Trabalho Final de Graduação - Isabella Januário - 22.01.2016

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ENTRO OMUNITÁRIO

ALVORADA

ESCRITO E PROJETADO POR

ISABELLA JANUÁRIO


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CTC - DAU - ARQUITETURA E URBANISMO

CENTRO COMUNITÁRIO ALVORADA

Trabalho de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá. Acadêmica: Isabella Caroline Januário Orientador: Prof. Ms. Aníbal Verri Júnior Coordenador: Prof. Ms. Aníbal Verri Júnior

Maringá 2016


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EDICATÓRIA

À minha família: Lourdes, Gilmar e Julia.


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GRADEDIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Gilmar e Lourdes que até agora não entenderam muito bem minhas andanças pelo Jardim Alvorada, mas que me apoiam incondicionalmente em todas as escolhas e desafios da vida. À minha irmã Julia, com quem posso compartilhar o peso das responsabilidades e dificuldades do dia a dia, e ao mesmo tempo, escutar músicas e assistir filmes para desestressar e não ficarmos loucas. Ao Murilo que esteve comigo ao longo de todo esse processo de seis anos, me dando força e acreditando em mim nos momentos de ansiedade e dúvidas. Pelo incentivo, companheirismo e trocas de ideias que fizeram todo o diferencial para minha formação. Ao professor Aníbal, por ceder as fotos do Museu Kunsthal, pelo interesse, apoio e disposição em ajudar, não só ao longo desse ano de orientação (ou dois), mas durante toda a graduação. E aos demais professores que me serviram de exemplo e inspiração para a profissão que escolhi. Aos amigos que encontrei ao longo do curso e aos que já me acompanhavam antes dele, mas que levo sempre comigo. Desde aqueles que reconheci no primeiro momento de arquitetura, bem como aqueles em que fortalecemos laços recentemente. Por último, mas não menos importante, aos amigos de intercâmbio. Todos vocês me acrescentaram algo, pessoal e profissionalmente, com a amizade sincera e muito bom humor. Nossas discussões sobre cidade e arquitetura, estão, de algum modo, inseridas nesse trabalho. Por fim, agradeço a todos que de alguma forma me ajudaram a concluir esta etapa.


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UMÁRIO

INTRODUÇÃO

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1. HIPÓTESES PARA O LUGAR: O CASO DA PRAÇA RAQUEL DORA E SEU ENTORNO EM MARINGÁ

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1.1 O plano inicial de Maringá e os conceitos de centro secundário, unidade de vizinhança e espaços comunitários

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1.1.1 Os centros secundários

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1.1.2 Unidades de Vizinhança

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1.1.3 Espaços comunitários

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1.2 Miguel Angel Roca e as cidades dentro de Córdoba

2. ANÁLISEDE CORRELATOS 2.1 Centro Cultural Wolfsburg 2.2 Centro Cultural São Paulo - CCSP 2.3 Memorial à Republica - Piracicaba 2.4 Biblioteca Jaume Fuster 2.5 Arquitetura de referência: Rem Koolhaas - Kunsthal

3. HIPÓTESES DO REAL: LEVANTAMENTOS E ANÁLISES 3.1 O Jardim Alvorada no tempo 3.2 Caracterização atual do bairro 3.3 Apropriação da Praça Raquel D. P. Pintinha e seu entorno

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20 20 24 27 30 33

39 39 41 44

3.3.1 Praça Raquel D.P. Pintinha

44

3.3.2 Colégio Estadual Unidade Pólo

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3.3.3 Praça Vicente Simino

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3.3.4 UPA e NIS III

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3.4 Estratégia geral

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4. O PROJETO 4.1 Considerações projetuais 4.2 As diretrizes para o espaço comunitário 4.3 Projeto arquitetônico

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4.3.1 Condicionantes

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4.3.2 Programa de necessidades

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4.3.3 Memorial descritivo e justificativo

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4.3.4 Desenhos e perspectivas

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4.3.5 Conclusão

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5.1 Livros 5.2 Artigos, teses, periódicos e trabalhos de conclusão de curso 5.3 Sites 5.4 Normas e legislações

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ISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: Diretrizes para o projeto referente ao Centro Comunitário Alvorada. FIGURA 02: Mapa de localização da área de estudo. FIGURA 03: Anteprojeto do plano inicial de Maringá. FIGURA 04: Mapa de identificação de quadras com equipamentos públicos. FIGURA 05: A Unidade de Vizinhança. FIGURA 06: Trecho recortado da planta para a proposta final de Vieira, para Maringá. Zona 03 ou Vila Operária e Zona 05. FIGURA 07: Esquema do centro secundário, unidade de vizinhança e JD Alvorada. FIGURA 08: Esquema para a proposta de espaço comunitário. FIGURA 09: Esquema da rede de Centros de Participação Comunitária, proposta por Miguel Angel Roca, para a cidade de Córdoba. FIGURA 10: A cidade do globo prisioneiro. FIGURA 11: O contexto urbano do Centro Cultural, na cidade de Wolfsburg. FIGURA 12: Implantação do Centro Cultural de Wolfsburg. FIGURA 13: O leque formado pelo pátio central, como distribuição do programa e o esquema cabeça-cauda. FIGURA 14: Modelo físico do Centro Cultural de Wolfsburg, evidenciando em vermelho, a transição do público (praça cívica) e o térreo do edifício. FIGURA 15: Esquema do plano rebaixado. FIGURA 16: Plano rebaixado da biblioteca do centro cultural. FIGURA 17: Maquete do Centro Cultural de Wolfsburg exemplificando a materialidade do mármore carrara, aplicado a fachada do edifício. FIGURA 18: Planta de cobertura Centro Cultural de Wolfsburg . FIGURAS 19 e 20: Detalhe para os aspectos internos do edifício. FIGURA 21: Plantas pavimento térreo, pavimento superior, corte e fachada oeste. FIGURAS 22, 23 E 24: Respectivamente, imagem do acesso principal; fachada sul, e lojas na porção oeste. FIGURA 25: Esquema síntese do centro cultural em Wolfsburg. FIGURA 26: Estudo da implantação do edifício. FIGURA 27: Plantas e programa do projeto CCSP. FIGURAS 28, 29, 30: Respectivamente - Acesso ao CCSP a partir da estação de metrô; átrio e estrutura principal; e Biblioteca Alfredo Volpi. FIGURA 31: Corte explicativo do Centro Cultural de São Paulo. FIGURA 32: Estrutura cobertura com balanços de 4 a 6 metros. FIGURA 33: Estrutura metálica e a relação de abrigo na passagem. FIGURA 34: Esquema síntese elaborado para o projeto do CCSP. FIGURAS 35 E 36: Respectivamente - a implantação atual da praça, e a implantação proposta pela equipe vencedora do concurso. FIGURAS 37, 38 e 39: Maquete elaborada pela equipe evidenciando os elementos do partido arquitetônico seguido. FIGURAS 40 E 41: Planta térreo inferior e subsolo, sem escala. FIGURAS 42, 43, 44 E 45: Cortes e fachadas do projeto. FIGURAS 46 E 47: Imagens que mostram o contexto do projeto, evidenciando o espelho d’água e o volume da biblioteca como destaque do conjunto. FIGURA 48: Esquema síntese do projeto para o Concurso Memorial à República. FIGURA 49: Contexto urbano da Biblioteca Jaume Fuster. FIGURA 50: Planta de situação da Biblioteca Jaume Fuster. Em destaque a praça Lesseps. FIGURA 51: Maquete de estudo para a biblioteca e seu contexto urbano. FIGURAS 52, 53 e 54: 52 - Praça de acolhimento; 53 - Acesso e extensão do café; 54 - Acervo música e vídeo e a relação com o pavimento superior.

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FIGURA 55: Plantas e cortes referente ao projeto da Biblioteca Jaume Fuster. FIGURA 56: Relação dos pavimentos a partir do vazio criado e a escada helicoidal de ligação entre os dois. FIGURA 57: Esquema síntese do projeto referente a Biblioteca Jaume Fuster. FIGURA 58: Relação do edifício com o contexto urbano. FIGURA 59: Perspectiva geral do projeto e do acesso principal do projeto. FIGURA 60 E 61: Planta primeiro pavimento e térreo, e corte transversal do projeto. FIGURA 62: Fachada referente ao projeto. FIGURA 63: Estudos com maquete para o projeto Kunsthal. FIGURAS 64: Modelo de estudo circulação. FIGURAS 65 E 66: Modelos para estudos. FIGURA 67: Modelo com a solução final do auditório e café. FIGURA 68: Espaço interno do auditório, e a divisão do percurso. FIGURAS 69 E 70: 69 - Parte referente ao café e fim do percurso. 70 - Auditório. FIGURAS 71 E 72: 71 - Ambiente do café/restaurante. 72 - espaço expositivo do museu. FIGURA 73: Esquema síntese do projeto Kunsthal. FIGURA 74: Biblioteca Pública Municipal Nilo Gravena. FIGURA 75: Esquema morfogênese - Maringá. FIGURA 76: Esquema localização bairro e contexto urbano. FIGURA 77: Esquema figura - fundo do bairro. FIGURA 78: Residências unifamiliares próximas a Casa da Cultura. FIGURA 79: Residências unifamiliares próximas a biblioteca. FIGURA 80: Esquema densidade do bairro. FIGURA 81: Comércio local próximo a Praça Vicente Simino. FIGURA 82: Comércio local próximo a Praça Vicente Simino e colégio. FIGURA 83: Esquema uso e ocupação do bairro. FIGURA 84: Esquema localização Praça Raquel D. P. Pintinha. FIGURA 85: Fachada principal Biblioteca. FIGURA 86: Sala principal biblioteca. FIGURA 87: Teatro na sala principal - evento da semana cultural nas bibliotecas. FIGURA 88 E 89: Fachada do salão comunitário e a praça em dia de Alvorada Fest. FIGURA 90 e 91: 90 - Alunos Colégio Unidade Pólo. 91 - Manifestação cultural na parte externa ao auditório. FIGURA 92: Esquema localização do Colégio Estadual Unidade Pólo. FIGURA 93: Aula no pátio externo ao Colégio Unidade Pólo. FIGURA 94: Esquema localização da Praça Vicente Simino. FIGURA 95: Praça Vicente Simino. FIGURA 96: Paróquia São Francisco de Assis. FIGURA 97: Perspectiva do projeto original da Igreja São Francisco de Assis, projetado por Luty Kasprowicz. FIGURA 99: Contexto acesso da UPA. FIGURA 98: Esquema localização do setor referente a saúde. FIGURA 100: Estratégia geral para a intervenção. FIGURA 101: Esquema para as diretrizes do espaço comunitário. FIGURA 102: Diretrizes para a elaboração de uma rua compartilhada. FIGURA 103: Antes e depois Rua Hipócrates, trecho entre escola e centro comunitário (01).

32 32 32 34 34 35 35 35 35 35 35 36 36 36 36 38 39 40 41 42 42 42 43 43 43 44 44 44 44 45 45 46 46 46 46 47 47 47 47 48 50 51 51


FIGURA 104: Antes e depois Rua Hipócrates, trecho entre escola e igreja (02). 51 FIGURA 105: Implantação esquemática para o centro comunitário. Escala 1:2000. 52 FIGURA 106: (01) Mapa de uso e ocupação do solo do Município de Maringá. (02) Tabela Anexo II pertencente ao relatório de uso e ocupação do solo. (03) Recorte da lei, referente ao artigo sobre os parâmetros específicos para a Zona Residencial. 53 FIGURA 107: Recorte sobre as informações do terreno e suas dimensões. 53 FIGURA 108: Esquemas para dimensionamento do terreno. 53 FIGURA 109: Planta de situação do existente. Escala 1:5000. Indicação do posicionamento das fotos. 54 FIGURA 110: [1] Teatro e biblioteca. . 54 FIGURA 111: [2] Biblioteca e Salão comunitário. . 54 FIGURA 112: [3] Entrada da praça e a Rua Hipocrátes. . 54 FIGURA 113: [4] Praça e a vista para a Av. Sophia Rasgulaeff. 54 FIGURA 114: Esquema do programa de necessidades. 55 FIGURA 115: Corte esquemático do programa de necessidades e o terreno 01. 55 FIGURA 116: Corte esquemático do programa de necessidades e o terreno 02. 55 FIGURA 117: Maquete de estudo - destaque para a praça coberta e ao percurso proposto para o projeto. 56 FIGURA 118: 3D esquemático com o percurso e o programa. 56 FIGURA 119: Esquema duplicação do térreo - corte esquemático. 57 FIGURA 120: Esquema do 3D construtivo. 57 FIGURA 121: Implantação e cobertura. 59 FIGURA 122: Planta térreo superior. 60 FIGURA 123: Planta térreo inferior. 61 FIGURA 124: Plantas primeiro e segundo pavimento. 62 FIGURA 125: Corte e fachada AA. 63 FIGURA 126: Detalhe construtivo 01. 64 FIGURA 127: Corte e fachada BB. 65 FIGURA 128: Detalhe construtivo 02. 66 FIGURA 129: Corte e fachada CC e DD. 67 FIGURA 130: Detalhe construtivo 03. 68 FIGURA 131: Detalhe construtivo 04. 69 FIGURA 132: Perspectiva 01. 70 FIGURA 133: Perspectiva 02. 71 FIGURA 134: Perspectiva 03. 72 FIGURA 135: Perspectiva 04. 73 FIGURA 136: Perspectiva 05. 74


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NTRODUÇÃO Este trabalho final de graduação apresentará uma nova proposta para

visão desses projetos. Nessa perspectiva, busca-se não só compreender as

o atual Conjunto Cultural do Jardim Alvorada, presente na Praça Raquel Dora

necessidades referentes ao programa, mas também aproveitar o potencial do

Paraná Pintinha, visando contemplar ambientes inexistentes nos edifícios para

terreno e do entorno a partir das qualidades que o lugar já possui e dessa for-

as atividades oferecidas ao bairro e à cidade.

ma, torná-lo mais atrativo à comunidade.

Atualmente, encontra-se na praça a Biblioteca Municipal Nilo Gravena, a

Para que esse trabalho fosse viabilizado, analisaram-se brevemente a

Casa da Cultura Alcídio Regini e o Centro Comunitário Moisés Carolino Filho.

cidade, o bairro e o entorno imediato, acompanhados de um estudo teórico

O primeiro edifício apresenta ambientes fisicamente inadequados para a expo-

dos conceitos que os envolvem. Posteriormente, consultaram-se exemplos de

sição, armazenagem, digitalização e conservação de aproximadamente 15 mil

arquiteturas que consideram a realidade local, além de análises de edifica-

livros e revistas, resultando em um espaço que não propicia com total qualida-

ções similares, a fim de compreender as soluções projetuais propostas pelos

de as atividades culturais que a biblioteca é capaz de oferecer.

arquitetos, e portanto adotar um partido arquitetônico coerente a ser seguido.

O Centro Comunitário é também um edifício que não apresenta ambien-

Na sequência, apresentou-se um estudo das condicionantes do projeto, tais

tes adequados e qualificados para as manifestações culturais diversas que

como: legislação urbana, entorno e terreno; além do estabelecimento de um

acontecem no prédio e se ampliam para a praça, como por exemplo: os almo-

programa de necessidades e seu sobredimensionamento; além de um me-

ços e jantares, reuniões e aulas gratuitas de dança, artes marciais e capoeira.

morial descritivo e justificativo com as demais peças gráficas necessárias ao

Além disso, o Centro Comunitário é o responsável por dar assistência as festas

entendimento do projeto.

que acontecem no bairro, como por exemplo, o “Alvorada Fest”. A Casa da Cultura por sua vez, é composta pelo auditório, uma secretaria e uma sala de balé e é incorporado ao trabalho como uma revisão do seu pro-

Assim, a pesquisa documental e bibliográfica, o levantamento de campo e estudos in loco, embasaram este trabalho para a elaboração do projeto arquitetônico, que possui as seguintes diretrizes:

jeto e implantação na praça, entendendo-o como um objeto de grande atração para o lugar. O funcionamento de outros edifícios públicos presentes no entorno da Praça Raquel Dora, influencia a dinâmica do lugar em estudo, sendo eles principalmente: o Colégio Estadual Unidade Pólo, a Igreja São Francisco de Assis e o Salão Paroquial na Praça Vicente Simino, a Unidade de Pronto Atendimento

atrair mais pessoas

e Policlínica Municipal Zona Norte. Por meio desse trabalho, propõe-se, portanto, uma reflexão sobre o papel desses edifícios públicos nas periferias de Maringá, assim como uma re-

requalificação do espaço físico

resgate da memória: importância do lugar

lazer, cultura e educação

FIGURA 01: Diretrizes para o projeto referente ao Centro Comunitário Alvorada. Elaborado pela autora.

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“Acho que é muito melhor dizer que somos desafiados pelas necessidades das pessoas”. Rem Koolhaas.

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1 HIPÓTESES PARA O LUGAR O CASO DA PRAÇA RAQUEL DORA E SEU ENTORNO EM MARINGÁ

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HIPÓTESES PARA O LUGAR: O CASO DA PRAÇA RAQUEL DORA E SEU ENTORNO EM MARINGÁ Localizada no coração do Jardim Alvorada, em Maringá, encontra-se a

Praça Raquel Dora Paraná Pintinha, composta pela atual Biblioteca Pública Municipal Nilo Gravena, o Centro Comunitário Moisés Carolino Filho e a Casa da Cultura Alcídio Regini (ver figura 02). Este capítulo, busca entender a conformação desse espaço a fim de compreender sua concepção e o seu entorno no contexto da cidade. A partir de uma breve análise do plano inicial de Maringá, estudaram-se as ideias urbanísticas que influenciaram o seu desenho urbano, considerando principalmente a criação de centros secundários, interpretados posteriormente como unidades de vizinhança e centros comunitários. Dessa forma, fez-se necessário uma pesquisa sobre a formação do bairro e o seu contexto, avaliando a situação atual dos equipamentos públicos presentes na área de estudo, com

1.1 O plano inicial de Maringá e os conceitos de centro secundário, unidade de vizinhança e espaços comunitários Maringá é uma cidade planejada e projetada pelo engenheiro civil Jorge de Macedo Vieira, contratado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) no final da década de 1940. Segundo Rego (2001) o traçado urbano desenvolvido por Vieira, mostra uma aproximação com as ideias do movimento cidade-jardim na Inglaterra, baseado nos estudos de Ebeneezer Howard1 e materializado posteriormente por Raymond Unwin2 e Barry Parker nos projetos de Letchworth (1904-06) e Hampstead (1905).

1.1.1 Os centros secundários Ainda de acordo com Rego (2001), os preceitos de Unwin, seguidos por

o objetivo de reinterpretar o espaço que conformam entre si.

Vieira para o desenho de Maringá foram: um meio natural como suporte para a formação da cidade; uma arborização e ajardinamento para auxiliar no conforto urbano; um traçado de malha urbana e uma rede viária que respeitasse a topografia da cidade e colaborasse na conformação dos espaços urbanos. Tal traçado ajudou a delimitar o desenho das praças de acordo com suas demandas, sendo essa, uma das justificativas para os desenhos diversos desses espaços. Os centros secundários, aparecem no plano inicial de Maringá vinculados ao desenho das vias e também como uma das formas de hierarquização e qualificação desses espaços urbanos, com um centro principal e uma rede poli nuclear com outros menores. Observa-se que tais centros eram compostos por uma praça circundada de edifícios comerciais e públicos, como por exemplo, igrejas, escolas, hos-

FIGURA 02: Mapa de localização da área de estudo.

Elaborado pela autora.

1 Ebeneezer Howard autor do livro “Cidades-jardins de amanhã” (1902), considerando a cidade jardim como um novo esquema teórico de cidade e gestão. 2 Unwin autor do livro “Town Planning in Pratice: an introduction of the art of desing cities and suburbs” (1909), aborda intenções projetuais para o desenvolvimento de uma cidade jardim.

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LEGENDA

pitais, campos de esporte e parques infantis. O objetivo era projetar centros

Centro principal plano inicia l

criação de um ponto focal para área e, consequentemente, criando uma iden-

Centros secundários plano inicia l

tidade local (ver figura 03).

Quadras com equipamentos públicos: centros secundários descaracterizados

G I M O Ã S A S

T

R

A

D

José E

Major

da

Cruz

Abelardo

públicos não foram projetados com o conceito de identidade para o bairro.

.

Norte

secundários. O comércio se apoiou nas vias principais da cidade e os edifícios

Contorno

Rego (2001) nota que o projeto executado não implementou os centros

U

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em escala menor, com os edifícios dispostos de forma que contribuísse para a

Quadra em análise - Praça Raquel D Paraná Pintinha

Alguns dos espaços indicados no plano, recaíram atualmente sobre os “redondos” ou “rotatórias”, perdendo sua característica original. Embora descaracterizadas do conceito inicial, algumas quadras com equipamentos públicos continuaram a aparecer na cidade à medida em que o plano inicial se expandia. Tais edifícios servem à escala do bairro imediato e outros próximos, porém não criam com clareza a identidade local, devido à falta de conexão entre os edifícios e o entorno. Para o desenvolvimento desse trabalho foram identificadas quadras com equipamentos públicos comunitários com o auxílio de mapas de loteamentos da Prefeitura Municipal de Maringá. Destacaram-se também os centros secundários previstos no plano inicial (ver figura 04). FIGURA 04: Mapa de identificação de quadras com equipamentos públicos.

Elaborado pela autora com auxílio de mapas de loteamentos e equipamentos comunitários da Prefeitura de Maringá.

O mapa identifica uma quantidade relativamente alta de quadras com equipamentos públicos, localizados principalmente nas extremidades da área urbana de Maringá e loteamentos mais recentes. Porém são quadras compactas, muitas vezes fechadas e que não permitem outras alternativas, além de rotas externas à elas. O comércio é escasso, de pequena escala e geralmente apoiado na via de maior fluxo e rota para o centro. O programa de necessidade se limita em uma escola e uma unidade de pronto atendimento. Portanto, apeFIGURA 03: Anteprojeto do plano inicial de Maringá.

Fonte: Prefeitura de Maringá apud MENEGUETTI (2007, p.80), modificado pela autora.

sar da alta quantidade de edificações dentro dessas quadras, elas conformam hoje espaços públicos pouco convidativos.

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1.1.2 Unidades de Vizinhança

Dessa forma, o conceito de neighbourhood unit, busca propostas para identificar fisicamente uma unidade urbana ou bairro (uma escala intermediária

Com relação aos centros secundários indicados no anteprojeto de Maringá, destaca-se a preocupação de Vieira com a implantação de equipamentos públicos, conferindo em alguns casos, um foco para a escola. Essa ideia aproxima-se do conceito de Unidade de Vizinhança proposto por Clarence Perry.

entre a cidade e a habitação) e, dessa forma, facilitar a existência de uma verdadeira comunidade vicinal. Nessa perspectiva, Cordovil (2010) interpreta os centros secundários indicados no anteprojeto de Maringá, como a Zona 03 (Vila Operária) e Zona 05,

Perry (1929), em Neighborhood and community planning, entende que

também como Unidades de Vizinhança. Em ambos os casos, os equipamentos

um bairro seria parte de uma área urbana, mas que deve proporcionar uma

públicos ou espaços livres estão amarrados à uma importante via que se co-

certa autonomia, pois o seu programa considera equipamentos que são ne-

necta com eixos de mobilidade e centralidade (ver figura 06).

cessidades básicas para toda a comunidade, como por exemplo, a escola ele-

No caso da Zona 03, a autora destaca a Igreja São José atua como um

mentar, os pequenos parques e playgrounds, o comércio local e o ambiente

ponto focal na Av. Riachuelo, via que se conecta com importantes eixos de mo-

residencial (ver figura 05).

bilidade e centralidade (atuais Avenida Mauá e Brasil), localizados mais afas-

Os princípios da unidade de vizinhança são, portanto: o tamanho das vias externas (arteriais) e internas (locais), a unidade, pois essas facilitam a cir-

tados da área residencial. No seu final a Av. Riachuelo recebe mais uma rótula com jardim e tem como seu limite, o Parque do Ingá e sua parkway1.

culação de veículos e pedestres; os limites da unidade ocupados com edifícios

Para a Zona 05, a autora comenta que a área é marcada pelo Bosque das

institucionais e comércio local, criando um centro protegido, reservado para a

Grevíleas como ponto focal do lugar para ser um o local de reunião comunitá-

escola, habitações e parques e espaços recreativos; e a atenção dada a pro-

ria, auxiliado pelo traçado das vias de acordo com as curvas de nível. O acesso

porção para os tamanhos de vias, equipamentos públicos e a população que

se dá diretamente pelas vias que atravessam longitudinalmente o plano, no

deveria habitar esse lugar.

sentido Leste-Oeste, as atuais Avenidas Rio Branco, Tiradentes e Brasil. FIGURA 06: Trecho recortado da planta para a proposta final de Vieira, para Maringá. Zona 03 ou Vila Operária e Zona 05.

Fonte: Acervo do DPH PMSP apud CORDOVIL (2010, p. 146)

FIGURA 05: A Unidade de Vizinhança.

Fonte: PERRY (1929, P. 39) apud CORDOVIL (2010, p. 145)

1 Dentro do conceito paisagístico de Olmsted, no livro “Designing the American Landscape” estavam as “parkways”, isto é, avenidas - parques responsáveis pela interligação de espaços verdes e passeios planejados.

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Nos exemplos citados da Zona 05 e 03, propostos na planta final para Maringá, o ponto focal existe vinculado a uma via importante que confere acessibilidade tanto às vias de menor tráfego (área residencial), quanto a um parque e também a área central. Nesse sentido, o local de investigação e intervenção desse trabalho, a Praça Raquel Dora, pertence a uma área de equipamentos públicos do Jardim Alvorada, na qual percebe-se no seu entorno imediato algumas ideias que se aproximam do conceito elaborado por Clarence Perry para a Unidade de Vizinhança. A quadra da escola pública e a Praça Vicente Simino, atuam como pontos focais da área e do bairro, principalmente pelo seu desenho ao centro no agrupamento de edifícios. Existe também uma via de fluxo menos importante para o acesso, principalmente de veículos à esses equipamentos. Externo a eles e a área residencial, encontram-se as vias de maior tráfego: a Av. Sophia Rasgulaeff e Av. Pedro Taques, importantes eixos de mobilidade e centralidade para a cidade (ver figura 07). CENTRO SECUNDÁRIO

UNIDADE DE VIZINHANÇA VIAS

CENTRO ESCALA MENOR PONTO FOCAL PARA ÁREA IDENTIDADE LOCAL

tões principais a descentralização do centro principal para o desenvolvimento de secundários, preocupando-se com equipamentos públicos para a comunidade local, servindo como base para elaboração da noção de vizinhança. Segundo as autoras Devillard et Jannière (1977), o esquema da “Unidade de Vizinhança” teve ampla penetração na revisão do projeto Moderno de cidade no segundo pós-guerra – abordado, principalmente pelos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). Uma das divergências encontradas na revisão proposta, foi qualidade conferida aos espaços livres da cidade e aos espaços contidos entre as edificações. Com o interesse de rever essa urbanidade nas cidades, resgatar através da possibilidade do encontro e da troca de ideias um tipo de vida cívica e social coletiva, era mais adequado o termo “espaço comunitário”, afastando-se da noção de “espaço público”. Devillard et Jannière (1971), argumentam que o termo referente ao “espaço público” pode estar vinculado à ideia de vida pública - reduzindo-se as vias política: direito à cidade, à cidadania e à democracia. Nessa perspectiva, tor-

AUTONOMIA BAIRRO

CENTRO PROTEGIDO

VIAS

Os espaços livres no anteprojeto de Maringá têm como uma das ques-

(com simples função de mobilidade e passagem) - e as praças, a uma esfera VIAS

VIAS

VIAS

VIAS

1.1.3 Espaços comunitários

VIAS DE MENOR TRÁFEGO

na-se difícil rever com exatidão o uso urbano de tal termo. O conceito de espaço comunitário, segundo as autoras, está enraizado na sociologia e na filosofia alemã do final do século XIX e apoiará o conceito de “vizinhança” desenvolvida pela Escola de Chicago. Esse, por sua vez, aparece

JARDIM ALVORADA

esboçado em textos publicados pelo CIAM no imediato pós guerra, como por exemplo, em The Human Scale in the City Planning (1943) de Josep Lluís Sert (um dos organizadores do CIAM VIII), que aborda a preocupação de humanizar

VIA TRÁFEGO -

ÁREA PROJETO VIA TRÁFEGO +

as novas cidades criando espaços físicos comuns, em que o direito ao domínio AGRUPAMENTO DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS PRAÇA E ESCOLA COMO PONTO FOCAL VIAS DE MENOR TRÁFEGO

público do pedestre estivesse garantido, possibilitando dessa forma, o resgate da relação entre indivíduo e o coletivo.

FIGURA 07: Esquema do centro secundário, unidade de vizinhança e JD Alvorada. Elaborado pela autora

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Uma década depois, os membros do Team X1 desenvolveram suas pro-

1.2 Miguel Angel Roca e as cidades dentro de Córdoba

postas observando a escala intermediária entre cidade e casa, com o objetivo de ressaltar as noções de comunidade, vizinhança, mobilidade e áreas co-

Para a compreensão da prática arquitetônica como composição de um

muns para o bairro. Essas propostas estabeleceram vínculos com espaços

cenário de descentralização, a partir de reforços edilícios e equipamentos re-

existentes, enfatizando a identidade e a apropriação de determinados lugares

creativos, estudou-se o trabalho de Miguel Angel Roca e suas propostas para

e, então, fortalecendo o sentimento de pertencimento do morador com sua

a periferia de Córdoba, a segunda cidade mais importante da Argentina.

casa, rua, bairro, e cidade.

De acordo com Souza (2008), ao assumir o cargo de secretário de obras

Portanto, o espaço comunitário refere-se a um lugar físico, de uso co-

públicas da prefeitura de Córdoba no início dos anos 80, motivado por um

mum ao bairro que facilita as práticas sociais, prioriza os pedestres (se neces-

processo de democratização pós-ditadura militar na Argentina, Roca elaborou,

sário, com revisões das funções das vias), repensa os espaços contidos entre

primeiramente, um programa de resgate do centro histórico da cidade e poste-

as edificações e com o auxílio de um objeto arquitetônico, atende os interesses

riormente, na década de 90, para a periferia. Elaborou um plano com estratégia

coletivos e individuais do bairro. Auxiliada pelos conceitos apresentados, este trabalho buscará projetar um objeto arquitetônico que contribua para a composição de um espaço comunitário para o bairro do Jardim Alvorada (ver figura 08). JARDIM ALVORADA

FIGURA 08: Esquema para a proposta de espaço comunitário.

Elaborado pela autora.

semelhante para La Paz, Bolívia, e Santiago, Chile. Tais propostas baseava-se em uma estratégia urbano - arquitetônica de descentralização política, administrativa e de serviços municipais, buscando no caso de Córdoba, estruturar uma cidade então fragmentada. Nesse sentido, o projeto previu a criação de Centros de Participação Comunitária (CPC), assim como a abertura de avenidas que unissem os Centros entre si e também à zona urbana (ver figura 09).

AGRUPAMENTO DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS PRAÇA E ESCOLA COMO PONTO FOCAL VIAS DE MENOR TRÁFEGO

ÁREA PROJETO

Localizados aproximadamente a seis quilômetros do centro urbano, tais objetos arquitetônicos foram projetados com uma forte linguagem formal, a fim de criar uma identidade para a área. Portanto, eles foram imaginados como novos centros da vida social e cultural da comunidade urbana. Vale ressaltar o

ESPAÇO COMUNITÁRIO

período de experiência de Roca, entre 1966-1969, com o arquiteto Louis Kahn. Segundo Segre (2005), Roca assimilou do arquiteto americano a disciplina da REVISÃO DOS ESPAÇOS ENTRE EDIFICAÇÕES; PRIORIZAÇÃO DO PEDESTRE: REVISÃO DA VIA; OBJETO ARQUITETÔNICO: POSSIBILIDADE DE ENCONTRO; TROCA DE IDEIAS; IDENTIDADE E APROPRIAÇÃO

1 Team X foi um grupo de arquitetos que receberam a missão de organizar o 10º e 11º CIAM, em 1956 e 1959, respectivamente e elaborar documentos sobre uma revisão da arquitetura e urbanismo no Movimento Moderno.

composição geométrica dos prédios e a importância atribuída à rua, como espaço de encontro social dos habitantes. Nesse sentido, o arquiteto assume um paple de ativista cultural e promotor da valorização do espaço urbano para os pedestres.

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FIGURA 09: Esquema da rede de Centros de Participação Comunitária, proposta por Miguel Angel Roca, para a cidade de Córdoba.

FIGURA 10: A cidade do globo prisioneiro. Fonte: KOOLHAAS, 2008, p.331.

Fonte: Revista Summa+, nº 40, Novembro e Dezembro, 1999, p. 82.

Com relação ao processo de descentralização apoiado na criação das

A partir do exposto, observa-se nos CPC’s propostos por Miguel Angel

CPC’s, Souza (2008) observa uma aproximação das práticas de Roca em Cór-

Roca para a cidade de Córdoba, ainda que com um programa complexo (admi-

doba com a ideia de “cidades dentro de cidades”. Esse termo, abordado em

nistrativo, político, cultural e educacional), buscou-se projetar para cada centro,

uma exposição feita em Londres (1981) sobre sua obra, faz uma referência

algo que representasse “uma cidade” ou “minimunicipios bairrais”e, portanto,

às unidades autônomas que reverberam como características desses centros,

se aproximando de um espaço democrático com aspectos comunitários para

voltando a sua busca por um edifício que representasse “minimunicipios bair-

um homem urbano, orientado e participativo.

rais” e que promovessem a participação dos habitantes, criando uma rede e identidade para a periferia (ROCA, apud NASELLI, 1999, p.92).

Maringá, por sua vez, não possui a dimensão física e populacional de Córdoba. Portanto, o programa para o centro comunitário não necessita de

Nesse sentido, Souza (2008) também interpreta o conceito de “cidades

uma frente administrativa do bairro, sendo possível diminuir sua escala. Porém,

dentro de cidades”, como uma citação a cidade imagiária proposta por Koo-

o que é importante destacar, é a fundamentação teórica abordada na prática

lhaas no livro “Nova York Delirante”, onde o autor destaca a formação de um

projetual desse tipo de programa. Roca prova que obras públicas em bairros

arquipélago de edifícios, onde cada um ressalta seus valores distintos, refor-

afastados dos centros urbanos podem ser projetados priorizando a relação da

çando a criação de uma unidade ao sistema. Manhattam, aproxima-se dessa

comunidade com o lugar, investindo-se em uma linguagem formal interessante

ideia e assim é regida pela “cultura do congestionamento”, onde cada edifício

para os edifícios, em espaços e programas conectados, promovendo a partici-

representa uma “cidade dentro da cidade” (ver figura 10).

pação das pessoas nesses lugares e que, por fim, qualifica, a área.

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2 ANร LISES DE CORRELATOS

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ANÁLISES DE CORRELATOS Serão analisados nesse capítulo exemplos de centros culturais que, além

de contemplar em seu programa a biblioteca, também ajudam a criar uma referência de espaço comunitário para o lugar, a partir da prática arquitetônica. Foram estudados projetos Para melhor resolver o programa referente a biblioteca, foi estudado a Biblioteca Jaume Fuster, como exemplo para espaços de qualidade para estudo e atividades culturais. O estudo dessas obras são de fundamental importância para a elaboração de soluções projetuais para o caso do Jardim Alvorada.

2.1 Centro Cultural Wolfsburg

Análise morfológica Sob essa ótica de modernização da cidade, no contexto pós Segunda Guerra, inserem-se dois edifícios modernos significativos, o centro cultural em estudo e também o teatro do arquiteto Hans Scharoun, de 1963-1975. Em 2005, foi inaugurado um edifício da arquiteta Zaha Hadid dedicado a ciência e educação, localizado próximo à fábrica Volkswagen. Todos esses edifícios fazem parte de um eixo para pedestres que conecta a estação ferroviária até o teatro citado (ver figuras 11 e 12). O centro cultural de Wolfsburg, por sua vez, está inserido ao sul da praça cívica da cidade, sendo a partir dessa, o acesso principal (ver figura 12). A transição do espaço externo da praça e interno, é feito a partir de um de acolhimento no térreo, garantido pelas colunas sobre qual o edifício está suspenso (ver figura 14).

Uma das obras mais importantes do arquiteto finlandês Alvar Aalto, o Centro Cultural Wolfsburg foi inaugurado em 1962 e está localizado a aproximadamente 230km de Berlim. O projeto foi fruto de um concurso realizado em 1958 para a construção de um edifício multifuncional, com um programa de atividades culturais e comunitárias, que tinha o objetivo de levar aquela área uma nova identidade, afastando-se da cidade industrial que a caracterizava até então em função da fábrica Volkswagen.

FIGURA 11: O contexto urbano do Centro Cultural, na cidade de Wolfsburg. Fonte: Google Earth, modificado pela autora.

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FIGURA 12: Implantação do Centro Cultural de Wolfsburg.

Fonte: Disponível em <http://www.historiaenobres.net/imatges/AA1959_WOL00.pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

Programa e composição formal

FIGURA 14: Modelo físico do Centro Cultural de Wolfsburg, evidenciando em vermelho, a transição do público (praça cívica) e o térreo do edifício.

Fonte: Disponível em <http://www.historiaenobres.net/ficha.php?idioma=en&id=301> Acessado em 15 de Outubro de 2015. Modificado pela autora.

Esse dualismo formal, pode ser interpretado no projeto do centro cultural

O programa do edifício é composto por quatro funções diversas: a biblio-

proposto para Wolfsburg, onde as salas auditórios e a biblioteca assumem a

teca municipal, uma pequena escola para a educação de adultos, uma área

cabeça do projeto, apropriando-se de uma forma com maior destaque, e a

para hobbies e entretenimento, além de uma área para reuniões de clube e

cauda refere-se aos programas mais sistemáticos e burocráticos: centro da

eventos de serviço comunitário. Esse, se organiza em torno do pátio central,

juventude, lojas e atividade de apoio a essas funções.

cuja a função é interligar essas quatro atividades. Duany (2009) observa que uma fundamental característica organizacional do programa de Aalto é a dualidade no processo formal chamado pelo autor de “cabeça

sos voltados para a praça; o hall de entrada com a parte de informação e guarda-volumes e a partir desse, o acesso à biblioteca e ao seu departamento infantil, além do acesso a administração, ao centro da juventude e centro co-

- cauda”. A cabeça abriga o elemento prin-

munitário. No pavimento superior, encontram-se os auditórios, salas de aulas

cipal do programa, proporcionando a esse

para oficinas e workshops, um terraço para atividades ao ar livre e três aparta-

um maior destaque e a cauda, ao contrário,

mentos para estudantes com entrada independente do térreo.

FIGURA 13: O leque formado pelo pá- abriga atividades mais burocráticas, muitas tio central, como distribuição do provezes se apropriando de uma geometria orgrama e o esquema cabeça-cauda. Fonte: Esquema elaborado pela autora, com base na planta térrea do projeto.

Nesse sentido, o piso térreo abriga: as lojas com seus respectivos aces-

togonal e neutra (ver figura 13).

Algumas soluções projetuais se destacam no edifício, como o espaço de leitura rebaixado na parte da biblioteca. Segundo Ching (2008), o rebaixamento de uma porção do plano de base isola um campo de espaço de um contexto,

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mais amplo. Portanto no caso aplicado a biblioteca do centro cultural de Wolfs-

azuis - para delimitar o espaço. Ressaltam-se nesse projeto também o detalhe

burg, a área rebaixada com altura de 1,50m constitui uma interrupção do piso

do teto em madeira laminada pintada de branco, assim como o desenho das

que permanece como parte integrante do espaço circundante. Essa diferença

iluminações artificiais, mobiliários e acessórios, desenvolvidos pelo arquiteto

de altura proporciona um ambiente intimista para a leitura pois enfraquece a

(ver figuras 19 e 20).

relação visual com outras circulações além de criar espaços para acomodar

FIGURA 17: Maquete do centro cultural de Wolfsburg exemplificando a materialidade do mármore carrara, aplicado a fachada do edifício.

estantes de livros (CHING, 2008, p. 112) (ver figuras 15 e 16). FIGURA 15: Esquema do plano rebaixado.

Fonte: Elaborado pela autora com base na teoria de Ching, 2008, p. 109.

Fonte: Disponível em <http://www. historiaenobres.net/ficha.php?idioma=en&id=301> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

FIGURA 18: Planta de cobertura.

Fonte: Disponível em: <http://atlantedinterni.altervista.org/wordpress/ wp-content/uploads/2010/04/aalto_centroculturale_racchetti_low. pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

FIGURA 16: Plano rebaixado da biblioteca do centro cultural.

Fonte: Disponível em: <http://atlantedinterni.altervista. org/wordpress/wp-content/uploads/2010/04/aalto_ centroculturale_racchetti_low.pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.ti_low.pdf

Materialidade A forma original do edifício é também condicionada pelos materiais utilizados para o revestimento da fachada: a composição do mármore carrara branco e azul que, no entanto, só começa no primeiro andar, colaborando com a sensação acolhedora (ver figura 17). O centro cultural para Wolfsburg assemelha-se a outras obras de Aalto no que diz respeito ao uso da iluminação natural através de claraboias e fendas na cobertura (ver figura 18). Os destaques para os elementos internos do centro cultural são as colunas revestidas com elementos cerâmicos em branco - para maximizar a sensação de livre, assim como as paredes com cerâmicas

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19 FIGURAS 19 e 20: Detalhe para os aspectos internos do edifício.

Fonte: Disponível em: <http://atlantedinterni.altervista.org/wordpress/wp-content/uploads/2010/04/aalto_centroculturale_racchetti_low.pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

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Legenda: Biblioteca Centro da juventude Pátio Hall e espaços multifuncionais Lojas / oficinas Auditórios

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FIGURAS 22, 23 E 24: Respectivamente, imagem do acesso principal; fachada sul, e lojas na porção oeste. Fonte: Disponível em: <http://atlantedinterni.altervista.org/wordpress/wp-content/uploads/2010/04/aalto_centroculturale_racchetti_low.pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

Conclusão O centro cultural em Wolfsburg nos serve como referência para o projeto aqui proposto, devido os seguintes aspectos: 1. A relação do edifício com a praça cívica: a transição suave do espaço externo público e interno já menos público, com um acolhimento par entrar no edifício; 2. A articulação dos quatro principais programas em torno de um pátio central, tornando esse um ponto comum aos programas que funcionam de forma diversas (ver figura 25); 3. Além do programa, a forma e materialidade aplicadas que ajudam a criar um edifício de referência para o lugar.

FIGURA 21: Plantas pavimento térreo, pavimento superior, corte e fachada oeste.

Fonte: Disponível em: <http://atlantedinterni.altervista.org/wordpress/wp-content/uploads/2010/04/aalto_centroculturale_racchetti_low.pdf> Acessado em 14 de Outubro de 2015.

FIGURA 25: Esquema síntese do centro cultural em Wolfsburg. Elaborado pela autora.

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2.2 Centro Cultural São Paulo - CCSP

continuidade da cidade, onde o visitante o percorre por ruas internas, encontra lugares de convivência, de descanso, de estudos e também de manifestações. No fim do percurso, o sujeito pode sair em outro nível do terreno, outro ponto da cidade (ver figura 26).

FIGURA 26: Estudo da implantação do edifício. Fonte: Google Earth, modificado pela autora.

O Centro Cultural de São Paulo (CCSP) começou a ser pensado em 1975, portanto, projetado e construído durante os duros anos da ditadura mi-

Acesso, programa e circulação

litar. Nesse sentido, o projeto caracteriza-se, como uma busca dos arquitetos

Os acessos principais são feitos pela Rua Vergueiro no nível 810m, ou

por um espaço de liberdade, com possibilidades de percurso e que por vezes

por uma rampa de acesso direto à estação Vergueiro do metrô, a qual se co-

tornam-se espaços de convivências e troca de idéias.

necta ao terceiro piso, localizado na cota 806m. No nível 810m, encontram-se

Queríamos uma arquitetura que permitisse que os

uma área para exposição, banheiros, os acessos para o jardim suspenso e o

transeuntes, de repente, se perdessem e caíssem aqui

início do passeio pelas rampas que conectam três pavimentos. Esses espaços

dentro, sem porta principal, sem saguões incríveis e

criam um vazio central de pé direito triplo que leva até a biblioteca no nível

nem amedrontamentos… Era como se a gente pudes-

801m.

se pegar na mão dessa pessoa acanhada, e falar: vem

Na parte central da cota 806m, no terceiro piso, uma rua interna conduz a

e usa o que é seu. Inclusive porque você paga, você

divisão de artes cênicas, ao foyer dos teatros, auditórios e à lanchonete situada

tem todo o direito, é público. (TELLES, 2012)

em frente ao jardim central. No nível 801m, estão localizadas as bibliotecas (Sérgio Milliet e Alfredo Volpi) resolvidas em meio nível, o cinema, um auditório

Análise morfológica Construído em um terreno que sobrou das desapropriações ocasionadas pela construção do metrô: uma gleba com 400m de comprimento e 70m de largura e um desnível de 10 metros, o CCSP está localizado entre a Avenida 23 de Maio e a Rua Vergueiro. Como resposta ao terreno, os arquitetos projetaram o edifício como uma

e dois teatros. Ao lado dos teatros desse espaço, fica a biblioteca braile e infanto-juvenil. Os ambientes localizados na cota 726m são restritos aos funcionários do centro e a área técnica. Observou-se que os grandes átrios entre os pisos e sobre as rampas que os atravessam e os conectam, se comportam como um pátio interno coberto, por onde são voltados os usos dos pavimentos. Assim, essa grande cobertura permite uma múltipla compreensão do espaço (ver figuras 27, 28, 29 e 30).

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FIGURAS 28, 29, 30: Respectivamente - Acesso ao CCSP a partir da estação de metrô; átrio e estrutura principal; e Biblioteca Alfredo Volpi. FIGURA 27: Plantas e programa do projeto CCSP.

Fonte: SERAPIÃO, 2012, p. 76 e 77. Modificado pela autora.

Fonte: Acervo autora, Maio de 2014 e site disponível em: <www.centrocultural.sp.gov.br/GALERIA_fotos> Acessado em 09 de Maio de 2014.

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Sistema construtivo As estruturas previstas para o CCSP, são constituídas de pilares de aço e as vigas de concreto, intercalados por um material translúcido. Toda essa estrutura proporciona uma iluminação natural e também sustentação às rampas de circulação (cujos esforços estão divididos entre tirantes e pilares) (ver figuras 31, 32 e 33). Observa-se que não há relações de simetria clássica e padronizações de dimensões dos vãos e, cada espaço se dá de maneira diferente. O uso da curva em elementos estruturais do projeto também produzem uma imagem complexa do todo. Na parte superior do edifício encontram-se tetos verdes, fornecendo um espaço de convivência também ao ar livre e uma vista da cidade. FIGURA 31: Corte explicativo do Centro Cultural de São Paulo.

Fonte: DIAS, 1993, p. 55. Modificado pela autora.

FIGURA 33: Estrutura metálica e a relação de abrigo na passagem. Acervo autora, Maio de 2014.

Conclusão Em vista ao edifício, observou-se que por ser uma obra complexa e de grandes dimensões é difícil compreender profundamente sua linguagem formal. As intervenções pontuais realizadas não consideraram o conjunto e buscaram apenas atualizar o edifício para as necessidades urgentes. Porém, isso não impediu ao prédio de oferecer e promover atividades culturais e ser um lugar atrativo para permanência. Nessa perspectiva, o que têm importância são as propostas para a possibilidade de percurso como acesso a esses programas, além da solução de acordo com a topografia do terreno e, a ideia do átrio ou saguão, como ponto de encontro e troca de ideias. Acredita-se que esses pontos listados, fortalecidos pelas atividades proporcionadas, auxiliam a promover um espaço convidativo e comunitário (ver figura 34).

FIGURA 32: Estrutura cobertura com balanços de 4 a 6 metros.

Acervo autora, Maio de 2014.

FIGURA 34: Esquema síntese elaborado para o projeto do CCSP. Elaborado pela autora.

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2.3 Memorial à Republica - Piracicaba

O Memorial à República, trata-se de um objeto de um Concurso Nacional de Projetos promovido pelo IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil-Departamento de São Paulo) em parceria com a Prefeitura Municipal de Piracicaba, realizado em 2002, por ocasião do programa alusivo ao centenário de morte do primeiro presidente civil do país “Prudente de Moraes (1841-1902) - a República no Brasil”. Por sua localização e importância do programa de usos, pode-se dizer que o projeto configuraria uma âncora na reabilitação da área central de Piracicaba.

FIGURAS 35 E 36: Respectivamente - a implantação atual da praça, e a implantação proposta pela equipe vencedora do concurso.

Fonte: Google Earth, modificado pela autora, e site disponível em: < http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/projetos/02.020/2170?page=2> Acessado em 18 de Outubro de 2015.

Partido arquitetônico, inserção no terreno e programa

Análise morfológica

A equipe vencedora, composta pelos arquitetos Álvaro Puntoni, Ângelo Bucci, Eduardo Rocha Ferroni, Paula Cardoso, Ciro Miguel e Pablo Hereñu,

Implantado em uma área considerada importante no contexto históri-

desenvolveu o projeto propondo resgatar a origem da palavra República, re-

co-social de Piracicaba, o lugar atualmente abriga o Parque Infantil e Creche

organizando o chão da cidade a fim de enfatizar seu caráter primordialmente

“Mimi Fagundes” na quadra delimitada pelas ruas Tiradentes, Campos Sales,

público.

Vergueiro e Saldanha. Além disso, a área também está próxima do rio Piraci-

Nesse sentido, a topografia da quadra, marcada pelo declive em direção

caba, um dos lugares mais privilegiados da cidade e principal elemento do

ao rio Piracicaba, bem como a importante arborização existente, determinam o

Projeto Beira Rio (ver figuras 35 e 36).

partido do projeto.

1

1 Projeto para o desenvolvimento de diretrizes a fim de resgatar a relação do rio de Piracicaba e a cidade, acreditando que o desenvolvimento da cidade possui ligação com o requalificação do rio, e a partir de preservação dos recursos naturais. Fonte: Disponível em: <http://ipplap.com.br/site/projetos-2/projeto-beira-rio/>Acessado em 18 de Outubro

Segundo Puntoni (2002), o corte no terreno no ponto médio da quadra, paralelo ao eixo do rio, configura e organiza todos os setores do programa (biblioteca, creche, anfiteatro, e os espaços para eventos). O muro de arrimo

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divide a parte inferior que concentra a maioria dos equipamentos públicos e

O elemento que se destaca em todo o conjunto é o edifício da biblioteca.

a praça seca superior. Essa proposta cria dois térreos de características dis-

Trata-se de uma torre de concreto que abriga todo acervo e apoia os serviços

tintas: o térreo inferior, no nível 492.00, concentra os acessos aos programas

em estruturas metálicas, envolvida por uma pele de vidro estrutural transparen-

e abriga uma praça seca e plana que sugere uma possível integração com o

te. Dessa forma o acervo é visível de quase toda a praça. O acesso à biblioteca

conjunto do Hotel Beira Rio. No térreo superior, junto à Rua Tiradentes, situa-se

se faz somente pelo nível 489,30, onde se encontram o espaço expositivo e

o jardim público / praça seca, livre de qualquer elemento construído.

o anfiteatro, além dos serviços de apoio. Sobre a torre da biblioteca Puntoni

Com relação à praça seca, observa-se que seu prolongamento natural

(2002) comenta:

em direção ao rio culmina em uma esplanada de 90 metros de comprimento

Esta torre ilumina a praça durante o dia e a noite. Ao seu

por 15 metros de largura no nível 495.50. Essa laje se presta como cobertura

silêncio, se associa o rumor das águas do Piracicaba e o

do pátio da creche-escola, do café e dos espaços expositivos.

burburinho das crianças da creche-escola. Monumento feito

Os térreos voltam a se encontrar através das calçadas laterais e de uma

de espaços e sentidos, como um farol que aponta para o

escadaria no centro do conjunto. A passagem de conexão sob a laje da esplanada configura o acesso dos visitantes ao memorial (ver figuras 37,38 e 39).

futuro. (PUNTONI, 2002) BIBLIOTECA CAFÉ, ESPAÇO EXPOSITIVO, E ACESSO BIBLIOTECA

EIXO ACESSOS 2º TÉRREO SUPERIOR 1º TÉRREO INFERIOR

CRECHE-ESCOLA VAZIO CRECHE-ESCOLA ESPELHO D’ÁGUA

PROLONGAMENTO LAJE

FIGURAS 37, 38 e 39: Maquete elaborada pela equipe evidenciando os elementos do partido arquitetônico seguido.

Fonte: Disponível em: <http://www.gruposp.arq.br/?p=597> Acessado em 18 de Outubro de 2015, modificado pela autora.

TÉRREO SUPERIOR Nível 495.50

PÁTIO

PLANTA TÉRREO INFERIOR PLANTA SUBSOLO Nível 492.00 Nível 489.30 FIGURAS 40 E 41: Planta térreo inferior e subsolo, sem escala.

FONTE: Disponível em: <http://www.gruposp.arq.br/?p=597> Acessado em 18 de Outubro de 2015, modificado pela autora.

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FIGURAS 46 E 47: Imagens que mostram o contexto do projeto, evidenciando o espelho d’água e o volume da biblioteca como destaque do conjunto. Fonte: Disponível em <http://www.ipplap.com.br/docs/PA_pg_97a102.pdf> Acessado em 18 de Outubro de 2015.

Conclusão O projeto apresentado, dá orientações para a intervenção em uma praça bastante influenciada pelo seu declive. A criação dos dois térreos permite uma melhor distribuição do programa, condicionada também pelo eixo de acessos no ponto médio do terreno. O pátio criado para a creche - escola no nível 492,00 e a ocupação em cima da laje no nível 495,50, tornam-se pontos de referência visuais de entendimento dos espaços e entre os dois níveis do projeto (ver figura 48). Por fim, nota-se que o projeto vencedor do concurso nacional foi descartado e, atualmente encontra-se construído no mesmo lugar, uma biblioteca municipal. Essa situação é um equívoco da administração pública, pois nega a reflexão feita por profissionais de todo o país que participaram do concurso e estudaram o lugar.

FIGURAS 42, 43, 44 E 45: Cortes e fachadas do projeto.

Fonte: Disponível em <http://www.gruposp.arq.br/?p=597> Acessado em 18 de Outubro de 2015.

FIGURA 48: Esquema síntese do projeto para o Concurso Memorial à República. Elaborado pela autora.

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2.4 Biblioteca Jaume Fuster

atravessada por uma via de alta velocidade, a qual atrapalhava a visibilidade da quadra. A proposta foi transferir essa via para o subterrâneo, permitindo que os dois lados da praça se encontrassem, e que a via antes de alta velocidade, transformasse em uma via local. O projeto de Llinàs, se desenvolveu paralelamente a essa intervenção urbana. A praça criada pelo arquiteto, que permite o acesso principal ao edifício, seria um espaço público intermediário, portanto, uma praça menor de acolhimento para o ingresso à obra (ver figuras 49 e 50).

A Biblioteca Jaume Fuster, projetada pelo arquiteto catalão Josep Llinàs em colaboração com Joan Vera, foi inaugurada em 2005 e em 2006 ganhou o prêmio FAD Arquitectura1, o mais prestigioso em sua categoria, concedido na Espanha. Certamente uma das motivações para a atribuição do prêmio foi a capacidade dessa obra de responder às expectativas do espaço urbano no qual ele se insere, assim como sua qualidade estética e funcional com biblioteca.

FIGURA 49: Contexto urbano da Biblioteca Jaume Fuster. Fonte: Google Earth, modificado pela autora.

Análise morfológica A biblioteca encontra-se na Praça Lesseps, distrito de Gràcia, um bairro localizado ao norte da cidade de Barcelona bastante denso de habitações e comércios, também em função das colinas que comprimem seu território urbano. Em uma delas localiza-se o Park Güell, portanto, pode-se dizer que a partir dessa praça e estação do metrô, começa um percurso a pé para essa importante ponto turístico e obra do arquiteto catalão, Gaudí. Antes de começar os trabalhos de requalificação da área, a praça era 1 Diante de uma vasta produção arquitetônica moderna no contexto do pós-guerra na Espanha, um grupo de arquitetos criaram em 1958 o Prémio FAD de Arquitectura e Interiorismo com o objetivo de honrar os melhores trabalhos em Barcelona, Catalunha e Península Ibérica. Fonte: Disponível em: http://arquinfad.org/premisfad/es/historia-es/. Acessado em 21 de Outubro de 2015.

FIGURA 50: Planta de situação da Biblioteca Jaume Fuster. Em destaque a praça Lesseps. Fonte: Disponível em: <http://es.wikiarquitectura.com/index.php/Archivo:Jaume_Fuster_planta_primera.jpg> Acessado em 21 de Outubro de 2015, modificado pela autora.

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Partido arquitetônico e programa O partido adotado por Llinàs era desenvolver um projeto que se integrasse fisicamente com o contexto urbano. Nesse sentido, a forma do edifício surge buscando visibilidade para a irregular Praça Lesseps e a parte côncava da Av. Vallcarca. Além do aproveitamento da luz, o arquiteto escalona a cobertura e cria um terraço, a fim de obter visuais do lugar. O arquiteto resolve o programa da biblioteca em quatro pavimentos e um subsolo. O térreo se integra com a praça, pois atende necessidades cotidianas: periódicos, infantil, sala de exposição, acesso ao auditório e o café com as mesas voltadas para a parte interna e externa. O subsolo por sua vez, abriga o auditório e o apoio ao acervo e arquivos. Nos demais pavimentos encontramFIGURA 51: Maquete de estudo para a biblioteca e seu contexto urbano.

Fonte: Disponível em: <https://gkgrubelich.files.wordpress.com/2011/10/jaumefusterplans.jpg> Acessado em 21 de Outubro de 2015. 52

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-se a maior parte do acervo, pontos de estudo individual e em grupo, salas para cursos e administração (ver figura 55). Em visita à obra notou-se o conceito de visibilidade dos percursos externos, são introduzidos também para o espaço interno. Existe uma série de relações visuais entre os espaços de estudos com as áreas de circulação, além das perspectivas com o contexto urbano. O arquiteto alcança essa estratégia de espaços dinâmicos criando mezaninos e vazios, articulando as mesas de estudos com o guarda-corpo desses ambientes. Os ambientes e o layout também são projetados de formas variadas e algumas vezes com elementos que proporcionam uma espécie de identidade

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para cada um, como é o caso do ponto de computadores com a única escada helicoidal do projeto (ver figura 56). Ou então, um dos pontos de estudo em grupo que, a partir de um vazio estratégico, pode-se observar a praça frontal e também a parte do acervo de música e vídeo (figura 53). Por fim, destaca-se no projeto o cuidado do arquiteto com a luz indireta nos ambientes de estudos, qualificando ainda mais o projeto como lugar adequado para desenvolver suas atividades (ver figuras 52, 53 e 54).

FIGURAS 52, 53 e 54: 52 - Praça de acolhimento; 53 - Acesso e extensão do café; 54 Acervo música e vídeo e a relação com o pavimento superior. Acervo autora, Maio de 2015.

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1

7 2 5

3

8

6

4

Planta térrea

Planta subsolo

12

10

13 10

10

10

11

10 14

Planta primeiro pavimento

15

Planta segundo pavimento Legenda 1. Auditório 2 e 3. Arquivos 4. Peridódicos 5. Acesso principal 6. Café 7. Sala de exposição 8. Acervo infantil

9. Sala multiuso 10. Acervo e ponto de estudo 11. Acervo música e vídeo 12. Ponto de computadores 13. Sala multiuso 14. Consulta acervo Municipal e trabalho interno. 15. Administração

FIGURA 56: Relação dos pavimentos a partir do vazio criado e a escada helicoidal de ligação entre os dois. Fonte: Disponível em: <http://bid.ub.edu/25/bailac2.jpg> Acessado em 22 de Outubro de 2015.

Conclusão A Biblioteca Jaume Fuster, é uma referência de um projeto onde o partido adotado se justifica a partir do contexto urbano e também pelo interesse do

Planta terceiro pavimento

arquiteto em proporcionar um espaço confortável para os ambientes de estudo e pesquisa. Nesse sentido, as dinâmicas oferecida pelos mezaninos e vazios, relacionadas com as aberturas adequadas para captação de luz natural, são coerentes com o layout criado, apresentando-se como um modelo interessante a ser seguido.

FIGURA 55: Plantas e cortes referente ao projeto da Biblioteca Jaume Fuster.

Fonte: Disponível em: <http://es.wikiarquitectura.com/index.php/Biblioteca_Jaume_Fuster> Acessado em 21 de outubro de 2015, modificado pela autora.

FIGURA 57: Esquema síntese do projeto referente a Biblioteca Jaume Fuster. Elaborado pela autora.

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2.5 Arquitetura de referência: Rem Koolhaas - Kunsthal

Koolhaas não é conhecido, principalmente, como arquiteto de residências. Sua maior preocupação é a vida pública e como a arquitetura ainda pode

A fim de estudar um método de projeto e desenvolvê-lo como conclusão

sustentá-la. Entre seus projetos destacam-se edifícios públicos como: Euralille

desse trabalho, esse tópico analisará a prática arquitetônica de Rem Koolhaas

e Lille Grand Palais, em Lille, na França; o Dance Theater Holanda, em Haia; e

e suas soluções projetuais que enfatizam a análise de cada situação urbana e

os projetos de bibliotecas como a Tres Grande Biblioteque em Paris, a Bibliote-

principalmente programática. Portanto, completa-se a pesquisa de correlatos

ca Jussieu para Universidade de Paris, o Centro de arte e mídia em Karlsruhe,

com a obra referente ao Centro Cultural e Museu Kunsthal em Roterdã, com o

na Alemanha, e a Biblioteca Pública de Seattle.

objetivo de exemplificar sua metodologia. Rem Koolhaas é uma rara combinação de visionário e im-

O arquiteto

plementador - filósofo e pragmático – teórico e profeta – um arquiteto cujas ideias sobre construções e planejamento ur-

Rem Koolhaas, de origem holandesa, estuda arquitetura primeiramente

bano fazem dele um dos arquitetos contemporâneos mais

na Architectural Association de Londres (AA) e, depois em Cornell, nos Estados

discutidos no mundo, mesmo antes de qualquer um de seus

Unidos. Nessa última, o arquiteto se envolve em pesquisas sobre a cidade e

projetos de design tornar-se realidade. Tudo foi realizado

sua relação com o objeto arquitetônico, que posteriormente, foram desenvolvi-

com seus escritos e debates com os alunos, muitas vezes

dos com seu trabalho no Institute for Architectural and Urban Studies, fundado e

de agitação controvérsia para se afastar fora dos limites da

dirigido por Peter Eisenman, em Nova York. Koolhaas utiliza esse instituto como

convenção. Ele é bem conhecido por seus livros, planos re-

base para escrever a obra supracitada, “Nova York Delirante” em 1978.

gionais e globais, explorações acadêmicas com grupos de

Antes da publicação do livro, em 1975, fundou seu escritório Office for

estudantes, como ele é para a sua arquitetura arrojada, es-

Metropolitan Architecture (OMA), responsável pelo desenvolvimento de pro-

tridente, instigante. ( Jury Citation, Pritzker 2000, Disponível

jetos. Posteriormente, criaou-se atual Architecture Media Organization (AMO),

em:

responsável por áreas além dos projetos arquitetônicos, como por exemplo:

em 23 de Outubro de 2015.

<http://www.pritzkerprize.com/2000/jury>.Acessado

mídia, pesquisas e publicações. Um dos objetivos do escritório, é apresentar seu trabalho como fruto de um esforço cooperativo, multidisciplinar e solidário,

Portanto, de acordo com o Júri que lhe concedeu o Prêmio Pritzker de

como alternativa ao trabalho solitário do arquiteto - artista. (MONEO, 2008, pg.

Arquitetura no ano de 2000 e observando também as obras do arquiteto, no-

284)

ta-se que em cada projeto, Koolhaas busca representar a teoria como prática A partir das discussões apresentadas em “Nova York Delirante” (1978),

arquitetônica. Portanto a cidade e suas características de fluxo, cheios e vazios,

e dos projetos elaborados pelo OMA, Koolhaas retoma e amplia algumas das

perspectivas visuais, configuram-se para dentro do projeto arquitetônico, ajus-

questões discutidas tanto pelos modernistas quanto pela sua geração e, dessa

tando-se para diferentes escalas de projetos. Nessa perspectiva, o arquiteto

forma, torna-se um dos arquitetos mais influentes na produção cultural e arqui-

alcança uma forma para seu edifício.

tetônica no final do século XX e início do século XXI.

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Metodologia de projeto e o Centro Cultural e Museu Kunsthal - Roterdã

2. Arquitetura e programa

Nessa sessão serão abordadas as principais diretrizes referente à de Ko-

O programa da obra de Koolhaas é uma categoria que propicia a cons-

olhaas, tais como: função x lugar; arquitetura e programa; a escala adequada e

trução de edifícios imprecisos e abertos, interpretado de uma forma mais literal,

a abordagem do “corte-livre”, aplicadas ao projeto Museu Kunsthal em Roterdã.

muitas vezes difuso e menos relacionado com uma forma. Nesse contexto, o arquiteto holandês diz: “Um máximo de programa e um mínimo de arquitetu-

1. Função x lugar

ra” (MONEO, 2008, pg. 288) no sentido de dizer que o arquiteto não deve se

Rem Koolhaas busca se libertar da exigência de que a forma deve respeitar a função e, nesse sentindo ele também se afasta da relação função e lugar,

restringir a um formato pronto e sim explorar a liberdade da ação e movimento, características da cultura contemporânea.

a fim de explorar esse último ao máximo. Para Koolhaas, a cidade nos faz ver

Sendo assim, a obra deve ser uma estrutura capaz de explorar a proximi-

que as funções podem se acomodar com menos dificuldade do que relacioná-

dade e o distanciamento entre diferentes programas; organizar espaços inters-

-las à forma dos edifícios. O museu Kunsthal apresenta-se como um edifício que explora com o máximo de liberdade sua relação com o lugar, uma vez que funciona como uma ponte entre uma via movimentada e o parque, sobre uma via local que entra no terreno do edifício. Nesse sentido, o arquiteto acerta seu acesso de pedestre com a avenida principal e a conecta com os espaços verdes, sem se preocupar com uma forma a priori (ver figuras 58 e 59).

ticiais; vigorar a identidade e estimular o impreciso. Para o caso de Kunsthal, o programa exigiu três grandes espaços de exposição, para serem usados em conjunto ou separadamente; um auditório e um restaurante independentemente acessível. Portanto, partindo da ideia de movimento e liberdade do programa, o arquiteto cria um circuito continuo, a partir de rampas e escadas para o acesso a esses programas. O primeiro está relacionado com sua implantação levando o pedestre ao parque, sendo assim, de caráter público. O segundo é relacionado ao auditório que conecta o térreo e o primeiro pavimento, abaixo deste

FIGURA 58: Relação do edifício com o contexto urbano.

Fonte: Google Earth 3D, modificado pela autora.

encontra-se o café. Na parte mais alta do auditório, o visitante encontra uma escada que interliga o primeiro pavimento com o segundo referente ao museu. Uma terceira rampa leva a um salão mais íntimo que também museu é um e, mais adiante, ao terraço. Essas interseções reforçam o conceito de distanciamento e aproximação dos programas e dos espaços intersticiais em todo o edifício que, as vezes, aparecem como algo separado, mas que ao mesmo tempo é unificado. Moneo (2008) interpreta essa dualidade como um procedimento empregado por Koo-

FIGURA 59: Perspectiva geral do projeto e do acesso principal do projeto.

Fonte: Acervo pessoal Anibal Verri, Janeiro de 2013.

lhaas também em seus projetos urbanos: uma base que se decompõe em fitas transversais associadas a funções, usos e serviços (ver figuras 60, 61 e 62).

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3. A escala adequada

60

De acordo com o título de seu livro “S,M,L,XL”, percebe-se a preocupação do arquiteto em discutir a importância da escala de acordo com seu uso. Esse interesse revela o valor do uso da arquitetura. A escala é encarada como uma categoria que transita do público ao privado e que permite a arquitetura satisfazer as necessidades individuais e coletivas. Nesse sentido, Koolhaas se aproxima de uma arquitetura interessada na realidade. As maquetes de estudo do escritório, tornam-se elementos não mais abstratos, mas sim, recursos para estudar uma escala justa para a obra, a circulação e as conexões possíveis (ver figuras 63, 64, 65, 66 e 67).

61

LEGENDA 1. Acesso primeiro pav. 2. Auditório 3. Museu 4. Acesso museu 5. Acesso térreo 6. Café 7. Fim rampa 8. Acesso terraço

62

FIGURA 60 E 61: Planta primeiro pavimento e térreo, e corte transversal do projeto.

Fonte: Disponível em: <http://www.archdaily. com/102825/ad-classics-kunsthal-oma> Acessado em 24 de outubro de 2015.

FIGURA 62: Fachada referente ao projeto. Fonte: El Croqui, Nº 53, pg. 108.

FIGURA 63: Estudos com maquete para o projeto Kunsthal.

Fonte: Disponível em: <http://visicert.tumblr.com/post/28089340099/fabriciomora-kunsthal-rotterdam-models-rem> Acessado em 24 de Outubro de 2015.

65

66

FIGURAS 65 E 66: Modelos para estudos.

Fonte: Disponível em: <http://schatkamer.nai.nl> Acessado em 24 de Outubro de 2015.

FIGURAS 64: Modelo de estudo circulação. FIGURA 67: Modelo com a solução final do auditóFonte: Disponível em: http://www.bdonline. rio e café. co.uk> Acessado em 24 de Outubro de 2015. Fonte: El Croqui, Nº 53, pg. 110.

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4. O “corte livre” Enquanto Le Corbusier nos ensinou a pensar em “planta livre”, Koolhaas introduz o conceito de “corte livre” a partir da leitura da cidade contemporânea. Tal conceito, aparece na obra do arquiteto holandês como um elemento importante para projetar o edifício e estabelecer seu programa. Sendo assim, o corte livre ajuda a pensar em “arquitetura verticalmente” e suas conexões ou independências que podem existir, uma vez que a arquitetura não se estrutura, somente, sobrepondo planos horizontais, permitindo pensá-la também a partir

FIGURAS 69 E 70: 69 - Parte referente ao café e fim do percurso. 70 - Auditório. Fonte: Disponível em: <archdaily.com> Acessado em 24 de Outubro de 2015.

do corte.

FIGURAS 71 E 72: 71 - Ambiente do café/restaurante. 72 - espaço expositivo do museu.

Moneo (2008, pg. 292) destaca, porém, que esse elemento não resolve qual deve ser a forma do edifício, pois o resultado formal é melhor alcançado com o ajuste da escala e sua resposta ao papel que ele oferece ao lugar. Ao

Fonte: Acervo pessoal Anibal Verri, Janeiro de 2013.

analisar o corte de Kunsthal, é reconhecido no edifício a habilidade de Koolhaas em apresentar as rampas e escadas como elementos que manipulam toda a estrutura do prédio e a sua relação com o contexto urbano. Os espaços vazios, nos modelos apresentados anteriormente, são os responsáveis pela forma dos espaços internos desse sólido (ver figuras 68, 69 e 70). Por fim, o arquiteto apresenta um volume autônomo que possui um deter-

Conclusão

minado papel na cidade. Com a manipulação do seu interior articulado com o

A partir do estudo da obra Kunsthal em Roterdã, analisou-se a estratégia

exterior, dentro desse edifício contêiner e em uma escala justa com o contexto,

projetual adotada por Koolhaas para a solução referente a função do edifício e

Koolhaas chega a um resultado projetual que explora todo o volume porém

sua relação com o lugar, um diagrama livre de uma forma para a articulação do

com a liberdade e movimento, elementos que o arquiteto tanto admirava em

programa, a conexão desses a partir do corte, e o resultado formal alcançado

Nova York.

onde o principal objetivo é a manipulação dos espaços internos. Esses itens nos servem como referência de método para o projeto do Centro Comunitário no Jardim Alvorada (ver figura 73).

FIGURA 68: Espaço interno do auditório, e a divisão do percurso. Fonte: Acervo pessoal Anibal Verri, Janeiro de 2013.

FIGURA 73: Esquema síntese do projeto Kunsthal. Elaborado pela autora.

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3 HIPÓTESES DO REAL LEVANTAMENTOS E ANÁLISES

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3

HIPÓTESES DO REAL: LEVANTAMENTOS E ANÁLISES A fim de compreender melhor as necessidades exigidas pelo sítio, esse

capítulo apresentará levantamentos e análises referentes ao Jardim Alvorada que problematizam, justificam e subsidiam a intervenção na área. A escala abrange o bairro para melhor compreender os fenômenos que caracterizam a Praça Raquel Dora P. Pintinha. O resultado dessas leituras será uma estratégia para a área, entendendo a memória e as características das estruturas coletivas existentes - praças, equipamentos culturais, educacionais e saúde, a fim de dar subsídios ao projeto arquitetônico para o Centro Comunitário Alvorada.

FIGURA 74: Biblioteca Pública Municipal Nilo Gravena.

Acervo autora, Fevereiro de 2014.

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3.1 O Jardim Alvorada no tempo

amentos comumente aprovados no resto da cidade. A avenida Pedro Taques,

Neste subcapítulo, afasta-se da escala arquitetônica passando para uma

por sua vez, atuava na área como principal eixo de mobilidade de pessoas,

leitura do sítio através do tempo com o auxílio do estudo da morfogênese de

para acesso a lazer e serviço no centro. Destaca-se também a implantação das

Maringá, a fim de compreender melhor os efeitos do seu crescimento urbano e

estações da Companhia de Desenvolvimento de Maringá (CODEMAR) e Com-

sua relação com o Jardim Alvorada.

panhia Paranaense de Eletricidade (COPEL) em 1966, também colaboraram

Sob a análise dos efeitos da dispersão urbana no estado de São Paulo,

para intensificar a ocupação no norte da cidade (ver figura 75).

Nestor Goular Reis (2006) aponta as rodovias como principais elementos da

No fim da década de 1960 e início dos anos 1970, nota-se um grande

expansão urbana no território. Nesse sentido, ao analisar o crescimento urbana

número de inaugurações de equipamentos públicos para os recentes bairros

de Maringá, nota-se que na década de 1950, a cidade já contava com bairro

de Maringá. No caso do Alvorada e seu entorno, destaca-se o Colégio Duque

além do plano inicial de Jorge de Macedo Vieira, como é o caso da Vila Santo

de Caxias em 1968, a Creche Sofia Rasgulaeff em 1973, o Centro Recreativo

Antônio, um dos primeiros bairros a se desenvolver estruturado pela Estrada

Jardim Alvorada e o Colégio Unidade Pólo em 1975, o Recanto do Menor e o

Morangueira, atual BR 376, principal rota de saída da cidade na época no sen-

Corpo de Bombeiros entre 1977 – 1982. João Laércio Lopes Leal1 considera a

tido Astorga.

inauguração da Igreja São Francisco de Assis em 1978, projeto do engenheiro

No início da década de 1960, percebe-se já o desenho da Av. Pedro

Luty Vicente Kasprowicz e localizada na Praça Vicente Simino, um importante

Taques, assim como do Jardim Alvorada e da Praça Raquel D. P. Pintinha. O

acontecimento para o bairro, pois, a única igreja católica do entorno imediato

bairro implantou-se na fazenda Santa Lina em meio ao cafezal, de propriedade

até então, estava localizada na Vila Santo Antônio.

do Sr. Alexandre Rasgulaeff, funcionário da CMNP, e seguia o padrão de lote-

1 Professor historiador, funcionário da Gerência de Patrimônio Histórico de Maringá. Entrevista realizada em 19 de março de 2014.

FIGURA 75: Esquema morfogênese - Maringá.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos mapas do ITCG (Instituto de Terras Cartografia e Geociência), dados de evolução urbana - Plano Diretor de Maringá, e em imagens aéreas fotográficas do Museu da Bacia-UEM.

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É importante ressaltar também que em 1963, inaugura-se a Biblioteca Bento Munhoz da Rocha Neto, primeira Biblioteca Municipal de Maringá. Dez anos depois, o equipamento ganha um novo prédio, projeto também de Kasprowicz. Sua obra começou em 1973, na esquina da Avenida XV de Novembro com a Avenida Duque de Caxias, onde também acomodaria os órgãos referentes às Secretarias da Educação, Cultura e Turismo. Desde Agosto de 2012 a Biblioteca encontra-se na Av. Horácio Raccanello Filho. Além do surgimento de novos bairros próximos ao Jardim Alvorada, como por exemplo o Conjunto Habitacional Branca Vieira e Ebenezer, a década de 1980 é marcada pela construção de três bibliotecas de bairro, obras da gestão do prefeito Said Ferreira (1983 a 1988, e de 1993 a 1996). A primeira é o objeto de estudo desse trabalho, a Biblioteca Pública Municipal Pioneiro Nilo Gravena. Inaugurada em 19 de dezembro de 1984 na Av. Dr. Alexandre Rasgulaeff, foi transferida para a Av. Sophia Rasgulaeff em 1986. A segunda é a Biblioteca Pública Municipal Pioneiro Manoel Pereira Camacho Filho, em 1985, na Vila Operária. A terceira, a Biblioteca Pública Municipal Prof.ª Tomires Moreira de Carvalho, de 1987, localiza-se na Av. Mandacaru. Nos anos 1990, observa-se uma forte ocupação da parte sul da cidade, tensionada pela Av. Carlos Borges e Cerro Azul e, ao norte vinculada a Av. Kakogawa. É nessa última avenida que se localiza a Biblioteca Pública Municipal Prof.ª Maria Aparecida Cunha Soares, de 1994, também referente à gestão de Said Ferreira. O Jardim Alvorada III também surge nessa década. Por fim, ainda de acordo com Goulart Reis (2006) e o processo de dispersão urbana observada em Maringá na década atual, nota-se que a mobilidade facilita com que equipamentos de abrangência intermunicipal, localizem-se de

NORTE

acordo com a procura por vantagens de território (solo barato e conexão com a via regional). Exemplo disso é o Campus da Faculdade Uningá, que recentemente se deslocou para próximo à rodovia BR 376 e, portanto, próximo a área de projeto (ver figura 76). FIGURA 76: Esquema localização bairro e contexto urbano. Fonte: Google Earth, modificado pela autora.

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3.2 Caracterização atual do bairro Os esquemas representados neste subcapítulo servem como ferramenta para leitura do tecido urbano referente ao Jardim Alvorada, além de verificar e comprovar o potencial da área como uma estrutura comunitária para o bairro e para a cidade. Os três mapas que seguem em sequencia nesse trabalho (figuras 77, 80 e 83), nos permite contrastar a massa bastante adensada do Jardim Alvorada I e II, sendo a maioria de habitações unifamiliares e um máximo de aproveitamento do lote, com área institucional de recorte do projeto. A área em questão apresenta principalmente uma sequencia de espaços livres que se destacam das moradias modestas e que seguem rua após rua, até encontrar esse espaço público. Conforme comentado anteriormente, com o passar das décadas, o bairro foi agregando novos equipamentos públicos, sendo que os espaços livres surgiram da sobra dos edifícios, como é o caso do atual Conjunto Cultural Alvorada onde a Praça Raquel Dora P. Pintinha possui um grande potencial de conexão com a Praça Vicente Simino, por exemplo, se expandíssemos a área para pedestres. Considera-se, portanto, que não houve uma preocupação coletiva para tais projetos arquitetônicos inseridos nesse recorte. Nesse sentido, torna-se interessante uma nova hipótese para o Conjunto Cultural Alvorada, tornando-se de fato um Centro Comunitário. É muito positiva também a relação da área em destaque com os usos de comércio, serviço, e habitações na sobre - loja (ver figura 79). Ainda que pouco e de caráter local, esses usos apoiados nas avenidas Pedro Taques e Sophia Rasgulaeff ajudam a dar vida a esses equipamentos públicos. Uma maior porosidade encontra-se ao norte, com uma tipologia de chá-

NORTE

caras, ainda em processo de consolidação, apoiada pela Av. Pedro Taques, Av. Morangueira e Faculdade Uningá. FIGURA 77: Esquema figura - fundo do bairro.

Elaborado pela autora - Escala 1:10000

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FIGURA 78: Residências unifamiliares próximas a Casa da Cultura. Acervo autora, Dezembro de 2015.

FIGURA 79: Residências unifamiliares próximas a biblioteca. Acervo autora, Dezembro de 2015.

LEGENDA (hab/ha): 75 - 85

NORTE

10 - 25 65 - 75

FIGURA 80: Esquema densidade do bairro.

Elaborado pela autora com base no Plano Diretor - Maringá 2000, revisado através do Censo Demográfico 2010 - Escala 1:10000

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FIGURA 81: Comércio local próximo a Praça Vicente Simino. Acervo autora, Dezembro de 2015.

FIGURA 82: Comércio local próximo a Praça Vicente Simino e colégio. Acervo autora, Dezembro de 2015.

LEGENDA: Residência unifamiliar Chácara Misto: Comércio/serviço e residência Indústria

NORTE

Lazer Institucional

FIGURA 83: Esquema uso e ocupação do bairro.

Elaborado pela autora - Escala 1:10000

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3.3 Apropriação da Praça Raquel D. P. Pintinha e seu entorno A fim de evidenciar os fenômenos, as potencialidades e problemáticas da área de estudo, será analisado cada equipamento presente na Praça Raquel D. Paraná Pintinha e no seu entorno.

3.3.1 Praça Raquel D.P. Pintinha

FIGURA 85: Fachada principal Biblioteca. Acervo autora, Março 2014.

FIGURA 84: Esquema localização Praça Raquel D. P. Pintinha. Elaborado pela autora.

Biblioteca Pública Municipal Nilo Gravena Segundo a Prefeitura de Maringá, a Biblioteca Municipal Nilo Gravena, possui um acervo de 15.720 livros, entre eles: didáticos, de literatura e infanto-juvenil, obras de referência (almanaques, enciclopédias, dicionários), folhetos, periódicos e gibis. Observa-se, porém, que o edifício encontra problemas referentes à infraestrutura e falta de espaço para armazenagem, restauro do acervo

FIGURA 86: Sala principal biblioteca. Acervo autora, Março 2014.

e digitalização. Com uma área de abrangência que atende Alvorada I, II e III, além dos bairros adjacentes (Conjunto Oasis, Requião, Ebenezer, Branca Vieira, entre outros), a biblioteca oferece projetos para envolver a comunidade de faixa etária diversa, como por exemplo: férias na biblioteca; hora do conto; clubeteen; aulas sobre obras que caem no vestibular; exposição em painéis de trabalhos desenvolvidos nas oficinas oferecidas pela própria biblioteca; oficina de poesia e filmes. Todas as atividades acontecem em uma única sala de leitura e pesquisa do acervo, sendo essa uma das principais queixas dos frequentadores e funcionários efetivos da biblioteca (ver figuras 85, 86 e 87).

FIGURA 87: Teatro na sala principal - evento da semana cultural nas bibliotecas. Acervo autora, Março 2014.

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Centro Comunitário Moisés Carolino Filho

Casa da Cultura Alcídio Regini

O centro comunitário, construído entre 1983-1988, na mesma época de

A obra mais recente do complexo cultural do Jardim Alvorada é a Casa

construção dos centros comunitários da Vila Operária e Mandacaru, oferece

Cultura Alcídio Regini, inaugurada em 2006. Criada para ajudar a atender os

atividades ao longo da semana nos períodos diurnos e noturnos, tais como

eventos culturais da cidade, tais como: convite ao teatro, dança, e música. O

ginástica e lutas. Nos finais de semana, o salão também é alugado para fes-

edifício possui um auditório com 148 lugares, uma sala para a administradora

tas diversas, como casamentos, aniversários, bailes, almoços e jantares. O

junto ao foyer e uma sala de aula para aulas de balé. Além disso, seu espaço

mesmo salão de festas e reuniões serve para as aulas comunitárias gratuitas.

costuma ser utilizado para reuniões de bairro, eventos escolares e projetos

Algumas dessas aulas acontecem de forma simultânea no mesmo espaço,

desenvolvidos pela biblioteca (ver figuras 90 e 91).

prejudicando o desenvolvimento das atividades.

Sendo o auditório de caráter cultural e, principalmente, um equipamento

Os eventos promovidos pelo Centro Comunitário ocupam também o es-

público que oferece na maior parte das vezes, eventos gratuitos, considera-se

paço livre da Praça Raquel Dora, como acontecimentos de ação comunitária,

como revisão para esse programa, uma maior integração com a biblioteca,

bazares e o “Fest Alvorada”, tradicional festa do bairro que atrai pessoas de

com o térreo (praça), e também com as diversas aulas oferecidas para comu-

toda a cidade (ver figuras 88 e 89).

nidade, o que não pode ser observado no atual projeto para a Casa da Cultura.

FIGURA 88 E 89: Fachada do salão comunitário e a praça em dia de Alvorada Fest.

FIGURA 90 e 91: 90 - Alunos Colégio Unidade Pólo. 91 - Manifestação cultural na parte externa ao auditório. Acervo autora. Março, 2014.

Acervo autora. Março, 2014.

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3.3.2 Colégio Estadual Unidade Pólo

3.3.3 Praça Vicente Simino

FIGURA 92: Esquema localização do Colégio Estadual Unidade Pólo.

FIGURA 94: Esquema localização da Praça Vicente Simino.

Apesar de não pertencer ao Conjunto Cultural do Jardim Alvorada, o Co-

A segunda praça presente no entorno, porém não menos importante, é a

légio ocupa a quadra central do espaço em estudo. Entretanto ele não possui

praça Vicente Simino que recebe a Igreja São Francisco de Assis, desde 1978

uma relação com as praças que a circundam, sendo o seu entorno utilizado

como já foi dito anteriormente, em função do número de pessoas que se des-

para estacionamento.

locavam do Alvorada e bairros a ele adjacentes, para ir até a Paróquia Santo

Elaborado pela autora.

Elaborado pela autora.

Com um número de aproximadamente 1300 alunos no total (conforme os

Antônio (Vila Santo Antônio), única igreja daquela região até então.

dados de turmas e matrículas de 2014, disponibilizados pela escola), a escola

A atual capela mortuária da igreja foi a primeira edificação referente a pa-

de ensino fundamental e médio conta com aulas nos três períodos do dia: ma-

róquia, chamada popularmente de “salão velho”. O seu acesso principal pos-

nhã, tarde e noite, além de cursos técnicos e atividade contra turno com aulas

sui uma conexão com a quadra coberta (hoje utilizada para prática de skate) e

de espanhol. Observa-se também que os estudantes do Colégio Unidade Pólo

a cancha de bocha. A edificação atual da Igreja São Francisco de Assis, possui

usam com frequência a biblioteca e suas atividades, além de se apropriarem

seu acesso principal voltado para o Colégio Unidade Pólo. Ligados à igreja

da praça nos horários que antecedem e sucedem as aulas, também em função

existe o salão paroquial com estacionamento frontal e a edificação destinada à

do ponto de ônibus em frente à Praça Raquel Dora (ver figura 93).

radio São Francisco de Assis (ver figura 95, 96 e 97).

FIGURA 93: Aula no pátio externo ao Colégio Unidade Pólo.

FIGURA 95: Praça Vicente Simino.

Acervo autora, Maio de 2014.

Acervo autora, Julho de 2014.

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3.3.4 UPA e NIS III

FIGURA 98: Esquema localização do setor referente a saúde. Elaborado pela autora.

O último setor do recorte, diz respeito ao programa hospitalar composto pela Unidade de Pronto Atendimento 24h (UPA - inaugurado em 2012) e ao Núcleo Integrado de Saúde III. O terreno conta também com uma ATI, instalada FIGURA 96: Paróquia São Francisco de Assis. Acervo autora, Julho de 2014.

de forma simultânea à construção da UPA. Conhecida como UPA Zona Norte, o equipamento foi construído com a finalidade de atender essa porção da cidade, portanto, oferecendo consultas médicas e principalmente, procedimentos de pronto atendimentos, iniciando a investigação diagnóstica e definindo a necessidade ou não de encaminhamento a serviços hospitalares de maior complexidade. Nesse sentido, o paciente quase sempre está acompanhado, o que torna o lugar muito concentrado de pessoas. Uma vez que o tamanho da sala de espera não é suficiente para a abrangência de pessoas que a Unidade atende, os pacientes e os acompanhantes, costumam usar a rua e calçada como lugar de espera.

FIGURA 97: Perspectiva do projeto original da Igreja São Francisco de Assis, projetado por Luty Kasprowicz. Fonte: Acervo Prefeitura de Maringá.

FIGURA 99: Contexto acesso da UPA. Acervo autora, Dezembro de 2015.

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3.4 Estratégia geral ACESSIBILIDADE Revisar o sentido do fluxo viário a fim de expandir a área para pedestre, e diminuir os espaços residuais e áreas perdidas. Acredita-se também que tal revisão e conexão, ajuda a fortalecer a hierarquia e identidade do lugar. MANTER AS PROPOSTAS ARQUITETÔNICAS EXISTENTES Manter as propostas arquitetônicas existentes que representam a história do lugar. Entrelaça-los equilibradamente com as novas exigências programáticas do centro comunitário. PRAÇAS E VEGETAÇÃO Manter as árvores de grande porte existentes e acrescentar novas espécies apropriadas aos novos espaços. Intervir com o cuidado a fim de manter o caráter de cada praça.

PROJETO PARA UM NOVO CENTRO COMUNITÁRIO A

FIGURA 100: Estratégia geral para a intervenção. Elaborado pela autora.

A

Atualmente o equipamento apresenta ambientes fisicamentes inadequados para o potencial da área. Para essa revisão, o equipamento passa a ser interpretado como um Centro Comunitário, no espaço comunitário proposto. Nesse sentido, torna-se necessário reconsiderar sua relação com o térreo (praça), e seus espaços internos a fim de criar um edifício acessível e democrático.

NORTE

CICLOVIA PEDRO TAQUES EXISTENTE

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4 O PROJETO

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4

O PROJETO

4.1 Considerações projetuais Tem-se como principais considerações projetuais exemplos de arquitetura que valorizam o espaço coletivo e a vida urbana existente; a recuperação da praça e do espaço comunitário como lugar de fortalecimento da diversidade e da troca de informações; o aproveitamento da topografia e sua articulação com o programa; uma linguagem formal para o edifício que auxilie a criar uma identidade para o lugar; por fim, a manipulação dos espaços internos vinculados ao espaço externo. Tratam-se de projetos como o Centro Cultural em Wolfsburg e o Museu Kunsthal em Roterdã onde Alvar Aalto e Rem Koolhaas propõem um edifício convidativo, a partir de uma transição gradual do público para o privado. O exemplo disso é a implantação do auditório que passam para o primeiro pavimento, com o objetivo de criar um eixo único de acessos aos demais programas. Também, leva-se em consideração projetos que se apropriam da topografia e do contexto urbano para articular o programa, a princípio de uma forma pré-estabelecida, como analisado anteriormente nos projetos para o Centro Cultural de São Paulo, o Memorial à República e ainda, o Museu Kunsthal. Tais

4.2 As diretrizes para o espaço comunitário Conforme analisado anteriormente, a presente área de estudo e intervenção para a nova proposta do Centro Comunitário Alvorada, localiza-se em um conjunto de edifícios públicos com potencial para requalificação do seu espaço público, a fim de ampliar seu caráter coletivo e comunitário. Tratam-se de diretrizes projetuais que: permitem uma revisão urbanística dessa área; facilitam os acesso aos edifícios arquitetônicos; diminui os conflitos de carros, pedestres e ciclistas; e auxiliam a criação uma identidade para a área. A partir dessas considerações, analisou-se a função da Rua Hipócrates e sua potencialidade de conectar os edifícios públicos. Em visita e investigação in loco, observou-se que os pedestres avançam no uso da calçada e ocupam a rua em questão. Nesse sentido, considerando a necessária a criação de uma unidade para o lugar e também a autonomia dos edifícios, propõe-se a para a R. Hipócrates o conceito de rua compartilhada, onde os carros que utilizam a via para situações de carga e descarga, podem circular a uma velocidade reduzida. Essa situação obriga que o espaço seja negociado com o pedestre, ciclista e motorista e sendo assim, colaborando para ampliar o espírito coletivo e democrático do lugar.

edifícios preocupam-se em explorar as potencialidades do terreno, partindo da ideia de movimento e liberdade. Em suma, buscou-se o apoio em conceitos que favoreçam o intercâmbio do edifício com a praça existente e a paisagem do entorno e que criam relações mais intensas e diretas entre o objeto arquitetônico e a cidade. Tais questões estão presentes na arquitetura de Miguel Angel Roca em Córdoba e Josep Llinás em Barcelona, que de acordo com a análise referente ao projeto para a Biblioteca Jaume Fuster, Llinás também manipula seu espaço interno para vinculá-lo com o contexto urbano.

FIGURA 101: Esquema para as diretrizes do espaço comunitário. Elaborado pela autora.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENHO DA

RUA COMPARTILHADA 02 01

1. SUPERFÍCIE

2. MOBILIÁRIO

3. NEGOCIAÇÃO DO ESPAÇO

A superície no mesmo nível da calçada, porém com u ma t extura diferenciada, permitindo duas coisas: a acessibilidade para i dosos, crianças e deficientes e também a s inalização a o motorista de que está entrando em u m espaço destinado ao p edestre, e n ão a o contrário.

Um dos objetivos da rua compartilhada é torná-la também um lugar para estar, de descanso ou outras atividades. Nesse sentido deve-se garantir uma iluminação adequada, m obiliários t emporários, áreas verdes e arborização, para deixá-la mais atrativa, delimitar espaço e abaixar a velocidade dos carros.

Com o auxilio de uma sinalização adequada, n a rua compartilhada o espaço é negociado. E sse conceito está diretamente relacionado a velocidade e o tempo para o contato visual e ntre motorista, pedestre e ciclista. Além disso, faz parte do caráter coletivo adequado para o lugar.

FIGURA 102: Diretrizes para a elaboração de uma rua compartilhada. Fonte: Dérive Lab - Manual de Calles Compartidas, 2015. Esquemas elaborados pela autora.

01

FIGURA 103: Antes e depois Rua Hipócrates, trecho entre escola e centro comunitário (01). Elaborado pela autora.

02

FIGURA 104: Antes e depois Rua Hipócrates, trecho entre escola e igreja (02). Elaborado pela autora.

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4.3 Projeto arquitetônico 4.3.1 Condicionantes Legislação / Uso e Ocupação

Análise do terreno A praça Raquel Dora possui um desnível de aproximadamente quatro metros e um desenho que se completa com os caminhos criados pelos próprios pedestres, de acordo com suas necessidades. Uma das características

Segundo o Mapa de Uso e Ocupação do Solo de Maringá, em anexo na

principais do terreno é funcionar como atalho para chegar aos demais equipa-

Lei Complementar N° 888 de 2011 (ver figura 106), é permitido para o terreno

mentos do entorno e nesse sentido, convidativo ao atravessá-lo com tempo

referente ao Centro Comunitário, a instalação de comércio e serviços vicinais

para fruir a qualidade da paisagem ou sofrer com a falta dela (ver figuras 108,

de interesse cotidiano, frequente e imediato, com baixo potencial de geração

109, 110, 111, 112 e 113).

de tráfego e movimento. Ainda de acordo com a lei, o terreno está delimitado pelos um Eixos de Comércio e Serviço B e C (ECSB e ECSE) para a Av. Sophia Rasgulaeff e para as demais avenidas da Praça Raquel Dora, respectivamente. Além disso, a área em questão pertence a Zona Residencial Dois, portanto, deve seguir os parâmetros da ocupação do solo, referentes a essa zona. 01

FIGURA 107: Recorte sobre as informações do terreno e suas dimensões. Fonte: Informações sobre o lote - Relatório de Uso e Ocupação, baseada na Lei Complementar Nº 888, 2011 - PMM.

02

03 FIGURA 106: (01) Mapa de uso e ocupação do solo do Município de Maringá. (02) Tabela Anexo II pertencente ao relatório de uso e ocupação do solo. (03) Recorte da lei, referente ao artigo sobre os parâmetros específicos para a Zona Residencial. Fonte: Lei Complementar Nº 888, 2011 - PMM.

FIGURA 108: Esquemas para dimensionamento do terreno. Elaborado pela autora.

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LEVANTAMENTOS FOTOGRÁFICOS

FIGURA 111: [2] Biblioteca e Salão comunitário. Acervo autora, Dezembro de 2015. 1 3 2

4

NORTE

FIGURA 109: Planta de situação do existente - escala 1:5000. Indicação do posicionamento das fotos. Elaborado pela autora.

FIGURA 112: [3] Entrada da praça e a Rua Hipocrátes. Acervo autora, Dezembro de 2015.

FIGURA 110: [1] Teatro e biblioteca. Acervo autora, Dezembro de 2015.

FIGURA 113: [4] Praça e a vista para a Av. Sophia Rasgulaeff. Acervo autora, Dezembro de 2015.

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4.3.2 Programa de necessidades

CAMARIM E APOIO PALCO

O projeto proposto visa atender as carências espaciais destacadas em visitas aos edifícios existentes e entrevistas com os funcionários, bem como a

AUDITÓRIO

criação de ambientes melhor adequados para as atividades evidenciadas no

PÚBLICO CONTROLE SOM E LUZ FOYER PROTEGIDO E BANHEIROS

Conjunto Cultural. Portanto, o programa de necessidades e o pré-dimensionamento dos ambientes partiram dos estudos in loco e da análise de correlatos

APOIO TÉCNICO SUPERIOR

(ver figura 114).

CONTROLE E GUARDA VOLUME

Nesse sentido, observou-se que existem três setores diferentes e que

BANHEIROS

obrigatoriamente necessitam de acessos independentes. Entende-se o espaço da biblioteca, como um lugar didático e controlado. Ademais, o dimensionamento da biblioteca foi feito baseado no acervo atual de 1500 livros e revista,

COPA FUNCIONÁRIOS

BIBLIOTECA

PONTOS DE CONSULTA E ESTUDOS INDIVIDUAL E EM GRUPO

onde em um estudo do acervo ideal para a cidade ou bairro, leva em conside-

ACERVO INFANTIL, ADULTO, CD, DVD, E PERIÓDICOS

ração o seu número de habitantes. O projeto para o auditório visa, além de uma capacidade maior de pessoauditório desenvolvido por Koolhaas para o Museu Kunsthal em Roterdã, serviu

SALÃO

COMUNITÁRIO SALAS MULTIUSO

como parâmetro de dimensionamento e também, como uma referência para concepção do partido arquitetônico, utilizando o elemento do auditório elevado e inclinado, um propulsor da ocupação pública em um térreo duplicado (ver

I ARQUIVOS

DIRETORIA E SALA DE REUNIÃO

e também no livro “La Arquitectura de la BIblioteca” de Santi Romero (1991),

as, uma revisão da sua integração entre o edifício e a praça. Nesse sentido, o

RESTAURO E DIGITALIZAÇÃO

COZINHA E SERVIÇO BANHEIROS SALÃO FESTA SALAS VESTIÁRIO

FIGURA 114: Esquema do programa de necessidades. Elaborado pela autora.

figura 115). Por fim, entre os programas que ocupam a Praça Raquel Dora, o que possui maior vínculo com o espaço público é o salão comunitário, onde acontecem as feiras e festas que estendem-se para a praça. Nessa perspectiva, observa-se novamente o projeto Kunsthal e a solução de expandir o programa do

FIGURA 115: Corte esquemático do programa de necessidades e o terreno 01. Elaborado pela autora.

café/restaurante para o nível mais baixo do terreno, a fim de aproveitar também a área externa. Soma-se a essa solução, a resposta projetual do térreo duplicado no Memorial à República, com a possibilidade de criar um pátio inferior próprio para os alunos, mas que ainda pode ser visualizado do térreo superior (ver figura 116).

FIGURA 116: Corte esquemático do programa de necessidades e o terreno 02. Elaborado pela autora.

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4.3.3 Memorial descritivo e justificativo Entende-se o espaço educativo para o Centro Comunitário Alvorada, localizado na Praça Raquel Dora, como um lugar de múltiplas inter-relações. O Centro Comunitário não foi pensado para ser apenas um edifício, mas também uma plataforma de aprendizagem que promove o encontro, a troca de ideias, a curiosidade do dia a dia e o mover-se sem limites espaciais. Essa procura do intercâmbio de conhecimento possui diferente níveis e escalas, mas que contam com um denominador comum: o caminho é a meta. AO REDOR - DESCOBRIR: O percurso para acessar o Centro Comunitário Alvorada, faz parte do entendimento do lugar como um espaço comunitário. Buscou-se soluções para o entorno imediato, pensando o lugar como uma varanda urbana para o bairro que permite tanto o encontro e lazer sob as árvores, quanto a mobilidade. JUNTO - ENCONTRAR-SE: A praça comum a todos os programas do edifício é o primeiro e principal ponto de encontro. A partir dele, direcionam-se à todos os demais usos do edifício (ver figura117). AO LONGO DO EDIFÍCIO - PASSEAR: Bem como a prática projetual de Rem Koolhaas e seu escritório OMA, adotou-se a maquete física de estudo, para auxiliar no processo de criação dos fluxos e da escala justa ao projeto, a fim de chegar a um partido arquitetônico. Nesse sentido, o projeto propõe um percurso interno, para acessar os diferentes usos, ora por escadas, ora por rampa. Essa solução permite uma experimentação espacial e visual entre o interno e externo (ver figura 117 e 118).

FIGURA 117: Maquete de estudo - destaque para a praça coberta e ao percurso proposto para o projeto. Elaborado pela autora.

FIGURA 118: 3D esquemático com o percurso e o programa. Elaborado pela autora.

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ABAIXO - MOBILIZAR: Interpretando o desnível do terreno como uma potencialidade, criou-se um térreo inferior para abrigar o salão comunitário e as salas multiusos. Somado essa solução ao deslocamento do auditório do pavimento térreo para o pavimento superior, é possível criar uma transição livre do lado mais alto do terreno para o lado mais baixo, passando pela praça coberta inferior, o salão comunitário e o ao acesso coberto para as salas multiuso. Portanto, um fluxo e mobilidade semelhante ao projeto para o Memorial à República e ao Museu Kunsthal que no edifício existente no Bairro Alvorada, atualmente não existe (ver figura 119). SITUAÇÃO ATUAL NÍVEL 541.00m

AUDITÓRIO.

?

CENTRO COM.

NÍVEL 537.00m

DUPLICAÇÃO TÉRREO AUDITÓRIO.

BIBLIOTECA

NÍVEL 540.00m SALÃO COM.

NÍVEL 537.00m

FIGURA 119: Esquema duplicação do térreo - corte esquemático. Elaborado pela autora. DENTRO - RECONHECER: Por fim, com a fachada principal voltada para a face sul, o projeto explora as visuais para a Praça Raquel Dora e espaço comunitário, a fim de permitir que o exterior reconheça o interior e vice-versa. As circulações também buscam esse partido, e foram projetadas como varandas e mirantes, como é o caso da rampa entre o auditório e biblioteca. Sobre a estrutura, as empenas em concreto no auditório e na biblioteca estruturam todo o edifício e permitem o vão de cinco metros no sentido transversal (ver figura 120). Buscou-se criar a mesma linguagem estrutural e de fechamento do edifício em todos os programas, a fim de interpretá-lo como um único prédio.

Por meio de uma linguagem simples, porém com sequências espacias complexas, a proposta para o Centro Comunitário Alvorada, permite reconhecer sinais que motivam o processo de socialização por meio da arquitetura. São produzidos lugares para estudos, apresentação, lazer e o tempo livre. A praça criada a partir da duplicação do térreo, busca interações entre movimento, acontecimentos e espaços. Em outras palavras, buscou-se criar a partir do edifício um vínculos entre as pessoas, as atividades e a arquitetura.

FIGURA 120: Esquema do 3D construtivo. Elaborado pela autora.

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4.3.4 DESENHOS E PERSPECTIVAS

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R. IVAN PAVIOV

NORTE

ACESSO VEÍCULOS

D

C

ACESSO TÉRREO SUPERIOR 03 02

PC

PC

PROJEÇÃO EDIFÍCIO

R. HIPÓCRATES

B

PC

T. METÁLICA 5,5%

DESCE

01

PROJEÇÃO EDIFÍCIO

R. FREDERICH

T. METÁLICA 9,5%

T. METÁLICA 5,5%

T. METÁLICA 5,5%

LAJE IMP. 2%

A

B

ACESSO TÉRREO SUPERIOR A

PC

FIGURA 121: Implantação e cobertura. Escala 1:500 LEGENDA: PC - Ponto de condução de água.

PC

DESCE ACESSO TÉRREO INFEIROR

C

PARADA ONIBUS

D

CICLOPISTA

AV. SOPHIA RASGULAEFF

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R. IVAN PAVIOV

D

C

NORTE

ACESSO VEÍCULOS

03

5

PE

3

7

5 ELEV.

ACESSO AUDITÓRIO

11

DESCE SALÃO COMUNITÁRIO E SALAS USO MULTIPLO

PCR

ACESSO BIBLIOTECA

01

B

4

17

SOBE PARA ACESSO AUDITÓRIO, FOYER PROTEGIDO E BIBLIOTECA

6

12

13

B

PCR PCR

2

1

10 8

15

DESCE

ACESSO TÉRREO INFERIOR

PO PO

A

ACESSO BIBLIOTECA

9

A

14

DESCE

ACESSO TÉRREO INFERIOR

PROJEÇÃO COBERTURA

16

DESCE

ACESSO TÉRREO INFEIROR

C

D

02

PROJEÇÃO COBERTURA

FIGURA 122: Planta térreo superior. Escala 1:250

LEGENDA: PO - Prefêrencial para obeso; PCR - Prefêrencial cadeira de rodas; PE - Plataforma elevatória; 1 - Escada auditório, acesso térreo inferior. 2 - Auditório; 3- Camarim/Apoio; 4 - BWC cadeirante; 5 - Bicicletário; 6 - Escada acesso foyer auditório; 7 - Acesso auditório pelo térreo superior; 8 - Praça Coberta; 9 - Acesso biblioteca; 10 - Controle e guarda volume; 11 - Copa e banheiro funcionários; 12 - Bwc; 13 - Acesso escada 14 - Biblioteca acervo infantil; 15 - Biblioteca acervo cd/ dvd. 16 - Praça inferior; 17 - Estacionamento;

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NORTE

03

C

D

01

9

02

11

FIGURA 123: Planta térreo inferior.

VAZIO

SOBE PARA ACESSO BIBLIOTECA E AUDITÓRIO

B

ACESSO TÉRREO SUPERIOR

LEGENDA:

7 6

ACESSO SALÃO COMUNITÁRIO

A PROJEÇÃO ESCADA

A

PROJEÇÃO COBERTURA

PROJEÇÃO COBERTURA

2 ACESSO TÉRREO SUPERIOR ACESSO SALAS USO MULTIPLO

Escala 1:250

B

10

PALCO

13 1

8

5

ACESSO SALAS USO MULTIPLO

12

1 - Escada auditório, acesso térreo inferior. 2 - Praça inferior; 3 - Vestiário; 4 - Sala uso múltiplo; 5 - Guarita; 6 - Salão Comunitário; 7 - Palco; 8 - Cozinha e serviço; 9 - Acesso serviço; 10 - Bwc; 11 - Estacionamento; 12 - Rampa; 13 - Escada helicoidal; 14 - Fosso inglês;

3 4

4

14

C

D

c

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7

6

SHAFT

D

C

1

NORTE

14 8

PE

ELEV.

B

PALCO

15 B

13

BOCA DE CENA

FIGURA 124: Plantas primeiro e segundo pavimento.

4 2

3

Escala 1:250

9

12

11

5

16

A

A

ACESSO BIBLIOTECA

VAZIO

SEÇÃO RAMPA

RAMPA I= 9%

10 C SEÇÃO COBERTURA

D D

C

14 PROJEÇÃO EDIFÍCIO PC

PC

ELEV.

13

B

17

22

B

VAZIO

20

LOCAL PARA TORRE DE RESFRIAMENTO

A

21

BARRILETE E CX. ÁGUA

A ACESSO ÁREA ACESSO TÉCNICA AUDITÓRIO BIBLIOTECA

ALÇAPÃO ACESSO RAMPA I= 9%

16

DESCE

ACESSO AUDITÓRIO E TÉRREO

C

19

18

DESCE

D

LEGENDA: 1 - Escada acesso foyer auditório; 2 - Área externa; 3 - Foyer; 4 - Controle luz e som; 5 - Acesso auditório; 6 - Banheiro auditório; 7 - Camarim/apoio superior; 8 - Camarim/apoio inferior; 9 - Auditório; 10 - Rampa; 11 - Praça inferior; 12 - Biblioteca acervo adulto; 13 - Bwc; 14 - Área externa; 15 - Restauro e arquivo; 16 - Escada; 17 - Área técnica; 18 - Acesso área técnica e biblioteca; 19 - Controle biblioteca; 20 - Biblioteca acervo adulto; 21 - Reunião e bibliotecária;

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FIGURA 125: Corte e fachada AA. Escala 1:250 LEGENDA: 1 - Acesso térreo inferior;

DET. 01

+543.85m +540.00m

14

6

7 1

8

15

+546.30m

12

16

11

10

3 - Escada helicoidal para acesso térreo superior;

13

9

2 - Escada auditório;

12

+543.15m

12

+540.00m

4 - Salão comunitário; 5 - Praça térreo inferiror; 6 - Terraço do auditório; 7 - Acesso foyer; 8 - Foyer;

2 CORTE AA ESCALA 1:250

3

4

5

+537.00m

9 - Acesso auditório; 10 - Auditório; 11 - Acesso biblioteca; 12 - Biblioteca; 13 - Escada biblioteca; 14 - Caixa d’água; 15 - Área técnica; 16 - Acesso mezanino biblioteca;

FACHADA AA ESCALA 1:250

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FIGURA 126: Detalhe construtivo 01. Escala 1:50

[2]

[5]

[1] [3]

[4] [7]

[6]

[8] [10]

[9] [11]

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FIGURA 127: Corte e fachada BB. Escala 1:250 LEGENDA: 1 - Térreo inferior; 2 - Guarita;

546.30

DET.02

543.15m 540.00 537.00m CORTE BB ESCALA 1:250

13 12

11

10

06

09

06

09

06

09

3 - Cozinha;

14

4 - Serviço;

19

17

14

20

21

543.85m

5 - Poço elevador; 6 - Bwc; 7 - Copa;

08

15

07

16

17

18

540.00m

8 - BWC funcionário; 9 - Elevador; 10 - Acesso escada;

06

05

04

03

02

01

11 - Escada; 12 - Arquivo e digitação biblioteca; 13 - Espaço bibliotecárias; 14 - Biblioteca; 15 - Térreo superiro - praça coberta; 16 - Auditório; 17- Camarim e apoio; 18 - BWC PNE; 19 - BWC foyer; 20 - Foyer; 21 - Varanda;

FACHADA BB ESCALA 1:250

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[2]

[1]

[3] [4] [5]

FIGURA 128: Detalhe construtivo 02. Escala 1:50

[6]

[7]

[8]

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FIGURA 129: Corte e fachada CC e DD. Escala 1:250 LEGENDA:

DET.04

DET.03

1 - Escada acesso pavi-

04 541.19m 540.00m

01 02

CORTE CC ESCALA 1:250

mento superior; 2 - Camarim / apoio; 3 - Auditório;

03 05

546.30m

14

09 06

09 07

14

14

543.15m

13

540.00m

4 - Rampa acesso auditório - biblioteca; 5 - Térreo inferior - Escada Helicoidal para acesso térreo superior.

08

06 CORTE DD ESCALA 1:250

10

11

12

537.00m

6 - Térreo inferior - Praça sala uso-multiplo. 7 - Sala usos - multiplos; 8 - Fosso inglês; 9 - Praça superior; 10 - Salão comunitário 11 - Acesso cozinha; 12 - Acesso serviço; 13 - Acesso copa; 14 - Biblioteca;

FACHADA CC

FACHADA DD

ESCALA 1:250

ESCALA 1:250

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FIGURA 130: Detalhe construtivo 03. Escala 1:75


FIGURA 131: Detalhe construtivo 04. Escala 1:75

[2] [1]

[3]

[4]

[5] [6]

[7] [8] [9] [10] [11] [12]

[13]

[14] [15] [16]

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FIGURA 132: Perspectiva 01 - Acesso principal Av. Rasgulaeff.

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FIGURA 133: Perspectiva 02 - Vista oeste do acesso térreo inferior.

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FIGURA 134: Perspectiva 03 - Acesso Rua. Ivan Pavov.

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FIGURA 135: Perspectiva 04 - Praรงa inferior e salรฃo comunitรกrio.

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FIGURA 136: Perspectiva 05 - Rampa e acesso área técnica auditório.

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4.3.5 Conclusão Conclui-se a partir do desenvolvimento desse trabalho que o projeto de um equipamento público vai muito além do edifício em si. É preciso analisar seu entorno, interpretá-lo no espaço da cidade e entender seu funcionamento, a fim de compreender suas reais necessidades. Nessa perspectiva é possível inserir um objeto arquitetônico no lugar proposto e projetá-lo com o intuito de auxiliar na melhoria do espaço urbano, servindo com um edifício atrativo, catalisador da vida pública e das atividades que ali existem. Esse foi o objetivo do projeto para o Centro Comunitário Alvorada, buscar um processo projetual que iria além das funções técnicas, mas que iniciasse com um entendimento do lugar e que fizesse o mesmo reconhecer-se dentro do edifício. Nessa perspectiva, iniciou-se a ideia do percurso ao longo dos programas e usos, como por exemplo, o Centro Cultural em São Paulo e o Museu Kunsthal, projetos que deixam claro esse partido arquitetônico. A exemplo do processo projetual do escritório OMA e, portanto, de Koolhaas, a elaboração da maquete de papel (a maquete de solidão), auxiliou no entendimento de como poderiam ser criados esses percursos e ajustá-los em um pré-dimensionamento dos ambientes, sendo assim, compreendendo sua escala. A partir disso, visualisou-se a possibilidadede da criação do térreo inferior, outro ponto determinante do projeto. Finalmente, a linguagem estrutural e os fechamentos, surgiram com o objetivo de criar uma imagem única para todos esses programas, facilitando o seu reconhecimento no espaço comunitário. Por fim, a revisão do projeto existente no Jardim Alvorada, para um centro comunitário de fato, teve como finalidade pensar esse edifício não como um objeto arquitetônico isolado, mas como uma obra com função urbana, ora de atalho, ora de lazer, de estudo ou somente para passar o tempo livre. Portanto, acredita-se que a arquitetura pode auxiliar na criação desses vínculos que compreende a geografia urbana, a história local e dos valores contemporâneos da vida pública.

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