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Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Mobilidade
À espera da Rodovia do Parque Trecho de 18 km é o elo, em um raio de 300 km, dos municípios que concentram 75% do PIB gaúcho DNIT
Isaías Rheinheimer
O
negócio do empresário Clóvis Luis Maurer, 54 anos, às margens da RS-240, em Portão, será um dos poucos a sofrer consequências do projeto de prolongamento da BR-448, a Rodovia do Parque. Ele terá que abandonar o espaço construído 13 anos atrás e abrir a casa de produtos coloniais em um novo endereço, pois o local onde hoje está instalada a Casa de Cucas será parte da malha viária do novo trecho da rodovia, com a construção de um viaduto. O empresário ficou sabendo da novidade em outubro do ano passado e não perdeu tempo: adquiriu uma nova área de terras às margens da rodovia estadual, que liga os vales do Sinos e Caí com a Serra, onde irá instalar o negócio. Seguirá em Portão, mas seis quilômetros distante de onde fica o estabelecimento hoje. “O jeito foi iniciar a construção de um outro prédio. Afinal, não teríamos como bater de frente em uma situação dessas. Vai ser bom para muita gente, inclusive para nós. É o progresso”, ponderou Maurer. Embora cause insegurança, natural de quem sai da zona de conforto, Maurer se diz otimista com a necessidade de mudança. Ele acredita que a chegada da BR-448 aumentará o movimento em seu estabelecimento. Independentemente de quando a extensão será iniciada, o traçado da Rodovia do Parque já está definido. Os 18 novos quilômetros de estrada devem iniciar nas proximidades do quilômetro seis da BR-448, em Esteio, e dali seguir rumo ao município de Portão, até a RS-240. Fora a casa de produtos coloniais, o restante da rodovia deve afetar basicamente grandes propriedades rurais pertencentes a empresários ligados ao agronegócio, onde o impacto social é bem menor, na avaliação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Meio bilhão de reais
Apesar de ter sido prometido para 2016, o início das obras do segundo lote da rodovia, entre Esteio e Portão, ainda está rodeado de incertezas. Um ano depois, o Dnit, autarquia ligada ao Ministério dos Transportes, não avançou além do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental. A falta de orçamento impede a realização da licitação, que definirá o consórcio que construirá a estrada. Com a estimativa de custar mais de meio bilhão de reais, uma coisa é certa: a solução desse problema não ocorrerá este ano. Pelo menos é o que informou o superintendente do Dnit no Rio Grande do Sul, Hiratan Pinheiro da Silva. Ele revela que qualquer novo passo deve ser feito somente em 2018. E isso só se houver boa vontade política. Caso sejam reservados recursos
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TRAÇADO Vinda da BR-448 ao Vale do Sinos cruzará lavouras de arroz até chegar RS-240 em Portão
para a obra no orçamento do próximo ano, existe a chance de a obra se iniciar em 2019.
Esperança para a retomada de crescimento
Quem também vê somente vantagens no prolongamento da rodovia é o prefeito de Portão, José Renato das Chagas. Para ele, o município está se preparando para retomar o rumo do crescimento. A projeção é que a vinda da Rodovia do Parque até Portão provoque, no médio e longo prazo, um incremento de 35% a 40% no Produto Interno Bruto (PIB) local. E a explicação está em uma análise feita por uma comissão que passou a discutir o Plano Diretor da cidade nos primeiros meses de 2014, logo após a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) anunciar o prolongamento da rodovia. “O trecho em que será construído o segundo lote da rodovia é o ponto central, em um raio de 300 quilômetros, dos municípios que concentram 75% do PIB do Rio Grande do Sul. Nesta faixa de terras, há chances de se criar uma nova rota de cargas do Estado, pois há um sistema de rodovias, ferrovia e hidrovia, tudo muito próximo”, projetou o atual chefe do Executivo. João Hermes Nogueira Junqueira, especialista em Engenharia de Transportes, concorda com a analogia e lembra que nesse pacote pode ser acrescentado o projeto de construção de um novo aeroporto. Segundo
o engenheiro, o trecho por onde está prevista a Rodovia do Parque no Vale do Sinos é o centro de gravidade geoeconômica do Estado. Ele faz o apontamento com a propriedade de quem há 25 anos acompanha a questão do desenvolvimento da região. “O prolongamento da BR-448 é o investimento mais bem aplicado, mais necessário, mais estratégico para a melhoria da mobilidade da Região Metropolitana. Você reduz a distância de transporte, gera uma melhoria para Porto Alegre e tira da BR-116 todo aquele trânsito. Quem viver verá o acerto da decisão tomada caso ocorra o prolongamento da 448”, avaliou.
Autoestrada
Aliás, dar um descanso para a BR-116 foi o que motivou o nascimento da Rodovia do Parque. E, para evitar que a BR-448 caminhe para aquilo que se transformou a 116 entre o Vale do Sinos e a Capital com o passar dos anos, o Dnit criou uma regra: todas as empresas que já procuraram ou que irão procurar o órgão requisitando a abertura de acessos locais recebem um “não” como resposta. O engenheiro Carlos Alberto Garcia Vieira, supervisor do Dnit no Vale do Sinos, destaca que a norma se deve ao fato da autarquia trabalhar com uma ideia de fazer da nova rodovia uma autoestrada, a exemplo do que é a BR-290 (Freeway).
Vinda da rodovia pode gerar incremento de até 40% no PIB local” José Renato das Chagas Prefeito de Portão