Ivan Clife - A balanced city: fast e slow, duas visões da cidade contemporânea

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

A Balanced City Fast e Slow, duas visões da cidade contemporânea

Ivan Clife Lopes Pinheiro Orientador Professor Doutor Peixoto Alves Assistente de orientação Mestre Ricardo Vieira de Melo

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura

Porto, 2013.


























22! !



24! !


1.1.1 - O Fast Living no contexto Histórico A Era da máquina

O Fast Living surgiu sem que ninguém desse pela sua chegada, aos poucos o manifesto futurista formulado há um século foi ganhando presença e as massas das grandes cidades parecem ter encontrado esta nova forma de beleza: a velocidade.1 A invenção da máquina foi o primeiro factor decisivo no seu aparecimento, a revolução industrial (1750-1850) introduziu os primeiros modelos automáticos de produção e transporte, alterando a visão do mundo; As distâncias tornaram-se menos significativas e o fabrico tornou-se em algo mais preciso e eficiente. Logo desde o seu aparecimento, a máquina tornou-se sinónimo de velocidade. Esta ferramenta trouxe consigo a possibilidade de viajar a velocidades até então impossíveis de atingir. Começou com o princípio da condensação da água enquanto forma de criação de vácuo, surgiram as primeiras bombas para extrair líquidos 2 , o ponto de partida para os primeiros motores atmosféricos e mais tarde os motores rotativos. A introdução desta nova ferramenta abriu um imenso leque de possibilidades e marcou o ponto de partida para um mundo novo que entraria num desenvolvimento crescente até aos nossos dias. Na sua génese, esta

revolução

apresentou

de

imediato

um

paradigma

que

nos

acompanhou até à contemporaneidade, por um lado tornou mais produtivo o fabrico de bens, facilitou a deslocação de pessoas/materiais e foi um factor chave no processo de globalização, por outro lado com o fabrico em série iniciado pela sociedade Fordista deu origem à desumanização do trabalho e desvalorizou a obra do artesão. Dá-se o início do confronto entre manufactura de autor e a produção em massa, com isto: diferença de custos e de qualidade entre ambos, a metáfora do conflito entre as duas abordagens: Fast e Slow.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 1!“Afirmamos que a magnificência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: abeleza da velocidade” - traduzida do Inglês: “We affirm that the world’s magnificence has been enriched by a new beauty: the beauty of speed. – Em: MARINETTI, Filippo .,Futurist Manifesto, 1909.

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2!Patenteada por James Watt, Século XVII.!

!

25!


Deu-se então origem a uma competitividade desiquilibrada entre a produção rápida, em grande quantidade e de baixo custo para o consumidor e a produção artesanal, mais dispendiosa, mas única, detalhada e mais demorada.

!Figura

5 -!Modern Times de Charlie Chaplin, 1936

Com base nos primeiros motores a vapor, aplicou-se esta tecnologia ao serviço de transporte de grandes quantidades de minério. Inventou-se a primeira locomotiva que se deslocava num percurso de carris, tendo a capacidade de carregar aproximadamente dez toneladas de cada vez num percurso de quinze quilómetros3. Com ela começaram as rotas dos caminhos de ferro para transporte de mercadorias e passageiros entre os principais pólos que se formavam. Começava agora a ser mais fácil exportar e importar matéria-prima e os bens produzidos, um elemento marcante para a instalação de um sistema capitalista forte. Com ele as cidades podem crescer e desenvolver-se mais e a uma velocidade acrescida, começam a ganhar notoriedade e tornam-se pontos icónicos, como foi o caso de Wales, Londres e Kilmarnock, na Inglaterra e Escócia, o caso de Paris e Rouen em França e o caso de Nova Iorque, Baltimore e Ohio nos Estados Unidos da América. Esta introdução da máquina deu igualmente origem aos grandes fluxos migratórios em busca de novas oportunidades, começa aqui a verdadeira troca do campo pela cidade e o aparecimento dos grandes pólos industriais. A população das cidades aumenta, tornam-se mais densas e, juntamente com os horários fixos introduzidos pelo trabalho fabril, dá-se o início das migrações diárias entre trabalho e casa.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 3!Inventada por Richard Trevithick, Século.XVIII. ! 26! !


Surge a expressão norte-americana “commuting time”

4

que baliza um

período de mobilidade para cumprir a obrigatoriedade do horário de expediente estrito, o que impõe uma aceleração das massas operárias. Com esta mudança do estilo laboral surge uma nova problemática relativamente à classe dos trabalhadores, levantando questões principalmente a nível de condições de trabalho, mas também de organização espacial, de qualidade das fábrica e de habitação operária. Como referimos, uma parte considerável da população troca a vida no campo à qual está habituada pela vida na cidade, apesar das condições precárias das unidades fabris, os elementos como habitação colectiva gratuíta ou de preço simbólico para operários e suas familias junto dos locais de trabalho, juntamente com a oportunidade de fazer parte de uma pequena fracção do novo mundo são, para muitos, atractivos o suficiente para a mudança. A velocidade do Living aumenta, mas a confiança e a paixão futurista (assim como capitalista) persiste. Assim nasce o amor pela máquina, associada a um estilo de vida sofisticado, a sua eficiência e a velocidade que imprime tornam-na num ícone e ela é exposta como um feito e uma obra prima do ser humano: uma obra de arte.

! Figura 6 - Hall da maquinaria, Grande exibição da indústria, 1851, Londres, Inglaterra

Com esta aceleração do estilo de vida, emergiu a necessidade de novas estruturas, criam-se edifícios que deviam ter espaço para a máquina e para juntar multidões. Acessos, estações, mercados, centros de exposição e, principalmente, as fábricas. Estas acarretam uma série de problemas que passavam pelo ruído provocado pelas máquinas, a salubridade, a qualidade do ar no seu interior e a luz natural, para os quais era necessário encontrar uma solução a nível de estruturas e infraestruturas.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 4!Tempo dispendido em viagens entre o local de residência e o local fixo de trabalho.! !

27!


A Era da Tecnologia

Começa o estudo da electricidade, marcada em 1800 com as experiências de Humphry Davy e a invenção da primeira bateria, em 1821 Michael Faraday apresenta o primeiro motor eléctrico. Ao longo deste tempo a aplicabilidade dos impulsos eléctricos à comunicação é testada e em 1844 esta nova tecnologia culmina com o surgimento do telégrafo de Morse5 e o primeiro cabo de telégrafo transatlântico em 1858. Com isto a comunicação sofre uma grande alteração, pois a troca de mensagens podia então ser feita de forma quase instantânea. Descobrem-se novas fontes de energia, juntamente com o aparecimento dos novos combustíveis deu-se mais um passo em direcção à globalização e a um mundo mais Fast. Com a revolução tecnológica, a sociedade pode aumentar mais um pouco a sua velocidade. Com ela surgem novas técnicas e materiais, nomeadamente o betão armado6, que introduz mudanças marcantes na forma de projectar e construir, potencializando todo o movimento moderno e uma curva histórica na teoria e prática da arquitectura. Muito através do modernismo, aparecem novas teorias e propostas para formas de habitar em função do trabalho.

Figura 7 - Union Station de Daniel Hudson Burnham, 1905, Washington DC, EUA

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 5!Patenteado por Samuel Morse, 1844.! ! 6!Patenteada por Joseph Monier, 1846. ! 28! !


As habitações colectivas da classe operária e a habitação funcional aumentam

de

escala.

A

casa

torna-se

a

máquina

de

habitar

7

.

Esta ideia torna clara a união da máquina com a arquitectura e o urbanismo, é um dos testemunhos da mudança de mentalidade e de valores, principalmente quando nos debruçamos sobre o purismo do movimento moderno, a ausência de quaisquer partes supérfluas, desenhado para funcionar de forma eficaz de responder às necessidades do ser humano como uma ferramenta, bela na sua essência e na sua funcionalidade sem decoração; É evidente a relação que aqui se estabelece com a máquina. Compreendemos que a industrialização e a modernidade foram a génese do Fast Living, introduziram as tarefas repetitivas e exaustivas, potencializando o inicio do capitalismo. As pessoas começaram a trocar o tempo de que dispunham pelos bens materiais e pelo que se considerava uma melhoria da qualidade de vida. Por outro lado uma visão dispar instalava-se entre aqueles que consideram estas mudanças como um acontecimento anti natura e uma condenação

voluntária

à

escravidão

incutida

pela

máquina.

A autosubsistência é reduzida, culturaliza-se o readymade consumível, o conforto de ter aquilo que se precisa perto de onde se precisa, o trabalhador foca-se na sua tarefa rotineira e conta com o mercado para lhe fornecer tudo o que necessita.

Figura 8 – Matadouro em Lyon, França, 1905

Figura 9 – Espaço de trabalho na Larkin Co.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 7!Referência a citação de Le Corbusier, 1918.! !

29!


É inventado o telefone na segunda metade do século XVIII8, a comunicação torna-se mais rápida e fácil, em 1880 a revolução continua com a invenção da lâmpada incadescente.9 Aparece a moda enquanto elemento sinónimo de sofisticação. Com ela a popularização do consumo e do estilo de vida, a publicidade adjacente à industrialização e comércio pois o que é fabricado em massa deve ser consumido em massa. A noção de oferta/procura acelera ainda mais o processo, o indivíduo transforma-se em consumidor. Assim se iniciam as trocas em grandes quantidades, a arquitectura e a maquinaria precisa de materiais/matéria prima, as pessoas precisam de alimentos, de objectos e serviços. A especialização aumenta e a cidade Fast oferece-a como mais nenhum lugar consegue. Nela surgem os primeiros automóveis em série, nomeadamente o modelo T da Ford em 1908, consequentemente as vias são reformuladas e o trânsito pedonal passa a coexistir com o trânsito automóvel. A máquina, o símbolo do avanço e da proeza humana fica disponível para venda ao público. O veículo próprio, que permite aumentar em muito a velocidade de deslocação, alia-se ao movimento moderno e ás exposições que mostravam ao mundo os novos materiais e técnicas de construção, não só se torna num elemento de orgulho, sinónimo de sofisticação, de qualidade e de prestígio, como contribui

para

um

factor

importante

da

aceleração

do

Living:

autonomização da gestão do tempo.

Figura 10 - Automóvel e Villa Stein de Monzie de Le Corbusier, 1927, Garches, França

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 8!Primeiro aparelho telefónico (que fazia a comunicação entre o seu quarto e o seu laboratório) patenteado por Antonio Meucci, 1871. Primeiro aparelho de transmissão vocal por via electromagnética patenteado por Alexander Graham Bell, 1876.

!

9!Patenteada por Thomas Edison.!

30! !

a


Juntamente com estes avanços aparecem novas formas de erigir, entre as quais a principal para o desenvolvimento das metrópoles: a capacidade de construir em altura. As cidades vão, pouco a pouco, tornando-se um reflexo da máquina. A sua organização e a relação entre as partes que a compõem assumem uma forma funcional e objectiva em prol da eficiência e principalmente da velocidade. A cidade ganha uma nova vida, afirma-se ainda mais como um ícone de sofisticação e movimento, uma tentação futurista que faz a ode ao Fast. Neste ponto de viragem histórico tudo aponta para esta incrementação da velocidade, as pontes suspensas facilitam a deslocação, as malhas ortogonais aumentam a facilidade de mobilidade e a fluência do trânsito, a racionalidade da malha reduz o tempo gasto a percorrer as ruas, os primeiros sistemas de metro subterrâneo10 permitem uma deslocação rápida entre zonas da cidade, as estações de comboio permitem criar pólos de contacto com outras cidades e consequentemente possibilitam o seu funcionamento em rede. Destes elementos vai surgindo a paixão pelo estilo de vida Fast, uma mudança que vai acontecendo e que se vai afirmando a cada novo arranha céus, a cada novo modelo de transporte e a cada novo aparelho mecânico. Nestes tempos de inovação, a novidade tornou-se efémera, esgotava-se rapidamente e as pessoas tornaram-se mais difíceis de impressionar. Estava lançado um ciclo que despertaria sempre a curiosidade pela próxima inovação, desejava-se o futuro o mais rapidamente possível. Como referiu Lipovetsky (1983: 48): “o modernismo proíbe o estacionamento, impõe a invenção perpétua, a fuga para diante.”11 Para a classe operária, o preço desta constante inovação e deslumbre poderá ter sido a completa perda de controlo sobre o processo produtivo, da extração da matéria prima e do lucro, submetendo o seu trabalho a um patrão e a honorários fixos independentemente do sucesso do empregador. Acrescendo a esta situação, os problemas derivados da máquinofactura, das condições dos espaços de trabalho, a repetição de tarefas rotineiras durante longos períodos de tempo e a exposição aos ruídos, à poluição e a perigos físicos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 10!Sendo o mais antigo o de Londres, que abriu portas em 1863. ! 11!Em: LIPOVETSKY, Charles., A Era do Vazio, 1999.! !

31!


Os trabalhadores passaram a fazer parte da máquina, completando simplesmente o processo que não era possível atingir apenas com autómatos. Eventualmente,

aqueles

que

consideram

estas

mudanças

como

um

acontecimento negativo, fundamentam a sua posição centrando-se nestes aspectos da precariedade laboral. Na entrada do século XIX surgem os primeiros movimentos críticos da industrialização e de tudo o que ela representava. Entre os quais, o Nieuwe Kunst, o Stile Liberty, o Judgenstil, a Arte Nova e o Arts and Crafts, que se opuseram oficialmente a este estilo de vida e de produção, argumentando que lhes retirava qualidade. Contudo não condenavam a utilização dos novos materiais, mas defendiam a sua manipulação artesanal, de forma mais humana e menos maquinal, ou seja: não se tratava de uma total oposição ao Fast, mas sim da defesa da arte enquanto obra humana. Como exemplo disto temos o ferro trabalhado com formas vegetais ou os padrões e vitrais nas leves coberturas de vidro dos edifícios. Esta reacção e confronto de ideias é ainda contemporânea e já mostrava na Era da Máquina uma preocupação com o excesso de automatismo e a resultante vivência demasiado Fast, menos sensível e de consumo imediato que aos poucos se estava a instaurar. O retorno às pequenas vilas eram já um apontamento de “regresso ao slow”, uma moderna nostalgia dos materiais “antigos” cujo toque era associado a um ambiente menos industrial (como por exemplo a utilização da madeira no interior dos edificios), o afastamento relativamente aos centros urbanos movimentados e a sua relação próxima com a natureza. Apesar do lado negativo desta revolução do Fast se ter feito sentir relativamente cedo, a cidade oferecia compensação e a sua tentação fora suficiente para que o Fast Living se fosse tornando um hábito. A habitação colectiva, um dos ícones da vida na metrópole, não foi travada e as máquinas de habitar, juntamente com os edifícios de negócios, continuaram a crescer em direcção aos céus. Exemplos disso foram o Home Insurance Building12 ou o Tacoma Building13 em Chicago, agora destruídos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 12!Projectado por William Le Baron Jenney. ! 13!Projectado por Holabird & Root.! 32! !



Aparecem os restaurantes drive in. Pequenas instalações implantadas em parques de estacionamento, possibilitando comer directamente no balcão, sendo considerados os primeiros restaurantes Fast Food. Com o crescimento urbano, em torno das grandes cidades aparecem os subúrbios, pequenas zonas habitacionais onde o custo era menor. Com eles as viagens diárias de quem trabalhava na metrópole. O número e a escala de investimentos cresce, a construcção ganha também uma maior velocidade, procurando responder o mais rapidamente possivel a necessidades emergentes. Um dos exemplos é o Lake Park, um subúrbio de 17.000 fogos para 70.000 pessoas, construído em série. As fundações de cada habitação eram feitas em 15 minutos. Foram construídas diariamente cerca de 100 habitações, 10.000 em apenas dois anos. Assim surge o módulo (e a sua repetição) com o objectivo de reduzir os custos e o tempo de construcção.

Figura 12 - Carpenter's Restaurant, 1935, Hollywood, Los Angeles, EUA

34! !


Em paralelo, a habitação em altura continuou a desenvolver-se, permitindo um

maior

número

de

habitantes

numa

área

reduzida,

geralmente

implantadas nos centros das grandes cidades, uma localização que se tornou num sinónimo de luxo. A barreira entre ficção e realidade é transposta a cada novo projecto. No pós guerra, as novas industrias, como as viagens aéreas comerciais, representam uma viragem na mobilidade e a forma como se percebe a distância. Com este novo meio de transporte disponível, dá-se mais um passo em direcção à globalização e o mundo acelera novamente. A mobilidade acompanha a Fast City e o Fast Living enquanto a engenharia aeronáutica continua a desenvolver-se (o Boeing 707 vê a luz do dia em 1958, pouco mais de uma década depois o concord faz o sem primeiro voo14). Influênciada pela tecnologia, a arquitectura ganha ainda mais leveza e dinâmica, a fluência e a organização espacial ao serviço da velocidade são uma necessidade, a influência da velocidade nota-se na aerodinâmica e a agressividade das formas que traduzem o estilo de vida Fast. Contudo, este aerodinamismo que marca a abordagem do design na época, era muitas vezes uma questão de aparência, principalmente no campo automóvel, não fundamentada com estudos em campo de fluência. Era no fundo uma questão de imagem, em muitos casos um simples elemento decorativo e uma prova de que a paixão pelo Fast estava já bem delineada. O aparentemente rápido era considerado belo e sofisticado, assumia-se claramente o culto da velocidade não só enquanto vivência mas também enquanto material.

Figura 13 – Consola “Bolidista” de Massimo Iosa Ghini - 1980.!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 14!Em 1969. ! !

35!


Figura 14 e 15 - Automóvel Ford, modelo Probe, 1979; Residência do arquitecto Eduardo Catalano, 1955, Raleigh, Carolina do Norte, EUA.

Os objectos do quotidiano, mesmo queles cuja função não comportava nenhum movimento, como por exemplo mobiliário ou arte escultórica, ganharam formas aerodinâmicas. Uma tendência conhecida actualmente como Bolidismo15

Figura 16 – Exemplos de design “aerodinâmico”.

Neste aspecto, a arquitectura assumiu o mesmo papel que o design, as formas dinâmicas e agressivas serviam um propósito estético: em primeiro lugar a exaltação da velocidade aparente, em segundo a organização e a forma orgânica interior que permite um percorrer fluído e Fast do espaço.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 15!Criada por um grupo de arquitectos e designers Italianos em 1982.! 36! !




A arquitectura, enquanto objecto imóvel foi claramente um dos testemunhos materializados desta crescente paixão pelo Fast. Apesar da arquitetura já não se afirmar apenas pelo purismo funcional da ortogonalidade, ganha uma nova componente estética, mas não se dissocia da imagem de “máquina”, pois assiste-se ao apareciento de linguagens formais associadas ao aerodinamismo do objecto construido para a velocidade.

! Figura 18 - Vista interior do TWA - Vista exterior do TWA, 1962, EUA

A expressão do edificado assume as linhas e a pele da máquina futurista, não só mecânica, mas desenhada e construída para transmitir a elegância do movimento. Ela surge enquanto marco de uma nova era que assume já o Fast como parte integrante da vida urbana, da economia, da sociedade e da cultura. Um exemplo claro desta nova abordagem é o terminal TWA no aeroporto JFK em Nova Iorque (figura18) projectado pelo arquiteto Wallace Harrison, que não só respondia às necessidades de transporte aéreo dos anos 30 mas previa já o aumento da densidade de tráfico futuro, sendo que foram definidos espaços alternativos para desenvolver projectos individuais para hipotéticas

companhias

e

as

respectivas

linhas

e

ligações.

Estava vincada a ideia de que o número de viagens aéreas iria aumentar, previa-se e construia-se já para um futuro ainda mais Fast.

!

39!


A Era digital.

“A casa futurista deve ser como uma máquina gigante. O elevador já não se deve esconder no vão de escadas. As agora supérfluas escadas devem desaparecer e os elevadores devem elevar-se como cobras de ferro e vidro” (SANT’ELIA, 1914)16. Nas primeiras décadas do séc XX a velocidade tem já uma forte presença e importância na vida das grandes cidades, nas relações sociais, na vida, no trabalho, na escola, na comida, na teoria e na prática da arquitetura: nos edifícios e na sua organização e construção.

! Figura 20 - Centre Pompidou de Renzo Piano, 1971, Paris, França

Cresce a utilização de elementos modulares de fabrico industrial que referimos na página 34. A partir da segunda metade do séc XX o edificado afirma-se mais uma vez enquanto máquina, assumindo a sua estrutura e os seus elementos como peças de um todo funcional, que serve um propósito objectivo e que constitui em si um elemento estético. Como refere Carvalho (2010: 34)17 “A cidade futurista propunha um novo conceito que procurava dar respostas às novas exigências (…) uma nova estética.” acrescentando que “A máquina e a velocidade tornaram-se símbolos da arquitetura futurista e este movimento influenciará profundamente outras vanguardas ao longo do século.”

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 16!SANT’ELLIA, Antonio. - arquiteto Italiano nascido em 1988, autor da “Cittá Nuova”. ! 17!Em: CHAVES, Mário, et al. Cidades Flexiexistencialistas, 2010.! 40! !


Efectivamente, um século e meio depois do apogeu da primeira revolução industrial, as cidades desenvolvidas assistem a uma nova revolução: a emergência da tecnologia digital. Esta marca o início da idade da informação18, potenciada principalmente pela máquina de fax e mais tarde pelo computador e pelo telefone portátil. A produção e venda em massa destes produtos são a continuação do fascínio pela novidade e pelo futuro do ser humano mais eficiente e mais Fast. Elementos hoje tomados como objectos banais mas imprescindíveis para o funcionamento do individuo na sociedade.

Esta

tecnologia

acompanha

a

vontade

do

homem

contemporâneo, e por sua vez, o homem vê-se obrigado a acompanhar o digital porque a sociedade dele se tornou dependente. Hoje não ter um computador pessoal, um telemóvel, e-mail, instant messaging e registo em várias redes de network é estar longe do mundo e das suas oportunidades. A máquina, fruto da necessidade crescente do ser humano por velocidade, teve um registo de desenvolvimento imenso em poucas décadas, com ele desenvolveram-se proporcionalmente as suas qualidades e por acréscimo os seus problemas. O audio, o vídeo, as imagens e a comunicação ganharam a possibilidade de ter um formato digital. Os vinis e cassetes passaram para formato CD e MP3, as cassetes VHS passaram a DVD e Blue-ray, os telefones públicos

estão

quase

ao

abandono

completo

pela

passagem

da

comunicação para o telefone portátil, a máquina de escrever passou para computador e impressora e o correio passou para e-mail. A rapidez, facilidade de utilização e a versatilidade destes produtos digitais fizeram com que em meados da década de 80 muitas empresas ficassem totalmente dependentes

do

uso

desta

tecnologia

para

funcionar.

No

mundo

contemporâneo, é impensável um negócio não ser processado ou gerido com o auxilio destas novas máquinas. É fácil de compreender a proliferação destes meios quando olhamos para eles à luz da vida Fast e do apetite pelo futuro demonstrado pelo Homem desde o aparecimento da máquina, consequentemente seria de esperar que estas alterações se fizessem sentir na arquitetura e na organização das cidades.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 18!Caracterizada pela mudança para uma economia computorizada.! !

41!


Os espaços antigos e ultrapassados são em muitos casos reformulados para satisfazer as novas exigências do estilo de vida Fast, são exemplo disto o aparecimento das mediatecas e espaços destinados ao acesso de bancos de dados, novas torres de comunicação e pontos de acesso público a computadores . Com a criação da internet, a última década viu uma das evoluções tecnológicas mais rápidas e mais proliferadas de sempre. As empresas, os pequenos negócios e os utilizadores individuais encontraram aqui um apoio para divulgação e venda ao público, o que levou a que rapidamente a publicidade encontrasse o seu lugar no mundo do ciberespaço. Com ela a sociedade ganha uma nova forma de velocidade, acrescida à velocidade fisica dos meios de mobilidade, do desenvolvimento e crescimento dos pólos urbanos, da estética e do design, depara-se agora com a velocidade digital que permite quebrar a barreira espaço-temporal e torna possível a presença remota e o multitasking. 19

Atualmente, alguns

autores, como François Ascher, falam já de uma mudança tão radical na forma de vida influenciada por estes elementos que implicaria uma profunda alteração dos espaços. Nomeadamente, alguns dos espaços públicos estariam condenados à obsolência e outros teriam obrigatoriamente de ser adaptados à mudança. Tal como a revolução industrial, a revolução tecnológica e digital acarreta uma série de efeitos positivos e negativos que têm um impacto na sociedade e no modus vivendi das populações. Por um lado, viver nesta era significa estar mais próximo que nunca de tudo. Toda a informação, explorar o mundo está à distância de um clique. Há um grande leque de escolhas e uma facilidade acrescida de comunicação, esta permitiu atingir realmente a globalização pois no mundo Fast em que vivemos hoje é tão fácil transmitir uma mensagem a alguém que está do outro lado do planeta como a alguém que está sentado ao nosso lado. A nível económico permitiu que as empresas chegassem a um público muito mais alargado e a utilização destas novas tecnologias permitiu aumentar a produtividade e a organização do trabalho, constituindo um auxílio para o sistema capitalista.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 19!Acto de efectuar várias tarefas em simultâneo.! 42! !


Por outro lado, a sobre-informação aumentou exponencialmente, com a facilidade de acesso a dados deu-se uma possibilidade de existência de troca de informação a conteúdos impróprios ou com direitos de autor e imagem. Meio que, pela sua dimensão e abrangência é de difícil controlo. Este acesso constante ao mundo virtual pode ser igualmente negativo pois comporta o perigo de constituir um refúgio à realidade ou um instrumento de isolamento. Segundo Virílio (2000a: 33)20,

"a revolução das transmissões planeia a inovação do ultimo veículo, o veículo estático audiovisual, advento de uma inércia comportamental do receptor/emissor, passagem dessa famosa persistência retiniana que permite a ilusão óptica da projecção fílmica, o ultimo território urbano.” !

Este tipo de tecnologias é uma das imagens de marca do Fast Living. Com ela, esta sociedade constantemente dinâmica tem agora a possibilidade de cumprir tarefas, consultar informação e estar em contacto com o mundo enquanto se movimenta. Carvalho (2010: 36) refere também que “o computador e as suas possibilidades conduziram a uma revolução em termos de espaço e tempo, passando-se, em pouco mais de um século, de uma condição pré-industrial para o ciberespaço, pelo que o tema da arquitetura virtual tem vindo a ser discutido cada vez de forma mais generalizada”.!

Podemos assim afirmar que o surgimento da cultura digital trouxe à luz um novo espaço Fast com o aparecimento de realidades artificiais alternativas, as representações de lugares existentes para projecção de hipóteses e apresentações, partilha e discussão de ideias, lugares virtuais de convívio, comunicação e consulta de base de dados própria sem uma presença física real.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 20!Em: VÍRILIO, Paul., A Velocidade de Libertação, 2000a.! !

43!


Isto abre uma série de possibilidades ao envolvimento do indivíduo nos campos económicos, cientificos e socio-políticos. Permitindo assim que o “homem comum” possa participar e fazer-se ouvir com maior facilidade. As ferramentas digitais podem desta forma contribuir para a consciêncialização de problemas globais. Assim, um mundo em paralelo foi criado, experimental e relativamente abstrato, que imprimime mais velocidade ao mundo real. Relativamente

a

isto,

Friedman

(2010:221)

fala-nos

de

uma

grande

requalificação, de “um mundo que passa de um sistema essencialmente vertical – comandar e controlar – de criação de valor para um sistema mais horizontal – ligar e colaborar.” 21 Hoje não só podemos ser rápidos, como podemos também, com o auxílio destas novas plataformas, estar em vários sítios ao mesmo tempo.

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21!Em: FRIEDMAN, Thomas., O Mundo é Plano, 2010.!

44! !


1.1.2 - O Fast Living na actualidade

Hoje, podemos já considerar não só que o Fast faz parte da cultura, mas também que ele já fez parte da história. Mais do que uma medida de velocidade para chegar do ponto A ao ponto B, ele continua a ser em muitos dos casos um sinal de luxo e sofisticação: o carro rápido, um computador que processa informação de forma quase instantânea, uma ligação internet que permite aceder aos sítios e carregar as páginas em milésimos de segundo. Mais do que um meio, é igualmente um fim na sociedade contemporânea, dentro do hábito que se foi criando ao longo do tempo é uma necessidade da qual a sociedade tem dificuldade em privar-se. Não será estranho reconhecer que actualmente vivemos numa constante corrida, como menciona Honoré (2004: 12), “Anyone or anything that steps in our way, that slows us down, that stops us from getting exactly what we want when we want it, becomes the enemy.” 22 Tentando compreender a razão desta súbita acelaração, teremos de olhar para as máximas como “o tempo é o inimigo” e “o tempo é dinheiro”, que imediatamente nos remetem para uma ideia de tempo que se apresenta como algo raro e fugaz, que deve ser utilizado ao extremo sob pena de o desperdiçar e perder as oportunidades que o acompanham. Ligado a este conceito relativamente jovem está, como vimos, o capitalismo e o consumismo. Conceitos muitas das vezes associado a qualidade de vida, potenciado pelo marketing e publicidade excessiva, as massas são induzidas a comprar, a ter mais e melhor. A posse do objecto tornou-se gradualmente num sinónimo de felicidade. Os produtos ganharam um novo significado, certas marcas são associadas ao prestigio e ao poder. Estas representam instrumentos que, mais do que funcionais e necessários, se transformaram em objectos de culto e desejo que são também uma afirmação pessoal de poder e “bom gosto” do seu utilizador.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 22!“Qualquer pessoa ou qualquer coisa que se meta no nosso caminho, que nos abranda, que nos impede de atingir exactamente o que queremos quando queremos, torna-se no inimigo.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: HONORÉ, Carl., In praise of slowness, 2004.

! !

45!


Como disse Hoffer (1951) 23 “Nunca se consegue ter demasiadas coisas de que não se precisa para ser feliz.” Passados sessenta anos esta afirmação mantêm-se actual. Este estilo de vida têm desde logo um preço ao nível de exploração de matéria prima e transformação. A título de exemplo, nos anos cinquenta os consumidores e a industria dos Estados Unidos da América dispunham de alúminio suficiente para reconstruir toda a frota de aviões comerciais a cada três meses; ferro/aço o suficiente para fornecer diáriamente todos os fabricantes de automóveis; vidro o suficiente para encher completamente o World Trade Center a cada duas semanas, tendo em conta que em média cada década a produção quintuplicou 24 e considerando o crescimento desmedido a nível global a que se assistiu no último meio século, podemos estimar facilmente os gastos e a exploração que este estilo de vida representa. Schawrts-Clauss (2002: 22) menciona que: “We desire to have the best possible food, the best possible artifacts and the best possible environment and, like every other aspect of human achievement, the design of houses is subject to a continuous change with the ambition of making improvement.”! 25

Resta então saber qual a direcção destas melhorias, tendo em vista o belo, o conforto e a função. Situação dificil de equalizar quando as massas consideram que o poder económico é o único factor que define a qualidade de vida, quando se assume que para ter objectos e serviços de melhor qualidade é necessário ter melhores honorários, consequentemente torna-se necessário ter mais sucesso na carreira.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 23!HOFFER, Eric Hoffer. – Filósofo Estaduniense nascido em 1902, autor de “The true believer”. ! 24!Segundo dados da American Iron and Steel institute, 2012. ! 25!“desejamos ter a melhor comida, os melhores artefactos e o melhor ambiente e, como todos os

outros aspectos dos feitos humanos, o desenho das casas é objecto de mudança contínua com o objectivo de a melhorar.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: SCHAWRTS-CLAUSS, Mathias – Living in Motion, 2002.

! 46! !


Segundo esta linha de raciocínio, será igualmente necessário uma de duas opções: atingir um grau académico superior (situação que motivada apenas por razões económicas poderá comportar o perigo de mau desempenho por falta de vocação) ou trabalhar mais horas e mais rápidamente, ser mais eficiente e mais incisivo que a competição e chegar a soluções sempre primeiro. Múxi (2011: 104) refe-se a esta linha de pensamento quando menciona as “Sociedades basadas en la velocidad de los cambios, el trabajo precario y el continuo incremento de los sectores de exclusion.”

26

Acreditamos que esta competitividade, principalmente entre os indivíduos de menor grau académico, se fundamenta no aumento de velocidade e volume de trabalho e pode ter uma génese perversa, e de certa forma até relativamente fútil, tendo em conta que a sua maioria não constitui uma rivalidade ou uma parceria intelectual que visa responder a questões emergentes na sociedade actual. No fundo não procura soluções criativas de longo prazo para grandes problemas objectivos que necessitam imperativamente de ser resolvidos. Do outro lado desta corrida ao objecto, a multiplicidade de empresas que se debatem pelo primeiro lugar nas vendas, pela imagem de marca, o logotipo sinónimo de qualidade e de sofisticação, são um factor determinante no Fast. Como constatou Schumer (2002) “In competitive economy, to stand still is to die.” 27 As corporações e pessoas rivalizam pela preferência do consumidor e pelo capital daí resultante, que por sua vez visa atingir uma qualidade de vida superior pessoal e um aumento das capacidades económicas e resultantes posses materiais. Desta necessidade, surgem todos os estimulos publicitários que se recebem diáriamente nos meios de comunicação (entre eles a televisão, rádio, revistas, painéis e atualmente a internet).

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 26!“sociedades baseadas na velocidade dos câmbios, o trabalho precário e o continuo incremento dos sectores de exclusão.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: MONTANER, Joseph & MUXÍ, Zaida – Arquitectura y Política, 2011.

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27!“Na economia competitiva, parar é morrer.” Traduzido da versão original pelo autor. Citação de:

SCHUMER, Charles. – Polítio Estaduniense nascido em 1950, antigo Senador de Nova Iorque (Mandato entre 1 de Janeiro de 1975 e 31 de Dezembro de 1980).!

!

47!


Falamos aqui de um sobrecarregamento de informação a propósito do qual apresentamos a seguinte experiência social organizada pelo Washington Post28: Um violinista tocou alguns movimentos numa estação de metro em Washington DC durante hora de ponta. A experiência desenvolveu-se durante 45 minutos sem que este conseguisse captar a atenção dos utilizadores da estação. Segundo o Jornal, o violinista em questão, chamado Joshua Bell, é um dos violinistas mais conceituados do mundo e terá tocado uma das peças mais complicadas num violino Stradivarius cujo valor rondava os 3.5 milhões de dólares. Este, tinha recentemente actuado num teatro em Boston e esgotado os lugares que custavam aproximadamente 100 dólares cada. Concluindo-se com esta experiência que o contexto, a velocidade que este imprime e o nível de informação disponível num espaço são elementos fundamentais para a percepção de beleza. Podemos assim postular que, apesar do objecto veículo do Fast em sí poder ter uma componente de beleza discutível (como é o caso da máquina, o automóvel ou a aeronave), o acto Fast em sí é geralmente incompatível com o belo, pois atenua a percepção do mesmo por não lhe conferir o tempo de observação necessária. Directamente relacionado está a informação excessiva com que se é bombardeado diariamente nas grandes metrópoles. A publicidade está por todo o lado, de tal forma que inconscientemente nos estamos a treinar para ignorar esta sobrecarga de informação. Isto torna-nos menos sensiveis à percepção do belo, ganhando uma necessidade crescente de a contextualizar para que seja apreciada. Mais do que isto, a manipulação da figura exemplo, o modelo de beleza contemporâneo alterado por programas de computador que vendem uma imagem falsa, estipulando os aspectos a que, supostamente, devemos aspirar e criando assim a busca por uma imagem inatingível que as industrias de cosméticos, de moda e até certas empresas farmacêuticas prometem.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 28!Jornal Estaduniense fundado em 1877. !

48! !


O Fast Living deve-se em grande parte a esta busca desmedida por mais, por um preenchimento de um vazio que as pessoas são ensinadas a sentir, como refere Montaner (2011: 104) “Influenciables por mecanismos sin escrúpulos como la publicidad”29. Esta substituição da realidade pode representar um perigo, pois a a imagem torna-se autónoma. A “corrida” capitalista que referimos, apresenta uma dualidade. Apesar dos aspectos negativos, tem como é evidente, igualmente elementos positivo para o desenvolvimento da cidade enquanto organismo colectivo. Independentemente da veracidade e utilidade daquilo que “vende”, o aspecto a realçar é que de facto imprime dinamismo ao sistema económico. Assim, o capital movimenta-se num registo igualmente Fast e o nível assim como o número de investimentos e iniciativas aumenta, logo a cidade pode expandir-se e desenvolver-se apresentando um maior número de estruturas e ofertas de postos de trabalho. Apesar da extensão e sucessão, o processo geral de expansão urbana, principalmente a criação de novas empresas, zonas residenciais e comerciais, em muitos dos casos

mal

resolvidos

imperativamente

os

pela

processos

própria

gestão

antagónicos

e

urbanística,

envolve

complementares

de

concentração e descentralização. Ou seja, o Fast e os factores que com ele se relacionam são responsáveis pela mudança, e a multiplicidade de atores e interesses envolvidos no processo, transformam a cidade num sistema que podemos equiparar a um organismo vivo cujo controlo se torna geralmente limitado. Como constatou Burgess (2008: 52) “In all cities there is the natural tendency for local and outside transportation to converge in the central business district."30 Assumindo este zoneamento na realidade urbana das Fast Cities, assumimos igualmente a díluição da cidade, a troca do seu núcleo pela sua fronteira.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 29!“influenciadas por mecanismos sem escrupulos como a publicidade.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: MONTANER, Joseph & MUXÍ, Zaida – Arquitectura y Política, 2011.

! !

30!“Em todas as cidades existe uma tendência natural para o transporte local e exterior

convergerem no districto central de negócios.” Traduzido da versão original pelo autor. Em: BURGESS, Ernest., The Growth of the City, 1924.

! !

49!


Relativamente a este situação, Antunes (2010: 5) diz-nos que “A cidade desapareceu” e que estas desapareceram porque “foram sugadas, consumidas, deslocalizadas. Pelas suas periferias (…) a desordem como novo paradigma no crescimento das grandes metrópoles. O sentido de um centro agregador e gerador esvaiu-se” 31 É fácil encontrar uma certa ironia nesta situação, quando as massas, tão preocupadas com a velocidade e o tempo (muito devido a questões económicas) permitem que estas mesmo questões laborais incutam a perda de tempo diária nas deslocações. Amery (1995: 20) percebendo esta problemática, coloca em questão o atual funcionamento do local de trabalho no centro da cidade e o seu impacto no Living, quando nos diz que, “This kind of office environment brings into question the problem of work/living relationships. Given modern comunications, would not the majority of office work be (A) automated or (B) of a more executive and creative level? If (B) pertains, then much higher environmental conditions would be required and some sort of integration between office and living on a 24-hour cycle is implied.”! 32

Esta questão é pertinente quando constatamos que hoje em dia, quase vinte anos depois, salvo raras excepções (como por exemplo os escritórios da Google) na grande parte dos casos esta situação não se verifica e o trabalho permanence impessoal, formal e completamente autónomo, ou seja continua a existir um grande distânciamento entre funções e momentos do dia.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 31!Em: CHAVES, Mário, et al. Cidades Flexiexistencialistas, 2010.! ! 32!“Este tipo de ambiente de escritório coloca a questão do problema das relações trabalho/lazer. Dado o sistema de comunicações contemporâneas, não deveria a grande parte do trabalho ser automatizado ou então (como alternativa) de um nivel mais executivo e criativo? Se optamos pela segunda (dado que se assume em grande parte necessário o trabalho humano por razões de emprego e capacidade criativa, impossivel à máquina) então condições ambientais melhores são um requisito, assim como um tipo de integração entre o escritório e o lazer implícito num ciclo de vinte e quatro horas.” Traduzido da versão original pelo autor. Em: AMERY, Colin – Architecture, Industry and Innovation, 1995.!

! !

50! !


O ser humano encontra-se dividido em algo que podemos comparar a um zapping situacional que consequentemente, e muito pela diversidade de papeis a desempenhar, vai imprimir ainda mais velocidade na vivência já por si Fast. Este distanciamento de certa forma mental está associado geralmente a um distanciamento de carácter físico (espacial) potenciado pela descentralização e divisão clara entre os pólos. Esta situação implica outra característica marcante do Fast Living: a mobilidade. Neste campo, a adesão ao automóvel como principal meio de transporte, aliada a horários de expediente semelhantes em muitas áreas de trabalho representa um problema comum das grandes cidades rápidas: o trânsito e o respectivo congestionamento. A grande necessidade de pequenas migrações diárias levam a que se perca tempo. A título de exemplo: para trabalhadores na grande Lisboa que habitam nos arredores da cidade, a média de tempo gasto em transportes é de três horas por dia, o que reduz consideravelmente a margem para uma relação saudável com familiares

e amigos. Como

refere Montaner (2011: 107) “cuanto menos tráfico hay en una zona y mayor es la lentitud com que fluye, tanto más contacto existe entre los vecinos.”33, aspecto fundamental para a qualidade da vida em comunidade que depende do tempo que reservamos para a interação, evitando a situação que Honoré (2004: 9) descreve quando nos diz que “a life of hurry can become superficial. When we rush, we skim the surface, and fail to make real connections with the world or other people.”34 Apesar de algumas iniciativas sustentávais (como é o caso do veículo próprio movido a energia elétrica, cujo primeiro protótipo data de 1911) a grande parte é ainda movida por motor de combustão, o que juntamente com a produção das zonas industriais constitui uma característica das metrópoles: elevado nível de poluição.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 33!“Quanto menos tráfico há numa zona e maior é a lentidão com que flui, tanto maior é o contacto que existe entre vizinhos.” – Traduzido da versão original pelo autor.! ! 34!“Uma vida de pressas pode tornar-se superficial. Quando nos apressamos planamos na superfície e não conseguimos criar laços verdadeiros com o mundo e com as outras pessoas.” – Traduzido da versão original pelo autor.!

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51!


Apesar das iniciativas para a preservação ambiental, o fast living dificulta o abandono destas comodidades e como refere Brazi (1990: 4) “Cerciamo infatti di fare ordire muovendoci come particelle impazzite, cerchiamo di rendere límpido l’ambiente mentre noi stessi produciamo pollution.”

35

A poluição sonora é um factor igualmente presente, a proximidade de zonas pedonais a passagens de trânsito intensifica esta situação. Para lá dos motores, contamos com as sirenes dos serviços e as buzinas que resultam por sua vez da pressa e do stress que esta representa, dos problemas que advêm muitas vezes da falta de tempo para dedicar ao que importa. Estes elementos sonoros em excesso são igualmente parte do conjunto que criam um estado de sobre-estimulação muito vincada do Fast Living, que contribui para um estado alienado e centrado em sí próprio, que referimos como um dos síndromes da metrópole. Como disse (Peter Zumthor, 2006a: 16), “Postmodern life could be described as a state in wich everything beyond our own personal biography seems vague, blurred, and somehow unreal. The world is full of signs and information, wich stands for things that no one fully understands because they, too, turn out to be mere signs for other things.”! 36

Geralmente são coisas que não importam, que são repetidas e criam um pano de fundo sensorial que as massas aprendem a ignorar, principalmente quando não temos tempo suficiente para poder digerir toda a informação que nos é transmitida.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 35!“tentamos criar ordem enquanto nos movimentamos como partículas frenéticas, tentamos criar uma atmosfera cristalina enquanto nós próprios produzimos poluição.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: BRAZI, Andrea., La quarta metropoli, 1990.!

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36!“a vida pós-moderna pode ser descrita como um estado no qual tudo para além da nossa própria biografia nos parece vago, desfocado e de alguma forma irreal. O mundo está cheio de sinais e informação, que serve coisas que ninguém compreende completamente, porque também eles são apenas meros sinais para outras coisas.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: ZUMTHOR, Peter., Thinking Architecture, 2006.!

52! !


Face a isto, alguns autores, como Peter Handke, citado por Zumthor (2002a: 29) defendem que “Beauty lies in natural, grown things that do not carry any signs or messages.” 37 Apesar da subjectividade desta afirmação, o que é verdade é que o sobre estímulo pode ter um efeito negativo, como referimos na página 48. É sabido que o Fast Living carece desta série de elementos para funcionar, contudo poderão (e deverão) ser reformulados. Por exemplo escolhas alternativas à mobilidade, transportes públicos que respondem a questões de deslocação no interior da cidade mas que muitas das vezes falham quando se pretende ir e vir da periferia por não conseguirem satisfazer o número crescente de utilizadores. Estes elementos38 são a espinha dorsal da mobilidade nos grandes centros urbanos, quando equacionados com as necessidades, pontos de ligação estratégicos, horários e número de utilizadores podem permitir uma deslocação eficiente, com baixa emissão de poluição e de custo relativamente baixo quando comparado com o transporte individual. Como referiu Moughtin (1997: 161),

"The bus, in the same way as any other form of public transport, requires for its efficient and economic running a high density city where a large pool of prospective passengers live within easy walking distance of the routes: the car is more effective in a city wich is dispersed with a widely spaced network of major roads.."! 39

A eficiência destes meios é percetivel nas cidades Fast, principalmente o transporte ferroviário/metro.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 37!“a beleza está nas coisas que crescem naturalmente e não acarretam sinais nem mensagens.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: HANDKE, Peter., 2002. Citado por ZUMTHOR.! ! 38!Autocarro, linhas de metro e eléctrico.! ! 39!“O autocarro, da mesma forma que qualquer outra forma de transporte público, para ser eficiente e económico requer uma cidade densa onde um grande leque de possíveis passageiros vive a uma curta distância pedonal das rotas: o carro é mais eficiente numa cidade dispersa com uma malha de vias espaçada.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: MOUGHTIN, Cliff., Urban Design - Green Dimensions, 1997.!

!

53!


Quando consideramos que "Public transport it’s the engine that drives the

city, 75% of the New York residents don’t have a car because they don’t need it. The average speed on asphalt is 10km/h while the average speed on rails is 48km/”40

! Figura 21 - Metro em Tóquio, Japão

Em cidades onde o Fast Living está presente podemos de imediato concluir a importância e a afluência diária destas estruturas. A Tecnologia assume uma presença colossal no Fast, indo de encontro à cultura do capital. Para lá da mobilidade e da comunicação, esta é uma necessidade principalmente a nivel de comércio, nomeadamente para o fabrico e o transporte das mercadorias. Por norma, quanto mais se investe em tecnologia e maquinaria pesada e avançada, mais tempo se poupa e consequentemente mais dinheiro se ganha. A propósito deste factor, Honoré (2004: 23) diz-nos que:

"Industrial capitalism feeds on speed, and rewards it as never before. The business that manufactures and ships its products the fastest can undercut rivals. The quicker you turn capital into profit, the quicker you can reinvest it for even greater gain”! 41

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 40!“O transporte público é o motor que dirige a cidade, 75% dos habitantes de Nova Iorque não têm carro, pois não precisam. A velocidade média no asfalto é de 10km/h enquanto a velocidade média nos carris é de 48km/h.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: STERN, Mickey & BRENKUS, John., Megacities: New York, 2006.!

!

41!“O capitalismo industrial alimenta-se de velocidade e recompensa-a como nunca antes. Os

negócios que criam e exportam os seus productos mais rápido podem ultrapassar os rivais. Quanto mais rápido transformam o capital em lucro, mais rapidamente podem reinvestir para um ganho ainda maior.” – Traduziro pelo autor.!

54! !


A máquina permite gerir os centros de vida fast, ao nível da producção e do comércio, mas também de controlo, de autoridade e de segurança, quer a nível

de

redes

complexas

de

infraestructuras.

Não

esquecendo

a

problemática para a qual Chaves (2010: 39) nos alerta quando nos fala da "cidade supra histórica, onde a velocidade de construção e transformação, converte as boas intenções em oportunidades perdidas." Principalmente porque a tecnologia tem mais que nunca um papel muito vincado na vida individual. É com ela que se podem ter certos confortos, as televisões 3D, computadores, télemoveis que permitem estar em contacto directo (inclusive por networking) com outros utilizadores e, de certa forma, é um dos pilares da vida frenética, globalizada e ligada em rede na qual a informação está à distância do toque. É agora comum cada um se refugiar nos seus tablets, smartphones e computadores portáteis. As tecnologias ajudam a preencher ainda mais os momentos de pausa (também necessárias à qualidade de vida). Contudo, isto pode ter um lado perverso, pois muitas vezes retira lugar ao pensamento, à pausa em que nada se faz e a um momento espontanêo de observação, a partir do qual muitas vezes se podem encontrar respostas para questões ou problemas que tenham sido colocados num outro contexto42. A acrescer a isto, é uma constante fonte de estímulo e um meio para receber mais informação desnecessária, reduzindo a actividade, situação que Múxi (2011: 109) constata quando refere que “Nos dominam las formas de vida provocadas por la sociedade de consumo, sin imaginacíon ni memoria, donde se es alguien en la medida en que se poseen coches y motos, televisores y antenas parabólicas, ordenadores, teléfonos móviles y juegos electrónicos.”43

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 42!Conceito de Serendipidade.! ! 43!“dominam-nos as formas de vida provocadas pela sociedade de consumo, sem imaginação nem memória, onde se é alguém na medida em que se possui carros e motos, televisões e antenas parabólicas, computadores, telemóveis e jogos electrónicos.” – Traduzido da versão original pelo autor.!

!

55!


Este lado perverso estende-se muitas vezes ao conceito de sociedade hipertexto 44 . Estas possibilidades que aumentam a velocidade vivencial consituem mais do que uma ferramenta de apoio ao Fast, pois a facilidade de acesso ao mundo digital comportam o perigo das máscaras digitais45.

Figura 22 - They Live de John Carpenter, 1988

A aproximação de milhares de “ciber-amigos” em detrior de relacionamentos fisicamente próximos, cada indivíduo a assumir uma postura selectiva e a mostrar aquilo que quer. A partilha de informação supérflua que nada oferece para lá do protagonismo egotista do indivíduo, que nos remete para a sociedade de consumo e, neste aspecto, de aparências. Esta mudança verifica-se também no mundo profissional, Friedman (2010:153) fala-nos da situação dos trabalhadores da Wal-Mart46 “recebiam instruçoes por escrito para onde recolher determinada palete e qual o camião onde iria ser colocada. A inovação da walMart está em que fornecendo-lhes headphones, através dos quais uma voz suave computorizada lhes dá instrucçoes, os condutores podem usar ambas as maos, sem andar com folhas de papel.”!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 44!Conceito introduzido em 2001 por François Ascher no livro Novos Principios do urbanismo, que se refere a uma mudança de vivência que se deve ao crescimento e elasticidade acrescida das relações sociais que se deve à utilização das tecnologias digitais em rede, sendo que, segundo o autor, configura uma série de novas necessidades e o abandono de actividades obsoletas, e consequentemente tendo um impacto nas estruturas e infraestruturas futuras.

!

45!Uso de identidades falsas em rede.

! 46!Cadeia comercial Estaduniense.!

!

56! !


Consequentemente a alteração do modus vivendi é notável, a propósito da qual Schawrts-Clauss (2002: 23) constatou que:

"home, rather than a specific geographical location, is more and more about a set of personal activities, habits and relationships than an established continuum of habitation on the same location. Communications technology has accelerated this trend, fostering the growth of teleworking – direct contact with employers, customers and even friends is becoming less of a necessity and more of a luxury"! e ainda que " Activities that once took place outside now happen to inside the home. Children no longer play just outside, but regularly watch television inside either by themselves or in a group.” 47 O “exterior” está a tornar-se apenas um aglomerado de locais de passagem, pontos de ligação entre pólos de interesse. A cidade torna-se mais impessoal, como é referido no documentário Megacities - New york, “Theres a universe there of totally desperate intentions. Everybody going about their business in the silence of their own minds with everybody else, the time of day, the architecture, the quality of light and the nature of the weather as a kind of background or field for the individual consciousness and the drama that i tis making of itself in that moment.”! 48

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 47 !“o Lar, mais do que uma localização

especifica, é mais e mais uma série de actividades pessoais, hábitos e relações do que um continuo estabelecido de habitação no mesmo lugar. A tecnologia de comunicações acelarou esta moda, permitindo o crescimento do teletrabalho - o contacto directo com empregadores, clientes e até amigos tem vindo a ser menos uma necessidade e mais um luxo (...) actividades que antes tinham lugar no exterior, agora acontecem no interior da casa.” – Traduzido pelo autor. !

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48!“Nas ruas há um universo de intenções completamente desesperadas. Toda a gente atarefada

no silêncio das suas próprias mentes, com toda a gente, a hora do dia, a arquitectura, a qualidade da luz e o estado do tempo como uma espécie de pano de fundo ou campo para a consciência individual e o drama que ela faz de si mesma naquele momento." – Traduzido da versão original pelo autor.

! !

57!


Segundo Montaner (2011: 106) os promotores do estilo de vida fast vão

"inculcando valores de la sociedade de consumo para garantizar su reproduccíon, imponiendo unas maneras de vivir entre los niños y, más tarde, los adolescentes, los fashion victims, definidos por unas pautas agressivas determinadas por las modas efémeras, la televisión, los videojuegos, la publicidade, la comida basura y las marcas de franquicias.”! 49

Com centenas de milhares de habitantes a percorrer o solo das cidades onde o Fast Living surge já como se de uma tradição se tratasse, o interesse e o valor do metro quadrado aumenta para valores exorbitantes. Morar no centro da cidade, perto de estações de metro ou autocarro, junto aos principais serviços ou a uma zona caracterizada por uma especificidade, é em si um luxo e um elemento de prestígio. Situação que reforça em alguns dos casos o abandono do centro da cidade pela população que se fixa nos arredores, sendo que no centro ficam os negócios e áreas administrativas, resultando na desertificação do centro durante o período noturno. Neste centro das metrópoles o espaço é de grande valor, com preços que chegam a rondar os 100.000,00€ por metro quadrado, como no caso do centro de Tóquio50. À luz destes factos, compreende-se que a vida Fast seja rodeada por edifícios em altura, arranha-céus que tiram o máximo proveito da área disponível. Nem sempre o estímulo Fast da economia é um ponto positivo, pode não ser sustentado ou suportado com bases estáveis e ruir com a mesma facilidade e rapidez com que se ergueu.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 49!“incutindo valores da sociedade de consumo para garantir a sua reproducção, impondo umas maneiras de viver entre as crianças e, mais tarde, os adolescentes, as vitimas da tendência, definidas por pautas agressivas determinadas pelas modas efémeras, a televisão, os videojogos, a publicidade, a comida rápida e as marcas de franchising” – Traduzido pelo autor. !

!

50!Fonte:

58! !

ULM, Andrew., Tokyo Revealed, 2002.!


Se o Living se foca naquilo que é apenas imediatamente lucrativo poderá limitar as fontes de crescimento da cidade, quando a diversidade é uma mais valia, na medida em que esta diminui o perigo de se esgotar a fonte de crescimento da metrópole. Esta cultura Fast apresenta também um lado mais obscuro: O crescimento pessoal e empresarial/corporativo desmedido que muitas vezes sobrepõe o lucro à ética e a questões que dizem respeito directamente à preservação do ecosistema e dos recursos/matéria-prima e por vezes aos direitos humanos, empregando trabalhadores com condições precárias e/ou ilegalmente. Segundo dados da OIT51 no ano de 2005 pelo menos 27 milhões de pessoas no mundo trabalhavam em condições de escravidão, o extremismo deste capitalismo leva a que, no mundo, 20% dos habitantes possuam 80% da riqueza. Este crescimento desmedido pede soluções cada vez mais complexas, e na grande parte dos casos (principalmente nas cidades instantâneas52) são tão rápidos e fechados em si próprios, que os centros urbanos apresentam uma quase completa ausência de história.

Figura 23 - Ortofotomapas de Chandler, 1985/2010

! Figura 24 - Ortofotomapas do Dubai, 2000/2010

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 51!Organização Internacional do Trabalho, fundada em 1919.! ! 52!Dos quais são exemplo cidades como o dubai e Abu Dhabi.! !

59!


Referimos aqui uma consequência do Fast Living que parece estar para lá do seu âmbito, mas achamos deve ser tida em conta porque este autismo urbano e cultural é tão vincado que vai por vezes buscar referências ao que já foi feito, e a cidade que se pretende apresentar tão inovadora e promissora torna-se desprovida de interesse enquanto lugar e apresenta uma série de mimésis (e nos melhores casos uma diegésis) implantadas e reformuladas segundo interesses meramente funcionais e/ou económicos. Situação que pode resultar naquilo que Koolhaas (1994: 125) nos descreve quando refere que a cidade se tornou "num solipsismo, celebrando o simples facto da sua existência, desproporcional, o despudor do seu próprio processo de criação" acrescentando a posterior que "as cidades correm então o risco de se transformarem numa herança enigmática que a geração seguinte não conseguirá decifrar”. Não podemos deixar de colocar algumas questões quanto a este fenómeno do desenvolvimento Fast: poderá uma metrópole sobreviver sem raizes? Tão jovem e deprovida de contexto que traz consigo a pretensão de se tornar um ícone simplesmente pela oportunidade e a dinâmica que a acompanham, sem se tornar tão efémera quanto apelativa? Certamente que se este for o caso, ela impõe uma reinvenção da história e a criação de uma nova linguagem, esperando que um dia ela se transforme na memória do lugar que agora não pode existir por estar ainda a começar. Isto surge enquanto consequência directa do Fast Living, da mentalidade que se instalou. Relativamente a esta situação do aparecimento quase espontãneo das novas Fast Cities, já Brazi (1990: 5) as denunciava quando referia que “Le culture locale non estistevano più; i linguaggi familiar o le tecnologie regional erano già distrutte. Solo pochi sono andati inutilmente a cercarle in campagna, gi altri hanno capito che queste specificità locali le dovevamoo ricostruire noi."53 Podemos falar de uma mentalidade Fast a nível internacional, segundo a qual grandes ganhos económicos têm levado a um aumento da criação destes novos pólos urbanos descaracterizados.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 53 “culturas locais deixaram de existir; Linguagens familiares e tecnologias regionais foram

destruídas. Apenas alguns foram inutilmente para o campo em busca delas, enquanto que os outros compreenderam que nós mesmos teríamos de as reconstruir.” – Traduzido pelo autor.

60! !


Como vimos, a dificuldade em abrandar esta forma de vida reside, mais do que na falsa necessidade pela velocidade constante, no afecto que a sociedade contêmporânea nutre por ela. O principio de que a evolução funciona pelo principio da sobrevivência do mais apto e não do mais rápido não encaixa nos padrões formados durante as últimas seis décadas. O aparecimento gradual desta vivência pode significar que ao longo das últimas gerações existiu uma adaptação, o que foi transformando a realidade do Fast num dogma. A situação torna-se preocupante quando assistimos à desumanização dos centros urbanos, quando o sentimento, a emoção e até o bem estar alheio são desvalorizados. Nas metrópoles diagnosticaram-se

patologias

psico-sociais

como

o

sindrome

de

genovese 54 ou a difusão de responsabilidade 55 , directamente relacionada com o número de pessoas presente e a envolvente/ambiente. Claro que a solução não será boicotar o Fast e tudo aquilo que ele oferece, como (Honoré, 2004: 4) refere: “Who wants to live without the Internet or jet travel? The problem is that our love of speed, our obsession with doing more and more in less and less time, has gone too far; it has turned into an addiction, a kind of idolatry(…) And yet some things cannot, should not, be sped up.”! 56

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 54!Fenómeno socio-psicológico que se refere aos casos em que os indivíduos não oferece nenhum meio de ajuda em uma situação de emergência para a vítima quando outras pessoas estão presentes. A probabilidade de ajuda, muitas vezes é inversamente proporcional com o número de espectadores, – Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Psychiatric Disorders (DSM)

!

55 !Fenómeno

socio-psicológico pelo qual uma pessoa é menos provável a assumir a responsabilidade por uma ação ou omissão, quando outros estão presentes. Considerado uma forma de atribuição, o indivíduo assume que tanto outros são responsáveis por agir ou já o fizeram. – Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Psychiatric Disorders (DSM)!

!

56!“Quem quer viver sem a internet ou viajens a jacto? O problema é que o nosso amor pela

velocidade, a nossa obsessão com fazer mais e mais em menos e menos tempo, foi longe demais; transformou-se num vício, um tipo de idolatria quando algumas coisas não podem, não devem, se aceleradas” – Taduzido pelo autor. !

!

61!


Contudo, e directamente ligado aos instrumentos atuais, o Fast comporta igualmente uma problemática anti-natura. Segundo Furtado (2005: 11) “a humanidade, em busca de uma contínua artificialização, de um afastamento progressivo do natural, ambicionou dominar todos os processos e alterar o seu relacionamento com o espaço e o tempo. Isto permite um culto desmedido da personalidade e de sí próprio.”! 57

Esta é a situação a que Lipovetsky (1999: 141) se refere, prevendo de certa forma o que acontece de maneira mais vincada na sociedade Fast atual, quando nos fala da “plétora de espéctaculos, de exposições, de entrevistas, de declarações totalmente insignificantes e que já nem sequer visam obter um efeito de ambiente: é outra coisa que está em jogo, a possibilidade e o desejo de expressão, seja qual for a natureza da mensagem, o direito e o prazer narcísico do individuo que se exprime para nada, para si apenas, mas veiculado e amplificado por um médium.”!

Assistimos não só a um acelerar contínuo no espaço físico e digital, mas também nos aspectos criticados quando se deu o aparecimento do fabrico em série e da introdução da máquina enquanto substituto do trabalho humano. Situação que tem acompahado a popularidade do Fast Living e o desenvolvimento da tecnologia (assim como a interactividade entre programa e utilizador) e cuja dimensão se agrava proporcionalmente.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 57!Em: FURTADO, Gonçalo., Notas sobre o espaço da técnica digital, 2005.! 62! !


A título de exemplo, o processo de fabrico e venda de fast food continua a acelerar, segundo Schlosser (2002: 66), referindo-se às novas tecnologias nas quais uma conhecida corporação de comida rápida investiu,

“máquinas de bebidas robotizadas selecionavam os copos certos, enchiam-nos com gelo e depois com refrigerante. Máquinas automáticas,

funcionando

através

de

dióxido

de

carbono

comprimido, lançavam esguichos uniformizados de ketchup e mostarda. (...) monitores televisivos na cozinham mostravam instantaneamente o pedido do cliente. Um avançado software para computador dirigia no essencial a cozinha, atribuindo tarefas a diferentes trabalhadores para conseguir uma máxima eficiência, predizendo pedidos futuros com base no fluxo de clientes da altura.! 58

É evidente que estamos perante uma desumanização deste processo, aqui a velocidade implica uma perda de contacto considerável e um automatismo muito vincado do mesmo, os trabalhadores podem ser considerados parte da máquina, tal como acontecia nos primórdios do fabrico em série. Schlosser (2002: 247), desmascara ainda este processo quando refere

“que a mesma companhia tinha explorado crianças, pusera em perigo a saúde dos seus clientes (pelo uso de conservantes e aditivos

impróprios)

pagara

aos

seus

trabalhadores

salários

despropositadamente baixos e tinha responsabilidades em relação à

crueldade

infligida

aos

animais

por

muitos

dos

seus

fornecedores.”!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 58!Em: SCHLOSSER, Eric., O Império do Fast Food, 2002.! !

63!


Figura 25 - Modern Times de Charlie Chaplin, 1936

Verificamos assim que o crescimento da cultura Fast impõe um aumento da automatização, e quanto olhamos para esta realidade tendo em vista as fragilidades do mundo digital e de tudo aquilo que actualmente dele depende, torna-se evidente que deveriamos ter uma rede de segurança no sentido matérico. Tendo em conta a quantidade de serviços que utilizam esta tecnologia como base para funcionar, para gerir situações físicas, como a gestão

de

trânsito

aéreo

e

informação

fundamental

para

o

bom

funcionamento da sociedade, como sistemas e arquivos do estado, podemos considerar

que

repercursões

um

muito

crash graves

informático e

num

59

geral

leque

de

na

actualidade

áreas

muito

teria

distintas.

Consideramos que o Fast e as suas ferramentas, para lá de uma hipotética crise da dimensão temporal, comporta igualmente o perigo de se tornar também uma crise gerada por dependência.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 59!Condição em que um computador ou uma aplicação deixa de funcionar, fechando geralmente o programa.

! 64! !


Como Virílio (2000a: 42) descreve: “Como

não

adivinhar

atrás

desta

transição

crítica

o

condicionamento futuro do meio ambiente humano? Se a revolução dos transportes do ultimo século tinha ocasionado já uma

mutação

do

território

urbano

no

conjunto

do

nosso

continente, a actual revolução das transmissões provoca por sua vez uma comutação do meio ambiente urbano em que a imagem prevalece sobre a coisa da qual ela é imagem”!

Concordamos e consideramos que os instrumentos digitais do mundo Fast podem tornar-se claramente perigosos, e que deve haver uma reformulação dos mesmo e uma relação cuidada com estes sistemas, pois poderemos trocar o real pela ilustração do real, e tomar insconscientemente esta ilustração pela realidade. A titulo de exemplo, quando consideramos que a grande parte do dinheiro em circulação é apenas digital e não tem uma presença física real 60 ou que a grande parte dos dados é guardada unicamente em formato digital, podemos assumir que essa dependência pontencializa outras situações de ameaça, a acrescer ao físico. Fala-se da possibilidade de cyberwars61, sendo que as primeiras manobras neste campo tiveram lugar em Hohenfeld em 1995. Assim, alguns dos aspectos do Fast Living comportam alguma instabilidade, quando podem criar um lugar em que uma tirania de informação se pode instalar e mais do que isso, pode potencializar a tirania física através deste meio ao permitir o acesso a informação que de outra forma seria confidencial.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 60 !Segundo estudos datados de

2000 pelo Bank of International Settlements, a proporção de dinheiro “vivo” relativamente ao dinheiro digital é de apenas 1,9% no luxamburgo, 2,1% na Filândia, 6% na Italia, 6,2% na Alemanha e 8,9% em Espanha. Falando-se já na possibilidade de ter um sistema económico baseado apenas em dinheiro digital (créditos).!

! !

61!Guerras informáticas.!

!

65!


66! !



68! !


1.2.1 – Conceito de Fast City.

“As grandes cidades precisam de uma vivência rápida para crescerem” é o título de um artigo da Nature62 sobre as Fast Cities que sumariza todo este fenómeno. O principal objectivo de uma cidade que vive deste habitar frenético dos cidadãos é, de facto: crescer. Desenvolver-se do ponto de vista económico

e

de

estruturas/infraestruturas

como

um

organismo

vivo

sustentado por um conjunto de interligações, transações e movimentos. Estes elementos, ao permitirem que a cidade evolua, permitem igualmente que a vida dos seus habitantes melhore a nível de serviços, bens e oportunidades. Teóricamente é isto que por vezes, talvez de forma inconsciente, se pretende verdadeiramente com o aumento da velocidade nas cidades. Ela ambiciona melhor qualidade de vida, contudo e como vimos, não são raros os casos em que estas cidades contribuem para o oposto. As massas que percorrem a Fast City, movendo-se diariamente e saltando entre tarefas e negócios estão envoltas

num

ciclo

que

não

permite

usufruir

completamente

(e

profundamente) do seu tempo, da sua vida e da sua cidade. Estas metrópoles Fast são tendencialmente tornadas em ícones contemporâneos, exemplos que de certa forma, atraem investidores, turistas e imigrantes que procuram melhores condições de trabalho e uma forma propícia à criação de novos contactos sociais. No referido artigo, Ledford (2007)63 afirma que: “The bigger the city, the faster that innovation needs to keep coming if it is to support the city's growth. That means that city dwellers literally need to move fast — they've got to squeeze more activities into their day and boost the chance that they'll make new social contacts. The fate of their city could hang in the balance.”!

64

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 62!Jornal semanal Internacional de ciência - artigo datado a 16 de April de 2007. ! 63!LEDFORD, Heidi., Bióloga e repórter Estaduniense. ! 64!“Quanto maior é uma cidade mais rápida é a inovação que ela precisa para poder crescer. Isso significa que os habitantes devem literalmente mexer-se mais rápido – devem espremer mais actividades dentro dos seus dias e aumentar as hipóteses de estabelecer novos contactos sociais. O destino da cidade pode depender deste equilibrio.”! – Traduzido da versão original pelo autor.!

!

69!


Ou seja, a Fast City conquista, em parte através da imagem, das estatísticas e das oportunidades que representa. Ela vai absorvendo população, mão de obra, iniciativa e investimento, e desta forma, continua a crescer e a afirmarse ainda mais no panorama internacional. É fácil de entender aqui o ciclo Fast que referimos, as metrópoles potencializam a velocidade e os contactos sociais, pois são áreas de elevada concentração populacional que aumentam o número de oportunidades, de interação, de inovação e de acesso aos serviços (entre eles a educação, a saúde, o comércio, os negócios, o emprego, a energia). Logo, as Fast Cities oferecem algo e recebem algo em troca, e, dependendo dos tipos de serviços predominantes que presta, é fácil compreender que, principalmente o seu “centro” crescerá numa determinada direcção e com um determinado tipo de serviços característicos. É sabido que fisicamente, as cidades geralmente começaram a crescer em torno de um ponto central (em muitos dos casos um fórum, uma praça ou um mercado), um polo de atracção, pelas oportunidades a nivel de comércio, de comunidade ou de segurança. Nas grandes cidades Fast isto ainda acontece, contudo a dimensão destas metrópoles permite uma série de pólos que podem servir os mais variados interesses, visto que a escala é demasiado grande e a população demasiado numerosa para existir apenas um ponto de convergência. 65 As cidades funcionam como um conjunto de ligações entre pontos com características e programas especificos que obrigam a uma mobilidade acrescida, podemos resumir estes pontos de interesse em três tipos nos quais as metrópoles dependem para constituir uma mais valia para os habitantes e desta forma se tornarem em cidades atractivas e assim crescer e desenvolver-se, estes factores são: profissionais, residenciais e infraestruturais. O primeiro factor englobará as oportunidades de trabalho, a relevância do mercado no panorama nacional e internacional, a valorização dos graus académicos, a qualidade das instalações laborais, os honorários justos relativamente ao tipo de trabalho e ao valor da moeda e a ligação entre casa e trabalho.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 65!Conceito de cidade ligada em rede: multipolar.! ! 70! !


O segundo factor engloba a qualidade, preço e próximidade da habitação a locais importantes assim como os respectivos acessos e transportes, a existência de pontos de cultura, educação e lazer. O terceiro engloba a eficiência dos serviços municipalizados, para lá da gestão de resíduos e de uma fácil (e segura) mobilidade, a qualidade dos elementos imprescíndiveis à vida (qualidade da água e do ar) e o acesso à energia e às novas tecnologias. Como referido, as Fast Cities dependem de um sistema económico acelerado, a sua sobrevivência não tolera o atraso, a lentidão é vista como um defeito repreensível e algo anti-natura ou fora de ritmo, a velocidade é considerada competência porque estas sociedades dela dependem. As mais valias que elas proporcionam trazem uma série de obrigações à população e vão hierarquizando prioridades que têm sido questionadas, tais como as relações de trabalho em detrior das relações familiares, o lucro em detrior do prazer e a quantidade em detrior da qualidade. Resumidamente, e de forma metafórica: as Fast Cities precisam de ser alimentadas para alimentar. Do ponto de vista da grande parte da sua população, elas existem para serem percorridas e utilizadas mais do que para serem apreciadas. Estes três factores de crescimento profissionais, residenciais e infraestruturais directamente relacionados com os níveis de industrialização, imigração e urbanização, podem ser observadas nas grandes cidades Fast, encontram-se referidos na grande parte das teorias de crescimento das cidades e nos papers das propostas e estudos de desenvolvimento, como por exemplo no plano de Toronto66ou no estudo “What drives city growth in the developing world?”67 de Kelley allan e Williamson Jeffrey. Dentro destes três factores, outros como a proporção entre a escala urbana e a população, o índice de ofertas e procura a nível laboral, e a motivação baseada na cultura e nos serviços são relevantes para a fixação das populações.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 66!Disponível online no sítio da internet a 23 de Janeiro de 2013: http://www.toronto.ca/planning/pdf/english_howgrow_brochure.pdf

! 67!Disponível online no sítio da internet a 23 de Janeiro de 2013:

http://www.rrojasdatabank.info/econurb87/econurbp44-57.pdf

! !

71!


O crescimento da construção é um dos traços mais imediatos destas Fast Cities,

Koolhaas

(1994:

125)

referindo-se

à

situação

das

Metrópoles,

nomeadamente Nova Iorque, diz-nos que “o lamentável não é que as torres estejam a ser elevadas a mais de 240 metros, mas que fiquem demasiado próximas umas das outras (...) tão compactas que impeçam a entrada de luz e ar.” e também que "As grandes cidades são baseadas em grandes conceitos, claros e bem organizados, individualistas, apaixonadas por sí próprias, descuidadas, domesticadas apenas pelo colete de forças da malha”68. A densidade e a monumental escala de construção é uma das imagens de marca das grandes cidades. Nos seus centros as pessoas caminham entre massa construída que espreita imponente sobre as suas cabeças. Estes habitantes relacionam-se diáriamente com o betão e o aço, o asfalto e o vidro, a chamada selva urbana onde o espaço verde é muito raro ou então resultado de uma criação artificial. A metrópole desenvolve-se no sentido de alcançar um ponto onde a sua totalidade é inteiramente fabricada pelo ser humano, de maneira que ela esteja moldada à sua imagem e satisfaça totalmente com as suas necessidades. Koolhaas (1994: 330) refere ainda que a cidade “é uma máquina viciante, da qual não há escapatória, a menos que ela também ofereça esse escape. Por penetrar tudo, sua existência se torna similar à natureza que ela substitui: um dado de facto, quase invisível, certamente indescritível”. A acrescer às malhas geralmente densas destas grandes metrópoles a sobrepopulação, como é o caso de Mumbai e Tóquio, com aproximadamente 12 milhões e meio de habitantes cada

69

. Situação que , como verificamos, leva ao mau

funcionamento das infraestruturas e transportes públicos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 68!Em: KOOLHAAS, Rem., Delirious New York, 1994.! ! 69!Fonte: censos do governo da Índia em 2011 e censos 72! !

nacionais do Japão em 2010.!


A densidade demográfica é prova disto, existem aproximadamente 20.500 pessoas por Kilómetro quadrado no Mumbai e a área residêncial média é de 4.5 metros quadrados por habitante 70 . Esta é uma das preocupações das grandes cidades cuja vivência e crescimento é Fast, pois torna-se necessário dar resposta aos problemas que o aparecimeno da superpopulação levanta, nomeadamente a nível de habitação, emprego, segurança, gestão e infraestruturas/estruturas. A população mundial está a crescer a uma velocidade de quase 80 milhões de pessoas por ano71, valor que quando considerados os fluxos migratórios, compreendemos a razão pela qual as metrópoles vão ficando sobrecarregadas e ganham mais um factor para a somar à equação do seu carácter Fast. Quando cidade

oferece

soluções,

conseguindo

há oportunidade e a

acomodar

o

crescimento

populacional e o consequente aumento de velocidade, podendo assim utilizar esta cinética como contributo para o seu desenvolvimento. Estes dados funcionam como uma ilustração do crescimento quantitativo em prol da rentabilização, não correspondendo directamente a um crescimento qualitativo das cidades. Como refere Bourdin (2011: 29) “Com o urbanismo liberal, a concorrência entra em campo e passa a primeiro plano”72 contudo é preciso ter em atenção no que que se foca o investimento, pois poderá desenvolver apenas o que é mais lucrativo e não desenvolver aquilo que estimula social e culturalmente a cidade como um todo. Tendo estes aspectos em conta e com base nos critérios que apresentamos em anexo 1 na página 205, desenvolvemos tabelas para algumas das cidades mais Fast a nível mundial, com o objectivo de compreender quais os seus pontos comuns e consequentemente quais os aspectos chave que caracterizam estes grandes centros urbanos e que podem ser mencionados a titulo comparativo.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 70!Fonte: dados do Instituto Internacional de Ciências da População (I.I.P.S.) ! 71!Fonte: dados do Population Institute em 2010, artigo disponível online a 24 de Novembro de 2012 no sítio da internet: http://www.populationinstitute.org/external/files/Fact_Sheets/Water_and_population.pdf!

!

72!Em: BOURDIN, Alain., O urbanismo depois da crise, 2011.!

!

73!


As tabelas dividem-se em 11 partes que consideramos os elementos gerais por serem imprescindiveis ao funcionamento da cidade, sendo que cada parte se subdivide em dois aspectos. A recolha de dados foi efectuada pelo estudo de demografia, de observação de ortofotomapas e axonometrias tomando em consideração a escala e através de pesquisa, de informação fornecida pelas entidades administrativas de cada cidade e visitas ao terreno/contecto directo com a realidade das Fast Cities.

74! !














1.2.2 – Forma, organização e elementos da Fast City.

As Fast Cities são consideradas as cidades mais “altas” devido à escala do edificado que geralmente apresentam, mesmo não sendo completamente verdade, por haver algumas excepções, a grande parte destas cidades constituem skylines73 fáceis de reconhecer principalmente pelos seus ícones que se afirmam e a identificam. Do ponto de vista formal estas cidades têm uma presença e um conjunto de características que as diferenciam. São cidades que se “vendem” facilmente devido ao seu cartão de visita, passando muito pela imagem e pelo estilo de vida que estas representam.

Figura 33 - Skylines estilizados de “cidades Ícone”

Do ponto de vista da organização, tornaram-se gradualmente pluripolares. Devido ao seu crescimento quantitativo, à necessidade de mais área e à sobreposição de interesses ao longo do tempo. É assim possível estratificar e definir zonas que funcionam como as peças essenciais de um mecanismo. Assim hoje em dia é comum o centro de comércio ou de gestão fazer frente ao centro histórico da cidade enquanto ponto convergente de interesses. Neste sentido fala-se já de uma multiplicidade de centros, com os quais a cidade perdeu completamente as suas caracteristicas unipolares em prol de um sistema ligado em rede que une várias zonas de forma a funcionar em conjunto. Para este funcionamento, as Fast Cities dependem em primeiro lugar de grandes áreas comerciais a fim de explorar o potencial económico.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 73!Expressão Inglesa que significa “linha de céu”, ou seja, a silhueta da cidade.! !

87!


Sendo que as zonas mais populosas representam um maior investimento, um maior custo a nivel de instalações e rendas, mas geralmente representam também uma maior margem de lucro e uma grande exposição ao público. Nestas Fast Cities a oferta é imensa, existe uma extensa lista de serviços e grande facilidade no acesso a bens. Considerando o leque de escolhas disponivel, há a necessidade de competitividade. Em muitos dos casos zonas que aglomeram determinado tipo de serviços tendem a afirmar-se e a competir pela presença central na cidade. Como consequência deste crescente capitalismo das Fast Cities, o mobiliário urbano vai muito para além dos bancos de jardim e paragens de autocarro. A presença de paineis publicitários, mupis, reclamos luminosos entre outros meios de marketing é marcante, testemunho do estilo de vida consumista. Esta presença provoca poluição visual e um excesso de estimulo extremamente vincados que já foram referidos e que culminam nos vinis aplicados aos transportes públicos, que tornam a publicidade móvel, e nos outdoors que cobrem fachadas inteiras,

tornando

o

edificado

num

colossal

painel

publicitário.

O crescimento destas cidades rápidas é visivel nos edificios com um alargado potencial económico. Estes, pela sua grande escala e relativamente rápida edificação, rentabilizando o espaço ao máximo, quando atingem os seus objectivos definem pólos, muitas vezes de referência. Passando pelos centros comerciais e de negócios. A lista passa por edificios que visam a prestação de serviços públicos e de gestão, assim como estruturas de habitação colectiva.

Continua

pelos

pontos

de

interesse,

muitas

vezes

internacionalmente conhecidos como parte da imagem de marca da cidade, que constituem atrativos de turismo. Alguns exemplos são as galerias, museus, parques, pontes, monumentos e outros lugares com valor a nivel histórico e/ou artistico, e podem representar uma grande parte das razões pelas quais a Fast City é um destino de eleição para as grandes massas anuais de visitantes. Entre os vários pólos de interesse, as avenidas marcam igualmente um dos ícones das Fast Cities.

88! !


Compreendemos que a fluidez do trânsito é de extrema importância, quer por razões de serviços tais como a eficiente deslocação de ambulâncias, polícias e bombeiros, quer por razões de comércio, a carga e descarga diária de bens para trocas, entre os armazéns, os portos e as lojas locais ou por razões de transporte pessoal. Nestes centros urbanos a dependencia da velocidade e da máquina é tal que o automóvel passou a ser mais do que um meio de transporte, mas sim uma extensão do ser humano. A própria cidade é testemunha disso, pois podemos constatar este facto quando temos em conta estruturas preparadas para prestar serviços sem que os utilizadores tenham de sair das suas viaturas, por exemplo os cinemas drive in74 ou os restaurantes drive through75.

! Figura 34 - Primeiro drive-in exibindo o filme “Os Dez Mandamentos”, 1958, Utah, EUA

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 74!Cinema a céu aberto no qual os filmes são visualizados no interior da viatura, patenteada nos Estados Unidos da America em 1933 por Richard Hollingshead.! ! 75!Restaurantes nos quais é possivel efectuar o pedido, pagar e receber a comida no interior da viatura.! !

89!


A indústria fabril, geralmente situada na fronteira das cidades é outro elemento marcante das mesmas. Não raras vezes as várias fábricas constituem em si um pólo pela próximidade que mantêm (a fim de diminuir o seu impacto no centro da cidade). Pólos conhecidos de forma comum como zonas indústriais. Um dos elementos criticos destas cidades é o trânsito pedonal, geralmente demasiado próximo de fontes de ruído como avenidas ou estradas secundárias. A próximidade das zonas habitacionais a estes locais de passagem representa igualmente uma situação por vezes problemática, que passa por uma longa exposição a poluição sonora. Sendo o transporte por veículos privados insustentável a nível de tempo (principalmente em determinadas alturas do dia), de recursos e gastos, todas as Fast Cities dependem de uma rede de transportes públicos colectivos. Estas redes de ligações funcionam quer a uma escala de cidade, com o bus e o metro, quer a uma escala nacional e internacional, ligando as principais cidades a partir das quais se ligam as cidades menores. Este sistema constitui um factor predominante no funcionamento e eficiência das Fast Cities. Quando bem organizado diminui o tempo gasto nas deslocações e permite uma maior velocidade e facilidade. Nas palavras de Audibert (século XIX d.C.) citado por Virílio (2000b: 19) “se conseguimos fazer com que os comboios cheguem no segundo exacto, dotamos a humanidade do instrumento mais eficaz para a construção do novo mundo.”

76

A automatização e a consequente

diminuição de interacção humana para o usufruto dos serviços, enquanto perversa do ponto de vista relacional, como já referimos préviamente, permite, caso funcione devidamente, um menor desperdício de tempo. A tecnologia é um factor cada vez mais presente nestas cidades, por exemplo na interactividade da informação77 torna a cidade mais simples de entender e percorrer, ou nos sistemas de controlo e segurança por camaras colocadas em espaços públicos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 76!Em: VIRILIO, Paul., Cibermundo: A política do pior, 2000. ! 77!Por exemplo: mapas, contactos, acompanhamento de horários de transportes e outros serviços publicos! 90! !


Um dos aspectos mais marcantes das Fast Cities é o seu tipo de construção, a presença dos gigantes de betão, aço e vidro que visam rentabilizar o uso do solo e obter uma cidade que vive a várias cotas. Assim, liberta-se solo e permite-se uma maior densidade tanto de massa construída como de habitantes. Do ponto de vista Fast são elementos importantes, pois balizam o espaço

público

de

rua,

condicionando

as

áreas

de

passagem

e

direccionando o trânsito pedonal, automóvel, permitindo simultaneamente que um grande número de pessoas habite na “extrusão” do plano de um mesmo lote. Nesta malha de asfalto, passeios e edifícios, a natureza é algo relativamente raro. Quando surge entre a malha urbana, é muitas das vezes, produto da intervenção do homem, uma natureza controlada e “artificial” de certa forma que visa melhorar a qualidade do ar e da experiência da cidade, oferecendo zona pública verde, visto que grande parte dos habitantes vive em habitações colectivas ou suburbanas onde as zonas exteriores com presença de vegetação é também ela rara. Dificultada pela proximidade do edificado e consequentemente pela incidência solar insuficiente, estes parques publicos, para serem realmente eficientes do ponto de vista de renovação do ar, e enquanto pontos de pausa, devem cobrir uma grande área (como é o caso do Central Parque em Nova Iorque). Nas metrópoles a tendência para construir mais e maior, muitas das vezes sem grande qualidade, leva a que grande parte das Fast Cities, sendo cidades relativamente jovens, tenham pouca ou nenhuma história e um elevado número de edificios sem valor a nivel teórico ou conceptual. Por vezes o crescimento desmedido e acelerado traz alguns problemas por não ter sido devidamente planeado e amadurecido. Nomeadamente, o crescimento desmedido nestas cidades rápidas, quando não são tidas em conta outros factores, leva a cortes na oferta de emprego, habitação e serviços públicos. Como consequência, induz ao aparecimento de sectores marginais, poluição e

stress

sociopsicológico.

Como

conclusão

do

primeiro

subcapítulo,

elencamos uma série de características que dele resultam e permitem definir em síntese o fenómeno do Fast nas medidas de vivência e de cidade. Estas características estão, como vimos, directamente ligadas (Living e City) e influênciam-se mutuamente.

!

91!




94! !



96! !


2.1.1 – O Slow Living no contexto Histórico O regresso ao passado.

Apesar do termo Slow Living ter surgido com o aparecimento do movimento Slow em 1986, enquanto tomada de consciência e reacção ao estilo de vida Fast a que a europa aderiu, é no fundo um neologismo para um estilo de vida que é inato à génese do ser humano. Esta vivência remete-nos para um tempo em que o Homem não se regia pelo relógio mecânico mas sim pelo seu relógio biológico e pelos ciclos da natureza. O cair da noite marcava a altura do ciclo destinada ao descanso e o nascer do dia a altura do ciclo destinada à actividade. Até ao aparecimento do relógio tal como o conhecemos hoje, as necessidades físicas geriam as actividades ao longo do ciclo, por exemplo: as caçadas eram definidas pelas melhores oportunidades, as refeições eram definidas pelo apetite. Aqui podemos falar de um ser humano realmente ligado à natureza e enquanto parte de um sistema. A agricultura dependia (tal como hoje) de ciclos sazonais e era, obviamente, biológica e tratada de forma Slow. O Slow Living é então, de certa forma, um revivalismo deste estilo de vida antigo. Uma atitude alternativa ao Fast que se instalou na sociedade atual. Deve-se muito à consciencialização de certos problemas que a vivência Fast trouxe e que referimos préviamente, como poluição,

ruído,

congestionamento

automóvel,

demasiado

estímulo

relacionado com o capitalismo, afastamento gradual relativamente à natureza, grande numero de deslocações diárias, demasiadas horas de expediente, desumanização do trabalho e das trocas comerciais e, principalmente, a falta de tempo para a degustação do momento e o acumular de stress que reduz significativamente a qualidade de vida. Os aspectos positivos do estilo de vida Fast, que outrora atraíram massas para centros urbanos, hoje já não são o suficiente para manter as pessoas nestas Fast Cities. As massas foram gradualmente começando a questionar este sistema

de

constante

incrementação

de

velocidade

e

deu-se

consequentemente a procura e a adesão a alternativas de vida distintas.

!

97!


Acreditamos que a principal razão desta vontade de aceleramento se deveu à visão ocidental do tempo. As sociedades orientais viam o tempo desta forma natural e cíclica, ou seja, o tempo não se gasta nem corre perigo de se esgotar, mas é sim constantemente renovado em ciclos. No ocidente o tempo é visto de forma linear, não recuperável, o que imediatamente o torna mais valioso e sério. Dentro desta segunda visão do tempo, aquele que é utilizado de forma desnecessária será considerado perdido, todas as actividades

sem

um

objectivo

direcionado

para

uma

melhoria

das

condições, a obtenção de mais e de melhor, de evolução e conquista na sociedade capitalista é considerado tempo livre ou morto. O Slow Living contradiz esta filosofia e recupera a visão cíclica do tempo.

! Esquema 1 – tempo cíclico (a visão Oriental).

!

Esquema 2 – tempo Linear (a visão Ocidental).

98! !

!


O Movimento Slow.

O Slow Living está directamente ligado ao movimento Slow, que por sua vez começou com o aparecimento do Movimento Slow Food, em Itália, enquanto reacção ao crescimento desmedido e popularidade das cadeias internacionais de Fast Food. Segundo Beatley, citado por Mayer (2006: 1), “the Slow Food movement created the ideological platform for a city-based spin-off that constitutes the grassroots local implementation of the principles associated with livability and quality of life.” 78 A ideia fundamenta-se na valorização dos pequenos produtores e a utilização de produtos locais de acordo com a estação do ano, vegetais e frutas cultivados localmente e sem auxiliares químicos, animais criados sem hormonas, com um crescimento natural, defendendo a biodiversidade e alertando para os perigos da sobre exploração dos recursos por questões financeiras. A indústria do Fast Food seria um dos exemplos que poderia ter resultados negativos de grande escala, tal como contaminação e preocupações de saúde pública. Por contraste, alimentos alternativos são associados com um comércio local e uma especialização na forma como são produzidos e consumidos. Com este conceito surgiram outros que entram na mesma linha de pensamento e defendem que as coisas devem ser feitas melhor e mais lentamente de forma a obter os melhores resultados (como por exemplo o slow gardening, o slow parenting, o slow tourism e até a slow economy). Esta ideia lançou uma outra intitulada CittáSlow Movement (Movimento das Cidades Slow), que se instalou oficialmente e de acordo com o documento de Estatuto Slow79, que pode ser consultado online80.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 78!“o movimento Slow Food criou uma plataforma ideológica para uma cidade que se baseia na

implantação dos principio associados com a vivência e qualidade de vida..” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: MAYER, Heike & KNOX, Paul., Slow Cities: Sustainable Places in a Fast World, 2006.!

!

79!Cittáslow International Charter – Artigo que define os critérios necessários para uma cidade

ingressar no movimento CittáSlow. – Revisto em 2011.!

!

80http://www.cittaslow.org/download/DocumentiUfficiali/2009/newcharter%5b1%5d.pdf

!

99!


Este movimento assenta em 50 princípios, que todas as cidades membro devem assumir enquanto objectivos principais. Entre estes objectivos e compromissos principais, destacam-se:

-Qualificar a vida urbana. -Aumentar a qualidade de vida na cidade. -Resistir à homogeneização e globalização. -Ter uma política de protecção do ambiente. -Promover a diversidade e as características únicas da cidade. -Proporcionar um ambiente para um estilo de vida mais saudável.

Com ele, a ideia espalhou-se de forma viral e deu origem a uma série de derivados. Um deles é o Slow Gardening, uma actividade que surgiu directamente ligada ás preocupações com a qualidade dos produtos alimentares. Esta integra dois objectivos: Por um lado, encaixando na lógica do Slow Food, pode constituir uma fonte de alimento segura e relativamente económica, por outro pode ser uma actividade de lazer que necessita de cuidado regular e pode reduzir a velocidade vivencial contribuindo para o equilibrio pessoal. Este conceito não assenta na repetição de tarefas e na produção de pouca variedade em virtude de quantidade, mas sim na adaptação do cultivo à altura do ano, ritmos sazonais e respectivas condições atmosféricas, sendo reflexo da ideia de tempo cíclico. Promove mais do que autossubsistência ou do que a componente muitas vezes estética da vegetação (utilizada enquanto adorno e não enquanto elemento qualificador de um espaço), mas sim como um promotor de introspecção, um meio para explorar o auto-conceito, a responsabilidade pessoal e ambiental. Em suma, é um conceito que procura a simbiose entre homem e natureza, enfantizando a actividade, o pensamento ou a emoção no momento presente, em vez de se focar no que foi feito num momento passado ou no que terá de ser feito num momento futuro. A filosofia desta actividade é que a natureza tem o seu próprio ritmo e não se deve apressar o seu processo.

100!!


Em 1999 Geir Berthelsen cria o World Instute of Slowness81 apresentando a sua visão para um “Planeta Slow” que propunha uma série significativa de alterações. Resistindo à lógica hipercapitalista das grandes metrópoles, o Movimento Slow sugere uma vivência mais dedicada à sensibilidade e às relações pessoais, nutrem e valorizam a proximidade entre os seus habitantes e o envolvimento dos elementos familiares nas actividades de lazer, trabalho e educação. O Slow Parenting, outro elemento derivado do movimento, é um bom exemplo desta mentalidade, uma forma de educação na qual as crianças são encorajadas a explorar e experimentar o mundo por elas, sem uma organização e um controlo parental rígido. Não assenta na ideia de superproteção, mas sim na participação dos pais no acompanhamento do desenvolvimento dos filhos, preparando-os para enfrentar as situações da vida em que terão de agir por si e tomar as suas próprias decisões conscientes sem depender dos seus tutores. Pretende-se com isto tirar alguma da pressão a que as crianças têm vindo a ser sujeitas e permitir que estas tenham tempo para brincar, aprender e evoluir ao seu próprio ritmo. Propõe

igualmente

reduzir

o

consumismo

por

parte

das

crianças,

nomeadamente nos brinquedos que incorporam tecnologia avançada. É uma filosofia de educação que não visa afastar o perigo nem proibir que incorram em actividades arriscadas, mas sim instruir e sensibilizar as crianças para a existência desse perigo e ensinar a lidar com ele, pretende-se com isto que estas se tornem adultos conscientes e independentes. Influenciadas pelo movimento Slow, surgem outras variantes como o movimento Slow Coffee, que à semelhança da Slow Food defende a utilização de produtos de qualidade e apoia uma produção menos industrial. Neste caso o café é servido com um cuidado que podemos comparar ao das cerimónias japonesas de chá. O café é moído à mão, escolhendo-se a temperatura, o tempo de aquecimento, a quantidade de água e a proporção entre os vários ingredientes.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 81!Traduzido do Inglês: Instituto Mundial da Lentidão. ! !

101!


Mais do que o processo de fabrico e preparação, a diferença reside nos materiais e técnicas artesanais, no atendimento realmente personalizado e na qualidade e atmosfera do espaço de consumo.

! Figura 37 - Estabelecimento de Slow Coffee

! Figura 38 - Estabelecimento de uma cadeia de café (corporação) internacional

Os turistas representam uma pequena fracção de pessoas que procuram conhecer o estilo de vida, a gastronomia, o comércio local e todas os outros elementos que tornam as comunidades slow únicas. A hospitalidade é uma prioridade, visa absorver os interessados na sua vivência e oferecer a experiência do que é participar na sua comunidade, tornando-os em elementos activos temporariamente na cidade, defendendo que o prazer do turismo é muitas vezes reduzido pela vontade de visitar todos os lugares icónicos e “clichê”, tornando as viagens em experiências exaustivas. Segundo a organização Slow Tourism 82 , o turismo Slow sugere uma estadia mais relaxada e visitas a locais frequentados pelos moradores locais. Assenta em 6 conceitos

chave:

Tempo,

Lentidão,

Contaminação,

Autenticidade,

Sustentabilidade e Emoção.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 82!Projecto estratégico fundado no programa europeu sem fronteiras em 2007. Disponível para consulta no sítio da internet a 10/12/2012: http://www.slow-tourism.net! 102!!


A) Tempo – Planeamento prévio da viagem e estadia. Orientação estratégica do plano de visita. Análise e compreensão do local de visita.

B) Lentidão – Uma visita calma. É também a criação, a promoção e o fornecimento de produtos e serviços de forma não massificada, permitindo que o visitante seja envolvido numa experiência mais completa, assimilando as relações com os habitantes. É no fundo a aplicação de uma das ideias fundamentais do movimento Slow: a redução da quantidade em prol da qualidade.

C) Contaminação – Experiência da cultura e das actividades locais. O confronto com outras pessoas, de diferentes opiniões, crenças, costumeste e culturas, tendo em vista o objectivo de crescimento pessoal.

D) Autenticidade – Conhecimento e experimentação do estilo de vida local. A capacidade de ter uma experiência caracterizada, não-superficial e fortemente ligada às tradições locais. A exploração dos elementos que enfatizam e caracterizam as diferenças com o objectivo de mostrar a verdadeira identidade do local.

E) Sustentabilidade – Meios de transporte económicos e pouco poluentes. Preocupação com a responsabilidade ecológica, ética, social e económica

F) Emoção – Exploração do lado sensível dos lugares. A capacidade de proporcionar

momentos

memoráveis

que

inspiram,

oferecem

uma

experiência gratificante e alteram o visitante.

O turismo Slow em Portugal, também conhecido como turismo Rural, está muito ligado à natureza e ás práticas agricolas. A hospedagem é geralmente em pequenos abrigos ou habitações unifamiliares, e constitui uma das actividades que auxilia na estabilização da economia local.

!

103!




O Slow na Arte.

Nascendo de uma filosofia que assenta no cuidado com o detalhe, na criação de obras sem pressa e de modo introspectivo, de certa forma um processo artístico meditativo. Segundo Cilla Robach (2012)83, “a arte slow é a perspectiva dos processos do tempo e da produção. O termo Slow Arte é introduzido como uma ferramenta analítica para um fenómeno contemporâneo (...) arte manual com processos lentos e muito elaborados. Os artistas (…) valorizaram o tempo e olharam para a lentidão como um elemento central no seu processo artístico. Muitos praticantes deram um enfase especial ao dar a forma a certos detalhes, sem terem medo de aborrecimento mental ou dor física derivada de repetição. Em vez disso, o observador suspeita que encontrou tranquilidade na monotonia e estados lentos de trabalho que foram necessários para criar uma peça especifica.”!

!

! Figura 41 - Pintura “Holy Week in Seville” de Jose Jimenez y Arinda, 1879!

! Figura 42 - Arte Slow de Karen Bit Vejle

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 83!Curador da exposição “Slow Art” no museu nacional de Estocolmo.! 106!!



O Cinema Slow é um género de arte cinematográfica que surge com esta necessidade de abrandar. Utiliza takes longos, minimalistas, com pouca narrativa e propõe uma postura de observação e contemplação. Matthew Flanagan (2008)84 define o Slow Cinema com:

! “a utilização de takes e narrativas descentrados com enfâse em atmosferas

calmas

e

do

quotidiano.

Considerando-a

como

pertencente recíproca, não numa noção abstracta de lentidão, mas uma organização formal e estrutural lenta. Liberta da abundância de imagens bruscas e significados visuais que constituem uma quantidade considerável do cinema das massas. Aqui, somos livres de entrar de forma descontraída, com uma percepção panorâmica; Leva o seu tempo e convida-nos a deixar os olhos vaguear pela tela, observando detalhes que permanecem velados pelas formas mais rápidas de narração.”!

! !!!!!!!!!!!!!!!!!Figura 44 - “Nostalgia” de Adrei Tarkovsky, 1983

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 84!Guionista Norte Americano.! 108!!


Segundo Kent Romney (2010)85 é um “cinema que valoriza a atmosfera em detrior dos acontecimentos e evoca um sentido de tempo intenso”, evolui lentamente e é criado de forma a que cada momento permaneça na tela o tempo suficiente para absorver a audiência. É considerada uma arte de reflexão, onde a forma e o tempo estão presentes de forma empática, onde a casualidade é dominante, com o objectivo de relacionar o observador com a história. Em suma, é uma alternativa e reacção ao cinema Fast de Hollywood repleto de explosões, corridas e sensacionalismo, com edições rápidas, utilização de CGI86 e criado para as massas. Comparamos o Slow Cinema com o Slow Food, na medida em que este último constitui uma alternativa, tal como primeiro o é relativamente às grandes corporações de restauração. Em 2007 surge um novo conceito de moda intitulada “Slow Fashion” por Kate Fletcher (2007)87, que define o define como “algo mais que uma tendência de estação que vem e vai como padrões animais, mas um movimento de moda sustentável”. Tal como o Slow Food, opõem-se à produção em massa, rejeitando a ideia de efemeridade da moda e focando-se mais na manufactura de têxteis e peças de roupa de longa duração, escolhendo produtos artesanais e locais. Opta pela utilização de materiais reciclados, re-utilização de roupa antiga e produtos finais com um período de vida longo. Do ponto de vista económico, o movimento Slow teve igualmente repercussão; Em 2008, Woody Tasch 88 iniciou o movimento do Slow Money, segundo o qual os investimentos se baseiam na longevidade e qualidade do produto ou serviço que se disponibiliza, é a directriz para um sistema financeiro que visa servir as pessoas e os lugares em vez de sectores da indústria e mercados internacionais. Segundo este principio, a economia deve funcionar num registo local, com trocas de pequena e média escala, reduzindo em muito as exportações e importações internacionais.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 85!Director de fotografia e Técnico de som em cinema Norte Americano.! ! 86!Computer Generated Images (Imagens Geradas por Computador)! ! 87!Designer de moda – natural de Inglaterra.! ! 88!Presidente do Circulo de Investidores – Organização internacional que apoia a sustentável.! !

economia

109!


Aqui valorizam-se os pequenos estabelecimentos comerciais, a atmosfera própria e os produtos típicos da região. Linzee Weld (2011)89 refere, “o movimento Slow Money é um alerta para as pessoas investirem nas quintas e comércio alimentar locais. Um numero crescente de famílias suportam as quintas locais comprando em mercados, adquirindo acções de comunidades agrícolas, juntando-se a grupos de compra e escolhendo produtos locais nas mercearias.”! Nesta abordagem económica, notamos que há uma preferência pelos productos e serviços que respondem aos critérios Slow. O comércio baseia-se em, por exemplo, lojas familiares em detrior dos centros comerciais, os pequenos restaurantes em detrior das cadeias de fast food ou lojas de roupa fabricada manualmente em detrior das lojas de marca. Em suma, é um conceito económico onde as grandes corporações não encontram lugar. Em 2010, dentro desta linha de pensamento, algumas entidades dos meios de comunicação adotaram uma política de difusão de noticias mais Slow e objectiva, com o intuito de reduzir a sobrecarga de informação. Apostaram numa selecção mais rigorosa dos acontecimentos a divulgar, focando-se nos assuntos mais relevantes e de interesse global (no caso de notícias internacionais) ou mais importantes quando se direcionam para um publico alvo mais pequeno (no caso de notícias locais). Geralmente os meios de comunicação

slow

são

relativamente

pequeno

bidirecionais de

e

ambicionam

compradores

regulares,

criar

um

grupo

permitindo

a

participação e contribuição dos leitores pela critica, elogio ou partilha de informação

relativamente

ao

conteúdo

e

apresentação

do

meio.

A comunidade científica é igualmente abrangida por este movimento, com o aparecimento da Slow Science, cujo objectivo primordial é permitir que os homens e mulheres da ciência tenham tempo para pensar e ler.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 89!Fundadora e Presidente do gurpo de investimentos "No Small Potatoes".! 110!!


Segundo o manifesto da Slow Science90, “é a única que foi possível conceber durante centenas de anos. A sociedade deveria dar aos cientistas o tempo que eles precisam, mas ainda mais importante, os cientistas devem levar o seu tempo.” Esta vertente do movimento Slow surge como oposição à ideia de que aqueles que publicam mais papers num menor período de tempo são os melhores profissionais. Em vez desta postura, aqueles que suportam este conceito de ciência Slow defendem que deve haver o tempo suficiente para se efectuarem as devidas pesquisas e obter resultados mais consistentes a nível prático e teórico. Apesar do termo ter surgido em 2010, já em 1990, a revista The Scientist91 publicava um artigo sobre o processo científico intitulado “Fast Science vs. Slow Science”, no qual expunha que “most scientific advances depend on long- term, persistent, methodical research. (...) some of the most important discoveries have resulted from decades of work” 92 . Constatamos que, face á multidisciplinariedade que apresenta, no espaço de duas décadas o movimento Slow foi ganhando relevância no mundo, várias cidades em países aderiram e responderam ao protocolo que as rotula de Slow Cities. Estas cidades são caracterizadas por um ritmo de vida pausado, a preservação das paisagens naturais, dos edifícios e das características locais enquanto cartão de visita da comunidade.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! ! 90!Autor desconhecido, publicado pela Slow Science academy, 2010. Disponível online no sítio da internet: http://slow-science.org/! ! 91!Revista profissional estaduniense fundada em 1986 e publicada mensalmente pelo grupo LabX Media.

! 92!“A grande parte dos avanços científicos dependem de uma pesquisa longa, persistente e

metodológica (…) Algumas das descoberdas mais importantes foram o resultado de décadas de trabalho.” – Traduzido da versão original pelo autor. Em: GARFIELD, Eugene., The Scientist: Edição de 17 Setembro de 1990.!

!

!

111!


Segundo Mayer (2006: 2) o movimento slow “aims to protect and enhance urban livability and quality of life. Slow Cities are places where citizens and local leaders pay attention to local history and utilize the distinct local context to develop in better and more sustainable ways.”93 O Slow propriamente dito não se esgota nestes conceitos, é no fundo uma forma de ver o mundo e a vida. As slow cities visam apenas acomodar e oferecer conforto a esta visão mais pausada.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 93!“Visa proteger e melhorar a vivência e qualidade de vida urbana. As cidades slow são lugares onde os cidadãos e lideres locais podem prestar atenção à história e utilizar o contexto local específico para se desenvolver melhor e de forma mais sustentável.” – Traduzido pelo autor. !

112!!


2.1.2 – O Slow Living na actualidade

Estando o Slow Living directamente relacionado com o aparecimento do conceito de slow food. Estabelecimentos nos quais a concepção da comida e a sua degustação são feitas com calma, por oposto ao fast food cujo objectivo é despachar uma necessidade de forma a ter mais tempo para outras actividades, o slow food implica o saborear, experimentar e apreciar a comida. Para lá da génese do movimento slow, este conceito pode ser visto como uma metáfora que se alarga para a grande parte das actividades diárias. Segundo Honoré (2004: 17) “to get full benefit from the Slow movement, we need to go further and rethink our approach to everything. A genuinely Slow world implies nothing less than a lifestyle revolution.”94 No fundo propõe-se que o dia não seja um zapping entre obrigações, papéis, pressas e encontros, mas sim uma série de momentos que podem e devem ser saboreados e dos quais podemos retirar maior satisfação. Algumas iniciativas, como hora de ocupação livre ou tempo para meditação no local de trabalho foram já incorporadas por certas empresas que, após a inclusão destes elementos, notaram uma subida considerável na produtividade.

! Figura 45 – “Office Yoga”, meditação no local de trabalho, stock photos 2009

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 94!“Para obter a totalidade de benefícios do movimento slow, é preciso ir mais fundo e repensar a aproximação a tudo. Um mundo genuinamente Slow implica nada menos que uma revolução do estilo de vida.” – Traduzido pelo autor

!

!

113!


Trata-se no fundo de uma insubmissão ao relógio, uma ideologia de vida que se fundamenta no ritmo do ser humano, deixando que ela decorra de forma mais natural e segundo o relógio biológico e o lado mais emotivo do ser humano. Isto representa uma postura que nos sugere tirar-se o tempo necessário para ponderar, analisar os acontecimentos e tomar decisões bem pensadas, dando tempo ao pensamento Slow. Honoré, (2004: 120) separa este tipo de pensamento do pensamento Fast quando nos diz que, “Fast Thinking is rational, analytical, linear, logical. It is what we do under pressure, when the clock is ticking; it is the way computers think and the way the modern workplace oper- ates; it delivers clear solutions to well-defined problems. Slow Thinking is intuitive, woolly and creative. It is what we do when the pressure is off, and we have the time to let ideas simmer at their own pace on the back burner. It yields rich and subtle insights."! 95

Estas mudanças visam atribuir importância ao que é mais emotivo, prova disto é o Slow Parenting, conceito que visa antes de mais dedicar tempo à família e principalmente às crianças, acompanhando o seu crescimento e a sua educação de forma participativa e inclusiva. Este remete parte da educação directamente aos pais, apoiando o papel destes no percurso académico dos filhos. Representa uma atitude de valorização das relações humanas, principalmente no primeiro círculo familiar, na qual o ser humano e a sua dimensão social surgem em primeiro plano. Valoriza-se igualmente a dimensão das relações humanas, não enquanto meio de crescimento económico e profissional, mas o estabelecimento de ligações significativas de vizinhança e comunidade, de interajuda e solidariedade.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 95!“o pensamento rápido é racional, analítico, linear, lógico. É o que fazemos sob pressão, quando o relógio está a contar; é a forma como os computadores pensam e a forma como o local de trabalho contemporâneo opera; O pensamento lento é intuitivo, menos claro e mais criativo. É aquilo que fazemos quando a pressão está desligada e temos tempo para deixar as ideias amadurecer ao seu próprio ritmo, mais tarde. Contém ricas e subtis introspecções.” – Traduzido pelo autor. !

114!!


À luz destes conceitos, torna-se evidente que se nutre o respeito pelo colectivo e aquilo que este representa assim como o orgulho em fazer parte de um lugar que, apesar de relativamente modesto, é único e permanece genuíno. Este movimento toma acção contra aquilo que Vírilio (2000a: 46) expõe enquanto um perigo futuro, quando relativamente ao mundo digital e as relações mantidas por este meio refere que: “se amanhã amarmos unicamente o longínquo sem estarmos conscientes de que se odeia o próximo porque ele está presente (...) que incomoda, ao contrário do longínquo que se pode fazer desaparecer, portanto se amanhã começamos a preferir o longínquo em detrimento do próximo, destruiremos a cidade."! Nas comunidades Slow esta preocupação está presente de forma natural, valorizando-se esta proximidade entre pessoas. A ideia de Slow Gardening propõe uma forma de agricultura de pequena escala, o tratamento agrícola isente de produtos químicos que visam a protecção das plantas ou o seu crescimento rápido, revelando uma preocupação com auto-subsistência, acesso a produtos biológicos e necessidade de uma forma de terapia e de relaxamento em sintonia com a natureza. Como referimos, este conceito passa igualmente por dar tempo à natureza de fazer o seu “trabalho” naturalmente, sem aditivos, e desta forma não só obter produtos mais saudáveis mas igualmente ter a possibilidade de acompanhar o seu crescimento lento. Directamente ligada está a preservação da natureza e com ela a ideia de Slow Gardening, sendo que as hortas comuns são um elemento marcante para a aproximação da comunidade. A proximidade natureza está também presente no Slow Tourism, um conceito de turismo que foge à ideia comum, que tem como destinos os grandes centros icónicos do mundo. Este não se centra nos lugares clichê e facilmente reconhecidos nas fotografias como por exemplo: a Torre Eiffel, Estátua da Liberdade ou Torre de Pisa, mas sim nas Slow Cities e na descoberta dos seus pequenos prazeres e valores culturais, características locais, gastronómicas ou a beleza da paisagem, a experimentação da atmosfera oferecida pela arquitectura.

!

115!


No fundo a descoberta daquilo a que Zumthor (2006b: 71) se refere quando, referindo-se ao nosso trabalho enquanto arquitetos, nos diz que “Não trabalhamos na forma, trabalhamos com todas as outras coisas. No som, nos ruídos, nos materiais, na construção, na anatomia.” O mesmo autor intitula esta abordagem como “Slow Architecture” (2206: 73) 96 . Nesta descoberta Slow dos lugares, o volume do turismo é muito inferior ao turismo em massa, não assenta na estadia em grandes hotéis luxuosos, mas sim em pequenas pousadas, consequentemente representa um lucro muito inferior para as cidades que o recebem. Há uma inversão da lógica hipercapitalista do Fast Living, o interesse reside em oferecer a possibilidade de conhecer e pertencer à comunidade, sem que o volume turístico se torne num problema para a qualidade da experiência e os seus objectivos. As Slow Cities reconhecidas oficialmente pelo Movimento Slow devem cumprir um limite máximo de 50.000 cidadãos, com o objectivo de não acelerar a cidade pelo numero de pessoas que a percorrem diariamente. Esta medida está directamente relacionada com o Slow Tourism, é uma das limitações que visa manter as características das localidades. O Slow Living apoia o desenvolvimento pessoal em detrior do crescimento quantitativo da cidade. Valoriza-se o crescimento intelectual. A filosofia é: ter tempo para pensar e melhorar a vida. Apoia-se a leitura em detrior da televisão, a meditação em detrior do consumo desmedido de informação, a observação em detrior da distracção e entretenimento, a pausa contemplativa num café que se vira para uma paisagem natural em detrior de noites passadas em discotecas com grande afluência de pessoas. Neste sentido podemos afirmar que o Slow Living surge como uma visão significativamente introspectiva da existência. A natureza tem igualmente uma grande presença no Slow Living, não apenas enquanto áreas de cultivo, mas também a preservação das zonas naturais que permitam o seu usufruto em comunidade e ofereçam um espaço de contemplação e meditação. Este estilo de vida assenta igualmente na utilização de tecnologias locais, muitas vezes antigas e ultrapassadas em vez dos novos meios mecânicos e tecnológicos.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 96!Em: ZUMTHOR, Peter., Atmosferas, 2006.! 116!!




Por exemplo, pode-se perpetuar uma determinada forma ou técnica de cultivo ou de construção enquanto parte da cultura local e meio de manter tradições e outros traços culturais, rejeitando formas menos dispendiosas ou demoradas para chegar a um fim semelhante. Esta filosofia assenta no orgulho pelo que é local e característico, enaltecendo os traços que tornam cada comunidade única. Rejeitando a ideia de aldeia global, o que as une é um desejo de proteger os aspectos unicos e que distinguem as suas comunidades.

! Figura!!48!2!CittáSlow de Alleghe, Italia

Na economia Slow encontramos a preferência pelas trocas económicas locais e de número consideravelmente reduzido mas mais distribuído, reflecte um pensamento que, não sendo propriamente anti-capitalista, defende a movimentação do capital pelos comerciantes em detrior dos grandes lucros das corporações. Ou seja, quando assistimos a situações em que, por exemplo, o pão é comprado numa pequena padaria, o peixe numa peixaria familiar e os alimentos vegetais num mercado de rua, em vez de todos estes produtos serem adquiridos numa cadeia de hiper-mercados, podemos falar aqui de uma economia mais consciente que reverte a favor do produtor e transformador individual/de menor escala.

!

119!


Cortando a margem de lucro das grandes superfícies que adquirem os mesmos produtos por um preço reduzido. Isto traduz uma responsabilidade social que passa igualmente pela sustentabilidade. Como nos diz Montaner (2011: 109): “Ciertas possibilidades tienen cada vez más relevância, como el comércio justo, que consolida un tipo de consumo responsable donde puede garantizarse que lo que compramos se ha cultivado y transportado con garantias para sus productores (...) Si los usuários y los gobiernos locales exigirem electrodomésticos que ahorren energia, automóviles que utilicen energias alternativas y vivendas ecológicas y bien diseñadas, el mercado no tendría otro remedio que ofrecer estos nuevos productos.”! 97

A propósito desta abordagem da economia Slow Imbroscio (2003), citado por Mayer (2006: 3) diz-nos que ela “Presents six elements of an alternative economic development regime. These include strategies to increase human capital and community economic stability, to provide for proper accounting of development costs and benefits through public balance sheets, the development of asset specificity, economic localism, and lastly the development of alternative institutions.”! 98

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 97!“Certas possibilidades têm cada vez mais relevância, como o comércio justo, que consolida um tipo de consumo responsável onde se pode garantir que o que compramos foi cultivado e transportado com garantias para os seus productores (...) Se os usuários e os governos locais exigirem electrodomésticos que guardem energia, automóveis que utilizem energias alternativas e vivendas ecológicas e bem desenhadas, o mercado não teria outro remédio sem ser oferecer estes novos produtos.”– Traduzido pelo autor.

!

98!“Apresenta seis elementos de uma economia alternativa num regime de desenvolvimento. Estes envolvem estratégias para aumentar o capital humano e a estabilidade económica da comunidade, para oferecer uma economia de desenvolvimento que beneficia através de folhas de conta públicas, o desenvolvimento especifico do capital, localismo económico e o desenvolvimento de instituições alternativas.” – Traduzido pelo autor.

120!!


Verificamos que o Slow Living é geralmente sinónimo de viver de forma sustentável, tomar consciência do consumo desmedido e fazer os possíveis para diminuir a pegada ecológica. As comunidades Slow estão muitas vezes ligadas a iniciativas como a reflorestação e utilização de energias renováveis. Este conceito de sustentabilidade passa pela recuperação e reutilização de materiais e edifícios, mantendo ou não a sua função. Há uma mentalidade de (re)aproveitamento e de redução de desperdício. O Slow Living implica também uma diminuição das deslocações e da utilização automóvel, muito pelas suas características poluentes, por constituírem uma fonte de ruído e por perturbarem visualmente a vivência lenta da cidade. Assim, há uma preferência por meios de transporte alternativos, como bicicletas, skates ou patins. Apesar da geomorfologia desempenhar um papel fundamental neste tipo de iniciativas, verificamos que funciona por não haver grandes distâncias a percorrer entre os pólos importantes das localidades e por haver vias com condições para tal. Montaner (2011: 111) refere que a procura pela qualidade começa, " Desde la terraza en la habitacíon, que permite darse un respiro y disfrutar de una vista exterior; la accesibilidad y proximidade de espacios comunitários; la calidad de los espacios y edifícios públicos; hasta un buen sistema de transporte público rápido y de alta frecuencua que haga evidente el consumo de tiempo y energia malgastada en los vehículos privados!

99

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! ! 99!“Desde o terraço na habitação,

que permite apanhar ar e desfrutar de uma vista exterior; a acessibilidade e a proximidade de espaços comunitários; a qualidade dos espaços e edifícios públicos; até um sistema de transportes públicos rápidos e de alta frequência que torne evidente o consumo de tempo e energia mal gasta nos veículos privados.” – Traduzido pelo autor.!

!

121!


Um dos mottos deste estilo de vida é o “think global, act local” (pense globalmente, haja localmente), mas a mentalidade é por vezes fechada devido às características do meio, na medida em que se foca apenas nos seus pequenos problemas locais. e falha precisamente em pensar de forma global, pois não tira partido das suas potencialidades. Apesar de não significar estar isolado do mundo, muito devido a este fechar sobre si, a chegada da informação às comunidades Slow é consideravelmente rarefeita. Ausência de desenvolvimento muitas das vezes significa ausência de educação no sentido académico, o que, aliado a um baixo número de instituições e habitantes, leva a que a especialização dos profissionais nestas cidades seja inferior. Resumidamente, viver de forma Slow significa tirar o tempo necessário, com o objectivo de atingir um bem estar pessoal, comunitário e de envolvente. Esta assenta em pressupostos como a cooperação, respeito pelo próximo e pela natureza. Por estas razões o Slow Movement defende que o Slow Living é sinónimo de Mindful Living 100 , nomeadamente para os problemas contemporâneos que tocam questões ambientais, económicas e sociais. Esta vivência, que muitos estão a procurar por se sentirem exaustos e insatisfeitos com o estilo de vida metropolitano, parece mais difícil atingir agora do que no passado. Estando o Fast por todo o lado, apreciar a comida, uma conversa com amigos, familia ou um passeio pelo parque é uma raridade. O Slow procura precisamente este degustar da vida, sugerir uma vivência mais profunda e significativa atenta ao momento presente. É uma iniciativa não só de carácter filosófico, mas de saúde, psicológico, sociológico e espacial. Passando pela atenção à componente sensorial, aos estimulos que recebemos. Segundo Martin Langeveld (2012)101, “o Slow Living passa por viver dentro das possibilidades pessoais e do planeta, pela construção de comunidades sustentáveis e com iniciativas baseadas nas necessidades das pessoas, da sociedade e dos ecosistemas.” mas de que forma estas cidades permitem que assim seja?

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 100 !Uma vida atenta e consciente.! ! 101 !Jornalista Estaduniense, com publicações no jornal The Berkshire Eagle, The Transcript e The Reformer, presidente e director da secção Interactive Media do jornal New England.! 122!!



124!!


2.2.1 – Conceito de Slow City.

Segundo o Movimento CittáSlow “a ideia Inerente às Slow Cities é que o bem estar dos seus habitantes depende de uma relação saudável com as pessoas e o lugar que se habita.”102 Partindo do principio que o ser humano deve deixar de ser unicamente o producto da sua envolvente e que deve sim fazer com que a sua envolvente seja um producto consciente de si próprio. O principal objectivo destas cidades é promover o crescimento pessoal em simultâneo com o crescimento da comunidade. Baseiam-se nesta relação qualitativa, quer na dimensão pública quer na privada e numa participação activa da comunidade nas decisões políticas das cidades, principalmente nos aspectos relacionados com a arquitetura e o urbanismo. A Slow City conquista, não enquanto ícone ou destino com grandes oportunidades profissionais, mas sim enquanto refúgio e alternativa, oferecendo uma possibilidade de vida mais ligada ao ambiente e ao ritmo natural do ser humano. É a reacção física àquilo que Vírilio (2000a: 60) descreve como:

“a poluição da extensão Dromoesférica que atinge o espaçotempo do planeta. Reduzido a nada. Degradando as relações do homem com o meio ambiente (...) aquela que atinge a vivacidade do sujeito e a mobilidade do objecto ao atrofiar o trajecto, a ponto de o tornar inútil. Invalidez maior, resultante simultaneamente da perda de corpo locomotor do passageiro, do telespectador, e da perda dessa terra firme, desse grande solo, terreno de aventura da identidade de estar no mundo.”! 103

Segundo esta linha de raciocínio, este fenómeno poderia ser interpretado como mais um pouco de controlo que o ser humano ganha ao mundo.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 102 !Texto disponível online a 15 de Dezembro de 2012 no sítio da internet: http://www.cittaslow.org/! ! 103 !Quando Virílio menciona a poluição Dromoesférica, refere-se à geoesfera habitável do mundo comum, em suma: o mundo real e físico.! !

125!


Não no sentido de domínio ou tirania, mas na medida em que o altera e o molda à sua imagem, que o modifica enquanto parte integrante dele e factor condicionador, não é recente que o mundo seja producto do homem, é recente apenas quando falamos de tempo. É importante contudo não perder o controlo da inovação e principalmente não deixar que a inovação consuma

o

genius

loci

104

,

as

Slow

Cities

administram

esta

teoria.

Silva (2010: 100)105 diz-nos que

“quando viajamos entramos numa cápsula de despressurização e viajamos pra uma realidade paralela e abstraímo-nos de toda a carga de stress do nosso dia-a-dia e realmente apreciamos as coisas com olhos de ver, reparamos nas coisas que à partida não nos diriam nada num qualquer dia de trabalho normal, e que passamos a apreciar uma coisa que à partida seria banal e comum.”

! Consideramos

esta

metáfora

pertinente,

por

desta

forma,

podemos

comparar as CittáSlow a pequenas cidades que se pretendem tornar pontos de turismo permanente para os locais. Na medida em que facultam a oportunidade de apreciar de forma mais pontuada e significativa as cidades onde, pelo baixo número de habitantes, não há a necessidade de edificar acima dos 3 andares, e, pelo custo relativamente baixo do solo não há razão para o rentabilizar. Existe o interesse em manter a comunidade enquanto pequeno aglomerado, rejeitando os aspectos das áreas mais urbanizadas e mantendo uma atmosfera própria e geralmente bucólica.!

! ! ! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 104 !Do Latim “Espírito do Lugar”. ! 105 !Em: CHAVES, Mário, et al. Cidades Flexiexistencialistas, 2010.! 126!!


Tendo estes aspectos em conta e com base nos critérios que apresentamos no Anexo1 da página 205, desenvolvemos tabelas para algumas das cidades Slow em pontos afastados no panorama mundial, com o objectivo de compreender quais os seus pontos comuns e consequentemente quais os aspectos chave que caracterizam estas pequenas e que podem ser mencionados

a

titulo

comparativo,

assim

como

as

diferenças

que

apresentam relativamente aos centros urbanos Fast. As tabelas dividem-se em 11 partes que consideramos os elementos gerais por serem imprescindiveis ao funcionamento da cidade, sendo que cada parte se subdivide em dois aspectos. A recolha de dados foi efectuada pelo estudo de demografia, de observação de ortofotomapas e axonometrias tomando em consideração a escala e através de pesquisa e de informação fornecida pelas entidades administrativas de cada cidade.!

!

127!


128!!














2.2.2 – Forma, Organização e Elementos da Slow City.

As Slow Cities são por norma cidades mais “baixas”, com skylines menos expressivos, cuja identidade própria se descobre principalmente ao percorrer as suas ruas e ao descobrir os seus recantos. Do ponto de vista formal estas cidades variam imenso. Em comum: a sua organização por norma menos racional/mais orgânica, a escala mais pequena e o número de ícones e elementos de referência muito inferior ao de uma Fast City. Do ponto de vista da organização, são geralmente unipolares, num registo mais antigo de cidade. A malha urbana é obtida por um processo mais orgânico que aparece como resultado de um conjunto de respostas que, ao longo do tempo, foram dadas a problemas específicos que foram surgindo, na sua génese não assentam num plano definido, situação que pode funcionar caso exista um maior afastamento entre o edificado, mas que se torna caótica quando existe uma densidade acrescida.

! Figura 56 - Vista aérea de Chiavenno, Italia

!

141!


São cidades cujo centro é, geralmente, bem reconhecido enquanto tal. Nota-se uma predominância de estabelecimentos mais pequenos, sem franchising, onde o serviço é personalizado e onde se servem geralmente pratos especiais típicos da região. A arquitectura destes espaços é dedicada á permanência, ao contrário da maior parte dos grandes estabelecimentos de Fast Food, onde o conforto é desenhado de forma a oferecer um bem estar temporário (por exemplo pela proximidade entre bancos e mesas impossíveis de deslocar, no material deste mesmo mobiliário ou no volume da música). Implica realmente um aumento do número de estabelecimentos de ensino, contudo distribuindo-os por comunidades e uma consequente diminuição do número de alunos por turma, com o objectivo de tornar o ensino mais pessoal e próximo entre aluno e professor. Um maior controlo das escolas, as suas entradas e saídas, oferecendo em alguns casos alguma capacidade aos pais para participar nesta atividade. Uma proximidade acrescida das escolas e das zonas de diversão para os mais novos (áreas de recreio e parques de baloiços) às habitações ou, por exemplo, localizando-as no interior de quarteirões onde são facilmente visíveis e controladas. A presença de pequenas pousadas pontuais, com uma escala pequena e um custo simbólico, directamente relacionada com a economia Slow, constituem uma fonte de rendimento baixo e mesmo mantendo a cidade num ritmo mais lento não financiam de todo o desenvolvimento destas. O número de habitações é relativamente baixo e disperso, não se apoiam grandes investimentos urbanísticos para

complexos habitacionais pois

interessa manter o número de habitantes controlado. Logo a imigração para estes centros é uma realidade muito ténue e limitada. A existência de zonas atractivas mas pouco conhecidas, com uma afluência baixa de visitantes. O sentido de comunidade é bastante vincado, a proximidade entre vizinhos e a existência de espaços públicos são de grande importância, não se verificam condomínios fechados. As hortas urbanas surgem em áreas privadas (por exemplo em quintais e logradouros) mas também em locais públicos designados para tal, seja em zonas anexas à cidade, a certos condomínios, na cobertura de edifícios ou, como foi recentemente proposto, no interior de quarteirões.

142!!


É mais difícil a inclusão destas hortas urbanas em zonas densamente urbanizadas, pois a falta de espaço e a poluição não o permitem.

Figura 57 - Horta Urbana em cobertura de edifício, Chicago, 2012

Os espaços verdes e a paisagem enquanto parte da cidade são essenciais nas Slow Cities, estas devem igualmente ter uma política de preservação das áreas naturais. Na grande parte do edificado está presente um técnica própria da localidade, costumes herdados que respondem a características da localização da comunidade como clima, níveis de precipitação ao longo do ano, tipo de solo, relevo do terreno e outras intrínsecas à cultura como questões formais e de organização específicas. Estas cidades nutrem um respeito notável pelas características locais e é comum a utilização de materiais locais para a edificação de novos edifícios, geralmente isto confere unidade às cidades e torna-as únicas. Com a ausência de grandes pontos de trocas, de importação e exportação, nas Slow Cities grande parte dos bens é consumido dentro da comunidade e as trocas com o exterior são raras. As Slow Cities apostam na sustentabilidade e na redução do consumo de energias fósseis, consequentemente assumem uma posição não poluente e estabelecem obrigatoriamente políticas de desenvolvimento sustentável. Uma das iniciativas presentes nas Slow Cities é o restauro e a reformulação de espaços e estruturas. O abandono de edifícios é geralmente “corrigido” ao se fazer acompanhar por uma nova função ou por novos habitantes que o adquirem e recuperam.

A ligação viária nas Slow Cities é relativamente

pequena, há uma grande proximidade entre os pontos de interesse. As estradas são, na maior parte dos casos, de uma ou duas vias.

!

143!



Uma quantidade considerável de ruas é destinada a trânsito pedonal. Sendo que grande parte destas cidades oferecem igualmente vias para os transportes alternativos. A escala do edificado é pequena e/ou média, evitase a construção em altura, em parte para não alterar a paisagem e porque não há real necessidade de o fazer devido ao baixo numero de iniciativas e de habitantes.

As Slow Cities são tendencialmente fechadas sobre si do

ponto de vista geográfico, centrando-se nos seus aspectos, potencialidades e fragilidades. A gestão é de pequena escala e o olhar pouco se estende sobre a globalidade e o desenvolvimento que dela pode depender, apesar das iniciativas crescentes para inserir tecnologia nestas cidades, nelas existe ainda um considerável afastamento relativamente a estas ferramentas.

! Figura 59 - Vista aérea de Todi, Italia

Havendo uma menor presença de hotspots de Wi-Fi, o que implica uma maior separação do mundo digital e das suas potencialidades, o reduzido numero de estruturas administrativas e de serviços destas cidades Slow têm geralmente apenas o essencial para o seu funcionamento básico, e quando é necessário algo mais específico a população deve deslocar-se a outra localidade. Como conclusão do segundo subcapítulo, elencamos uma série de características que permitem definir em síntese o fenómeno do Slow nas medidas de vivência e de cidade. Tal como acontece nas Fast Cities, estas características estão directamente ligadas (Living e City) e influenciam-se mutuamente.

!

145!




148!!



150!!


3.1. – Equalizando o Balanced Living e a Balanced City.

A necessidade de abrandar é flagrante nas grandes cidades, várias iniciativas como a “Slow Down London” ou a recente mudança dos tempos de passagem pedonal em Nova Iorque demonstram exactamente a crescente vontade de reduzir a velocidade. Equilíbrio é em si um conceito que associamos a uma abordagem virtuosa independentemente do tema: entre outros, uma dieta equilibrada, o equilibrio social, a estabilidade e o equilíbrio emocional, profissional, familiar, económico… a verdade é que o conforto encontra-se para nós no equilibrio da esmagadora maioria das situações, o ser humano não está confortável num calor extremo ou num frio extremo, numa sala demasiado iluminada ou com falta de luz, da mesma forma que não está confortável numa cidade demasiado Fast ou demasiado Slow. É apenas normal que se comece a ouvir falar em medidas para corrigir alguns dos aspectos urbanos que provocam o desiquilíbrio. Esta é uma mudança de perspectiva relativamente à forma de viver a cidade que faz todo o sentido até de um ponto de vista biológico e psicológico; Kahneman fala-nos de dois sistemas psicológicos distintos que formam um todo, um primeiro Fast e um segundo Slow que formam a nossa percepção do mundo e definem as nossas tomadas de decisão. Kahneman (2011:20) explica-nos que “o sistema 1 opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço voluntário” e que “o sistema 2 foca a atenção em actividades mentais que necessitam de esforço, incluindo computações complexas.” 106 É dado um exemplo prático simples que demonsta a forma como estes dois sistemas operam com a seguinte figura:

Figura 62 – Ilusão de óptica de Müller-Lyer.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 106 !Em KAHNEMAN, Daniel., Thinking, Fast and Slow, 2011.! !

151!


Numa primeira fase temos instintivamente a percepção de que a linha superior é menor, mas após verificar com uma régua ou outro instrumento de medição, verificamos que se trata de uma ilusão e as linhas têm o mesmo comprimento. Kahneman (2011:27) explica: “Agora que mediu as linhas, você – o seu sistema 2, o ser consciente a que chama eu – tem uma nova crença: Sabe que as linhas são iguais.” Isto é um exemplo que consideramos pertinente, por demonstrar que a percepção está dividida e que não nos basta ver a perceber instintivamente o mundo, mas é também necessário tempo para poder realmente ver e perceber as coisas. É assim fácil compreender que o equilibrio significa ter a possibilidade de duas abordagens distintas. Compreendemos que isto é uma necessidade inata ao ser humano, a dualidade da emoção e da razão. Kahneman (2011:69) refere também que “Quando estão de bom humor, as pessoas tornam-se mais intuitivas e mais creativas mas simultâneamente menos vigilantes e mais propícias a erros de lógica (…) a conexão faz sentido de um ponto de vista biológico.” e que (2011:393) “Pessoas que são capazes de relembrar situações passadas em detalhe também são capazes de reviver os sentimentos que as acompanham, até mesmo sentir as suas passadas alterações fisiológicas que acompanham as emoções.” Com isto podemos reforçar a noção de que ambas as abordagens são complementares e permitem ter visões distintas de uma mesma situação, cada uma com falhas e virtudes próprias, mas com potencial que deve ser direccionado dependendo da situação e ambas necessárias ao bom funcionamento humano, tal como o Fast e o Slow – O Balance. As Cittáslow surgem como alternativa a este estilo de vida apressado e representam cada vez mais uma escolha a ter em conta. Contudo estes movimentos distintos deparam-se com um paradigma: a cidade deixa de crescer e perde potencial, principalmente do ponto de vista económico e torna-se demasiado redutora e estilizada, museificando-se e subsistindo de forma rudimentar, ou então aumentando o número de turistas, de iniciativas e população, perdendo o seu carácter Slow. Após a análise das duas abordagens, consideramos que ambas apresentam fragilidades.

152!!


Nesta linha de raciocínio, achamos importante definir uma estratégia que direcione o crescimento urbano de forma equilibrada, colocando em confronto as duas visões de cidade, adoptando as iniciativas que funcionam e descartando as que não funcionam de ambas. Após aprofundar o conhecimento sobre os vários aspectos das abordagens Fast e Slow, nas suas dimensões de Living (Enquanto estilo e filosofia de vida) e City (enquanto espaço que acomoda a respectiva vivência) foi-nos permitido elencar a uma série de elações que revimos e discutimos abertamente, que visam estabelecer as linhas directrizes de

uma

nova

abordagem

para

a

organização de cidade, a Balanced City. Honoré (2004: 15) defende que “The Slow philosophy can be summed up in a single word: balance. Be fast when it makes sense to be fast, and be slow when slow- ness is called for. Seek to live at what musicians call the tempo giusto.” 107 e refere ainda, numa entrevista pelo autor em 2012, que "Slow is not anti-Fast, it's about finding the right speed."108Dentro desta linha de raciocínio, Mayer (2002: 4) refere que “Slow means to find a balance between the three E’s refer to the environment, the economy, and equity in society. As Campbell (1996) notes, finding a balance between the three E’s is not easy in practice because of various conflicts associated with relationships between the goals.”!

109

Assim, compreendemos facilmente que o equilíbrio deve ser, pelo menos, uma alternativa a ponderar.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 107 !“A filosofia Slow pode ser resumida numa única palavra: Equilibrio (Balance). Ser rápido quando faz sentido ser rápido, e ser lento quando a lentidão é necessária. Procurar viver de acordo com o que os músicos chamam de tempo certo.” – Traduzido pelo autor.

!

108 !“O Slow não é anti-Fast, é sobre encontrar a velocidade certa.” – Traduzido da versão original

em diálogo com HONORÉ 23 de Dezembro de 2012.!

!

109 !“o Slow significa encontrar um equilibrio entre os três E’s, que dizem respeito ao ambiente

(environment), à economia (economy) e a equidade (equity) na sociedade. Encontrar um equilibrio entre os três E’s não é fácil na prática devido a vários conflitos associados à relação entre os objectivos.” – Traduzido pelo autor.!

!

153!


Questionando as duas abordagens (Fast e Slow) e visando atingir, pelo confronto e discussão de ideias, o modelo urbano mais adaptado às exigências do homem e do mundo contemporâneo. Acreditamos que o consumismo, apesar de ser uma das principais razões do aceleramento desmedido

das

sociedades

Fast,

é

uma

necessidade

do

mundo

contemporâneo pois traduz-se imperativamente em crescimento. Não podemos deixar de compreender a sua importância quando vivemos numa sociedade

capitalista

em

que

o

lucro

representa

capacidade

de

(re)investimento, o que significa possibilidade de novas iniciativas, postos de trabalho e criação/necessidade de estruturas. LOW (2005:12) refere que “closing of the general motors automobile factory in Flint, Michigan, and the resulting unemployment of workers, disinvestment in the community, declining standard of living, and subsequent deterioration of family and personal life”110 de tal é também exemplo o recente caso de Detroit. Nas cidades não industrializadas ou desindustrializadas, teremos de ter o aparecimento de uma alternativa (como o coworking internacional ou o trabalho à distância) ou assistiremos a uma diminuição dos postos de trabalho, da distribuição do poder de compra e um possível aumento da criminalidade. As novas formas de trabalho cooperativo retiram alguma força á polarização das grandes cidades fast e descentralizam os pontos económicos de referência, contudo e apesar das novas abordagens possíveis, o capitalismo “moderno”, desde que controlado e justo (não entrando numa lógica hipercapitalista), é desde o sec XIV o principal motor de desenvolvimento das cidades, permanecendo como uma das fontes seguras. Outro aspecto do Fast que consideramos importante e que deveria ser mantido é a competitividade e a consequente multiplicidade de serviços disponíveis numa cidade, pois leva não só a que o leque de escolhas seja superior mas igualmente a que existam os mesmos bens e serviços para cidadãos com possibilidades económicas distintas. Esta realidade não se limita à cidade propriamente dita, mas também à sua posição no mercado global.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 110 !“O fecho da fábrica da General

Motors em Flint, Michigan, e o resultante desemprego dos trabalhadores, desinvestimento na comunidade, declínio da qualidade de vida e subsequentemente a deteriorização da vida pessoal e familiar.” – Tradução do autor.!

154!!


Friedman (2010:30) relativamente ao controlo do capitalismo e ás condições de trabalho de empresas outsourcing, nomeadamente uma de apoio ao cliente 24/7 localizada na India, assegura que elas “assemelham-se ás de uma companhia norte-americana media. Apesar de ter a certeza de que há call centers onde os colaboradores não têm quaisquer condições de trabalho e são muito explorados (locais internacionalmente designados por sweatshops), o “24/7” não funciona assim.” Logo é possivel imprimir responsabilidade não só no trabalho local como nos recursos ao trabalho fora do país. Não só é uma questão de ética e respeito pelos trabalhadores e consumidores, como é uma questão de auto-preservação num sistema económico em mudança, Friedman (2010:479) diz-nos igualmente que “à medida que os países se iam integrando no tecido do comercio internacional e aumentando os seus padrões de vida, o custo da Guerra, seja o da vitória ou o da derrota torna-se proibitivamente elevado” - Porque representa um corte nas relações comerciais e da interdependência entre países. Já todos começamos a perceber, a uma escala global, que o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida, surge do equilibrio. Friedman refere também (2010:480) que “para um país sem quaisquer recursos naturais, fazer parte de uma cadeia global de abastecimento é como encontrar petróleo – petróleo que nunca se esgotará.” Com isto defendemos uma economia inclusiva e que um monopólio, independentemente do sector onde se enquadra, é um elemento nocivo e redutor pelas razões que apresentamos, estagnando a evolução do mercado, produtos e serviços. Porém concluímos que esta competitividade não deve assentar em iniciativas publicitárias exageradas, pois constituem uma forma de poluição (visual) e os seus suportes podem constituir um deficit na leitura e na vivência urbana. Kahneman (2011:22) diznos que “As diversas operações do sistema 2 têm uma característica em comum: elas necessitam de atenção e são afectadas quando a atenção é perturbada.” Ou seja, a cidade não deve ser um grande placar publicitário; Defendemos aqui uma política de marketing consciente, contida e nãoinvasiva, na media em que não se deverá reflectir com exagero no espaço público.

!

155!


A titulo de exemplo: mupis, outdoors, vinis nos transportes públicos, grande numero de flyers e catálogos deveriam ser controlados e colocados apenas em espaços estudados para o efeito, onde não constituam um problema para a leitura do espaço e uma limitação nos aspectos de mobilidade.

! Figura 62 - Publicidade da McDonalds, corporação de Fast Food

Consideramos fundamental o desenvolvimento da cidade, pois hoje em dia, e apesar de serem necessários, não podemos viver apenas de paisagens e jardins. O sistema social atual engloba todo um leque de serviços que necessitam de estruturas e que por sua vez dependem de potencial económico público e privado. Mais do que simples centros comerciais ou edifícios de negócios, hoje as necessidades justificam ainda mais estas opções quando pensamos em realidades como os mercados livres. Friedman (2010:157) refere que: “é muito fácil diabolizar os mercados livres e a liberdade de proceder ao outsourcing e offshoring porque é muito mais fácil ver as pessoas que sao despedidas aos montes do que aquelas que sao contratadas as cinco e dez de cada vez por pequenas e medias

empresas.

(…)

relativamente

a

uma

operaçao

de

outsourcing na china, uma empresa americana Donaldson Co.Inc. permitiu que se continuasse a fabricar um producto que ja não poderia ser produzido com lucro nos estados unidos (o que levaria a empresa a falir) e que esta se continuasse a desenvolver nos dois continentes de forma a criar postos de trabalho em anos”!

156!!


Consideramos que este é um exemplo de equilibrio económico a uma escala global, algo que, quando bem equacionados os elementos funciona e permite que por último o desenvolvimento seja pluripolar. Para pensar de forma equilibrada é necessário pensar globalmente, isto por uma razão muito simples: ou se equilibra localmente e esse equilibrio será afectado pelas novas necessidades globais (e correrá o risco de se isolar e alienar por não se encontrar preparado) ou se aborda globalmente a questão e se procede a uma reformulação gradual pensando globalmente, com pequenos ou médios exemplos que terão uma repercursão noutras comunidades. Para isto é necessário que se liguem em rede. Este é o exemplo do movimento Slow, do qual pouco ou nada saberiamos se não tivesse sido divulgado pelos novos meios de comunicaçao e assim fosse transmitida a iniciativa, algo que um pouco por todo o mundo se foi concordando e aderindo. Este parece ser o caminho, mesmo que pequenos pontos comecem a “revolução” esta terá realmente impacto se forem acontecendo em vários pontos do mundo de forma multipolar e viral, e inclusive forem discutidos e adaptados a realidades distintas. Friedman (2010:255) pronuncia-se relativamente ao outsourcing na Indía quando nos explica que:

“eles querem níveis de vida mais elevados e não fábricas que exploram os operários; querem artigos de marca e nao coisas velhas (…) e quanto mais escalam, mais espaço é criado no topo – porque

quanto mais têm mais gastam, mais diversificados se tornam os mercados de productos e mais nichos de especialização são criados (…) quando aperfeiçoarem algumas destas soluções rentáveis nos seus mercados permitem um programa de saúde na india que cobre os mais carenciados por apenas 10 dólares ao ano, portáteis de baixo custo, telemóveis baratos e até uma companhia aérea low cost Indiana.”

!

157!


Iniciativas comerciais e empresariais são assim imprescindíveis para o crescimento

equilibrado

da

cidade.

Acreditamos

também

que

o

congestionamento automóvel deve ser evitado ao máximo, a organização e ligação dos pólos por meio viário deve ser reduzido em prol de alternativas mais sustentáveis. A questão dos congestionamentos e, nomeadamente, o tempo passado na estrada é uma preocupação da nossa procura pela cidade equilibrada, contudo a redução do numero de veículos não é o único elemento que permitirá que isto aconteça. É necessária uma eficiente organização e ligação dos pólos. O que é aqui objecto de reflexão é a forma como podemos ligar estes pólos principais e com vias que não interfiram directamente com os restantes elementos da cidade e a criação de ligações com formas alternativas o suficientemente convidativas para que haja uma adopção em massa por parte dos habitantes e visitantes. Exemplo disto é o caso de Londres, onde se instalaram bicicletas públicas activadas com cartão/passe de transporte público, existem vários pólos de “entrega” automatizados; As pessoas podem sair do metro e levantar uma bicicleta para se deslocarem até uma paragem de autocarros, um jardim, um museu ou outro ponto de interesse e colocar a bicicleta lá, onde outra pessoa pode levantar e utilizar para se deslocar até outra paragem. Toda a actividade é monitorizada digitalmente e o número de bicicletas e paragens é aumentado ou reduzido segundo os fluxos de utilização. O caso das bicicletas de utilização gratuita de Aveiro é diferente, limita-se por existir apenas um local de levantamento e devolvimento das bugas, são no fundo uma forma de passeio e não propriamente de deslocação alternativa, é algo a ter em conta neste tipo de iniciativas. A localização das vias e a implantação das indústrias fabris devem ser igualmente fruto de um estudo meticuloso e não por conveniência ou planos de zoneamento pensados apenas do ponto de vista económico, mas igualmente do ponto de vista de qualidade de vida e tendo em conta as possibilidades de conflitos e interesses. Desta forma deverse-ão afastar da cidade, sem que, no entanto, o seu afastamento tenha como consequência um decréscimo no valor da cidade e das estruturas.

158!!


Do ponto de vista geográfico o afastamento das zonas industriais é uma necessidade para a evolução das cidades como um todo, reservando para o centro o sector terciário da economia. Consideramos autoevidente que a poluição representa um impacto negativo principalmente nas grandes cidades. Uma grande numero de estudos tem sido desenvolvido nas últimas duas décadas apenas tem confirmado este problema. Um estudo recente111 de Beate Ritz, professora e investigadora no departamento de Epidemiologia da UCLA confirma-nos que: “evidence is emerging that air pollution exposures in pregnancy and early childhood put children at higher risk of adverse health outcomes.” A localização das indústrias fabris e o tráfico automóvel deve ser cuidadosamente pensada a fim de não causar um factor de diminuição da qualidade do ar/água e consequentemente da qualidade de vida. Do ponto de vista económico um afastamento em demasia das industrias leva a que também uma parte da população se afaste da cidade, nomeadamente os operários, levando a um aumento da dispersão habitacional e ao aparecimento dos “turistas residentes”: aqueles que moram nos arredores da cidade e que a usam apenas de visita. Directamente ligada a esta situação encontramos outro factor chave que constitui um dos problemas da cidade Fast, a poluição Sonora, descrita como estímulos auditivos não desejados e geralmente excessivos. Um estudo112 liderado por Barbara Hoffmann, professora de edidemologia no instituto de pesquisa de Leibniz, referindo-se à poluição sonora e atmosférica, confirma-nos que “both at the same time and found that each form of pollution was independently associated

with

subclinical

atherosclerosis”.

Verificamos

assim

que

a

próximidade de zonas habitacionais, de lazer, de educação e de comércio às fontes de ruído deve ser também cuidadosamente calculada no planeamento urbano.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 111!Disponível online a 29 de Outubro de 2013 no sítio da internet:

http://www.environment.ucla.edu/reportcard/article.asp?parentid=1700!

!

112!Disponível online a 29 de Outubro de 2013 no sítio da internet:

http://www.eurekalert.org/pub_releases/2013-05/ats-sfa051313.php!

!

159!


As plataformas aéreas devem ser implantadas a uma distância suficiente relativamente ao centro urbano de forma a evitar que este constitua um problema na sua acústica. Uma sugestão seria colocar estas plataformas para lá das zonas indústriais, aproximando as fontes de ruído tendo em conta a direcção das pistas de aterragem para não existir um conflito entre a visibilidade e a produção de fumos indústriais. A acrescer ao afastamento entre estas áreas, soluções como a utilização de edifícios de fronteira e vegetação enquanto filtro acústico deverão ser tidas em conta na (re)formulação das cidades para obter uma Balanced City, verificamos o sucesso destas medidas simples quando consideramos situações como o edifício da Gulbenkian. Defendemos que para o bom funcionamento de uma cidade é necessária uma rede de transportes públicos eficiente, adaptada à sua escala, uma ligação rápida entre pólos com o maior número de ligações possíveis, reduzindo ao máximo a utilização do automóvel. Em primeiro lugar isto será benéfico porque corresponde a uma redução de emissões, a diminuição do numero de veículos privados e a consequente redução de trâsito. Em Segundo porque é mais eficiente em cidades mais populosas. A acrescer a isto, um menor consumo de petróleo e um incentivo ás sociedades detentoras do monópólio de investirem em formas alternativas de comércio (por exemplo fabricação de productos ou mais inclusão no coworking e no networking). Acreditamos que a tecnologia e a automatização está directamente relacionada com a eficiência dos serviços, reduzindo o tempo dispendido em tarefas burocráticas e administrativas. A propósito, Furtado (2005: 14) defende que “devemos, conscientemente, apropriar e fazer uso criativo das novas tecnologias”, apoiando a mão de obra humana. Contudo todo o auxilio prestado por sistemas digitais e/ou mecânicos deve ser tomado em conta, pois representa uma mais valia e uma possibilidade crescente para a cidade equilibrada. Relativamente a isto, Friedman (2010:18) diz-nos que o mundo se está a tornar plano e que esta realidade não só nos oferece, como referimos, novas possibilidades comerciais, mas (2010:94) “está a reformular drasticamente os fluxos de criatividade, de inovação, de mobilização politica e de recolha e disseminação de informação.”

160!!


Acreditamos que a rentabilização do solo é um aspecto positivo da cidade contemporânea, com isto defendemos a habitação colectiva pois valoriza o centro atraindo população e melhorando a qualidade dos bens e serviços disponíveis. Com preços por metro quadrado em média de 10984€ - compra e 3984€ - arrendamento em Paris, 8308€ - compra e 4594€ - arrendamento em Tóquio, 11075€ - compra e 4748€ - arrendamento em Nova Iorque e 23720€ compra e 4966€ - arrendamento em Londres113, compreende-se facilmente a tendência para a construcção em altura nas Fast cities. Defendemos a rentabilização do solo e a consequente construcção em altura, contudo na medida

em

que

não

afecte

a

qualificação

do

espaço

público,

nomeadamente a incidência solar. É necessário ter em atenção para que o fenómeno de suburbanização não aconteça na periferia (por razões económicas, viver na periferia e trabalhar no centro), isto depende de um plano urbano que regule o tipo de construção e o valor que lhe é inerente. Lynch(1960:1) explica que na cidade “Nothing is experienced by itself, but always in relation to its surroundings, the sequences of events leading up to it, the memory of past experiences”114 ou seja, o processo de suburbanização por classes e custos reflecte-se na rotulação negativa dos seus habitantes. Por observação directa durante uma recente visita a Londres, retirei que algo de grande importantancia permite que a cidade funcione do ponto de vista de transporte e de mix social: a cidade segue uma série de regras que facilitam a deslocação. Apesar do número de habitantes, a inclusão cultural e de classes permite reduzir a “guetização” e isto permite ter uma sociedade e consequente uma cidade mais equilibrada. Consideramos que um modelo como o mapa de Burgess é demasiado simplista e pouco aplicável e adaptável às necessidades geomorfológicas, sociais e económicas de cidades distintas. Por oposição, o que aqui sugerimos é uma abordagem oposta a este zoneamento unipolar no que diz respeito a classes sociais.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 113 !Segundo estudos publicados pelo site http://www.globalpropertyguide.com

Conversões segundo valores do Mercado Internacional em 25 de Outubro de 2013.!

!

114 !“Nada

é experimentado por si só, mas sempre em relação com a sua envolvente, a

sequencia de eventos que levou ao seu acontecimento, a memória de experiências passadas.” – Traduzido pelo autor da versão original em LYNCH, Kevin., The Image of the City, 1960.!

!

161!


Propomos um mix social, aproximamos as áreas de trabalho, lazer e habitação próximas e situamos as áreas fabris em zonas anexas á cidade, servidas por transportes públicos. Estando a densidade directamente ligada com a proximidade dos pontos de interesse, desta forma reduzimos a distância e o tempo gasto em percursos. Situando mais serviços numa menor área e através de uma organização racional podemos melhorar o seu acesso e funcionamento. Colocamos a mesma questão que Jacobs (1998:2) coloca: “What happens to studies of housing, suburbia, the inner city, ghettos, gentrification, social polarization, and urban social movements when framed not by a theory of the city but by theories of difference?”

115

Simplificando-a

ao aceitar a diferença na cidade mas olhando-a como um todo, não uma soma de partes cujo valor e interesse varia de um ponto de vista puramente económico. Ou seja rejeitando, como referimos, a ideia de centro e arredores, mas defendendo um modelo de cidade multipolar. Este fenómeno tem vindo a acontecer, no Porto por exemplo, onde é realmente o seu centro? A baixa, a av. da boavista, a ribeira? Todos estes pontos representam centros menores que enrriquecem a cidade de forma muito mais equilibrada. Isto leva ao desaparecimento gradual dos arredores, a zona do Hospital de São João por exemplo, localizada num dos limites da cidade não se trata seguramente de um local marginal. A grande mais valia destes

múltiplos

“centros” é o facto de se ligarem em rede e de se assumirem enquanto parte de um todo, factor que contribui para a diminuição da marginalização. Apoiando a densidade, questionamos a proporção das cidades Fast, pois a relação que o edificado mantem com os vazios define a vivência de espaço público.

Figura 63 - Experiência de proporção de espaço público, Rua de Nova Iorque, 2012

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 115 !“que acontece a estudos de

habitação, suburbios, centro, guetos, gentrificação, polarização social e movimentos sociais urbanos quando enquadrados não em teorias da cidade mas em teorias de diferença.” – Tradução do autor a partir do original em JACOBS, Jane., Cities of Difference, 1998.,!

162!!


Dependendo do tipo de vias (pedonal ou automóvel) estas medidas devem ser adequadas à sua utilização, não sendo o espaço sobrante entre edifícios. Propomos que, à semelhança da resolução de zoneamento de 1916 relativamente ao crescimento de manhattan, seja instituidos regulamentos referentes à proporção entre cércias e espaço público adjacente. Estas medidas visam facilitar a renovação do ar e a incidência lúminica nas ruas e nos edifícios vizinhos. A título de exemplo, formulamos duas abordagens: uma em que a malha da cidade corresponde a uma ocupação do tipo A e cujo afastamento entre edificios em direcção Sul-Norte será a totalidade da altura dos mesmos, e uma em que a malha da cidade corresponde a uma ocupação do tipo B e cujo afastamento entre edificios em direcção sul-Norte será a metade da altura dos mesmos. Na grande parte das cidades Fast é uma presença muito limitada e controlada de elementos vegetais, a natureza têm uma presença muito ténue, demasiado artificial na medida em que surge quase como elemento secundário. Nomeadamente em Portugal ela surge na grande parte dos casos em pequenos canteiros, em “sobras” e mudanças de cota urbanas sem grande impacto e pouca utilização. Defendemos que os espaços verdes devem ter um carácter de lazer, espaços públicos qualificados e utilizáveis. A natureza deve estar presente na cidade por razões ligadas à saúde e por constituir um aspecto fulcral no equilíbrio da vivência. As zonas verdes devem ser proporcionais à densidade urbana, devem ser incorporadas na sua malha evitando assim que a cidade se torne estéril e completamente artificial. Acreditamos que a política de expansão da cidade deve ser proporcional ao crescimento demográfico que apresenta. Esta medida passa por adaptar a construção de habitações e a criação de pólos de interesse do ponto de vista laboral, de prestação de serviços e bens de forma a evitar a sobrepopulação. Visto que esta comporta o perigo de corresponder não só a uma aceleração desproporcional como a uma insuficiência de recursos e postos de trabalho, o que se traduz num aumento de situações de pobreza e criminalidade. Nesta medida, entendemos também que este crescimento não deve ser puramente quantitativo e devem ser tomados em consideração os aspectos que contribuem para um crescimento consciente do ponto de vista da qualidade espacial e vivêncial.

!

163!




Estas estruturas, não devem visar apenas o lucro imediato. Deverá haver um planeamento consciente do potencial a longo prazo e um cuidado para não cair na especulação imobiliária pouco sensivel ás necessidades reais da cidade e dos seus habitantes. Estas, assim como a sua localização, devem ser pensadas, evitando a criação de edifícios com pouco ou nenhum valor teórico e conceptual. Deve ser tomada em conta a história e o significado que o crescimento tem no desenvolvimento da cidade sem que esta seja simplesmente o reflexo da aceleração cultural que Furtado (2005: 17) refere quando alerta que “à semelhança do que acontece com qualquer corpo físico quando é submetido a esse fenómeno, comporta o perigo de desintegração.” Em suma, o crescimento não pode corresponder a uma descaracterização ou perda de identidade da cidade. Cada território comporta uma carga histórica e uma memória própria que deve ser respeitada, e cada edificio deve ter em conta estes elementos assim como a responsabilidade de um dia fazer parte dessa mesma história. Salvo poucas excepções como Brasília.

! Figura 66 - Imagem aérea de área urbana, Dubai, 2011

Low (2005:15) fala precisamente do caso de Brasília, referindo que “as a symbolic statement it was successful, but as a city its abstracted modern architecture and idealist plan came into conflict with the needs and desires of its people”. Apesar de, aparentemente, ter tudo o que seria necessário para funcionar, foi criticada na medida em que não tinha uma memória. Hoje é ela própria um ícone por ter seguido uma linha de pensamento modernista, um conceito que correspondeu à sua época.

166!!


Krier (2009:XXI) explica que “The art of building roads, vehicles, and communications are far more advanced and widespread than the art of making

places”

116

distinguindo

claramente

as

respostas

imediatas

e

puramente funcionais, em grande parte dos casos insensível à envolvente e à qualificação espacial e lançando uma provocação pertinente quando questiona “How many shopping malls, residential cul-de-sacs, industrial parks, culture complexes, education campuses have you ever visited for their own sake, for no other purpose than enjoying them without a predetermined end in mind?” 117 Ou seja, não estará esta cultura fast profuncamente ligada ao despacho de actividades e resposta rápida a necessidades emergentes a apresentar uma falha nas novas edificações que constituem a cidade e a ser responsável pela aparente e crescente construcção de não lugares? O elevado número de exemplos negativos (muitos dos quais em Portugal) demonstam-nos que sim. Esta é uma directriz a ter em conta quando formulamos a Balanced City. Acreditamos que a cidade Balanced deve proporcionar um fácil acesso aos bens, para isto é necessário que existam áreas destinadas à importação e exportação estratégicamente colocadas para tirar partido dos meios disponíveis (por exemplo: Porto, no caso da cidade ser junto ao litoral ou a um braço fluvial). Assentamos em primeiro lugar esta medida em 2 dos principios fundamentais da economia:

5º princípio da economia: Trade allows countries to specialize according to their comparative advantages and to enjoy a greater variety of goods and services.118

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 116 ”A arte de fazer estradas, veículos e comunicações estão mais avançadas e espalhadas do que

a arte de fazer lugares.” – Tradução do autor a partir do original em KRIER, Leon., The Architecture of community, 2009!

!

117 !“Quantos centros comerciais, ruas sem saída, zonas industriais, complexos culturais, campos

educationais visitou por interesse, sem outra razão sem ser aproveitá-los sem um fim predeterminado em mente?” – Tradução do autor.!

!

118 !“A troca permite que os países se especializem de acordo com as suas vantagens comparativas

e aproveitar uma maior variedade de bens e serviços” – Tradução do autor.!

!

167!


8º The more goods and services produced in a country, the higher the standard of living. As people consume a larger quantity of goods and services, their standard of living will increase.119

Aliando o comércio local e tradicional com zonas de comércio internacional permite alargar o leque de escolhas. Dependendo da área, estimamos que o equilibrio deverá ser de uma loja local por cada loja internacional, sendo que é aplicável principalmente aos bens alimentares e de vestuário. Para isto, assim como para a producção do estilo “just in time” e para a possibilidade de compras através de meios digitais são necessárias plataformas de troca a nível global, nomeadamente aeroportos e portos marítimos quando a escala e a localização da cidade o justificar. O ideal será um aeroporto para uma área máxima de 150km de raio, para que as ligações entre as várias localidades e a plataforma seja eficiente. Consideramos a disponibilidade dos serviços de igual importância, os edifícios administrativos devem ser próximos e proporcionar um acesso fácil e equitativo, permitindo uma melhor prestação junto da população e uma gestão mais eficiente da cidade Balanced. Tomando estes elementos como base, defendemos o conceito de Cidade Global e a criação sempre que possível de plataformas de ligação directa

com

outros

centros

metropolitanos,

pois

na

sociedade

contemporânea esta possibilidade aumenta o interesse, atrai iniciativas de investimento e contribui para o crescimento da cidade e consequentemente da melhoria de vida dos seus habitantes.

Friedman (2010:478) refere um

ponto pertinente, quando nos diz que “as ameaças geopolíticas clássicas poderão ser moderadas ou influenciadas pelas novas formas de colaboração encorajadas e exigidas pelo mundo plano – particularmente a cadeia de abastecimento” (…) disso é exemplo “a interacção entre as velhas ameaças (China versus Taiwan) e as cadeias de abastecimento do tipo Just-in-time será uma fonte de estudo e investigação para a ciêcia das Relações Internacionais no início do século”

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 119 !“Quantos mais bens e serviços um país produzir, maior é a qualidade de vida. As pessoas

consomem numa maior quantidade e a sua qualidade de vida aumenta.” – Traduçaõ do autor!

168!!


Á luz desta realidade, como poderiamos por em cheque a difusão de uma economia global? Estamos aqui perante uma questão chave para a obtenção de um dos elementos fundamentais do Balanced Living e da Balanced City: Uma abordagem social, cultural e política equilibrada que protege interesses mútuos e “esquece” velhas guerras baseadas em rivalidades e fundamentalismos. Não descartando a possibilidade da coexistência com as cadeias de Fast Food, valorizamos a iniciativa de restauração de qualidade enquanto alternativa e iniciativa que se reflecte na qualidade gastronómica e no espaço. Não perdendo o leque de possibilidades, consideramos essencial não direcionar uma cidade apenas para uma abordagem, evitando o risco de se tornar redutora. Neste sentido é importante a diversidade, algo que voltaremos a abordar na página 173. Apoiamos a ideia de Slow Parenting, a liberdade de educação e a participação dos pais no percurso académico dos filhos enquanto elemento base para uma boa formação profissional e cívica. Relativamente á educação das crianças, Friedman diz-nos que (2010:358) “o sentimento de que as crianças têm de ser colocadas numa redoma para que nada de mau, decepcionante ou angustiante alguma vez lhes aconteça na escola é, simplesmente, um cancro que se alastra na sociedade” criticando a forma como facilitismos têm provocado uma crise quando os lares estão (2010:359) “cada vez mais desprovidos de livros e material impresso, onde as crianças

se

concentram

computadores tecnologia

de

e

nos

exclusivamente

videojogos

gratificação

de

imediata

na

televisão,

entretenimento substituiu,

nos

(…)

para

a

muitos

estudantes, a tarefa – e a emoção – de ler.” Mais

do

que

isso,

as

ligações

humanas

sofrem

com

a

crescente

automatização da educação, algo preocupante quando nos deparamos com o facto de que o sentido de ligação humana é uma necessidade neste novo mundo de ligações que, como vimos poderá auxiliar a obtenção de um equilíbrio vivencial.

!

169!


As relações e contactos são de extrema importância independentemente do país ou cultura dos intervenientes, porque como nos diz Friedman (2010:185) “são precisamente esses contactos personalizados que nunca poderão ser automatizados ou alvo de outsourcing e que são quase sempre necessarios em algum momento da cadeia de valor.” Isto é um dos valores a manter do Slow, sob outra perspectiva, as relações profissionais tornam-se mais humanas, mais cooperativas e mais próximas independentemente da distância fisica. Nesta linha de pensamento defendemos os princípios de organização e programa estabelecidos pelo projecto de unidade de vizinhança de Clarence Arthur Perry.120

! Figura 67 - Parte do Plano de Vizinhança para Nova Jérsia de Arthur Perry, 1909

Acreditamos que o conceito de Slow Gardening e de hortas urbanas é um aspecto positivo da iniciativa Slow, por contribuir para um sentimento de independência

dos

grandes

distribuidores

de

produtos

hortículas,

correspondendo a um meio de auto-subsistência e por constituir uma forma de abrandamento no centro urbano. Consideramos o Slow Tourism limitador, apesar de constituir uma experiência interessante e envolvente, o seu potencial é limitado pela sua natureza local. Pela mesma razão os limites demográficos impostos pelo Movimento Slow (de 50.000 habitantes) é um aspecto redutor no crescimento urbano. Esta medida pode ser nociva para o desenvolvimento da cidade por lhe impor fronteiras e torná-la estanque. O crescimento demográfico é um elemento com um grande potencial, não apenas do ponto de vista económico, mas de enrriquecimento de culturas.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 120 !Autor do plano formulado no ínicio do século XX, propondo uma configuração urbana que potencia o contacto social, estabelencendo a implantação da escola como equipamento central cujo acesso, a partir de qualquer ponto da unidade, poderia ser feito pedonalmente num curto espaço de tempo.!

170!!


A cidade equilibrada é uma cidade diversificada e acima de tudo uma cidade para todos. Lynch (1960:2) diz-nos que “Moving elements in a city, and in particular the people and their activities are as important as the stationary physical parts. We are not simply observers of this spectacle, but are ourselves a part of it, on the stage with the other participants.”121 Acreditamos que o desenvolvimento pessoal é de extrema importância, a iniciativa de investimento em estruturas de potencial educativo e cultural é um factor que equilibra o desenvolvimento económico capitalista das grandes cidades. Isto é possivel com crescimento demográfico e diversidade. Apoiamos as medidas que levam a um desenvolvimento consciente e em simultâneo dos centros urbanos e “arredores” e das pessoas que os habitam, visando estabelecer uma ligação entre os dois. É fundamental o crescimento económico, mas é igualmente essencial o crescimento do ser humano enquanto ser consciente, crítico, observador, sensível, emotivo e também como parte integrante de um sistema. A própria evolução da tecnologia aponta para uma necessidade crescente de interação e criatividade, Friedman (2010:287) refere esta situação quando nos diz que “No século passado as máquinas provaram que podiam substituir os musculos humanos. Neste século, as tecnologias estão a provar que podem ter um desempenho superior ao do hemisfério esquerdo do cérebro (…) os conceitos sofisticados envolvem a capacidade de criar

beleza

artística

e

emocional,

de

detectar

padrões

e

oportunidades, de elaborar narrativas agradáveis e de inventor coisas que o mundo nao sabia que precisava.”

Esta situação pode ser encarada como um encorajamento pessoal e um incentivo

à

diversidade,

como

referimos.

O

autor

diz-nos

que:

“o mundo plano terá numerosos bons empregos para serem agarrados pelas pessoas

com

os

conhecimentos,

as

competencias,

as

ideias

e

a

automotivação correcta.”

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 121 !“Elementos móveis da cidade, e particularmente as pessoas e as suas actividades são tão importantes quanto as suas partes imóveis. Não somos meros observadores do espectáculo, mas somos nós mesmos parte dele, no palco com os outros participantes.” – Tradução do autor.!

!

171!


O que leva a uma maior especialização e à criação de novos empregos, a competitividade global depende agora do individuo, o que representa uma necessidade de autonomia, de cooperação entre indivíduos distintos com sensibilidades específicas e uma responsabilidade acrescida á qual as novas gerações se estão a habituar e a aprender a tirar proveito. Isto representa uma profunda alteração no método de trabalho, não é apenas a velocidade de resposta que conta, mas a eficiência e sobretudo a qualidade do bem e do serviço prestado. Dois factores que, como vimos, se relacionam respectivamente com a abordagem Fast e a abordagem Slow, ou seja, como Honoré nos diz em entrevista, “ser rápido quando temos de ser rápidos e ir devagar quando temos de ir devagar.” Um sentido de equilibrio que para o desempenho de muitas áreas é agora mais que nunca essencial. Principalmente porque o sentimento e a interpretação do ser humano são dotados de valor, neles reside a principal diferença operativa entre o Homem e a máquina. Lipovetsky (1983: 19) critica a pintura hiperrealista na medida em que nada traz para lá do que existe dizendo-nos que “não vinculam qualquer mensagem, não querem dizer nada, mas o seu vazio está nos antípodas da carência de sentido trágica que encontramos em obras anteriores. Não há nada a dizer, não importa, tudo pode por conseguinte, ser pintado com o mesmo apuro, com a mesma objectividade fria, carroçarias brilhantes, reflexos de montras, motores niquelados, cidades panorâmicas sem inquientação nem denuncia”!

a isto acrescentou que “o que é verdade para a pintura é-o igualmente para a vida quotidiana”. Esta metáfora serve para um dos efeitos negativos que um estilo de vida demasiado Fast, desligado do mundo e neutro acarreta, quando não se aprofunda nem se interpreta o que acontece em nosso redor caímos na superficialidade e, segundo este autor, torna-se possível viver “sem finalidade nem sentido, numa espécie de sequência-flash.”

172!!


Consideramos igualmente necessária a proximidade social e a interacção dos habitantes com o objectivo de criar uma comunidade mais unida e zelosa dos interesses comuns e da cidade que habitam. Concordamos com Low (2005:7) quando sublinha o facto de que “new immigrants who are settling in older divided communities are in fact reconfiguring the city into ethnically diverse neighborhoods. An ethnically based real estate market has developed ad well as specialty shopping areas, local ethnic associations, and a variety of ethnic festivals.”!

!

122

Situação que à luz do Mercado global e do outsourcing se torna evidente que será uma mais valia, estamos perante a partilha de culturas e enrriquecimento de todos. A ocupação étnica e a criação de novos pontos de comércio não representa em si uma ameaça ao mercado local nem ao número de postos de trabalho. Assim defendemos o Mix Social, a aproximação de grupos sociais, culturas, faixas etárias e principalmente de situações económicas distintas. Evitando aquilo que Low (2005: 7) nos descreve como a cidade dividida quando existem “hidden barriers of race and class encoded in metaphors of uptown and downtown, upscale and ghetto”123. A cidade equilibrada sugere a integração do ponto de vista social com a aproximação de classes sociais distintas e zonas comuns atraentes a várias culturas, contudo permitindo que vários pontos da cidade se qualifiquem pela diferença da cultura presente ou dominante, mas procurando evitar a rotulação de zonas pobres e zonas ricas, zonas de maior importância e zonas periféricas. Um exemplo será descrito no projecto de estudo de Aveiro (página 187).

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 122 !“Novos imigrantes que se estão a fixar em comunidades antigas e divididas, estão de facto, a reconfigurar a cidade em bairros étnicamente diversos. Desenvolveu-se um mercado habitacional baseado em questões étnicas juntamente com zonas comerciais, associações étnicas locais e uma variedade de festivais étnicos.” – Traduçaõ do autor a partir do original em LOW, Setha M., Theorizing the City, 2005.,! ! 123 !“Barreiras escondidas de raças e classes codificadas em metáforas de norte e sul, alto nível e

gueto.” – Tradução do autor.!

!

173!


Onde optamos pela integração e evitando a marginalização e o reforço do preconceito relativamente a comunidades “pobres” e comunidades “ricas”, reflectindo sobre soluções de aproximação que entre outras passa pela criação de equipamentos e áreas comuns de lazer. Isto implica sensibilização e está também ligada à recuperação de edificios devolutos para criação de habitação e diminuição do número de sem abrigos, contudo de forma dispersa e integrada, o investimento e a manutenção dos vários bairros de forma equilibrada, assim como uma aposta vincada na cultura e na educação. Defendemos igualmente o contacto com a natureza e a preservação de zonas naturais, mantendo as suas características e reduzindo a sua artificialização tanto quanto possível, tendo em conta questões de escala e proporção entre área urbanizada e área verde.

! Figura 68 - Vista aérea de Central Park, Nova Iorque, EUA, 2009

A presença destas zonas não só é benéfica, como pode (e deve) ter consequência espacial. Mais do que pontos de lazer e actividades desportivas é igualmente positivo do ponto de vista ambiental. Curiosamente bons exemplos podem ser encontrados em algumas cidades Fast, como por exemplo o Hyde Park em Londres ou o Central Park em Nova Iorque, zonas destas ajudam a combater a poluição das grandes cidades e incitam a actividades como passeios, caminhadas e corridas ajudando a combater o stress e o crescente problema da obesidade. Estes elementos, se aliados à natureza existente antes de se edificarem novas zonas urbanas são igualmente pontos urbanos que permitem a preservação e adaptação de ecossistemas selvagens.

174!!


Apesar de considerarmos o revivalismo técnico como um elemento secundário pelo seu carácter geralmente rudimentar e pouco produtivo, acreditamos que a utilização de materiais locais na arquitectura é uma mais valia pela sua dimensão económica, sustentável e por se enquadrar numa filosofia de “relação com o lugar” muito vincada. Relativamente à valorização e utilização da técnica tradicional estará dependente da situação. Krier (2009: 71) diz-nos “the value of ancient monuments does not reside in their material age but in the quality of the ideas that they embody. An identical reconstruction with the same type and quality of materials, forms, and thechniques that were used in the original has more value than an original in ruins.”!

!

124

Contudo falamos aqui de restauro, não da preservação da construcção rudimentar para novas estruturas em novas zonas que pouco ou nada se relaciona com as estructuras urbanas antigas. A preservação dos ideais de localismo económico por exemplo, deve no nosso entendimento, ser um dos aspectos a descartar enquanto principal forma de comércio, pois reflecte uma economia demasiado centrada em si e fechada ao potencial de desenvolvimento que a economia global hoje possibilita. Como referimos, a economia actual baseia-se em grande parte na cooperação, Friedman (2010:109) dá-nos o exemplo da criação do software open source Firefox em que “um jovem de 19 anos de Stanford e um de 24 anos da nova zelandia (…) que risidiam em locais opostos do mundo, produziram um browser que, em cerca de seis meses, se apoderou de cinco por cento do Mercado do Internet Explorer.” Este tipo de colaboração não finda em bens virtuais, o mesmo se aplica a bens físicos, com o exemplo de computadores, telemóveis ou automóveis cujas peças são fabricadas em pontos distintos do mundo por empresas que se dedicam apenas à criação de um determinado elemento

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 124 !“O valor dos monumentos antigos não reside na sua idade, mas nas ideias que eles incorporam. Uma reconstrucção com o mesmo tipo e qualidade de materiais, com técnica igual á versão original tem mais valor que uma original em ruínas” – Tradução do autor

! !

175!


(e nele se especializam) e montados a posterior para venda. Isto permite que os productos finais sejam de qualidade superior. Estamos aqui perante o último grito de cooperaçao e coworking, hoje um indivíduo ou um pequeno grupo de indivíduos pode, até a partir de suas casas em locais distantes uns dos outros produzir e competir com empresas internacionais. Os mercados estão mais abertos e, como referimos, isso acarreta uma série de

novas

oportunidades. Friendman (2010: 405) face a esta situação emergente explica-nos também que, “As melhores empresas são as que mais colaboram. No mundo plano serão realizados cada vez mais negócios através da colaboração interna e da colaboração entre empresas, por uma razão muito simples: os próximos patamares de criação de valor – seja em tecnologia, marketing, biomedicine ou produção – estão a tornar-se de tal forma complexos que nenhuma empresa ou departamento conseguirá, a título individual, ser capaz de os dominar sozinha.”

! A acrescer a isto, a distribuição e reconhecimento de produtos locais a outras comunidades pode ser um “cartão de visita” da cidade e atrair investidores, turistas e moradores. Esta situação, por “diluir” e distribuir o fabrico por zonas distintas permite não só o enrriquecimento de várias cidades, mas reduzir o impacto ambiental que existiria caso a producção fosse concentrada numa área apenas. O que nos remete para a questão da sustentabilidade e a utilização de energias renováveis, um dos elementos positivos importantes a reter do Movimento Slow, enquadrando-se na lista das preocupações actuais a nível global e contribuindo para a defesa da estrutura ecológica natural. Da mesma forma apoiamos a recuperação e reutilização de materiais, o restauro e adaptação de estruturas antigas, pois é economicamente sustentável e contribui para que se reduza o número de edifícios devolutos na cidade (que representam um deficit estético e de segurança).

176!!


Contudo, falamos aqui de adaptações e de novas intervenções que respeitam a linguagem e a história da área onde se inserem, krier (2009:7) critica algumas intervenções quando diz que “It is obvious that, apart from a few exceptions, modernist buildings are as a rule not in keeping with historic centers.” 125 Acreditamos que o mesmo se aplica à qualificação de outras zonas (não própriamente históricas), como referimos: equilibrio é tambem diversidade e o direito á diferença.

Figura 69 - Intervenção de Bruno Etchepare na Igreja de S.Francisco, Espanha, 2012

Contudo esta diferença deverá ser realmente assumida e fundamentada. Assim a cidade equilibrada deverá ser um misto qualificado, uma soma de partes que realmente definem lugar e reflectem preocupações com a sua memória. Esta noção de pluralismo é fundamental, mas não deverá ser confundida com a criação de meros híbridos. Krier ilustra-nos pluralismo verdadeiro e pluralismo falso de forma bastante clara.

Figura 70 – Pluralismo verdadeiro e falso. Ilustração de Leon Krier, 2009.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 125 !“É obvio que, tirando algumas excepções, os edificios modernistas por regra não estão de acordo com os centros históricos” – Tradução do autor.! !

177!


Krier (2009:23) defende que deveriamos “Build therefore in such a way that you and those who are dear to you will use your buildings, look at them, live in them, work in them, spend their holidays in them and grow old in them with pleasure.” 126 Assim sendo

consideramos que a cidade equilibrada deverá

responder a esta directriz simples da sobreposição de culturas e da memória do lugar a uma certa “vaidade” de autor. Isto fundamenta-se também á luz dos ícones das cidades, que servem de referência a zonas distintas, a título de exemplo a House of Parliament de londres marca a marginal de Westminster da mesma forma que o Gherkin é um referêncial na City of London ou a Tower Bridge marca a área de Potters Fields. As várias culturas que se instalam numa cidade podem igualmente definir uma area de referência, exemplo disso são Chinatown ou Little Italy em New York. Não apoiamos as medidas de utilização automóvel propostas pelo Movimento Slow, na medida em que em muitos dos casos é considerada a sua abolição e desta forma representa uma limitação, apoiamos a deslocação pedonal, mas a alternativa automóvel deve existir bem planeada e de forma a que não constitua zonas de conflito. A mudança de política de transportes deve ser sempre acompanhada de uma estratégia alternativa. Friedman (2010:455) referindose a pequim, refere que “em três anos, o crescimento explosivo da cidade tinha eliminado qualquer vestígio de muitas das faixas para bicicletas. Tinham sido reduzidas ou suprimidas para dar lugar a mais uma faixa para automóveis ou autocarros.” Ou seja, a política de transportes não pode assentar apenas na criação e expansão, deve ter consciência dos aspectos positivos pré-existentes e explorar essas possibilidades. Por razões de sustentabilidade e redução de poluição, que referimos na página 159, defendemos a utilização de transportes alternativos e consequentemente uma grande presença de ciclovias e pedovias de qualidade. Zelando também pela redução dos pontos de conflito entre os vários meios de locomoção.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ! 126 !“Construa como se as pessoas que lhe são mais queridas fossem utilizar os seus edifícios, olhar para eles, viver neles, trabalhar neles, passar as férias neles e envelhecer neles com prazer” – Tradução do autor.!

178!!


Figura 71 - Ponte Pedonal do atelier ECADI, Lujiazui, Shangai, 2012

Consideramos a pequena escala e as caracteristias puramente rurais das Cidades Slow um aspecto negativo na medida em que leva a uma maior ocupação de território e uma maior dispersão e afastamento entre o edificado e por consequência entre os diferentes serviços prestados. Maior distância a percorrer significa um acréscimo nas deslocações, o que pode corresponder a uma necessidade de utilização automóvel ou a um aumento do número de paragens e linhas de transportes públicos. Acreditamos que as Cidade Slow são demasiado fechadas sobre sí, mais pelas políticas e estratégias que adoptam do que pela sua localização. A falta de relações directas com as cidades vizinhas pode constituir um problema ao ser demasiado redutor e autista. Mesmo considerando que estas cidades demonstram interesse em fazer parte do panorama mundial global, é flagrante que na maioria dos casos tal não acontece. Friedman (2010:222) alerta que “para o lugar da velha auto-suficiencia e do velho isolamento locais e nacionais entram um intercambio omnilateral, uma dependencia das naçoes umas das outras. À semelhança do que sucede com a producçao material, o mesmo acontece com a producçao intelectual.” A ligação em rede representa vantagem para as várias áreas, incluindo as cientificas, onde o debate e a partilha de conhecimento é um elemento ! essencial.

!

179!


Para o bem geral, a ideia de preservação cultural não deveria constituir um problema, como vimos, as ligações em rede permitem a partilha, não são uma ameaça mas sim uma oportunidade. A palavra-chave aqui é tolerância, não é a negação cultural, mas sim a integração e a aceitação da diferença. Isto é também equilibrio social, o que é verdade para os países é igualmente verdade para pequenas e grandes localidades/comunidades. Por estas razões não podemos compactuar com medidas que implicam pouca informação e o reduzido número de docks tecnológicas. No estilo de vida actual, no mercado e mundo de negócios contemporâneo, existe uma dependência acrescida na tecnologia digital. Reduzir a sua disponibilidade num centro urbano é por esta possibilidade e tudo o que lhe é inerente de lado. Friendman (2010:119) fala-nos da seguinte comparação: “a Microsoft Encarta Standard (…) tem mais de 36000 verbetes (…) o site Wikipedia.org (…) 841358 Verbetes” Concordamos com Friedman (2010:326) quando nos diz que: “as tecnologias da informação e a banda larga são importantes (…) além de serem essenciais para desenvolver a productividade e a inovaçao em todos os sectores da economia (…) é um ciclo virtuoso, um daqueles que vale sempre a pena encorajar o máximo possivel.” O isolamento destas cidades corresponde muitas das vezes, não a uma ! colaboração, mas a uma dependência de comunidades vizinhas, por não existir um número de serviços públicos e de especialização que satisfaçam as necessidades da população. Acreditamos que a comunicação digital permite uma mais rápida e eficiente interajuda, Virílio (2000a: 31) expõe que “o espaço e a extensão critica, estão já por todo o lado, por causa da aceleração dos meios de comunicação que apagam o atlântico. O airbus reduz a França a um quadrado de uma hora e trinta de lado”. Compreendemos que o fenómeno da globalização e do fácil acesso à informação devem ser tomadas em conta por representarem uma mais valia no desenvolvimento das comunidades.

180!!


Friedman (2010:171) explica que “não há discriminação no acesso ao conhecimento. O Google pode ser actualmente pesquisado em cem linguas diferentes” situação que é benéfica para todos, como Friedman (2010:172) acrescenta “a democratização da informação está a ter um profundo impacto na sociedade. Os consumidores de hoje são muito mais eficientes.” Com esta análise dos vários aspectos do Fast e do Slow, foi-nos permitido formular uma série de convicções que, em síntese, se traduz na tabela 5 (sendo que a vermelho estão marcados os aspectos negativos a reformular e a verde os aspectos positivos a manter). Então, entendemos que o Balanced Living deve assentar num modelo económico capitalista e consumista de forma

responsável,

competitividade

num

sem

mix

económico

sobrecarregar

o

equilibrado

mercado,

que

numa

permite aposta

a de

desenvolvimento urbano e num sistema de mobilidade eficiente. Na utilização da tecnologia, na rentabilização do solo e na densidade, num acesso fácil aos bens e serviços e numa procura individual pela criação da cidade global. Assim como num investimento de estabelecimentos de qualidade, na formação académica acompanhada e iniciativas como a incorporação e hortas urbanas privadas ou públicas nas habitações. Apostas no desenvolvimento pessoal, cultural, em iniciativas e intervenções que permitem o mix e na proximidade social natureza.

Interesse

pela

preservação

assim como o contacto com das

caracteristicas

locais,

na

sustentabilidade, recuperação e reutilização, na utlilização de transportes alternativos saudáveis e não poluentes, e uma participação mais activa nas decisões políticas da cidade. Por sua vez, a Balanced City deve conter áreas comerciais destinadas a trocas em massa e com um alargado leque de serviços, criação de estruturas com um elevado potencial económico e uma rede de transportes públicos que satisfaça as necessidades dos habitantes e turistas de forma a reduzir o trânsito automóvel em certas zonas. Deverá igualmente ter em conta questões como a responsável automatização dos serviços e a utilização de tecnologia com interfaces à escala humana, a construção em altura proporcional à densidade e proximidade do edificado.

!

181!


Zonas destinadas à Importação/Exportação: plataformas de comércio internacional, àreas de edifícios administrativos (próximos) e plataformas de ligação directa com outras cidades. Deverão ser tomadas em conta as questões relativas à criação e locais com serviços de qualidade, escolas de menor escala e em maior número, localizadas estratégicamente para tornar possivel a pedonalização dos bairros, a criação e áreas verdes destinadas ao cultivo, as iniciativas de auto-subsistência e pequena produção. Sendo essencial a criação de estruturas de potencial educativo e cultural, zonas de actividades de lazer colectivas e iniciativas de preservação e incorporação de zonas naturais. É importante que a Cidade Equilibrada permita a utilização e transportes individuais alternativos, com a existência de ciclovias e pedovias de boa qualidade que efectuem ligações entre pontos fundamentais da cidade. É necessário que se aposte também na utilização e materiais locais na arquitectura, no restauro e reformulação (adaptação) de estruturas antigas e/ou devolutas, combatendo a dispersão e apostando na eficiência térmica e na consequente redução do consumo energético, assim como a utilização de energias renováveis. Estes aspectos que elencamos para constituir as linhas directrizes do Balanced Living e da Balanced City, configuram uma série de elementos chave para ter em conta em futuras intervenções de grande, média e pequena escala. À luz destes princípios estabelecemos uma ideia e uma abordagem que, enquanto não tida como uma verdade absoluta relativa à questão das visões Fast e Slow da cidade contemporânea, visa dar um contributo que sugere duas alternativas para a procura da Balanced City que seja propícia a uma vivência igualmente Balanced. Uma primeira alternativa, foca-se na escala urbana e implica alterações profundas no funcionamento da cidade. Implica repensar todos os aspectos que elencamos e introduzir um conjunto de características que a cidade deve, no nosso entendimento, ter. Uma segunda alternativa, foca-se em intervenções de pequena e média escala, destinadas principalmente a cidades que têm já aspectos positivos das duas visões que colocamos em confronto, separadas e relativamente bem delineadas, que é o caso da grande parte das cidades Portuguesas de média dimensão.

182!!





186!!



188!!


Ensaio de projecto em Aveiro: Balanced Neighbourhood.

Aveiro, intitulada a Veneza de Portugal, onde a paisagem natural tem uma presença forte na vivência da cidade, caracteriza-se em grande parte pela sua geomorfologia marcante, aos icónicos braços da ria que dividem e pontuam o território e pelas iniciativas que outrora derivaram da sua situação costeira. Estes elementos foram factores que constituíam um forte atractivo para as actividades comercias, piscatórias e a expansão das actividades agro-pastoris e lagunares.

Figura 73 – painel de azulejo

Hoje, após uma significativa redução dessas actividades, esses factores ganharam uma outra importância, nomeadamente para a actividade turística. Este interesse no aproveitamento dos recursos agrícolas que deu o seu contributo para o desenvolvimento das povoações ribeirinhas, encontrase muito reduzido devido á quebra das explorações agrícolas, uma tendência que tem vindo a agravar-se em Portugal. Nesta cidade onde o espaço público é especialmente valorizado, a cultura é um factor importante, as tradições, assim como os estilos de Arquitectura existentes são factores de destaque, nomeadamente associados a tradições Religiosas, gastronómicas e os que estão ligadas à ria (salinas e pesca) e à agricultura.

!

189!


A Arte Nova, localizada principalmente na zona do Rossio e na Avenida Lourenço Peixinho é um dos elementos marcantes da cidade. Os principais acessos funcionam enquanto elementos de fronteira, dividindo o território e estabelecendo actualmente limites ao seu desenvolvimento, nos quais a relação

entre

o

trânsito

pedonal

e

automóvel/ferroviário

apresenta

fragilidades e constitui situações de conflito. Aveiro talvez não possa, nem deva, voltar a ser uma cidade unicamente de exploração agrícola, piscatória, de produção de sal, processamento e fabrico industrial, mas consideramos a possibilidade de re-introduzir esta mais valia enquanto elemento de crescimento económico e de valorização dos recursos e paisagens naturais enquanto espaços de qualidade que contribuam para o desaceleramento e consequentemente o equilíbrio da cidade. Aqui reside a génese da abordagem, acreditamos que é possível contribuir para o desenvolvimento

do

território

recuperando

as

actividades

primárias,

sensibilizando a população para esta possibilidade e encontrando um ponto de equilíbrio entre elas e os novos interesses e actividades profissionais. Visto que os habitantes da faixa etária entre os 18 e os 24 são principalmente estudantes universitários cuja permanência na cidade é em grande parte temporária, esta situação leva a um envelhecimento da população. Uma questão que se terá em conta será a criação de elementos atractivos que levem à fixação desta percentagem da população no território. Após a análise do território que, a acrescer à contextualização histórica e às características espaciais, passou pela execução de levantamentos das situações económicas e sociais e pela verificação dos aspectos Balanced já presentes e das potencialidades a explorar do ponto de vista do tema, foi-nos permitido estabelecer os aspectos Balance em falta.

190!!


Tabela 17!

!

!! O local escolhido para intervir, localizado entre a via-férrea/Avenida Francisco Sá Carneiro, a Avenida Doutor Vale Guimarães e a via Duarte Ludgero/IC1, é uma área com potencial Balanced por apresentar falhas do ponto de vista de bens e serviços e por se encontrar entre tecido urbano consolidado e zonas de passagem com características Fast (a via rápida e a ferrovia) assim como por ser dotada de características naturais (zonas verdes e agrícolas). Apresenta em primeiro lugar, qualidades que garantam o equilíbrio do ponto de vista ambiental, área verde com potencial agrícola e de jardim, e, em segundo é uma área por explorar, uma ilha de vazio no tecido urbano, cuja intervenção visou cerzir as malhas da sua envolvente próxima.

!

191!




Após elencar estes aspectos, formulamos uma estratégia conceptual que teve em consideração estas necessidades, visando a crianção de um novo bairro Balanced, que poderá servir como “projecto exemplo/referência” para futuras intervenções que visem igualmente o equilibrio da cidade de Aveiro.

Densidade – Proximidade entre estructuras e serviços.

Sendo a envolvente maioritariamente habitacional com características urbanas, elementos cujas infraestruturas não satisfazem a escala e a proximidade de habitação para trabalhadores agrícolas, a intervenção visa: Criar habitação perto dos serviços, de áreas recreativas e local de trabalho, com características unifamiliares e uma escala mais baixa e ligada à terra, qualificando a zona e garantindo o acesso aos bens, atraindo potenciais profissionais da área a instalar-se. Estabelecemos a ligação entre 6 pontos da envolvente, com o objectivo de ultrapassar as fronteiras que as vias constituem. Criamos uma praça baseando-se numa lógica de centralidade, sendo que as várias “ruas” que nela terminam não estabelecem uma continuidade directa entre sí, evitando que este elemento se torne num simples cruzamento de ruas. Cortando a continuidade visual entre elas procurou-se que este centro fosse um ponto de chegada e de distribuição.

Figura 75 - Modelo Tridimensional da passagem pedonal Norte – Esc.1/200

Transportes alternativos – Grande presença de ciclovias e pedovias.

O acesso automóvel está garantido; Por oposição, o acesso pedonal é quase inexistente e pouco confortável, dificultado pelas fronteiras que as vias constituem, assim sendo, o território carecia de ligações físicas com a envolvente.

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Relativamente a isto aprocuramos estabelecer passagens a cotas diferentes para cruzar estes limites físicos, estabelecendo uma relação entre estas passagens e as zonas predominantemente pedonais da envolvente. Ao criar estas ligações permitimos “aproximar” desta forma os diferentes pontos, procurando cerzir o tecido urbano, ocupando o território não apenas por adição de matéria, mas por subtracção. Reforçando o sentido de unidade do território e permitindo facilitar a utilização de transportes alternativos, sendo que a toda a área de intervenção seria dotada de um percurso de corrida e ciclovia.

Competitividade – Multiplicidade e eficiência de serviços.

Estas passagens contêm programas distintos, duas delas seriam constituídas por programa de restauração, duas outras por programa cultural e as duas restantes por programa comercial, sendo que a sua linguagem faria referência e este conteúdo. Procurando criar uma plataforma que geraria a oportunidade de se instalar todo um leque de serviços relativamente próximos.

Figura 76 - Esquema das ruas.

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Desenvolvimento Pessoal – Estruturas de potencial educativo.

Para lá da paisagem agrícola, o território apresenta uma completa ausência de história significativa. Carece de elementos culturais que sirvam a envolvente e que constituam em sí atractivos, não confinando o território a uma zona unicamente residêncial sob a ameaça de se tornar uma área dormitório. Relativamente a isto a intervenção visou criar elementos culturais como galerias, apoio ao turismo, centros de exposição, área de museu, biblioteca, mediateca, cinema ou zona de espectáculos. Garantindo que as várias partes do programa constituem um leque equilibrado que irá atrair a população.

Mix Comercial – Diversidade na oferta e equilíbrio entre elas.

O território carece de serviços para atingir um mix comercial satisfatório e tornar-se um ponto de referência da cidade. Relativamente a isto a intervenção procurou não sobrelotar o mercado, prever um limite de cafés, restaurantes, lojas de roupa e lojas de calçado (marcas distintas). Ás ruas com serviços e comércio distinto, acresce a praça destinada ao comércio dos produtos produzidos nas zonas agrícolas da intervenção.

Mix Social – Proximidade de faixas distintas, áreas de actividade/lazer colectivas.

Ligando-se, as várias partes do programa servem como sugestão para explorar e percorrer outras áreas de interesse. A título de exemplo, alguém que goste de roupas de marca, pode ir ao local com intenção de visitar as lojas e acabar por visitar o mercado, a zona cultural, desportiva, os jardins ou a zona agrícola previstos, contribuindo para um mix social equilibrado. Sendo que a intervenção visou criar elementos atractivos para vários extractos sociais e etários, promovendo a interação e atraindo o público de forma a constituir uma mais valia social e económica.

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Criamos habitação de baixo custo destinada a agricultores e habitação de custo médio e alto, de forma a criar um “bairro equilibrado” disponivel a pessoas com possibilidades económicas distintas a quem os equipamentos serviriam.

Figura 77 – Modelo Tridimensional da praça central – Esc.1/200

Slow Gardening – Hortas urbanas e recuperação do sector primário.

A uma cota superior, na cobertura das habitações de baixo custo (à cota da envolvente) encontrar-se-iam as zonas destinadas ao cultivo agrícola. uma lógica organizativa semelhante, mas com uma maior proximidade á área de praça e estabelecendo uma ligação às zonas agrícolas da cobertura. A acrescer

ao

programa

armazenamento

dos

de

habitação,

productos

uma

produzidos.

A

área ideia

destinada é

promover

ao a

proximidade entre a zona de habitação, de producção e de venda, invertendo a lógica das migrações entre estes pólos, contribuindo assim para uma vivência mais equilibrada.

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Contacto com a Natureza – Preservação e adaptação de zonas naturais ao estilo de vida urbano.

Do ponto de vista do Património Ambiental o equilibrio está garantido, o projecto prevê que seja mantido e utilizado enquanto elemento marcante do projecto. Relativamente a isto a intervenção visou manter as zonas verdes, ordenar a área agrícola e de jardim, estabelecendo uma ligação entre elas, o espaço de comércio e habitação para trabalhadores e o espaço envolvente. Estas características do terreno, como as áreas agrícolas, serão então mantidas como espaços que visam o lazer, o desporto, a interação social e a relação com a natureza serão potenciadas com a crianção de novos áreas a elas destinadas. A Norte criamos áreas de jardins públicos, assim como de zonas recreativas e desportivas, Mantendo uma relação de proximidade com o pré-existente polidesportivo e os campos de ténis.

Sustentabilidade – Utilização de energias renováveis e soluções de redução de custos.

No extremo Norte do projecto, esta zona destinada a habitação colectiva, pontuaria o conjunto, sendo que se assumia e se afirmaria enquanto elemento marcante. Esta, com uma fachada Norte de carácter mais “Fast” e uniforme e uma fachada Sul mais “Slow”, desconstruída, com áreas exteriores privadas constituídas por volumes em consola, abrindo-se para os jardins públicos e emprestando-lhe o seu desenho. Aproveitando a exposição solar, sendo que as zonas situadas a uma cota negativa seriam iluminadas por entradas zenitais na cobertura, que à cota do jardim funcionariam como esculturas de vidro espelhado, inspiradas nas obras escultóricas de Hans Godo Frabel e no projecto do Hotel Mirrorcube de Tham & Videgard.

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O Equilíbrio que se procura a vários níveis apresenta uma dualidade literal, enquanto que a zona Poente do projecto teria um desenho mais “Slow” e orgânico, com quebras de direcção, a zona Nascente do projecto, que se vira para a via rápida, teria um traçado mais regular e ritmado em oposição aos restantes elementos, relacionando-se com um desenho mais “Fast” e racional da cidade, contudo, ambos se encontrariam no interior do “Balanced Neighborhood”, nomeadamente na zona da praça, onde convergiriam.

Figura 78 – Modelo Tridimensional: Fachada Norte e Sul da Habitação Norte – Esc.1:500

A Habitação Norte.

A Habitação Norte teria uma lógica ligada ao Balance. Constituindo a fronteira entre o Fast (Edificios e estrada a Norte) e o Slow (Jardim e Serviços a Sul) procurou-se relacionar a sua linguagem com estas duas realidades. Sendo que a Norte o edifício apresentaria uma fachada que o afirma enquanto elemento marcante que se relaciona (na linguagem e na cota que atinge) com os edifícios pré-existentes, e, a sul uma fachada mais desconstruída, com volumes cúbicos que se projectam em consola e tiram, como referido, proveito da exposição solar e das vistas para o Jardim/Praça, emprestando-lhes a sua métrica e definindo as linhas directrizes para o seu desenho.

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Á cota térrea encontraríamos os espaços de estacionamento. O primeiro andar corresponderia a espaços técnicos e a algum equipamento como salas polivalentes de condomínio ou ginásio.

Do ponto de vista organizativo, procurou-se encontrar um equilíbrio não só em cada tipologia, mas na forma como estas se relacionam, com o objectivo de as tornar mais eficientes. Tratando-se de dúplex, as áreas comuns/sociais das habitações estariam próximas, nomeadamente no segundo piso da habitação mais baixa e no primeiro piso da habitação mais elevada, afastando assim as zonas mais privadas da casa e garantindo um melhor comportamento acústico.

A tipologia 1, localizada e uma cota de 12m, e comporta a dualidade entre espaço Fast, que se abre para Norte e Slow que se abre para sul, sendo que estes espaços de pé direito duplo, divididos por volumes que constituem as partes comuns e privadas da habitação, se destinam respectivamente a trabalho e a lazer/família e servem como elementos de ligação entre os vários compartimentos, com o objectivo de criar unidade entre as várias zonas da tipologia.

A tipologia 2, localizada a uma cota de 18m, tira partido da luz, com a criação de aberturas na cobertura e possivelmente uma área de pátio, organiza-se em torno de um vazio que se marca por pé direito duplo e se destina principalmente a actividades de lazer familiar, procurando uma unidade e ligação entre as várias zonas da habitação, na cota mais baixa encontram-se os espaços comuns e uma pequena área de estudo/trabalho, que se situa acima da área de trabalho da tipologia 1, garantindo assim um melhor comportamento acústico visto que o programa é o mesmo, e, a uma cota superior os espaços privados da tipologia.

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Figura 79 - Esquemas de tipologia 1 e tipologia 2.

Apesar de estabelecerem relações distintas, partilham da procura pela unidade no interior da habitação, com este “vazio esculpido” cujo objectivo é criar pontos de ligação entre as áreas e promover as relações familiares. A ideia parte de poder ver e ser visto, poder comunicar estando em áreas distintas. Esta estratégia materializa-se, como referido, através de pés direitos duplos, aberturas pontuais e mezzanines, sendo que apenas as zonas mais privadas da habitação se encontram completamente encerradas em sí, nomeadamente os quartos, as I.S/W.C e as áreas de estudo/trabalho.

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Ambas as habitações teria igualmente áreas exteriores que se abrem para o jardim. O percurso entre os vários compartimentos da casa procura sugerir igualmente um deambular e uma observação sobre as zonas comuns, algum equipamento, como por exemplo um hipotético sistema de projecção (para televisão) poderia desta forma ser visto de duas zonas distintas da casa (uma área direcionada para o lazer, como uma zona onde poderia estar um bilhar ou um piano, e a sala de estar). Os acessos à habitação seriam garantidos por volumes que se extendem para o jardim, sendo que estes permitiriam ter zonas de condomínio interiores e exteriores para possíveis utilizações comuns (como reuniões ou festas). Como referido, e para concluir, estes mesmos volumes configuram a linha directriz para o desenho do Jardim e da zona desportiva, rampeados e desta forma variado a sua cota, permitiam ter conteúdo programático de apoio ao Jardim, que contribuiria para a aproximação da habitação/serviços e dos habitantes do bairro equilibrado, como por exemplo:

-Jardim de infância e área exterior com baloiços. Com a mais valia de ser possível estabelecer uma relação visual com as habitações e desta forma permitir aos pais controlar e verificar a segurança dos filhos.

-Área de desportos alternativos, como parque para desportos radicais, utilizando a inclinação dos volumes enquanto parte dos obstáculos. -Zona de escalada, utilizando igualmente a inclinação.

-Área verde com zona de estar, com boa exposição solar.

-Auditório exterior, situando a bancada do público no plano inclinado. -Saídas do parque de estacionamento público sem colocar elementos contrastantes com o Jardim.

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Critérios de tabela de análise da cidade.

1. Organização 1.1. Zonamento e sectores Identificação do número de divisões e características que dizem respeito ao funcionamento e gestão da cidade.

1.2. Malha urbana Identificação do traçado regulador que limita o edificado, sendo que:

Ortogonal – corresponde a situações em que 100% do território alvo de estudo é regrado ortogonalmente enquanto um todo.

Predominantemente ortogonal – corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo é regrado ortogonalmente enquanto um todo.

Ortogonal e organizada por blocos – corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo é regrado ortogonalmente segundo uma lógica de bairro, podendo estes variar na sua orientação.

Mista – corresponde a situações em que pelo menos 40% do território alvo de estudo é regrado ortogonalmente segundo uma lógica de bairro, podendo estes variar na sua orientação, e a restante percentagem apresenta uma lógica de organização livre e sem um traçado racional.

Mista em torno de pontos de interesse - corresponde a situações em que pelo menos 40% do território alvo de estudo é regrado ortogonalmente segundo uma lógica de bairro, podendo estes variar na sua orientação, e a restante percentagem apresenta uma lógica de organização livre e sem um traçado racional contudo com pontos de referência urbana que constituam centros definidos.

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Pólos com uma lógica independente – Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta uma lógica de organização livre, adaptando-se à morfologia de forma independente, mas com pontos de referência urbana que constituam centros definidos.

Orgânica - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta uma lógica de organização livre, sem pontos de referência urbana que constituam centros definidos e sem um traçado racional, adaptando-se à morfologia de forma independente.

Outra - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta uma lógica própria exclusiva do território em questão, sem pontos em comum com outras cidades. Nestes casos, a abordagem urbana será explicada.

2. Massa construída 2.1. Proporção e proximidade Identificação da proporção entre escala do edificado e afastamento entre edifícios.

Pouco afastamento - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta edifícios cuja altura é pelo menos o dobro do afastamento entre eles.

Médio afastamento - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta edifícios cuja altura é semelhante ao afastamento entre eles.

Grande afastamento - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta edifícios cuja altura é pelo menos metade ao afastamento entre eles.

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2.2. Escala Identificação da escala predominante do edificado, através da recolha de informação de amostra de 10 edifícios imediatamente próximos, obtendo a média através da fórmula: Número total de pisos a dividir pelo número de edifícios.

Muito grande - Corresponde a situações em que a média do edificado no território seja superior a 50 pisos.

Grande - Corresponde a situações em que a média do edificado no território está comprometida entre 20 e 50 pisos.

Média - Corresponde a situações em que a média do edificado no território está comprometida entre 10 e 20 pisos.

Baixa - Corresponde a situações em que a média do edificado no território está comprometida entre 3 e 10 pisos.

Muito baixa - Corresponde a situações em que a média do edificado no território é inferior a 3 pisos.

3. Estrutura viária 3.1. Organização e número de vias Identificação da organização das vias.

Ortogonal – corresponde a situações em que 100% do território alvo de estudo apresenta vias regradas ortogonalmente.

Predominantemente ortogonal – corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta vias regradas ortogonalmente.

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Mista – corresponde a situações em que pelo menos 40% do território alvo de estudo apresenta vias regradas ortogonalmente, sendo que a restante percentagem apresenta uma lógica de organização livre e sem um traçado racional.

Orgânica - Corresponde a situações em que pelo menos 70% do território alvo de estudo apresenta vias que seguem uma lógica de organização livre e adaptada ao terreno em questão.

O número de vias considerado é a rua “tipo” para a relevância das mesmas.

Centro – Principais – correspondem às vias que fazem a ligação entre os pontos mais relevantes da cidade.

Centro – secundárias – correspondem às vias que fazem a ligação entre as vias principais da cidade.

Arredores – Principais – correspondem às vias que fazem a ligação entre os pontos mais relevantes da cidade e os pontos mais relevantes das áreas suburbanas.

Arredores – Secundárias – correspondem às vias que fazem a ligação entre as vias e os pontos mais relevantes das áreas suburbanas e as zonas habitacionais ou industriais das áreas suburbanas.

3.2. Trânsito pedonal e automóvel Identificação da proximidade entre o trânsito pedonal e automóvel.

Grande proximidade – correspondem a situações cuja média da largura do passeio é menor que um quarto da média da largura das vias automóveis e cuja presença de passagens unicamente pedonais é inferior a 1 troço por cada 10 troços de via automóvel.

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Ex. 2 vias de 3m cada com passeio igual ou inferior a 1,5m.

Média proximidade – correspondem a situações cuja média da largura do passeio está comprometida entre um quarto e metade da média da largura das vias automóveis e cuja presença de passagens unicamente pedonais está comprometida entre 1 e 2 troços por cada 10 troços de via automóvel.

Ex. 2 vias de 3m cada com passeio superior a 1,5m e inferior a 3m.

Pouca proximidade – correspondem a situações cuja média da largura do passeio é igual ou superior à metade da média da largura das vias automóveis e cuja presença de passagens unicamente pedonais é superior a 2 troços por cada 10 troços de via automóvel.

Ex. 2 vias de 3m cada com passeio igual ou superior a 3m.

4. Jardins e praças 4.1. Conteúdo Identificação do tipo de jardins e praças mais icónicos da cidade.

4.2. Escala Identificação da área média dos jardins e praças da cidade, podendo mencionar-se excepções pontuais.

Grande – correspondem a situações cuja área média das zonas verdes é superior a 1000m2

Média – correspondem a situações cuja área média das zonas verdes está comprometida entre 500m2 e 1000m2

Pequena – correspondem a situações cuja área média das zonas verdes é inferior a 500m2

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5. Mobilidade 5.1. Transportes pessoais alternativos Identificação dos principais meios de transporte alternativos e a sua facilidade de utilização.

Relativamente às vias:

Boa – correspondem a situações com vias destinadas a estes transportes sem coexistência directa com as vias de trânsito automóvel.

Média – correspondem a situações com vias destinadas a estes transportes com coexistência directa com as vias de trânsito automóvel ou situações sem vias destinadas a estes transportes mas com largura de passeio superior a 2m.

Má – correspondem a situações sem vias destinadas a estes transportes e com largura de passeio inferior a 2m.

Relativamente às distâncias:

Boa – correspondem a situações em que as distâncias a percorrer entre habitação e serviços é inferior a 1000m.

Média – correspondem a situações em que as distâncias a percorrer entre habitação e serviços está comprometida entre 1000m e 5000m.

Má – correspondem a situações em que as distâncias a percorrer entre habitação e serviços é superior a 5000m.

5.2. Transportes públicos Identificação dos principais meios de transporte públicos, e a sua facilidade e eficiência de utilização relativamente aos pontos que liga.

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6. Morfologia 6.1. Paisagem Identificação do tipo de paisagem predominante na envolvente urbana.

6.2. Escala predominante Identificação da escala da cidade e da paisagem urbana que esta constitui através da variação de cércias que apresenta nas várias areas que a constituem.

7. Iconografia 7.1. Monumentos Identificação dos principais marcos e pontos de referência da cidade (se existentes) e o seu contexto urbano.

7.2. História Identificação do período dos referidos monumentos.

Muito recente - Monumentos mais antigos datam a partir do sec XX.

Recente - Monumentos mais antigos datam a partir do sec XVIII.

Antiga - Monumentos mais antigos datam a partir do sec XV.

Muito antiga - Monumentos mais antigos datam a partir do sec X.

8. Economia 8.1. Exportação/Importação. Identificação das principais importações e o volume de trocas anual. Estatísticas que tomam em conta o valor da moeda. Notas: Uma moeda forte aumenta as importações e diminui as exportações, por aumentar o custo dos produtos nacionais e aumentar o poder de compra sobre as importações. A média de ordenados é convertida para Euros (€) a fim de criar uma comparação homogénia.

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Importação. Medida em TEU’s (Twenty-foot equivalent unit – Unidade que representa a capacidade de carga de um contentor de transporte)

Forte - Volume superior a 5000TEUs por ano.

Média – Volume comprometida entre 2500 e 5000TEUs por ano.

Baixa - Volume inferior a 2500TEUS por ano.

Inexistente - Ausência de importações directas e estruturas para o efeito.

8.2. Utilização de tecnologia Identificação do volume de utilização da tecnológica nos serviços e das suas principais áreas de utilização.

Forte – Número de serviços públicos superior a 20.

Média – Número de serviços públicos comprometido entre 10 e 20.

Baixa – Número de serviços públicos inferior a 10.

Inexistente - Ausência de utilização.

9. Infraestruturas 9.1. Águas e gestão de resíduos. Identificação do tipo de abastecimento de água potável e gestão de águas negras, assim como a localização das zonas de tratamento.

9.2. Escala Identificação do tipo de serviços energéticos disponíveis e da localização das suas zonas de produção.

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10. Programa 10.1. Centro Identificação do principal conteúdo programático da área central, número de estruturas para o efeito relativamente ao território em análise.

10.2. Periferia Identificação

do

principal

conteúdo

programático

da

área

periférica/suburbana, número de estruturas para o efeito relativamente ao território em análise.

11. Demografia 11.1. População Totalidade da população fixa da cidade (valores relativos ao centro e periferia).

11.2. Pessoas/Área Identificação do numero de habitantes por km2.

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Referências Tabela. Informação demográfica geral.: http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_the_world Informação sobre os valores dos TEU’s e principais trocas. Nova Iorque: http://www.colliers.com/enus/us/~/media/files/marketresearch/unitedstates/colliers_portreport_2012q2_final.ashx?campaign=C olliers_Port_Analysis_NA_Aug-2012 Paris: http://www.tradingeconomics.com/france/container-port-traffic-teu-20-foot-equivalent-units-wbdata.html http://www.economywatch.com/world_economy/france/export-import.html Londres: http://en.wikipedia.org/wiki/Port_of_London Tóquio: http://en.wikipedia.org/wiki/Port_of_Tokyo Hong Kong: http://www.pdc.gov.hk/eng/facilities/port.htm Mumbai: http://jvcl.wordpress.com/2008/07/19/indian-ports-poised-to-handle-21-m-teu-by-2016/ Informação sobre as infraestruturas. Nova Iorque: http://www.nyc.gov/html/dep/html/drinking_water/wsmaps_wide.shtml http://www.oru.com/energyandsafety/energychoice/newyork/nyenergysuppliers.html Paris: http://parisianfields.wordpress.com/2012/03/11/a-most-unusual-water-system/ http://link.springer.com/article/10.1007/s10113-011-0275-0#page-1 Londres: http://www.thameswater.co.uk/ http://www.london.gov.uk/moderngov/mgConvert2PDF.aspx?ID=3611 Tóquio: http://www.waterworks.metro.tokyo.jp/eng/supply/index.html http://www.tokyo-icc.jp/guide_eng/info/02.html Hong Kong: http://www.gov.hk/en/about/abouthk/factsheets/docs/wp&g_supplies.pdf Mumbai: http://www.bcpt.org.in/webadmin/publications/pubimages/watersupply.pdf http://www.tatapower.com/services/power.aspx

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Entrevistas. Carl Honoré – Jornalista Canadiano, autor dos livros “In praise of Slow” e “Under Pressure”, com artigos publicados, entre outros, em jornais como Observer, Economist, American Way, National Post, Globe and Mail, Houston Chronicle e o Miami Herald. Com participação em conferências como o TED Talking (Technology, Entertainment and Design), sendo atualmente considerado um dos principais “embaixadores” do Slow.

Figura 81 - Carl Honoré

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Versão Inglesa.

I.C.P. - When I think about the Slow Movement and what it stands for I can’t help but think of the song lyrics “time is on my side” from the Rolling Stones, even though this is a well known and attractive concept, are people really taking time as a friend outside of the Slow Comunities? C.H. - As soon as we started measuring time with clocks, we became obsessed using time as ‘efficiently’ as possible. You see that very clearly with the arrival of town clocks in medieval towns in Europe. That phrase “time is money,” which sounds so modern and seems to define the way we live in the 21st century, was actually first uttered 250 years ago by Benjamin Franklin. Later, when our hunger to use time efficiently collided with the industrial revolution (which gave us the tools to do everything faster) and modern capitalism (which rewards speed in so many ways), we started on the path that has led to the 21st century -- when every moment of the day is a race against the clock, both at work and in our private lives. In our fast-forward culture, we have become obsessed with squeezing every last drop of productivity out of our time. This started in the workplace, but has infected our approach to free time, too.

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Even when we are away from work, with no deadlines and no boss hovering over us, we are still terrified of wasting time. That means that we feel compelled to use our free time to be active, productive, doing things. If we don't we fell guilty. One result is that the very idea of "free time" is seen in a pejorative light. In English, people refer to it is "down time" or "dead time." By that I mean that we live best when we live fully, when we give our full attention to every moment and every act. We have a such a neurotic relationship with time. We see time as a bully to be feared or conquered,

or as a limited

resource that we must rush to exploit as fast as possible. This leads us into putting quantity before quality. We end up cramming our schedules with activity and stimulation in the false belief that this is the best way to make use of our time. It is not. The best way to use time is to do fewer things but to give them your full attention and love. You have to accept that the old adage “time is money" does not always hold true: you can’t save up time for a rainy day the way you can save up coins in a piggy bank. Each person has their own "tempo giusto." And you just know when you are living at the right tempo. You feel it in your bones. You are more healthy. You feel fully engaged with what you are doing. You take pleasure from each moment. You remember things clearly, rather than forgetting them as soon as they are finished. You feel closer to the people who matter to you. You are more creative and curious. You are more productive at work. You have the time and space to reflect on the big questions in life. You feel full of energy and optimism. You are completely alive. I think the real root of our accelerated culture is our neurotic relationship with time itself. We see time as the enemy, something to be conquered and exploited to the fullest extent – we seem to think that the best way to use time is to squeeze more and more into every minute. And that turns every moment of the day into a race against the clock. But it doesn’t have to be this way. Time is time. What matters is how we approach it. If we treat time as an enemy, or a finite resource that is always draining away, then we will find ourselves stuck in fast forward. But if we think of time as the element that we live in, like air, then it can become our friend, the thing that sustains us. One way to achieve this is to stop measuring time obsessively. To rely on your internal clock more.

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I think mainstream culture is still caught up in the "time as enemy" mindset. The Slow revolution is challenging that but there is still a long way to go before everyone regards time as their friend.

I.C.P. - If Slow Living is mostly a state of mind, a way of looking at and doing everyday chores, is it possible to actually Slow Down on a Fast paced metropolis when almost everything and everyone else is rushing around us? C.H. - It is not easy to slow down, especially in a fast city. But it is possible. No man is an island and when we start slowing down we have to take account of the impact on people around us. That involves warning friends and colleagues, explaining why your are going to do less, unplug your technology more, and ask for more time for work assignments. I was afraid at first that this was going to alienate people, and initially some were skeptical. But very soon people began to understand that they could no longer reach me 24 hours a day; that I wasn’t going to say Yes to every social and work offer; that I might like a bit more time for a job. What I found is that people around me, after a time of watching me slow down, began to implement similar changes in their own lives. The important thing to remember here is that most of us are trying to do too much. A first step to slowing down is to do less – to prioritise the things that are important and let everything else go. When you do less, you don’t feel so much pressure to go fast. Explaining why you are going to slow down is essential. Together we all need to tackle the taboo against slowness. If you make the case the Slow means better, people understand – and are more willing to accept your deceleration than if you just slowed down without explaining. And it is so worth the effort to slow down. Slowing down takes away the constant stress about timekeeping. It allows us to rest and recharge our bodies and minds. It improves our diet and the environment we live in. And it strengthens our relationships and communities. Slowing down brings an inner calm. This is good for mental health but also for thinking more creatively. It also gives you time and space to reflect deeply and ask the bigger questions: Who am I? What is my role in the world?

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And that brings a greater depth and meaning to life. It also creates a more cohesive society where people are interested in the welfare of others. Slowing down allows us to be more efficient. We make fewer mistakes and better decisions. It also gives us greater pleasure. We live our lives instead of rushing through them. We are able to take real pleasure from things. As Mae West famously said: “Anything worth doing is worth doing slowly.” I am walking the Slow talk. I have a very clear before and after. In the past, every moment of my day was a race against the clock. Now I almost never feel rushed any more. I do fewer things but I do them better and enjoy them more. I take breaks during the workday to relax, eat and do a bit of meditation. I stopped wearing a watch, which helped make me less neurotic about time. I switch off my technology (email, iPhone, etc) whenever possible, to avoid being always connected. It’s about quality rather than quantity. I am living my life rather than rushing through it I now have time for those moments that give life meaning and texture – reading a leisurely bedtime story to my children, enjoying a glass of wine with my wife in the evening, chatting with a neighbor, stopping and staring at a beautiful building or sunset. I feel like I’m living my life now instead of racing through it.

I.C.P. - Most people can’t afford to simply abandon the life they have in the big (fast) city and trade it for a life in a Slow Community, is there a possible Slow Movement alternative that doesn’t imply leaving a job, move to another home and have their children to change schools? C.H. - Yes, you don’t have to quit your job, move to the country and grow organic carrots to join the Slow movement. You can be Slow anywhere because it is a state of mind. It is a like changing a chip inside your head. You can bring a Slow state of mind to almost any kind of life. It's not an alternative to the Slow movement. It is the Slow movement. It's about approaching each moment trying to do whatever it is as well as possible instead of as fast as possible. Once you make that shift, you are already well on your way to living Slow. And anyone can bring that mindset to bear on their lives.

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I.C.P. - Not everything in the Fast Lifestyle and Fast Cities is bad, a lot of development, goods and services are available because of that pace, can’t the Slow Lifestyle incorporate those positive aspects? C.H. - Yes, totally. Because Slow is not anti-fast. It's about the right speed. In fact, we need the fast stuff to help us live Slow. If I can be more efficient thanks to my iPhone or laptop, then that gives me more time to cook meals at home and talk to my family. But only if I am disciplined enough to impose limits on myself. And this is the key: instead of using the "fast" aspects to help us live Slow, we become addicted to the speed and never unplug or stop. I notice that people are getting more and more aware that they need to take a break from their increasingly fast environment, this sometimes means they have to let go of the ideia that they have to obtain results and reach for the end of things as fast as possible and just enjoy the ride and all the good things life has to offer.

I.C.P. - Such a lifestyle revolution, as you mention on “in praise of slow” would take some adjustment and in the contemporary world this is actually going on the opposite of the “river’s flow”. How can someone deal with this kind of pressure?

C.H. - The Slow movement has grown fast and bigger than I ever could have imagined. When I first thought of calling the cultural change that I saw around us the "slow movement," I entered this in Google and came up with zero web pages. Today you enter "slow movement" and you get 1.2 million hits. There are now movements for Slow Travel, Slow Design, Slow Copywriting, Slow Science, Slow Parenting, Slow Education, Slow Houses, Slow Research, Slow Parks, Slow Libraries, Slow Art and the list goes on and on. Even people you would never expect to embrace Slow are doing so. IBM has launched a Slow E-mail movement. And there is even a strong Slow Fashion movement. I am regularly contacted by students who are devoting their university thesis to some aspect of Slow, whether it be in Design, Urbanism, Travel, Medicine, etc.

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In 2011, La Foire de Paris chose "Slow Time" as its official theme. The whole fair was infused with Slow ideas and aesthetics - and it got massive media coverage. The most exciting thing is that more and more people are putting the Slow idea into practice every day and in every walk of life. Every day, I get emails from readers around the world telling me how slowing down has change their lives, their careers, their families, their companies. By telling stories about how slowing down works, the movement is helping other people take the same step. We are all scared to decelerate, so it gives us confidence to see others doing so and reaping the benefits.

I.C.P. - I saw an interview where you mentioned something that really touched me, it was about your son’s talent for art, you said “I marched home, I was on Google and started to hunt down a art tutor” which your son refused because he just wanted to draw. I relate to this innocence and find that nowadays children are taught to be Fast and learn more and more stuff in less time, but are also less and less encouraged to think for themselves and find alternative solutions to problems, logically it seems that thinking alike would reduce the number of creative and possible approaches in an academic, professional and even personal matters. Isn’t this dangerous for the future as it pretty much reinforces the “herd-like” collective thought?

C.H. - Children need to strive and struggle and stretch themselves but that does not mean childhood should be a constant race. Children need plenty of time and space to explore the world on their own terms. Parents need to keep the family schedule under control so that everyone has enough downtime to rest, reflect and just hang out together. We all need to accept that bending over backwards to give children the best of everything may not always be the best policy (because it denies them the much more useful life lesson of how to make the best of what they’ve got.

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We need to give children the time and space to work out who they are rather than what we want them to be; to let things happen rather than jumping in and forcing them; to accept that the richest kinds of learning and experience often cannot be measured or neatly packaged on a résumé or CV. Childrearing should not be a cross between a competitive sport and productdevelopment. It is not a project; it’s a journey. We need to give kids lots of love and attention with no conditions attached. The good news is that I see many examples of a counter-trend, with more and more parents choosing to back off and give their children the time and space they need to explore the world on their own terms and to take risks. One example: parents in Europe are signing up their kids for outdoor sports clubs and camps that actually promise danger and risk-taking. We’re also seeing parents challenging the idea that parking a child in front of technology is not the best way to spend a childhood. It’s very revealing that the Baby Einstein DVD series was forced to drop the word “educational” from its publicity material. And a few months ago, Disney, the company behind it, was forced to offer parents a full refund. The message is clear: watching a DVD will not tranform your baby into a little Einstein by. This seems to me a very important symbolic shift. To give youth sports back to the young, leagues are clamping down on parents howling abuse from the sidelines and shifting the emphasis away from winning at all costs to learning and enjoying the game. To give over-scheduled children a breather, towns across the world now hold special days when all homework and extracurricular activities are cancelled. Many families are so relieved to go just one evening without dashing off to karate or lacrosse that they prune their planners during the rest of the year. Elite universities are sending a similar message. The Massachusetts Institute of Technology recently revamped its application form to put less emphasis on the number of extracurricular activities a candidate signs up for and more on what really fires his passion. Even the mighty Harvard urges incoming freshmen to check their overscheduling ways at the door. Posted on the university Web site, an open letter by Harry Lewis, a former dean of the undergraduate school, warns students that they will get more out of college, and indeed life, if they do less and concentrate on the things that really fire their passion:

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“[You] are more likely to sustain the intense effort needed to accomplish firstrate work in one area if you allow yourself some leisure time, some recreation, some time for solitude, rather than packing your schedule with so many activities that you have no time to think about why you are doing what you are doing.” Lewis also takes aim at the notion that everything young people do must have a measurable payoff or contribute toward crafting the perfect CV. “You may balance your life better if you participate in some activities purely for fun, rather than to achieve a leadership role that you hope might be a distinctive credential for postgraduate employment. The human relationships you form in unstructured time with your roommates and friends may have a stronger influence on your later life than the content of some of the courses you are taking.” The title of the letter sounds like a direct challenge to the culture of hyper-scheduling. It is called: Slow Down: Getting More Out of Harvard by Doing Less. This speed culture is doing real harm to children. We are now raising the fattest generation of children the world has ever seen. Athletic kids are also suffering from serious injuries in record numbers because we have professionalized youth sports. Children who are under pressure to be perfect can end up less creative. They do not have the time or the space to explore the world on their own terms, to learn to take risks and make mistakes. They do not learn to think for themselves. They just do what they are told. They also don’t learn to look inside themselves to work out who they are because they are so busy trying to be what we want them to be. They can also suffer from more stress and exhaustion. And they don’t learn how to use time, or how to fill time on their own – so they get bored more easily. Children who have had every moment of their lives micromanaged, organized, supervised and scheduled by adults will later find it hard to stand on their own two feet. In other words they never grow up. That is why university students are suffering mental health problems in record numbers. These days you also hear professors tell of 19-year-olds handing over the mobile phone in the middle of interviews with the words: “Why don’t you sort this out with my mum?”. Children need to learn gradually to cope with risk, fear and failure. If you wrap them in cotton wool, they grow up thinking the world owes them a free and easy ride.

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Discovering that life is harder than that can come as a huge shock if it comes all once. That is one reason that university students are going to pieces in record numbers around the world. After a childhood spent in a gilded cage placed a pedestal, they emerge from the family home unable to handle the rough and tumble of real life. Children have less time to devote to free, unstructured play. This is a real problem because such play is essential for their healthy development. It knocks their brains into shape, teaching them how to think creatively, how to invent, how to get along with their peers and how to makes sense of the world and their place in it. Real play is also the best stressbuster out there. The umbilical cord even remains intact after graduation. To recruit college graduates, blue-chip companies such as Merrill Lynch have started sending out “parent packs” or holding open-house days when Mum and Dad can vet their offices. Parents are even turning up at job interviews to help negotiate salary and vacation packages. I think we’re also in danger of squeezing out the simple, soaring joy of being a child.

I.C.P. - In this line of thought, would you consider that Slow has the need to be taught in schools and at home? If so, how could it be taught?

C.H. - Definitely. I think we need to start early by teaching children that faster isn't always better. That the richest thinking and learning takes time. That searching for a solution is often more important than find the getting the "right" answer. I think parents can set a Slow example in the home by stressing the need to relax, to be playful, to enjoy unstructured time, to unplug the gadgets.

I.C.P. - Einstein said “you can’t judge a fish by its hability to climb a tree”, does Slow also mean taking time to be different and to pursuit the aspects wich makes one unique?

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C.H. - Exactly. What speed does is to wipe away nuances and difference. It's easier and faster to sell one kind of tomato or apple in supermarkets. But it's also boring and narrowing. The same goes for children. Our obsession with measuring, quantifying and accelerating learning rubs away the differences between kids and establishes a single metric for what constitutes a successful child. This is ridiculous and toxic. The Slow Education (http://sloweducation.co.uk)

movement

I

am

part

of

is

all

about

understanding that every child is different and that we enrich society in every way when we encourage rather than discourage that uniqueness.

I.C.P. - When we think about the first CittáSlow towns, specially places like Orvieto, Greve or Chianti, we can’t help but notice they seem isolated and quite closed, at least from the geographical point of view, how can these Slow Cities mantain direct contact with other towns in order to profit from what they have to offer?

C.H. - Many of these official Slow Cities can feel a bit like museums or tourist destinations. One way to avoid that is to connect them to the outside world using technology, which is happening. This allows others to learn about these cities and encourages new industries to set up shop in them, which keeps them young and alive.

I.C.P. - Isn’t there a chance that Slow Cities, because of their somewhat bucolic caracteristics, become an attraction or some sort of holiday destination on the long run?

C.H. - Definitely. This has happened in many cases, and it's not ideal because it can give the impression that being Slow means living in a picturesque small town. That is certainly one way to live Slow but it's certainly not the only one. Remember that Slow Cities is a formal organisation based in Italy and is only open to cities up to 50,000 inhabitants.

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That means it offers one vision of Slow in the urban context. The beauty and power of the Slow revolution is that anyone is free to make their own interpretation of it. You can already see larger cities embracing "Slow" ideas: public networks for renting bicycles are now popular in huge cities in Europe, Latin America, North America etc; many large cities are closing roads to traffic and opening them up to pedestrians; big cities are creating more park areas where people can relax in nature; others are setting aside quiet carriages on trains where the use of technology is banned; and the list goes on‌

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Versão Portuguesa.

I.C.P. - Quando penso sobre o movimento Slow e o que ele representa não consigo evitar de pensar na letra "o tempo está do meu lado" dos Rolling Stones, mesmo sendo este um conceito bem conhecido e atractivo, as pessoas estão realmente a tomar o tempo como um “amigo” fora das comunidades Slow? C.H. - Assim que se começou a medir o tempo com relógios, tornamo-nos obcecados com usar o tempo de forma tão "eficiente" quanto possível. Podes ver isso muito claramente com a chegada dos relógios às cidades medievais da Europa. A frase "tempo é dinheiro", que soa tão moderna e parece definir a maneira como vivemos no século XXI, foi na verdade proferida pela primeira vez há 250 anos por Benjamin Franklin. Mais tarde, quando a nossa vontade de usar o tempo de forma eficiente colidiu com a revolução industrial (que nos deu as ferramentas para fazer tudo mais rápido) e do capitalismo moderno (que premeia a velocidade de muitas formas), começamos o percurso que levou ao século XXI – em que cada momento do dia é uma corrida contra o relógio, tanto no trabalho como nas nossas vidas privadas. Na nossa cultura de fast-forward, estamos obcecados com espremer o nosso tempo até á última gota de produtividade. Isso começou no local de trabalho, mas já infectou a nossa abordagem ao tempo livre, também. Mesmo quando estamos longe do trabalho, sem prazos e sem ter o patrão pairando sobre nós, ainda estamos com medo de perder tempo. Isso significa que nos sentimos obrigados a usar nosso tempo livre para ser activos, produtivos e a fazer coisas. Se não o fizermos somos invadidos por um sentimento de culpa. O resultado é que a própria idéia de "tempo livre" tornase um elemento visto de forma pejorativa. Em Inglês, as pessoas se referem a isto como "o tempo baixo" ou "tempo morto". Com isto, quero dizer que se vive melhor quando vivemos plenamente, quando damos a nossa atenção a cada momento e em cada acto.

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Nós temos uma relação de tal forma neurótica com o tempo que o vemos como um tirano a ser temido ou conquistado, ou como um recurso limitado que temos de correr para explorar o mais rapidamente possível. Isso leva a que coloquemos a quantidade antes de qualidade. Damos por nós a encher os nossos horários com actividade e estimulos na falsa crença de que é a melhor maneira de fazer uso de nosso tempo. Não é. A melhor maneira de usar o tempo é fazendo menos coisas, mas dando-lhes toda a sua atenção e amor. Tu tens que aceitar que as velhas máximas como "tempo é dinheiro" nem sempre são verdadeiras:. Não podemos economizar tempo para um dia mau da mesma maneira que se pode economizar moedas num mealheiro. Cada pessoa tem seu próprio "tempo giusto ." Só tu podes saber quando estás a viver no ritmo certo. Sentes isso nos teus ossos. Tornas-te mais saudável. Sentes-te totalmente comprometido com o que estás a fazer. Tiras prazer de cada momento. Lembras-te das coisas claramente, em vez de esquecê-las assim que terminares. Sentes-te mais próximo das pessoas que são importantes. Tornas-te mais criativo e curioso. Mais produtivo no trabalho. Tens tempo e espaço para reflectir sobre as grandes questões da vida. Sentes-te cheio de energia e otimismo. Completamente vivo. Acho que a verdadeira raiz da nossa cultura acelerada é a nossa relação neurótica com o próprio tempo. Vemos o tempo como inimigo, algo a ser conquistado e explorado ao máximo – parece-nos que a melhor maneira de usar o tempo é espremer mais e mais em cada minuto. Isso transforma cada momento do dia em uma corrida contra o relógio. Mas ele não tem que ser assim. O que importa é a forma como abordamos o tempo. Se tratarmos o tempo como um inimigo, ou um recurso finito que está sempre em risco de se esgotar, então vamos dar por nós presos em fast forward. Mas se pensarmos no tempo como o elemento em que vivemos, como o ar, então ele pode ser nosso amigo, a coisa que nos sustenta. Uma maneira de conseguir isso é parar de medir o tempo obsessivamente. Contar mais com o seu relógio interno mais. Eu acho que a cultura mainstream ainda está presa na mentalidade de "tempo é o inimigo. A revolução Slow é um desafio no qual ainda há um longo caminho a percorrer antes de todo o mundo respeitar o tempo e entender que este pode ser como um amigo.

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I.C.P. - Se o estilo de vida Slow é principalmente um estado de espírito, uma maneira de olhar e fazer as tarefas mundanas, é realmente possível abrandar numa metrópole de ritmo rápido em que quase tudo e todos à nossa volta estão apressados?

C.H. - Não é fácil abrandar, especialmente numa cidade Fast. Mas é possível. Nenhum homem é uma ilha e, quando começamos a abrandar, temos de ter em conta o impacto que isso tem sobre as pessoas ao nosso redor. Que envolve alertar amigos e colegas, explicando por que estás decidido a fazer menos, a desligar a tecnologia mais vezes e pedir mais tempo para tratar de trabalho. No principio eu estava com medo que isso fosse alienar as pessoas e, inicialmente, alguns estavam cépticos. Mas rapidamente as pessoas começaram a entender que eles não me podiam alcançar 24 horas por dia, que eu não ia dizer sim a cada oferta social e de trabalho; que eu poderia requerer um pouco mais de tempo para um dado trabalho. O que eu notei é que as pessoas ao meu redor, após um tempo a observar-me a abrandar, começaram a implementar mudanças semelhantes nas suas próprias vidas. A coisa importante a lembrar aqui é que a maioria de nós estamos a tentar fazer demasiado. Um dos primeiros passos para desacelerar é a fazer menos – estabelecer prioridades, focando-nos nas coisas que são importantes e deixar tudo o resto. Quando tu fazes menos, não sentes tanta pressão para ir mais rápido. Explicar as razões pelas quais tu estás a abrandar é essencial. Juntos, todos nós precisamos de enfrentar o tabu contra o Slow. Se tu explicares que Slow significa melhor, as pessoas entendem e estão mais dispostas a aceitar a tua desaceleração do que se tu começares a abrandar sem explicar nada. Mostrar que vale a pena o esforço de abrandar e retirar o stress constante sobre a pontualidade. Permite-ns descansar e recarregar os nossos corpos e mentes. Melhora a nossa dieta e o ambiente em que vivemos, fortalece os nossos relacionamentos e comunidades. Abrandar faz-se acompanhar de calma interior. Isso é bom para a saúde mental, mas também para pensar mais

criativamente.

Também

lhe

tempo

e

espaço

para

refletir

profundamente e fazer as perguntas maiores: Quem sou eu? Qual é o meu papel no mundo? Isso traz uma maior profundidade e significado à vida.

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O Slow também cria uma sociedade mais coesa, onde as pessoas estão interessadas no bem-estar dos outros. Abrandar permite ser mais eficiente. Cometer menos erros e tomar decisões melhores. Também nos dá maior prazer. Nós vivemos as nossas vidas em vez de correr por elas. Somos capazes de retirar o prazer real de coisas. Como Mae West disse: "Tudo o que vale a pena fazer vale a pena fazer lentamente." Eu estou percorrendo a conversa Slow. Tenho uma noção muito clara de antes e depois. No passado, cada momento do meu dia era uma corrida contra o relógio. Agora eu quase nunca estou apressado. Faço menos coisas, mas faço-as melhor e aprecio-as mais. Efectuo pausas durante a jornada de trabalho para relaxar, comer e fazer um pouco de meditação. Deixei de usar relógio, o que ajudou a tornarme menos neurótico com o tempo. Desligo a minha tecnologia (iPhone, email, etc) sempre que possível, para evitar estar sempre conectado. Basicamente o Slow é a qualidade em vez da quantidade. Eu vivo a minha vida invés de correr por ela e agora tenho tempo para esses momentos que dão sentido e textura à vida - leio uma história para dormir aos meus filhos, desfruto de um copo de vinho com minha esposa, à noite, converso com um vizinho, paro e olho para um belo edifício ou pôr do sol. Sinto que eu estou vivendo a minha vida agora, em vez de competir com ela.

I.C.P. - A maioria das pessoas não se pode dar ao luxo de simplesmente abandonar a vida que tem na cidade grande (Fast) e trocá-la por uma vida numa comunidade Slow, há uma alternativa possível ao movimento Slow, que não implique deixar um emprego, ir para outra casa e obrigar os filhos a mudar de escola? C.H. - Sim, tu não tes que te demitir, mudra-te para o campo e cultivar cenouras orgânicas para te juntares ao movimento Slow. Tu podes ser Slow em qualquer lugar porque o Slow é um estado de espírito. É uma vontade de mudar um chip dentro da sua cabeça. Tu podes incorporar um estado de espírito Slow para quase qualquer tipo de vida.

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229!


Não é uma alternativa ao movimento Slow. É o movimento Slow. É de se ver cada momento tentando fazer com que seja o melhor possível, em vez de o mais rápido possível. Depois de fazer essa mudança, tu já estás bem na tua maneira de viver Slow. E qualquer um pode trazer essa mentalidade para as suas vidas.

I.C.P. - Nem tudo no estilo de vida Fast e nas Cidades Fast é mau, muito do desenvolvimento, productos e serviços estão disponíveis devido a esse ritmo, não pode o estilo de vida Slow incorporar esses aspectos positivos? C.H. - Sim, completamente. Porque Slow não é anti-Fast. É sobre atingir a velocidade certa. Na verdade, precisamos de coisas rápidas para nos ajudar a viver de forma Slow. Se eu puder ser mais eficiente graças ao meu iPhone ou laptop, então, isso dá-me mais tempo para cozinhar refeições em casa e falar com a minha família. Mas apenas se eu for disciplinado o suficiente para impor limites a mim mesmo. E esta é a chave: em vez de usar os aspectos do Fast para nos ajudar a viver Slow, ficamos viciados na velocidade e nunca desligamos ou paramos. Noto que as pessoas estão a ficar mais e mais conscientes de que elas precisam de fazer uma pausa de seu ambiente cada vez mais rápido, isso às vezes significa que têm de deixar ir a ideia que eles têm de obter resultados e alcançar o fim das coisas tão rápido quanto possível e apenas aproveitar o passeio e todas as coisas boas que a vida tem para oferecer.

I.C.P. - Tal revolução do estilo de vida, como mencionaste no livro "in praise of Slow" traria a necessidade de alguns ajustes e no mundo contemporâneo estes são considerados como um "remar contra a maré". Como é que alguém pode lidar com esse tipo de pressão?

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C.H. - O movimento Slow cresceu rapidamente e mais do que eu jamais poderia ter imaginado. Quando eu pensei em chamar a mudança cultural que eu via em torno de nós de "movimento Slow", fiz uma pesquisa no Google e obtive zero páginas da web. Hoje tu procuras "movimento Slow" e encontras 1,2 milhões de acessos. Existem hoje movimentos de Slow Travel, Slow Design, Slow Copywriting, Slow Science, Slow Parenting, Slow Education, Slow Houses, Slow Research, Slow Parks, Slow Libraries, Slow Art e a lista vai continuando a crescer. Mesmo as pessoas que tu nunca esperavas ver abraçar o Slow estão a fazer isso. O IBM lançou um movimento E-mail Slow. E há mesmo um movimento de moda Slow. Sou regularmente contactado por estudantes que estão a dedicar a sua tese universitária a algum aspecto do Slow, seja em design, urbanismo, viagens, medicina, etc. Em 2011, La Foire de Paris escolheu o "Slow Time" como tema oficial. A feira toda foi infundida em idéias Slow com cobertura das mass media. A coisa mais emocionante é que mais e mais pessoas estão a colocar a idéia em prática a cada dia e em cada percurso de vida. Todos os dias, recebo e-mails de leitores por todo o mundo dizendome como o facto de terem abrandado tem mudado as suas vidas, as suas carreiras, as suas famílias, as suas empresas. Ao contar histórias sobre as possiveis formas de abrandar, o movimento está a ajudar outras pessoas a tomar a mesma decisão. Estamos todos com medo de desacelerar, por isso dá-nos confiança ver os outros fazê-lo e colher os respecivos benefícios. I.C.P. - Vi uma entrevista onde mencionaste algo que realmente me tocou, foi sobre o talento do teu filho para a arte, disseste "eu marchei até casa, fui ao Google e comecei a procurar um tutor de arte" que teu filho se recusou porque ele só queria desenhar. Identifico-me com essa inocência e pareceme que hoje em dia as crianças são ensinadas a aprender mais e mais coisas em menos tempo, mas também são menos e menos encorajados a pensar por si mesmos e encontrar soluções alternativas para os problemas, logicamente parece que esta linha de pensamento reduz o número de abordagens criativas e possibilidades em assuntos acadêmicos, profissionais e até mesmo pessoais. Não será isto perigoso para o futuro, uma vez que praticamente reforça o pensamento coletivo?

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C.H. - As crianças precisam de se esforçar, lutar e evoluir, mas isso não significa que a infância deve ser uma corrida constante. As crianças precisam de muito tempo e espaço para explorar o mundo pelos seus próprios termos. Os pais precisam manter o cronograma familiar sob controle, para que todos tenham tempo de inatividade o suficiente para descansar, refletir e interagir. Nós precisamos aceitar que por vezes devemos afastar-nos, dar às crianças o melhor de tudo pode não ser sempre a melhor política (porque lhes nega a lição de vida muito mais útil de como retirar o melhor daquilo que têm). Precisamos dar às crianças o tempo e espaço para descobrir quem elas são e não o que nós queremos que elas sejam, para deixar as coisas acontecerem em vez de forçá-los, aceitar que os mais ricos tipos de aprendizagem e experiência muitas vezes não podem ser medidos ou cuidadosamente embalados para constituir um currículo. A educação da criança não deve ser um cruzamento entre um esporte competitivo e de desenvolvimento de produto, não é um projeto, é uma viagem. Nós precisamos dar às crianças amor e atenção, sem condições associadas. A boa notícia é que eu vejo muitos exemplos, com mais e mais pais a optar por recuar e dar aos seus filhos o tempo e o espaço de que precisam para explorar o mundo em seus próprios termos e assumir os seus próprios riscos. Por exemplo: pais na Europa estão a inscrever os seus filhos nos clubes e campos de desportos ao ar livre que prometem perigo e tomadas de risco. Também estamos a assistir a pais que questionam a idéia de que o simplesmente deixar um filho em frente a tecnologia não é a melhor maneira de passar uma infância. É muito revelador desta nova abordagem, coisas como a série em DVD “Baby Einstein” ter sido forçada a abandonar a palavra "educativo" no seu material publicitário e há alguns meses atrás, a Disney, a empresa que lançou este produto, foi forçada a oferecer aos pais um reembolso total. A mensagem é clara: assistir a um DVD não tranforma o seu bébé num pequeno Einstein. Parece-me uma mudança muito importante e simbólica. Para dar os desportos da juventude de volta aos jovens, as ligas vão reprimir pais que torçam negativamente do lado de fora do campo, mudando a ênfase colocada em ganhar a todo o custo e desta forma aprendendo a desfrutar do jogo.

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Para dar mais tempos livres às crianças, cidades de todo o mundo passaram a deter dias especiais quando todas as atividades de casa e extracurriculares são canceladas. Muitas famílias estão tão aliviadas por terem pelo menos uma noite sem ter que corer para levar os filhos ao karate ou lacrosse que largam as suas agendas durante o resto do ano. Universidades de elite começaram a transmitir uma mensagem semelhante. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts recentemente renovou a sua forma de aplicação

para

colocar

menos

ênfase

no

número

de

actividades

extracurriculares às quais um candidato se pode inscrever direccionando-o muito mais para o que realmente dispara sua paixão. Até mesmo a poderosa Harvard encoraja os calouros a deixar as suas agendas sobrelotadas de lado. Postado no site da universidade, uma carta aberta da parte de Harry Lewis, ex-reitor da escola de graduação, avisa aos alunos que eles podem retirar mais satisfação da faculdade, e da vida, se fizerem menos e se concentrarem nas coisas que realmente desperta as suas paixões: "[Vocês] ficam melhor preparados a sustentar o intenso esforço necessário para realizar trabalho de excelência numa área se vocês se permitirem algum tempo de lazer, alguma recreação, de algum tempo para estar sozinhos, em vez de sobrelotarem as agendas com tantas actividades que não tenham tempo para pensar na razão pela qual estão a fazer o que estão realmente a fazer. " Lewis também frisa que tudo que as pessoas mais jovens fazem não deve ter orbigatoriamente um retorno mensurável ou contribuir para a elaboração do CV perfeito. "Vocês podem equilibrar as suas vida melhor se vocês participarem em algumas atividades puramente por diversão, em vez de alcançar um lugar de liderança que vocês esperam, pode ser uma credencial distintivo para o emprego de pós-graduação. As relações humanas que se formam no tempo livre com os colegas e amigos podem ter uma forte influência na vida mais tarde, mais até do que o conteúdo de algumas das disciplinas nas quais estão inscritos." O título da carta soa como um desafio directo à cultura do hiper-agendamento. É chamado: “Slow Down: obter mais de Harvard fazendo menos.” Esta cultura de velocidade está a provocar danos nas crianças. Neste momento estamos com a geração de crianças com mais casos de obesidade que o mundo já viu.

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233!


Crianças atléticas também sofrem ferimentos graves em números recordes porque há desportos profissionalizados ainda na juventude. As crianças que estão sob pressão para serem perfeitos pode acabar menos criativas. Elas não têm o tempo ou o espaço para explorar o mundo pelos seus próprios termos, para aprender a assumir riscos e cometer erros. Elas não aprendem a pensar por si mesmas. Elas apenas fazem o que lhes é dito. Elas também não aprendem a olhar para dentro de si para descobrir quem realmente são, porque elas estão tão ocupadas a tentar ser o que queremos que elas sejam. Elas também podem sofrer de mais stress e exaustão. E não aprendem a usar o tempo, ou a maneira de preencher o tempo por conta própria - assim elas ficam entediadas com mais facilidade. As crianças que tiveram cada momento

de

suas

vidas

microgerido,

organizado,

programado pelos adultos, mais tarde é-lhes

supervisionado

e

difícil caminhas pelos seus

próprios dois pés. Por outras palavras elas nunca crescem. É por isso que os estudantes universitários estão a sofrer de problemas de saúde mental em números recordes. Hoje em dia já ouvimos professores falar de adolescents de 19 ano a entregar o telemóvel no meio de entrevistas com as palavras: "Por que você não resolve isso com a minha mãe?". As crianças precisam de aprender gradualmente a lidar com o medo, o risco e o fracasso. Se nós as envolvemos em lã e algodão, elas crescem a pensar que o mundo lhes deve um percurso livre e fácil. Descobrir que a vida é difícil, pode surgir como um choque enorme, se surgir toda de uma vez. Essa é uma razão pela qual os estudantes universitários estão a desistir em números recordes em todo o mundo. Depois de uma infância passada numa gaiola dourada colocado num pedestal, saem da casa da família incapazes de lidar com a queda áspera da vida real. As crianças têm menos tempo para se dedicar ao jogo, livre e desestruturado. Este é um problema real, porque o jogo é essencial para o seu desenvolvimento saudável. Ele bate o cérebro em forma, ensinálos a pensar de forma criativa, como inventar, como se pode dar bem com os seus pares e qual o sentido do mundo e o seu lugar nele. O jogo real é também a melhor forma de lidar com o stress. O cordão umbilical ainda permanece intacto após a graduação.

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Para recrutar graduados universitários, empresas blue-chip, como a Merrill Lynch iniciou o envio de "pacotes de pai" ou segurando dia aberto na casa em que os pais podem visitor os seus escritórios. Os pais até têm aparecido em entrevistas de emprego para ajudar a negociar pacotes de salário e de férias. Parece-me que estamos em perigo de retirar a alegria, o simples prazer de ser uma criança.

I.C.P. - Nesta linha de pensamento, consideras que o Slow deve ser ensinado nas escolas e em casa? Se assim for, como poderia ser ensinado?

C.H. – Com certeza. Eu acho que temos de começar cedo a ensinar as crianças que mais rápido nem sempre é melhor. Que o pensamento e aprendizagem demoram o seu tempo. Que a procura de uma solução é muitas vezes mais importante do que encontrar a obter a resposta "certa". Eu acho que os pais podem dar o exemplo Slow em casa, salientando a necessidade de relaxar, de brincar, desfrutar do tempo livre e para desligar os aparelhos.

I.C.P. - Einstein disse: "Não se pode julgar um peixe pela sua habilidade em subir uma árvore", Slow também significa ter tempo para ser diferente e para a valorização dos aspectos que tornam uma pessoa única?

C.H. - Exatamente. O que a velocidade faz é apagar nuances e diferenças. É mais fácil e mais rápido vender unicamente um tipo de tomate ou maçã nos supermercados. Mas, também é chato e redutor. O mesmo é válido para as crianças. A nossa obsessão com a medição, a quantificação e o acelerar da aprendizagem apaga as diferenças entre as crianças e estabelece um unico modelo para o que constitui uma criança bem sucedida. Isso é ridículo e tóxico.

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O movimento Educação Slow (http://sloweducation.co.uk) do qual que eu faço parte, nutre a ideia de que cada criança é diferente e que podemos enriquecer a sociedade em todos os sentidos quando encorajamos estas singularidades em vez de as desencorajar.

I.C.P. - Quando pensamos nas primeiras cidades do movimento Cittaslow, especialmente terras como Orvieto, Greve ou Chianti, não podemos deixar de notar que elas parecem isoladas e bastante fechadas, pelo menos do ponto de vista geográfico. Como podem estas comunidades manter contato directo com outras cidades, a fim de lucrar com o que elas têm para oferecer?

C.H. - Muitas dessas cidades Slow oficiais podem parecer um pouco museus ou destinos turísticos. Uma maneira de evitar isso é conectando-as com o mundo exterior pelo uso da tecnologia, o que já acontece. Isso permite que os outros possam aprender sobre essas cidades e incentiva novas indústrias a estabelecerem-se nelas, o que as poderá manter jovens e vivas.

I.C.P. - Não há uma probabilidade de que as Slow Cities, por causa das suas caracteristicas um pouco bucólicas, se tornem numa atração ou algum tipo de destino de férias a longo prazo?

C.H. - Definitivamente. Isso já aconteceu em muitos casos, e não é o que se pretende, porque pode dar a impressão de que ser Slow significa viver numa pequena cidade pitoresca. Certamente é uma maneira de viver Slow mas não é o único. Lembra-te que o movimento Slow Cities é uma organização formal com sede em Itália e está aberto apenas para cidades de até 50.000 habitantes. Isso significa que ele oferece uma visão de Slow no contexto urbano. A beleza e o poder da revolução Slow é que qualquer um é livre para fazer a sua própria interpretação do mesmo.

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Tu já podes ver cidades maiores a abraçar as ideias do "Slow": as redes públicas para alugar bicicletas são agora populares em grandes cidades na Europa, América Latina, América do Norte, etc; muitas cidades grandes estão a fechar estradas para o tráfego e abertura aos pedestres; estão a criar mais áreas de jardim, onde as pessoas podem relaxar na natureza, outros estão a criar carruagens tranquilas em comboios onde o uso de tecnologia é proibida, e a lista continua...

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Will McGuirk – Escritor freelancer Canadiano, fundador e presidente da revista SlowCityZine.

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Figura 82 - Will McGuirk

VersĂŁo Inglesa.

I.C.P. - What plans does the SlowCityZine have for the near future regarding the subject of Slow Living and Slow Cities?

W.M.G. - The SlowCityZine's ultimate goal is to issue a print edition four times a year. It will gather up stories about Slow Living options and also include full page art illustrations from folk I know

I.C.P. - People seem to have diferent perspectives towards the slow movement, from your approach what does it stand for in practical terms?

W.M.G. - Slow is about being cautious. Slow is about thinking more deeply before action. It is about taking the time to discover and learn from past mistakes and building a future whose purpose is to mitigate the results of those mistakes as well as to maintain the good aspects we came across.

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I.C.P. - Most people can’t afford to simply abandon the life they have in the fast city and trade it for a life in a Slow Comunity, is there a possible Slow Movement alternative that doesnt imply leaving a job, move to another home and have their children to change schools?

W.M.G. - Slow advocates not a lifestyle change but a lifestyle modification. Slow down where one can. Walk children to school, plant a garden balcony if necessary. Smell the produce you purchase. Spend more time talking with friends and local politicians.

I.C.P. - How does architecture and urbanism play a role in this change?

W.M.G. - Architecture is interesting. Well built and artful buildings allow one pause for thought. Within that thought there will be the kernel of an idea. Architecture is a key element for Slow. It may even be the most important element.

I.C.P. - In a highly specialized world as the one we live in today, in the Slow Comunities

Isn’t

there

a

direct

dependence

on

other

(faster)

cities/communities?

W.M.G. - There should not be a necessarily a dependence on "faster" cities. Slow is not advocating moving to a farm in the country and forgoing all modern conveniences. It advocates making more informed choices based on the least damaging option, least damaging to the health of the individual as well as the environment.

I.C.P. - “Think global, act local” is often associated with Slow Living, how does this work on practical terms?

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W.M.G. - it works two ways. One: learn how your individual choices effects the global community. Two: learn how you can reduce any negative global impact by making different choices. in short be the change you want to see

I.C.P. - Not everything in the Fast Lifestyle and Fast Cities is bad, a lot of development, goods and services are available because of that pace, can’t the Slow Lifestyle incorporate those positive aspects?

W.M.G. - Fast has brought us to this point. It is responsible for the good but also the bad. Slow advocates choosing those "fast" options that have brought us positive results, not the other way around.

I.C.P. - How can we induce such changes in a fast drenched society?

W.M.G. - SlowCityZine advocates for a slow approach. We believe you should change one thing and see how it goes. If you like it, slow down more. We have a inercia problem to deal with, you got to take time and give time to others so they can brake slowly. The problem will arise when fast people think they have to slow down quickly.

I.C.P. - Fast comes almost from the cradle, children are taught to be Fast and learn more and more stuff in less time, but are also less and less encouraged to think for themselves and find alternative solutions to problems. How can Slow deal with the “herd-like” colective tought?

W.M.G. - The seven billion folks on this planet are not that different from each other. We have a lot in common. SlowCityZine advocates discovering our commonality. The "Individual" is a recent concept, dating from around the 15th century BCE.

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The rise of social media points to a desire within humans to be part of something - a family, a tribe, a gathering, a festival, a sports team, a facebook page. We want to belong but we don't have to compromise our beliefs to do so. It means we can and must choose which choices have the least negative impact on the person, the community, and the planet

I.C.P. - When we think about the first CittåSlow towns, we can’t help but notice they seem isolated and lacking services and comodities. Should these Slow Cities mantain direct contact with other towns in order to profit from what they have to offer?

W.M.G. - I disagree that these CittaSlow towns are isolated: We are talking about them, they are in our thoughts therefore their idea is spreading. Although they may seem physically remote, they must remain consciously connected to other people and towns.

I.C.P. - Isn’t there a chance that Slow Cities become an attraction or some sort of holiday destination on the long run?

WMG - Sure, theres a chance. But wouldn't you want to live in a resort year round?

I.C.P. - I would, but I'd have to be granted access to services and goods I find in faster cities.

W.M.G. - Well, that's something we got to find a solution to then.

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Versão Portuguesa.

I.C.P. - Que planos tem a SlowCityZine para o futuro próximo a propósito do tema do Slow Living e das Slow Cities?

W.M.G. - O objectivo principal da SlowCityZine's é garantir uma tiragem quatro vezes por ano. É juntar histórias sobre escolhas de Slow Living e incluir ilustrações de página inteira de pessoas que eu conheço.

I.C.P. - As pessoas parecem ter perspectivas diferentes relativamente ao Slow Movement, da tua aproximação ao tema, ele representa o quê em termos práticos?

W.M.G. - Slow é sobre ser cuidadoso. Slow é sobre pensar de forma mais aprofundada antes de tomar acção. É sobre tirar o tempo para descobrir e aprender a partir dos erros do passado e construir um futuro cujo propósito é mitigar os resultados desses erros assim como manter os aspectos positivos que encontramos.

I.C.P. - A maioria das pessoas não pode simplesmente abandonar a vida que levam na Fast City e trocá-la por uma vida numa comunidade Slow, existe uma alternativa possivel do Movimento Slow que não implique deixar o trabalho, mudar-se para outra casa e obrigar os filhos a mudar de escola?

W.M.G. - Slow defende não uma mudança de estilo de vida mas uma modificação no estilo de vida. Abrandar onde se pode. Levar as crianças a pé para a escola, plantar um jardim numa varanda se necessário. Cheirar a produção que se compra. Gastar mais tempo a falar com amigos e com políticos locais.

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I.C.P. - Qual é o papel que a arquitectura e o urbanismo assumem nesta mudança?

W.M.G. - A arquitectura é interessante. Edifícios bem construídos e artísticos permitem uma pausa para pensar. Dentro desse pensamento reside o cerne da questão. A arquitectura é um elemento chave para o Slow. Pode mesmo ser o elemento mais importante.

I.C.P. – Num mundo altamente especializado como aquele em que vivemos hoje,

não

existe

uma

dependencia

directa

das

comunidades

Slow

relativamente a cidades/comunidades mais rápidas?

W.M.G. – Não deve haver necessáriamente uma dependencia em cidades mais rápidas. O Slow não defende que se deva mudar para uma quinta numa aldeia e esquecer todas as conveniencias modernas. Defende que se façam escolhas mais informadas e baseadas na opção menos nociva para a saúde do indivíduo assim como para o ambiente.

I.C.P. – “Pense globalmente, aja localmente” está associado geralmente com o Slow Living, como é que isto funciona em termos praticos?

W.M.G. – Funciona de duas formas. Primeiro: Aprender como as escolhas individuais afectam a comunidade global. Segundo: Aprender como se pode reduzir o impacto negative global ao fazer escolhas diferentes. Resumidamente, ser a diferença que se quer ver.

I.C.P. – Nem tudo no estilo de vida Fast e nas cidades Fast é mau, muito desenvolvimento, bens e serviços estão disponiveis por causa deste ritmo, não poderá o estilo de vida Slow incorporar estes aspectos positivos?

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I.C.P. – Quando pensamos nas primeiras localidades da CittáSlow, não podemos evitar de perceber que estas estão isoladas e com falta de serviços e comodidades. Deverão estas localidades manter contacto directo com outras localidades de forma a usufruir daquilo que elas podem oferecer?

W.M.G. – Não concordo que estas localidades CittáSlow sejam isoladas: Nós estamos a falar delas, elas estão nos nossos pensamentos, logo a ideia está a espalhar-se. Mesmo que elas pareçam fisicamente remotas, elas devem manter-se conscientemente conectadas com outras pessoas e localidades.

I.C.P. – Não há uma possibilidade de que estas cidades Slow a longo prazo se tornem numa atracção ou uma espécie de destino de férias?

W.M.G. – Claro que há essa possibilidade. Mas não gostarias de viver numa colónia de férias o ano todo?

I.C.P. – Sim, mas teria de ser garantido o acesso aos serviços e aos bens que eu encontro nas cidades mais rápidas. W.M.G. – Bem, então isso é algo para o qual temos de encontrar solução.

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