No dia 18 de Maio de 2012 celebrou-se em todo o mundo o primeiro Dia Internacional do Fascínio das Plantas. Este evento, promovido pela European Plant Science Organisation (EPSO) e, em Portugal, pela Sociedade Portuguesa de Fisiologia Vegetal, contou com a participação de mais de 30 instituições portuguesas que asseguraram uma centena de actividades de norte a sul do país. No ITQB, celebrámos este dia com actividades para todas as idades. Em conjunto com outras instituições do Campus de Oeiras (IBET, IGC, INRB e IICT), convidámos os visitantes a descobrirem com os investigadores a importância do estudo das plantas.
O dia 18 de Maio foi também o culminar dos concursos Aqui há Planta, promovidos pelo ITQB e pela Câmara Municipal de Oeiras. Desafiados a mostrar o seu fascínio pelas plantas, os participantes fotografaram, escreveram contos e produziram objectos artísticos diversos. Os melhores trabalhos encontram-se reunidos neste livro.
O Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa é um instituto multidisciplinar dedicado à investigação e ao ensino pós-graduado. Localizado na Quinta do Marquês, em Oeiras, o ITQB é um dos maiores institutos de investigação do país.
Juntámos também neste livro, testemunhos de investigadores de diversas instituições e que foram desafiados a transmitir o seu fascínio pelo estudo das plantas e a importância do seu trabalho para as nossas vidas. A iniciativa “i-plant and you?” foi promovida através da página de facebook “Aqui há planta” criada a propósito do Dia Internacional do Fascínio das Plantas.
Aqui trabalham quase quatrocentos investigadores especializados em diversas áreas que procuram compreender o mundo que nos rodeia e contribuir para o desenvolvimento de tecnologias que melhorem a nossa vida
A exposição Os melhores trabalhos dos concursos “Aqui há Planta” estiveram expostos no Oeiras Parque, um movimentado Shopping Center em Oeiras, de 15 a 30 de Julho. Aqui, no corredor principal de exposições, nasceu um jardim enfeitado com fotografias, maquetes, esculturas de papel e desenhos. Puffs coloridos convidavam os visitantes a disfrutar de um momento de calma, lendo os melhores contos do concurso.
Este espaço foi ainda palco de ateliers de pintura, em que as crianças aprendiam técnicas de extracção de pigmentos de plantas e eram depois convidadas a dar largas à sua imaginação com uma paleta diferente do habitual. E para ficarmos a conhecer o que pensavam os visitantes das plantas, desafiámos todos a encher os ramos de uma árvore despida com post-its que completassem a frase “Se eu fosse uma planta…” As ideias não pararam de chegar e em breve enchemos a nossa árvore de ideias fantásticas e coloridas. Sem dúvida que em Julho as plantas reinaram no Oeiras Parque.
Concurso de Contos
O Sobreiro Solitário
Hoje a brisa é suave, os meus ramos e folhas sentem a doce aragem. A solidão é imensa nesta planície no Alentejo, cujo solo me agarra. As minhas raízes sentem a terra húmida e a seiva corre por todo o meu tronco e pelos meus ramos. Ontem fui uma semente, hoje sou uma grande árvore. Ainda me lembro de quando eu era uma sementinha. Numa bela manhã, eu estava um pouco atormentada com a brisa que me transportava. Eu só pensava onde iria parar. De repente fui aterrar na terra húmida desta planície, e assim fui-me desenvolvendo com o sol e com a chuva: primeiro um pequeno caule, depois umas folhinhas e lá fui eu assim crescendo aos poucos. Descobri que os homens me chamam Sobreiro e há quem se refira a mim como Quercus suber, o que eu acho um pouco estranho, por não ser nada comum. A minha casca rugosa é delicadamente retirada para fazer cortiça, que é uma matéria-prima. Pode ser usada no fabrico de rolhas para tapar as garrafas com vinho, cujas uvas são produzidas pelas minhas amigas Videiras, que vejo lá ao fundo, verdejantes e entrelaçadas, nos terrenos à volta da Vila. Nestes tempos tenho-me sentido preocupado, pois muitos Sobreiros têm sido deitados abaixo para se construírem estradas. Espero que isso não me aconteça. E assim termina a minha história. Agora vou ficar aqui a ver passar o tempo e a observar o que se passa do lado da vila.
Maria Beatriz Gomes 10 anos 1º prémio Categoria Menores de 16
Uma viagem longa e atribulada
Eu nasci em Sumatra, uma gigantesca ilha da Indonésia fustigada pela força do oceano Índico e pelas constantes erupções vulcânicas. A riqueza do solo e as chuvas tropicais fazem com que uma enorme variedade de vegetação cresça e pinte a ilha de verde. No meio desta vegetação cresce o cafeeiro que faz com que esta ilha seja a principal produtora deste produto na Indonesia. E é exatamente sobre o café que lhes vou falar. Eu cresci orgulhoso numa bela árvore de café. Nos meus 3 metros de altura eu via toda a ilha nos dias de céu limpo. Comecei como uma pequena flor de cor branca e perfume intenso e cresci como uma bela cereja que ao fim de vários meses ficou vermelha e doce. Eu imaginava o futuro grandioso que me esperava. O que iria ser quando fosse maduro? Uma nova árvore de café? Alimento para algum ser vivo? Ou quem sabe talvez viaje pelo mundo e viva muitas aventuras? Numa manhã fresca ouvi um ruído de passos e, de repente, vi um focinho pontiagudo entre as folhas que me começou a cheirar. Após alguns momentos de hesitação o animal comeu-me. Que sensação dolorosa… E que escuro! Sintome às voltas num líquido estranho e viscoso enquanto sou atirado para todos os lados. Que enjoo! De repente sou empurrado por um tubo e aí começou a parte mais estranha da minha viagem. Comecei a atravessar um túnel longo e malcheiroso! Mas que cheiro!!! Horrível! Será que é aqui que vou acabar os meus dias? É assim que a minha curta vida
Cristina Maria Soares 1º prémio Categoria Maiores de 16
acaba? Mas passadas horas, muitas horas vi a luz ao fundo do túnel. Luz, o sol, o vento, as nuvens! Ah, a liberdade! O meu belo fato vermelho desapareceu, já só resta a minha semente e além disso estou preso em alguma coisa mas… estou vivo! Horas depois ouço passos de novo e vejo um homem a olhar para mim. Ele tira-me do chão libertando-me da minha prisão e dá-me um banho. Ai que delícia. Mas não pensem que a minha viagem terminou aqui. Reparei que não era o único nesta situação tão bizarra. Eramos centenas de sementes de café que passamos pela mesma estranha viagem. Após sermos colocados em sacos fomos colocados num enorme forno e torrados. Hum que cheirinho delicioso… Agora mais moreninho e perfumado fui enviado para a Europa com um novo nome: Kopi Luwak e com o título de “O café mais caro do Mundo”. Mas digam lá se depois de uma viagem destas não mereço este título? E já agora vai um cafezinho?
A sementinha que não queria nascer Lá bem no escurinho tinha uma sementinha. Ela havia caído ali num dia quente de verão. Não sabia como tinha chegado lá. Tudo o que sabia que era bem quentinho o cantinho dela. Tão quentinho que ela nem queria acordar. Mas mesmo que ela quisesse ficar dormindo para sempre, algo em seu interior não ia deixar. Uma vez, ela estava dormindo tranqüila quando uma minhoca deu uma trombada nela. As duas conversaram muito. Das coisas que a minhoca falou, o que mais despertou a curiosidade da sementinha foram as nuvens que passeiam pelo céu. Bem que ela gostaria de ver isso! Não demorou muito, depois de uma grande tempestade , sentiu algo estranho acontecer. Ela não se sentia mais a mesma. A terra em volta estava quente e úmida. Estava tão macia que dava vontade de esticar uma perninha. Uma perninha? Sementes não têm pernas! Mas, para a surpresa da sementinha, seu corpo atendeu à essa estranha vontade e começou a esticar uma pontinha que bem parecia uma perna. Essa perninha colocou a sementinha de pé e ajudou a sementinha a subir em busca da luz. A sementinha estava com medo, mas criou coragem e rompeu o último pedacinho de terra que a separava do grande céu azul. Fez um pouco mais de força e ficou de pé. Parte da casca que lhe protegia enquanto semente ainda estava sobre ela, mas já dava para ver algumas coisas, e um mundo todo novo se iluminou para ela... E, como era lindo! Pela primeira vez sentiu um sopro de brisa nas costas. Aquilo fazia cócegas! HiHiHi...O sol
Patrícia Laura Kenney 2º prémio Categoria Maiores de 16
brilhava lá no alto e esquentava seu corpinho, ainda bem pequeno. O dia era quente e a brisa trouxe algumas nuvens. - Ah!, disse a sementinha. – Deve ser isso o que a minhoca falou que ficava passeando pelo céu. Com o tempo a plantinha foi ficando maior e maior. Em dois anos, já tinha crescido bastante e podia ver muito além do que via quando nascera. Ela se sentia orgulhosa de estar ali no alto daquele morro. Não havia muitas árvores próximas para bater um papo, mas ela nunca se sentiu sozinha. Sempre apareciam as nuvens para conversar e o vento para lhe fazer cócegas e pentear suas folhas. Passarinhos vinham fazer seus ninhos e cantar lindas melodias entre seus galhos fortes. Às vezes, pessoas sentavam em baixo da sua sombra e faziam piquenique. Era gostoso ouvir suas histórias. Levou muitos anos para aquela sementinha virar uma grande e majestosa árvore. Hoje ela tem muitas histórias para contar, mas o que ela mais gosta mesmo de fazer é esperar pelo pôr-do-sol, e ver o céu todo pintado de cor-de-rosa.
Vida! Vida! Acerola por acerola, abocanhava instantaneamente um garoto à frente da TV, no interior nordestino em um dia chuvoso. Passado um bom tempo, os suculentos frutos definharam, e o bobo menino brinca com as sementes durante o intervalo dos desenhos. Em um determinado momento, quase que compulsoriamente, joga uma pela janela da varanda, que cai levemente sobre terra molhada e sob pingos e mais pingos d’-água. A chuva tem o poder de trazer vida ao sertão. Neste caso não foi diferente! Cada gota que caía na semente exercia pressão na terra, que já se demonstrava acolhedora. Com o continuar do inverno, o solo foi cedendo cada vez mais, e, há pouco, a semente já se encontrava totalmente submersa. Ali, no aconchego escuro do subsolo, já vibrava enquanto vida cada átomo do fruto semeado inertemente. Tal escuro, que estontearia qualquer ser humano, figurava como um paraíso fértil àquela pequena semente, que, dali a pouco, a estrutura começava a dissipar-se: passava a tomar forma. Raízes foram surgindo. O contato com a luz era cada vez mais almejado pelo “nascituro”. Dia após dia, chuva e sol revezavam. Estava tudo pronto! E, como num passe de mágica, “que haja luz!”. Foi assim que o pequeno brotinho saltou à terra em uma manhã de abril gostosa. A plantinha, em um verde-claro lindo de se olhar, passou algum tempo anônima aos olhos da família. Porém, não demorou muito para ser identificada pelo próprio garoto que a fez germinar, ainda que inconscientemente. Viu o brotinho já meio
Júlio César de Moura Luz 3º prémio Categoria Maiores de 16
grande e fez um alvoroço danado porque não sabia como aquilo teria parado ali, mas achava sua beleza alucinante. Em resposta à curiosidade da criança, seu tio, biólogo, começara a esboçar teorias de como o pequeno pé-de-acerola teria nascido ‘sozinho’. E não é que ele foi no rumo? Porém, naquele momento, o importante para todos era zelar para que a planta pudesse se desenvolver. O próprio garoto adubou, aguou e, com frequência, observava o crescer das folhas, a espessura do tronco evoluindo. Não demorou e a planta já era atração! Copa grande, bem aparada, envolvendo de doçura o ar à sua volta. Há pouco apareceriam flores, pequenas e belas flores, de onde surgiriam novas acerolas e sementes e, assim, esse ciclo pudesse se repetir. Ali, muito mais que algo estático, exibia-se a grandiosidade do acaso, já a fazer parte do cotidiano da família: desabrochando e (re) produzindo vida.
Concurso de fotografia
Ana Freire 1º prémio
Ana Freire 1º prémio
Suziane Fonseca 2º prémio
Raquel Pipa 3º prémio
Concurso de Artes Plรกsticas
Laura Zhang 1º prémio
Carlos Cruz 2º prémio
Raquel Nery 3º prémio
Madalena Martins e Marta Silva menção honrosa
Inês Fernandes e Bruno Esteves menção honrosa
A Árvore Jardim de Infância Grãos de Gente Prémio Escola
Cianotipia Escola 2, 3 General Humberto Delgado PrĂŠmio Escola
Mosaicos de Flores EB 2, 3/Secundária Aquilino Ribeiro Prémio Escola
Centro de Biologia Ambiental da FCUL Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra Centro de Estudos Florestais do ISA Departamento de Botânica da FCTUC Escola Superior Agrária de Coimbra Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas da UEv Instituto Nacional de Recursos Biológicos Instituto de Tecnologia Química e Biológica Laboratório de Sistemas Biológicos de Plantas da FCUL Museu Nacional de História Natural e da Ciência Universidade do Algarve
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i-Plant. And you? O Dia Internacional do Fascínio das Plantas foi a desculpa perfeita para conhecer mais sobre aqueles que se dedicam ao estudo das plantas. Com a iniciativa “i-Plant. And you?” quisemos divulgar as pessoas por trás da investigação em plantas, nas suas múltiplas vertentes e pensando nas várias fases de uma carreira científica. O convite partiu por mail e via facebook e, ao longo das semanas que antecederam o dia 18 de Maio, as respostas foram publicadas na página Aqui há Planta.
i-Plant. And you? Conheça os investigadores que estudam as plantas Se é investigador na área das plantas, então esta é a ocasião perfeita para dar a conhecer o seu trabalho e cativar outros públicos, sensibilizando para a importância das plantas. Em i-Plant queremos divulgar as pessoas por trás da investigação em plantas, nas suas múltiplas vertentes e pensando nas várias fases de uma carreira científica.
Este ano, mais de 200 instituições de 36 países irão participar no 1º Dia Internacional do Fascínio das Plantas “Fascination of Plants Day” (www. plantday12.eu). Respondendo ao desafio da European Plant Science Organisation (EPSO) e, em Portugal, da Sociedade Portuguesa de Fisiologia Vegetal, no dia 18 de maio iremos celebrar as plantas, o papel que desempenham na nossa vida e a importância desta área de investigação. Instituições científicas, universidades, jardins botânicos, museus, agricultores e empresas de todo o mundo estarão juntas a comemorar este dia com atividades para o público. Junte-se a esta iniciativa e partilhe com o público o Seu Fascínio pelas Plantas. Assim pedimos-lhe apenas que responda a estas seis questões: 1. Para si, o que torna as plantas fascinantes? 2. Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? 3. O que está investigar neste momento? 4. O que gosta mais no seu trabalho? E menos? 5. O que faz para se distrair do trabalho? 6. Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas?
Manuela David Sem querer deixar conselhos, a investigadora Manuela David deixa-nos antes o seu testemunho: “querer ser investigador não é tomar uma decisão completamente racional, é ser-se curioso e persistente a juntar a uma boa dose de emoção e de enamoramento.” Descubra hoje o que torna as plantas tão fascinantes para esta investigadora da Universidade do Algarve.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? É-me difícil separar o fascínio das plantas do fascínio que tenho pelas plantas! São tantas as razões, umas mais racionais, científicas, outras emocionais. Não são as plantas um dos pulmões do planeta? Sim, e aí poderíamos falar da fotossíntese, das cadeias alimentares, em suma, de um pilar da vida na Terra tal como a vamos conhecendo. Porque as plantas estão por aí, sem pressas, presentes na sua aparente imobilidade? Também sim, mas… afinal movem-se! Porque as plantas mostram uma disponibilidade generosa? Sim, também por isso, são os alimentos e as fibras que usamos, são a diversidade dos aromas, das formas, das cores e das dimensões que as tornam uma fonte de prazer e de deslumbramento para os nossos sentidos.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Sei que em certa altura da minha vida, ainda no Liceu, decidi que queria trabalhar em Biologia. Porquê então
as plantas? Talvez porque foram as plantas que ganharam mais importância na minha vida profissional? Não tenho uma resposta única! Foi com certeza a paisagem rural da aldeia onde passava a maior parte das minhas férias, foram também professores entusiastas, foram desenhos, gravuras e ilustrações em livros, mas penso que foram sobretudo oportunidades, foi a sorte de ter aprendido e trabalhado com gente também ela fascinante a trabalhar em plantas, com plantas. Recordo dois marcos importantes. Enquanto estudante de Biologia, na faculdade de Ciências de Lisboa, o trabalho de campo de Ecologia Vegetal realizado na Arrábida em alfarrobeira constituiu a minha primeira coautoria numa publicação científica, abriu caminho ao meu estágio com o Prof. Fernando Catarino e vim a ser por ele contagiada pelo fascínio das plantas. Mais tarde, recém-licenciada, foi determinante a colaboração nos trabalhos de campo com a Universidade de Würzburg, em estudos que desenvolveram em Portugal na fisiologia das plantas lenhosas em ambiente mediterrâneo, mais uma vez na Arrábida, e então conhecer o Prof. João Santos-Pereira, do Instituto Superior de Agronomia. Com ele viria a fazer o doutoramento e foram marcantes as conversas informais entre momentos de medições sobre tantos aspetos de como funcionam as plantas.
O que está investigar neste momento? Neste momento estou a colaborar com um grupo de Virologia, no estudo dos padrões de transporte a longa distância e de distribuição do sinal silenciamento génico contra patologias virais em plantas. Com o grupo de Ecofisiologia estudo diversos aspetos da adaptação das plantas aos fatores de stress característicos dos ambientes mediterrâneos e, em particular, tento contribuir para o conhecimento da ecologia e biologia de uma Cistácea endémica do Algarve. Mas para além da investigação há ainda mais plantas! Como curadora estou a iniciar o processo de informatização do Herbário da Universidade do Algarve e, em colaboração com o naturalista e amigo José Rosa Pinto, estamos a montar um guia de campo de plantas espontâneas da área envolvente onde foi instalado o campus universitário que, espero, virá a ter uma edição “portátil” no telemóvel de qualquer visitante.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto em especial do trabalho de campo, gosto de ensinar, e de todos os momentos que me levam a pensar que escolhi a melhor profissão do mundo. O que gosto menos são aqueles momentos que, por razões variadas, me levam a pensar que devia ter escolhido outra profissão
O que faz para se distrair do trabalho? Oiço música, muita música, e após grande interrupção recomecei a cantar num grupo coral. Leio agora menos do que lia e vejo mais cinema. Mas também há muitos passeios a pé, as viagens e muita fotografia - antigamente com muitos slides, agora com muitas fotografias digitais - e sempre em boa companhia!
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Não sei dar conselhos, nem sequer sou o melhor exemplo de investigadora, e não tenho nenhum conselho em particular para os interessados na investigação em plantas. Deixo antes mais um testemunho, que querer ser investigador não é tomar uma decisão completamente racional, é ser-se curioso e persistente a juntar a uma boa dose de emoção e de enamoramento.
Célia Miguel “Muitas das descobertas científicas que foram feitas a partir da investigação em plantas foram determinantes noutras áreas da ciência, incluindo a medicina” lembra-nos hoje Célia Miguel, investigadora no ITQB/IBET. “O contributo que os investigadores em plantas podem dar à sociedade vai ter uma importância crucial no futuro próximo”, por isso desafia todos os jovens a interessar-se pela investigação em plantas.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? É extraordinária a capacidade que as plantas têm de utilizar energia solar na fotossíntese para sintetizar todos os compostos orgânicos de que necessitam e de que dependem as outras formas de vida no planeta. As plantas são fascinantes sob muitos aspectos incluindo por exemplo a grande diversidade de formas e tamanhos, estando algumas espécies de plantas entre os organismos que atingem maior longevidade. As plantas estão presentes em praticamente todos os ecossistemas apesar de não se movimentarem e moldam praticamente todas as paisagens que conhecemos, são muitas vezes os seres vivos que primeiro associamos a uma paisagem. São as plantas que mantêm quase todos os ecossistemas terrestres tal como os conhecemos.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Acredito que a investigação em plantas pode dar um contributo
essencial para o progresso do conhecimento e que esse progresso é essencial para garantir a sustentabilidade da nossa sociedade. Muitas das descobertas científicas que foram feitas a partir da investigação em plantas foram determinantes noutras áreas da ciência, incluindo a medicina. Para além disso, os desafios que enfrentamos actualmente, como o aumento da população num cenário de alterações climáticas que poderão levar a uma escassez de recursos (alimentares e outros) tornam ainda mais necessário o investimento na investigação das plantas. A investigação nesta área é essencial para encontrarmos formas de rentabilizar a produção de alimentos e outros recursos renováveis que são utilizados, por exemplo, na produção de papel e de energia.
O que está investigar neste momento? No nosso laboratório investigamos alguns aspectos da biologia das árvores que são importantes para a valorização de espécies florestais representativas em Portugal como o pinheiro bravo e o sobreiro. Desenvolvemos um método de propagação vegetativa (clonagem) do pinheiro designado
por embriogénese somática e que permite obter um grande número de embriões geneticamente idênticos a partir de células somáticas cultivadas in vitro. A utilização deste sistema experimental juntamente com outras ferramentas como a manipulação genética permite-nos também estudar a função de genes que controlam mecanismos tão diversos como por exemplo o desenvolvimento dos embriões ou a resistência a doenças. Estamos ainda interessados em perceber quais os genes e de que modo controlam a actividade de determinadas células não diferenciadas (meristemas) que são responsáveis pela formação de madeira e cortiça.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? O que mais me motiva é o facto de todos os dias se nos colocarem novos desafios. O progresso do conhecimento está a ser tão rápido que há poucos anos atrás não era possível imaginar o tipo de projectos em que estamos actualmente envolvidos e isso é muito motivante. O que menos gosto é do tempo excessivo que é dedicado a tentar obter financiamento para o nosso trabalho, e da incerteza desse financiamento.
O que faz para se distrair do trabalho? As actividades de investigação são muito exigente em termos de tempo. O pouco tempo disponível é dedicado especialmente à família.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? O contributo que os investigadores em plantas podem dar à sociedade vai ter uma importância crucial no futuro próximo. Há ainda muito por explorar sobre a biologia das plantas, como por exemplo como adaptam o seu desenvolvimento e crescimento em função das condições do ambiente onde estão inseridas, ou que estratégias desenvolveram para enfrentar pragas e doenças específicas, etc. Estes conhecimentos serão estratégicos no desenvolvimento de aplicações de grande impacto na nossa sociedade.
Paula Farinha “As plantas trocam-nos as voltas constantemente, pois a resposta nunca é tão simples como imaginávamos… é sempre muito mais complexa” confessa-nos hoje a investigadora Paula Farinha, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Eu diria, essa magia silenciosa que ocorre dentro das plantas com o processo da fotossíntese… é absolutamente fascinante como as plantas conseguem converter a energia do sol numa outra forma de energia acessível para elas e para todos os outros seres vivos! Essa força motriz que nos move, que nos dá energia, provém das plantas! Sem elas, não teríamos vida. E pensar que ainda por cima nos dão o oxigénio que precisamos para viver, captando ao mesmo tempo o dióxido de carbono. É absolutamente fascinante por si só! Já para não falar da beleza das cores, formas, cheiros e sabores com que nos presenteiam todos os dias ! São fascinantemente “generosas”!.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Precisamente porque sempre vi as plantas como seres vivos fascinantes! Enigmáticas, desde as plantas carnívoras (perfeitamente pacíficas deva-se dizer…), às plantas da “ressurreição” que habi-
tam no deserto, podendo viver anos a fio sob uma forma de “hibernação” (dormência) quase totalmente desidratada e reatar a vida com uma simples gota de água! Escolhi as plantas porque queria saber exactamente o que ocorre “lá dentro” da célula, como podem responder a tantos estímulos diferentes e integrar toda essa informação de forma a poder sobreviver e a passar essa informação à geração seguinte.
O que está investigar neste momento? Estou a estudar uma dessas formas de adaptação, ou seja, como as plantas respondem a nível molecular para adaptar-se à escassez de água e/ ou ao excesso de salinidade que ocorre no solo, dois factores altamente limitantes à produtividade hoje em dia, e infelizmente muitas vezes associados… A ideia é, depois de compreendermos esses mecanismos base, podermos passar à fase seguinte, que seria obter plantas com maiores níveis de tolerância a esses factores ambientais adversos.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto da ideia de que podemos formular todo o tipo de perguntas, e que se pensarmos numa boa estratégia, e tivermos os meios necessários para a desenvolver, podemos chegar a respostas realmente fascinantes… As melhores são sempre aquelas que não estamos à espera… As plantas trocam-nos as voltas constantemente, pois a resposta nunca é tão simples como imaginávamos… é sempre muito mais complexa… O que gosto menos é falta de reconhecimento de que o trabalho de um investigador, é trabalho! A grande maioria das pessoas que faz investigação é detentora de bolsas de investigação, sendo considerado que estamos em formação… De facto é “trabalho”, muito trabalho aliás, ao qual se dedicam muitas horas, muita paixão, mas também muito esforço…
O que faz para se distrair do trabalho? Gosto de umas belas caminhadas, um bom livro para ler, viajar, mas para mim a melhor distracção é poder estar com todos aqueles a quem mais queremos. Simplesmente estar e aproveitar que o outro existe, fazendo-me sentir que eu também existo.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Talvez esta seja a pergunta mais difícil… Se os jovens sentem essa curiosidade que leva ao exercício da investigação, então é “só” uma questão de procurar/encontrar o tema certo, no lugar certo, e com as pessoas certas! Hoje em dia há muita informação, diversidade de temas e abordagens, e dado que o país é pequeno, os investigadores até são fáceis de encontrar! Está tudo aí ao alcance de um click! Basta procurar.
Tiago Santos Para o investigador Tiago Santos, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, o interesse por esta área começou na faculdade, onde “o Prof. Fernando Catarino falava das plantas com uma paixão que acabou por despertar o meu interesse para conjugar a biologia molecular com plantas!” A procura de explicações para a resposta das plantas a fatores ambientais, como tentar perceber o que faz uma planta ser mais tolerante ou sensível ao frio, à salinidade ou à secura “é um desafio permanente”.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As plantas são verdadeiras sobreviventes! Conseguem viver em ambientes muito adversos com adaptações espantosas. Para além disso, são a fonte da nossa sobrevivência, fornecendo oxigénio e serem a base da nossa alimentação.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? O bichinho foi crescendo durante a Faculdade…o Prof. Fernando Catarino falava das plantas com uma paixão que acabou por despertar o meu interesse para conjugar a biologia molecular com plantas!
O que está investigar neste momento? Neste momento, a minha pesquisa está relacionada com os mecanismos de resposta a nível molecular do arroz a factores ambientais, como o frio, a salinidade ou a secura.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto imenso dos intrincados puzzles moleculares das respostas a factores ambientais. Estamos constantemente a tentar perceber o que faz uma planta ser mais tolerante ou sensível ao frio, salinidade ou secura, e isso é um desafio permanente. O mais chato é ter de lidar com a frustração de experiências que correm mal. À parte disso, a permanente instabilidade profissional causa igualmente muito stress.
O que faz para se distrair do trabalho? Aproveito o meu tempo livre para estar com a minha mulher e filhas. Como a investigação toma grande parte do meu tempo, o restante tempo tento utilizá-lo ao máximo para poder compensá-las das minhas ausências. Também gosto de jogar ténis e de vez em quando consigo arranjar tempo para fazer umas partidas.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Gostar de plantas é fundamental! Depois é como em tudo: empenho, dedicação, espírito crítico, mas também saber ouvir os mais experientes…
Célia Cabral “Desde miúda que o meu gosto pelas plantas despoletou penso que graças a uma grande influência da minha mãe que adora plantas” revela-nos Célia Cabral, investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. “Conseguir dar explicação científica para os usos [das plantas] na medicina tradicional” é uma das suas motivações para investigar na área das plantas.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Tudo nas plantas me fascina, desde as cores, as formas, as estratégias de atração de insectos para polinização, etc. As plantas não se conseguem mover como os animais, e portanto quando as condições ambientais não são as mais propícias elas não podem fugir, têm de rapidamente se adaptar ou morrem. Essas capacidades e estratégias extraordinárias que as plantas desenvolvem para se defenderem das adversidades encantam-me…
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Desde miúda que o meu gosto pelas plantas despoletou penso que graças a uma grande influência da minha mãe que adora plantas. Mas o gosto científico,
ou seja o fascínio pela Taxonomia Vegetal começou no meu segundo ano da licenciatura em biologia. Desde essa altura que a paixão foi crescendo e fui tendo cada vez mais a certeza que fazer investigação com plantas, especialmente de ambientes tropicais era o que eu queria fazer.
O que está investigar neste momento? Neste momento estou a trabalhar na avaliação da bioatividade de metabolitos secundários de várias plantas medicinais. Interessam-me sobretudo as plantas aromáticas e logo a caracterização química e a avaliação do potencial medicinal dos óleos essenciais que são extraídos delas.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto de tudo :) Desde ir para o campo colher, à recolha de informação etnobotânica, ir para o laboratório obter extratos, fazer a caracterização química, avaliar as bioatividades… adoro conseguir dar explicação científica para os usos na medicina tradicional.
O que faz para se distrair do trabalho? Não se pode dizer que seja para me distrair do trabalho, até porque não tenho vontade de me distrair do trabalho porque adoro o que faço. Mas adoro ir para o campo com o meu filho e admirar com ele a beleza da natureza e gosto muito também de pintar aguarelas.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? O meu conselho é que sejam persistentes. Eu fiz parte do meu doutoramento fora de Portugal (no Royal Botanic Garden Edinburgh, U.K.) onde há um fascínio e um respeito pelas plantas muito maior que no nosso país. Nem sempre é fácil fazer investigação com plantas em Portugal, há que sensibilizar as pessoas. Acho que devemos sempre perseguir os nossos sonhos e portanto o meu conselho é que não desistam quando surgirem as primeiras adversidades, toneladas de burocracias e dificuldades de financiamento. Força, e não desistam das plantas :)
Catarina Moura “Há um mundo fascinante por descobrir e que a investigação em plantas é extremamente relevante” é o que nos diz hoje a investigadora Catarina Moura, do Centro de Estudos Florestais do ISA/UTL e do Centro de Ecologia Funcional da UC. Aos jovens investigadores lembra que, se por um lado considera que esta área é “sempre menos financiada, menos apreciada que outras áreas (...) mas que vale a pena se acreditarmos?... ai isso vale! Portanto, força!”
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As plantas são organismos sésseis que, parecendo-nos frágeis, controlam imensos acontecimentos do planeta e estão na base da vida deste. Para além do seu papel fundamental na base da cadeia alimentar da biosfera, podem também ser importantíssimas na estabilização do solo, na regulação do ciclo hidrológico, na captura de carbono e na mitigação de alterações climáticas e até na origem de muitos medicamentos... Nós, humanos, com esta aparente força, mobilidade e “inteligência” não poderíamos viver sem as plantas!
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Penso que resultou de uma combinação de factores, alguns mais circunstanciais que outros. Por um lado, desde muito cedo que me fascinava a
diversidade de formas, cores e texturas no reino das plantas; depois durante a faculdade senti uma maior afinidade pelas cadeiras e pelo ambiente no Departamento de Botânica, e finalmente fui cativada pela cadeira de Ecologia Vegetal, e especificamente por uma aula em que o palestrante convidado, o Professor Jorge Paiva, nos falou da Laurissilva e da diversidade vegetal... nesse dia decidi.
O que está investigar neste momento? No panorama geral, dedico-me ao estudo da interacção entre plantas (em particular árvores e sua fisiologia) e o ambiente, nomeadamente factores relacionados com alteração globais (seja o aumento do CO2 na atmosfera, a incidência de secas ou as alterações do uso do solo) e alguns ciclos biogeoquímicos (água, carbono, azoto). Neste momento em particular, estou a investigar efeitos de determinadas alterações do uso do solo ou da paisagem (como a introdução de pastagens melhoradas biodiversas ou a “invasão” por arbustos) na fisiologia do sobreiro e no funcionamento do ecossistema Montado.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto principalmente de questionar, de discutir vários assuntos de ciência e de fazer ligações entre ramos diversos do conhecimento (penso que é um característica e vantagem da ecologia!). Adoro quando ouço cientistas doutras áreas e se faz um “click” na minha cabeça de como essa abordagem, essa técnica, essa questão poderia ser utilizada na nossa área, ou de como se poderiam construir sinergias entre todos. Também gosto do forte sentimento de calma e paz que o trabalho de campo me proporciona (apesar de muitas vezes ser duro fisicamente). E gostei imenso de dar aulas durante o meu doutoramento. O que gosto menos?... Hmm.... talvez de sentir que há muitas limitações (internas e externas) para aquilo que gostaríamos de fazer, questionar, investigar. E de perdermos muito tempo e energia com assuntos que são muitas vezes secundários mas que afectam negativamente a disponibilidade mental e criatividade tão necessárias na ciência.
O que faz para se distrair do trabalho? Faço muitas coisas diversas dependendo do local e situação onde me encontro, mas tempo com família ou amigos, música, cinema e livros (muitos!) estão constantemente presentes... E sempre que posso, algo relacionado com a dança (a minha outra paixão).
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Diria que há um mundo fascinante por descobrir e que a investigação em plantas é extremamente relevante, mas que o caminho e as escolhas podem ser duros. Diria que é necessário algum espírito de dedicação, perseverança e luta (embora dependa muito do tipo e área de investigação dentro de “as plantas” e do local do mundo onde se está). Embora reconheça que estes não deixem de ser valores transversais a todos os cientistas, terão que ser mais aguçados numa área em que há pouco apoio e que é menos acarinhada pela própria sociedade. Será sempre menos financiada, menos apreciada que outras áreas, isso sem dúvida, mas que vale a pena se acreditarmos?... ai isso vale! Portanto, força!
Eugénia de Andrade Hoje o i-Plant veio falar com a investigadora Eugénia de Andrade, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos. As plantas “são a fonte do oxigénio atmosférico e a base da cadeia alimentar (vida em geral), a habitação de tantos seres, a química da beleza, do crescimento e da cura de doenças físicas e psicológicas (sobrevivência), a revelação de sentimentos (amor, tristeza,...), a beleza das paisagens e o prazer dos nossos olhos (lazer)” diz-nos esta investigadora. “E tanto fica ainda por dizer.”
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As plantas são a nossa existência e indispensáveis à vida do Planeta Terra. Elas são a fonte do oxigénio atmosférico e a base da cadeia alimentar (vida em geral), a habitação de tantos seres, a química da beleza, do crescimento e da cura de doenças físicas e psicológicas (sobrevivência), a revelação de sentimentos (amor, tristeza, .), a beleza das paisagens e o prazer dos nossos olhos (lazer). E tanto fica ainda por dizer.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Numa primeira fase, vários factores, talvez com pesos semelhantes, contribuíram para o meu interesse pelas plantas: uma ascendência ligada à agricultura, um pai que me motivava para a observação da natureza através de passeios a pé pelo campo, da observação de sementinhas a germinar e do encorajamento na participação em actividades agrícolas e o meu próprio gosto pelas as ciências da vida. Só mais tarde, durante a vida académica, surgiu o interesse pela investigação.
O que está investigar neste momento? O efeito da inserção casual de transgenes, em milho, nos genes codificadores e não-codificadores de proteínas. O efeito da amostragem na quantificação precisa de sementes geneticamente modificadas em lotes de sementes não geneticamente modificadas- amostragem 1-D. Desenvolvimento de plasmídeos calibrantes/controlos positivos para as reacções de detecção de agentes fitopatogénicos, por PCR em tempo real.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto de ler, gosto do “pensar” gerador de criatividade e gosto do trabalho na bancada do laboratório. Não gosto tanto de escrever.
O que faz para se distrair do trabalho? Tento ter, ao mesmo tempo, diferentes actividades em curso, para não entrar em rotina em qualquer uma delas. Acima de tudo, faço jardinagem, crochet e ponto de cruz. Também faço, mas menos, restauro de mobílias velhas. Actualmente, encontrei no estudo da macrobiótica, uma nova distracção e um novo interesse nas plantas.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Atendendo à conjuntura actual, onde a falta de recursos faz com que a investigação, especialmente em plantas (agricultura, alimentação e biotecnologia), seja uma das menos financiada e que os investimentos em projectos
na área da saúde sejam dos mais elevados, sugiro aos jovens que visem uma investigação atractiva e entusiasmante, direcionada para o uso das plantas na saúde e na melhoria da qualidade alimentar e do meio-ambiente e sempre em prol do bem estar da humanidade e da natureza.
Sónia Negrão “Adoro investigar para tentar responder a perguntas e surgirem sempre outras novas...o desafio constante da ciência” é o que motiva a investigadora Sónia Negrão. Conheça aqui mais sobre o trabalho que desenvolve no Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Por um lado as plantas são o suporte de vida de todo o planeta, não só como fonte básica de alimentação para todos os seres vivos, como também o pulmão da Terra. Por outro lado, como as plantas são organismos sésseis (ou seja não possuem capacidade de locomoção e vivem fixos num local) desenvolveram mecanismos de adaptação únicos (genéticos e moleculares) para responder às condições adversas .
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? A genética sempre me fascinou desde muito cedo...como o modelo de Mendel foi o primeiro modelo genético com o qual tive contacto, estudar plantas do ponto de vista genético foi algo que aconteceu naturalmente.
O que está investigar neste momento? Estou a estudar a diversidade genética do arroz, de forma a encontrar genes mais eficazes na tolerância ao stress salino, de forma a que o arroz consiga crescer melhor em ambientes com mais sal.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Adoro investigar para tentar responder a perguntas e surgirem sempre outras novas...o desafio constante da ciência. O que menos gosto é falta de uma carreira científica efectiva ou seja sem ser apoiada maioritariamente por bolsas de investigação.
O que faz para se distrair do trabalho? Gosto de fazer desporto (Taekwondo, Krav Maga e natação), cinema, ler e ir para a praia quando o tempo o permite.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Devem ter em conta que a carreira de investigação exige absoluta dedicação, muita perseverança e uma grande paixão pela ciência. Aconselharia a começar com estágios de verão ou mestrados num grupo forte de investigação para perceberem como o trabalho de investigação pode ser exigente mas recompensador.
Hélia Marchante “Na verdade gosto muito do meu trabalho (as várias vertentes incluídas tanto na parte de investigação como na parte de docência) mas detesto as plantas invasoras que investigo - procuro alternativas para as eliminar!” é o que nos diz hoje a investigadora Hélia Marchante. Saiba mais sobre o seu trabalho com plantas invasoras no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e sobre as suas aulas de Botânica na Escola Superior Agrária de Coimbra.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Além de haver muitas plantas que são lindíssimas, sem elas não haveria animais:) Nem muitas das paisagens fantásticas que conhecemos!
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Aconteceu mais ou menos por acaso (no início do curso até queria era trabalhar com animais), mas depois de começar a trabalhar com plantas nunca mais quis trocar - são fantásticas!
O que está investigar neste momento? Investigo na área das plantas invasoras, incluindo, e.g.: impactes de plantas invasoras nas comunidades de plantas nativas; metodologias de controlo de plantas invasoras e recuperação de ecossistemas invadidos. A nível de docência ensino Botânica (disciplina de base) - e adoro!
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto muito das várias vertentes do meu trabalho, incluindo tanto as componentes de investigação como as de docência. De certa forma, o que gosto menos são as plantas invasoras propriamente ditas, já que procuro alternativas para as eliminar!
O que faz para se distrair do trabalho? Brinco com os meus filhotes:) Ou, por vezes, passeamos no campo e vêmos plantas juntos:)
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Força! não desistam - as plantas são muito mais fantásticas do que os animais. Mas é preciso “perseguir o sonho” - nem sempre é fácil conseguir-se financiamentos para investigar na área das plantas (ou noutra áreas);)
João Silva Hoje falámos com o investigador João Silva, do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, sobre o seu fascínio pelas plantas, “ainda com tantos mistérios por desvendar”. “Que não pensem que a investigação em plantas é tão aborrecida como o quadro que lhes é pintado no ensino básico e secundário” é o conselho dado por este investigador aos mais jovens.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Vários aspectos, a começar pela sua função essencial de suporte a toda a vida neste planeta, função que ainda assim desempenham com uma subtileza notável. Depois a sua beleza, manifestada desde os pequenos detalhes morfológicos até à escala de uma floresta ou de uma pradaria submarina. E por fim, não menos fascinante, é o seu próprio “funcionamento”, a fisiologia, ainda com tantos mistérios por desvendar.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? A primeiro contacto acabou por ser quase casual, um pouco por curiosidade, ao procurar um tema para tese de mestrado, que acabei por fazer com macroalgas marinhas. O encantamento veio depois e foi definitivo.
O que está investigar neste momento? Neste momento trabalho sobretudo com os efeitos do aumento do CO2 e da acidificação do oceano no processo fotossintético destas plantas e também na calcificação de macroalgas calcárias.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? O que gosto mais é sem dúvida o trabalho de campo, estar na água. Privilegio sempre que possível a recolha de dados in situ. O que gosto menos é a burocracia exagerada imposta à ciência.
O que faz para se distrair do trabalho? Faço desporto e desfruto a minha família.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Que procurem o contacto directo com quem trabalha na área, informalmente ou através de programas de estágios e sobretudo que não pensem que a investigação em plantas é tão aborrecida como o quadro que lhes é pintado no ensino básico e secundário.
César Garcia César Garcia do Museu Nacional de História Natural e da Ciência e investigador do CBA da FCUL, diz-nos hoje que “as surpresas que existem quando estudamos um local novo e aparecem espécies raras, novas para o país ou novas para a ciência” são o que mais o motiva.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As plantas são organismos especiais. São especiais porque têm uma relação muito específica com o meio que as rodeiam e respondem de diferentes formas, quando o meio é alterado por alguma razão, seja poluição ou outras situações como são as alterações climáticas. Depois estão também adaptadas morfologicamente e quimicamente de uma forma muito interessante, a forma das folhas, o tamanho das suas células, papilas, compostos químicos. etc. toda esta variabilidade foi programada à medida das suas necessidades.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Porque desde o ensino secundário que me interesso por plantas, especialmente por ecologia e taxonomia. Chegamos a um ponto em que de olhos fechados se formos colocados num determinado local de Portugal podemos dizer com uma baixa margem de erro a região onde estamos.
O que está investigar neste momento? A brioflora de São Tomé e Príncipe e a Portuguesa. Trabalhos de ecologia e taxonomia. Relações das espécies com a altitude e com outras variáveis ambientais.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? As surpresas que existem quando estudamos um local novo e aparecem espécies raras, novas para o país ou novas para a ciência. Depois observar investigadores aposentados com a mesma motivação e interesse parecendo crianças a desem-
brulhar presentes. Recentemente tive com um dos maiores especialistas em plantas de África, um investigador com perto de oitenta anos com limitações na locomoção. Disse-me, tu que podes ainda subir às montanhas faz-me o favor de me enviar plantas para eu as determinar. Conclusão, não há reformados em determinadas áreas porque há uma grande paixão. O que gosto menos é a falta de sensibilidade de quem não a devia ter. Ou seja os decisores, os que dizem que não podem garantir carreiras científicas, mas são os primeiros a solicitar informação quando necessitam ou a colocar dados em estatísticas internacionais.
O que faz para se distrair do trabalho? Quando estou mesmo a fazer o trabalho que é o meu, não é necessário distracção. Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Depende. Não só para as plantas, se o interesse for muito forte e tiverem dispostos a tudo que avancem. Se for um interesse ligeiro que pensem duas vezes antes de se meterem em investigação num país europeu. Sabem que
vão ter de passar por muitas dificuldades para obter financiamento e até para garantir o próprio ordenado. Vão estar constantemente em concursos públicos onde as taxas de sucesso são ínfimas. O sistema científico actual não garante estabilidade financeira aos jovens investigadores mesmo os que têm mérito, não garante o seu futuro e até se torna caricato. Neste momento há muitas pessoas qualificadas mal aproveitadas em que houve um esforço na sua formação estando as entidades públicas sem quadros para trabalhar. Há um abuso nas bolsas que só deviam existir para a atribuição de graus académicos.
Amely Zavattieri Hoje contamos com a participação da investigadora Amely Zavattieri, do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas da Universidade de Évora. “Que só se dedique quem tiver realmente vocação e paixão pelas plantas, sem isto, qualquer profissão é um tédio” é o conselho dado por esta investigadora se dedicou ao estudo das plantas que depois de ter morado durante anos com os seus pais numa fazenda e aprendido as coisas básicas de agricultura com o seu pai.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? A sua capacidade de adaptação face a falta de movimentação, a sua extraordinária diversidade em formas e cores, a sua capacidade de transformação da energia solar com uma eficiência inimitável.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Morei durante anos com os meus pais numa fazenda e aprendi as coisas básicas de agricultura com o meu pai, isto sem dúvida foi o que me fez optar pela engenharia agronómica. Gosto de contribuir para o conhecimento da botânica e da produção vegetal em todas as suas vertentes.
O que está investigar neste momento? Sou doutorada em biotecnologia vegetal e estou a investigar a micorrização in vitro de espécies florestais e os sinais bioquímicos que se estabelecem entre as plantas e as micorrizas para que o estabelecimento das relações simbióticas venha a acontecer. Estudo além disso a propagação e conservação de germoplasmas de espécies endémicas portuguesas e a produção de metabolitos secundários.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto especialmente de trabalhar com a excelente equipa que temos formado na Universidade de Évora nesta área. O que menos gosto é a baixa estima que existe na área vegetal comparativamente com outras (como exemplo, a relevância que se dá a conservação animal em detrimento da componente vegetal), a falta de conhecimento de quem fala sobre biotecnologia vegetal e plantas geneticamente modificadas.
O que faz para se distrair do trabalho? Tento fazer fotografia..... (pois sou amadora e com pouca formação), viajar, e recentemente comecei a escrever o meu primeiro livro não científico que estará dedicado a minha forma de ver a Patagónia. O livro vai se chamar “Desolação e Beleza” e terei o apoio da Universidade de Évora e da Fundação Luís de Molina. Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Que só se dedique quem tiver realmente vocação e paixão pelas plantas, sem isto, qualquer profissão é um tédio.
Ricardo Mateus “A Investigação em Plantas é uma área com futuro”, diz-nos hoje o investigador Ricardo Mateus, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia. “A sua biodiversidade e o seu valor na produção de tantos produtos e serviços, tais como a purificação do ar, a transformação da energia solar em alimentos, o armazenamento de carbono, a regulação da qualidade da água, etc.” são algumas das coisas que tornam as plantas tão fascinantes.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? O facto de sem elas não existir vida na Terra. A sua biodiversidade e o seu valor na produção de tantos produtos e serviços, tais como a purificação do ar, a transformação da energia solar em alimentos, o armazenamento de carbono, a regulação da qualidade da água, etc.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? São um activo fundamental para a vida do planeta que deve ser melhor gerido.
O que está investigar neste momento? A gestão da floresta, considerando os seus múltiplos benefícios e oportunidades por oposição aos custos e riscos que a sua gestão implica.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? O que gosto mais: o contacto com a Natureza, o impacto que a minha investigação poderá ter na gestão efectiva das florestas. O que gosto menos: a fraca ligação e colaboração das empresas e sociedade em geral em relação ao trabalho que é produzido em I&D.
O que faz para se distrair do trabalho? Leio, viajo e vivo a vida com a minha família e amigos.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? A Investigação em Plantas é uma área com futuro, face às necessidades e desafios que vamos atravessar neste século. Apostem sobretudo na multidisciplinaridade e em criar pontes com outras áreas do saber.
Alexandra Cunha Hoje contamos com a contribuição da investigadora Alexandra Cunha, Coordenadora do projeto LIFE-BIOMARE da Universidade do Algarve. A conservação e a gestão de pradarias marinhas, de modo a assegurar que “estes habitats não desapareçam da costa portuguesa” é o desafio que esta investigadora tem nas suas mãos.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Pela grande diversidade de forma, por serem a base de todos os ecossistemas e pelo facto de serem seres vivos capazes de utilizar directamente a energia solar.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Porque ao contrário dos animais não têm olhos e não demonstram sofrimento quando manipuladas.
O que está investigar neste momento? Conservação e gestão de pradarias marinhas, o que fazer para que estes habitats não desapareçam da costa portuguesa.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Gosto de contribuir para a preservação de um conjunto de plantas em declínio. A parte que menos gosto é a dificuldade em obter financiamento para fazer o meu trabalho. O que faz para se distrair do trabalho? Passeios pedestres na natureza, convívio com amigos e família, leitura, viagens.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Que comecem desde cedo a criar laços com investigadores nas áreas de trabalho com plantas, como voluntários ou outros.
João Palma João Palma, investigador do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia, fala-nos hoje sobre a possibilidade que a ciência nos dá para conhecer novas pessoas e novos mundo. Sem nunca esquecer, é claro que “é importante que a competência, excelência e dedicação estejam sempre presentes na actividade profissional”.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? A morfologia variada, estratégias de reprodução e a falsa impressão de que é um ser estático.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Vendo bem as coisas, acho que foram elas é que me escolheram...
O que está investigar neste momento? Modelação de base fisiológica do crescimento da floresta, e optimização do planeamento e gestão tendo em conta riscos e alterações climáticas.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? Mais: Desafio de raciocínio das dinâmicas interligadas da hidrologia, fisiologia, silvicultura, otimização de processos e a programação desta dinâmica. Conhecer pessoas pelo mundo que afinal também têm interesses semelhantes. Menos: Burocracia (quase metade do tempo) e contratos de trabalho a termo certo.
O que faz para se distrair do trabalho? Depende das fases. Todos os dias ir e voltar de mota ajuda a refrescar as ideias. Depois, dar banho à criançada em casa que, por estranho que possa parecer, aprendi que é um alívio para os
meus neurónios. O trabalho em si, tem promovido viagens de longa duração em mundos/culturas novas que permitem misturar lazer no trabalho (China, Nova Zelândia, Austrália, Brasil, ...). Um bom copo rodeado de amigos é certamente uma boa distração do trabalho em qualquer parte do mundo.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Não sejam demasiado específicos à partida. Se gostarem de um determinado tema, não desanimem por não o conseguirem logo de início. Certamente haverá oportunidade de explorar esse tema no futuro, ou, frequentemente surge o interesse por outro tema por causa do “contágio” da inspiração de um tutor dedicado e apaixonado pelo seu tema de investigação. É importante que a competência, excelência e dedicação estejam sempre presentes na actividade profissional. Sem estas, a investigação será apenas poesia que, apesar de desejada, dificilmente progredirá em resultados para a sociedade em que vivemos, necessitamos e identificamos.
Ana Cristina Tavares Sustentáveis, fiéis, humildes, lindos e inspiradores são algumas “das muitas virtudes das plantas fascinantes”, diz-nos hoje Cristina Tavares, investigadora do Departamento de Botânica da FCTUC. “Visitar, conhecer e usufruir dos espaços, recursos e dos programas dos jardins botânicos” é o desafio lançado aos mais jovens.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? Passo a enumerar apenas 7 (o meu dígito preferido) das muitas virtudes das plantas fascinantes - deslumbrantes, encantadoras e sedutoras (sinónimos no dicionário): - são os seres vivos mais sustentáveis que conheço: são auto-suficientes e não desperdiçam - só consomem e gastam o que precisam; - são seres humildes – nada reclamam e são fundamentais para a vida na terra; - são seres sempre ativos, esforçados e empreendedores: procuram sempre a melhor adaptação às circunstâncias (meio ambiente) até ao limite das possibilidades (vida), muitas vezes em situações extremas, que solucionam com
modelos - químicos, físicos, morfológicos – fantásticos, muitas vezes inigualáveis; - são seres de uma fidelidade impressionante: fieis – aos sinais do meio ambiente- respondendo com a mesma reação à mesma ação; p. ex.. – “seja fiel ao seu amor como a magnólia do jardim botânico (de Coimbra) ao dar flor” uma atividade que a este propósito desenvolvemos no 14 de fevereirodia dos namorados- porque as magnólias, aqui , estão sempre em flor nesse dia. - são seres exemplares: todos os dias nos dão lições de vida, quer pelo conhecimento das plantas, quer pelas novas descobertas a partir delas. - são princípio e fim: toda a vida e morte na terra se “mistura” nas plantas. - são seres lindos, inspiradores e únicos no mundo.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Pelo desafio da diferença, já que as plantas são tão importantes quanto o pouco interesse que no geral lhes é votado. (sobre isso escrevi a convite: http://www.uc.pt/noticias/newsletter/022012/ tem_a_palavra).
O que está investigar neste momento? Apiáceas endémicas da Península Ibérica em Portugal: conservação in vitro e ex situ e valorização pelos óleos essenciais.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? O desafio aliciante e a interdisciplinaridade na procura de conhecimentos (botânica, fisiologia e ciências farmacêuticas) e o modo de o conseguir, pois proporciona uma aventura fantástica, por entre os infindáveis Segredos da Natureza. Congregar e organizar todos os resultados para publicar.
O que faz para se distrair do trabalho? Convívio com família e amigos, danças e natação, espetáculos.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Visitar, conhecer e usufruir dos espaços, recursos e dos programas dos jardins botânicos será um bom princípio.
Maria Amélia MartinsLoução Contamos agora com a participação de Maria Amélia Martins-Loução, investigadora no Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa. “Não é fantástico ter sementes guardadas por mais de milhares de anos capazes de germinar e dar uma nova planta?” é uma das curiosidades que nos coloca esta investigadora.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As suas formas, a arquitectura das árvores, o domínio das alturas, destemido, despojado.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? Para compreender as suas adaptações e evolução, como gerem os nutrientes e a água, particularmente em climas desérticos e solos pobres.
O que está investigar neste momento? Pouco estou a “fazer”, antes a estudar e a orientar experimentação. A perceber como se pode entusiasmar as crianças para a ciência, para a curiosidade e experimentação cientifica. Apaixona-me compreender como é que as plantas podem usar microrganismos ou fungos para se adaptarem a diferentes habitats. Quais as condições que levam as plantas a perder a sua capacidade de adaptação e a ficar ameaçada a sua sobrevivência ? Será o azoto atmosférico um “driver” de perturbação importante para todas as espécies ? Como optimizar a conservação, in situ e ex situ ?
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? O tentar aprender o que não sei, de uma forma contínua e apaixonada. Gosto especialmente de pensar que estou a juntar pequenas peças de um grande puzzle. Obviamente que não gosto de perder peças.
O que faz para se distrair do trabalho? Estar com a família, olhar e rever espaços e locais por que tenho passado e para os quais tenho nova forma de apreciar. Conhecer novos lugares. Para além disso leio, e procuro aprender novas funcionalidades que a Apple oferece.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas? Que é um mundo fascinante e a base da nossa existência. Que há uma diversidade de formas e de funções à nossa espera para descobrir. Que a compreensão de muitos mecanismos presentes nas plantas pode permitir o avanço da biologia médica. Basta pensar que as plantas podem viver muito mais que os animais e o homem. Porquê? Como conseguem? O que as leva a ser tão resistentes? Quais os mecanismos? Não é fantástico ter sementes guardadas por mais de milhares de anos capazes de germinar e dar uma nova planta?
Susana Serrazina Hoje contamos com a participação de Susana Serrazina, investigadora no Laboratório de Sistemas Biológicos de Plantas, da Faculdade de Ciências de Lisboa. “A investigação em plantas é feita de pequenos passos que quando são atingidos correspondem a satisfação garantida!” diz-nos esta investigadora.
Para si, o que torna as plantas fascinantes? As plantas são fascinantes. Não tendo capacidade de se mover, são capazes de sobreviver a agressões como pragas, calor e frio, ferida…todos estes tipos de stress levam as plantas a adaptarse, correspondendo a importantes motores evolutivos.
O que está investigar neste momento? Investigo por um lado, os genes envolvidos na defesa do castanheiro europeu à doença da tinta, provocada por Phytophthora cinnamomi, um organismo do tipo fungo. Por outro lado, investigo factores de sinalização na reprodução sexual das plantas, tendo como modelo o grão de pólen de Arabidopsis thaliana.
Porque escolheu a área das plantas para a sua investigação? As plantas são essenciais ao ecossistema Terra, estão na base do fornecimento de oxigénio e alimento. O conhecimento do reino das plantas e o melhoramento de plantas é e será sempre uma área emergente de importância primordial.
O que gosta mais no seu trabalho? E menos? A investigação que exerço é muito demorada na aquisição de resultados, a minha maior satisfação é quando finalmente consigo discuti-los e divulgá-los. Nada avança sem dinheiro ou financiamento, a parte mais chata é o atraso na transferência de verbas para os projectos, de forma a ter mais resultados para a divulgação e avanço no conhecimento. Outro ponto negativo é a carreira de investigador. Tem muitos altos e baixos a nível de financiamento, os contratos são escassos e as bolsas, como alternativa, não têm as mesmas regalias dos contratos.
O que faz para se distrair do trabalho? O meu filho ainda é jovem (1 ano). Ele é distracção garantida e o meu escape. Quando tenho disponibilidade não dispenso sair da cidade, passeios de bicicleta, snorkeling.
Que conselho daria a jovens interessados na investigação em plantas?” A investigação em plantas exige curiosidade, empenho e perseverança. Um investigador de plantas chega facilmente à conclusão que nunca chegaremos a conhecê-las na sua essência, e o dogma de que as podemos dominar é falso. Tem a ver com o facto de Homem e Plantas serem inequivocamente diferentes, une-nos uma ancestralidade comum, mas distante e divergente. A investigação em plantas é feita de pequenos passos que quando são atingidos correspondem a satisfação garantida!
Este livro só foi possível graças aos participantes nas diversas actividades do “Aqui há Planta 2012”. Queremos agradecer-vos pela elevada qualidade dos trabalhos a concurso, pelo entusiasmo nos vários roteiros, pelas visitas à exposição, pelas ideias na nossa árvore, pelos testemunhos I-plant e por todas as outras formas com que apoiaram esta iniciativa. Muito obrigada a todos os que nos ajudaram a celebrar em grande, o fascinante mundo das plantas. Contamos convosco para a próxima edição A equipa “Aqui há Planta”
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