Antalogia
Pensamento fragmentos do
Pronto. Feito está. Por Adriana Ramiro
De tanto olhar para trás tropeçou no presente derrubou o futuro De tanto se lamentar Afogou o riso Assassinou a alegria Mutilou a essência De tanto dizer “se” Desdenhou o talvez Jogou fora a opção Destroçou a oportunidade Arrependeu-se tanto Que arrepender-se virou meta Criou uma vida Construiu uma estrada Ergueu uma ponte Arrependendo-se
De tanto dizer só “mais esta vez” Nunca houve completude Suspirou por acaso Respirou por precisar Porque disse nunca Nunca avançou Nem retrocedeu Fadado, estagnou E quando pensou que era fase levou tempo para entender que de tanto dizer ao invés de agir Deixou de viver.
Não viu o dia passar Chegou a noite Nem se deu conta de que dormiu Quando acordou vegetava
5
A menina das onze Por Helley Hounsell
Um olhar tão penetrante, ela tinha assim Um jeitinho de menina mulher, que enganava a mim Tão crescida, tão jovem Era indecisa Não sabia o que fazer nem pra onde ir Tinha no rosto um sorriso que iluminava Um caminho de algum cego da escuridão pro fim. Sua voz era a mais doce Tinha no peito uma tatuagem, não sei bem o quê Pareciam algumas flores, quem sabe um buquê? Carregava muitas dores em seu coração Tinha pena da própria vida de prostituição. Era moça, era mulher, era criança e era velha Nas calçadas da cidade a sua vida brilhava Nas ruas de algum beco escuro, onde ninguém a achava Onde dançaria a noite toda no palco de algum marmanjo Tinha medo da luz do sol Tinha medo da luz da lua Não sabia o que queria, nem mesmo o que sentia. Talvez tivesse uns 25, ou talvez 30 Sua idade não importava, disso eles não queriam saber Ela tinha um caderno, mas não um caderno qualquer Era um caderno proibido, daqueles que não se deve ler 6
Ali escrevia tudo o que era Suportando sempre e sendo quem não queria ser Sua vida não valia nem um centavo do que parecia valer Ela não era o que deveria ser Qualquer um inventaria seu sobrenome Porque um nome já lhe deram “Menina das 11”. Era moça, era mulher, era criança e era velha Nas calçadas da cidade a sua vida brilhava Nas ruas de algum beco escuro, onde ninguém a achava . Onde dançaria até amanhecer Num palco sendo quem n ão queria ser O seu salto era alto, por isso a envelhecia A sua idade atual , nem mesmo ela sabia. Não que ninguém a quisesse, a queriam em tempo integral. Era desejada, mas o desejo lhe custava Diferente das outras, ou talvez igual Mas ela sabia que, jamais sairia com boa fama num jornal. Menina das onze Das suas inocências não sobrou nenhuma Dos seus sorrisos só ficaram os falsos E nisso, virou e desvirou mulher e assim ficou. Dos seus lares só a rua sobrou.
Voltar
Por Elen Queiroz
Antes de o dia virar noite De a canção completar. De a porção acabar. Quero voltar. Rebobinar a fita Parar o tempo naquele instante Naquele momento Em que seus lábios tornaram-se meus E os meus, seus Antes do ultimo adeus De o primeiro raiar do sol Quero teu sorriso só para mim Teu olhar sobre mim Focando minha face, Analisando. Absorvendo. Acariciando. Sem ao menos tocar-me Questionar-me. Interrogar-me Sem mistérios. Sem mazelas Sem retenções ou reticências. Voltar ao começo de tudo. De tudo que para nós, um dia, foi importante. Anelado e contemplado. Minuciosamente arquitetado Passos que sequer chegamos a dar Porém, poderíamos caminhar Sem rumo ou planos. E reviver o que por nós um dia foi abandonado.
7