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Título até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Autor Carlos Oliveira Santos Prefácio Luís Reto Direção de arte e Design Fernando Coelho Pesquisa e Arquivo Inês Manata Alves | Ana Cláudia Freitas | Carmelita Cunha Fotografia Arquivo ISCTE | Hugo Alexandre Cruz| Fernando Coelho | Arquivo ICS | Arquivo Municipal de Lisboa | Hemeroteca Municipal de Lisboa | Arquivo do Ministério da Educação e Ciência | Arquivo da AEISCTE-IUL | Colecção José Veiga Simão | Colecção Maria Carrilho | Colecção Omlet Design| Colecção Victor Franco| Colecção Teresa Laureano | Eduardo Gageiro | Carlota Costa Cabral | Artur Pinto (Movimento Cívico Não Apaguem a Memória) Contactos para depoimentos Marina Ventura Recolha de depoimentos Sandra Nobre Secretariado Patrícia Tavares Apoio editorial Ana Sampaio | Ana Ribeiro Revisão tipográfica Ayala Monteiro Edição e direitos © 2012 ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Impressão Norprint | Primeira edição Dezembro de 2012 | Tiragem 2500 exemplares | ISBN 978-989-732-135-1 Depósito legal 352512/12
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PREFÁCIO Precoce, Resiliente, Sustentável
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INTRODUÇÃO Uma grande aventura humana
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72-81 NASCER Os anos que já não eram Começos antes do começo Duas figuras decisivas Nascer e começar a viver Em suma, uma revolução Igual a si próprio A busca de um espaço Enfrentar o futuro Cronologia 1972-1981
15 21 29 41 51 55 63 71 76
82-91 CRESCER Por novas áreas Aprofundamento académico O seu lugar como universidade Um importante passo no ensino da Gestão A investigação dissemina-se Os Estatutos do ISCTE Em obras Cronologia 1982-1991
83 89 95 105 111 115 123 124
92-01 FORTALECER Um caminho muito próprio Mais cursos Mais espaços Mais iniciativas na investigação Pelo mundo Quase, quase Cronologia 1992-2001
131 135 139 152 154 159 164
02-12 DESENVOLVER Novo começo Hoje Empreender Sem fronteiras O nosso campus Cronologia 2002-2012
171 189 197 213 223 236
2012
REPENSAR Um debate
243
Organogramas e números Abreviaturas Índice Onomástico Agradecimentos
258 261 262 264
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Prefácio.
Precoce, Resiliente, Sustentável
A história dos 40 anos de existência do ISCTE-IUL, aqui narrada por Carlos Oliveira Santos, é bem ilustrativa do percurso distintivo desta instituição universitária face às restantes instituições do ensino superior público português. Distintivo, desde logo, pelas circunstâncias e propósitos do seu nascimento. Ao ser a primeira instituição de ensino superior da chamada «Reforma Veiga Simão», criada, nas palavras do próprio, para que «se desenvolvesse como uma nova instituição universitária, fora do universo tradicional do conservadorismo do poder académico instalado», o ISCTE-IUL cedo despertou a animosidade não só do tal poder académico instalado, mas também de alguns que nasceriam depois, como está bem patente nos primeiros capítulos deste livro. Esta primeira fase de sobrevivência marcar-lhe-á, indelevelmente, um carácter de informalismo, autonomia, resiliência e inovação, obrigando-o a uma ligação permanente à sociedade e, posteriormente, a uma internacionalização precoce. Nem os baixos financiamentos públicos, que ainda hoje se mantêm, comparando com instituições congéneres, nem os obstáculos colocados pelo sistema universitário, bem ilustrada ao longo destas páginas, foram capazes de impedir o ISCTE-IUL de chegar a este seu quadragésimo aniversário numa situação sustentável, sobretudo, porque ninguém, hoje, ousa pôr em causa a qualidade do seu ensino e investigação, bem expressa, aliás, pela procura excessiva que gera face às vagas disponíveis e pela elevada taxa de empregabilidade e reconhecimento dos seus diplomados pelo mercado de trabalho. Sustentável, também, pelos indicadores de desempenho que apresenta: mais elevada autonomia financeira das universidades públicas; o menor custo por aluno e por diplomado face ao Orçamento de Estado; ratio mais elevado de alunos pós-graduados; o maior número de cursos fora do país (China, Moçambique, Cabo Verde, Brasil, Timor e, no próximo ano, Angola); a par de uma elevada percentagem de estudantes estrangeiros (13 por cento), com particular relevância para os estudantes Erasmus.
O ISCTE-IUL chega aos quarenta anos mantendo a sua cultura informal, resiliente, empreendedora e cosmopolita, mais forte do que nunca
O ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa chega assim aos 40 mantendo a sua cultura informal, resiliente, empreendedora e cosmopolita, mais forte do que nunca. Com 9000 alunos, somos, hoje, em número de estudantes, a oitava universidade pública de entre as 15 existentes. Os cerca de 60 000 ex-alunos que formámos ao longo destes 40 anos estão bem inseridos não só na sociedade portuguesa, mas em muitos outros países onde mantemos a nossa actividade. Embora vivamos, no presente, tempos de instabilidade e de incerteza, estamos convencidos de que a forma eficiente como gerimos a instituição, a diferenciação do nosso perfil face à concorrência e a forte identidade que nos caracteriza garantem que os próximos tempos serão menos difíceis do que boa parte da nossa existência até ao presente. A vontade e a esperança são tanto mais justificadas quanto se erguem em bases sólidas. Luís Reto
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Introdução.
Uma grande aventura humana
Quem olhe para a Academia ateniense, para os taixue, os estudos maiores criados pelo imperador chinês Wu, em 124 a. C., quem revisite as madrassas incentivadas por Nizam al-Mulk, o vizir dos Seljuques, pelo século XI, ou os studia generalia, como os de Bolonha, Paris, Oxford ou Lisboa e Coimbra, que fizeram a Europa desde os primórdios dos seus Estados, achará esta nossa peregrinatio academica muitíssimo recente e curta. Contudo, a vida, no seu segundo mais próximo, bem pode encerrar a grandeza de toda a História. A universitas, de que estas nossas páginas escrevem um capítulo, temporal e espacialmente localizado, é uma das grandes aventuras espirituais da humanidade. Os Gregos falavam na eudaimonia como esse florescer do espírito humano, olhando para cima de si próprio e buscando grandeza e felicidade. É aí, nos nossos valores fundamentais enquanto seres vivos, que tem de residir o sentido de qualquer universidade. De resto, «uma verdadeira universidade», escreveu Charles William Eliot, um dos grandes reformadores de Harvard, «é uma escola de espírito público»1�. Os homens e mulheres que ela busca formar, acrescentava ele, são dos que fazem, dos que alcançam, graças a percursos que se submetem ao bem público. Não são lânguidos observadores do mundo, meros espectadores do jogo da vida, fastidiosos críticos do labor dos outros… Esta nossa história, devemos torná-lo bem claro, foi, sobretudo, escrita pelo coração, onde se guardam as memórias do que se viveu, não deixando, contudo, esta abordagem, digamos, sentimental, dos que a viveram intensamente, de esquecer que os fenómenos históricos são intrinsecamente ricos e complexos e que a pesquisa e o testemunho sobre eles, tem de se fundar numa sistemática avaliação e numa crítica sem limites Deu-lhe, o tempo, à história do ISCTE-IUL, a fortuna de se construir em torno de uma revolução democrática, algo sempre mais rico em conteúdo, mais variado, mais
A universitas, de que estas nossas páginas escrevem um capítulo, temporal e espacialmente localizado, é uma das grandes aventuras espirituais da humanidade
multiforme, mais vivo e engenhoso do que se possa imaginar. Por isso mesmo, algo possuído de uma inevitável inacessibilidade histórica que só pode ser entendida com liberdade e diversidade de abordagens. Para construirmos estas páginas, muitas e variadas vozes foram estimuladamente ouvidas, inúmeros documentos palmilhados, somando sempre a preciosa ajuda do livro ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar2, de que fui coorganizador, na edição, mas que se ficou a dever, sobretudo, ao trabalho de Luísa Tiago de Oliveira e de Jorge Freitas Branco. Enfim, nesta síntese, que uma história sempre é, o essencial é que se encontre a vida, rica, variada, multiforme, activa e engenhosa, de uma instituição universitária que foi e é o percurso e a vontade de milhares de cidadãos, no seu contributo para as sociedades que lhes dão, afinal de contas, o pleno sentido da existência. Carlos Oliveira Santos
1 In Bethell, J. T. (1998), Harvard Observed, Cambridge, MA, Harvard University Press, p. 14. 2 Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.) (2007), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE.
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Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
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ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa
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Nascer
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Ainda que no mundo do subentendido, do indizĂvel, do compromisso, alguns foram construindo, em plena ditadura, o seu firme desejo de um outro Portugal
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O tempo que medeia entre a madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, em que um grupo de homens e mulheres, armados de paus, catanas e do que tivessem à mão, atacou a Casa de Reclusão, em Luanda, e uma outra madrugada, treze anos depois, em Abril, é dos mais surpreendentes e contraditórios da história deste país sobrevivente de quase nove séculos. Em plena Europa, o absurdo de um regime ditatorial, da década de 20, ter sobrevivido, sob a mesma tutela pessoal, a um século onde a modernidade mundial sempre foi crescente, e ter conseguido atravessar, em vida manhosa e moribunda, a fogosa década de 60, não é coisa fácil de explicar. Surpreendente, também, foi o facto de, exportando emigração e esbanjando milhares dos seus jovens, numa obsessão colonialista sem nenhum sentido, o Portugal salazarista dos anos que precederam o nascimento do ISCTE ter conhecido, para os miseráveis padrões daquele regime, um relativo desenvolvimento económico. Membro fundador da Organização Europeia de Cooperação Económica, integrante da Associação Europeia de Livre Comércio e conseguindo um acordo com a Comunidade Económica Europeia, um país anquilosado politicamente logrou taxas médias de crescimento anual do seu produto interno bruto superiores a seis por cento. Isto não apagou, antes atiçou, a tensão e os esforços de inúmeros quadrantes da população para enterrar o pesadelo e ultrapassar o absurdo. Os militares, com Henri© Eduardo Gageiro
que Galvão1 ou Botelho Moniz2, naquele mesmo ano de 61, ou as baixas patentes do 1 Em Janeiro de 1961, o paquete Santa Maria, da Companhia Colonial de Navegação, foi tomado de assalto, em águas internacionais, nas Caraíbas, com forte impacte mediático, por um grupo de oposicionistas, liderado pelo capitão Henrique Galvão. 2 Em 1961, o general Júlio Botelho Moniz, ministro da Defesa Nacional, promoveu uma tentativa de golpe de Estado, visando a demissão de Salazar, terminado, no entanto, com a destituição do ministro e a neutralização da iniciativa.
Manifestação em acontecimento desportivo | Desfile policial (1966)
© Eduardo Gageiro
Os anos que já não eram
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golpe de Beja, na madrugada do seguinte3, davam prenúncios do que poderia ser o seu papel. Os estudantes, igualmente em 62, soltaram a voz para não mais se calarem4. A Igreja Católica já não podia apagar das suas liturgias as palavras escritas, em 1958, pelo seu bispo do Porto: «Sugiro e peço, mas isso com toda a nitidez e firmeza, o respeito, a liberdade e a não-discriminação devidos ao cidadão honesto em qualquer sociedade civil.»5 De resto, o Alentejo «aquecia» regularmente. Almada e Barreiro, enquadrados num desenvolvimento nada desprezível do tecido industrial6, marcavam, cada vez mais, os seus anseios. Nos intelectuais, mais roseiras haveria na Gronelândia do que apoiantes da aberração que mandava em Portugal. O regime mentia, prendia, torturava, encerrava, subornava e mistificava com «evolução na continuidade»7, mas, sentado na confiança de papalvos, de vitória em vitória, cavava a sua inevitável derrota. Não se pense, contudo, que, em 25 de Abril de 1974, tudo se iluminaria como por magia, tudo nasceria por geração espontânea, num ano zero de todas as benesses. Pelo próprio meio do tropeço que era a ditadura, algo se esboçou, se congeminou, se foi tecendo, com a liberdade e a modernidade por anseio. Ainda que no mundo do subentendido, do indizível, do compromisso, alguns foram construindo, em plena ditadura, o seu firme desejo de um outro Portugal, de um tempo que fosse o seu. Este nosso Instituto, nascido em 1972, teve o contributo de pessoas desse género, pacientes artesãos de algo que eles sabiam só poder medrar em terra onde a democracia fosse realidade, em pátria que batesse as suas pulsações ao ritmo da História.
3 Um grupo de militares e alguns civis, no início de 1962, intentou o assalto e ocupação do Regimento de Infantaria de Beja, como parte de um plano mais vasto de sublevação popular e militar que não chegou a concretizar-se. 4 Na sequência da proibição do I Encontro Nacional de Estudantes e da repressão do Dia do Estudante, de 1962, inicia-se uma prolongada luta nacional estudantil, com grande significado na politização oposicionista deste sector e num crescendo de repressão por parte do regime. Chegou-se ao extremo de, em Outubro de 72, uma brigada da PIDE-DGS ter disparado, no meio de uma reunião de estudantes do ISCEF, e ter morto um deles, José António Ribeiro dos Santos. 5 António Ferreira Gomes, bispo do Porto (1958), «Carta a Salazar», in Medina, J. (dir.), História Contemporânea de Portugal, Ditadura: Estado Novo, tomo II, Lisboa, Amigos do Livro, p. 122. 6 Na estrutura do produto nacional, a indústria transformadora passaria de 28 por cento, em 1958-59, para 39,1 por cento, em 1972-1973 [cf. Rosas, F. (1994), O Estado Novo, vol. 7 de Mattoso, J. (dir.), História de Portugal, Lisboa, Editorial Estampa, p. 468]. 7 Sob aquele lema, em 1968, com a sua nomeação para presidente do Conselho de Ministros, sucedendo a Salazar, Marcelo Caetano esboçou um movimento de liberalização do regime que não pôs em causa a sua natureza autoritária e colonialista, acabando por soçobrar.
Assembleia de estudantes (1962) | António de Oliveira Salazar | António Ferreira Gomes
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«O desenvolvimento, processando-se, cria na sociedade uma situação nova, ou, mais exactamente, um conjunto de situações novas, simultâneas e sucessivas. Situações novas para os indivíduos, para os grupos, para a organização social, para a própria cultura. Diferindo das anteriores, estas novas situações exercem estímulos diferentes e provocam, portanto, diferentes reacções individuais e colectivas. Surgem, pois, novas motivações e aspirações, novas atitudes, novos tipos de comportamento. Solidariedades, anteriormente sólidas, enfraquecem ou dissipam-se, enquanto outras se tecem ou robustecem e procuram formas próprias de aglutinação e expressão. Deste modo, a estrutura básica da comunidade é alterada e o equilíbrio de interesses ou de poderes, em que assentava a organização social, modifica-se, obrigando a adaptações mais ou menos extensas ou profundas nos próprios esquemas ou princípios da organização. Finalmente, também o condicionalismo, dentro do qual, e a problemática, perante a qual, os sistemas de ideias se elaboram, os valores e ideais se explicitam e as obras do pensamento, da técnica e da arte se concebem e produzem, são transformados. Daí resulta a criação e propagação de formas e conteúdos de cultura inteiramente novos ou amplamente renovados. Em suma: sob o impacto do desenvolvimento económico, é todo um movimento induzido de reconversão social e cultural que se desencadeia. A sociedade e a cultura transformam-se, à medida que o desenvolvimento se processa.» Adérito Sedas Nunes (1963), «A perspectiva sociocultural do desenvolvimento económico», Análise Social, vol. I (3), p. 376
Assembleia estudantil | Cartaz do Dia do Estudante | Estudante exibindo um cassetete arrebatado à polícia (1962)
19 onde 1972-1981 nos levar o saber 19 ||atĂŠ Nascer
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É esta uma história indissoluvelmente ligada a coisas grandes e distantes, e a coisas bem mais pequenas e próximas, mas todas elas importantes
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que
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Começos antes do começo Uma história autêntica nunca começa quando começa, nem se funda em pedra fundadora única. Tecem-na, sempre, referentes vastos, momentos prévios, passos antecipados mas certeiros, personagens que desenharam as linhas em que ela se iria escrever, mesmo que, depois, ela se escreva por imprevisíveis caminhos. Uma das personagens decisivas desta história, senão a mais decisiva, ligará, com a sua lucidez e protagonismo, os nossos eventos «a coisas grandes e distantes, e a coisas bem mais pequenas e próximas, mas todas elas importantes… à crise do Estado liberal no entre as duas guerras mundiais; ao surto e sucesso, na sequência dessa crise, dos Estados autoritários e totalitários que se impuseram a tantas nações; à história do marxismo e do socialismo na sua degenerescência estalinista; à Resistência francesa ao ocupante nazi; à história da Igreja Católica, durante os papados de Pio XI, Pio XII e João XXIII; à crise da filosofia europeia, com o abandono definitivo do positivismo e do cientismo e a prevalência temporária das filosofias existenciais, fosse qual fosse a sua orientação». E acrescenta, «e direi talvez também como esteve ligada em Portugal, pelas razões do seu aparecimento, à existência do salazarismo, à sua perduração e também ao seu declínio; à resistência ou oposição ao salazarismo, por sob e por dentro do salazarismo; à promissora industrialização dos anos 50 e ao seu amortecimento na década seguinte; ao desenvolvimento de novas classes médias urbanas, muito diferentes das tradicionais; ao crescimento e à diferenciação do aparelho de Estado e à sua tecnicização relativamente rápida, embora limitada; às ambiguidades da Igreja portuguesa perante o Estado, já na fase de envelhecimento e descrédito cada vez maior da ditadura; à espectacular expansão da população universitária estudantil e à progressiva tomada de consciência de si mesmos pelos estudantes,
Brochura sobre a constituição do IES (1963) | Desembarque das tropas aliadas na Normandia (1944)
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como força social e política; à crescente inadaptação das universidades às mudanças sociais que as percorriam e percorriam toda a sociedade; à formação e evolução de todo um pensamento social “desenvolvimentista”. Direi talvez tudo isso, e direi talvez mais.»8 Desde 1952, o autor destas linhas, Adérito Sedas Nunes, a cuja imensa vida e maneira de ser voltaremos (cf. capítulo seguinte), integrava, como economista, um denominado Gabinete de Estudos Corporativos, a funcionar, há três anos, no Centro Universitário de Lisboa da Mocidade Portuguesa, no âmbito do respectivo ministério, o das Corporações e Previdência Social, e nesse caldo teórico do corporativismo, que foi e continua a ser área de muitas interpretações conceptuais.9 O responsável daquele Gabinete, José Pires Cardoso, professor do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), e nele leccionando Direito Corporativo, alimentava o sonho de «um corporativismo autónomo e de associação… uma “terceira via” entre, como ele dizia, o individualismo e o colectivismo, isto é, entre o capitalismo e o socialismo»10�, com os seus alunos, mais ou menos críticos, a entusiasmarem-se com o desígnio. Teriam sido, inclusive, eles, no decurso da viagem de finalistas de 1949, a Espanha, conta Raul da Silva Pereira11, a propor-lhe a criação do Gabinete, a que se juntaria a edição da respectiva Revista do Gabinete de Estudos Corporativos, onde publicaram, nomeadamente, nomes como Xavier Pintado e Francisco Pereira de Moura (n.º 1, 1950), Adérito Sedas Nunes (n.º 9, 1952, e outros seguintes), Maria Manuela Silva (n.º 20, 1954, e outros seguintes) ou Mário Murteira (n.º 33, 1958). Entre 1957 e 1959, a convite do ministro Veiga de Macedo, Sedas Nunes dirigiu, junto do Ministério das Corporações, um outro Centro de Estudos Sociais e Corporativos, com propósitos de pesquisa e formação de quadros do ministério, tendo saído, contudo, pela impossibilidade de realizar uma das suas ambições, uma nova revista de estudos sociais. O certo é que, em 1962, já em plena fermentação do vulcão político do regime, Pires Cardoso chamou os seus colaboradores, incluindo Sedas Nunes, para lhes anunciar uma intenção do ministro de então, José Gonçalves de Proença, de criar mais um «centro de estudos sociais e corporativos», desta vez junto do ISCEF, já com o assentimento do ministro da Educação Nacional e do director deste Instituto. 8 Sedas Nunes, A. (1988), «Histórias, uma história e a História — sobre as origens das modernas Ciências Sociais em Portugal», Análise Social, vol. XXIV (100, 1.°), p. 11. 9 Schmitter, P. (1974), «Still the century of corporatism?», The Review of Politics, vol. 36 (1), pp. 85-131. 10 Sedas Nunes, A. (1988), «Histórias, uma história e a História — sobre as origens das modernas Ciências Sociais em Portugal», Análise Social, vol. XXIV (100, 1.°), p. 13. 11 Raul da Silva Pereira (2011), «Depoimento de um dos fundadores da Análise Social: Ab initio», Análise Social, vol. XLVI (200), p. 613.
José Pires Cardoso | Sessão da Câmara Corporativa
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Lembra Sedas Nunes, por aqueles tempos, que a coisa foi acolhida com alvoroço, cansados que já estavam, os colaboradores do Gabinete, da «obscuridade» que os envolvia; mas também com inquietação, pelo ápodo corporativista para o projecto, «que era como um cerco à nossa volta, um muro que nos encerrava num vazio e nos cortava a comunicação com o exterior. Ninguém estava interessado em ler fosse o que fosse que tivesse origem em algo que se denominasse “corporativo”: o descrédito do corporativismo era total»�.12 Com o sentimento da época, dado à demarcação de posições, se o Centro se chamasse «corporativista», disseram eles a Pires Cardoso, não entrariam nele. «Bom, vamos pensar nisto», terá dito este, com bonomia... «Fazemos nova reunião para a semana.» Assim sendo, Sedas Nunes aparece com nome e projecto: seria Gabinete de Investigações Sociais (GIS), com uma revista de nome Análise Social. O director seria Pires Cardoso e o próprio levaria a proposta ao ministro. E pouco tempo depois, estava feito: o ministro das Corporações e o da Educação tinham homologado a novidade. O GIS inicial era, para além do director, constituído por Sedas Nunes, a sua principal alma, por Raul da Silva Pereira, que assegurou o secretariado, por Mário Murteira, Mário Pinto, Alfredo de Sousa e, pouco depois, Maria Manuela Silva e Mário Cardoso dos Santos. Quem eram? O que queriam? «[Eles] tinham… saído da universidade cheios de preocupações sociais. O atraso do País, a miséria de tanta gente, as clamorosas desigualdades que por toda a parte se viam, indignavam-nos e atormentavam-nos: não podiam conformar-se com elas. Na medida em que se tinham apercebido de que o regime não só pactuava com o atraso, a miséria e as desigualdades, como obstava ao desenvolvimento, à melhoria das condições de vida, ao progresso social, e fazia recair sobre os mais desfavorecidos todo o desfavor dos custos humanos e económicos de uma ordem social injusta, tinham-se desapegado progressivamente do salazarismo em que se haviam formado e que os formara, tinham-se tornado cada vez mais críticos em relação ao regime, tinham chegado à convicção de que sindicalismo livre, liberdades públicas e democracia eram necessários em Portugal.»13
12 Sedas Nunes, A. (1988), «Histórias, uma história e a História — sobre as origens das modernas Ciências Sociais em Portugal», Análise Social, vol. XXIV (100, 1.°), p. 14. 13 Idem, p. 17.
Edifício e pátio do ISCEF
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O primeiro número de Análise Social não tardou em aparecer, logo em 1963, com os vislumbres da substância daqueles desejos: o estudo das ideologias, sem «doenças» ideologizantes; a problemática da habitação, fundada em dados precisos; o desenvolvimento comunitário como mobilização e orientação das forças criadoras humanas; páginas que traduziam como eles se sentiam: «Juntos… não formavam um grupo político; mas a revista que quiseram e fizeram tinha um intuito político: mostrar as realidades sociais que o regime ignorava ou escondia, desmontar as ocultações sociais que serviam ao regime para se justificar a si próprio ou para impedir que se revelassem os seus aspectos sociais mais clamorosos. Esta era e esta foi a “estratégia” do grupo, se acaso estratégia houve.»14
Este remate é importante. Não se pense que presidia a Sedas Nunes um determinismo férreo, porque nem isso era possível, nem correspondia à natureza destas pessoas: «A Análise Social surgiu, como tantas coisas pequenas e grandes no tempo e na História, de um projecto contingente, de um acto e um gesto voluntaristas e acidentais. Houve quem a quisesse, mas poderia não ter havido: foi porque houve que existiu. Sem a vontade dos que a quiseram e fizeram, provavelmente a história das Ciências Sociais teria sido assaz diferente no nosso país.»15
Assim foi. Este grupo e esta revista tornar-se-iam, até hoje, marcos das Ciências Sociais, em especial da Sociologia. Porém, naquele ano de 1962, outras entidades se constituíram, nada distantes das áreas do GIS e todas integradas num deliberado Plano de Formação Social e Corporativa, como o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (FDMO) e o Instituto de Formação Profissional Acelerada (IFPA), bem como, ainda por iniciativa do Ministério das Corporações e Previdência Social, nasceria, no âmbito da Junta de Acção Social, o Instituto de Estudos Sociais (IES). No Decreto-Lei, o n.º 44 620, que criou este IES, salientava-se a «premente necessidade de preenchimento dos seus [do ministério] quadros por pessoas que disponham de uma preparação adequada». As próprias empresas são «chamadas a conceder uma atenção cada vez maior a tais problemas e a criar nos seus quadros serviços que deles exclusivamente se ocupem». 14 Idem. 15 Idem.
Instalações do ISCEF onde funcionou o GIS
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O IES realizaria, assim, cursos regulares, no domínio do trabalho, da organização corporativa e da previdência, com a duração de três anos, para indivíduos que tivessem pelo menos 16 anos e possuíssem o curso complementar dos liceus ou cursos dos institutos de ensino médio que habilitassem à admissão em escola superior. Sem estas formações, e apenas com o curso geral dos liceus, também poderiam ser admitidos, mas mediante exame de admissão. No regulamento do IES, logo aprovado em Outubro de 1962, traçava-se o plano de estudos que incorporava as seguintes disciplinas: 1.º ano Introdução ao Estudo do Direito; Organização Política e Corporativa da Nação; Economia Política; História das Ideias Políticas e Sociais 2.º ano Direito do Trabalho; Economia Portuguesa; Corporativismo; Medicina e Higiene no Trabalho; Previdência Social 3.º ano Direito do Trabalho e Organização e Administração de Empresas; Organização Judiciária e Direito Processual do Trabalho; Direito Corporativo; Segurança no Trabalho; Instituições Sociais Internacionais
Após um ano de trabalho, conduzido por uma Comissão Instaladora, chefiada por Rafael Santos Costa, em 4 de Dezembro de 1963, dois dias antes da inauguração oficial da nova instituição, reunia-se, pela primeira vez, o Conselho Directivo do IES, presidido por Fernando Pessoa Jorge, doutorado em Direito, estando presentes outros
Números iniciais da Análise Social (1963-1964)
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dos seus membros como Adérito Sedas Nunes16, Américo Saragga Leal, Guilherme de Vasconcelos, José Ascensão, Mário Murteira, Mário Bigotte Chorão e Luís Carneiro. Instalado num edifício alugado, no Campo Grande, n.º 185, ao lado da oficina de aluguer de bicicletas, com aquela linda «ilha» de jardim defronte, o IES logo abriu um processo de candidaturas para alunos e o resultado foi, pelo menos para os incautos, surpreendente; um espelho, no fundo, da existente sede destes estudos. Inscreveram-se 1085 alunos, acabando por se constituírem duas turmas, uma de manhã, com 87 alunos, e outra à tarde, com 179. O anfiteatro, improvisado no edifício, com lotação para 220 pessoas, nem os poderia receber a todos. Em 1965, concretiza-se, no IES, uma diversificação de cursos que iria ter, posteriormente, um importante significado. No 3.º ano, os alunos poderiam optar entre um curso de Administração Social de Empresas e um outro de Política Social. O primeiro teria as seguintes cadeiras: Psicossociologia da Empresa; Produtividade e Remuneração do Trabalho; Organização e Administração de Empresas; Direito do Trabalho; Direito Processual do Trabalho; Organização da Previdência; Prevenção e Higiene no Trabalho
O curso de Política Social teria estas cadeiras: Psicossociologia da Empresa; Desenvolvimento Económico e Social; Política Social Portuguesa; Teoria da Segurança Social; Direito Processual do Trabalho; Organização da Previdência; Instituições Sociais Internacionais
Os próprios alunos viriam a solicitar várias matérias complementares, como Administração de Pessoal, Metodologia do Inquérito Social, Técnicas Quantitativas de Gestão, Comunicação e Técnicas de Grupo, Organização e Gestão Comercial… Inovador, pioneiro no ensino de algumas disciplinas, numa época em que inovação e pioneirismo não se cultivavam oficialmente, o IES teve, entre as suas paredes, muitos docentes e alunos, como lembrou Mário Murteira, «que depois do 25 de Abril viriam a adquirir relevo no nosso devir cultural, universitário e político».17 E seria a partir desta instituição, o IES, que, em 1972, se forjaria, em articulação com o decisivo trabalho do GIS e de Sedas Nunes, o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). 16 Adérito Sedas Nunes começou por leccionar, no IES, História das Ideias Políticas e Sociais, tendo por assistente outra importante figura portuguesa, o padre Manuel Antunes, que acabou por ir leccionar Economia Política. 17 Mário Murteira (1991), «25 anos do Curso do IES 1963/1966», folheto impresso, Lisboa.
27 | até Nascer onde 1972-1981 nos levar o saber
«Os treze anos que precederam a criação do Gabinete de Investigações Sociais (no âmbito do ISCEF e, portanto, como instituição universitária) e o lançamento da revista Análise Social, foram de grande importância para o êxito que a iniciativa veio a alcançar. Ao longo desses anos, um grupo de estudiosos debruçou-se sobre variados aspectos da temática social, consultou e juntou documentação, reflectiu, teve esperanças e frustrações, escreveu e publicou muitas coisas; e constituiu um núcleo coeso, um tanto informal, quase uma equipa de trabalho — era o Gabinete de Estudos Corporativos (GEC) e a sua revista. Porquê a existência desse Gabinete, como surgiu e se manteve durante tanto tempo? Num país onde praticamente não existia o ensino das Ciências Sociais, era no ISCEF que, por via do estudo da Economia — teorias, doutrinas, factos —, se fazia maior aproximação a essa área extremamente vasta do conhecimento. Em 1949, concluíam a sua formatura os primeiros alunos admitidos no ISCEF logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Esta geração começara o curso com a imagem de um mundo dividido pela Guerra Fria e uma Europa parcialmente destruída (recordo uma recolha de géneros para os universitários de Colónia, reduzida a escombros), vivera intensamente as eleições para deputados de 1945 e terminara em plena campanha presidencial do general Norton de Matos, quatro anos depois. Assistira a um simulacro de abertura política e à repressão que se lhe seguiu: foram demitidos alguns dos nossos melhores professores universitários, entre os quais um do próprio ISCEF, o professor Bento de Jesus Caraça. Mas às interrogações postas pelo pós-guerra — as novas fronteiras da Europa, a independência dos territórios coloniais, a vitória do trabalhismo na Grã-Bretanha, e tantas outras questões com incidências nos campos económico e social — eram inexistentes as resposta da universidade, até porque uma discussão aberta sobre estes temas não era compatível com o preceito, então vigente, da “defesa da ordem social estabelecida” — preceito suficientemente vago e abrangente para eliminar qualquer ideia de mudança.» Raul da Silva Pereira (2011), «Depoimento de um dos fundadores da Análise Social: Ab initio», Análise Social, vol. XLVI (200), p. 612
28 | até onde nos levar o saber
Como todas, esta história é um lugar onde as pessoas contam, têm nome, maneira de ser e desempenharam papéis fundamentais
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que
29 | Nascer 1972-1981
Duas figuras decisivas As instituições podem transcender os indivíduos, mas não os dispensam. Qualquer realidade não pode ser entendida por um mero institucionalismo despersonalizado e abstracto. Seguramente que muitas pessoas foram importantes na vida do ISCTE, mas há duas que o foram especialmente. Da primeira, já falámos. Adérito Sedas Nunes, lisboeta, nascido em 1928, é daqueles que chegam à maioridade e à conclusão da sua formação superior, no ISCEF, em pleno pós-guerra, marcado por uma militância que o levou à presidência da Juventude Universitária Católica (JUC), entre 51 e 53, tendo organizado, neste ano, o primeiro congresso desta associação. Nessa condição, acompanhou os posicionamentos de diversas personalidades católicas contra o regime salazarista, nomeadamente as do bispo do Porto, António Ferreira Gomes18, a que já nos referimos. Naquele ano de 62, em que começou o GIS, casou-se Sedas Nunes com a que viria a ser uma das maiores mulheres e escritoras de Portugal, Maria Velho da Costa, a criadora de Maina Mendes e de Casas Pardas, uma das autoras das explosivas Novas Cartas Portuguesas.19 A ele, o trabalho que consagraria a sua atenção seria o da investigação e ensino, desenvolvido com base em conceitos gradualmente aprofundados, mas, principalmente, sujeitos a um método, que Manuel Braga da Cruz bem descreve: 18 Cf. Barreto, J. (2007), «Adérito Sedas Nunes e o bispo do Porto em 1958», Análise Social, vol. XLII (182), pp. 11-33; e ainda Ferreira, N. E. (2006), A Sociologia em Portugal: da Igreja à Universidade, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais. 19 Livro publicado, em 1971, em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, um manifesto pela liberdade, a sexualidade e a dignidade das mulheres, imediatamente proibido e apreendido pelo regime, com as autoras acusadas de atentado ao pudor, num processo que só foi encerrado depois do 25 de Abril de 1974.
Adérito Sedas Nunes | Instalações do GIS na Rua Miguel Lúpi, em Lisboa
30 | até onde nos levar o saber
«Adérito Sedas Nunes não teve a preocupação de formar discípulos reverentes e submissos, que para ele trabalhassem apenas, ou que reproduzissem e ampliassem as suas ideias e as suas opiniões. A sua principal preocupação foi a de criar um espaço de liberdade, de criação e de descoberta, de discussão e de crítica, que fizesse surgir do confronto aberto de opiniões e de perspectivas, do diálogo interdisciplinar, o desenvolvimento do próprio conhecimento científico.»20
Do seu trabalho de investigação e do seu incentivo a ela, já assinalámos diversos aspectos que foram acentuando uma preocupação com o ensino, sobretudo com o papel da universidade, ou seja, com os desafios que a esta se punham, naquele Portugal anquilosado, mas possuído de gente sequiosa de mundo, de liberdade, de uma plena ciência do seu tempo. São de 1968, dois volumes da Análise Social inteiramente consagrados à «Universidade na vida portuguesa» e considerados por Sedas Nunes «o mais exaustivo e sólido estudo, acerca das universidades e da sua população docente e discente, desde sempre efectuado entre nós».21 Num artigo publicado no ano seguinte, uma coautoria entre Sedas Nunes e Miller Guerra22, traçava-se um objectivo iniludível: «o de que é indispensável fomentar, em Portugal, uma democratização do acesso às universidades», aí englobando maior acesso, novos métodos, novas ciências, novas escolas, dir-se-ia mesmo, uma nova sociedade. A partir desses anos, reforçados com a publicação da sua colectânea Universidade na Vida Portuguesa23 e do seu livro O Problema Social da Universidade, Para Uma Reforma Universitária de Fundo24, Sedas Nunes iria, naquela sua escrita de pequenas e precisas letras, em linhas rigorosamente rectilíneas, trocar correspondência assídua com a segunda figura decisiva deste capítulo.
20 Cruz, M. B. (1997), «A figura e obra de Adérito Sedas Nunes», Análise Social, Vol. XXXII (143-144), p. 942. 21 Nunes, A. S. (1988), «Histórias, uma história e a História — sobre as origens das modernas Ciências Sociais em Portugal», Análise Social, vol. XXIV (100, 1.°), p. 29. 22 Nunes, A. S., & Guerra, J. P. M. (1969), «A crise da Universidade em Portugal: reflexões e sugestões», Análise Social, vol. VII (25-26), p. 13. 23 Nunes, A. S. (org.) (1969), A Universidade na Vida Portuguesa, Lisboa, Gabinete de Investigações Sociais. 24 Nunes, A. S (1970), O Problema Social da Universidade, Para Uma Reforma Universitária de Fundo, Coimbra, Gráfica de Coimbra.
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«Se me é possível resumir, no curto espaço desta evocação, o que foi o esforço académico e cívico de Adérito Sedas Nunes, diria que o seu primeiro mérito foi o de chamar a atenção para a dimensão social do desenvolvimento económico e para o contributo que às Ciências Sociais cabia dar nesse processo quando, no dealbar da década de 60, o país atravessava uma importante fase de crescimento económico e de modernização social, dominada por perspectivas economicistas e tecnocráticas. Com a visão personalista e solidária da vida e com a perspectiva humanista e cristã dos problemas sociais que desde os primeiros escritos revelou, Adérito Sedas Nunes, economista de formação e militante católico de vanguarda, foi um defensor da “humanização” das relações sociais. Para ele os problemas do progresso económico deviam ser enquadrados na perspectiva mais ampla de um pensamento social que integrasse o ponto de vista económico na problemática geral da sociedade, cujo progresso se pretendia promover, não apenas em termos económicos, mas numa dimensão global do homem todo e de todos os homens. Adérito Sedas Nunes foi dos primeiros a ocuparem-se dos problemas sociais “graves e difíceis” que acompanharam a evolução das sociedades modernas, em particular da sociedade portuguesa, mas também das próprias condições sociais do desenvolvimento. Desde o início compreendeu e tentou fazer perceber que não era possível ocupar-se de questões sociais ignorando ou relegando para segundo plano o problema das estruturas e dos regimes, a forma de organização económica e o papel do Estado ou esquecendo a necessidade da compreensão histórica desses problemas e das respostas a dar-lhes.» Manuel Braga da Cruz (1997), «A figura e obra de Adérito Sedas Nunes», Análise Social, vol. XXXII (143-144), p. 940
Números da Análise Social sobre a obra de Adérito Sedas Nunes (1997)
32 | atĂŠ onde nos levar o saber
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Beirão, nascido na Guarda, em 1929, José Veiga Simão, licenciado em Ciências Físico-Químicas, na Universidade de Coimbra, tendo abandonado os desígnios de prosseguir uma carreira militar25, rumou, em 1953, com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, para um doutoramento em Cambridge, no célebre Cavendish Laboratory, um permanente alfobre de prémios Nobel, nomeadamente os que, na Química, aí viriam, em anos próximos, para Alexander Todd (1957) e Fred Sanger (1958). E aquele português, um beirão, por ali estava, na universidade de Milton e de Darwin: «Foi decisivo para a minha formação e, eu diria mesmo, para o meu relacionamento humano e institucional… Em Coimbra, a verdade é que o diálogo que travávamos entre colegas era uma universidade para lá da universidade. Esse convívio… sempre com desejos de uma vida nova e de grandes mudanças, era ainda alimentado por umas tertúlias que se iniciavam no Café Arcádia, com pessoas como Miguel Torga, o Afonso Queiró, um Guilherme Oliveira, um Anselmo de Castro, um Dias Oliveira, que tinha sido deputado na I República.»26
Instalado em Inglaterra, outra experiência se lhe abre: «Cambridge deu origem a uma outra visão. O inglês tinha uma atitude de superioridade em relação ao continental. Em termos caricaturais, havia uma hierarquia: primeiro o inglês, depois o cão, depois o continental. Eu venho a dar-me muito bem com os meus amigos ingleses, mas, no embate inicial, eles ficarem surpreendidos por eu ser branco, não saberem bem onde ficava Portugal, e darem-me o Norte de África e o Médio Oriente como localização, ensinaram-me que, nessas circunstâncias, não podíamos demonstrar que estávamos a ser ofendidos, mas, seguindo o humor britânico, devia responder-lhes no mesmo tom. E, então, eu dava respostas como a que na minha escola ensinavam muito mal geografia, e quando vim para aqui julgava que a capital do Reino Unido era Edimburgo… Eles achavam aquilo tão absurdo como o que estavam a dizer sobre Portugal e, a partir daí, ficámos amigos.»27
25 Tendo feito os preparatórios, em Coimbra, e, depois, o curso de oficiais milicianos, Veiga Simão chumbou no exame para admissão em Infantaria, por não cumprir os respectivos parâmetros de visão. De regresso a Coimbra, em 1947, uma Sebenta de Química Geral, de que fora autor, era um sucesso editorial, gerando proventos consideráveis. Razão suficiente para a decisão do próprio: «Eu para a tropa já não vou!» (José Veiga Simão, depoimento para este livro, Junho de 2012). 26 Idem. 27 Idem.
José Veiga Simão na Universidade de Cambridge, no Cavendish Laboratory, a trabalhar num acelerador Van-de-Graaff (1956)
34 | até onde nos levar o saber
Em 1957, Veiga Simão doutorava-se com a tese «Nuclear reactions on light nuclei – experimental analysis and theoretical interpretation on the basis of nuclear models», mas esperava-o o absurdo do seu país natal. Chegado a Portugal, o doutorado de Cambridge viu ser-lhe recusado o reconhecimento do seu doutoramento, sendo obrigado a apresentar, cá, um outro, classificado, contudo, com 20 valores. Ele o diz: «Fiquei sempre com esta ideia: alguma coisa está errada num país que envia um dos seus para se doutorar numa das melhores universidades do mundo, e chega aqui e esse doutoramento não é reconhecido.»28
Mais uma importante faceta deste percurso: «Ao mesmo tempo que o Cavendish Laboratory me proporcionou condições excelentes para desenvolver os meus trabalhos, tínhamos, duas vezes por mês, conferências das pessoas mais notáveis, tanto do mundo da ciência como da cultura, sobre as problemáticas mais diversas, que relacionavam, de alguma forma, a filosofia com a ciência, e devo dizer que isso me deu, também, uma excelente formação, em termos básicos, para eu entender que essa ligação interdisciplinar era muito importante para uma universidade.»29
O sentido de tudo isto é que se criou, assim, uma figura humana excepcional, pela qualidade e singularidade, a que o regime não virou costas, permitindo-lhe, de algum modo, ousar algumas intervenções reformistas, que, politicamente, iriam contestar as bases da ditadura e ultrapassar os seus limites, perdurando para lá da sua morte anunciada. Como reitor dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique, desde 1963, Veiga Simão cumpriu essa tarefa, «impossível» para a altura, de pôr de pé uma universidade, onde os colonialistas queriam apenas meros estudos de circunstância. O próprio Narciso de Matos, o actual reitor da, hoje denominada, Universidade Eduardo Mondlane, salientou, neste mesmo ano de 2012, nas comemorações do 50.º aniversário do ensino superior naquele país, que, em seus primórdios, a Universidade soube utilizar «graus de liberdade, correndo riscos em adoptar métodos modernos de ensino, montar excelentes laboratórios, alterar planos curriculares e promover investigação de vanguarda».
28 Idem. 29 Idem.
Veiga Simão na inauguração dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique, com o Manuel Sarmento Rodrigues (1963)
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«A estada em Inglaterra teve uma influência muito relevante no meu modo de pensar e de agir. Alguns analistas políticos referem mesmo que o meu posicionamento ao longo dos tempos na política e na ciência foi determinado por uma matriz anglo-saxónica. Marcelo Rebelo de Sousa, ao escrever a fotobiografia de seu pai, o ministro Baltazar Rebelo de Sousa, considera-me “viajante” e “lido embora com matriz quase exclusivamente anglo-saxónica”. É certo que, os três anos e meio que vivi em Inglaterra para além da experiência vivida numa Universidade como a de Cambridge, onde convivia a tradição com a vanguarda de pensamento, permitiram-me compreender o significado de viver numa sociedade democrática e as dificuldades em a construir. A Educação estava na base dessa construção, através de uma democratização do ensino e pelo ensino. A sociedade inglesa, com valores de relacionamento humano sui generis, cultivava o humor e o confronto de ideias; a liberdade e a responsabilidade. Tive uma experiência inesquecível: a que vivi, ao beneficiar do sistema nacional de saúde, aquando do nascimento da minha primeira filha, Luísa. Por outro lado, as amizades construídas na partilha de ideias em trabalhos de investigação sem horas e na transmissão livre de conhecimentos, marcaram-me para a vida.» José Veiga Simão (2011), Entrevista a Teresa Pena e Conceição Abreu, Gazeta de Física, vol. 34 (2)
36 | até onde nos levar o saber
Quando Marcelo Caetano, em 1970, no mesmo
«Mr. Veiga Simão tem desafiado continuamente os conservado-
ano em que Salazar morreu, ainda ansiava um esboço
res portugueses a porem em prática os seus argumentos para
de liberalização em Portugal, foi buscar José Veiga
uma sociedade multirracial. Ele defende que as sociedades
Simão para ministro da Educação, começando, então, o
raciais de África estão a falhar – tanto a África do Sul, com o apar-
processo da mais ousada reforma educativa que o país
theid, como as repúblicas negras independentes que rejeitaram
teve, em todo o chamado Estado Novo, com consequên-
a presença e a colaboração branca. Mas mesmo ele não parece
cias ainda hoje vivas, nomeadamente as que dizem
estar seguro de que os novos esforços para dar vida a velhas
respeito à instituição desta história.
e, até agora, pouco praticadas doutrinas cheguem a tempo ou
Sem perder tempo, Veiga Simão reuniu uma vasta
sejam suficientes. “Não sei se teremos sucesso”, diz ele, “mas
equipa de colaboradores, num Gabinete de Estudos e
estamos aqui e não podemos fazer outra coisa. Seja qual for o
Planeamento, pessoas a que os anos seguintes dariam
resultado que obtenhamos, podemos ser – não digo um exemplo
notoriedade e confirmação da sua qualidade, como
– mas, pelo menos, ‘uma experiência útil para outras sociedades
Adelino Amaro da Costa, Roberto Carneiro ou Maria de
africanas’.
Lurdes Belchior. E cercou-se de personalidades como
Mr. Veiga Simão está a batalhar arduamente para obter a
Sedas Nunes, Alçada Baptista, Miller Guerra, Lind-
permissão de Lisboa para a realização de encontros com reito-
ley Cintra, Manuel Antunes, João Salgueiro ou João
res de universidades da Tanzânia e do Quénia - dois países que se
de Freitas Branco, para quem, claramente, o Portugal
opõem ferozmente a Portugal, em África. Tenha ele sucesso em
desejado não era o vivido.
Lisboa, e ainda tem de persuadir os Tanzanianos e os Quenianos,
Em 6 de Janeiro de 1971, o ministro da Educação
o que pode bem ser mais difícil.»
apresentava, ao país, o seu Projecto do Sistema Esco-
Richard Eder (1969), «Portuguese are divided over racial policies», New York
lar e as Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior.
Times, 8 de Agosto, p. 6
A atenção do país foi total e o que se tinha passado no Conselho de Ministros do dia anterior ficaria apenas para a memória. Explanando os seus propósitos nesse Conselho, apenas o ministro da Marinha, o almirante Manuel Pereira Crespo, e o ministro de Estado, João Pereira de Campos, lhe manifestaram uma clara concordância. O da Defesa Nacional, o general Horácio Viana Rebelo, não deixou de dizer que sabia bem o que ele queria: «Espalhar a subversão pelo país.» Joaquim Silva Cunha, ministro do Ultramar, mais manhoso, quis arrasar a coisa com argumentos «cosmopolitas», afirmando que as propostas revelavam um certo atraso, já que, depois do Maio de 68, os países estariam em retrocesso quanto à educação, enquanto Veiga Simão queria avançar…
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«Saí do Conselho e apresentei a minha demissão. Nessa noite, Marcelo Caetano pediu-me para eu ir, logo de manhã, a casa dele.»30
Marcelo ouviu-o, aceitou o repto da reforma e prontificou-se a falar com os ministros. Nesse mesmo dia, Veiga Simão anunciava, publicamente, o seu Projecto e Linhas Gerais. O eco foi imediato e enorme. Miller Guerra solta a voz, nas bancadas da Assembleia Nacional, considerando o assunto «o ponto crucial da vida sociopolítica», vindo «corporizar um conjunto de aspirações, necessidades há longo tempo sentidas pelo povo português e pelas instituições de ensino, mas cuja satisfação tem sido constantemente adiada»�.31 Duarte Amaral, o pai de Diogo Freitas do Amaral, um homem bem próximo de Salazar, anuiria mais tarde: «Não há dúvida de que, pela sua ambição e vastidão, pelo ritmo das realizações que abrangem globalmente os diferentes graus do ensino, ele é porventura o maior esforço, a tentativa mais ousada que se tem feito em Portugal.»32
A «Reforma Veiga Simão», como foi logo cunhada, estendia-se por vários conceitos essenciais: a sua índole cívica e desenvolvimentista33; a ampliação do acesso ao ensino e o alargamento do número de anos de escolaridade; a abertura ao exterior, 30 Idem. 31 Miller Guerra, Diário das Sessões, 1971, p. 1653; cit. por Stoer, S. R. (1983), «A reforma de Veiga Simão no ensino: projecto de desenvolvimento social ou “disfarce humanista”?», Análise Social, vol. XIX (77-78-79, 3.°, 4.° 5.°), p. 793. 32 Duarte Amaral, Diário das Sessões, 1973, p. 5038. 33 Veiga Simão, em «Contas à Nação», Janeiro de 1972: «A reforma tem por fim servir o povo: saber ler, escrever e contar já não é quanto basta para os portugueses. Critérios de justiça social e exigências da vida moderna levam-nos a querer e a planear para todos eles um sistema educativo que lhes permita realização plena como indivíduos e cidadãos.»
Maria de Lurdes Belchior | Miller Guerra | António Alçada Baptista | Luís Lindley Cintra | Manuel Antunes | João de Freitas Branco
38 | até onde nos levar o saber
com centenas de portugueses a doutorarem-se no
«A conexão da universidade com a vida nacional tem sido objecto
estrangeiro; por fim, a reforma das universidades, com
de estudo e crítica na generalidade dos países. O facto essencial
factores de desenvolvimento científico e tecnológico,
consiste no frequente enquistamento da universidade no seio
como garante de qualidade das existentes, assim como
de uma sociedade em evolução e com exigências múltiplas. Esta
a criação de novas instituições e cursos, num ambiente
assincronia entre uma instituição semiparada e um meio social
mais competitivo e inovador.34
em transformação representa seguramente... uma das razões
Mesmo que se odiasse o regime, com toda a convic-
dos movimentos estudantis actuais.
ção, ter-se-ia de sentir que «a ênfase que Veiga Simão
As universidades, e nunca é de mais remontar à História
colocou na democratização do ensino surtiu, inevi-
quando nos serve para esclarecer o presente, são instituições
tavelmente, efeito nas formas de luta popular demo-
que nasceram e se desenvolveram desde a Idade Média, atin-
crática, nas quais a questão principal se reportava ao
gindo o apogeu e as suas formas actuais no período de ascen-
direito de o “cidadão” participar no poder político».35
são da burguesia. Corresponderam, portanto, e adequadamente,
A estratégia política adoptada, a partir da sua
em certa época, às necessidades de uma classe social em plena
apresentação inicial, também foi importante. O tempo
expansão. As suas estruturas, o quadro de faculdades, os licen-
urgia. Esperar, para o seu arranque, pela formaliza-
ciados que lançavam para a vida activa harmonizaram-se com
ção total, seria gastar um período precioso, que pode-
formas de cultura e de educação que desde há alguns anos
ria deitar tudo a perder. Por isso, Veiga Simão foi avan-
entraram em crise. Nestas condições, por um lado, as universi-
çando com passos intermédios mas mobilizadores.
dades continuaram, por um fenómeno de inércia institucional,
Ainda em 1971, foi reconhecida a Universidade
a “produzir” licenciados que correspondem a exigências em vias
Católica. E, no ano seguinte, ensaiou-se um passo insti-
de declínio e, por outro lado, não preparam os investigadores e
tucional na expansão e diversificação do ensino supe-
especialistas de que a vida moderna carece de maneira rapida-
rior público: a experiência e o património humano e
mente progressiva.
material do IES deram lugar a uma nova instituição
Em resultado daqueles factos, certas universidades tive-
onde novas ciências interventivas na sociedade portu-
ram e têm extrema dificuldade em corresponder às necessida-
guesa iriam ter, finalmente, raízes e vida à altura.
des e aos estímulos que lhes vêm do exterior e, em razão disso,
Através do Decreto-Lei n.º 522/72, de 15 de Dezem-
muitas delas separaram-se da vida social que as circunda.»
bro, foi criado o Instituto Superior de Ciências do Traba-
Adérito Sedas Nunes e João Pedro Miller Guerra (1969), «A crise da
lho e da Empresa (ISCTE).
Universidade em Portugal: reflexões e sugestões», Análise Social, vol. VII (25-26), p. 15
34 Cf. Rodrigues, M. L. (2011), «Discurso de Maria de Lurdes Rodrigues», in Cerimónia de Outorga das Insígnias de Doutor Honoris Causa a José Veiga Simão e André Jordan, Lisboa, ISCTE-IUL, pp. 7-10. 35 Stoer, S. R. (1983), «A reforma de Veiga Simão no ensino: projecto de desenvolvimento social ou «disfarce humanista»?», Análise Social, vol. XIX (77-78-79, 3.°, 4.° 5.°), p. 795.
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Pรกginas do Diรกrio do Governo com o Decreto-Lei n.ยบ 522/72, de 15 de Dezembro, que criou o ISCTE
40 | até onde nos levar o saber
O contexto em que nasce o ISCTE vai marcá-lo com um forte sentido dinâmico, de contínuo alerta e luta para sobreviver aos condicionalismos externos
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que
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Nascer e começar a viver O decretismo é, muitas vezes, o pior inimigo da concretização. Pensar que um decreto gera, só por si, uma realidade é, no mínimo, ingenuidade, ainda que assídua entre governantes. Foi preciso que muito e muitos se mexessem, para que aquele ISCTE, criado pelo decreto de 15 de Dezembro, se fosse tornando uma realidade. No dia anterior à sua publicação, o Conselho Escolar do IES fazia, em reunião, os seus preparativos para a nova instituição: a transição dos cursos; a situação dos professores; o recrutamento de novos; a possibilidade de um ano intercalar, voluntário e gratuito para os alunos; as condições da sua transferência; abertura de inscrições; preparativos das instalações, dos programas e dos processos… Neste quadro, o director do IES, Neto de Carvalho, convidado pelo ministro da Educação, declinou a direcção do novo Instituto, invocando outros afazeres, acabando por ser nomeado Henrique Martins de Carvalho, ex-ministro da Saúde e Assistência. Quem, contudo, se perfilava na acção e influência era, evidentemente, Adérito Sedas Nunes. Durante o período em que Veiga Simão esboçava a criação do ISCTE, foi Sedas Nunes quem com ele estabeleceu intensos contactos, visando, sobretudo, o sentido científico e pedagógico da nova instituição. É de 8 de Novembro de 72, uma carta a Veiga Simão onde Sedas Nunes sublinha a sua preocupação central neste processo: a criação de um curso superior de Sociologia. Mas que conteúdos, que estruturas, que estratégia? Ele próprio avança conceitos, plano de estudos, disciplinas e suas justificações. O mais básico dos problemas começava, contudo, por ser o nome. Sociologia estava fora de hipótese, para o regime, aventadas coisas tão ridículas, recorde-se,
Imprensa sobre a apresentação pública da «Reforma Veiga Simão» (1971)
42 | até onde nos levar o saber
Artigos de imprensa sobre a criação do ISCTE (1972)
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«O desenvolvimento económico e social suscita a necessidade de o país dispor de maiores facilidades no recrutamento e aperfeiçoamento de pessoal especializado na problemática do trabalho e nos aspectos jurídicos, económicos e sociais que lhe são inerentes. Nesta ordem de ideias, já no programa de execução para 1968 do III Plano de Fomento, no capítulo relativo à produtividade, se incluiu concretamente a continuação de estudos relativos à criação de um instituto superior de gestão e administração de empresas. Em prosseguimento dessa perspectiva, e apesar das medidas entretanto tomadas, é criado agora o Instituto Superior de Ciências do T rabalho e da Empresa, na dependência do Ministério da Educação nacional, através da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, pois se entende que a criação deste Instituto se revela oportuna no âmbito da política nacional do fomento e da produtividade. O incremento que as ciências económicas alcançaram nos últimos anos, abrangendo novos domínios, aconselha a uma maior diversificação dos cursos que a elas digam respeito. Com a criação desta escola pretende-se dimensionar a frequência destes cursos de molde a tornar o ensino mais eficiente e a possibilitar o maior aproveitamento dos alunos.» Decreto-Lei n.º 522/72, de 15 de Dezembro
Artigos de imprensa sobre a criação de novas universidades e do ISCTE (1972)
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como a porta aberta à «subversão» que o ministro da Defesa tinha insinuado. Sim, não nos esqueçamos que era ainda com esta gente que se vivia!36 Sedas Nunes sugeriu, naquela carta, a designação de Economia Social, mas acabar-se-ia por ficar com a estranha nomenclatura de «Ciências do Trabalho». Associada a elas, a segunda vertente do Instituto era a da Gestão, também esta classificada com a especiosa designação de «Ciências da Empresa», com o seu bacharelato em Organização e Gestão de Empresas. A verdade é que qualquer destas duas vertentes, bem como a sua junção e articulação, representava uma importante inovação no ensino superior, em Portugal. A elas se juntava um bacharelato em Economia. As considerações passavam por ter em conta que a licenciatura em Ciências Sociais do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU) era muito limitada e que a procura existente, na Sociologia, Gestão e mesmo na Economia, ultrapassava muito a capacidade do ISCEF de então, chamado, entretanto, em 1972, apenas Instituto Superior de Economia (ISE). Isto apontava, obrigatoriamente, para o que, tendo sido decidido pelo Governo, em 1972, viria a ser confirmado, em Agosto de 1973, no âmbito da publicação do Decreto-Lei n.º 402, que redefinia o quadro institucional da expansão e diversificação do ensino superior, pelo qual se criaram as universidades do Minho, de Aveiro, o Instituto Universitário de Évora, e a Universidade Nova de Lisboa, na qual se pretendia integrar o ISCTE, assim como o GIS.37 No entanto, aquele Portugal, como diria Fernando Pessoa, era nevoeiro. Tudo ou, pelo menos, muito era incerto e derradeiro. E assim o foi a vida inicial do ISCTE. Em Janeiro de 73, o ministro criou uma comissão para nomeação de professores, constituída pelo director-geral do Ensino Superior, pelo reitor da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), pelo presidente do ISE, pelo director do IES, à data da sua extinção, e pelo do ISCTE. Em muitos casos, estamos a falar de professores para 36 Paquete de Oliveira refere, com graça: «Da Sociologia se conta que por muito tempo andou catalogada nas prateleiras do Ministério da Educação nos dossiers das “ciências ocultas”. Fábula ou chiste anedótico, o episódio não deixa de transmitir um sabor real ao estatuto menor e desprezível que lhe conferiam a nível oficial e institucional.» [Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universidade fora da academia», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 177). 37 Sobre o GIS, em carta de 27 de Novembro de 1973, para Veiga Simão, Sedas Nunes comenta, com ironia, o curioso percurso destas coisas. A decisão governamental era a da transferência da instituição para a Universidade Nova. Nesse sentido, Pires Cardoso falou, em tempo, com o director do ISE, Gonçalves de Proença. «Sabendo agora», escreve Sedas Nunes no seu estilo inconfundível, «que ontem, dia 26, em reunião a que V. Ex.ª presidiu e a propósito de V. Ex.ª haver tocado no assunto, o Prof. Proença declarou que era a primeira vez que ouvia falar no caso, só posso atribuir esta declaração a esquecimento… sem dúvida compreensível pelas muitas preocupações que assoberbam o Prof. Gonçalves de Proença.»
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cadeiras que não tinham qualquer correspondência no sistema universitário português. Um documento de reflexão elaborado, entretanto, entre os docentes que vinham do IES, esclarece e bem: «Nenhum sistema de concursos podia revelar especialistas, pois estes não existem.» No mesmo mês, já o director-geral do Ensino Superior mandava pedir uma relação do pessoal docente, suas categorias e vencimentos. Em 3 de Fevereiro, o director do ISCTE responde e a lista de docentes aqui fica, como homenagem: Adérito Sedas Nunes, Fernando Pessoa Jorge, José de Oliveira Ascensão, Mário Bigotte Chorão, Mário Murteira, Rui Machete, Alexandre Coelho do Amaral, Alexandrino de Melo e Silva, Francisco Pina Prata, António da Silva Leal, Alfredo de Sousa e Mário Pinto. Entre os assistentes e os professores eventuais, há vários nomes ou notórios publicamente ou também decisivos para a vida da instituição, como Eduardo Gomes Cardoso, Marinús Pires de Lima, Jorge Miranda, Vasco Pulido Valente ou Helena Sacadura Cabral. Quanto a vencimentos mensais, eles oscilavam entre os 5 800$00 e os 10 200$00, hoje 29 e 51 euros, respectivamente. Mas o mais importante, na sucessiva correspondência do director do ISCTE para o director-geral do Ensino Superior, foi a exposição da situação das «mais sérias dificuldades» que o Instituto vivia, já que estava sem orçamento próprio e com grande indefinição legal. A Junta de Acção Social, organismo do Ministério das Corporações, estava, desde 31 de Dezembro passado, desvinculada dos encargos para com o Instituto, agora dependente do Ministério da Educação, mas sem vínculo definido. Resultado: não havia um tostão disponível. Em Janeiro, o pessoal não recebeu salário, a renda do edifício do Campo Grande não era paga, com o senhorio a ter já motivo legal para pôr termo ao contrato. Verbas para o expediente, impressos, aquecimento, limpeza, etc., não havia. O director rogava, implorava…
Mário Bigotte Chorão | Rui Machete| Francisco Pina Prata| António da Silva Leal| Marinús Pires de Lima| Vasco Pulido Valente
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Para o ano em preparação, o de 73-74, eram urgentes obras e espaços para acolher alunos que não cabiam, de modo nenhum, nos existentes; alunos, estes que batiam à porta interrogando da sua vida. Os do IES que não possuíam o ciclo complementar dos liceus queriam equivalências. Os trabalhadores pretendiam horários pós-laborais. Muitos desejavam uma preparação prévia para a nova entrada, nomeadamente um propedêutico com Matemática, Estatística, Contabilidade e Análise Económica. O director via ímpeto e temia desgraça: «A insistir-se, neste momento do arranque, em medidas demasiadamente divergentes das estruturas estabelecidas, tentando demonstrar a quase completa impossibilidade de adaptação ao regimento estabelecido em paridade com as restantes escolas, seria correr perigosamente o risco de ver o grau académico conferido pelos cursos regressar a uma posição marginalizada.»38
Não se leia tudo isto como uma questão lateral ou episódica. Começava, sim, a esboçar-se uma matriz, uma maneira de ser, um estilo, que seria, iniludivelmente, a alma desta instituição. «O ISCTE», escreveu Paquete de Oliveira, «nasce num período em que o contexto social e político vai marcá-lo com um forte sentido dinâmico de contínuo alerta e luta para sobreviver aos condicionalismos externos muito pouco favoráveis a projectos inovadores.»�39 Para o iniciático ano de 72/73, estavam inscritos, nos cursos deste imberbe instituto, 296 alunos, sendo 219 em Economia, 66 em Organização e Gestão de Empresas e 11 em Ciências do Trabalho. No ano seguinte, os números já eram de 443 em Organização e Gestão de Empresas, 190 em Ciências do Trabalho e 309 em Economia.40 Com tudo a parecer uma encosta íngreme, escarpada e sem fim, a Mãe-Natureza, com uns capitães e um povo inteiro atrás, traria, nem mais nem menos, uma revolução… e não uma qualquer, mas a inauguradora, implausibly and unwittingly, do que Huntington41 consideraria ser a terceira vaga das democracias no mundo. E que mais estará para acontecer?!
38 In «Sinopse dos assuntos tratados nas reuniões do director do ISCTE com a comissão dos diplomados em 22/5/73 e 9/7/73», ISCTE, 1973. 39 Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universidade fora da academia», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 177. 40 Idem, p. 182. 41 «The third wave of democratization in the modern world began, implausibly and unwittingly, at twenty five minutes after midnight, Thursday, April 25, 1974, in Lisbon, Portugal, when a radio station played the song “Grândola Vila Morena”.» [Huntington, S. P. (1991), The Third Wave, Democratization in the Late Twentieth Century, Norman, University of Oklahoma Press, p. 3.]
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Correspondência de Adérito Sedas Nunes para José Veiga Simão (1972/1973)
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Documentação administrativa e máquinas de escrever do ISCTE
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O país teria o bom senso de se virar do avesso, mesmo que a «ingenuidade» de alguns tentasse tapar o Sol com uma peneira
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que
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Em suma, uma revolução Na verdade, uma revolução pode conter muitíssimas acepções, contudo, nunca deixa de ser uma ruptura, mais ou menos abismal. Em 1974, Portugal virou-se do avesso, num período, que não iria ser curto, em que agitação política, maximalismo, informalidade, vazios de poder conjugados com multiplicação dele, muitas vezes arbitrário – tudo isso a nossa revolução teria. Inevitavelmente. Mas que ninguém oculte o entusiasmo, a refundação dos sentimentos, a liberdade, a ousadia, a esperança. Na universidade, nos meses precedentes, já tudo fervilhava com toda a intensidade. O próprio director do ISCTE cumpria abnegadamente a obrigação, «nos termos das determinações superiores», de informar as instâncias respectivas de todos os mínimos sinais de «subversão». Com data de 24 de Abril de 1974, escrevia ele para o reitor da Universidade Nova de Lisboa: «Para fins convenientes, junto a V. Ex.ª uma nota subversiva distribuída pela “Comissão Ribeiro Santos” com vista a uma festa vermelha no próximo dia 1º de Maio.»
As suas cartas com tão «preocupantes» sinais iam-se, aliás, acumulando: hoje, o «panfleto clandestino “Em frente na luta pelo pão”», ontem, o «panfleto “À Reforma Veiga Simão os estudantes opõem a revolução”»… © Eduardo Gageiro
Em Janeiro passado, os reitores das universidades de Lisboa e os directores das respectivas faculdades e institutos, com uma genuína ingenuidade doutoral, querendo tapar o Sol com uma peneira, tinham-se reunido e submetido ao ministro da Educação «as seguintes conclusões que sintetizam o pensamento da generalidade
Manifestação popular (1974)
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dos presentes quanto às providências a adoptar para superar, ou pelo menos atenuar, a crise de ordem disciplinar que actualmente se verifica nas escolas das universidades de Lisboa, embora com mais incidência e gravidade numas do que noutras»: «… a curto prazo: … elaboração de um regulamento disciplinar… mais poderes às autoridades académicas… para aplicação imediata de determinadas sanções disciplinares… a médio prazo: … elaboração de um regulamento actualizado das actividades associativas dos estudantes… limitação de alunos em cada escola… a longo prazo: … reforma dos métodos pedagógicos… desdobramento das actuais escolas e universidades, de modo a diversificar … as massas escolares…»
No ISCTE, em especial, pelo meio da propalada «subversão» permanente, os cursos de Economia rebentavam com a escala da insubordinação, levando um lamentoso director a enviar, em Janeiro desse ano, uma carta aos pais e encarregados de educação (cf. página seguinte), um «apelo ao bom senso» bem elucidativo de que o futuro lhe passava, definitivamente, ao lado.
Panfleto de luta estudantil (1973)
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«Só motivos muito graves e urgentes podem obrigar a Direcção do Instituto a dirigir-se directamente aos pais e encarregados de educação dos alunos do 2.º ano do curso de bacharelato em Economia. Mas é seu dever fazê-lo neste momento, até porque muitos dos referidos alunos são menores e os seus pais ou encarregados de educação têm moral e legalmente direito a ser informados, quando algo de grave se passa relativamente aos estudantes por quem são responsáveis… Sem motivo sério que o justifique, os alunos do 2.º ano estão na iminência de ficar excluídos, dada a sua persistente recusa em prestar provas que lhes foram oportunamente comunicadas e apesar da extrema compreensão em que foram examinadas a atendidas todas as sugestões razoáveis que apresentaram acerca dessas provas. Se persistirem em faltar às provas, as cadeiras respectivas irão sendo encerradas – por falta de alunos em condições de se apresentarem a exame final – a partir da disciplina indicada em 1.º lugar… E, uma vez perdidas mais de duas cadeiras, será legalmente impossível realizar o 2.º semestre do presente ano lectivo, pelo que perderá o ano quem estiver em tais condições. Ora, tendo hoje faltado à prova da disciplina “Quadros Institucionais da Vida Económica», os referidos alunos perderam já uma cadeira, e perderão a segunda, se faltarem à prova marcada para Fevereiro. O texto de uma nota que foi nominativamente enviada a todos os alunos constitui um apelo ao bom senso e o Conselho Escolar espera ainda que os estudantes a ele saibam corresponder, apresentando-se às provas regulamentares. Em qualquer caso, porém, era indeclinável dever moral desta Direcção informar V. Ex.ª da situação existente e das graves consequências que dela poderão advir. A Bem da Nação. A Direcção do ISCTE» Carta enviada pela Direcção do ISCTE aos pais e encarregados de educação, Janeiro de 1974
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Com a sensação de ser autor do seu próprio destino, tanto no que se queria para a escola, como no que se queria para o país
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Igual a si próprio A verdade é que, chegado o tal dia 25 de Abril, o ISCTE no seu conjunto abraçou a revolução com sinceridade. Aquela casa tinha nascido para a democracia. Não podia sobreviver sem ela. Di-lo João Ferreira de Almeida: «No essencial, há uma enorme continuidade… o projecto do ISCTE já nasceu assim.»42 Este assim, quer dizer, como afirmou Raúl Iturra, possuído de «debate, criticidade e colegialidade»�… 43 Feito o golpe militar e destapada a autêntica revolução que o povo logo engrossou, o Conselho Escolar, em 29 de Abril, na sua primeira reunião após o evento, por todos vivido, delibera, com o estilo e a pena de Sedas Nunes: « • Exprimir publicamente o seu mais vivo regozijo pelo triunfo alcançado pelo Movimento das Forças Armadas, na certeza de que este, interpretando fielmente as mais legítimas aspirações do povo português, veio abrir decisivamente ao país os caminhos de democracia e da paz, condições prioritárias do verdadeiro progresso social e da integral dignificação da vida humana individual e colectiva; • Manifestar à Junta de Salvação Nacional o seu inteiro apoio e a sua completa adesão aos princípios que a orientam na histórica missão de estabelecer em Portugal as bases indispensáveis à formação de uma sociedade democrática, nomeada-
© Eduardo Gageiro
mente a garantia das liberdades de expressão e pensamento e de reunião e associação, às quais a universidade não pode deixar de atribuir particular relevância, como requisitos que são de uma vida universitária plenamente realizada; 42 In Carapinheiro, G., Pimentel, D., & Machado, F. L. (1997), «Entrevista com Eduardo Gomes Cardoso, João Ferreira de Almeida e Raul Iturra», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 195. 43 Idem, p. 212.
Populares no Largo do Carmo, em 25 de Abril de 1974
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• Registar com a maior satisfação que, entre as suas primeiras decisões de restituição de liberdades e direitos, a Junta de Salvação Nacional haja incluído a de abolir “as medidas impostas a alguns estabelecimentos de ensino superior, restritivas do pleno exercício das actividades escolares e da utilização de instalações de apoio social”.»
Em complemento, o Conselho Escolar estava pronto a «reafirmar o direito dos alunos do Instituto a dispor de uma Associação de Estudantes… promover a participação dos diferentes elementos do corpo docente e dos alunos na gestão do Instituto… reconhecer que se justifica um período de reflexão colectiva sobre a universidade, e em particular sobre o Instituto, no quadro de uma reflexão mais ampla sobre a sociedade portuguesa e as transformações por que está passando». Talvez, neste ponto, já transparecesse uma certa ingenuidade sobre a capacidade reflexiva de um período efectivamente revolucionário como aquele. Aquele Conselho foi extinto, cinco dias depois, pela assembleia plenária do ISCTE, a primeira da sua história, com professores, alunos e funcionários. Nela foi eleita uma Comissão Directiva, com 22 membros, presidida por Sedas Nunes, onde tinham presença Mário Murteira, Marinús Pires de Lima, Manuel Brandão Alves, João Ferreira de Almeida, Maria Filomena Mónica, João Augusto Domingues, Edgar Rocha e João Costa Pinto, mais nove alunos e dois funcionários, entre eles Carmelita Cunha, uma figura decisiva no funcionamento administrativo da instituição, durante longos anos. A Junta de Salvação Nacional, entretanto, com o Decreto-Lei n.º 176/74, de 29 de Abril, já tinha também exonerado os reitores e vice-reitores das universidades, os directores das faculdades, escolas ou institutos universitários. Em 27 de Maio, seria a vez do Decreto n.º 221/74 que aceita as comissões democraticamente eleitas nas escolas e, no dia seguinte, o Decreto n.º 225/74, diria respeito especificamente ao ISCTE,
João Ferreira de Almeida | Maria Filomena Mónica | João Costa Pinto | Carmelita Cunha |Artur Rocha | José Boaventura Belinha
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«Pelo menos na origem, a grande riqueza humana do ISCTE assenta no facto de ter muitas etnias… Aquilo que me agradava mais, até determinada altura, era ter sido feito de baixo para cima e não de cima para baixo. O ISCTE sempre foi um filho ilegítimo, o qual se foi fazendo através de uma dinâmica endógena e nunca teve uma mão forte lá em cima a controlar tudo… Havia um espaço de liberdade de manobra que era saudável até um certo ponto. Digo até um certo ponto, porque houve períodos, logo após o 25 de Abril, em que a anarquia era excessiva, não havia unidade e não existia a consciência de uma identidade bem definida.» Mário Murteira (2007), Entrevista, in Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, pp. 117 e 120
Deliberação do Conselho Escolar do ISCTE de apoio ao 25 de Abril (1974) | Mário Murteira
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extinguindo os orgãos directivos anteriores e dando à escola o poder democrático de eleger novos órgãos e «poderes para introduzir, nos seus planos de estudos, métodos e programas, as alterações necessárias para a sua mais perfeita participação na transformação da sociedade portuguesa, bem como para a realização de inovações pedagógicas e de investigação científica que possam contribuir para uma ampla alteração das finalidades e métodos de ensino, e servir de experiência a instituições congéneres». Ou seja, uma espécie de programa até aos dias de sempre. Uma das primeiras consequências desta autoridade democrática foi a criação da licenciatura em Sociologia que Sedas Nunes tanto ambicionou e que foi, formalmente, a primeira a ser criada em Portugal, ainda que tenha continuado quatro anos na «clandestinidade», só vindo a ser oficializada pelo Decreto Regulamentar n.º 10/78, de 5 de Abril. Os níveis dos bacharelatos eram para esquecer. Organização e Gestão de Empresas, assim como Economia, seriam votadas como licenciaturas. Na rua, estava a palavra e os alunos do ISCTE davam largas às suas. «A Escola faz parte do aparelho de Estado da classe dominante», «gritava» a proposta aprovada na Assembleia de Curso do 1.º Ano, em 26 de Junho de 74, «e funciona de forma a satisfazer e adaptar-se às necessidades determinadas pela dominação da burguesia, contribuindo assim para a preparação do sistema capitalista. A fim de possibilitar uma consciencialização e tomadas de posição progressistas estudantis (entre elas o próprio desmascarar das liberdades burguesas agora estabelecidas), há que ampliar e aprofundar o controlo democrático da escola por parte dos estudantes.» Passando, pois, a decidir o controlo sobre o processo de avaliação, «como forma de eliminação do espírito competitivo e de posições individualistas, que só servem interesses do sistema capitalista», nova avaliação consistente na apresentação e discussão de trabalhos perante grupos de alunos, sendo classificados como aptos ou não-aptos, bastando para ser apto que os tivessem apresentado e discutido. O principal é que, por debaixo das fraseologias, como o diz, com a maior sinceridade, Maria João Rodrigues, aluna do ISCTE de então e uma intensa activista estudantil da época, «nós possuíamos a sensação de que, a partir do 25 de Abril, tínhamos de ser autores do nosso próprio destino, e este tinha a ver com o que queríamos para a nossa escola, mas também com aquilo que queríamos para o nosso país; essas discussões passaram a estar no centro de tudo, no funcionamento do ISCTE».44
44 Maria João Rodrigues, depoimento para este livro, Maio de 2012.
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O poder fragmentou-se, a contestação proliferava, muitos conteúdos de aulas foram profundamente transformados, os cursos livres promovidos pelos alunos germinavam, cadeiras e programas brotavam para dar cobro à ânsia revolucionária: Controlo Operário sobre a Produção e Transição para o Socialismo e temáticas do género… Raúl Iturra lembra que «quando eu, o António Firmino da Costa e a Dores Guerreiro fizemos naquele tempo uma inventariação [de livros disponíveis], encontrámos um Max Weber, dois Durkheim e quarenta Marx».45 Estudar era uma militância! Um documento, de 1974, de uma reunião de um grupo de estudantes que visava criar uns Núcleos Estudantis de Intervenção Política, tinha os seguintes tópicos de discussão: « • o trabalho dos três grupos formados – «Participação na Gestão da Escola», «Invadir a Cidade/Luta Urbana», «Luta Anti-Colonial». • o jornal A Revolta. • o apoio à luta dos lanifícios. • a participação em manifestações de rua.»
Pedro Dionísio, aluno dessa altura, conta uma história máxima: «Em 75, criou-se aqui uma lógica de vazio de poder e não havia professores para algumas cadeiras. Então, um grupo de alunos colocou um anúncio no Diário de Notícias para recrutar professores, que os próprios alunos entrevistaram, seleccionaram e decidiram da sua contratação… E alguns ainda cá estão.»46 O primeiro a não resistir a tais coisas foi o próprio Sedas Nunes. Ele, um reformista consensual, artesão de processos minuciosos e demorados, habituado à reflexão serena e ponderada, não aguentou tal ebulição. No decurso de 1974, em Agosto, demitiu-se de presidente da Comissão Directiva, e iria dedicar-se, gradualmente47, ao seu GIS, que se separaria do ISCTE e se transformaria, em 1982, no Instituto de Ciências Sociais (ICS), enquadrado na Universidade de Lisboa. Outros, como Alfredo de Sousa, foram, digamos assim, levados a não aguentar. Alfredo de Sousa era, sem dúvida, um homem brilhante, de elevado nível cívico e intelectual, com uma formação e obra ímpar (a sua tese de doutoramento, em Paris, Economia e Sociedade em África, foi editada, em 1965, pela Livraria Morais, com prefácio de Sedas Nunes), mas tinha, os próprios amigos o reconhecem, um temperamento 45 In Carapinheiro, G., Pimentel, D., & Machado, F. L. (1997), «Entrevista com Eduardo Gomes Cardoso, João Ferreira de Almeida e Raul Iturra», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 199. 46 Pedro Dionísio, depoimento para este livro, Maio de 2012. 47 Será presidente do Conselho Científico do ISCTE, de 1978 a 1980.
Listas eleitorais de estudantes do ISCTE (1976)
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intempestivo, por vezes intratável48. Mário Murteira recorda: «O Alfredo de Sousa tinha feito o doutoramento em Paris e vinha cheio de arrogância, convencido de que era progressista, mas ele era muito difícil do ponto de vista pessoal, tinha um ego hiperdesenvolvido e isso era o ideal para os alunos, naquele tempo, o detestarem e tratarem mal. Ele sofreu com isso, mas nunca deu parte de fraco. A certa altura, deixou de ser professor do ISCTE.»49
Como foi, ninguém sabe ao certo mas, vogal da Comissão Instaladora da Universidade Nova de Lisboa, desde 1973, abandonou o ISCTE, em 1976, e passaria a dedicar-se àquela universidade onde acabaria por fazer uma obra notável, sobretudo na sua Faculdade de Economia. Ao ISCTE, passou a consagrar um profundo ódio de estimação que teria, como veremos, consequências para o rumo institucional desta casa. Mas voltemos ao período do Portugal revolucionário, quando ainda nem se sabia se a estabilização da democracia seria o destino. Haveria que, diga-se assim, saber navegar por cima das ondas, com bússola imaginária e, por mais desvios e percalços que houvesse, rumando à costa. Um certo estilo ajudava. Abrir o coração àquela trilogia de que falava Iturra (debate, criticidade e colegialidade) era fundamental. Gomes Cardoso desenvolveria para «abertura, autonomia, responsabilidade, respeito pela dignidade, solidariedade e compatibilização com as situações evolutivas do país»50. E, na sua habitual jovialidade, assim como lembra que o seu colega Ferreira de Almeida vinha para o ISCTE de mota e capacete51, também lê todo aquele ambiente revolucionário com maioritária bonomia: «Lembro, sobretudo, a notável alegria, entusiasmo e efervescência, por vezes um tanto febril, desencadeados pelo 25 de Abril.»52
48 «Alfredo de Sousa não era conhecido por ser ágil nas relações humanas, mas os que melhor o conheceram concordam que as mesmas características que o tornavam por vezes difícil eram igualmente as que faziam dele um grande homem.» (Texto anónimo em «Grandes economistas», com a indicação de que foi elaborado na Universidade Nova de Lisboa, disponível em http://www.eumed.net/cursecon/economistas/sousa.htm). 49 Mário Murteira (2007), Entrevista, in Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, p. 120. 50 Eduardo Gomes Cardoso, depoimento para este livro, Maio de 2012. 51 Cf. Carapinheiro, G., Pimentel, D., & Machado, F. L. (1997), «Entrevista com Eduardo Gomes Cardoso, João Ferreira de Almeida e Raúl Iturra», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 199. Ainda neste campo, José Mendes Bota, aluno de 73/74, lembra as aulas de Vasco Pulido Valente, de História Económica, ainda antes do 25 de Abril, de sapatilhas, calças de ganga e pés pousados em cima da secretária: «Aulas óptimas!» (depoimento para este livro, Abril de 2012). 52 Idem.
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Sabendo aguentar, com alguma ironia, tal febrili-
«Quando cheguei ao ISCTE, como aluno, tive logo um choque
dade revolucionária, tudo se equilibraria. Lembram-se
muito interessante. Fomos imediatamente atirados para algo a
daquela cadeira «Controlo Operário sobre a Produção
que não estávamos habituados no liceu e que ainda é, mesmo,
e Transição para o Socialismo»? Ferro Rodrigues, na
pouco comum em cursos superiores: para a noção de que tínha-
altura jovem professor de História Económica, lembra
mos de fazer investigação própria. Os trabalhos que nos pediam
que no ano seguinte já se chamava «Mecanismos
exigiam muitas leituras, em línguas estrangeiras, em que tínha-
Económicos do Capitalismo Contemporâneo», e depois
mos de intervir e escrever abundantemente. Não apenas respon-
passou a ser, tout court, «Economia II». E era assim que
der a testes e exames, mas tínhamos de fazer trabalho próprio,
a coisa se passava, em geral.
individual e colaborativo, em grupo. Esta constitui, para mim,
«Considero», reflecte, enfim, Maria João Rodri-
a grande marca do ISCTE, a ideia de que se estava a formar
gues, «que ainda que isso possa ter reduzido a qualidade
pessoas de um modo diferente do que era, e ainda é, comum;
do ensino e da avaliação, não dou aquele movimento
não se tratava de decorar coisas para responder a exames, mas
como perdido. Acho que foi inteiramente saudável,
pedia-se muito intensamente o envolvimento das pessoas. Isso
era o que fazia sentido fazer. O desabrochar do país, a
foi-me muito positivo porque rapidamente descobri o que queria
descarga emotiva, política, que se viveu na altura, era
fazer para o resto da vida.»
tal que as pessoas tinham de trazer ao de cima tudo o
Pedro Magalhães, depoimento para este livro, Junho de 2012
que possuíam nas suas cabeças sobre o que valia a pena fazer. Era inevitável, acho completamente saudável e o ISCTE inseriu-se nesse movimento mais geral.» A verdade é que o que ficou, como cultura intrínseca da instituição, foram coisas muitíssimo saudáveis. Teresa Zambujo, das primeiras alunas de Organização e Gestão de Empresas, resume: «Dos professores, uma disponibilidade imensa para ensinar; dos alunos, uma imensa disponibilidade para estudar e aprender.»53 A genética inovadora, o espírito aberto, democrático e próximo, a intenção pragmática e interventiva, segundo um processo que Ferreira de Almeida chamou de «planeamento implícito», não centralizado, não estratégico, não voluntário, mas como «entendimento colectivo», de «resultante colectiva»54�, foram estes alguns dos traços que marcariam prolongadamente o espírito do ISCTE e que lhe permitiriam ultrapassar milhentos obstáculos que a vida tinha para ele.
53 Teresa Zambujo, depoimento para este livro, Maio de 2012. 54 In Carapinheiro, G., Pimentel, D., & Machado, F. L. (1997), «Entrevista com Eduardo Gomes Cardoso, João Ferreira de Almeida e Raúl Iturra», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 202.
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Em condições difíceis de explicar e, presentemente, inconcebíveis, uma enorme vontade de aprender e de trabalhar bem
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A busca de um espaço Já vimos como a primeira localização do ISCTE, herdada do IES, naquele palacete do Campo Grande, rebentava pelas costuras, já em 1972. As soluções, no espírito do tempo, seriam radicais. No ano lectivo de 74-75, algumas aulas decorreram, imagine-se, em plena Feira Popular, paredes meias com o Teatro Vasco Santana, onde a maravilhosa Luzia Maria Martins transformava Camões, Bocage, Brandão ou Quental em dramas estimulantes. Mas aos alunos também tocava a companhia das farturas e sardinhas, do Poço da Morte ou da Casa Maldita… Em busca de espaço, chegou a falar-se na ocupação do Seminário dos Olivais ou a cobiçar o Palácio Pimenta, onde hoje está o Museu da Cidade. Como até o absurdo era possível, em 13 de Fevereiro de 1978, chegou mesmo uma ordem de despejo, assinada pelo secretário de Estado do Ensino Superior, Joaquim Cruz e Silva: «1º Que o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa liberte totalmente as instalações que está ocupando no Campo Grande, n.os 185-189, até 28 do corrente. 2º Que a partir de 1 de Março inclusive as despesas resultantes da ocupação daquelas instalações pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa passem a ser suportadas por esta Faculdade.»
Ou seja, despejo do ISCTE, seguido de ocupação pela Faculdade de Economia da UNL, consequência, evidentemente, do «conflito» com Alfredo de Sousa.
Avenida 28 de Maio, futura Avenida das Forças Armadas | Feira Popular de Lisboa | Teatro Vasco Santana
64 levar o saber 64 ||atĂŠ atĂŠonde ondenos nos levar o saber
65 | Nascer 1972-1981
Quis, no entanto, a boa sorte que, entretanto, no
«Hoje, quando ouço pessoas, sejam eles estudantes, professores
cimo da Avenida das Forças Armadas, ainda a cheirar a
ou outras partes, a queixarem-se das situações vividas, acho que
campo na cidade, pasto de ovelhas, poiso de borboletas
têm alguma razão, mas esquecem-se muito de onde viemos. Eu
e terreiro ocupado, sobejas vezes, pelas manifestações
entrei para o ISCTE, como aluno de Gestão, em 1975, para o ano
académicas, de 1962 em diante, houvesse um espaço
do serviço cívico. Comecei a ter aulas na Feira Popular, em condi-
disponível para um projecto.
ções que são difíceis de explicar e, presentemente, inconcebí-
Em 1976, começaria a sua construção, tendo por
veis. Entrava-se, normalmente, pela Av. 5 de Outubro, virava-se à
arquitecto Raúl Hestnes Ferreira, nos seus 45 anos, um
esquerda, e, no meio das farturas, havia um pavilhão onde tínha-
homem que estendeu os seus estudos de Lisboa (donde
mos aulas. Assim sendo, o nível de condições que as escolas hoje
foi expulso pela ditadura) ao Porto, Helsínquia, Yale e
têm, o nível de dedicação dos professores, os meios disponíveis,
Pennsylvania.
não se comparam em nada às que tínhamos na altura. Mas dito
O seu projecto para o ISCTE seria um agregado de
isto, não quero dizer que as pessoas que lá andaram não tives-
componentes espaciais e estruturais, de betão armado,
sem tido um aproveitamento adequado. Para isso há que ter
com painéis exteriores do mesmo material, que se iria
uma enorme vontade de aprender, trabalhar bem, trabalhar em
adaptando, sucessivamente, a inevitáveis alargamen-
grupo, assistir às aulas, estar atento às mesmas. Em simultâneo,
tos e acrescentos.
havia uma coisa muito interessante, que era o enorme activismo
«Emocionante edifício», considerará Pedro Viana
político. Foi um período muito rico de vivência. Sempre fui candi-
Botelho, «de geometria limpa, forte e complexa, como
dato à comissão de curso e à Assembleia de Escola. Isso foi bom.»
uma enorme cunha encalhada no terreno».55
Nuno Amado, depoimento para este livro, Junho de 2012
O seu começo foi uma Ala Poente, já a pensar no fechamento quadrangular, com praça central, ala aquela que teve de ser ocupada logo em 78, por via do referido «despejo». Não se pense, no entanto, que mesmo com a construção em curso, o edifício não tenha deixado de ser «cobiçado» por outras forças. Mas ali ficou o ISCTE! Surgiria, em breve, algo endémico da casa, aquilo que Paquete de Oliveira chama de «milagre da multiplicação»56�, ou seja, concebido para 900 alunos, aquele edifício já albergava, no final da década de 80, mais de 2000, a demonstrar o aperto em que professores e funcionários operavam, mas, também, o crescente afluxo de alunos e o que isso traduzia de concordância e adesão.
55 Botelho, P. V. (2006), «Os três lados do pentágono», in Ferreira, R. H., Arquitectura e Universidade, ISCTE, Lisboa, ISCTE, p. 74. 56 Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universiadde fora da academia», Sociologia - Problemas e Práticas, 13, p. 184.
Edifício inicial do ISCTE, no Campo Grande | Recibo de renda do ISCTE (1973)
66 | até onde nos levar o saber
Avenida 28 de Maio e terrenos onde se viria a construir o edifício do ISCTE | Desenhos do Arquiteto Hestnes Ferreira | Projeto do Edifício do ISCTE (1976)
67 | Nascer 1972-1981
68 | atĂŠ onde nos levar o saber
69 | até Nascer onde 1972-1981 nos levar o saber
«O Raúl [Hestnes Ferreira] não procura um estilo, o seu trabalho não é o consumo comercial de abordagens estilísticas, a repetição de certos truques, elementos como uma marca registada. Tem sido uma procura contínua do progresso na essência da arquitectura, e uma busca da autenticidade. As diferenças entre cada um dos seus novos trabalhos foram o resultado de um novo contexto, outro programa e a sua evolução. Tive a oportunidade de visitar os edifícios do ISCTE, há alguns anos. Antes disso, conhecia o trabalho do Raúl a partir de publicações, desenhos ou fotografias. Nessa altura, todos os componentes do complexo ISCTE já tinham sido construídos e estavam a ser utilizados. À primeira vista, fiquei impressionado com a complexidade city-like destes edifícios, com a continuidade e com a autonomia dos seus componentes. E quando os visitámos um por um, descobri as suas diversidades e a relação subtil entre eles.» Ahmet Gülgönen (2006), «O trabalho de Raúl Hestnes Ferreira e o Complexo do ISCTE», in Ferreira, R. H., Arquitectura e Universidade, ISCTE, Lisboa, pp. 36-37
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e nãoinicial ousa pedir ao pai que Edifício do ISCTE (1978)
70 levar o saber 70 ||até atéonde ondenos nos levar o saber
Fazer universidade fora da academia, com raízes na nossa sociedade, pronto a percorrer o seu corpo, na perspectiva do desenvolvimento social, cultural e económico
Legenda Sete anos os 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que
71 | Nascer 1972-1981
Enfrentar o futuro Tal como o Portugal revolucionário encontrou o seu caminho para a estabilização de uma democracia europeia, assim o nosso Instituto, naquele seu tónico intrínseco de aproveitar as «vantagens dos inconvenientes»57�, foi rumando até à sua segunda década. Concebido, desde o início, para integrar a Universidade Nova de Lisboa, em 1977, pelas razões conflituais já aduzidas, ou seja, sempre pouco claras e convincentes, o Decreto-Lei n.º 463-A determinou a sua exclusão daquela Universidade, ficando, «até ulterior resolução, na dependência directa da Direcção-Geral do Ensino Superior». Começaria, assim, se é que já não tinha começado muito antes, o longo trajecto do ISCTE naquilo que Paquete de Oliveira designaria como «fazer universidade fora da academia».58 É difícil imaginar, hoje, o que este «golpe» poderia ter implicado para a vida da instituição ou, pior, para a sua extinção. O que é certo é que ela encontrou, por um processo muitas vezes «doloroso»59, que adiante melhor analisaremos, a sua própria energia e o seu caminho. Por então, uma das «vítimas» imediatas foi a licenciatura em Economia, área já poderosamente ocupada pelo ISE e, mais recentemente, pela Faculdade de Economia da Universidade Nova. Por decreto governamental, a licenciatura do ISCTE acabou, em 1977, e os seus alunos remanescentes transitaram para o ISE. Restavam Sociologia e Organização e Gestão de Empresas, com um peso muito distinto nos totais discentes 57 Eduardo Gomes Cardoso, depoimento para este livro, Maio de 2012. 58 Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universidade fora da academia», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 177. 59 Idem, p.180.
Pátio do edifício do ISCTE
72 | até onde nos levar o saber
do Instituto. No ano de 77/78, Organização
«O nome do ISCTE é uma designação inteligente que
e Gestão de Empresas possuía 1220 alunos,
o viabiliza e caracteriza de uma maneira pragmática,
enquanto Sociologia se quedava pelos 349.
inovadora e portadora de futuro. Primeiro, tem uma
Os
respectivos
corpos
docentes
grandeza, dignidade e até ortodoxia que “dissolvem”
vinham de caminhos muito diferentes, no
com pragmatismo a oposição da política conserva-
que estas coisas humanas podem ter de
dora e do purismo igualmente conservador quanto à
diferente. Os de Sociologia, provenientes de
rigidez da divisão da ciência em áreas, e finalmente
formações diversas, abraçaram uma área
“dissolve” também os conflitos algo bloqueadores e
que «não prometia, então, nem segurança
um tanto ridículos provocados por protagonismos tendencialmente preda-
nem carreira», cientes da sua boa dose de
dores. Depois, tem a inovação de indicar os pólos estruturantes, de uma
«militância e alguma distância aristocrá-
forma apelativa, centrada no trabalho e na empresa, problemáticas que
tica ao profissionalismo»60. Muitos rumaram
concretamente existem na vida de cada pessoa e a afectam. Finalmente,
ao estrangeiro e a viragem de Abril trouxe-
portador de futuro, porque optar, como centralidade estruturante, pelo
-os de volta. «Com eles vieram também
trabalho e a empresa indicia nitidamente uma modernidade de conceitos
alguns “descobridores” da revolução lusi-
e problemas induzindo pensamentos e reflexões, desencadeando em cada
tana… estabilizando a sua vida por adop-
um de nós o processo de compreensão e construção da modernidade, isto
ção à nacionalidade portuguesa.»
Cosmo-
é, portador de futuro. Em síntese, trabalho e empresa são uma espécie de
politismo, eis o que daqui resultava, aquela
ADN do ISCTE (sem esquecer que, por estável que o ADN seja, exige também
característica que, quando não é mera-
mudanças para adaptação, diferenciação e sobrevivência).»
mente superficial e decorativa, abre os cora-
Eduardo Gomes Cardoso (2007), Entrevista, in Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F.
ções e as mentes das gentes.
(org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, p. 51
61�
Os docentes de Organização e Gestão de Empresas, vindos, sobretudo, da Engenharia e da Economia, eram pessoas profundamente inseridas nas empresas, muito conhecedoras de que a Gestão não é encravável em esquemas rígidos ou em teoricismos balofos. O espírito do IES tinha-lhes dado um conceito versátil das situações e dos tempos, uma atitude pragmática e determinada ao encontro de soluções. Ensinar, para eles, era um diálogo com as novas gerações e uma reflexão permanente sobre o incessante desdobramento daquela sociedade em busca de si própria. A junção destas duas «tribos» não foi uma tarefa fácil, chegando mesmo a aventarem-se hipóteses de separação, com pessoas da área de Sociologia a intentarem a 60 João Ferreira de Almeida, in Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universidade fora da academia», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 184. 61 Oliveira, J. M. P. (1994), «ISCTE: 20 anos a fazer universidade fora da academia», Sociologia – Problemas e Práticas, 13, p. 185.
73 | Nascer 1972-1981
sua articulação com a Universidade de Lisboa e os de Organização e Gestão de Empresas a confiarem numa autonomia plena. Contudo, se assim tivesse sido, muito se perderia! Felizmente, com o empenho de muitos, incluindo um dos pais da «criança», Veiga Simão, isso não se deu. Em 1982, a par de uma política de reforço geral do seu quadro docente, o ISCTE veria mesmo a ampliação das suas licenciaturas, com o nascimento da de Antropologia Social, acentuando este perfil social da escola. O essencial é que, pelo meio de tempestades, o ISCTE soube manter uma identidade de convicção e de busca da qualidade que foi sempre reconhecida pelo mais importante: os seus alunos, os jovens portugueses que queriam um país e o seu lugar nele. Dos 879 que eles eram, em 74/75, chegariam aos 2268, no ano de 82/83, inclusive com um reforço mais equilibrado das duas licenciaturas de base: neste ano, Organização e Gestão de Empresas detinha 1602 alunos, e Sociologia 666. Sublinhe-se isto: 666 alunos para uma área que, até 1978, tinha permanecido, legalmente, em Portugal, como uma «ciência oculta». Quando uma instituição acolhe, livre e abundantemente, aqueles a quem ela serve, isso quer dizer uma coisa que era, sem qualquer dúvida, um profundo traço de personalidade desta casa: uma consonância estreita com a realidade portuguesa, um abraço aos seus problemas e à busca de soluções para eles, sem perda, no entanto, de dimensão internacional. Com docência, observação, aprendizagem, investigação, serviços às comunidades, envolvimento cívico, o ISCTE criou o quadro típico de um universitário português, enraizado na sua sociedade, pronto a percorrer o seu corpo, na perspectiva do desenvolvimento social, cultural e económico, sem peias ideologizantes ou modelos mecanicistas. Pelos montes e vales que haveis lido e apesar da indefinição do seu enquadramento institucional, o ISCTE chegou ao fim da sua primeira década como uma realidade insofismável: uma identidade bem marcada, um corpo docente reforçado e convicto, uma ampla e crescente adesão de alunos, instalações próprias e minimamente adequadas, a sabedoria de ter vencido situações complexas e difíceis, o grande entusiasmo em construir outros dias. Num país que, desde 1980, se preparava para abraçar o espaço europeu, abrindo para um continente que era o seu, mas que lhe tinha sido negado pela mediocridade da ditadura; num país assim, aquele ISCTE era uma personagem que nunca renunciaria a deixar de marcar uma posição crescente e relevante.
Eduardo Gomes Cardoso | Relação dos alunos estrangeiros (1979/80)
74 | até onde nos levar o saber
Documentação sobre o equipamento do edifício do ISCTE (1978)
75 | Nascer 1972-1981
«Falando do clima entre alunos e professores, acho que essa é uma marca do ISCTE… Tenho algumas razões para dizer isso, porque, no contacto com estudantes noutras experiências universitárias e até no quadro dos Erasmus, os alunos revelam a satisfação e a surpresa por ser sempre possível falar com os professores. A regra foi sempre essa e ainda hoje se mantém, o que eu acho bem, porque é um traço distintivo bastante positivo do ISCTE… Recordo que, quando o edifício já estava fechado, tivemos um simulacro de festa brava no pátio. No dia do ISCTE, a 15 de Dezembro, fez-se uma espécie de garraiada no pátio central. O Luís Capucha, que era o especialista nessas coisas, trouxe um dirigente da Escola José Falcão, o qual apresentou umas vaquinhas de dimensão reduzida para não haver feridos. Mais uma vez existiu grande mobilização, com estudantes e professores a fingir que toureavam. Outro exemplo. António Firmino da Costa e a Maria das Dores Guerreiro fizeram um trabalho conjunto sobre o fado em Alfama, um estudo entre a Antropologia e a Sociologia… o trabalho inicial implicava muita observação e participação, ou seja, significava que tinham de ir muito a Alfama. Mas não iam só os dois, iam estudantes, professores, amigos. Íamos às sessões do fado vadio, do fado amador, o que significa também que, mesmo nas actividades científicas, havia uma participação dos grupos estudantis, que, entre o lúdico e o científico, gostavam deste tipo de participação, quando ela era possível, e não deixavam de a fazer.» João Ferreira de Almeida (2007), Entrevista, in Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, pp. 32-33
76 | até onde nos levar o saber
1949 • É constituída a OTAN. • Criação da República Popular da China.
Cronologia 1972-1981 Portugal e o Mundo ISCTE
1953 • James D. Watson e Francis Crick anunciam a descoberta da estrutura da molécula de DNA. 1954 • Batalha de Dien Bien Phu no Vietnam, com derrota francesa. • Criação da UEFA.
1949 • Criação do Gabinete de Estudos Corporativos.
1955 • A União Soviética e mais sete países assinam o tratado de defesa mútua conhecido como Pacto de Varsóvia.
1959 • Inaugurado o Metro de Lisboa.
• Começo da chamada Guerra do Vietname, entre o Norte e o Sul.
• Charles De Gaulle é o primeiro presidente da V República francesa.
1956 • Reynold B. Johnson, da IBM, inventa o disco duro.
1960 • Inauguração de Brasília, a nova capital brasileira.
• Marrocos e Tunísia, colónias francesas, tornam•se países independentes.
• John F. Kennedy é eleito presidente dos EUA.
1957 • Primeira transmissão em directo e início das emissões regulares da RTP. • Tratado de Roma, criador da CEE.
1957 • Adérito Sedas Nunes na direcção do Centro de Estudos Sociais e Corporativos.
1961 • Assalto ao paquete Santa Maria. • Início da luta armada pela independência de Angola e começo da Guerra Colonial Portuguesa.
1962 • Criação do Gabinete de Investigações Sociais. • Criação do Instituto de Estudos Sociais.
1962 • Primeiro disco dos Beatles. • Crise dos mísseis de Cuba. Embargo dos EUA a Cuba. 1963 • Início dos confrontos anti•colonialistas do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. 1964 • Início pela FRELIMO da luta armada pela independência moçambicana. • John George Kemeny e Tom Kurtz inventam a linguagem de computador Basic.
1963 • Publicação do 1º número da revista Análise Social.
77 | Nascer 1972-1981
1965 • Visita do Papa Paulo VI a Portugal. • Agravamento da Guerra do Vietname, com o envolvimento americano. • São encontrados os corpos de Humberto Delgado e da sua secretária Arajaryr Moreira de Campos, em Villanueva del Fresno, Espanha. 1966 • Inauguração da ponte sobre o Tejo, com o nome de Ponte Salazar. • Início da Grande Revolução Cultural na China. 1967 • O médico Christian Barnard realiza o primeiro transplante de coração.
1965 • Nascem no IES duas opções de formação: um curso de Administração Social de Empresas e um outro de Política Social.
1968 • Após um acidente que incapacitou Salazar, Marcelo Caetano é o primeiro-ministro de Portugal. • Abertura das assinaturas do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. 1969 • Os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin, da Apollo 11, desembarcam na Lua. • É mandada a primeira mensagem pelo sistema Arpanet, primórdio da Internet. 1970 • Entra ao serviço o primeiro avião Boeing 747.
1970 • Marcelo Caetano convida José Veiga Simão para ministro da Educação.
1971 • Inauguração da Doca Seca da Lisnave, a maior do mundo. • Os engenheiros Federico Faggin, Ted Hoff e Stan Mazor introduzem o microprocessador Intel.
1971 • José Veiga Simão apresenta o Projecto do Sistema Escolar e as Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior, conhecidos como «Reforma Veiga Simão».
1972 • Atari lança a primeira geração de video games. • Escândalo de Watergate levará à demissão do presidente americano Richard Nixon.
1972 • O Decreto-Lei n.º 522/72, de 15 de Dezembro, cria o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). • Publicação dos planos de estudos dos bacharelatos e licenciaturas em Ciências do Trabalho e em Organização e Gestão de Empresas.
1973 • Guerra do Yom Kippur e crise petrolífera. Envolvimento de Portugal devido à utilização norteamericana da base aérea das Lajes para abastecer Israel. • Reino Unido, Irlanda e Dinamarca entram na CEE.
1973 • Henrique Martins de Carvalho é o director do ISCTE. • Publicação do Decreto-Lei n.º 402/73, que redefinia o quadro institucional da expansão e diversificação do ensino superior, pelo qual se criaram as universidades do Minho, de Aveiro, o Instituto Universitário de Évora e a Universidade Nova de Lisboa, na qual se integrou o ISCTE, assim como o GIS.
78 | até onde nos levar o saber 1976 • Aprovada nova Constituição da República Portuguesa. António Ramalho Eanes eleito Presidente.
1974 • Em 25 de Abril, revolução depõe a ditadura. Junta de Salvação Nacional assume chefia do Estado e general António de Spínola torna-se no 14.º Presidente da República.
1975 Independência das ex-colónias portuguesas. • Fim da Guerra do Vietname. • Morre o General Franco e Juan Carlos é rei.
1974 • É exonerado o director e extinto o Conselho Escolar do ISCTE, sendo eleita, numa assembleia plenária, uma Comissão Directiva, com 22 membros.
1975 • Constituição do Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa (CEHCP).
• Por escassez de instalações no Campo Grande, n.º 185, decorrem aulas do ISCTE num edifício da Feira Popular, contíguo ao Teatro Vasco Santana.
• Intervenção do FMI em Portugal.
• Primeiras eleições legislativas para a Assembleia da República, gerando o primeiro Governo Constitucional, presidido por Mário Soares.
• Início do código de barras e invenção dos post-it.
• É estabelecida, no ISCTE, a licenciatura em Sociologia, ainda que sem reconhecimento oficial, a par da de Organização e Gestão de Empresas e da de Economia.
1977 • Pedido formal de adesão de Portugal às Comunidades Europeias.
• Boeing 727, da TAP Portugal, falha aterragem no aeroporto da Madeira, provocando 131 vítimas mortais.
• Reunião inicial da Comissão Paritária Portugal CEE, visando a entrada como membro. • Timor Leste é declarado província da Indonésia. • Angola adere às Nações Unidas. • Steve Jobs e Steve
1976 • Início da construção do Edifício do ISCTE, na Avenida das Forças Armadas.
Wozniak criam a Apple Computer. • As cápsulas lançadas das sondas Viking-1 e 2 aterram com sucesso na superfície de Marte.
• Espanha tem primeiras eleições democráticas após 41 anos sob o regime de Franco. • Falecimento de Elvis Presley. • É apresentado o primeiro computador pessoal, o Commodore PET.
1977 • José Joaquim Laginha eleito presidente do Conselho Diretivo. • Francisco Pina Prata eleito presidente do Conselho Científico. • Mário Murteira eleito presidente do Conselho Pedagógico. • Início da extinção da licenciatura em Economia.
79 | Nascer 1972-1981
1978 • Três governos sucessivos em Portugal, com Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa e Carlos Mota Pinto como primeiros•ministros. • Karol Wojtyla, novo Papa, com o nome de João Paulo II. • Primeiro satélite do sistema GPS. • Primeiro nascimento de uma criança gerada por fertilização in vitro. • Aldo Moro, antigo primeiro-ministro de Itália, é encontrado morto depois de ter sido raptado pelas Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse).
1978 • O Decreto Regulamentar n.º 10/78 institucionaliza a licenciatura em Sociologia do ISCTE. • Conclusão da construção do Edifício do ISCTE e abandono das instalações do Campo Grande. • José Joaquim Laginha eleito presidente do Conselho Diretivo. • Adérito Sedas Nunes eleito presidente do Conselho Científico
1979 • V Governo Constitucional Portugal, presidido por Maria de Lourdes Pintassilgo.
1981 • Francisco Pinto Balsemão preside ao Governo português.
• Margaret Thatcher, nova primeira•ministra do Reino Unido. • Saddam Hussein, presidente do Iraque. • República Islâmica no Irão, liderada pelo Ayatollah Khomeini. • União Soviética invade o Afeganistão. • Lançamento, a partir da Guiana Francesa, do Ariane 1, o primeiro foguetão espacial europeu.
1980 • Francisco Sá Carneiro, primeiro-ministro português, morre em queda de avião. • Ronald Reagan eleito Presidente dos EUA • Iraque invade o Irão. • É lançado o jogo Pac-Man.
• A varíola é considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde
• John Lennon é assassinado à porta de sua casa, em Nova Iorque.
1979 • A Portaria 663 obrigou à redefinição do plano de estudos em Sociologia e à sua separação total da de Organização e Gestão de Empresas.
1980 • Em Março, Eduardo Gomes Cardoso eleito presidente do Conselho Directivo, Adérito Sedas Nunes permanece como presidente do Conselho Científico e Francisco Pina Prata eleito presidente do Conselho Pedagógico.
• Francisco Pina Prata eleito presidente do Conselho Directivo e José Joaquim Laginha eleito presidente do Conselho Pedagógico. • I Encontro de Psicossociologia. • Conferência «Problemas e tendências da formação de gestores em Portugal».
• Em Julho, José Joaquim Laginha eleito presidente do Conselho Científico e Mário Campos Pinto presidente do Conselho Pedagógico.
• Entrada da Grécia na Comunidade Europeia, que assim passa a contar com dez Estados-membros. • François Mitterrand é eleito Presidente da França. • Tentativa de assassínio do presidente Reagan, nos EUA • TGV faz viagem inaugural entre Paris e Lyon, França. • Primeira referência ao vírus da SIDA.
1981 • Constituição do Centro de Estudos Africanos (CEA).
• MTV surge como um canal de televisão inteiramente dedicado à música. • Primeiro voo do vaivém espacial Columbia.
80 | at茅 onde nos levar o saber
Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
81 | Crescer 1982-1991
ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa
1982-1991
Crescer
82 | atĂŠ onde nos levar o saber
A isto chama-se uma instituição aberta, pronta a acolher o entusiasmo inovador, feito de compromisso e de rigor
83 | Crescer 1982-1991
Por novas áreas Com a suspensão governamental de novas matrículas e a consequente extinção da licenciatura de Economia, em 1977, o ISCTE estava limitado a duas licenciaturas: a de Organização e Gestão de Empresas e a de Sociologia, oficializada em 1978. Inicialmente, o primeiro ano de ambas era comum, englobando disciplinas como Introdução à Sociologia, História Económica e Social, Economia I, Matemática I, Economia Aplicada e Introdução ao Estudo da Empresa. Depois cada qual seguia as suas especialidades de formação. Em 1979, a Portaria 663, de 10 de Dezembro, obrigou à redefinição do plano de estudos em Sociologia e isso conduziu à separação total desta licenciatura da de Organização e Gestão de Empresas. O essencial é que, pelo seu nível e pela procura por parte dos alunos, como sublinhava um relatório de 1981, aqueles cursos eram de «indiscutível necessidade do país».1 Esse facto conferiu força anímica para um alargamento de interesses e potencialidades curriculares do ISCTE, que se concretizaria, em 1982, com a criação oficial, pelo Decreto n.º 121, de 29 de Dezembro, de uma nova licenciatura do ISCTE: a de Antropologia Social. «Não esqueço», conta Raúl Iturra, que dela ficaria director, «o dia em que João de Pina Cabral me encontrou, no átrio do único edifício do ISCTE de então, e rapidamente me disse: ”Meu caro Raúl, leste o Diário da República de hoje? Há um decreto do Ministério da Educação que autoriza a criação da nossa licenciatura em Antropologia Social!”... Podíamos existir de forma autónoma!»2 1 Relatório «Projecto ISCTE», ISCTE, 7 de Abril de 1981. 2 «Para Sempre, Tricinco Allende e Eu: Autobiografia de Raúl Iturra», publicada no blogue Estrolábio. Disponível em http://estrolabio.blogs.sapo.pt/652400.html .
Publicações do ISCTE
84 | até onde nos levar o saber
Um alargamento, sublinhe-se, muito importante para o Instituto porque, a par da imensa procura da sua licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, esta nova licenciatura reforçava a vocação social da instituição. O detonador para este novo passo foi, como sempre acontece nestas coisas, pessoal. Joaquim Pais de Brito vinha de uma licenciatura em Antropologia na Université de Paris VII, complementada por uma pós-graduação na École des Hautes Études en Sciences Sociales: «Eu queria muito introduzir a Antropologia numa universidade. Então, propus-me ir para o ISCTE. Isto aconteceu em 1978. Já conhecia o Villaverde Cabral, o Paquete de Oliveira, o Manuel Braga da Cruz, mas fui eu que me propus. Sublinhei que a Antropologia era indispensável naquela escola. Disse-lhes: ”Vou começar a dar aulas e depois vocês vêem se conseguem abrir a cadeira formalmente.” Dei aulas durante dois meses, mas não havia condições de me contratarem, nem de abrirem a cadeira. No ano seguinte, contudo, criaram-na.»3�
Foi aquela motivação e aquela cadeira que deram origem, poucos anos depois, à nova área do ISCTE.
3 Joaquim Pais de Brito (2007), Entrevista in Santos, C. O., L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, p. 159.
85 | Crescer 1982-1991
«Eu fui o primeiro… Depois, vem o Raúl Iturra. Passado pouco tempo, somos cinco pessoas e muito rapidamente oito. Não sei precisar a ordem, mas veio o Robert Rowland, da Gulbenkian, o José Carlos Gomes da Silva, da Universidade Nova, o José Fialho e, logo a seguir, chegam outros colegas. Em 1982, como já há muita gente de Antropologia e várias cadeiras a funcionar, reunimos para definir a estrutura e conteúdos da licenciatura que então criámos.»4
A isto chama-se uma instituição aberta, pronta a acolher as pessoas e o entusiasmo inovador, feito de compromisso e de rigor. «Os primeiros alunos de Antropologia são muito bons, porque não havia antes e quem a escolheu fê-lo mesmo porque queria.»�5
O alargamento seguinte tem história muito idêntica. Carlos Caiano Pereira, presidente do Conselho Directivo, e Carlos Nogueira, também daquele Conselho, tinham solicitado a Augusto Afonso de Albuquerque apoio para a elaboração de um plano de informática do ISCTE. Albuquerque era engenheiro pelo Técnico e tinha terminado o seu doutoramento em Inglaterra, na Universidade de Essex. Estamos em 1982. Escusado será dizer que, nesta altura, o ISCTE lidava com «orçamentos de tostões» e informática , na casa, eram, somente, três teleimpressoras da TimeSharing. Para um computador, não havia dinheiro. Só passados dois anos, se comprou um com um sistema operativo Unix. Mas o plano que Afonso de Albuquerque tinha em mente era bem mais do que um mero plano. «A informática», asseverava ele, «vai ser o futuro da Gestão». O suficiente 4 Idem, p. 161. 5 Idem, p. 162.
Manuel Villaverde Cabral, | Joaquim Pais de Brito | Raúl Iturra | Robert Rowland | Caiano Pereira | Joaquim Pais de Brito com uma «prenda» dos alunos
86 | até onde nos levar o saber
para entusiasmar Caiano Pereira com a criação de um grupo de Informática e Gestão, «de maneira a transformar o curso de Organização e Gestão de Empresas... fazer com que seja completamente diferente dos que existem em Portugal, em que toda a Gestão vai ser a do futuro. Vamos fazer a revolução com grandes sistemas de informação de Gestão».6 Com a empenhada paternidade de Caiano Pereira e os programas feitos por Afonso de Albuquerque, nasceria, em 1989, a licenciatura em Informática e Gestão de Empresas, reforçando ainda mais esta área em que o ISCTE já era uma referência. Entretanto, em 1988, pela Portaria n.º 491/88, do Ministério da Educação, a Sociologia viu-se também reforçada com a oficialização do seu mestrado, com especializações em Sociologia do Trabalho e Sociologia Urbana e Rural, e a própria Organização e Gestão de Empresas, pela Portaria n.º 496/88, teve a aprovação oficial do seu mestrado em Ciências Empresariais, com especializações em Gestão, Estratégia e Desenvolvimento Empresarial, bem como em Sistemas de Informação em Gestão. Para além destes cursos, foram lançados dois outros, de pós-graduação em Comportamento Organizacional e em Políticas e Gestão de Recursos Humanos. Mesmo o Centro de Estudos Africanos teve, em 1990, a sua pioneira pós-graduação em Desenvolvimento Social e Económico em África. Escusado será sublinhar a inovação e a modernidade destes novos cursos na universidade portuguesa. 6 Augusto Afonso de Albuquerque (2007), Entrevista, in Santos, C. O. Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, p. 140.
Instalações de informática do ISCTE (1988)
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«No segundo pós-guerra, e em particular nos países anglo-saxónicos, tem vindo a desenvolver-se a chamada Antropologia das sociedades complexas, cujo objectivo preferencial pode ser definido como sendo a interdependência entre elementos modernos e tradicionais em países relativamente desenvolvidos. Esta abordagem, que privilegia as relações de articulação entre as partes e o todo de uma sociedade nacional, tem dado provas quer na América Latina, quer na Europa Meridional, e permite captar, em termos dinâmicos, a diversidade interna de sociedades nacionais que apresentam, para além dessa diversidade, uma inegável unidade em termos políticos, económicos e culturais. Aliando a preocupação antropológica tradicional pela análise contextual de campos localizados de acção e significação (desde a aldeia à região cultural ou economicamente homogénea) à procura constante de relacionar entre si essas unidades de análise no contexto mais amplo da sociedade nacional, a Antropologia das sociedades complexas responde a algumas das principais exigências postas às ciências sociais por uma sociedade, como a portuguesa, regionalmente diversificada apesar da sua indiscutível unidade, combinando numa relação dinâmica de interdependência elementos tradicionais e modernos . O desenvolvimento da Antropologia das sociedades complexas permitiria, ainda, reinserir na universidade, dando-lhe novo vigor através da articulação com tendências actuais das ciências sociais, a rica tradição etnográfica portuguesa Esta possibilidade corresponde a uma das preocupações subjacentes a esta proposta: a de permitir formar licenciados que, na sua vida profissional ou de investigação, saibam contribuir para a revitalização da consciência cultural local e regional em diferentes zonas do país e participar activamente num processo de descentralização cultural.» «Proposta de criação de uma licenciatura em Antropologia Social no ISCTE», ISCTE, 1982
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Os doutoramentos deram prova da diversidade, da inevitĂĄvel liberdade acadĂŠmica sempre encarada pelo ISCTE
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Aprofundamento académico Dada a sua indefinição institucional, fora de qualquer universidade, o ISCTE enfrentava o grave problema de poder assegurar a qualificação do seu corpo docente, nomeadamente a capacidade de realizar doutoramentos ou de reconhecer equivalências a graus estrangeiros. No início dos anos 80, ser doutorado nesta instituição era uma raridade. Havia, então, 18 professores e 148 assistentes, sendo que a própria maioria dos professores não tinham qualquer doutoramento. Mário Murteira, doutorado em Economia pelo ISCEF, em 1970, tinha sido o primeiro e, durante algum tempo, o único. Juntar-se-lhe-ia um número escasso de novos doutorados, no estrangeiro ou noutras escolas, como Miriam Halpern Pereira, Manuel Villaverde Cabral, Raúl Iturra, João Pina Cabral, Franz-Wilhelm Heimer, Ângela Esteves Guimarães ou Rogério Roque Amaro. Figuras respeitadíssimas como Sedas Nunes, Joaquim Laginha, Caiano Pereira ou Gomes Cardoso, decisivos para a vida do Instituto, não possuíam doutoramento, ainda que alguns, por reconhecido mérito, tivessem alcançado a categoria de professores catedráticos. Para suprir tal carência, por decisão ministerial, consagrada pelo Decreto Regulamentar n.º 10/78 e pelo Despacho n.º 72/ES/82, de 5 de Maio, a capacidade de conferir graus de doutor e mestre, pelo ISCTE, foi atribuída à Universidade Técnica de Lisboa, tendo essa prerrogativa sido confirmada pelo Decreto-Lei n.º 167/83, de 29 de Abril, o qual, naquele sentido, identificava o ISCTE primeiro como «escola de índole universitária» e, depois, com mais clareza, como «estabelecimento de ensino superior universitário», o que representava, mesmo que de forma muito genérica, um passo importante. Algumas obras de doutorados no ISCTE
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Capas de algumas das primeiras teses de doutoramento apresentadas no ISCTE
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Em 17 de Janeiro de 1982, perante um júri presidido por Eduardo Arantes e Oliveira, reitor da UTL, e constituído por Sedas Nunes, Raúl Iturra, Boaventura Sousa Santos, o orientador, e Mário Murteira, como arguente, foi marcada a defesa da primeira tese de doutoramento proveniente do ISCTE, a de José Madureira Pinto, em Sociologia, sobre «Estruturas sociais e práticas simbólico-ideológicas nos campos», com base nos fenómenos de mudança sociocultural numa colectividade rural do Noroeste português, Fonte Arcada, no concelho de Penafiel. Houve, ainda, uma prova complementar sobre «Epistemologia e didáctica da Sociologia». Foi aprovado com distinção. Raúl Iturra conta, numa sua autobiografia7�, que José Joaquim Laginha, presidente do Conselho Científico de então, estava tão entusiasmado com esta estreia que quis trazer a televisão para documentar o evento. Os doutoramentos que se seguiriam mantiveram a Sociologia como área exclusiva dos doutorados pelo ISCTE: João Ferreira de Almeida (1984), com «Classes sociais nos campos: camponeses parciais numa região do Noroeste»; Maria Carrilho (1984), na especialidade de Sociologia Política, com «Forças Armadas e mudança política em Portugal no século vinte»; Jorge Correia Jesuíno (1985), em Sociologia do Trabalho, com «Contingência e interacção nos processos de liderança»; Maria de Lourdes Lima
7 «Para Sempre, Tricinco Allende e Eu: Autobiografia de Raúl Iturra», publicada no blogue Estrolábio. Disponível em http://estrolabio.blogs.sapo.pt/652400.html .
Maria Carrilho, após a sua defesa de tese de doutoramento, com Ilona Kovácz, Adriano Moreira, Eduardo Arantes e Oliveira e Ângelo Guimarães (1984)
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dos Santos (1985), em Sociologia da Cultura e da Comunicação, com «Intelectuais portugueses na primeira metade de Oitocentos»; Afonso de Barros (1986), em Sociologia do Desenvolvimento, com «Do latifundismo à reforma agrária: o caso de uma freguesia do Baixo Alentejo»; Victor Matias Ferreira (1987), em Sociologia do Desenvolvimento, com «A cidade de Lisboa: de capital do império a centro da metrópole»; Manuel Braga da Cruz (1987), em Sociologia Política, com «O partido e o Estado no salazarismo»; João Freire (1987), em Sociologia do Trabalho, com «Ideologia, ofício e práticas sociais: o anarquismo e o operariado em Portugal (1900-1940)»; Fernando Farelo Lopes (1989), em Sociologia Política, com «A I República Portuguesa: questão eleitoral e deslegitimação»; José Manuel Paquete de Oliveira (1989), em Sociologia da Cultura e da Comunicação, com «Formas de censura oculta na imprensa escrita em Portugal no pós-25 de Abril (1984-1987)»; Lígia Amâncio (1989), em Sociologia do Trabalho, com «Factores psicossociológicos da discriminação da mulher no trabalho». Vale esta enumeração, sobretudo, pela evidência da diversidade, prova da inevitável liberdade académica com que a Sociologia foi sempre encarada pelo ISCTE. Somente naquele ano de 1989, surgiu a primeira tese em Antropologia Social, a de José Fialho Feliciano, seguida, um ano depois, em 25 de Julho, pela de Joaquim Pais de Brito, também em Antropologia Social, com a particularidade histórica de esta ser a primeira tese com um júri nomeado pelo próprio presidente do ISCTE de então, Afonso de Barros. Outras áreas só mais tarde emergiriam. Em 1994, realiza-se o primeiro doutoramento em Psicologia Social e Organizacional, o de Luísa Pedroso de Lima, assim como o primeiro em Organização e Gestão de Empresas, o de Victor Roldão.
José Joaquim Laginha | José Manuel Paquete de Oliveira | Afonso de Barros | Jorge Correia Jesuíno | Lígia Amâncio | Victor Roldão | Teses publicadas
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«Destinado inicialmente ao ensino da gestão e das ciências do trabalho, o Instituto tem vindo a alargar o seu âmbito de actividade no domínio das Ciências Sociais, aprovado que foi, em 1978, o curso de licenciatura em Sociologia e, em 1982, o curso de licenciatura em Antropologia Social. Escola de índole universitária, o ISCTE encontra-se a aguardar a sua integração numa das universidades de Lisboa. Torna-se, porém, necessário que, até à integração, o ISCTE disponha dos instrumentos legais que lhe permitam viver plenamente a sua vocação universitária. Há, por outro lado, que esclarecer dúvidas que se têm levantado acerca da concessão do grau de doutor, , bem como salvaguardar os efeitos de actos praticados nos termos de uma diferente interpretação das referidas disposições legais. Assim: O Governo decreta,…, o seguinte: • O Instituto Superior de Ciências do trabalho e da Empresa (ISCTE) é um estabelecimento de ensino superior universitário, • A Universidade Técnica de Lisboa confere, através do ISCTE, o grau de doutor em Organização e Gestão de Empresas, Sociologia e em Antropologia Social, • A Universidade Técnica de Lisboa confere, através do ISCTE, o grau de mestre nas especialidades que venham a ser autorizadas , • Os planos e regimes de estudos dos cursos de licenciatura ministrados no ISCTE serão aprovados por portaria do ministro da Educação.» Extracto do Decreto-Lei n.º 167/83, de 29 de Abril
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Sucessivos e sucessivos esforços para alcançar uma integração na universidade, a par de um constante crescimento da adesão dos alunos e da qualidade do seu ensino
O seu lugar como universidade Porém, todos aqueles esforços do ISCTE, no seu crescimento, na construção de novos cursos, na credenciação do seu corpo docente, chocavam com uma coisa que, para a época, era decisiva. Desde aquele Decreto-Lei n.º 463-A, de 1977, o ISCTE, fora de qualquer universidade estabelecida, era uma singularidade no ensino superior público português, num contexto em que as instituições, sobretudo as recentes, passavam da sua fase militante para a institucional, reforçando identidades, organização e poder. Após a ampla democraticidade na gestão e na direcção das escolas, estabelecida em 1974, a legislação produzida pelo ministro Mário Sottomayor Cardia, no ano seguinte, nomeadamente o Decreto-Lei n.º 781-A, veio estabelecer a delimitação e hierarquização de poderes internos, retirando poder a alunos e assistentes, reforçando o dos doutores. E as instituições existentes fechavam-se dentro de si, procurando aumentar a sua acção e influência. Os tempos não estavam para colaborações interintitucionais. Contudo, após 1977, o ISCTE não deixou de fazer a sua «via dolorosa», com permanentes esforços para lograr integrar-se numa estrutura universitária existente. A primeira a ser visada foi a Universidade Técnica de Lisboa. Um triângulo formado pelo ISCTE, a UTL e o Governo foi manifestando afinidades e possibilidades. Em Maio de 1979, o secretário de Estado do Ensino Superior dirigiu à reitoria da UTL uma solicitação de parecer sobre a integração, acompanhado por um Memorando sobre o ISCTE, elaborado por Sedas Nunes. Nele se relembrava a integração, desde 1973, na Universidade Nova de Lisboa, «situação , todavia, apenas declarada, nunca tendo chegado a ser definida e regulada. Tal facto originou que as relações entre o ISCTE e a UNL se mantivessem sempre num plano essencialmente formal, sem
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que se estabelecesse propriamente uma ligação ou articulação real entre as actividades desenvolvidas». Por isso, não surpreendia a Sedas Nunes o Decreto n.º 463-A/77 que afastava unilateralmente o ISCTE da UNL, «passando a ficar, até ulterior resolução, na dependência directa da Direcção-Geral do Ensino Superior». Com cerca de 2000 alunos e 150 professores, calcule-se o absurdo, o «anómalo», é mesmo o que escreve Sedas Nunes, que esta situação configurava. Como mera curiosidade, na hipótese de integração na UTL, Sedas Nunes, sempre dado à criação de denominações, não deixa de referir o assunto, neste seu memorando: «O ISCTE conserva a denominação – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – com que foi criado. À data da sua fundação, tal denominação era perfeitamente correcta, pois correspondia à natureza dos cursos – Ciências do Trabalho e Organização e Gestão de Empresas – que nele deviam ser professados. Actualmente, porém, impõe-se a adopção de uma nova designação, adaptada ao presente conteúdo curricular do seu ensino: Sociologia e Organização e Gestão de Empresas. Neste sentido, pensa-se que a denominação Instituto Superior de Gestão de Empresas e Sociologia (ISGES) ou preferentemente (até porque dá lugar a uma sigla mais eufónica) Instituto Superior de Sociologia e Administração de Empresas (ISSAE), deveria ser adoptada, senão desde já, pelo menos aquando da integração do Instituto na Universidade Técnica.»
Eis como poderia ter nascido o ISGES ou o ISSAE… A resposta da UTL seria, no entanto, magistral, a indiciar funestos resultados. Pela mão do seu vice-reitor, Bernardo Herold, uma carta ao director-geral do Ensino Superior, de 9 de Julho daquele ano de 1979, já tinha comunicado a constituição de uma comissão de professores da UTL para apreciar a integração. Dela faziam parte Zózimo de Castro Rego, também vice-reitor, Luciano Faria, do IST, Caetano Cruz Vidal, do ISE, e uma numerosa representação do ISCSP, com Óscar Soares Barata, Mário Lages e Luís de Matos. A Secretaria de Estado do Ensino Superior pressionava, tendo em conta que se delineavam os princípios de autonomia das universidades e que era recente a criação, em 1977, do Instituto Nacional para a Investigação Científica, considerado como «um contributo importante para um avanço qualitativo do binómio ensino-investigação». A referida comissão da UTL apresentaria um relatório, cuja grande parte era a
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dos historiais e meios do ISE e do ISCSP. E a sua conclusão, «por unanimidade», veio em 5 de Dezembro de 1979: «O ISCTE não deve ser integrado na Universidade Técnica.» Acrescentando: «Como justificação suficiente para esta posição apresentam a de que não faz sentido que numa mesma universidade coexistam escolas distintas que concedem licenciaturas idênticas ou afins.» As atenções viraram-se, então, inevitavelmente, para a Universidade de Lisboa, num ambiente que atingia o dramático. Uma carta do Conselho Directivo do ISCTE para a Comissão de Educação da Assembleia da República, dava conta, em Maio de 1981, da «grave situação de asfixia desta escola», convidando a Comissão a visitar o Instituto. Em Fevereiro anterior, o ministro da Educação e Ciência tinha exarado um despacho determinando que «o ISCTE juntamente com a Universidade de Lisboa procedam ao estudo conjunto do problema da integração do ISCTE na Universidade de Lisboa». Para tal, foi criada, no ISCTE, uma comissão constituída pelos presidentes dos Conselhos Directivo, Científico e Pedagógico, bem como pelos professores Ângela Guimarães, João, Ferreira de Almeida, Mário Pinto, Miriam Halpern Pereira e Robert Rowland. A primeira reunião com a UL realizou-se logo em 12 de Março de 1981, mas, ciente dos anteriores resultados, com a UTL, foi decidido pelo ISCTE, paralelamente, um trabalho de reflexão estratégica que se consumou, de início, numa reunião em 7 de Abril daquele ano, para a qual foi convidado Veiga Simão, e onde participaram Joaquim Laginha, Mário Pinto, Robert Rowland, Ângela Guimarães, Caiano Pereira, Paquete de Oliveira, Serras Gago e Eduardo Gomes Cardoso. O seu resultado foi o chamado «Projecto ISCTE», algo muito importante, uma autêntica matriz do que seria a instituição nas décadas seguintes. No relato desta reunião, formular-se-iam alguns cenários alternativos: o de «uma escola autónoma, tipo universitário, abordando os ramos de saber na vertical e com maior profundidade»; «a integração na Universidade, processo em curso, desejavelmente mantendo uma unidade e coerência institucional e científica; finalmente, «o desmembramento e desaparição». Considerando os dois primeiros cenários, em qualquer caso, apontavam-se três aspectos decisivos, que definiam princípios de carácter que esta instituição foi sedimentando e que efectivamente manteve:
Professores do ISCTE
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«• o ISCTE, tendo alcançado, apesar de tudo, uma determinada forma e potencial, deve aproveitar a sua situação problemática como uma oportunidade para se actualizar e projectar para o futuro; • a existência de unidade interna, um estado plural nas concepções mas solidário e construtivo na acção, «uma vontade coesa»; • a existência de capacidade, «garras» para actualizar, conceber e promover o Projecto ISCTE.»
A reflexão daquela reunião prosseguiu na indicação de directrizes quer nas áreas a desenvolver, quer nos métodos e formas de articulação com o exterior. As áreas estendiam-se pela especialização em Ciências do Trabalho, por áreas de Gestão concretas: a abordagem de temas ditos tecnológicos como Gestão de matérias-primas (água, recursos naturais ); a Gestão das tecnologias (a energia, os esquemas centralizados ou não, como os adubos, as novas tecnologias, o impacto ambiental) e dos processos de produção tecnológicos (os seus graus de adequação aos tipos de Gestão, às organizações e às estruturas sociais, à sociedade em geral, a automação, a informatização, a qualidade de vida); em gestões especializadas (sindicatos, escolas, segurança no trabalho, formação profissional). Estas directrizes espelhavam, em boa parte, o que deveria ser o próprio desenvolvimento da sociedade portuguesa nos anos seguintes. Para a sua concretização, esta reunião do Projecto ISCTE apontava a realização de cursos interface (Gestão/Sociologia/Tecnologia), de cursos de especialização ou complemento pós-graduação, de cursos e investigação interdisciplinar, a par da prestação de serviços, intenso intercâmbio e ligação institucional, nomeadamente aos ministérios do Trabalho, da Indústria e dos Negócios Estrangeiros. Há um parágrafo final, sobre método, que reforça bem a natureza democrática, aberta, participada, do ISCTE: «O método [para a implementação deste Projecto ISCTE] seria a reflexão sobre a situação actual, a comparação com escolas estrangeiras e o debate em reuniões alargadas do corpo da Escola, discussões dos documentos preparatórios com diversas entidades, etc.»
Esta abordagem de questões de fundo e de perspectivas alternativas seria, de facto, decisiva. As negociações com a Universidade de Lisboa acabariam por se gorar. Numa reunião, em 12 de Março de 1981, o ISCTE apresentou à UL a sua posição «de
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integração em bloco na Universidade de Lisboa, por razões de ordem institucional; por corresponder a uma situação de facto, cuja vivência tem demonstrado ser frutuosa; por existirem certas complementaridades de natureza científico-didáctica e ainda por facilidade operacional de realização.»8 Da parte da UL, formalmente, foi o protelar de respostas e, informalmente, «estaria em constituição, ao que parece por iniciativa do reitor da Universidade de Lisboa [Rosado Fernandes], uma comissão destinada a proceder à reestruturação do curso de Sociologia do ISCTE, com vista à sua futura integração naquela Universidade. Dessa comissão fariam parte um número significativo de elementos do GIS, alguns dos quais são simultaneamente docentes do ISCTE.»9 Tratava-se, na realidade, das diligências de Sedas Nunes em separar o GIS do ISCTE e de o integrar na UL, o que veio a suceder em 1982, com a constituição do Instituto de Ciências Sociais. Toda esta iniciativa poderia ser a destruição da Sociologia do ISCTE, mas não o foi. Logo nos seus preliminares, um grupo significativo de professores desta área reuniu de imediato e manifestou que «independentemente da necessidade e oportunidade de uma discussão alargada acerca dos problemas de integração da Escola na Universidade desaprovam totalmente todo e qualquer processo que implique a marginalização dos órgãos legalmente constituídos do ISCTE e da Escola como um todo.»�10 O ISCTE concluiu, evidentemente, que «a Reitoria da Universidade de Lisboa não está interessada em efectuar o estudo conjunto determinado no despacho do ministro da Educação e Ciência e, a estar interessada no problema ISCTE, é de uma forma bastante diferente do preconizado no mesmo despacho e que o ISCTE não aceita, nem quanto a métodos nem como conteúdo»11. Terminava assim o Memorial «O ISCTE e a Universidade», publicado em Abril de 1981: «Continua sem solução o problema fundamental do ISCTE, cuja gravidade o ultrapassa e cuja solução o transcende, e que consiste na asfixia de uma escola válida, com provas dadas, com nível e plano de estudos pelos menos igual, quando não superior, à maioria dos cursos ministrados na Universidade portuguesa, com dois cursos (Sociologia e Gestão) com evidentes complementaridades institucionais, científico-didácticas e sociológicas, com dimensão importantes: 2062 alunos e 161 docentes, com procura intensa por parte de alunos (numerus clausus esgotado e 8 «Memorial «O ISCTE e a Universidade», ISCTE, Abril de 1981. 9 Idem. 10 Idem. 11 Idem.
Espaços de aulas e de lazer, no ISCTE
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recusa de centenas de candidatos) e formando diplomados que, em especial quanto a Gestão, não encontram problemas de integração no mercado de trabalho pois respondem com actualidade a carências cada vez mais indiscutíveis do país.»12
Este novo impasse só dois anos depois, com o Decreto n.º 167, de 29 de Abril de 1983, a que já aludimos, daria um sinal a ter em conta, ainda que escasso. Por aquele decreto, o Governo consagrava a natureza do ISCTE como «estabelecimento de ensino superior universitário». A escassez residia, contudo, no facto de o diploma não dar qualquer seguimento a aspectos tão importantes como as provas de aptidão pedagógica e capacidade científica, os concursos para preenchimento das vagas para professores associados e catedráticos, as provas de agregação, as equivalências a graus de pós-graduação e reconhecimento de habilitações estrangeiras. Para os doutoramentos, o ISCTE, como vimos, dependia inteiramente da Universidade Técnica de Lisboa. Seguiu-se, inevitavelmente, um novo ciclo de contactos tendo em vista uma possível integração. A iniciativa, apoiada pelo Governo, partiu do próprio reitor da UTL, em 1985, ao manifestar o interesse desta mesma instituição em integrar o ISCTE. Mas, mais uma vez, surgiu como condição a fusão das licenciaturas em Sociologia e Organização e Gestão de Empresas. E, mais uma vez, o ISCTE voltou a recusar, em nome do património e da diversidade que elas representavam. Isto não obstou a que as negociações continuassem. «Neste aspecto», salienta um Memorial sobre o assunto, «o ISCTE teve sempre um cuidado muito particular em manter, perante a UTL, uma atitude de total lealdade e transparência, evitando, designadamente, quaisquer contactos paralelos com os órgãos centrais do Ministério da Educação, que não fossem do total conhecimento da Reitoria da UTL».13 Em 19 de Julho de 1985, realizou-se, na Reitoria da UTL, uma reunião que pareceria decisiva. Presentes, para além do próprio reitor, os presidentes dos conselhos directivos e científicos do ISCTE, do ISCSP e do ISE. A manutenção das três licenciaturas do ISCTE foi aceite pelos presentes, e os representantes do ISCSP declararam, expressamente, não levantar objecções à existência, no interior da UTL, das licenciaturas de Sociologia e Antropologia Social ministradas pelo ISCTE. Restava a questão das licenciaturas na área da Gestão, entre o ISCTE e o ISE, para
12 Idem. 13 «Memorial sobre o processo de integração do ISCTE na Universidade Técnica de Lisboa», ISCTE, Março de 1985 a Abril de 1985.
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o que se constituiu um grupo de trabalho formado por Caetano Cruz Vidal, Rómulo Rodrigues, Luís Cachudo Nunes, pela UTL, e José Prostes da Fonseca, Eduardo Gomes Cardoso e Carlos Caiano Pereira, pelo ISCTE. Em Relatório de 30 de Janeiro de 1986, aquele grupo acordou a mudança de designação da licenciatura do ISCTE em Organização e Gestão de Empresas para «licenciatura em Ciências do Trabalho e da Empresa», sendo que o ISE reservava como áreas predominantes a Gestão Comercial e Financeira, e o ISCTE concentrar-se-ia na área do Comportamento Organizacional e Social. Foi recomendada, igualmente, a criação de uma comissão permanente para ir apreciando as actividades de ambas as partes no domínio do ensino e da investigação. Tudo parecia, pois, encaminhado para uma integração, processo, recorde-se, para o qual o ISCTE tinha sido convidado. Mas no dia 19 de Abril, por telefone, o reitor da UTL comunicou à direcção do ISCTE que o Conselho da Universidade manifestou uma posição negativa face à integração, com base num parecer emitido pelo Conselho Científico do ISE, recusando a existência de duas licenciaturas na área da Gestão. O Memorial sobre todo este assunto, elaborado posteriormente pelo ISCTE concluía assim: «Pode dizer-se, em resumo, que o ISCTE apostou na capacidade da Universidade Portuguesa para ultrapassar preconceitos, face a objectivos superiores de valorização e renovação dessa mesma Universidade e de contribuição para o desenvolvimento social e económico do País.»14
Mais uma negociação que se gorava perante tais preconceitos, exprimidos sempre de forma obscura e enviesada. Catorze anos depois da sua criação, com 2867 alunos, mais de 250 professores e sucessivos esforços, como vimos, para superar esta situação absurda, o ISCTE continuava a enfrentar uma indefinição institucional, no quadro do sistema universitário português.
14 Idem.
Mesa do 1.º Congresso Português de Sociologia, presidida por João Ferreira de Almeida, com a presença de Mário Soares, Presidente da República (1988)
Propostas apresentadas ao concurso de log贸tipos do ISCTE (1983)
104 | atĂŠ onde nos levar o saber
No campo da GestĂŁo, mais uma iniciativa pioneira, a primeira business school em Portugal
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Um importante passo no ensino da Gestão Recordemos que o ISCTE tinha sido precursor no ensino da Gestão em Portugal, quer a nível de licenciatura, quer de pós-graduação, sendo que a primeira destas, no país, tinha sido feita aqui, em 1983. Já falámos, também, da natureza dos seus docentes nesta área e da sua permanente inserção no meio empresarial, pessoas prestigiadíssimas, como Mário Murteira, Gomes Cardoso, Caiano Pereira, Caldeira Meneses ou Joaquim Laginha,entre outros, com um currículo enorme no tecido empresarial português. Por outro lado, compreenda-se esta situação: em 1988, o ISCTE tinha, no seu conjunto, 2893 alunos, dos quais 2103, ou seja, 73 por cento, eram de Organização e Gestão de Empresas. Tornava-se necessária, sem dúvida, uma dimensão, digamos assim, para onde esta grandeza se expandisse. O principal detonador pessoal seria Eduardo Gomes Cardoso, que já vinha do IES, desde 1965, e tinha assumido a presidência do Conselho Directivo do ISCTE em 1982. Engenheiro do Instituto Superior Técnico, com um curso de Gestão do Institut d’ Études Supérieures des Techniques d’ Organization, tirado em 1958/59, Gomes Cardoso tinha uma ampla experiência empresarial. Resolver aquele problema de expansão era para ele mais um desafio, a encarar com o prazer com que estes homens os enfrentam. Através de Augusto Afonso de Albuquerque, Gomes Cardoso solicitou informações sobre uma experiência iniciada no IST, em 1980, pela mão de José Tribolet: o INESC, Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, uma associação com estatuto privado, sem fins lucrativos, de utilidade pública, dedicada à educação, incubação, Publicações do INDEG-ISCTE
106 | até onde nos levar o saber
investigação científica e consultoria tecno-
«Julgamos que o plano de estudos do Curso de Organização e Gestão de
lógica, tendo por associados o próprio IST e
Empresas do ISCTE tem correspondido às necessidades do país, uma vez
empresas e instituições diversas.
que os seus licenciados têm encontrado, de uma forma geral, uma inserção
O INESC era considerado um modelo
adequada nas empresas e noutras organizações. O plano de estudos presen-
de referência na forma de relação entre a
temente em vigor baseia-se no que foi aprovado em 1977/78 de acordo com
universidade e as empresas, e era precisa-
as normas estabelecidas pela Comissão Científica Internacional de Econo-
mente essa vertente que Gomes Cardoso
mia e Gestão de Empresas.
desejava. Com base, pois, no mesmo critério,
A par das matérias específicas de Gestão Empresarial, que constituem
mobilizou as pessoas do ISCTE para a criação
cerca de 40 por cento dos tempos lectivos globais, encontram-se as áreas
de uma instituição semelhante.
científicas que possibilitam o enquadramento económico, jurídico e socio-
Em 2 de Novembro de 1988, nascia o
lógico e os métodos quantitativos necessários.
Instituto para o Desenvolvimento da Gestão
Tem havido a preocupação de introduzir as correcções que a evolu-
Empresarial, o INDEG, com base no ISCTE,
ção, quer das áreas científicas que dele fazem parte, quer das necessida-
evidentemente, mas tendo também por
des das empresas, tem aconselhado. Neste momento, procede-se à discus-
sócios fundadores o Banco Pinto & Sotto
são alargada do elenco curricular actual, com vista a introduzir no próximo
Mayor, o Clube de Empresários das Pequenas
ano lectivo as alterações que forem julgadas convenientes.
e Médias Empresas, a Caixa Geral de Depó-
Afigura-se-nos que a boa aceitação do Curso de Organização e Gestão
sitos, os Correios e Telégrafos de Portugal,
de Empresas se deve também à razoável ligação que se verifica entre o
o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias
ISCTE e as empresas, nomeadamente através da obrigatoriedade, em diver-
Empresas e ao Investimento, a Investimento
sas cadeiras, da realização de trabalhos a partir da realidade empresarial.
e Participações Empresariais, a Portucel e a
Por outro lado, a celebração de protocolos de colaboração entre o ISCTE e
Companhia Portuguesa de Supermercados.15
instituições representativas das empresas tem-se revelado bastante útil.»
No campo da Gestão, seria mais uma
Carlos Caiano Pereira (1985), «O ensino da gestão no ISCTE», Revista de Gestão, 1 (Maio), p. 7
iniciativa pioneira: no fundo, a primeira business school em Portugal. Sem as peias do acidentado percurso institucional do ISCTE, o INDEG poderia promover cursos de formação pós-graduada de executivos, parcerias com empresas, acções de investigação e aplicação. Para o INDEG, não estava em causa, apenas, falar de Gestão, mas fazer «com» Gestão. Assentando numa estrutura leve, muito profissionalizada e versátil, este novo Instituto teria forçosamente de se centrar nos seus clientes, normalmente profissionais que desejavam actualizar e aprofundar os seus conhecimentos e capacidades. Sempre com critérios de avaliação com a participação dos alunos, o INDEG seria uma porta por onde passariam milhares deles, imensas empresas, inúmeras
15 Os actuais parceiros do INDEG-ISCTE incluem: ISCTE-IUL, Caixa Geral de Depósitos, CTT, EDP, IAPMEI, Metropolitano de Lisboa, Millenium BCP, Ordem dos Engenheiros, PT, TAP, Unisys e Grupo Auchan.
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intervenções empresariais e institucionais, gerando um suporte académico, profissional e financeiro quer para a Gestão no ISCTE, quer para o ISCTE, no seu conjunto. Não se pense, no entanto, que o que se tornou grande não começou necessariamente pequeno e com a mera vontade como meio. O INDEG inicial era uma salinha no gabinete de Gomes Cardoso. «No primeiro ano» lembra ele, «com o dinheiro ganho, comprámos a primeira mesa de reuniões.» Seria uma ex-aluna do próprio ISCTE, entretanto formada em Organização e Gestão de Empresas e depois professora na casa, Clementina Barroso, o seu braço-direito e o principal apoio para o passo seguinte. No meio de um Portugal com acesso a fundos europeus, o INDEG arriscou um projecto: o pedido de atribuição de apoio para a construção de um edifício que fosse a sua grande base de desenvolvimento. Em 1991, o Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP) conceder-lhe-ia um grande apoio e os membros fundadores completaram o resto para que 2,25 milhões de euros fossem investidos naquele projecto. Nas mãos de Gomes Cardoso, por todos conhecido como um excelente e rigorosíssimo gestor de custos, aquilo era um tesouro para um sonho. E foi. As obras para o edifício INDEG começaram logo em 1991 e, no ano seguinte, ser-lhe-ia concedido, pelo Governo, o estatuto de «entidade de utilidade pública». Um dia, Gomes Cardoso chama Clementina Barroso e remata: «Escreva aí: a partir de hoje, nós não concorremos a mais fundo nenhum. Acabaram os fundos. Vamos sozinhos para o mercado. Ou somos capazes de sobreviver ou então vamos à nossa vida. Tivemos apoio para o arranque, mas chega!»16�
Assim foi. «O futuro risonho do INDEG», sublinha Clementina Barroso, «veio daí; foi a decisão mais acertada para tudo isto.» Os cursos de pós-graduação, mestrado ou de especialização eram apresentados publicamente, por métodos vivos e amplos de comunicação, e ou tinham um número sustentável de alunos ou não se realizavam, o que obrigava, saudavelmente, a uma constante atenção às necessidades do país, num leque muito vasto de interesses. Passariam pelo INDEG áreas intrínsecas da Gestão, mas também novas abordagens que o levariam à Cultura, à Saúde, à Política, à Economia Social, ao Desporto, ao E-business, à Gestão Global. Como motivo para a criação deste imenso projecto, Gomes Cardoso resumia assim: «Estávamos atabafados.» E o INDEG representou isso mesmo: o desejo de um novo ar, uma moderna e empenhada intervenção na sociedade portuguesa e, através dela, no mundo. 16 Clementina Barroso, depoimento para este livro, Maio de 2012.
Eduardo Gomes Cardoso com funcionários do ISCTE | Funcionários do INDEG-ISCTE com Clementina Barroso
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Páginas do Livro de Curso de licenciatura em Organização e Gestão de Empresas (1977/1982)
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Iniciativas sólidas que ainda hoje perduram e que suscitam uma breve e óbvia conclusão: a riqueza desta instituição que era o ISCTE
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A investigação dissemina-se O reforço do corpo docente do ISCTE conduziria necessariamente ao desenvolvimento da investigação e à criação de centros e unidades que se consagrariam aos respectivos projectos, a programas de doutoramento, à promoção de cursos, à reunião e publicação de documentação e estudos, à promoção de debates e conferências. Nestes anos, com a entrada de Portugal na CEE, os apoios à investigação científica conjugaram-se com uma crescente consciência da importância desta área, alicerçada em pessoas decisivas para o desenvolvimento das suas políticas a nível nacional, com destaque para José Mariano Gago, presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, de 1986 a 89, e posteriormente ministro da Ciência e da Tecnologia, a partir de 1995. Segundo os dados do Eurostat, entre 1988 e 1992, o número de investigadores subiu 45 por cento e o ratio entre a investigação e o PIB teve um crescimento ainda um pouco maior17�. O ISCTE não poderia deixar de contribuir para este crescimento. Pioneirismo, no ISCTE, foi a criação, em 1975, do Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa (CEHCP), pela mão de Miriam Halpern Pereira, abarcando iniciativas tão importantes como os colóquios «Liberalismo na Península Ibérica» (1982) ou «As Fontes na História» (1985). Com o objectivo de promover, de forma interdisciplinar, os estudos sobre África, nasceu, em 1981, o Centro de Estudos Africanos (CEA), e 1985 veria o surgimento do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) e do Centro de Estudos de Antropologia Social (CEAS). As Tecnologias de Informação e da Comunicação deram luz à sua ADETTI (Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de 17 Número total de investigadores: 6561 (1988); 9451 (1992). Ratio I&D/PIB: 0,41 (1988); 0,61 (1992). Fonte: Eurostat.
Reunião do Departamento de Sociologia | Anotações de João Freire
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Informática), em 1989. Da área da Psicologia Social, nasceria o Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS), em 1991. Em campos que conjugavam, o mais possível, as diversas áreas do ISCTE, surgiram centros como o Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos (CIDEC), em 1984, o DINAMIA, Centro de Estudos sobre Mudança Socioeconómica, em 1989, e o Centro de Estudos Territoriais (CET), em 1991. Associadas a alguns centros de investigação, nasceram revistas académicas, mais uma vez com a História como pioneira. Em 1983, a Ler História lançava o seu primeiro número. A Revista de Gestão iniciar-se-ia dois anos depois, e a Sociologia Problemas e Práticas, em 1986. Não propriamente consagrados à investigação, mas centrados na transferência de conhecimento, na formação e na consultoria, foram-se criando, no ISCTE, inúmeras entidades autónomas. Os Métodos Quantitativos geraram, em 1988, o GIESTA, Grupo de Investigação Científica e Análise de Dados. Os juristas a exercerem actividade académica no ISCTE tomaram a iniciativa, em 1989, do JUSOECONOMIAE, o Centro de Estudos de Direito das Empresas da Administração Pública e das Comunidades Europeias. Estamos a falar, em qualquer caso, de iniciativas sólidas que ainda perduram ou se transformaram no decurso de processos de integração futuros, e que suscitam uma breve e óbvia conclusão: a riqueza desta instituição que era o ISCTE, a mostrar como eram ridículos os engulhos para a sua plena institucionalização por parte dos órgãos do poder universitário em Portugal.
Revistas publicadas no ISCTE | Cartão de identidade do ISCTE de Miriam Halpern Pereira
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«Pautamo-nos desde a origem pela preocupação de isenção na escolha da colaboração, baseada unicamente na qualidade, quebrando com o espírito corporativo, então comum. Abertura plena a todas as áreas da historiografia e respeito pela diversidade de orientação metodológica estiveram presentes desde o início, tendo por únicos limites o rigor científico e as boas práticas de convívio intelectual. Abertura igualmente às outras áreas das ciências sociais, com o fito de promover a colaboração interdisciplinar. Abertura ainda à historiografia internacional, com destaque para a proveniente dos países de língua portuguesa e da Espanha. Se, hoje, estas linhas de orientação têm menos novidade e são partilhadas por outras publicações, do facto nos devemos congratular.» Miriam Halpern Pereira (2003), «Vinte Anos da revista Ler História 1983-2003)»
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A verdade ĂŠ que esta segunda dĂŠcada se encerraria com um ISCTE muito mais bem posicionado e absolutamente convencido das suas capacidades e potencialidades
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Os Estatutos do ISCTE Goradas todas as suas tentativas de encontrar um enquadramento numa universidade existente, o caminho autonómico do ISCTE foi sendo reforçado pela Lei de Bases do Sistema Educativo, de 14 de Outubro de 1986, e pela Lei da Autonomia das Universidades, de 24 de Setembro de 1988. A primeira consagrava a existência de escolas universitárias não integradas em universidades, e a segunda definia as regras e estruturas da autonomia. Em 2 de Novembro de 1989, reunia-se uma Assembleia Especial do ISCTE, presidida por Eduardo Ferro Rodrigues, para apreciar um novo instrumento jurídico, decorrente das legislações referidas, de grande importância para a instituição: os seus primeiros Estatutos, cuja formulação inicial foi resultado de um grupo de trabalho constituído por Eduardo Gomes Cardoso, José Manuel Paquete de Oliveira, Maria João Rodrigues, Nelson António e António Robalo, com o apoio jurídico de Manuel Pita. Foi, como não podia deixar de ser, um processo longo, participado e debatido, mas, no que exteriormente ao ISCTE diria respeito, atribulado. Haveria que deixar bem clara a condição de estabelecimento do ensino superior universitário do ISCTE, uma pessoa colectiva de direito público, gozando de autonomia estatutária, científica, pedagógica, administrativa, financeira e disciplinar, com uma missão que teria, necessariamente, de se fundar numa tradição aberta, pluridisciplinar, empenhada na sociedade, que era a sua. O enquadramento institucional, ainda que partindo de uma situação de autonomia, teria, também, de passar pelo direito de o ISCTE colaborar nas políticas nacionais de educação, ciência e cultura. Para tal, surgia, no artigo 4.º do projecto de Estatutos elaborado inicialmente pelo ISCTE, um ponto fundamental:
Estatutos do ISCTE | Páginas do Diário da República com a publicação dos mesmos (1990)
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«Para os fins referidos, é reconhecido ao presidente do ISCTE o direito de participar nas reuniões do Conselho de Reitores.»
Este Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), criado pelo Decreto-Lei n.º 107/79, de 2 de Maio, é um órgão essencial do poder universitário nacional, integrando a generalidade das 14 universidades públicas mais a Universidade Católica Portuguesa. A presença do ISCTE era muito importante, quer simbólica, quer funcionalmente. Contudo, manteve-se, neste ponto, a adversidade do poder universitário estabelecido. A presença formal do Instituto foi rejeitada e a versão que o Governo e o CRUP suportaram foi apenas a de que «será estabelecida uma articulação com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, através da qual o ISCTE tenha capacidade de se pronunciar sobre os assuntos tratados naquele órgão que, directa ou indirectamente, lhe possam interessar». Em qualquer caso, estes Estatutos do ISCTE, que viriam a ser aprovados oficialmente em 7 de Fevereiro de 1990, constituíram um documento fundamental para o seu desenvolvimento. Os órgãos de governo e gestão neles estabelecidos seriam a Assembleia de Escola, Conselho Directivo, Conselho Científico, Conselho Pedagógico, assim como os órgãos das unidades científicas, de ensino e dos departamentos. Mas surgia uma novidade decisiva: tendo em vista assegurar uma coordenação entre os diversos órgãos, bem como a definição e implementação de uma linha estratégica, surgia a figura de um presidente do ISCTE, eleito pela Assembleia da Escola, por um período de dois anos, escolhido entre os professores de carreira da instituição, com a categoria de associado ou catedrático. Logo em 1990, Afonso de Barros, o referido sociólogo, doutorado em 1986, seria o primeiro presidente do ISCTE. A definição dos Estatutos e a existência de uma direcção mais unificada e operacional, fundada, embora, numa plena democraticidade e descentralização, confeririam uma maior capacidade de afirmação e desenvolvimento deste ISCTE, já com um passo firme na sua quase completa autonomia institucional: «Com a organização de base departamental, caminha-se para uma responsabilidade efectiva de autogoverno integrado das unidades científico-pedagógicas mais próximas da execução da missão do ISCTE. A Assembleia tenderá a ter um papel crucial na definição das linhas mestras de orientação estratégica da escola e na regulação dos aspectos normativos mais imprecisos ou ambíguos. Ao presidente, que representa e dirige a escola, cabe a assunção da liderança da
Presidente do ISCTE, Afonso de Barros com Tianquing Li, da Universidade de Macau
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representação do ISCTE, o protagonismo das sínteses equilibradoras essenciais à superação criativa de colisões e conflitos institucionais possíveis, bem como o patrocínio de iniciativas e programas estratégicos essenciais para a coesão e desenvolvimento da escola.»18�
Do ponto de vista do financiamento, haveria também uma novidade. Nesse mesmo ano dos Estatutos, a Secretaria de Estado do Ensino Superior escolheu o ISCTE para o estabelecimento de um contrato-programa, por considerar esta unidade universitária com os parâmetros adequados para levar a efeito o que então se considerava um projecto-piloto para as universidades, visando a sua maior eficácia de custos. A verdade é que as finanças do ISCTE eram um autêntico quebra-cabeças, produto das condicionantes externas e só possível de decifrar por algo que temos mesmo de atribuir à magia com que as pessoas envolvidas conseguiam assegurar a vivência do Instituto. Em 1991, só em despesas com o pessoal, mesmo sem considerar actualização de vencimentos, o ISCTE tinha 872 292 contos. A isto, somem-se os naturais custos de funcionamento (electricidade, telefones, consumos de secretaria, aquisição de livros, apoio à carreira académica ) e de capital (equipamentos de informática, mobiliário ). Ora, a dotação total do Ministério da Educação era de 859 300 contos, ou seja, nem o pessoal cobria. Vale a pena reler um estudo da Direcção-Geral do Ensino Superior, para os anos 1989 e 1990, que analisa os custos por aluno, na universidade portuguesa. O ISCTE exibe, claramente, os mais baixos custos de todos os estabelecimentos: 204,2 contos por aluno, em 1989, e 246,9 em 1990. A universidade com custos mais baixos, logo acima do ISCTE, era a de Coimbra que, mesmo assim, teve valores de 336,2, por aluno, para 1989, e 391 para 1990. Escolas havia, como a de Medicina Dentária de Lisboa, em que os custos ascendiam a 1871,9 (1989) e 1989,5 (1990)19. Nacionalmente, as médias da totalidade dos estabelecimentos universitários eram de 408,4 contos, por aluno, para 1989, e 463,5 para 1990, isto é, o dobro das do ISCTE. Esclarecedor? Não nos espantemos, por mero exemplo, com as dificuldades que o diligente estudante Filipe Vieira enfrentou quando se dirigiu ao Conselho Directivo, em 18 de Abril de 1991, solicitando um dinheirinho (inexistente) para aquisição de um estandarte do ISCTE para a sessão da Queima das Fitas desse ano… 18 «Plano de actividades do Conselho Directivo. O ISCTE no presente e no futuro», ISCTE, 1991, p. 2. 19 Vide Direcção-Geral do Ensino Superior, «Despesas do orçamento de funcionamento do ensino universitário público: comparação entre 1989 e 1990», Lisboa, sem data.
Membro da Associação de Estudantes do ISCTE | Carta de agradecimento da AEISCTE enviada ao presidente do Conselho Directivo, José Manuel Prostes da Fonseca (1991)
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Contrariedades à parte, a verdade é que esta segunda década se encerraria com um ISCTE muito mais bem posicionado e absolutamente seguro das suas capacidades e potencialidades. O documento «O ISCTE no presente e no futuro», elaborado, em 1991, pelos órgãos de direcção do Instituto, delineava 10 pontos estratégicos para os tempos e os esforços que aí viriam: «1. Apoiar as iniciativas emanadas dos órgãos competentes, visando a consolidação da inserção do ISCTE no sistema universitário; 2. Contribuir, no âmbito das suas responsabilidades, para a implementação total da estruturação matricial e descentralizada do ISCTE, sem perda da referência colectiva ou diminuição da identidade da escola; 3. Desenvolver todas as iniciativas para assegurar as condições de viabilização dos projectos existentes em matéria de expansão das actuais instalações; 4. Assegurar as condições de desenvolvimento do projecto de informatização dos serviços e de obtenção de apoios para dotar o ISCTE de uma adequada infra-estrutura informática; 5. Incentivar a definição de uma política global de valorização e gestão dos recursos humanos, visando a obtenção de um nível superior de rentabilidade para a escola, a universidade e a comunidade; 6. Manter e, se possível, alargar a política de modernização dos meios de trabalho, assegurando uma efectiva melhoria das condições gerais de vida no ISCTE; 7. Pesquisar soluções concretas tendentes à alteração positiva da situação orçamental, com particular incidência em matéria de autofinanciamento com obtenção de receitas próprias efectivas; 8. Empenhar-se nas acções específicas orientadas para a agregação e dinamização das diferentes vertentes do universo ISCTE, em particular no tocante aos antigos alunos; 9. Favorecer as acções promovidas pelas instâncias adequadas e vocacionadas para o estabelecimento das linhas e condições globais de fomento e apoio à investigação científica; 10. Criar, de acordo com os meios disponíveis, as condições indispensáveis à modernização e melhoria qualitativa dos serviços do Instituto.»20
20 «Plano de actividades do Conselho Directivo. O ISCTE no presente e no futuro», ISCTE, 1991, pp. 12-14.
Publicação do ISCTE
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«Nos anos decorridos desde a sua criação, ainda como Instituto de Estudos Sociais, há aspectos essenciais que revelam a possível identidade da instituição, não em termos de intenções e desejos, mas em termos de ex-post, de factos ocorridos. Destacamos os seguintes: Em diferentes contextos sociopolíticos do país, o Instituto manifestou sempre capacidade inovadora. Mesmo nos anos 60, inovou-se em ensino e investigação, em matérias tais como direito e economia do trabalho, política social, economia portuguesa, etc. Por outro lado, o Instituto encontrou-se sempre, ou quase sempre, numa situação de relativa marginalidade ou precariedade institucional, o que acarretou consequências negativas para o desenvolvimento da instituição. Mas daí resultaram também consequências positivas, talvez superiores às outras, em termos de autonomia pedagógica e científica e também administrativa. O ISCTE fez-se fazendo-se e não sendo feito por alguma entidade exterior. Não é talvez excessivo reconhecer que a história do ISCTE é um bom exemplo de self-reliance… Por causa dessa marginalidade institucional e até recentemente, a escola nunca dispôs internamente dum forte poder central radicado nas hierarquias formais universitárias. Ainda há poucos anos, o número de professores com doutoramento reconhecido correspondia ao mínimo exigido por lei para fazer funcionar um Conselho Científico. Se esta situação teve inconvenientes certa desorganização pedagógica que serviu de pretexto, a certa altura, para ataques à instituição teve também vantagens: nem todas as sementes finalmente floriram, mas certamente que onde havia talento, ele pôde florescer. Chamamos a este atributo, a informalidade democrática do ISCTE. Em último lugar, convirá lembrar que o carácter multidisciplinar do Instituto nunca permitiu que um corpo científico profissional especializado dominasse os outros. Não houve, assim, hegemonia de juristas, economistas, engenheiros ou sociólogos, mas um certo compromisso positivo, entre eles., ajustado à conjuntura da escola. Este facto foi também favorável, a nosso ver, ao desenvolvimento do ISCTE, embora, com o tempo, fosse notória a tendência para acentuar barreiras entre especializações, em lugar do desenvolvimento de espaços interdisciplinares ou mesmo transdisciplinares. Última aula do Professor Mário Murteira (2003)
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As quatro características apontadas – capacidade inovadora, autonomia, informalidade democrática (em oposição à formalidade hierárquica), compromisso interdisciplinar – poderão manter-se no futuro? Será desejável que isso aconteça? Destes quatro atributos, os dois últimos parecem ameaçados ou mesmo condenados. Em parte, por força das coisas, em parte, por afirmação das hierarquias universitárias em ascensão no ISCTE, com os respectivos interesses de grupo, em boa medida legítimos e respeitáveis. No entanto, numa sociedade fortemente competitiva em vários domínios, como é actualmente Portugal, designadamente nas carreiras do ensino e da investigação, seria lamentável que o ISCTE perdesse as suas vantagens comparativas em larga medida associadas àqueles atributos. Parece-nos, assim, que um projecto para o desenvolvimento do ISCTE a médio-longo prazos deve salvaguardar os seguintes valores ou princípios: • Autonomia universitária: é muito duvidoso que a plena integração do ISCTE numa universidade salvaguardasse a sua identidade própria. O ideal seria a autonomia específica como instituto universitário específica. • Capacidade inovadora: o envolvimento criativo do ISCTE no meio circundante é objectivo nuclear do seu desenvolvimento. Este princípio deve ser tido em conta a todos os níveis: licenciatura, pós-graduação e investigação. • Informalidade-democraticidade: é evidente que a crescente dimensão e diversificação do ISCTE implicam necessariamente maior rigidez, estruturação e hierarquização nas relações internas. Mas há muitas maneiras de minimizar os inconvenientes disso, se houver vontade de fazê-lo, designadamente, na definição das regras internas de departamentalização e interdepartamentalização. • Interdisciplinaridade: a grande vantagem comparativa do ISCTE no futuro é provavelmente o potencial de sinergias a explorar entre diferentes áreas de conhecimento (por exemplo: Psicossociologia/Gestão/Economia; Gestão/Sociologia; Gestão/ Tecnologia/Engenharia, etc.). Este potencial pode e deve ser explorado designadamente ao nível de programas de investigação e do ensino de pós-graduação (mestrados). É evidente que estes quatro princípios evocados só farão sentido se praticados em conjunto.» Mário Murteira (1990), «O ISCTE nos anos 90», documento dactilografado
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Artur Rocha, na antiga reprografia do ISCTE | Publicações várias
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Um imenso estaleiro de projectos, de construção, de actividades e de esperança
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Em obras O final desta sua segunda década colocava o ISCTE num caminho de autonomia, com um dinamismo e um crescimento imparáveis, o que significa, espacialmente, que o quadrado original concebido por Hestnes Ferreira rebentava pelas costuras. Por isso, não nos espantaremos que os anos finais desta década vissem um imenso estaleiro de obras, que iriam sendo acabadas posteriormente. No pátio do quadrado, começou-se, em 1987, um enorme Pavilhão-Esplanada, que localizaria os serviços de refeições para a imensa população do Instituto, «um projecto aprovado e enaltecido pela Direcção-Geral do Ensino Superior, dado o seu elevado nível técnico»�.21 Dois anos depois, iniciava-se uma Ala Autónoma, situada a nascente do edifício original, essencial para novas salas de aulas, gabinetes de docentes, departamentos e centros. O INDEG, como referimos, graças ao apoio do PEDIP e dos sócios fundadores, começava, em 1991, a construção do seu edifício, situado na sequência da Ala Autónoma, em terrenos da Universidade de Lisboa que foi possível disponibilizar. Tudo isto com o traço de Hestnes Ferreira, decididamente o grande arquitecto deste universo para que o ISCTE caminhava. A estas obras, já concluídas, voltaremos na próxima década.
21 «Plano de actividades do Conselho Directivo. O ISCTE no presente e no futuro», ISCTE, 1991, p. 4.
Obras do Pavilhão-Esplanada (1987)
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1982 • Profunda crise económica em Portugal. • Primeira greve geral após 25 de Abril de 74. • Felipe González, primeiro-ministro de Espanha, e Helmut Khol, chanceler da Alemanha Federal.
1983 • Mário Soares, primeiro-ministro de um Governo de bloco central.
• O computador é «Homem do Ano» para a revista Time. E o CD é comercializado pela primeira vez.
Cronologia 1982-1991 Portugal e o Mundo ISCTE
• Os discos compactos (CDs) são comercializados pela primeira vez. • Israel invade o Líbano. • Início do conflito nas ilhas Falkland entre
1982 • O GIS transformarse-ia no Instituto de Ciências Sociais (ICS), enquadrado na Universidade de Lisboa. • Decreto n.º 121/82, de 29 de Outubro, cria a licenciatura em Antropologia Social. • Mário Murteira eleito Presidente do Conselho Científico.
• Nova intervenção do FMI em Portugal.
a Argentina e o Reino Unido. A guerra durou 74 dias e os ingleses mantiveram o controlo das ilhas. • Lançado álbum mais vendido de todos os tempos, Thriller, de Michael Jackson.
• Choque petrolífero mundial. • Luc Montagnier isola o vírus da SIDA. • Fundado o Exército Zapatista de Libertação Nacional no México. • EUA invadem Granada, nas Caraíbas.
1983 • Criação da AIESCTE Associação de Antigos Alunos do IES (Instituto de Estudos Sociais) e do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa). • Viabilização da concessão do grau de doutor através da Universidade Técnica de Lisboa (Decreto-Lei n.º 167/83, de 29 de Abril). • Carlos Caiano Pereira eleito presidente do Conselho Directivo, Mário Murteira, presidente do Conselho Científico e Mário Campos Pinto, presidente do Conselho Pedagógico. • Início da revista Ler História.
1984 • Carlos Lopes vence a Maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. • Acções terroristas do grupo FP-25 de Abril e detenção dos seus membros. • Reino Unido e Republica Popular da China assinam acordo em Pequim sobre a transferência de soberania de Hong-Kong para as autoridades chinesas a partir de 1 de Julho de 1997. • Indira Ghandi, primeira-ministra da Índia, é assassinada.
1984 • José Manuel Prostes da Fonseca eleito presidente do Conselho Directivo.
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1985 • Aníbal Cavaco Silva, primeiro ministro de Portugal até 1995. • Mickhail Gorbachev, secretário-geral do Partido Comunista Soviético.
1986 • Mário Soares eleito Presidente da República de Portugal. • Portugal entra na Comunidade Económica Europeia.
• Lançada a primeira versão do Windows pela Microsoft.
• Morre Samora Machel, num acidente de avião.
• A embarcação Rainbow Warrior pertencente à Greenpeace é afundada na Nova Zelândia pelos serviços secretos franceses, em consequência da sua presença nos protestos contra os testes nucleares franceses nas ilhas do Pacífico.
• São transportadas para o espaço as primeiras estruturas da estação espacial russa MIR.
1985 • João Ferreira de Almeida eleito presidente do Conselho Científico.
1986 • Início da revista Sociologia Problemas e Práticas.
• Constituição do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES). • Início da Revista de Gestão.
• O vaivém espacial Challenger da NASA, na sua 10.ª missão, explode ao levantar voo, matando todos os seus ocupantes.
• Constituição do Centro de Estudos de Antropologia Social (CEAS). • III Exposição de Microinformática EXPOMICRO/86. • III Conferência Nacional do Ensino Superior realizada no ISCTE. • António Silva Leal eleito presidente do Conselho Pedagógico.
1987 • Primeiro governo de maioria absoluta, presidido por Aníbal Cavaco Silva. • Acto Único Europeu como processo para um Mercado Europeu Único.
• Uma imensa nuvem radioactiva é libertada em consequência da explosão de um reactor na central de Chernobyl, no Norte da Ucrânia.
• Portugal e a República Popular da China concordam em passar Macau para a soberania chinesa, no dia 20 de Dezembro de 1999, tornandose esta numa Região Administrativa Especial • O medicamento Prozac é apresentado nos EUA.
1987 • Ciclo de conferências «Importância das PME no Desenvolvimento Económico, Social e Cultural do País». • VI Jornadas de Comunicação e Cultura do ISCTE. • Jornadas «A política social face às questões de emprego: Que alternativas?» • Associação de Estudantes do ISCTE promove o colóquio «Novo Código das Sociedades».
• Intifada no conflito Israelo-Palestiniano. • Segunda-feira negra em várias bolsas de valores mundiais, com registo de quebras bastante avultadas. • Começa a construção do Eurotunel, que atravessa o Canal da Mancha, ligando a França à Inglaterra.
126 | até onde nos levar o saber
1988 • Um incêndio destrói parte do histórico quarteirão do Chiado, no centro de Lisboa.
1989 • Aprovada integração do escudo como European Currency Unit, Unidade de Conta Europeia.
• Rosa Mota vence a Maratona nos Jogos Olímpicos de Seul.
• Fundo Europeu de Desenvolvimento Económico Regional concede a Portugal seis milhões de contos para infra-estruturas.
• Perestroika na União Soviética.
• Derrube do Muro de Berlim.
• O filme O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci, ganha nove Óscares da Academia de Hollywood.
• Irão corta relações diplomáticas com o Reino Unido depois da publicação de Versos Satânicos, de Salman Rushdie.
• União Soviética inicia a retirada de tropas do Afeganistão, após oito anos de conflitos. • Termina o conflito Irão-Iraque.
1988 • Afonso de Barros eleito presidente do Conselho Científico e José Manuel Vaz, presidente do Conselho Pedagógico. • Criação dos mestrados em Sociologia do Trabalho e Sociologia Urbana e Rural. • Lei da Autonomia das Universidades, n.º 108/88, de 24 de Setembro. • Constitui-se o Instituto para o Desenvolvimento da Gestão Empresarial do ISCTE (INDEG).
• O petroleiro Exxon Valdez lança toneladas de crude no mar depois de embater num recife, no Golfo do Alasca.
1989 • Rogério Roque Amaro eleito presidente do Conselho Pedagógico. • Criação da licenciatura em Informática e Gestão de Empresas. • Constituição do Centro de Intervenção Social (CIS). • Constituição do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica (DINAMIA). • Constituição da Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de Informática (ADETTI).
1990 • Assembleia da República portuguesa aprova a Lei-Quadro das Privatizações. • Na África do Sul, Nelson Mandela é libertado após 27 anos de prisão. • Tratado de unificação e reunificação da Alemanha. • Protesto de estudantes na Praça de Tiananmen, na China. • Comercialização da consola de jogos Game Boy, da Nintendo.
• Mikhail Gorbachev, Prémio Nobel da Paz. • Abre o primeiro McDonald’s em Moscovo.
• Tim Berners-Lee faz a primeira proposta da World Wide Web.
• O vaivém Discovery coloca em órbita terrestre o telescópio Hubble.
• Primeiro transplante de fígado.
• Iraque invade o Koweit.
1990 • Promulgação dos Estatutos do ISCTE. • Consagração do ISCTE como Instituto Universitário não Integrado. • Concessão do grau de doutor • Afonso de Barros eleito presidente do ISCTE, Jorge Correia Jesuíno, presidente do Conselho Científico e Acácio Magro, presidente do Conselho Pedagógico.
127 | Crescer 1982-1991
1991 • Inauguração do último troço da autoestrada Lisboa-Porto. • Tropas indonésias fazem um massacre no cemitério de Santa Cruz, em Timor. • Em Maastricht, na Holanda, os governos da CEE concluem um novo tratado comunitário. • Início da Guerra do Golfo, liderada pelos EUA. • Boris Yeltsin, novo Presidente da Rússia. O Pacto de Varsóvia é dissolvido e a União Soviética entra em desagregação.
1991 • Constituição do Centro de Estudos Territoriais (CET).
• O Pacto de Varsóvia é oficialmente dissolvido. União Soviética entra em colapso, com várias regiões a declararem a sua independência. • Assinatura do tratado START entre EUA e a URSS • O vaivém Discovery coloca em órbita um satélite, que inicia a medição do buraco do ozono na Terra.
128 | at茅 onde nos levar o saber
Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
129 | Fortalecer 1992-2001
ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa
1992-2001
Fortalecer
130 | até onde nos levar o saber
Fazer omeletas sem ovos, teria de ser a única opção deste ISCTE e, apesar de tudo, as omeletas fizeram-se... e ficaram saborosas
131 | Fortalecer 1992-2001
Um caminho muito próprio Estava bem definida a estratégia do ISCTE. Malogradas todas as tentativas de integração numa universidade, o destino desta instituição era ser ela própria uma universidade, ainda que com as suas especificidades. Cabia-lhe, assim, alargar o seu corpo, estruturá-lo e conquistar definitivamente o reconhecimento oficial daquela condição. Foi nisto que consistiu o caminho do ISCTE nesta sua terceira década. Já referimos o passo positivo que foi a aprovação, em 1990, dos Estatutos do Instituto e o que eles representaram de progresso da sua condição institucional, nomeadamente pela constituição da figura de um presidente. Contudo, as competências deste eram, ainda, demasiado coordenativas e pouco executivas. Grande parte das responsabilidades da gestão efectiva cabia ao Conselho Directivo, sem uma dependência imediata do presidente. Paquete de Oliveira, presidente daquele órgão, caracteriza, assim, a situação existente: «O presidente era, como nós dizíamos, a “Rainha de Inglaterra”, pois o poder executivo continuava no Conselho Directivo… O presidente tinha menos poderes do que o presidente do Conselho Directivo. Foi um período difícil.»1
Leia-se isto sem qualquer desmerecimento, como é evidente, quer pelos cargos, quer pelas pessoas que os exerciam. Em 1992, após Afonso de Barros, foi eleito presidente do ISCTE João Ferreira de Almeida, e caber-lhe-ia um exercício longo que só terminou em 2005, com a natureza do seu cargo substancialmente reforçada. De resto, foi sobre ele que pesou a principal responsabilidade da complexa e persistente implementação daquelas grandes linhas 1 Oliveira, J. M. P. (1994), Entrevista, in Santos, C. O., Oliveira, L. T., & Branco, J. F. (org.), ISCTE 35 Anos, Nascido para Inovar, Lisboa, ISCTE, p. 84.
Festa de aniversário do ISCTE | Medalha comemorativa (1992)
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estratégicas do ISCTE, as quais se consubstanciavam em crescer e fortalecer-se. Por um lado, vê-lo-emos melhor, no capítulo seguinte, firmar o Instituto como uma instituição universitária verdadeiramente autónoma, implicava um alargado plano de crescimento da oferta educativa, em novas áreas, ainda que entroncadas nas três que já definiam a sua tradição: a Gestão, as Ciências Sociais e as Tecnologias. Para tal concretizar, a presente ampliação de instalações e mesmo a sua prossecução futura, eram essenciais. Contudo, gerir uma multitude de obras, como se calcula, não é nada fácil. O crescimento de oferta e de infra-estruturas obrigava, necessaria-
Quadro 1 Dados comparativos funcionários/alunos
aconteceu, eram inevitavelmente escassos nesta casa. Veja-se o quadro 1. Em
Pessoal técnico administrativo e auxiliar Licenciaturas
1993, para menos cursos e menos alunos, escolas como o Instituto Superior de
ISCTE
63
4 3317
6 214
ISEG
207
3 2978
6 146
FE Nova
80
1
3
mente, a uma mobilização de meios materiais e humanos, que, como sempre
Economia e Gestão (a designação actual do ISE) ou a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa possuíam consideravelmente mais funcionários.
Fonte DGES (1993)
Fazer omeletas sem ovos teria de ser a única opção deste ISCTE e, apesar de tudo, as omeletas fizeram-se. Os edifícios concluíram-se, foram postos a funcionar, com mais cursos, mais professores, mais funcionários e, acima de tudo, mais alunos. Em 1995, é reconhecido2, operou-se uma tendência de melhoria da política educativa do país, no sentido da sua expansão e qualificação, graças à vontade governamental e aos apoios europeus do Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal (PRODEP). A Lei n.º 113/97, de 16 de Setembro, debruçou-se sobre o financiamento do ensino superior e levou à solicitação, às escolas, de planos estratégicos, incluindo projecções quantitativas, tendo em vista o estabelecimento de contratos de desenvolvimento. O ISCTE iria, evidentemente, aproveitar esse ímpeto. Em 1994, o seu presidente já tinha envidado a abertura do debate sobre uma reformulação dos Estatutos de 1990. Os problemas residiam, sobretudo, nestes pontos: «• Inexistência de uma direcção central – uma Reitoria – com suficientes poderes de orientação estratégica do conjunto da instituição, devidamente apoiada pelos órgãos de staff que é normal existirem; 2 Sérgio Machado dos Santos, como presidente do CRUP, o afirmou: «O Conselho de Reitores vinha, desde há muito, a procurar sensibilizar o poder político para um conjunto de questões essenciais para o desenvolvimento do ensino superior. As sucessivas mudanças de equipa ministerial e a forma menos positiva como, durante alguns períodos, as universidades foram encaradas pelo Governo, dificultaram muito esse trabalho. O momento de viragem deu-se em fins de 1995, com a mudança de Governo.» In Fundação das Universidades Portuguesas, «Diversificação, Mobilidade e Organização Curricular», Documenta, 3 (Fevereiro), 1988, p. 9.
Cursos Alunos
1004
Mestrados Alunos
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• Necessidade de fazer transitar da Assembleia para o Senado – mais pequeno e mais susceptível de produzir deliberações elaboradas e racionais – o lugar de deliberação, por excelência, das grandes opções políticas da instituição; • Necessidade de uma maior profissionalização e eficácia dos órgãos de específica competência administrativa e de um administrador; • Necessidade de reestruturar as unidades orgânicas descentralizadas, processo muito complexo que pôde chegar a um feliz consenso interno, através de adequada articulação entre departamentos científicos, unidades de ensino e a possibilidade de constituição de escolas; • Inadiável necessidade de criar serviços próprios de acção social escolar.»3
Neste último ponto, o absurdo era gritante: mais de 20 anos após a sua criação, o ISCTE ainda não possuía serviços sociais próprios, dependendo dos da UTL, apesar de legislação como o Decreto-Lei n.º 129/93, de 22 de Abril, estipular que a acção social escolar deveria processar-se no âmbito das respectivas instituições de ensino, tendo em vista «melhorar as possibilidades de sucesso escolar mediante a prestação de serviços e a concessão de apoios aos estudantes, tais como bolsas de estudo, alimentação em cantinas e bares, alojamento, serviços de saúde, actividades desportivas, empréstimos, reprografia, livros e material escolar». Mas para este e para todos os outros pontos, o ISCTE teria de fazer um vasto processo de apetrechamento e reorganização. E fê-lo, nomeadamente, com um trabalho de ampla reflexão interventiva e de produção de documentos de compromisso efectivo: as «Linhas gerais de orientação da vida universitária», as «Orientações da política científica de ensino», as «Linhas de política de investigação científica» e as «Directrizes para uma política de docentes», entre outros, que se conjugariam num «Plano de desenvolvimento a 5 anos», elaborado em 1999. Entretanto, a sua posição na academia teve uma ligeira alteração. Não ainda a sua admissão plena e formal, mas, em qualquer caso, um sinal positivo. Em 1993, foi criada a Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), tendo por missão principal o processo de avaliação do ensino superior, em articulação com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e com o Governo. Ainda que não tivesse presença no CRUP, o ISCTE entrou naquela Fundação, o que foi um sinal do seu reconhecimento pelas outras instituições. Nesta sua terceira década, o que é importante é que o ISCTE prosseguia um caminho muito próprio que dependia, na sua concretização, quase exclusivamente de si. 3 «Plano de desenvolvimento a 5 anos», ISCTE, 1999, p. 5.
Documentos estratégicos do ISCTE (1999)
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5270 alunos, acompanhados por 350 docentes. Tudo assegurado por um orçamento que ultrapassava os 3 milhþes e meio de contos
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Mais cursos No sentido do seu fortalecimento como universidade, sem abandonar as suas três áreas fundamentais (Ciências Sociais, Ciências Empresariais e Ciências Tecnológicas), o ISCTE foi-se progressivamente expandindo, de acordo com as suas «Orientações da política científica de ensino»: «a) Completamento da constelação das Ciências Sociais em domínios clássicos do saber, como a Ciência Política, as Ciências da Educação e os Estudos Demográficos ou, mais longinquamente, a Geografia Humana e as Relações Internacionais; b) Na área das Ciências de Gestão e Empresariais, desdobramentos consistentes de certas especializações, como, por exemplo, os Recursos Humanos, as Finanças, Sistemas de Controlo Contabilístico e Financeiro, Auditoria de Gestão ou Marketing; c) Em zonas de interface entre as grandes áreas anteriores, constituição de novos domínios, tais como os das Ciências do Desenvolvimento e da área interdisciplinar dos Estudos Africanos; da Administração Pública; das Ciências do Planeamento; das Ciências do Ambiente; das Ciências e Tecnologias da Informação; da Gestão da Tecnologia, Produção e Operações; da Tecnologia das Telecomunicações; das Tecnologias de Apoio à Decisão (áreas de Análise de Dados, Gestão de Sistemas de Informação e Matemáticas Aplicadas); das Ciências da Comunicação e, finalmente, de áreas científicas de Organização, Concepção e Projecto (incluindo a Arquitectura, o Urbanismo e os Transportes).»
O alvo deste alargamento curricular era o do reforço da capacidade dos alunos para a sua inserção activa na sociedade portuguesa, em domínios tão decisivos como
Entrada do edifício inicial do ISCTE | T-shirt do ISCTE
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a gestão de organizações públicas ou privadas e de outros processos de gestão social; os processos de desenvolvimento económico e social e a sua tradução empresarial; a mudança social e os processos políticos; o desenvolvimento de recursos humanos; a cidade, o espaço e a gestão dos recursos e processos urbanos; o desenvolvimento sustentável e o ambiente; o ordenamento do território, regional e local; a valorização do património cultural; a formação educacional, profissional e contínua; a comunicação e os processos socioculturais; a integração e diferenciação internacionais; a cooperação internacional para o desenvolvimento; a aplicação e desenvolvimento de novas tecnologias; uma perspectiva, enfim, moderna, cívica e desenvolvimentista da sociedade portuguesa e do contributo dos portugueses no mundo. Deste modo, as novas licenciaturas, mestrados e doutoramentos sucederam-se. Nas Ciências Sociais, nasceram as licenciaturas em Sociologia e Planeamento (1993), Psicologia Social e das Organizações (1995), História Moderna e Contemporânea (1996), e os mestrados em Psicologia Social e Organizacional (1995) e História Social Contemporânea (1996). A Economia regressou, em 1994, como licenciatura na área de Economia e Políticas de Desenvolvimento. A Gestão alargou-se para as licenciaturas de Gestão e Engenharia Industrial (1993), Gestão de Recursos Humanos (1996), Finanças (1998) e Marketing (2000). As Ciências Tecnológicas expandiram-se à licenciatura de Engenharia de Telecomunicações e Informática (1998). Por deliberação da Assembleia de Escola de 28 de Maio de 1998, foi criada a licenciatura em Arquitectura, numa abordagem distinta das tradicionais e onde as Ciências da Construção se juntavam às Ciências Sociais, Economia e Gestão ou às Tecnologias de Informação. No final do milénio, o ISCTE dispunha de 12 áreas científicas, 14 cursos de licenciatura, vinte e oito cursos de mestrado e oito áreas de doutoramento, onde se envolvia um total de 5270 alunos, acompanhados por 350 docentes. Tudo assegurado por um orçamento que ultrapassava os 3,5 milhões de contos.
Páginas de Livro de Curso (1992) | Comemorações dos 25 anos do ISCTE com concerto de Maria Viana
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«Um vasto conjunto de incertezas afecta a universidade portuguesa e a sociedade que a envolve. Mesmo no plano mais directo do enquadramento jurídico da universidade, estão ainda em discussão, por exemplo, as alterações à Lei de Autonomia e ao Estatuto da Carreira Docente, ao mesmo tempo que se manifestam indecisões e controvérsias sobre o relacionamento e a diferenciação entre os diversos tipos de ensino superior, bem como sobre as modalidades do seu funcionamento. Existem, por outro lado, certas tendências pesadas que dificilmente serão postas em causa. Entre elas, está certamente a da continuidade da pressão sobre a procura no ensino superior. Muito embora do lugar do mercado de trabalho, o aumento virtual da procura de diplomados não seja previsivelmente uniforme, e já hoje essa procura se revele mesmo inferior à oferta em alguns sectores, certamente continuará a crescer o volume dos que pretendem entrar para o ensino superior. Projecções recentes apontam, para o ano 2004, 11-12 por cento de diplomados na população activa, a comparar com os poucos mais de 5 por cento do princípio da década de 90. A regulação da oferta de cursos no país tem sido cega, sem real avaliação de necessidades actuais e muito menos futuras, e por isso mesmo sem fundamentação de opções e indicações, quer por parte das instituições de ensino superior, quer do Estado. O ISCTE deverá aperfeiçoar instrumentos de observação sistemática que lhe permitam pilotar com alguma segurança a oferta que propõe, sobretudo em termos de licenciaturas. Aqui, ao contrário do que se pode admitir em algumas pós-graduações, o experimentalismo é sempre inaceitável.» João Ferreira de Almeida, «Linhas gerais de orientação da vida universitária», ISCTE, 1997
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Arquitectura nunca é só arquitectura. O crescendo espacial do ISCTE ia traduzindo muito bem a sua índole
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Mais espaços O conjunto das obras que transitou da década anterior era enorme. Uma a uma se concluiriam, acompanhando o crescimento do Instituto. No velho pátio do edifício original nasceu, em 1994, o Pavilhão-Esplanada, três quadrados sucessivos, de aço, betão e vidro, em diagonal, levemente desnivelados, que formavam um palco sob e sobre o qual alunos e trabalhadores do ISCTE comeriam e conviveriam. Ainda naquele ano, abriu-se a Cave da Ala Sul, destinada principalmente ao departamento de Informática, por entre pilares do edifício original, desafiando estruturas e contornos. Mais desafios: um túnel, a partir do quadrado de 1978, dava acesso à nova Ala Autónoma, concluída em 1995. Aqui, a forma desafiava a irregularidade, em torno de um espaço livre de base triangular. «O edifício como que emerge do solo, graduando as cérceas com a envolvente.»4 A sua entrada principal, sob um pórtico triangular, vira as costas ao passado e conflui com o que há-de vir, o edifício do INDEG. Passada ela, uma longa rampa vai serpenteando os andares em pés direitos imensos, por contraste com percursos estreitos que cruzam o conjunto. Para não esquecer, o constante betão branco que lhe faz as paredes… Hestnes Ferreira, não haja dúvida, impressionou, criando uma das mais intrigantes peças deste complexo em que o ISCTE começava a ficar. O Edifício do INDEG-ISCTE, entretanto, estava concluido em 1992. São dois prismas unidos por um corpo de base cilíndrica que dá lugar a uma entrada que se espraia 4 Ferreira, R. H. (2006), Arquitectura e Universidade, ISCTE, Lisboa, ISCTE, p. 80.
Pilares na cave do edifício inicial do ISCTE
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Projecto e imagem do PavilhĂŁo-Esplanada
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Projecto e entrada principal da Ala Aut贸noma
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Legenda a fazer
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Fachada e interior da Ala Aut贸noma
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Fachadada Ala Autónoma e do edifício do INDEG
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Projecto e interior do edifĂcio do INDEG
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por uma escada de acesso circular. As paredes de betão branco, desejadas inicialmente por Hestnes, acabariam por ser de alvenaria revestida com mosaico vidrado. Triângulos invertidos abrem a perspectiva do olhar exterior e vão coando a luz natural. Ao topo, chega-se por escadaria rectilínea, para darmos com o restaurante do edifício, terminado posteriormente, um terraço onde o vidro convida a luz e a visibilidade da cidade. O INDEG, sonhado por Gomes Cardoso e a ser vivido pelos milhares de alunos que nele se formariam, ficou bem servido. Arquitectura nunca é só arquitectura. O crescendo espacial do ISCTE ia traduzindo muito bem a sua índole: desafio, originalidade, diversidade… Evitava-se o óbvio, o normal, o repetitivo. O reconhecimento chegaria, aliás, com a atribuição de uma menção honrosa do Prémio Valmor, em 1993, ao edifício do INDEG. Desta arquitectura, como diria José Forjaz, «conta cada espaço e cada forma, conta a alternância e o pulsar das escalas e das proporções, conta a lógica de cada elemento estrutural e a simplicidade da sua expressão, conta a modéstia do pormenor, tão sábio que só os olhos atentos e educados lhe percebem a ciência e a invenção; conta a liberdade de compor segundo a evolução do programa sem perder a integridade do todo».�5 Ora, não é este, também, o sentido de uma boa atitude científica e académica, de uma boa escola que só queira abraçar o saber e a realidade? Pelo meio, em 1999, a par do desenvolvimento do campus no topo da Avenida das Forças Armadas, ficaria esboçado um plano de implantação do ISCTE num terreno, cedido pela Câmara Municipal de Sintra, nas Mercês, mesmo ao lado da tradicional feira. Nunca se concretizaria até hoje, mas nunca se sabe...
5 Forjaz, J. (2006), «Do ISCTE a Fontenay, memórias de viagem», in Ferreira, R. H., Arquitectura e Universidade, ISCTE, Lisboa, ISCTE, p. 123.
Maquetas dos vários edifícios do ISCTE | Arquitecto Raúl Hestnes Ferreira
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«A circulação contínua, os espaços de encontro, as diferentes escalas, os atravessamentos e múltiplas ligações são características que aqui nos transmitem essa inesperada e permanente sensação: mais do que uma escola, estamos numa cidade aberta. Cidade aberta e participada para cuja construção Raúl Hestnes se encontra permanentemente disponível.» Helena Roseta, in Ferreira, R. H. (2006), Arquitectura e Universidade, ISCTE, Lisboa, ISCTE, p. 20
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Dar expressão às diferentes sensibilidades temáticas e opções teóricas, optimizar a investigação científica nos mais diversos campos
Mais iniciativas na investigação As revistas editadas no ISCTE mantinham o seu dinamismo: as anteriores e as novas. A Revista de Gestão passou, em 1992, a chamar-se Revista Portuguesa de Gestão e a ela se juntou, nesta área, uma outra, em 1996, a Economia Global e Gestão. Velho sonho do Centro de Estudos de Antropologia Social, nasceu, em 1997, a revista Etnográfica, para «dar expressão às diferentes sensibilidades temáticas e opções teóricas que percorrem a produção antropológica portuguesa actual» e «abrir espaços de diálogo pontuais com alguma produção internacional especializada».6 O Centro de Estudos Territoriais - a que se juntaria, posteriormente, o DINAMIA, Centro de Estudos sobre Mudança Socioeconómica – lançou, em 2000, a Cidades. Comunidades e Território, procurando aprofundar o conhecimento sobre as problemáticas e políticas urbanas com objectivos de intervenção sobre os processos de transformação das cidades, das comunidades e dos territórios. No campo das suas estruturas de investigação e acompanhando a reformulação governamental da política para a ciência, o ISCTE criou, em 1994-95, duas grandes unidades agregadoras de centros de investigação existentes e mesmo de entidades de formação, consultoria e transferência de conhecimento. A UNIDE, Unidade de Investigação em Desenvolvimento Empresarial, que integrou toda a investigação nas Ciências da Gestão, manter-se-ia, até hoje, como um importante centro de investigação. No campo das diversas Ciências Sociais, constituiu-se a UNICS, Unidade de Investigação em Ciências Sociais, com o objectivo de optimizar a investigação científica 6 «Editorial», Etnográfica, 1 (1), 1997, p. 5.
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realizada naquele vasto campo pelos departamentos e centros de Investigação associados ao ISCTE, sublinhando formas de coordenação e articulação entre as actividades das diversas unidades, assim como a difusão do conhecimento produzido. Contudo, o efeito agregador que a UNIDE representou para as áreas da Gestão, não teve o mesmo êxito com a UNICS nas Ciências Sociais, acabando esta aposta federadora por perder peso e os centros das várias áreas científicas por fazerem o seu caminho de novo autónomo. Na transferência de conhecimento, esta época conheceu também, no ISCTE, um intenso dinamismo, resultante de iniciativas de docentes, que conduziu à criação de uma pluralidade de entidades como o CEMAF, Centro de Investigação em Mercados e Activos Financeiros, o GIEM, Grupo de Investigação e Formação em Marketing, o OVERGEST, Centro de Especialização em Gestão e Finanças, o GIESTA, Grupo de Investigação Científica e Análise de Dados, o IN-OUT, Instituto de Estudos de Logística e Gestão Global, assim como o GEST-IN, Centro de Estudos e Projectos de Desenvolvimento e Gestão.
Revistas publicadas no ISCTE
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Tornava-se obrigatório que qualquer universidade assumisse a sua dimensão internacional e o ISCTE não recuaria perante este dever
Pelo mundo Em 1987, nasceu um daqueles grandes exemplos da «Europa boa», como diria Manuel Marín, esse continente que ainda há umas décadas andava a matar-se entre si e, hoje, se encontra numa crise económica e social sem fim à vista. Um Conselho de Ministros da Educação da União Europeia criou o European Community Action Scheme for the Mobility of University Students, com o acrónimo Erasmus, homenagem ao sábio de Roterdão, visando a mobilidade de estudantes e professores universitários dentro dos Estados membros, assim como na Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça e Turquia. Como comentaria o próprio Erasmo, nos seus Adágios, isto era autêntica viva vox7, a voz viva, colhida directamente dos falantes, na sua vivência e expressividade, tirando frutos da viagem para fora de si própria, do contacto interactivo, ilustrador da complexidade e da própria mobilidade dos seres e das coisas. Seria isto que o Erasmus queria proporcionar aos milhões de universitários envolvidos. Novo passo para uma política europeia da educação dar-se-ia, em 1998, com a criação do chamado Processo de Bolonha, uma vasta intervenção visando a harmonização do espaço universitário da União, sublinhando a autonomia das universidades, o seu dever moral e intelectual de prosseguirem livremente a sua missão de construir, renovar e transmitir a cultura e a capacidade das sociedades, na tradição humanista da Europa. Em 2002, na cimeira europeia de Lisboa, os chefes de Estado e de Governo europeus, com aquele optimismo generalista que lhes é característico, revelavam o sentido estratégico daqueles passos: dotar a Europa, até 2010, com «a economia do conhecimento 7 Collected Works of Erasmus, vol. 31, R. A. B. Mynors, anotador, Margaret Mann Phillips, editor, Toronto, University of Toronto Press, 1974, p. 161.
Doutoramento honoris causa de Immanuel Wallerstein (1999)
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«Devemos analisar as possibilidades, as preferências morais, que temos diante de nós. Devemos utilizar as nossas potencialidades criativas. Devemos assumir e debater entre nós as nossas diferentes imaginações. Devemos, em suma estar bem enraizados na realidade do dia a dia que é o terreno privilegiado da faculdade de gestão. Mas, ao mesmo tempo, devemos ter implícita a realidade de longa duração que deve ser o terreno privilegiado das ciências sociais. E, tudo isto, para que possamos reflectir mais lucidamente sobre onde nos encontramos, para onde mais competitiva e mais dinâmica do mundo, capaz de
vamos e para onde queremos ir. »
um crescimento económico duradouro acompanhado de
Immanuel Maurice Wallerstein
uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e de maior coesão social». Haveria, evidentemente, que esperar pela realidade para ludibriar e confundir essas eloquentes declarações formais mas, Erasmus e Bolonha foram, sem dúvida, passos positivos para o continente… O importante, contudo, é que se tornava obrigatório que qualquer universidade assumisse a sua dimensão aberta e internacional. O ISCTE, é claro, não recuaria perante este dever. Uma das suas primeiras iniciativas nesse sentido deu-se com o distante Macau, ainda antes do seu regresso à soberania chinesa. Firmou-se, em 1992, um acordo com a Universidade de Macau, para a realização conjunta de um master of business administration, precursoramente em inglês, apesar de algumas críticas nacionalistas, o que levaria ao território asiático cursos e professores do ISCTE. Seria a porta aberta para iniciativas semelhantes em Moçambique, Cabo Verde, Brasil e China, a caminho da vasta rede internacional que o ISCTE constituiria na sua década seguinte. Abrir portas também como reconhecimento de grandes mestres do conhecimento que adubaram o espírito da casa! Dotado com a capacidade de conceder doutoramentos honoris causa, o ISCTE inaugurou essa cerimónia, em 1999, com um dos grandes sociólogos mundiais, Immanuel Wallerstein, o norte-americano autor de The Modern World System. A sublinhar a criação da licenciatura em Arquitectura, o ISCTE levou a cabo, em 2001, uma enorme exposição sobre Oscar Niemeyer que encheu o Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa, a recordar que o grande arquitecto brasileiro foi autor de vários projectos para Portugal, incluindo o construído, em colaboração com o arquitecto Viana de Lima, conjunto do Casino Park Hotel, no Funchal. Documentos da exposição Oscar Niemeyer, organizada pelo ISCTE (2001)
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«O projecto da Europa dos Cidadãos pretendia passar à opinião pública a importância e a racionalidade da integração europeia e que as pessoas compreendessem que no dia-a-dia muitas das decisões que seriam tomadas pelas instituições comunitárias afectariam, mais cedo ou mais tarde, de maneira directa as suas vidas quotidianas. Um aspecto que se considerava fundamental no desenvolvimento deste plano era atrair os jovens para o projecto europeu. A educação e a formação dos jovens era parte essencial do desenvolvimento do Mercado Interno Sem Fronteiras, a única forma de a União Europeia poder competir com sucesso a nível internacional. Para além disso, queríamos que os jovens, e particularmente os universitários, pudessem viver e compreender os demais vizinhos europeus, sócios também da aventura representada pela união da velha Europa. Queríamos jovens abertos, que falassem idiomas, que fossem capazes de olhar mais além das suas próprias aldeias, que aceitassem como algo normal deslocar-se a outros países, que tivessem vontade de conhecer outros povos, outras formas de viver; queríamos universitários cosmopolitas, com uma visão generosa do mundo. Estou a falar de um mundo, e de uma Europa que há vinte e cinco (25) anos estava dividida...Ainda existia o Muro de Berlim. A NATO e o Pacto de Varsóvia olhavam-se mutuamente com a arma nuclear como elemento dissuasório. Naquele então ainda não se falava da sociedade do conhecimento; não sabíamos o que era a sociedade da informação e, é claro, a globalização ainda não se vislumbrava no horizonte. E também não sabíamos o que significaria o programa Erasmus. Era um enorme desafio e uma grande ousadia. Quando lançámos a ideia de criar redes de cooperação entre as próprias universidades para promover a sua autonomia e capacidade de intercâmbio de estudantes e de graus académicos, fizemo-lo utilizando fax e correio registado. A internet não existia. Muito menos o telemóvel. Nem sequer sonhávamos com o iPad. O programa Erasmus nasceu de um sério conflito com os Estados membros, ou melhor, com alguns deles. Hoje, num mundo globalizado, pode parecer extravagante, mas naquela altura a educação e a cultura eram consideradas parte indissociável da identidade e da soberania nacionais. Assim sendo, nem a educação e nem a cultura podiam ser objecto de políticas comunitárias. Eram estritamente políticas nacionais dos Estados membros. Este era o contexto que havia quando foi lançado o projecto da Europa dos Cidadãos. Na Comissão Europeia, presidida por Jacques Delors, chegámos à conclusão de que devíamos superar aquela situação. Não era possível manter um sistema educativo e universitário fechado. Tínhamos de romper esta barreira e abrir as fronteiras.
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O que a Europa necessitava era exactamente o contrário: permitir a mobilidade dos jovens universitários e que as universidades pudessem desenvolver a sua própria autonomia na organização de redes europeias. Pensámos numa solução de uso frequente no âmbito comunitário: já que não podemos fazer políticas comunitárias com a educação e a cultura, dado que são competência exclusiva dos Estados membros, pois façamos programas comunitários que sejam competência da Comissão Europeia. A reação de alguns Estados membros foi muito hostil. Diziam que incluir um programa sobre a educação universitária e a mobilidade dos jovens na Europa dos Cidadãos era um subterfúgio da burocracia de Bruxelas para minar a competência exclusiva dos Estados membros num campo tão sensível. Obviamente a Comissão Europeia recusou esta perspectiva de forma taxativa. Escusado será dizer que os ministros de Educação acertaram nos seus diagnósticos: queríamos transcender as limitações que representavam as suas legislações nacionais no âmbito universitário. Além disso, o programa foi baptizado com o nome de um insigne humanista e teólogo europeu Erasmo de Roterdão. Outro obstáculo para aqueles que estavam contra! Não demorou tanto tempo para que a posição inicial dos Estados membros começasse a fraquejar. Por um lado, aqueles Estados-Membros que tinham importantes programas de intercâmbio com outros países através dos seus correspondentes acordos internacionais opunham-se fortemente. Mas, por outro, os países que não possuíam este tipo de programas ou, se os tinham, eram com certeza muito modestos, como no caso de Portugal e da Espanha, compreenderam a enorme vantagem de um programa comunitário nesta matéria. Assim, a pouco e pouco, foi possível conseguir um apoio suficiente para fazer a proposta formal ao Conselho de Ministros.» Manuel Marín, Discurso na atribuição do grau de Doutor honoris causa pelo ISCTE-IUL (2012)
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Um esforço continuado para alcançar o reconhecimento do estatuto universitário pleno
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Quase, quase A periodização, em História, esse humano «processo de dividir a narrativa cronológica em períodos de tempo sequenciais distintos, com claros pontos de começo e fim»�8, nomeadamente quando ela é tentada por décadas, tem muito de confortante e decorativo, mas não escapa nem ao reducionismo, nem ao fio, sempre entaramelado, da realidade. Esta nossa história dá-nos, disso, uma boa lição, ou seja, nem todas as grandes metas se encaixam nas décadas aqui traçadas. Em Setembro do ano 2000, pelo Despacho Normativo n.º 37/2000, foram finalmente aprovados os novos Estatutos do ISCTE, englobando desejados pontos a que atrás aludimos, nomeadamente o reforço operacional do papel do presidente, em articulação com os restantes órgãos de governo do Instituto: a Assembleia, o Senado e o Conselho Administrativo. Os cernes da sua condição universitária, a saber, a sua autonomia e capacidade de conferir todos os respectivos graus, estavam consagrados. Permita-se-nos, com o fito de esclarecer, esta longa citação dos novas Estatutos: «Artigo 1.º Natureza jurídica e sede O Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, adiante designado abreviadamente ISCTE, é uma pessoa colectiva que tem a natureza jurídica de pessoa colectiva de direito público, que goza de autonomia administrativa, estatutária, científica, pedagógica, financeira e disciplinar, nos termos da legislação aplicável, e que tem a sua sede em Lisboa, na Avenida das Forças Armadas, 8 Hollander, S. C., Rassuli, K. M., Jones, D. G. B. & Dix, L. F. (2005). «Periodization in Marketing History». Journal of Macromarketing, 25 (1), p. 38.
José Manuel Paquete de Oliveira e João Ferreira de Almeida, respectivamente presidente do Conselho Directivo e presidente do ISCTE (1992-2005) | Medalha comemorativa dos 25 anos do ISCTE
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podendo desenvolver as suas actividades e criar unidades orgânicas em outros locais fora do local da sede, nos termos da legislação em vigor.
Artigo 2.º Missão 1 — O ISCTE é um centro de criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência e da tecnologia, que, através da articulação do estudo, da docência e da investigação, se integra na vida da sociedade. 2 — O ISCTE tem por fim: a) A formação humana, cultural, científica e técnica; b) A realização de investigação fundamental e aplicada; c) A prestação de serviços à comunidade, numa perspectiva de valorização recíproca; d) O intercâmbio cultural, científico e técnico com instituições congéneres nacionais e estrangeiras; e) A contribuição, no seu âmbito de actividade, para o desenvolvimento do país, a cooperação internacional e a aproximação entre os povos. 3 — Ao ISCTE compete a concessão de graus e títulos académicos e honoríficos, nomeadamente os de licenciatura, mestrado, doutoramento e agregação, e de outros certificados e diplomas, bem como a concessão de equivalências e o reconhecimento de graus e habilitações académicas.
Artigo 3.º Democraticidade, descentralização e participação O funcionamento do ISCTE assenta nos princípios de democraticidade, descentralização e participação, designadamente na garantia de liberdade de criação científica, cultural e tecnológica, na pluralidade e livre expressão de orientações e opiniões, na participação de todos os seus corpos na vida académica comum e em métodos de gestão democrática.»9
Quanto ao enquadramento institucional, contudo, não havia, ainda sinais de definitivo reconhecimento como universidade. Persistia, entre outras, a resistência do Conselho de Reitores, coisa, evidentemente, revoltante, para o ISCTE, mas, como
9 «Estatutos do ISCTE», Despacho Normativo n.º 37/2000, Diário da República, I Série-B, n.º 205, 5 de Setembro de 2000, p. 4705.
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escreveria Ferreira de Almeida, «em demasiadas ocasiões e em demasiados sectores da vida portuguesa, tudo se passa como se só a mediocridade não incomodasse.»10� A verdade é que o ISCTE, a par do seu trabalho diário de construção de uma realidade universitária, foi sempre tecendo, nomeadamente através de João Ferreira de Almeida, seu presidente, a busca do apoio governamental para o seu reconhecimento. Já em 1993, Pedro Lynce, o secretário de Estado do Ensino Superior, reconhecia e afirmava publicamente que a integração do ISCTE numa universidade existente já não fazia sentido, como o tinham provado as sucessivas resistências anteriores. Nos governos posteriores a 1995, diversos ocupantes da pasta da Educação, como Marçal Grilo, Guilherme Oliveira Martins ou Augusto Santos Silva, tinham exprimido a sua vontade de legislar no sentido do reconhecimento universitário do ISCTE. Coube, em 2001, ao ministro Júlio Pedrosa, antigo presidente do CRUP e professor da Universidade de Aveiro, a decisão efectiva de mandar legislar. Em 5 de Fevereiro de 2002, Ferreira de Almeida recebia um fax do gabinete do secretário de Estado do Ensino Superior com um projecto de diploma, pedindo os comentários do ISCTE. Nele se estipulava, no artigo 1.º, que «é atribuída ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa a natureza jurídica de universidade», ficando os seus estatutos por aprovar numa assembleia estatutária. Tal como constava naquele Projecto-Lei e assim o obrigava o n.º 2 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 283/83, de 18 de Agosto, tinha sido ouvido o Conselho de Reitores, a título consultivo. Mas o parecer deste, datado de 14 de Março de 2002, continuava a ser os clássicos «não se afigura como oportuno» e «entende o CRUP emitir um parecer não favorável à proposta apresentada de transformação do ISCTE em nova universidade». Todo o documento do CRUP é, aliás, um primor de hipocrisia. Logo de início, «congratula-se, antes de mais e em primeiro lugar, com o dinamismo institucional do ISCTE e com os resultados obtidos ao longo dos últimos anos da sua existência como instituição universitária não integrada». Acrescentando: «Por isso mesmo, o CRUP reconhece ao ISCTE plena legitimidade para uma integração universitária. Afigura-se, no entanto, que, em vez da transformação em nova universidade, solução que suscita sérias reservas, seria mais lógico e recomendável a integração numa das universidades já existentes, mormente na Universidade de Lisboa.»
10 «Comunicado do Presidente do ISCTE», 3 de Maio de 2002.
Jorge Correia Jesuíno e João Ferreira de Almeida | Secção de Pessoal do ISCTE
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Notável! Os mesmos que tinham negado ao ISCTE, apesar do maior empenho e abertura deste, a integração numa universidade, vinham agora, perante o facto de o ISCTE ter conseguido erguer-se a esse nível, propôr a retoma daquele «lógico e recomendável» caminho. E do CRUP vinha, ainda, uma velada ameaça: «O ISCTE está actualmente localizado no perímetro do campus universitário da Universidade de Lisboa.»
Incrível afirmação já que o ISCTE estava há 25 anos no seu lugar e agora, por querer a condição que lhe cabia, é que estava no «perímetro»… E vinha, também, um daqueles argumento de natureza «moral»: «A constituição de novas universidades deve obedecer a lógicas de desenvolvimento da rede de ensino público universitário, devidamente enquadrados do ponto de vista geográfico e não a outras lógicas institucionais. O CRUP entende que não se justifica de momento outra universidade pública na cidade de Lisboa.»
A questão, «pequeno» pormenor, é que o ISCTE não era uma nova universidade, a criar; era uma que já existia devidamente, a que só faltava o mero reconhecimento legal.
Diversos interiores do ISCTE
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Pelo meio de tudo isto, tropeçaria a História. Em 16 de Dezembro de 2001, no decurso dos resultados das eleições autárquicas, António Guterres apresentou a sua demissão de primeiro-ministro. O período em que o decreto-lei sobre o ISCTE andou em bolandas foi já o do Governo em mera gestão. Mesmo assim, Júlio Pedrosa levou aquele documento legislativo a Conselho de Ministros, onde foi despachado e enviado para o Presidente da República, Jorge Sampaio, para promulgação. Entretanto, em 17 de Março, as eleições legislativas deram a vitória ao PSD que constituiu o XV Governo Constitucional, de coligação com o CDS, sob a liderança de Durão Barroso. Em 2 de Maio de 2002, o novo ministro da Ciência e Ensino Superior, Pedro Lynce, curiosamente alguém que tanto tinha apoiado o ISCTE, solicitou a devolução do decreto-lei para reapreciação, mas não mais lhe deu sequência. Foi assim que não nasceu a Universidade Metropolitana de Lisboa – era este o nome escolhido.
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1992 • Portugal na presidência da União Europeia.
Cronologia 1992-2001
1993 • Lançado o primeiro satélite português POSAT-1. • Inauguração do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
• Abertura da televisão, em Portugal, a dois canais privados.
• Entrada em vigor do Mercado Único Europeu.
• Álvaro Siza, Prémio Pritzker de Arquitectura.
• Bill Clinton, presidente dos EUA.
Portugal e o Mundo
• Início da guerra civil na antiga Jugoslávia. Ataque sérvio à Bósnia.
• O líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e o primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin, assinam acordo de paz.
ISCTE
1992 • João Ferreira de Almeida eleito Presidente do ISCTE.
1993 • Licenciatura em Gestão e Engenharia Industrial.
• Licenciatura em Gestão e Engenharia Industrial.
• Licenciatura em Sociologia e Planeamento.
• Construção do Edifício INDEG.
• Menção Honrosa do Prémio Valmor para o edifício do INDEG.
• A CEE muda a sua designação para Comunidade Europeia.
1994 • Lisboa, Capital Europeia da Cultura. • Revolta dos utentes da ponte 25 de Abril devido ao aumento de portagens. • Noruegueses rejeitam, através de referendo, a entrada do seu país na União Europeia. • Nelson Mandela, Presidente da África do Sul.
1995 • Partido Socialista regressa ao Governo, chefiado por António Guterres. • Inauguração, em Palmela, da fábrica Autoeuropa. • Freitas do Amaral é eleito presidente da Assembleia Geral da ONU. • Jacques Chirac, Presidente da França.
• Início da guerra civil na Tchéchenia, província da Rússia.
• Primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin, é assassinado.
1994 • Constituição da Unidade de Investigação em Desenvolvimento Empresarial (UNIDE).
1995 • Construção da Ala Autónoma.
• Construção do Pavilhão Esplanada. • Construção Cave Ala Sul. • Licenciatura em Economia.
• Mário Leston Bandeira eleito presidente do Conselho Pedagógico. • Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações.
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1996 • Jorge Sampaio é eleito Presidente de Portugal. • O Conselho de Ministros português aprova o projecto do Rendimento Mínimo Garantido, prevendo o seu alargamento a todo o país • Os presidentes da República de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, e o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe assinaram em Lisboa a declaração constitutiva da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). • Prémio Nobel da Paz é atribuído a Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos-Horta.
1996 • Constituição da AAAISCTE Associação de Antigos Alunos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. • Início da revista Economia Global e Gestão. • João Freire eleito presidente do Conselho Científico. • Licenciatura em História Moderna e Contemporânea • Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos
• Um grupo de páraquedistas portuguesas parte para a Bósnia, onde integra a força de manutenção de paz da NATO. • A República Checa e a Eslovénia solicitam a adesão à UE. A Dinamarca, a Finlândia e a Suécia assinam o acordo de Schengen. • Início dos trabalhos da Conferência Intergovernamental para a Reforma do Tratado de Maastricht, em Turim, com a presença dos chefes de Estado e de Governo dos Quinze. • Embargo internacional à carne de bovino britânica na tentativa de controlar a epidemia de encefalopatia
• Entrada do ISCTE na Fundação das Universidades Portuguesas.
espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença das vacas loucas. • Fim do conflito armado entre a Rússia e a Chechénia. • Angola adere oficialmente à Organização Mundial do Comércio. • A capital do Afeganistão, Kabul, é ocupada pelos talibans. • José Maria Aznar é eleito primeiroministro de Espanha. • Madeleine Albright torna-se a primeira mulher a assumir o cargo de secretária de estado dos EUA.
1997 • Mário Soares é eleito presidente do Movimento Europeu, sucedendo a Valéry Giscard d’Estaing. • É assinado o Protocolo de Quioto sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa. • O Partido Trabalhista, liderado por Tony Blair, ganha as eleições britânicas com maioria absoluta depois de 18 anos na oposição. • Os socialistas franceses obtêm maioria absoluta na segunda volta das nas eleições legislativas francesas. Lionel Jospin lidera o Partido Socialista francês
• Tomada de reféns na residência do embaixador do Japão em Lima, Peru. As forças especiais do Governo peruano assaltam a residência e dão por fim aos 126 dias de captura de reféns. • Gianni Versace é assassinado à porta de sua casa, em Miami. • Diana, a princesa de Gales, falece após acidente de viação, num túnel de Paris.
1997 • Início da revista Etnográfica – Revista do Centro de Estudos de Antropologia Social.
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1998 • Expo Mundial em Lisboa. • É criado o Banco Central Europeu. • Escândalo Monica Lewinsky/Bill Clinton. • Início do conflito do Kosovo, entre a República Federal da Jugoslávia e os guerrilheiros rebeldes do Kosovo. • Suharto retira-se da liderança da Indonésia após 32 anos no poder. • É assinado o Acordo de Belfast entre os Governos Britânico e Irlandês com a finalidade de acabar com os conflitos entre católicos e protestantes.
• 1ª edição do Windows 98, sistema operativo da Microsoft • Atentados nas embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quénia matam 224 pessoas. Como represália, os EUA lançam ataques a presumíveis bases da Al-Qaeda, no Afeganistão e no Sudão.
1999 • Portugal, Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Países Baixos aderem ao Euro como moeda oficial. • Cerimónia de transferência de soberania do território de Macau para a República Popular da China.
• O Iraque termina a cooperação com os inspectores das Nações Unidas.
• A NATO lança ataques aéreos contra a República Federal da Jugoslávia por esta recusar assinar um acordo de paz. É a primeira vez que a NATO ataca um país soberano.
• Hugo Chávez vence as eleições para a presidência da Venezuela.
• Hungria, República Checa e Polónia formalizam a sua adesão à NATO.
• É fundada a Google.
1998 • Luís Antero Reto sucede a Eduardo Gomes Cardoso como presidente do INDEG. • Licenciatura em Engenharia de Telecomunicações e Informática. • Licenciatura em Finanças. • Licenciatura em Arquitectura.
• Slobodan Milošević é formalmente indiciado de crimes de guerra e contra a humanidade. • Surge o Napster, local online onde é possível descarregar musica gratuitamente. • É assinado um acordo de paz entre a NATO e a Republica Federal da Jugoslávia. • Microsoft lança a primeira versão do MSN Messenger.
1999 • Doutoramento honoris causa atribuído a Immanuel Wallerstein
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2001 • A cidade do Porto é Capital Europeia da Cultura.
2000 • Aprovação da Estratégia de Lisboa, da UE.
• Os ministros das Finanças dos Quinze, reunidos em Bruxelas, criticam a derrapagem das despesas do Estado verificadas em Portugal.
• Chuvas torrenciais em Moçambique matam cerca de 800 pessoas. • O Papa João Paulo II faz a primeira visita de um pontífice católico a Israel.
• Silvio Berlusconi vençe as eleições em Itália.
• Vladimir Putin é eleito Presidente da Rússia. • Um avião Concorde da Air France despenhase logo após levantar voo de Paris. Todos os ocupantes falecem. • É aprovada, em Nova Iorque, a declaração Millennium das Nações Unidas.
• George W. Bush vence as eleições presidenciais nos Estados Unidos da América. • A estação nuclear de Chernobyl é encerrada definitivamente.
2000 • Vítor Roldão eleito presidente do Conselho Científico. • Licenciatura em Marketing. • Início da revista Cidades Comunidades e Património. • Publicação dos novos Estatutos do ISCTE, pelo Despacho Normativo n.º37/2000, de 5 de Setembro.
• Em 11 de Setembro, dois aviões de passageiros colidem com as World Trade Center, em Nova Iorque, provocando o seu desmoronamento. Um terceiro avião despenha-se sobre o edifício do Pentágono e um quarto cai em Somerset County, no estado da Pensilvânia.
• A Al Qaeda e Bin Laden são apontados como suspeitos pelo planeamento dos atentados. • Em consequência dos atentados de 11 de Setembro, em Nova Iorque, os EUA e seus aliados invadem o Afeganistão. • A empresa energética Enron entra em colapso e torna-se a maior bancarrota de uma empresa na história dos EUA. • Em 16 de Dezembro de 2001, em resultado das eleições autárquicas, António Guterres apresentou a sua demissão de primeiro-ministro.
2001 • Organização da Exposição sobre Oscar Niemeyer, no Pavilhão de Portugal. • Entrada em serviço do restaurante do INDEG.
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Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
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ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa
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Desenvolver
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A ousadia de pôr de pé o ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, trazendo-o para níveis e dimensões nunca alcançados
Legenda a fazer
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Novo começo Tudo se movia nesta instituição e isso convergia necessariamente para a sua liderança principal. Diga-se, sem qualquer dúvida, que o ISCTE teve sempre, nos seus cargos máximos, pessoas com uma grande dimensão humana e moral, com um amor e um empenho incontornáveis pelo que esta instituição tinha construído. A presidência de João Ferreira de Almeida não deixou de o ser e até potenciou significativamente esse património. Diz Maria de Lurdes Rodrigues: «Guardo na minha memória, do professor Ferreira de Almeida, uma pessoa que respeitava enormemente a liberdade, deixando grande margem para a iniciativa dos docentes e dos departamentos. Senti sempre, ao longo do período em que ele presidiu à escola, que o ISCTE era um espaço de grande abertura, de grande respeito pela liberdade e pela autonomia individual.»1
Mas, em 2004, não só Ferreira de Almeida tinha alcançado os seus 12 anos de presidência, como a natureza dos problemas do ensino superior, e até do país, tinha sofrido mudanças consideráveis. O crescimento ocorrido iria inevitavelmente colocar o problema da sustentabilidade, quer financeira, quer institucional, de todo o corpo universitário português. Seriam precisos novos conceitos, novos meios e novos processos. Seriam necessárias novas sensibilidade e novos protagonistas. No final de 2004, chegadas as eleições para os órgãos de governo do Instituto, alheia às candidaturas encabeçadas pelo presidente em exercício, emerge uma nova corrente liderada por Luís Antero Reto. Proveniente da Psicologia Social, doutorado na Universidade de Louvain-la-Neuve, na Bélgica, este professor, de 55 anos, tinha um 1 Maria de Lurdes Rodrigues, depoimento para este livro, Maio de 2012.
Alunos finalistas do ISCTE-IUL |Luís Antero Reto
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percurso curioso, porque conjugava a sua vertente de formação com a da Gestão, quer no sentido académico, quer como experiência efectiva e duradoura. Luís Reto foi fundador da cooperativa de ensino ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada), em 1981, tendo vindo para o ISCTE quatro anos depois, onde se canalizaria para a área de Psicologia e, posteriormente, para o Departamento de Gestão, como coordenador da Secção de Recursos Humanos. Em 1998, sucede a Gomes Cardoso, o fundador do INDEG, como presidente daquele Instituto, onde se tornaria patente a sua capacidade de liderança de uma estrutura que cresceria, se diversificaria e se consolidaria imenso. A lista U, de universidade, liderada por Ferreira de Almeida, e a lista M, de mudança, com Luís Reto à cabeça, confrontaram-se, assim, nas eleições de 17 de Dezembro de 2004. Estavam em causa questões como a virtualidade do princípio democrático da alternância, assim como a necessidade de redinamizar, para objectivos ainda mais ambiciosos, muitos dos vectores prosseguidos pelo ISCTE, fazendo-o, sobretudo, com uma grande percepção das necessidades de gestão que uma instituição como aquela requeria. O país, não se esqueça, vivia, há alguns anos, um repetido movimento de estagnação, com crescentes sinais recessivos. O Portugal saído do seu recente período de desenvolvimento, potenciado pela incorporação na União Europeia e comemorado na Expo 98, não dava sinais de entender o caminho necessário para uma requalificação do seu tecido, para um aprofundamento da democracia, para uma renovação cívica, transparente e eficaz, para uma sólida e sistemática governação que dinamizasse um novo processo de desenvolvimento e sustentabilidade, mobilizando a confiança e o dinamismo dos cidadãos. No ISCTE, havia esta consciência. Não se podia cair numa situação em que o próprio crescimento e os previsíveis problemas de sustentabilidade seriam o coveiro de toda a dinâmica que o Instituto vinha prosseguindo há mais de 30 anos. Sobretudo, havia que antecipar os problemas, evitando cair no novelo do seu fundo e respondendo a tempo com estratégias de desenvolvimento, inovação e consolidação. Como referia o manifesto de candidatura da lista M, era urgente «garantir a prestação de contas e a responsabilização pelo governo do ISCTE, modernizar o seu funcionamento e gerir estrategicamente os financiamentos para realizar com eficácia os objectivos». Luís Reto tinha como importante apoio, na sua equipa dirigente, no lugar de vice-presidente, a prestigiada figura de José Manuel Paquete de Oliveira, presidente
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de vários Conselhos Directivos, durante muitos anos, e vice-presidente, inclusive, de João Ferreira de Almeida, ou seja, um profundo conhecedor das questões de funcionamento da instituição. «Eu tinha tido», afirma Paquete de Oliveira, «a experiência efectiva que um dos problemas do ISCTE, depois de uma grande disseminação por campos de saber, era, digamos assim, uma certa inorganização. Nós criámos aqui um conjunto de factores difíceis de sustentar. Crescemos muito em edifícios, multiplicámos imenso os centros de investigação e a própria autonomia consagrada aos cursos que se iniciavam, aos departamentos que criavam mais esta ou aquela licenciatura, tudo isto, sem a devida sustentabilidade, fazia-nos correr alguns riscos. Isto queria dizer melhor organização e uma certa vigilância para a sustentabilidade.»2 Chegados a 17 de Dezembro de 2004, o ISCTE votou e a lista M, de Luís Reto, assegurou a vitória. Nos votos para a Assembleia, órgão que procederia à eleição do presidente, aquela lista obteve, entre os docentes, 197 votos, contra 130 para a lista U, de João Ferreira de Almeida. Esta nova Assembleia, presidida por Victor Franco, incluía os representantes de docentes, funcionários e discentes eleitos, bem como um vasto conjunto de membros por inerências dos respectivos exercícios de cargos directivos. A sua votação para a presidência resultou, inicialmente, num empate e, numa segunda votação, um dos membros mudou o seu voto a favor de Luís Reto. O ISCTE, de uma forma bastante tranquila, tinha um novo presidente. O desígnio de reforço da transparência e do controlo cívico traduziu-se, de imediato, na constituição, pela primeira vez, do Conselho Consultivo, já previsto nos Estatutos, integrado por várias personalidades públicas: Alberto da Ponte (administrador da Sociedade Central de Cervejas), André Jordan (presidente da Invesplano), António Costa e Silva (presidente da Partex Oil & Gas), António Maldonado Gonelha (vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos), António Ramalho Eanes (ex-presidente da República), Carlos Monjardino (presidente da Fundação Oriente), Fernando Lima (ex-presidente da Engil), João Cravinho (ex-ministro e vice-governador do EBRD), João Ferreira de Almeida (ex-presidente do ISCTE), José Miguel Júdice (sócio da PLMJ, Sociedade de Advogados), Nuno Amado (presidente do Banco Santander Totta), Nuno Jordão (administrador da Sonae) e Vasco Vieira de Almeida (presidente da Vasco Vieira de Almeida & Associados). E, logo em 2005, dar-se-ia um acontecimento histórico, muito esperado pelo ISCTE: finalmente, ele seria admitido como membro do Conselho de Reitores das 2 José Manuel Paquete de Oliveira, depoimento para este livro, Abril de 2012.
Documentos das candidaturas aos órgãos do ISCTE (2005) | Victor Franco
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Universidade Portuguesas, decisão homologada pelo Decreto-Lei n.º 89/2005, de 3 de Junho. O seu estatuto, há muito definido, era, enfim, reconhecido pela máxima entidade universitária portuguesa. Tal assentou no trabalho desde sempre desenvolvido, mas concretizou-se graças a uma estratégia específica da nova presidência: em vez de visar uma expansão total do ISCTE, no sentido de uma universidade tradicional, dever-se-ia procurar a condição de um instituto universitário, delimitado nas suas áreas essenciais, as que apontámos anteriormente. Neste sentido, em 2007, o Senado aprovaria a mudança para uma nova designação da escola: ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Fechava-se, assim, um longo ciclo, esforçado, cheio de escolhos, mas, por fim, vitorioso. Eduardo Gomes Cardoso, com o olhar de quem está retirado, mas não com menos argúcia, lembraria os três enormes desafios que a instituição, para a qual ele tanto contribuiu, acabaria por superar: «• alcançar um pleno e autónomo estatuto universitário; • ultrapassar as diferenças e tensões entre as suas duas culturas constituintes, Ciências Sociais e Gestão; • superar a escassez de recursos financeiros.»�3
Neste plano, um novo passo se daria, em breve. No quadro da reforma do sistema de ensino superior português, o Governo, através da Lei n.º 62/2007, de 10 de Setembro, legislou uma mudança profunda no regime jurídico das instituições de ensino superior, admitindo que «as instituições de ensino superior públicas são pessoas colectivas de direito público, podendo, porém, revestir também a forma de fundações públicas com regime de direito privado»4. O Decreto-Lei n.º 95/2009, de 27 de Abril, esclarecia as características destas fundações: «• Se regerem pelo direito privado, nomeadamente no que respeita à sua gestão financeira, patrimonial e de pessoal, podendo criar carreiras próprias para o seu pessoal docente, investigador e outro; • Serem financiadas pelo Estado: – Através da atribuição das dotações do Orçamento do Estado para funcionamento e investimento (PIDDAC), previstas na lei do financiamento do ensino superior, definidas em função de critérios objectivos comuns a todas as instituições públicas; 3 Eduardo Gomes Cardoso, documento dactilografado, 2012. 4 Lei n.º 62/2007, de 10 de Setembro, Regime jurídico das instituições de ensino superior, Diário da República, 1.ª série, n.º 174, de 10 de Setembro de 2007, pp. 6359-6360.
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– Através de contratos plurianuais, de duração não inferior a três anos, de acordo com objectivos de desempenho; – Para efeitos de candidatura a fundos públicos, concorrerem nos mesmos moldes que as demais instituições públicas de ensino superior.»5
Tratar-se-ia de uma política que teve, inclusive, um imediato eco internacional, sendo «saudada de forma extremamente positiva pelo Comité de Educação da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE)».6 Habituado a gerar uma parte considerável de fundos próprios, superior a 50 por cento, e procurando aproveitar a autonomia que esta lei proporcionava, o ISCTE não hesitou em enveredar pelo caminho de se institucionalizar naqueles termos. No final do ano de 2007, duas listas disputaram as eleições para a Assembleia Estatutária que decidiria a natureza institucional do Instituto: uma, a lista I, patrocinada por Luís Antero Reto e a outra, a A, encabeçada por Maria Eduarda Gonçalves. Renovava-se, no fundo, o debate havido durante as eleições de 2005. A lista I desejosa de aproveitar a natureza da Lei n.º 62/2007 e constituir o ISCTE-IUL como uma fundação; e a lista A entendendo isso como um enorme risco e propugnando a manutenção do ISCTE-IUL como tradicional instituto público. O resultado da eleição concedeu, entre os docentes, sete membros à lista I e cinco à lista A, havendo mais três representantes dos alunos, com liberdade de voto. Esta Assembleia integraria, também, cinco outros membros, externos ao Instituto, escolhidos entre personalidades públicas relevantes. Seriam elas Rui Machete, António Vitorino e Teodora Cardoso, propostos pela lista I, Diogo Freitas do Amaral, proposto pela lista A, e Vladimir Roque Laia, proposto pelos representantes dos alunos. Freitas do Amaral seria, posteriormente, substituído por António Cluny. As reuniões desta Assembleia Estatutária foram um embate intenso, quer conceptual quer jurídico, que terminou, contudo, em 28 de Novembro de 2008, com a aprovação da passagem a fundação pública com regime de direito privado, bem como do respectivo texto dos novos Estatutos do ISCTE-IUL, o qual viria a solicitar, assim, ao Governo, a sua transformação em fundação, acto acompanhado da negociação de um contrato-programa entre ambas as partes, definindo condições e meios. Pelo referido Decreto-Lei n.º 95/2009, de 27 de Abril, o Governo instituiu a fundação ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), com os respectivos Estatutos, fundação sujeita a um período experimental de cinco anos de funcionamento, 5 Decreto-Lei n.º 95/2009, de 27 de Abril, Diário da República, 1.ª série, n.º 81, 27 de Abril de 2009, p. 2443. 6 Idem, p. 2442.
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findo o qual se realizará uma avaliação da aplicação daquele regime. A nova fundação, de acordo com o artigo 5.º dos seus Estatutos, poderia beneficiar das seguintes possibilidades de receitas: «a) As dotações orçamentais anuais que lhe forem atribuídas pelo Estado; b) As receitas provenientes de contratos de financiamento plurianual celebrados com o Estado; c) As receitas provenientes do pagamento de propinas e outras taxas de frequência de ciclos de estudos e outras acções de formação; d) As receitas provenientes de actividades de investigação e desenvolvimento; e) Os rendimentos da propriedade intelectual; f) Os rendimentos de bens próprios ou de que tenha a fruição; g) As receitas derivadas da prestação de serviços, da emissão de pareceres e da venda de publicações e de outros produtos da sua actividade; h) Os subsídios e contribuições, regulares ou ocasionais, subvenções, comparticipações, doações, heranças e legados provenientes de quaisquer entidades, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras; i) O produto da venda ou arrendamento de bens imóveis, quando autorizada por lei, bem como de outros bens; j) Os juros de contas de depósitos e a remuneração de outras aplicações financeiras; l) Os saldos da conta de gerência de anos anteriores; m) O produto de taxas, emolumentos, multas, coimas e quaisquer outras receitas que legalmente lhes advenham; n) O produto de empréstimos contraídos.»7 Os órgãos da fundação ISCTE-IUL seriam um Conselho de Curadores, um fiscal único e os demais órgãos próprios de um estabelecimento de ensino deste tipo. O Conselho de Curadores seria composto por «cinco personalidades de elevado mérito e experiência profissional reconhecidos como especialmente relevantes, nomeados pelo Governo, sob proposta do ISCTE-IUL». A escolha incidiu em António Costa e Silva, presidente da Partex Oil & Gas e professor no Instituto Superior Técnico (IST); António Ramalho Eanes, Presidente da República entre 1976 e 1986; António Vitorino, advogado com o desempenho de inúmeros cargos públicos, nomeadamente ministro da Presidência e da Defesa 7 ISCTE, «Estatutos da fundação», Anexo ao Decreto-Lei n.º 95/2009, de 27 de Abril, Diário da República, 1.ª série, n.º 81, 27 de Abril de 2009, pp. 2445-2446.
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Nacional (1995-1997) e Comissário Europeu para a Justiça e os Assuntos Internos (1999-2004); Carlos Santos Ferreira, presidente do Banco Comercial Português; Maria Helena André, secretária-geral adjunta da Confederação Europeia de Sindicatos (CES). Esta última, por ter ido desempenhar a função de ministra do Trabalho e da Solidariedade Social do XVIII Governo Constitucional, foi substituída por Mercedes Cabrera Calvo-Sotelo, professora da Universidade Complutense, deputada pelo círculo da Madrid, tendo presidido à Comissão de Educação e Ciência do Congresso dos Deputados. Como lhe cabia, este Conselho elegeu o seu presidente, na pessoa do general António Ramalho Eanes, ao que se seguiu a análise e aprovação dos próprios Estatutos do ISCTE-IUL, como estabelecimento de ensino, tendo-os submetido ao Governo, que os aprovou através do Despacho Normativo n.º 18/2009. Os seus princípios gerais eram bem claros: «1 – O ISCTE -IUL orienta-se pelos princípios da liberdade intelectual, da promoção e reconhecimento do mérito e do respeito pela ética académica. 2 – O ISCTE-IUL garante a liberdade de criação científica, cultural e tecnológica, na pluralidade e livre expressão de orientações e opiniões, bem como a participação de todos os seus corpos na vida académica comum na base de métodos de gestão democrática. 3 – O ISCTE-IUL organiza -se e funciona no respeito pelos princípios da democraticidade, da participação, da descentralização, da eficácia e eficiência e da responsabilidade no exercício de cargos profissionais e de direcção. 4 – O ISCTE-IUL gere as suas actividades com respeito pelos princípios da transparência e da prestação pública de contas.»
Os novos órgãos do ISCTE-IUL eram um Conselho Geral, o Reitor, o Conselho de Gestão, bem como os órgãos consultivos, o Senado e o Conselho Universitário, existindo ainda um Provedor do Estudante. O Conselho Geral era composto por 33 membros, 17 representantes do conjunto dos professores e investigadores; cinco representantes do conjunto dos estudantes; um representante do pessoal não docente e não investigador; 10 personalidades externas de reconhecido mérito, não pertencentes à instituição, com conhecimentos e experiência relevantes para a mesma. Foram estas últimas, André Jordan, o empresário e gestor nas áreas do turismo e imobiliário; Carlos Lopes, secretário-geral adjunto da ONU e director do Instituto de Formação e Investigação desta organização; Carlos Nogueira, gestor, presidente do clube dos antigos alunos do ISCTE-IUL (Clube ISCTE); Edmundo Martinho, presidente do Conselho Directivo do
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Instituto da Segurança Social e do Conselho Nacional da Segurança Social; Esmeralda Dourado, gestora, presidente da SAG e do Conselho Fiscal da Fundação Luso-Brasileira; Margarida Marques, chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal; Maria do Céu da Cunha Rego, jurista, assessora principal na Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros; Nicolau Santos, jornalista, director-adjunto do Expresso; Nuno Vasconcellos, empresário, presidente da Ongoing Strategy Investments; e Paulo Bárcia, funcionário internacional da Organização Internacional do Trabalho (OIT).8 Seria o Conselho Geral que elegeria o reitor do ISCTE-IUL. A escolha incidiu no presidente em exercício, e Luís Reto foi, deste modo, em 13 de Novembro de 2009, o primeiro reitor do Instituto, tendo a seu lado uma equipa reitoral constituída pelos vice-reitores António Caetano, António Firmino da Costa e Carlos Sá da Costa, assim como os pró-reitores José Paulo Esperança e Rui Pena Pires.9 Na cerimónia de posse, realizada já em 27 de Janeiro de 2010, António Ramalho Eanes, como presidente do Conselho de Curadores, assinalou: «O Prof. Luís Reto é, consabidamente, responsável, enquanto presidente do ISCTE desde Fevereiro de 2005, pela posição de liderança adquirida por esta reputada instituição de ensino superior público… Esta excelência da instituição reflecte também a excelência do trabalho desenvolvido pelo Prof. Luís Reto e pelos seus colaboradores. Excelência, a do Prof. Luís Reto, assente nas suas capacidades e qualidades e notória ao longo da sua actividade profissional, que se tem desenvolvido em diversas dimensões: ensino, investigação, publicação de obras e estudos, gestão de organizações de ensino, e criação e gestão de empresas.»10 Como diria sobre Luís Reto, meio em graça, Paquete de Oliveira: «Todos lhe reconhecem uma dinâmica… Não pára! Com ele, o TGV chegou ao ISCTE-IUL.»11
A verdade é que esta ousadia de pôr de pé este novo ISCTE-IUL traria todo o imenso património histórico e humano da instituição para níveis e dimensões que nunca tinham sido alcançados. 8 Actualmente, integram o Conselho geral do ISCTE-IUL Carlos Lopes, que preside, Conceição Carrapeta, Domitília Santos, Esmeralda Dourado, Margarida Marques, Nicolau Santos e Suzana Toscano. 9 Em 2012, Nuno Ferreira Guimarães integraria também o grupo dos pró-reitores. 10 António Ramalho Eanes, Discurso, in Tomada de Posse do Reitor do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, LISBOA, ISCTE-IUL, 2010, p. 20. 11 José Manuel Paquete de Oliveira, depoimento para este livro, Abril de 2012.
António Ramalho Eanes | Carlos Lopes
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«O ISCTE conseguiu uma coisa que é muito importante: criar, no universo do ensino superior, uma ideia de “capacidade de preparação para”... Certas instituições distinguem-se na preparação de especialistas para grandes sistemas; outras, como é o caso do ISCTE, criam quadros que poderão entrar nesse universo, mas que, sobretudo, poderão estar muito mais à vontade que outros no campo da nossa média empresa, o tipo de empresa que predomina em Portugal. Outro aspecto que o ISCTE criou muito bem foi o da interdisciplinaridade. É um dos seus pontos muito fortes, que pode e deve ser sempre muito reforçado. Os nossos problemas públicos são, sobretudo, sistémicos, exigindo um concurso estruturado de especialistas de várias disciplinas, e o ISCTE tem no seu seio uma capacidade de estruturar esse método de abordagem de sistemas públicos complexos, onde o resultado não é, normalmente, óbvio.» João Cravinho, depoimento para este livro, Maio de 2012
«O ISCTE-IUL, hoje, é uma grande escola. Alargou muito os seus horizontes, com um corpo docente de muita qualidade. Na área específica das políticas públicas, o ISCTE-IUL tem um grande lastro de conhecimentos e de professores que o podem tornar um formador da generalidade dos quadros da função pública.» Nicolau Santos, depoimento para este livro, Maio de 2012
«O ISCTE, hoje, não só na área da Gestão, mas em todas as outras, é uma escola de referência, diversificada, com um estatuto próprio, muito debruçado sobre a realidade, que prepara as pessoas para o desempenho de funções no sector produtivo. Sempre com um percurso autónomo, nunca tendo estado integrado numa universidade, o ISCTE manteve sempre a sua modernidade. O ISCTE está aqui para lavar e durar.» Luís Filipe Pereira, depoimento para este livro, Maio de 2012
António Ramalho Eanes | Carlos Lopes
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Cortejo acadĂŠmico para a cerimĂłnia de tomada de posse do reitor (2010)
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Tomada de posse do reitor do ISCTE-IUL, Luís Antero Reto, e da equipa reitoral: Luís Antero Reto com Carlos Lopes e António Ramalho Eanes, António Caetano, José Manuel Paquete de Oliveira e António Firmino da Costa, bem como recebendo cumprimentos de alguns dos convidados presentes: João Cravinho, Manuela Eanes, Luís Filipe Pereira e Nuno Amado Na página seguinte: o reitor com o pró-reitor José Paulo Esperança, e os vice-reitores António Firmino da Costa, Carlos Sá da Costa e António Caetano
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«Trata-se tão-somente de percebermos donde vimos e como fomos moldados, porque sem esse conhecimento não poderemos perceber o presente e projectar o futuro próximo. Realmente, num balanço sumário destes quase 40 anos da nossa existência colectiva, os aspectos positivos sobrepõem-se claramente às dimensões mais negativas. As dificuldades que tivemos de enfrentar moldaram uma cultura organizacional distintiva, marcada por uma forte informalidade aliada ao espírito de iniciativa e de autonomia em que a cooperação com outras instituições nacionais e internacionais, bem como a ligação à sociedade são factores determinantes. A luta pela sobrevivência obrigou-nos também a ganhar resiliência e a desenvolver uma postura empreendedora, que é uma mais-valia decisiva neste tempo de fortes mudanças organizacionais e sociais. Manter esta matriz cultural, aumentando paralelamente o rigor dos procedimentos, a responsabilidade individual e a procura da excelência, é o grande desafio da construção de uma identidade forte, adaptada às enormes exigências com que a universidade se confronta nos nossos dias.» Luís Reto, Discurso de tomada de posse como reitor do ISCTE-IUL, 2010.
«O mundo em que vivemos demanda uma atenção a desafios não tão novos, mas cada vez mais complexos. A velocidade das transformações e a multiplicação das inovações obrigam a rever as formas de transmitir e gerar conhecimentos. Não mais é possível ensinar como se fazia nos sistemas ex-cátedra. A preparação para a vida exige constantes reciclagens e adaptações. Acabou-se o tempo em que se podiam dividir as instituições universitárias entre as orientadas para o profissional, o emprego e o mercado, e as produtoras de reflexão, saber e interpretação crítica.» Carlos Lopes, Discurso na tomada de posse do reitor do ISCTE-IUL (2010)
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Um ISCTE-IUL autónomo, credível, vigoroso e confiante, eis ao que chegámos!
Hoje A quantidade é um critério reduzido da realidade mas é, evidentemente, um a ter em conta. Neste ano lectivo de 2011-2012, o ISCTE-IUL atingia a sua maior frequência de sempre: 9312 alunos, servidos por 460 professores e 246 funcionários não-docentes. Como dizia Helena Roseta, é uma cidade Outros diriam, um mundo, já que 13 por cento dos seus alunos e 21 por cento dos docentes com actividade no ISCTE-IUL, são estrangeiros, sendo que cerca de 120 unidades curriculares são leccionadas numa língua estrangeira, para além do elevado número de instituições, espalhadas pelo mundo, com que tem relações. No total, o ISCTE-IUL proporciona, actualmente, 16 licenciaturas, 62 mestrados, 33 pós-graduações e 20 programas doutorais, a mostrar um peso significativo do ensino pós-graduado, onde se empenham mais de 52 por cento dos seus alunos. Uma tão vasta oferta docente congrega-se numa orgânica recente, criada em 2010, que deu origem a quatro grandes escolas, a Escola de Gestão, a Escola de Sociologia e Políticas Públicas, a Escola de Ciências Sociais e Humanas e a Escola de Tecnologias e Arquitectura. Em 2008, foi criada uma experiência inovadora de enriquecimento da formação dos alunos, na perspectiva da sua inserção profissional. Trata-se do Laboratório de Línguas e Competências Transversais (LCT), que, a par dos conhecimentos específicos de cada área científica, proporciona inúmeras unidades curriculares, num total de seis ECTS obrigatórios em todas as licenciaturas, mas livremente escolhidas pelos alunos, potenciando o acesso ao emprego e promovendo a cidadania responsável, em três vertentes: as competências instrumentais, desde as línguas à organização pessoal e gestão do tempo ou conhecimento e utilização de programas informáticos; as competências interpessoais, incluindo trabalho em equipa, gestão de conflitos, Cerimónia de finalistas do ISCTE-IUL | Aulas a decorrer
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condução de reuniões ou comunicação e desenvolvimento pessoal; e as competências sistémicas, com pensamento crítico, ética e deontologia, diversidade no local de trabalho ou multiculturalidade. Por seu lado, em articulação com o ensino, a investigação no ISCTE-IUL adquiriu importância crescente. Em 2011, as unidades de investigação do ISCTE-IUL totalizaram 1004 membros de equipas, com 434 doutorados elegíveis (FCT), dos quais 17 por cento são estrangeiros. Estes investigadores são contratados ou bolseiros no âmbito de programas como o Ciência/FCT, BPD/FCT, Welcome/FCT&7PQ, Marie Curie/7PQ, entre outros, e distribuem-se pelas actuais nove unidades de investigação, quatro delas com classificações FCT de excelente (CIES-IUL, CIS-IUL, Dinâmia/CET-IUL e IT-IUL12), três com muito bom (BRU-IUL, CEA-IUL e CRIA-IUL13) e duas com bom (ADETTI-IUL e CEHC-IUL14). Em Maio de 2010, procedeu-se a uma importante reforma institucional. Todos estes centros foram integrados como unidades orgânicas do próprio ISCTE-IUL, passando a fazer parte da sua gestão e dos seus quadros de pessoal, reforçando, deste modo, uma estratégia conjunta de investigação do Instituto. Dir-se-ia que os centros cederam autonomia jurídica, mas ganharam poder e sinergias ao terem presença no Conselho Científico e na direcção dos respectivos programas doutorais. Outro aspecto desta reforma consistiu em separar claramente os centros de investigação FCT das diversas entidades de transferência de conhecimento, formação e consultoria, dissolvendo estas e integrando as suas competências em quatro grandes instituições participadas maioritariamente pelo ISCTE-IUL, aspecto que trataremos no capítulo seguinte. No seu conjunto, o universo de investigação do Instituto alargou-se e reforçou-se consideravelmente. Os financiamentos correspondentes aos contratos de investigadores doutorados somavam, em 2011, 1 626 307,00 euros, com 89 por cento a dizerem respeito a fontes de financiamento nacionais e 11 por cento a internacionais, não estando incluídos nestes valores as bolsas individuais de doutoramento e pós-doutoramento, nem as bolsas atribuídas no âmbito de projectos. Em 2011, as unidades de investigação do ISCTE-IUL publicaram um total de 1215 trabalhos científicos, que correspondem a um rácio de publicação por doutorado 12 Centro de Investigação e Estudos de Sociologia; Centro de Investigação e Intervenção Social; Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território; Instituto de Telecomunicações. 13 Business Research Unite, ex-UNIDE; Centro de Estudos Africanos; Centro em Rede de Investigação em Antropologia, ex-CEAS. 14 Centro de Investigação em Sistemas e Tecnologias de Informação Avançados; Centro de Estudos de História Contemporânea.
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elegível de 2,8. Destes trabalhos científicos, 48 por cento representam publicações com revisão científica, com um rácio de publicação por doutorado elegível de 1,35. Relativamente a 2010, ano em que se iniciou esta contabilização da produção científica, existiu um incremento de 18 por cento de trabalhos científicos publicados. O campus do Instituto assiste permanentemente a actividades diversas. Em 2011, as unidades de investigação foram responsáveis pela organização de 348 eventos que compreendem simpósios, conferências, seminários, encontros e colóquios, tendo 61,5 por cento dos eventos sido de âmbito internacional. Por seu lado, os membros daquelas unidades realizaram 1245 comunicações científicas em congressos nacionais e internacionais. Naquele ano, a actividade académica de supervisão de formação avançada, por membros das unidades de investigação, somou 1212 supervisões, sendo seis por cento de pós-doutoramentos, 26 por cento de doutoramentos e 68 de mestrados. Houve, ainda, 334 resultados científicos de natureza diversa, nomeadamente através da participação em 133 redes de I&D e actividades de cooperação científica, das quais 90 por cento foram internacionais, bem como 19 prémios científicos atribuídos por entidades externas a trabalhos científicos de membros das unidades de investigação do ISCTE-IUL. Repita-se: a dimensão quantitativa não é tudo, mas quem tenha conhecido e conheça a universidade portuguesa percebe o valor qualitativo aqui contido,
Actividades desportivas no ISCTE - IUL
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Graus concedidos pelo ISCTE-IUL (2012) Programas de Doutoramento Antropologia Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ciência Política Ciências da Complexidade (em associação com a FCUL) Ciências da Comunicação Ciências e Tecnologias da Informação Economia Estudos Africanos Estudos Urbanos (em associação com a FCSH-UNL) Finanças Gestão (Especializações: Contabilidade; Recursos Humanos e Comportamento Organizacional; Estratégia e Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Operações, Logística e Gestão da Cadeia de Abastecimento; Marketing; Métodos Quantitativos aplicados à Gestão)* Gestão Empresarial Aplicada História (em associação com ICS-UL, UE, UCP) História Moderna e Contemporânea História, Defesa e Relações Internacionais Políticas Públicas Psicologia Serviço Social Sociologia Programas de Mestrado Administração Escolar Administração Pública Antropologia Arquitectura (mestrado integrado) Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ciência Política Ciência, Inovação e Sociedade Ciências da Complexidade (em associação com a FCUL) Ciências do Trabalho e Relações Laborais
Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação Contabilidade Demografia (em associação com a UAv, ECS-UE, IGOT-UL, UAç, FCSH-UNL, FCM-UNL, ISEG-UTL, ISCSP-UTL) Direito das Empresas Economia da Empresa e da Concorrência Economia e Políticas Públicas Economia Monetária e Financeira Economia Portuguesa e Integração Internacional Economia Social e Solidária Economia* Educação e Sociedade Engenharia de Telecomunicações e Informática Engenharia Informática Estudos Africanos Estudos Chineses (em associação com a UAv) Estudos de Desenvolvimento Estudos Indianos Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade Estudos Urbanos (em associação com a FCSH-UNL) Família e Sociedade Finanças* Gestão Gestão de Empresas* Gestão de Hospitalidade e Turismo* Gestão de Mercados da Arte Gestão de Recursos Humanos* Gestão de Serviços e da Tecnologia Gestão de Sistemas de Informação Gestão dos Serviços de Saúde Gestão e Estudos da Cultura Gestão Internacional* História Moderna e Contemporânea História, Defesa e Relações Internacionais Informática Aplicada à Sociedade da Informação e do Conhecimento Informática e Gestão Marketing* Matemática Financeira (em associação com a FCUL) Migrações Internacionais Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos Políticas Públicas
Prospeção e Análise de Dados Psicologia Comunitária e Proteção de Menores Psicologia das Emoções Psicologia das Relações Interculturais Psicologia Social da Saúde Psicologia Social e das Organizações Saúde, Medicina e Sociedade Serviço Social Sistemas Integrados de Apoio à Decisão Sociologia Software de Código Aberto Programas de Licenciatura Antropologia Ciência Política Economia Engenharia de Telecomunicações e Informática Engenharia Informática Finanças e Contabilidade Gestão de Marketing Gestão de Recursos Humanos Gestão Industrial e de Serviços Gestão** História Moderna e Contemporânea Informática e Gestão de Empresas (240 créditos, 4 anos de duração) Psicologia Serviço Social Sociologia * Programas oferecidos em inglês ** Programa oferecido em inglês e em português
Outros Cursos de Pós-Graduação Mestrados Executivos Contabilidade Avançada e Fiscalidade Controlo de Gestão e Performance Direcção Comercial (Especialização: Sales Management; Key Account Management) Direcção Empresarial (Acreditado pela AMBA – Associação de MBA) Empreendedorismo e Inovação Energy MBA* Finanças (Especialização: Corporate Finance; Mercados e Activos Financeiros; Finanças e Controlo Empresariais) Finanças e Direito
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Retail and Distribution Management Gestão de Hospitalidade e Turismo Gestão de Negócios Internacionais Gestão de Projetos Gestão de Recursos Humanos Gestão Empresarial (Percursos para titulares de grau de 1.º ciclo em gestão e para titulares de grau de 1.º ciclo em outras áreas de conhecimento) Gestão Fiscal Gestão Global Marketing (Especialização: Marketing Digital; Integrated Brand Management; Marketing e Gestão do Desporto; Marketing Management) Cursos de Pós-Graduação Análise de Dados em Ciências Sociais Arquitectura Digital Avaliação e Desenvolvimento Organizacional na Administração Pública Culturas Visuais Digitais Estratégias de Qualidade e Gestão das Organizações Sociais Estudos da Performance Estudos LGBT Family Social Work and Social Policy* Informática Aplicada às Organizações Intervenção Comunitária e Protecção de Menores Projecto Inclusivo Sindicalismo e Relações Laborais Cursos de curta duração A droga na Europa: oferta, procura e políticas públicas Antropologia do Crime Avaliação do risco no projecto: conceitos, metodologias e relevância no uso dos espaços Avaliação do risco no projecto: espaços de jogo e recreio Avaliação do risco no projecto: estabelecimentos de ensino CADAP - Curso de Alta Direcção em Administração Pública Criminalidade e Desvio Direitos Humanos e Bem-estar Documentário Etnográfico Interactivo ECPR sobre Parlamentos FORGEP - Formação em Gestão Pública
Mediação Cultural Clínica Migrações Forçadas, Refugiados e Direitos Humanos Práticas da Arquitectura Sexualidade e Moralidade: Dos Tabus Religiosos ao Comércio da Intimidade Programas Internacionais de Mestrado e Doutoramento Mestrado Executivo com especialização na área de Gestão Global e Mestrado Executivo em Administração Pública Programas conjuntos oferecidos em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil. Mestrado em Gestão de Empresas Em parceria com o Instituto Superior Politécnico Universitário de Moçambique, (Maputo, Moçambique) e com o Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais de Cabo Verde, (Praia e Mindelo, Cabo Verde). DBA – Doutoramento em Gestão Empresarial Aplicada Em parceria com duas universidades na China: University of Electronic Science and Technology of China (Chengdu) e Southern Medical University (Guangzhou). Pós-Graduação em Family Social Work and Social Policy Em parceria com Göteborgs Universitet (Gotemburgo, Suécia), Universitetet i Stavanger (Stavanger, Noruega), Università degli studi di Milano Bicocca (Milão, Itália), Hogskolen i Bodo (Bodo, Noruega), Università della Calabria (Arvacata di Rende, Itália) e Università degli studi di Parma (Parma, Itália). Mestrado em Gestão Internacional No ISCTE-IUL com a possibilidade de obter um duplo diploma depois de um período de estudo na ESC (ClermontFerrand, França) ou na ESCEM (Poitiers, França), na Pforzheim University (Pforzheim, Alemanha) ou
na Ljubljana University (Ljubljana, Eslovénia). Mestrado em Gestão de Hospitalidade e Turismo Programa Twinning com a University of Central Florida (Orlando, EUA) – programa de dupla titulação (um ano em Portugal e outro nos EUA). Energy MBA Em parceria com a Columbia University (Nova Iorque, EUA). Um ano de estudos em Portugal e seis meses nos EUA. Mestrado em Ciência, Inovação e Sociedade No âmbito da Red de Excelencia Interuniversitaria en Estudios sobre Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS) na qual participam, além do ISCTE-IUL, as seguintes universidades: Universidad de Salamanca (Salamanca, Espanha), Universidad de Oviedo (Oviedo, Espanha), Universidad Nacional Autónoma de México (Cidade do México, México), Universidad de la Habana (Havana, Cuba) e Universidad Nacional de General Sarmiento (Los Polvorines, Argentina).
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a profunda mudança para a perspectiva de uma univerGráfico 1 Evolução das dotações orçamentais do ISCTE-IUL (Orçamento de Estado versus Receitas Próprias)
ção e se transmite pelo ensino, que por sua vez, também
20.000
o recria, ao intervir constantemente na sociedade.
18.000
15.149
15.055
14.000
16.899
14.940
14.322 14.297
13.630
12.418 11.621
12.000
11.957
o Portuguese Journal of Social Science e a Trajec-
10.000
tos, Comunicação, Cultura e Educação, todas criadas
8.000
10.806 8.963
20 12
20 11
20 10
20 09
20 08
20 07
8.723
20 04
em 2002. Também neste ano, a Revista Portuguesa de
15.283
20 06
outras: o Portuguese Journal of Quantitative Methods,
16.000 Milhares
ras, e esta última década viu ser-lhes acrescentadas
17.623
17.418
16.571
Todas as revistas científicas criadas durante a vida do Instituto foram experiências sólidas e duradou-
19.045
20 05
sidade humboldtiana, onde o saber nasce da investiga-
Gestão tornou-se na Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, acompanhando a expansão do ISCTE-IUL para
Orçamento de Estado descontado o valor da Caixa Geral de Aposentações Receitas Próprias sem consolidação com as participadas (cursos conferentes de grau e outras receitas)
o Brasil, em parceria com a prestigiada Fundação Getúlio Vargas. Estruturalmente, o Instituto viveu uma intensa política de integração, visando a sua solidez e operacionalidade. A constituição das suas quatro grandes escolas e a integração das diversas unidades de investigação traduzem, sobretudo, isso. Mas tal só seria possível graças à criação de estruturas técnico-administrativos, centradas em torno da Reitoria, que assegurassem a prossecução de funções que são essenciais para que docência e investigação sejam correctamente desenvolvidas. Foi assim que nasceram entidades como o Gabinete de Gestão Curricular, o Gabinete de Inserção
Revistas publicadas no ISCTE-IUL| Cerimónia de finalistas ISCTE-IUL
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Profissional, o Gabinete de Estudos, Avaliação, Planeamento e Qualidade, o Gabinete de Relações Internacionais e o Gabinete de Apoio à Investigação, a par da essencial criação do Serviço de Acção Social, incluindo uma vasta área de apoio aos alunos e um Gabinete de Aconselhamento. O ISCTE-IUL financeiramente mobiliza toda esta sua actividade, conforme o seu orçamento consolidado de 2011, com receitas no valor de 34 727 620 de euros, dos quais 19 433 319 são transferências do Orçamento de Estado, e 15 294 301 são receitas próprias, ou seja, 56 por cento dos seus proventos são gerados pela própria instituição, tendo alcançado, em 2011, um resultado líquido positivo de 4,4 milhões de euros (cf. gráfico 1, com os dados das receitas não consolidadas com as participadas). Um ISCTE-IUL autónomo, credível, vigoroso e confiante, eis ao que chegámos!
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NĂŁo se espere nenhuma paralisia do espĂrito de sempre: o de fomentar, de forma aberta, as potencialidades das suas principais ĂĄreas de conhecimento
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Empreender O exemplo que o INDEG constituiu, desde os anos 80, não está, hoje, só. Com a eleição de Luís Reto para a presidência do ISCTE, em 2005, passou a presidir ao INDEG António Gomes Mota, já professor nele há bastantes anos, doutorado em Gestão e agregado em Finanças, tendo sido catedrático nesse mesmo ano de 2005. Fiel à tradição da casa, Gomes Mota desenvolveu uma sólida experiência empresarial, nomeadamente na BDO, no Banco Pinto e Sotto Mayor, na SIEMCA – Sociedade Mediadora de Capitais, na PME Investimentos ou na FINPRO. O seu pai, o comandante José Gomes Mota, foi um militar de Abril e uma respeitada personalidade pública portuguesa. No ISCTE, António Gomes Mota já presidia à ISCTE Business School, desde 2003, permitindo assim, no INDEG, uma boa articulação em todas as dimensões da Gestão. Hoje, este Instituto, criado, com tanto empenho, por Eduardo Gomes Cardoso, é o que é: a maior escola de formação de executivos do país, uma ampla comunidade de professores e de mais de 15 000 executivos que frequentaram os seus cursos, acreditados pelas mais prestigiadas instituições internacionais. O Executive MBA do INDEG foi o primeiro, em Portugal, a deter a maior acreditação internacional desta área, a da AMBA - Association of MBA’s, a par das acreditações, filiações e distinções que a ISCTE Business School dispõe, entre elas as da European Academy of Business in Society (EABIS), da European Doctoral Programmes Association in Management and Business Administration (EDAMBA), o Executive MBA Council, o Eduniversal ou a Principles for Responsible Management Education (PRME). Os seus cursos de mestrados executivos estendem-se por um portfolio completo no vasto campo da Gestão, pelas suas áreas específicas de Gestão, de Contabilidade, Fiscalidade e Controlo de Gestão, de Marketing e Direcção Comercial e pela área de Finanças, a par do seu Executive MBA ou de modelos como um 6 days Mini-MBA ou Iniciativa com alunos no ISCTE-IUL | António Gomes Mota
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o Energy MBA, bem como as formações intra-empresas, programas de sustentabilidade empresarial e diversos programas avançados, de acordo com as questões e tendências específicas. Já em 2012, a presidência do INDEG mudou mais uma vez, sendo confiada a Paulo Bento, doutorado em Mergers and Acquisitions pela Universidade de Manchester e director da Global Economics and Management Review. A direcção da ISCTE-IUL Business School foi confiada, entretanto, a Mohamed Azzim Gulamhussen, doutorado em Finanças, com um pós-doutoramento em Harvard University, tendo recebido um prémio de citação de excelência da Emerald, com base na análise independente de mais de 15 000 artigos publicados em Economia e Gestão. Mas o exemplo supremo que representou e representa o INDEG foi a semente para outras iniciativas de entidades participadas pelo ISCTE-IUL, para formação executiva, consultoria e empreendedorismo, ligados às empresas e à sociedade. Uma delas nasceu de uma tradição em Projecto Empresarial Aplicado, cadeira de fim de curso que o ISCTE sempre teve, onde os alunos tinham de conceber a criação de um novo negócio, leccionada sobretudo por Albertino Santana, engenheiro com uma formação em Harvard, seguido, depois, por Luís Todo Bom. Era uma experiência muito positiva, ainda que não houvesse muito incentivo à concretização final, por se considerar que os alunos eram demasiado «verdes». «Nem pensem em montar um negócio!», era este o paradigma da altura. A partir de uma pós-graduação em Empreendedorismo e Criação de Empresas, do INDEG, em 2001, José Paulo Esperança e Rui Ferreira, professores na casa, com muito apoio de Luís Reto, entenderam alterar aquele paradigma, para a possibilidade de concretização efectiva dos negócios concebidos. E fizeram-no com o espírito de que a inovação não é o esquecimento da tradição, tendo ido buscar Albertino Santana para leccionar neste novo curso. José Paulo Esperança conta o que, basicamente, se pretendia: «Se tem uma ideia de criação de um novo negócio, venha fazer esta pós-graduação e, no fim, faremos uma conferência onde os vários grupos apresentam os seus projectos perante pessoas do sector financeiro que verão da possibilidade de investimento e de empreender.»15 Foi esta experiência que deu origem, em 2005, ao AUDAX, um centro de formação, empreendedorismo, consultoria, investigação, eventos e internacionalização, uma colaboração entre o INDEG e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, algo que reuniria mais de 150 projectos, 55 empresas e oito milhões de euros 15 José Paulo Esperança, depoimento para este livro, Abril de 2012.
Paulo Bento | Mohamed Azzim Gulamhussen
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de investimentos. Que o diga um dos «filhos» maiores do AUDAX, Miguel Pina Martins, o criador da empresa Science4you, premiado, em 2010, como empreendedor do ano, pela Comissão Europeia, graças aos seus brinquedos e kits para sensibilizar as crianças e a comunidade, no seu quotidiano, para as questões das ciências experimentais. Desde que José Paulo Esperança e Rui Ferreira foram à FNAC ver como se dizia empreendedor em latim, e deparou-se-lhes a palavra audax, que seria o nome do seu centro, já nasceram a partir dali empresas tão variadas como a Aqua, Aula Magna, Besttables, Bigmoon Animation, Bigmoon Interactive Studios, BOI – Building Objects and Ideas, Cobermaster, Joana Costa Reis, Madpuppet Entertainment, Mar Sem Fim, Pantheon Entertainment, Phineas, Prospactive, Resipark, Spin Energia, Transferência de Peso, para além da referida Science4you. Em 2008, surgiu o Concurso Audax TV e todo o trabalho do AUDAX recebeu o prémio Apoio ao Empreendedor Finicia Jovem, promovido pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) e pela Inovcapital. A experiência do AUDAX foi fundamental para a ISCTE-IUL MIT-Portugal Innovation and Entrepreneurship Initiative, lançada em Março de 2010 pelo ISCTE-IUL, em parceria com o programa MIT Portugal, o Deshpande Centre for Technological Innovation, o MIT School of Engineering, a Sloan Business School e a Caixa Capital, iniciativa de cariz internacional, pioneira na promoção do empreendedorismo de base tecnológica em Portugal.
José Paulo Esperança | Iniciativas no ISCTE-IUL
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«A EDP é, com grande satisfação, asso-
«A adesão da TAP ao projecto INDEG-
ciada fundadora do INDEG-ISCTE. Este
-ISCTE reflectiu a importância estraté-
projecto pioneiro em Portugal, na asso-
gica que a empresa confere à formação
ciação
iniciado
de executivos no quadro do desenvolvi-
em 1989, representou então uma impor-
mento empresarial do país. É com visível
tante e inovadora iniciativa na formação
orgulho que há mais de 20 anos depois,
pós-graduada de executivos em Portugal.
se vê que um projecto à época absoluta-
Os mais de 15 000 quadros empresariais
mente pioneiro na combinação de vonta-
que, ao longo de mais de 20 anos, frequentaram pós-
des, conhecimentos e recursos entre empresas e a
-graduações, mestrados executivos e outros progra-
universidade se transformou numa instituição de
mas formativos são um referencial de relevo quanto
referência em Portugal com um contributo decisivo
ao papel que o INDEG/ISCTE tem desempenhado em
na qualificação e desenvolvimento de competências
prol do desenvolvimento das competências de gestão
de quadros empresariais, ajudando a moldar o exer-
em Portugal.»
cício da gestão segundo os mais avançados stan-
António Mexia
dards internacionais.»
universidade-empresa,
Fernando Pinto
«A CGD decidiu, em 1989, associar-se à
«Educação e excelência são duas palavras
criação do INDEG-ISCTE na convicção de
de referência para a Portugal Telecom.
que se tratava de um projecto inovador na
Quando em 1989, a PT integrou o grupo
ligação entre a empresa e a universidade,
de empresas fundadoras do INDEG-ISCTE,
juntando a visão empresarial das necessi-
fê-lo na convicção de participar num
dades de formação em gestão a uma escola
projecto pioneiro em Portugal na asso-
com uma já longa tradição de proximidade
ciação Universidade-Empresa, visando
com a realidade do mundo das empresas.
a criação de uma entidade que respon-
Os resultados obtidos ao longo destes últimos anos,
desse às necessidades crescentes de formação
quer no número de alunos, quer no vasto conjunto
avançada de executivos e de inovação empresarial.
de programas lançados, muitos dos quais pionei-
No momento em que o INDEG assinala mais de 20
ros nas respectivas áreas temáticas, são elementos
anos de existência, é com particular orgulho que nos
seguros da valia do projecto no desenvolvimento das
associamos a esta celebração e ao reconhecimento
competências de gestão pós-graduadas de um vasto
do impacto que a escola teve no desenvolvimento das
conjunto de quadros profissionais, contribuindo para
competências de gestão pós-graduada em Portugal,
o progresso do tecido empresarial português.»
contribuindo para o progresso da gestão empresarial
Fernando Faria de Oliveira
através de várias gerações de quadros que frequentaram os seus programas.» Zeinal Bava
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Tendo como principal objectivo identificar e premiar projectos com clara proposta de valor à escala global, a ISCTE-IUL MIT-Portugal Innovation and Entrepreneurship Initiative integra-os num ecossistema internacional de catalisadores e investidores, com vista a maximizar a possibilidade de sucesso. A selecção dos projectos é levada a cabo por um júri internacional, especializado nas quatro aplicações tecnológicas em concurso: ciências da vida; sistemas sustentáveis de energia e transportes; tecnologias de informação, comunicação e electrónica; e outros produtos e serviços. Também pela mão do AUDAX, em 2010, decorreu a 1.ª edição da iniciativa Young Audax – First Step, uma formação dinâmica e pedagógica que activa o espírito empreendedor dos jovens dos 13 aos 18 anos. Outra das participadas do ISCTE-IUL é a Global-IUL, constituída em 2012 e presidida por Nelson Ramalho, como uma entidade responsável pela transferência de conhecimento e mudança organizacional através da consultoria no sector público e privado, usufruindo da investigação, do conhecimento e das competências do corpo docente do ISCTE-IUL e integrando as das anteriores entidades de transferência de conhecimentos, formação e consultoria. Foram já estabelecidos protocolos entre a Global-IUL e três instituições: uma consultora de extensão internacional (parceira na alavancagem da internacionalização dos negócios e que opera em Portugal, Angola, Bélgica, China, Espanha, e EUA); uma consultora brasileira (parceira na disponibilização e operações conjuntas num
Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, no Congresso dos Economistas, realizado no ISCTE-IUL (2011) | Luiz Moutinho no Marketing FutureCast Lab do ISCTE-IUL (2012)
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subdomínio da Gestão em todo o território do Brasil); e uma consultora nacional para a colaboração num subdomínio da Gestão de Recursos Humanos. Uma iniciativa, enfim, que muito fará e dará que falar. Uma das iniciativas, por exemplo, da Global-IUL é o Marketing FutureCast Lab, surgido em 2008 como o primeiro laboratório europeu que analisa e investiga novas tendências internacionais de Marketing, liderado por Luiz Moutinho, da Universidade de Glasgow, uma das maiores autoridades internacionais naquela área, bem como por Pedro Dionísio e Vicente Rodrigues, professores do ISCTE-IUL e co-autores do conhecido
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livro Mercator. O Marketing FutureCast Lab tem, presentemente, 15 empresas associadas que recebem, em exclusivo, informação regular sobre as novas tendências de Marketing, sabendo como esta área atravessa uma permanente transformação quer na condição dos consumidores, quer nas estratégias e meios que os sirvam. Finalmente, potenciando um campo onde as suas escolas e docentes acumularam capacidade significativa, o das políticas públicas e sociais, foi constituído, em Março de 2011, o Instituto para as Políticas Públicas e Sociais (IPPS-IUL), uma associação sem fins lucrativos que tem por objecto a «produção, transmissão e transferência de conhecimento científico e técnico que proporcione valor económico, social e cultural à sociedade, a fim de contribuir para a promoção de uma elevada qualidade na concepção, avaliação, regulação, supervisão e concretização das políticas públicas e de intervenção social, tendo em vista o bem-estar das populações, bem como a gestão e desenvolvimento das instituições públicas e das organizações não-governamentais».16 O IPPS-IUL é dirigido por António Dornelas, que foi secretário de Estado do Trabalho e Formação do XIV Governo Constitucional (2001-2002) e assessor do Presidente da República para o Trabalho e Assuntos Sociais (1995-2001). A construção de uma incontornável entidade de formação em serviço público e social, decisiva para o estudo e intervenção nesses espaços, por onde os quadros passem, se desenvolvam e que conservem por referência, no seu papel de aprofundar a qualidade cívica da democracia portuguesa, o poder operacional do seu Estado e das suas instituições sociais – eis o que se espera do IPPS. Presentemente, INDEG-IUL, AUDAX-IUL, Global-IUL e IPPS-IUL são as quatro grandes entidades participadas pelo ISCTE-IUL, unidas pelo seu espírito de sempre: o de fomentar, de forma aberta, as potencialidades das suas principais áreas de conhecimento e, não menos importante, aumentar a autonomia económica-financeira do Instituto. Não se espere, neste domínio, nenhuma paralisia, nenhum ponto final. Mesmo agora, no bairro da EPUL que está em frente ao ISCTE-IUL, no outro lado da Avenida das Forças Armadas, se prepara uma nova e importante iniciativa, um TECLAB, numa parceria entre o AUDAX-IUL, a EPUL, a Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian, o qual, em associação com o Instituto de Ciência Aplicada e Tecnologia (ICAT) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa disporá de uns 4000 metros quadrados de espaço para uma incubadora de empresas, para um novo centro de inovação. 16 Artigo 3.º dos Estatutos do IPPS-IUL.
Participantes do Inov Contacto no ISCTE-IUL (2010) | Nelson Ramalho | António Dornelas
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Doutoramento honoris causa de Serge Moscovici (2003) e conferĂŞncia de Muhammad Yunus no ISCTE-IUL (2008)
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«As universidades, e portanto o ISCTE, são portadoras de sonhos dos jovens e seguras pensadoras da criação de riqueza. Sabemos que o conhecimento é o alimento dessa criação. Nunca fomos um país pobre em recursos. Olhemos para os campos e para a excelência dos nossos bens alimentares; pensemos no mar que abandonámos e na complementaridade da opção europeia com o euro-atlantismo; rompamos com equilíbrios estáticos de uma economia dual (…); pensemos na cultura como motora de indústrias criativas; pensemos na empresa como foco da criação de riqueza e de emprego; pensemos nas potencialidades e na atractividade do nosso território; pensemos no valor económico e social da língua portuguesa. Ideias soltas que as universidades devem integrar em visões de um Portugal Novo, em programas e projectos alternativos, e indicar caminhos possíveis de modernização ao poder político (…). O ISCTE continuará a ser fábrica de sonhos, relíquia de cuidados e viveiro de portugueses de acção. Por isso me orgulho de pertencer ao vosso claustro de doutores.» José Veiga Simão
«Em Portugal, ainda estamos presos à política do carisma, sempre à espera do homem providencial (...) A consequência é o défice de contribuição e interesse do cidadão na formulação das políticas e na definição dos objectivos de interesse comum. Penso que está na hora de encararmos esta realidade e ponderarmos os seus riscos. Se nos libertarmos dos grilhões de ideologias caducas; (...) se formos capazes de reformar um sistema jurídico e judicial intrincado e impenetrável mesmo para os iluminados; se olharmos mais para o futuro e menos para o passado, teremos condições para demonstrar a nós próprios, aos nossos parceiros europeus e ao mundo que somos capazes de criar um novo modelo, uma nova fórmula de representação política adequada à era em que vivemos, que explore as potencialidades da tecnologia em lugar de nos fazer escravos dessa mesma tecnologia.» André Jordan
Doutoramentos honoris causa de José Veiga Simão e André Jordan (2011)
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«Na formação intelectual, o que eu acho que é importante ressaltar, fundamentando as minhas convicções democráticas, é a diversidade: respeitar o outro, conviver e ver quais são as regras que permitem essa convivência, sem que haja ruptura. É preciso ter disciplina, ter método, saber perguntar, saber a valoração das coisas. Fazer uma análise objectiva, mas não deixar que desapareçam os valores. Ter as suas opções, escolher com método, com clareza, com franqueza, sem demagogia, sem transformar a cátedra em prédica (coisa que nunca fiz). Mas, talvez, o mais difícil seja a imaginação. O mundo está mudando de uma maneira dramática, e não se sabe muito bem para que lado vai. Nós estamos precisando de imaginação, estamos precisando, outra vez, de ter audácia de pensar outro mundo. Eu sei que isso é utópico […] Vamos continuar acreditando que é possível um mundo melhor e, no que, modestamente, eu puder, ajudar ou, pelo menos, se não puder ajudar, aplaudir aqueles que forem capazes de construir um mundo melhor. Pode ter a certeza que eu vou aplaudir de todo o coração.» Fernando Henrique Cardoso
Doutoramento honoris causa de Fernando Henrique Cardoso com a presença de Mário Soares, Jorge Sampaio, Francisco Pinto Balsemão, Artur Santos Silva, António Costa e Nuno Crato, entre inúmeros convidados (2012)
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«Gostava de lembrar a todos um componente fundamental do programa Erasmus que é conhecer e viver outra realidade diferente da do seu país de origem. É assim que melhor se entende a complexidade da integração europeia, a sua riqueza e diversidade. É uma forma de ampliar a sua visão de mundo, de aceitar mais facilmente o outro; enfim, de ser mais tolerante. Mostrar o melhor dos valores europeus é uma parte fundamental do programa. Por isso, escolhemos como referência um humanista e filósofo da altura de Erasmo de Roterdão. Nunca será uma perda de tempo, durante a época da formação universitária, ter a possibilidade de abrir os seus horizontes intelectuais com universitários de outras nacionalidades, partilhar com eles, trabalhar com outros professores, conviver com os habitantes de outras cidades, de outros países.» Manuel Marín
Doutoramento honoris causa de Manuel Marín, com o discurso de elogio feiro por António Vitorino (2012)
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Em 2012, sob a direcção de Maria de Lurdes Rodrigues, realizou-se, no ISCTE-IUL, um amplo Fórum das Políticas Públicas que reuniu inúmeras personalidades relevantes destas áreas, numa reflexão sobre alguns dos principais problemas portugueses, reforçando o ISCTEIUL como espaço de intervenção
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Uma universidade é isso mesmo, uma entidade aberta a todo o mundo, às suas pessoas, às suas línguas, ao seu desejo de saber
Sem fronteiras A presente realidade de internacionalização do ISCTE-IUL é, como não podia deixar de ser, uma vasta rede de iniciativas, intercâmbio, extensões e cooperações por todo o mundo. Em 2011, entre os seus alunos, havia 1100 estrangeiros, cerca de 13 por cento do total. Nos docentes, 126 tinham actividade no estrangeiro, 35 eram estrangeiros e leccionavam no Instituto, e 36 estavam cá como docentes visitantes, para além dos 82 conferencistas de outros países que aqui vieram. A investigação reforça esta dimensão. Como dissemos, das 133 redes de I&D e actividades de cooperação participadas por investigadores do ISCTE-IUL, 90 por cento eram internacionais. No plano lectivo, em 2010/2011, o Instituto ofereceu, nos cursos de 1.º ciclo, 29 unidades curriculares numa língua estrangeira, 29 nos mestrados de continuidade e 68 nos mestrados temáticos.17 Foram ainda proporcionados seis cursos que conferem duplo diploma, nos 2.º e 3.º ciclos, com universidades estrangeiras de referência, nomeadamente o Mestrado em Hospitality and Tourism Management, com a University of Central Florida (Orlando, EUA), os quatro Masters in Internacional Management com a ESCEM School of Business and Management (Poitiers, França), a Groupe École Superieure de Commerce de Clermont (Clermont-Ferrand, França), a Pforzheim University (Pforzheim, Alemanha) e a Faculdade de Economia de Ljubljana (Ljubljana, Eslovénia), assim como um PhD in Business Administration of Finance (UD) e um PhD in Finance, na University of Delaware (Delaware, EUA), um master em Ciência, Inovação e Sociedade, num convénio com a Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), a Universidad Nacional 17 Relatório de Concretização do Processo de Bolonha do ISCTE-IUL, 2010/2011.
Alunos Erasmus no ISCTE-IUL
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de General Sarmiento (Argentina), a Universidad de la Habana (Cuba), a Universidad Nacional Autónoma de Mexico, Universidad de Oviedo e a Universidad de Salamanca (Espanha), e, finalmente, um curso em Entrepreneurship and New Venture Creation, com a University of Craiova (Craiova, Roménia). Novas parcerias, como a da pós-graduação do International Programme on Family Social Work and Social Policies, permite aos alunos um primeiro semestre em Lisboa e um outro na Suécia (Gotenburgo ou Stavanger), na Noruega (Bodo) ou em Itália (Calabria ou Parma), pós-graduação esta que evoluiu, recentemente, para um programa de mestrado Erasmus Mundus. Por outro lado, quatro dos cursos do ISCTE-IUL são dados directamente em universidades estrangeiras, como é o caso do Doctor Business Administration na University of Electronic Science and Technology of China (Chengdu, China) e do Doctor Healthcare Management com a Southern Medical University (Guangzhov, China), do master em Gestão de Empresas, na Universidade Politécnica (Maputo, Moçambique) e no Instituto Superior de Ciências Económicas Empresariais de Cabo Verde (São Vicente, Cabo Verde), do mestrado executivo em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas (Rio de Janeiro, São Paulo, Brasil) e do mestrado em Serviço Social, com a Universidade de Timor-Leste.. Como instituição, o Instituto integra a rede Columbus, a associação de universidades latino-americanas e Europeias; a European University Association (EUA), a associação europeia de universidades; a Euro-Mediterranean University (EMUNI University), sediada na Eslovénia, enquadrada na União para o Mediterrâneo e com a missão de aprovar a qualidade do ensino superior e a implementação de programas de ensino e de investigação; e a Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), a organização internacional das universidades e instituições de ensino e investigação de nível superior dos sete países de língua oficial portuguesa e de Macau. Foi aqui que, recentemente, em 10 de Novembro, se constituiu a rede global de ex-alunos do ISCTE-IUL, com participantes de Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde e China. Ir pelo mundo, trazer o mundo até Portugal! Quem interrogue os alunos estrangeiros que vieram até Lisboa, para estudarem no ISCTE-IUL, ou os alunos que recebem os docentes e cursos do ISCTE-IUL por esse mundo fora, recebe respostas invariáveis de prazer, de enriquecimento académico, de experiência humana.
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Alunos Erasmus no ISCTE-IUL
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«Desde 2010, a Southern Medical University começou um programa conjunto com o ISCTE-IUL em Doctor of Business Administration in Health Policy and Healthcare Management. O ponto principal é o de permitir que a pesquisa dos alunos desenvolva o conhecimento do sistema de saúde da China. Desejamos sinceramente que os nossos esforços possam contribuir para uma compreensão mútua entre a China e outros países, tornando o nome do nosso ISCTE-IUL muito mais luminoso.»
«Em Cabo Verde, 100 por cento das pessoas que estudaram ou estudam no ISCTE têm garantia de emprego. A maioria das pessoas que se formaram no ISCTE estão na esfera do poder (no Governo, na gestão das empresas, na gestão das instituições financeiras, nas direcções gerais e no Parlamento), contribuindo assim para o processo do desenvolvimento do país.»
Zhao Di, Doutorada pelo ISCTE-IUL, Associate
«O programa internacional de pós-graduação do ISCTE-IUL deu-me uma vantagem de conhecimento máxima e uma grande estadia neste Portugal lindo, a que eu ficarei ligada para sempre. O programa proporcionou-me uma visão alargada do trabalho e das políticas sociais na Europa que eu nunca conseguiria adquirir estudando apenas no meu país. Recomendo a todos que façam como eu. Foi um sucesso!»
Dean da School of Humanities & Management da Southern Medical University
«Devido à Revolução Cultural, fui enviada para o campo, para trabalhar como agricultora, quando tinha 16 anos. Com sete anos de estudo na escola, antes de encontrar o Professor Nelson António e a Professora Virgínia Trigo, no ISCTEIUL, não podia imaginar que a minha vida seria tirar um doutoramento. Com o seu encorajamento e orientação, completei o meu doutoramento em 2008 e tornei-me professora da School of Humanities and Management da Southern Medical University.» Gu Liong, Doutorada pelo ISCTE-IUL, Senior consultant of Xian Janssen Pharmaceutical Ltd (Johnson & Johnson, China)
José Fernandes, Mestre em Gestão de empresas pelo ISCTE-IUL (Cabo Verde)
Siv Elin Nord Saebjørnsen, Post Graduation in Family Social Work and Social Policy (Norway)
«Acho que os estudantes devem desempenhar um papel relevante no desenvolvimento das políticas de recolha de fundos das universidades, envolvendo-se no seu desenvolvimento, promovendo uma cultura de filantropia entre o corpo estudantil e fazendo donativos, no futuro, quando forem alumni.» Anna Dudik, Master in International Management (USA)
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«Novas experiências, um conhecimento mais amplo foi o que eu alcancei com o meu mestrado no ISCTE-IUL. É o que levarei comigo durante toda a minha jornada.» Mirna Gacanica , Post Graduation in Family Social Work and Social Policy (Norway)
«Academicamente, o estilo de aula é bastante diferente do Brasil, traz-te outras perspectivas, outras formas de pensar... Além de que os professores e o próprio ISCTE nos dão muito apoio o tempo todo. Pessoalmente, conheci pessoas de todos os cantos do mundo e, claro, pus o inglês a funcionar! Além de que estamos na Europa e a facilidade para viajar e conhecer os países daqui é muito grande.» Amanda Gomes Pereira, Licenciatura em Psicologia do ISCTE-IUL (Universidade Estadual Paulista, Brasil)
«Em relação ao ISCTE-IUL, além de ser considerada uma das melhores universidades europeias pelas suas actividades académicas desenvolvidas e resultados alcançados, posso dizer ainda duas características que me deixam satisfeita, por estudar no Instituto: a primeira é sobre as actividades e acompanhamento realizados pelo Gabinete de Relações Internacionais, sempre à disposição para esclarecimentos, informações e apoio; e a segunda é por ter muitos estudantes de vários países em intercâmbio, realizando diversos tipos eventos para facilitar a integração entre eles.» Narjara Xavier, Licenciatura em Gestão de Marketing do ISCTE-IUL (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
«O maior desafio colocado pelos docentes do ISCTE-IUL foi a pertença a uma elite intelectual, o que perspectivou um período dominado pela profundidade de pesquisa, liberdade intelectual, democracia, cidadania, etc. Como resultado, desenvolvi e consolidei uma postura profissional irrepreensível nas vertentes know-how, know-why e soft skills.» António Sendi, Master of Science in Business Administration (Moçambique)
«Estar em Lisboa, para um brasileiro, é algo único, visto nossa língua originária e ser uma cidade preparada para receber pessoas de todos o lugares do planeta. Lisboa é, sem dúvida, um local muito atraente para se visitar e viver. Junte a qualidade de vida que aqui se tem ao ensino superior de qualidade, reconhecido em toda a Europa, e tem-se um local propício para que o fluxo de estudantes seja intenso. O ISCTE-IUL é reconhecidamente uma das melhores universidades de Portugal e, em minha área, a Gestão, é considerada a melhor do país. Misture professores altamente qualificados e uma estrutura exemplar e teremos o ISCTE-IUL. Sem dúvida, com um momento único para mim e para todos que estão aqui se desenvolvendo pessoal e profissionalmente.» Eduardo Fofonka, Licenciatura em Gestão do ISCTE-IUL (Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Aspectos da vivĂŞncia dos alunos Erasmus do ISCTE-IUL em Portugal
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Parcerias do ISCTE-IUL no mundo
AMÉRICA DO NORTE Estados Unidos da América Brigham Young University, The Marriott School of Management Columbia University's School of International and Public Affairs Florida Atlantic University Florida International University University of Delaware University of Massachussetts, Boston University of Massachussets, Dartmouth Canadá Global Academic Network Ryerson University
AMÉRICA CENTRAL México Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey
AMÉRICA DO SUL Argentina Universidad Argentina de la Empresa Universidad Nacional del Litoral Brasil Escola da Cidade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Fundação Getúlio Vargas Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Universidade Católica de Goiás Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Universidade de São Paulo Universidade do Sul de Santa Catarina Universidade Federal da Paraíba Brasil Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Sergipe Universidade Estadual de Campinas Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal do Ceará Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Nove de Julho Universidade Potiguar Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade São Francisco Chile Universidad Bolivariana de Santiago de Chile Universidad Mayor Universidade de Santiago do Chile Colômbia Pontificia Universidad Javeriana Universidad de Los Andes Equador Universidad del Pacífico (UPACIFICO) Perú Universidad ESAN Uruguai Universidad ORT Uruguay Venezuela Instituto de Estudios Superiores de Administración
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EUROPA Mais de 200 Universidades nos seguintes países: Albânia Alemanha Bélgica Bósnia-Herzegovina Chipre Croácia Dinamarca Eslováquia Eslovénia Espanha Estónia Finlândia França Geórgia Grécia
Holanda Hungria Itália Letónia Lituânia Luxemburgo Noruega Polónia Reino Unido República Checa Roménia Rússia Suécia Suiça Turquia
ÁFRICA Angola Forças Armadas de Angola Universidade Agostinho Neto Universidade Privada de Angola Argélia Centre de Recherche en Économie Apliquée pour le Development Cabo Verde Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais Camarões École Superieure de Commerce et de Gestion des Entreprises du Yaoundé Moçambique Universidade Eduardo Mondlane Universidade Politécnica ISUTC/Transcom (Instituto Superior de Transportes e Comunicações) S. Tomé e Píncipe Instituto Universitário de Contabilidade, Administração e Informática
ÁSIA China Guandong University of Foreign Studies Lingnan University, Hong Kong Lingnan (University) College/Zongshan University National Taiwan University of Science and Technology School of Business, Renmin University of China School of Business Administration, Southwesterm University of Finance and Economics University of Electronic Science and Technology of China Wuyi University Coreia do Sul University of Seoul Chung-Ang University Kyungpook National University Yonsei University School of Business Emirados Árabes Unidos Abu Dhabi University Institute of Management Technology Dubai Índia Mats Institute of Management & Entrepreneurship, Bangalore Indian Institute of Management Bangalore Indian Institute of Management Kozhikode Indian Institute of Technology Gandhinagar Institute of Management Technology Ghaziabad Indonesia Universitas Gadjah Mada Japão Akita International University Hiroshima University of Economics Ritsumeikan Asia Pacific University Macau Instituto de Formação Turística University of Science and Technology University of Saint Joseph Universidade de Macau Tailândia Asian University College of Management Mahidol University Timor-Leste Universidade Nacional Timor Lorosa'e
OCEANIA Austrália Macquarie University
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O importante é que os vários espaços do ISCTE-IUL palpitem sempre segundo o seu lema «Investigar, Aprender, Fazer»
O nosso campus Em 2002, fechava-se um ciclo, ou melhor, um círculo, ainda que este não tivesse nada de curvilíneo. A verdade é que, a encerrar o espaço do ISCTE-IUL, nascia o Edifício II, encostado ao INDEG e ao Edifício I, o inicial, o de 1978, e a este ligado por um passadiço. Também do traço de Hestnes Ferreira, acoplado ao edifício do Instituto de Ciências Sociais, aquele Edifício II seria a maior estrutura de todo o complexo do ISCTE-IUL. Um átrio central dá acesso a vários níveis e a diversas direcções, com volumetrias contrastantes, desfiando compridas rampas, salas de aulas, gabinetes, laboratórios, um auditório de 500 pessoas, anfiteatros de 100 e 200 lugares, zonas de exposições, convívio e refeições, para além da importante Biblioteca Central. Mais uma vez com o betão branco como matéria nobre, por vezes com placas de pedra de lioz, o seu exterior é diversificado, ora erguendo-se em planos verticais, ora desafiando os ângulos. Logo em 2002, este Edifício II receberia o Prémio Valmor, a somar à menção honrosa do mesmo Prémio que o edifício do INDEG já tinha colhido, em 1993, demonstrando, deste modo, um considerável património arquitectónico de prestígio. Entretanto, em torno de uma nova praça central, onde as oliveiras, sobreiros, laranjeiras e as águas, numa mistura autenticamente mediterrânica, dão descanso a olhares e pulmões, os restantes edifícios, nascidos nos seus diversos tempos, não podiam estiolar. A sua vida recente foi a de uma fina e constante revisão de espaços, formas e funções, conduzida pelo arquitecto João Baltazar, no espírito que a Reitoria desejou imprimir: uma abertura às pessoas, uma transparência, um cuidado com a qualidade do trabalho, uma simbólica de cor que desse identidade e movimento. O rol é grande! No topo da Ala Autónoma, nascia o Clube ISCTE, a entidade criada, em 2007, para acolher todos os ex e actuais alunos e docentes. No 1.º andar do lado sul Aspecto do Edifício II do ISCTE-IUL | Placas evocativas dos Prémios Valmor
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Espaรงos exteriores do ISCTE-IUL
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do Edifício I, instalava-se a Reitoria e os seus serviços, com uma digna Sala de Actos. No rés-do-chão, a cuidada remodelação do acesso aos serviços administrativos. Nas quatro alas do Edifício I, um sistema de sinalização cromática e recuperação de corredores e gabinetes. Em seu redor, um circuito de manutenção. Na Praça Central, uma requalificação total. Enfim, um movimento perpétuo, ainda agora visível na actual reconversão do Auditório José Joaquim Laginha, no Edifício I, em três novos auditórios de tamanho médio, mais um novo auditório de 300 lugares. Se se tiver em conta que a rentabilização em aluguer de espaços do ISCTE-IUL a entidades externas, em 2011, atingiu os 220 000 euros, perceber-se-á que este trabalho de manutenção e reconversão não é apenas um gasto para consumo interno. E mesmo quando se pensaria que o espaço do campus estava finito, eis que surge, em 2011, a decisão da Reitoria de adquirir os terrenos e edifícios do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, criando uma futura frente do ISCTE-IUL para a Avenida das Forças Armadas, aumentando imenso a sua visibilidade e dando lugar a novos projectos. Fora deste campus, num contraponto à sua modernidade pós-70, o ISCTE-IUL atravessou a cidade, até Santa Apolónia, e instalou a sua residência universitária Professor José Peixoto num edifício magnífico, o Mosteiro de Santos-o-Novo, um monumento nacional que remonta ao século XVII, onde alunos e professores visitantes podem desfrutar do tempo desta Lisboa de sempre. Mas seja aqui, seja no campus da Av. das Forças Armadas, o importante é que os vários espaços do ISCTE-IUL palpitem sempre segundo o lema «Investigar, Aprender, Fazer», que o Instituto assumiu ao percorrer este último ano que o trouxe ao seu 40.º aniversário, a comemorar em 15 de Dezembro de 2012, traduzido num espírito que não se quer meramente comemorativo, mas, sobretudo, prospectivo. Como escrevia José Gomes Ferreira, o escritor, pai do arquitecto Hestnes Ferreira, um espírito, como o desta história, em que se sinta «saudades, não do passado, mas dum futuro qualquer, tão distante, tão lá no fundo, tão sonho, tecido apenas de pequenas coisas doces».18
18 José Gomes Ferreira, O Mundo dos Outros, Histórias e Vagabundagens, Lisboa, Portugália, p. 15.
Aspectos da Biblioteca no Edifício II
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Sala de Actos e aspectos da Reitoria
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Espaรงos interiores do ISCTE-IUL
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Residência Universitária Professor José Peixoto | Vista aérea do campus do ISCTE-IUL
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«Mais um ano em que a Associação de Estudantes do ISCTE-IUL está à frente da organização da melhor festa universitária do país! Foi um marco pioneiro quando se realizou a sua 1ª edição em 1995, que desde logo mostrou o seu potencial para uma linha contínua de edições. Sempre com o foco nos alunos, a Festa do Caloiro ISCTE-IUL cresceu de forma exponencial, tendo atraído no ano de 2010 mais de 8000 pessoas. Mas este ano promete superar todas as expectativas…» Website Myout, http://en.myout.net/events/festa-do-caloiro-doiscte-2012/13098, 2012. Em 2012, estiveram presentes cerca de 9 mil pessoas
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2002 • As eleições legislativas deram a vitória ao PSD, que constituiu o XV Governo Constitucional, de coligação com o CDS, sob a liderança de José Manuel Durão Barroso.
2003 • Portugal é o único Estado membro da União Europeia a votar contra a revisão intercalar da Política Agrícola Comum. • Cimeira das Lajes, nos Açores, reúne o presidente americano George W. Bush, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, o presidente do Governo espanhol, José Maria Aznar, e o primeiroministro português, Durão Barroso .
• Entram em circulação as notas e moedas do Euro. • O líder político angolano Jonas Savimbi é abatido numa emboscada. • Jimmy Carter torna-se no primeiro presidente americano (ex-presidente) a visitar Cuba.
Cronologia 2002-2012
• Timor-Leste torna-se independente e passa a formar um Estado soberano.
Portugal e o Mundo
• A sonda-nave Mars Odyssey encontra sinais de existência de água na superfície de Marte.
ISCTE
2002 • O ministro da Educação, Júlio Pedrosa, submete ao Conselho de Ministros o decreto-lei concedendo a natureza jurídica de universidade ao ISCTE, sob o nome Universidade Metropolitana de Lisboa, tendo o mesmo sido despachado e enviado para o Presidente da República Jorge Sampaio, para promulgação. • Conclusão das obras do Edifício II. • Atribuição do Prémio Valmor ao Edifício II. • Lançamento das revistas Portuguese Journal of Quantitative Methods, Portuguese Journal of Social Science e Trajectos, Comunicação, Cultura e Educação.
• Terroristas fazem-se explodir em dois locais nocturnos de Bali, Indonésia, provocando 202 vítimas mortais. • Lula da Silva é eleito presidente do Brasil.
• A Revista Portuguesa de Gestão tornou-se na Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, em associação com a Fundação Getúlio Vargas. • Criação da Escola de Gestão do ISCTE. • Albino Lopes eleito presidente do Conselho Científico. • Em 2 de Maio, o novo ministro da Ciência e Ensino Superior Pedro Lynce, solicitou a devolução do decreto-lei sobre a natureza jurídica de universidade do ISCTE, para reapreciação e não mais lhe deu sequência.
• Início da guerra do Iraque com a invasão por parte dos EUA, Grã-Bretanha e outros contingentes de várias nacionalidades. • Início do conflito civil na região de Darfur, no Sudão.
2003 • Licenciatura em Engenharia Informática. • Doutoramento honoris causa atribuído a Serge Moscovici.
• A Organização Mundial de Saúde (OMS) emite um alerta global em relação à Síndrome Respiratória Aguda Grave, uma pneumonia atípica com origem no Sudeste asiático. • Proposta a I Constituição Europeia. • A NATO assume o comando militar da força de paz no Afeganistão. • O avião Concorde faz o seu último voo comercial. • Saddam Hussein é capturado em Tikrit, no Iraque, pelos soldados americanos. • Lançada a rede Facebook.
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2004 • José Manuel Durão Barroso é o novo presidente da Comissão Europeia. • Pedro Santana Lopes é o primeiro-ministro do XVI Governo Constitucional. • Campeonato Europeu de Futebol 2004 em Portugal, com a vitória da selecção da Grécia. • Um veículo de operação remota é colocado em Marte. • Terroristas marroquinos levam a cabo vários atentados em simultâneo na capital de Espanha, Madrid. Confirmam-se 192 vítimas mortais. • Eleições legislativas em Espanha realizadas na ressaca dos sangrentos atentados de Madrid. O PSOE, de José Rodriguez Zapatero, sai vencedor.
2004 • Maria de Lurdes Rodrigues eleita presidente do Conselho Científico. • Adesão à plataforma DeGóis para a gestão curricular de investigadores. • Em 17 de Dezembro, vitória da lista M, encabeçada por Luís Antero Reto, nas eleições para a Assembleia do ISCTE.
• 10 novos Estados membros aderem à União Europeia: Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia, Republica Checa, Eslováquia, Eslóvenia, Hungria, Malta e Chipre. • Um dos maiores desastres naturais jamais registado. Um enorme sismo, ao largo da ilha de Sumatra, provoca um tsunami que se espalha por todo o oceano Índico, atingindo as zonas costeiras de muitos países. Estimam-se mais de 230 000 vítimas mortais. • Falecimento de Yasser Arafat. • Jorge Sampaio anuncia a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas antecipadas.
2005 • Novo Governo em Portugal, chefiado pelo secretário-geral do Partido Socialista, José Sócrates. • António Guterres é escolhido para o cargo de alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados. • Mahmoud Abbas é eleito sucessor de Yasser Arafat como presidente da Autoridade Palestiniana. • Entra em vigor o Protocolo de Quioto, sem o apoio dos EUA e da Austrália. • O Papa João Paulo II falece. Mais de quatro milhões de pessoas viajam para o Vaticano. Após o conclave papal , é eleito como papa o cardeal Joseph Ratzinger, que adopta o nome de Bento XVI.
2005 • Luís Antero Reto eleito presidente do ISCTE. • António Gomes Mota é o novo presidente do INDEG. • Jorge Freitas Branco eleito presidente do Conselho Científico. • Constituição do Conselho Consultivo do ISCTE, integrado por Alberto da Ponte, André Jordan, António Costa e Silva, António Maldonado Gonelha, António Ramalho Eanes, Carlos Monjardino, Fernando Lima, João Cravinho, João Ferreira de Almeida, José Miguel Júdice, Nuno Amado, Nuno Jordão e Vasco Vieira de Almeida. • O ISCTE é admitido como membro do Conselho de Reitores das Universidade Portuguesas.
• Sob pressão internacional, a Síria retira os últimos 14 000 militares do Líbano, terminando assim com 29 anos de ocupação militar desse país. • O furacão «Katrina» atinge a zona costeira no Sul dos EUA. Contabilizam-se mais de 1800 vítimas mortais e enormes prejuízos, sobretudo na cidade de Nova Orleães. A destruição estende-se também aos estados da Florida, Mississippi e Louisiana.
2006 • Aníbal Cavaco Silva torna-se no 19.º Presidente da República portuguesa, o primeiro presidente da área ideológica do centro-direita eleito após o 25 de Abril. • Como consequência de disputas no preço do gás natural, a Rússia corta o fornecimento à Ucrânia • É declarado estado de emergência em Banquecoque, na Tailândia, depois de tentativa de golpe de Estado.
• Vários atentados terroristas atingem o sistema de transportes de Londres.
• A Coreia do Norte anuncia ter efectuado o seu primeiro teste nuclear.
• A política alemã Angela Merkel, líder do Partido Democrata Cristão, é eleita chanceler da Alemanha. Torna-se a primeira mulher a ocupar este cargo na história do país.
• Saddam Hussein é condenado no Iraque a pena de morte por enforcamento.
• Criação do Audax, presidido por José Paulo Esperança. • Lançamento do repositório institucional do ISCTE: https:// repositorio.iscte.pt .
2006 • Licenciatura em Ciência Política.
• O domínio wikileaks.org foi registado e publicou o primeiro documento.
• Integração na Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP). • Membro da European University Association (EUA). • Integração na Rede COLUMBUS. • Adequações e criações de cursos de acordo com o modelo de Bolonha. • Exposição «45 Anos de Arquitetura de Hestnes Ferreira».
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2007 • Assinatura do Tratado de Lisboa, da UE, no Mosteiro dos Jerónimos. • Anunciada pela França, Portugal e Suíça a descoberta do planeta Gliese 581 c. • A Apple lança o seu primeiro telemóvel, o iPhone. • Nicolas Sarkozy é eleito presidente de França. • As tropas do Reino Unido retiram-se da Irlanda do Norte e passam o poder às autoridades locais, depois de 38 anos de ocupação.
2008 • Pela primeira vez na história, o preço do petróleo atinge a barreira dos 100 dólares por barril. • O Kosovo declara-se formalmente independente da Sérvia. • Fidel Castro abandona a presidência de Cuba. É substituído pelo seu irmão, Raúl Castro, eleito unanimemente pela Assembleia Nacional de Cuba. • Íngrid Betancourt, após mais de seis anos como refém das FARC, é libertada com a acção das forças especiais da Colômbia.
2009 • A Rússia volta a fechar os gasodutos com a Ucrânia. Grande parte do fornecimento de gás natural da Europa provém desta zona.
• Um sismo de elevada magnitude assola a cidade de L’Aquila, em Itália. Há a registar mais de 300 vítimas mortais e elevados danos materiais.
• Piratas somalis capturam várias navios de carga ao largo da Somália e exigem resgates avultados. • Barack Obama é eleito o presidente dos EUA.
• Entra em vigor o Tratado de Lisboa.
2007 • Criação do Clube de Alumni do ISCTE, tendo Carlos Nogueira como primeiro presidente.
2008 • Criação do Marketing FutureCast Lab.
• Licenciatura em Finanças e Contabilidade.
• AUDAX recebeu o prémio Apoio ao Empreendedor Finicia Jovem.
2009 • O Decreto-Lei n.º 95/2009, de 27 de Abril, instituiu a Fundação ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), com os respectivos Estatutos.
• Enorme crise financeira mundial, com o colapso de várias instituições financeiras, sobretudo nos EUA.
• Carlos Sá da Costa eleito presidente do Conselho Científico. • Sílvia Silva eleita presidente do Conselho Pedagógico. • O Senado aprova a mudança para a nova designação da escola: ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. • Eleição para a Assembleia Estatutária destinada a decidir a passagem a fundação e a elaborar novos estatutos no âmbito do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior.
• Concurso Audax TV.
• Criação do Laboratório de Competências Transversais. • Em 28 de Novembro, a Assembleia Estatutária aprova a passagem do ISCTE-IUL a fundação pública com regime de direito privado. • Nomeação dos Professores Eméritos João Carlos de Oliveira Moreira Freire, Jorge Correia Jesuíno, José Manuel Paquete de Oliveira, Mário Murteira, Miriam Halpern Pereira e Victor Manuel Matias Ferreira.
• Uma plataforma de petróleo da BP explode no Golfo do México, e durante vários meses liberta quantidades enormes de petróleo nas águas.
• Os primeiros casos de gripe suína ou gripe A ocorrem no México.
• A Organização Mundial de Saúde decreta o vírus H1N1 (gripe A) como pandémico. O vírus distribui-se por vários continentes e em mais de 70 países.
• Decorre, em Lisboa, a cimeira África-União Europeia.
2010 • Um sismo de magnitude sete atinge o Haiti, destruindo quase por completo a capital, Port-au-Prince. Com cerca de 230 000vítimas mortais, o sismo é considerado um dos mais mortíferos da história.
• O Conselho de Curadores da Fundação ISCTE-IUL é constituído por António Costa e Silva, António Ramalho Eanes, António Vitorino, Carlos Santos Ferreira, Maria Helena André, substituída por Mercedes Cabrera Calvo-Sotelo, por ter ido desempenhar a função de ministra do Trabalho e da Solidariedade Social do XVIII Governo Constitucional. • O general António Ramalho Eanes foi eleito presidente do Conselho de Curadores e Carlos Lopes presidente do Conselho Geral.
• Em consequência da crise financeira internacional, o FMI e a União Europeia estabelecem um acordo de ajuda financeira à Grécia. Também a Irlanda encetaria este processo de pedido de resgate. • Eleições legislativas dão nova vitória ao Partido Socialista. José Sócrates mantém-se como primeiro-ministro.
• Acidente numa mina no deserto de Atacam, no Chile, retém isolados 33 mineiros durante mais de dois meses.
• Adesão à EMUNI University.
2010 • Luís Reto toma posse como reitor do ISCTE-IUL, com uma equipa reitoral constituída pelos vicereitores António Caetano, António Firmino da Costa e Carlos Sá da Costa, assim como pelos pró-reitores José Paulo Esperança e Rui Pena Pires.
• André Jordan, Carlos Lopes, Carlos Nogueira, Edmundo Martinho, Esmeralda Dourado, Margarida Marques, Maria do Céu da Cunha Rego, Nicolau Santos, Nuno Vasconcellos, e Paulo Bárcia integram o Conselho Geral do ISCTE-IUL. • Em 13 de Novembro, o Conselho Geral elegeu Luís Antero Reto o primeiro reitor do ISCTE-IUL.
• Estruturação do ISCTE-IUL em quatro grandes escolas, a Escola de Gestão, a Escola de Sociologia e Políticas Públicas, a Escola de Ciências Sociais e Humanas e a Escola de Tecnologias e Arquitectura. • Reestruturação das unidades orgânicas descentralizadas aprovada pelo Conselho Geral.
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2012 • Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991, é eleita para o Parlamento, em Mianmar.
2011 • O Governo português estabeleceu, com uma Troika, constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, um acordo de ajuda financeira com base num programa de ajustamento a cumprir até 2013.
• O socialista François Hollande é o novo presidente da França. • Crise económica e social aprofunda-se em Portugal, com o desemprego a ultrapassar os 15 por cento.
• Primeiro-ministro José Sócrates pede demissão e são convocadas eleições legislativas ganhas pelo PSD, liderado por Pedro Passos Coelho.
• Sonda Curiosity pousa em Marte. • Em 15 de Setembro, centenas de milhares de portugueses manifestam-se, em todo o país, contra as políticas governamentais de austeridade.
• Formação do XIX Governo Constitucional na base de uma coligação PSD-CDS, com Pedro Passos Coelho por primeiro-ministro. • Vitória eleitoral do Partido Popular e Mariano Rajoy é o novo primeiro-ministro espanhol.
• Lançamento da ISCTE-IUL MITPortugal Innovation and Entrepreneurship Initiative. • Primeira edição da iniciativa Young Audax First Step. • Vítor Franco eleito presidente do Conselho Científico.
2011 • Aquisição pelo ISCTE-IUL dos terrenos e edifícios do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, na Avenida das Forças Armadas. • Constituição do Instituto para as Políticas Públicas e Sociais. • Susana Carvalhosa eleita presidente do Conselho Pedagógico. • Doutoramentos honoris causa atribuídos a José Veiga Simão e André Jordan.
• Mário Monti é o novo primeiro-ministro da Itália.
• O austríaco Felix Baumgartner salta da estratosfera, a 39 000 metros de altura em queda livre e quebra a barreira do som.
2012 • Constituição do Global IUL, presidido por Nelson Ramalho.
• Realizou-se, no ISCTE-IUL, a European Marketing Academy Conference (EMAC).
• Integram o actual Conselho Geral do ISCTE-IUL , presidido por Carlos Lopes, as seguintes personalidades: André Jordan, Conceição Carrapeta, Domitilia dos Santos, Esmeralda Dourado, Margarida Marques, Nicolau Santos e Suzana Toscano.
• O Gandhi Jayanti Observance realizou-se no ISCTE-IUL
• Doutoramentos honoris causa atribuídos a Fernando Henrique Cardoso e Manuel Marín. • Nuno Ferreira Guimarães é novo pró-reitor do ISCTE-IUL. • O Fórum de Políticas Públicas, do ISCTEIUL, reuniu inúmeras personalidades da sociedade portuguesa.
• Programa «Inovar é Fazer», na RTP Informação, promovido pelo ISCTE-IUL. • Criada a licenciatura em Serviço Social com parcerias com a Escola de Trabajo Social da Universidade Complutense de Madrid (Espanha) e a University of Jyväskylä Kokkola University Consortium Chydenius (Finlândia). • Aprovada candidatura do ISCTE-IUL à realização do mestrado Erasmus Mundus MFAMILY Families and Children, resultado da colaboração com as universidades de Gothenburg e de Stavanger.
• Barack Obama é reeleito presidente dos EUA.
• Obras de conversão do Auditório José Joaquim Laginha. • Paulo Rita, professor catedrático do ISCTE-IUL, foi eleito para o Executive Committe da European Doctoral Programmes Association in Management and Business Administration. • Em Macau, realizou-se o «ISCTE brings us together», a comunidade dos ex-alunos de países de língua oficial portuguesa e da China. • Paulo Bento é o novo presidente do INDEG-IUL. • Mohamed Azzim Gulamhussen é o novo director da ISCTE-IUL Business School. • Em 15 de Dezembro, 40.º aniversário do ISCTE-IUL.
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Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
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ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa
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Repensar
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Um debate Este livro fecha com uma reflexão sobre a universidade, em geral, e o ISCTE-IUL, em especial, no contexto das profundas alterações operadas no nosso tempo. Participaram professores que integram a actual equipa reitoral do Instituto, sobre quem cai, neste momento, a responsabilidade máxima pela condução do futuro desta casa: Luís Antero Reto (L. A. R.), reitor do ISCTE-IUL, António Caetano (A. C.), vice-reitor responsável pela área de avaliação e desenvolvimento institucional, António Firmino da Costa (A. F. C.), vice-reitor responsável pela área de investigação, bem como os pró-reitores José Paulo Esperança (J. P. E.) e Nuno Ferreira Guimarães (N. F. G.), responsáveis, respectivamente, pelas áreas de empreendedorismo e internacionalização. Os outros dois membros da equipa reitoral, Carlos Sá da Costa e Rui Pena Pires não participaram por impossibilidade de agenda no dia do debate. Assim sendo, vejam-se as intervenções presentes numa perspectiva aberta, informal, introdutória, estimulante de futuras reflexões, estudos e decisões, numa reflexão que se quer alargada a toda a escola e traduzível, sobretudo, em caminhos e iniciativas efectivas. É esse, aliás, o claro propósito deste tipo de conclusão de uma história do ISCTE-IUL. A universidade é, hoje, um complexo foco de múltiplas tensões, entre serviço público e empresarialização, academismo e utilitarismo, dependência do Estado e autonomia, necessidade de recursos e falta deles, ensino e pesquisa, generalismo e especialização, cultura e técnica, unificação e diversificação, critérios nacionais e internacionais, acesso amplo e selectividade, liberdade e condicionamentos, conformismo e inovação, preservação da sociedade e a sua mudança. Mesmo que se queira, como aconselhará algum bom senso, alcançar um certo equilíbrio entre estes parâmetros, tem de reconhecer-se que esse propósito não é fácil de concretizar. Será a forma como cada instituição responder a esta complexidade que definirá o seu perfil e missão, o seu sucesso, em última análise, a sua própria sobrevivência. Resta, pois, isto: uma atitude, autenticamente universitária, de pensar a universidade, pensar o mundo que a justifica, pensar o nosso papel nele.
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L. A. R. – Não podemos iniciar nenhuma reflexão credível sem termos em conta o actual contexto, pelo menos nalgumas das suas grandes variáveis. Há uma, inevitável, que é a falta de recursos públicos, associada à diminuição de rendimentos das empresas ou ao empobrecimento dos cidadãos. Mas há outras questões que, neste momento, são efectivamente muito importantes. Refiro-me, nomeadamente, à pressão para a conformidade, tendo em conta as agências de acreditação, os rankings ou as políticas científicas. Refiro-me também à concorrência acrescida, quer por recursos, quer por alunos, professores ou investigadores, tanto a nível nacional como internacional. Em articulação com factores como estes, a universidade está a ser desafiada pela sociedade para um conjunto novo de missões que nem sempre são fáceis de identificar, mas que obriga as instituições a saírem da sua «torre de marfim» e a afirmarem uma grande responsabilidade social. Refiro-me, nomeadamente, à chamada «terceira missão das universidades». Neste quadro, eu diria que o ISCTE-IUL é, provavelmente, a instituição mais sensível a aspectos deste tipo, pela sua própria evolução, pela constante falta de recursos que a caracteriza, e por se ter mantido durante muito tempo, digamos assim, fora do sistema. Aquilo que surge como constrangimentos transforma-se, no fundo, em desafios para fazermos mais e melhor do que temos feito até agora. Nas questões da conformidade, o nosso grande desafio é o de competir com os outros, mas fazê-lo sem matar a nossa cultura específica, a capacidade de diferenciação e de inovação interna, alguma informalidade e cultura convivencial que nos caracteriza. Na candente questão da falta de dinheiro público, entramos, inevitavelmente, no sistema de gestão das universidades, em que a eficiência e o aproveitamento de recursos são cruciais, evitando qualquer esbanjamento de fundos e de meios. Isto exige mudanças efectivas quer na cultura quer nos sistemas de gestão, muito com base numa contabilidade analítica bastante discriminada que seja capaz de premiar os bons outputs e, consequentemente, de avaliar os outputs menos conseguidos, estimulando as boas práticas, mas também a inovação. No plano da obtenção de recursos, é fundamental encararmos, a fundo, a internacionalização, promovendo produtos no exterior, exportando e vendendo know-how. Temos de aperfeiçoar, incrementar e canalizar as experiências que temos no estrangeiro. A par desse amplo raio de acção, há sempre a necessidade da estreita ligação às empresas e às instituições e toda a componente do mecenato, para lograrmos uma constante captação de recursos disponíveis.
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A sustentar tudo isto, temos de ter, e ele já é visível pelo mundo, um grande debate sobre como renovar o ensino nas universidades. Depois de um grande foco na investigação, há, neste momento, uma preocupação muito grande com o ensino, com o sucesso escolar, com a distribuição do saber, com a renovação dos processos, com a potencialização das tecnologias disponíveis e das que podem ser criadas, o que se prende com a grande diversidade do público universitário e das suas diferentes necessidades. Nós estamos muito habituados ao público tradicional, o jovem que acaba o liceu e entra na universidade e depois vai trabalhar, mas vamos ter, cada vez mais, outros públicos e situações, em parte porque a separação entre empresa, instituições e a universidade é cada vez menor. Existirá, cada vez mais,
«Aquilo que surge como constrangimentos transforma-se, no fundo, em desafios para fazermos mais e melhor»
uma ligação constante entre a ida para as empresas, a ida para as instituições, o regresso à universidade, o voltar às empresas e às instituições, o regressar à universidade. Esta permanente ligação ensino-vida profissional é uma questão premente, para a qual as universidades não estão preparadas. As tecnologias podem desempenhar, aqui, um papel muito importante, mas também se exige uma grande inovação nos produtos, nos métodos de ensino e na convivialidade que a universidade representa. Como integrar novos públicos com objectivos e necessidades diferentes, como concretizar este conceito de ensino on the job e esta educação continuada ao longo da vida?
N. F. G. – Sou, formalmente, um membro recente do ISCTE-IUL1 e vejo-o, em parte, a partir da minha formação de Engenharia e da minha anterior perspectiva exterior. Tendo em conta a sua experiência, a sua cultura, que ainda assim acompanho desde os anos 90, tenho uma teoria pessoal que é a de que o ISCTE-IUL é a escola burguesa por excelência. Burguesa no sentido renascentista, com iniciativa e vontade de criação de riqueza, por contraposição à aristocrata, que são, no fundo, as universidades mais clássicas, com pergaminhos, pórticos e territórios. O ISCTE-IUL é uma escola mais pequena, mais dinâmica, mais informal, com um enorme desejo de autonomia e que vai acabar por se constituir numa espécie de cidade-Estado. Sofrendo o condicionamento e mesmo o cerco do Estado em redor, as cidades-Estado, normalmente, têm de partir para outros sítios. Alguém tem de se meter no barco e abrir outras
1 Nuno Ferreira Guimarães está no ISCTE desde 2012 e foi presidente dos Conselhos Directivo e Científico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
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rotas porque o Estado e o espaço à volta são condicionantes e asfixiantes. Ora, é isso que o ISCTE-IUL faz de interessante e de desafiante. Estas perspectivas que o Luís Reto acabou de traçar – a internacionalização efectiva e empreendedora, os outros públicos, novas relações, novas tecnologias – é onde encontro a cultura do ISCTE-IUL, a sua personalidade no mapa das universidades, o que é muito estimulante. Gostava de fazer uma previsão, daquelas que, daqui a dez anos, se eu não acertar ninguém se vai lembrar (risos). Já hoje, a formação técnica tout court está basicamente disponível para toda a gente e vai estar cada vez mais. Quem quiser ter um, dois, três ou quatro cursos introdutórios de Matemática, de Física, de Termodinâmica, Marketing, Microeconomia, etc., tem-nos disponíveis, pode tirá-los em qualquer sítio. Na Internet, há professores fantásticos e cursos magníficos. O que faz pensar: o que é que vamos estar aqui a fazer daqui a uns anos? Vou também pegar naquilo que o Luís Reto estava a dizer. Vamos centrar-nos em ensinar as pessoas a resolver problemas, em desenvolver os alunos, intelectual, multidisciplinar e multiculturalmente, criando comunidades por onde as pessoas passam, primeiro para uma formação inicial, depois a meio da vida, quando enfrentarem mais problemas, e depois quando se reformarem, que é uma coisa que nós pensamos mal. Aqui há tempos, uma Professora japonesa perguntava-me: «Então já pensou no que vai fazer quando se reformar?» Nós, normalmente, não pensamos nisso. Vamos descansar. Mas as pessoas reformam-se aos 60 e tal anos e têm (hoje, no Japão) mais 20 pela frente. 20 anos, em muitos casos, é uma boa parte da nossa vida profissional. Nós vamos ter essas populações aqui a passar. E a razão de elas virem é porque vão pertencer a comunidades onde querem, ou vão ter de, cumprir um papel positivo e produtivo, mais do que passar o tempo.
L. A. R. – O recurso sistemático à Internet e ao blended learning vai provocar alterações profundas nas universidades. Se, por um lado, vai ser uma ameaça pela concorrência mundial que possibilita (vejam-se os programas já oferecidos por Harvard, Stanford ou MIT), por outro, pode ser um instrumento precioso para a diminuição de custos físicos e financeiros e, em simultâneo, um factor de inovação no ensino e na aprendizagem. O caso descrito no livro The Innovative University2 é bem ilustrativo das potencialidades das novas tecnologias para a missão da universidade, tidas, sobretudo, como um grande campo de socialização. Se bem que tenhamos de fazer um intenso trabalho de inovação em matéria de ensino virtual, uma coisa é uma pessoa 2 Christensen, C.M., & Eyring, H. J. (2011), The Innovative University: Changing the DNA of Higher Education from the Inside Out, San Francisco, CA, Jossey-Bass.
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tirar o curso na Internet e ficar sozinho em casa, outra coisa é viver a universidade, o que é, essencialmente, um exercício de socialização e de confronto com outros, os diferentes. E a questão é que quanto mais nos internacionalizarmos, mais a necessidade desse confronto existe. Nós temos, aliás, um campus que possui a riqueza de não ter nenhuma unidade separada, e isto levará a reforçá-lo como lugar de encontro, de interacção. Pertencer à mesma associação de estudantes, ir às mesmas festas, se calhar casar aqui. É nisto que eu vejo esta nova função da universidade, de aprender a pensar, de aprender a debater, de aprender a confrontar-se com a diferença e de incorporar tudo isto na construção e na manutenção de identidades. É uma cultura predominantemente cosmopolita. Isto leva-nos a outra componente que abordo desde já e que é a da necessidade de uma grande diversidade de carreiras universitárias. Nós fizemos já uma tentativa no Regulamento Docente ao definirmos quatro perfis de professores e nisso penso que inovámos, mas estes perfis estão longe de serem interiorizados e assumidos pela maioria dos nossos colegas. Nós até agora estamos habituados ao tradicional docente que entra para a universidade e daqui não sai. Mas, cada vez mais, vai ser necessário, para os novos públicos e para as novas exigências, um tipo de professor que o seja a tempo inteiro, mas com uma carreira universitária que permita tempos
«O recurso sistemático à Internet e ao blended learning vai provocar alterações profundas nas universidades»
de saída, com garantia de regresso. De certo modo, umas sabáticas, mas noutro sentido: em que o docente possa passar um ano ou mais, numa empresa ou numa instituição, ou num outro país, e depois tenha direito a regressar. Por outro lado, a diversidade de missões da universidade (investigação, ensino e transferência), a par de uma necessidade permanente de obtenção de mais fundos obrigar-nos-á ao desenvolvimento de perfis de professores que combinem as diferentes missões. Esta diversidade das carreiras universitárias, penso que é uma das coisas que iremos ter pela frente a um prazo muito curto.
A. F. C. – O que mais me impressiona é que o contexto à nossa volta, como vocês já salientaram, está a mudar muito rapidamente, em múltiplas dimensões, provavelmente de forma muito mais intensa do que as dinâmicas internas das organizações universitárias. A verdade é que ainda não fizemos completamente o balanço da profundidade e da multidimensionalidade dessas mudanças todas.
248 | até onde nos levar o saber Nós temos à nossa volta uma população que tem uma estrutura demográfica, profissional, social, cultural, completamente diferente de há 20 anos, para não falar há 40, quando o ISCTE apareceu. E, portanto, o tipo de públicos, parceiros e interlocutores que nos aparecem, quer para ensino, quer para projectos, intervenções, colaborações institucionais, é, hoje, radicalmente diferente. Desde a profunda mudança que constitui a actual presença feminina na esfera profissional e no ensino superior, ao alargamento das qualificações e da sua importância, passando pela alteração da estrutura demográfica e dos estilos de vida, as mudanças são enormes. É verdade que as universidades, hoje em dia, não actuam sozinhas. Elas conjugam-se com as outras formas de promover a qualificação cognitiva, com a Internet, com as bibliotecas virtuais, com os mais variados modos de informação, de produção e de difusão do conhecimento. Uma instituição que não se reposicione perante todas essas mudanças arrisca-se, mais dia, menos dia, a ser uma peça de museu. Ora, o que estamos nós, ISCTE-IUL, a fazer desse ponto de vista? Este livro mostra uma cultura muito forte da nossa instituição. Resta saber até que ponto os seus traços são ainda trunfos positivos perante as evoluções externas e quais os que estão eles próprios em transformação. Uma coisa evidente é que temos sempre mais projectos do que recursos. Temos projectos a puxarem pelos recursos, e não tanto recursos a empurrarem os projectos, como noutras instituições. Isso revela, em todo o caso, uma capacidade de iniciativa que temos de articular com a capacidade de nos mantermos disponíveis para diagnosticar bem a envolvente, e podermos ir respondendo, de uma maneira apropriada, a uma evolução externa que é de difícil previsão. Eu diria que precisamos, de uma forma muito mais organizada do que dantes, manter este potencial de diagnóstico e de iniciativa. Alguns teorizam a produção de conhecimento nas sociedades actuais, apontando para que, durante um século, um século e meio, as universidades produziram conhecimento segundo o que poderíamos chamar de um modo I: disciplinas científicas e laboratórios de investigação, acumulação de conhecimento segundo as agendas internas das áreas disciplinares, com as suas formas específicas de validação. Isso permitiu um progresso muito significativo do conhecimento. Mas, agora, precisamente porque o contexto mudou radicalmente, surgiu um modo II de produção de conhecimento. Este já não é tanto disciplinar, mas interdisciplinar, já não tem um carácter em grande medida autocontido, mas relaciona-se mais directamente com as pessoas à volta, que têm elas próprias, pelo menos muitas, formação avançada e
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acesso ao conhecimento. Já não é endogenamente comandado pelas agendas disciplinares, mas sim pela forte interpelação dos problemas económicos, sociais, culturais, ambientais que nos confrontam. Estamos nós capacitados para desenvolver o modo II de produção de conhecimento, aqui, no ISCTE-IUL? Uma das coisas que ele pressupõe é que o modo I continue a existir, com os seus critérios exigentes, mas não que ele seja a única fronteira dinâmica do nosso trabalho. Por outro lado, esse modo II não pode ser conduzido de forma tão dispersa e difusa que torne impossível um resultado coerente. Provavelmente, terá de haver um balanço entre ambos. Aqui, no ISCTE-IUL, temos boas experiências nesse sentido, mas não deixa de ser um desafio que se nos coloca.
A. C. – Vou salientar uma coisa que pode parecer contraditória com as leituras que temos sobre a cultura de inovação na nossa história. Eu acho que o ISCTE-IUL não é tão inovador como poderia ser! Ora, no actual contexto, em função da tal escassez de recursos, de todo o contexto transformador que existe, da forte concorrência, cada vez mais forte, aliás, que temos nas áreas em que estamos, penso que o factor decisivo, o driver fundamental, que nós devemos explorar é, exactamente, a inovação. Por isso mesmo, temos de saber do que falamos quando falamos nela. A inovação tem de ser uma inovação disruptiva, e não a inovação de continuidade, de sustentação. O ISCTE tem tido alguma inovação, sem dúvida, mas é so-
«Uma instituição que não se reposicione perante as mudanças arrisca-se, mais dia, menos dia, a ser uma peça de museu»
bretudo uma inovação incrementalista, sustentadora. A inovação real é a inovação disruptiva, feita a vários níveis, onde, em grande parte, nós estamos a patinar ou até bloqueados. É preciso, nomeadamente, uma inovação muito forte ao nível dos curricula, ao nível da investigação, ao nível da interdisciplinaridade... Ou vamos por aí ou estamos, pura e simplesmente, a procurar ser tão bons como os melhores que já existem. É isso, aliás, que temos andado a fazer nos últimos anos. Temos andado, em grande parte, a querer mostrar que somos tão bons como eles. Temos de perceber que alemães, ingleses, suecos, por aí a fora, estão todos preocupados com a questão do ensino, mas, para eles, a qualidade dos processos é um dado de base, enquanto para nós ainda é um objectivo de que estamos mais ou menos longe de alcançar…
L. A. R. – … para nós e para o País inteiro…
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A. C. – … nós e o País inteiro! Para eles, isso não é um objectivo, é um standard e o que os preocupa, neste momento, é o output efectivo do ensino, para enfrentar os problemas existentes, e aí eles aplicam critérios de avaliação e de dinamismo que já adoptavam há muitos anos. Nós ainda estamos a procurar fazer uma estandardização, que é regulada exteriormente, não há um drive interno, estamos a fazer isto porque somos obrigados pelas agências, de forma exógena. Ora, é disso que temos de nos libertar. Uma universidade inovadora não é inovadora por lhe ser imposta essa inovação. É inovadora se, de facto, no modo como funciona internamente, nos seus objectivos, nos desafios que se coloca, ela trabalhar nesse sentido, de ir criando as tais inovações de ruptura. O que se passa, neste momento, é que nós estamos entre a espada de repensar o ensino, ou seja, avaliar os seus outputs e renovar profundamente os seus parâmetros, e a parede de nos submetermos a standards internacionais e aos mais variados rankings.
L. A. R. – De facto, quando se fala, hoje, em novos conteúdos para o ensino, eu abro o livro da Carnegie Mellon3 e vejo que já em 1994 eles estudavam o conteúdo dos cursos de Engenharia, por exemplo, e incluíam componentes como desenvolvimento de competências de comunicação escrita e verbal, discussão de perspectivas multidisciplinares e desenvolvimento de pensamento holístico, discussão de impactos sociais, económicos e ambientais nas decisões de Engenharia, integração da ética no processo de tomada dessas decisões, promoção da aprendizagem ao longo da vida. Calcule-se ao que isto não conduz na modificação dos conteúdos dos cursos de Engenharia, para falar só nestes! Nós, apesar de nos considerarmos inovadores, só há dois ou três anos é que tornámos obrigatórios seis ECTS em Competências Transversais para todas as licenciaturas. Fomos, de facto, inovadores para o panorama nacional ao criar aquele laboratório de línguas e competências transversais, mas com um atraso considerável face a instituições como a Carnegie Mellon.
N. F. G. – O que estão a colocar prende-se com uma questão essencial: a autonomia das universidades, lato sensu. Se daqui a 20 anos as universidades portuguesas cá estiverem e quiserem ter algum papel no mundo não podem ter o estatuto que têm
3 Resnick, D. P., & Scott, D. S. (eds) (2004), The Innovative University, Pittsburgh, Carnegie Mellon University Press..
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tido. Na relação com o Estado e com a sociedade, a minha experiência é de guerrilha permanente. Estamos sempre em trincheira, damos tiros uns aos outros ou baixamos a cabeça, e isto constrange tudo, nomeadamente um pensamento e uma revisão curricular desse tipo. Ela implica um voto de confiança enorme das instituições do Estado, das agências de acreditação, das instituições envolvidas. E a verdade é que muitos currículos e projectos são certificados com base em parâmetros razoavelmente conservadores. Por exemplo, nos cursos de Engenharia, ainda há pouco tempo a Ordem dos Engenheiros, a que eu pertenço e onde fui membro eleito, contabilizava aspectos formais como quantas cadeiras de Matemática e Física tinha o curso. Para que se possa ser inovador desse modo disruptivo, é preciso autonomia, não apenas legal, mas mesmo cultural. É preciso que a sociedade nos dê um
«Uma universidade inovadora não é inovadora por lhe ser imposta essa inovação»
voto de confiança, independentemente de as universidades, por vezes, fazerem asneiras e terem necessariamente de corrigir os erros. Este voto ilustra também a abertura e maturidade da sociedade e do Estado, e nunca foi parte da tradição intelectual portuguesa.
A. C. – Eu concordo, mas, provavelmente, esse apelo disruptor tem de vir muito de nós, mesmo com todos esses constrangimentos que temos, ou, então, estaremos sempre numa lógica de conformidade, seja com o Governo, seja com quem for. As concepções de que falei estão associadas ao que entendermos ser a função social da universidade, levando em conta todas as alterações que tem havido ao nível da tecnologia e do conhecimento.
L. A. R. – E dos problemas sociais...
A. C. – … e dos problemas sociais. Há aqui uma questão fundamental. A universidade, relativamente a públicos jovens, mais do que ter o papel de transmissão de conhecimento, tem um papel que o Luís referiu, que é o de formação social e cívica dos alunos, isto é, não é apenas formação técnica nem formação cognitiva; são, exactamente, as outras dimensões a responsabilidade, a autonomia, o pensamento crítico, os valores, por aí a fora. A nível nacional, não conheço nenhuma universidade que esteja a fazer isto como um projecto diferenciador dos seus alunos. O ISCTE deveria fazê-lo, criar um tipo de inovação que obrigaria a mudanças pedagógicas, institucionais e do próprio campus, no sentido de uma componente muito forte, uma marca, que
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proporcionasse um conjunto de competências que designamos por competências abertas, facilitadoras da adaptação aos mais diversos contextos. As competências fechadas são aquelas a que o Nuno estava a referir-se. A maior parte do conhecimento técnico está aí, disponível, é aprender, treinar e fazer. As competências abertas têm a ver com a capacidade de pensar problemas, de resolver problemas, de enquadrar a diversidade e a crítica, de interiorizar e desenvolver a dimensão cultural, os valores éticos, no fundo, aquilo que torna um aluno e um diplomado do ISCTE-IUL num cidadão, com um valor acrescentado incalculável. Acho que é aí que o nosso Instituto pode diferenciar-se e inovar bastante. Do ponto de vista do ensino, e numa metáfora talvez demasiado deslocada, eu falaria mesmo de uma distinção entre produtos de linha branca e uma linha curricular de inovação, diferenciação e aprofundamento, seja ao nível do currículo, da investigação ou da interdisciplinaridade. Se nós gastarmos menos recursos na linha branca, onde muita da formação pode ser obtida online, poderemos investir muito mais em competências abertas e proporcionar opções de outro género que capacitem mais os alunos para desenvolverem, por exemplo, o pensamento crítico, a cidadania, a iniciativa e a inovação.
N. F. G. – O ISCTE-IUL tem, nessa perspectiva, um potencial considerável, seja numa cultura digital – que não tem nada a ver com ser engenheiro informático –, seja numa cultura de gestão, seja numa visão social dos problemas. Esta convergência aparece, agora, por exemplo, na MIT Engineering Systems Division, uma unidade com papel directo no Programa MIT-Portugal que vale a pena observar e gera uma projecção horizontal das intervenções, onde os problemas dos transportes, por exemplo, não se tratam, apenas, com engenheiros electrotécnicos, mecânicos ou civis, mas também com sociólogos, psicólogos, etc.
J. P. E. – Deixem-me acrescentar, aí, uma forte cultura ambientalista, o que alguns chamam «universidades verdes», com projectos muito variados, desde a auto-suficiência energética até à mobilidade, para além da investigação nessas áreas. Num contexto de crescente globalização do ensino universitário, é importante recordar que as universidades de Harvard e Yale, nos EUA, ou Leeds, no Reino Unido, têm desenvolvido programas de sustentabilidade energética e de promoção da investigação que depois aceitam partilhar com outros países como a China. Quando organizámos a conferência sobre «Governação, Inovação, Responsabilidade e Am-
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biente», em 2010, foi surpreendente verificar a quantidade de trabalhos que os nossos colegas, da Psicologia à Economia, da Gestão à Sociologia, têm vindo a produzir nesta área. E não falo apenas de investigação, já que muitos destes estudos resultam de trabalhos de consultoria e de aplicações no terreno, em articulação com grandes empresas, autarquias, Ministério do Ambiente, etc.
N. F. G. – E, sem dúvida, fomentar uma cultura de sustentabilidade organizacional. Pelo facto de o ISCTE-IUL ser relativamente recente, deve explorar essa juventude. As escolas portuguesas, com o tempo e com os modelos e normas de carreira que existem, caminham, inevitavelmente, para a cristalização. É fatal! O nosso sistema universitário é catastroficamente anquilosante, desse ponto de vista. Ora, nós temos de ser muito sábios nessa resistência e permitir que se possam ir buscar pessoas para novas experiências e com capacidade e disponibilidade para outras dimensões.
J. P. E. – Nós já falámos aqui de desafios enormes, o que torna muito importante o regresso à nossa história. Temos muito com que nos orgulharmos, o que fornece um capital importante para o que temos a fazer. A lista de inovações do ISCTE-IUL é significativa. Não vou enunciá-la, mas fomos dos primeiros a abraçar a internacionalização, nomeadamente em aderir ao Erasmus, logo no primeiro ano. Também ao nível do empreendedorismo, arrancámos logo no início da década quando os mercados tinham caído e também reinava um grande pessimismo. Hoje, o nosso centro Audax está muito activo ao nível do empreendedorismo social e local, na formação para empreendedores, já com actividades internacionais e também estamos implantados nos projectos tecnológicos, através de um concurso em que colaboramos com o MIT e atingiu, no seu terceiro ano, um nível de atracção de candidaturas estrangeiras de 40 % que excedeu em muito as nossas previsões. Claro que há muito a fazer no
«Deixem-me acrescentar uma forte cultura ambientalista, o que alguns chamam “universidades verdes”, com projectos muito variados, para além da investigação»
desenvolvimento do ecossistema de apoio ao empreendedorismo. Ainda falta uma rede de mentores que cubra as diversas áreas de negócio e regiões do país. Também no exterior, desde logo no mundo lusófono, há um grande trabalho de apoio ao desenvolvimento das condições favoráveis ao empreendedorismo e ao desenvolvimento económico e social. Através da internacionalização do ISCTE-IUL podemos ter um contributo importante nesse domínio.
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L. A. R. – E começámos no início dos anos 90 com Macau, com um mestrado em inglês, quando toda a gente nos pressionava a fazer em português. Foi um factor que nos permite, hoje, sermos os únicos a estar na China. E na ida para o Brasil, para Moçambique, com cursos próprios, também fomos pioneiros. Actualmente, nós podemos pensar em aumentar a nossa intervenção no estrangeiro significativamente, de uma forma mais sólida, tendo mesmo filiais nossas, permitindo captar mais alunos, gerir carreiras de professores completamente diferentes e, sobretudo, permitindo choques culturais muito mais fortes que serão muito importantes na nossa capacidade de pensar os problemas de forma global.
A. F. C. – Pode ser útil sublinhar um aspecto importante a tomar em conta na formulação de estratégias e na sua concretização. Tem a ver com a nossa posição específica, como instituição e, sobretudo, como País. Nós estamos sempre confrontados, pelo menos nas últimas décadas, com aquilo que se podia chamar de «armadilha do desenvolvimento intermédio». Isto é, temos sempre dois problemas para resolver: o de recuperar atrasos, os dos tais standards que outros já adquiriram, mas que nós não nos podemos dispensar de alcançar; e, ao mesmo tempo, o de partilhar, em sincronia com os mais avançados, inovações de vanguarda, de fronteira e, até, de disrupção. Estes dois problemas têm de ser resolvidos em simultâneo. São sempre erradas, creio eu, as soluções que optam apenas por um dos lados. Porque, assim, ou retiram a base de sustentação e credibilidade, ou retiram a possibilidade de avançar, de inovar efectivamente. Daí a necessidade de um certo equilíbrio entre aquela linha branca de que o António Caetano falou, assente em actividades já bem testadas, de qualidade estabelecida e grande eficiência, e uma linha colorida, digamos assim, de outro tipo, mais criativo e exploratório, sem a qual a nossa função universitária de participar nas fronteiras da descoberta e da inovação não se poderia assegurar.
L. A. R. – Uma reflexão como esta não se conclui, mas queria ainda chamar a atenção para um ponto que considero essencial neste nosso processo, que é o factor da liderança. Tudo o que acabamos de dizer necessita de uma grande capacidade de abertura e de visão para encetar estes passos, montando dispositivos para que eles se concretizem e, sobretudo, capacidade para mobilizar as pessoas para tal, sabendo que elas têm de fazer esforços muito maiores do que se se encontrassem em situações mais cómodas e tradicionais.
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Isto coloca-nos o problema de como seleccionar os dirigentes universitários nas várias estruturas, como fazer o seu alinhamento com o Plano Estratégico da instituição sem matar a autonomia e a capacidade de inovar e, finalmente, que estímulos podemos oferecer aos professores que abraçam a gestão académica em detrimento muitas vezes da sua carreira científica. A introdução da contratualização de objectivos e a autonomia para premiar o esforço desses dirigentes são talvez um dos factores mais decisivos, nos próximos tempos, para as universidades portuguesas. Tudo isto exige uma nova filosofia de gestão que o Estatuto da Carreira Docente Universitária está longe de contemplar, e uma autonomia de gestão universitária totalmente diferente daquela que está interiorizada pelos nossos decisores políticos, particularmente os que detêm responsabilidades no Ministério das Finanças.
«Tudo o que acabamos de dizer necessita de uma grande capacidade de abertura e de visão para encetar estes passos»
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Uma Hist贸ria dos 40 anos do ISCTE Insti
257 | Desenvolver 2002-2012
ituto Universitário de Lisboa até onde nos levar o saber Uma História dos 40 anos do ISCTE Instituto Universitário de Lisboa Organogramas e números
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Organogramas do ISCTE-IUL
Conselho de Curadores
Fiscal Único
Conselho Geral
Senado Conselho Universitário
Reitor
Conselho Científico
Conselho Pedagógico
Provedor do Estudante
Serviço de Acção Social Secretariado Serviço de Expediente e Arquivo
Gabinete de Apoio à Reitoria
Núcleo de Relações Intitucionais e Assessorias Gabinete de Comunicação e Imagem
Ensino e Investigação
Unidade de Alumni e Fund Raising
Indeg - IUL
Entidades Participadas
Audax - IUL
Global - IUL
IPPS - IUL
Conselho de Gestão
Directora Coordenadora
Administradora
Serviços de Informática
Unidade Redes Comunicações e Sistemas
Serviços de Informação e Documentação
Unidade de Informação e Formação
Unidade Núcleo de de Biblioteconomia Desenvolvimento
Unidade de Multimédia e Tecnologia Educativa Núcleo de Apoio ao Utilizador
Serviços Financeiro, Patrimonial e de Recursos Humanos
Serviços Académicos
Unidade Edifícios e Recursos
Unidade Patrimonial e de Compra
Unidade de Recursos Humanos
Núcleo de Contabilidade e Orçamento
Núcleo Técnico
Núcleo de Património
Núcleo de Gestão Técnica
Tesouraria
Núcleo de Apoio Geral
Núcleo de Compras
Núcleo de Gestão Administrativa
Unidade Financeira
Gabinete de Gestão Curricular
Unidade de Estudos graduados (1.º Ciclo)
Unidade de Estudos pós-graduados (2.º Ciclo)
Gabinete de Inserção Profissional
Gabinete de Estudos Avaliação, Planeamento e Qualidade
Gabinete de Apoio à Investigação
Núcleo de Apoio à IBS
Núcleo de Estudos e Avaliação
Núcleo de Apoio à ECSH, ESPP e ISTA
Núcleo de Planeamento e Qualidade
Núcleo de Apoio à IBS Núcleo de Apoio à ECSH, ESPP e ISTA Núcleo de Apoio a Estudos pós-graduados (3.º Ciclo)
Gabinete de Relações Internacionais
Núcleo de Apoio Técnico/ /Administrativo
259 | até onde nos levar o saber
Conselho Geral
Senado Conselho Universitário
Reitor
Conselho Científico
Conselho Pedagógico
Provedor do Estudante
Departamento de Contabilidade Departamento de Antropologia Departamento de Economia Departamento de Economia Política Departamento de Finanças ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Departamento de Psicologia Social e das Organizações Departamento de Marketing, Operações e Gestão Geral Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (DINAMIA/CET-IUL) Centro de Investigação e de Intervenção Social (CIS-IUL) Polo do ISCTE-IUL do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA-IUL)
ESCOLA DE GESTÃO
Departamento de Métodos Quantitativos para a Gestão e Economia
Departamento de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional
Unidade de Investigação em Desenvolvimento Empresarial (BRU-IUL)
Departamento de Sociologia
ESCOLA DE TECNOLOGIAS E ARQUITECTURA
Departamento de Ciências e Tecnologia da Informação
Departamento de Ciência Política e Políticas públicas
Departamento de Arquitectura e Urbanismo
Departamento de Métodos de Pesquisa Social
Departamento de Matemática
Departamento de História
Centro para o Desenvolvimento das Tecnologias de Informática (ADETTI-IUL)
Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL)
IT, Delegação do ISCTE-IUL
Centro de Estudos Africanos (CEA-IUL)
Centro de Estudos de História Contemporânea (CEHC-IUL)
ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTCAS PÚBLICAS
260 | até onde nos levar o saber
Alunos nacionais e estrangeiros em 2011/2012
Principais números em 2011/2012
Preenchimento de vagas do 1º ano das licenciaturas
Alunos estrangeiros
100%
Nº de Candidatos por vaga de licenciatura
13%
7,5
Docentes ETI (equivalente a tempo integral)
364
Investigadores doutorados a tempo integral
106
Percentagem de alunos estrangeiros
13% 87% Alunos nacionais
Total de alunos por áreas em 2011/2012
Inscritos em 2011/2012
Ciências de Gestão Ciências Sociais Tecnologias e Economia e Polít. Públicas e Arquitectura
Total
1º Ciclo (Licenciaturas)
1920
1330
1330
4580
2º Ciclo (Mest. e pós-grad.)
2250
1600
320
4170
3º Ciclo (Doutoramentos)
240
400
70
710
Total
4410
Ciências de Gestão e Economia
Tecnologias e Arquitectura 18%
47%
3330 1720 9460 35% Ciências Sociais e Políticas Públicas
Evolução do número de alunos 10.000
Total de alunos por ciclos em 2011/2012 7.500
Alunos do 1.º Ciclo
5.000
52%
2.500
2 11
/1
9 20
/0
6 /0
08 20
3
05
/0 02
20
0 20
99
/0
7 19
96
/9
4 19
/9
93 19
90 Total
/9
1
8 19
87
/8
5 3.º Ciclo
19
84
/8
2
2.º Ciclo
19
/8
9 /7
81 19
78
/7
1.º Ciclo
19
75 19
19
72
/7
3
6
0
Alunos do 2.º Ciclo e do 3.º Ciclo
48%
261 | até onde nos levar o saber
Abreviaturas ADETTI AMBA BRU CEA CEAS CEE CEHC CEHCP CES CET CIDEC CIES CIS CRIA CRUP DINAMIA EABIS EDAMBA EFTA FCT FDMO FUP GEC GIESTA GIS IAPMEI ICAT ICS IFPA INDEG INESC INIC IPPS-IUL ISCEF ISCSP ISCSPU ISCTE ISCTE-IUL ISE ISEG ISPA IST IT JUSOECONOMIAE LCT OIT ONU PRME PRODEP UE
Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de Informática Association of MBA’s Business Research Unit Centro de Estudos Africanos Centro de Estudos de Antropologia Social Comunidade Económica Europeia Centro de Estudos de História Contemporânea Centro de Estudos de História Moderna e Contemporânea Portuguesa (posterirormente Confederação Europeia de Sindicatos Centro de Estudos Territoriais Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos Centro de Investigação e Estudos de Sociologia Centro de Investigação e Intervenção Social Centro em Rede de Investigação em Antropologia Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas Centro de Estudos sobre Mudança Socioeconómica European Academy of Business in Society European Doctoral Programmes Association in Management and Business Administration European Free Trade Association Fundação para a Ciência e Tecnologia Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra Fundação das Universidades Portuguesas Gabinete de Estudos Corporativos Grupo de Investigação Científica e Análise de Dados Gabinete de Investigações Sociais Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação Instituto de Ciência Aplicada e Tecnologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Instituto de Ciências Sociais Instituto de Formação Profissional Acelerada Instituto para o Desenvolvimento da Gestão Empresarial Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Instituto Nacional de Investigação Científica Instituto para as Políticas Públicas e Sociais do Instituto Universitário de Lisboa Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa Instituto Superior de Economia Instituto Superior de Economia e Gestão Instituto Superior de Psicologia Aplicada Instituto Superior Técnico Instituto de Telecomunicações Centro de Estudos de Direito das Empresas da Administração Pública e das Comunidades Europeias Laboratório de Competências Transversais Organização Internacional do Trabalho Organização das Nações Unidas Principles for Responsible Management Education Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal União Europeia
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Índice onomástico As respectivas identificações são necessariamente reduzidas, não traduzindo toda a actividade dos identificados Acácio Magro (Professor do ISCTE) – 126 Adelino Amaro da Costa (Governante português) – 36 Adérito Sedas Nunes (Professor do ISCTE) – 18, 22-24, 26, 29-31, 36, 38, 41, 44, 45, 47, 55, 56, 58, 59, 76, 79, 89, 92, 95, 96, 99 Afonso de Barros (Professor do ISCTE) – 93, 116, 126, 131, Afonso Queiró (Professor universitário) – 33 Ahmet Gülgönen (Arquitecto) – 69 Albertino Santana (Professor do ISCTE) – 198 Alberto da Ponte (Gestor) – 173, 237 Albino Lopes (Professor do ISCTE-IUL) – 236 Alexander Todd (Cientista) – 33 Alexandre Coelho do Amaral (Professor do ISCTE) – 45 Alexandrino de Melo e Silva (Professor do ISCTE) – 45 Alfredo de Sousa (Professor universitário) – 23, 45, 59, 60, 63 Américo Saragga Leal (Professor do IES) – 26 André Jordan (Empresário) – 38, 173, 179, 206, 237, 238, 239 Ângela Esteves Guimarães (Professora do ISCTE-IUL) – 89 Anna Dudik (Alumnus do ISCTE-IUL) – 216 Anselmo de Castro (Professor universitário) – 33 António Alçada Baptista (Escritor) – 36 António Caetano (Professor do ISCTE-IUL) – 180, 184, 238, 243, 249-251 António Cluny (Jurista) – 177 António Costa e Silva (Gestor) – 173, 178, 237, 238 António da Silva Leal (Professor do ISCTE) – 45 António de Oliveira Salazar (Governante português) – 15, 17, 36, 37, 77 António Dornelas (Professor do ISCTE-IUL) – 203 António Ferreira Gomes (Bispo do Porto) – 17, 29 António Firmino da Costa (Professor do ISCTE-IUL) – 59, 75, 180, 184, 238, 243 António Gomes Mota (Professor do ISCTE-IUL) – 197, 237 António Guterres (Governante português) – 163, 164, 167, 237 António Maldonado Gonelha (Governante português) – 173, 237 António Mexia (Gestor) – 200 António Ramalho Eanes (Presidente da República Portuguesa) – 78, 173, 178, 179, 180, 184, 237, 238 António Robalo (Professor do ISCTE-IUL) – 115 António Vitorino (Governante português) – 177, 178, 210, 238 Artur Rocha (Funcionário do ISCTE) – 56, 121 Augusto Afonso de Albuquerque (Professor do ISCTE-IUL) – 85, 86, 105 Artur Santos Silva (Gestor) – 209 Augusto Santos Silva (Governante português) – 161 Mohamed Azzim Gulamhussen (Professor do ISCTE-IUL) – 198, 239
Baltazar Rebelo de Sousa (Governante português) – 35 Bento de Jesus Caraça (Professor universitário) – 27 Boaventura Sousa Santos (Professor universitário) – 92 Caetano Cruz Vidal (Professor universitário) – 96, 101 Carlos Caiano Pereira (Professor do ISCTE) – 85, 86, 89, 97, 101, 105, 106, 124 Carlos Lopes (Desportista) – 124 Carlos Lopes (Presidente do Conselho Geral do ISCTE-IUL) – 179, 180, 184, 187, 238 Carlos Monjardino (Presidente da Fundação Oriente) – 173, 237 Carlos Nogueira (Professor do ISCTE-IUL) – 85, 179, 238 Carlos Oliveira Santos (Professor universitário) – 9, 11, 57, 60, 72, 75, 84, 86, 131 Carlos Sá da Costa (Professor do ISCTE-IUL) – 180, 184, 238, 243 Carlos Santos Ferreira (Gestor) – 179, 238 Carmelita Cunha (Funcionária do ISCTE) – 56 Charles Darwin (Cientista) – 33 Charles William Eliot (Presidente da Harvard University) – 11 Clementina Barroso (Professora do ISCTE-IUL) – 107 D.G. Brian Jones (Professor universitário) – 159 Dias Oliveira (Deputado na I República) – 33 Diogo Freitas do Amaral (Governante português) – 37, 177 Duarte Amaral (Governante português) – 37 Duarte Nuno Pimentel (Professor do ISCTE-IUL) – 55, 59-61 Edgar Rocha (Professor do ISCTE) – 56 Edmundo Martinho (Gestor social) – 179, 238 Eduardo Ferro Rodrigues (Governante português) – 61, 115 Eduardo Gomes Cardoso (Professor do ISCTE) – 45, 55, 59, 60, 61, 71-73, 79, 89, 97, 101, 105-107, 115, 150, 166, 172, 176, 197, Eduardo Marçal Grilo (Governante português) – 161 Émile Durkheim (Cientista social) – 59 Esmeralda Dourado (Gestora) – 180, 238, 239 Fernando Farelo Lopes (Professor do ISCTE-IUL) – 93 Fernando Faria de Oliveira (Governante português) – 200 Fernando Henrique Cardoso (Presidente do Brasil) – 209, 239 Fernando Lima (Gestor) – 173, 237 Fernando Luís Machado (Professor do ISCTE-IUL) – 55, 59-61 Fernando Pessoa Jorge (Presidente do Conselho Directivo do IES) – 25, 45 Fernando Pinto (Gestor) – 200 Fernando Rosas (Professor universitário) – 17 Filipe Vieira (Alumnus do ISCTE-IUL) – 117 Francisco Pereira de Moura (Professor universitário) – 22 Francisco Pina Prata (Professor do ISCTE) – 45, 78, 79 Francisco Pinto Balsemão – 79, 209 Franz-Wilhelm Heimer (Professor do ISCTE) – 89 Fred Sanger (Cientista) – 33 Graça Carapinheiro (Professora do ISCTE-IUL) – 55, 59-61 Gu Liong (Alumnus do ISCTE-IUL) – 216
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Guilherme Oliveira (Professor universitário) – 33 Guilherme Oliveira Martins (Governante português) – 161 Guilherme de Vasconcelos (Membro do Conselho Directivo do IES) – 26 Helena Sacadura Cabral (Professora do ISCTE) – 45 Henrique Galvão (Capitão do Exército português) – 15 Henrique Martins de Carvalho (Director do ISCTE) – 41, 76, 77 Henrique Veiga de Macedo (Governante português) – 22 Horácio Viana Rebelo (General do Exército português) – 36 Immanuel Wallerstein (Professor universitário) – 154, 155, 166 João Augusto Domingues (Professor do ISCTE) – 56 João Baltazar (Arquitecto) – 223 João Costa Pinto (Professor do ISCTE) – 56 João Cravinho (Governante português) – 173, 181, 184, 237 João de Freitas Branco (Professor universitário) – 36 João de Pina Cabral (Investigador universitário) – 83, 89 João Ferreira de Almeida (Professor do ISCTE-IUL) – 55, 56, 59, 60, 61, 72, 75, 92, 97, 101, 125, 131, 137, 159, 161, 164, 171-173, 237, João Freire (Professor do ISCTE) – 93, 111, 165 João Medina (Professor universitário) – 17 João Pedro Miller Guerra (Político português) – 30, 36-38 João Pereira de Campos (Governante português) – 36 João Salgueiro (Governante português) – 36 João XXIII (Papa) – 21 Joaquim Cruz e Silva (Governante português) – 63 Joaquim Pais de Brito (Professor do ISCTE-IUL) – 84, 85, 93 Joaquim Silva Cunha (Governante português) – 36 John Milton (Escritor) – 33 Jorge Correia Jesuíno (Professor do ISCTE-IUL) – 92, 93, 126, 161, 238 Jorge Freitas Branco (Professor do ISCTE-IUL) – 11, 57, 60, 72, 75, 84, 86, 131, 237 Jorge Miranda (Professor universitário) – 45 Jorge Sampaio (Presidente da República Portuguesa) – 163, 165, 209, 236, 237 José António Ribeiro dos Santos (Estudante) – 17 José Barreto (Investigador universitário) – 29 José Boaventura Belinha (Funcionário do ISCTE) – 56 José Carlos Gomes da Silva (Professor do ISCTE-IUL) – 85 José de Oliveira Ascensão (Professor do ISCTE) – 45 José Fernandes (Alumnus do ISCTE-IUL) – 216 José Fialho Feliciano (Professor do ISCTE-IUL) – 93 José Gomes Ferreira (Escritor) – 227 José Gonçalves de Proença (Governante português) – 22, 44 José Joaquim Laginha (Professor do ISCTE) – 78, 79, 89, 92, 93, 97, 105, 227, 239 José Madureira Pinto (Professor universitário) – 92 José Manuel Durão Barroso (Presidente da Comissão Europeia) – 163, 236, 237 José Manuel Paquete de Oliveira (Professor do ISCTE-IUL) – 44, 46, 65, 71, 84, 93, 97, 115, 131, 159, 172, 173, 180, 184, 238
José Manuel Vaz (Professor do ISCTE) – 126 José Mattoso (Professor universitário) – 17 José Mendes Bota (Político português) – 60 José Miguel Júdice (Advogado) – 173, 237 José Norton de Matos (General do Exército português) – 27 José Paulo Esperança (Professor do ISCTE-IUL) – 180, 184, 198, 199, 237, 238, 243 José Pires Cardoso (Director do GIS) – 22, 23, 44 José Prostes da Fonseca (Professor do ISCTE) – 101, 117, 124 José Serras Gago (Professor do ISCTE-IUL) – 97 José Tribolet (Professor universitário) – 105 José Veiga Simão (Governante português) – 9, 33-38, 41, 44, 47, 51, 73, 77, 97, 206, 239 Júlio Botelho Moniz (General do Exército português) – 15 Júlio Pedrosa (Governante português) – 161, 163, 236 Karl Marx (Cientista social) – 59 Kathleen M. Rassuli (Professora universitária) – 159 Laura Farlow Dix (Professora universitária) – 159 Lígia Amâncio (Professora do ISCTE-IUL) – 93, Luciano Faria (Professor universitário) – 96 Luís Antero Reto (Reitor do ISCTE-IUL) – 9, 166, 171-173, 177, 180, 184, 187, 197, 198, 236-238, 243-247, 249, 250, 251, 254, 255 Luís Cachudo Nunes (Professor universitário) – 101 Luís Capucha (Professor do ISCTE-IUL) – 75 Luís Carneiro (Membro do Conselho Directivo do IES) – 26 Luís de Matos (Professor universitário) – 96 Luís Filipe Pereira (Governante português) – 181, 184 Luís Lindley Cintra (Professor universitário) – 36, 37 Luís Todo Bom (Governante português) – 198 Luísa Pedroso de Lima (Professora do ISCTE-IUL) – 93 Luísa Tiago de Oliveira (Professora do ISCTE-IUL) – 11, 57, 60, 72, 75, 84, 86, 131 Luiz Moutinho (Professor universitário) – 201, 202 Manuel Antunes (Professor universitário) – 26 Manuel Braga da Cruz (Professor universitário) – 29, 31, 84, 93 Manuel Brandão Alves (Professor do ISCTE) – 56 Manuel Marín (Governante europeu) – 154, 157, 210, 239 Manuel Pereira Crespo (Almirante da Marinha portuguesa) – 36 Manuel Pita (Professor do ISCTE-IUL) – 115 Manuel Sarmento Rodrigues (Almirante da Marinha portuguesa) – 34 Manuel Villaverde Cabral (Professor do ISCTE-IUL) – 84, 85, 89 Marcelo Caetano (Governante português) – 17, 36, 37, 77 Marcelo Rebelo de Sousa (Professor universitário) – 35 Margarida Marques (Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal) – 180, 238, 239 Maria Carrilho (Professora do ISCTE-IUL) – 92 Maria de Lourdes Lima dos Santos (Investigadora universitária) – 92 Maria de Lurdes Belchior (Professora universitária) – 36, 37
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Maria de Lurdes Rodrigues (Professora universitária) – 38, 171, 211, 237 Maria do Céu da Cunha Rego (Jurista) – 180, 238 Maria Dores Guerreiro (Professora do ISCTE-IUL) – 59, 75 Maria Eduarda Gonçalves (Professora do ISCTE-IUL) – 177 Maria Filomena Mónica (Professora universitária) – 56 Maria Helena André (Sindicalista) – 179, 238 Maria Isabel Barreno (Escritora) – 29 Maria João Rodrigues (Professora do ISCTE-IUL) – 58, 61, 115 Maria Manuela Eanes (Gestora social) – 184 Maria Manuela Silva (Professora universitária) – 22, 23 Maria Teresa Horta (Escritora) – 29 Maria Velho da Costa (Escritora) – 29 Maria Viana (Cantora) – 137 Marinús Pires de Lima (Professor do ISCTE) – 45, 56 Mário Bigotte Chorão (Membro do Conselho Directivo do IES) – 26, 45 Mário Cardoso dos Santos (Professor do IES) – 23 Mário Lages (Professor universitário) – 96 Mário Leston Bandeira (Professor do ISCTE) – 164 Mário Murteira (Professor do ISCTE) – 22, 23, 26, 45, 56, 57, 60, 78, 89, 92, 105, 119, 120, 124, 238 Mário Pinto Professor universitário) – 23, 45, 79, 97 Mário Soares (Governante português) – 79, 101, 124, 125, 165 Max Weber (Cientista social) – 59 Mercedes Cabrera Calvo-Sotelo (Professora universitária) – 179, 238 Miguel Pina Martins (Empresário) – 199 Miguel Torga (Escritor) – 33 Miriam Halpern Pereira (Professora do ISCTE-IUL) – 89, 97, 111, 113 Mirna Gacanica (Alumnus do ISCTE-IUL) – 217 Mohamed Azzim Gulamhussen (Professor do ISCTE-IUL) – 198, 239 Muhammad Yunus (Gestor social) – 205 Narciso de Matos (Reitor da Universidade Eduardo Mondlane) – 34 Nelson António (Professor do ISCTE-IUL) – 115, 216 Nelson Ramalho (Professor do ISCTE-IUL) – 201, 203 Neto de Carvalho (Director do IES) – 41 Nicolau Santos (Jornalista) – 180, 181, 238, 239 Nizam al-Mulk (Vizir dos Seljuqs) – 11 Nuno Amado (Gestor) – 65, 173, 184, 237 Nuno Ferreira Guimarães (Professor do ISCTE-IUL) – 180, 239, 243, 245, 246, 250, 252, 253 Nuno Jordão (Gestor) – 173, 237 Nuno Vasconcellos (Empresário) – 180, 238 Oscar Niemeyer (Arquitecto) – 155, 167 Óscar Soares Barata (Professor universitário) – 96 Paulo Bárcia (Director do Escritório da OIT em Lisboa) – 180, 238 Paulo Bento (Professor do ISCTE-IUL) – 198, 239
Paulo Rita (Professor do ISCTE-IUL) – 239 Pedro Dionísio (Professor do ISCTE-IUL) – 59, 202 Pedro Lynce (Governante português) – 161, 163, 236 Pedro Magalhães (Investigador universitário) – 61 Philippe Schmitter (Professor universitário) – 22 Pio XI (Papa) – 21 Rafael Santos Costa (Presidente da Comissão Instaladora do IES) – 25 Raul da Silva Pereira (Investigador do GIS) – 22, 23, 27 Raúl Hestnes Ferreira (Arquitecto) – 65, 66, 69, 123, 139, 150, 223, 227, 237 Raúl Iturra (Professor do ISCTE) – 55, 59-61, 83, 85, 89, 92 Robert Rowland (Professor do ISCTE) – 85, 97 Roberto Carneiro (Governante português) – 36 Rogério Roque Amaro (Professor do ISCTE-IUL) – 89, 126 Rómulo Rodrigues (Professor universitário) – 101 Rui Ferreira (Professor do ISCTE-IUL) – 198, 199 Rui Machete (Professor do ISCTE) – 45, 177 Rui Pena Pires (Professor do ISCTE-IUL) – 180, 238, 243 Samuel Phillips Huntington (Professor universitário) – 46 Serge Moscovici (Professor universitário) – 204, 236 Sérgio Machado dos Santos (Professor universitário) – 132 Sílvia Silva (Professora do ISCTE-IUL) – 238 Siv Elin nord Sæbjørnsen (Alumnus do ISCTE-IUL) – 216 Stanley C. Hollander (Professor universitário) – 159 Stephen R. Stoer (Investigador universitário) – 37 Susana Carvalhosa (Professora do ISCTE-IUL) – 239 Teresa Zambujo (política portuguesa) – 61 Tianquing Li (Professor universitário) – 116 Valentim Xavier Pintado (Professor universitário) – 22 Vasco Pulido Valente (Investigador universitário) – 45, 60 Vasco Vieira de Almeida (Advogado) – 173, 237 Victor Franco (Professor do ISCTE-IUL) – 173 Victor Roldão (Professor do ISCTE-IUL) – 93 Victor Matias Ferreira (Professor do ISCTE) – 93, 238 Vladimir Roque Laia (Advogado) – 177 Wu (Imperador chinês) – 11 Zeinal Bava (Gestor) – 200 Zhao Di (Alumnus do ISCTE-IUL) – 216 Zózimo de Castro Rego (Professor universitário) – 96
Agradecemos a todos os que contribuíram para estes 40 anos de vida do ISCTE-IUL e para a elaboração deste livro