, peguei uma toalha do armário. Em seguida, me apressei pelo corredor e desci a escada do ônibus batendo os pés. Depois de passar pela porta aberta, pulei dos degraus para o calçamento. Eli tinha apoiado sua guitarra contra a lateral do ônibus e estava torcendo a parte de baixo da camiseta ensopada. – Sinto muito sobre Jake. Isso foi uma coisa realmente idiota de se fazer. – Está tudo bem – Eli explicou com um sorriso bem-humorado. – Essa não era sua guitarra favorita, era? – perguntei já me encolhendo com o pensamento. – Não, felizmente não era. – Ufa, fico muito contente de ouvir isso. Quando lhe ofereci a toalha, ele balançou a cabeça. Então, num piscar de olhos, puxou a camiseta


molhada por sobre a cabeça, exibindo o peito amplo, tatuado e nu. Ele largou a camiseta para pegar a toalha. Como eu ainda estava olhando para seu peito, ele teve de assobiar para eu lhe entregar a toalha. – Desculpe – murmurei. Enquanto secava o peito, Eli sorriu. – Imagina. Eu gosto do fato de você me “secar”. Cruzando os braços `frente do peito, bufei. – Eu não estava “secando” você. E estava admirando sua tatuagem. – Ceeeerto – ele concordou com um sorriso. Balancei a cabeça. – Bem, se é que valeu a pena, obrigada pelas canções. Eli envolveu a toalha no pescoço. – De nada. A música foi, na verdade, uma desculpa para uma pergunta que eu queria te fazer. Meu batimento cardíaco acelerou. – Você queria me perguntar alguma coisa? Ele fez que sim com a cabeça. – Amanhã à noite, Jake vai levar Abby para visitar alguns familiares de sua mãe fora de Boise, e os gêmeos irão com eles. – Sim, Abby tinha mencionado algo sobre isso. – Como você vai ter a noite de folga, pensei se gostaria de sair comigo e Gabe. – Sair? – questionei idiotizada. – Tenho certeza de que Boise não tem um monte de lugar legal, mas vamos tentar encontrar um clube ou dois para dar uma curtida. – Inclinando-se para perto de mim, ele perguntou: – Você tem coragem? Pisquei os olhos sem acreditar. Eli estava me chamando para sair, tipo sair-sair? Ou estava apenas sendo gentil e me dando algo para fazer além de ficar no meu quarto de hotel na noite de folga? E se ele estava me convidando para sair, eu queria sair com ele? Estava pronta para tentar namorar alguém novo? Meus pensamentos giravam tão rápido com tantas perguntas loucas que coloquei a mão na testa para acalmar minha mente. – E aí, o que acha? – Eli perguntou. – Eu acho que parece divertido – respondi sinceramente. Ele sorriu. – Bom, fico contente de saber que pensa assim. – Só beber e dançar um pouco, né? – Isso. A menos que a atmosfera peça mais – ele respondeu, meneando as sobrancelhas. Não pude deixar de rir.


– Então vou me certificar de que meu estado de espírito fique sob controle. – Que pena. Poderíamos nos divertir de verdade juntos. Inclinando a cabeça, repliquei: – Ah sim, tenho certeza de que sei exatamente o tipo de diversão de que você está falando, e preciso te avisar que não sou esse tipo de garota que pula de um cara para outro por... – fiz uma pausa para fazer o sinal de aspas no ar com os dedos – diversão. Ele piscou para mim. – É bom saber disso, Allison. Você pode me fazer um homem honesto. – Isso soa como um trabalho desafiador – respondi com um sorriso. – E é. Pode até ser um trabalho de tempo integral. – Nós vamos ter que ver isso. – Olha, eu estou congelando aqui fora, preciso tirar essa roupa molhada. Mas estamos combinados para amanhã à noite, certo? – Sim, certo. – Legal. – Ele pegou a camiseta molhada do chão e, em seguida, a guitarra. – Tchau, Allison. – Tchau, Eli – respondi, acenando. Quando ele ficou fora de vista, caminhei de volta para o ônibus, subi os degraus e descobri que Jake e Rhys tinham saído, ficando só Abby e os gêmeos. – Parece que Eli está a fim de você. Balancei a cabeça. – Não é isso. Nós só gostamos de brincar um com o outro. Abby me lançou um olhar penetrante. – Eu conheço meu irmão, Allison. No fundo, ele não está brincando. – Oh – murmurei baixinho. – Ele te convidou para sair amanhã à noite, né? Eu me surpreendi. – Como você sabia? Apontando para a janela, Abby respondeu: – Por mais que quisesse te dar privacidade, sou uma espécie de refém com os gêmeos. – Entendo. – Então você acha que poderia gostar de Eli? – Eu já gosto dele. – Você sabe o que quero dizer. Com um suspiro, desabei no sofá. – Claro que poderia gostar dele. É bonito, talentoso e engraçado.


– Mas ele não é Rhys – ela disse com uma expressão de conhecimento. Levei um susto. – Não há nada acontecendo entre mim e Rhys – protestei. Abby balançou a cabeça. – Você acha realmente que sou tão idiota? O pânico tomou conta de mim. Se Abby sabia, então significava que ela poderia contar a Jake. Tudo que Rhys e eu temíamos se concretizaria. – Por favor, não conte pro Jake – sussurrei. – Claro que não vou contar. O que vocês dois sentem um pelo outro não é da minha conta. – Há quanto tempo você sabe? – Desde o batizado dos gêmeos. Era preciso uma serra elétrica para cortar a tensão sexual não resolvida entre vocês dois. Minhas bochechas se aqueceram com aquelas palavras. – Nós já tínhamos resolvido a tensão naquela época. Isso foi parte do problema. Abby suspirou. – Você dormiu com Rhys? – Shh! – Eu fiz. Uma vez que estávamos sozinhas no ônibus, eu não entendia por que estava pedindo que ela falasse baixo. Os gêmeos não iam contar nada. – Quando isso aconteceu? Percebi que era hora de desabafar o que havia acontecido em Savannah. Então me sentei na frente de Abby e lhe contei tudo. Quando terminei, ela suspirou. – Eu não fazia ideia do que tinha acontecido. Não é de admirar que vocês dois praticamente entram em combustão quando estão no mesmo ambiente. – Não importa o que aconteceu lá. Rhys deixou perfeitamente claro que então, ele não sente por mim o mesmo que sinto por ele, simples assim. – Bem, ele está enganando a si mesmo se é isso que ele pensa. Ele não te olha do mesmo jeito que AJ ou Brayden olham. Flashes de imagens de Rhys durante as medições vieram à minha mente. – Mas isso é apenas desejo. Eu quero que ele olhe para mim com algo mais nos olhos. – Sentindo as lágrimas arderem em meus olhos, eu disse: – Eu quero que ele me ame. – Ele te olha com mais do que tesão, Allison. Está escondendo seus sentimentos por você, mas estão lá. Limpando as lágrimas, balancei a cabeça. – Mesmo que ele se dê conta de como se sente, nunca iria desafiar Jake. – Você não sabe disso.


– Não há esperança – murmurei. Fomos interrompidos por Jax e Jules começando a se remexer presos nas cadeiras. Ao pegarmos os dois e os levarmos aos berços, Abby disse: – Há mais uma coisa que preciso dizer. – O que é? – perguntei, colocando o bicho de pelúcia favorito de Jax ao seu alcance. A expressão de Abby estava entristecida. – Você sabe que, mais do que tudo, quero que seja feliz. – Sim. – Independente do que aconteça entre você e Rhys, não quero ver Eli se magoar. – Eu também. – Eu sei que tudo entre vocês dois é apenas diversão e brincadeiras agora. Mas Eli já está se expondo por você muito mais do que já fez por uma garota por um longo, longo tempo. Eu sei que seria fácil usá-lo para se vingar de Rhys... – Eu nunca faria isso com ele. Abby suspirou. – No fundo, sei que você não iria fazer nada intencionalmente para magoar Eli. Mas apenas tenha cuidado com até onde você deixa isso acontecer com ele. Se saírem e você vir que realmente não há nada além de amizade, faça com que ele saiba disso. Só não o incentive a continuar. – Prometo que não vou. Eu sei o que é a agonia de se preocupar com alguém que não se sente da mesma maneira sobre você. Satisfeita com a minha resposta, Abby assentiu. – Bom. Agora, o que exatamente você vai usar amanhã à noite? Dei risada com a mudança completa da conversa. – Não faço ideia. E nem estou certa de que tenho alguma coisa comigo que seja digna de um clube. Não coloquei na mala exatamente esse tipo de coisa para este verão. – Você e eu somos praticamente do mesmo tamanho. Tenho certeza de que você poderia pegar emprestado do rack um dos meus vestidos de show que ainda não usei. – Os olhos de Abby se arregalaram animadamente. – Há vários vestidos bem sensuais de meus dias pré-gêmeos. – Quando abri a boca para dizer que Abby parecia ter perdido todo o peso da gravidez, ela balançou a cabeça. – Eu aumentei um tamanho nos vestidos. – Então, com um pequeno sorriso maroto, ela acrescentou: – Vou me abster de contar as palavras de Jake sobre o porquê de ele ter gostado do ganho de peso. Levantando uma das mãos, eu disse: – Conhecendo ele como conheço, eu realmente não quero saber. A risadinha de menina de Abby fez uma pontada de saudade ricochetear em meu peito. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu queria que ela e Jake tivessem um grande romance, um profundo amor e muita diversão e calor no quarto. Por mais que quisesse isso com Rhys, talvez fosse hora de tentar


seguir em frente. Ele, obviamente, não iria se tornar, de repente, emocionalmente disponível ou mesmo resolver que todas as razões para não ficarmos juntos de fato pouco importavam. Talvez isso significasse que eu deveria dar uma chance a Eli. Quero dizer, não doía o fato de que ele parecia gostar de verdade de estar comigo, como amigo ou romanticamente. Ele tinha muitas qualidades admiráveis, era gentil, atencioso e bom com os gêmeos. Para não mencionar o fato de que era engraçado demais. Eu conseguia nos ver convivendo muito bem. Portanto, não havia realmente nenhuma razão para que hesitasse em dar a ele uma chance real. Afinal, Rhys tinha deixado muito claro que deveríamos esquecer Savannah e seguir em frente. Talvez isso fosse o que eu deveria fazer. Apegando-me a esse pensamento, decidi que, na noite seguinte, usaria o vestido mais sexy que se pudesse imaginar, mesmo que tivesse de fazer algumas alterações eu mesma. Sim, estava prestes a mudar meu destino para melhor.


Doze

RHYS

Com o baixo preso a mim, meus dedos trabalhavam para produzir as notas que fluíam, acompanhando as melodias da música do Runaway Train. O ensaio daquele dia com os caras foi para trabalharmos em alguns dos novos materiais que estávamos planejando incorporar no show. Normalmente, nós só ensaiávamos no dia do show, mas, apesar de termos a noite livre, estávamos aproveitando ao máximo nosso tempo. Enquanto eu estava no palco, minha mente mal conseguia se concentrar algo, a não ser em Allison. As coisas fluíam muito facilmente entre nós depois da nossa conversa no ônibus de Jake. Isso até o dia anterior. Merda. Quando fiquei perto dela para as medições e, em seguida, reagi terrivelmente. Eu não queria nada além de me enterrar bem fundo dentro dela ou ter os lábios deliciosos de Allison em volta do meu pau. Mas não foram apenas os pensamentos de transar com ela que tinham invadido minha mente. Não; tinha a ver também com o meu coração, e com as acusações de Allison sobre eu não ser sincero quanto aos meus sentimentos por ela. Ela sempre foi uma garota inteligente, e era inteligente o bastante para ver que eu estava mentindo. – Ok, acho que já está bom por hoje. Vamos dar o fora daqui – disse Jake. Depois que entreguei meu baixo a um auxiliar, saí da arena para o carro, que estava esperando para nos levar de volta para o hotel. – Rhys! – Jake chamou atrás de mim. Dando uma paradinha, esperei que ele me alcançasse. – Ei, cara, preciso te pedir um favor – Jake disse. – Sem problema. O que é? Ele olhou para trás antes de falar. – Você tem planos para esta noite? Sorri.


– Além de pedir o serviço de quarto e apagar? De jeito nenhum. – Acredite, isso seria o paraíso para mim também, mas vou levar Abby e os gêmeos para visitar o irmão de minha mãe. – Isso parece legal. Mas onde é que entra o favor nisso? Não me diga que tem algum primo que você quer grudar em mim. Com uma careta, Jake explicou: – Na verdade, preciso de você para sair com Allison hoje à noite. Escorreguei na calçada e quase enfiei a cara na limusine que estava esperando para nos levar para o hotel. – Como é que é? – Ela vai sair para algum clube com Gabe e Eli. Normalmente, estaria feliz por vê-la acompanhada por dois caras, mas a forma como Eli tem olhado para ela e a tratado ultimamente me tem feito arrancar a porra dos cabelos. Minha mente foi, instantaneamente, até a serenata de Eli para Allison na manhã do dia anterior. Aff, que babaca. Talvez a atuação dele não fosse apenas brincadeira, e estivesse realmente querendo algo com Allison. Quando pensei sobre isso, pareceu mesmo que ele vinha passando um bocado de tempo com ela após os ensaios e os shows. Puta que pariu. Eu sabia que tinha de afastá-la, mas os pensamentos de conduzi-la direto para os braços abertos de Eli me deixavam puto. Não que ele não fosse um cara decente – ela podia, com certeza, ter feito pior escolha para si mesma. Ao mesmo tempo que ele era conhecido por festas da pesada e por desfrutar a companhia de mulheres, Eli não era um filho da puta que faria uma merda com Allison. Afinal, ele teria de enfrentar a ira de Jake se maltratasse Allison, portanto, não era um total idiota para brincar com as emoções dela. Lá no fundo, eu sabia que suas intenções eram decentes e sinceras e que ele seria bom para Allison. No fim, era apenas o princípio de tudo isso que me irritava tanto. Embora Eli não soubesse, Allison era a minha garota, e eu não queria pensar nela com mais ninguém. A ironia de eu estar tendo esses sentimentos não estava perdida em mim. – Então, como é que vai ser, cara? – Jake perguntou, trazendo-me de volta dos pensamentos. – Ah, hãm, sim, posso ir com eles. Ele sorriu. – Boa. Sei que ele não vai tentar qualquer besteira com você lá. Internamente, gemi. Até aquele momento, Eli tinha sido um cavalheiro absoluto, enquanto eu tinha sido o filho da puta que havia profanado a irmã de Jake. Para não mencionar o fato de que tinha mentido para ele sobre meus sentimentos por Allison durante todo o último mês, se não mais. Enquanto eu deslizava para dentro da limusine, tive a sensação de que a noite seria um inferno de proporções épicas. Um pouco antes das nove, Allison saiu da sua suíte e entrou na de Jake e Abby, onde eu estava


esperando para encontrá-la. Meu assobio interrompeu sua tentativa de enfiar a chave do quarto na bolsa. Ela ergueu a cabeça e suspirou. Tenho certeza de que estava esperando Eli ou Gabe, mas, em vez disso, havia me encontrado. A expressão de dor no rosto dela ilustrou o fato de que eu era a última pessoa na face da Terra que desejava ver naquele momento. – O q-que v-você está fazendo aqui? – ela gaguejou. Fiz um gesto mostrando a calça e a camisa que estava vestindo. – Juntando-me a vocês para uma noite fora na cidade. Suas sobrancelhas se ergueram, indicando surpresa. – Eu pensei que fôssemos só eu e os gêmeos. Passando a mão pelo cabelo, retruquei: – É, bem, Jake me pediu para ir junto. Acho que ele não gostou da ideia de você sair sozinha com Gabe e Eli. Bem, acredito que, mais precisamente, da ideia de ficar a sós com Eli. Eu não conseguia evitar que meu olhar descesse em um mergulho para observar a aparência de Allison. O cabelo longo e escuro caía em ondas soltas sobre os ombros e as costas. Mas não era isso o que havia me deixado praticamente estupefato de desejo. Era o fato de que ela estava usando uma porra de vestido vermelho. Ao contrário do que tinha usado na Saffie’s, este se amoldava no corpo como uma segunda pele, mostrando cada curva em delicioso detalhe. Com uma alça única e um corpo firme, o vestido de decote generoso fez meu pau ficar duro. – É claro, eu acho que ele não teria deixado você sair da suíte com esse vestido. – Isso é uma tremenda besteira! – Me diga como realmente se sente por eu estar indo junto –provoquei. Levantando uma das mãos em sinal de frustração, Allison desafiou: – Eu sou adulta. Não é da conta de Jake o que eu faço. – Ela diminuiu a distância entre nós com dois passos irritados. – E eu, com certeza, não preciso de você grudado na gente. – Tem certeza disso? – Sim, tenho. Preciso, desesperadamente, de alguma diversão esta noite. Não posso ser constantemente lembrada do passado. Tais palavras tiveram um efeito mais impactante sobre mim do que ela poderia ter imaginado. Apesar de eu tê-la a desistir do amor comigo, não queria machucá-la, nem agora nem nunca. Meu peito doeu ao pensar que o que ela vivera comigo em Savannah lhe causara sofrimento. Respirei fundo. – Olha, Allison, nunca vou poder expressar o quanto realmente estou arrependido sobre o que aconteceu entre nós. Mais do que tudo, só quero que seja feliz. Estreitando os olhos para mim, Allison puxou os ombros para trás. – Tá, bem, foda-se você e suas desculpas de merda! – Ela, então, passou por mim batendo os pés.


Fiquei olhando de boca aberta o modo como Allison se retirou. Quando ela abriu a porta, virou-se para mim. – Está pronto, senhor McGowan? – Que diabos é essa coisa de “senhor McGowan”? – perguntei ao me aproximar dela na porta. Ela encolheu os ombros. – Achei que, uma vez que você é meu acompanhante, eu deveria tratá-lo formalmente. E desde que deixou muito claro que não quer romance algum comigo, imaginei que te chamar assim mantém a distância que você deseja tanto. Pisquei para ela várias vezes. Aquele era um lado de Allison com o qual eu não estava acostumado. Imediatamente, a expressão “O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada” passou pela minha mente. – Hum, tá bom – finalmente consegui falar. Quando saímos para o corredor, Gabe e Eli estavam nos esperando ao lado dos elevadores. A visão de Allison em seu vestido fez os dois arregalarem os olhos, mas Eli deu um passo adiante para ficar ao lado dela. – Cacete, você está absolutamente encantadora esta noite – ele disse. Allison deu uma risadinha juvenil. – Obrigada. É um dos vestidos velhos de Abby. Eu só fiz algumas alterações nele. Eli se afastou para fazer uma careta para Allison. – Aff, você acabou de matar completamente todas as fantasias libidinosas que rodavam na minha cabeça, dizendo que o vestido era da minha irmã! Quando Allison socou, de brincadeira, o braço de Eli, revirei os olhos. Pelo andar da carruagem, a porra da noite seria longa, e Jake ia ficar seriamente em dívida comigo. Isso se eu conseguisse me controlar e não fosse preso por estrangular Eli. Depois de sair do elevador no térreo, entramos na limusine que nos esperava. Eli era um filho da puta rápido. Após permitir que Allison entrasse primeiro, deslizou atrás dela. Eu fui deixado para me sentar de frente para eles, o que me proporcionou a porra da visão total das pernas de Allison. Eu não conhecia a vida noturna em Boise, mas com certeza esperava que pudesse tomar umas boas cervejas para entorpecer minha mente. Não demorou muito até que a limusine parasse diante de um clube. Assim que descemos, ignoramos as pessoas na fila e fomos direto para dentro. Não que houvesse uma fila enorme, como no antigo Studio 54 ou algo assim, mas deu para mostrar que éramos VIPs. Enquanto passávamos pelo meio da multidão, luzes estroboscópicas multicoloridas iluminavam a pista de dança escura. Casais, de sexo diferente e diferentes variedades de roupas, acompanhavam a batida. – Este lugar é impressionante! – Allison gritou acima da batida do baixo da música. Quando a mão de Eli descansou na parte inferior das costas dela, eu, por um momento, vi tudo ficar


vermelho. Rapidamente, tentei controlar minhas furiosas emoções movidas a testosterona antes de entrar no modo Hulk total e arrancar o braço de Eli. – Vamos. Temos uma mesa reservada na seção VIP – Eli falou. Bufei. – Você quer dizer que este lugar realmente tem uma seção VIP? Ignorando meu comentário, Allison levantou a cabeça para Eli. – Ah, então eu sou VIP esta noite só porque estou saindo com você? Ele deu um sorriso arrogante que me fez querer socá-lo. – Pode ser. Depois que fomos para as escadas que levavam ao segundo andar, a hostess fez sinal para a nossa mesa. De nossos lugares, embora víssemos toda a ação na pista de dança, ficávamos escondidos da visão das pessoas. Considerando o quanto estava escuro e enevoado por causa da máquina de fumaça, eu esperava que não fôssemos reconhecidos. – O que vocês querem beber? – perguntou uma garçonete usando um apertado short preto de lycra e top. Esfregando as mãos, Eli disse: – Humm, estou no clima para boas doses esta noite. Quem mais topa uma garrafa da tequila 1800 Silver? – Eu – Allison respondeu, o que fez Eli sorrir. Ele, então, olhou dela para mim. – E quanto a você, cara? Com os olhos fixos em Allison, respondi: – Não, obrigado. Tequila realmente não é minha praia. Ela puxou forte a respiração quando ouviu minhas palavras. Eu sabia que, na verdade, era uma porra de uma idiotice para dizer considerando nossa história com tequila. Mas eu precisava continuar me afastando dela para fazê-la se esquecer de mim. Uma vez que Allison se recuperou, ela me deu um sorriso repugnantemente doce. – Então fico com a parte do Rhys. Adoro tequila. Eli deu risada. – Oba, estou gostando da sua maneira de pensar esta noite. – Então, uma garrafa de 1800 e o que mais? – a garçonete perguntou. – Uma Bud tirada na torneira – Gabe respondeu, dando à garçonete o seu sorriso mais sexy. – Uma Bud de garrafa – pedi. A garçonete meneou a cabeça. – Volto já. – Ao se afastar, deu um olhar demorado por sobre o ombro para Gabe, que piscou para ela. – Cara, com todas as garotas daqui, você está azarando a garçonete? – Eli comentou.


Gabe encolheu os ombros. – Ela é gostosa. Foi então que uma morena bêbada, com decote exagerado e traseiro saindo por debaixo da saia, cambaleou até a nossa mesa, com o olhar fixo em mim. – Oi, baby, quer dançar? Normalmente, eu ficaria tentado, mas de jeito nenhum ia me enrolar com alguma garota aquela noite. Eu tinha prometido a Jake tomar conta de Allison, e seria muito difícil fazer isso se estivesse metendo com alguma garota no banheiro. Além disso, independente de como estava tentando afastar Allison, eu me recusava a ser um babaca e dançar com a garota só para atingi-la. A frase da tequila já tinha sido merda suficiente. – Não, obrigado. Então o olhar vidrado dela se fixou em Gabe. – E você? Ele sacudiu os ombros. – Claro, por que não? – E quanto à garçonete? – Eli questionou. Gabe piscou. – A noite ainda é uma criança. – Aff, você é nojento – disse Allison, franzindo o nariz. Eu me levantei para Gabe poder sair. Com uma mão na bunda da garota, ele a levou para a pista de dança. Quando me sentei, Eli ficou olhando para mim com uma expressão curiosa. – Por que você deixou passar essa, cara? Parecia uma coisa garantida. – Morenas não são o meu tipo – menti. Os olhos de Allison se arregalaram com minha ironia. Inclinando a cabeça para mim, ela perguntou: – E qual é o seu tipo? – Eu gosto de loiras pequenas com tetas grandes. – No momento em que as palavras saíram da minha boca, eu me senti um completo filho da puta. Eli riu. – O que for melhor para você, cara. Eu achei que, depois de ficar sem qualquer tipo de ação por tanto tempo, você pularia sobre a garota, independente de seu aspecto positivo ou negativo. Mais uma vez, eu queria dar um soco em Eli. A última coisa que queria que Allison soubesse era que, desde Savannah, eu não havia sido capaz de ficar com outra garota. O desejo por qualquer outra pessoa fora completamente destruído por ela. Desde que estávamos em turnê, eu não levara nenhuma


das meninas do ônibus do Jacob’s Ladder para a cama. E isso tinha sido tão óbvio que até Eli havia notado. Quando me atrevi a olhar para Allison, ela estava olhando para mim com os olhos arregalados. Era quase como se estivesse se desafiando a acreditar que eu não tinha estado com quaisquer outras garotas por causa dela. Com as engrenagens girando em sua cabeça, eu diria que estava ferrado em muitos níveis. Com um encolher de ombros, comentei: – Me chame de exigente na minha idade avançada. Eli riu. – Pouco importa, cara. Nós somos da mesma idade, e não acho que conseguiria ficar tanto tempo sem pegar ninguém. Com o pequeno grito de Allison, o rosto de Eli ficou vermelho. – Desculpe, continuo esquecendo que não estou apenas com os caras; preciso ser mais cavalheiro. Allison deu um sorriso tímido. – Tudo bem. A garçonete voltou com nossas bebidas. Uma dor reverberou pelo peito quando ela colocou a garrafa de tequila, junto com o sal e o limão. Imediatamente, fui transportado para aquela noite em Savannah, a noite em que tudo havia dado tão errado... ou, em alguns aspectos, tão certo. Eli serviu dois copos de dose completos para ele e Allison. Depois de entregar um deles a Allison, ergueu o próprio. – A nós – ele disse com um sorriso. Ante a hesitação de Allison, Eli rapidamente acrescentou: – A todos nós da família Runaway Train e Jacob’s Ladder. Com a correção, Allison levantou o copo. – A nós – ela respondeu, batendo seu copo contra o de Eli. Então pegou a bebida e a virou na boca, engolindo tudo de um só gole. Quando ela pegou o limão e rapidamente o levou aos lábios, lembreime quase dolorosamente do gosto deles depois de ter tomado as doses em Savannah. A forma como o sal do meu pescoço tinha se grudado a eles – o sabor dela. Desviei rapidamente o olhar e tentei apagar as lembranças da mente, mas elas continuavam a aparecer na frente dos meus olhos, assim como o piscar das luzes estroboscópicas. – Outra? – perguntou Eli. Quando Allison assentiu, bufei. – Que foi? – ela perguntou. – Eu só estava pensando que talvez várias doses de tequila não sejam uma ideia muito boa para você. – E mudei meu olhar dela para Eli.– Ela não é de aguentar bem muita bebida. Allison fervia do outro lado da mesa. Tenho certeza de que, se ela tivesse a chance, teria se jogado por cima da mesa para me arrebentar de pancada pelo meu comentário espertinho. Jogando o cabelo


sobre o ombro, ela se recompôs, os olhos estreitados para mim. – Embora eu odeie admitir isso, Rhys está certo. Apesar de amar tequila, costumo tomar decisões absolutamente estúpidas que fodem com a minha vida quando bebo. Mais uma vez, aquele era um lado de Allison que eu não estava acostumado a ver – puta e com garras. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que merecia isso. Eu a tinha forçado a esses comentários. Depois de olhar para nós, Eli empurrou a garrafa de tequila para longe de Allison, o que a fez rir. – Isso significa que não vou ter outra dose? – ela perguntou a ele de forma sedutora. – Hum, acho que é uma excelente ideia você não fazer algo que possa foder com a sua vida quando está saindo comigo. Tenho a sensação de que seria como um efeito dominó, e Jake, então, ia foder com a minha vida – Eli respondeu com um sorriso. – Só mais uma – Allison implorou. Eli revirou os olhos. – Tá bom. Tá bom. Eu nunca consigo dizer não a meninas bonitas. – E pensei que eram as meninas bonitas que não conseguiam dizer não para você – retruquei enquanto ele enchia o copo de Allison até a borda. Ele ergueu as sobrancelhas. – Ah, sim, cara, isso também. Allison me lançou um olhar de nojo antes de pegar seu copo e beber. Mais uma vez, um tremor atravessou seu corpo fabuloso por causa do álcool. Ela, então, bateu o copo sobre a mesa. – Vamos dançar – sugeriu a Eli. – Por mim, tudo bem. Ver Allison indo para a pista de dança com Eli foi como um soco no estômago. Precisei de alguns segundos para recuperar o fôlego. Estendi a mão e agarrei a garrafa de tequila. Peguei o copo de Allison e o enchi até a boca antes de engolir em um só gole ardente. Repeti o processo duas vezes para tentar me entorpecer melhor. Gabe chegou à mesa sem a garota com quem ele estava dançando antes. – O que aconteceu com a sua coisa garantida? Ele riu. – Minha coisa garantida acabou desmaiando na pista de dança. Eu a coloquei em uma mesa e, em seguida, voltei para cá. Eu ri. – Isso foi muito elegante. – Nem me diga. Ficamos sentados em silêncio por alguns minutos, apenas bebendo nossas cervejas. Foi uma coisa boa Gabe falar pouco, porque acho que eu não conseguiria prestar atenção em porra nenhuma do que ele estaria dizendo. Meu olhar se mantinha firme em Eli e Allison dançando. Toda vez que as mãos


dele começavam a vagar pelo corpo dela, eu ficava tenso. Precisei de toda a força de vontade para não me levantar e ir lá para arrastá-la de volta para o nosso reservado. Depois de pedir mais uma rodada de cervejas, Gabe me cutucou. – Por que você não vai cortar o barato do casal feliz? – Por que diabos eu iria querer fazer isso? – questionei sem convicção. Recusei-me a encarar Gabe com medo de que meus olhos traíssem as emoções que eu estava sentindo. Não havia nada no mundo que eu queria fazer mais do que separar Allison e Eli. Revirando os olhos, Gabe rebateu: – Vamos lá, cara. Você ficou olhando feio para o meu irmão todo o tempo que ele esteve lá com Allison, para não mencionar o resto da noite. É bastante óbvio como você se sente sobre ela. Balancei a cabeça enquanto brincava com o rótulo da minha garrafa de cerveja. – Não sei do que você está falando. Gabe apoiou os braços na parte traseira do reservado e me olhou com um sorriso irônico. – Não tente agir como se não estivesse totalmente maluco por Allison. Está escrito em seu rosto quando você olha para ela. Eu não posso culpá-lo. – Ele fechou os olhos em êxtase exagerado. – Se Jake não cortasse o meu pau, hummm, eu adoraria foder muito Allison. Batendo a garrafa de cerveja sobre a mesa, enfiei meu dedo na cara dele. – Cuidado com a porra da boca! Em vez de ficar com medo, Gabe riu. – Ah, sim, você levou isso a sério. Corri a mão nervosamente pelo cabelo. – Não importa o que eu posso ou não sentir sobre Allison. Estou aqui esta noite porque Jake me pediu para cuidar de Allison com Eli. Com uma piscadela, Gabe disse: – E o tempo todo o lobo estava guardando o galinheiro. – Que seja – murmurei. – Ela é louca por você também, você sabe. – É mesmo? – retruquei depois de tomar outro gole de cerveja. – Ah, é, sim. Allison é uma mulher muito doce para usar Eli apenas para te atingir. Se eu tivesse que colocar dinheiro nisso, eu imaginaria que ela está tentando transferir o que sente por você para meu irmão. Muito provavelmente, você foi a porra de um pau no cu que partiu o coração dela por não estar emocionalmente disponível, então ela está pronta para seguir em frente. Inclinando a cabeça para Gabe, eu disse: – Bem, obrigado por essa linda psicanálise, doutor Phil do caralho! Gabe riu com gosto. – Isso não tem que acabar mal, cara. Basta ir lá, pedir a ela que dance com você e lhe dizer como


se sente de verdade sobre ela. – Quando abri a minha boca para protestar, ele balançou a cabeça. – Sim, Jake vai ficar puto. Mas, que porra, e daí? É da sua vida e felicidade que estamos falando, para não falar dela. Você acha que todos nós estávamos realmente felizes que um puto de um idiota como Jake estava fodendo nossa irmãzinha virginal? – Gabe bufou com desprezo. – Claro que não, nós não estávamos. Mas não era da nossa conta; só dizia respeito a Jake e Abby. Com um suspiro áspero, pesei as palavras de Gabe. No fundo, sabia que ele estava certo. Todas as razões que tentei dar a mim mesmo sobre por que Allison e eu não podíamos ficar juntos eram realmente apenas besteiras e mentiras. Eu estava sendo apenas uma porra de um medroso de merda para querer arriscar me machucar ou fazer Allison perceber que eu não era o homem que ela imaginava. – Oh, merda – Gabe murmurou ao meu lado. Eu não precisei imaginar do que ele estava falando quando olhei de volta para a pista de dança. Imediatamente, ficou tudo vermelho diante dos meus olhos, e eu me agarrei ao reservado até que os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu estava extremamente perto de sair de mim. Eli não só estava com os lábios sobre os de Allison, mas suas mãos estavam praticamente na bunda dela. – Ai, caralho, mas não mesmo! – gritei, enquanto me atirei do reservado para a batalha. – Rhys, não! – Gabe gritou atrás de mim, mas ignorei. Em vez disso, desembestei em frente, em linha reta para Allison e Eli.


Treze

ALLISON

Tendo como fundo a sensual música “Drunk in Love”, de Beyoncé, Eli baixou a cabeça para acariciar meu pescoço. – Humm, Allison, você está começando a me entender – ele murmurou em meu ouvido, a respiração esquentando a carne sensível da minha orelha. Nossas metades inferiores estavam trabalhando em perfeita sincronia com a música. Esticando o pescoço, levantei o queixo para ver os olhos dele. – Estou? Ele assentiu. – Embora não devesse, estou realmente começando a gostar de você. Eu sorri. – Ah, eu também gosto de você, Eli. Com um suspiro, ele retrucou: – Não, eu quero dizer que eu realmente gosto de você. Uma sensação gelada correu por minhas veias, fazendo-me tremer. Ter um cara bonito dizendo que gostava de você romanticamente devia fazer com que seu coração batesse mais rápido ou causasse uma agitação abaixo de sua cintura. Mas esse não foi meu caso quando Eli disse essas palavras. Não senti nada. Caramba, não era para ser assim. Não era minha intenção ele ser um meio de provocar ciúmes em Rhys. Ele deveria ser uma oportunidade para que eu me divertisse e esquecesse Rhys. Mas, independente do quanto me esforçasse, não sentia por Eli o mesmo que sentia por Rhys. Não era nem mesmo uma gota no balde do que eu sentia por Rhys. Nós dois só estávamos flertando de forma inofensiva ao longo das últimas semanas na turnê. Além da serenata, não tinha havido nada de mais romântico da parte dele. Como era possível que Eli


estivesse começando a ter sentimentos reais por mim? Acho que Abby estava certa quanto à profundidade do sentimento de Eli. Depois do meu silêncio prolongado, Eli pegou um de meus braços e me girou para longe dele. Enquanto girava para trás, eu o olhei. Ele piscou antes de me dar um sorriso sexy. – Não fique preocupada, Allison. Eu só disse que gosto de você, não que queria me casar ou ter filhos com você. Eu ri aliviada. – Certo, posso aceitar isso. Os braços de Eli serpenteavam em torno da minha cintura, puxando-me com força contra ele. Com seus lábios pairando perigosamente perto dos meus, ele disse: – O que eu mais queria, na verdade, era voltar para o hotel e te foder tanto que você iria gritar meu nome várias vezes. – Quando o empurrei e arregalei os olhos em estado de choque, ele riu. – Infelizmente, é a verdade. Mas, como estou me esforçando para ser mais cavalheiro, vou me abster de pensar isso sobre você. Em vez disso, por que não deixa levá-la para sair? – Um encontro? – Isso, um encontro de verdade, apenas nós dois. Jantar e um filme ou jantar e um clube, o que quiser. Olhei bem dentro de seus cintilantes olhos azuis. Ele realmente era um cara decente, além de muito bonito. Se lhe fosse dada a chance, ele seria realmente bom para mim. Mesmo que eu não estivesse sentindo por ele tanto quanto deveria, era hora de dar a alguém uma oportunidade de verdade e tentar esquecer o que quer que tenha sido o que houve entre mim e Rhys. Mesmo que eu tivesse de fingir por um tempo. Com um gemido, Eli disse: – Você está me matando aqui. Acho que nunca me esforcei tanto por um encontro. Eu sorri. – Sinto muito por ferir seu ego gigantesco me fazendo de difícil. – Você fez mais do que ferir meu ego; acho que você fez entalhes nele. – A resposta é sim. Gostaria muito de ir a um encontro com você. Os olhos azuis de Eli se iluminaram. – Fico feliz em ouvir isso. – E eu fico feliz por você ter me convidado. – Não tem de quê. Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, Eli baixou as mãos e as colocou em minha bunda, pressionando-me mais forte contra ele. E então, no momento seguinte, os lábios dele estavam nos meus. Ele parecia ter compreendido totalmente errado o fato de eu aceitar um encontro. Ao


mesmo tempo em que fiquei em choque total por ele ter me beijado, também não senti uma única faísca de eletricidade como sentia com Rhys. Eu o empurrei. – Eli, pensei que nós estivéssemos indo devagar com isso – protestei. Ele me deu um olhar de cachorrinho triste. – Quer dizer que eu nem sequer ganho um beijo? Achei que fosse uma coisa bastante inocente depois de te dizer que queria foder você pra caralho. Sua expressão e seu comentário, sem querer, me fizeram rir. – É um pouco cedo demais para um beijo. – Sinto muito, Allison – disse com sinceridade. Quando abri a boca para lhe garantir que estava tudo bem, uma confusão nos interrompeu. Com uma expressão de pura fúria, Rhys apareceu ao nosso lado. – Tire suas malditas mãos de cima dela! – Rhys rosnou. De uma só vez, sua mão estava em meu braço, e ele me puxava para longe de Eli. – Que porra é essa, cara? – Eli perguntou. Rhys balançou a cabeça. – O que diabos você pensa que está fazendo, bolinando e beijando a Allison? Eli estreitou os olhos para Rhys. – Sinto muito. Eu não sabia que ela tinha te pedido ajuda. – Eu não pedi – retruquei. Ignorando Eli, Rhys voltou seu olhar cheio de ira para mim. E aproximou-se mais. – O que diabos você pensa que está fazendo, deixando ele ficar passando a mão? Cara a cara com ele, retruquei: – Você não é Jake nem meu pai para ter a pretensão de querer falar o que posso ou não fazer! – Não, mas tenho certeza de que Jake ficaria horrorizado por você estar agindo como uma putinha barata! – Vai se foder, Rhys! – cuspi, plantando minhas mãos sobre seu peitoral duro e empurrando-o para longe de mim. Passei por ele e Eli e saí da pista de dança. Quando cheguei à nossa mesa, Gabe estava com os olhos arregalados. – Me dê minha bolsa – ordenei. Ele não me incomodou discutindo comigo ou questionando minha atitude; só empurrou a bolsa em minha direção. – Obrigada. Foi só depois de me refugiar no banheiro VIP que minha adrenalina começou a diminuir. Agarrando as laterais da pia de mármore, deixei as palavras de Rhys trespassarem mais e mais dentro de mim até que senti como se houvesse um buraco em meu coração. Ele não tinha brigado porque me queria;


brigou porque achava que eu estava agindo como uma prostituta. Rhys continuava me vendo apenas como uma irmã mais nova, não como alguém com quem quisesse ter um encontro ou ficar junto. A porta do banheiro se abriu, e Rhys irrompeu. Olhando de relance para seu reflexo no espelho, balancei a cabeça. – Não tenho nada a dizer a você, então me deixe em paz. – Não. Virando-me, estreitei os olhos para ele. – Como é que é? – Eu disse não. Ergui as mãos. – Tá legal, eu admito; você ganhou. Tá feliz? – Quando ele ia começar a falar, balancei a cabeça furiosamente de um lado para o outro. – Você nem ouse dizer “não” de novo! – Eu não vim aqui para tripudiar. – Então veio fazer o quê? – Quando ele levantou as sobrancelhas para mim, eu exigi: – O que você quer de mim, Rhys? – Tudo. – Ele atravessou o cômodo até mim. – Quero tudo o que você me der e mais. – Agarrando meu braço, ele me empurrou para o box dos portadores de necessidades especiais. Minhas costas bateram contra a parede de metal. Meu gemido de dor morreu quando Rhys pressionou seu corpo contra o meu. A firmeza de sua ereção queimava em minha coxa. Agarrando meu quadril, ele me puxou ainda mais forte contra ele. Seus dedos se fecharam sobre uma das minhas coxas antes de trazê-la por sobre as suas. Isso permitiu o ângulo perfeito para ele esfregar sua ereção contra a minha vagina. Eu gemia, agarrando-me desesperadamente a ele para intensificar o atrito. – Por que está fazendo isso agora? – perguntei. Rhys balançou a cabeça. – Eu não sei, porra. Só sei que não podia suportar mais um minuto sentado lá e deixando Eli ter tudo o que eu queria. – Você quer tudo comigo ou apenas tudo do meu corpo? – perguntei. Enquanto fitava meus olhos, suas mãos escorregaram de minha cintura para agarrar minha bunda. – Sei que eu quero minhas mãos nesta bela bunda que você ficou rebolando a noite toda para todo mundo, menos para mim. – Ele livrou uma das mãos e agarrou meu peito. – Quero as minhas mãos e a minha boca nesses peitos lindos que você esfregou em Eli. – Arregalei os olhos quando sua mão deixou minha bunda e veio entre as minhas pernas. – Mas mais do que tudo, quero enterrar meu pau tão fundo nessa boceta que homem nenhum aqui vai ter dúvidas sobre quem é o dono dela. Principalmente Eli. Embora eu não quisesse nada além de ficar com Rhys de novo, tudo isso pareceu errado; raiva e ciúme alimentando nossas ações não era saudável.


– Mas ela não pertence a você – protestei sem convicção. – Não? – Seus dedos arrancaram minha calcinha fio dental antes de mergulhar profundamente dentro de mim, enquanto eu ofegava de prazer. – Me diga, Allison, ele fez você ficar molhada deste jeito? – Rhys perguntou. Ofegante, balancei a cabeça. – Não, não foi ele. Rhys me recompensou pela resposta, acelerando o ritmo dos dedos. Jogando a cabeça para trás, gemi. Meu quadril assumiu ritmo próprio. Eu estava chegando tão deliciosamente perto que meus dedos se torciam dentro dos sapatos quando Rhys de repente parou. – Não, por favor. Por favor, não pare – implorei. – Quem é o único homem que te fez gozar com tanta força que você até gritou? – Você. Só você, Rhys – respondi sem fôlego. Com um sorriso preguiçoso, ele enfiou os dedos de volta em mim, enquanto seu polegar apertava o meu clitóris. Agarrando-me em seus ombros, desesperadamente cavalguei sua mão para encontrar o meu orgasmo. Fazia três longos meses desde que um homem me fizera gozar; desde que Rhys me fez gozar. – Rhys! Isso, oh, isso! – gritei, com meus olhos fechados em êxtase. Naquele momento, eu não me importava se o banheiro estava cheio de mulheres me ouvindo gozar. Eu só queria que o prazer nunca acabasse. Eu mal tinha voltado a mim quando a cabeça grossa do pau de Rhys cutucou minha abertura. De alguma forma, ele conseguiu desabotoar as calças e colocar um preservativo, enquanto eu estava em êxtase com a cabeça em seu ombro. Com um grunhido, Rhys empurrou para dentro de mim. – Ahnn, Allison – ele gemeu, o hálito quente contra o meu pescoço. – Ninguém é tão gostosa quanto você. – O elogio fez meu coração bater mais rápido. Rhys agarrou minha outra coxa e trouxe a minha perna para cima para envolvê-lo totalmente. Quando agarrei seus ombros, eu estava completamente empalada em cima dele. Mas, então, uma revelação brutal caiu em cima de mim, fazendo-me tremer. Eu não estava fazendo sexo novamente com Rhys porque ele tinha dito que me amava ou que nutria sentimentos por mim. Não, eu estava transando com ele no banheiro de um clube porque ele estava com ciúmes de Eli. Rhys queria ter seu bolo e comê-lo também, assim, se ele não me tivesse, iria se certificar de que ninguém mais tivesse também. No meu íntimo, eu sabia que merecia ser tratada muito melhor por Rhys. Eu deveria tê-lo afastado naquela época por se atrever a me usar como fez. Mas, quando ele percebeu, eu já era uma total masoquista. Alguém que parecia totalmente incapaz de jamais lhe dizer não. Ele era dono de meu coração, apesar de tê-lo recusado. Ele era dono de meu corpo traidor que sempre reagia quando


estava por perto. E, no fim, minha cabeça e meu coração continuavam a travar uma guerra entre si, a qual não teria um vencedor. Quando Rhys inclinou a cabeça para me beijar, eu me afastei. Por alguma razão, senti que, mesmo que lhe entregasse meu corpo, não poderia beijá-lo. Isso era muito íntimo e significava muito. Suas sobrancelhas se juntaram sugerindo desconcerto. – Me dê sua boca – ele ordenou. – Não. Um movimento de seus quadris nos fez gemer. – Me dê sua boca – ele rosnou. Quando balancei a cabeça em negação, ele agarrou meu queixo com a ponta dos dedos, ao mesmo tempo que tornava mais lentos os movimentos dentro de mim. – Por que não? Porque você realmente não me quer. Você só quer me usar, e isso dói demais. Cerrei os olhos. – O que representa isto para você? Você não se importa comigo. Só veio aqui para me foder, então continue me fodendo. As sobrancelhas de Rhys se levantaram. – Quer dizer que te foder eu posso, mas te beijar não? Qual a porra do significado disso? – Beijar é muito pessoal, então não vou fazer isso, não até saber com certeza absoluta que não sou apenas um caso para você, Rhys. Não até você reconhecer que tem sentimentos por mim, e não apenas desejo. Ante minha argumentação, ele me olhou, sem piscar e imóvel. Quando sua expressão começou a desanuviar, coloquei a palma de uma de minhas mãos no rosto dele. Fechando os olhos, ele se apoiou nela, como se estivesse saboreando o toque suave. – Você realmente me quer, Rhys? – Eu não posso – ele murmurou, a voz agoniada. – Por favor – sussurrei. – Você merece ser amada. – Ele fez uma careta, como se estivesse com dor. – E nós dois sabemos que eu não sei como amar alguém. Chacoalhando a cabeça furiosamente, retruquei: – Isso não é verdade. Você ama Ellie, e você ama os caras. Você tem muito a me dar, basta se abrir. Você poderia me amar tanto quanto eu te amo. – Droga, Allison, já passamos por isso. Não tem como dar certo com a gente; isso não vai funcionar. Sua recusa fez uma raiva abrasadora pulsar nas minhas veias. Tirando mão do rosto dele, olhei-o incrédula por um momento antes de erguer a mão de volta. Mas, dessa vez, não foi para confortá-lo, mas lhe dar uma tremenda bofetada. Com força.


– Então tá legal. Acaba logo de me foder já que parece que é a única coisa em que você é bom. Me fode e me fode de novo. Rhys me olhou com absoluta incredulidade. Abriu a boca, mas as palavras não saíram. E então ele, para minha tremenda surpresa, saiu de dentro de mim. E me sustentou até que meus pés tocaram o chão. Depois de descartar o preservativo meio usado, Rhys enfiou seu pau murcho de volta na calça. Quando nossos olhos finalmente se encontraram, ele balançou a cabeça tristemente. – Jesus, Allison, o que eu fiz para você? O que estou fazendo com você? – Como não respondi, ele murmurou: – Estou arrependido pra caralho. Então, saiu do box. Quando ouvi a porta do banheiro se fechar, cambaleei até o assento do vaso sanitário e caí sobre ele. Como o meu corpo todo tremia com os soluços, tentei, desesperadamente, controlar minhas emoções. Passando os braços em volta de mim, finalmente relaxei e chorei até não haver mais nada. Quando terminei, limpei os olhos e saí do box. De pé em frente ao espelho, eu parecia com o inferno onde sentia estar. O rímel e o delineador escorreram pelo meu rosto, e o meu batom estava manchado do beijo de Eli. Tendo me limpado o melhor que pude, saí do banheiro. Estanquei com a visão de Eli me esperando. Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa ao me ver. – Jesus, Allison, você está bem? Fiz que não com a cabeça. – Não, não estou. Sinto muito, Eli, mas eu preciso voltar para o hotel. – Claro. O que você precisar – ele disse. E deu um passo hesitante para frente para passar um braço em torno do meu ombro. – Se apoie em mim. Vou tirar você daqui. Sua bondade fez com que minhas lágrimas recomeçassem. Virando a cabeça, enterrei o rosto no peito de Eli e deixei que me levasse para fora do clube. Quando cheguei ao carro, Eli me ajudou a entrar. Mesmo que eu não devesse, aconcheguei-me a ele quando abriu os braços para mim. – Você quer falar sobre isso? – ele perguntou baixinho assim que começamos o caminho de volta pelas ruas tranquilas. – Não, de verdade. Eli suspirou. – Eu sabia que tentar começar algo com você ia ser difícil, mas, com certeza, não sabia que teria concorrência. Esgueirei-me de seus braços e olhei chocada para ele. – O-o que você quer dizer? – Vamos lá, Allison. Eu posso agir como um idiota às vezes, mas não sou realmente um. Sei que há algo entre você e Rhys. Qualquer idiota podia ver isso, porra. Encolhendo-me, eu disse: – Sinto muito ter colocado você no meio de tudo isso. O que aconteceu entre mim e Rhys é uma


confusão. E nem sei se ainda é possível até mesmo sermos amigos um do outro. – Tão ruim assim, é? – Sim, é praticamente um abismo. – Balancei a cabeça tristemente. – Tenho certeza de que, depois de tudo isso, você não está mais interessado em nosso encontro, né? Eli ergueu uma das mãos. – Ououououou, espere um minuto. Eu nunca disse que não quero estar com você. – Mas você merece algo melhor do que uma garota que está presa a algum idiota que nunca vai sentir o mesmo por ela – protestei. – Por que não me deixa ser o juiz disso? – Você é bom demais para ser verdade, não é? Ele riu. – Eu não me empolgaria demais cantando autoelogios. Uma parte minha está em espera porque garotas com corações partidos ou querendo provar alguma coisa para ex-namorados idiotas são presas fáceis. Meus olhos se arregalaram de horror com tal declaração. – Eli Renard, como poderia pensar isso de mim? Com uma piscadela, ele respondeu: – Só estou sendo honesto com você, Allison. Não quero que você perca o sono se preocupando em partir meu coração quando minhas intenções não são exatamente inocentes. – Ele inclinou a cabeça para mim. – Assim como te disse na pista de dança, quero ficar um bom tempo com você, ver aonde isso nos leva, mas tenho plena certeza de que não estou nem perto de pedir sua mão em casamento a Jake. Mesmo que eu devesse ter ficado horrorizada, não pude deixar de rir. – Você é muito mau. – Eu sei. Sou um bad boy com um tipo de coração de ouro que só quer se divertir um pouco com você. – Olhando fixamente para mim, ele perguntou: – Você acha que consegue lidar com isso? – Acho que posso tentar. Eli se inclinou e beijou meu rosto. – Muito bom. E o encontro ainda é amanhã à noite? Dei-lhe um sorriso hesitante. – Sim.


Quatorze

RHYS

Rolando na cama, eu batia no travesseiro pela milionésima vez. Acho que isso era mais como socar o inferno fora dele. Após a noite infernal com Allison, já havia imaginado que seria complicado dormir, talvez pela combinação de consciência pesada com a mente fervilhando de ideias. Enquanto o sono teimava em fugir, eu me agitava na cama, revivendo cada doloroso detalhe. Jesus, como as coisas tinham desandado tanto entre nós. Eu era uma porra de um filho da puta egoísta, a síntese dos cuzões que eu odiava, aqueles homens do mundo dos meus pais. Sempre que tentava fazer a coisa certa, empurrando Allison para longe, eu só a puxava mais para mim, magoando-a. Havia me tornado quase irreconhecível perto do que fora um dia. O antigo Rhys nunca teria usado Allison como fiz naquele banheiro vulgar do clube. Eu me comportara como um filho da puta enfurecido porque ela estava beijando Eli e dizendo-me que eu não tinha nada de me meter na vida dela. Então, resolvi provar que Allison pertencia a mim, apesar de não ter qualquer plano de emocionalmente reivindicá-la. Deus, fui um filho da puta inimaginável. E não conseguia entender por que continuava tratando Allison daquele jeito. Uma antiga parte da faculdade de Direito começou a mover uma ação contra mim na minha cabeça. Comecei, finalmente, a cochilar por volta das sete horas da manhã, mas os bebês, aos berros, me acordaram. Esperei alguns minutos para que Jake e Abby colocassem as coisas sob controle; porém, quando quinze minutos passaram e eles ainda continuavam chorando, perdi a paciência. Com um grunhido, saltei da cama, vesti camiseta e calça jeans. Então, saí de minha suíte, cambaleei até a porta ao lado e, de punho fechado, bati nela. O som do choro se elevou mais e mais perto e, enfim, a porta abriu. O rosto vermelho e gritando de Jax me saudou primeiro. Em vez de Jake ou Abby, ali estava Allison parada na porta. Puta merda. Eu não tinha mesmo sossego. De imediato me arrependi de ter ido até lá. As coisas ainda estavam muito esquisitas entre nós depois do que havia acontecido na noite anterior. – Oh, humm, oi – eu disse.


– Oi – ela respondeu por cima do escândalo de Jax. Atrás dela, eu ouvia Jules chorando também. – Vim até aqui para ver o porquê de tanta agitação. Allison fez uma careta. – Jake e Abby acabaram de sair para irem ao médico; intoxicação alimentar ou algo do tipo. Passaram mal a noite toda e tiveram febre. Acho que Jake pode estar bem desidratado. – A cria tá doente também? – perguntei, apontando para Jax. Isso certamente justificaria a porra daquele festival de gritos. – Não, estão bem. Bom, parece que estão passando por uma precoce síndrome da ansiedade da separação. No momento em que Jake e Abby saíram, as crianças se apavoraram. Nada do que faço parece ajudar. Então olhei de Jax para Allison e vi que ela parecia exausta. Alguns fios do cabelo escuro haviam escapado do rabo de cavalo, e o rosto dela estava quase tão vermelho quanto o de Jax. – Eles não estão molhados, com fome ou com sono; só querem chorar – ela explicou em uma voz tremida, como se a qualquer momento fosse chorar também. Naquele instante, eu tinha duas opções: poderia cair fora como um filho da puta, dizendo-lhe que tivesse boa sorte com aqueles demônios gritando, e então escapar para minha suíte, ou poderia me oferecer para ajudar a acalmar os gêmeos. – Aqui, me deixe pegá-lo – eu disse, estendendo a mão para Jax. Os olhos escuros de Allison se arregalaram. – Sério? Bufei com desdém. – Como vou te deixar sozinha com esses dois bebês gritando? De algum modo, imaginava que Allison pensava que era exatamente o que um babaca como eu faria, sobretudo depois da maneira como havíamos deixado as coisas na noite anterior. – Obrigada – ela agradeceu suavemente. Enquanto pegava Jax nos braços, ele me encarou por um instante. Quando Allison começou a se distanciar pela sala em direção a Jules, Jax aumentou o choro. – Tá certo, filhinho da mamãe, você tem mesmo um belo par de pulmões. Alisson virou a cabeça e fez uma careta para mim. – Não fale com ele desse jeito. – Mas é verdade, não é? – Talvez, mas ele não consegue parar. Os lábios de Jax tremiam enquanto ele me olhava. Então, sorriu. – Pense nisto: você é igualzinho ao seu pai. Ele também era um filhinho da mamãe mimado no passado. – Rhys! – Allison advertiu, enquanto Jax parava de me desprezar e sorria para mim.


Rimos das reações dele. Olhar Jax era como ver o reflexo no espelho de Abby, exceto pelo cabelo escuro de Jake. – Acho que devo te dar uma folga. Eu também seria filhinho da mamãe se tivesse sido abençoado com uma mãe tão doce quanto a sua. Allison riu enquanto apoiava uma Jules agitada no quadril. – Abby é um amor e a melhor mãe. Um pensamento veio à minha mente e, antes que me controlasse, deixei que ele escapasse: – Você quer isso algum dia? Com um movimento das sobrancelhas indicando surpresa, Allison perguntou: – Se quero ter filhos um dia? – Sim. – Claro que quero. – Allison, com um leve sorriso nos lábios, olhou para Jules. – Não imagino passar pela vida sem filhos, mas, ao mesmo tempo, não quero tê-los tão cedo. A resposta me surpreendeu. Por alguma razão, pensei que ela seria como Abby e iria querer ter logo uma família. – É mesmo? Ela concordou com a cabeça. – Tem muita coisa que desejo fazer e ver antes de me assentar e casar, e mesmo depois gostaria que meu marido e eu tivéssemos um tempo para nós dois. – Entendo. Enquanto Jules começava a engrenar da agitação para o choro, Allison perguntou: – E você? Você quer ter filhos? Suspirei profundamente. – Sim, claro. Não me importaria de ter filhos um dia. Como você, só não quero que seja logo. Isso pareceu fazer Jax assumir meu comentário como algo pessoal, e o choro recomeçou. Meus ouvidos badalaram quando ele e Jules embalaram para ver quem ganhava nos gritos. – Ei, bebês, por favor, não chorem. Papai e mamãe vão voltar daqui a pouco – disse Allison, por cima do barulho. Então, nós dois começamos a caminhar pela sala, balançando os gêmeos nos braços. Mas nada parecia funcionar. Até trocamos os bebês de colo para ver se a filhinha do papai, Jules, se beneficiava de estar comigo. Finalmente, foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça. Caminhei até Allison. – Aqui. Tenho uma ideia. Pegue-a por um segundo. Allison, com relutância, segurou Jules no braço livre. – O que vai fazer? – Preciso dar uma corrida até a porta ao lado.


– Você não está vazando daqui, não é? Fiz cara feia para ela por ter pensado algo tão horrível de mim. – Claro que não. Confie em mim. Acho que sei um jeito de eles se acalmarem. – Tudo bem – ela respondeu hesitante. Corri até meu quarto e peguei o celular sobre o criado-mudo. Quando voltei, Allison estava caminhando pela sala com os dois gêmeos, ainda chorando, nos braços. Depois de percorrer algumas playlists, escolhi uma e coloquei meu telefone na docking station ao lado da cama. Conforme eu esticava a mão para Jax, os sons de Abby e Jake cantando “I’ll Take You with Me” ecoaram pelo cômodo. Jax e Jules, então, começaram a se acalmar. Quanto mais se alongava a música reproduzida, mais contentes eles ficavam. Conforme Allison mudava Jules de braço, ela fez um som de satisfação e deitou a cabeça no peito da tia. Olhando Jax, perguntei: – E aí, menino Jax? Você gosta de ouvir seu velho e mamãe cantando? – perguntei. Ele parou de mordiscar o punho e sorriu para mim. – Achei mesmo que você iria gostar. Eles ficam bem juntos, né? Formam um bom time. Quando ergui o olhar, Allison quase chorava enquanto me observava com Jax. Mais uma vez, a dor familiar comprimiu meu peito, o que sempre acontecia quando tentava ignorar meus sentimentos por Allison. Frente ao olhar intenso dela, eu quase nem conseguia respirar. Uma parte minha queria parar com aquela dor, apenas admitindo o quanto me importava com ela. Mas o burro teimoso em mim atropelou esses pensamentos, agarrando-se à ideia de que simplesmente não podíamos ficar juntos. Decidido a mudar de assunto, empurrei meu queixo para Jules. – Ela dormiu. Os olhos de Allison brilharam. – Sério mesmo? – perguntou. Quando confirmei com um gesto de cabeça, ela olhou para Jax. – Ele está quase dormindo. – Acha que podemos deitá-los? – Podemos tentar. Então Allison foi até o berço de lona ao lado da enorme cama king size de Jake e Abby e acomodou Jules no colchão como se ela fosse uma bomba-relógio que poderia explodir a qualquer minuto. Depois, afastou as mãos da criança e esperou um pouco para ver se recomeçaria a chorar. Como não o fez, Allison colocou a chupeta nela e recuou. Com um gesto de mão, avancei para acomodar Jax, cujas pálpebras vibravam como se ele lutasse, desesperadamente, para dormir. Depois que o deitei, os olhos dele se abriram e me fitaram como querendo impedir que eu ousasse me afastar. – Calma, amigo – sussurrei, dando uns tapinhas em sua barriga. Allison se apertou ao meu lado para deslizar uma chupeta nos lábios de Jax. Começando a sugá-la


avidamente, logo os olhos dele ameaçaram fechar e, finalmente, dormiu. Quando me afastei do berço, Allison e eu exalamos um suspiro entrecortado em uníssono. – Isso foi intenso – murmurei em voz baixa. – Sim, foi mesmo. Permanecemos lado a lado em frente àqueles dois bebês fofinhos dormindo, e isso foi um pouco demais para mim. De uma maneira esquisita, era como se tivéssemos sido pais juntos, um tipo de compromisso que jamais poderia permitir-me com Allison. Nós não nos destinávamos, independente do que eu continuava a sentir. – Bem, agora que tudo está sob controle, vou voltar para o meu quarto. Após pegar a babá eletrônica desligada sob o criado-mudo, ela sorriu para mim com sinceridade. – Eu te devo um grande agradecimento. Acho que não teria sobrevivido sem sua ajuda. – Não precisa me agradecer. Fiquei contente de ajudar – retruquei. Depois de pegar meu celular, comecei a sair do quarto. Allison me seguiu e, depois, fechou a porta do quarto de Abby e Jake. Ficamos ali, um encarando o outro, num desafio silencioso de mencionar o elefante branco da sala. Depois do que pareceu uma eternidade, nenhum de nós falou em qualquer acusação. – Sim, bem, te vejo mais tarde – murmurei antes de me encaminhar para a porta. Quando alcancei a maçaneta, a voz de Allison me congelou: – Rhys, espere. Eu me virei. – O que aconteceu? Mordiscando o lábio, Allison parecia buscar o caminho certo para dizer algo. Finalmente, ela deixou escapar: – Eli quer se encontrar comigo. Sozinho. Aquele filho da puta. Já não bastava ele ter se amassado com Allison e a beijado na pista de dança, agora resolvia subir a aposta e levá-la para jantar e beber vinho. Sozinho. Jake iria amar o inferno sabendo disso. Ao ver a expressão expectante dela, sabia que precisava cair fora de lá antes que traísse minhas emoções. – Bom pra ele. Espero que seja um ótimo encontro – comentei incapaz de conter a ironia. – Isso é tudo que tem pra dizer? – ela perguntou com um ar de traição. Encolhi os ombros. – Queria minha permissão ou algo do tipo? Você me disse ontem: “Você não é meu irmão pra me dizer o que posso fazer”. Os olhos dela se encheram de lágrimas, e eu me senti o maior babaca da face da Terra. Mas, claro, nem isso me tornou homem o bastante para lhe confessar meus sentimentos. Não; eu ainda me iludia com a noção de que fazia o melhor para nós. Se Jake já não se entusiasmava com a ideia de um


namoro de Allison e Eli, ele se sentiria em um inferno se fosse eu, seu companheiro de banda e irmão. – Eu só pensei... – Ela balançou a cabeça. – Esqueça. – Você pensou o quê? – insisti. Os olhos escuros de Allison assumiram um ar de súplica enquanto penetravam nos meus. – Independentemente de a noite ter terminado mal, não acredito que você seja tão insensível pra me usar da maneira como fez – ela respondeu em um sussurro abafado. O corpo trêmulo e os olhos assustados de Allison me quebraram. Quase transpassei o muro que, cuidadosamente, construíra entre nós, garantindo-lhe que não estava errada sobre a última noite, que quase fora minha ruína. E então, no momento mais inoportuno, uma recordação de infância passou pela minha mente, o que reiterou em mim, de uma vez por todas, de onde vinha meu horrível sentimento de autodignidade e autoestima. Eu passei mal na escola e voltei para casa, um menino de 7 anos que queria, desesperadamente, um pouco de amor e atenção da mãe. Espiando através do corrimão, observei os saltos dela clicando pelo chão de mármore enquanto passava pela porta para alguma obra de caridade. Assim que minha mãe chegou à porta, corri e a agarrei pela cintura. – Fique comigo, mamãe. Mas sua voz maldosa soou em meus ouvidos como se ela estivesse em pé bem na minha frente: – Rhys, já te disse antes que hoje não tenho tempo para você. Volte pra Trudie. Desesperado, agarrei-me ainda mais a ela, que me sacudiu como sempre fazia. Afinal de contas, sempre fui um aborrecimento para que ela me desse alguma atenção. Então, minha mãe ficou olhando minha estrutura frágil. – Por que não pode fazer o que falei? Ai, meu Deus, você é quase tão inútil quanto sua irmã. Eu mal conseguia decifrar o rosto dela por causa do borrão formado pelas lágrimas. – Você não me ama, mamãe? – perguntei numa voz suave. – Eu te amaria mais se você não fosse tão inconveniente. Naquele dia, minha mãe, mais uma vez, partiu meu coração já fragilizado em pedaços, o que jamais seria reparado. Eu endureci depois disso, mas a mágoa sempre estava lá. Com tal passado de desamor, como poderia dar a Allison tudo de que ela necessitava? Não; eu precisava ficar firme. Precisava esconder meus verdadeiros sentimentos. Por mais que quisesse, não poderia demonstrálos. E tinha de afastá-la de uma vez por todas. Cruzando os braços sobre o ombro, perguntei: – Então, você estava pensando que fazer sexo em um banheiro de clube deveria ter algum significado implícito além de apenas uma trepada? Uma lágrima solitária riscou o rosto de Allison. Assim que ela ergueu a mão, pensei que me daria um tapa, e estava certo que o merecia, porém, em vez disso, ela a usou para afastar a lágrima.


– Diga o que quiser pra livrar a cara dessa, Rhys, mas eu te conheço muito bem. Pode ter começado com um sentimento de posse ou apenas sexo, mas você queria me beijar. Você me queria tanto quanto há três meses. – Acredite nisso o quanto quiser, garotinha. Com o rosto contraído, ela se virou e correu para seu quarto. Quando fechou a porta, eu me sobressaltei com os soluços enchendo o ar, cravando-se em meu peito como facas. Naquele momento, desejei que ela fosse como Abby ou Mia, que realmente haviam me repreendido pelo filho da puta que eu era. Mas não; lágrimas eram piores, especialmente em se tratando de uma garota... ou de uma mulher como Allison. Incapaz de suportar o som do choro dela por mais tempo, fugi da suíte de Jake e Abby. Passei direto pelo meu quarto e continuei no hall, até chegar ao elevador e apertar o botão para o saguão. Uma vez lá embaixo, transpus as portas giratórias que me levavam para a cidade. Então, andei sem rumo. Parei para um café e uma refeição leve em um pequeno restaurante. Mas, independente do quanto me afastasse, uma coisa ainda era verdade: de novo, eu me comportara como um idiota absoluto com Allison, um comportamento bem distante do cavalheiro que havia sido criado para ser. Afinal de contas, isso era o melhor para mamãe e papai queridos. No entanto, pior do que as coisas desprezíveis que eu disse a ela foi a mentira. De novo. Por que eu continuava agindo assim? A última noite tinha significado alguma coisa. De alguma forma, estar dentro de Allison, mesmo que por pouco tempo, me fez sentir completo. Mas isso fora interrompido quando ela não me deixou beijá-la. E ela estava coberta de razão, pois, com certeza, eu não merecia aqueles lábios suaves. Por causa do meu ciúme, havia estragado tudo só para provar que Allison não pertencia a outro homem. Então fui um filho da puta, emocionalmente me recusando a reivindicá-la. Pegando meu celular, pesquisei um local onde sabia que haveria alívio para meu sofrimento. Mais dois quarteirões, e caí de boca na sala escura de um clube de strip. Estar ali com certeza não foi um dos meus melhores momentos, mas precisava daquilo para romper o período de três meses sem sexo, mesmo que fosse uma rapidinha. Eu precisava, desesperadamente, de algo simples e descompromissado. Se eu conseguisse me livrar de Allison, então também poderia libertá-la de mim. Com uma nota de cinquenta, acenei para uma das três meninas que dançavam, a única loira. Com certeza, não queria uma morena. Com um sorriso acolhedor, ela girou os quadris e aproximou-se de mim. – Ei, docinho, quer uma dança particular? – Sim – murmurei. – Eu sou Sierra – ela se apresentou. – Rhys – retruquei sem sequer dar um nome falso. Saltando do palco, ela pegou minha mão e me levou até um ambiente privado. Um segurança


grandalhão nos olhou antes que mergulhássemos no quarto, onde a jovem me acomodou em um sofá. Quando ela ergueu as mãos para desfazer o cordão do top frágil que usava, a bile embrulhou na minha garganta e achei que fosse vomitar. – Espere. Pare – resmunguei. As mãos dela se afastaram do top, uma repousando em minha bochecha. – Qual o problema, docinho? É sua primeira vez? Não precisa ter medo. Vou cuidar muito bem de você. Balancei a cabeça. – Não é isso. Vir aqui foi um erro. – Quando comecei a me levantar do sofá, ela me empurrou de volta. Mas, em vez de deslizar em meu colo, sentou-se próxima a mim. – Enfrentando problemas com a namorada ou a esposa? – Como não respondi, ela continuou: – Com o namorado? Um riso nervoso escapou de meus lábios. – Não sou gay. Ela sacudiu os ombros. – Alguns caras vêm aqui quando estão tentando descobrir quem são. Se você quiser, sei o nome de um clube que pode oferecer mais do que você precisa. Ergui a mão. – Confie em mim. O problema não é um rapaz. Ela apoiou a mão sobre minha coxa. – Então o que é? Fechei os olhos, sem acreditar que não só estava em um clube de strip, mas também estava quase desabafando meus problemas com uma stripper. Ela não era terapeuta. Mas, por alguma estranha razão, o caralho da objetividade escancarada afrouxou minha língua em geral inflexível. Eu não era de compartilhar meus sentimentos com qualquer pessoa, mas a disposição de Sierra para escutar me motivou a revelar o que sentia. – Você quer mesmo saber? Ela assentiu. – Estou agora a serviço de seu centavo ou dos seus cinquenta. Assim, farei o que você quiser, inclusive escutar. Depois de respirar profundamente, contei a Sierra toda a história. Os olhos dela se arregalaram em alguns pontos, e ela ofegou de horror. Assim que terminei, ela bateu em meu peito. – Qual diabos é seu problema? – Eu adoraria saber. – Marche sua bunda de volta àquele quarto agora mesmo e peça perdão à garota. – Não é assim tão simples.


– É, sim. Você quer passar o resto da vida se sentindo desse jeito? – De modo algum. – Então é simples, sim. – Segurando minha mão na dela, Sierra a apertou. – Você sabe que é um cara de sorte por ter alguém tão maravilhoso que te ame? As pessoas procuram a vida toda uma coisa assim e acabam desesperadamente sozinhas durante a busca. Você só tem de parar de sentir medo dos “e se”, ou seja, das possibilidades que poderão surgir no futuro. O “e se” Jake ficar chateado com você ou o “e se” não conseguir amar Allison como acha que deve. Tudo isso virá junto porque está destinado pra ser assim. Enquanto estive sentado no sofá de couro com minha sábia stripper, não podia acreditar como tudo havia abrandado junto. Para não mencionar que o catalisador da minha autodescoberta tinha ocorrido em um clube de strip. – Você é mesmo muito sábia, não é? Sierra sorriu. – Resultado de anos ouvindo os problemas das pessoas, docinho. Vasculhando o bolso da calça jeans, juntei uma nota de cem com a de cinquenta anterior. – Aqui está. Mas saiba que não é o suficiente pra te mostrar minha gratidão. Balançando a cabeça, Sierra pegou o dinheiro. – Grana é bom, mas vá mostrar sua gratidão pra não foder as coisas com aquela garota. – Ela me olhou com firmeza. – Você vai lá implorar a ela que te perdoe e dizer o quanto se importa com ela? Concordei com um gesto de cabeça. – Hoje. Prometo. – Muito bom. Fico feliz em ouvir isso. – Levantando-se do sofá, ela estendeu a mão para mim. – Agora, caia logo fora daqui. Rindo, deixei que ela me ajudasse. – Sim, madame. Curvando-se, Sierra beijou minha bochecha. – A Allison é uma mulher sortuda por ter você. – Espero que, depois de tudo que aprontei, ela ainda acredite nisso. – Mantenha a fé, docinho. Balancei a cabeça e, em seguida, saí rapidamente do clube. Um olhar para o celular me avisou que eu precisava voar para o hotel. O carro logo sairia para nos levar ao auditório. Infelizmente, eu havia dado todo meu dinheiro a Sierra, e o cartão de crédito de débito ficara no quarto do hotel. Eu teria de correr para pegá-lo de volta a tempo. Após respirar profundamente, comecei a correr de volta para o hotel, mais, e melhor, de volta para Allison. Agora eu sabia que estava pronto. Estava pronto para tudo que enfrentaria com a amorosa


Allison. Tinha certeza de que não a merecia, mas queria (na verdade, precisava) fazê-la minha. Quanto a Jake, bem, ele só teria de aceitar a realidade. Afinal, ele era irmão de Allison, não pai. Não, eu não iria foder minha vida por mais tempo. Precisava de Allison, e iria lhe provar que eu poderia amar. Ela teve fé em mim, e eu morreria tentando provar que estava certa.


Quinze

ALLISON

Depois de chorar até dormir, acordei com Jake e Abby voltando do médico. O diagnóstico foi de intoxicação alimentar, o que era terrível, considerando que eles haviam comido com a família de Jake na noite anterior. Mesmo após receberem soro, eles ainda estavam um pouco fracos e caíram em um sono profundo. Depois que Jax e Jules acordaram de novo, eu levei o berço de lona deles para o meu quarto para deixar Jake e Abby terem mais algum descanso antes do ensaio às duas horas. Brincar com os gêmeos foi um alívio bem-vindo para manter a cabeça longe de Rhys. Realmente me senti como se estivesse em um ponto de ruptura com meu estado emocional. Do jeito que as coisas estavam, no momento, eu não conseguia imaginar continuar assim pelo resto da turnê. Embora odiasse deixar Jake e Abby tristes, não via como poderia permanecer como babá. Eu só queria ir para casa. E não dava a mínima para o estágio. Só me preocupava com minha sanidade mental que tinha sido destruída por Rhys. O homem que eu amara por sete anos e o homem com quem passara algum tempo em Savannah não era o homem que eu via agora. Ele não queria mudar, e eu tinha de aceitar isso. Quando deu uma hora, Jake e Abby, relutantemente, saíram da cama, de modo que todos nós podíamos ir até a arena para o ensaio. Pegamos o ônibus de turnê, já que os gêmeos iam conosco. Abby jamais gostou que eles ficassem longe dela, por isso não íamos ficar no hotel até a hora do show. Depois que chegamos à arena, Abby e eu fomos pôr os gêmeos para dormir em um dos camarins vazios. Mas, infelizmente, eles estavam muito agitados e não queriam se deitar; estavam aproveitando demais seu tempo com a mãe para querer dormir. Finalmente, eles se acalmaram um pouco quando Abby pegou os dois nos braços e começou a balançar na antiga cadeira de balanço que levaram na turnê. Quando os olhos deles estavam começando a se fechar, Abby olhou para o relógio.


– Merda, está quase na hora de eu ir lá pra fora. Você pode dizer para o Jake que vou demorar um pouco mais? – Eu posso colocá-los para dormir pra você – eu disse. Ela balançou a cabeça. – Não, eles querem a mim, então quero fazer isso. Concordei com um balançar de cabeça. – Ok, vou dizer a ele. Quando saí para o palco, o Runaway Train estava terminando, e era hora de Jake e Abby fazerem seu dueto com o Jacob’s Ladder no acompanhamento musical. Ao me ver, Jake franziu a testa preocupado. – Cadê a Abby? – Os gêmeos estão demorando um pouco mais para dormir hoje, então pediu que lhe dê apenas mais alguns minutos. Gemendo, Gabe parou, girando uma de suas baquetas entre os dedos. – Ela não pode deixar que você coloque os bebês para dormir? Afinal, é a babá deles. Jake se virou e lançou um olhar zangado para Gabe. – A coisa mais importante na vida de Abby é ser mãe. Ela deu duro para conseguir esses bebês, por isso, se ela quer atrasar o ensaio por trinta minutos para que possa ser mãe, então é isso que ela vai fazer, porra. – Tá certo, tá certo – Gabe resmungou. Fazendo sinal para mim com a mão, Jake disse: – Ajude a gente um minuto, Allie-Bean. – O que você quer que eu faça? – Bem, a porra do programa prevê que eu e Abby façamos um dueto emo. Aparentemente, nós cantamos muitas canções alegres de amor. Abby escolheu, e eu tenho que aprender isso. Não faço ideia de qual é essa música porque não ouço canções emo de amor. Eu ri. – Não, eu não imagino que você escute. – Enquanto esperamos Abby, você pode tocar piano e cantar a parte dela? – Claro, eu acho que sim. Qual é a música? – “Say Something”. Meu coração se apertou tanto que tive dificuldade para respirar. Entre todas as músicas do mundo, por que Jake tinha de escolher justo aquela? Exatamente a mesma que eu tinha escutado repetidas vezes na noite anterior, enquanto chorei até dormir. Para mim, aquela música representava tudo o que era meu relacionamento ferrado com Rhys. Sempre que ela tocava no rádio, era uma agonia ouvi-la. Eu não podia sequer imaginar cantá-la. E não sabia se iria conseguir.


Quando Jake chacoalhou a partitura da música na minha frente, minhas mãos trêmulas mal conseguiam segurá-la. – Jake, não sei se isso é uma boa ideia. – Você canta e toca piano, não é? – Quando balancei a cabeça, ele acrescentou: – Então não sei por que seria uma má ideia. Olhando fixamente para a partitura, eu mal conseguia ler os acordes. – Eu devia voltar e ver como estão Abby e os gêmeos. Tenho certeza de que Eli podia fazer isso com você. Eli bufou. – Ah sim, seria um sonho realizado fazer um dueto com Jake. Jake balançou a cabeça. – Isso é surreal. – Pegando-me pelos ombros, Jake me levou até o piano e me sentou no banco. – Vamos, Allie-Bean. Ajude o seu irmão mais velho. Um suspiro resignado e doloroso escapou de meus lábios. Mesmo querendo fugir, eu estava presa naquele pesadelo. Ao ouvir uma voz atrás de mim, meus olhos se fecharam de dor. – Aí, quanto tempo até o nosso ensaio? – Rhys perguntou. – Vai ser só um pouco. Abby está pondo os gêmeos para dormir. Mas vou aproveitar o tempo para trabalhar essa porra de dueto que o programa quer que a gente faça. – Com Allison? – Rhys perguntou. Jake riu. – Sim, por que não? Olhando-o por sobre meu ombro, vi seu encolher de ombros ao dar um sorriso tímido para mim. – Apenas surpreso, só isso. Fixando os olhos na partitura, posicionei os dedos trêmulos nas teclas do piano. Comecei a tocar os acordes melancólicos, que ecoaram alto pelo auditório praticamente em silêncio. Jake entrou com sua parte: – “Say something, I’m giving up on you. I’ll be the one, if you want me to…”19 – A profunda bravata de sua voz ecoou pela minha mente, fazendo-me, por um momento, esquecer Rhys. Eu nunca me cansava de ouvir Jake cantar. Quando criança, era uma fonte de conforto quando eu estava doente ou machucada. Mas não havia nenhum conforto naquele momento; não era uma ferida ou uma doença que ele pudesse resolver cantando. Assim que chegou a hora de eu cantar, senti a presença de Rhys pairando sobre mim. Ele começou a caminhar lentamente até a frente do piano. Com a minha voz harmonizando com a de Jake, recuseime a olhar para Rhys, embora pudesse sentir seu olhar aquecendo minhas bochechas. Em vez disso, concentrei-me nas teclas brancas e pretas, observando a ironia de que não havia nada de preto e branco no que aconteceu entre nós. Foi a área cinzenta que nos causou tanto sofrimento e dor.


Depois de cantar mais algumas linhas, olhei por cima do piano para encontrar o olhar intenso de Rhys. Eu sabia o verso que estava chegando e, como significava algo para mim, eu queria que significasse algo para ele também. Sustentei seu olhar e cantei a letra diretamente para ele, porque, de muitas maneiras, ela era a verdade nua e crua: – “You’re the one that I love, and I’m saying goodbye.”20 – E eu estava dizendo adeus. Não havia maneira de contornar isso; não havia outra forma de arrancar essa dor sufocante que tomou conta de mim a não ser dizendo adeus. Uma expressão de pura agonia se estampou no rosto dele, o que me causou uma dor tão grande que tive de desviar os olhos de Rhys. Em função das lágrimas, eu já não conseguia ler a música e atirei longe o banco do piano, que bateu ruidosamente ao chão. Quando me virei, Jake me encarou com surpresa. – Sinto muito. Eu não consigo – sussurrei antes de passar correndo por ele e ir para os bastidores. Ouvi Jake e Rhys me chamando, mas ignorei. Em vez disso, apenas continuei correndo até que cheguei ao camarim do Runaway Train. Depois de entrar e bater a porta, fui tropeçando até a mesa de maquiagem. A dor me atravessava novamente, fazendo-me gritar. Me inclinei. Eu teria caído no chão se não tivesse me agarrado às laterais da mesa. Quando olhei para cima e vi minha imagem destruída no espelho, soube que não tinha outra escolha: eu tinha de escapar do tormento. Eu tinha de fugir de Rhys. Eu estava indo embora.


Dezesseis

RHYS

Quando, finalmente, cheguei ao hotel, Allison já havia ido à arena com Jake e Abby. Nem esperei para o carro me levar, logo chamei um táxi. Lá, procurei Allison em todos os lugares, mas não a encontrei. Vendo a placa “Não perturbe” no camarim do Runaway Train, imaginei que ela estivesse lá dentro com os gêmeos. Com um suspiro de derrota, encaminhei-me para o palco, onde encontrei Gabe e Eli sentados, com Jake no piano. Então, meu estômago revirou ao ver Allison sentada no banco do piano. Tentando não extravasar minhas emoções na frente de todos, rapidamente questionei quando iríamos ensaiar. Não era surpresa que o ensaio tivesse sido adiado para o cochilo dos gêmeos. Então, em vez de poder falar com Allison como queria, vi, frustrado, que Jake e ela trabalhavam juntos em algum dueto. A partir do instante em que os dedos dela começaram a flutuar com talento nas teclas brancas e pretas, mais uma vez fiquei paralisado. No entanto, ao perceber que música tocava, senti uma dor queimando meu peito, pois não estava emocionalmente preparado para o significado da letra da canção. Se havia uma música que resumia nosso relacionamento, era aquela. Quando Allison começou a cantar com Jake, o fogo se alastrou ainda mais em meu peito. Eu precisava, desesperadamente, ver o rosto dela, o que me fez caminhar com lentidão em torno do piano de cauda. Ao vê-la, fechei os olhos de dor, pois sua expressão revelava a agonia que estava sentindo, ainda que tentasse manter as emoções sob controle em cada fibra de seu ser. Silenciosamente, desejei que Allison erguesse os olhos das teclas, olhasse em meus olhos e entendesse que nem tudo estava perdido entre nós. Porém, quando o fez, ela cravou a faca mais fundo no meu peito. Olhando diretamente para mim, Allison cantou: – “You’re the one that I love, and I’m saying goodbye.” Quando comecei a circular o piano, as teclas bateram enquanto ela saía correndo, o banco virando no chão do palco. Eu sabia que ela fugia para os bastidores.


– Allison, espere! – Jake chamou ao mesmo tempo em que eu gritava. – Allison! Mas ela continuou correndo e, então, Jake se virou e dirigiu a Eli um olhar mortal. – Que porra você aprontou? – ele perguntou, os punhos fechados ao lado do corpo. Os olhos de Eli se arregalaram e seu rosto empalideceu. – Nada, Jake. Juro. – Então que merda aconteceu pra ela sair correndo daqui daquele jeito? Olhando de Jake para mim, Eli encolheu os ombros. – Não tenho a mínima ideia. Está tudo bem entre nós. Com um sentimento estripado, virei e corri para fora do placo, procurando-a em cada cômodo vazio. Todas as portas estavam abertas, exceto duas. Parei por um momento no camarim de nossa banda, antes de abrir a porta. Allison estava debruçada sobre a mesa de maquiagem do outro lado da sala. Com o ruído de alguém ali, ela ergueu a cabeça e uma estranha sensação de déjà vu tomou conta de mim, enquanto via no espelho o mesmo olhar, uma repetição nauseante da noite anterior. – Por favor, me deixe sozinha. – Permaneci em pé exatamente onde estava, o peito subindo e descendo com a respiração pesada. Allison deu um murro sobre a mesa. – Se você ainda tiver um pingo de decência, vai sair agora. Minha cabeça fez um movimento para trás, como se Allison tivesse me dado um soco. Eu nunca a vira tão brava. Apesar de muito apaixonada, ela conseguia controlar suas emoções. Caralho, eu tinha feito um grande estrago. Incapaz de encontrar as palavras certas, murmurei debilmente: – Eu sinto muito. Ela riu sem qualquer alegria. – Já estou cansada pra caralho de ouvir você dizer isso. – Balançando a cabeça, ela continuou: – Não aguento mais isso. Hoje, depois do show, vou cair fora daqui no primeiro voo. As palavras de Allison foram um soco no meu estômago, uma dor tão arrasadora que dobrei o corpo. Lutava para respirar e, enfim, encontrar as palavras exatas para que ela ficasse. – Não, você não pode fazer isso – falei, fechando os olhos enquanto a agonia me dominava. – Por favor. – Se eu continuar aqui com você mais um minuto, do jeito que as coisas estão, vou enlouquecer. Uma sensação de intenso pânico percorreu minha espinha. Não foi assim que imaginei o momento de pedir perdão a Allison. Comecei a me agarrar em ninharias, ou seja, qualquer coisa para ser perdoado por Allison. – E o estágio? Não pode simplesmente se afastar dessa oportunidade que significa tanto pra você. – Já completei a maior parte do trabalho de campo; posso terminar os designs e as roupas em casa. Tenho certeza de que Miriam trabalhará comigo pelo Skype.


Eu me senti afundar ainda mais na areia movediça do pânico. – E os gêmeos? Você os ama tanto; como irá deixá-los? Lágrimas marcavam o rosto de Allison. – Eu amo os bebês mais do que qualquer coisa no mundo, mas agora tenho de me amar mais. Movimentei a cabeça em um gesto de negação. – Não, você não pode fazer isso; não vou permitir. Os olhos escuros de Allison se estreitaram para mim. – Aí está uma notícia de última hora. Você não pode me dizer o que fazer. Não é meu namorado, muito menos um amigo de verdade; você nem sequer consegue me sugerir algo pra fazer. No grande plano das coisas, você não se importa com nada. Você é apenas um filho da puta que despedaçou meu coração. As palavras de Allison atravessaram meu peito, perfurando minha alma. – Por favor, acredite em mim quando digo que estou arrependido. Se pudesse voltar atrás, faria isso. – Não está arrependido. Apenas disse palavras fáceis, mas e suas atitudes? Elas só continuarão me torturando. Quando ela se encaminhou para a porta, estendi a mão. – Por favor, Allison, me deixe fazer as coisas direito agora – eu disse. – Não me toque! – ela gritou, afastando minhas mãos. Abaixei a cabeça envergonhado. – Eu fiz isso em você. Eu causei toda essa dor e preciso corrigir a situação. Me desculpe. Por favor, me deixe ajeitar tudo. Por favor... não parta. Afundando o rosto nas mãos, Allison disse: – Rhys, eu falei sério. Vá embora. Agora. – Não posso; pelo menos não até que me ouça. Te devo pelo menos isso. Allison ergueu a cabeça e me olhou de modo frio. – Tá certo; vou te ajudar então. – Com toda força, ela me empurrou para a porta. – Saia! – Por que não me ouve? Não posso te deixar agora; preciso muito de você. Não posso deixar que me abandone. As pálpebras de Allison tremeram enquanto ela piscava rapidamente. – O quê? – Sinto muito por ter me afastado. Sinto muito por ter mentido quando disse que não me importava com você. Mais que tudo, sinto muito por ter te causado tanta mágoa. – Passei a mão nervoso pelo cabelo. – Esta tarde, depois que saí da suíte de Jake e Abby, fiz um sério exame de consciência. – Ponderei que era melhor não falar de Sierra no momento. – Finalmente, a verdade me atingiu como a porra de uma epifania, e consegui ver tudo bem claro pela primeira vez. – Alcançando a mão de


Allison, eu a segurei, apertando-a. – Eu estava mentindo pra você sobre meus sentimentos, mas, acima de tudo, estava mentindo pra mim mesmo. – Rhys, eu... – ela começou. Balancei a cabeça. – Por favor, somente me ouça. – Levei a mão dela até meus lábios e beijei-a com suavidade. – Me ouça quando digo que me apaixonei por você, Allison Slater, de coração, corpo e alma. E provavelmente você me abalou quando tinha 16 anos e eu te beijei pela primeira vez. Naquela noite, alguma coisa mudou dentro de mim, como se o destino estivesse me dando uma prévia do que viria a acontecer. Mas, como sempre fiz com você, decidi ignorar. Então, quando te encontrei em Savannah, e enquanto eu só queria acreditar que estávamos curtindo como amigos, a verdade estava lá, esperando para ser revelada. E então, assim que foi revelada, senti medo como um covarde e fugi. Sinto muito; foi uma jogada idiota. Durante o tempo todo, eu sabia que me importava profundamente com você. Sempre me importei. E quando a vi de novo para a turnê, acabei me convencendo de que seria melhor sermos amigos e esquecer aquela fantástica noite de sexo como se jamais tivesse acontecido. – Não controlei o riso ao ver o rosto de Allison vermelho por causa da referência ao sexo. – Mas não foi apenas o prazer de me enterrar profundamente em você, o modo como sua pele macia reagiu frente a mim ou o doce mel que você provou de meus lábios. Foi o fato de que eu estava fazendo amor pela primeira vez com uma mulher por quem havia me apaixonado e que era minha melhor amiga. Minha alma gêmea de fato. A melhor sensação do mundo foi segurá-la em meus braços e, finalmente, me permitir relaxar. Os olhos de Allison se arregalaram com minha confissão, embora eu ainda não tivesse concluído. – Nessas semanas que estivemos juntos em Savannah, amadureci pra te amar mais e mais. Você me fez sentir importante... como se eu realmente fosse. E, apesar de todas as minhas manias de merda, você queria continuar comigo. Compreendo que, após a maneira como te tratei, não mereço uma segunda chance. Eu, insensivelmente, te afastei pra muito longe, e sinto muito por meu comportamento abominável do caralho. Daria qualquer coisa no mundo se me deixasse provar que sou digno de você, que não sou um inútil e que posso fazer as coisas direito por você. Os olhos escuros de Allison se arregalaram. – Você quer mesmo dizer tudo isso? Não dirá que apenas somos amigos ou ignorar como será bom ficarmos juntos? Balancei a cabeça, negando. – Não. Nunca mais. – E Jake? Encolhendo os ombros, respondi: – Bem, o jeito é ele lidar com isso. – Sério? – ela perguntou incrédula.


– Claro; é isso mesmo. – Não posso acreditar nisso. Não posso acreditar que está aqui à minha frente, em pé, dizendo tudo isso. – Então, acredite, Allison. Cada palavra que digo é verdade. E vou passar o resto de minha vida tentando te fazer feliz para remediar toda a dor que te causei. Ela tremeu. – Quero acreditar em você, realmente quero, mas estou com medo. – Ela soluçou. – Você me arrasou, Rhys; a decepção foi tão grande que nem sei se consigo te amar de novo. Eu sofro, Rhys, e esse sofrimento aqui dentro é muito ruim. O desespero me dominou. Eu não havia planejado tal situação. Achei que bastaria um pedido de desculpas e tudo iria ficar bem. Que idiota. – O que devo fazer pra que você mude de ideia? – Me dê tempo. – Ela enxugou as lágrimas. – Vamos devagar, afinal, por mais que eu queira, não posso simplesmente correr de volta para seus braços hoje porque me falou algumas coisas bonitas. Neste momento, preciso de atitudes. De um comportamento alterado e coerente; chega daquelas mudanças de emoções. – Então, vou te dar atitudes; eu te darei qualquer coisa no mundo. De alguma forma, de algum jeito, provarei que sou o homem certo pra você. – Oh, Rhys – ela murmurou antes de atirar os braços em volta do meu pescoço. Fechando os olhos, sentia-me satisfeito com a sensação de Allison se apertando contra o meu. Ela era tão quente, tão suave e tão acolhedora, que seu corpo era como um lar, o primeiro que eu realmente tinha. Deus, aquilo me parecia tão certo. Parecia tão completo; eu me sentia completo. As lágrimas arderam em meus olhos quando percebi o quão estúpido eu havia sido e o quão perto estivera de perdê-la. – Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito – murmurei mais e mais no ouvido de Allison. Quando a mão dela esfregou amplos círculos em minhas costas, fiquei desorientado. O fato de Allison ainda conseguir demonstrar compaixão e zelo depois de tudo que eu havia feito era demais. Caí ajoelhado sob a tensão das emoções. Embora mortificado pelo meu comportamento, não consegui evitar. – Rhys? – Allison me chamou, a voz soando preocupada. – Caralho, fui um babaca por tanto tempo – gemi, a cabeça abaixada tocando o chão. As fibras ásperas do tapete arranhavam meu rosto, e eu as acolhi com dor. Senti Allison ajoelhar-se ao meu lado. – Rhys, está tudo bem. Ficará tudo bem. Erguendo a cabeça, olhei o lindo rosto de Allison, sem acreditar que um espírito tão doce quanto o dela pudesse se importar comigo, me amar de fato.


– Penso no quanto te magoei – fechei os olhos agoniado –, não é possível que você me perdoe, Allison. As mãos carinhosas dela seguraram meu rosto. – Eu decido sobre isso. – Você é boa demais pra mim – retruquei. – Eu sei – ela disse, um sorriso provocante iluminando sua feição. Não pude deixar de rir do comentário dela. – Você vai me fazer trabalhar duro pelo seu amor, certo? Sorrindo, ela respondeu: – Ah, sim, e muito. E nem pense que receberá qualquer sexo gostoso depois disso tudo também. Com um gemido, respondi: – Eu compreendo, e vou aceitar qualquer coisa que você me dê. Allison sorriu, inclinando-se para trazer seus lábios nos meus. Foi um beijo suave, quase casto. Quando ela começou a se afastar, eu me desesperei para mantê-la próxima e sentir a pele dela sob meus dedos, saborear os lábios suaves e quentes. Minha mão alcançou a parte de trás da cabeça dela, mantendo-a firmemente no lugar. Minha língua percorreu os lábios de Allison, pedindo-lhe que os abrisse para mim e, quando ela graciosamente o fez, estremeci com o contato. Eu precisava saboreála mais do que qualquer outra coisa. A mão que prendia a cabeça de Allison foi até o contorno de seu rosto; meus dedos percorreram o contorno macio dele, enquanto nossas línguas lentamente se roçavam. Embora eu tivesse dado qualquer coisa para percorrer o corpo de Allison com as mãos, consegui me controlar e respeitá-la, reconhecendo o fato de que estávamos reconstruindo nosso relacionamento. Então a porta se abriu, e me afastei de Allison. Eli arqueou a sobrancelha para nós. – Achei que você ia gostar de saber que Jake está te procurando. – O-obrigada – ela agradeceu, erguendo-se do chão. Eu acompanhei o movimento dela. – Sem problema. Mas, quando Eli se virou para sair dali, eu disse: – Espere. – Ele me olhou ansioso. – Sinto muito, cara. Nunca quis que isso acontecesse. Eu não... Eli ergueu uma das mãos para me silenciar. – Após a outra noite, eu soube exatamente contra o que lutava nessa situação com Allison. Eu não era o cara certo pra ela. – Isso é nobre pra caralho. Você vai me espancar no meu sono? – Rhys! – Allison gritou, enquanto Eli apenas riu. – Não, cara, todos nós estamos bem. – Ele olhou para Allison e dirigiu a ela um sorriso caloroso. – Você não roubou minha mulher ou algo do tipo, porque, pra começar, ela nunca foi minha; sempre foi


sua. Os olhos de Allison se encheram de lágrimas, e ela passou correndo por mim e abraçou Eli. Tive de lutar contra uma vontade de homem das cavernas de ir lá e arrancá-la, embora entendesse que o gesto era parte do jeito de ser de Allison, na verdade, seu lado solidário. – Me desculpe, Eli. Nunca quis que ficasse no meio disso tudo; você sempre foi um bom amigo, e não quero perder isso – ela disse. – Não se desculpe, e claro que sempre serei seu amigo. Me sinto bem por você estar indo para o caminho da felicidade agora – retrucou Eli. Depois de Allison se afastar, Eli me deu um olhar afiado. – Ela está indo ao encontro da felicidade, certo? Concordei com entusiasmo: – Sim, está. – Muito bom, porque não quero bater em você se a magoar. – Juro que não precisará. – E quanto a Jake? – Eli perguntou. Quando abri a boca para lhe explicar que já estava pensando em contar a Jake, Allison balançou a cabeça. – Ele não precisa saber de tudo ainda. – Ah, não? – Eu e Eli dissemos juntos. Allison inclinou a cabeça para mim. – Depois dos últimos meses infernais, pode me chamar de doida, mas gostaria de curtir a felicidade com você sem as coisas se tornarem loucas com Jake. – Esse é um bom argumento – Eli ponderou. – Não importa – resmunguei. Antes que pudesse conversar com Allison sobre o fato de que, provavelmente, era uma ideia horrível não contar para Jake, o sujeito em questão entrou correndo, empurrando Eli do caminho. – Aqui está você. Estou te procurando por tudo quanto é canto. Você está bem, Allie-Bean? – ele perguntou. – Estou bem – Allison respondeu. Jake estreitou os olhos para Eli antes de puxar Allison. – Tem certeza de que não está dizendo isso só porque ele está aqui? – Jake perguntou em voz baixa. – Claro que sim. Apenas tive uma crise, certo? Quando Jake se afastou, ele a olhou de modo cético. – Olha, se cuidar dos gêmeos mais o estágio está difícil, contrataremos alguém. Não quero que se sinta infeliz. Embora me sentisse como uma “garotinha” sentimental, não poderia ajudar em nada com o coração aquecido pelas palavras de Jake. Por mais que me preocupasse com Allison, sentia-me feliz por ela


ter um irmão mais velho que a amasse tanto. E também esperava que aquele amor intenso implicasse que Jake aceitaria a novidade de estarmos juntos de modo mais fácil. Quero dizer, ele alegou que não queria ver a irmã infeliz, certo? Lá no fundo, eu sabia que estava me agarrando a qualquer merda de detalhe. – Não, não, eu adoro cuidar dos gêmeos – Allison protestou. – Mas você... – Só estou com um problema hormonal, dia de TPM, ok? E cantar aquela canção só me fez pensar em Mitchell – explicou Allison. Foi até errado de minha parte, mas fiquei muito impressionado pelo fato de ela mentir com tanta convicção. Jake, que pareceu ter engolido a história, olhou de modo envergonhado para Eli. – Me desculpe pelo momento complicado, cara. Eli encolheu os ombros. – Está tudo bem, mas esfrie a cabeça quando se trata de quem Allison está namorando. – Sério? – Jake desafiou, o queixo empurrado para cima desafiadoramente. – Se não fizer isso, vai sofrer um derrame antes que chegue a hora de Jules namorar. Jake estremeceu. – Não adianta colocar na mesma frase as palavras Jules e namoro. – Ele esfregou o peito. Meu coração não aguenta o pensamento de um garanhão tentando se aproveitar de minha menininha. Um auxiliar apareceu na porta. – Desculpe, Jake, mas Abby está lá, pronta pra ensaiar. Jake confirmou com a cabeça, num gesto de gratidão. – Estarei lá. Quando o auxiliar nos deixou sozinhos de novo, Jake olhou Allison. – Você ficará bem? Allison sorriu. – Sim. É melhor eu ajudar Mia e Lily com os gêmeos. Em seguida, Jake e Eli saíram, e Allison e eu ficamos novamente sozinhos. – Vamos comigo? – ela sugeriu. Concordei com um gesto de cabeça e depois a segui pelo corredor até o camarim do Runaway Train. Allison abriu a porta, e o quarto escuro estava tranquilo. Jax e Jules cochilavam no bercinho portátil de lona. Mia se sentava no sofá em frente a eles, alimentando Gabe com uma mamadeira. Quando nos viu, ela se levantou do sofá. – É melhor eu me certificar de que Bella não está destruindo alguma coisa lá no final do corredor... Ou devo dizer que AJ e Bella não estão destruindo? – ela disse com um sorriso. Allison deu uma risadinha. – Obrigada por tomar conta deles pra mim.


Mia olhou de relance o espaço entre nós dois e piscou: – Sem problema. Depois que ela saiu, deslizei o braço pela cintura de Allison e ficamos lá juntos, olhando os bebês dormindo. Após o suspiro de satisfação de Allison, sussurrei no ouvido dela: – Estou tão feliz que não vai deixá-los. Ela concordou com um gesto da cabeça. Então, olhou-me e sorriu. – Mas também me sinto feliz por não ter de deixá-lo – retrucou ela, e meu coração vibrou freneticamente. – Eu também. E ficamos apenas ali, até que ouvi meu nome para o ensaio. Então, e só então, eu me levantei.


Dezessete

ALLISON

Depois que Rhys abriu seu coração e me pediu perdão, eu não queria nada mais do que me entocar em algum lugar a sós com ele por semanas e semanas. Mas nada em nossas vidas parecia ir do jeito que eu fantasiava. Depois que Eli nos encontrou no camarim, não tivemos outro momento para nós mesmos naquela noite. Estávamos, constantemente, com Jake e Abby e os outros membros do Runaway Train. Quando chegou a hora de sair de Portland para Seattle, não consegui esconder a surpresa quando Rhys passou direto pelo ônibus do Jacob’s Ladder e veio comigo para o de Jake e Abby. – O que você está fazendo? Ele revirou os olhos alegremente. – Ficando com você. O que parece que estou fazendo? Enquanto subíamos as escadas do ônibus, respondi: – Ao mesmo tempo em que fico tocada, acho que não gostaríamos de fazer alguma coisa que chamasse a atenção dos outros. – É, bem, eu estava pensando que, embora Eli pareça aceitar bem a situação entre nós dois, pode ser uma boa ideia dar um tempo para ele esta noite. – O que você vai dizer a Jake e Abby? Rhys encolheu os ombros. – Vou pensar em alguma coisa. Ele não teve muito tempo para pensar em uma história porque Jake e Abby subiram as escadas em seguida, com os gêmeos a reboque. Jake ergueu as sobrancelhas quando viu Rhys. – E aí cara? Você se perdeu? Com uma risada, Rhys respondeu: – Não, apenas pensei que poderia dormir aqui esta noite. – E olhou diretamente para Abby. – Seus irmãos parecem ursos com a porra do ronco deles.


Abby riu. – Sim, é mesmo. Para conseguir dormir bem, eu tinha que usar fones de ouvido quando ficava no ônibus com eles. E foi assim que escapamos da possível confusão. Ajudei Abby a dar as mamadeiras a Jax e Jules, então os pusemos para dormir nos berços. Enquanto Jake e Rhys se sentaram na sala bebendo cerveja e batendo papo, eu me esgueirei para o banheiro e vesti uma camiseta e calça de pijama. Quando saí, encontrei Abby, que tinha se juntado aos dois e estava descansando no colo de Jake. Quando ela se inclinou e sussurrou algo no ouvido do meu irmão, os olhos dele se arregalaram. – Sim, todos nós devemos ir para a cama. Abby e eu ainda estamos meio fracos e em recuperação. – Ceeeeerto. É por isso que você está indo para a cama agora – Rhys murmurou com o gargalo da cerveja na boca. Abby, brincando, bateu na perna dele antes de se levantar do colo de Jake. – Boa noite, pessoal – eu disse. – Boa noite, Allie-Bean – Jake falou, parando a caminho do quarto para me dar um beijo. Abby sorriu para mim antes de desaparecer dentro do quarto com Jake. Eu me virei e olhei para Rhys. – Acho que é melhor irmos para a cama. – Percebendo meu erro, abaixei a voz e acrescentei rapidamente: – Quero dizer, nós devemos ir aos nossos respectivos dormitórios para ir para a cama. Rhys sorriu e permaneceu no sofá, coçando as orelhas de Angel. – Eu vou ficar aqui por um tempo. Relaxar um pouco. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu queria um beijo de boa-noite dele. Mas, mesmo que tivesse certeza de que Jake e Abby estavam ocupados e não iam sair tão cedo, não arrisquei. – Boa noite, Rhys – falei baixinho. – Boa noite, Allison. Então me apressei pelo corredor até meu dormitório. Na hora que me acomodei, não conseguia dormir. Não com o pensamento de que Rhys estava tão perto, mas tão longe. O jeito foi pegar meu caderno de desenho e lápis no cubículo em cima da cama e começar a trabalhar em alguns projetos. Não sei há quanto tempo estava trabalhando quando pensei ouvir um movimento fora do meu dormitório. Após concluir que eram passos no corredor, repousei o lápis sobre o bloco. De repente, a cortina do meu dormitório foi aberta de uma vez. Antes que eu tivesse chance de reagir, Rhys se enfiou dentro dele, cobrindo meu corpo com o seu, completamente nu. Meus olhos se arregalaram em horror. – O que você está... Ele me silenciou, colando os lábios nos meus. Imediatamente, gemi. Parecia uma eternidade desde que eu pudera beijá-lo assim. Nossas bocas se moveram desesperadamente uma contra a outra, como


se estivéssemos tentando sentir cada única sensação tudo de uma vez. Sua língua roçou levemente em meu lábio inferior, elevei a minha ao encontro da dele. Quando nossas línguas começaram a se enroscar, a umidade brotou entre as minhas pernas. Claro, não me incomodou em nada o fato de o quadril de Rhys estar bombeando contra o meu, um movimento perfeito que estava me deixando louca. Assim que Rhys se afastou da minha boca, gemi de frustração. Ignorando-me, ele beijou e mordiscou uma trilha do meu queixo até a minha orelha. O hálito quente e doce fez cócegas nela antes de ele falar com uma voz suave: – Não fique com raiva por eu ter vindo para você desse jeito. Sei que você disse que ia me fazer dar duro pelo sexo depois da briga. Mas pensei que, se eu ficasse lá mais um minuto tão perto de você, mas ao mesmo tempo tão longe, ia explodir. – Você realmente sentiu minha falta tanto assim? – sussurrei. Rhys assentiu e colocou a cabeça no meu ombro. Era impossível não imaginar se ele sentira minha falta ou simplesmente precisava desesperadamente de sexo depois de tanto tempo. Eu não tive de imaginar por muito tempo. Devo ter ficado tensa porque ele aproximou os lábios do meu ouvido novamente: – Sempre que não estou com você, sinto sua falta. Sinto falta do seu sorriso, da sua gargalhada, da maneira como você mordisca o lábio inferior quando está nervosa ou muito pensativa. Acima de tudo, sinto falta da forma como vê o melhor de mim quando não mereço isso. – Então, ele mudou de lado o quadril antes de empurrar de volta contra mim, e engasguei com a sensação do seu pau esfregando contra meu clitóris através da minha calça de pijama. – Mas eu estaria mentindo se não admitisse que senti falta de estar dentro de você também. Lambi o lábio inferior, já inchado pelos beijos de Rhys. – Mas Jake e Abby estão logo abaixo no corredor. Não podemos ser pegos – sussurrei. – Não vamos. Ficaremos em silêncio – ele disse. Embora eu o quisesse enterrado bem lá no fundo, meu maior medo era Jake descobrir nosso relacionamento surpreendendo-nos fazendo sexo. Rhys segurou meu rosto. – Relaxe, querida. – Suas mãos foram para o cós da minha calça de pijama. Não sei como ele conseguiu baixá-la tão rápido naquele espaço confinado, mas a próxima coisa que percebi foi um ar frio que batia em minhas coxas. Eu estava, mais uma vez, prestes a protestar que não era uma boa ideia a gente transar no dormitório quando a boca deliciosamente talentosa de Rhys se enfiou entre minhas pernas, lambendo e chupando meu clitóris. Esquecendo onde eu estava, gritei de prazer, fazendo Rhys colocar a cabeça para cima e bater no teto do dormitório. – Shh – ele sussurrou. Um rubor quente de constrangimento encheu meu rosto.


– Sinto muito. Só que isso foi bom demais – sussurrei. Ele sorriu. – Normalmente, eu adoraria ouvir isso, mas não agora. Depois de fazer um gesto de fechar um zíper em meus lábios, ele revirou os olhos, sorriu e baixou a cabeça. Eu enfiei os dedos de uma de minhas mãos por entre seus cabelos enquanto a outra mão cobria minha boca para manter os gemidos e murmúrios tão silenciosos quanto possível. No momento em que ele enfiou a língua dentro de mim, eu já tinha enchido a palma da minha mão de marcas de mordida para me manter em silêncio. Justo quando estava para gozar, ele se afastou. – Rhys – murmurei com as pernas como tesoura, tanto para obter o atrito de que eu precisava como para mantê-lo preso no lugar. – Quero estar dentro de você quando você gozar – ele sussurrou. Concordando, abri as pernas para ele se acomodar entre elas. À medida que a cabeça do pênis cutucou minha entrada, respirei fundo. Rhys inclinou a cabeça para sussurrar no meu ouvido: – Eu não estive com ninguém além de você... E fiz o teste, e estou limpo. Pensei que, com você tomando pílula... Não comentei nada, e ele se afastou para me olhar. – Allison, tudo bem? – Sim, claro que está. Com seu impulso forte, nós dois gememos um pouco alto demais. Depois que ele se esticou e me encheu completamente, permaneceu imóvel por alguns segundos. Acho que estávamos em silêncio esperando para ver se Jake não iria se intrometer depois de nossos gemidos altos. Quando nos pareceu tudo bem, Rhys saiu lentamente de mim. Assim que a cabeça do seu pau saiu, ele o empurrou novamente para dentro. Depois de fazer isso várias vezes, acabou encontrando seu ritmo. Meu peito começou a subir e descer, acompanhando os movimentos de Rhys. Seu hálito quente, mais uma vez, aquecia minha orelha. – Humm, Allison, você é muito gostosa... É tão bom estar de volta dentro de você – ele murmurou em meu ouvido enquanto acelerava o ritmo. Segurando seu rosto em minhas mãos, passei os polegares pela barba por fazer em seu queixo. Inclinando o rosto, olhei em seus olhos. Em um primeiro momento, havia puro desejo queimando neles. Então, quanto mais tempo sustentei o olhar, notei a mudança. Intensidade, e não apenas desejo. Intensidade brilhava neles. Por um momento, imaginei que estavam ilustrando todas as coisas que ele queria dizer, mas não podia... ou não devia. Desejar uma conexão mais profunda com ele causou uma agonia em meu peito. Precisando controlar as emoções, puxei a boca de Rhys até a minha. Se eu o estivesse beijando, não teria mais de olhar em seus olhos; não teria de ver seus sentimentos por mim, os quais ele era incapaz de compartilhar. Mas Rhys se afastou de meu beijo. Seu quadril desacelerou o ritmo frenético de estocadas. Em vez


disso, seu olhar intenso, mais uma vez, sustentou o meu. – Eu amo você, Allison – sussurrou. Meu coração quase parou, causando uma dor fraca que queimou meu peito. Ele realmente havia dito as palavras que eu esperava há tanto tempo ouvir? Como se sentisse minha descrença, Rhys sorriu e afagou meu rosto. Então abaixou a cabeça para falar em meu ouvido: – Eu te amo com todo meu coração e alma. Me desculpe que tenha demorado tanto tempo para dizer isso. Sei que, amontoado neste dormitório, não é o lugar mais romântico para uma declaração, mas espero que possa me perdoar e acreditar em mim. Lágrimas brotaram em meus olhos. Tive de lutar para não cair do penhasco emocional e começar a chorar tão alto que iria acordar Jake e Abby. Em vez disso, mordi o lábio até que senti um gosto metálico correr na língua. Rhys finalmente dissera que me amava. Claro que, futuramente, eu teria de falsificar os detalhes um pouco para qualquer outra pessoa. Essa não seria exatamente a história certa para compartilhar com nossos futuros filhos sobre como seu pai, no meio da noite, enquanto estava enterrado dentro de mim, durante o sexo em um dormitório de ônibus, finalmente encontrara as palavras que eu estava ansiosa por ouvir. Quando se afastou, a expressão de Rhys era de uma preocupação curiosa. – Você está bem? Como eu não ousaria confiar em mim para responder sem chorar, fiz que sim com a cabeça. Peguei seu rosto com as mãos e, em seguida, puxei sua cabeça até a minha para um beijo profundo. Rhys, mais uma vez, começou a se mover dentro de mim. Em vez de acelerar o ritmo, ele o manteve constante. Isso significava mais do que qualquer coisa no mundo, porque ele estava realmente fazendo amor comigo. Embora não tivesse importância se eu gozaria ou não por causa de como estava me sentindo emocionalmente, Rhys ajudou nessa questão, mergulhando a mão entre nós para manipular meu clitóris. Seus dedos musicais mágicos, mais uma vez, funcionaram e me levaram ao orgasmo. Ele gozou logo depois de mim. Rhys desmoronou contra mim em um emaranhado de braços e pernas. Enquanto seu peito subia e descia com a respiração forte, eu beijei o topo de sua cabeça e seu rosto. Ele se ergueu para sorrir. – Eu te amo – ele disse novamente. Devolvi o sorriso. – Você sabe que eu te amo. Nunca deixei de te amar. Vou te amar até o dia que eu morrer – sussurrei. Ele trouxe seus lábios aos meus para um beijo apaixonado. Depois de se afastar, saiu de cima do meu corpo e rolou. Quando fui me afastar dele, Rhys agarrou meu braço. – Para onde você vai? – sussurrou.


– Banheiro. Ele balançou a cabeça e recostou-se no travesseiro. Levantando um lado da cortina, olhei para o quarto de Jake e Abby. A porta ainda estava fechada, e tudo parecia tranquilo. Graças a Deus os gêmeos tinham começado a dormir durante a noite algumas semanas atrás. Puxando a barra da minha camiseta, passei pelo corredor com a bunda quase de fora. Depois de usar o banheiro, voltei na ponta dos pés para meu dormitório. Meu batimento cardíaco foi a mil quando puxei a cortina e encontrei Rhys ainda lá. Ele levantou as cobertas para que eu pudesse deslizar para dentro. Uma vez acomodada ao seu lado, senti como se meu coração fosse explodir para fora do meu peito. Depois de ficar lá alguns momentos, apoiei a cabeça para olhá-lo. – Você não deveria voltar para o seu dormitório? – sussurrei finalmente. – Você está tentando se livrar de mim? Eu sorri. – Nunca. Ele sorriu também. – Por um momento, pensei que tivesse resolvido seu problema comigo, e agora não precisasse mais de mim. – Tenho certeza de que foi você que resolveu o seu problema comigo. – Tanto faz. Eu não te consideraria uma garota do tipo para dar uma rapidinha. – E não sou. E adoraria que ficasse a noite toda comigo. – Pensando em Jake, perguntei: – Você acha que vai ficar tudo bem? – Você está com seu telefone? – Quando fiz que sim, ele disse: – Basta programar o alarme para meia hora antes do horário em que os gêmeos geralmente acordam. Nós ficaremos bem. – Boa ideia. – Eu sempre tenho um plano. Eu lhe dei uma cotovelada de brincadeira enquanto tateava pela prateleira sobre a minha cabeça. Pegando o celular, eu o programei para as cinco horas. Os gêmeos geralmente acordavam por volta das seis, e eu não queria correr o risco com uma folga de apenas meia hora. Depois que coloquei o aparelho de volta na prateleira, aconcheguei-me de volta contra Rhys e caí em um sono profundo e satisfeito.


Dezoito

ALLISON

Como era minha rotina matinal no ônibus, fui acordada pelos gritos saudáveis de Jax e Jules. Remexendo-me da minha cama, esbarrei em algo quente e duro e abri os olhos: o corpo de Rhys se aconchegava no meu com o braço serpenteando minha cintura, a mão cobrindo meu seio por baixo da camiseta. – Merda! – gritei. Ele despertou lentamente. – Qual o problema? – ele perguntou, esquecendo-se de falar baixo. Dando uma cotovelada nele, sibilei: – Shh! Quando ficou tenso ao meu lado, eu sabia que ele tinha percebido que estávamos na merda. Já era de manhã, e ele ainda não havia voltado para sua cama como deveria. Agora, Jake e Abby estavam acordados com os gêmeos. – O que aconteceu com o alarme? – ele perguntou. – Sei lá. – Balancei a cabeça. – Deus, estamos bem ferrados. – Olha, vou só tomar uma chuveirada. Eles não notarão a diferença. – Espero que esteja certo. – Confie em mim – ele murmurou após dar um beijo casto nos meus lábios. Apesar de adorar que Rhys ficasse comigo por mais tempo, eu sabia que ele tinha de sair. Então, quando ele estendeu a mão para puxar a cortina, a voz de Jake o congelou: – Tá certo, vou esquentar as mamadeiras. Rhys e eu trocamos um olhar apavorado antes de a porta do quarto se abrir. Ouvindo os passos de Jake pelo corredor, respirei fundo. E, quando pensei que estivesse a salvo, a mão dele bateu em minha cortina. – Allie-Bean?


Ai, que merda, que merda, que merda. – Que foi? – Seu bloco de desenho está aqui fora, no chão. – Opa! Devo ter batido nele enquanto dormia – retruquei. Assim que Jake começou a puxar a cortina, gritei e bloqueei as mãos dele. – Não, não, não me vesti ainda! – Credo, me desculpe. Não sabia que você era tão recatada. – Sim, é um mau traço do meu caráter – retruquei. – Quer que eu deixe o bloco em cima da mesa pra você? – Sim, por favor. Uma vez que Jake voltara em segurança para o corredor, exalei ruidosamente. – Essa foi por pouco – murmurei. Rhys concordou. Respirando fundo, ele afastou a cortina, espiou o ambiente e pulou da cama. No entanto, quando eu já ia suspirar aliviada, a voz de Jake despertou em mim um medo dos infernos. – Cara, que porra é essa? – ele perguntou. Espiando através da cortina, vi direitinho a bunda nua de Rhys enquanto ele saía do quarto. Observando em torno dele, observei que Jake olhava horrorizado para Rhys. – Qual o problema? – perguntou Rhys indiferente. Balançando uma das mamadeiras dos gêmeos, Jake respondeu: – Ah, não sei. Talvez o fato de você ser o machão de bunda pelada no meio do corredor? Rhys sacudiu os ombros. – Você sabe que durmo sem roupa; sempre dormi. E dá pra evitar isso se você me surpreendeu bem quando eu ia entrar no chuveiro? – Você se esqueceu de que Allison está no ônibus? Não quero que ela seja obrigada a ver tua bunda pelada logo de manhã. – Cara, que merda. Eu esqueci. Acho que me acostumei a sair deste jeito com Eli e Gabe. Jake fez uma careta. – Tente não esquecer de novo. Também não quero que Abby te veja assim. Apoiando as mãos nos quadris nus, Rhys perguntou: – Você tem medo do que poderia acontecer se ela visse um homem de verdade nu? – Acredite em mim, seu filho da puta, ela já viu um homem de verdade nu. E também teve um homem de verdade no meio das pernas dela. – JAKE! – Abby gritou de dentro do quarto. E não sei se foi em razão do comentário sobre sua vida sexual ou do recomeço do choro dos gêmeos. – Leve logo sua bunda pro chuveiro – Jake murmurou, conforme contornava Rhys para levar as mamadeiras para Abby e para os gêmeos.


– Sim, sim, capitão – Rhys provocou antes de correr em direção ao banheiro. Uma vez que ele estava no chuveiro e Jake voltara ao quarto, finalmente senti que poderia respirar de novo. Saindo do meu colchão, desenrolei minha grossa calça de pijama e coloquei-a. Em seguida, saí da cama e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo no meio do caminho para a cozinha, onde, assim que cheguei, liguei a cafeteira. Quando o barulho do chuveiro cessou, coloquei biscoitos congelados em uma assadeira e, no micro-ondas, um prato cheio de salsicha e bacon. A porta do banheiro se abriu, e Rhys enfiou a cabeça para fora, sorrindo ao me ver. – Tudo limpo? – Até agora sim. Usando apenas uma toalha de banho enrolada na cintura, Rhys caminhou em minha direção, parecendo malditamente gostoso com as gotas de água brilhando em seu peito e abdômen. A toalha pendia bem baixa nos quadris, enchendo meus olhos com a visão da barriga tanquinho e uma trilha de pelos descendo por ela. Antes que eu protestasse, ele me puxou para seus braços e comprimiu os lábios nos meus. Meu hálito de manhã não devia ser dos mais agradáveis, mas Rhys não pareceu se importar. Então se afastou e sorriu. – Gostei de ontem à noite. – Do sexo escondido? Ele fez que não com a cabeça. – De dormir com você. Eu sorri. – Ah, eu gostei também, juntamente com os orgasmos. – Ele respondeu ao meu tom sensual com uma risada baixa. Então, o grito de felicidade de Jules ecoando pelo corredor quebrou o clima. – Preciso de um banho. – Faça isso. Quando me virei para ir ao banheiro, Rhys, brincando, deu um tapa na minha bunda, e acabei gritando. A porta do quarto se abriu. – Allison, você está bem? – Jake perguntou com Jules apoiada no quadril. – Estou bem. Jake olhou para Rhys e eu. – Mas por que você gritou? Acenando a mão com arrogância, respondi: – Oh, vi uma aranha, mas felizmente Rhys a matou. Rhys balançou a cabeça, incorporando minha mentira. As sobrancelhas de Jake indicaram desconcerto, mas, antes que continuasse me questionando, ele aspirou o ar com prazer.


– É bacon? Eu ri. Comida desviava a atenção de Jake da possibilidade potencial de arrebentar nós dois. – Sim, e também coloquei alguns biscoitos para assar. – Ah, você é legal com seu irmão mais velho, não é? – Você age como se eu tivesse sapecado um banquete a partir do zero. Eu, dificilmente, chamaria uma carne de micro-ondas de um café da manhã impressionante. Lançando um braço sobre meu ombro, Jake me puxou para o lado dele. – Ainda assim é muito delicado que você se importe tanto comigo e com Abby. – Fico feliz em fazê-lo. Jake beijou meu rosto. – Ah, eu te amo, Allie-Bean. – Eu também te amo. – Sempre exigindo atenção, Jules gritou e agitou as pernas. – E eu te amo, senhorita Jules. – Ela me recompensou com um imenso sorriso. Em seguida, fui até o banheiro para uma ducha rápida. Sob o fluxo de água quente, meus músculos sobrecarregados da noite anterior gritavam em agonia. Como meu estômago roncava, decidi abrir mão de secar o cabelo. Em vez disso, eu o deixei molhado para que secasse naturalmente. Quando saí do banheiro, todos já estavam sentados à mesa. – Espero que tenha guardado alguma coisa pra mim – eu disse, conforme me acomodava no lugar vago ao lado de Rhys. Abby sorriu. – Foi difícil com esses dois aí e seus estômagos sem fundo. Sob a mesa, a mão de Rhys descansou em minha coxa antes de apertá-la gentilmente. Enquanto eu mordia meu bacon, dei-lhe um sorriso tímido. Ele piscou para mim e logo voltou a comer. Conforme Jake trazia um prato lotado de comida até a mesa, ele me perguntou mais uma vez: – Você está se sentindo bem? Afastando meu cabelo por cima do ombro, respondi: – Claro que sim. Por quê? – Parece que você não dormiu muito bem, e acho que te ouvi gemer várias vezes, como se estivesse tendo um pesadelo. Ao meu lado, Rhys regurgitou o gole de suco de laranja que havia acabado de tomar antes de sucumbir a um acesso de tosse. – Você está bem? – perguntei-lhe, batendo em suas costas algumas vezes. – Sim, estou bem – ele respondeu com a voz sufocada. Por algum motivo, os gêmeos acharam o engasgo de Rhys a coisa mais engraçada e começaram a gargalhar em suas cadeiras, um riso contagiante, que fez todos rirem também. Foi uma distração bemvinda à pergunta de Jake e à reação de Rhys.


Este, após secar o suco derramado sobre a mesa, pigarreou. – Então, humm, você vai ver Micah hoje, né? – perguntou ele de modo muito conveniente, mudando de assunto. O rosto de Abby se abriu em um sorriso largo ante o nome de seu irmão mais velho, aquele em cujo lugar ela ficara no Jacob’s Ladder. – Sim, ele e a esposa Valerie estão vindo nos ver antes do show. – O que ele está fazendo em Portland? – perguntei. – Ele foi designado para ser pastor de jovens em uma igreja lá. E está mesmo feliz. – Inclinando a cabeça em um gesto pensativo, ela acrescentou: – Às vezes, acho que ele sente um pouco de saudade da música. Precisamos convencê-lo a tocar com a gente hoje à noite. – Isso é demais – eu disse. – Você vai ficar fora da cadeia hoje, Allie-Bean. Micah e Valerie ainda não conhecem os gêmeos. – Ah, entendo. Eu me senti meio atordoada com a ideia de ter quase o dia todo livre, o que implicava mais tempo com Rhys; naturalmente, a maioria dele em segredo. Embora Rhys quisesse, de todo modo, contar a verdade sobre nós a Jake, eu não me sentia preparada. Afinal, eu sabia como fora horrível, conforme Rhys havia me contado, Jake ir para cima de Eli pensando que ele tivesse me magoado. E sabia que aquilo tudo seria uma pequena gota no oceano quando meu irmão soubesse que estávamos namorando. Rhys deve ter compartilhado minha emoção sobre o tempo que teríamos juntos, porque, de novo, apertou minha coxa sob a mesa. Um arrepio de expectativa me percorreu, mas, considerando que me sentava à frente de Jake e Abby, precisei me controlar. Pelo menos até que ficássemos juntos novamente.

Três horas depois, o ônibus se dirigiu ao estacionamento de Rose Quarter, a arena em Portland. Jake não havia exagerado sobre Micah, Valerie e os gêmeos. No momento em que saímos do ônibus, eles estavam esperando ansiosos para pegar os gêmeos. Após muitos abraços e algumas lágrimas de Abby, entramos apressados para alguns ensaios. Meio desapontada, observei Rhys e o Runaway Train subirem no palco para ensaiar. Recuei a fim de observá-los, pois raramente assistia aos shows, em virtude de cuidar dos gêmeos. E então só a imagem de Rhys tocando me fez corar. Ela me levou de volta ao chuveiro em Savannah, quando ele havia me tocado como fizera com o violoncelo. O homem tinha mesmo os dedos magistrais, e isso era certeza. Quando a banda terminou, Rhys se juntou a mim abaixo do palco. Dei-lhe um sorriso radiante.


– Você e os caras estavam incríveis, como sempre. – É apenas um ensaio. Cutucando-o com meu quadril, eu disse: – Não fique envergonhado. Você deve se orgulhar de seu talento. – Obrigado por adorar nossos ensaios de merda – Rhys retrucou com um sorriso brincalhão. – Bobão – resmunguei em voz baixa. – Humm, o que eu gostaria de fazer com sua boca – ele murmurou. Enquanto Rhys se inclinava para mais perto de mim, foi interrompido por dois técnicos que passaram apressados por nós. Rhys deu um gemido de frustração. – Nunca a porra de um momento sozinhos. Então, no palco, o ensaio do dueto de Jake com Abby atraiu nossa atenção. Sempre que eles estavam em uma cidade homenageada por qualquer música, gostavam de cantá-la a dois. Agora eles, aliás, com muita propriedade, ensaiavam uma música de Jack White e Loretta Lynn: “Portland, Oregon”. Assim que Micah foi se unir ao Jacob’s Ladder no palco, fiquei imaginando como Valerie estava se virando com Jax e Jules. – Acho melhor ir até os bastidores e ver os gêmeos. – Tenho certeza de que estão bem com Micah e Valerie paparicando ambos. – Rhys me olhou meio que implorando. – Fique aqui comigo. Frente à expressão e ao pedido dele, pareceu estúpido o que eu ia fazer. Conforme a batida alta das guitarras começou a se elevar, fiquei pregada ao chão ao lado de Rhys. Atenta ao palco, vi Jake e Abby iniciarem sua apresentação. Depois, com um movimento sugestivo de sobrancelhas, Jake reduziu o espaço entre ele e Abby com calculada arrogância. Dando um sorriso afetado, ele aproximou o microfone dos lábios. – “In a booth in the corner with the lights down low, I was movin’ in fast; she was takin’ it slow.”21 Uh-huh. Abby sorriu de modo provocante, desfilando um pouco afastada dele. Eu acabei sorrindo com aquelas brincadeiras no placo. Claro que era apenas para mostrar como ainda estavam apaixonados. – “Well, I looked at him and caught him lookin’ at me. I knew right then we were playin’ free in Oregon.”22 Um momento depois de Abby terminar sua parte, senti o olhar ardente de Rhys me queimando. Quando virei a cabeça, os olhos cheios de desejo dele se estreitaram nos meus. Com um quase imperceptível movimento de cabeça, ele indicou querer que ficássemos sozinhos. E logo. Com o coração batendo descontroladamente, eu me virei e comecei a sair do auditório, rumo aos camarins. Nem sequer olhei para ver se Rhys me acompanhava. Felizmente para nós, o corredor estava vazio. O corpo dele pressionava-se contra o meu, até que ele me empurrou para o camarim da


banda. Enquanto um dos braços de Rhys serpenteava em torno de minha cintura, puxando-me diretamente ao encontro do corpo dele, o outro trancou a porta. Logo, nossas línguas se tocavam, e nossas mãos percorriam o corpo um do outro; eu mal conseguia respirar. Conforme ele me apoiava em todo o cômodo, passando pela mesa e a cadeira, puxou minha boca e começou a beijar uma trilha quente sob meu queixo, a respiração queimando em meu pescoço. – Caralho, Allison, você me deixa louco – ele murmurou enquanto eu me atrapalhava com o botão e o zíper da calça jeans. – Acho que eu podia ter você toda porra de dia e não seria o bastante. Eu ri. – É bom ouvir isso. Erguendo meu vestido, em seguida, a mão de Rhys se esfregava contra a frente da minha calcinha, enquanto um sorriso lhe marcava o rosto. – Humm, já está molhadinha pra mim? – Sim – ofeguei, conforme os dedos dele trabalhavam minha carne pubiana macia. – Quero que fique bastante louca também, certo? Sorri. – Ah, sim. Após deslizar a calcinha que eu usava, Rhys me agarrou pela cintura e me sentou sobre a mesa de maquiagem, cujo tampo estava frio. Seus dedos continuavam provocando minhas coxas, causando calafrios de prazer. Inclinando-me para frente, empurrei o jeans e a cueca dele para baixo. – Quero você dentro de mim. Agora – pedi. Rhys deu uma risadinha. – Seu desejo é uma ordem. Então colocou a mão entre nós e segurou a ereção, enquanto a outra deslizava pela minha cintura. Em seguida, ele me puxou para a borda da mesa, onde me senti premiada com o pau dele esfregando minha boceta. Com nossas bocas unidas, Rhys continuou me provocando, esfregando sua ereção para cima e para baixo no meu clitóris. O atrito começou a me enlouquecer. Afastando meus lábios dos dele, ofeguei: – Agora, Rhys. Ele empurrou duro, até que encostou as bolas na minha abertura. Gemi de prazer, agarrando os fios de cabelo da nuca de Rhys e puxei-os com força. Ele sibilou, conforme saía e entrava duro em mim. E fez essa tortura deliciosa tantas vezes que gritei. – Shh, meu amor, fique quietinha ou alguém aparecerá aqui. À medida que Rhys acelerava o ritmo, minhas costas chocaram-se contra o espelho. A pele escorregadia golpeava vinculada ao ruído dos frascos sobre a mesa, tilintando juntos. Segurando-o por trás, agarrei a bunda dele e apertei-o ainda mais para mim. Conforme Rhys mergulhava mais fundo, ele gemia e mordia meu ombro, fazendo-me estremecer.


– Mais forte, ah, me fode mais forte, Rhys – eu gritava agarrada a ele. E então, naquele momento, a porta do camarim se abriu. Eu gritei antes de abaixar a cabeça no peito de Rhys, cujos movimentos congelaram. Assim que os olhos dele encontraram os meus, eu o via secretamente imaginando como a porta fora destrancada. Ao som da voz que veio de trás dele, estremeci. – Ai, caralho, cara, sinto muito – disse Jake. Rhys não respondeu; em vez disso, seu peito subia e descia de nervosismo. Limpando a garganta, Jake falou: – Olha, odeio te interromper, mas minha garganta tá pegando pra caralho. Então, pedi a um técnico que destrancasse a porta, pra eu pegar meu spray. Afastando os quadris para trás, a ereção já murcha de Rhys deslizou do meu corpo. Enquanto ele se atrapalhava para subir a calça, eu me escondia ali, até que um riso sufocado retumbou no peito de Jake. – Não me deixe interrompê-lo, cara. Só vim pegar isto e caio fora em um minuto. Quero dizer, não é a primeira vez que te pego fodendo, né? Senti um arrepio com as palavras de Jake e, em outras circunstâncias, eu me afastaria de Rhys. Mas não podia. Precisava confiar nele para que mantivesse nós dois longe de problemas. – Tudo bem – Rhys murmurou. Para continuar me escondendo, Rhys se virou quando Jake apareceu atrás do balcão. Somente o pensamento de que meu irmão estava tão próximo já fez meu corpo tremer. Eu o ouvi arrastando as coisas sobre a mesa antes de dizer: – Entendi. – Que ótimo. Agora você pode cair fora daqui? – Rhys rosnou. – Claro, claro, já vou. Minhas desculpas a você e a sua amiga. Parece que ela está envergonhada com minha presença. Rhys não respondeu. Em vez disso, seu peito subia e descia em uma respiração pesada. Quando, enfim, me atrevi a espiar por cima do ombro dele, vi, felizmente, o corpo de Jake recuando. Conforme ele atravessou o camarim, sacudiu o frasco de spray com a mão direita. Após mudar o frasco para a mão esquerda, ele apoiou a outra na maçaneta da porta. Fui inundada pelo alívio, começando de novo a respirar direito. No entanto, o medo voltou quando a mão de Jake se congelou na maçaneta, um tremor atravessando seu corpo. – Não. Ai, caralho, não – ele resmungou.


Dezenove

ALLISON

Os ombros de Rhys ficaram tensos sob minhas mãos. Trocamos um olhar de pânico. Quase em câmera lenta, Jake se virou. Quando me atrevi a olhar para ele, sua expressão era uma mistura de agonia e fúria. – Essa porra NÃO está acontecendo! – ele rosnou. Rhys girou, levantando as mãos. – Olha, não é o que você está pensando. Os olhos de Jake se arregalaram. – Não é o que eu estou pensando? Como diabos eu poderia entender errado essa situação? Eu te peguei com a maldita calça em volta da porra dos seus tornozelos metendo com a minha... – ele fez uma careta de agonia – minha irmãzinha. – Eu sinto muito, Jake. Nunca quis que você descobrisse desse jeito – eu disse enquanto deslizava para fora da mesa e endireitava o meu vestido. Extremamente envergonhada, abaixei-me para pegar minha calcinha jogada no chão. Nem me atrevi a tentar colocá-la de novo, então a enfiei no bolso do meu vestido. Jake fechou os olhos bem apertados com minha atitude. Em seguida, com a voz estrangulada, ele disse: – Não fale comigo agora. Eu não posso sequer suportar ouvir a sua voz agora depois de ver você sendo usada como uma... puta. Respirei atormentada com a dureza de suas palavras. Rhys deu um passo em direção a Jake. – Que porra é essa? Não fale assim de Allison. – E você não me diga como falar com a minha irmã! – Jake gritou. – Quer saber, vai se foder, se você vai agir como um idiota – Rhys retrucou. Do nada, Jake se lançou para Rhys, fazendo-me gritar. O barulho do punho de Jake no queixo de Rhys ecoou pela sala, e eu tapei os ouvidos para tentar bloquear o ruído. Rhys cambaleou para trás e estremeceu quando esfregou o queixo.


– Jake, eu não quero brigar com você. Por favor, vamos apenas conversar sobre isso – disse Rhys diplomaticamente. – O tempo para falar já passou, seu papa anjo filho da puta. Você deveria ter tido a porra da decência de falar comigo sobre isso antes, mas não, você tinha que ser um covarde e se esconder por aí, comendo a minha irmã nas minhas costas. – Sinto muito. Eu sei que sou. Mas ficar brigando não vai mudar nada. Jake estreitou os olhos azuis. – Não, mas eu tenho absoluta certeza de que te deixar todo quebrado e sangrando vai me fazer sentir bem pra caralho! – E então ele deu um soco na barriga de Rhys e, em seguida, outro em seu queixo. Dessa vez, Rhys não se recusou a lutar e deu dois socos de volta em Jake, acertando no rosto e no peito. Com um grunhido frustrado, Jake começou a esmurrar o rosto e o peito de Rhys. – Não, Jake! Pare! – gritei. Agarrando-me em suas costas, tentei puxar Jake para longe de Rhys. Mas, com sua adrenalina a mil, meu irmão me arrancou com tal força que bati contra a parede e caí no chão. – Você a machucou! – Rhys gritou. Balancei a cabeça enquanto tentava recuperar o fôlego. – Não... quis... machucar – tentei argumentar, mas Rhys não quis ouvir. Ele se atirou em Jake, e os dois cambalearam para trás. Quando as pernas de Jake bateram na borda da mesa, ele caiu em cima, com Rhys agarrado a ele em um emaranhado de braços e pernas. A mesa rachou sob o peso combinado dos dois e, em seguida, se partiu em pedaços. Jake e Rhys se soltaram por um momento quando caíram no chão, mas depois recomeçaram com os socos e chutes, no chão, no meio dos escombros da mesa. A porta do camarim se abriu, quase saltando de suas dobradiças. AJ e Brayden ficaram de olhos arregalados e boca aberta com a cena diante deles. – Por favor! Façam-nos pararem! – implorei. Imediatamente, eles correram até os dois. – Parem com isso, caras! – AJ gritou, enquanto estendia a mão para tentar agarrar e separar Rhys de Jake. Tudo o que ele conseguiu fazer foi levar de Rhys uma cotovelada no estômago. – Filho da puta! – AJ gritou com o rosto enrugado de dor. Depois de analisar a briga, Brayden caminhou até a mesa do camarim, abriu uma gaveta, vasculhou seu conteúdo e pegou uma pequena caixa trancada. Enquanto ele ajustava a combinação, eu não conseguia imaginar o que estaria lá dentro: spray de pimenta ou um Taser talvez? A realidade era mais louca do que eu tinha imaginado. Meus olhos se arregalaram de horror quando ele levantou uma pistola elegante, prata, no ar. E disparou uma vez, me fazendo gritar e quase morrer de susto. Felizmente, o tiro foi suficiente para parar a luta. Rhys largou Jake e rolou, ficando sobre as costas


do companheiro. – Bom trabalho com a arma – AJ ponderou enquanto esfregava seu estômago. – Sim, a última coisa que eu ia fazer era arriscar quebrar minha mão se encostasse nesses brigões do caralho. AJ bufou. – Nem me fale. Acho que Rhys quebrou uma das minhas costelas. – Fresco – Rhys murmurou, o que fez AJ chutar de brincadeira a bunda de Rhys. Naquele momento, dois seguranças da arena, juntamente com dois guarda-costas do Runaway Train, apareceram na porta. Eles olharam a cena, verificando a situação. – Está tudo bem por aqui? – um dos seguranças perguntou com as sobrancelhas interrogativamente inclinadas. Mostrando a pistola, Brayden respondeu: – Está tudo bem. Tive que usar isto para chamar a atenção dos meus companheiros de banda. Nós temos licença para a arma, oficiais. É transportada em uma caixa trancada com os suprimentos de maquiagem no caso de as coisas começarem a ficar feias e nossos guarda-costas não poderem chegar até nós. Os guarda-costas assentiram com a cabeça a compreensão das palavras de Brayden. – Tudo bem. Só quisemos verificar – o guarda respondeu. E então os quatro se foram. Cruzando os braços à frente do peito, Brayden perguntou: – Agora vocês podem dizer pra nós por que diabos estavam brigando? Rhys tossiu antes de cuspir um bocado de sangue sobre o tapete. – Não é da sua maldita conta. Os olhos escuros de AJ estreitaram. – Com licença? Nós encontramos nossos dois colegas de banda, nossos irmãos, no chão brigando, e isso não é da porra da nossa conta? – Ele não é meu irmão – Jake devolveu. Com um grunhido, ele se sentou. – Você devia ter me deixado matá-lo pelo que ele estava fazendo. AJ e Brayden trocaram olhares. – O que você quer dizer? – AJ perguntou. – Eu cheguei aqui e o encontrei desrespeitando a minha irmã como se ela fosse uma fã vagabunda. Engoli em seco enquanto as lágrimas ardiam em meus olhos em função das dolorosas palavras. – Não foi assim – Rhys protestou. – Você estava transando com ela no nosso camarim contra o espelho de maquiagem! Balancei a cabeça. – Jake, por favor, nos deixe explicar. Eu prometo que não é só sexo.


Jake virou seu olhar para mim. – Não há nada para explicar. Você vai fazer suas malas, e estará no próximo voo que sair daqui. Minha boca se abriu em choque. – Como é? – Eu não vou ficar parado e deixar que ele se aproveite de você. – Ele não está se aproveitando de mim, eu juro. – Ah, tá bom – Jake disparou. O pensamento de ser mandada para longe de Rhys era quase insuportável. Indo para a frente, agarrei o braço de Jake. – Você não percebe? Eu amo Rhys! – desabafei, meu corpo começando a tremer pelos soluços. Choque e incredulidade se dividiram pela sala, momentaneamente cortando o argumento de Jake. AJ e Brayden olharam um para o outro antes de olhar para Jake. Como se esperassem que minha explosão de lágrimas fizesse recomeçar tudo, eles se puseram de forma protetora na frente de Rhys. A pistola continuava na mão de Brayden. Jake não se mexeu. Ele não avançou para Rhys nem agiu como se quisesse estrangulá-lo. Mal piscou enquanto me olhava. Através das lágrimas, vi quando Rhys deu um passo hesitante para a frente. – E eu amo Allison com todo o meu coração – ele disse com a voz engasgada. Meus soluços se transformaram em uma gargalhada. – Você é tão estúpido, Jake. Não percebe que eu amo Rhys desde que tinha 13 anos de idade? Os olhos escuros de Jake se arregalaram em choque, enquanto me fitava. AJ e Brayden, mais uma vez, avançaram para formar um arco de proteção em torno Rhys. Quando o olhar de Jake ficou gelado, eles deveriam ter ficado parados na minha frente. Depois de alguns segundos de silêncio, ele finalmente falou: – Quer saber? Isso é besteira. Você é só uma criança de 20 anos de idade, garota; você não sabe nada sobre o amor – ele rosnou. As minhas lágrimas secaram com a raiva por Jake desprezar os meus sentimentos. – Como ousa ficar aí tentando me dizer o que sinto? Sei o que é o amor. E eu o amo! – eu disse apontando para Rhys. – Não importa o que você faça, não pode mudar o que sinto por ele. Antes que Jake pudesse dizer alguma coisa, Rhys passou por AJ e Brayden para ficar ao meu lado. Arregalando meus olhos, eu o olhava sem acreditar quando ele pegou minha mão na sua. Depois de levá-la à boca e beijá-la com suavidade, ele disse: – Você não pode impedir que a gente fique juntos. Estou planejando me casar com ela algum dia. Soltando com um chiado a respiração que eu estava segurando, lutei para manter as emoções sob controle ao ouvir Rhys expressar seus sentimentos intensos na frente de todos. Levantando as sobrancelhas, Jake questionou cético:


– Está planejando mesmo? Rhys sorriu e apertou minha mão. – Sim, realmente estou. Quando pensei que não poderia ficar mais feliz, Jake me esmagou. – Tá bom, bem, foda-se. Allison, você ainda vai estar fora daqui no próximo avião. – Mas eu não quero ir. Jake ergueu a mão para me silenciar antes de fechar os olhos em dor. – Você não entendeu? Mesmo estando tudo dito e feito, eu mal consigo te olhar agora. Ver você assim com ele... – Seus olhos se abriram, e ele balançou a cabeça. – Você partiu meu coração. – Sinto muito, Jake. Sinto muito que se sinta assim, mas, mesmo que você queira, não pode me mandar embora. Eu sou uma mulher adulta e posso tomar minhas próprias decisões. – Então, o que você acha disto? Está demitida como nossa babá e do estágio. – Ele fervia. Eu me odiava por demonstrar fraqueza quando as lágrimas encheram os meus olhos por causa daquelas palavras venenosas. – Você não quer fazer isso – protestei sem força. – Não, ele não quer – uma voz disse da porta. Virei-me para ver Abby em pé na companhia de Eli e Gabe. Com os braços cruzados à frente do peito, ela deu a Jake um olhar de quem queria matá-lo. – Isto não é assunto seu – ele retrucou. Ela inclinou a cabeça. – O quê? Embora eu possa não ser capaz de dar as cartas quando se trata do Runaway Train, sem dúvida, sou eu quem faz a escolha de quem cuida dos meus filhos. – Abby – Jake resmungou com os dentes cerrados. Atravessando o cômodo, ela apontou o dedo na cara dele. – Mas não mesmo. Não vai ser assim que você vai lidar com esta situação. Eu vou te dar um tempo para se acalmar e botar a cabeça no lugar, e só então você e Allison ou você e Rhys vão se sentar e conversar sobre isso como um ser humano civilizado faria. Não vou permitir que jogue sua irmã, que você ama e adora mais do que sua própria vida, na rua apenas por algo com que você não está feliz. – Enquanto o peito de Jake subia e descia com raiva, Abby me chocou colocando a mão no rosto dele. – Só por um minuto, quero que pense em como meus irmãos poderiam ter reagido com a gente. Eu era apenas um ano mais velha do que Allison quando ficamos juntos. – Seus irmãos não eram meus companheiros de banda. Nós não tínhamos uma porra de um vínculo e um código já por muitos anos – Jake sibilou, virando os olhos para Rhys. Rhys exalou um suspiro agonizante. – Sinto muito, cara. De verdade. Eu nunca quis fazer nada para prejudicar você ou nossa amizade – ele falou, e então olhou para mim. – Eu nunca esperava me apaixonar por Allison e, quando


aconteceu, tentei tudo que podia para não ceder a meus sentimentos. – A expressão de Rhys se tornou defensiva. – No processo de tentar negar o que eu sentia, acabei magoando muito Allison. No fim do dia, a felicidade dela, a nossa felicidade, era mais importante do que você ia pensar ou fazer. – Tá, e há quanto tempo você está mentindo para mim? – Jake perguntou. Estreitando os olhos, Rhys respondeu: – Acredite em mim, estive mentindo para mim mesmo por muito mais tempo. Se fosse para ser sincero, acho que me apaixonei por Allison na noite de sua festa de 16 anos quando ela me pediu que a beijasse. A boca de Jake se abriu e fechou como um peixe fora d’água com falta de ar. Em seguida, ele passou as mãos pelos cabelos. – Desde que ela tinha 16 anos? – Bem, não exatamente – Rhys começou, mas, em seguida, Jake investiu contra ele. Brayden e AJ se adiantaram e o impediram de tentar atingir Rhys novamente. – Chega! – Abby gritou. Ela, então, pegou Jake pelo braço e começou a puxá-lo para fora do camarim. – Não me trate como se eu fosse um moleque! – Jake rosnou. – Então pare de agir como um! – Abby rebateu. Jake a olhou por um momento antes de sua expressão se suavizar. – Amor, a única razão para eu deixar você me tratar desta maneira é porque te amo mais que a minha própria vida. Abby suspirou. – Eu sei que você ama. Mas só estou tentando evitar que faça algo de que vai se arrepender. – Quando chegaram à porta, ela olhou para nós por cima do ombro. – Quando ele estiver pronto para agir como um ser humano novamente, virei buscar vocês. – Em seguida, a porta bateu atrás dela. – Que inferno filho da puta – Rhys murmurou antes de se sentar no sofá. Ele enterrou a cabeça entre as mãos. Sentei-me ao lado dele, esfregando suas costas em círculos amplos. Quando olhei para cima, AJ e Brayden nos fitavam com curiosidade. – Vocês estão com raiva de nós também? – perguntei. A minha pergunta fez Rhys sacudir a cabeça e olhar para seus companheiros de banda. – Vocês realmente se preocupam com o que pensamos? – Brayden perguntou. – Claro que sim. Vocês dois são como irmãos para mim também – respondi. Ele me deu um sorriso genuíno. – Estou muito feliz por vocês dois. – Sério? – Rhys perguntou com um tom de dúvida na voz. Brayden assentiu.


– Mas não posso dizer que perdoo todo o segredo e as fugidas, e eu, com toda a certeza, acho que vocês poderiam ter deixado Jake descobrir de uma maneira melhor. Enquanto Rhys ria com o comentário de Brayden, meu rosto queimava de vergonha. Já era ruim o bastante Jake ter nos surpreendido fazendo sexo, mas agora Brayden e AJ também sabiam. Olhei de Brayden para AJ. – E você? AJ olhou para nós por alguns segundos e, em seguida, apertou os lábios. – Eu tenho que concordar com Brayden que vocês dois realmente sabem como foder as coisas. Mas, ao mesmo tempo, não acho que tenha ouvido Rhys dizer que ele amava uma garota. – AJ sorriu. – Fez bem ao meu coração ouvi-lo. Então, acho que vocês dois, como um casal, é bom pra caralho. Troquei um olhar com Rhys, que sorriu para mim. – Obrigado, cara. Significa o mundo para mim ouvir você dizer isso. – Quero dizer, você não poderia ter escolhido uma garota melhor. Além de todos os seus maravilhosos atributos de beleza, doçura e talento, Allison já é amada por todas as mulheres do Runaway Train, e você sabe como isso é importante – disse AJ. Brayden balançou a cabeça em concordância. – Ao mesmo tempo, ela já é amada por todos os homens do Runaway Train também. As lágrimas nublaram a minha visão com as palavras doces deles. – Obrigada, Bray. Isso significa muito para mim. Em seguida, com uma piscadela, Brayden voltou seu olhar para Rhys e, apontando um dedo para ele, falou: – Mas saiba que, se magoá-la, vai se ver comigo. – E comigo – AJ entrou na conversa. Rhys ergueu as mãos defensivamente. – Confiem em mim, eu sei disso. Mas também sei que andaria através do fogo antes de ferir Allison de novo. Meu coração bateu descontroladamente com sua resposta, e eu não pude resistir e me inclinei para beijá-lo. Quando me afastei, Rhys exalou um longo assobio. – Agora, se conseguirmos, vamos fazer Jake ficar bem com a gente. AJ acenou a mão com desdém. – Você conhece Jake. Ele sempre sai de si e fica que nem um doido. Mas depois fica na boa. Rhys balançou a cabeça. – Não sei. Considerando a forma como ele se sente a respeito de Allison, pode ficar puto por um bom tempo. Foi nesse momento que Abby apareceu na porta. Ela curvou o dedo para mim. Saltei do sofá e fui correndo em direção a ela.


– Jake acha que pode falar com você agora. – Ok. – Nervosa, olhei por cima do ombro para Rhys. Uma parte minha não queria ter de enfrentar Jake sozinha, embora tivesse certeza de que ver Rhys só iria recomeçar tudo. Enquanto avançávamos pelo corredor até um dos outros camarins, Abby pegou a minha mão na dela. – Apesar de Jake me prometer que não vai fazer isto, se ele começar com essa besteira idiota de ser macho, você simplesmente se levante e saia. Você não tem que ouvir besteiras. – Hum, está bem – respondi. Aquilo tudo era um território novo para mim. Até meia hora atrás, Jake nunca tinha falado comigo de maneira tão dura. Abby sorriu. – O que eu quero dizer é, se ele começar a falar com você como antes, não aceite o abuso. Embora ele tenha percorrido um longo caminho para aprender a lidar com suas emoções, Jake ainda não sabe como lidar com as situações raciocinando antes de reagir. Faça-o ver que você não vai ouvir qualquer outra coisa que a magoe; ele já falou demais por hoje. Se não conseguir falar com você com carinho e com amor fraternal como sempre falou, então não irá ouvi-lo. Fiz que sim com a cabeça. – Acho que é um bom plano. Quando chegamos a uma porta fechada, Abby me puxou para seus braços. Em meu ouvido, ela sussurrou: – Ele te ama muito, Allison. Funguei, lutando contra a vontade de chorar de novo. – Eu sei disso. Ela acariciou minhas costas. – Mantenha-se forte e defenda seu território. Balancei a cabeça em concordância, então abri a porta. Sabia que Jake estava me esperando, por isso não havia necessidade de bater. Olhando ao redor da sala, vi meu irmão sentado no sofá com a cabeça entre as mãos. – Jake – murmurei baixinho. Quando ele levantou a cabeça, percebi que ainda estava irritado. – Sente-se – ele ordenou entre dentes. Ante minha hesitação, sua expressão se suavizou ligeiramente. – Por favor. Com as pernas um pouco trêmulas, avancei e me acomodei na cadeira em frente a ele. Jake olhou para as mãos, respirando fundo várias vezes antes de falar. Parecia que ele ainda estava tendo problemas para manter suas emoções sob controle, e tenho certeza de que estava tentando pesar as


palavras cuidadosamente. Mas, de tudo que passava pela sua cabeça, eu nunca imaginaria o que ele finalmente disse: – Eu te odiei quando você nasceu. Engasguei com a dureza das palavras. Ele levantou os olhos para mim e deu um sorriso cheio de remorsos. – Não pude evitar. A meu ver, você era a razão de meus pais se divorciarem. Quero dizer, minha mãe e meu pai estavam tentando resolver as coisas após o caso que ele tivera, mas, em seguida, quando sua mãe descobriu que estava grávida, tudo mudou. Em apenas alguns meses, meu pai saiu de casa e se mudou para uma casa em Atlanta. – Jake ficou com a respiração irregular, retorcendo as mãos em seu colo. – Sendo uma criança idiota de 10 anos, eu não iria aceitar a sua existência. Depois que você nasceu, eu me recusei a visitar meu pai. Não queria estar sob o mesmo teto que você, o símbolo vivo e respirando de por que minha mãe chorava o tempo todo e minha vida foi virada de cabeça para baixo. Lágrimas arderam em meus olhos. Nunca na minha eu tinha duvidado do amor de Jake. E agora ali estava ele reconhecendo que havia, uma vez, me odiado. Uma parte minha podia entender, quero dizer, eu provavelmente teria sentido a mesma coisa em relação a alguém que causasse o divórcio dos meus pais. Mas, ao mesmo tempo, Jake era o irmão mais velho que eu idolatrava, e jamais poderia aceitar que ele já tivesse se sentido assim sobre mim. – O que fez você mudar de ideia? – finalmente resmunguei. – Um dia minha mãe me fez sentar. Ela me disse que, independente de como eu me sentia sobre o meu pai e Nancy, você era inocente no que tinha acontecido e não merecia meu ódio. Ela jamais desejou que eu fosse filho único, mas mal tinha sido capaz de ter a mim, muito menos me dar um irmão. Ela explicou que você precisaria de um irmão mais velho amoroso, e que eu poderia me beneficiar do amor puro e desinteressado de uma irmã mais nova. Embora eu nunca tenha chegado a conhecer Susan muito bem, não havia outra mulher com um coração tão amoroso e generoso. Mesmo com todos os motivos para me odiar, Susan se preocupara comigo o bastante para tentar preencher a lacuna entre seu filho e eu. – Então, finalmente concordei em visitar o papai no fim de semana. Mamãe comprou uma roupa e alguns brinquedos para eu te dar. – Ele balançou a cabeça com um sorriso irônico. – Durante todo o trajeto até Atlanta, com o maldito pacote em meu colo no banco de trás, fantasiei abrir a janela e jogá-lo para fora na interestadual. Um riso nervoso escapou dos meus lábios, tanto pelo sentimento como pela expressão no rosto de Jake. – Depois que mamãe me deixou lá, papai e Nancy me deram o meu espaço. Eles não me forçaram a te aceitar inicialmente. Enfim, depois de rodar pela casa e jogar basquete com AJ, a curiosidade finalmente levou a melhor sobre mim. Vi você na sala de estar. Você estava em um berço cheio de


babados. Quando me aproximei, mil pensamentos horríveis passavam pela minha mente sobre que dano eu gostaria de fazer com você. – Ao meu suspiro horrorizado, Jake fez uma careta. – Eu disse que era um garoto idiota, não é? – Sim. Mas é terrivelmente difícil, para mim, imaginar que você pudesse pensar uma coisa horrível dessas. – Ah, isso é o amor incondicional que você tem por seu irmão mais velho falando. Eu era um verdadeiro filho da puta naquela época. – E por que mudou? Com um suspiro irregular, Jake passou a mão pelo cabelo. – Por você. Franzi as sobrancelhas sem entender. – Eu? – Tudo mudou no momento em que me inclinei sobre o berço para te olhar. Mesmo que eu, provavelmente, estivesse te olhando com muito ódio na cara, sabe o que você fez? – O quê? – perguntei em voz baixa. As lágrimas brilhavam nos olhos escuros de Jake. – Você sorriu para mim. Testemunhar as emoções de Jake fez lágrimas arderem em meus olhos também. – Eu ri? Ele balançou a cabeça antes de esfregar a manga da camisa no rosto. – E, então, simples assim – ele fez uma pausa para estalar os dedos –, qualquer ódio que eu sentia por você sumiu. Quanto mais eu ficava ali, mais você continuava sorrindo e dando gritinhos como se eu fosse a melhor coisa em que você já tinha colocado os olhos. Nancy entrou no quarto e me perguntou se eu queria te segurar. Nunca eu teria me imaginado dizendo sim, mas eu disse; eu queria te sentir em meus braços, aconchegar você contra meu peito. – Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Jake sorriu. – E, a partir daquele dia, eu te amei com todo meu coração, Allie-Bean. Comecei a soluçar com suas palavras. Deixando a cadeira, eu queria chegar até ele o mais rápido possível. Quando atirei meus braços em volta de seu pescoço, Jake me puxou para o lado dele no sofá. – Oh, Jake, eu te amo tanto – murmurei enquanto o abraçava apertado. – Eu sei, menina. Eu sei. Eu te amo o mesmo tanto. Uma sensação de alívio, conforto e segurança me inundou quando os braços de Jake me envolveram. Eu esperava que significasse que ele havia me perdoado pelo que testemunhara antes. Afastei-me e olhei para seu rosto bonito. – Nada vai mudar meu amor por você ou o quanto eu preciso de você como irmão mais velho. Nem mesmo meus sentimentos por Rhys.


A expressão de Jake se fechou com a menção de Rhys. – Eu simplesmente não posso acreditar que ele me traiu, ficando com você pelas minhas costas. Balançando a cabeça, expliquei: – Ele não te traiu. Para isso é preciso que haja vontade dos dois, e eu sou tão culpada quanto ele. – Allison, você é apenas uma garota, mas Rhys é um homem. Ele sabe melhor. Apenas o pensamento de que ele seduziu você por suas próprias razões egoístas, de merda, me faz querer estrangulá-lo novamente. – Ele não me seduziu. – Quando Jake ia começar a protestar, levantei a mão. – Você não me ouviu dizer que eu estive apaixonada por Rhys desde que tinha 13 anos? Confie em mim, ninguém queria isso mais ou consentiu mais do que eu. As sobrancelhas de Jake vincaram de perplexidade. – O que você está dizendo? – Nunca houve e nunca haverá qualquer homem no mundo para mim a não ser Rhys. – Mas como? – Jake resmungou. Eu ri. – Você está me pedindo que explique por que amo Rhys? Acho que não consigo. Assim como tenho certeza de que seria difícil para você explicar por que se apaixonou por Abby, apesar de suas diferenças e do fato de que o mundo estava contra vocês. Jake estremeceu como se soubesse que o que eu estava dizendo era verdade, mas odiava admiti-lo. – Eu juro a você que Rhys nunca armou para me seduzir e me transformar em uma de suas conquistas. Mais do que tudo, ele lutou contra o que sentia por mim, porque não queria que eu me machucasse. Mas, Jake, acima de tudo, ele não queria perder sua amizade. – Sério? – Jake perguntou, erguendo as sobrancelhas em surpresa. – Sim. O Runaway Train é a única verdadeira família que ele tem, e ele não queria fazer nada que colocasse essa relação em risco, mesmo que isso significasse jogar fora a própria felicidade e a minha para manter a paz. Passando a mão pelo cabelo, Jake deu um suspiro irregular. – Eu não fazia ideia. – Não, você foi um burro teimoso por não ver nada além de seus próprios sentimentos – retruquei. Os olhos de Jake se arregalaram. – Epa, que é isso agora? Inclinando a cabeça, dei um sorriso hesitante. – De certa maneira, é verdade, e você sabe disso. Com uma expressão envergonhada, Jake disse: – Bem, sim, acho que é. Você me conhece muito bem, Allie-Bean.– E então olhou para as mãos e suspirou asperamente. – Que merda, eu sabia que a vida familiar de Rhys era fodida, mas não tinha


ideia de quão fortemente ele precisava da banda. Não só me sinto terrível por bater nele, mas também me sinto um tremendo babaca por todas as coisas horríveis que eu lhe disse. A verdade é que ele nunca foi como eu na maneira como tratava as mulheres. Eu não deveria tê-lo acusado de um comportamento que não era realmente o dele. É só que é difícil pensar que qualquer homem jamais seria a porra de bom o bastante para minha irmãzinha, Allie-Bean. – Tudo que você tem que fazer para acertar tudo é pedir desculpas. – Quando Jake deu um grunhido frustrado, coloquei a mão em concha sobre sua face. – Rhys não é o tipo de cara que guarda rancor. A coisa mais importante na vida dele é a harmonia entre aqueles a quem ele ama. Você pode endireitar as coisas, porque o ama e porque me ama. O olhar de Jake encontrou o meu. – Bem. Vou pedir a porra das desculpas, ok? – ele rosnou. – Dá para você trabalhar um pouco no seu tom antes de tentar? – perguntei, provocando. Ele estampou um hediondo sorriso falso. – Bem, isso é realmente assustador. Ele riu. – Você está realmente chutando minhas bolas, garota. Sorri. – Só pega leve com Rhys, ok? Jake balançou a cabeça. – Por você eu faço isso. – Fazer isso por mim não basta. Faça isso por causa de seu amor por ele. Ele é a sua família. Virando os olhos, Jake agarrou minha cintura e me colocou em pé. – Tá bom, tá bom. Vou ser todo piegas e sentimental e vou fazer isso por nosso – ele fez uma pausa para fazer o sinal de aspas no ar – amor. Que tal? – Muito bom. Apontando para a porta, ele disse: – Vai lá e o mande ele entrar. Embora eu sentisse como se tudo estivesse bem entre nós, ainda estava um pouco temerosa de Jake falar com Rhys. – Só ele? – Simmmmm – Jake sussurrou, como se ele não pudesse acreditar que eu estava duvidando de sua capacidade de ser cortês. – Ok, ok – respondi, indo para a porta. Coloquei a cabeça para fora e vi Rhys andando de um lado para o outro. Aqueceu meu coração ver que ele tinha ficado relativamente próximo, caso as coisas corressem mal. – Rhys? – chamei. Sua cabeça se levantou, e ele virou para me olhar com expectativa.


– Está tudo bem? – Está. Jake está pronto para falar com você agora. As sobrancelhas de Rhys se elevaram. – Sério? Assenti e ele soltou o ar em um longo sopro. Ao caminhar até mim, deu um sorriso trêmulo. Ele estar nervoso teria sido bastante cômico se eu não estivesse tão apreensiva. – Então, preciso me preocupar com mais danos corporais? Com uma risada, respondi: – Não, acho que você vai ficar bem. – E nós, nós estamos bem? – Estamos maravilhosos. Ele se inclinou e me deu um beijo carinhoso. – Fico feliz em ouvir isso. Eu estava quase que emocionada demais para responder. Senti como se precisasse me beliscar para ter certeza de que aquilo estava realmente acontecendo. Era bom demais para ser verdade. Com um empurrão, apontei Rhys na direção da porta. – Vá encarar a música e acabar logo com isso. – Sim, senhora – ele retrucou antes de fazer uma continência simulada para mim. Depois que ele desapareceu dentro do quarto e fechou a porta, não pude deixar de fazer uma oração para que tudo finalmente ficasse certo entre nós, e isso significava todos nós.


Vinte

RHYS

Enquanto tentava encobrir meu nervosismo a respeito de Jake parado à frente de Allison, eu me sentia um caso perdido por dentro. Claro que havia argumentado e mantido minha posição, mas ainda havia um quê de burrice em mim que me levava a ter medo de enfrentar Jake. De algum modo, era inevitável que me sentisse apreensivo sobre me sentar com ele e ter uma conversa de homem para homem. Colocando os ombros para trás, sorri para Allison de maneira tranquilizadora. Depois respirei profundamente, resignei-me e fui para dentro do quarto. Assim que fechei a porta, Jake ergueu as sobrancelhas e encolheu-se em sinal de dor. – Você está péssimo – ele murmurou, esfregando a testa. – Sim, algum filho da puta doido do caralho me deu um soco – comentei com um sorriso irônico. Os cantos dos lábios de Jake se curvaram um pouco. – Acho que teremos de dar a Darla um trabalhinho para a maquiagem hoje à noite, hein? – Sim, e acho que ela ficará muito brava com a gente. – Sente-se – ele disse, apontando para o sofá. Depois de me acomodar, olhei-o com expectativa. – Seu gancho de direita é muito forte – comentei como forma de disfarçar a tensão que pairava no ambiente. Jake riu, flexionando os dedos. – Passou muito tempo desde que precisei socar alguém. Eu nem tinha certeza se ainda conseguiria. – Então, fico feliz em te ajudar a voltar ao ringue. – Sim, não importa – retrucou Jake. Permanecemos sentados em um silêncio constrangedor por um tempo que pareceu uma eternidade. Até que fui direto para o cerne da questão. – Olha, cara, lamento muito que tenha descoberto sobre mim e Allison daquele jeito. Jake encolheu os ombros.


– Sim, eu também. – Nós realmente não estamos namorando escondido de você. Foi só ontem que agimos como um casal. Eu queria mesmo te contar tudo, mas Allison me pediu que esperasse, pois tinha certeza de como você reagiria e desejava um pouco de tempo pra desfrutarmos nossa felicidade antes que a merda batesse no ventilador. Jake deu um rápido sorriso. – Entendo. – E então se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. – Allison me deu a versão dela da história. E você, o que tem a dizer? – Só que sinto muito. Movimentando as sobrancelhas em sinal de perplexidade, Jake perguntou: – É isso? Sacudi os ombros. – Não sei mais o que dizer além de estar arrependido pra caralho. Nossa amizade sempre esteve na linha da frente pra mim, então me sinto um merda por termos ficado juntos em segredo. Não quero que meu amor por sua irmã foda com nossa amizade, cara. Porém, às vezes, você não escolhe os caminhos da vida e, quando se trata de Allison, meu carrinho descarrilou da maneira mais foda possível. Ela é uma mulher maravilhosa, e não posso evitar amá-la. E a amo com todo meu coração. – Jake permaneceu estranhamente silencioso, e resolvi continuar: – Acredite em mim: lutei com todas minhas forças pra não mostrar o que estava sentindo, e me desculpe se sou um filho da puta egoísta para perceber que felicidade dela e a minha significavam muito mais do que o modo como você talvez se sentisse em relação a nós. Jake ponderou sobre minhas palavras. – Como posso acreditar que não magoará Allison? – ele perguntou. E, antes que eu respondesse, continuou: – Quero dizer, você não teve relacionamentos longos desde que te conheço. Inclinando a cabeça, retruquei: – Sim, tenho certeza de que eu poderia ter dito a mesma coisa a você quando decidiu namorar Abby. Jake fechou a cara. – Você e Allison jamais pararão de jogar Abby e nosso relacionamento na minha cara? – Não, porque é o único jeito de chamar você à razão. Nossas relações têm vários pontos semelhantes. Assim, veja que não precisa se preocupar com Allison, pois vou amá-la tão completamente como você ama Abby. E vou honrá-la e protegê-la todos os dias de minha vida. – Essa última parte soou como os votos de casamento. Encolhi os ombros. – Talvez. Mas não estamos pensando em correr pra Vegas tão cedo. Temos de fazer nosso relacionamento funcionar bem antes de nos casarmos. Além do mais, Allison é muito jovem; quero


que ela conclua o curso e se estabeleça no mundo da moda antes de se amarrar. – Não vou mentir; na verdade, me sinto mais tranquilo ao ouvir essas palavras, embora continue preocupado. Só não quero pensar que daqui a uns dois meses você pode se cansar de Allison e deixá-la. Neguei com um movimento furioso de cabeça. – Como eu poderia fazer isso, Jake? A cada dia descubro algo novo nela, e mal posso esperar para ter mais tempo ainda para descobrir cada pequeno capricho. Nenhum de nós é capaz de saber o que o futuro nos reserva, mas prometo que vou trabalhar duro para fazê-la feliz. Jake me olhou por um instante e, então, deu um suspiro ruidoso. – Acho que ela poderia ter se apaixonado por um cara melhor – ponderou. – Relaxa – retruquei com um sorriso. – Você sabe que vou te matar se magoar Allison de novo. Ergui as mãos. – Estou disposto a correr esse risco. Jake meneou a cabeça. – Você está sendo sincero, não é? – Está surpreso? – Acho que já esperava ouvir Allison confessar que te amava. Mas parece surreal que você esteja aqui, na minha frente, afirmando que ama minha irmã. – É verdade cada palavra que eu disse. Jake contraiu os lábios antes de avançar mais à frente do sofá. Após se levantar, estendeu as mãos. Olhei o gesto com surpresa. – Então, bem-vindo à família. – Cara, verdade mesmo? Ele sorriu com sinceridade. – Sim, é. Desde que formamos a banda, você tem sido meu irmão. Um dia, no futuro, poderá ser meu cunhado. Retribuí o sorriso. – Foda-se. – Então me levantei do sofá. Em vez de apertar a mão de Jake, eu me estiquei para abraçá-lo. – Te amo, cara – eu disse. Jake me abraçou com força. – Amo você também, bro. Ainda quero te estrangular, mas te amo. Ri. – Me desculpe; estou arrependido pra caralho. – Sim, bem, por ora, acho que o melhor pra você é ficar no ônibus do Jacob’s Ladder. Afastando-me, olhei chocado para Jake.


– E por que diabos eu faria isso? Ele fez uma cara feia. – Simplesmente não posso acordar no meio da noite e ouvir vocês dois transando, certo? Ah, que inferno. Não acreditava que, depois de tudo que havia falado e feito, Jake ainda agisse dessa forma. – Está me zoando? Nós apenas ficamos juntos. Você teria gostado se, depois de começar a namorar Abby, os irmãos dela exigissem que ela andasse no ônibus do Jacob’s Ladder em vez de no do Runaway Train? Cruzando os braços sobre o peito, ele respondeu: – Eu teria dito a eles que se fodessem. Ergui as sobrancelhas. – Sério? A expressão fechada de Jake ficou ainda mais séria. – Você não pode imaginar por um segundo o que isso significa pra mim? Minha mente foi até Ellie e ao significado disso tudo se ela fosse diferente. Acho que Jake tinha razão, porque eu, com certeza, não gostaria de ver e ouvir minha irmã transando com um cara. Ao mesmo tempo, eu não me sentia pronto para abrir mão da minha intimidade com ela. Havíamos tido tão poucas oportunidades de ficar de fato sozinhos. – Talvez a gente possa entrar em acordo. E se Allison viesse ficar comigo algumas noites no ônibus do Jacob’s Ladder? Embora a expressão de Jake tivesse demonstrado que ele não gostava daquela merda toda, conseguiu balançar a cabeça. – Sim, acho que sim. Sabendo o quanto isso lhe doía, respondi: – Obrigado, Jake. Ele apontou o queixo para a porta. – Não acha que precisamos ir lá e colocar Allie-Bean fora de seu sofrimento? Tenho certeza de que ela está andando pra lá e pra cá com medo de que eu chute sua bunda de novo. – O quê? Quem disse que você chutou minha bunda? Pensei que nós estivéssemos muito bem – retruquei. – Vá sonhando, McGowan – Jake comentou com um sorriso. – Você é um filho da puta presunçoso. – Concordo com isso. Então, ele abriu a porta e vimos Allison e Abby encostadas na parede à nossa frente. Allison roía as unhas; Abby torcia as mãos. As sobrancelhas de ambas se ergueram em conjunto assim que nos viram.


– E aí? – Allison perguntou hesitante. Jake me olhou antes de falar: – Não que minha opinião importe realmente, mas acho que pode namorar esse filho da mãe feio se ele te faz mesmo feliz. Allison gritou de alegria antes de atirar os braços em torno do pescoço de Jake. – Obrigada! Obrigada por nos aceitar! – Ela beijou o rosto do irmão antes de se afastar e vir para perto de mim. Quando passei os braços em torno dela, Jake levou a mulher nos braços. E falou baixinho no ouvido de Abby, cuja expressão foi mudando, e eu sabia que ele estava fazendo as pazes com ela. Mesmo depois que passaram por nós, mantive os braços firmemente envolvendo Allison. Ela sentiu que o momento era bom demais para se esvair. – Oh, Rhys, acho que não poderia ser mais feliz do que neste momento! – exclamou com os decibéis de sua voz quase estourando meu tímpano. – Eu também – retruquei, fechando os olhos para saborear a sensação de envolver meu amor, a mulher com quem desejava passar o resto da vida. Nunca imaginei que conheceria esse sentimento. Apesar de meus companheiros de banda terem me mostrado que os casamentos podiam ser bons, felizes e mudar fantasticamente a vida, eu me sentia amargurado pela farsa que era o casamento de meus pais. No entanto, agora que tinha a mulher certa ao meu lado, já não me sentia assim. Eu estava verdadeira e completamente mudado. Pressionando-se mais contra mim, Allison se inclinou até sussurrar em meu ouvido: – Eu estou com vontade de terminar o que começamos antes; você também? Enquanto ela esfregava seus quadris contra os meus, gemi: – Ah, sim. Mas logo que aproximei os lábios dos dela, um técnico pigarreou à nossa frente. – Ai, desculpe interromper, mas Frank disse que precisa de vocês de novo no palco. Com um gemido de frustração, afastei os lábios dos de Allison. – Vamos até lá – resmunguei. Em vez de parecer decepcionada, Allison me olhou com um sorriso radiante. – É melhor eu ver os gêmeos. – Depois do show, não aceitarei um não como resposta. Ela riu. – E eu não planejo desencadear um combate. – Humm, você me faz feliz pra caralho – comentei antes de aproximar meus lábios dos dela novamente. E justo quando o clima estava esquentando, a voz de Jake interrompeu nosso reencontro feliz: – Afaste-se de minha irmã e arraste sua bunda para o palco!


Ainda beijando Allison, levantei o dedo do meio para Jake. – Babacão – ele murmurou. Francamente, ele poderia me chamar de todos os nomes que quisesse desde que eu tivesse Allison. Ela era meu coração, minha alma, meu mundo, e eu era um filho da mãe sortudo por tê-la.


Vinte e um

ALLISON

DOIS MESES DEPOIS Com a luz do sol banhando meu rosto, acordei lentamente com o balanço suave do ônibus passando pela interestadual. Alongando-me na cama, eu me vi enrolada em um monte de cobertas, junto com o homem a quem amava. Nos dois últimos dias, Eli e Gabe sentiram pena de mim e de Rhys e nos cederam o quarto do ônibus deles. Bem, eu digo pena. Mas acho que entrou um pouco de dinheiro na questão. Foi glorioso dormir com Rhys sem me preocupar com qualquer intromissão ou com o aparecimento de Jake pirado. E ainda tínhamos espaço para nos movimentar, em vez de ficarmos apertados no dormitório do ônibus. Olhando por cima do ombro, vi que Rhys ainda dormia. Desejando que ele despertasse de modo diferente, eu me mexi e deslizei a roupa de cama até os joelhos. Enquanto ele permanecia morto para o mundo, o pau esticado com o fluxo sanguíneo matinal, segurei-o na mão e o acariciei algumas vezes, até que a ereção fosse completa. Após beijar lentamente uma trilha úmida no peito e no abdômen de Rhys, coloquei o pau duro na boca. Os olhos dele permaneceram fechados, mas as sobrancelhas franziram, como se ele tentasse decidir se era vida real ou sonho. Continuei para cima e para baixo na ereção, chupando a extremidade e dando atenção especial à cabeça sensível. Com os gemidos de Rhys, eu sentia a maciez entre minhas coxas começarem a crescer. Então, as pálpebras dele se abriram. Erguendo-se sobre os cotovelos, ele me olhou surpreso. Com o olhar, eu lhe transmiti a mensagem de que não havia mais nada no mundo que eu quisesse fazer a não ser chupá-lo. – Caralho, Allison. Você sabe mesmo como acordar um homem – ele murmurou com um sorriso de satisfação. Continuei acariciando-o com as mãos e a língua e coloquei as bolas dele em minha mão livre, em formato côncavo. Rhys gemeu de novo, a cabeça caindo contra o travesseiro, enquanto empurrava os quadris para preencher minha boca mais profundamente com o pau. E eu continuei lambendo e


chupando sua ereção, e as mãos dele repousaram em minha cintura. Quando ele começou a me levantar como se eu nada pesasse, diminuí meus movimentos, deixando o pau cair da minha boca. Depois de um suspiro de surpresa, permiti a Rhys que virasse e, em seguida, deslizasse a parte inferior do meu corpo sobre o peito dele. Então me posicionou de joelhos, a minha boceta diretamente em seu rosto, e logo estávamos em um delicioso 69. Eu estava tão excitada que gotas de suor escorriam pela parte de dentro de minhas coxas, e Rhys pressionou a língua sobre minha pele e me lambeu. – Seu gosto é bom pra cacete – ele disse, a voz vibrando dentro de meu corpo. Gemi quando a língua de Rhys começou a lamber e a chupar meu clitóris. Mais uma vez, peguei a ereção dele na mão e a acariciei para cima e para baixo. Assim que minha boca faminta o chupou de novo, Rhys gemeu contra meu clitóris, em uma vibração que me fez tremer. Seus dedos me abriram mais para facilitar o caminho da língua. Ele enfiou mais e mais até que eu estava gemendo e resmungando contra seu pau. Finalmente, o prazer aumentou tanto que me afastei, gritando enquanto tremores intensos me sacudiam. As mãos de Rhys vieram até minha cintura, e ele me virou com delicadeza para frente, minha boceta esfregando contra o pau dele. Levantei-me de joelhos e me sentei sobre ele, segurando sua ereção e guiando-a até dentro de mim. Deslizando palmo a palmo por cima dele, choraminguei quando sua plenitude me encheu. Ao abaixar a cabeça e olhar Rhys, vi que ele estava de olhos fechados e mordia o lábio. – Você se sente bem pra caralho em volta do meu pau. – Você se sente bem dentro de mim – ofeguei, conforme me levantava para fora dele e me enterrava lentamente em seguida. Nós dois gememos com a sensação. Apoiando as mãos no peito dele, comecei a levantar os quadris para baixo e para cima. E toda vez ele quase deslizava para fora do meu corpo, só para me fazer voltar rápido para baixo, sobre ele. Quando comecei a cavalgá-lo, as mãos de Rhys seguraram meus seios, os dedos beliscando os mamilos intumescidos, tornando-os ainda mais duros e sensíveis. Assim que meus olhos encontraram os dele, mostrei-lhe, pelo olhar, como o desejava desesperadamente. Erguendo-se, ele aproximou os braços de minhas costas, os dedos em suaves toques pela minha espinha, os quais me faziam estremecer. Entretanto, ele me deu o que eu queria mais do que qualquer outra coisa quando abaixou a cabeça e colocou a boca quente em meu seio, chupando o mamilo até que arfei de prazer. E, quando pensei que não aguentaria mais tanto prazer, Rhys deslizou para o outro seio, e eu ofeguei e gritei o nome dele. Inclinando a cabeça para mim, ele retorceu os dedos nos fios de meu cabelo, puxando meu rosto para baixo, de modo que nossos olhos ficassem no mesmo nível. – Diga-me que me ama – ele ordenou. Desacelerei o ritmo frenético de minha cavalgada sobre ele. Levando as mãos até o rosto dele,


sorri. – Amo você, Rhys McGowan. Sempre amei e sempre amarei. As mãos dele caminharam pelo meu corpo e agarraram meus quadris. – Eu te amo, Allison Slater. Você e apenas você. Com a declaração, meu coração bateu descontroladamente. Independente de quantas vezes ouvi Rhys dizer aquelas palavras, elas nunca envelheciam. Eu havia esperado muito tempo e lutado bastante para tê-las. Rhys começou a me empurrar para dentro e para fora dele. Nossas bocas se fundiram enquanto acelerávamos o ritmo suave e doce de antes para um frenético. Passando os braços em torno do pescoço de Rhys, pressionei os seios no peito dele. Eu adorava essa posição, a proximidade e a conexão entre nós, e sentia Rhys enrijecer, sabendo que ele estava tão próximo do orgasmo quanto eu. Afastando os lábios dos dele, olhei em seus olhos enquanto gozávamos. Juntos.

Ficamos na cama até tarde. Depois de ir ao banheiro, eu havia vestido uma camiseta de Rhys e minha calcinha. Entretanto, ele continuava nu sob o lençol. Deitada com o rosto pressionado contra o peito dele, ouvia a batida suave de seu coração. Uma de minhas mãos se entrelaçava à dele. Ainda havia um elefante branco na sala, mas nenhum de nós parecia querer falar sobre ele: era o último dia da turnê de verão; eu deveria voltar a Savannah no dia seguinte para o início das aulas na segundafeira. As semanas e os meses pareciam ter voado, e eu não queria nada mais do que retardar o tempo para antes desse impasse a fim de poder desfrutar cada momento com Rhys. Após uma eternidade de silêncio, Rhys pigarreou. – Tenho algo pra você. Eu me levantei para sustentar a cabeça com o cotovelo. – Você o quê? Ele confirmou com um gesto de cabeça. – Espero que seja algo que torne a partida um pouco mais fácil. Com a curiosidade aguçada, com relutância, deixei-o se soltar de mim. E fiz um olho gordo ao apreciar a bunda dele quando saiu da cama e caminhou até a mala. Não demorou muito e Rhys pegou uma caixa. Quando ele retornou para a cama, deslizou para baixo das cobertas de novo. – Depois de passarmos todo esse verão juntos, pensei que queria te dar isto pra mostrar o quanto significa pra mim. O tamanho da caixa me deixou meio preocupada. Era, definitivamente, uma caixa de anel. Mesmo amando Rhys e importando-me com ele, eu, com certeza, não estava pronta para um anel de noivado.


Ainda não. Não depois de termos trabalhado na construção de um relacionamento e de uma vida juntos. Com os dedos trêmulos, puxei a fita cor-de-rosa, envolvida por uma estranha sensação de dèjá vu. Eu já não estava no dormitório do ônibus. Em vez disso, fui transportada de volta ao Sweet Sixteen, época em que Rhys havia me dado o mesmo presente, mas com uma fita rosa. Quando abri a caixa, engasguei-me. Dentro dela, havia um anel, mas não aquele que eu temia. Era um disco oval com uma magnólia apenas, similar àquela que Ellie havia pintado anos antes. Ao segurá-lo em minhas mãos, vi uma aliança de platina com diamantes circulando a magnólia, cujo broto era uma princesa lapidada em um diamante amarelo. Lágrimas inundaram meus olhos, distorcendo a linda imagem à minha frente. – Não acho que estamos prontos para um anel de noivado e, mesmo que esteja fora de moda, gostei da ideia de um anel de compromisso. Estou prometido a você, e só a você, para o resto da vida, Allison. – Considerando que eu estava perdida em um oceano de emoções, consegui apenas movimentar a cabeça. – Eu não queria começar com um anel qualquer; queria que ele tivesse um significado para nós. – Os dedos de Rhys seguraram meu queixo, inclinando minha cabeça para que eu encontrasse seu olhar. – E então me deu um estalo: a magnólia. É o símbolo permanente entre nós, a própria corda que ligou nossos corações todos esses anos. – Oh, Rhys – murmurei com as lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto. – Pedi para Ellie pintar outra pra mim, e então a levei até o joalheiro que faz peças únicas. – Isto é... a coisa mais linda que já vi – sussurrei. Ele sorriu. – E agora pertence à mulher mais linda que já vi. Sem conseguir mais me controlar, atirei os braços em torno do pescoço de Rhys, segurando-o com firmeza. Quando recuei, espalhei beijos por todo seu rosto. – Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Rhys riu. – Também te amo, meu amor. – Pegando a caixa de minha mão, ele tirou dela o anel. – Me dê sua mão. Quando lhe obedeci, Rhys deslizou a aliança pela minha mão esquerda. – Isto significa que você pertence a mim e somente a mim. Erguendo as sobrancelhas, contra-ataquei: – E quanto a você? Onde está a aliança pra unir você a mim? Ele ergueu a mão esquerda bem na minha frente e mexeu os dedos por um segundo. Olhei fixamente a mão diante de meus olhos até me concentrar no dedo anelar. Arfei. – Oh. Meu. Deus. – Na parte de trás do dedo estava tatuado em tinta preta o meu nome. E para sempre estaria lá. – Quando é que você... Como você fez?


Rhys riu. – Ontem, quando você e Abby foram fazer compras com os gêmeos, escapei até um estúdio de tatuagens. Imaginei que fazia sentido tatuar a parte de dentro agora. Então, quando nos casarmos, farei a parte de fora. Por minha vida, eu não conseguia pensar em nada para dizer. E acho que Rhys percebeu, porque ele perguntou: – Você não gostou? – Eu adorei – respondi. Ele sorriu. – Espero mesmo que sim. Balancei a cabeça, assentindo. – Simplesmente não consigo acreditar que você fez isso. Para mim. – Para nós – ele corrigiu. Inclinando-me, aproximei a boca da dele. – Te amo, Rhys – murmurei junto a seus lábios. – Eu também te amo. Depois de nos agarrarmos por alguns minutos, eu me afastei, ofegante e corada. – Se não pararmos, acho que não vou conseguir andar hoje. Rhys riu. – Me desculpe; nunca me canso de você. E acho que o pensamento de sua partida amanhã me deixa com uma fome do caralho de cada parte de você. Não quero ser privado de um minuto em sua companhia. Era agora ou nunca a hora de eu encarar os fatos. – Também tenho uma surpresa para você – falei. – Ah, tem é? – Rhys perguntou com os lábios roçando meu pescoço. Meu estômago deu algumas cambalhotas de nervoso enquanto me preparava para lhe dar a notícia. – Nós não vamos nos separar, no fim das contas. Puxando-me para trás, Rhys me deu um olhar de interrogação. – Do que você está falando? Ao longo das últimas semanas, eu havia mantido em segredo os planos que estava fazendo e as possibilidades que estava explorando. Não queria dar esperanças a Rhys antes que tivesse certeza absoluta de que as coisas dariam certo. Então, falando com voz irregular, eu disse: – Não vou voltar para Savannah. Vou para a estrada com você. Várias emoções passaram pelos olhos de Rhys antes de ele balançar vigorosamente a cabeça. – Não, eu não vou deixar você fazer isso. – O quê? E desde quando preciso de sua permissão?


– Você não pode simplesmente abandonar a faculdade, Allison. Não depois de tudo pelo que batalhou. – Sério? Eu sei de alguém que fez isso e, até onde eu saiba, ele está indo muito bem. Rhys fez uma careta para mim. – Minha situação era totalmente diferente, e eu consegui meu diploma de bacharel em pré-lei23. – Na verdade, acho que a minha é um pouco melhor. Vou realmente trabalhar no que me graduei ao mesmo tempo em que ganho mais experiência. As sobrancelhas de Rhys exprimiam confusão. – Como assim? – Vou ter algumas aulas on-line. Afinal, não preciso de um diploma para lançar minha própria linha de roupas. Preciso de experiência no mundo real, e isso eu vou ter com sua estilista, Renee. – Seus pais estão sabendo disso? – Quando fiz que sim com a cabeça, Rhys gemeu. – Maravilha, mais uma porra de motivo para eles me odiarem. – Na verdade, senhor Pessimismo, eles acharam que era uma ótima ideia. – Você está brincando comigo? – Não, não estou. Ainda vou cumprir as exigências da graduação enquanto recebo treinamento trabalhando. Em um ano ou dois, talvez tenha que voltar para Savannah por um semestre para concluir tudo, mas vou concluir. Prometo. – Quando Rhys permaneceu em silêncio, meus lábios se viraram para baixo em um beicinho determinado. – Você não quer que eu fique com você? Ele revirou os olhos escuros. – Claro, quero você comigo. Não consigo imaginar nada melhor. Mas, ao mesmo tempo, não quero que faça alguma coisa de que se arrependa mais tarde quando estivermos na estrada. Correndo os dedos por seu cabelo, balancei a cabeça. – Eu nunca me arrependeria de qualquer coisa envolvendo você. Inclinando a cabeça, ele perguntou: – Então você vai, realmente, sair em turnê comigo? Sorri. – Sim, eu vou. – Legal. Porque acho que é uma porra de uma ideia incrível – ele comentou com um sorriso. – Fico feliz em te ouvir dizer isso. – Quando Rhys me puxou para deitar novamente, eu o olhei. – Agora que temos tudo acertado, quero que compre uma coisa para mim. Rhys riu. – O anel não foi suficiente? Olhando para minha mão esquerda que brilhava com o anel, suspirei de felicidade. – Foi mais do que suficiente. – Levantei os olhos para olhar diretamente para ele. – Na verdade, o que eu quero de você é mais pra nós dois.


– Humm, lingerie e brinquedos sexuais? Eu bati em seu braço. – Espertinho. Não era sobre isso que eu estava falando. Com os olhos escuros brilhando divertidos, Rhys perguntou: – Então o que é? – Um ônibus de turnê só nosso. – Assim poderemos ter privacidade para examinar cada centímetro do seu corpo? – ele provocou. – Bem, isso certamente vai ser um plus, mas eu não estava pensando exatamente no aspecto sexual. – Além de privacidade, para o que mais um ônibus seria bom? Redução de imposto? Acariciando-lhe o rosto, eu sorri. – Eu quero te oferecer um lar, Rhys. Sua expressão ficou séria de repente. Possivelmente, a partir das emoções que seus olhos deixavam transparecer, ele estava revivendo alguns dos aspectos dolorosos de seu passado. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu queria ajudá-lo a deixar tudo aquilo para trás e dar a ele um futuro cheio de lembranças felizes. – Me deixa te dar um lar, Rhys – repeti. – Você já deu. – Cobrindo meu coração com a mão, ele disse: – Bem aqui. Lágrimas encheram meus olhos ao me inclinar para beijá-lo. Deixei todo o amor que eu sentia por ele se derramar naquele beijo. Quando finalmente se afastou, Rhys sorriu para mim. Acariciando minha face com o polegar, ele perguntou: – Você não vai pirar fazendo a decoração com travesseiros de babados e rendas de merda em todos os lugares, né? Sorrindo, eu o provoquei: – Não posso prometer nada. Ele gemeu. – Só prometa não torná-lo tão enfeitado a ponto de minha moral ser revogada pelos caras. – Não vou exagerar. Gosto muito da sua moral e de sua masculinidade, para fazer isso. Um olhar diabólico brilhou em seus olhos. – Você gosta, hein? – Uhumm. Como um raio, Rhys nos rolou para o lugar onde estavam minhas costas. – Acho que sei como resolver esse problema de você não conseguir andar hoje por causa de muito sexo. – Ah, é? E o que vai fazer? – perguntei sem fôlego enquanto esfregava a ereção crescente dele contra o meu clitóris. – Só vou ter que te carregar – ele respondeu com uma piscadela.


– Meu pervertido, ainda que cavalheiresco, cavaleiro de armadura brilhante. Você já me desejava desde que eu era apenas uma menina. A expressão provocativa de Rhys ficou séria. – E eu nunca vou parar de desejar. Para sempre. No fundo, eu sabia que ele sempre me amaria. Embora o tempo pudesse ser difícil e o caminho, árido, de alguma forma teríamos o nosso final feliz. As cordas dos nossos corações estavam irremediavelmente entrelaçadas.


Agradecimentos

Primeiro, e mais importante, meus agradecimentos vão a Deus, pela fantástica bênção em minha vida no último ano. Aos meus leitores: Faltam-me palavras para lhes agradecer o apoio e o amor dedicados aos meus livros. Vocês são a bênção mais incrível que recebi como escritora. Recebam de mim muitos, muitos abraços e amor. A Cris Hadarly: Palavras não conseguem expressar minha gratidão por tudo que faz por mim. Você vai acima e além, todos os dias, para promover meus livros e tornar minha jornada pelo mundo da literatura mais fácil. Eu não poderia fazer isso sem seu amor, seu apoio e suas orações. Sua amizade significa tudo para mim, e agradeço o fato de ter alguém tão atencioso, compassivo e amoroso ao meu lado. Sou verdadeiramente abençoada. A Marion Archer – editora e extraordinária maga do enredo: Eu não conseguiria fazer isto sem você. Você contribui tanto com meus livros que me torna uma escritora e contadora de histórias melhor. Você me motiva a fazer minhas histórias melhores do que possivelmente seriam. Mas também preciso lhe agradecer a amizade, o apoio e as orações. Você pode estar a um oceano de distância, mas sinto seu amor direto aqui comigo. A Marilyn Medina: Seus “olhos de águia” não conhecem fronteiras, e sou muito grata não só por poder trabalhar com você, mas por sua amizade. Meninas de ouro 4-ever! Obrigada por trabalhar que nem doida para ter certeza de que havia revisado meus atrasos. Obrigada por sempre estar lá para me animar, me fazer rir e me dar alguma inspiração maliciosa. #bananahammocks A Kim Bias: Não tenho palavras suficientes para lhe agradecer não só por me tranquilizar, mas por tornar meus livros o máximo que eles podem ser. Obrigada pelas reuniões sobre enredo/sinopse e por sua astúcia em ler a obra em trechos e várias vezes. Obrigada por estarmos juntas nisso e por checar meu progresso tanto como escritora quanto emocionalmente. A Shannon Fuhrman, Tamara Debbaut, Jen Gerchick, Jen Oreto e Brandi Money: Obrigada por serem minhas “vadias”, trabalhando tão duro para me incentivar e apoiar. Nem tenho palavras


para dizer como apreciei isso. Obrigada também por todo o apoio nos momentos difíceis, assim como pelas orações. Elas significam muito. A minha equipe de rua, os Anjos de Ashley, muito obrigada pelo apoio a mim e a meus livros. A Raine Miller e RK Lilley: SCOLS 4-EVER! Obrigada pelo amor inabalável e apoio em todas as áreas, pessoal e profissionalmente. Eu não poderia pedir melhores amigos e companheiros de viagem. Às senhoras do Hot One: Karen Lawson, Amy Lineaweaver, Marion Archer e Merci Arellano, obrigada pelos risos, pela amizade, pelo apoio. Vocês são incríveis!


Sobre a autora

Katie Ashley é a autora best-seller da obra A proposta, de acordo com New York Times, USA Today e Amazon. Ela vive nos arredores de Atlanta, Georgia, na companhia de seus dois mimados cães e de um número indefinido de gatos. A autora tem uma ligeira obsessão pelo Pinterest, The Golden Girls, Harry Potter, Shakespeare, Supernatural, Designing Women e Scooby-Doo. Katie passou onze anos e meio lecionando Inglês nos ensinos Fundamental e Médio, até que, em dezembro de 2012, decidiu escrever em tempo integral. Ela também escreve ficção juvenil, sob o nome Krista Ashe. Siga Katie Ashley Website Facebook Twitter Pinterest Goodreads


Outros trabalhos de Katie Ashley

A proposta | O pedido | A festa | Par perfeito Música do coração | Batida do coração | Música da alma Search Me | Don’t Hate the Player…Hate the Game Nets and Lies | Jules, the Bounty Hunter The Guardians | Testament


INFORMAÇÕES SOBRE NOSSAS PUBLICAÇÕES E ÚLTIMOS LANÇAMENTOS www.editorapandorga.com.br


1

A autora se refere à festa Sweet Sixteen (doce dezesseis), que equivale às festas de debutante no Brasil em comemoração aos 15 anos. (N.T.)


2

Juliette Gordon Low (1860 – 1927), que adotou o nome de Dayse, dedicou quinze anos de sua vida à construção da maior associação voluntária para mulheres e meninas nos EUA, chamada Girl Scouts. (N.T.) 3 Pralina é um doce à base de amêndoas e açúcar em caramelo. (N.T.) 4 Gumbo, um prato típico da culinária do Sul dos EUA, é um guisado ou uma sopa grossa geralmente com vários tipos de carnes ou mariscos, que se come com arroz. (N.T.)


5

Em tradução livre, “Eu não sou o tipo de pessoa que se apaixona rapidamente. Mas a você dediquei minha afeição desde o início”. (N.T.) 6 Em tradução livre, “Por favor, amor, será que você não vê/ Minha mente está como um inferno em chamas/Eu tenho navalhas cortando, rasgando e cortando/Meu coração também”. (N.T.) 7 Em inglês, bachelor auction, evento organizado para arrecadação de fundos que atendam a uma causa benemérita. (N.T.)


8 9

Savannah College of Art and Design. (N.T.) GPA é, em inglês, grade point average, uma medida de desempenho acadêmico que consta no histórico escolar. O grau 4.0 é excelente. (N.T.)


10

Poeta, intelectual e funcionário público inglês, conhecido pelo poema épico Paraíso perdido (1667). (N.T.)


11

Em tradução livre: “Venha chacoalhar seu corpo, baby, dance a conga. Eu sei que você não consegue mais resistir”. (N.T.) DILF é uma versão heterossexual de MILF, que é qualquer mãe sexualmente desejável. (N.T.) 13 CMA – Country Music Association. (N.T.) 14 Em tradução livre: “Você e tequila me deixam louco – correm como veneno em meu sangue. Só mais uma noite poderia me matar, baby...”. (N.T.) 15 Em tradução livre: “Quando se trata de você, oh, o dano que eu poderia fazer. É sempre em seus pecados favoritos que você se mete”. (N.T.) 12


16

Feeders são pequenos potes que servem como alimentadores de bebês. (N.T.) Em tradução livre: “Eu vi um anjo; disso tenho certeza”. (N.T.) 18 Em tradução livre: “Sim, ela chamou minha atenção quando nós passamos um pelo outro. Ela pôde ver no meu rosto que eu estava voando como um louco”. (N.T.) 17


19 20

Em tradução livre: “Diga alguma coisa, vou desistir de você. Eu vou ser o único, se você me quiser ...”. (N.T.) Em tradução livre: “Você é meu único amor, e eu estou lhe dizendo adeus”. (N.T.)


21 22

Em tradução livre: “Em uma cabine mal-iluminada da esquina, eu estava forçando e ela estava resistindo”. (N.T.) Em tradução livre: “Bem, eu olhei pra ele e o peguei olhando pra mim. Eu soube na hora que estávamos arrasando no Oregon”. (N.T.)


23

PrĂŠ-lei (pre-law em inglĂŞs) refere-se a um programa de estudos que prepara o aluno para a faculdade de Direito. (N.T.)


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