A PROVA DAS LARANJAS
A Prova das Laranjas
Numa região havia um senhor muito importante que tinha um escrivão: um empregado que lhe fazia as contas, via os lucros, as dívidas, as rendas… O escrivão fez este trabalho durante muitos anos até que chegou a velho. Um dia procurou o senhor e disse-lhe: -Como vêdes, senhor, estou já muito velho. Precisais de alguém para ocupar o meu lugar. Eu tenho em casa três filhos e ficaria muito contente se pudesse ser para um deles. -Pois seja assim - respondeu o senhor. - Mereces bem que oiça o teu pedido. Que venham cá, um de cada vez, para eu escolher. Veio primeiro o mais velho. O senhor tinha mandado pôr na sala de casa uma bacia com água e laranjas mergulhadas nessa água. Eram quatro inteiras e sete cortadas ao meio, com as partes cortadas encostadas ao fundo da bacia. O senhor, parecendo à espera de mais alguém, continuou à porta da sala e disse ao rapaz que entrasse e contasse aquelas laranjas. Ele assim fez. Passados uns instantes, voltou e disse: - Senhor, são dezoito laranjas que estão na bacia. -Pede ao teu pai que mande cá outro filho.
Veio o filho do meio, e o senhor voltou a pedir-lhe que contasse aquelas laranjas. Também ele não se demorou nada. Num abrir e fechar de olhos resolveu o problema: -São dúzia e meia, as laranjas, senhor. -Diz ao vosso pai que mande o terceiro filho. Assim aconteceu. Apresentou-se o filho mais novo que vinha triste, porque já adivinhava a pergunta e não sabia a resposta. O teste foi realmente o mesmo: que visse o número das laranjas. O rapaz procurou não perder a calma. Viu dois trabalhadores da casa, chamou-os, e disselhes: -O senhor quer que eu conte estas laranjas. Peço-vos que sejam testemunhas do que eu vou fazer. Arregaçou as mangas e mergulhou as mãos na água da bacia. -Sois testemunhas: são sete laranjas cortadas e quatro inteiras. A seguir pegou em papel e na pena e escreveu o auto, assinado pelas testemunhas e por si próprio, e apresentou-o ao senhor. E ouviu dele estas palavras: -Fizeste o que um verdadeiro oficial deve fazer, e não como outros que, sem verem o que era realmente, disseram o que lhes pareceu. É teu, desde agora, o lugar deixado por teu pai. Zacarias Nascimento. Contos e Lendas de Portugal