Fanzine Gozo #01

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gozo

FANZINE

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01

ENTREVISTA COM LUANA SENA | ENSAIO GOZO |POESIA DE REGIEL DOS SANTOS



gozo FANZINE

[uma publicação de Ítalo Lima] om a anos c há 23 erna a h n o s a et palavr

Teresina, 2016, 1º edição @italolimapoesias


L


uana Sena o caos que carregamos dentro de nós por Ítalo Lima

A

hipermetropia vai salvar o mundo, já dizia o sábio que eu não sei o nome. Mas a miopia é a cegueira de quem traz o aperto na visão e no peito. Falando em aperto, Luana Sena tem desses abraços que sufocam, de um querer estar sempre de braços amarrados. Quase de louça, Sena ainda não descobriu a cura do atraso, nem ao menos da ansiedade que transita os lares. Os pezinhos tortos da moça que sonha em branco e preto balançam na agonia das horas, conter a ânsia da graça não antecipa o teu riso frouxo. Ah, menina, teu prefixo "lua" diz muito das variáveis mudanças que teus pezinhos anacrônicos ilustram, teu olhar de flor é a certeza exata que a primavera brota eterna no teu rosto de âncora. Luana, os novos cientistas não entraram em consenso, o big

bang não foi a origem de tudo, ah eu sei, o nosso peito é zoada bela mais do qualquer outra explosão, podemos até concordar e acreditar em deus, mas vejo somente em nossas lágrimas que a solidão do mundo é maior do que tudo. O caos que carregamos todos dentro de nós não é exigência dessa meritocracia gasta. Estamos repetitivos demais para abandonarmos os nossos sonhos, há carência de espelhos para os nossos gestos e Luana Sena é o reflexo que até mesmo Narciso contesta: luz que afoga, vinda de uma menina pequena de apenas vinte e seis anos repleta de sonhos. Não esqueça teu óculos na cabeceira da cama, vem enxergar o mundo mais alto, que teu voo é repleto de asas.


Que memória te embala o sono? Deitar é sempre pensar no passado. Eu sou daquelas que fica repassando na cabeça cenas do que já foi, até pegar no sono – e nem sempre são os melhores episódios. Penso no que eu queria ter falado, no que falei, no que fiz e no que faria se pudesse viver tudo de novo.

Com o que você sonha quando dorme? Casa do meu avô. É o lugar onde vivi a maior parte da minha vida, e é pra onde eu sempre volto em sonhos. Os almoços, as tardes, as noites, o jardim, a redinha, o quintal, o meu quarto – que saudade do meu mundo naquele quarto!

Vivemos numa geração de solitários. Quem é Luana Sena quando está sozinha? Ser solitário é diferente de estar sozinha. Você pode estar solitário no meio de um monte de gente, e acho que essa é uma sensação muito atual e ruim. Solidão é ruim. Estar sozinha é bom - serei sempre aquela entre meus l livros, revistas e Netflix.

Outro dia descobri que atravessar fora da faixa de pedestre é uma tentativa de suicídio. Para você, o que é suicídio? Uma tentativa desesperada de se livrar da angústia. É o fim da linha, a certeza, no meio de um monte de dúvidas, de que a morte é a única saída. Quando aceitamos que a angústia é parte permanente do estar vivo, fica mais fácil existir, acho.

Com 26 anos, estudante de mestrado da UFPI, escreve para o maior revista cultural do estado e ainda concede palestras, presenças em bancas cientificas e afins. Executa tantos papéis assim por que razão lógica? Talvez não tenha exatamente uma razão, um motivo. Tem uma frase do Marcelino Freire, que entrevistamos certa vez pra Revestrés, que eu adoro: "Faço muita coisa pra não me sentir um covarde. É por aí.


entrevista

Quando aceitamos que a angústia é parte permanente do estar vivo, fica mais fácil existir.

Há uma diferença sutil entre sentir falta e ter necessidade? De quem você sente falta e do que você sente necessidade? Sinto muita falta do meu avô, era a pessoa que verdadeiramente acreditava em mim. Foi duro preencher esse vazio - talvez ainda esteja aqui. Sinto necessidade de escrever, sempre. É uma forma de organizar ideias e exorcizar sentimentos.

Para você, o amor é ilógico? Estou cada dia mais certa de que sim, na mesma proporção em que acredito que nada faz muito sentido.

Quantas Luanas você já teve que matar, para sobreviver nesse mundo sem covas? Muitas, várias, todo dia. Sou sempre eu, aliada a mim mesmo, contra mim. Sempre ali, me puxando o tapete... puxando o tapete...

Se você pudesse mudar o mundo, que palavra você seria? Amor. Da cabeça aos pés.


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aio de casa aflito, com os degraus de cansaços presos nos pés inversos de um passo atrasado, apenas um tiro na mente se mantinha fixo ao sair de casa: queria esquecer que eu ainda te amo. não desejei tropeço por acaso, nem encontros desajeitados, segui retilíneo no meu cansaço de âncora. caminhei poucas agonias até chegar num bar com alguns pés de mangas trazendo friagem. algumas moças se encontravam sentadas em cadeiras de espaguete, mascando o chiclete do abandono esquecido debaixo da cadeira, logo deduzi, elas me olhavam como quem entendiam o desespero da espera. sentei sozinho e logo pedi uma cerveja, pra ajudar a desentalar o sufoco de quem é asmático. no terceiro gole seguido uma mulher de trinta e sete anos, supus, sentou no meu colo sem pedir licença, aliás, as coisas mais melindrosas entram despretensiosamente em nossas vidas sem pedir licença. acatei tal e ato e disparei sem muitas regras

conto

uma língua inteira eu seu pescoço. ela também compartilhava do meu mesmo pensamento, que a invasão do susto e da não permissão tornavam a vida bem mais excitante. mas eu não me excitara. nem ao menos quando apalpou inteira meu pênis esquecido nas gavetas dos anos. ela entendeu. dessa vez, passei a mão no território inteiro deslocado que tais homens chamam de seios, apalpei como quem tateia os sonhos perdidos, esquecidos no porta-retratos de um antigo amor que agora/nesse minuto espera um ônibus na rodoviária pra partir inteiro meu coração em pedaços. o amor é brega e amar mesmo que por alguns instantes uma puta que tenta em vão endurecer meu pau e pensamento é digno de uma noite de domingo, presumi. então, beijei sem língua a brava moça de seios fartos, até sentir um calafrio de que sim, a vida realmente é um chiclete esquecido debaixo de uma cadeira de um puteiro.



- Dói ser triste? - Não, dói fingir ser alegre.

na breve descida a lágrima no rosto se suicida.


32 de maio e uma chuva ameaçava cair no chão sem primavera, aliás hidrogênios ligados covalentemente a um átomo de oxigênio. dias a que ultimamente ando com essa mania de pressa, como se a qualqu interrompem a vida fazem meu relógio cantar depressa, apesar da consome: espero em vão por uma chuva que não acontece, ah, partí confessar; lembrei - quando criança era mais simples cochichar no não entendo por que depois de crescido me tornei perito em soneg adolescência, que uma vez me disseram, na aula de química, que na estão sendo observadas. assim sendo, a TV que deixei ligada no outr não existe, porque eu não o vejo. assim sendo, quando encontro você eu não o vejo. assim sendo, quando você resolveu sair de casa e se porque não o vejo. o princípio da incerteza declara ser impossível de onde eu te encontro, que não te vejo mais? você virou mera inexistê porque não o vejo. esperei você e a chuva-azul chegarem, mas foi v uma ilusão. outrora, se você surgir, irá desmentir toda essa história


novembro azul

s, sempre me atentei no composto químico existente na chuva: dois átomos de uis, o infinito mês anilado presente parecia eternamente não se romper. é que r momento um avc fosse me abraçar o corpo, aliás, esses rompimentos que voz rouca quando tardo. vou azul me desfragmentando na ansiedade que me tículas desordenadas me afligem as têmporas. eu ainda te amo e não sei como o pé do ouvido do padre, no confessionário da igreja, de um dia também azul. gar confissões, acho que é um mal de toda gente. lembro, também, na minha a mecânica quântica, partículas não têm um estado definido, a não ser quando tro quarto não existe, porque eu não a vejo. assim sendo, você, que tanto amo, ê na rua e logo em seguida perco de vista, sua existência é mera ilusão, porque egregou nossos abraços, nosso amor deixou de existir na ausência do acaso, determinar com precisão a velocidade e a posição de um elétron. assim sendo, ência, porque eu não o vejo. ainda é maio, mas seu aniversário é em novembro, vão, apenas porque não o vejo, afinal, segundo a química quântica, o mundo é contada em laboratório, que você não existe, só porque eu não o vejo mais.


menage poético: Regiel dos Santos & Ítalo Lima

entre outros, amor (Regiel Dos Santos-SP)

Teus passos foram tão profundos quanto o riso que me cercava Você veio Como os olhos de um cão sem dono Querendo me devorar (E me devorou) Haviam mais estrelas em volta de nós do que em todo o céu naqueles dias Você iria embora logo, eu sabia Por isso cada instante E cada gota que pingava de você em mim era importante Eu precisava eternizar a fonte que fez jorrar teu nome no meu Mas eu mal sei te amar, Como poderia te salvar de um abismo tão trivial Onde eu te esqueço, depois que você me esquecer? Não sabemos! Agora olhe bem para mim, Não sou tão mal sujeito assim, Acredite! Te imaginei de branco, Com a calcinha em cetim Talvez eu não saiba como se ama Mas de uma coisa eu sei, amor Poesia só se faz na cama.


pulso atrasado (Ítalo Lima-PI)

me faz crer em algo : ilumina meu abismo inventado : descompõe a minha esperança : seja o número de emergência da minha agenda telefônica : segura o meu desespero : pinta de branco todos os espelhos : segura os meus pulsos : destranca a porta do meu quarto : acende a luz da cozinha : compra a bateria do meu relógio : seja o porta retrato da minha cabeceira de cama : compreende os meus silêncios : sorve a minha poesia : equilibra os meus desenganos : seja a razão pra que eu possa acordar cedo : cura a minha insônia : conta os degraus da minha escada : tira do modo repeat a música do ano passado : disfarça minha larica : conserta o vazamento do cano : paga a conta de luz atrasada : me tira da cama : traz de volta o meu espelho : sussura meu nome : desencarna meu corpo : traz o sal grosso : vai no meu enterro : apara os meus espasmos noturnos : arquiteta o meu ânimo : tatua o meu nome nas costas : chora comigo : devolve me apetite : descobre meu nome : acata as minhas lágrimas : traz o meu afeto : conta a n o s s a h i s t ó r i a n o r á d i o : m e f a z o u t r a v e z fe t o : a b r i g o





Em quem voc ensa

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o goza?

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m quem você pensa quando goza? Para que lado você contorce os pés quando o gozo invade? Quem você chama? Quem você magoa quando o gozo termina? Falo aqui de uma liberdade que presumo e e x p r e s s o , g o z a r é u m vo o l i v r e , r e p l e t o d e onomatopeias e unhas cravadas no espaço. A masturbação é uma descoberta solitária, não ensinada pelos nossos parentes, até posso encontrar soluções viáveis para gozar debaixo d'água, mas a minha falta de ar herdada da infância antecipa o meu sufoco. Não sei a razão exata do valor quântico com o qual me assusto, mas presumo que há em todos nós uma vontade imensurável de estar sempre em pleno gozo. Não, não adianta fingir que é estranho e alheio, gozar é para todos, seja na alma, nos olhos, no corpo ou na imaginação. Não sei em que você pensa quando goza, mas acredito que amor também seja isso, abafar em sussurro o nome de quem você ama. Reitero: não importa em quem você pensa quando goza, nem pra que lado seus pés se contorcem quando o gozo clama, ou nem mesmo quem você chama; não importa se são três da manhã ou quatro e quinze da tarde, o desespero de quem ama em exagero é sempre igual. Masturbarse é a mais bela solidão. Seja livre, aqui e além. Prive-se das vergonhas, a liberdade não usa sobrenome. Vem gozar comigo, vem!





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Quando a solidão goza em Demerval Lobão

o pulsar do agora é o atraso do momento : trezentos e vinte sete homens casados estão fazendo fio-ter ra com suas amantes neste fatídico momento : lembrei que te pedi em namoro porque acreditei que agosto seria o melhor momento : hoje sou vegetariano porque descobri que é a moda do momento : estou pensando em você enquanto me masturbo neste exato momento : não consigo gozar porque você está em Demerval Lobão aproveitando o seu momento : tenho que confessar sem medo, minha pele arde pensando em você em cada fúnebre momento : quando eu morrer deixarei escrito na lápide dourada que ainda não chegou o fim do momento : reencarnarei esquecido do que escrevi nesse pesado momento : minha mãe que não conheço irá me abortar arrependia da gravidez do momento : escorrerei pela sarjeta em uma tempestade qualquer do inverno do momento : os restos excrementais do meu corpo mal formado serão a refeição atrasada de um cachorro de rua que passa fome naquele frio momento : vagarei para sempre perdido sem saber o que fazer no momento : lembrem-se, de acender a vela de sétimo dia quando chegar o fim do meu momento.


pernóstico adj. acidez vietnamita expelida por um músculo sem poros / língua em rugas de uma pretensão mutilada.


apoio:

3304-1391 / 3304-1394


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