Editor
Editoração
José Cirillo
Iury Borel Capa e projeto Gráfico Iury Borel
Revisão
Imagem da capa:
Vera Lúcia Santaclara
Detalhe de obra de Hilal Sami Hilal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
C578
Cirillo, José, Org. O sabor da sua saliva é sonoro: reflexões sobre o processo de criação. / Organização de José Cirillo. – São Paulo: Intermeios, 2012. 210 p.; il.; x cm
Seminário Íbero-Americano sobre o Processo de Criação 5 a 8 de dezembro de 2012, Vitória - Espírito Santo ISBN 978-85-64586-38-3 1. Crítica Textual. 2. Arte. 3. Crítica Genética. 4. Criação Artística. 5. Criação Literária. 6. Criatividade. 6. Processo de Produção. 7. Produção Literária. I. Título. II. Poéticas da criação. III. Territórios de Criação. IV. Cirillo, José, Organizador. V. Intermeios - Casa de Livros e Artes. CDU 82.09 CDD 801.959
Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino
SUMÁRIO
O PROCESSO CRIATIVO E A HUMANIDADE Luís Jorge Gonçalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 TERRITÓRIOS DE CRIAÇÃO Cecilia Almeida Salles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Cartografías emergentes fronterizas: aproximación a la noción de territorio en algunos colectivos artísticos contemporáneos Diana I. Ribas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Caderno/Território Paula Cristina Somenzari Almozara . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 POÉTICAS DA CRIAÇÃO: uma ponte que se sonha para atravessar o mar Maria Virginia Gordilho Martins (Viga Gordilho) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 POÉTICA DA CRIAÇÃO DE ROBERTO BURLE MARX: Contextualização dos documentos de processo Cesar Floriano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 LA TERRITORIALIDAD Y LA URBANIDAD SOBRE EL ARTE CONTEMPORÁNEO: La relevancia de contextos y territorios en la creación de lenguajes en el arte contemporáneo: Europa y Latinoamérica Teresa Fernanda García Gil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .76 DISCURSOS DA ARTE EM MUDANÇA, os Congressos Internacionais CSO’ (“Criadores Sobre outras Obras”) João Paulo Queiroz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 GRACIOSIDADE E CORPO EM MOVIMENTO Maria Cristina Franco Ferraz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .105
O desencaixe como operação na formação de identidades e autorrepresentações em artes visuais Cláudia Maria França da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 O ARTISTA COMO CONCEITO. A criação como ato de resistência Mauricius Martins Farina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 HISTÓRIA NA ARTE: TRÊS PONTOS DE VISTA Patricia Franca-Huchet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 “PROCESO DE CREACIÓN Y NUEVAS TECNOLOGÍAS” Pilar Manuela Soto Solier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO José Cirillo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
APRESENTAÇÃO
Neste livro, O sabor de sua saliva é sonoro: reflexões sobre o processo de criação,
editado pela Intermeios Casa de Artes e Livros, estão reunidos alguns dos pesquisadores que investigam o fenômeno da criação nas artes, em países de língua portuguesa e espanhola.
Os textos estão aqui reunidos a partir de um conjunto de conferências proferidas
durante o POÉTICAS DA CRIAÇÃO, ES 2012 – Seminário Ibero-americano sobre o Processo de Criação, realizado em dezembro de 2012 junto à Universidade Federal do Espírito Santo e de seu Programa de Pós-graduação em Artes. Este Seminário é organizado pelos pesquisadores do LEENA (Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes) e pelo LABARTE, pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Artes da UFES – PPGA, em parceria com as Pró-reitorias de Extensão (PROEX) e de Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (PRPPG).
O Sabor de sua saliva é sonoro é uma edição que objetiva refletir sobre as interações
possíveis do processo de criação realizadas nos espaços demarcados por fazeres e saberes, acadêmicos ou populares, que constituem territórios simbólicos ou físicos, que fazem parte do cotidiano do artista ou de investigador crítico das práticas sociais e culturais, que envolvem a rede de significações e mediações do fenômeno artístico.
Assim, na diversidade de reflexões e manifestações do fazer artístico e na simultaneidade
de ocorrências na arte e nas práticas estéticas contemporâneas, edificam-se suportes e indagações que exigem um olhar renovado sobre os sentidos e aspectos éticos e híbridos da memória, da identidade e da territorialidade.
O Sabor de sua saliva é sonoro é uma proposição deste outro olhar que a tudo escuta.
Vitória, verão de 2012
O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO
Prólogo O PROCESSO CRIATIVO E A HUMANIDADE Luís Jorge Gonçalves1 INTRODUÇÃO
Este texto em forma de ensaio procura analisar as origens do processo criativo, na
humanidade. Faz-se uma abordagem reflexiva centrada no espírito que nos move na criatividade e o que a despoletou. Centramo-nos no que se designa de criatividade simbólica ativa, em contraposto a uma criatividade simbólica passiva. A humanidade tem como grande marca a criatividade e esta resulta de factores ambientais, de necessidade de sobrevivência e de interacção social, que levou ao desenvolvimento de cérebro. O cérebro que nos levou a fabricar a primeira ferramenta para sobreviver é o mesmo que hoje no faz pensar e construir máquinas para descobrir o que o universo esconde. A criatividade humana é o nosso maior segredo e com ela podemos viajar para o além e para além do universo…
CRIATIVIDADE E HUMANIDADE
Como começou o processo de criatividade na humanidade? A resposta sendo complexa
tem, no entanto, a sua simplicidade porque a humanidade tem na sua origem o próprio processo de criatividade. Diferentes factores contribuíram para o desenvolvimento do processo criativo,
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mas entre os principais estão o meio ambiente, as necessidades biológicas e de sobrevivência, o contexto social dos grupos humanos e o processo de evolução física do homem. A criatividade teve um grande instrumento biológico, que nos primatas foi evoluindo num ritmo muito rápido motivado por necessidades de sobrevivência no dia-a-dia, trata-se do cérebro.
Este órgão, gestor do sistema nervoso e sensorial animal, foi o órgão que nos primatas
teve um maior desenvolvimento ao ponto de com o Homo Sapiens permitir um pensamento
1. Diretor e professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa / Centro de Investigação e Estudo em Belas Artes
O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO expresso nas suas primeiras manifestações artísticas. No entanto, o caminho foi longo, desde o momento que o Homo Habilis, há cerca de 2.5 milhões de anos, na África Oriental, no Vale do Omo (Quénia), fabricou a primeira ferramenta em pedra, uma faca, para conseguir rasgar a pele de um animal e aceder à sua carne. Este ato cultural permitiu aceder a mais carne e, portanto, a mais proteínas o que acelerou o processo de evolução. O processo seguinte foi de evolução física e cultural, sendo a criatividade, ou seja, a resposta a novas situações, um fator absolutamente determinante. Foram as novas indústrias líticas, com ferramentas cada vez mais eficientes, tirando maior partido da matéria-prima, a pedra, particularmente uma rocha, o sílex, foi o domínio do fogo, a expansão pela Ásia e pela Europa, a construção de abrigos, com matérias vegetais, para além da utilização das grutas.
CRIATIVIDADE SIMBÓLICA PASSIVA
Não existem até ao Homem de Neanderthal vestígios de uma criatividade simbólica, que
partir dos há cerca de trezentos mil anos emerge com os primeiros enterramentos humanos. Não são deposições funerárias realizadas de qualquer forma, mas apresentando um ritual com os corpos em posição fetal, sob uma camada de flores e de pigmentos naturais. Existem ainda as coleções de fosseis que são manifestações de uma criatividade simbólica passiva. Infelizmente os dados arqueológicos ainda não nos permitem, para este nosso parente, falar de uma criatividade simbólica ativa, ou seja, uma criatividade que se manifesta em registos gráficos e tridimensionais e que nós hoje designados de arte.
CRIATIVIDADE SIMBÓLICA ATIVA
Essas evidências estão com o Homo Sapiens. Porquê com o Homo Sapiens? Hoje os
dados arqueológicos apontam para uma origem da nossa espécie na África Oriental, há cerca dos duzentos mil anos. As necessidades de sobrevivência, num meio ambiente muito hostil levaram a uma alimentação rica em fósforo o que desencadeou ao nível do cérebro profundas alterações nos seus mecanismos internos de funcionamento, tornando-o mais ativo ao nível das ligações
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O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO neuroniais. Talvez seja este o segredo da nossa criatividade simbólica ativa. Entre os cem mil anos e os trinta mil anos o Homo Sapiens disseminou-se pelos cinco continentes e a partir dos cerca de setenta a sessenta mil anos iniciou um processo de criação simbólica que encontramos em todos os locais onde o Homo Sapiens chegou.
Esta criatividade manifesta-se não somente nos registos gráficos, mas ainda nas próprias
ferramentas do dia-a-dia, porque são cada vez mais complexas e mais especializadas. Fabrica lançadores, para dar mais propulsão às lanças que atira sobre os animais, fabrica agulhas, para coser as sua peles e conseguir roupa mais eficiente, tira partido de uma grande quantidade de matérias-primas, os ossos, as hastes de animais, as peles, diferentes tipos de pedras, torna-se um caçador muito eficiente, em todos os espaços onde chegou. O cérebro permite pensar para além das necessidades biológica de sobrevivência, resultado de uma forte relação social que o Homo Sapiens tem no seio do seu grupo. Dois dos problemas centrais desta humanidade, poderiam ser, estamos no domínio das hipóteses, as interrogações do que acontecia aos seus entes queridos com a morte e a individualização e continuidade do próprio grupo.
Poderá ser na resposta a estes dois problemas, entre outros, que se manifesta uma
criatividade simbólica ativa iniciando-se um processo de complexificação que terá passado pela criação de narrativas e de rituais de suporte, que seriam a materialização dessas narrativas.
Uma boa história contada em torno da lareira seria um fator agregador dos grupos, mas
também sinónimo de conforto. As narrativas foram o gatilho que modelou a nossa humanidade
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e terão nascido a partir de histórias do quotidiano, de feitos heróicos, na caça, da observação da natureza, das grande manadas de animais, por exemplo, de histórias que se foram consolidando com o tempo, passadas de geração em geração, da procura de respostas para onde foram os entes queridos após a morte. A narrativa como uma explicação sobre as nossas origens, o que fazemos e para onde nos dirigimos. Ainda hoje observamos a quantidade de histórias provenientes de todos os cantos de onde há humanidade.
A forma de contar histórias e estórias, tem inúmeros suportes, a oralidade, a dança,
a música, a canção, a escrita, o teatro, o cinema, a gestualidade mimica, a expressão plástica
O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO figurativa, no desenho, na pintura, na escultura, no vídeo, na fotografia, na internet, no design. Trata-se de uma vasta multiplicidade de formas desde as que têm origens mais recuadas até às que têm tecnologias de vanguarda. É ainda uma indústria fundamental na nossa sociedade, com edições de livros, espectáculos (teatro, dança, canção, música, entre outras artes perfomativas), cinema, exposições. Porque o mais importante é uma boa história.
A criatividade voltada para a narrativa pode estar no início de todo um processo criativo
que num segundo momento passou para a ritualização, cujos suportes podem ter sido o corpo e as rochas, quer nas paredes de uma gruta, quer em espaços ao ar livre. A narrativa foi transposta para o corpo, com intervenção plástica, as pinturas corporais, e com adornos, colares, anéis, pulseiras, entre outros. O corpo seria ainda “movido” por sons, a música, contando histórias e talvez alimentado por substância psicotrópicas. A criatividade gráfica nasceu neste contexto de histórias, de sons, de corpos pintado e ornamentados dançando. Infelizmente essas histórias, que suportam todo um registo gráfico que chegou até aos nossos dias, não nos chegaram, ou por outro, podem nos ter chegado por vias muito indiretas, como as lendas muito antigas de povos atuais com uma maior ligação a esses tempos ancestrais do Homo Sapiens. Também alguns mitos de diferentes civilizações, do Egito, da Grécia, da China, de África, das Américas, podem remeter para esses períodos longínquos da nossa humanidade. Não vamos aqui referir essas narrativas em particular, mas há um traço de união em que a explicação das origens, a fragilidade do homem face à natureza e o seu domínio sobre esta força, o que acontece à humanidade no “além”, são mentores de uma grande diversidade de narrativas. A representação plástica é uma expressão dessa criatividade simbólica ativa e a sua interpretação é hoje um dos grandes enigmas que ainda enfrentamos. No entanto, o fascínio que sentimos perante essas primeiras representações gráficas levam-nos constantemente a interrogar que histórias estão por detrás.
CRIATIVIDADE E NARRATIVA
A essência da criatividade está no processo narrativo que a humanidade construiu ao
longo da sua história. Como já foi referido, a narrativa faz parte do nosso quotidiano sendo
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O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO hoje uma grande indústria e é o fio condutor de diferentes expressões artísticas. A humanidade continua na sua busca de criar novas narrativas e na procura de novos suportes de comunicação. O processo artístico plástico centra-se na produção de imagens que ilustrem a narrativa. A produções plásticas que no chegam da pré-história revelam uma humanidade que criou figuras, em correspondência com a realidade, mas também símbolos cuja relação com a realidade concreta ainda não conseguimos determinar, são as representações abstractas. Nesse longo período da história humana que corresponde à pré-história, ou seja, a sociedades sem escrita, no Paleolítico Superior, no Mesolítico, no Neolítico e no Calcolítico, a humanidade teve ainda a capacidade de transformar os estilos artísticos, de passar de representações predominantemente naturalistas, realistas e figurativas, para representações predominante esquemáticas, geométricas e abstractas. Como explicar esta transformação? Tratavam-se vezes de sociedades diferentes, as primeiras de caçadores-recoletores, as segundas de agricultores e, dependendo das áreas do mundo, de pastores ou de caçadores (agricultores-pastores ou agricultores-caçadores). O processo criativo simbólico ativo está bem patente nesta transformação. Naturalmente se as formas de relação com a natureza se alteraram, de recoletor a produtor dos seus alimentos, também os estímulos criativos tiveram um câmbio. O processo criativo não é imune ao quotidiano, aos processos de subsistências, às condições sociais, ao meio ambiente, como já foi referido. As narrativas são estimuladas por estes fatores e a posição que a humanidade e os homens ocupam nos seus contextos socio-ambientais são determinantes no processo criativo.
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Hoje a humanidade é toda a mesma, desde o desaparecimento do Homem de Neanderthal,
há cerca de trinta e cinco mil anos, somos todos Homo Sapiens. Também os mecanismos do processo criativo são os mesmos, o que determina as diferenças do processo criativo são factores socio-ambientais e individuais, não são biológicos. A história tem-nos ensinado que a humanidade é profundamente criativa, quer do ponto de vista tecnológico, quer simbólico e que ambas se transformam em paralelo.
O início do processo agrícola foi muito estimulante do ponto de vista artístico e os re-
gistos gráficos são o reflexo dessa criatividade. Na Europa o Megalitismo, cerca do VI-III milénio
O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO a-C., surge como uma manifestação artística extrema de um processo criativo. Embora se procurem as narrativas por detrás desta manifestação, uma teoria dominante nos nossos dias refere uma relação entre os ciclos das estações anuais e os ciclos da vida e da morte, como estando no centro desta grande manifestação artística. Quando falamos dos ciclos das estações referimo-nos aos ciclos anuais das colheitas e de como a natureza nasce e morre todos os anos, nas regiões temperadas. Também os humanos tinham um mesmo ciclo: à morte sucede a vida e a esta a morte, num ciclo constante. Os monumentos megalíticos podem ser a manifestação desta ideologia, porque menires ou recintos megalíticos podem ser, no primeiro caso, a idealização das figuras humanas dos defuntos e no segundo caso, devido aos seus alinhamentos, orientados para os picos dos ciclos lunares e solares (neste caso os solstícios), estabelecendo uma relação entre ciclos anuais da natureza e da vida humana. Esta criatividade simbólica ativa teve uma grande capacidade de associar o homem e a natureza e de observar os astros principais, como acompanhando os ciclos da vida humana. Ainda hoje nós vivemos dessa mitologia, quando olhamos para os signos do zodíaco, embora as suas designações no ocidente correspondam a uma observação grega. Também mitos como os de Dionísio/Baco e de Demeter/Ceres, nas suas designações grega e romana, podem remontar a estes momentos, tendo em conta plantas, como as vinhas e os cereais, nos seus ciclos anuais de morte e de renascimentos, particularmente evidente na vinha, cujo seu ciclo de vida acompanha as estações do ano. No inverno surge como um ramo morto e seco. Na primavera renasce com o desabrochar das folhas e dos frutos. No verão está no seu auge do seu amadurecimento com os seus frutos, as uvas, e o verde das folhas. No outono as folhas tornam-se castanhas e caem, voltando ao seu estado de hibernação para o inverno, como um ramo seco.
Quando a escrita surgiu, por questões práticas, imediatamente se tornou um suporte
que fixava as narrativa e assim chegou-nos a “Epopeia de Gilgamesh”, a primeira história escrita da humanidade, onde toda uma criatividade simbólica ativa está presente. Ler na atualidade essa primeira narrativa escrita da humanidade é viajar até 2600 a.C., bem próximo de nós se pensarmos nos cerca de dez mil anos da arte rupestre da Serra da Capivara, ou nos cerca de trinta mil anos da Gruta de Chauvet (França). No entanto, é a primeira narrativa escrita e nela já vemos os pilares
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O SABOR DA SUA SALIVA É SONORO narrativos de uma obra central da civilização ocidental, como é Bíblia.
A criatividade simbólica ativo manifesta-se numa construção narrativa sendo o processo
artístico o veículo de transmissão da narrativa. As artes plásticas, a oralidade, as artes perfomativa, seriam esse veículo de transmissão da narrativa. Esta é resultado primordial da criatividade simbólica ativa e é a grande definidora do Homo Sapiens e que desencadeou as necessidades artísticas que nos continuam a acompanhar no nosso quotidiano.
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