ELISAS - OFICINA LITERÁRIA PRA MENINAS 2ª EDIÇÃO - VITÓRIA/ES - 2018 Elaborada e pensada pelo Boas de Prosa, Elisas é uma oficina literária para meninas que possui o objetivo final de contribuir para a formação de jovens e adolescentes que desejam conhecer mais sobre literatura, mercado editorial e escrita literária, com foco no estímulo de suas criatividades e identidades. Esta miniapostila foi feita para complementar o ensino presencial realizado entre junho e julho de 2018, em Vitória, Espírito Santo. Textos: Isabella Mariano e Juane Vaillant. Isabella Mariano Isabella Mariano nasceu em 1992 e é formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Atualmente, cursa o mestrado em Comunicação e Territorialidades pela mesma instituição onde se graduou e trabalha na área do jornalismo online e cultural. Gosta de diagramação, produção cultural e de um bocado de outras coisas. Mas, é claro, sua paixão maior é pela literatura. Tanto é que ela lançou, em 2013, um pequeno livro com suas poesias, chamado “gotas”, que está disponível online. Ela também é autora do livro “Cortes lentos”, lançado pela editora Pedregulho, em 2015. Apesar de preferir escrever poemas, também se dedica ao exercício da prosa no blog Boas de Prosa. Pode ser meiga e sensível em um texto e, noutro, ser uma verdadeira sanguinária. Faz parte. Juane Vaillant Juane Vaillant é formada em Rádio e TV pela Faesa, cursou Teatro na FAFI, faz parte do coletivo de produção e articulação cultural Assédio Coletivo e é apaixonada por tudo que envolva arte e cultura, de atuação a edição de vídeo - embora sua grande dedicação seja escrever. Contos, fanfics, artigos, poemas, roteiros... Apenas escrever. Juane gosta de se definir como uma pessoa vermelha. Tanto é que a cor estampou a capa de seu primeiro livro de contos, chamado “O mundo de cá” e lançado em 2015 pela editora Pedregulho. Intensa e calorosa. Mas não se avexe não, dê uma olhada em seus textos e verá que é muito fácil entendê-la. CONHEÇA: boasdeprosa.blogspot.com.br
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO | pág. 04 MÓDULO I - Processo editorial e Divulgação | pág. 05 MÓDULO II - Mulheres na Ficcção | pág. 06 MÓDULO III - Elisa Lucinda - Escrita Criativa: Contos | pág. 08 MÓDULO IV - Suely Bispo - Escrita criativa: Poemas | pág. 11 EXERCÍCIOS EXTRAS | pág. 12 REFERÊNCIAS | pág. 14
Introdução Divulgados em 2016, os resultados da quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, elaborada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope sobre o ano de 2015, mostraram que entre os escritores (as) que os brasileiros mais gostam de ler estão Monteiro Lobato, Machado de Assis e Paulo Coelho. Na edição anterior, que analisou o ano de 2014, o resultado foi o mesmo: os principais nomes citados eram de autores homens. Durante muitos anos, os livros mais elogiados, reconhecidos e estudados no Brasil eram escritos por homens. Temos aí nomes de grande importância como Machado de Assis, Raul Pompeia, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Mário de Andrade e outros. Sempre em busca de seu espaço e independência, com o tempo, algumas mulheres alcançaram com suas obras o posto do que se chama de “clássico literário” como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Cecília Meireles. Uma pesquisa coordenada por Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília (UnB), demonstrou que as principais editoras brasileiras publicam, em sua maioria, obras escritas por homens. “Chama a atenção o fato de que os homens são quase três quartos dos autores publicados: 120 em 165, isto é, 72,7%. Cerca de 70 anos após Virginia Woolf publicar sua célebre análise das dificuldades que uma mulher enfrenta para escrever, a condição feminina evoluiu de muitas maneiras, mas a literatura – ou, ao menos, o romance – continua a ser uma atividade predominantemente masculina”, diz o estudo.
Ainda assim não há dados que demonstrem que as mulheres escrevem menos ou que não gostam de escrever. Ao citar Virginia Woolf, a pesquisadora Regina Dalcastagnè se refere a sua obra “Um Teto Todo Seu”, publicado originalmente em 1928. Nele, a escritora reflete sobre as condições das mulheres de sua época e a qualidade da literatura produzida por poucas delas e faz uma afirmação que ilustra bem a falta de mais nomes femininos na literatura brasileira: “Dê-lhe um espaço, um teto todo seu e quinhentas libras por ano, deixe que ela diga o que lhe passa na cabeça e deixe de fora metade do que ela hoje inclui, e
ela escreverá um livro melhor algum dia”. Para que se haja mais mulheres escrevendo, é preciso que elas tenham tempo para ler, entender a literatura e, enfim, espaço para produzir. A escola pode servir de espaço para que novas escritoras desenvolvam sua escrita, e em muitos casos realmente serve, porém são poucas as iniciativas que permitem esse tipo de atividade no ambiente escolar. Pensando nessas questões, em 2014, a escritora Joanna Walsh lançou a campanha #ReadWomen2014 (em tradução livre: #LeiaMulheres2014), alertando para a falta de apoio e de espaço das escritoras, com o objetivo de fazer com que cada vez mais leia-se livros escritos por mulheres. A campanha foi bem recebida ao redor do mundo e inclusive inspirou a criação de uma série de clubes de leitura em diversos cantos do Brasil. Grupos, inclusive, que serviram de ponto de encontro para que jovens escritoras trocassem referências e incentivassem umas às outras. E esse é também o foco do Elisas - Oficina Literária para Meninas que, em sua segunda edição, em 2018, tem o objetivo final de contribuir para a formação de jovens e adolescentes que desejam conhecer mais sobre literatura, mercado editorial e escrita literária. Pretende-se ainda estimular suas criatividades, apresentando possibilidades futuras de atuação. O nome Elisa foi escolhido para intitular o projeto como uma referência à escritora, atriz e cantora Elisa Lucinda, nascida na cidade de Cariacica, no Espírito Santo; que em seus textos frequentemente expõe vivências e traços da identidade da mulher negra brasileira. A escolha por abrir as inscrições apenas para meninas é a base do projeto e dialoga com o foco do blog Boas de Prosa, idealizador da oficina, que é abordar assuntos cotidianos vistos pelos olhos de mulheres. Somos acostumadas a ler, ouvir e assistir produções masculinas, tendo uma visão de mundo praticamente unilateral, onde os problemas do “universo masculino” estão sempre à frente dos problemas femininos. As participantes do projeto acreditam que é necessário um movimento de união, proposição e resistência feminina para mudar esse quadro. Além de dar espaço para que as mulheres se expressem, o objetivo do Elisas é formar leitoras e escritoras. Mulheres que não se sintam intimidadas ou relutantes na hora de mostrar seus trabalhos, seja
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na internet ou em publicações formais. O primeiro Pensar o conceito do livro é basicamente passo para isso é entender que seus problemas e ter a ideia. É responder à pergunta: “Sobre o que questionamentos diários são tão importantes quanto eu quero escrever?”. A partir daí, é preciso então os problemas masculinos. escrever. E esse processo pode ser um dos mais demorados. Mais à frente veremos algumas técnicas MÓDULO I para facilitar o desenvolvimento da escrita. Na hora de Processo editorial e Divulgação criar um projeto gráfico e diagramar, é preciso recorrer a algum profissional da área do Design. Ele ou Editoração é o nome que se dá ao processo ela é quem irá fazer a arte do livro, quem vai deixáde produção de publicações, sejam periódicas ou lo bonito, antes de mandarmos para a impressão. não, como livros, revistas, informativos, coletâneas, O processo de revisão é feito ao mesmo tempo. cartilhas, entre outras. Quando falamos da Enquanto uma profissional se dedica a criar a arte editoração do livro estamos nos referindo a tudo o para esse livro, outra terá a tarefa de corrigir os erros que é preciso fazer para transformar uma ideia em um de digitação ou de gramática que estão no livro - mas livro. Pode não parecer, mas aquele pequeno objeto nem sempre essa correção pode ou deve ser levada que estampa as prateleiras de bibliotecas e livrarias ao pé da letra. Solicitar um número de publicação, passou por muita coisa antes de chegar lá. Confira na imagem em destaque uma lista de ações necessárias um código de barras (ISBN) e o registro da obra na Biblioteca Nacional são as partes mais para a publicação de um livro impresso. burocráticas e que, geralmente, uma editora consegue fazer com mais rapidez. O ISBN - International Standard Book Number - é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os inclusive por edição. Seu sistema numérico também pode ser convertido em código de barras, o que elimina barreiras linguísticas e facilita a circulação e comercialização das obras. E, para solicitar, basta fazer um cadastro no site www.isbn.bn.br, realizar a solicitação e, após, fazer o pagamento das taxas referentes. Da mesma forma, o registro da obra na Biblioteca Nacional cobra um valor específico - atualmente de R$20. Para realizar essa solicitação, precisa-se apresentar cópia do RG e do CPF, comprovante de Todo esse processo pode ser feito por uma pagamento de taxa, uma cópia do conteúdo do livro, editora ou pelo autor de forma independente, ou seja, além de preencher uma ficha específica. Isso pode ele será sua própria editora. Entre as maiores editoras ser feito no Escritório de Direitos Autorais (EDA) no do Brasil estão a Rocco, a Companhia de Letras e a Rio de Janeiro ou pelos correios. Todas as informações Intrínseca - esta que publicou livros como “A Culpa podem ser obtidas no site www.bn.gov.br. Vale a pena é Das Estrelas”, de John Green; “Como Eu Era Antes conferir também com a biblioteca da Universidade de Você”, da Jojo Moyes; e “O Lar da Srta.Peregrine Federal do Espírito Santo (Ufes) que tem oferecido o Para Crianças Peculiares”, de Ransom Riggs. Citando mesmo serviço, porém sem custos nenhum. Com o livro pronto, se o autor pretende ter esses autores, parece impossível conseguir publicar um livro, mas não é. Porém também não é simples. É a obra em mãos, é preciso avançar para a etapa da impressão. É importante realizar diversos preciso conhecimento e, infelizmente, dinheiro.
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orçamentos, isso é, entrar em contato com mais de uma empresa que trabalha com impressão de livros para comparar os valores. Nessa etapa, é necessário ter em mente quantos livros serão feitos (isso se chama tiragem). Após esse longo e cansativo processo, que pode envolver dezenas de profissionais, e com o livro já em mãos, é preciso vender o livro. E aí chegamos à parte da divulgação. Muitas editoras pequenas têm optado por participar de feiras para poder divulgar os livros de seus autores, como a Bienal, a Feira do Livro e outros eventos locais. Isso porque as livrarias costumam cobrar uma porcentagem da venda dos livros e isso acaba prejudicando empresas pequenas É importante, no caso do Espírito Santo, participar dos eventos literários, como saraus, lançamentos, debates e palestras para poder conhecer outras autoras e, assim, divulgar seu livro. Uma das maiores formas de se divulgar algo é pelo boca-boca, ou melhor, falando pessoalmente. Outra forma não menos importante é falar sobre seu livro na internet. Uma opção é criar páginas no Facebook ou em outras redes sociais para contar sobre a história do livro e tudo o que motivou você a escrevê-lo. Como se pode ver, esse processo não é simples e, por isso, muitos autores preferem investir em uma editora. As editoras costumam cobrar taxas para realizar todo esse processo, por isso é necessário estar atenta às propostas para saber qual será a melhor para você e sua obra. As editoras Cousa e Pedregulho são duas editoras pequenas do Espírito Santo que tem feito esse trabalho. Também vale conhecer a Poesia de Papelão Cartonera, uma editora sustentável que publica livros artesanais com capas pintadas à mão com papelão reutilizado. MÓDULO II Mulheres na Ficcção
desejo. Mesmo nas histórias infantis clássicas, as mulheres são retratadas como vítimas, que precisam ser salvas ou que precisam de um romance para cumprir sua missão. De qualquer forma, a mulher na literatura pouco se parecia com a mulher real. Com o aumento do público leitor feminino somado à inserção das mulheres no mercado editorial, essa forma de representação está começando a ser revisada. Para pensar melhor sobre o tema, apresentamos algumas personagens para análise e debate em aula. - Lucíola e Iracema (ambas de José de Alencar) foram construídas no período romântico da literatura e, portanto, foram idealizadas e objetificadas, a serviço do homem. - Capitu (de Machado de Assis) é uma personagem muito interessante, porque representa como a mulher costuma ser vista através de olhos masculinos. - Katniss (Suzanne Collins) e Hermione (J.K. Rowling) mostram o poder da mulher e seu protagonismo, sem deixar de incluir o romance. - Daenerys Targaryen (R. R. Martin), apesar de ter sido criada por um homem, é uma personagem forte, independente, guerreira e corajosa. Ela se envolve com homens, mas o romance não é central, apenas parte de sua história. - CINEMA: As princesas da Disney e a necessidade de romance para cumprir sua missão. Mas e Moana, Valente e Elsa? O que elas representam? - CINEMA: Mulher Maravilha: guerreira, corajosa, porém com um corpo que não condiz. A porcentangem de mulheres publicadas hoje em dia ainda é bem menor do que a dos homens. No Brasil, cerca de 70% dos livros publicados são escritos por homens. Apesar disso, 6 mulheres estão entre os 14 escritores mais bem pagos de 2016, segundo a revista Forbes. Isso nos mostra que há público leitor para as escritoras mulheres, porém o mercado, carregado de preconceito e machismo, ainda é fechado para elas. Uma das saídas têm sido as publicações independentes, através de editais de cultura, financiamento colaborativo ou financiamento próprio.
Ao longo dos anos, a mulher tem sido representada na literatura de várias formas. Como dissemos, durante muito tempo, os livros mais lidos eram escritos por homens que criavam personagens femininas à luz de suas perspectivas. No período do Algumas mulheres para ler e conhecer: romantismo, a mulher era representada de forma - Alice Walker (Condado de Putnam Geórgia, 9 de idealizada, vista como um ser inatingível, frágil, fevereiro de 1944) é uma escritora estado-unidense transformando-a assim muitas vezes em objeto de e ativista feminista. É conhecida pelo livro “A Cor
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Púrpura”. Tem 34 livros publicados. - Ana Cristina Cesar (Niterói, 2 de junho de 1952 - Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1983) foi uma poeta e tradutora brasileira. Possui 9 livros publicados. - Anne Rice (Nova Orleães, 4 de outubro de 1941) é uma escritora norte-americana, autora de séries de terror e fantasia, como o livro “Entrevista com o vampiro”. Possui 34 obras publicadas. - Carolina Maria de Jesus (Sacramento, 14 de março de 1914 — São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) foi uma escritora brasileira. Conta com 8 livros publicados. - Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira. Mais de 20 obras publicadas. - Chimamanda Ngozi Adichie (Abba, 15 de setembro de 1977) é uma escritora nigeriana, costuma falar sobre a mulher e suas vivências em seus livros. Tem 9 livros publicados. - Elisa Lucinda (Cariacica, 2 de fevereiro de 1958) é uma poeta, jornalista, cantora e atriz brasileira. Possui 13 livros publicados. - J.K. Rowling (Yate, 31 de julho de 1965) é escritora, roteirista e produtora cinematográfica britânica, conhecida por escrever a série de livros Harry Potter. Tem 15 livros publicados. - Suzanne Collins (Hartford, 10 de agosto de 1962) é escritora e roteirista, conhecida pela trilogia Jogos Vorazes. Tem 12 livros publicados. - Virginia Woolf (Londres, 25 de janeiro de 1882 - Lewes, 28 de março de 1941) foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Tem 13 livros publicados Outros nomes: Adélia Prado, Angélica Freitas, Audre Lorde, Beatriz Nascimento, Cecília Meireles, Conceição Evaristo, Cora Coralina, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles, Lya Luft, Isabel Allende, Rachel de Queiroz, Simone de Beauvoir, Jojo Moyes, Paula Pimenta, Wisława Szymborska, Margaret Atwood, Jane Austen, Mary Shelley, Emily Dickinson. Escritoras do Espírito Santo: Aline Dias, Ana Carolina Assis, Andréia Delmaschio, Andressa Zoi Nathanailidis, Bernadette Lyra, Cora Made, Isabella Mariano, Izabela Orlandi, Juane Vaillant, Lilian Menenguci, Luisa Soresini, Livia Gegenheimer,
Karen Almeida de Assis, Naira Valente, Nieve Matos, Rissiane Queiroz, Sarah Vervloet, Suely Bispo, Brunella Brunello, Aline Prúcoli, Ida Borchardt. Quem foram as irmãs Brontë? As três irmãs, Charlotte, Emily e Anne Brontë, conseguiram notoriedade no universo literário em meados do século XIX, na Inglaterra. Elas tiveram que enfrentar muitas dificuldades para conseguirem publicar seus livros. Por serem mulheres, temiam não serem aceitas no universo da literatura, portanto faziam uso de pseudônimos. Charlotte publicou diversos livros e o seu romance mais conhecido, “Jane Eyre”, ela escreveu com o pseudônimo Currer Bell. Emily, que escrevia sob o pseudônimo Ellis Bell, é autora do livro “O Morro dos Ventos Uivantes”, hoje considerado um clássico da literatura mundial. E Anne, com o pseudônimo Acton Bell, publicou em 1848 o livro “A Inquilina de Wildfell Hall”, considerado um dos primeiros romances feministas. Exercício 1 Leia o texto abaixo em voz alta. Essa frase tem cinco palavras. Aqui estão mais cinco palavras. Gosto de frases desse tamanho. Mas, quando juntas, fica monótono. Escute o que está escrevendo. A escrita está ficando chata. Soa feito um zumbido ruim. Parece com um disco arranhado. O ouvido exige certa variedade. Agora ouça. Eu mudo o comprimento da frase, e crio música. Música. A escrita canta. Ela tem um ritmo agradável, uma cadência, uma harmonia. Uso frases curtas. E uso frases de comprimento médio. E, às vezes, quando tenho certeza de que o leitor está descansado, vou envolvê-lo com uma frase de tamanho considerável, uma frase que queima com energia e se constrói com todo o ímpeto de um crescendo, o rolar dos tambores, o estrondo dos címbalos - que parecem dizer: ouça isso, é importante. Então, escreva com a combinação de frases pequenas, médias e longas. Crie um som que agrade o ouvido do leitor. Não escreva palavras, apenas. Escreva música. - Gary Provost
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Usar frases de diferentes tamanho causa um efeito no leitor. O que você percebeu que aconteceu com o texto quando o autor utilizou somente frases de cinco palavras? E o que aconteceu quando ele utilizou frases curtas e longas?
Não passa. MÓDULO III Elisa Lucinda - Escrita Criativa: Contos
Exercício 2 Transformando poemas Essa atividade consiste em utilizar um poema já existente para criar outro. Você pode fazer isso de várias formas, mas estes quatro passos podem ajudar no momento inicial. Passo 1: Escolha um poema e leia atentamente.
Leia quantas vezes forem necessárias para entender tudo que o poema diz para você. Passo 2: Reescreva o poema modificando apenas a ordem das frases, das palavras ou da pontuação. Obs.: não coloque, nem retire nenhuma palavra. Passo 3: Escolha três frases do poema e refaça tentando dar o sentido inverso do que você entendeu. Passo 4: Escreva um poema com a mesma ideia do poema escolhido, mas que não tenha a maioria das palavras do outro. Use a criatividade e não se esqueça de colocar o seu olhar e estilo literário. Obs.: Você pode fazer todas as coisas em um dia só, ou cada etapa em um dia. As duas formas são válidas e os resultados serão muito diferentes. Poema sugerido: Brancas Noites Suely Bispo (presente no livro “Lágrima Fora do Lugar”, ed. Cousa, 2016, p. 26) A noite demora a chegar Não vem com a lua Permanece o sol Noite adentro... A noite clara Invade o espírito As flores a desabrochar E em frente à lareira Alguém toma um chá Para esquentar o frio Que mesmo assim
“Livro é remédio”, é o que ela diz. Elisa Lucinda: nome que inspira, texto que transborda, voz que nos põe a pensar, corpo que preenche, impõe-se, reivindica. Só assim, por ser quem é. Elisa Lucinda nasceu na cidade de Cariacica, no Espírito Santo, no ano de 1958. Aquariana com ascendente em Touro, faz aniversário em 2 de fevereiro. Seus talentos são múltiplos e não se restringem apenas à escrita. Ela também canta e atua, por cima de um palco, ou atrás de uma câmera. Elisa começou a escrever seus versos aos 11 anos e é hoje inspiração a todas que, como ela, foram meninas sonhadoras ou, também como ela, são mulheres resistentes e corajosas. Diplomada em jornalismo em 1982, iniciou suas atividades no teatro. Em 1986, foi tentar a vida no Rio de Janeiro, levando consigo seu filho Juliano que tinha apenas quatro anos. Lá, ingressou na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL). Atriz de televisão, teatro e cinema, professora universitária, escritora de contos, poemas, peças teatrais e letras de música, Elisa fez e faz sucesso nas várias atividades a que se dedica. Mas é a interpretação da poesia, a poesia falada, o lado que mais a fascina. Com apenas 10 anos, participou de um curso de interpretação teatral de poesia, em Vitória, que despertou na artista uma paixão irrefreável. O resultado são os CDs de poesia lançados por Elisa, que são: “Semelhante”, “Euteamo e suas Estréias”, “Notícias de Mim”, “Estação Trem - Música” e “Ô Danada”. Também lançou mais de 10 livros ao longo de sua carreira, entre obras de contos e de poemas. São eles: “A Lua que menstrua” (produção independente, 1992), “Sósia dos sonhos” (produção independente), “O Semelhante” (Ed. Record, 1995), “Eu te amo e suas estréias” (Ed. Record,
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1999), “A Menina Transparente” (Ed. Salamandra), Transforma fato em elemento “Coleção Amigo Oculto” (Ed. Record), “50 Poemas A tudo refoga, ferve, frita Escolhidos pelo Autor” (Edições Galo Branco, 2004), Ainda sangra tudo no próximo mês. “Contos de Vista” (Ed. Global, 2005), “A Fúria da Cuidado moço, quando cê pensa que escapou Beleza” (Ed. Record, 2006), “A Poesia do encontro” com É que chegou a sua vez! Rubem Alves (Ed. Papirus, 2008), “Parem de falar mal Porque sou muito sua amiga da rotina” (Ed. Leya – Lua de papel, 2010), “A Dona da É que tô falando na “vera” Festa” (Grupo Editorial Record/Galerinha Record, 2011), Conheço cada uma, além de ser uma delas. “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada” (Ed. Record, Você que saiu da fresta dela 2014) e “Vozes Guardadas” (Ed. Record, 2016). Delicada força quando voltar a ela. Além de toda essa trajetória impressionante, Não vá sem ser convidado Elisas tem longa jornada pelos palcos, pela TV e pelo Ou sem os devidos cortejos.. cinema. Ela é ainda idealizadora e fundadora da Casa Às vezes pela ponte de um beijo Poema, um projeto com foco na arte-educação, que Já se alcança a “cidade secreta” promove saraus, cursos de declamação, entre outras A atlântida perdida. atividades. Com seu jeito ímpar de dizer versos, Elisa faz Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela. com que todos entendam seu conteúdo e se encantem Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas pelo poder da poesia. Sua principal inspiração é o Cai na condição de ser displicente cotidiano. É a partir do simples que Elisa consegue fazer Diante da própria serpente o extraordinário. “A grandeza de um céu estrelado está Ela é uma cobra de avental presente no cotidiano das pessoas; minha poesia fala Não despreze a meditação doméstica do cotidiano, sim, pois para mim os sentimentos mais É da poeira do cotidiano profundos, alegres ou tristes, podem ser traduzidos de Que a mulher extrai filosofando forma cotidiana e simples” (Elisa Lucinda) Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso Aviso da Lua Que Menstrua Julgando a arte do almoço: eca!... Elisa Lucinda (presente no livro “O Semelhante”, Ed. Você que não sabe onde está sua cueca? Record, 2006, p. 123) Ah, meu cão desejado Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir Moço, cuidado com ela! Então esquece de morder devagar Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Esquece de saber curtir, dividir. Imagine uma cachoeira às avessas: E aí quando quer agredir Cada ato que faz, o corpo confessa. Chama de vaca e galinha. Cuidado, moço São duas dignas vizinhas do mundo daqui! Às vezes parece erva, parece hera O que você tem pra falar de vaca? Cuidado com essa gente que gera O que você tem eu vou dizer e não se queixe: Essa gente que se metamorfoseia Vaca é sua mãe. de leite. Metade legível, metade sereia. Vaca e galinha... Barriga cresce, explode humanidades Ora, não ofende. enaltece, elogia: E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar Comparando rainha com rainha Mas é outro lugar, aí é que está: Óvulo, ovo e leite Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.. Pensando que está agredindo Sua boca maldita não sabe que cada palavra é Que tá falando palavrão imundo. ingrediente Tá, não, homem. Que vai cair no mesmo planeta panela. Tá citando o princípio do mundo! Cuidado com cada letra que manda pra ela! Universo, teu nome é padaria! Tá acostumada a viver por dentro,
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Elisa Lucinda (presente no livro “Contos de vista”, ed. Global, 2004, p. 30) Outra vez sete de setembro. E o dias passavam iguais na adolescência de Serpentina. Era, em absoluto, apaixonada pelas coisas novas. Tanto o novo de novidade quanto o novo que intervinha na ordem de igualdade das fileiras dos dias. Aquele quartel de hora cheio de colégio de irmãs, dogmas dos pecados dos cotidianos. Goiabeiras vermelhamente semelhantes. Amou portanto um líquido novo preto amarronzado que lhe escorria das garrafas goela adentro, infância afora: Pepsi-Cola, tevê e Pepsi. Quanta delícia contemporânea! Mas neste sete de setembro o novo era a morte. Nem a morte no sentido exato, mas a cena. O cenário. Serpentina gostava em especial do que mudava. Do que se intrometesse voraz num modo habitual de, transformando-o em. Serpentina: expressivos olhos enormes naquele magro corpo se metamorfoseando para peitos e quadris de moça. E a avó morria-lhe ali. Naquele feriado cívico. Morava na casa, mãe da mãe. Tinha função de poder e repressão, mas fazia cozidos como ninguém. Morria e a neta observava com excitação, quase alegria, a troca da mesa de centro pelo caixão, das jarras pelos castiçais funéreos, do sorriso materno pelo desespero. Sentia tudo: o cheiro de café para amargar de propósito a boca, a euforia dos vizinhos pelo luto acumulado. Ai, como era nova aquela manhã ensolarada para Serpentina! Naquela época, o pai, num furor edipiano e no perigo de vê-la crescer, exercia a tirania de não deixá-la sair. Ser moça. Do mundo. Nem para ir à venda do Seu Zé Carolino. Pois que ninguém como Serpentina para subverter a ordem: ia pela manhã comprar farinha, voltava à tarde sem a farinha e sem o troco. Por cima dos farelos, mentiras mandiocantes. Neste dia de sentimento, o poder atordoou-se, e num descuido, como ela parecia a mais tranquila dos netos, ouviu apenas a voz rouca do pai: – Serpentina, vá comprar pão. Tal ordem entrou-lhe no peito como luz de sol primeira depois de enchente. – Sim, papai. Saiu-lhe quase muda essa obediência querida, prazerosa. Não, não era o cumprimento de uma ordem. Era um desejo! Um enorme desejo que a faria correr ao quarto, vestir o tubinho listrado de cenoura e branco, onde a mão da mãe, num de seus últimos cursinhos de pintura, pintara margaridas brancas
com folhas verdes assanhadas, que nem primavera de gente nova. Lá estava , virgem ainda, o bendito tubinho. Primeiro depositou-o sobre a cama como se fosse mirra. Depois vestiu com graça e calor um sutiã cor-de-rosa mocinha, cuja alça deixaria cair sem querer e aparecer suntuosa ao lado da manga cavada do vestido... só pra que as amigas notassem: tinha crescido, lá estavam eles, redondos e gulosos a furar a popeline da idade. Cresciam. Coisa contínua. Quase progresso. E agora, às amigas. Sim, porque antes do pão visitaria as amigas. Lacrimejaria os olhos para dar a notícia da morte da avó. Depois o pão. Tinha, no entanto, uma certa culpa da ausência de dor formal, falta de escândalos e lágrimas. Então tentava concentrar-se nisto. Mas tudo era tão novo, o fato trazia-lhe tanta inquietude sapeca que não havia jeito de face e de alma onde pudesse morar a dor. Estava feliz. Nem o almoço seria o meio dia em ponto! O enterro seria às 16 horas. E até então era a defunta quem fazia almoço. Pensou no cozido; quase chorou. Tubinho já no corpo. Linda, era o que espelho parecia lhe dizer. Só que a porta onde onde estava incrustado o danado do espelho não parava nunca de mover-se. Parecia variar ao soluço da mãe na sala. Coitada, como deve ser ruim enterrar a mãe, a gente deve se sentir sem mundo quase. Olhou para o fantasma dos vestidos da morta no cabide. Teve medo de si. De sua vaidade. Remorso de sua alegria. Arrependimento de sua beleza. Sabia que o juízo final não ia lhe ser fácil. Movimento luciferiano do espelho e ela foi em busca do pão com as moedas lacradas em punho como quem parte: Universo, teu nome é padaria! Descia as ladeiras quase saltitante. O sol de setembro dourava-lhe o moreno negro da pele nova das pernas raspadas sem a mãe saber. Chorou nos ombros das amigas íntimas e nos das colegas menos íntimas chorou mais ainda. Os sinos anunciam agora. Tocam dobrando tudo: meio-dia. O bairro chora. A avó era escorpiana beata militante. Guerrilheira de Deus. Seguia à frente na procissão com sua fita azul de Apostolado da Oração. A igreja anuncia. O sino fecha o parêntese de Serpentina. Volta para casa com pães amassados nas mãos. Há velório na sala. Os olhos rendidos do pai feroz e sábio. O desespero acalmado, sedado da mãe. A tristeza vórfã dos irmãos. A cor lutuosa dos vizinhos.
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As conversas rezadas baixinho. Tudo era igualmente novo. E parado. Os pães, só os pães quentinhos do sovaco de Serpentina. Depositou-os sobre a mesa, mas a vida havia morrido, parado. A família pontuou bem pontuada sua história ali, ali. A avó era morrida no meio da sala. E os olhos de Serpentina estão sorrindo nesse tentador parágrafo. É que ainda por cima, era sete de setembro, a parada militar era lei lá no colégio de freiras, mas ela não marcharia. Exercício Mudança de ponto de vista Um dos recursos mais interessantes da literatura é o ponto de vista, ou seja, quem está contando. A primeira - e importante - subdivisão é entre o narrador personagem (que faz parte da história e a conta em primeira pessoa) e o narrador observador (que não faz parte da história e conta em terceira pessoa). No primeiro caso, o ponto forte é o mergulho na psique do personagem, a possibilidade de explorar os sentimentos do mesmo. Já no segundo, o autor fica mais livre para mostrar vários aspectos da história, sem que o protagonista esteja necessariamente presente. Mas dentro desses formatos muita coisa pode ser feita. Por exemplo, esse narrador personagem, ele é o protagonista ou está falando sobre a vida de alguém? Ele era próximo dessa pessoa? Ele gostava dela ou não? Para esse exercício, escolha um conto de até três páginas e reescreva com outro ponto de vista. Vale tanto mudar o estilo narrativo como o personagem que narra. Tente pensar em uma voz própria para esse narrador, sempre lembrando que ele não precisa pensar como você. MÓDULO IV Suely Bispo - Escrita criativa: Poemas
“A ideia da nudez do corpo e da alma e ainda a nudez do ator em cena está presente do início ao fim do livro”. É assim que Suely Bispo descreve o processo do seu primeiro livro publicado, o “Desnudalma”, lançado em 2009. A ideia de falar do universo poético e cênico como uma coisa só permeia toda a obra da autora. Suely é escritora, poetisa e atriz, formada em História e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É atriz do Teatro Experimental Capixaba e do Centro de Cultura Guaananira, além de possuir vários trabalhos solos independentes na área teatral, tendo começado a atuar no teatro em 1994. Como atriz, ela também participou do curta-metragem “Beatitude”, de Délio Freire, e da novela global “Velho Chico”, de Benedito Ruy Barbosa. Em “Desnudalma”, seu primeiro livro, ela agrupa seus poemas em três partes: Erotismo, Arte e Religiosidade. Sendo este último muito importante para a sua carreira como poeta. Em entrevista para Livia Corbellari, no site “Livros por Lívia”, ela diz que o poema “Oxum” foi o segundo que escreveu na vida - na época em que nem se considerava poeta - e a acompanha por toda a vida. A importância do texto foi tamanha que ele chegou a ser traduzido para o francês pela atriz Rosi Andrade - que hoje vive na França. Rosi também levou para fora do Brasil o poema “Filha de Iansã”, já que ambos estão em sua dissertação. Os poemas falam sobre ancestralidade, religiões de matriz africana e o ser feminino. Em 2016, Suely lançou seu segundo livro de poemas, chamado “Lágrima fora do lugar”. Jorge Nascimento, escritor do prefácio do livro, descreve a obra da seguinte maneira: “Lágrimas que transmutam em outros elementos, o vento, a chuva, o fogo ocorrem por entre os vocábulos, buscando ancestralidades, embarcando com o pai nas terceiras margens das canoas dos tempos”. O livro fala bastante sobre a lágrima, o choro, a pureza da saudade. Mas também sobre a própria poesia. Encontrá-la dentro de si e admirar a própria consciência. O amor, a relação com o outro, a solidão e muita água constroem o que é Lágrima Fora do Lugar. Além do poema que dá título ao livro, destacam-se os textos “Lunáticos - Sonhando com John Donne” - poeta que é grande inspiração para Suely - e “Um
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poema para o Velho Chico”, poema que ela também palavras que recebeu. É interessante tentar ilustrar ou tem declamado em vídeo. Além deste, Suely também usar recursos de poesia concreta para passar melhor tem “Desejo” e “Alma Morta” no mesmo formato. a mensagem. Desfiguração Uma forma de fazer o exercício em grupo é Suely Bispo (presente no livro “Lágrima Fora do colocar várias palavras em um pote, retirar três Lugar”, ed. Cousa, 2016, p. 52) e todos escrevem a partir dessas palavras. Para aumentar o grau de complexidade, escolher palavras Para tirar o gosto de nada da boca de categorias diferentes ajuda: um substantivo, um Pare de marcar toca verbo e um adjetivo, por exemplo. E beba a palavra Obs.: Tente escolher entre as palavras Encharcada. presentes nos poemas de Suely Bispo! Para tirar o gosto de nada da boca Tem que engolir a palavra Com sabor e cor De Tom Jobim. Para tirar o gosto de nada da boca Coma frases simples Como as que saem da imaginação De uma criança. Para tirar o gosto de nada da boca Encontre a palavra certa Para namorar Sem medo. E quando não mais aguentar De tanto comer palavras, frases e cores Vomite figuras... Choro
Suely Bispo (presente no livro “Lágrima Fora do Lugar”, ed. Cousa, 2016, p. 32) Não choro de tristeza Somente essa vontade De desaguar em ti Mais um poema Exercício Três Palavras
Exercício 2 Dicionário Abra o dicionário (ou algum livro ao seu redor) em qualquer página e escolha uma palavra. Escreva um poema ou um conto tentando definir a palavra da sua maneira. Use e abuse de metáforas. Coloque seu coração no texto! EXERCÍCIOS EXTRAS Rotina de escrita
É muito importante escrever com muita frequência quando iniciamos o processo. Só a prática nos faz ver quais são nossos pontos fortes e fracos e qual é nosso estilo literário. Uma boa forma de começar a criar uma rotina de escrita é escolher um horário (que seja bom para você todos os dias ou na maioria deles) para escrever algo que você observou durante o dia. Você pode criar um padrão de acordo com o que você mais gosta, como por exemplo “ter no máximo cinco linhas” ou “ser sempre um poema” para facilitar a execução. Não se esqueça de colocar o despertador para tocar ou anotar na agenda ou encher a parede de lembretes. Word prompt Word prompt, também conhecida como “palavras de gatilho”, são ideias e provocações para que a pessoa se sinta motivada a escrever. Elas são utilizadas para evitar o famoso “branco” quando vamos tentar começar a escrever alguma coisa. Eis aqui alguns exemplos:
Geralmente se faz esse exercício em duplas, mas dá para fazer com quantas pessoas quiserem. É só questão de logística e planejamento. As duas pessoas pensam em três palavras (cada uma) e falam uma para a outra pessoa. Após isso, as duas têm que criar um poema ou conto utilizando as três - Escreva sobre o ponto de vista de um amigo
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imaginário - Escreva um poema sobre um poema - Escreva sobre o ponto de vista de uma cor - Escreva sobre um sonho que parecia muito real - Escreva uma memória de infância em cinco linhas. - Escreva 25 frases começando com a palavra “verde”. - Conte uma história com apenas 5 frases e comece cada uma delas com uma vogal diferente - Pegue uma manchete de jornal e transforme em uma poesia. - Digite o nome de um objeto no google. Coloque em “imagens” e escreva um poema sobre a primeira imagem que aparecer. - Conte uma história da sua vida, pelo ponto de vista de alguém que você conhece. - Fale sobre um amor que vocês nunca viveu. - procure por um filme que você nunca viu (sites de filme online, netflix) e através do seu nome, crie uma breve história. - Faça um poema em que nada rime. - Faça um poema sobre fazer um poema
assim como os sentimentos e as vivências do dia a dia. Imaginar como seria um mundo em que os bruxos existissem, com escolas e portais numa estação de trem, foi o que levou a escritora J.K. Rowling a escrever a famosa saga Harry Potter. Ela imaginou e, é claro, incluiu em seu universo imaginário tudo o que gostaria de transmitir com a escrita. A imaginação, às vezes, é uma bela forma de se entender a nossa própria realidade. Então, faça o seguinte exercício: pense em um objeto ou em um sentimento e, em seguida, pense em um verbo. Por exemplo: amor (sentimento) e falar (verbo). A partir daí, crie uma pergunta neste modelo: e se o amor falasse? Com base nessa pergunta, escreva um texto, pode ser um conto, um miniconto ou um poema. E se a televisão voasse? E se os livros andassem? E se o tempo fosse uma pessoa? Esse é um bom exercício para quem se interessa por livros de literatura fantástica, como Harry Potter, Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia e outros.
Diário de bordo
Quebra-cabeça de revistas
Ao menos uma vez por semana, conte algo que aconteceu com você, em forma de poema. Durante o dia, tente observar a sua volta. A paisagem, as pessoas, as conversas, os cheiros, a luz… De tudo um pouco. E quando for escrever, use um desses elementos:
Descreva
Corte palavras interessantes, frases e imagens de revistas e jornais. Coloque-as em uma tigela, feche os olhos e puxe dois destes trechos. Faça uma pequena história de não mais de 250 palavras. Escreva uma descrição, com no máximo 200 palavras, de algum lugar. Você pode usar quaisquer elementos sensoriais. Descreva como se sente, como são os sons, os cheiros e os sabores de lá. Tente fazer uma descrição de forma que as pessoas não percam os detalhes visuais.
- O nome de uma rua - Um número de ônibus - Um prédio público - Uma hora do dia - O nome de um mês ou estação do ano - Um objeto de uso cotidiano - Um personagem real (alguém que você conviveu Com amor, Escreva uma carta para você mesma. Pode durante essa semana) ser para o seu eu do passado ou o seu eu do futuro. - O seu próprio nome Não escreva apenas conselhos, fale como a vida pode Essa é uma ótima maneira de exercitar o texto ter mudado, fale das diferenças e do que pode ter descritivo. Destrinchar a paisagem, as sensações dos permanecido igual. personagens, a luz, o clima… Tudo isso é importante Foto-texto para contar uma história. Vá até a gaveta de fotos dos seus pais ou resonsáveis. Pegue uma foto de uma ocasião especial E se? A imaginação é um dos combustíveis da escrita, (aniversário, casamento, batizado…) Faça uma
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história sobre esse dia. Mesmo que você não esteja REFERÊNCIAS na foto. Principalmente de você não estiver. Depois mostre o texto para alguém que estava, e descubra AGÊNCIAS BRASILEIRA DE ISBN. Disponível em: como foi. A partir disso, junte as duas histórias. www.isbn.bn.br. Pronto: Você fez um conto baseado em fatos reais.! BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em: www.bn.gov. Converse com a autora ou o autor br. Procure por um conto ou um poema de alguma BISPO, Suely. Lágrima fora do lugar. Vitória: Cousa, autora ou autor que goste muito. Leia atentamente e 2016. busque interpretar cada detalhe do texto. Em seguida, escreva um texto em resposta, se possível fazendo DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem do romance referência ao nome da autora ou ao nome do poema brasileiro contemporâneo: 1990-2004. Disponível ou até mesmo a frases utilizadas. em: periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/ view/2123/1687. Exemplo:
“Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul Não houvesse tantos desejos”
DRUMMOND, Carlos. Poema de Sete Faces. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/carlosdrummond-de-andrade/460830/>. FORBES. 14 escritores mais bem pagos de 2016. Disponível em: http://www.forbes.com.br/ listas/2016/08/14-escritores-mais-bem-pagosde-2016/
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil O trecho acima pertence ao Poema de Sete - 4ª edição. Disponível em: prolivro.org.br/home/ Faces, escrito Carlos Drummond de Andrade. images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_ Em resposta aos seus versos iniciais, Isabella Mariano Brasil_-_2015.pdf escreveu o seguinte poema, presente no livro “Cortes Lentos” (ed. Pedregulho, 2015): LIVROS POR LÍVIA. Entrevista: Suely Bispo. Disponível em: <http://livrosporlivia.com/entrevista/entrevistaquando eu nasci suely-bispo>. nenhum anjo, torto ou rijo, disse coisa alguma LUCINDA, Elisa. O Semelhante. 5ª ed. Rio de Janeiro: vim ao mundo sem direção Record, 2006. fui tanto para a direita ______. Contos de Vista. São Paulo: Global, 2004. quanto para a esquerda sem saber o destino MARIANO, Isabella. Cortes Lentos. Vitória: andei em círculos Pedregulho, 2015. até que, no meio do caminho, alguém me encontrou talvez fosse um anjo talvez não e me disse: vai! só vai… e fui, sem mais pensar nas coordenadas
REVISTA FÓRUM. 40 escritoras para ler antes de morrer. Disponível em: http://www.revistaforum.com. br/2014/10/28/40-escritoras-para-ler-antes-demorrer/. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Tordesilhas, 2014.
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